HERMENÊUTICA BÍBLICA
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HERMENÊUTICA BÍBLICA
HERMENÊUTICA é a ciência e arte de interpretar. É ciência, porque
postula princípios seguros e imutáveis; é arte porque estabelece regras.
"Hermenêutica bíblica ou sagrada é o estudo metódico dos princípios e
regras de interpretação das Sagradas Escrituras".
A Hermenêutica se diferencia da Critica Textual, pois esta se propõe a
determinar quais as palavras exatas do texto original, enquanto que aquela procura
descobrir qual é o sentido destas palavras no texto. Desde outro ângulo, a Critica
Textual tem como alvo a pergunta: "O que é que está escrito?" E a Hermenêutica
se ocupa desta outra: "O que é que o Autor queria dizer?".
A Hermenêutica, também se diferencia da Exegese, pois esta é a aplicação
dos princípios e regras estabelecidos por aquela. O exegeta ou interprete ser serve
dos conhecimentos que lhe é dado pela Critica Textual e a Hermenêutica; tal como o
orador e o escritor se servem dos fatos da linguagem codificados no dicionário e na
gramática.
A Exegese desempenha um papel mui importante na interpretação do texto
sagrado.
- EXEGESE
A exegese é distribuída em 5 bases:
a) Exegese Estrutural - Doutrina que sustenta que o significado do texto
bíblico está além do processo de composição e das intenções do autor.
b) Exegese Gramático-histórica - princípio de interpretação bíblica que leva
em conta apenas a sintaxe e o contexto histórico no qual foi composta a Bíblia.
c) Exegese Teológica - Princípio de interpretação bíblica que toma por
parâmetro as doutrinas sistematizadas pelos estudiosos da Igreja.
d) Texto e Contexto - O texto bíblico é a passagem focalizada como um todo
significado dependente do contexto para interpretação.
O contexto é o que vem antes e depois do texto.
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e) Contexto Bíblico e Histórico - O contexto bíblico realiza-se na própria
Bíblia.
O Contexto histórico leva em consideração a época em o autor escreveu.
Nalguns casos a própria Bíblia oferece o contexto histórico, mas noutros, é
preciso recorrer a livros que abordem questões culturais e históricas.
ALGUMAS VERDADES POR INDUÇÃO.
1. Toda base da Hermenêutica Bíblica é a própria Bíblia. O sentido de um
texto é determinado, comprando-se escritura com escritura.
2. O objeto central de toda revelação divina é Jesus Cristo. Deus manifestado
em carne para salvar aos homens. O intérprete por excelência é o Espírito Santo,
que inspirou aos escritores da Bíblia e pode iluminar os seus leitores.
3. Para compreender a Bíblia, o homem necessita, mesmo que seja talentoso
e culto, preencher certas condições.
Algumas destas condições, são:
a. Espiritualidade. (I Coríntios 2.14 a 3.2). Esta espiritualidade inclui:
1) Conversão de alma ao Senhor, o que dará início a uma nova vida.
2) Viver em harmonia com o Espírito Santo, para que Ele possa atuar com
liberdade para instruí-lo.
b. Estudo diligente da Bíblia. Com o propósito de conhecer a verdade e com
desejo de aceitá-la (João 5.39; Atos 17.11,12).
c. Humildade e ausência de preconceitos (Atos 8.31; 10.33).
d. Oração, procurando as luzes daquele que nos deu a revelação escrita.
(Tiago 1.5; Sal. l 19.18,19).
Hermenêutica bíblica abrange a relação dialética que visa substancializar os
significados dos textos bíblicos para aproximar o mesmo da realidade fáctica, na
qual se vislumbra o esclarecimento por meio da Bíblia. A hermenêutica bíblica
3
utiliza-se de outros princípios comuns aos demais tipos de hermenêutica, como por
exemplo, a hermenêutica jurídica que segue os princípios da inegabilidade do ponto
de partida. Em verdade, a hermenêutica bíblica não deve se afastar do texto bíblico,
bem como não se abstém da problemática inicial do hermeneuta. O principal objetivo
da hermenêutica bíblica é o de descobrir a intenção original do autor bíblico. No
caso dos textos da Bíblia o leitor, ao menos racionalmente, não tem acesso direto ao
autor original. Por isso é necessário aplicar princípios da hermenêutica (a ciência da
interpretação) ao texto bíblico.
O valor da Hermenêutica.
1. Aproxima-nos do texto e do seu sentido e significados corretos.
2. Fortalece a nossa convicção na pessoa de Deus - Deus revelou a
eternidade. 3. Enaltece a Soberania de Deus que preservou a escrita até hoje.
4. Coloca-nos na linha da história da igreja.
5. Traz equilíbrio entre o conteúdo (revelação) e comportamento (ética e
exigência).
6. Confirmação da credibilidade da revelação. Homens falaram a tantos e tão
distante de nós.
7. Auxilia-nos para determinar o permanente e o temporário.
8. Base "cientifica" a vida devocional.
9. Válida a encarnação do Filho de Deus. O texto inserido na história e cultura
de um povo. "teologia da terra"
10. Evita o desvio (sensus plenior).
11. Descobre-se a unidade da revelação.
A NECESSIDADE DA INTERPRETAÇÃO
Concordamos, também, que o pregador ou o professor está por demais
inclinados a escavar primeiro, e a olhar depois, e assim encobrir o significado claro
do texto, que freqüentemente está na superfície. Seja dito logo de início - e repetido
4
a cada passo, que o alvo da boa interpretação não é a originalidade, não se procura
descobrir aquilo que ninguém jamais viu.
A interpretação que visa à originalidade, ou que prospera com ela,
usualmente pode ser atribuída ao orgulho (uma tentativa de "ser mais sábio" do que
o resto do mundo), ao falso entendimento da espiritualidade (segundo o qual a Bíblia
está repleta de verdades profundas que estão esperando para serem escavadas
pela pessoa espiritualmente sensível, com um discernimento especial), ou a
interesses escusos (a necessidade de apoiar um preconceito teológico). O que
queremos dizer mesmo é que a originalidade não é o alvo da nossa tarefa.
O alvo da boa interpretação é simples: chegar ao "sentido claro do texto." E o
ingrediente mais importante que a pessoa traz a essa tarefa é o bom-senso
aguçado. O teste de uma boa interpretação é se expõe o sentido do texto. A
interpretação correta, portanto, traz alívio à mente bem como uma aguilhoada ou
cutucada no coração.
Princípios históricos de interpretação
Resumindo
Passos iniciais:
a) Leia o texto varias vezes mesmo sem entendê-lo de imediato, até
familiarizar-se com ele.
b) Busque o significado das palavras desconhecidas.
c) Observe os fatos importantes e procure compreendê-los relacionando-os
ordenadamente.
d) Encontre a verdade central do texto - o assunto ou o tema principal.
e) Faça a aplicação correta do texto (contextualize o texto para os dias de
hoje).
Alvos
Descobrir o sentido original do texto, quando foi escrito. Obter conhecimento
da situação que ocorre o texto. Por exemplo: Mas recebereis poder ao descer sobre
vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, como em
toda Judéia e Samaria, e até os confins da terra (At 1:8). Quem falou estas
palavras? Jesus Cristo. A quem, onde e quando foram dirigidas estas palavras? Aos
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apóstolos e discípulos; no Monte das Oliveiras, em Jerusalém; antes de Jesus ser
elevado aos céus. Por que foram faladas? Respondendo a pergunta dos discípulos a
respeito da vinda do reino. O que é prometido? O poder do Espírito Santo. Para que
foi prometido? Para testemunhar no mundo inteiro.
- MÉTODOS DE ESTUDO DA BÍBLIA
Método é a maneira ordenada de fazer alguma coisa. É um procedimento
seguido passo a passo, cujo objetivo é levar o estudante a uma conclusão.
1. Método Analítico - Analisar algo é estudar em seus pormenores, detalhe
por detalhe, tendo o cuidado de anotar os aspectos por menores que eles sejam e
por mais insignificantes que eles pareçam ser. É o método microscópico.
2. Método Sintético - Aborda cada livro como uma unidade inteira e procura
entender o seu sentido como um todo. Procura analisar o livro de forma global. É o
método telescópico.
3. Método Temático - É o método de estudo de um tema específico.
4. Método Biográfico - Aborda narrativas e exposições biográficas de
personagens bíblicos.
5. Método Histórico - É o método de estudo com sentido histórico de livros
ou passagens bíblicas. Consideram-se os factos contemporâneos, lugares,
tendências, movimentos e outras questões.
6. Método Teológico - É o método de estudo onde se sistematiza as
doutrinas bíblicas.
7. Método Devocional - É o método de estudo da Bíblia com fins de aplicar
várias passagens às necessidades particulares do crente.
DEFINIÇÃO
TEXTO BÍBLICO: Atos dos Apóstolos 8.26-35.
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"E o anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te e vai para a banda do
Sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserto. E
levantou-se e foi. E eis que um homem etíope, eunuco, mordomo mor de
Cândace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus
tesouros e tinha ida a Jerusalém para adoração, regressava e, assentado no
seu carro, lia o profeta Isaías. E disse o Espírito a Filipe: chega-te e ajunta-te a
esse carro. E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías e disse: entendes
tu o que lês? E ele disse: como poderei entender, se alguém me não ensinar?
E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse.
E o lugar da Escritura que lia era este: Foi levado como a ovelha para o
matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, assim não
abriu a sua boca. Na sua humilhação, foi tirado o seu julgamento; e quem
contará a sua geração? Porque a sua vida é tirada da terra. E, respondendo o
eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo ou de
algum outro? Então, Filipe, abrindo a boca e começando nesta Escritura, lhe
anunciou a Jesus. E, indo eles caminhando, chegaram ao pé de alguma água, e
disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado?“
FATOS A CONSIDERAR
1. Um homem lê a Bíblia. Não era nenhum ignorante, mas um homem culto
e inteligente, pois a posição de destaque que ocupava assim o exigia.
2. Sua confissão. "Como poderei entender, se alguém não me explicar? Até
determinado lugar, ele entendia o que estava lendo. Compreendia que o profeta
falava sobre o grande sofrimento e humilhação que um servo do Senhor havia de
sofrer. Entretanto, lhe faltava entender a parta fundamental para poder interpretar a
profecia. Quem era esse servo de quem o profeta falava?
3. Outro homem lhe explica o texto, usando a mesma Bíblia, e guiado
pelo Espírito Santo. "E começando nesta Escritura". Isto quer dizer que Felipe
começou a explicação pelos versículos do mesmo parágrafo aonde o eunuco ia
lendo, unindo o sentido do texto com aos versículos anteriores e posteriores
(contexto), e continuo a esclarecer o tema com a ajuda de outras partes do livro do
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profeta Isaias, e talvez, de outras partes do antigo Testamento onde se tratava do
mesmo tema (passagens paralelas). De modo que, ele tinha usado outros textos do
mesmo Isaias, para dar a entender o significado que o escritor dava às suas próprias
palavras; e por outras escrituras, lhe tinha indicado uma cadeia de profecias em
plena harmonia com a passagem que estava considerando. Assim que, pelo sentido
de toda a Bíblia, só uma explicação podia, de forma lógica e necessária, dar lugar,
de forma inquestionável, que se falava de Jesus.
4. O viajante, apesar de não conhecer o evangelista, ouve com atenção à
exposição, reconhecendo e aceitando a verdade. Os preconceitos de raça e de
religião e o desnível da posição social poderiam impedir essa feliz entrevista, que
terminou de forma tão gratificante para os dois interlocutores.
5. Em sua exposição, o evangelista apresentou a Jesus como o objeto
das profecias e como o Salvador dos homens - objeto de nossa fé.
VERDADE CENTRAL
Podemos ler a Bíblia sem entendê-la, mesmo nas partes essenciais; também
podemos ler e entender o sentido com que foi escrito.
O fato de que encontremos dificuldade para entender determinadas parte da
Bíblia não deve ser motivo para concluir por seu abandono. O que convém fazer é
aprender os princípios e regras que são estabelecidas.
O LEITOR COMO INTÉRPRETE
A primeira razão por que precisamos aprender como interpretar é que, quer
deseje, quer não, todo leitor é ao mesmo tempo um intérprete, ou seja, a maioria de
nós toma por certo que, enquanto lemos, também entendemos o que lemos.
Tendemos, também, a pensar que nosso entendimento é a mesma coisa que a
intenção do Espírito Santo ou do autor humano. Apesar disso, invariavelmente
levamos para o texto tudo quanto somos, com toda nossa experiência, cultura e
entendimento prévio de palavras e idéias. Às vezes, aquilo que levamos para o
texto, sem o fazer deliberadamente, nos desencaminha ou nos leva a atribuir ao
texto idéias que lhe são estranhas.
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Isto nos leva a notar ainda mais arte o leitor de uma Bíblia em idioma latino já
está envolvido na interpretação. A tradução, pois, é em si mesma uma forma
necessária; de interpretação. Sua Bíblia seja qual for a tradução que você empregar,
que para você é o ponto de partida, é, na realidade, o resultado final de muito
trabalho erudito. Os tradutores são regularmente conclamados a fazer escolhas
quanto aos significados, e as escolhas deles irão afetar como você entende.
Os bons tradutores, portanto, levam em consideração as diferenças entre
nossos idiomas. Esta, porém, não é uma tarefa fácil. Em Romanos 13.14, por
exemplo, devemos traduzir "carne" porque esta é a palavra que Paulo empregou, e
depois deixar o intérprete contar-nos que "carne" aqui não significa "corpo"? Ou
devemos "ajudar" o leitor e traduzir "natureza pecaminosa" porque é isto que Paulo
realmente quer dizer? Retomaremos este assunto com maiores detalhes no capítulo
seguinte. Por enquanto, basta indicar que o próprio fato da tradução já envolveu a
pessoa na tarefa da interpretação.
LUZES DA BÍBLIA
A VERDADE.
Não se deve interpretar nenhum termo isoladamente nem basear Nenhuma
doutrina num texto isolado; mas devemos interpretar escritura com escritura.
A linguagem da Bíblia, geralmente é clara, compreensível, devendo ser
entendida no seu sentido vulgar e lexical. Entretanto, sempre surgem duvidas sobre
o sentido ou significado de uma palavra, de uma frase, de uma oração, se isso
acontecer, procuraremos basear a interpretação no conjunto do ensino da própria
Bíblia, sobre o tema.
Os principais auxílios que encontramos na própria Bíblia para sua correta
interpretação; o vocabulário do escritor, na observação do vocabulário bíblico
em geral, nos paralelismos, em descobrir a inclinação do escritor, e na
correlação existente entre várias passagens.
LEIA A PASSAGEM DENTRO DO SEU CONTEXTO
Podemos aprender a ler o contexto através da leitura de todos os livros da
Bíblia, ao invés de simplesmente lermos fragmentos dela. Se você consegue sentar-
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se por duas ou três horas para ler um romance, tente fazer o mesmo com Isaías ou
Atos dos Apóstolos, entretanto certifique-se de que está usando uma versão
contemporânea. Sempre que ler uma pequena passagem, leia-a com um resumo do
livro inteiro em mente ou com a ajuda de um bom comentário.
A natureza precisa do contexto pode diferir de um livro para o outro. O
contexto dos livros históricos se originam do curso de eventos na história. Nas
epístolas ou nas cartas, uma idéia constrói a outra. Em Provérbios, capítulos 10 a
31, há um contexto solto. Nestes capítulos, um provérbio expressivo — sobre a
preguiça, por exemplo — é seguido por dois sobre a língua e, então outro sobre a
preguiça novamente. Mesmo assim, em todos os livros bíblicos, deveríamos ter uma
visão do livro todo quando estudamos uma parte dele. Sempre questione como
aquela passagem pode encaixar-se com a mensagem do livro todo, e até mesmo
com toda a Bíblia.
Nunca devemos ler passagens isoladas de todo o contexto das Escrituras.
Apesar de muitos autores humanos terem contribuído para escrever a Bíblia, Deus é
o seu Autor último. E, ao mesmo tempo em que a Bíblia é uma antologia de muitos
livros, ela também é um só livro. A Bíblia contém muitas histórias, mas todas elas
contribuem para uma única história. Conseqüentemente, devemos ler uma
passagem, ou até mesmo um livro da Bíblia, no contexto do corpo do ensino e
doutrina que flui da história completa da revelação progressiva na Palavra de Deus.
CONTEXTO
A pregação expositiva era o tipo mais comum achado no Novo Testamento, e
é claro que essa pregação envolve pegar uma parte das Escrituras e examiná-la, em
vez de pegar só um texto ou tópico e desenvolver uma mensagem em torno dele.
Por esse motivo, a pregação expositiva geralmente lida com uma parte maior das
Escrituras do que lida com qualquer outra forma de pregação, e é pois mais fiel ao
contexto de qualquer dado versículo do que qualquer outra forma de pregação.
Assim essa pareceria ser a forma ideal de pregar a Palavra. No entanto, a pregação
tópica e textual é também importante e muitas vezes necessária, mas devemos
sempre considerar o contexto.
Às vezes, uma palavra que expressa uma idéia geral e absoluta, deve ser
tomada no sentido restritivo, segundo determine alguma circunstancia especial do
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contexto, ou do conjunto das declarações das Escrituras nos temas de doutrina.
Quando Davi, por exemplo, exclama: "Julgam-me Oh Senhor! Conforme a minha
justiça e conforme a minha integridade", o contexto nos faz compreender que Davi
só protesta sua justiça e retidão no que diz respeito às calunias que Cu, o benjamita,
levantava contra ele.
Advertências - Quando se trata do contexto, é necessário advertir que às
vezes se rompe o fio do argumento ou narração por um parênteses mais ou menos
longo, depois do qual se volta a unir-se. Se o parêntese é curto, não oferece
dificuldade; porém se é longo, como quase sempre acontece nas epístolas de Paulo,
se requer uma atenção especial.
Em Efésios 3 encontramos um parêntese que chega desde o versículo 2 até o
último versículo, voltando a unir o tema no primeiro versículo do capítulo 4.
PROCURE A INTENÇÃO DO SIGNIFICADO DO AUTOR
Toda passagem bíblica tem um significado objetivo pretendido pelo autor. A
tarefa do intérprete é descobrir esse significado. Esse princípio parece claro o
bastante, entretanto devemos desenvolver muitas questões que ele levanta...
Primeira, quem é o autor e como descobrir sua intenção. Mesmo quando
sabemos o nome do autor humano (Moisés, Paulo, Davi), não temos acesso direto a
ele. Não podemos perguntar a Paulo se ele se referiu aos cristãos ou aos não-
cristãos quando descreveu uma pessoa que não quer fazer o que Deus deseja em
Romanos 7.21-25. Podemos apenas responder tais questões nos colocando no
período em que o autor escreveu o livro e questionando a sua intenção, ao nos dizer
esse ou aquele assunto.
VOCABULÁRIO DO ESCRITOR
Muitas vezes é necessário verificar cuidadosamente em que sentido um
escritor usa determinadas palavras a fim de que possamos ter uma compreensão
exata de um texto onde ela aparece. Por exemplo: nos escritos do apóstolo João,
muitas vezes aparece a palavra "mandamento". Este é um texto que os legalistas,
os judaizantes de todos os tempos, se referem com o fim de provar que estamos sob
a lei. "Aquele que diz: Eu conheço-o e não guarda os seus mandamentos é
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mentiroso, e nele não está a verdade. (I João 2.4). Estaria João falando dos
mandamentos do Decálogo?
USANDO OS PRINCÍPIOS GERAIS
Uma grande parte da arte de interpretação de passagens é mover-se das
questões específicas mencionadas no texto bíblico para o princípio geral que está
por trás desses elementos específicos.
Deus não apenas resume toda a sua lei em dez mandamentos (Êx 20.1-17;
Dt 5.6-21), como também dá outros sete sumários de leis. O Salmo 15 conserva a
Lei de Deus em onze princípios; Isaías 33.15 a expõe em seis mandamentos;
Miquéias 6.8 as resume em três ordens; Isaías 56.1 as reduz ainda mais a dois
mandamentos; e Amós 5.4, Habacuque 2.4 e Levítico 19.2, colocam toda a lei em
uma única declaração geral.
O próprio Jesus deu continuidade a essa mesma tradição ao resumir a lei
toda em dois princípios: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda
a tua alma e de todo o teu entendimento... O segundo semelhante a este é: Amarás
o teu próximo como a ti mesmo" (Mt 22.37-40; Lc 10.26-28; Dt 6.5; Lv 19.2, 18).
A fim de identificar princípios gerais no texto bíblico, há três perguntas que os
intérpretes devem fazer:
1) O autor afirma o princípio de maneira explícita na passagem em questão?
2) Se não o faz, um contexto mais amplo revela esse princípio geral?
3) A situação específica do texto contém quaisquer razões, explicações ou
dicas que poderiam sugerir o que motivou o escritor a ser tão concreto em vez de
abstrato, ao mencionar as ilustrações específicas que ele escolheu?
A busca pelos princípios no texto bíblico normalmente não se encontra em
palavras ou frases isoladas e certamente não está em versículos editoriais do texto.
Em vez disso, tais princípios são mostrados pela tese que controla parágrafos,
capítulos, seções de um livro, e até mesmo livros inteiros da Bíblia.
Outros recursos literários são acionados, tais como as cláusulas de motivo.
As cláusulas de motivo podem tomar pelo menos uma entre quatro formas (a
cláusula de motivo aparece em itálico):
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1. Explanatória — um apelo ao bom senso do ouvinte. "Se um homem
amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, será morto; amaldiçoou a seu pai ou sua mãe; o
seu sangue cairá sobre ele" (Lv 20.9; ver também Dt 20.19; 20.5-8).
2. Ética — um apelo à consciência, à moral. "Quando edificares uma casa
nova, far-lhe-ás, no terraço, um parapeito, para que nela não ponhas culpa de
sangue, se alguém de algum modo cair dela" (Dt 22.8).
3. Religiosa e teológica — um apelo à natureza e vontade de Deus. "Não
profanarão as coisas sagradas que os filhos de Israel oferecem ao Senhor, pois
assim os fariam levar sobre si a culpa da iniqüidade, comendo as coisas sagradas;
porque eu sou o Senhor que os santifico" (Lv 22.15,16; Ver Dt 18.9-12).
4. História da redenção — um apelo à intervenção do Senhor na história de
seu povo. "Quando vindimares a tua vinha, não tornarás a rebuscá-la; para o
estrangeiro, para o órfão e para a viúva será o restante. Lembrar-te-ás que foste
escravo na terra do Egito; pelo que te ordeno que faças isso" (Dt 24.21,22).
Uma vez que identificamos o princípio geral, devemos aplicar esse princípio à
nossa vida, seja à mesma situação que o texto das Escrituras apresenta ou a uma
situação semelhante ou comparável.
LUZES DA PRÓPRIA BÍBLIA
PARALELISMOS
É muito importante que as passagens paralelas sejam comparadas. Há três
classes de paralelismos: Os verbais ou de palavras, os de idéias ou reais, e os de
ensinos gerais.
Os paralelos verbais ou de palavras, são as passagens onde ocorre a
mesma palavra. É a base para a construção das Concordâncias Bíblicas e da
maioria das referencias marginais que se encontram em algumas edições das
Escrituras.
Os paralelos de idéias ou reais são as passagens em que, apareça ou não
uma ou mais palavras comuns, se trata do mesmo tema ou se expões a mesma
doutrina.
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Para a correta interpretação de determinadas passagens, não basta conhecer
os paralelos de palavras e idéias, é necessário recorrer ao teor geral, ou seja, aos
ensinos gerais das Escrituras, de ser anunciado tal ou qual coisa pela boca de
todos os profetas, e, dos profetas (pregadores) usarem o seu dom conforme a
medida da fé, ou seja, segundo a analogia ou regra da doutrina revelada (I Coríntios
15.3, 14; Atos 3.18; Romanos 12.6).
Assim que, os valores hermenêuticos das passagens paralelas, quer sejam
verbais, de idéias ou de ensino geral, consiste na possibilidade de comparar textos
que nos parecem meio obscuros, com outros que, tratando do mesmo tema ou
empregando certas palavras ou frases cujo sentido buscamos descobrir, possa
projetar sobre eles uma nova luz.
Temos o exemplo do texto de Apocalipses 3.5 que promete "ao que vencer
será vestido de vestiduras brancas". O leitor verá que ali temos uma linguagem
figurado ou simbólico, ficando por descobrir-se o que simbolizam tais vestiduras.
Uma Bíblia com referencias lhes indicará o versículo 8 do capitulo 19, onde se
encontra a chave do símbolo. "E foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, puro
e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos". (Ap. 19.8).
Outras referências nos conduziria a Isaias, onde se diz que, “nossa justiça são
como trapo de imundícia" Isaias 64.6.
Da mesma forma as narrativas paralelas dos Evangelhos se completam umas
com as outras do ponto de vista histórico.
IDENTIFIQUE O GÊNERO LITERÁRIO
Atente à gramática e à estrutura da passagem.
Devemos ler uma passagem com muita atenção, dando um tratamento
especial aos detalhes gramaticais. Temos de levar em consideração como o
pensamento do autor progride. Temos de seguir a sua argumentação, entrar no
mundo da sua história, absorver sua poesia. Para isso, temos de considerar coisas
como os conectivos (mas, portanto), tempos verbais, e modificadores dos
substantivos, para nos ajudar a descobrir as conexões lógicas entre as idéias.
Um estudo sério da gramática e sintaxe (estrutura) devem ser baseados na
língua original em que o texto foi escrito. A maioria dos leitores da Bíblia não sabe
14
hebraico, língua em que o Antigo Testamento foi escrito e nem o Grego do Novo
Testamento. Por essa razão, ter uma cópia literal de uma tradução é muito útil para
que possamos fazer um estudo sério da Bíblia. Novamente, repito que para se ter
uma melhor compreensão do texto original devemos usar o método da comparação
de um grande número de traduções. Um bom comentário baseado no hebraico ou
grego tem um valor inestimável para fazer uma análise relacional entre a gramática
e estrutura.
ANALISANDO O PANO-DE-FUNDO HISTÓRICO E CULTURAL
A Bíblia foi escrita em um tempo e numa cultura muito diferente da nossa. Isto
posto, para descobrir o significado do autor, temos que aprender a ler como se
fôssemos um dos seus contemporâneos.
Como fazer isto? A maioria de nós recorre a comentários e outras
ferramentas de ajuda. Esses livros podem nos proporcionar uma visão do pano de
fundo cultural e histórico dos escritos bíblicos. Por exemplo, a Bíblia, com
freqüência, descreve o Senhor cavalgando nas nuvens (SI 18.7-15; 104.3; Na 1.3).
Um comentário nos diz que os vizinhos de Israel freqüentemente pintavam seu deus,
Baal, cavalgando numa carruagem para a batalha. Se analisarmos a imagem bíblica
à luz do antigo Oriente Próximo, perceberemos que a nuvem de Deus é uma
carruagem da qual ele se utiliza para a guerra. No Novo Testamento, vemos que
Jesus também se utiliza da imagem de um cavaleiro nas nuvens (Mt 24.30; Ap 1.7).
e entendemos que não se trata de uma nuvem branca e fofinha, mas sim de uma
nuvem de tempestade que ele dirige num julgamento. Agora, sim, podemos
perceber que a imagem do Antigo Testamento chamava os israelitas adoradores de
Baal ao arrependimento e à adoração do verdadeiro cavaleiro das nuvens, Yahweh
(o nome próprio de Deus no Antigo Testamento, traduzido por SENHOR).
E a passagem do Salmo 23.1? Conseguimos entender a figura de um pastor
sem recorrer ao mundo antigo? Sabemos o que faz um pastor: ele protege, guia,
toma conta das suas ovelhas.
A resposta é sim — e não. Nos tempos bíblicos, os pastores agiam como os
pastores dos tempos modernos de todas essas maneiras. Porém, se não estivermos
cônscios do uso da figura do pastor no antigo Oriente, perderemos um aspecto
importante do Salmo. Os reis do Oriente sempre se referiam a si mesmos como
15
"pastores" do seu povo. Quando lemos o Salmo 23 à luz do seu pano-de-fundo
histórico, descobrimos um ensino importante: O Senhor é o pastor real.
Procure analisar os aspectos histórico-culturais envolvidos no texto. O
conhecimento histórico-cultural nos ajuda a entender determinados textos.
1. Porque o estudo histórico cultural é importante?
Primeiro. Só através de um estudo histórico certos fatos bíblicos podem ser
compreendidos. Jesus, por exemplo, faz uma alusão a tradição dos anciões. Como
compreender esta passagem? A compreensão vem através de um estudo histórico
contextual. Na parábola dos talentos, o que Jesus quer dizer? E ainda, a respeito
dos nazireus, quem eram eles? O que faziam?
Estas situações só podem ser respondidas através das análises histórico
cultural. O que pretendemos adiante é examinar minuciosamente este método.
Segundo. A análise histórica cultural revela as motivações e intenções que
determinado autor tinha em mente ao escrever uma carta e os interesses de seu
auditório. Além disso, esta análise esclarece informações vitais sobre o autor bíblico,
sua vida, e seus valores e o auditório a quem ele se dirigiu.
2. Situações onde a análise histórico cultural é importante
2.1 Caso I - A parábola dos talentos
Quanto vale 1 talento? 1 talento= 6000 mil denários, sendo que 1 denário era
o salário de um dia do trabalhador.
==>Portanto, 1 talento = a cerca de 6000 mil dias de trabalho = 18 anos
2 talentos = 12000 mil dias = 36 anos de trabalho
5 talentos = 30000 dias = 90 anos de trabalho.
==>5 talentos correspondia a uma quantia altíssima, a ser negociada.
Nesta passagem, talento significa valor monetário. Simbolicamente, talento
significa dons distribuídos por Jesus à Igreja.
16
2.2 Caso H - Mt 10: 24 ; Mt. 24:17- Os telhados judaicos
No tempo de Cristo, as casas comuns eram constituídas de apenas um
cômodo, com pouquíssimo mobiliário, e quase nenhum adorno. Muitas delas
mediam cerca de 3,5 metros quadrados; tinham somente duas ou três janelas, e o
assoalho era de terra batida. Todas as moradias, até mesmo as mais pobres, tinham
uma escada externa que dava acesso ao telhado, que era plano. Grande parte das
reuniões de família e atividades sociais era realizada no telhado ou no quintal.
Muitas vezes eles até dormiam no telhado, sob o céu estrelado, principalmente nos
meses quentes do verão. Quando queriam um pouco mais de privacidade, erguiam
ali uma barraca ou um quartinho.
TELHADOS PLANOS. Ao se construir uma casa, o telhado, que praticamente
era a sala de estar, recebia certos cuidados especiais. Ele era armado com pesadas
vigas de madeira, sobre as quais se colocavam varetas, sendo tudo recoberto com
uma massa de barro, à qual se misturava palha picada. A fumaça dos fogões era
escoada pelas janelas. As famílias mais abastadas, ao construir a casa, assentavam
ladrilhos no telhado para aumentar lhe a resistência. Um telhado de barro exigia
muitos cuidados. Vez por outra os moradores tinham que rechear com barro os
desgastes causados pelas chuvas. Alguns plantavam grama nele, para tentar
protegê-lo da erosão. Regularmente era necessário fazer uma espécie de lixamento,
para mantê-lo plano e impermeável. Mas a despeito de todos os cuidados, não
conseguiam evitar as goteiras, que se tornaram motivo de símiles cómicas (Pv
19.13). Nas tardes quentes era muito comum às mulheres trabalharem no telhado
preparando pão, tecendo fazendas, fazendo a secagem do linho ou de frutas como o
figo e tâmara, ou então "Gatando" Cereais. Era ali também que se estendiam as
roupas lavadas para secar.
Sendo o telhado plano, prático e de fácil acesso, era utilizado de diversas
maneiras. Certa vez Pedro foi orar no telhado (At 10.9); e muitos outros Já fizeram o
mesmo. Era dali que se faziam as comunicações especiais, enunciadas em alta voz,
e ouvidas em todo o bairro (Mt 10.27; LC 12.3). Era tão comum haver atividades nos
telhados que a lei mosaica dispunha que se construíssem nele parapeitos (Dt22.8),
que geralmente eram gradeamentos de madeira.
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Naquele tempo, era muito raro haver construções de dois pavimentos,
embora fosse bastante comum fazerem-se pequenos cômodos no telhado, desde
varandinhas até quartos para hóspedes. Esse cômodo, chamado alliyah, às vezes
seria como casa de veraneio ou aposento de oração, como vemos em Mateus 6.6;
ali Jesus diz a seus seguidores que, ao orar, eles deveriam entrar no "quarto” em
vez de exibir sua religiosidade em público.
Os telhados planos da velha cidade de Jerusalém eram ótimos lugares para
se orar (At 10.9), e era dos telhados também que se faziam as proclamações e
comunicações (10.27; Lc 12.3).
2.3 Caso m- Mt. 15 - A tradição dos anciões
Era um costume originado pela lei oral, e codificada no Misna. A lavagem das
mãos ocorria antes, durante e depois das refeições. Os judeus acreditavam que o
rito da lavagem das mãos os livrava das imundícies do mundo, tornando-os dignos
de adorarem a Deus e receberem as bênçãos divinas. Esse ritual envolvia uma
forma especial de lavagem, levantando-se as mãos e fazendo-se a água escorrer
sobre os pulsos, até os cotovelos. A lavagem durante as refeições exigia água limpa
especialmente reservada para esta finalidade. Esses rituais nada tinham a ver com
higiene física, e sim com a espiritual, para eliminar os perigos do contato com os
gentios e outras coisas que causavam imundície espiritual. Uma citação da lei oral
diz: "Qualquer que come pão sem lavar as mãos, tem a mesma culpa do que se
tivesse deitado com uma prostituta". Um rabino comenta: "qualquer que despreza a
lavagem das mãos será desarraigado do mundo”. Estas expressões demonstram a
importância deste rito para os judeus.