Herminio C Miranda - Historias Que Os Espiritos Contaram

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C:AND SETTINGSDOCUMENTOSRIAS QUE OS ESPRITOS CONTAM.DOC

Histrias que os espritos contaram

Hermnio C. Miranda

Esta obra destina-se ao uso exclusivo de pessoas portadoras de deficincia visualDigitalizada por: Alberto Ferreira MorgadoCorrigida por Ernesto SchwansHISTRIAS QUE OS ESPRITOS CONTARAMEsta Obra uma coletnea de depoimentos pessoais, de desencarnados, recebidos em diversas sesses medinicas. So fascinantes porque so reais, sem um trao de fantasia. So Espritos que vm narrar a sua trajetria de sofrimentos e de bnos, por vezes, eivada de abrolhos, apontando-nos seus erros e limitaes, e, banhados pela luz da esperana, desejam recuperar-se atravs da transformao moral.Comovidos, testemunharemos seus remorsos aflitivos sobre o tempo perdido na inutilidade, afastando-se do Cristo e do Seu Evangelho.Ao abrirem suas almas, descortinando-nos suas feridas e mazelas, esses Espritos auxiliam-nos a refletir profundamente sobre as bnos da reencarnao e acerca da necessidade de valorizarmos a nossa trajetria no veculo carnal, abraando a caridade e o amor como ideais sublimes de vida.

Histrias QUE OS ESPRITOS CONTARAMEnriquea sua Cultura EspritaAdquirindo nossos livros:Srie Momentos:Momentos de Alegria

Momentos de Conscincia

Momentos de Coragem

Momentos Enriquecedores

Momentos de Esperana

Momentos de Felicidade

Momentos de HarmoniaMomentos de Iluminao

Momentos de Meditao

Momentos de Sade

Comportamento Esprita:Adolescncia e vida

Afinidade

Alegria de viver

Alerta Amor

A prece segundo os Espritos

Bnos de Natal

Compromissos iluminativos

Convites da vida

Ementrio esprita

Esprito e vida

Faze isso e Vivers

HERMiNIO C. MIRANDAHISTORIASQUE OS ESPRITOS CONTARAMLIVRARIA ESPRITA ALVORADA EDITORACNPI 15.176.233/0001-17-I.E. 01.917.200Rua Jayme Vieira Lima, 104 - Pau da Lima41235-000 - Salvador - Bahia - Brasil2004

Todos os direitos de reproduo, cpia, comunicao ao pblico e explorao econmica desta obra esto reservados, nica e exclusivamente, para o Centro Esprita Caminho da Redeno (CECR). Proibida a reproduo parcial ou total da mesma, atravs de qualquerforma, meio ou processo: eletrnico, digital, fotocpia, microfilme, internet, cd-rom, sem a prvia e expressa autorizao da Editora, nos termos da lei 9.610/98 que regulamenta os direitos de autor e conexos.

8. ed. Do29ao30milheiro Copyright 1979Centro Esprita Caminho da Redeno Rua Jayme Vieira Lima, 1 - Pau da Lima41235-000 - Salvador - Bahia - BrasilImpresso no Brasil Presita en BraziloLIVRARIA ESPRITA ALVORADA EDITORATodo o produto desta obra destinado manuteno da Manso do Caminho, Obra Social do Centro Esprita Caminho da Redeno (Salvador -Bahia-Brasil.)

SMULAComo e por qu este livro foi escrito 7Histrias que os Espritos contaram Joanna de n-gelis 151.A filha de Ho-San 172.A escrava 353. La Dama dei Vestido Rojo 454. O vinho 605. procura de Ldia 706. O Batismo 827. O milagre que no houve 908. O massacre 1019 As mos de minha irm 12010. O mercador da Samaria 13011. Anglica e a f 13812. Eu me servi do Cristo 14713. Golpe de misericrdia 15714. Quem sou eu? 17115. Domnica, Horatius e a ponte 18716. Dolores 19717. A promessa 21318. A menina no fundo do barco 22519. O espelho da alma 23420. As trs dracmas 246

COMO E POR QUE ESTE LIVRO FOI ESCRITONo Captulo 23 de O Evangelho Segundo o Espiritismo ao qual deu o ttulo de Estranha Moral Allan Kardec reuniu suas observaes pessoais sobre certas passagens evanglicas consideradas por alguns como de difcil interpretao ou entendimento.A primeira delas aquela em que o Cristo parece proclamar ser necessrio odiar toda a parentela humana para segui-lO, como se v do texto de Lucas (14: 25-27 33). Mateus, porm, redige a informao de maneira mais sucinta e afirmativa, como se l no Captulo 10, versculo 37:Aquele que ama a seu pai ou a sua me, mais do que a mim, de mim no digno; aquele que ama a seu filho ou a sua filha, mais do que a mim, de mim no digno. claro que o Mensageiro Supremo da doutrina do amor no poderia exigir de seus seguidores o dio aos familiares. Se que a palavra escrita por Lucas mesmo odiar, ento, como observa Kardec, preciso despoj-la da sua acepo moderna, como contrria ao esprito do ensino de Jesus.O texto de Mateus, alis, escreve Pezzani em nota de rodap afasta toda a dificuldade.Em outra ocasio, ainda segundo Mateus e Lucas, Jesus anuncia as recompensas espirituais espera dos que hajam deixado, para segui-lO, a casa, a famlia e os bens terrenos. Lembrou, ainda, (Lucas 9: 61-62) que aquele que pusesse a mo no arado e olhasse para trs no estava pronto para o reino de Deus.

A outro que lhe pedira permisso para enterrar o pai antes de segui-lo, Jesus adverte que mais importante anunciar o reino de Deus, pois os mortos cuidariam dos mortos. De fato, livre do corpo, que apenas matria, o Esprito receber de outros desencarnados a assistncia de que necessitar e qual tenha feito jus pelo seu comportamento durante a jornada terrena.Finalmente, h os textos em que, novamente Mateus e Lucas, reproduzem expresses nas quais o Cristo declarou no ter vindo Terra trazer a paz e sim a espada. E prossegue, no dizer de Mateus (10: 34-35):. Porquanto vim separar de seu pai o filho, de sua me a filha, de sua sogra a nora; e o homem ter por inimigos os de sua prpria casa.Mais uma vez, o comentrio lcido e objetivo de Kardec que situa o problema nos seus exatos contornos:Essas palavras de Jesus escreve o Codificador - devem, pois, entender-se com referncia s cleras que a sua doutrina provocaria, aos conflitos momentneos a que ia dar causa, s lutas que teria de sustentar antes de se firmar, como aconteceu aos hebreus antes de entrarem na Terra Prometida, e no como referentes a um desgnio seu assentado de semear a desordem e a confuso. O mal viria dos homens e no dele, que era como o mdico que se apresenta para curar, mas cujos remdios provocam uma crise salutar, atacando os maus humores do doente. {Destaques meus).Ao escrever este prefcio, mais de vinte anos decorreram desde que li pela primeira vez o Captulo 23 de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Jamais tive dvida alguma em aceitar as solues que Kardec prope para as aparentes dificuldades de interpretao dos textos citados. No apenas so lgicas como se ajustam perfeitamente aos postulados da Doutrina dos Espritos e ao que sabemos da personalidade de Jesus e de Seus8

ensinamentos nos prprios Evangelhos e em inmeros documentos de insuspeita origem medinica.Voltei inmeras vezes ao O Evangelho Segundo o Espiritismo e, certamente, ao Captulo 23, pois esse o livro bsico do culto domstico que h longos anos realizo na intimidade do lar. Nunca imaginei, porm, que me estivessem reservados a oportunidade e o privilgio de testemunhar exemplos vivos de situaes que atestariam a trgica preciso daquilo que to enfaticamente proclamara Jesus. para partilhar com o leitor um pouco dessa experincia pessoal que decidi escrever este livro.Antes de prosseguir nestas breves notas, no obstante, precisamos fazer um pequeno pacto, o leitor e eu. Explico-me.As histrias que compem esta coletnea so reais. No existe nelas um trao de fantasia, retoque ou embelezamento para abrandar-lhes o impacto ou adoar-lhes o contedo. como se fossem recortadas, com todas as agonias que isso implica, do tecido vivo das lembranas, num momento em que, por maiorque seja o seu esforo inicial em negacear e at em trapacear, o Esprito impelido compulsivamente a dizer a verdade, por mais desagradvel e difcil que lhe seja. Essa hora da verdade, ponto em que termina a fuga e comea a longa caminhada de volta sanidade espiritual, alcanada pelo processo delicado da regresso de memria. Perdido nas sombras, de seus desvarios, o Esprito precisa descer ao poro tenebroso das suas memrias mais secretas para identificar a razo das suas angstias e enfrentar a realidade de seus fantasmas interiores, de seus remorsos, de seus crimes. um momento grave e solene que precisa ser vivido e presenciado com dignidade e respeito ao ser que ali est expondo suas feridas mais ntimas. tambm um momento que exige incansvel pacincia, considervel tato, a dose certa de energia e, acima de tudo, uma comovida e terna capacidade de amar da parte daqueles que acompanham o doloroso processo de catarse.

tambm, e finalmente, um momento de luminosas esperanas e, por tudo isso, da mais profunda religiosidade, porque ao entender-se com a sua conscincia atormentada, o ser fala com o prprio Deus.No estranhe, pois, o querido leitor, certas reticncias e o cuidado compreensvel de fugir a identificaes reveladoras, que talvez acrescentassem um tom maior de autenticidade ao relato, mas tambm lhe emprestariam indesejvel conotao de sensacionalismo barato de novela de segunda classe. Optamos pelo anonimato deliberado, que a tudo e a todos deve proteger. O Grupo medinico annimo, tanto quanto so annimos os seus participantes e os Espritos manifestantes, bem como annima deve ficar a natureza e os objetivos do trabalho desenvolvido. No porque haja em tudo isso algo de extraordinrio, diferente, maravilhoso, ou que sejam excepcionais os seres encarnados e desencarnados que compem o grupo; sem prejuzo, no entanto, das lies vivas que colhemos de to dolorosos episdios, o respeito dor alheia exige de todos a caridosa contribuio de sigilo e discrio.No h, pois, nomes neste livro, nem pretenses maiores seno a de transmitir a mensagem sempre nova, porque eterna, da valorizao do amor, a fora universal que cria e sustenta o Universo, essncia de Deus, aquele elemento primordial (em que) vibram e vivem constelaes e sis, mundos e seres, como peixes no oceano, no dizer to belo de Andr Luiz, nas palavras iniciais de Evoluo em Dois Mundos.No foi possvel, obviamente, evitar que meu nome figurasse como autor de uma obra que, na realidade no minha, apenas a copiei da vida. Algum precisa assinar um livro que sai para o mundo e somente por essa razo um nome nele aparece. Meu envolvimento pessoal nos dramas, cujos fragmentos so aqui relatados, explica-se pela razo muito simples de que participei, com todas as reconhecidas limitaes que ainda me pesam, de um pequeno e annimo grupo medinico, ao qual Amigos Espirituais muito amados traziam companheiros desatinados para dialogar conosco. Experimentamos a felicidade, certamente imerecida, de partilhar das alegrias infinitas10

de resgatar alguns daqueles irmos atormentados. No estivemos em busca de projeo, nem de sensaes ou recompensas, porque o trabalho do amor, em si mesmo remunera o servidor.No h, pois, nomes a citar. Por absoluta necessidade de clareza expositiva, tivemos que fixar alguns rtulos singelos: o Esprito manifestante, os Benfeitores Espirituais, o mdium, o doutrinador, os participantes, o grupo medirco. A no ser isso e a conseqente supresso de certas identificaes geogrficas ou histricas, bem como um mnimo possvel de ajuste gramatical, o relato a fiel reproduo dos dilogos gravados, da primeira ltima palavra, em fitas magnticas de longo curso em aparelhos especializados. Resolvemos at mesmo sacrificar um pouco a correo gramatical das falas, em favor da espontaneidade do dilogo, todo ele desenvolvido ao calor do momento, sem enfeites literrios, sem preocupaes semnticas, sem nenhum artifcio destinado a produzir efeito. a conversa livre, s vezes, enftica e at apaixonada, mas em toda a pureza da sua autenticidade. O leitor h de relevar, portanto, umas tantas incorrees, as constantes repeties e a mistura de tratamento o tu e o voc coisas que os gramticos encaram com mal disfarado horror, mas que o povo consagra naquele seu jeito irresistvel de modificar a lngua que fala ao sabor da sua fantasia e do seu gosto.Esta , pois, uma coletnea de depoimentos pessoais. O leitor perceber facilmente por que estas explicaes introdutrias abrem com a apreciao do Captulo 23 de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Encontraremos em algumas dessas histrias aqueles que por amarem mais ao pai, me, esposa, filha ou ao filho, do que ao Cristo, acharam que era preciso odiar o Mestre. Veremos aqueles que receberam as suas centuplicadas recompensas por terem tido a coragem extrema de romper com os seus, abandonando a casa, a famlia e os bens terrenos, para seguir os passos do Nazareno. Identificaremos aqueles que puseram as mos no arado, mas11

HISTRIAS QUE OS ESPRITOS CONTARAMCaro leitor:o presente volume traz-nos meditao histrias que so vidas e a morte do corpo no logrou consumir.Fazem reviver os dramas que culminaram em tragdias, envolvendo suas personagens no cipoal de largas aflies, cujos efeitos repontaram em reencarnaes que se sucederam dolorosas, aguardando a regularizao dos erros, o enobrecimento desses Espritos equivocados.Os atos so os juizes de todos ns.Transferem-se de uma para outra existncia as conquistas ditosas como as infelizes que assinalam profundamente os seus agentes.Passam-se os anos, os sculos, e at os milnios, na Terra, estagiando-se no corpo ou fora dele, sem que a paz se agasalhe no Esprito endividado, seno quando o amor luz como bno e o arrependimento sincero lhe faculta o refazimento do caminho percorrido anteriormente com alucinao, agora conquistado atravs da realizao do bem libertador e da caridade santificante.Ningum que transite pelo mundo em carter de exceo. . . Todos possumos dbitos em relao Vida.A tarefa medinica com Jesus, de esclarecimento aos Espritos infelizes, dos mais enobrecidos cometimentos com que a Doutrina Esprita ora nos honra o processo evolutivo.15

Graas a esse intercmbio lcido, programado pelos Benfeitores Espirituais, incontveis companheiros desencarnados ou no, na retaguarda, vencidos pelo desespero e pela dor, encontram a psicoterapia desalienadora e a diretriz de felicidade para superar as paixes dissolventes a que se entregam.Aps o dilogo abenoado, em que o desencarnado em sofrimento expressa pela psicofonia a sua angstia e recebe a palavra amiga do evangelizador, eis que amanhece esperana na noite tormentosa em que se debate, concitando-o ao servio da prpria redeno.. .Todavia, no somente para ele, mas tambm, para os enteados na trama em que se envolve, apesar de domiciliados no corpo somtico.Saudmos, portanto, neste livro, um brado oportuno de advertncia, um convite reflexo para todos ns, de um como do outro plano da vida, a fim de que, no obstante todas as conquistas do humano conhecimento, nesta hora de graves responsabilidades para a humanidade, no nos esqueamos que s Jesus prossegue sendo o Caminho, a Verdade e a Vida.Joanna de ngelis(Pgina psicografada pelo mdium Divaldo P. Franco, na sesso medinica da noite de 30-01-1980, no Centro Esprita Caminho da Redeno, Salvador, Bahia.)16

A FILHA DE HO-SANObservemos, neste caso, a relutncia inicial, a verdadeira resistncia que o Esprito oferece ao esforo do doutrinador em lev-lo ao passado. O dilogo reproduzido a partir do ponto em que ele comea a expressar sua recusa a encarar a dura realidade de seus compromissos.No h problema algum. Eu quis assim. Foi uma escolha. Cansei dos homens, da vida, de tudo.

Cansou at de voc mesmo.

Cansei. Mas a, o que voc vai fazer? Tem que continuar, ir para a frente. Vivo num lugar onde no h dias, no h meses, no h anos; h uma eternidade terrvel, uma monotonia que no passa e voc no tem nem uma noite para ver que no outro dia vai o sol raiar e talvez seja diferente. Voc sabe que no. s aquilo.

claro, pois voc no tem esperana.. . Quem pode viver sem esperana? Voc diz que s existe o hoje, no tem passado.

Aquilo no uma esperana, meu amigo, uma realidade. A realidade essa que estou dizendo a voc.

No, meu filho. Isso uma iluso total do seu esprito.

uma noite sem dia; nunca vai raiar o dia.

Mas no somos obrigados a ficar na noite. Somos seres da luz.

uma eternidade, uma passividade, uma coisa terrvel.

E como que voc diz que no h futuro?

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. Voc no sabe como terrvel esse tempo sem tempo. E horrvel isso. claro, voc foge do tempo, porque est fugindo do passado.

Voc no pode imaginar como um relgio na Terra importante. com um relgio voc tem a sensao de que possui o tempo, que pode controla? o tempo, voc dono das horas.

Eu compreendo, meu querido. Sei muito bem o que voc quer dizer. E, no entanto, vem me dizer que tarde para recomear. Como que isto faz sentido?

Voc no pode nem recomear porque aqui no existe tempo.

No existe tempo enquanto voc estiver nesse contexto, meu querido irmo.

A onde est voc ainda pode dizer: amanh, amanh eu dou outro jeito. Amanh eu fao. Aqui, voc no tem amanh.

Voc tambm tem futuro. Neste ponto, meu querido irmo, que eu te pedi e repito aqui o apelo. Deixa-nos ajud-lo a sair desse dilema, desse crculo vicioso. H sadas.

Meu amigo, estou numa esfera atemporal, onde no h nada e h tudo ao mesmo tempo.

Isso no faz sentido algum. Voc est fazendo jogo de palavras. Voc no tem uma atividade?

Tenho, tenho. Mas eu j disse: um tempo sem tempo. Horrvel!

Mas, e o seu passado? O que ele te ensinou?

Que importncia tem esse passado que j passou?

do passado que viemos.

Onde est esse passado? Se aqui no existe ontem como que voc quer passado? Aqui onde vivo, no existe.

Meu querido, deixa-me lembrar mais uma vez. Voc veio aqui hoje porque tem um pouco de esperana. Vamos

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nos agarrar nessa esperana que voc traz para procurar te ajudar, te servir. Tenha a coragem de aceitar as coisas, meu querido irmo. como procurar agulha num palheiro, meu amigo. Voc no vai encontrar nada.

Refere-se dificuldade em encontrar as verdadeiras causas das suas angstias.Escute. Somos filhos de Deus criados da mesma maneira, simples e ignorantes como ensina a doutrina de Jesus. Somos livres, como voc disse, pelo livre-arbtrio, de fazer as nossas escolhas; somos responsveis pelos nossos atos. Ento, meu querido irmo, a qualquer momento de nossas vidas, como neste momento em que voc est aqui, neste presente, voc pode tomar uma deciso para mudar a sua vida. Voc no obrigado a ficar prisioneiro do tempo.

Todos ns somos prisioneiros do tempo. Vocs a que tm iluso de que o possuem porque tm relgio, um dia, uma noite...

Estamos lutando contra as nossas prises do passado. Voc, no; voc entregou-se a elas, cruzou os braos. Voc acha que no capaz de realizar o bem, quando isso no verdadeiro. Voc to capaz de amar, de realizar o bem, de conseguir o amor, como eu, como qualquer um de ns. Tudo depende das suas matrizes mentais. Agora, se voc no se preocupa com o aspecto moral das suas aes, ento vai continuar preso a esses esquemas por sculos e sculos. H quanto tempo voc est nessa organizao?

O que o tempo, meu amigo? Pois no acabei de dizer que aqui no existe tempo e voc quer que eu diga h quanto tempo?

Eu sei, mas quando foi a sua ltima existncia na carne? O que voc fazia aqui entre ns, quando esteve na carne? Quem voc era, onde viveu? Vamos sua personalidade profunda, o verdadeiro ser que voc , no a essa alucinao em que voc vive.

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in* isso que eu sou, meu amigo: essa alucinao em que vivo.

Certo. Isso voc agora, mas antes no era. Por que voc foi conduzido a isto? Porque deixou de tomar algumas decises em favor do seu esprito, deixou de lutar, cruzou os braos. E agora vem me dizer que forte? Voc est sendo fraco quando tem todas as foras de Deus dentro do seu esprito. (Um esboo de sorriso). sim, meu filho. Me ajuda, para que eu possa te ajudar. Quero te servir; estou aqui como um companheiro que tambm tem as suas dificuldades, seus problemas, seus desenganos, suas aflies, suas angstias, mas podemos partilhar as experincias que entre ns existem. Voc tem algo a me dar e eu talvez tenha algo a te dar.

Meu amigo, voc no tem nada melhor do que eu j experimentei, para me oferecer.

O que voc j experimentou?

Tudo.

O que voc chama tudo!

Tudo o que voc possa imaginar.

Ento voc foi bom tambm.

Sem querer, o doutrinador toca no ponto crtico da sua problemtica: a deformada convico de que o bem no compensa. O Esprito faz uma pausa, tem um sorriso sofrido e retruca, confirmando:E o que eu ganhei com isso?

O doutrinador agarra-se oportunidade, deixa:

Vamos ver: em que a bondade te traiu? O que foi que te traumatizou a esse ponto? Como que foi essa histria?

Pausa. Ele hesita ainda. Faz um muxoxo e depois responde:A bondade sempre provoca traumatismo. Os homens no esto preparados para a bondade, meu amigo. Pode

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ser que estejam agora... Nem agora, no seu tempo, esto; nunca estiveram. Nunca souberam entender a bondade.Voc est?

Todos aqueles que foram bons, foram crucificados, de uma maneira ou de outra.

Outra oportunidade:Ento voc acha que o Cristo foi bom. Isso est certo. Isso acho que positivo, mas vamos ver onde a bondade te deixou em situao de desespero. Me diga. Como foi isso?

Longa pausa e, depois, uma pergunta:Por que voc quer saber? Que interesse voc tem?

O interesse pelo irmo, o desejo de servir, de ajudar. Pedi a voc, com toda a humildade, que me ajude a te ajudar. Voc s pode me ajudar voltando a esse passado, para colocar tudo num outro contexto, meu querido. Voc no pode simplesmente ignorar o que fez, o que foi, por onde andou, o que est tentando obter. Voc no pode ignorar isso. Voc um ser humano com experincias humanas, tem Amigos Espirituais, tem criaturas que te amam, que se interessam pelo seu destino.

Sei, mas onde esto elas?

Voc foge delas! Voc se trancou num universo em que esta... esta.. . boredom, como se diz em ingls... (A palavra exata foge ao doutrinador. O Esprito diz logo:)

Chatice!

. .. a palavra no muito apropriada, mas descreve bem a situao. Voc se conformou com ela. Para fugir dela voc realiza toda essa atividade alucinada. Ento isso maneira de fugir chatice, como voc chama?

Agora vem a palavra exata, da parte do Esprito: tdio, no o que voc quis dizer?

Exato, o tdio... O amor no tdio.

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Mas a realidade um tdio constante.No, meu querido. No. Est enganado.

Essacriatura (ele anteriormente se referira a algum) uma mulher? uma mulher.

Onde foi que vocs se encontraram?

Por que voc quer tanto saber?

Meu querido, me perdoa. No curiosidade mals. No desejo de te submeter a nenhuma humilhao. . .

Meu amigo, no foi a nica vez. Voc pensa que foi? Pensa que um homem toma uma deciso dessas s com base numa iluso? S com uma decepo? No. So vrias.

Voc est fugindo da sua prpria realidade. Vamos enfrent-la com coragem.

Preciso de coragem para enfrentar o que, meu amigo?

Voc no me disse ainda onde foi que a bondade te falhou.

Em vrios lugares.

Me diga um deles. Que foi que voc fez de bom que a paga no foi boa?

Comea, afinal, a desenrolar-se a histria:Est ligado a essa menina que pensei encontrar aqui.

Conta, por favor. Confia em mim.

Pausa e suspiro, e, em seguida:Foi uma histria, meu amigo, dos muitos dramas que existem a espalhados pelo universo. Foi numa cidade espanhola. Eu era um rico proprietrio de terras, muito rico. Un rico Senor. . . (D um pequeno sorriso triste. E prossegue:) Eu tinha uma famlia. E uma filha que era quase uma menina. Um dia, acolhi na minha fazenda, nas minhas

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terras, um personagem que havia sido perseguido em outra cidade por causa de uma pequena revoluo, em que se metera. Eu o acolhi, eu o ajudei, fiz dele um membro da minha famlia. Eu lhe dei tudo: status social; at um ttulo consegui para ele. Pois . . . E qual foi a paga que tive desta criatura que comeu ao meu lado, na minha mesa, partilhou da minha famlia? . . . (Suspira. Pausa. A lembrana , evidentemente, muito penosa). Por causa dele eu perdi essa minha filha.Como perdeu? Vamos! Ela fugiu?

O que ela fez, para mim no tem a menor significao, porque era uma criana, mas ele a seduziu. . . (Longa pausa, hesitaes...) Ah! horrores!... Tnhamos, naquela poca, voc sabe, cofres onde guardvamos os bens. No existiam os bancos que existem hoje. Ele a fez roubar os bens da famlia. E fugiu com ela. Eu, naturalmente, fui procur-la. Procurei-a como um louco. Era minha nica filha. Nela eu depositava todas as minhas esperanas, todos os meus sonhos. No. Eu no a achei. E passou-se muito tempo. Eu o denunciei s autoridades, mas nada adiantou. Passaram-se os anos. . . Minha mulher murchou que nem uma flor, qual voc tira a gua, o sol e foi secando, e foi secando... at que j no restava mais nada seno entregar a alma a Deus.

, realmente, uma histria muito triste. Lamentvel...

No, mas a no est ainda tudo. Anos depois eu me dirigia a uma outra cidade sozinho. Para que me interessavam as terras e os bens se eu nada tinha, se meus maiores bens me haviam roubado?

Sim, partira a esposa e voc estava sem a filha.

Fui um dia a uma cidade e a encontrei num albergue.

Voc a reconheceu?

No. No aquele anjo que deixou a minha casa, mas a reconheci.. . Algo desfigurada...

Estava sozinha? Abandonada?

Sim. Ele a prostituiu e abandonou-a. E fugiu, porque o que ele queria era o dinheiro.

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Voc a retomou para cuidar dela? Longa hesitao. Depois:No.

Meu filho, voc no era o pai dela? Que voc fez?

Eu precisava vingar-me. O que fiz, ento, foi procur-lo que nem um louco para mat-lo, para pic-lo, para faz-lo sofrer.

Voc o achou? Ainda naquela vida?

No. No achei. E eu o tenho procurado.

Mas voc o achou agora?

No quero encontr-lo em posies diferentes, porque a minha vingana ter que ser muito grande. (Desejava, pois, uma situao semelhante quela em que estiveram na Espanha).

Sei. E ela? Voc nunca mais viu?

Retomei, depois, tal cidade, mas no a encontrei mais.

Ento, meu querido, voc teve oportunidade de ajud-la, mas no quis. Era sua filha! Porque voc estava com dio dele ela no merecia a sua ajuda? Mas, a pergunta no to relevante. A pergunta mais importante. . . voc me perdoa. . . Voc acha que todo esse drama doloroso, essa tragdia lamentvel, voc a sofreu inocentemente?

Eu a encontrei depois, porque continuei a procurla, mas era tarde. S pude lev-la de volta para enterr-la. Morreu em meus braos, tuberculosa, podre, totalmente, o organismo. - E com isto, voc v que secaram as fontes de sentimento dentro de mim. Tudo secou, meu amigo, e da poder falar nisso com frieza. J no sinto mais. . .

Sente sim, porque voc teve esperana de encontrla aqui hoje.

Esta noite. . . No esta noite. . . Projetaram em minha mente uma imagem dela, menina, bela, nos tempos em que ramos s ns trs: eu, ela e a me.

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Um momentinho. . . Perdoa a insistncia na pergunta. Voc acha que esse sofrimento todo foi inocente? Voc no devia nada Lei de Deus? Nunca fez anteriormente nada que justificasse isso?Pausa.Acredito que no, meu amigo. Eu amava deveras.

No isso. Voc sabe da nossa responsabilidade perante a Lei. A Lei nos cobra as faltas porque ela exige o reajuste do equilbrio do universo ao qual voc se referia h pouco...

Ins... Era assim que se chamava ela.

Ah! sim. Mas suponhamos que numa vida anterior voc tenha feito semelhante desatino com algum? De outra forma, no se justifica uma coisa to brbara, no ? Voc acha que Deus pune os inocentes? Primeiro, que Deus no pune ningum; apenas as leis nos cobram as nossas faltas. Ento, meu querido irmo, se voc passou por essa amarga experincia, porque...Os padres me falavam muito em caridade... os religiosos ... A que me levou a bondade?

Espera um momentinho, meu querido. No passado seu no houve nada que justificasse isto?

Ora, meu amigo, que interessa o passado quando voc tem uma dor no presente?

A dor do presente conseqncia do nosso erro passado. Voc sabe disso to bem quanto eu.

Mas isso a no justifica nada. No adianta voc querer levar-me ao passado para saber. Isso no vai modificar o que aconteceu. Mesmo que eu tenha passado pela pena de Talio, meu amigo, isso no vai tirar a dor que eu senti.

Sim, meu amigo, como no tirou tambm a dor daqueles a quem voc causou semelhante decepo. Ou tirou? Quem sabe esses, a quem voc feriu, te perdoaram?

Eu causei? Mas como eu causei, se fui a vtima?25

No. Anteriormente, numa outra existncia. Voc no admite isso?Ora! No poderiam ter-se vingado numa filha minha. Ento, porque no se vingaram de mim? Por que no me mataram? Por que ele no me matou? E no saqueou a casa e no partiu com o dinheiro?

Porque no era isso que estava nos seus compromissos.

Pausa.Maldito! Mil vezes maldito!

Espera. Vamos ver agora o que aconteceu antes.

Eu queria que Satans existisse e o Inferno fosse uma realidade! Por favor! No adianta. Eu no vou a passado nenhum!

Vai, sim. Vai, porque preciso. . .

No me interessa o passado. Para que voc quer saber de passado?

No sou eu. voc que precisa saber.

Em que isso vai alterar a minha realidade, meu amigo? Eu j entendi. Sofri uma dor.

Por que voc a sofreu?

No interessa saber o porqu. Diminui a dor voc saber por qu? Se voc se corta com uma faca ou um canivete, diminui a dor saber qual foi o instrumento que cortou?

Voc passou por esta aflio, mas est com desejo de vingana. Quer mat-lo.

Mat-lo pouco.

Voc quer tortur-lo.

Quero enlouquec-lo. Quero que ele tenha as vises do seu crime.

Sei. E quando voc teve as vises do seu crime, voc as aceitou?

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Longo silncio. Em seguida, uma pergunta:Voc est sendo advogado do diabo, no ?

No, meu filho. Advogado seu. Quero te ajudar.

Silncio. O doutrinador levanta-se para ajud-lo com passes magnticos.Voc agora entende porque eu vim aqui. Me decepcionei porque no encontrei ningum. . .

Escuta. Voc quer a sua filha. muito justo.

Queria saber, pelo menos, se ela est bem.

Mas voc no est bem. . .

No me interessa como eu esteja. Que ela esteja bem o que importa. (A presena do amor, a despeito de tudo).

O doutrinador comea a insistir no processo da regresso de memria, tentando conduzi-lo ao passado, onde esto as matrizes do sofrimento e da revolta. OEsprito insiste:No, meu amigo. No existe passado. uma perda de nosso precioso tempo, porque nada existe l a modificar o que aconteceu. Posso ter sido o maior criminoso. . . (E aps longussima pausa:) Que voc est querendo de mim?

Vamos mais para trs no tempo. Vamos buscar a causa dessa dor to grande, no passado, numa vida anterior. Onde estiver o problema, voc vai encontr-la. Vem comigo. Confia em mim, tenha pacincia, tenha coragem.

Aps longo silncio, j regredido no tempo, o Esprito volta a falar:Laos. Acho que um lugar.

Trata-se do pas asitico localizado ao sul da China, entre Burma e a Tailndia, de um lado, e o Viet-Nam, de outro, ao Norte do Camboja.Voc vive a?

Vivo.

Que voc faz?

27

f?Colho arroz.

Quem que vive com voc? Voc casado? Tem filhos?

No. No tenho.

Vamos ver, ento, o que se est passando com voc. Me conte.

Vivo com o velho Ho-San e sua filha.

Voc no filho dele, ento?

No.

Voc jovem?

Sou. . ,. jfe

A filha muito bonita ?lf

.

Voc gosta dela?

Gosto.

E voc pretende casar-se com ela?

Ela no quer, porque seu pai s tem a ela.

Ele tem muito dinheiro? Ele rico?

Longo silncio.O que ser rico?

Ter muitas coisas, muitas propriedades, muito arroz.

Ele tem.

Voc no? Voc empregado, trabalhador?

Eu no (tenho).

Vamos ver, ento, o que aconteceu. O que voc fez? Voc pediu para casar-se com a moa?

Eu. um dia, l no arroz, eu a forcei. Ela lutou, caiu, bateu com a cabea numa pedra e morreu.

E o que voc fez, depois disso? Fugiu?

?28

Eu tive medo. Sabia onde ele guardava as suas riquezas e precisava fugir e. . . Mas ele, preocupado com ela que no chegava, surpreendeu-me no momento em que eu retirava. . . E ele olhou para mim sem compreender e disse: Meu filho! Tomei de uma faca e o ataquei. Eu no queria fazer aquilo!Sei. claro. E ele morreu ali?

E eu fugi.

Ento, meu querido. Agora vamos voltar ao nosso presente, aqui. Vem comigo, guardando as lembranas desses dois episdios, para que possa confront-los e concluir voc mesmo.

Estou com frio, com muito frio. Meus ps esto frios, gelados...

Escute uma coisa. Quero que voc entenda, por favor, a razo das suas dificuldades, da sua dor, da sua agonia na Espanha, confrontando-a com o episdio do Laos. Confronte os dois, porque voc mesmo precisa concluir, no eu. Para saber se h ou no justia nas leis divinas. Aquilo que voc sofreu sempre exatamente a rplica do que fez a outrem sofrer. Est entendendo agora?

A que isto me leva, ento? inatividade. comparar ...

No, meu filho. Leva concluso de que voc no sofreu inocentemente; apenas reps as coisas perante a Lei.

Mas eu sofri. No interessa se foi inocente ou no. Eu sofri uma dor terrvel!

Mas voc acha que ele tambm no sofreu? E a moa tambm, l no Laos, esse sofrimento todo causado por voc? Voc acha que eles no sofreram nada? Ele te criou, te alimentou e sustentou. Voc era um verdadeiro filho para ele e, no entanto, voc assassinou, praticamente, a filha nica que ele tinha. Ento, o episdio se repete e voc acha que no tem...

No. Ela no foi minha filha.

29

No teria sido a mesma criatura, o mesmo Esprito?No seria justo que ela morresse duas vezes.

Nesse ponto ele lembra, ou admite um pormenor importante e diz:Sim, ela foi a esposa (na Espanha). ..

E ele? Est entendido agora, meu querido? Que voc acha disso tudo?

Mas eu fui bom para ele.

Ele foi bom para voc tambm. Voc o matou porque queria o dinheiro dele.

Ele no me matou; matou minha filha.

Voc matou a filha dele tambm, no ? Est entendido?

Por que ele tinha que me fazer isso?

Por que voc tinha que fazer aquilo a ele? Voc no precisava mat-lo, no precisava forar a filha que no queria voc. Compreendeu a simetria perfeita?

Estou confuso! Estou perdido!

Qual a concluso que voc tira disso tudo?

Minha mente est confusa! Estou muito confuso!

E por fim, penosamente:Sou um ru; no posso fazer justia.

Estou de acordo com voc nisso. Esse o primeiro pensamento positivo que voc tira de toda essa tragdia. Se voc continua a vingar-se, o drama prossegue no futuro. Voc ter decepes e vai achar que foi por causa da sua bondade que sofreu, o que no verdade. Isso um raciocnio inteiramente falso, como voc acabou de verificar. Est entendido? Agora, me faa uma coisa. Eu pedi anteriormente que voc me ajudasse a te servir. Esta oferta continua de p. Queremos te estender a mo. . .

Sinto uma dor profunda, aqui no corao.

30

Sei. Mas, creio que o esprito dessa moa no tem nenhum rancor por voc e deseja realmente esse reencontro. Esteja preparado para ir ao encontro dela.E a esposa, a minha esposa? Ela me amava. . .

Continua a te amar, da mesma maneira. O fato de ela ter morrido fisicamente no quer dizer que tambm morreu em esprito. Em algum ponto ela deve estar sua espera. Voc gostava dela, no ? Era uma boa esposa.

Eu a amava. ramos to felizes!

Vamos fazer uma coisa. Eu sei que isso tudo te causou uma grande confuso e uma grande perplexidade. Segue com os nossos companheiros aqui presentes.. .

Eu sou culpado. Agora vejo claro. Eu no lhe disse tudo. Ele quis casar com a minha filha, mas... ele no tinha, para mim, posio e qualidade. Talvez se eu tivesse concordado nada teria acontecido.

Certamente. Mas deixa dizer-te uma coisa que muito importante. Este remorso. . .

Ela lhe teria restitudo os bens; ela era a minha nica herdeira.

Pois . Voc teria netos e uma felicidade total com a sua esposa. Essa oportunidade voc deixou escapar, mas...

Tudo isso uma loucura! Isto a que voc chama de tica. E esta tica da Lei. . .

Escuta, meu filho. No vamos discutir filosofia agora. Estamos tratando aqui de emoes, de sentimentos; deixa a filosofia de lado. Vamos resolver o seu problema pessoal. Quero te fazer um pedido. No deixe que esse remorso, esse arrependimento, essa agonia paralisem voc. Voc tem condies. . .

Mas perdi tanto tempo!

Sei, mas agora voc vai recuperar. o, ento?

Mas por que me deixaram errar?

Sei, mas agora voc vai recuperar. Voc aceita vir conosco, ento?

31

Meu filho, ns temos o livre-arbtrio para decidir aquilo que queremos fazer. Voc no estava disposto a vingar-se mais uma vez? Poderia t-lo feito; voc sabe que no te convm. Nosso Paulo dizia que tudo me lcito, mas nem tudo me convm. A Lei permite que voc faa isso, mas no aprova.Um ru no pode fazer justia.

Voc vai ter muito tempo para meditar essas coisas mas agora, voc vai repousar.

O doutrinador o adormece por meio de passes e o confia aos cuidados dos trabalhadores espirituais do grupo.Pouco h aqui a comentar, a no ser insistir em chamar a ateno do leitor para a absoluta segurana das leis divinas que, a partir dos compromissos crmieos, armam com total fidelidade e simetria as situaes de que precisamos para o reajuste. Pacientemente, vo sendo planejadas as posies de cada um, at que se tome possvel reunir todos os elementos de que necessitamos para dar o testemunho de que aprendemos a lio do amor. E muitas vezes, depois de tudo caprichadamente reunido, falhamos novamente, desperdiando mais uma excelente oportunidade de redeno. Nesse ponto, comea tudo de novo, at que um dia Sculos depois? Milnios? personagens e situaese possam ser novamente confrontadas.No caso que acabamos de relatar, um jovem acolhido como filho de uma pequena famlia j mutilada pela partida da esposa, no Laos, h sculos. No descontrole de sua paixo pela jovem, filha nica do velho Ho-San, em vez de procurar conquist-la pouco a pouco pela sua dedicao e carinho, ou renunciar a ela, ele procura possu-la fora e acaba, acidentalmente, por provocar a sua morte. Antes de fugir, sob a justificativa de que precisava de dinheiro para a fuga, assalta a casa que era o seu prprio lar e que, talvez, at viesse a herdar, casando-se com a moa. Surpreendido no ato pelo velho, assassina-o tambm.32

Sculos depois, a antiga jovem assassinada , afinal, a esposa querida da Espanha, a quem tanto ama. rico e feliz, quando o ciclo do reajuste se abre: acolhe como filho aquele a quem roubou os h&veres, a filha e a vida no Laos. hora de restituir-lhe os bens materiais e a paz espiritual. O mecanismo estava armado para que, casando-se com a filha do nobre espanhol, o antigo Ho-San recuperasse os seus bens materiais normalmente, atravs da herana, pela ordem natural das coisas, sem violncias e sem aflies. At o relacionamento entre os dois jovens do Laos foi regulado com inteligncia e amor, pois a paixo dele por ela, agora, na Espanha, adquirira as tonalidades do respeito e do amor legtimo do esposo, enquanto o velho Ho-San voltava como genro e pai eventual de seus netos.Nisso tudo, porm, existiam os testemunhos. O rico senhor de terras e de ttulos precisaria superar o orgulho irracional e aceitar como genro aquele a quem lhe competia restituir os bens. Recusou a filha em matrimnio legtimo simplesmente porque no considerava de boa linhagem social o jovem pretendente. Quanto a este, teria que sublimar sua paixo e conter sua ambio e impacincia, tentando a persuaso que, alis, no seria impraticvel, de vez que o poderoso nobre o acolhera como filho, tendo, portanto, por ele um mnimo de afeio e predisposio para aceit-lo na famlia. Era preciso esperar com pacincia ou estar preparado mesmo para uma recusa definitiva, pois tambm ele deveria ter seus problemas crmicos, alguns dos quais teria resgatado to dolorosamente no Laos. Ao revoltar-se, partindo para a violncia, a seduo, e o posterior abandono da jovem, reabriu o crculo vicioso do erro que clama por reparaes dolorosas que, por sua vez, poro prova nossa pacincia, compreenso e humildade.Quanto moa, que no Laos recusara a paixo atormentada, agora aceitava o antigo agressor e assassino de seu pai como esposo, num relacionamento sublimado. Ao falhar o esquema pelo reaquecimento das paixes, ela consumiu-se, murchou como uma flor sem sol e gua, na expresso dolorida de seu marido.33

E no futuro, o que espera estes seres? Novas tentativas de reajuste, novos testes, novos propsitos e esperanas. competentes e devotados Espritos, que poderamos talvez chamar de engenheiros do amor, um dia estudaro criteriosamente todas essas fichas crmicas e traaro, com a participao dos interessados, novo programa de trabalho, tudo pensado, ajustado, certinho, nos seus mnimos detalhes. Da em diante, s resta orar para que tudo d certo e para que, uma vez encarnados, mantenham-se os bons propsitos e se cumpram os dolorosos testemunhos.i

34

A ESCRAVAEste companheiro apresentou-se com uma tcnica diferente. No de todo desconhecida, mas no muito comum. Sua palavra era doce, untuosa, tranqila. Saudou o grupo medinico com muito carinho e respeito, prevendo uma noite de realizaes em nome de Jesus, nosso bom e amado Mestre. Elogiou as palavras iniciais do nosso Orientador Espiritual. Filosofou longamente e com excelente retrica, em frases bem tomeadas e fluentes. Via logo que se tratava de um grupo amoroso e dedicado ao bem servir com autenticidade e desprendimento. No estaria ali, porventura, uma oportunidade para ele servir modestamente, dentro de seus recursos? Como sabamos, h companheiros que s o verbo sai da boca, mas no vem do corao. Quanto aos trabalhadores como ele, eram quase sempre mal interpretados ou aceitos sem anlise.Viera, pois, atrado pela sinceridade do nosso Grupo e pelo verdadeiro sentido cristo de servir, que seria o nosso. No era ele, evidentemente, um Esprito necessitado, como podamos ver, mas um daqueles que tem o que dar em favor da humanidade sofredora.Tratamo-lo com o nosso respeito habitual, dialogando serenamente com ele. No decorrer da palestra amistosa, no foi difcil descobrir onde, como e junto de quem atuava, com a ajuda de uma brilhante inteligncia, de muita cultura e experincia, a servio de prodigiosas ambies. Como outros companheiros em tal situao, tentou convencer-nos, sem o mnimo xito, de que, como Esprito que era, no pretendia nada para si mesmo. Para qu? Trabalhava apenas pelo bem da humanidade, pela divulgao da verdade, do amor, da justia.35

Sempre muito hbil, maneiroso e inteligente, exps com maior objetividade a sua filosofia de trabalho, no momento em que julgou oportuno. At ento, o doutrinador se limitara a ouvir pacientemente, colocando uma ou outra observao respeitosa. Achava ele que em termos de Evangelho j tem o homem o suficiente. A mensagem do Cristo j teria chegado ao corao de todos. O doutrinador, por exemplo. Era um modelo de virtudes crists. Era preciso, agora, desenvolver os aspectos cientficos que serviriam como ponto de apoio Doutrina ensinada em O Livro dos Espritos.Quando as nossas divergncias comearam a tomar vulto pois nestes casos preciso deixar o Esprito falar para que tenhamos idia do que o traz a ns e quais as suas motivaes , ele se tomou algo impaciente e da foi irritao e, finalmente, s ameaas.Chegara, pois, o momento do debate mais vivo, em que a contestao comeava a ser apresentada. Era preciso que ele compreendesse que o aceitvamos como irmo, com todo o afeto de nosso corao, mas que discordvamos fundamentalmente das suas idias.Mais adiante, alcanamos afinal a terceira etapa do trabalho: aquela que consiste em levar o Esprito com doura, mas tambm com firmeza, a olhar dentro de si mesmo. I Como era de prever-se, no foi fcil alcanar a regres-so de memria. Ele era muito experimentado nos problemas da mente e estava em guarda contra os nossos mtodos de induo magntica. Quando sentiu que estava afrouxando suas resistncias, declarou que o doutrinador nada encontraria nas suas memrias passadas, porque. .. aqui que comea a parte do dilogo reproduzida neste captulo. com a palavra o Esprito manifestante:Foram varridas. .. Ns nos preparamos para esta tarefa. (Dissera antes que essa preparao consistia no que chamou de lavagem cerebral).

Para esquecer?

Para no deixar que nos perturbemos com coisas j desagradveis. j

36

O doutrinador lhe diz que no apenas as lembranas desagradveis l esto nos registros indelveis do ser, mas tambm as agradveis, o bem, o benefcio feito, o amor, as esperanas, os seres 1ue amamos- H uma pausa e ele diz um nome, provavelmente a palavra-cdigo do seu arquivo que ele julgava desintegrado para sempre.Ruth...

Quem Ruth?

uma moa. . . uma judia. Essa raa maldita!

E voc, quem ?

No sabe? Quem voc acha que eu sou? Voc olha para mim e me pergunta quem voc? Que falta de respeito essa?

Voc diz que ela da raa maldita. Ento voc no judeu...

Claro que no. Voc no est vendo? V se eu cheiro mal como eles.

De que raa voc ento?

No me insulte com tal pergunta.

Romano?

Claro.

E onde voc vive?

Onde eu vivo, seno na grande metrpole?

E como voc encontrou Ruth?

Na casa do Tetrarca.

Em Roma? perguntou o doutrinador surpreso.

No, claro.

E voc gostou dela...

No se gosta de uma judia, a gente a utiliza.

Mas o amor no tem barreiras raciais, no ? Voc a amou?

37

No se ama a uma judia.Ah! voc apenas se utilizou dela. No a respeitou, ento?

Que isso? Quem falou em respeito por um judeu?

O judeu no precisa de respeito, ento?

Mas claro que no.

E depois, o que aconteceu?

Por que voc est interessado em saber?

Quero saber, meu caro, o que aconteceu com Ruth que, para mim, no uma judia, um ser humano, como voc tambm um ser humano. No importam as posies sociais que eventualmente ocupemos somos filhos de Deus.

Eu fui ferido. Esses judeus esto sempre armando confuses, no ?

Foi ferido na rua? Voc um militar? Que judeus eram esses? Eram cristos?

Quem se interessa pelo que esses judeus sejam?

Voc amigo do Tetrarca?

Claro.

E de Csar tambm?

Que perguntas absurdas voc me faz! grita ele impaciente. No me insulte! com quem voc pensa que est lidando?

Quem voc, ento? Se eu soubesse quem voc , poderia te chamar pelo nome. Estou te insultando?

Claro que est. Claro. . . com todas essas perguntas idiotas. Ento voc olha para mim e no v?

Voc um nobre, ento?

Mas olha que pergunta absurda! Se no sabe o meu nome, no interessa. Tira essa mo do meu brao! Tire essa mo! Incomoda. No se toca num nobre!

S

Insiste em dizer que nada mais existe, mas continua contando, relutantemente, a sua histria e a de Ruth.No h nada, meu caro. Simplesmente essa judiacurou as minhas feridas com um misterioso remdio que no sei onde ela conseguiu. (Teria ela recolhido o orgulhoso patrcio num conflito de rua para tratar dele?) Depois. . . Ora, o que voc pensa que est querendo fazer?Que aconteceu com ela?Ora! O que acontece com todas essas judias: elasaparecem grvidas e nos acusam.E a criana? Nasceu?

Eu a repudiei, claro.

Sim, mas nasceu a criana, no ? Era menino ou menina?

Era uma idiota! Jurou vingar-se. Que diferena faz? Filha de um judeu. ..

Sei, mas era um filho seu tambm, no , meu querido? Ela era a me e voc o pai.

Assim ela dizia, mas quem pode confiar numa judia?

Mas, ento, voc a amou, no verdade? No h nada de errado em amar uma judia. Voc nunca foi judeu?

Espero que no.

O que aconteceu, ento, com a criana?

Eu a adotei e a levei para Roma.

E Ruth?

Ficou.

Ficou na Palestina? Era um menino?

No. Era uma menina.

E que nome voc deu a ela?

No posso dizer, porque se eu disser voc vai saber quem fui eu.

39

No estou interessado em que voc revele a sua identidade, meu querido. Voc dir somente aquilo que quiser dizer. Quero apenas mostrar a voc que no precisamos ficar fixados nos nossos desenganos. Podemos sair deles.No tenho desenganos.

Tem sim. E a menina? Ela cresceu em Roma? tomou-se uma moa? Casou-se? O que aconteceu com ela?

Suspira, reluta e se demora. Por fim:A desgraa. (Pausa) Esses malditos cristos...

Ela se tomou crist?

Me traiu.

Voc se casou em Roma? Por que voc diz que ela te traiu?

Porque ela se juntou quela malta! E eu a repudiei, e a transformei numa escrava da minha casa. Que interesse voc tem nessa histria?

No, meu filho. Tenho interesse em voc. Para poder te ajudar, para que voc compreenda como esses problemas do passado ainda te prejudicam hoje. preciso que voc entenda bem isso: que no se pode fazer coisas dessas com um ser humano.

Como no? Eles no falam tanto na cruz? Que tem que sofrer?

Ela sofreu. Onde est ela hoje?

Eu me casei com uma patrcia bela e dei-lha como escrava.

A sua prpria filha?

Sim. Ela era muito bela. Da, a minha mulher achou que ela no era apenas uma escrava. Teve cimes e a envenenou. E eu enlouqueci de dor.

Voc v ento, meu querido, que existe no seu corao uma grande capacidade de amar. A dor um chamado de ateno.

40

Eu a amava.Amava, no. Voc a ama at hoje.Mas ela interps aquela cruz entre mim e ela. Aquela cruz maldita.Ela no interps, meu querido...O estigma da sua prpria me. A cruz maldita!A cruz da vergonha! A cruz da maldio! E ela morreu segurando aquela cruz!E depois voc tambm morreu... foi para o mundo espiritual. E l voc encontrou-se com ela?

com os olhos dela. Tive medo. Corri e me escondi.

Est escondendo-se at hoje. E veja: no precisava ter fugido dela, que o ama e voc tambm a ama. . .

Quem esse Cristo que enlouquece, que cega as criaturas todas? pergunta ele elevando a voz. Enlouquece! Todos ficam loucos! Todos. Sacrifcios humanos, piras, holocaustos! Eles se jogam, se entregam, se doam. uma loucura!

preciso ter muita convico, no ?, para fazer uma coisa dessa.

Ruth era tambm uma louca.

Ou foi voc que no quis segui-la?

Loucos! Loucos! Voc precisava ver aquelas fisionomias loucas! Pareciam estar no parais, na hora do sacrifcio... S podiam ser loucos.. . Aqueles olhos! Aquela atitude, aquela loucura diante do sangue que escorria e da dor que no sentiam! Ela tomou o veneno, segurou a cruz e morreu sorrindo...

Que beleza de f e de convico!

Eu te amo, papai! (Tem violenta crise de choro e repete, em pranto:) Eu te amo, papai!

41

Perdoe, meu irmo. Foi necessrio despertar isso em vocepara que voc se lembrasse novamente que um ser humano. No se desespere.Esse Cristo que me arrancou tudo! Eu te amo, papai!

O Cristo que deu a ela essa convico para dizer a voc que o amava, que o ama at hoje. Ele no tirou nada de voc. Ela queria que voc fosse tambm com ela. Acompanhasse tambm o Cristo.

Por um momento eu pensei que ela ia transformarse numa deusa e subir ao Olimpo (1), a qualquer lugar. Uma deusa!_

Mas voc no est mais fugindo dela, no ? Se voc a encontrasse hoje que faria? Suponhamos que voc a encontrasse agora!

Quem sou eu?

Voc pai dela. No deixou de ser o pai e ela no deixou de ser sua filha. Gostaria de estar com ela novamente?

Eu.. . um membro famoso da corte... Belo, jovem, destemido.. . Que participava de todas as corridas.. . No estou preparado. Teria que dar tudo e no posso: o que sou, o que lutei...

No, meu querido. Voc tem que renunciar aos seus desenganos. No somos nada diante dAquele que nos amou e continua a nos amar. O exemplo que a sua filha deixou vlido at hoje. Voc viu com que coragem ela enfrentou a morte sem dios; pelo contrrio: deixou uma mensagem de amor. Voc no acha que isso renncia bastante? Por que voc no aprende com ela a lio? Ela renunciou vida com um sorriso nos lbios.

Ela nunca se revoltou. Era uma escrava fiel. Serva na minha prpria casa, a minha prpria filha!

(1)Olimpo: Local onde, segundo a mitologia, viviam os deuses.42

. Como se chamava?No me faa dizer. No, por favor.

Seria bom para voc. Est no seu corao. Ela precisa ouvir o seu nome dito por voc.

Seria um sacrilgio.

Ela precisa saber que voc a ama. Alis, ela sabe iiisso, mas ela quer ouvir de voc. Diga: Minha filha, vem ca!

Que poder tem voc?

No tenho nenhum poder, meu querido. Nenhum poder temos seno aquele que vem de Deus.

... que derruba uma rocha.. .

Voc no caiu; voc est se levantando hoje.

Que poder tem voc? Quem so vocs?

Somos daqueles trabalhadores menores que esto tentando resgatar companheiros como voc, perdidos em iluses, em desenganos, a fugir, cegos. . . de qu? De fantasmas. A buscar posies, porque tem medo de andar junto aos irmos que sofrem? Voc tambm sofre, meu irmo. Chega! Hoje dia de comear uma nova vida. Confiamos seu Esprito, neste momento, quela que foi sua filha um dia e que no o esqueceu com o seu amor. V com ela. V em paz e que Deus o abenoe. Tenha confiana. Conte conosco naquilo em que for possvel servi-lo.

No posso. . . Estou confuso!

Voc agora compreendeu toda a situao e por que estava fugindo. No preciso fugir mais. Voc estava fugindo da sua prpria filha! Por qu?

Porque eu a matei! (Pausa) Que falei eu agora? Perdi tudo. Ou acho que no preciso nada? Isto uma iluso. . .

Tambm acho. Agora vai comear a realidade. E voc vai reconstruir a sua vida, suas esperanas, seus amores. No faltar apoio. No lhe faltaro recursos. Confie em

43

Deus. Confie em Jesus, a quem at agora voc no havia compreendido. Aceite-o em nome da sua filha.Jesus. . . Que significa Ele para mim? Significa a Cruz, significa espinhos, significa fel.

No. Ele significa o consolo para esses espinhos, para esse fel que voc vai ter que suportar agora, por causa dos seus prprios erros. Ele no cometeu erros. . . Ele quer apenas ajudar.

Eu tenho uma filha!

verdade. E ela tem um pai. . .

Ela bela, muito bela! Quase uma menina... Meu Deus! Como pode o orgulho cegar um homem!...

Essa a histria. No me sinto encorajado a acrescentar nem mais uma palavra, em respeito quela dor bi milenar. ..44

LA DAMA DEL VESTIDO ROJOEsta a histria de uma mulher. Servia como elemento de contato, seduo e persuaso, habilmente manobrada por inteligentes lderes das sombras. Escondia nas dobras do passado um drama doloroso que, pouco a pouco, vai se desdobrando diante de ns.Tomamos o dilogo a partir do ponto em que comea a regresso de memria.Ela acaba de queixar-se novamente da injustia que teria sofrido e da qual precisava vingar-se. O doutrinador lhe diz:Quero apenas lembrar a voc, repetindo uma vez mais: voc no sofreu aquilo inocentemente.

Sofreu o qu? O que eu sofri?

Ah! no sofreu nada?

Sofri foi inveja. Inveja alguma coisa que eu tinha que sofrer? Inveja dos outros? Inveja, inveja.. .

Voc era muito bonita?

Era, no: Sou. As pessoas invejam os feios?

Observe o leitor o tempo presente: Sou bonita. O Espirito tem de si mesmo a imagem distante.E voc tinha posio? Era poderosa?

Eu era uma artista.

45

Ah! A est explicado o seu talento para expor as suas idias, as suas convices. Foi na Itlia?No foi.

Espanha?

Sevilha.

Neste exato ponto ela mergulhou no passado e comea a falar com entusiasmo.Sevilha. . . Sevilha. Ora Viva Sevilha! (Bate os dedos imitando o som das castanholas). Minha vida! Minha dana! Minha dana, que era tudo para mim. La dama dei vestido rojo. Era assim que me chamavam. E com uma rosa (pronuncia com sotaque castelhano como se fosse rssa) aqui (mostra os cabelos) que eu danava.

E o que aconteceu?

No v meus cabelos como so belos? V? So belos! parte da minha dana.

O que foi que houve? Conte.

Dom Ramn. . . Dom Ramn que era o homem mais rico. Eu danava para ele. Ele ia casar-se comigo e

dar-me toda uma vila. Uma vila! Para que eu danasse s para ele. Tinha um palco bonito na casa dele para que danasse s para ele e para os seus convidados.E da?

Da, a inveja.

Foi uma calnia?

No. No foi uma calnia, foi uma taa.

Que voc bebeu?

. . . que eu bebi.

O doutrinador se penitencia de, s vezes, no af de ir desvendando a trama, conduzindo o Esprito relutante, antecipar precipitadamente concluses que nem sempre so verdadeiras, como acabamos de ver: imaginou que ela houvesse sido46

tima de uma calnia e no era. Fora um caso de envenenamento. Novamente precipitou-se o doutrinador, supondo que ela bebera a taa. Desta vez era verdade.Voc morreu, ento. isso?

isso.

Pois , minha querida. Lamentamos que isso tenhaacontecido.Voc lamenta, ? Por amor, j matei uma noiva.Posso contar a histria agora, porque agora j no me toca mais. (Fala com forte sotaque, intercalando palavras em castelhano). Dom Ramn tinha uma novia que era de alta famlia, mas Dom Ramn gostou de mim. Dom Ramn me gusta. Dom Ramn me gostava e desmanchou o noivado. Ela, um dia, me convidou para sua casa. E eu fui. La novia de Dom Ramn tinha um coche bonito, dois cavalos pretos. Eu fui. Ela era traioeira. Deu-me uma taa. . . Isso no me toca mais.Terminou ali uma existncia cheia de esperanas, de alegrias, de sonhos. Seu nico propsito durante anos e anos foi encontrar a noiva de Dom Ramn para vingar-se. O doutrinador tenta dissuadi-la, procurando lev-la a um passado mais remoto, quando ela teria criado as matrizes das suas frustraes. Ela se recusa enfaticamente e termina por dizer que encontrou, afinal, a antiga noiva de Dom Ramn.Encontrei-a a, dentro duma casa esprita; agora contrita. . . boazinha, falando em carma de passado. . .

E voc quer se vingar?

Primeiro quero ajudar para ela ser uma artista. Para ela sentir prazer. Mas a, quando caiu. . . quando eu dei a ela a primeira decepo. . . Ao invs de ela ficar. . . isso que me aborreceu. . . Algum chegou perto dela e deu para ela um livro a, esse Evangelho (Segundo o Espiritismo). Sabe o que eu fiz? Ela quebrou uma perna de jeito que nunca mais consertou. Ela hoje manca e uma artista no pode mancar. Ela puxa a perna, quase imperceptvel, mas eu sei que ela puxa.

47

Voc est satisfeita com isso?Estou, mas eu queria mais.

Mas, filha, d licena. . . Um momentinho, querida. Vamos um pouco mais atrs para ver por qu aconteceu aquilo com voc.

No tem nada que ir atrs. Voc pra por aqui mesmo.

Vamos ver a razo de tudo isso?

No tem razo. A razo est na inveja! Toda mulher bonita tem uma parcela de inveja sobre ela. Se eu me mostrasse aqui, garanto que essas mulheres que esto aqui.. . essas senhoras, iam ficar com inveja. Se vissem como sou bela!

O doutrinador insiste na magnetizao e prossegue, induzindo a regresso de memria.Escoam-se alguns segundos em silncio, at que ela comea a mergulhar nas suas lembranas, medida em que surgem imagens do seu passado na revivescncia dos seus dramas ntimos. A certa altura ela diz:Que isso? Que voc est achando? Est montando um cenrio a todo para mim. . . um cenrio? Por que essas mulheres todas de branco? Por que tudo isso? Essas mulheres vestidas de branco. . .

Voc tambm est a?

Estou. Leio a sorte das pessoas. Na fumaa.

E o que voc leu para a moa?

No li nada para a moa.

O que aconteceu, ento, a entre essas mulheres de branco? Confie em ns.

, voc tem razo. Eu li uma fumaa para ela. Que voc quer que eu diga? Se eu li uma coisa para uma pessoa no posso dizer a outra.

Quero que diga a verdade.

um segredo dela.

48

Voc no precisa me dizer o segredo. Diga apenas o que voc fez.Se eu disser o que fiz, vou dizer o segredo dela.

Sei. E da, o que aconteceu? Respeito a sua discrio. No vou pedir a voc que fale, que revele aqui o segredo. Quero apenas que diga, por favor, o que aconteceu.

Ela queria saber por que o prometido dela no vinha. J tinha um ms. Ento eu acendi o trip e botei as essncias. Voc sabe o que isso. E aspirei a fumaa. Ento eu vi. Vi uma casa, parecia uma charneca, uma coisa assim. Tinha uma moa l, muito bonita. E a, eu vi o noivo dela, cortejando a moa. Eu disse para ela...

O que foi que voc disse?

Disse isso que estava vendo.

Foi s isso, ento? No. No foi.

E ela foi embora. Depois, ela voltou. Trouxe uma bolsa de dinheiro para mim. De ouro. Acho que era um... (hesita) Ela queria que eu desse a ela um filtro. Eu dei. Eu dei!

Voc deu, no. Voc. vendeu.

Eu dei e ela o mandou numa nfora de vinho para a moa.

E ela tomou?

Deve ter tomado...

Deve ter...

Deve ter, porque depois ela casou-se.

E a outra moa?

A outra moa... u. . .! Era um veneno fortssimo.

Morreu, ento...

E sem deixar traos. Era a morte azul. Sabe? vue fazia o corao misturar o sangue. ..

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Ou por outra, voc a matou com vinho (envenenado), no ?Eu no! Claro que no. Eu s dei para ela.

Ento, quando chegou na existncia na Espanha, mais tarde, voc acha que Deus lhe concedeu o direito de se vingar. E agora quer vingar-se novamente?

No. Quem se vingou no fui eu; foi ela que me deu para beber.

Sei. Mas e quando voc deu para ela?

Eu no dei! grita ela.

Como que no? No foi voc quem preparou? Voc poderia ter-se recusado.

Mas todo mundo fazia aquilo!

Ento, est justificado. . . Voc no tem responsabilidade nenhuma... ?

Mas voc vive num mundo em que, se quer sobreviver, voc...

Mata! Quebra a perna! No isso? assim, no ? Ilude. isso, minha filha? Por favor, minha querida. J tempo. . .

Eu estou errada?! pergunta ela muito admirada.

Eu acho que est, mas compete a voc prpria decidir. No sou eu quem vai decidir por voc. Minha opinio essa.

E os meus sonhos de moa? E meus desejos secretos? Tudo acabou numa taa de vinho. . .

Mas voc no observa que os dela tambm acabaram numa taa de vinho? No tempo de parar essa histria de ficarem a se matar umas s outras? Hein, minha querida?!

Voc sabe o que me disse o meu chefe? Eu acho que ele tem razo. Ele disse que o meu maior valor porque tenho uma frieza. . . que eu no sinto emoes.

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Voc tinha. . .. No sinto emoes. Voc v. No sinto.. No mesmo? No se arrepende de nada?. Fiz do meu corao um relgio.Mas como voc sente dio por ela?dio no emoo.Ah! sei. . . o qu?

um dio frio. um direito que acho que tenho.Sei... que voc acha que tem. . . E voc pretendematar tambm essa moa? Continuar matando, ento?Eu matar? Nunca matei ningum. Minhas mos que cuidam de rosas no podem matar.

No deveriam ter matado.

Nunca matei!

Minha filha, escuta. No estou te acusando e nem dizendo que voc cometeu um erro irreparvel. O erro existiu, realmente, mas no irreparvel. Mas, pelo amor de Deus, no prossiga errando. Voc nunca sair desse crculo vicioso se continuar assim. Voc j viu o que aconteceu na Espanha, quando voc perdeu a oportunidade de casar com aquele seu amigo; foi porque anteriormente voc havia frustrado, com a morte, nas mesmas condies, outra moa que tambm tinha os seus sonhos.

No fui eu. Foi a rival que matou ela. Eu no.

Minha querida, seja honesta consigo mesma. Aceite sua responsabilidade. Estamos aqui num momento de verdade, tentando ajudar voc, mas preciso que voc se convena de suas responsabilidades. Como que fornece um veneno para uma pessoa que o pediu para matar outra, voc o d e no tem culpa nenhuma? verdade que a companheira a quem voc deu esse veneno tambm tem a sua responsabilidade, mas voc poderia ter conversado com ela, dizendo: Minha filha, no faa isso. No? Suponhamos que ela tivesse sido realmente sua filha, uma parenta, uma me. ..

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J me disseram isso. Me disseram. . . e por isso me tiraram os meus poderes (medinicos). Eu tinha muitos poderes.Minha filha, o que voc tinha no eram poderes eram recursos medinicos. Voc tinha a faculdade de se comunicar com os espritos, mas isto no para oprimir e para matar. para fazer o bem. Os recursos foram retirados para que voc no errasse mais ainda. Chegar ao ponto em que voc vai precisar voltar para aqui, para a carne, e praticar

1 a sua mediunidade a servio do bem, para curar, para consolar, para amar. No mais para odiar. Voc quer fazer isso por ns? o pedido que lhe fao aqui, como irmo, como amigo. Est de acordo?Longos silncios. Ela ouve recolhida. E depois, comenta:Eu perdi a f nos homens.

Filha, voc contribuiu para isso, no ? Voc no me aceita como um ser humano, como irmo?

vou lhe dizer uma coisa. Tenho encontrado tanta gente que tem me pedido, no para dar filtros, agora, mas para dar um jeitinho. As pessoas continuam as mesmas. Dentro da sua prpria Doutrina (ela quer dizer dentro de certos crculos que se dizem espritas) tenho encontrado gente que me pede para dar um jeito.

Bem, minha filha. Isso quer dizer que voc tambm continua a mesma, no ? Voc tambm no conseguiu libertar-se dos seus enganos. Quem vai dar um jeitinho na sua vida seno voc mesma? Aceitando as suas responsabilidades, procurando corrigir-se. Estamos aqui estendendo a mo a voc. No desejamos a sua humilhao, nem que voc.. .

vou lhe dizer uma coisa. Trabalhei durante algum tempo. Eu estava fazendo iniciao aqui, num lugar que vocs chamam de. .. (ela cita nominalmente uma das cidades-satlites do Grande Rio e que, por motivos bvios, no pode ser identificada aqui). Eu estava fazendo uma iniciao l, num grupo. S que l eu era uma Vov, como eles me chamavam. E eu ajudava.. . ajudei muita gente a.. . nos seus amores.

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Sim, filha. Ento ajude-se a si mesma. Voc tambm tem os seus amores.Mas isso no era bem, que eu fazia? As pessoasiam! No interessa. Ele casado. No quero saber, eu nsto dele. Ento eu mandava levar uma roupa. A eu fazia ma imantao. Voc no conhece essas coisas. . .Conheo. Minha querida, enquanto isso o seu Esprito est parado, voc est acumulando. . . (dvidas).Ela interrompe para falar do seu novo trabalho: Agora estou fazendo um trabalho muito melhor!No est, minha querida. Voc est fazendo a mesma coisa, cometendo os mesmos erros, iludindo as mesmas pessoas.

Mas se as pessoas te pedem as coisas... As pessoas esto te pedindo!

Ento, se te pedem para matar, voc d o veneno e diz: Olha aqui! Pode matar! assim que a gente faz?

O Evangelho no diz: Pedi e dar-se-vos-?

Sei. A morte, a dor, o sofrimento?

Nunca entendi bem esse Evangelho que manda fazer uma coisa e quando voc faz critica e diz que voc est errado. (Altera a voz, j beira do choro).

Filha, o Cristo no mandou matar.

Pedi e dar-se-vos-f! grita ela. Ento eles vm, pedem e voc no vai dar?

Ele mandou voc matar, mandou distribuir veneno?

Eu no matei ningum.

Matou sim, minha filha. Vamos assumir a responsabilidade, por favor. No se trata aqui de acusar ningum; trata-se de mostrar que voc tem de assumir as suas responsabilidades para poder resgat-las. A lei exige. Voc sabe disso, minha querida.

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Quanta gente ia l e eu dizia que era um reencontro do passado. Era uma outra reencarnao. Ento, estava explicado por que ela podia querer aquele homem ou aquele homem querer aquela mulher. Eles sempre gostavam muito de passado, de saber do passado para justificar as coisas.Voc gostou de D. Ramn mesmo, ou s porque ele te oferecia o poder?

Eu gostei de D. Ramn. Gostei mesmo. Ele era bom. Ele me amava. Ele amava a minha beleza, a minha dana.

Mas ele amava voc como ser humano?

Ele amava a mim, ele amava o que eu era. Amava tudo que eu tinha de bom. (A essa altura, j estava chorando). E eu era boa. Eu s queria danar. . .

Sim, minha filha. Eu compreendo. No havia maldade em seu corao.

Danar a Sevillana. . . to bonito! Ora Viva SeviIha! diz, chorando sempre.

Escute! E voc no encontrou D. Ramn no mundo espiritual?

No encontrei D. Ramn, porque fiquei com tanto dio que, quando eu tomei aquela taa. . . De repente. . . eu no entendi, porque morri, mas no morri. E a, quando vi, ela estava rindo na minha cara, dizendo Ele agora meu novio\ Ento voei na garganta dela, e apertei a garganta dela, mas no conseguia mat-la, porque as minhas mos passavam na garganta dela! (Continua chorando). Tentei envenenar a outra taa, mas no conseguia segurar as coisas. Eu no entendia e via aquele corpo que era eu, l no cho. . . com a minha mantilha negra, to bonita! E a rosa nos cabelos. .. Eu era jovem e era bonita. E nunca mais a deixei. E ela no foi feliz com D. Ramn, porque eu no a deixei. Fiz ela ficar louca, louca. . .

E voc se sente feliz com isso? Claro que no.

Isso j passou h muito tempo. E no aplacou a minha tristeza.

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Pois , e nunca vai aplacar, minha querida. E no ssim que voc vai chegar a D. Ramn. No pelos caminhos do dio.Ela teve um filho de D. Ramn, que eu fiz afogarCchora sem parar). Foi a nica coisa que me fez sentir pena depois. Depois disso sa de l, porque ele sofreu tanto! Eu sempre amei D. Ramn! E fiz ele sofrer, porque tinha matado o filho dele.. . Naquele dia deixei a casa dele. Fui-me embora.E a criana? Voc a encontrou? Onde est essacriana hoje? Voc sabe?No sei, no. Fiquei to louca porque se D. Ramnsoubesse, ele ia ter dio de mim. Sou to infeliz! Sempre fui infeliz, sozinha. . Nunca mais tive ningum, depois daquela Sevilha. Ficava sempre com pena daquela criana que eu... que fiz afogar.Minha filha. Agradeo, do fundo do corao, a sua confisso to emocionada. A sua dor, ns a respeitamos com todo o nosso carinho. Por favor, agora pra um pouquinho. Vamos pensar nessas coisas todas, tristes, que passaram, para corrigi-las.

Ser que um dia Deus me deixa ter aquele menino como meu filho?

Claro: Claro que vai deixar. certo isso. Conte com isso, mas preciso que voc d condies, no , minha querida?

Mas os homens so to maus.. . todo mundo to mau!

Sim, minha filha, mas a maldade est em ns, no est em Deus. Todas as criaturas so ms? No so. H muita gente boa. Voc mesma reconhece que D. Ramn era um homem bom.

D. Ramn era bom, era muito bom.

Provavelmente voc ter ainda oportunidade de ser esposa dele e, quem sabe?, receber aquela criana de volta e

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%a outra moa que voc sacrificou tambm e conciliar tudo isso numa s famlia. Quem sabe? Mas preciso que voc se prepare para isso. No vai ser fcil; no vai ser de uma hora para outra, por um passe de mgica. . .Andei esse tempo todo procurando D. Ramn, mas nunca o acho.

claro, minha querida. Voc est procurando pelos caminhos errados, voc no est procurando onde ele est.

Mas qual o caminho certo? Qual ?

O caminho o do amor, no o do dio. Como que voc pode aproximar-se dele e dizer. Estou aqui!

Mas eu no sei onde ele est!

Sei, filha. Mas voc vai chegar a ele e dizer: Eu matei o seu filho?

No est mais em Sevilha. No h mais ningum em Sevilha. Sevilha est to mudada!

Sei, minha querida. Mas ele um esprito imortal, como voc. Quanto tempo tem isso? Lembra-se do sculo? Que ano foi isso? Quantos anos voc tinha quando morreu?

Tinha 18 anos. Eu era uma criana...

Em que ano voc nasceu?

Eu? (Pausa). No sei...

No sabe. Mas tem muito tempo, no tem?

Tem. Vejo o nmero quinze.

Sculo? No importa. O certo que se passou muito tempo e esses sculos todos, esse tempo, voc continuou a odiar, continuou a perseguir pessoas, culpando essas pessoas pelos seus prprios erros. No digo que elas sejam todas inocentes. Aquela moa tambm tem suas culpas, mas voc agravou as suas, tentando eliminar a vida dela. Somos espritos imortais. Respondemos pelos nossos enganos. Por favor, agora procure compreender tudo isto, deixe essas emoes to

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u nitns do verdadeiro amor que voc traz no seu esprito mostrarem o seu caminho.__ Tenho um nmero na minha cabea: um, cinco,oito, seis.. 1586. Pois . com dezoito anos, portanto, vocestaria em 1604, j no princpio do sculo XVII. Ento, l se vo mais de trezentos e tantos anos. V quanto tempo voc perdeu odiando? Agora, minha filha, procura recuperar esse tempo amando. Amando de verdade, o amor superior.. .Mas estou to sozinha! Todo mundo me explora.No tenho ningum. Perdi todos. .. Perdi todos, estou sozinha! ...Voc no est sozinha; est conosco. Voc no nos conhece h muito tempo?

No estou com vocs; estou sozinha.

Vai estar agora. Quer ficar conosco?

Eu queria ver a me!

Como se chamava a sua me?

Angelita.

Angelita! Que bonito nome! Quem sabe ela est sua espera todo esse tempo, tentando comunicar-se com voc? Era uma boa me?

Era...

Sabia rezar? Levava voc a Igreja quando voc era pequenina? Minha querida, ela continua a te amar tambm. Provavelmente est esperando por voc. Quer ficar conosco, ento? Voc no obrigada a ficar. Voc livre de partir, mas gostaramos que ficasse pelo menos por algum tempo.

E que eu vou fazer da minha vida?

Vai fazer o seguinte: agora voc vai apenas descansar. Depois vamos conversar. Provavelmente vai ter oportunidade de estar com sua me.

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- Por que essa Doutrina esquisita, que todo mundo fala, mas ningum leva muito a srio? Por que eles no levam?Pois , minha querida. Ns levamos, aqui, e tentamos ajudar. . . O pouco que a gente pode fazer, a gente faz. E estamos oferecendo a voc o nosso carinho, o nosso corao a nossa compreenso pelas suas dores. Voc no vai ser desrespeitada aqui, nem magoada, nem maltratada. Tenha pacincia. ..

Eu queria um jardim para cuidar das minhas rosas...

Voc ter o seu jardim e ter oportunidade de estar com sua me. Vamos pedir a ela que receba o seu esprito para que voc possa ter um pouco de paz. Depois voltaremos a conversar. Est bem? Voc me perdoa, minha querida, pelas dores que fomos obrigados a trazer tona, no seu esprito, para que voc pudesse chorar um pouco e saber que continua amando. Que voc tem amor no seu corao. Pela sua me, por aquele companheiro, por aquela criana. Mas voc vai tambm precisar aprender a amar aquela a quem to duramente prejudicou. No ? Aceite-a tambm, como sua irm. No vai ser difcil, porque voc sabe amar. Voc era criana ainda e o choque foi muito grande, a dor foi muito forte e a desorientou. Mas aceite a sua responsabilidade. Est de acordo?

Estou sentindo um calorzinho. Quanto tempo que eu no sentia um calorzinho. (A anestesia voluntria do corao na frieza, que uma fuga).

Vai com os nossos companheiros aqui. Eu te agradeo muito voc ter confiado em ns.

Mas eles no vo me prender?

Claro que no. Voc livre de ir a hora que quiser. O que estamos propondo que voc v descansar um pouco.

Mas agora que todo mundo sabe, no vo me prender numa cela?

Provavelmente essa ameaa foi empregada pelos seus mandantes para manter a pobre moa sob controle nas tarefas das sombras.58

No, minha filha. Voc j esteve presa na sua onscincia mais de trezentos anos. Voc precisa agora comear a trabalhar para resgatar-se dessas dores. Voc confia em ns, no confia?Confio.

Deus te abenoe. Fica conosco, ento. Vai comesses companheiros.Eles vo dizer que falhei. Mas eu estava tocansada..Eu sei. Voc hoje teve um gesto de coragem, de disposio para a luta. Sei que voc um esprito valoroso, uma mulher sensvel, inteligente. Voc vai compreender tudo isso muito bem e vai aceitar a nova situao.

Eu j no estava com muita raiva dela mais, no. Porque depois que ela ficou. . . que ela pegou esse livro, rezava e pedia perdo a quem tivesse ofendido. . . Todo dia, todo dia. . . Eu j no tinha mais aquela vontade de. . . Eu j tinha at me arrependido do que fiz perna dela... Voc me ajuda? Voc parece um pai to bom!

Minha querida, voc uma criana que cometeu seus enganos. Agora vamos comear a refazer isso tudo. Ns a ajudaremos. No faltar a voc o carinho, a compreenso de Espritos muito melhores do que eu.

Vocs me perdoem. Diz a eles para me perdoarem. Eu disse tanta bobagem.

Ns perdoamos, minha querida. No se preocupe com isso. Agora v em paz e vamos pedir nossa querida Angelita que v ao seu encontro no mundo espiritual.

Ela corrige a pronncia, repetindo o nome da me com a perfeita entonao castelhana:Angelita...

Deus te abenoe! Vai!

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O VINHOVemos, nesta srie, que os irmos desencarnados trazidos ao Grupo medinico recaem sempre numa das cinco ou seis categorias usuais, embora conservando certo colorido pessoal. O desta narrativa do gnero autoritrio, agressivo, habituado a mandar e no a obedecer. Acresce que estava irritadssimo com a interferncia do grupo na sua equipe, pois a seu ver estvamos aliciando seus trabalhadores. Na verdade, alguns dos seus auxiliares mais diretos j haviam estado conosco e resolveram no mais regressar comunidade onde serviam aos escusos propsitos de seus mandantes.Ele vinha, portanto, no para responder perguntas, mas para faz-las. Reclama das nossas preces incomodativas, pois durante a semana toda nos mantivemos ligados a eles pelas vibraes da prece e do amor fraterno. Na sua opinio de pessoa autorizada, porque era tambm (disse ele) um magnetizador e conhecia os segredos da mente, tais preces eram perigosas indues hipnticas que, infelizmente, influam sobre seus auxiliares por causa da fragilidade de suas mentes. Voc sabe muito bem disse ele que temos de trabalhar com mentes mais fracas, seno no obedecem. Que o doutritrinador tentasse, porm, magnetiz-lo para ver se conseguia! Jamais! Pois ele tinha suas defesas e conhecia os artifcios e a tcnica empregada.Desse tom mais spero, mudou depois para uma abordagem mais acalmada, propondo uma espcie de pacto de nointerferncia. Achava que o campo de trabalho era suficientemente amplo para todos: seguiramos com as nossas atividades, naturalmente modificadas, de forma a no criar-lhes dificuldades, e eles prosseguiriam nas suas.60

Embora no nos seja prudente aqui entrar nos pormeda sua filosofia de trabalho, podemos dizer que era tamhm daqueles que preferem ir diretamente a Deus, sem a rPidade de doutrinas subsidirias como a do Cristo, por exemplo. Se podamos alcanar a prpria cincia divina, nos que perder tempo pelos atalhos? Alm do mais, o Espiri-Lmo que ele insistia maliciosamente em rotular, com bviampropriedade, de Kardecismo tinha o grave defeito de ficar a suscitar complexos de culpa, que somente serviam para atrapalhar a marcha evolutiva do ser para Deus. O erro seria mero instrumento de aprendizado. Errei, sim diria o homem mas sigo em frente. Entendia ele que o esprita, preso noo de carma, ficava parado, resgatando as suas pretensas culpas.Por outro lado, no era preciso que os Espritos viessem s sesses de desobsesso para serem doutrinados. Isto tambm era um atraso, tcnica j superada e que deveria ser prontamente abandonada.Falou por muito tempo, admitindo, a custo, aqui e ali, a interferncia e a paciente contestao do doutrinador. Estava um pouco mais sereno, mas ainda muito cnscio da sua autoridade, da sua importncia, do seu nvel intelectual e muito seguro de si. Voltou s ofertas de participao. Traaramos um plano de mtua assistncia e cooperao, satisfatrio a ambos os grupos, pois, insistia em dizer que havia lugar para todos. Eles eram mensageiros da verdade divina e naturalmente aceitavam aquilo que, no contexto da doutrina de Jesus, estivesse de acordo com o que chamava de cincia divina. Quando lhe foi perguntado o que no estava de acordo com a cincia divina dentro dos ensinamentos evanglicos, no soube responder com a mesma vivacidade e o mesmo brilho.A partir desse ponto e aps a prece habitual, comeou a induo magntica. Sua reao pronta e enrgica, pois sabe que se ceder, um pouquinho que seja, no saber mais onde ir ter.Pra com isso! No sou criana! Voc quer fazer o favor de agir como um homem age? No quero que me trate assim! Isso uma falta de respeito. Sou uma pessoa de posi-

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o. (A essa altura j vai cedendo). Que gosto esquisito na minha boca! O que voc botou na minha boca? Que gosto estranho!... O que voc est querendo provar com isso? Que forte? Que bom magnetizador? Isso eu j sei. . . Seus fluidos viscosos. . . Esse gosto na minha boca. . . Gosto de qu, isso? Esquisito... Gosto ruim, meio adocicado. Est me fazendo mal. algo lquido. . . . . . mas esse gosto deveria estar noutra taa; no na minha! noutra taa que est esse gosto estranho, adocicado. ..Ah! sim. Foi uma troca de taas, ento, no ?

No sei... Sei l do que voc est falando!

Estou apenas supondo. Havia, portanto, uma taa preparada para algum, no ? verdade? E voc acabou tomando, no ?

Que acabei tomando nada, menino. .. No aconteceu nada. Voc j est querendo me induzir coisas. Voc no vai comandar minha mente, no. No vai!

Quem est com voc?

Deve ser algum parente seu: sua me, sua irm... Que gosto estranho! Continue. No voc que est me conduzindo? No est vendo o resto? Voc fica a me induzindo, me fazendo criar quadros mentais, quando no tenho nada aqui na minha frente. Ningum. Voc est tentando o qu? Mistificar? isso? Tentando criar um quadro a? Quer que eu diga coisas?

Meu irmo! Voc que sabe. Eu no posso criar nada para voc. O que est no seu esprito no posso mudar, meu caro.

No tem nada no meu esprito. S tem esse gosto na minha boca.

Tem a cena, tambm. uma sala?

Que cena!. . . Pra com isso. Que dor aqui no pescoo.. . Que isso? Tira isso daqui! Tira essa corrente daqui. Est me incomodando. Voc no pode tirar essa corrente? Essa corrente aqui, que estou falando. Que corrente

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9 Tira isso da. Deve ser essa corrente que est me apertando o pescoo.Voc est sozinho a? Onde isso? no seu palcio, na sua residncia?. Que palcio coisa nenhuma. Ai meu pescoo. . .a; Est me sufocando. . . Ai! Ah! sim, essa gola. . . essa Ia desse. . desse manto. Est muito em cima. Bem que andei fazer isto com a gola mais baixa um pouco, mas fazemto com esse cano vindo aqui em cima. O calor est me incomodando.

O doutrinador lhe fala pacientemente, tentando encoraj-lo ao relato; quando lhe diz que seu amigo, ele responde:Que amigo, nada! Eu no tenho amigos aqui dentro.No tenho nada a mostrar nem a falar aqui. Voc est enganado. Que veneno! um licor. . . Quem tomar isso vai dormir o sono da tranqilidade. Claro que no tomei. . .E por que o gosto, ento?

No sei. No tomei. Uma taa. um amigo que vai chegar a. Vai chegar naquela porta ali. Vai entrar por ali. Esta a pequena sala em que recebo as pessoas. Vai entrar ali. E vamos tomar um bom vinho para comemorar. Mas acontece que ele no sabe. Aquele lugar tem que ser meu. Ningum vai ocup-lo. Simplesmente ele tem que ser removido. (Longa pausa cheia de hesitaes). E da. . . da. . . o maldito trocou a taa sem eu perceber! (Em seguida grita indignado) E agora est rindo a na minha cara! Voc no est ouvindo as gargalhadas dele? Enquanto me contoro aqui, ele ri! Olha como ele d gargalhadas, o maldito! Est vendo como ele d gargalhadas? Voc ouve? Eu, ali, estou morrendo. Ele no sabe que isso no vai ficar assim! vou persegui-lo. Tenho perseguido ele a vida inteira. E agora sei onde ele est. So que para uma vingancinha diferente, estou dando corda a ele, para ele subir, subir, subir... Ele quer subir... Ele quer ser importante! Quando ele estiver l em cima.. . No sou eu que vou derrubar, no, meu caro. No. So vocs a mesmo. ao os que esto em volta dele. Vo dizer que ele est louco. vai cair...

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trono?Sim, mas voc no queria elimin-lo? .

Eu tinha justas razes. I

Sei. Quais so essas justas razes? Voc queria oi

Aquele lugar era para ser meu.

Onde era esse trono?

Onde mais? Onde houve tantos tronos?

Quando o doutrinador diz a palavra-chave, ele estre-mece:No Vaticano? Voc queria ser ento o sucessor do nosso Pedro? Governar em nome de Jesus? No conseguiu dessa vez? Voc acha que aquele irmo o culpado?

Ele maldito. Maldito!

E voc conseguiu de outra vez?

O que voc no faz? Eu queria conseguir naquela poca!

E voc acha que estava preparado para ser o representante de Jesus, na Terra?

Claro... claro... claro...

Mas, eliminando um companheiro pelo veneno?

Claro! Tudo era possvel. Ele no me eliminou pelo veneno? E ele eliminou outros pelo veneno, como eu j havia eliminado outros. O veneno era o grande segredo.

Sim.. . disputando uma posio de pastor de almas ...

Voc, com o veneno, resolvia todos os problemas.

Resolvia mesmo? Por que no resolveu o seu, meu

irmo?depois.Resolveu o meu tambm, porque eu me vinguei

Tudo em nome de Jesus?

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__ Tudo em nome no sei de qu...g assim que disputamos as posies que somos destinados a ocupar?__ , meu amigo. . . Voc conhece muito pouco dosmens para falar assim. Voc tambm usaria o veneno, setivesse l na ocasio. Se te dessem a ocasio e os motivos,voc usaria o veneno. O poder. . . O poder era tudo. S ospoderosos tinham um lugar ao sol!A conscincia no importa?No. A conscincia se compra. A conscincia... Voc se confessa, voc. ..

Quem perdoa?

Voc mesmo.

Ento, no preciso ir a Deus...

Deus est em ns, ns estamos em Deus...

Ento voc tem poderes para se perdoar a si mesmo?

O perdo a ausncia de culpa. Eu no poderia me sentir culpado por algum que me assassinou. A culpa dele neutralizou a minha.

Voc, ento, no deve nada perante as leis do Nosso Pai?

No. Pelo contrrio: ele que me deve. Ele me tirou a vida. S Deus pode tirar a vida.

Sei. Voc, ento, era Deus para querer tirar a vida dele?

Que isso? Voc est torcendo as coisas.

Meu irmo, voc assumiu a posio divina e resolveu tirar a vida dele. A, ele trocou as taas...

Aquilo ali um antro de gente podre. .. todos os que esto ali. Procura ver as fichas deles. Nenhum deles melhor do que eu. Todos tm crimes nas conscincias... E no entanto, eles esto l.

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Escuta, mas ento, voc tambm tem. E voc no precisa da misericrdia divina tambm?Deus j me perdoou, porque Deus no condena No tenho sentimento de culpa. No tenho.

Voc acha, ento, que no errou?

Mas, como? Se fui a vtima. .. Ele me matou e ainda riu; enquanto eu me contorcia ali, ele ria.

Dentro da Igreja, dita do Cristo?

Dentro da Igreja, numa sala reservada que eu tinha.

Voc era um Cardeal?

Eu era quem de direito.

Vamos, agora, mais atrs, para buscar outras razes disso. Desejo que voc descubra no seu ntimo porque est a dentro guardado porque voc abandonou a doutrina de Jesus. Por que voc no a aceita? Isto um episdio isolado que no esclarece sua posio.

No tenho nada contra Jesus.

O doutrinador insiste com certa energia na regresso, no desejo de ir at as razes do problema; caso contrrio o companheiro sairia dali ainda sem estar devidamente convicto da necessidade imperiosa de reformulao das suas falsas posies.Em breves instantes ele recai no contexto de outra encarnao e comea o relato:Fao vinhos. Dos melhores... (O vinho outra vez. . .) Todos os homens importantes vm beber na minha casa, porque tenho o melhor vinho. Sou um homem rico. E tenho Raquel, que linda. Ela o meu sonho. Ela a luz desta casa.

sua filha?

Sim. E est prometida a um nobre. Farei os melhores vinhos...

E o que aconteceu a Raquel?

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Raquel? Ficou louca! Foi um velho que a enlou-Contou histrias loucas. Histrias de um louco.quece _. prometida a um nobre mais rico. Isto ia dar fora minha casa.E ela seguiu o Cristo?Cristo? Seguiu a loucura! Largou tudo, deixou abotou uma sandlia, deu tudo de seu e foi viver entrericos imundos, cuidando de leprosos, doentes. No tenhomais filha! Nunca tive uma filha.... e voc nunca mais viu Raquel?Raquel? Quem Raquel? Raquel foi um sonho! Eu perdi tudo. O noivo no me perdoou. Ele arrasou com a minha casa. Tudo por causa de um pesadelo, de uma loucura! Est tudo rodando.. . rodando... (Fica extremamente aflito e se queixa de uma desesperadora tontura). E ento. . . este velho cansado. . . Raquel. . . uma loucura! (Depois, com voz mais forte, novamente) Preciso curar Raquel! Mandei para ela um vinho, um vinho que iria cur-la para sempre, para sempre. .. (Chora de desespero, de impotncia, de angstia. O doutrinador redobra sua ateno com ele, tratando-o com emocionada ternura. Desata-se, afinal, o dique das suas aflies em tumulto). Tenho que cur-la! Minha filha! Era o meu sonho, minha alegria! Est doente. uma louca! Mandei o vinho que ia cur-la. . .

E o noivo dela, voc encontrou depois, no ?

..

E Raquel? Voc nunca mais a viu? Vamos repassar essas vidas que se seguiram a essa.

Voc j teve uma filha linda?

Imagino, meu irmo. E pura. E dedicada ao servio do prximo. O que est errado nela em amar o Cristo e Procurar seguir a sua doutrina, curando enfermos, abandonando as riquezas?. . .

, . uma maluquice! Toda poca de colheita eu a azia rainha da vinha. Eu a coroava com as uvas e ela botava67

um vestido lindo, todo branco e a coroa de uvas. Enlouque ceu!Mas, depois que ela ficou louca, como voc diz.

Eu a curei. Eu a libertei. Mandei um vinho.

Ento, voc a matou... Ela tomou.. .

No. Eu a livrei da loucura.

No fuja das palavras, meu filho. Voc a matou Acontece que o Esprito sobrevive. Voc sabe disso. No a encontrou, mais tarde, no mundo espiritual?

Raquel? Raquel um anjo.

E se ela viesse aqui?

Raquel um anjo. Est no seio de Abrao. No pode descer aqui.

Ela no te abandonou, no deixou de te amar, como voc no deixou de am-la. Voc gostaria de v-la?

Raquel? Quem Raquel? Est tudo to longe, est tudo fugindo! Estou longe. . . longe. . . A ponte. . . a ponte. Estou l, to longe. . . No posso passar! A ponte. . . No posso!

O doutrinador lhe diz uma ltima palavra de consolo, de estmulo e de esperana. Em seguida, ele retirado.A est, com toda a sua fantstica preciso, o mecanismo das leis divinas