Hernia Capitulo27

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CYAN MAGENTA AMARELO BLACK 27 HÉRNIAS NA CRIANÇA SANDOVAL LAGE Hérnias da parede abdominal e da região inguinal estão entre as condições cirúrgicas encontradas na criança, de ambos os sexos, com que os pediatras, cirurgiões pediá- tricos e cirurgiões gerais freqüentemente se defrontam. O significado clínico destas hérnias varia desde esclare- cer uma dúvida aos familiares até uma intervenção ci- rúrgica de urgência, com um considerável risco que en- volve estrangulamento de alça intestinal, gônadas e anexos. É essencial que o médico tenha conhecimento destas condições, sabendo orientar quando deverá ocor- rer a intervenção cirúrgica, e também quando não se deve operar a criança. Este capítulo se dedica a uma bre- ve discussão dos métodos diagnósticos, abordagem e complicações destes procedimentos cirúrgicos freqüen- temente realizados em pediatria cirúrgica. HÉRNIA UMBILICAL Etiologia e Embriologia O desenvolvimento de uma hérnia umbilical (HU) tem uma base embriológica, assim como uma base anatô- mica. Embriologicamente, a falha de aproximação na li- nha média dos músculos reto-abdominais após o retor- no do intestino médio à cavidade abdominal predispõe o feto ao aparecimento de uma hérnia umbilical. Anato- micamente, o anel umbilical consiste na cicatriz umbi- lical, no ligamento redondo e na fáscia umbilical. O li- gamento redondo em geral passa pela margem superior do anel umbilical e ancora-se na sua margem inferior. Quando o ligamento redondo atraca-se somente à mar- gem superior do anel umbilical, o assoalho desse anel é formado apenas pela margem superior do anel umbili- cal e peritônio. Este formato de assoalho predispõe o de- senvolvimento de uma hérnia umbilical no feto. Incidência A HU é uma das condições mais comuns que ocorrem na especialidade de cirurgia pediátrica e leva o pequeno paciente ao consultório do cirurgião no início de sua vida. Em situações que o anel umbilical é de diâmetro significativo, o aspecto externo da pele protruída traz angústia aos pais, que demandam uma solução para o problema (Fig. 27.1). Observam-se, na prática diária, tentativas de obli- teração do anel umbilical e redução do conteúdo do saco herniário com a utilização de artefatos caseiros, como moedas e/ou objetos circulares e achatados fixa- dos com adesivos à pele na tentativa de fechar o orifício Fig. 27.1 Protrusão da cicatriz umbilical.

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SANDOVAL LAGE

Hérnias da parede abdominal e da região inguinal estãoentre as condições cirúrgicas encontradas na criança, deambos os sexos, com que os pediatras, cirurgiões pediá-tricos e cirurgiões gerais freqüentemente se defrontam.O significado clínico destas hérnias varia desde esclare-cer uma dúvida aos familiares até uma intervenção ci-rúrgica de urgência, com um considerável risco que en-volve estrangulamento de alça intestinal, gônadas eanexos. É essencial que o médico tenha conhecimentodestas condições, sabendo orientar quando deverá ocor-rer a intervenção cirúrgica, e também quando não sedeve operar a criança. Este capítulo se dedica a uma bre-ve discussão dos métodos diagnósticos, abordagem ecomplicações destes procedimentos cirúrgicos freqüen-temente realizados em pediatria cirúrgica.

HÉRNIA UMBILICAL

Etiologia e EmbriologiaO desenvolvimento de uma hérnia umbilical (HU) temuma base embriológica, assim como uma base anatô-mica. Embriologicamente, a falha de aproximação na li-nha média dos músculos reto-abdominais após o retor-no do intestino médio à cavidade abdominal predispõeo feto ao aparecimento de uma hérnia umbilical. Anato-micamente, o anel umbilical consiste na cicatriz umbi-lical, no ligamento redondo e na fáscia umbilical. O li-gamento redondo em geral passa pela margem superiordo anel umbilical e ancora-se na sua margem inferior.Quando o ligamento redondo atraca-se somente à mar-gem superior do anel umbilical, o assoalho desse anel éformado apenas pela margem superior do anel umbili-

cal e peritônio. Este formato de assoalho predispõe o de-senvolvimento de uma hérnia umbilical no feto.

IncidênciaA HU é uma das condições mais comuns que ocorremna especialidade de cirurgia pediátrica e leva o pequenopaciente ao consultório do cirurgião no início de suavida. Em situações que o anel umbilical é de diâmetrosignificativo, o aspecto externo da pele protruída trazangústia aos pais, que demandam uma solução para oproblema (Fig. 27.1).

Observam-se, na prática diária, tentativas de obli-teração do anel umbilical e redução do conteúdo dosaco herniário com a utilização de artefatos caseiros,como moedas e/ou objetos circulares e achatados fixa-dos com adesivos à pele na tentativa de fechar o orifício

Fig. 27.1 Protrusão da cicatriz umbilical.

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umbilical. Tais métodos podem levar a lesões da pelecom infecção subseqüente e até necrose por compres-são demasiada da fina camada de pele que recobre oorifício umbilical.

A incidência exata da ocorrência da HU é difícil deser constatada, pois a resolução espontânea é freqüente.Etnia e prematuridade são fatores predisponentes, sen-do observada a HU com maior freqüência em criançasnegras e prematuras. A relação meninos/meninas é de2:1. A HU costuma ser um achado isolado, mas há rela-tos na literatura de associação com defeitos como: hér-nia inguinal, trissomia 21, hipotireoidismo congênito emucopolissacaridose.

HISTÓRIA CLÍNICAA protrusão do anel umbilical é um evento que freqüente-mente leva a família a procurar o pediatra ou o médico ge-neralista. Quanto maior o anel umbilical não fechado,maior é o volume de conteúdo da cavidade peritoneal queprotrui pelo orifício umbilical, abaulando a pele, o que cau-sa mal-estar nos familiares (Figs. 27.2 e 27.3). O conteúdoda hérnia pode ser constituído de gordura peritoneal ou al-ças intestinais, daí levar a família a referir a ocorrência deruídos estranhos no umbigo (ruídos hidroaéreos).

Geralmente o orifício umbilical pode fechar espon-taneamente até a idade entre 3-5 anos, sendo rara, masnão impossível, a ocorrência de dor local e/ou encarcera-mento. É importante que o examinador informe a famí-lia da possibilidade de ocorrência deste evento, sendoaconselhado o acompanhamento deste detalhe da crian-ça pelo pediatra assistente.

Hérnias umbilicais com diâmetro maior que 1,5 a2 cm são mais improváveis de obterem uma resolução

espontânea. Quanto mais espessadas forem as bordasdo anel umbilical, maior será a possibilidade de umfechamento fisiológico. Orifícios umbilicais com bor-das finas, adelgaçadas, tendem a apresentar um fe-chamento menos eficaz. Se a HU persiste até a idadeescolar, o tratamento cirúrgico deve ser considerado.Em meninas, o aspecto estético da hérnia umbilicalleva os pais a procurarem uma resolução cirúrgicamais freqüentemente. O reparo cirúrgico antes do pri-meiro ano de vida pode ser realizado se ocorrerem sin-tomas de encarceramento ou dor local. Na prática diá-ria de consultório as crianças são submetidas ao trata-mento cirúrgico na faixa de 2-3 anos de idade. O defei-to umbilical pode perdurar até a idade adulta, sendoprevisível o aumento durante a gravidez, e há maiorrisco de encarceramento em adultos do que em crian-ças (Fig. 27.4).

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Fig. 27.2 Aspecto grotesco da cicatriz umbilical em lactente.

Fig. 27.3 Aspecto grotesco da cicatriz umbilical em lactente.

Fig. 27.4 Hérnia umbilical encarcerada.

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Pré-operatórioA criança deverá realizar exames, como hemograma,coagulograma e avaliação cardiológica pré-operatória,além de consulta prévia pelo pediatra assistente. Sendouma operação de caráter eletivo, é desejável que o pe-queno paciente esteja em excelente condição clínica. Aoperação deverá ser realizada na época mais adequadapara a criança e seus familiares, devendo-se levar emconsideração o período letivo e as atividades profissio-nais da família para evitar contratempos no períodopós-operatório. A internação poderá ocorrer uma horaantes do início previsto da operação, observando-se umjejum prévio de 4 a 6 horas. O procedimento deverá serrealizado, de preferência, em hospital pediátrico, sobanestesia geral, com narcose por anestésico inalatório –halotano ou servorane (sob máscara, máscara laríngeaou intubação traqueal) – e bloqueio periumbilical oubloqueio caudal epidural.

TÉCNICA OPERATÓRIAA criança é posicionada em decúbito ventral, sobre col-chão de água com aquecimento constante, e a pele épreparada com degermação prévia, usando-se PVPI ouClorexidine. O umbigo geralmente é uma área que re-cebe pouca atenção durante o banho diário, o que podeocasionar acúmulo de sujidades. A anti-sepsia pode serfeita com PVPI tópico ou Clorexidine alcoólico; a placado bisturi elétrico deve ser posicionada na criança emárea de maior quantidade de massa muscular e longede locais onde possa ocorrer derramamento de fluidos(Fig. 27.5).

Os campos operatórios de tecido são posicionados so-bre o paciente, também podendo-se utilizar campo adesi-vo estéril iodoforado (Ioban®). A incisão pode ser su-pra-umbilical, transumbilical ou infra-umbilical (Fig.27.6). Os pontos de sangramento são controlados por dia-termia. O saco herniário é dissecado, isolado circunferen-cialmente da pele em sua totalidade, aberto e verificadoseu conteúdo. Pode ocorrer a presença de gordura perito-neal fixada à parede interna do saco. É feita a ressecção dosaco em direção à sua base até se encontrar uma fáscia eplano muscular consistente. O defeito pode ser fechadotransversalmente com fio absorvível multifilamentado delonga duração (vicryl 3-0 ou 2-0) (Fig. 27.7). Os pontos de-vem ser confecccionados invertidos. A incisão é fechada,com pontos intradérmicos de vicryl 5-0, de absorção rápi-da, podendo-se invaginar o ápice da pele redundante.

Ao término da operação, coloca-se uma bolinhaconfeccionada de gaze no orifício umbilical para moldara cicatriz e cobre-se com curativo de filme transparenteadesivo (Tegaderm®). Deve-se orientar para manter ocurativo seco, que poderá ser retirado no 7o dia de pós-operatório (Fig. 27.8).

COMPLICAÇÕESPodemos assinalar: hematoma da ferida cirúrgica, in-fecção e reação tecidual pela presença de fios cirúrgicos.A recorrência da hérnia é extremamente rara.

HÉRNIAS EPIGÁSTRICA E SUPRA-UMBILICALResultam de defeitos congênitos na fáscia no local dosvasos perfurantes subjacentes no sítio de separação das

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Fig. 27.5 A e B Posicionamento adequado da placa do bisturi elétrico.

A B

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A B C

Fig. 27.6 Incisões: A Supra-umbilical. B Infra-umbilical. C Transumbilical.

B

A EC

B FD

Fig. 27.7 A Isolamento do saco herniário. B C Abertura e ressecção do saco até a borda muscular. D Fechamento doanel. E Invaginação e fixação da cicatriz umbilical. F Fechamento da incisão com sutura intradérmica.

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fibras da linha alba. Em geral ocorrem no mesoepigás-trio, podendo ser múltiplos, e apresentam aspecto elíp-tico. Na maioria das vezes este defeito pode ser notadocomo um pequeno nódulo na linha média supra-um-bilical, durante o exame físico de rotina, ou a criançapode referir dor epigástrica. Com o passar do tempo e oaumento da pressão intra-abdominal, essas fibras so-frem uma separação mais acentuada, e posteriormentepode haver a passagem de gordura pré-peritoneal sob otecido subcutâneo, tornando-se visível e palpável, e atémesmo ocorrendo dor, e mais raramente o encarcera-mento. São defeitos pequenos, em torno de 0,5 a 1cm.Estas hérnias não devem ser confundidas com umadiástase dos músculos reto-abdominais. Estes defeitosnão se fecham de forma espontânea, sendo indicado otratamento cirúrgico (Fig. 27.9).

O preparo pré-operatório é o mesmo realizado paraa herniorrafia umbilical. O pequeno tamanho da massa

e do defeito torna imperativo o cuidado que o cirurgiãodeve tomar ao marcar com caneta dermográfica exata-mente sua localização na pele antes de iniciar a aneste-sia geral, pois logo após a indução anestésica e o relaxa-mento subseqüente, a gordura pré-peritoneal localizadano defeito pode retornar à cavidade peritoneal, e as ten-tativas de localizá-lo antes e durante a operação podemser infrutíferas.

Técnica OperatóriaA incisão é transversa, exatamente sobre o local de-marcado, identificando o sítio do defeito. Em geral nãohá saco herniário envolvendo a gordura pré-peritoneal,e se esta estiver presente protruindo pelo saco, deve serligada com fio de vicryl 3-0 ou 4-0 e excisada, ou inver-tida e devolvida à cavidade peritoneal. O pequeno de-feito é fechado com suturas separadas ou contínuas de

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Fig. 27.8 A e B Molde na cicatriz e cobertura com Tegaderm.

A B

Fig. 27.9 A Hérnia epigástrica. B e C Protrusão da gordura pré-peritoneal pelo defeito.

A B C

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vicryl 3-0 ou 4-0, e a pele é fechada com sutura intra-dérmica com fio vicryl 5-0 ou mononylon 5-0 (Fig.27.10). A incisão é coberta com Tegaderm® e os cuida-dos pós-operatórios são os mesmos recomendadospara a herniorrafia umbilical.

HÉRNIA FEMORALÉ incomum em crianças e deve ser lembrada na oca-sião do exame físico de um paciente com queixa de au-mento de volume da região inguinocrural. Pode serconfundida com adenopatia próxima à junção safe-no-femoral. Na apresentação da hérnia femoral súbitao tratamento cirúrgico é indicado, visto que as mar-gens fixas do anel femoral podem exercer compressãono conteúdo herniado, não sendo raro o encarcera-mento, que ocorre pela protrusão do peritôneo atravésdo canal femoral, podendo conter órgãos peritoneaisou gordura extraperitoneal (Fig. 27.11).

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Fig. 27.10 A Locais de incisão. B Identificação do defeito epigástrico e da gordura pré-peritoneal. C Ligadura e ressecção dagordura pré-peritoneal. D e E Fechamento do defeito.

A B C

D E

Fig. 27.11 Hérnia femoral em adolescente.

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Técnica operatóriaO reparo da hérnia femoral pode ser realizado por trêsabordagens: ligamento infra-inguinal inferior de Lagen-beck, reparo transinguinal do ligamento de Cooper eabordagem abdominal extraperitoneal. A abordagemextraperitoneal ou inguinal pode ser utilizada em casosde estrangulamento; entretanto, sendo um evento inco-mum em crianças, dá-se preferência à abordagem in-fra-inguinal baixa. O preparo pré-operatório é o mesmoreferido anteriormente neste capítulo.

A incisão é feita em dobra cutânea sobre a massa vi-sível e palpável e iniciando-se inferior e medialmente aotubérculo púbico, estendendo-se lateralmente até a sen-sação táctil da pulsação da artéria femoral (Fig. 27.12).Aprofunda-se a incisão até localizar o saco recoberto pelafáscia cribiforme e pelo tecido gorduroso da virilha; iso-la-se o saco e reduz-se o conteúdo. É feita a dissecção dosaco, identificando-se as margens do anel: medialmenteo ligamento lacunar, lateralmente a veia femoral e ante-riormente o ligamento inguinal e o ligamento de Cooper,cobrindo a fáscia pectínea, e o ramo pubiano posterior-mente. Em geral, o saco é pequeno, sendo possível quecontenha em sua base tecido gorduroso retroperitoneal.

Ele pode ser aberto para verificação da total redução deseu conteúdo. Realiza-se a ligadura alta do saco, de ma-neira semelhante à herniorrafia inguinal quando umsaco longo está presente, ou, do contrário, realizam-se su-turas concêntricas em bolsa de tabaco para fechamento einversão do saco com fio multifilamentado não-absor-vível 3-0. No fechamento, as suturas dispostas entre oligamento de Cooper e o ligamento inguinal devem serrealizadas sem compressão da veia femoral. A incisão éfechada com sutura intradérmica com mononylon ouvycril 5-0, cobrindo-se com Tegaderm®.

HÉRNIA INGUINAL E HIDROCELEHérnias e hidroceles da região inguinal e escrotal estãoentre as mais freqüentes condições cirúrgicas que seapresentam diante do pediatra, cirurgião geral e cirur-gião pediátrico. Afetam meninos e meninas, podendooferecer um potencial de risco significativo quandoocorre a lesão de testículo, ovário ou da alça intestinal,em situações de encarceramento e/ou estrangulamento.Pode-se evitar estes eventos quando o diagnóstico preci-so é estabelecido e procede-se ao tratamento cirúrgico.

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Fig. 27.12 Identificação, abertura, ligadura e resecção e fechamento do saco herniário.

A C E

B D F

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Embriologia e AnatomiaO processo peritônio-vaginal (PV) está presente no fetoem desenvolvimento na 12a semana de gestação, tra-tando-se de um divertículo peritoneal que se estendeatravés do anel inguinal. Como o testículo desce porvolta do 7o ao 8o mês de gestacão, uma porção deste pro-cesso atraca-se ao testículo e sai do abdome, sendo car-reado até a região escrotal junto com o testículo. Umaporção do PV envelopa o testículo, tornando-se a túnicavaginal. O remanescente do PV dentro do canal ingui-nal oblitera-se eventualmente, eliminando a comunica-ção entre a cavidade peritoneal e a bolsa escrotal. A per-sistência do processo vaginal é o principal fator no de-senvolvimento da hérnia congênita e da hidrocele. Apersistência do processo vaginal é uma hérnia potencialsomente quando ocorre o deslizamento de conteúdo dacavidade abdominal. A época exata do fechamento doprocesso vaginal é controversa, podendo estar presenteem um número significativo de indivíduos e permane-cendo assintomático por toda a vida (Fig. 27.13).

Devido ao fato de que os vasos testiculares e o canaldeferente são estruturas retroperitoneais, externam-sepelo anel inguinal interno posteriores ao processo vagi-nal; um saco herniário formado a partir do processo va-ginal localiza-se anterior e medialmente às estruturasdo cordão espermático. Este saco herniário varia sua es-pessura, podendo ser fino ou bastante espesso, em fun-ção da idade e do período de tempo de existência dos si-

nais clínicos da existência da hérnia e também em fun-ção de episódios de encarceramento que tenham ocorri-do. Ocasionalmente, o saco herniário se apresenta tãofino, que pode se ter a impressão de que os elementos docordão espermático saem diretamente do saco, porémembriologicamente isto é uma impossibilidade. Umadissecção cuidadosa pode promover o perfeito isola-mento das estruturas do cordão espermático e do sacoherniário, pedra basilar durante a herniorrafia inguinal.

A persistência do processo vaginal somente é perce-bida quando ocorre a passagem de conteúdo abdominal;se somente fluido deixa a cavidade peritoneal, o defeitoé chamado hidrocele comunicante, podendo ocorrer al-teração freqüente de volume da bolsa escrotal. Nas oca-siões em que a persistência do processo vaginal fechouespontaneamente, podemos ter líquido “aprisionado”na túnica vaginal: hidrocele encistada, ou presente naregião inguinal com oclusão distal e proximal do PV: hi-drocele de cordão (Fig. 27.14).

IncidênciaA incidência da hérnia inguinal indireta na populaçãoinfantil é preponderante no primeiro ano de vida e osci-la entre 1 a 5%, com predominância do sexo masculinopara o feminino na relação de 3:1 a 10:1. Bebês prema-turos apresentam uma incidência mais alta de desen-volvimento de hérnia inguinal, sendo que o risco de en-carceramento nos primeiros 6 meses de vida pode ser

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Alçaintestinal

Cavidadeperitoneal

Porçãoobliterana

doprocessovaginal

Túnicavaginal

Diferente

Testículo

Gubernáculo(primórdio doligamento escrotal)

Escroto

Alçaintestinal

Túnicavaginal

Porçõesobliteradasdo processo

vaginalHidrocele

Processovaginalaberto

Processovaginal aberto

Peritôneo

Hidrocile

Gubernáculo

Fig. 27.13 Embriologia do processo vaginal.

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considerado a causa mais comum de obstrução intesti-nal nesta faixa etária, fazendo com que os neonatologis-tas e cirurgiões pediátricos recomendem o tratamentocirúrgico antes destes prematuros receberem alta nasunidades de tratamento intensivo neonatal. O local deincidência em lactentes masculinos é de 60% no ladodireito, 30% no lado esquerdo e 10% bilateralmente. Emmeninas é similar: lado direito 60%, lado esquerdo 32%e bilateral 8%. Em lactentes do sexo feminino a ocorrên-cia bilateral é freqüente.

História familiar e doenças associadas

Uma incidência significativa pode ser observada em gê-meos, e em primos e pais com história de ocorrência dehérnia inguinal. Pacientes com fibrose cística apresen-tam uma incidência de 15% de hérnia inguinal. O au-mento da pressão intra-abdominal em pacientes com fi-brose cística, resultante de tosse crônica, infecção recor-rente de vias aéreas ou doença pulmonar obstrutiva nãojustificam plenamente esta condição, pois primos e pro-

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Hérnia inguinoescrotal Hérnia inguinal

Hidrocele de cordão Hidrocele comunicante Hidrocele não comunicante

Fig. 27.14 Diferentes formas de hérnia inguinal e hidrocele provenientes da falha na obliteração do processo vaginal.

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genitores destas crianças também apresentam um altorisco de desenvolvimento de hérnia inguinal, porém emmenor grau. Acredita-se que ocorra por uma alteraçãona embriogênese nos ductos wollfianos, que também le-vam à ausência do canal deferente em meninos com fi-brose cística.

Crianças com doenças da formação do tecido conec-tivo (síndrome de Ehlers-Danlos) e mucopolissacarido-se (síndrome de Hunter-Hurler) apresentam tambémalto risco de incidência de desenvolvimento de hérniainguinal. Pacientes com deslocamento do quadril, pré-termos com hemorragia intraventricular e com mielo-meningocele e que requerem derivação ventrículo-peritoneal notadamente apresentam uma freqüênciamaior de ocorrência de hérnia inguinal do que a popula-ção pediátrica em geral.

Hérnia Bilateral

A ocorrência da bilateralidade da hérnia inguinal nogrupo etário pediátrico apresenta-se como objeto de es-tudos há muitos anos. Presume-se que a exploraçãocontralateral da região inguinal é uma operação desne-cessária; logo, deve ser evitada, sempre. Esta condutadeve ser avaliada pesando-se o risco e a inconveniênciade submeter a criança, sob anestesia geral, a um segun-do tempo cirúrgico complementar, sem previsão dasua ocorrência, podendo ser em situação eletiva, oupior, em situação de emergência na vigência de um en-carceramento. Numa situação de exceção, poderiaocorrer o esquecimento por parte do cirurgião de ope-rar o lado contralateral. Complicações técnicas, comoo risco de haver lesão de elementos do cordão espermá-tico ou infecção no lado contralateral, também podemocorrer na herniorrafia no lado primário, e sendo as-sim o risco de injúria por exploração negativa contrala-teral é questionável. No entanto, o risco de ocorrênciade uma hérnia em potencial no lado contralateral e oacontecimento de um encarceramento que pode levarà inviabilidade de uma gônada ou de lesão de alça in-testinal devem ser considerados seriamente, pela mor-bidade que representar. A real incidência da ocorrênciabilateral da hérnia inguinal parece estar diretamenterelacionada à exata definição do que constitui a hérniaou hérnia em potencial. Um processo vaginal patenterepresenta uma abertura da cavidade peritoneal em di-reção à região inguinal ou ao escroto, mas o verdadeiropotencial do desenvolvimento de uma hérnia é desco-nhecido. A persistência de um processo vaginal paten-te contralateral pode estar presente em 50 a 90% doscasos em várias séries descritas.

Alguns fatores podem ser mencionados como impli-cados na bilateralidade da hérnia inguinal, tais como:sexo, o lado primário afetado e a presença de condiçõesassociadas que afetem o aumento de pressão ou do fluidointraperitoneal. A incidência de hérnia bilateral pareceser maior em meninas em todos os grupos etários; estefato, combinado com a observação de que a incidênciade dano aos órgãos reprodutivos femininos durante aherniorrafia inguinal em meninas é baixo, leva muitoscirurgiões a realizar de rotina a exploração contralateralem virtualmente todas as pacientes, em especial na faixaetária abaixo de 6 meses de vida. Embora existam váriosrelatos de que, quando a hérnia primária ocorre no ladoesquerdo, há um discreto aumento de incidência no ladodireito, também pode-se encontrar trabalhos que não de-monstram diferença significativa. Crianças com deriva-ção ventrículo-peritoneal (DVP), ascite, doenças do teci-do conectivo e fibrose cística apresentam uma incidênciabastante significativa de ocorrência bilateral, e o risco deuma anestesia subseqüente é grande o suficiente para in-dicar a exploração contralateral rotineira.

Este planejamento da abordagem bilateral da hérniainguinal na criança ainda é controverso. Ainda existeminúmeras opiniões sobre o tratamento do lado oposto,e um fator importante é o lado que apresenta a hérniainicialmente, pois relatos da literatura revelam que ospacientes que são submetidos primeiro a um reparo dehérnia inguinal esquerda comportam uma maior proba-bilidade de retornar para um reparo operatório de umahérnia inguinal direita do que vice-versa. A base para esteachado pode estar relacionada com o desenvolvimentoembriológico e o fechamento cronológico do processo va-ginal. As crianças no primeiro semestre de vida parecemapresentar processos permeáveis no lado oposto em 50%das vezes e quando alcançam 1 ano de vida, a probabili-dade de se encontrar um processo vaginal permeável nolado oposto diminui progressivamente. Para o cirurgiãoque opera inúmeras crianças com hérnia inguinal não éraro observar o retorno de uma criança maior ou de umjovem adolescente com uma hérnia contralateral, mesesou anos depois do reparo unilateral inicial.

A herniografia por injeção de contraste na cavidadeperitoneal e o pneumoperitônio induzido para a verifica-ção de processo vaginal contralateral pertencem à históriada medicina. O uso do laparoscópio por acesso pelo sacoherniário ou pelo umbigo para explorar o lado contralate-ral é uma recente inovação. A laparoscopia pode implicarna redução do número de explorações do lado contralate-ral, mas o potencial em provocar danos, a complexidadetécnica que envolve o procedimento e o custo de sua reali-zação têm evitado uma aceitação mais abrangente.

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A exploração contralateral de rotina pode ser reser-vada para bebês e crianças com condições patológicasassociadas (DVP, ascite); para aqueles em que o diag-nóstico clínico sugere fortemente a presença de hérniacontralateral, em episódios de hérnia encarcerada, emprematuros, e em pacientes quando possa existir umrisco potencial para a ocorrência de um novo procedi-mento anestésico. É fundamental a experiência do ci-rurgião nestas situações, quando deverá lidar com a in-dicação e a não-indicação da exploração contralateral,devendo conscientizar a família dos eventos envolvidosna conduta cirúrgica que deverá seguir.

HidroceleSemelhante à hérnia inguinal, a incidência de hidroceleem meninos não é bem estabelecida. A hidrocele não-comunicante, não associada com a persistência do pro-cesso vaginal, não significa uma hérnia em potencial; écomum em neonatos e geralmente é autolimitada, namaioria das vezes resolvendo-se espontaneamente nofinal do primeiro ano de vida. A persistência de hidro-cele além do primeiro ano de idade pode levantar a pos-sibilidade de persistência do processo vaginal, em es-pecial quando associada à informação de alteraçõesfreqüentes do volume da bolsa escrotal (diminui e au-menta constantemente), fato mais observado em crian-ças que já andam, e o aumento de volume da bolsa ouhemibolsa escrotal encontra-se aumentado no final dodia. Esta persistência deve levar à suspeita de comuni-cação com a cavidade abdominal e ser consideradacomo hérnia inguinal.

APRESENTAÇÃO CLÍNICA

Hérnia Inguinal IndiretaA característica da hérnia inguinal indireta é um aumen-to de volume da região inguinal, ou mesmo da região in-guinoescrotal, que surge de maneira abrupta, sendo per-cebida subitamente, ou pode cursar com um aumentoprogressivo da região inguinal, notado paulatinamente.Freqüentemente é visível em períodos de aumento dapressão intra-abdominal (choro, tosse, exercícios etc.),podendo ser percebido logo ao nascimento, nas primei-ras semanas ou meses após o nascimento, ou até mesmoanos mais tarde. Em geral o aumento de volume é obser-vado primeiramente por quem cuida da criança (babás,avós, pais etc.), que refere a queixa ao pediatra assistente,ou pode ser percebido durante uma consulta de rotina.As crianças maiores podem verificar um aumento de vo-

lume da região inguinal ou até mesmo dor local. A hérniageralmente reduz-se de forma espontânea com o relaxa-mento ou manualmente, por meio de pressão manualdelicada para cima e posteriormente à massa. A históriaobtida na consulta costuma ser de um aumento de volu-me recorrente que, de forma espontânea, se reduz, masgradualmente aumenta de volume e torna-se cada vezmais difícil a sua redução. Por vezes o início da apresen-tação clínica pode ser de maneira abrupta, ocorrendo epi-sódio de encarceramento. Em muitos casos, um questio-namento cuidadoso durante a consulta pode obter da fa-mília uma história consistente, de um aumento signifi-cativo da região inguinal ou de uma hidrocele comuni-cante.

Muitas vezes a família e o pediatra assistente obser-vam um típico aumento de volume da região inguinal,mas durante a consulta com o cirurgião, este pode ser in-capaz de estabelecer o diagnóstico conclusivo de hérniainguinal, mesmo quando manobras como indução aochoro ou ao riso são utilizadas. Nestas situações, umahistória clínica confiável, combinada com a palpação di-gital, em movimentos laterais, da região inguinal, quan-do então se pode observar o espessamento do cordão es-permático nos meninos e do ligamento redondo nas me-ninas, cruzando o tubérculo púbico ou a sensação pal-pável de um significativo processo vaginal patente co-nhecido como o “sinal da seda”, pode ser uma evidênciasuficiente para a indicação do tratamento cirúrgico.

A introdução do dedo do examinador no anel ingui-nal externo e a solicitação de aumento da pressão in-tra-abdominal em geral não resultam em conclusão dediagnóstico clínico de hérnia inguinal na criança. Se ocirurgião ficar em dúvida quanto ao diagnóstico defini-tivo, deverá pedir que a família retorne com a criança aoconsultório em breve e mantenha sob observação a re-gião inguinal para a percepção de um provável aumentosignificativo da região. Cirurgiões experientes podemdiagnosticar hérnias em crianças com um alto grau deacuracidade pela história e palpação da região inguinal.No passado, as herniografias foram utilizadas para oscasos de difícil diagnóstico; entretanto, não mais se uti-liza este método. A ultra-sonografia do canal inguinal eda bolsa escrotal é um método não-invasivo e quandofeito por profissional experiente, pode ser de grande au-xílio no diagnóstico em situações em que o exame físicoé inconclusivo (Fig. 27.15).

Em pacientes que apresentam distopia testicular, otestículo mal posicionado pode enganar o observador,sugerindo uma hérnia inguinal. Devemos, então, lem-brar que as distopias testiculares altas freqüentementeestão associadas com persistência do processo vaginal.

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Hérnia Inguinal DiretaAs hérnias inguinais diretas são incomuns, e a apresen-tação clínica é diferente da hérnia indireta. Hérnias di-retas aparecem como massas na região inguinal que seestendem em direção aos vasos femorais decorrentes deexercícios ou tensão muscular. Não é raro a ocorrênciade hérnia direta em pacientes que já tenham sido sub-metidos a tratamento cirúrgico de hérnia inguinal indi-reta, sugerindo que o assoalho do canal inguinal possater sido danificado durante a primeira herniorrafia. Pelofato de o defeito surgir através do assoalho do canal in-guinal, medialmente aos vasos epigástricos, o trata-mento consiste no reforço do assoalho pela sutura dafáscia transversal ao ligamento de Cooper, o mesmo re-paro cirúrgico utilizado no adulto. A recidiva após o tra-tamento cirúrgico na criança é rara, em contraste com oresultado no adulto. O uso de próteses para o reparo dahérnia direta nas crianças é extremamente raro.

HidrocelesAs hidroceles podem ser categorizadas em comunican-tes e não-comunicantes. Hidroceles comunicantes in-dicam comunicação com a cavidade peritoneal, poden-do ser consideradas como hérnias e tratadas como tais.Uma história típica para esta condição é o aumento devolume da bolsa escrotal que aumenta e diminui, de-pendendo do grau de atividade e relaxamento. Não éraro se obter, por meio de pressão delicada, a reduçãodo fluido da hidrocele do escroto em direção à cavidadeperitoneal, mas o fluido reaparece abruptamente como aumento da pressão intra-abdominal.

As hidroceles não-comunicantes podem estar pre-sentes na ocasião do nascimento ou se desenvolver me-ses ou anos mais tarde sem uma razão plausível. A his-tória usual é de uma manutenção estável do volume dabolsa escrotal ou um crescimento muito lento, sem de-saparecimento espontâneo súbito ou rápida mudançade volume. A menos que estas hidroceles alcancem pro-porções muito volumosas, nenhum tratamento cirúrgi-co deve ser indicado, durante o primeiro ano de vida. Ahidrocele abdominoescrotal é uma variante da hidroce-le que requer tratamento cirúrgico; esta volumosa hi-drocele aparece como uma coleção escrotal de fluidocom uma massa pélvica palpável no lado da hidrocele.Com freqüência a pressão da massa abdominal causaaumento do componente escrotal. Como exatamenteou por que esta hidrocele torna-se tão volumosa é objetode especulação. Uma explicação é que esta anormalida-de origina-se de uma hidrocele escrotal conectada aolongo processo vaginal que está patente no escroto, masobliterado na altura do anel interno. Como o processocontinua a aumentar na direção cefálica por meio doanel interno, um componente retroperitoneal é forma-do. Com a contínua produção de fluido na hidrocele, aporção retroperitoneal aumenta proporcionalmentemais que o escroto, pelo fato da limitação de crescimen-to dentro do escroto. O tratamento consiste na comple-ta excisão de todos os componentes do saco da hidroce-le, o que pode ser realizado por meio de acesso inguinal.A identificação do cordão espermático pode ser difícilneste procedimento, e como em toda herniorrafia oselementos do cordão espermático devem ser mantidossob visão direta durante a dissecção.

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Fig. 27.15 A Palpação da região inguinal. B Ultra-sonografia da região inguinal.

A B

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TRATAMENTOOs procedimentos cirúrgicos em crianças que apresen-tam hérnia e hidrocele geralmente requerem anestesiageral; entretanto, os pacientes são liberados, na maioriadas vezes, no mesmo dia após a operação. Bebês prema-turos hospitalizados em unidades de tratamento inten-sivo que apresentam hérnia inguinal geralmente devemser submetidos ao tratamento cirúrgico antes de suaalta. Bebês prematuros não hospitalizados com hérniainguinal que precisam ser submetidos a operação nosprimeiros 4-6 meses de vida devem ser mantidos nohospital por 24 horas após a operação, devido ao risco deapnéia pós-anestesia geral. A maioria dos bebês a termorecebe alta hospitalar no mesmo dia, exceto quandoapresentam doenças associadas que requerem hospita-lização pós-operatória.

O preparo pré-operatório é o mesmo já relatadopara a herniorrafia umbilical. A escolha da técnica deanestesia para cada criança deve ser discutida com oanestesiologista, levando-se em consideração as con-dições gerais da criança, idade gestacional do bebê e aexperiência da equipe cirúrgica. Em geral utiliza-se aanestesia geral por via inalatória, podendo-se adminis-trar o anestésico sob máscara, intubação endotraquealou máscara laríngea. Freqüentemente o anestesistautiliza também o bloqueio peridural caudal e/ou blo-queio do nervo ilioinguinal para proporcionar uma me-lhor analgesia no período pós- operatório.

Técnica operatóriaA criança é posicionada em decúbito dorsal, sobre col-chão de água com aquecimento constante. Em neona-tos e lactentes é indicado o isolamento térmico das ex-tremidades e da cabeça para evitar a hipotermia. A peledo sítio cirúrgico deve ser lavada previamente com solu-ção degermante de clorexidine ou PVPI; a anti-sepsiapode ser feita com os mesmos produtos citados ante-riormente, sendo usada a solução aquosa ou alcoólica;em seguida aplicam-se os campos esterilizados de teci-do, podendo-se complementar com Ioban®. Em neona-tos e lactentes pode-se colocar um coxim sob a regiãolombar para permitir a elevação e a exposição do abdo-me inferior e região inguinal. O acesso é feito por meiode incisão transversa na prega inguinoabdominal infe-rior (incisão de Felizet, Fig. 27.16. A). As incisõestransversas cicatrizam com fibrose mínima e são dis-farçadas na prega transversal abdominal inferior natu-ral. As veias (vasos epigástricos inferiores superficiais)que cruzam o tecido subcutâneo podem ser cauteriza-das, ligadas ou afastadas. A fáscia de Scarpa, que no lac-

tente é bem espessa e desenvolvida, é incisada, com te-soura, expondo-se a aponeurose do músculo oblíquo ex-terno. Afastadores de Farabeuf são colocados na fásciade Scarpa (Fig. 27.16 B). A dissecção romba isola a gor-dura do músculo oblíquo externo, expondo o anel ingui-nal externo. Freqüentemente, o saco herniário pode servisto protruindo-se através do anel externo. Neste mo-mento a fáscia do oblíquo externo é incisada com bisturie aberta com tesoura em direção das suas fibras. Ocasio-nalmente, em hérnias muito volumosas ou de longotempo, o anel externo pode estar deformado e distendi-do até o ponto onde sobrepõe o anel interno. A incisãono oblíquo externo pode continuar até o anel externo ouinterrompida antes de chegar às fibras do anel. Em neo-natos e lactentes pode-se deixar o oblíquo externo intac-to, e a exposição e dissecção do saco herniário pode serobtida através do anel externo, em especial em meninase bebês prematuros (técnica de Mitchell-Banks). Aten-ção deve ser dada para não lesar o nervo ilioinguinal queestá intimamente aderido às fibras do músculo cremás-ter, posicionado diretamente sob a aponeurose do oblí-quo externo. O saco herniário é encontrado dentro docanal inguinal, anterior e ligeiramente medial ao cordãoespermático, devendo ser seguro antes com duas pinçashemostáticas delicadas, tracionado e exteriorizado emdireção à incisão (Fig. 27.16 C). Dissecção cuidadosadeve ser feita a fim de separar os vasos do cordão esper-mático e o canal deferente, isolando-os completamentedo saco herniário e das fibras cremasterianas. Este é omomento crítico da herniorrafia, pois devido ao tama-nho diminuto destas estruturas pode ocorrer a lesãoinadvertida do saco peritoneal, assim como dos elemen-tos do cordão espermático. Estes elementos devem sermantidos separados do saco herniário por meio detração gentil pela mão do auxiliar, usando gaze umede-cida sem compressão demasiada a fim de preservaçãoda viabilidade destas estruturas (Fig. 27.6 D). Em geralos vasos espermáticos (artéria e veia) emergem do anelinterno mais lateralmente e compreendem a primeiraestrutura que o cirurgião encontra em sua dissecção.Devem ser tracionadas de forma delicada posterior-mente para sua liberação das aderências do saco perito-neal, enquanto o próprio saco deve ser mantido com aspinças hemostáticas. Com a dissecção progressiva emdireção ao anel inguinal interno, novas porções do sacosão expostas e devem ser seguras com pinças para per-mitir a rotação medial do saco. Neste ponto o canal de-ferente pode estar firmemente aderido ao saco, exigin-do habilidade e cuidado para evitar danos aos elemen-tos do cordão e rompimento do saco herniário. Umavez que os elementos do cordão espermático são isola-

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dos completamente do saco, este pode ser aberto a fimde observação sob visão direta e, se necessário, reduçãodo seu conteúdo para a cavidade abdominal (omento,alça intestinal ou anexos). Uma pinça hemostática éutilizada para clampear de forma completa o saco, sen-do então seccionado inteiramente com tesoura e torcidoem sentido horário, duas voltas completas, e feita a liga-dura por transfixação com fio vicryl 2-0 ou 3-0 com agu-lha cilíndrica, na altura do anel interno. Usa-se comoponto de referência do final da dissecção do saco herniá-rio a visibilização dos vasos epigástricos, sendo reco-mendadas duas ligaduras do saco herniário (Fig. 27.16E). O anel interno usualmente não é reconstituído. Aparte distal do saco pode ser gentilmente dissecada, iso-lada dos elementos do cordão e removida. Se a parte dis-tal do saco está conectada à hidrocele, esta e o testículosão delicadamente tracionados até a incisão e identifi-cados com cuidado. O canal deferente pode ter um traje-to com várias curvas ao longo do saco distal e pode serlesado ou seccionado se não for identificado cuidadosa-mente. Muitas vezes é melhor deixar uma porção dosaco distal do que correr o risco de lesar o vaso deferentecom dissecção e ressecção vigorosa do saco. Na presen-ça de um apêndice testicular (Hidátide de Morgagni), o

mesmo pode ser removido, visando à profilaxia da tor-ção deste apêndice. O testículo é reconduzido à bolsaescrotal por tração suave da pele escrotal para puxar oGubernaculum testis e o testículo em direção ao escro-to. Neste momento o cirurgião deve-se certificar deque as estruturas estão bem posicionadas no canal in-guinal e o testículo corretamente colocado na bolsa es-crotal. Se o paciente apresenta-se com distopia testicu-lar, a orquidopexia concomitante deve ser realizada.

Na menina o tempo cirúrgico é semelhante, sendoa dissecção do saco herniário, em princípio, mais fácildevido à não-existência dos elementos do cordão es-permático; o saco herniário geralmente está aderido aoligamento redondo, devendo ser ligado e seccionado nonível do tubérculo púbico, usando-se o mesmo fio da li-gadura do saco herniário. Podemos encontrar um sacovolumoso e o ovário ou a trompa formando a parede dosaco; inicialmente pode-se abrir o saco para inspecio-nar seu conteúdo, e em seguida fechar a extremidadedistal do saco. Uma sutura em bolsa (técnica deStamm) com vicryl 4-0 pode ser realizada no nível doanel inguinal interno e todo o saco herniário com seuconteúdo a seguir é invertido para dentro da cavidadeperitoneal. Procede-se à síntese dos planos, fechan-

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Fig. 27.16 A Incisão de Felizet. B Abertura da fáscia de Scarpa e do oblíquo externo. C e D Isolamento do saco herniário dasestruturas do cordão espermático. E Ligadura alta e ressecção do saco herniário. F Fechamento.

A B C

D E F

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do-se o oblíquo externo com vicryl 4-0 ou 5-0, agulhacilíndrica e tendo-se o cuidado para não suturar inad-vertidamente em conjunto os elementos do cordão es-permático ou o nervo ilioinguinal (Fig. 27.16 F). A fás-cia é fechada com o mesmo fio e a pele é fechada comsutura subcuticular, usando-se vicryl 5-0 ou monony-lon 5-0. A incisão é coberta com filme adesivo transpa-rente (Tegaderm®) (Fig. 27.16 G).

No período pós-operatório a analgesia pode ser ob-tida utilizando-se dipirona ou acetaminofen. Dá-sepreferência à administração por via retal, pois em oca-siões em que ocorre o vômito ou a não-aceitação damedicação oral pela criança, o efeito analgésico deseja-do não é obtido. Nas crianças que são submetidas abloqueio caudal ou ilioinguinal a queixa de dor é me-

nos intensa. Aguarda-se que a criança esteja completa-mente desperta e tranqüila, iniciando-se a alimenta-ção oral e dando-se inicialmente preferência a líquidos;em caso de plena aceitação retorna-se à dieta normal.Como relatado anteriormente, em geral a criança rece-be alta no mesmo dia ou, em caso de bebês prematu-ros, no dia seguinte. Deve-se orientar a família paraevitar molhar o local operado e afastar a criança de ati-vidades que possam proporcionar um trauma local. Oedema da ferida cirúrgica e da bolsa escrotal resolve-seespontaneamente, não sendo necessária a utilização deantiinflamatórios. A criança deve retornar para novaconsulta por volta do 7o dia do pós-operatório, quando ocurativo adesivo transparente é então retirado.

Situações de urgência: encarceramentoe estrangulamentoNo hospital geral ou em centros pediátricos é comum ocirurgião ser chamado para diagnosticar e tratar o apare-cimento agudo de uma massa inguinocrural; a históriacolhida informa que a tumefação ocorreu de forma brus-ca na virilha, aumentando subseqüentemente de volumee tornando-se mais dolorosa. Esta criança em geral seapresenta irritada, pois já deve ter sido manipulada ante-riormente por mais de um médico. No exame físico po-de-se encontrar uma tumefação com sensibilidade au-mentada na região inguinal, que apresente hiperemia eedema (Fig. 27.17 A, B). No diagnóstico diferencial pode-mos destacar: hérnia inguinal encarcerada, hidroceleaguda do cordão inguinal, adenite inguinal supurativa e atorção de um testículo criptorquídico. Já que cada um

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Fig. 27.16 G Curativo com Tegaderm.

Fig. 27.17 A Hérnia inguinal encarcerada. B Hidrocele.

A B

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desses problemas inclui abordagens diferentes, é funda-mental esclarecer a etiologia.

A diferenciação entre uma hidrocele aguda e a hérniainguinal pode ser extremamente difícil. Na hidroceleaguda a massa pode estar bem móvel; além, disso na pal-pação do anel interno pode-se ter a percepção de que asestruturas do cordão estão apenas discretamente espes-sadas. No encarceramento da hérnia inguinal observa-mos ausência da mobilidade da massa inguinocrural e oespessamento acentuado das estruturas do cordão, desdea massa até o anel interno. Um método diagnóstico quepode ser enganoso é a transiluminação, pois a espessurada parede intestinal de um lactente pode aproximar-sedaquela da parede de uma hidrocele. A punção e aspira-ção de uma massa inguinocrural deve ser evitada.

Adenopatia da região inguinal pode ser confundidacom hérnia inguinal e, estando em supuração, pode serinterpretada como encarceramento. O exame físico daárea correspondente de drenagem pode revelar uma lesãocutânea infectada ou recoberta por crosta, e a tumefaçãocostuma ficar um pouco abaixo do ligamento inguinal,podendo haver outros gânglios associados na região.

A ausência de uma gônada no escroto ipsilateralpode estabelecer condição diagnóstica de um testículocriptorquídico torcido, localizado na região inguinal,manifestando-se como massa dolorosa e eritematosana virilha.

O encarceramento da hérnia inguinal ocorre quandoo conteúdo do saco herniário, geralmente alça intestinalem meninos e anexos e/ou alça intestinal na menina,não se reduz em direção à cavidade abdominal por meiode manobras mecânicas. A freqüência maior de encarce-ramento ocorre no primeiro ano de vida, principalmenteno 1o semestre, apresentando incidência mais baixa apartir de 8 anos de idade. O encarceramento apresentasintomas como irritabilidade, aparente dor abdominal evômitos ocasionais, inicialmente não biliosos masprogredindo para biliosos e até mesmo fecalóide, quando ocaso é de longo tempo, indicando estrangulamento e sofri-mento de alça intestinal. Os achados clínicos compreen-dem: massa de consistência que varia de flutuante a fir-me, usualmente macia a princípio, podendo-se localizarapenas na virilha ou estendendo-se ao escroto. No encar-ceramento ocorre o edema gradual do órgão aprisionadono restrito espaço do canal inguinal, resultando no com-prometimento da drenagem venosa e linfática, o que au-menta a pressão e o edema. A pressão sofrida supera apressão de perfusão arterial, ocorrendo gangrena e necro-se. A massa inguinal torna-se mais firme e endurecida,com hiperemia e edema da pele. Quando a criança seapresenta neste estado, o termo estrangulamento é usa-

do como definição, evidenciando-se a necessidade deintervenção cirúrgica imediata.

As hérnias com encarceramento, sem evidência deestrangulamento, podem ser reduzidas sem tratamentocirúrgico imediato na maioria das vezes. Pode-se, assim,melhorar o estado geral do paciente e proporcionar re-dução do edema do saco herniário, o que otimiza tec-nicamente a operação subseqüente. As medidas quepodem ser tomadas frente à criança com hérnia encar-cerada são: sedação (pode-se utilizar: midazolam, que-tamina, fentanil ou morfina), elevação da extremidadeinferior do corpo e aplicação de gelo sobre o saco her-niário na tentativa de reduzir o edema. Em neonatos,esta aplicação deve ser criteriosa, pois há o risco de hipo-termia. A sedação deve ser feita em ambiente que dispo-nibilize cuidados como monitorização de sinais vitais ematerial de reanimação cardiopulmonar, em especial emcrianças prematuras, significativamente desidratadasou letárgicas, pois o risco de depressão respiratória éconsiderável. Se a hérnia permanece irredutível após1-2 horas de tentativas de redução, a intervenção cirúr-gica deve ser considerada, pois é grande o risco de efeitosdeletérios sobre o conteúdo do saco herniário, assimcomo nos testículos em meninos. A técnica cirúrgica ébasicamente a mesma da herniorrafia inguinal eletiva.

Na operação, deve-se evitar reduzir o conteúdo apósa anestesia, pois corre-se o risco de não se poder inspe-cionar o conteúdo do saco herniário, assim como de de-volver à cavidade peritoneal órgãos com a viabilidadecomprometida. Mesmo com esse cuidado, ocasional-mente, com o relaxamento pela anestesia, o conteúdo éreduzido de forma espontânea para a cavidade peritone-al. Caso não haja fluido sanguinolento ou com odor féti-do e estruturas no anel interno com aspecto necrótico,não é necessária a exploração intraperitoneal. Se o con-teúdo do saco não se reduz de forma espontânea, é indi-cada a abertura do mesmo e inspeção destas estruturas.Se a alça intestinal está viável, pode ser reduzida atravésdo anel interno, o qual, se necessário, pode ser dilatadocom os afastadores de Farabeuf ou incisado para facili-tar a redução da alça encarcerada. Quando há dúvidasquanto à sua vitalidade, pode-se envolver o segmentocomprometido com compressas úmidas aquecidas eaguardar pelo alívio na pressão do mesentério. Caso nãoocorra melhora da coloração e permaneça com ausênciade pulso e de peristalse, a ressecção e anastomose de-vem ser consideradas, sendo que o procedimento podeser feito pela própria incisão ou por uma segunda inci-são no abdome, que facilita sua realização.

Durante a dissecção em episódio de encarceramento,vamos encontrar um saco herniário extremamente ede-maciado e friável, exigindo delicadeza e habilidade para

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evitar rompimento do mesmo, preservando a integridadedos elementos do cordão e propiciando uma estruturaconsistente para a transfixação com o fio de sutura.

Num evento de encarceramento e/ou estrangula-mento, é possível que o testículo sofra pela compressãoexercida sobre sua vascularização, podendo resultar ematrofia. Mas em geral a gônada sobrevive. Logo, não éaconselhável a orquidectomia primária, e sim a devolu-ção do testículo à bolsa escrotal e o seu acompanhamen-to posterior por palpação e avaliação por imagens (ul-tra-sonografia, cintilografia) para verificar seu desenvol-vimento.

Complicações pós-operatóriasA infecção da ferida é rara, apesar da localização e dapossível contaminação pós-operatórias, principalmen-te em uso de fraldas. O uso de curativo de filme adesivotransparente ajuda a proteger a incisão. A recidiva dahérnia inguinal na criança é rara, podendo acontecercom maior freqüência em prematuros que foram sub-metidos à operação em vigência de encarceramento.Detalhes técnicos como um saco herniário rasgado nãopercebido e não corrigido, falha em dissecar completa-mente o saco, ligadura que desliza e se solta do colo dosaco, ou falha em ligar o saco adequadamente no níveldo anel interno contribuem para a recidiva.

O edema da bolsa escrotal é freqüente após a opera-ção, por acúmulo de líquido instersticial e na extremi-dade distal do saco, mas geralmente ocorre resoluçãoespontânea, e é raro ser requerida uma intervenção.Pode também ocorrer hematoma da bolsa escrotal.

Testículo mal descido iatrogenicamente é uma con-dição que pode acontecer pela falha na devolução e posi-cionamento do testículo após a herniorrafia, ou por re-tração subseqüente. A orquidopexia posterior é necessá-ria para a resolução deste problema.

A lesão acidental do vaso deferente em geral não épercebida até a idade adulta e possivelmente só o équando ocorre bilateralmente. O dano pode ocorrer porpinçamento inadvertido, por eletrocautério e por sec-ção. A obstrução e a secção bilateral resultarão certa-mente na infertilidade em adultos que foram submeti-dos à herniorrafia em idade pré-puberal. Mesmo a lesãounilateral é inaceitável e deve ser evitada.

A atrofia testicular pode ocorrer quando os vasostesticulares sofreram dano durante uma herniorrafia,mas é rara durante uma operação eletiva, porém umacompressão excessiva durante um evento de encarcera-mento e/ou estrangulamento pode levar a um infartotesticular. A menos que o testículo esteja francamente

necrótico, sua remoção deve ser evitada. Na menina, oovário e as trompas também podem ter seu suprimentosanguíneo comprometido.

A relação médico-paciente no tratamento de crian-ças é praticamente impossível sem a participação de ter-ceiros, seja para a obtenção da anamnese, seja para oacompanhamento e a evolução do pequeno paciente. Oestado de ansiedade e preocupação dos familiares nãopode jamais deixar que o profissional altere sua condu-ta. A criança demonstra uma surpreendente e extraor-dinária capacidade de recuperação, devendo ser tratadacom habilidade técnica e muito carinho.

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