HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A...

229
d UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura E Urbanismo NADIA DUTRA CAMPOS HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL CAMPINAS 2019

Transcript of HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A...

Page 1: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

d

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura E Urbanismo

NADIA DUTRA CAMPOS

HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA

A GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL

CAMPINAS

2019

Page 2: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

NADIA DUTRA CAMPOS

HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA

A GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL

Dissertação de Mestrado

apresentada a Faculdade de

Engenharia Civil, Arquitetura e

Urbanismo da Unicamp, para

obtenção do título de Mestra em

Engenharia Civil, na área de

Saneamento e Ambiente.

Orientadora: Prof.ª Dr. ª Ana Paula Bortoleto

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA

DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA NADIA DUTRA

CAMPOS E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. ANA PAULA

BORTOLETO.

CAMPINAS

2019

Page 3: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas

Biblioteca da Área de Engenharia e Arquitetura

Rose Meire da Silva - CRB 8/5974

Campos, Nadia Dutra, 1991-

C157h Heurística aplicada a políticas públicas para a geração de

energia elétrica no Brasil / Nadia Dutra Campos. – Campinas,

SP : [s.n.], 2019.

Orientador: Ana Paula Bortoleto.

Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de

Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e

Urbanismo.

Cam1. Energia elétrica - Planejamento. 2. Heurística. 3.

Políticas públicas. 4. Tomada de decisão. I. Bortoleto,

Ana Paula, 1978-. II. Universidade Estadual de Campinas.

Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. III.

Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Heuristics applied to public policies for the generation of electric power in Brazil Palavras-chave em inglês: Electrical planning Heuristic Public policy Decision making Área de concentração: Saneamento e Ambiente Titulação: Mestra em Engenharia Civil Banca examinadora: Ana Paula Bortoleto [Orientador] Paulo Sergio Franco Barbosa Mauro Donizete Berni Data de defesa: 03-07-2019 Programa de Pós-Graduação: Engenharia Civil

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a) - ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0001-7062-9005 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/2755927558228618

Page 4: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO

HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A GERAÇÃO DE ENERGIA

ELÉTRICA NO BRASIL

NADIA DUTRA CAMPOS

Dissertação de Mestrado aprovada pela Banca Examinadora, constituída por:

Prof.ª Dr.ª Ana Paula Bortoleto

Presidente e Orientadora / Universidade Estadual de Campinas

Prof. Dr. Paulo Sergio Franco Barbosa

Universidade Estadual de Campinas

Prof. Dr. Mauro Donizeti Berni

Universidade Estadual de Campinas

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no SIGA/Sistema

de Fluxo de Dissertação/Tese e na Secretaria do Programa da Unidade.

Campinas, 03 de julho de 2019

Page 5: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

AGRADECIMENTO

Agradeço a minha orientadora, Ana Paula Bortoleto e a seu Grupo de

Estudo e Pesquisa em Resíduo Sólido. Esse grupo sempre se mostrou muito solícito,

generoso e disponível para esta pesquisa. Foi muito agradável os momentos que

pudemos conviver.

Agradeço aos funcionários da FEC, particularmente àqueles da

secretaria da pós-graduação, cuja competência e disposição para ajudar dão orgulho

desta instituição pública com tanta qualidade, principalmente nesta lamentável

conjuntura política.

Agradeço a todas as minhas amigas da graduação, em especial Bruna e

Wanessa, por me receberem na casa de vocês tantas vezes enquanto eu estive no

mestrado. Isso estará sempre na minha memória de boas recordações e gratidão.

Agradeço aos meus pais, Cecília e Isnar, por serem tão incentivadores na

educação e por me passarem estes valores. Agradeço aos meus irmãos e avó, Alice

Neto, e Rosária, por torcerem sempre por mim. Aliás, obrigada amigos e família que

também torcem por mim, isso tudo é recíproco.

Agradeço ao meu marido Luís Fernando pelo seu companheirismo e apoio

frequentes, assim como dos meus sogros Marco Aurélio e Reginalda. Tudo isso foi

fundamental para eu conseguir concluir este trabalho.

Page 6: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

RESUMO

O consumo elétrico brasileiro e mundial vem aumentando de forma contínua,

acarretando diversos impactos ambientais. O setor elétrico brasileiro, na conjuntura

energética global, se apresenta de forma ambientalmente favorável quando

comparado com países desenvolvidos. Entretanto, devido a isso, a economia de

energia não é o fator preponderante, e o excesso de informações disponíveis causam

incertezas na tomada de decisão. Diante deste cenário, este estudo tem por objetivo

identificar o processo cognitivo aplicado, avaliando o uso de heurísticas, na tomada

de decisão por especialistas do setor elétrico. Pretende-se também apontar diretrizes

para um plano de políticas públicas ambientalmente responsável para o setor elétrico

brasileiro. A metodologia divide-se em duas fases. A primeira é delimitada pela

elaboração e aplicação do questionário (N=101), para a avaliação da tomada de

decisão na área de planejamento elétrico. A segunda fase corresponde as entrevistas

conduzidas com um grupo seleto de especialistas em planejamento elétrico (N=10).

Durante a entrevista, estes especialistas avaliaram e discutiram novas diretrizes para

um plano de políticas públicas ambientalmente responsável para o setor elétrico. Os

resultados mostram a predominância da utilização da heurística equality rule e take

the best na tomada de decisão em relação aos investimentos em fontes elétricas. Não

foram verificados resultados significantes das heurísticas default and tallying. De

forma geral, os especialistas nesta área possuem considerável preocupação com o

ambiente natural e os impactos que a geração de energia possa causar na natureza.

No entanto, eles avaliam que o Brasil possui uma posição de destaque ao comparar

a sua matriz energética ao contexto mundial, onde o consumo de combustível fóssil é

predominante. Durante as entrevistas os especialistas identificaram melhorias ao

plano apresentado, destacaram algumas diretrizes apontadas como “ingênuas”,

outras como factíveis, afirmaram que certas diretrizes identificadas não são exclusivas

do setor elétrico, mas sim endêmicas em vários setores do Brasil. Em suma, a

preocupação geral é como promover a efetiva prática das diretrizes propostas. Ao

final, contribui-se na prática para o entendimento de como a tomada de decisão no

setor elétrico do país é realizada e na proposição de ferramentas a fim de incentivar a

redução no consumo de energia e tornar a atual produção mais limpa.

Palavras-chave: planejamento elétrico, heurística, políticas públicas, tomada de

decisão.

Page 7: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

ABSTRACT

The Brazilian and world electric consumption has been increasing gradually, leading

to several environmental impacts. The Brazilian electricity sector, in the global energy

context, presents in an environmentally favorable way when compared with developed

countries. However, because of this, energy savings are not the preponderant factor,

and the excess of information available causes uncertainties in decision making. Given

this scenario, this study aims to identify the applied cognitive process of decision

making by specialists of the electric sector, evaluating the use of heuristics. It is also

intended to point out guidelines for an environmentally responsible public policy plan

for the Brazilian electricity sector. The research methodology was divided into two

phases. The first one is delimited by the elaboration and application of the

questionnaire (N = 101), for the evaluation of decision making in the area of electrical

planning. The second phase corresponds to interviews conducted with a select group

of specialists in electrical planning (N = 10). During the interview, these experts

evaluated and discussed new guidelines for an environmentally responsible public

policy plan for the electricity sector. The results show the predominance of the use of

the heuristic equality rule and take the best in the decision making in relation to the

investments in electrical sources. No significant results of the default and the tallying

heuristics were found. Overall, experts in this area have considerable concern about

the natural environment and the impacts that the generation of energy can cause in

nature. However, they evaluate that Brazil has a prominent position when comparing

its energy matrix to the world context, where fossil fuel consumption is predominant.

During the interviews, the experts identified improvements to the plan presented,

highlighted some guidelines that were pointed out as "naive", others as feasible,

affirming that certain guidelines identified are not exclusive to the electric sector, but

endemic in several sectors of Brazil. In short, the general concern is how to promote

the effective practice of the proposed guidelines. At end, it contributes in practice to

understand how decision-making in the Brazilian electricity sector is carried out and in

proposing tools to encourage the reduction of energy consumption and to make current

production cleaner.

Keywords: energy planning, heuristics, public policies, decision making.

Page 8: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Consumo final de eletricidade no mundo por setor entre 1974 e 2016 ..... 17

Figura 2 - Evolução, de 2005 a 2014, e projeção para 2024 da composição da matriz

elétrica brasileira, em termos de capacidade instalada, em MW .............................. 18

Figura 3 - Variação da concentração atmosférica de CO2 nos últimos 400 mil anos

em partes por milhão ............................................................................................... 20

Figura 4 - Esquema de fatores que influenciam o planejamento elétrico do Brasil ... 22

Figura 5 - Produção bruta total de eletricidade no mundo por fonte em 2016 (%) .... 25

Figura 6 - Reservas globais de gás natural .............................................................. 31

Figura 7 - Curva de carga típica do consumo residencial médio no Brasil e do

potencial de geração distribuída solar tradicional ..................................................... 37

Figura 8 - Curva de carga horária de um dia típico de verão atual no Brasil ............ 38

Figura 9 - Evolução da potência eólica instalada no mundo ..................................... 41

Figura 10 - Potenciais impactos associados a empreendimentos de geração eólica 43

Figura 11 - Evolução do parque hidrelétrico brasileiro.............................................. 44

Figura 12 - Capacidade hidrelétrica instalada nos principais países em 2014 .......... 45

Figura 13 - Localização do empreendimento ........................................................... 52

Figura 14 - Onze municípios estão localizados na área de influência do

empreendimento ...................................................................................................... 54

Figura 15 - Quatro Sítios de Belo Monte .................................................................. 55

Figura 16 - Escavações casa de força Sítio Belo Monte .......................................... 56

Figura 17 - Possíveis usos da biomassa para fins energéticos ................................ 59

Figura 18 - Rotas do uso de biomassa para a produção de energia no Brasil .......... 60

Figura 19 - Geração elétrica a biomassa, em TWh, e distribuição por continentes, em

2012 ......................................................................................................................... 61

Figura 20 - Consumo de bioeletricidade por fonte, em TWh, em 2014 ..................... 65

Figura 21 - Oferta interna de energia elétrica no Brasil nos últimos 11 anos (TWh) . 67

Figura 22 - Integração eletro energética do sistema elétrico brasileiro – 2015 ......... 70

Page 9: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

Figura 23 - Oferta interna de energia elétrica por fonte (%) ..................................... 71

Figura 24 - Evolução geração eólica (GWh) ............................................................. 72

Figura 25 - Participação de renováveis da oferta total de energia elétrica (%) ......... 73

Figura 26 - Evolução das emissões brutas de GEE no Brasil entre 1990 e 2015 (Mt

CO2eq) .................................................................................................................... 74

Figura 27 - Emissões brasileiras de GEE por setor (2004-2015) (%) ....................... 75

Figura 28 - Emissões de CO²eq do setor de energia por segmento de atividade

(1990-2015) ............................................................................................................. 75

Figura 29 - Evolução anual das emissões de GEE no Brasil devido à geração de

eletricidade .............................................................................................................. 76

Figura 30 - Distribuição setorial do consumo de eletricidade no Brasil (%) .............. 77

Figura 31 - Distribuição do consumo de eletricidade por tipo de indústria no Brasil

(%) ........................................................................................................................... 78

Figura 32 - Histórico do setor elétrico brasileiro ....................................................... 81

Figura 33 - Distribuição setorial do consumo de eletricidade de consumidores cativos

e consumidores livres através de redes de distribuição no Brasil em 2015 .............. 82

Figura 34 - Distribuição regional do consumo de eletricidade de consumidores

cativos e consumidores livres através de redes de distribuição no Brasil em 2015 .. 83

Figura 35 - Requisitos para ser consumidor livre e especial..................................... 84

Figura 36 - Tipologia das etiquetas de desempenho energético de equipamentos,

veículos e edificações .............................................................................................. 99

Figura 37 - Equipamentos regulamentados pela Lei 10.295 entre 2002 e 2014 ..... 100

Figura 38 - Evolução, de 2002 a 2016, em GW, da capacidade instalada dos vários

tipos de fontes de energia elétrica na Alemanha .................................................... 103

Figura 39 - Hierarquia do setor elétrico brasileiro ................................................... 111

Figura 40 - Representação conceitual do papel das barreiras e benefícios nos

programas de mudança de comportamento ........................................................... 119

Figura 41 - Quando cada ferramenta de mudança de comportamento funciona

melhor .................................................................................................................... 121

Figura 42 - Emissões Residenciais de CO2 por uso .............................................. 124

Page 10: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

Figura 43 - Principais intervenções para o gerenciamento de recursos bem-sucedido

............................................................................................................................... 126

Figura 44 - Fluxograma da pesquisa ...................................................................... 138

Figura 45 - Objetivo do questionário ...................................................................... 139

Figura 46 - Heurísticas Avaliadas nesta Pesquisa ................................................. 140

Figura 47 - Matrizes Elétricas EUA, Alemanha e Brasil .......................................... 141

Figura 48 - Comparação relativas às potenciais mudanças climáticas de diferentes

fontes de energia elétrica ....................................................................................... 143

Figura 49 - Algumas possibilidades de rankings possíveis para exemplificar ......... 146

Figura 50 - Ranking exemplificativo ....................................................................... 147

Figura 51 - Alternativas do item 5 caso o ranking variasse de 1 a 7 ....................... 148

Figura 52 - Exemplo item 5 .................................................................................... 149

Figura 53 - Domínios explorados nas diretrizes ..................................................... 156

Figura 54 – Quadro Barreiras ................................................................................. 158

Figura 55 – Quadro Intervenções ........................................................................... 159

Figura 56 - Idade do participante............................................................................ 169

Figura 57 - Tempo de atuação do participante com planejamento elétrico ............. 169

Figura 58 - Setor em que o participante atua ......................................................... 170

Figura 59 - Profissão do participante ...................................................................... 170

Figura 60 - Renda mensal do participante .............................................................. 171

Figura 61 - Matriz elétrica mais sustentável ou verde............................................. 173

Figura 62 - Item 2 - Quantidade de participantes que investiram em cada fonte .... 175

Figura 63 - Item 2 - Total acumulado dos investimentos ........................................ 176

Figura 64 - Item 2 - Teste qui quadrado por participante ........................................ 176

Figura 65 - Item 3 - Quantidade de participantes que investiram em cada fonte .... 177

Figura 66 - Item 3 - Total Acumulado dos Investimentos ........................................ 178

Page 11: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

Figura 67 - Item 3 - Total acumulado dos investimentos com agrupamento de

bioenergia .............................................................................................................. 179

Figura 68 - Item 3 - Teste qui quadrado por participante com agrupamento .......... 180

Figura 69 - Ranking de fatores relevantes .............................................................. 180

Figura 70 – Item 4 - Pontuação acumulada de cada fator ...................................... 181

Figura 71 - Item 5 - Preferência heurística ............................................................. 182

Figura 72 - Item 5 - Teste qui quadrado por participante ........................................ 183

Page 12: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Alguns números sobre Belo Monte ......................................................... 58

Tabela 2 - Oferta interna de energia elétrica no Brasil nos últimos 11 anos ............. 67

Tabela 3 - Oferta interna de energia elétrica por fonte (%) ....................................... 71

Tabela 4 - Artigos selecionados ............................................................................. 167

Page 13: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRADEE Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica

ACL Ambiente de Contratação Livre

ACR Ambiente de Contratação Regulada

ACV Avaliação de Ciclo de Vida

AICV Avaliação do Inventário de Ciclo de Vida

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

ANP

BIPV

Agência Nacional do Petróleo

Built Integrated Photovoltaics

BMWI Bundesministerium für Wirtschaft und Technologie

BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento

BP British Petroleum

CCAs Climate Change Agreements

CCEE Câmara Comercializadora de Energia Elétrica

CEC California Energy Commission

CELPE Companhia Energética de Pernambuco

CF Constituição Federal

CMSE Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico

CNPE Conselho Nacional de Política Energética

COD Carbono Orgânico Dissolvido

COM Consumidores

CPA Comportamento Pró Ambiental

DECC Department of Energy & Climate Change

EE Eficiência Energética

EMP Empresas do Setor Elétrico

ENCE Etiqueta Nacional de Conservação de Energia

EPE Empresa de Pesquisa Energética

ESCOS Empresas de Serviços de Conservação de Energia

EUA Estados Unidos da América

GD Geração Distribuída

GEE Gases Efeito Estufa

GOV Governo

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

ICV Inventário de Ciclo de Vida

IEA International Energy Agency

IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change

IPI Imposto sobre Produtos Industrializados

ISO International Organization for Standardization

LCCC Low Carbon Contracts Company

LI Licença de Instalação

LO Licença de Operação

MC Mudança de Comportamento

MME Ministério do Meio Ambiente

MPF Ministério Público Federal

Page 14: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

MV Matriz Verde

NDC Nationally Determined Contribution

NE Norte Energia

OFGEM Office of Gas and Electricity Markets

ONGs Organizações Não Governamentais

ONU Organização das Nações Unidas

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

PBE Plano Brasileiro de Etiquetagem

PCHs Pequenas Centrais Hidrelétricas

PCO Partículas de Carbono Orgânico

PEE Programa de Eficiência Energética

PNEF Plano Nacional de Eficiência Energética

PROCEL Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica

PROEÓLICA Programa Emergencial de Energia Eólica

ProGD Programa de Desenvolvimento da Geração Distribuída de Energia Elétrica

PROINFA Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica

REN21 Renewable Energy Policy Network for the 21st Century

RESEB Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro

RIIO Revenue = Incentives + Innovation + Outputs

ROL Receitas Líquidas Operacionais

SATC Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina

SIN Sistema Interligado nacional

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TRF Tribunal Regional Federal

TUSD Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição

TUST Tarifa de Uso do Sistema de Transmissão

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

UHE Usinas Hidrelétricas

UNEP United Nations Environment Programme

UNFCCC United Nations Framework Convention on Climate Change

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

WBA World Biogas Association

WGC World Gas Conference

Page 15: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 17

2. OBJETIVOS ...................................................................................................... 24

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 25

3.1. AS DIFERENTES FONTES DE ENERGIA ELÉTRICA............................... 25

3.1.1. Carvão ................................................................................................. 27

3.1.2. Derivados do Petróleo ........................................................................ 29

3.1.3. Gás Natural ......................................................................................... 31

3.1.4. Fotovoltaica ........................................................................................ 34

3.1.5. Nuclear ................................................................................................ 38

3.1.6. Eólica ................................................................................................... 40

3.1.7. Hidrelétricas ........................................................................................ 43

3.1.8. Biomassa ............................................................................................ 59

3.1.9. Biogás ................................................................................................. 64

3.2. O PANORAMA BRASILEIRO DA PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA67

3.2.1. Números e Projeções ......................................................................... 67

3.2.2. Como a Energia Elétrica é Produzida e Transmitida ........................ 68

3.2.3. Matriz Energética Nacional ................................................................ 71

3.2.4. Emissões Associadas ao Setor Elétrico ........................................... 73

3.2.5. Distribuição por Setor Consumidor .................................................. 76

3.2.6. Planejamento e Gestão do Setor Elétrico Brasileiro ........................ 79

3.2.7. Problemas da Atual Configuração do Setor Elétrico Brasileiro ...... 84

3.3. A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL NO PLANEJAMENTO ELÉTRICO

88

3.3.1. Como a Criação de um Ambiente Favorável à Geração Responsável

de Energia Elétrica Pode Ser Viável e Vantajosa para os Entes ................... 88

3.3.2. O que já Tem Sido Feito no Brasil ..................................................... 93

3.3.3. O que Tem Sido Feito em Outros Países ........................................ 101

3.3.4. Papel do Governo ............................................................................. 110

3.3.5. Comportamento Pró-ambiental ....................................................... 115

3.4. A HEURÍSTICA ........................................................................................ 126

3.4.1. Default ............................................................................................... 131

3.4.2. Take-the-best .................................................................................... 133

3.4.3. Tallying .............................................................................................. 135

Page 16: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

3.4.4. Equality rule ...................................................................................... 136

4. METODOLOGIA .............................................................................................. 137

4.1. PESQUISA EXPLORATÓRIA .................................................................. 138

4.2. QUESTIONÁRIO ...................................................................................... 139

4.3. ENTREVISTAS ......................................................................................... 153

5. RESULTADOS ................................................................................................ 164

5.1. PESQUISA EXPLORATÓRIA ..................................................................... 164

5.2. QUESTIONÁRIOS ....................................................................................... 167

Hipóteses ........................................................................................................ 171

Itens 173

5.3. ENTREVISTAS ............................................................................................ 183

Barreiras ......................................................................................................... 187

Intervenções ................................................................................................... 191

6. DISCUSSÃO .................................................................................................... 197

7. CONCLUSÃO .................................................................................................. 204

8. REFERÊNCIAS ............................................................................................... 206

9. APÊNDICES .................................................................................................... 223

10. ANEXOS ......................................................................................................... 226

Page 17: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

17

1. INTRODUÇÃO

A energia elétrica é uma das formas de energia mais utilizadas no mundo

é de fundamental importância para o desenvolvimento das sociedades atuais. Ela

pode ser gerada por diferentes fontes, de forma distribuída ou concentrada, e pode

ser convertida para gerar luz, força para movimentar motores e fazer funcionar

diversos produtos eletroeletrônicos. Para chegar ao consumidor final, depende de

uma rede elétrica, composta por fios, torres de transmissão, transformadores, etc.

Ela possui algumas características peculiares como: ser invisível; ser um

bem de consumo de massa, essencial para qualquer setor da economia; não possuir

armazenabilidade do produto final; e ter seu preço pago pelo consumidor dividido

entre produto (energia) e serviço (transporte).

Mundialmente, a forma de consumo atual de energia é insustentável, como

ilustra a figura 1 a seguir, que revela a o consumo final de eletricidade no mundo por

setor entre 1974 e 2016, de acordo com a IEA (2018). Em primeiro lugar, os países

em geral são fortemente dependentes de combustíveis fósseis, que um dia se

esgotarão. Em segundo lugar, a queima de combustíveis fósseis é a maior fonte de

emissões de dióxido de carbono e outros gases estufa que contribuem para o

aquecimento global. Considerando apenas o Brasil, há uma perspectiva de aumento

da demanda de quase 50% nos próximos 10 anos (MME/EPE, 2018).

Figura 1 - Consumo final de eletricidade no mundo por setor entre 1974 e 2016

Fonte: IEA, 2018

O objetivo de reduzir as emissões de gases potencialmente causadores de

efeito estufa, conforme formulado no Protocolo de Kyoto de 1997, parece ser difícil de

Page 18: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

18

ser alcançado: países em desenvolvimento estão se aproximando rapidamente dos

níveis de consumo encontrados nos países desenvolvidos e as emissões ainda estão

crescendo em nações industrializadas (PICHERT; KATSIKOPOULOS, 2008).

Apesar de que o Brasil vem progressivamente investindo em novas usinas

a fio d´água e outras fontes renováveis não convencionais, que causam menos

impactos ambientais, a produção de energia elétrica no país ainda se caracteriza pela

presença de grandes usinas hidrelétricas, que caracterizam, juntamente com o parque

termelétrico instalado, um sistema predominantemente composto por fontes

controláveis. Como a maior parte da energia produzida é pelas usinas hidrelétricas,

que utilizam fontes renováveis, a questão da redução do consumo por vezes é

negligenciada no país. A figura 2 a seguir mostra a evolução, de 2005 a 2014, e

projeção para 2024 da composição da matriz elétrica brasileira, em termos de

capacidade instalada, em MW:

Figura 2 - Evolução, de 2005 a 2014, e projeção para 2024 da composição da matriz elétrica brasileira, em termos de capacidade instalada, em MW

Fonte: ANEEL (2017)

A hidroeletricidade tem sido a principal fonte de geração do sistema elétrico

brasileiro ao longo dos anos por ser uma tecnologia de geração elétrica consolidada

e segura, ter competitividade econômica e grande flexibilidade operativa, além da

abundância da água como recurso energético a nível nacional. Ela é amplamente

conhecida como uma fonte de energia limpa, pois é renovável e até recentemente

presumia-se que a operação de usinas hidrelétricas causava quase nenhuma emissão

Page 19: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

19

de poluentes (FLURY; FRISCHKNECHT, 2012). Neste estudo, os impactos

ambientais associados a hidrelétricas são evidenciados.

A ideia inicial desta pesquisa era fazer uma Avaliação de Ciclo de Vida

(ACV) da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, mas devido a incansável busca de dados

sobre a construção da usina sem resultados consistentes e suficientes decidiu-se

abordar o assunto planejamento energético de forma diferente. Todavia, estudou-se

Belo Monte quanto a histórico, quanto ao seu planejamento e sua obra civil, na

tentativa de entender e identificar o consumo de insumos na construção e operação,

tentando obter um inventário com os aspectos ambientais mais significativos em

termos da energia gerada (MWh). Chegou-se inclusive a estabelecer um sistema de

fronteiras para o ACV.

Em 2015, após mais de duas décadas de debates, negociações e

fracassos, a Organização das Nações Unidas (ONU) produziu um acordo climático

que foi adotado pela União Europeia, Índia, China e Estados Unidos: o Acordo de

Paris. Este documento, anunciado na Conferência das Partes sobre Mudança do

Clima, foi assinado por 195 nações, dentre elas o Brasil, que entraram em consenso

para enfrentar a problemática da mudança do clima (UNFCCC, 2015). Em decorrência

disso, o Brasil se comprometeu a reduzir as emissões de gases do efeito estufa em

37% abaixo dos níveis de 2005, até 2025, em um documento chamado de

Contribuição Nacionalmente Determinada, a NDC (Nationally Determined

Contribution, em inglês) (MME/EPE, 2018).

Entretanto, pelo menos até 2014, o Brasil ainda estava entre os dez

maiores emissores de gases do efeito estufa (OLIVIER et al., 2015). Produzir energia

elétrica de forma mais limpa e diminuir o consumo per capita dos brasileiros não

parece ser uma prioridade no país, assim como em muitos países. Mundialmente, o

consumo de energia está crescendo e vem acarretando um aumento das emissões

de CO2, levando ao aumento da temperatura média da Terra, como ilustra a figura 3,

o qual mostra a variação da concentração atmosférica de CO2 nos últimos 400 mil

anos em partes por milhão. A mudança climática causada pelos gases estufa tem

consequências de longo alcance, como os desastres naturais, o alagamento de

regiões costeiras e a escassez de água potável. Isso afeta seres humanos e natureza

em todo o mundo (STEINHORST; KLÖCKNER; MATTHIES, 2015). Desta forma,

mudar o comportamento das pessoas em relação ao consumo de energia será um

Page 20: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

20

dos desafios mais importantes no num futuro próximo (TESTA; COSIC; IRALDO,

2016).

Figura 3 - Variação da concentração atmosférica de CO2 nos últimos 400 mil anos em partes por milhão

Fonte: NASA, 2018

No Brasil, as concessionárias são remuneradas principalmente pela

quantidade de energia que vendem. A consequência disso é que elas são

incentivadas a aumentar ao máximo a venda de energia e, por outro lado, a economia

de energia é desencorajada (SWISHER; MARTINO; REDLINGER, 1997). Além disso,

ainda há outras questões como o perfil industrial do país, aspectos políticos,

corrupção, planejamento ineficiente e baixa relevância do aspecto ambiental nas

tomadas de decisão do setor elétrico brasileiro.

Silva (2010) pesquisou alguns aspectos referentes a energia e às

mudanças climáticas. Utilizando a técnica "verdadeiro" ou "falso", ela verificou o

conhecimento de parcela estaticamente representativa dos grandes consumidores de

energia elétrica brasileiros, se eles acreditavam ou não nas mudanças climáticas. A

questão também teve o objetivo de avaliar a predisposição dos clientes livres em

buscar alternativas ambientalmente mais atrativas. Os resultados mostraram que 94%

da amostra acredita nos impactos das mudanças climáticas e que 77% percebem que

as escolhas energéticas têm contribuições significativas nas mudanças climáticas.

Todavia, apenas 43% tem disposição em pagar mais caro para uma energia mais

ambientalmente correta e 61% dos respondentes concordaram que a busca pela

competitividade impede a empresa de priorizar fontes de energia mais caras, ainda

que melhores, do ponto de vista ambiental.

Page 21: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

21

Isso evidencia a necessidade de uma política ambiental efetiva, aliada a

um plano de crescimento econômico sustentável, tendo em vista vários segmentos da

sociedade. O fato de não tratar o assunto como prioridade pode gerar uma conta muito

alta num futuro não muito distante. Cabe ao governo, por meio de profissionais

competentes, implementar políticas públicas estruturadas por meio de intervenções

eficazes para melhorar a situação atual. Mudanças, portanto, deverão ser realizadas

no setor elétrico para incorporar as transformações necessárias.

Venturosamente, existem ferramentas que podem contribuir para mudar

este cenário: novas tecnologias para maior participação de fontes limpas ou “verdes”,

geração distribuída, eficiência energética, estratégias de mudanças de

comportamento, entre outras. Todavia, usar estas ferramentas implica com que novos

arranjos comerciais surjam, e uma nova regulação seja necessária para reorganizar e

redistribuir os custos e os benefícios dessas transformações entre os agentes

envolvidos.

Os principais agentes envolvidos são: o próprio governo; os geradores,

transmissores, distribuidores e comerciantes (empresas do setor elétrico, públicas e

privadas); e os consumidores finais (residências, indústria, serviços, etc.). O governo

é um ente envolvido bastante complexo, que possui várias funções: atuação direta

nos mercados por meio de empresas estatais, regulador, incentivador, empresário,

investidor, planejador, tomador de decisão, exemplo, etc. Todos estes agentes podem

ser beneficiados caso sejam feitas transformações no planejamento.

Desta forma, é possível perceber a complexidade de fatores que regem o

planejamento energético do país: aspectos políticos; dúvidas quanto ao horizonte de

duração das reservas mundiais de petróleo; alterações ambientais em escala

planetária; perspectivas de crescimento; investimentos financeiros; dimensões

continentais do país; potencial energético elétrico brasileiro na região Norte, dentro da

Amazônia Legal; diversidade hidrológica das bacias hidrográficas; participação de

diversos agentes e ocorrência de crises hídricas, energéticas e econômicas. Por todos

estes motivos, fica evidente o excesso de informações disponíveis que se apresentam

na tomada de decisão. A figura 4 a seguir esquematiza esta conjuntura complexa:

Page 22: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

22

Figura 4 - Esquema de fatores que influenciam o planejamento elétrico do Brasil

Fonte: autoria própria

Neste contexto, espera-se que a heurística seja capaz de determinar

satisfatoriamente quais fatores influenciam no processo decisório de tomada de

decisão no setor elétrico do Brasil, do ponto de vista de especialistas técnicos da área,

haja vista que no mundo incerto da gestão, as heurísticas simples podem levar a

decisões melhores e mais rápidas do que procedimentos estatísticos complexos.

A heurística é uma técnica de tomada de decisão, consciente ou não, que

ignora diversos dados possíveis de serem utilizados para a escolha da ação, o que

torna a decisão mais simples, rápida e cognitivamente menos custosa (SHAH;

OPPENHEIMER, 2008). Ela pode ser tão boa ou melhor do que modelos mais

complexos, como a ponderação ótima, quando se trata de prever resultados em

situações novas (GIGERENZER; GAISSMAIER, 2011).

A ideia geral por trás dessa abordagem é que em ambientes ruidosos e

incertos, apenas parte da informação disponível se generaliza para o futuro. A arte de

construir um bom modelo é encontrar essa parte e ignorar o resto. Quanto mais ruído

no ambiente, os modelos mais complexos com muitos parâmetros livres tendem a se

Setor Elétrico Brasileiro

Diversos agentes envolvidos e

seus conflitos de interesse

Aspectos Políticos

Diversas Fontes de Energia

Questões Ambientais

Perspectivas de crescimento de

consumo per capta

Investimentos financeiros

Crises hídricas, energéticas e econômicas

Predominância de hidrelétrica

com grande participação de

usinas com capacidade de regularização

Potencial energético

elétrico brasileiro na região Norte,

dentro da Amazônia Legal

Page 23: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

23

sobrecarregar, ou seja, refletir o ruído em uma amostra específica. A simplicidade

pode reduzir a sobrecarga e assim produzir estratégias de decisão robustas

(GALESIC; KAUSE; GAISSMAIER, 2016).

Diante deste cenário, algumas questões são levantadas: Os processos

heurísticos ocorrem em tomadas de decisão do setor elétrico? Quais informações

seriam realmente relevantes neste caso? Dados mais concretos a respeito do

desempenho ambiental de das diversas fontes energéticas teriam efeito mais

significativo na tomada de decisão?

Os resultados deste trabalho podem contribuir na prática para o

entendimento do processo cognitivo de tomada de decisão de do setor elétrico do país

e propor ferramentas estruturadas e viáveis a fim de incentivar a redução no consumo

de energia e tornar a atual produção mais ambientalmente responsável.

Page 24: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

24

2. OBJETIVOS

O objetivo principal deste estudo é propor diretrizes para um plano de

políticas públicas ambientalmente responsável para o setor energético elétrico do

país, correlacionando com a atual política enérgica, levando em conta a heurística,

experiências internacionais com relação a produção de energia mais limpa e

diminuição do consumo per capita, e ferramentas de mudança de comportamento

encontradas na literatura acadêmica. Estas diretrizes serão avaliadas, e, portanto,

respaldadas, por opiniões técnicas de especialistas em planejamento energético, de

modo que as políticas públicas do setor elétrico sejam mais efetivas se essas diretrizes

forem adotadas.

Os objetivos específicos são:

• Analisar o histórico de geração e consumo energético do país;

• Determinar e categorizar os fatores relevantes atualmente para o

processo de tomada de decisão na implantação de uma fonte de energia

elétrica;

• Aferir os processos heurísticos que os agentes envolvidos utilizam

na tomada de decisão do setor elétrico;

• Identificar o nível de responsabilidade ambiental dos especialistas

em planejamento elétrico do país.

Page 25: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

25

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. AS DIFERENTES FONTES DE ENERGIA ELÉTRICA

Historicamente, a primeira fonte de energia elétrica utilizada pelo homem

foi o carvão e, infelizmente, esta é ainda a principal fonte de geração em muitos

países, como se vê pela figura 5, que mostra a produção bruta total de eletricidade no

mundo por fonte em 2016. Neste ano, a geração por meio de combustíveis fósseis foi

responsável por cerca de 65,1 % da produção mundial bruta de eletricidade. Os

combustíveis fósseis incluem carvão e seus derivados, petróleo e seus derivados, gás

natural, xisto betuminoso e outros. Como a reposição das fontes de energia fóssil e

nuclear requer um horizonte de tempo geológico, essas são consideradas não-

renováveis. Apesar disso, a geração de eletricidade a partir de combustíveis fósseis

caiu pelo quinto ano consecutivo em 2017 e a geração a partir de fontes renováveis

registrou crescimento robusto em termos mundiais nos últimos anos (IEA, 2018).

Figura 5 - Produção bruta total de eletricidade no mundo por fonte em 2016 (%)

Fonte: IEA, 2018

As fontes energéticas renováveis, sob diversas formas, originam-se da

energia solar incidente no planeta e são repostas pela natureza: é o caso dos

potenciais hidráulicos (quedas d’água), eólicos (ventos), a energia das marés e das

Page 26: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

26

ondas, a radiação solar, o calor do fundo da Terra (geotermal), etc. Muito embora haja

imprecisões nas conversões de unidades em comparações de fontes energéticas, o

atual consumo energético global anual é muito menor que energia solar bruta

incidente na terra (GOLDEMBERG E LUCON, 2007).

Atualmente, o Brasil se orgulha em mostrar que possui duas das maiores

hidrelétricas do mundo e que cerca de 70% de energia elétrica do país vem de

hidrelétricas, fontes renováveis. Todavia, as energias renováveis, mesmo aquelas

consideradas ambientalmente limpas, também apresentam desvantagens. Há,

portanto, um enorme desafio a transpor, tanto do ponto de vista tecnológico como do

ponto de vista de mudanças de paradigmas na produção e consumo. Mesmo a energia

nuclear, tão rejeitada por vezes, é considerada uma alternativa ambientalmente viável

dependendo de certas condições de controle.

A energia elétrica pode ser gerada de forma concentrada (plantas com

grande capacidade instalada) ou distribuída (geração em menor escala).

Tradicionalmente, o país investiu substancialmente em formas de geração

concentrada, porém recentemente tem aumentado os investimentos em geração

distribuída.

A geração distribuída apresenta vantagens e desvantagens. As principais

vantagens englobam impactos ambientais e custos evitados em expansão do sistema

de transmissão e contribuição para a prestação de serviços ancilares (aqueles

necessários para manter a estabilidade da operação da rede). Como desvantagens,

destacam-se os aspectos de qualidade da energia, como geração de harmônicos e

variações de tensão, além da necessidade de reforço na rede de distribuição, pois os

geradores distribuídos injetam energia na rede, configurando um fluxo bidirecional

(BAJAY et al., 2018).

Por fim, há que se considerar que não existe geração de energia sem

impactos socioambientais. Todas as formas de produção de energia afetam de algum

modo, em diferentes graus, o meio ambiente. A escolha da melhor configuração da

matriz de geração de energia elétrica passa por incluir a avaliação dos custos,

benefícios e impactos socioambientais. Neste sentido, aqui é apresentado um

panorama geral sobre cada fonte de energia, seus benefícios e impactos.

Page 27: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

27

3.1.1. Carvão

O carvão fóssil é a rocha sedimentar combustível, formada a partir de restos

vegetais que se encontram em diferentes estados de conservação, tendo sofrido

soterramento, seguido de compactação. O carvão fóssil é impropriamente chamado

de carvão mineral, já que o carvão mineral tem origem comercial, portanto não

científica, para diferenciar do carvão vegetal (SATC, 2014).

Os depósitos de carvão são encontrados em bacias sedimentares e/ou

depressões preenchidas por sedimentos, resultantes da movimentação das placas

tectônicas. O carvão origina-se da decomposição de vegetais superiores e restos de

vegetais terrestres (troncos, galhos, sementes, pólens) cuja deposição sofreu, ao

longo de milhões de anos, processos de compactação e transformações devidas a

aumentos de pressão e temperatura, concentrando carbono e hidrogênio

(carbonificação). O carbono, em função do seu elevado teor, é o principal elemento

químico no carvão.

As usinas termelétricas a carvão mineral são largamente empregadas em

todo o mundo e apresentam características técnicas, como alto fator de capacidade,

que trazem ganhos de confiabilidade ao sistema elétrico. Além disso, o carvão mineral

apresenta vantagem sobre os demais tipos de combustível devido ao menor de risco

de variações de preço e interrupção de suprimento, aspectos que conferem maior

segurança energética ao país.

O carvão fornece um terço de toda a energia utilizada mundialmente e

representa quase 40% da geração de eletricidade, além de desempenhar um papel

crucial em setores como ferro e aço. Apesar das preocupações legítimas sobre a

poluição do ar e as emissões de gases de efeito estufa, o uso de carvão continuará a

ser significativo no futuro e o setor tem investido na busca da eficiência e redução dos

seus impactos ambientais ao adotar tecnologias menos poluentes e mais eficientes

para tentar que o carvão se torne uma fonte de energia mais limpa nas próximas

décadas. (IEA, 2018)

De certa forma, o consumo do carvão mineral no mundo vem a reboque do

desenvolvimento econômico-industrial que a China tem imposto. Apesar disso, a

participação do carvão na geração elétrica nos países da OECD apresentou uma

queda na última década. (IEA, 2018)

Page 28: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

28

A mineração de carvão no Brasil é predominante para fins de geração de

energia elétrica. No sul do país a cadeia produtiva do carvão mineral, que envolve as

etapas de mineração, beneficiamento e transporte, tem grande importância para a

economia local. Esta representa importante fonte de empregos diretos e indiretos e

de arrecadação de tributos.

A eletricidade gerada por carvão mineral no Brasil é realizada em duas

possíveis configurações, a depender da origem do combustível. Caso o combustível

seja o carvão nacional, que apresenta baixa qualidade, a geração de energia é

geralmente realizada nas chamadas “usinas boca de mina”, com maior relevância na

região sul do país, onde se concentram as reservas brasileiras. Já caso seja adotado

o carvão importado, de melhor qualidade, as usinas são de modo geral implantadas

junto a terminais portuários (TOLMASQUIM, 2018). As usinas termelétricas a carvão

mineral, apesar de terem a localização condicionada à disponibilidade e transporte do

combustível, ainda possuem certa flexibilidade locacional. Isso permite implantá-las

em locais menos sensíveis sob a ótica socioambiental e/ou em áreas próximas aos

centros de carga. Usinas movidas a carvão são normalmente projetadas para uma

vida útil entre 25 e 35 anos (IEA, 2014).

Em resumo, sendo o carvão uma matéria prima para a geração de energia

elétrica através de termelétricas, assim como derivados do petróleo e gás natural, tem

como desvantagens:

• Emissões aéreas de material particulado: problemas respiratórios,

interferência na fauna e flora, cheiro irritante, efeito estético ruim

• Emissão de óxidos de enxofre: problemas respiratórios,

cardiopulmonares, interferência na fauna e flora, acidificação de chuvas

• Emissão de dióxido de carbono: contribuição para o efeito estufa

• Emissão de óxido de nitrogênio, hidrocarbonetos e monóxido de

carbono: chuvas ácidas

• Percolação das águas das chuvas nas áreas de estocagem:

contaminação do lençol freático, dos cursos de água, elevação do pH, metais

pesados, sólidos dissolvidos

• Sistemas de resfriamento das águas: interferência na fauna e flora

aquáticas

• Resíduos sólidos do processo: minas e usinas (cinzas pesadas)

Page 29: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

29

3.1.2. Derivados do Petróleo

Conforme ANP (2014), pode-se definir reserva como: quantidades de

petróleo e gás natural estimadas de serem comercialmente recuperáveis através de

projetos de exploração de reservatórios descobertos, a partir de uma determinada

data, sob condições definidas. Para que volumes sejam classificados como reservas,

os mesmos devem ser descobertos, recuperáveis, comerciais e remanescentes, com

base em projetos de exploração. Os volumes de reserva são categorizados de acordo

com o nível de incerteza. Tantos derivados do petróleo quanto gás natural têm origem

fóssil.

A geração de energia elétrica a partir de derivados de petróleo ocorre por

meio da queima desses combustíveis em caldeiras, turbinas e motores de combustão

interna. Com exceção de alguns poucos países da OCDE, o uso de petróleo para

geração de eletricidade tem sido decrescente desde os anos 1970, e hoje contribui

com 3,7% da produção bruta total de eletricidade mundial (IEA,2018). O obsoletismo

das plantas de geração, os requerimentos de proteção ambiental e o aumento da

competitividade de fontes alternativas são os principais responsáveis por isso.

Contudo, o petróleo continua sendo muito importante na geração de energia elétrica

nesses países (ANEEL, 2015).

Entre 1960 e 1973, o uso de petróleo na geração termelétrica cresceu a

uma taxa média de 19% ao ano, chegando a constituir 26% de toda geração de

eletricidade no mundo. Em alguns países (Japão, Dinamarca, Itália, Irlanda e Portugal)

chegou a representar 60%. Com a crise do petróleo, nos anos 1970, o carvão voltou

a ocupar maior expressividade na geração de eletricidade, e alternativas como o gás

natural, tornaram-se mais atrativas.

A partir de 1980, a operação das plantas a óleo começou a ser transferida

da base para o pico de demanda do sistema e, consequentemente, a taxa de utilização

(fator de capacidade) tem sido reduzida. Assim, a capacidade instalada tem sido mais

expressiva do que a geração de energia. Nos anos 1980, a geração termelétrica a

óleo foi muito importante em vários países (Holanda, Reino Unido, Irlanda, etc.) para

a provisão de flexibilidade de operação e planejamento do sistema. Atualmente, as

principais funções de um sistema termelétrico a óleo são as seguintes:

1. Atendimento da demanda de ponta;

2. Provisão de flexibilidade de operação e planejamento;

Page 30: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

30

3. Atendimento a sistemas remotos e/ou isolados;

4. Autoprodução de energia elétrica em indústrias quando

não há alternativas mais econômicas.

No caso do Brasil, a geração térmica, particularmente com derivados de

petróleo, é pouco expressiva no âmbito nacional. Contudo, tem desempenhado um

papel importante no atendimento da demanda de ponta do sistema elétrico, na

autoprodução industrial, no suprimento de energia elétrica a municípios e

comunidades não atendidos pelo sistema interligado e foi essencial nos anos 2014 e

2015 em usinas termelétricas diante da crise hídrica e energética no atendimento a

demanda nacional.

Os principais impactos da geração de energia elétrica a partir de derivados

de petróleo decorrem da emissão de poluentes na atmosfera, principalmente os

chamados gases de efeito estufa (GEE). Os mais problemáticos são o dióxido de

carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O). Ainda, geradores a diesel tem

vida útil curta em relação a outras fontes: eles dependem do seu tempo de operação,

porém podem ser usados por cerca de 20 000 h (XIAO et al., 2014).

Pelo menos parte das mudanças climáticas verificadas nas últimas

décadas tem sido atribuída ao aumento da concentração desses gases na atmosfera.

Grande porção dessas emissões decorre da queima de combustíveis fósseis para a

geração de energia elétrica (ANEEL, 2015). Entre os poluentes atmosféricos

decorrentes da queima de derivados de petróleo, destacam-se o dióxido de enxofre

(SO2) e o chamado material particulado, constituído de pós e cinzas em suspensão

nos gases emitidos durante a queima de combustíveis fósseis. Além de alterações na

biodiversidade local, esses poluentes provocam diversos males à saúde humana,

como distúrbios respiratórios, alergias, lesões degenerativas no sistema nervoso e em

órgãos vitais, câncer, etc. (ANEEL, 2015). Esses distúrbios tendem a se agravar no

inverno, quando inversões térmicas provocam o aprisionamento do ar quente e

dificultam a dispersão dos poluentes.

Existem, contudo, tecnologias e processos que permitem a remoção

desses poluentes e a redução de seus efeitos. Os equipamentos mais usuais são os

ciclones e os precipitadores eletrostáticos, mais eficientes na remoção de partículas

mais grosseiras. Esses equipamentos podem ser combinados com dispositivos mais

eficientes, como os filtros cerâmicos e de mangas, que podem remover até 99% do

material particulado (ANEEL, 2015).

Page 31: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

31

3.1.3. Gás Natural

O gás natural é uma fonte de energia fóssil versátil, com ampla base de

recursos em diversos países, e que pode atender às demandas de vários setores,

como o industrial, energético, residencial, comercial e de transportes. O gás natural

pode ser consumido diretamente como matéria-prima (uso não energético) e

indiretamente, sendo queimado para a geração de eletricidade ou calor. Na indústria

e nas edificações é mais comumente utilizado para gerar calor. Nas usinas

termelétricas a gás natural é queimado, convertendo energia térmica em energia

mecânica e, posteriormente ocorre a conversão desta em energia elétrica.

Este gás tem sido considerado um combustível cada vez mais relevante na

matriz energética mundial, uma vez que oferece estabilidade e segurança de

suprimento de energia, além de uma queima com menos emissões quando

comparado ao carvão e aos derivados de petróleo (WGC, 2015). Seu estado físico

gasoso reduz os riscos associados ao gerenciamento do combustível, que se dispersa

rapidamente no ambiente em caso de vazamento.

As reservas mundiais de gás natural totalizaram 187 trilhões de m3 em 2014

(BP, 2015) e estão distribuídas geograficamente no mundo conforme mostra a figura

6:

Figura 6 - Reservas globais de gás natural

Fonte: BP (2015)

O gás natural é a terceira fonte mais importante na matriz energética

primária mundial, atrás do petróleo e do carvão, e a segunda fonte mais importante

na matriz energética elétrica mundial (responsável pela produção de 23,1% do total

Page 32: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

32

da energia elétrica mundial em 2016, (IEA, 2018)). A sua participação na oferta de

energia no mundo apresentou uma tendência crescente a partir da década de 1980

(IEA, 2016).

A demanda de gás natural é distinta nas diferentes regiões do mundo.

Cerca de metade da demanda global deste energético está nos países da

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),

principalmente nos setores de geração de eletricidade e edificações. O setor elétrico

é o maior consumidor de gás natural no mundo, exceto na China e no Brasil onde seu

uso predominante é o industrial (IEA, 2012).

A geração termelétrica a gás natural é uma alternativa para complementar

a geração das fontes renováveis intermitentes, como eólica e solar, e para a

autoprodução em indústrias com relativo baixo custo e menor impacto que o diesel,

por exemplo. Ainda, a geração de energia elétrica a partir do gás natural no Brasil

ocorre em complemento àquela produzida a partir de hidrelétricas, sendo por isso

utilizada como garantia às possíveis oscilações nos níveis dos reservatórios de

hidrelétricas em períodos de baixa afluência.

Apesar dos esforços para manter a matriz elétrica predominantemente

baseada em fontes de baixa emissão de gases de efeito estufa e assim minimizar as

consequências das mudanças climáticas, as características das fontes renováveis

intermitentes como a eólica e a solar não permitem que o planejamento elétrico

renuncie às opções termelétricas. As usinas termelétricas a gás natural são

largamente empregadas e apresentam características técnicas desejáveis, como

flexibilidade operacional e independência de variações climáticas, o que traz ganhos

de confiabilidade ao sistema, aumentando a segurança energética do país. Elas

apresentam a vantagem de possuir certa flexibilidade locacional, apesar de a

disponibilidade e o transporte do combustível serem fatores relevantes para a locação

destas usinas. Isso permite implantá-las em áreas próximas aos centros de carga,

reduzindo custos, perdas e impactos socioambientais inerentes a extensas linhas de

transmissão.

O Brasil dispõe de recursos significativos de gás natural, com expectativas

de incremento na produção líquida no médio prazo, chegando a quase 120 milhões

de metros cúbicos por dia (m3/d) em 2024 (EPE, 2015a). O tempo de vida dos

elementos de um sistema de geração elétrica a partir de gás natural é calculado em

30 anos (SHAO et al., 2017).

Page 33: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

33

Os benefícios econômicos e sociais decorrentes das atividades de

exploração e produção de gás natural, bem como da geração e transmissão de

energia, estão associados à geração de empregos diretos e indiretos, ao aumento da

demanda por bens e serviços e ao aumento da arrecadação tributária, contribuindo

para o dinamismo econômico da região. Ressalta-se que os benefícios econômicos e

sociais advindos da contratação de mão-de-obra poderão ser maximizados se forem

priorizadas contratações locais ou regionais. Especificamente na etapa de produção

de gás natural soma-se o aporte de recursos advindos da distribuição dos “royalties”

e participações especiais (TOLMASQUIM, 2016).

Dentre as vantagens comparativas em relação ao carvão, a geração de

eletricidade a partir do gás natural apresenta menores emissões, o empreendimento

possui tempo de construção mais curto e menores custos de capital (IEA, 2012).

O cenário de novas políticas da Agência Internacional de Energia considera

que a capacidade instalada de geração a gás natural dobre até 2040. Contudo a

tendência de uso do gás no setor elétrico se mantém sensível à competitividade do

seu preço, assim como às políticas governamentais para diversificação da matriz

energética e para mitigação de impactos ambientais (IEA, 2014).

O gás natural é, em princípio, isento de enxofre e de cinzas, o que torna

dispensáveis as custosas instalações de dessulfurizarão e eliminação de cinzas que

são exigidas nas térmicas a carvão e a óleo. O problema da chuva ácida é mínimo em

uma térmica a gás natural. Como o ele é rico em hidrogênio, quando comparado aos

demais combustíveis fósseis, a proporção de gás carbônico gerado por sua queima é

significativamente mais baixa (MELLO et al., 2006).

O problema ambiental mais acentuado nas instalações a gás natural é o de

emissão de óxidos de nitrogênio (NOx). Uma turbina a gás emite mais NOx do que

caldeiras a óleo ou carvão porque a relação entre o ar e o combustível é muito maior

na queima do gás. Os últimos desenvolvimentos técnicos preveem a utilização de

queimadores com injeção de água ou vapor na zona de combustão das turbinas, o

que além de reduzir o NOx, ainda eleva a capacidade produtiva de máquina por

aumento do fluxo de massa através da turbina (MELLO et al., 2006).

A ideia popular de que turbinas a gás produzem alto nível de ruído — impressão

que vem das turbinas de avião — não é verdadeira. Em usinas termelétricas a gás

natural de ciclo combinado bem projetadas, a poluição sonora não excede a de usinas

Page 34: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

34

equivalentes operando a vapor, e situa-se facilmente nas exigências legais (MELLO

et al., 2006).

3.1.4. Fotovoltaica

A energia solar fotovoltaica vem se destacando no cenário energético

mundial nos últimos anos. Diante do objetivo de redução de gases poluentes,

potências mundiais começaram a investir em energias renováveis e em estudos de

projetos de eficiência energética para substituir o uso de combustíveis fósseis na

produção de energia elétrica. Por esse motivo, em 2016, fontes não convencionais de

energia (solar, eólica, geotérmica, das marés e outras) atingiram um patamar

correspondente a 5,6% do total bruto a produção de energia elétrica no mundo (IEA,

2018).

Entre os anos de 2010 e 2016 a fonte fotovoltaica apresentou um

crescimento anual médio de 40%, saltando de uma potência instalada de menos de

50GW em 2010 para mais de 320 GW no final de 2016 (FRAUNHOFER, 2017).

Somente no ano de 2016 foram instalados cerca de 76 GW em todo o mundo (IEA,

2017). Considerando módulos de 250 W, que é uma potência bastante usual para

módulos no mercado fotovoltaico, isso significa que foram instalados, somente em

2016, mais de 34 mil módulos por hora.

Este crescimento da fotovoltaica se deve a vários fatores, entre os quais se

pode citar a diminuição nos custos de fabricação, o aumento na eficiência dos módulos

e a facilidade na implementação de sistemas de pequeno e grande porte. Também é

interessante notar que muitos dos fatores que contribuem para o crescimento da

energia solar fotovoltaica são retroalimentados. Um exemplo interessante disso é

apontado em um relatório do Fraunhofer Institute (2018): nos últimos 36 anos, a cada

vez que a produção de módulos dobra, o preço cai em 24%, ou seja, quanto mais

cresce a potência instalada, maior o decréscimo do preço.

A energia solar fotovoltaica ainda está em seus passos iniciais no Brasil. O

aproveitamento do Sol para geração elétrica no país começou a se desenvolver no

final do século passado, através de programas de eletrificação rural fazendo uso

dessa tecnologia, mas somente na década atual é que ela começou a ganhar

abrangência nacional, apesar de ainda ser incipiente.

O país está situado numa região com incidência quase vertical dos raios

solares. Esta condição favorece elevados índices de irradiação em quase todo o

Page 35: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

35

território nacional. Adicionalmente, a proximidade à linha do Equador faz com que haja

pouca variação na incidência solar ao longo do ano. Dessa forma, mesmo no inverno

pode haver bons níveis de irradiação. Essas condições conferem ao país algumas

vantagens para o aproveitamento energético do recurso solar.

Dentre as várias possibilidades de uso da energia fotovoltaica, está a

utilização no ambiente construído, do inglês Built Integrated Photovoltaics (BIPV).

Sistemas baseados em BIPV apresentam diversas vantagens, não somente a geração

de energia no local de consumo, mas também relativo à melhoria do conforto térmico

e das condições de iluminação interna, além de agregar valor estético à construção.

A primeira geração de módulos fotovoltaicos foi a de silício cristalino.

Módulos de silício cristalino possuem uma confiabilidade do mercado mundial,

primeiramente por ser utilizado comercialmente a mais de 65 anos, e por

consequência, seu valor de fabricação diminui muito com o aumento da produção dos

mesmos. Este fato, além da consolidação de seu espaço no mercado mundial,

aproximadamente 84%, fez com que pesquisadores se dedicassem ao aprimoramento

desta tecnologia, visando aumento de eficiência e melhora nos processos de

fabricação (BÜHLER; DOS SANTOS; GABE, 2018).

As tecnologias de segunda geração ainda são vistas com certa

desconfiança pelo mercado, pois embora já apresentem eficiências significativas,

também possuem custos elevados, principalmente para pequenos sistemas

fotovoltaicos. Já as tecnologias de terceira geração, notadamente as células orgânicas

e de corante, apresentam uma grande expectativa para o futuro, porém, ainda

carecem de muito estudo, principalmente na questão de estabilidade a longo prazo

(BÜHLER; DOS SANTOS; GABE, 2018). O tempo de vida dos painéis fotovoltaicos é

estimado entre 25 e 30 anos (KAZEM et al., 2017; ASDRUBALI et al., 2015).

A geração de energia elétrica a partir do aproveitamento solar apresenta

como principal vantagem a ocorrência de poucos impactos socioambientais quando

comparados a outras fontes de geração de energia elétrica. Assim como a eólica, os

impactos mais significativos ocorrem durante o processo de produção dos

equipamentos.

A relativa flexibilidade locacional da instalação de painéis fotovoltaicos

permite a sua implantação em variados locais, inclusive com aproveitamento de

instalações existentes, como cobertura de estádios, tetos de estacionamentos,

espelhos d’água de grandes reservatórios, entre outros, além de telhados e fachadas

Page 36: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

36

de edificações, no caso da geração descentralizada. Um benefício relacionado ao

meio biótico é a baixa interferência na fauna e flora local, onde os impactos podem

ser minimizados por meio de práticas adequadas de gestão de cada empreendimento.

Sob o ponto de vista socioeconômico, a geração de novos empregos e de

renda em regiões de baixo desenvolvimento econômico é relevante, pois as obras de

implantação mobilizam um contingente considerável de trabalhadores durante a

construção. O potencial de geração de empregos é especialmente importante, pelo

fato das regiões com maior irradiação e, portanto, grande potencial de geração solar,

serem majoritariamente regiões economicamente pouco desenvolvidas. No âmbito

nacional, considerando a cadeia completa de produção da indústria fotovoltaica, o

benefício socioeconômico poderá ser também obtido com a geração de empregos

qualificados, o desenvolvimento de um parque industrial competitivo

internacionalmente e a criação de uma cadeia de serviços (EPE, 2015b).

Ainda, a utilização de sistemas fotovoltaicos descentralizados permite a

aceleração da eletrificação em regiões isoladas e de difícil acesso, além de evitar

impactos socioambientais e econômicos relacionados à construção de novas linhas

de transmissão e às perdas elétricas associadas.

A falta de conhecimento tecnológico em energias renováveis, por parte de

todos os agentes, inclusive consumidores, prejudica sua maior inserção (KARAKAYA;

SRIWANNAWIT, 2015; NEGRO; ALKEMADE; HEKKERT, 2012). O desafio de

entender e mensurar os riscos desses ativos faz com que os bancos, por exemplo,

tenham dificuldades em financiar projetos de geração fotovoltaica, em especial de

geração distribuída. Portanto, a disseminação do conhecimento em energias

renováveis é uma importante medida para que esses parceiros invistam nessas

tecnologias (OVERHOLM, 2015).

Durante muito tempo, a curva de carga horária típica brasileira

correspondeu equivalente à figura 7, ilustrada abaixo. Desta forma, uma grande

desvantagem apontada na geração solar fotovoltaica era não produzir eletricidade no

momento de maior consumo residencial, entre 18h e 21h. Todavia, este padrão da

curva de carga horária brasileira mudou, e o que se tem constatado é que em muitos

dias quentes de verão, os quais correspondem às maiores demandas elétricas diárias

do ano, o maior consumo elétrico está ocorrendo no período da tarde, entre 13 e 18h,

principalmente devido ao crescente uso de climatizadores de ar (ONS, 2018), como é

Page 37: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

37

possível ver pela figura 8, que ilustra a curva de carga típica de um dia de verão de

2018. Portanto, o que era considerado uma desvantagem pode deixar de ser.

Figura 7 - Curva de carga típica do consumo residencial médio no Brasil e do potencial de geração distribuída solar tradicional

Fonte: ANEEL (2015)

Page 38: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

38

Figura 8 - Curva de carga horária de um dia típico de verão atual no Brasil

Fonte: ONS (2018)

Uma consideração relevante relacionada a este aspecto é a introdução da

implementação do preço horário nas tarifas de energia elétrica no Brasil

comercializadas pela CCEE, que está prevista para a partir de janeiro de 2020. Em

função a grande variação na demanda diária de energia elétrica por hora do dia, este

modelo de tarifação representa melhor aspectos da realidade da operação do Sistema

Interligado Nacional (CCEE, 2019).

3.1.5. Nuclear

Na geração elétrica nuclear, calor é obtido a partir da quebra do núcleo de

átomos (principalmente o urânio, que é o mais pesado) e é utilizado para aquecer

água e gerar vapor, que movimenta turbinas para gerar eletricidade.

A relevância do papel da energia nuclear no desenvolvimento de matrizes

energéticas mais limpas é o motivo central de muitos países se voltarem na

investigação e no desenvolvimento desta tecnologia de geração. Todavia, a

percepção de risco após o acidente de Fukushima no Japão fez com que a fonte

passasse por momento de forte rejeição. A pressão pelo abandono da geração

Page 39: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

39

nuclear é uma tendência típica da Europa Ocidental e Japão. Ainda assim, a fonte

nuclear contribui com 10,4% do total da produção elétrica mundial (IEA, 2018).

Atualmente, a geração de energia elétrica a partir da fonte nuclear

apresenta baixa participação na matriz brasileira, limitando-se às unidades da Central

Nuclear Almirante Álvaro Alberto, em Angra dos Reis/RJ, que operam na base do SIN.

A expectativa pela conclusão de Angra 3 traz à tona as discussões a

respeito da expansão da geração nuclear na matriz energética nacional e representa

uma oportunidade para compreender os prós e contras do país investir em programas

de desenvolvimento, mobilizando o setor produtivo e dando a sustentabilidade ao ciclo

de expansão proposto. Os programas, por sua vez, superam a dimensão do

planejamento energético, incluindo outros aspectos estratégicos como o

desenvolvimento industrial, tecnológico e as questões regulatórias e ambientais.

Ainda sobre as térmicas nucleares, o Brasil apresenta a vantagem de

grande disponibilidade de combustível devido as suas grandes reservas de urânio, o

que contribui para a garantia de suprimento. Além disso, a utilização do combustível

pode ser mais bem aproveitada pela reciclagem e evolução tecnológica.

A avaliação ambiental da fonte nuclear deve ser iniciada ainda na fase de

planejamento da expansão, sendo essencial para a definição de possíveis sítios

destinados à implantação de novas usinas. Além disso, ao ser realizada avaliação dos

impactos socioambientais, deve-se considerar o ciclo completo do combustível, desde

a etapa de mineração até o descarte.

As usinas nucleares apresentam menor vulnerabilidade climática. A

disponibilidade e o transporte de combustível são fatores relevantes para a locação

das usinas: é possível implantá-las em áreas próximas aos centros de carga,

reduzindo perdas e impactos socioambientais inerentes a extensas linhas de

transmissão. A vida útil das usinas nucleares é cerca de 40 anos (CARVALHO, 2008).

Diferentemente das outras usinas termelétricas, a termonuclear não emite

diretamente gases poluentes, como óxidos de enxofre, nem gases de efeito estufa

(GEEs), já que o calor necessário para a geração de energia elétrica não provém da

queima de combustíveis, e sim da fissão nuclear. Dessa forma, efeitos adversos sobre

à flora e à fauna, às edificações e à saúde humana são minimizados. Considerando

toda a cadeia energética nuclear, as emissões de GEEs são baixas, muito inferiores

às emissões da cadeia energética dos combustíveis fósseis, não contribuindo para o

Page 40: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

40

aumento da concentração desses gases na atmosfera e, consequentemente, para as

mudanças climáticas globais.

Devido à alta densidade energética do combustível nuclear, são

necessárias pequenas quantidades de combustível para a produção de energia,

facilitando seu armazenamento e logística. Por exemplo, uma tonelada de combustível

nuclear gera tanta energia elétrica quanto cerca de 100.000 toneladas de carvão de

boa qualidade.

As desvantagens são o risco de acidente na operação e o uso de água para

resfriar o núcleo do reator nuclear, causando impactos ambientais.

3.1.6. Eólica

O aproveitamento do vento como um recurso nasce da descoberta da

conversão da energia nele contida em algo útil, através do uso de um instrumento

transformador como os moinhos de vento, que possibilitaram a moagem de grãos ou

elevação de água, ou as velas de um barco que permitiram a navegação. Seguindo a

linha dos precursores dos atuais aerogeradores, os dispositivos de vento mais simples

datam de milhares de anos atrás, como os moinhos de vento de eixo vertical

encontrados nas fronteiras da Pérsia (Irã) por volta de 200 A.C. (KALDELLIS;

ZAFIRAKIS, 2011). Seguindo no tempo, algumas centenas de anos depois, acontece

a era de ouro dos moinhos de vento na Europa ocidental (entre 1200 e 1850), onde

se estima que tenha havido cerca de 50 mil deles, principalmente na Inglaterra,

Alemanha e Holanda (TESTER et al., 2005). Os moinhos tiveram seu apogeu e

evolução entre 1850 e 1930, quando aproximadamente 6 milhões de pequenas

máquinas com múltiplas pás foram utilizadas para bombeamento de água nos EUA.

O uso do vento para fins elétricos é relativamente recente, data de finais do

século XIX na Dinamarca e nos EUA, com a utilização de máquinas que geravam

eletricidade a partir do vento, ou aerogeradores (TESTER et al., 2005). Vale lembrar

que a eletricidade com fins comerciais, nos moldes similares ao que conhecemos hoje,

data também dos finais do século XIX. Um século depois, quando a eletricidade já era

fortemente provida por combustíveis fósseis, acontece a crise do petróleo de 1973,

levando o governo dos EUA a apoiar a pesquisa e o desenvolvimento da energia

eólica.

Após algum amadurecimento da tecnologia, o período entre 1981 e 1990

observa um boom de instalações nos EUA, totalizando aproximadamente 1,8 GW,

Page 41: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

41

graças aos incentivos dados pelo governo dos EUA (KALDELLIS; ZAFIRAKIS, 2011;

TESTER et al., 2005). Neste mesmo período, entre 1980 e 1990, a Europa também

investe em energia eólica, motivada pelo aumento do custo de energia elétrica, pela

busca da redução da dependência energética e por políticas de incentivo ao uso de

recursos endógenos. A “descoberta” de recursos eólicos em algumas regiões, como

na Dinamarca, levou à criação de um mercado estável nesse período.

Depois de 1990 o mercado se concentrou na Europa, tanto em termos de

instalações, quanto em fabricantes, fruto de incentivos provenientes de preocupações

antigas, como a dependência energética, e de novos problemas como as

preocupações ambientais com foco nas emissões de gases de efeito estufa. No final

dos anos 1990 e inícios dos anos 2000 o mercado se diversificou mais pelo mundo,

saindo do binômio EUA-Europa, surgindo instalações e fabricantes na Ásia

(principalmente Índia e China) e de forma embrionária na América Latina e África. A

partir do meio da década de 2000 a energia eólica já estava espalhada pelo mundo

todo, chegando à década de 2010 como uma energia renovável de relevante

contribuição para a redução de emissões de gases de efeito estufa de forma

competitiva.

O aproveitamento da energia eólica tem crescido substancialmente nos

últimos anos não só no mundo como no Brasil. Tal fato é ilustrado pela figura 9:

Figura 9 - Evolução da potência eólica instalada no mundo

Fonte: GWEC, 2015

A maior parte dos parques eólicos está instalada em terra (onshore), porém

vários parques têm sido implantados no mar (offshore), devido à diminuição de locais

apropriados em terra para novos empreendimentos (notadamente na Europa) e pelo

bom potencial, apesar de apresentarem maiores custos e impactos.

Page 42: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

42

A despeito do expressivo crescimento da capacidade instalada, a fonte

eólica é responsável somente por uma pequena parte da energia elétrica produzida

no mundo. Contudo, esses números podem variar de acordo com o país em questão.

A Dinamarca, por exemplo, foi capaz de suprir 39% da sua demanda de eletricidade

em 2014 com energia proveniente do vento (GWEC, 2015), e a região Nordeste do

Brasil atualmente também consegue gerar quase 100% da sua demanda de

eletricidade por meio da fonte eólica (ONS, 2018b).

O Brasil detém um potencial expressivo de energia eólica, o que garante

uma perspectiva de que essa fonte mantenha o crescimento e ganhe cada vez mais

espaço na matriz elétrica nacional no futuro. O primeiro aerogerador a entrar em

operação no Brasil foi fruto de uma parceria entre o Grupo de Energia Eólica da

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Companhia Energética de

Pernambuco (CELPE), financiada pelo instituto de pesquisas dinamarquês

Folkecenter, em 1992 (ANEEL, 2015). Este aerogerador possuía apenas 75 kW e foi

instalado no arquipélago de Fernando de Noronha (Pernambuco).

O primeiro incentivo à fonte eólica no Brasil ocorreu durante a crise

energética de 2001, quando se tentou incentivar a contratação de geração de energia

eólica no país, até então insignificante, através do Programa Emergencial de Energia

Eólica (PROEÓLICA) (BRASIL, 2001a). Hoje o país possui mais de 10 fabricantes de

aerogeradores (BRACIER, 2018).

A geração de energia através da fonte eólica é renovável, limpa e com custo

bastante competitivo. No Brasil, depois da fonte hidrelétrica, ela é considerada a fonte

de energia elétrica mais barata de se produzir por MWh de energia elétrica

(FERREIRA, 2017). Como é feita a conversão direta da energia do vento, não há

processos de combustão e, assim, não há emissões de gases poluentes como o

material particulado ou óxidos de enxofre, e tampouco de gases de efeito estufa (GEE)

ou resíduos tóxicos, a não ser no processo de produção e transporte dos

equipamentos. A geração eólica também não exige consumo de água para

resfriamento.

Quando comparada a fontes de energia tradicionais, a implantação de

parques eólicos se dá de forma rápida e, se associada a boas práticas ambientais,

permite que a interferência com a flora e com a fauna, além da população local, sejam

pequenas e passíveis de serem mitigadas e compensadas de forma eficiente. Outra

característica de sua construção é que não há grande mobilização de mão de obra,

Page 43: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

43

evitando que muitos trabalhadores gerem transtornos significativos nas localidades

que receberiam essas pessoas.

Em 2009, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) havia conduzido uma

pesquisa com órgãos licenciadores de empreendimentos eólicos e os principais

impactos potenciais relacionados com essa fonte listados estão ilustrados pela figura

10:

Figura 10 - Potenciais impactos associados a empreendimentos de geração eólica

Fonte: TOLMASQUIM (2016)

Ainda, segundo Oliveira (2011) e Kazem et al. (2017), os pontos negativos

da energia eólica são:

• Poluição visual e sonora;

• As pás das turbinas produzem sombras e reflexos móveis

que são indesejáveis nas áreas residenciais;

• Pode ocorrer mortalidade de vários tipos de aves por

baterem em pontos do aerogerador;

• As baterias são consideradas o ponto crítico do sistema,

pela pouca durabilidade, quando necessárias (em sistemas isolados, por

exemplo);

• Necessita de ventos constantes, nem muito fracos e nem

muito fortes;

• O tempo de vida do sistema de turbinas eólicas é baixo: 20

anos.

3.1.7. Hidrelétricas

A hidroeletricidade é uma tecnologia de geração elétrica consolidada,

economicamente competitiva e segura, na qual a eletricidade é produzida a partir da

Page 44: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

44

passagem da água por turbinas hidráulicas. A primeira usina hidrelétrica foi construída

no final do século XIX, em Cragside, na Inglaterra, e hoje esta fonte elétrica é

responsável por 16,6% do total da produção elétrica mundial (IEA, 2018).

O uso da hidroeletricidade foi rapidamente disseminado nos Estados

Unidos e em países europeus, inicialmente para serviços públicos de iluminação e

tração e para algumas atividades econômicas (como na mineração). Nestes países, o

potencial hidrelétrico foi largamente explorado e, com o crescimento da demanda de

energia elétrica e o aparecimento de novas fontes de geração, a participação da

hidroeletricidade no parque gerador foi gradualmente reduzindo ao longo do tempo.

Atualmente, nos Estados Unidos, a participação da fonte hidrelétrica na matriz do país

é cerca de 8%, em termos de geração (IEA, 2017).

Nos países menos desenvolvidos, de maneira geral, verificou-se uma maior

expansão a partir da segunda metade do século passado. Com as crises do petróleo

das décadas de 70 e 80, verificou-se um movimento de instalação de indústrias

multinacionais (eletrointensivas) para alguns países com disponibilidade hídrica,

dentre os quais o Brasil. Nestas duas décadas, de fato, a expansão hidrelétrica

brasileira ocorreu a taxas elevadas, conforme mostrado na figura 11:

Figura 11 - Evolução do parque hidrelétrico brasileiro

Fonte: Adaptado de ANEEL (2016)

Ao longo de 2014, o parque hidrelétrico mundial expandiu cerca de 3,6%

(37 GW), atingindo a capacidade instalada de aproximadamente 1055 GW (REN21,

Page 45: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

45

2015). Este acréscimo ocorreu preponderantemente na China (22 GW) e, em menor

escala no Brasil (3,3 GW), Canadá (1,7 GW), Turquia (1,4 GW), Índia (1,2 GW) e

Rússia (1,1 GW). Com as expansões verificadas naquele ano, consolida-se a

liderança chinesa em termos de capacidade hidrelétrica instalada e conduz o Brasil

para à segunda posição, conforme ilustrado na figura 12:

Figura 12 - Capacidade hidrelétrica instalada nos principais países em 2014

Fonte: Adaptado de (REN21, 2015)

Sob o ponto de vista estritamente da operação elétrica, usinas hidrelétricas

são capazes de prover uma série de serviços auxiliares, como controle de tensão e

de frequência, que são importantes para garantir um atendimento da demanda de

eletricidade com o padrão de qualidade desejado. Os reservatórios das usinas

hidrelétricas, por sua vez, podem prover uso múltiplo de água, como controle de

cheias, irrigação, processamento industrial, suprimento de água para consumo

humano, recreação e serviços de navegação. Vale ressaltar, no entanto, que os

múltiplos usos da água podem, por vezes, gerar conflitos e eventualmente impor

restrições à operação hidrelétrica.

Usinas hidrelétricas, inclusive as reversíveis, são capazes de responder

rapidamente às flutuações típicas da geração eólica e solar fotovoltaica, assim

garantindo um atendimento confiável da demanda de energia. Os reservatórios

hidrelétricos, por sua vez, representam hoje a única tecnologia economicamente

competitiva capaz de armazenar grandes quantidades de energia, que é fundamental

Page 46: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

46

para maximizar o atendimento da demanda de eletricidade com fontes renováveis de

geração (TOLMASQUIM, 2016). A vida útil de uma usina hidrelétrica é estimada em

70 anos, porém há casos de usinas que produzem eletricidade há mais de 100 anos

(ASDRUBALI et al., 2015).

As usinas hidroelétricas podem ser divididas em três tipos: usinas de

armazenamento, usinas reversíveis e usinas a fio d’água (FLURY; FRISCHKNECHT,

2012).

As usinas de armazenamento de energia são usinas com barragem e

reservatório consideráveis. Dependendo da altura de queda, distinguem-se entre

baixa, média e alta. A capacidade dos reservatórios difere entre as usinas: pode variar

desde a capacidade de armazenamento de água por meses até anos.

As usinas reversíveis são um tipo especial de usinas de energia de

armazenamento. Enquanto as usinas de armazenamento convencional usam água

que vem de áreas de captação natural mais altas, as usinas reversíveis bombeiam

água para reutilizá-la. A parcela de água bombeada pode atingir até 100% (plantas

básicas de fluxo de água). Neste caso, a usina não possui nenhum suprimento natural

de água. Muitas vezes, as usinas hidrelétricas de armazenamento são uma mistura

de ambas, usinas hidrelétricas de armazenamento e usinas reversíveis. No Brasil não

há usinas hidrelétricas reversíveis em operação.

De acordo com a ANEEL (2011), usina a fio d’água, por definição, é uma

usina hidrelétrica ou pequena central hidrelétrica que utiliza reservatório com

acumulação suficiente apenas para prover regularização diária ou semanal, ou ainda

que utilize diretamente a vazão afluente do aproveitamento.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) adota as seguintes

classificações: micro usinas hidrelétricas corresponde àquelas que tem capacidade

instalada de menos de 1 MW; Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGH) tem

capacidade instalada entre 1 E 5 MW; Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH’s) entre

5 e 30 MW e Usina Hidrelétrica de Energia (UHE) com capacidade maior de 30 MW.

Muitas usinas com baixa capacidade instalada foram construídas durante

a industrialização em países desenvolvidos, porém, quando as grandes usinas

elétricas foram construídas e o custo da produção caiu, as pequenas usinas

hidrelétricas foram abandonadas. Em outros casos, como Brasil e China, elas foram

inicialmente desenvolvidas para a eletrificação rural em áreas remotas ou pobres,

onde a produção em larga escala não pode alcançar (JIANG; DU, 2004; TIAN, 2010).

Page 47: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

47

Todavia, devido aos programas de ação governamentais, as pequenas

usinas hidrelétricas voltaram a ser incentivadas no Brasil, conforme projeto de lei PL

1962/2015, que dispõe sobre incentivos à implantação de pequenas centrais

hidrelétricas (PCHs) e de centrais de geração de energia elétrica a partir da fonte solar

e da biomassa. Assim, licenças ambientais de instalações de PCHs, que são emitidas

em âmbito estadual, estão sendo cada vez mais ampla e rapidamente emitidas

(BRASIL, 2012a) e também está havendo fabricantes nacionais de equipamentos e

turbinas para PCH’s, no intuito de aumentar a disponibilidade elétrica com fontes

renováveis e baixo impacto ambiental (PERIUS; CARREGARO, 2015). Entretanto,

esta é uma questão controversa, pois também existem estudos que afirmam que,

considerando a escala dos projetos, sistemas maiores (com grande capacidade

instalada) tendem a se apresentar de forma ambientalmente menos impactante do

que os menores em termos de quilowatts hora, porque os projetos maiores geralmente

têm uma vida útil mais longa e uma maior produção (SILVA, 2010; ZHANG et al.,

2007).

Por muito tempo as usinas hidrelétricas foram consideradas uma fonte de

energia limpa e renovável, um fato que tem sofrido protestos desde os anos noventa

com o surgimento de dúvidas sobre as emissões de gases de efeito estufa (GEE)

decorrentes de seus reservatórios (LESSA et al., 2015)."Wetlands", conforme definido

pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), incluem regiões

onde as atividades humanas têm causado mudanças na área da superfície coberta

por água, que engloba reservatórios de hidrelétricas.

De acordo com a revisão bibliográfica realizada nesta pesquisa, os

processos que mais contribuem para os aspectos do ciclo de vida de uma usina

hidrelétrica são a formação do reservatório, ciclo de vida do aço, ciclo de vida do

cimento e a operação das máquinas de construção e na operação dos equipamentos

no canteiro de obras.

Apesar das inúmeras vantagens, as instalações hidroelétricas de médio e

grande porte enfrentam hoje dificuldades para sua expansão devido aos seus

impactos socioambientais negativos. Ainda, novos aproveitamentos hidrelétricos

destes tipos estão cada vez mais distantes dos grandes centros de consumo, o que

resulta na necessidade de investimentos adicionais em linhas de transmissão para

escoamento da produção de eletricidade (TOLMASQUIM, 2016).

Page 48: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

48

Os reservatórios perturbam o fluxo natural da água, seguram-na por um

certo período e são barreiras para os peixes e invertebrados ativamente migratórios e

os organismos que são transportados passivamente das regiões a montante.

Dependendo do tipo de captação de água, existem construções especiais para a o

fluxo destes animais, porém estes dispositivos não são 100% eficientes. A construção

de usinas hidrelétricas de armazenamento resulta na inundação de pastagens,

florestas, e campos que podem ser parte de biótopos valiosos. A flutuação do nível da

água inibe o desenvolvimento da vegetação ribeirinha e desfigura a paisagem. Além

disso, a extensão da água pode representar uma barreira para a migração de animais

terrestres também: eles precisam encontrar novas rotas, muitas vezes em terrenos

intransponíveis.

A quantidade de água liberada logo abaixo da barragem é dada

principalmente pelo volume despachado do sistema interligado nacional. Os picos

reduzidos da saída diminuem a capacidade da água para transportar a carga de

sedimentos, o que pode causar acumulações de escombros no leito do rio. Em

resumo, as usinas de energia perturbam o equilíbrio da matéria sólida no leito do rio.

Isso diz respeito principalmente à distribuição temporal, bem como à classificação da

matéria sólida transportada.

Ainda, pode-se citar:

• Áreas de floresta inundadas e consequente eliminação de

ecossistemas naturais

• Desestabilidade na ecologia do rio

• Mudança na navegabilidade do rio

• Deslocamento de pessoas causando desemprego, pressão sobre

serviços urbanos, criminalidade, anomia

• Facilita o desmatamento e a expansão associado a ele

• Impactos de infraestrutura, como a construção de canais, casas

de força, vias navegáveis

• Muitas vezes a energia gerada não alcança comunidades

ribeirinhas porque as usinas estão diretamente ligadas ao sistema interligado

nacional

Page 49: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

49

• Dúvidas quanto à segurança e estabilidade da barragem

construída a longo prazo, haja vista o crescente número de barragens rompidas

no Brasil nos últimos anos

Haja vista a polêmica questão da continuação da disseminação de grandes

usinas hidrelétricas no Brasil, segue adiante explanações sobre como e por que

usinas hidrelétricas emitem GEE e acerca da última grande usina construída no país

(Belo Monte).

Emissões de Gases Efeito Estufa Associadas a Hidrelétricas

A energia hidrelétrica é amplamente percebida como uma fonte de energia

limpa, uma vez que é renovável e, até recentemente, supunha-se que a operação de

usinas hidrelétricas causasse quase nenhuma emissão de poluentes. Todavia, hoje

admite-se que os reservatórios de hidrelétricas são responsáveis por emissões

substanciais de gases de efeito estufa, como o óxido nitroso (N2O), dióxido de carbono

(CO2) e, principalmente, metano (CH4) (LESSA et al., 2015).

Os primeiros impactos ambientais ocorrem durante a construção das

usinas. Isso inclui as atividades da construção e a produção e transporte dos materiais

usados (por exemplo, cimento). Depois, a transformação induzida dos ecossistemas

terrestres em lacustres provoca sérias alterações não apenas no perfil de fauna e flora

da região, efeito mais visível, mas também nas características do solo, microfauna,

flora e na qualidade da água. Estas modificações, por uma diversidade de processos,

modificam o mecanismo de degradação da biomassa na área alagada, seja da matéria

orgânica existente no solo, na vegetação submersa ou presente na água. Estas

mudanças alteram significativamente o ciclo do carbono na região, e

consequentemente a emissão dos gases que contribuem ao incremento do efeito

estufa.

Nos reservatórios hidrelétricos são produzidos gases biogênicos, produto

da decomposição aeróbia e anaeróbia da matéria orgânica por microrganismos

aquáticos. Fontes de matéria orgânica para este processo podem ser a biomassa pré-

existente que foi submersa ou a biomassa real gerada no reservatório (carbono

orgânico dissolvido (COD), partículas de carbono orgânico (PCO)) e detritos que são

lixiviados das zonas circundantes.

Page 50: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

50

Na camada de água com presença de oxigênio, o CO2 é produzido

principalmente pela decomposição aeróbica de COD e PCO e pela oxidação biológica

de CH4 gerado na coluna de água. Em camadas anóxicas da coluna de água ou

sedimento, ocorre a decomposição anaeróbica da matéria orgânica que pode resultar

em CH4 e CO2 através de metanogênese (ROSA et al., 2004).

De acordo com Yang et al. (2014) e Ribeiro (2003) as emissões de gases

efeito estufa de reservatórios são influenciados principalmente pelo carbono orgânico

inundado, temperatura da água, a localização geográfica dos reservatórios, idade do

reservatório, valor de pH, vegetação e velocidade do vento, aporte de carga orgânica

de fontes externas ao reservatório pelo rio, margens, tempo de residência e

turbulência da água e profundidade do reservatório.

Lima e Novo (1999) defendem que em alguns casos a maior contribuição

nas emissões provém dos tributários do reservatório, que deságuam em braços, onde

ocorre menor turbulência em comparação às grandes áreas abertas do lago. Ademais,

afirma-se que tanto o aporte de matéria orgânica como a consequente emissão de

gases de efeito estufa para a atmosfera dependem das oscilações sazonais de nível

do reservatório.

Mäkinen e Khan (2010) e Soumis et al. (2005) afirmam que os reservatórios

tropicais oferecem uma série de fatores que são favoráveis à emissão de quantidades

ainda maiores que a média de gases de efeito estufa: altas temperaturas, altos níveis

de material orgânico, ciclos de carbono naturalmente produtivos e a combinação de

grandes superfícies com profundidade relativamente rasa.

Sobre o modo com o qual estes processos de decomposição ocorrem,

Rosa et al. (2004) e Santos (2000) afirmam que há duas formas de transporte dos

gases de degradação da matéria orgânica nos reservatórios para a atmosfera:

• Por “difusão”: ocorre nas camadas próximas à superfície, na presença

de oxigênio, por decomposição aeróbia, gerando primordialmente CO2, e

• Por ebulição de “bolhas”: é o resultado da decomposição anaeróbia

ocorrida nas camadas mais profundas, com ausência de oxigênio, gerando

principalmente CH4.

De acordo com a evidência empírica, esses fluxos de gases são mais

significativos nos primeiros anos da existência do reservatório, fase em que a

quantidade de matéria orgânica de origem terrestre, que está submersa na água, é

Page 51: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

51

maior. Com o tempo, essas emissões de biomassa preexistentes tendem a reduzir e

estabilizar (SANTOS et al., 2009).

Santos et al. (2009) dividiram as emissões dos reservatórios em regiões

tropicais em duas fases distintas. O primeira vai desde a fase inicial de enchimento do

reservatório para os seus primeiros anos (cerca de 3 a 5 anos), onde as emissões

estão crescem rapidamente atingindo um pico no curto prazo, com tendência a

diminuir ao longo dos anos. Esta fase compreende a formação de gases a partir da

decomposição da biomassa pré-existente na área do reservatório.

A segunda fase corresponde a emissões do reservatório permanente.

Nesta fase, as principais fontes de gases são: a biomassa formada no reservatório e

que chega ao reservatório através dos seus afluentes e uma pequena contribuição da

biomassa residual antes de afogamento. Estas emissões de GEE tendem a diminuir

ao longo do tempo e atingir níveis naturais (em comparação com lagos e rios), em

muitos casos pesquisados.

Todavia, o decaimento das emissões devido à biomassa alagada é incerto.

Segundo Richey (1982) e Rosa et al. (1997), cada tipo de planta possui uma taxa

distinta de degradação, sendo que, por exemplo, plantas herbáceas degradam em

poucos meses, enquanto troncos e galhos maiores demoram por vezes muitos anos

para se decompor, principalmente se submetidos à degradação anaeróbia.

Belo Monte

Histórico

Em julho de 2010, começou a ser construída no estado do Pará (figura 13),

Amazônia brasileira, a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, prevista para ser a terceira

maior hidrelétrica do mundo, com potência para gerar mais de 11000 MW – e

proporcional capacidade de criar controvérsias e conflitos. Sua instalação, a partir do

Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal brasileiro, foi

inicialmente planejada em meados da década de 1970, como uma das obras de

infraestrutura e integração da Amazônia do então governo militar (FLEURY;

ALMEIDA, 2013).

Page 52: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

52

Figura 13 - Localização do empreendimento

Fonte: NORTE ENERGIA (2014)

No estudo do aproveitamento hidrelétrico publicado em 1980, o projeto

tinha dimensões ainda mais superlativas em relação ao atual. Constavam duas

alternativas para o aproveitamento energético do rio, uma composta por seis usinas

hidrelétricas e outra por sete. Qualquer que fosse a alternativa escolhida, haveria uma

área alagada extremamente grande e o parque nacional do Xingu não seria poupado

(MAHL, 2015).

A partir de então uma série de controvérsias, conflitos, protestos, pareceres

e laudos tomaram lugar, mantendo a construção da usina hidrelétrica Kararaô-Belo

Monte como uma eminência constante, seja como catalisadora do desenvolvimento

local e nacional, seja como um “fantasma” para aqueles que não a desejavam. Um

importante marco no histórico do processo foi o Encontro dos Povos Indígenas do

Xingu, realizado em Altamira, em fevereiro de 1989.

Após este encontro, o projeto não foi continuado, ainda que haja uma

controvérsia sobre a origem da interrupção, vista pelos movimentos sociais como

consequência de sua mobilização, vista pelos representantes do governo como efeito

da recessão do final da década de 1980 (FLEURY; ALMEIDA, 2013).

Contudo, continuou a tramitar por toda a década de 1990 e início dos anos

2000, entre órgãos de governo e sob protestos de movimentos sociais, os estudos de

viabilidade do Aproveitamento Hidrelétrico de Belo Monte, e, em março de 2002, sob

Page 53: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

53

um governo que tinha vivenciado uma forte crise energética, foi publicado um plano

de viabilização para a implantação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Este grupo

de trabalho manifestava o declarado interesse do governo federal na usina,

considerando-a uma obra estratégica para elevar a oferta de energia do país e um

projeto estruturante do “Eixo de Desenvolvimento da Amazônia”.

Estendendo-se de 2002 a 2010, uma série de encontros entre

movimentos sociais, batalhas judiciais, lideranças indígenas, entidades sócio

ambientalistas e associações de comunidades locais foram realizados, expressando

rejeição ao projeto de construção da usina mediante protestos, seminários e cartas

abertas às autoridades responsáveis. Em 2009 e 2010, as controvérsias continuaram

intensas e, malgrado todos os apelos e ações judiciais, em 1º de fevereiro de 2010 foi

emitida pelo Ibama, órgão licenciador dos empreendimentos que implicam em

impactos ambientais, licença prévia atestando a viabilidade do empreendimento,

aprovando sua concepção e localização. No dia 20 de abril desse mesmo ano foi

realizado o leilão de concessão da usina. No dia 01 de junho de 2011, exatamente

quatro meses após a emissão de licença prévia, o Ibama publicou a concessão da

licença de instalação, autorizando efetivamente o início das obras de construção da

usina (FLEURY; ALMEIDA, 2013).

No projeto final, onze municípios estão localizados na área de influência do

empreendimento (figura 14). Altamira é o polo regional, que recebeu afluxo visível de

pessoas. Vários destes locais possuíam ou ainda possuem um acesso muito limitado,

sendo necessária a construção de estradas e a utilização de balsas.

Page 54: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

54

Figura 14 - Onze municípios estão localizados na área de influência do empreendimento

Fonte: NORTE ENERGIA (2014)

Norte Energia é nome do consórcio vencedor do leilão para assumir o

empreendimento, que, localmente, diz respeito não apenas especificamente ao

consórcio, mas a todos aqueles identificados à execução da usina, o que inclui a

Eletronorte, fortemente associada à obra em função do histórico do projeto, e várias

empresas terceirizadas pelo empreendedor. A Norte Energia S.A tem a concessão da

usina por um prazo de 35 anos. Ela é composta por empresas estatais e privadas do

setor elétrico, fundos de pensão e de investimento e empresas autoprodutoras.

Projeto

Em uma usina hidrelétrica tradicional, estão localizados em um mesmo

local a barragem, a casa de força e o vertedouro, formando um grande reservatório.

Este não é foi caso da Usina de Belo Monte, que possuiu obras em quatro locais

diferentes, denominados sítios, distantes entre si, conforme ilustrado na figura 15.

Page 55: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

55

Figura 15 - Quatro Sítios de Belo Monte

Fonte: NORTE ENERGIA (2014)

Esta disposição de barragens e canais visaram evitar que a área inundada

causasse interferências em áreas indígenas ao longo do rio Xingu, impedir

alagamento em regiões onde houvesse potencial de mineração e poupar a cidade de

Altamira e as rodovias federais já construídas.

A barragem construída no Sítio Pimental teve como objetivo principal reter

o fluxo do rio, mas também contribui como uma casa de força complementar

(capacidade instalada de 233,1 MW e energia firme de 152,1 MW). Assim, desloca-se

a maior parte do volume de água para o canal de derivação e reservatório

intermediário, para que a maior geração ocorra na barragem construída no Sítio Belo

Monte (capacidade instalada de 11.000 MW e energia firme de 4418,9 MW). Esta casa

de força foi escavada diretamente na rocha, como pode ser visto na figura 16 (NORTE

ENERGIA, 2011).

Page 56: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

56

Figura 16 - Escavações casa de força Sítio Belo Monte

Fonte: NORTE ENERGIA (2014)

No Sítio Canais, foi construído o canal de derivação, responsável por

escoar a água represada no Sítio Pimental ao Reservatório Intermediário. Para a

construção deste canal foi necessária uma série de obras de escavação e de britagem,

maior do que a utilizada no canal do Panamá, para construir a passagem de 20,2 km

de comprimento (MAHL, 2015).

Estas escavações ocorreram ao longo de talvegues de igarapés, onde foi

suprimida uma faixa de vegetação várias vezes mais larga que o canal, gerando uma

grande quantidade de “resíduo grosso”. Logo, para instalação das obras foi necessário

desviar os escoamentos naturais destas drenagens, seus afluentes e em ambas as

margens foram construídos dezenas de conjuntos de diques e bota-foras para receber

os excedentes de escavação deste trecho da obra (JGP CONSULTORIA, 2017).

Resultados da Obra e Situação Atual

Durante o andamento das obras, relatórios de monitoramento

socioambiental do Projeto UHE Belo Monte afirmavam que a velocidade com que a

obra avança demandava urgência na resolução das pendências relacionadas à gestão

Page 57: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

57

do empreendimento e maior comprometimento na eliminação dos desvios e resolução

de não conformidades.

Nestes documentos verificou-se vários desvios de proteção ao meio

ambiente, e que a taxa de conclusão (resolução) dos mesmos era bastante baixa.

Outro fato que preocupava, além da baixa taxa de resolução dos desvios, é a que a

sistemática adotada não demonstrava ações preventivas e de orientação das

empresas. Além, a maior parte delas possuía baixo nível de capacitação gerencial e

baixa cultura de segurança do trabalho.

Em 24/11/2015 houve a emissão da licença de operação LO 1317/2015

para o empreendimento, e iniciou-se o enchimento do Reservatório do Xingu, seguido

do enchimento do canal de derivação, e posteriormente do Reservatório Intermediário.

Esta LO continha 34 condicionantes específicas a serem atendidas pela Norte

Energia, algumas de imediato, outras com maior prazo, e algumas vinculadas a pontos

pendentes das condicionantes da LI que vinham sendo levantados pelo IBAMA ao

longo da sua análise do pedido de LO. Com a emissão da LO, o empreendimento

entrou em uma fase em que atividades de operação foram realizadas

concomitantemente às obras de construção que ainda prosseguiam. A cota de

enchimento no Reservatório do Xingu foi atingida em 01/02/16 e a UHE iniciou a

operação comercial em abril de 2016.

Em 06/04/2017 o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1)

suspendeu a Licença de Operação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte concedida em

novembro de 2015 (ISA, 2017). A decisão foi embasada em recurso do Ministério

Público Federal (MPF) que determinou a suspensão até que o sistema de saneamento

básico da cidade de Altamira, no Pará, estivesse efetivamente funcionando. Com a

decisão, a operação das turbinas precisou ficar paralisada por muito tempo. Na tabela

1 a seguir são mostrados alguns números sobre a construção de Belo Monte:

Page 58: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

58

Tabela 1 - Alguns números sobre Belo Monte

Atividade Unidade Total

Desmatamento hectares 20.905,03

Área alagada km² 516,00

Madeira m³ 25.599,67

Escavação comum m³ 179.584.604,50

Escavação em rocha m³ 57.027.261,39

Aterro em solo m³ 80.300.626,33

Concreto compactado a

rolo (CCR) m³

1.482.418,90

Concreto convencional m³ 2.098.005,14

Desmatamento m³ 1.985.542,06

Fonte: JGP CONSULTORIA (2017)

Ainda, considerando apenas atividades diretamente ligadas a usina, foi

necessário construir acessos, porto fluvial, sistema de transposição de peixes e

embarcações, subestações, vila residencial, ensecadeiras, demolições, grandes

deslocamentos de transporte, entre outros. Há relatos de que o canal para desvios de

peixes não funcionou e toneladas de peixes foram mortos, e áreas de alimentação e

reprodução de peixes foram comprometidas, sendo a pesca essencial como fonte de

renda da população na região (SOUGHGATE, 2016).

Além, para Soughgate (2016), e para a população local, os esforços da

Norte Energia não foram tão intensos na área de mitigação quanto na de construção

da hidrelétrica, fato provado pela suspenção da LO. O saneamento básico, a saúde a

criminalidade, as drogas e a prostituição ficaram caóticos. A população quase dobrou

e os serviços públicos continuam com os mesmos recursos, ou seja, foram

sobrecarregados.

A população deslocada pela barragem foi alocada em pequenas casas em

assentamentos. Todavia, essas casas possuem defeitos de construção e são longe

do rio, portanto longe da fonte de renda principal destas pessoas (pesca), e o valor da

energia paga por eles é maior do que eles gastavam antes. As pessoas ficaram sem

casa, sem dinheiro e sem emprego.

Estes fatos, o histórico, as disputas, os projetos e suas justificativas, os

números, alinhados a dados como aumento no número de desemprego, da

Page 59: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

59

prostituição, do trabalho informal, de homicídios, sem contar nas denúncias de propina

que rondam a construção questionam a validade da construção de usinas deste tipo.

3.1.8. Biomassa

Até meados do século 19 o uso da madeira das florestas e resíduos

agrícolas foram a fonte dominante de energia usada no mundo para a cocção de

alimentos e aquecimento de ambiente, e cerca de um terço da população mundial na

África, Ásia e América Latina ainda sobrevive da biomassa utilizando estas

tecnologias primitivas (GOLDEMBERG, 2016).

A biomassa continua a ser usada nos moldes de 1850, mas parte dela com

tecnologias mais avançadas, como na produção de eletricidade ou biocombustíveis

substituindo derivados de petróleo (GOLDEMBERG, 2016). A figura 17 a seguir ilustra

os possíveis usos da biomassa para fins energéticos.

Figura 17 - Possíveis usos da biomassa para fins energéticos

Fonte: REN 21, 2015

A biomassa destinada ao aproveitamento energético é uma fonte primária

de energia, não fóssil, que consiste em matéria orgânica de organismos vivos.

Portanto, é uma fonte renovável de energia que pode ser produzida em escala

suficiente para desempenhar um papel expressivo na matriz energética nacional. O

termo biomassa aqui empregado abrange várias matérias primas, a saber: bagaço,

palha e ponta da cana de açúcar, lenha, carvão vegetal, lixívia, óleos vegetais,

Page 60: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

60

resíduos vegetais (casca de arroz, por exemplo) e outras culturas plantadas (capim

elefante, por exemplo).

Dentre as matérias primas citadas, há algumas que estão vinculadas a

processos industriais, podendo ser classificadas como resíduos ou subprodutos de

outras atividades. É o caso do bagaço de cana-de-açúcar que já vem sendo

tradicionalmente utilizado nas usinas de açúcar e etanol para obtenção de energia

elétrica e calor (cogeração). O mesmo se aplica à lixívia, subproduto da indústria de

papel e celulose, também utilizado para cogeração. A figura 18 a seguir ilustra as

possíveis rotas do uso de biomassa para a produção de energia no Brasil.

Figura 18 - Rotas do uso de biomassa para a produção de energia no Brasil

Fonte: Goldemberg (2016)

De acordo com dados da Associação Mundial de Bioenergia (WBA, 2014,

2015), entre 2000 e 2012, a geração elétrica a biomassa alcançou 439 TWh. Nos anos

de 2013 e 2014, segundo dados do relatório REN21 (2015), a geração a biomassa foi

de 396 TWh e 433 TWh, respectivamente, mostrando uma redução seguida de

retomada da tendência de crescimento. Ainda, em 2016 a soma da porcentagem

relativa à produção bruta de energia elétrica no mundo proveniente de biogás e

biomassa (biocombustíveis) correspondeu a 2,3% (IEA, 2018). A figura 19 mostra a

distribuição da geração elétrica à biomassa por região do mundo, em 2012:

Page 61: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

61

Figura 19 - Geração elétrica a biomassa, em TWh, e distribuição por continentes, em 2012

Fonte: adaptado de (WBA, 2015)

No cenário de Novas Políticas (IEA, 2014), a bioeletricidade deve alcançar

quase 1.600 TWh em 2040, aumentando sua participação na geração de base

renovável mundial.

No Brasil a biomassa tem uma participação importante devido ao uso de

cana de açúcar para a produção de etanol, principalmente, e também para a geração

de energia elétrica. O Brasil se beneficia de condições climáticas bastante favoráveis

para a produção de todos os tipos de biomassa. Além disso, a disponibilidade de terras

e a experiência acumulada ao longo do tempo, principalmente no setor

sucroalcooleiro, permitem que a biomassa já contribua para a renovação da matriz

elétrica brasileira, principalmente em função do aproveitamento do bagaço de cana.

Porém, o que se percebe atualmente é que boa parte dos resíduos agropecuários e

urbanos não são aproveitados, o que significa um desperdício considerável em termos

energéticos.

A maior parte da bioeletricidade gerada no Brasil provém da queima do

bagaço nas usinas de açúcar e etanol (cogeração), e em menor escala, da queima de

papel e celulose, tendo como fonte a lixívia. A primeira geração acontece durante o

período da safra, caracterizando-se como uma operação altamente sazonal, realizada

no período entre abril e outubro. Já a segunda pode ocorrer o ano todo.

Page 62: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

62

Dependendo do nível de eficiência energética destas unidades, pode haver

geração excedente de bioeletricidade, passível de ser comercializada em leilões de

energia (mercado regulado) ou no mercado livre e de curto prazo. Todavia, uma

parcela ainda significativa do parque instalado, especialmente do setor

sucroenergético, utiliza processos industriais e centrais de cogeração de baixa

eficiência, consumindo a biomassa com o objetivo principal de atender as demandas

energéticas (calor e eletricidade) da unidade, com pouco ou nenhum excedente.

Entretanto, nas últimas décadas, os segmentos sucroenergético e de papel

e celulose se expandiram e suas unidades vêm se modernizando. Unidades mais

modernas são mais eficientes na cogeração e no uso energético pelos processos

industriais, gerando maiores excedentes de bioeletricidade, que ampliam a receita.

Consequentemente, a esta fonte passou a ter uma participação importante para

complementar e diversificar a oferta de energia elétrica no Brasil. Adicionalmente, o

uso da lenha de florestas plantadas (florestas energéticas) para geração elétrica vem

aumentando e contribuindo para esta diversificação.

Como já dito, outras biomassas, além do bagaço, da lixívia e da lenha,

também podem ser utilizadas para geração elétrica. Entretanto, à exceção do bagaço,

lixívia e lenha, a quantidade de energia gerada com a utilização destas outras fontes

de biomassa é muito pequena para ser destacada nas estatísticas nacionais.

É possível também aproveitar os resíduos agropecuários e os resíduos

urbanos. Alguns desses resíduos podem ser queimados diretamente e, em qualquer

caso, pode-se submetê-los ao processo de digestão anaeróbica, gerando biogás.

Esse combustível pode ser queimado para geração de energia elétrica ou pode ser

comprimido e utilizado em motores de combustão interna de veículos. A produção de

biogás também ocorre nos aterros sanitários, onde a fração orgânica do lixo urbano

passa naturalmente pelo processo de biodigestão anaeróbica. Se o aterro sanitário for

adequadamente projetado, o biogás produzido pode ser captado e utilizado para

geração de energia elétrica. Para esse conjunto de matérias-primas adotou-se o nome

de biomassa residual.

Outras matérias-primas, chamadas de biomassa dedicada, podem ser

produzidas com a finalidade específica de geração de energia elétrica, como é o caso

da madeira e do capim elefante. Há também culturas que podem ser cultivadas

especificamente para a produção de óleo vegetal, que convertido em biodiesel pode

Page 63: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

63

ser usado em motores de geração elétrica, puro ou misturado com o diesel de

petróleo. No entanto, neste caso há receio de competição com alimentos.

O aproveitamento energético da biomassa em suas diversas formas tem,

portanto, muitas vezes, uma dupla função: agregar valor e otimizar o processo

produtivo agrícola e minimizar impactos decorrentes da geração e disposição dos

resíduos no meio ambiente. A vida útil dos equipamentos que geram energia elétrica

a partir da biomassa tem uma estimativa de 60.000 horas (PEREIRA, 2018)

O uso da biomassa para geração de energia elétrica apresenta vantagens

para o sistema elétrico, tanto em termos técnico-operacionais quanto em termos

socioambientais. Em termos técnico-operacionais é importante destacar o fato de que,

via de regra, usinas termelétricas de biomassa são facilmente despacháveis. Além

disso, muitas vezes é possível implantar os projetos relativamente próximos aos

centros de carga, o que reduz a necessidade de construção de extensas linhas de

transmissão, evitando perdas e os impactos socioambientais associados a elas.

Apesar da queima da biomassa gerar emissões de CO2, entende-se que o

carbono emitido pode ser descontado do que foi absorvido pela planta no processo

de fotossíntese. Embora sejam claros os benefícios da utilização da biomassa para

geração de energia elétrica, as usinas termelétricas à biomassa não estão isentas de

impactos negativos, que devem ser evitados, mitigados ou compensados para que os

projetos sejam viáveis.

O processo de transformação da biomassa, seja ela residual (origem

agrícola e urbana) ou plantada (floresta energética, capim elefante e outros), em

energia elétrica se dá em usinas termelétricas. Sendo assim, pode haver impactos

típicos desses tipos de tecnologias, a variar conforme o tipo de matéria prima

empregada. Em suma, os impactos socioambientais são mais preponderantes nas

fases de construção e operação da planta, como:

• Uso e ocupação do solo;

• Transporte da biomassa;

• Produção de efluentes líquidos;

• Emissões de gases poluentes;

• Consumo de recursos hídricos;

• Competição com alimentos

Page 64: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

64

3.1.9. Biogás

O biogás é uma forma de aproveitamento da biomassa, e ambos estão

dentro da categoria bioenergia, ou, mais especificadamente, bioeletricidade. Pode ser

obtido de resíduos agrícolas, de excrementos de animais e dos homens, e é uma fonte

barata e abundante de energia. A formação do biogás acontece, basicamente, durante

a decomposição da matéria viva por bactérias microscópicas. Durante este processo,

as bactérias retiram da biomassa parte das substâncias de que necessitam para

continuarem vivas, e lançam na atmosfera gases e calor (COPEL, 2018).

O biogás pode ser utilizado no funcionamento de motores, geradores,

resfriadores, aquecedores, geladeira, fogão, entre outros. Pode ainda substituir o gás

liquefeito de petróleo na cozinha, porém o biogás não compete com a produção de

alimentos (COPEL, 2018).

O biogás é obtido a partir da digestão anaeróbia de matéria orgânica, como

estercos de animais, lodo de esgoto, lixo doméstico, resíduos agrícolas, efluentes

industriais e plantas aquáticas. É uma mistura composta principalmente de gás

carbônico (30%) e metano (65%). A variação do poder calorífico do biogás (de 5.000

a 7.000 kcal/m3) depende da quantidade de metano presente no mesmo. Quanto

maior a quantidade de metano, maior será a pureza do biogás e, assim, maior será o

seu poder calorífico. O biogás altamente purificado pode alcançar até 12.000 kcal/m3

(COPEL, 2018).

O biogás é visto como alternativa para geração de energia elétrica em

substituição ao gás natural. É um combustível gasoso com um conteúdo energético

elevado, composto, principalmente, por hidrocarbonetos de cadeia curta e linear,

como o dióxido de carbono e o metano. É produzido em meio anaeróbico a partir

da decomposição da matéria orgânica (resíduos orgânicos) por bactérias. A

fermentação ocorre dentro de determinados limites de temperatura, teor de humidade

e acidez.

A utilização do biogás é bem ampla, podendo ser empregado para

cogeração “in loco” como geração de eletricidade (autoconsumo e disponibilização na

rede elétrica), geração de calor (autoconsumo, disponibilização em rede, aquecimento

de edifícios, secagem e calor de processo), geração de frio (indústria alimentícia e

refrigeração de edifícios) e também para purificação (após conversão em biometano)

Page 65: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

65

(COMGÁS NATURAL, 2014). A purificação do biogás depende da forma de utilização

energética que se dará a este.

Nas propriedades agrícolas, os biodigestores rurais vêm sendo utilizados

principalmente para saneamento rural, tendo como subprodutos o biogás e o

biofertilizante. Todavia, no país, a produção de biogás ainda é muito incipiente

comparado a outras fontes (capacidade instalada de 119 MW em 2016 (EPE, 2017).

Segundo dados da Associação Mundial de Bioenergia (WBA, 2014), em

2011, o consumo total de bioeletricidade totalizou 348 TWh. A biomassa sólida

respondeu por 65% deste valor, seguido dos resíduos com 22% e do biogás com 12%.

Estes resultados são mostrados na figura 20:

Figura 20 - Consumo de bioeletricidade por fonte, em TWh, em 2014

Fonte: Adaptado de WBA (2014)

A energia do biogás pode ser produzida artificialmente com o uso de um

equipamento chamado biodigestor anaeróbico. Na geração de energia do biogás,

ocorre a conversão da energia química do gás em energia mecânica por meio de um

processo controlado de combustão. Essa energia mecânica ativa um gerador que

produz energia elétrica. A vida útil de um biodigestor é estimada entre 10 a 15 anos

(DOMINGOS, 2017). O biogás também pode ser usado em caldeiras por meio de sua

queima direta para a cogeração de energia.

Todo resíduo orgânico, como os restos de comida, frutas e vegetais,

resíduos industriais de origem animal e vegetal e esterco animal, sofre ações de

bactérias que decompõem estes materiais e geram gases, principalmente dióxido de

carbono e metano, que quando não aproveitados, são liberados no meio ambiente,

contribuindo para o aumento das taxas de emissão de gases indutores do efeito

estufa. É a partir da geração de energia proveniente dos processos de biodegradação

Page 66: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

66

de compostos orgânicos que o biogás possibilita um retorno positivo para o setor

saneamento básico no Brasil, bem como a redução de custos no setor agropecuário

e da agroindústria, contribuindo para a redução do efeito estufa.

O biogás representa uma alternativa de geração de energia para abastecer

comunidades isoladas, que podem utilizar os resíduos gerados na agricultura e na

pecuária para suprir suas demandas energéticas. Além disso, o aproveitamento

da energia do biogás proveniente de aterros sanitários e do tratamento de esgoto

representa uma destinação mais sustentável e inteligente para os resíduos. Usar

o biogás para gerar energia também impede que o metano proveniente da

decomposição da matéria orgânica seja liberado para a atmosfera ao se transformar

em água e gás carbônico pelo processo de queima. Dessa forma, a energia do

biogás é apresentada como uma alternativa que não gera tantos impactos

socioambientais quanto o gás natural.

Como todas as fontes de energia, a energia do biogás possui também

vantagens e desvantagens decorrentes do seu aproveitamento para a produção de

energia elétrica.

As principais vantagens são:

• A substituição do GLP, um derivado de petróleo importado;

• Comodidade e segurança para o consumidor, vantagens

inerentes ao gás canalizado;

• Não é necessária sua purificação, removendo-se apenas os

líquidos condensados ao longo das vias de captação e distribuição;

E as principais desvantagens são:

• O metano, principal componente do biogás, não tem cheiro, cor

ou sabor, mas os outros gases presentes conferem-lhe um ligeiro odor

desagradável.

• A quantidade de energia gerada pelo biogás não é constante,

variando ao longo do período de produção;

• Alto período de recuperação do investimento.

Page 67: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

67

3.2. O PANORAMA BRASILEIRO DA PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

3.2.1. Números e Projeções

Em termos globais, muito embora a relação entre a energia e o crescimento

econômico apresente grandes variantes, parece ser indiscutível que qualquer país em

desenvolvimento necessitará de quantidades crescentes de energia assumida

qualquer hipótese para o estilo de crescimento (FLURY; FRISCHKNECHT, 2012).

Em 2016, a produção bruta mundial de eletricidade foi 2,9% maior que

2015. Ano a ano, a produção global de eletricidade cresceu continuamente desde

1974, exceto entre 2008 e 2009, quando a crise econômica nos países da OCDE

causou um declínio visível na produção global (IEA, 2018).

Historicamente, a geração total de energia elétrica no Brasil vem crescendo

a cada ano, tendo alcançado seu pico em 2014 e 2017 com 624,3 TWh (EPE, 2018),

como pode ser visto pela tabela 2 e figura 21 a seguir:

Tabela 2 - Oferta interna de energia elétrica no Brasil nos últimos 11 anos

Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Geração Total (TWh) 484,0 505,3 505,8 550,4 567,6 592,8 611,2 624,3 615,9 619,7 624,3

Fonte: adaptado de EPE (2018)

Figura 21 - Oferta interna de energia elétrica no Brasil nos últimos 11 anos (TWh)

Fonte: adaptado de EPE (2018)

466,2

509,2

567,7592,8

609,9 624,3 615,9 619,7 624,3

0

100

200

300

400

500

600

700

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Page 68: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

68

Uma característica do mercado brasileiro é o constante crescimento do

número de consumidores: mesmo com a grave crise econômica que aconteceu no

início de 2015, a qual ocasionou a contração do consumo de energia em 1,1% com

relação ao ano anterior, o crescimento do número de consumidores nesse mesmo

período foi de 3% (BAJAY et al., 2018). O consumo de energia varia de acordo com a

economia e, portanto, possui forte correlação positiva com o Produto Interno Bruto

(PIB), ou seja, se o PIB cresce, o consumo de energia per capita aumenta, e vice-

versa.

Ainda assim, o Brasil possui baixo consumo per capita de energia elétrica

em relação a outros países. Um fator que contribui significativamente para este baixo

consumo per capita no país é a inexistência de sistemas de calefação na quase

totalidade das residências, em comparação a outros países. Entretanto, esta

tendência vem sendo compensada de forma crescente pela instalação cada vez mais

comum de sistemas de refrigeração em residências e no setor comercial (VICHI;

MANSOR, 2009). Um fato que ilustra exatamente isso é a mudança na curva da carga

horária típica brasileira em dias quentes de verão, como foi ilustrado pela figura 8. De

acordo com Sivak (2009), devido a à tendência de aumento de renda nos países em

desenvolvimento e às previsões de aquecimento global, haverá grande aumento no

consumo de ar condicionado no mundo nos próximos anos. Ele relata que os EUA

são grandes adeptos do ar resfriado: cerca de 87% das residências americanas têm

ar condicionado, e que com isso elas consomem 185 milhões de megawatts hora de

energia por ano. É o dobro do que Itaipu, no Brasil, gerou de eletricidade no ano de

2012.

O último plano decenal de energia produzido pela EPE (PDE 2018) afirma

que a projeção da oferta interna de eletricidade no Brasil em 2027 será 920 TWh, mais

de 47% superior à oferta interna de eletricidade de 2017 (MME/EPE, 2018). Neste

sentido, deve haver grande preocupação na forma como esta oferta de energia será

disponibilizada.

3.2.2. Como a Energia Elétrica é Produzida e Transmitida

Há um longo processo até a energia elétrica chegar até os consumidores

finais. O início dessa jornada, aqui narrada de forma bastante simplificada, acontece

com o processo de geração, no qual a energia é produzida em locais como as usinas

hidrelétricas, termelétricas, eólicas, etc. A eletricidade sai, então, das usinas e vai até

Page 69: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

69

as distribuidoras próximas aos consumidores, movimento chamado de transmissão.

As distribuidoras, por sua vez, levam a energia elétrica até os consumidores. No Brasil,

a distribuidora não é proprietária dos ativos de geração. Ela compra a energia e a

entrega para os consumidores, recuperando esses custos junto a eles.

A geração pode ser realizada por qualquer pessoa, física ou jurídica, que

deseja produzir energia elétrica, já as atividades de transmissão e de distribuição de

eletricidade são monopólios naturais de incumbência do poder federal, que pode

delegá-las por meio de concessões. A concessão é o ato pelo qual a União autoriza

uma empresa a exercer determinado serviço público de eletricidade do setor de

energia elétrica, de relevante interesse público, por meio de decreto condicionado à

celebração de um contrato entre as partes. No caso das concessões de energia

elétrica, ao final dos prazos para sua exploração, os bens vinculados à prestação do

serviço revertem para o governo federal. No Brasil, o governo federal é o único poder

concedente para toda a cadeia da energia elétrica. Os direitos e as obrigações dessas

empresas são estabelecidos no contrato de concessão celebrado com o governo

federal para a exploração do serviço público em sua área de concessão – território

geográfico do qual cada uma delas detém o monopólio do fornecimento de energia

elétrica.

O Brasil possui 104 empresas concessionárias transmissoras. Algumas

delas – Celg GT, Cemig GT, Chesf, Eletronorte, Eletrosul, Furnas – são empresas

concessionárias geradoras e transmissoras. As concessões de transmissão são

válidas por 30 anos e podem ser prorrogadas por igual período. Após a energia chegar

nas subestações próximas aos consumidores finais, ocorre a distribuição. Segundo a

Aneel, como regra geral no Brasil, o sistema de distribuição pode ser considerado

como o conjunto de instalações e equipamentos elétricos que operam, geralmente,

em tensões inferiores a 230 kV. O Brasil possui hoje 63 empresas concessionárias do

serviço público de distribuição de energia elétrica, além de 38 permissionárias, que

são cooperativas de eletrificação rural. Em 2015, 18 delas distribuíram 80% da energia

consumida no país. Cemig, Eletropaulo, CPFL, Copel e Light, respectivamente, são

as maiores distribuidoras e foram responsáveis pela distribuição de 38% do total da

energia consumida em 2015 (ANEEL, 2016).

Para que todos estes processos ocorram num país de dimensões

continentais como o Brasil, é preciso uma grande infraestrutura de transmissão e

conexão para superar as distâncias e interligar todas as usinas, espalhadas pelo país,

Page 70: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

70

aos locais de consumo. Essa é a função do Sistema Interligado Nacional (SIN). As

linhas de transmissão do SIN brasileiro equivalem, em extensão, ao sistema da União

Europeia e são maiores, até mesmo, que o dos Estados Unidos (BAJAY et al., 2018).

No final de 2014, havia 125.640 km de linhas de transmissão no Sistema Interligado

Nacional (SIN) (EPE, 2015a), extensão equivalente a mais de três voltas em torno da

Terra. A figura 22 adiante simboliza o SIN.

Figura 22 - Integração eletro energética do sistema elétrico brasileiro – 2015

Fonte: EPE, 2015b

Na figura é possível observar que algumas regiões do Brasil ainda não

estão interligadas. Algumas comunidades no interior do Amazonas, Acre e Roraima

ainda permanecem com atendimento isolado, sendo desta forma chamados sistemas

isolados. O restante do país é atendido a partir da rede interligada (SIN). Atualmente

o SIN é composto de quatro subsistemas designados Sul, Sudeste/Centro-Oeste,

Nordeste e Norte, que compreendem os centros de carga destas regiões

(TOLMASQUIM, 2016). Com exceção da região Norte, que é exportadora de energia,

as demais regiões do país tanto importam como exportam.

Apesar da incerteza das afluências e das recentes modificações na matriz

elétrica brasileira, o SIN ainda se caracteriza pela presença de usinas hidrelétricas

com reservatórios de regularização, que o transformam, juntamente com o parque

Page 71: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

71

termelétrico instalado, em um sistema predominantemente composto por fontes

controláveis, despachadas de forma centralizada pelo Operador Nacional do Sistema

Elétrico (ONS). No entanto, a diminuição da capacidade de regularização do SIN, em

virtude da notória problemática em construir grandes reservatórios e a expansão

significativa das fontes não controláveis, com destaque para aquelas intermitentes

(eólica e solar fotovoltaica), traz desafios à operação futura do SIN.

3.2.3. Matriz Energética Nacional

A tabela 3 e a figura 23 adiante mostram a composição na matriz

energética elétrica nacional nos últimos anos, em porcentagem:

Tabela 3 - Oferta interna de energia elétrica por fonte (%)

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Hidrelétrica 76,9 74,0 81,8 76,9 70,6 65,2 64,0 68,1 65,2

Gás Natural 2,6 6,8 4,4 7,9 11,3 13,0 12,9 9,1 10,5

Derivados do Petróleo 2,9 3,6 2,6 1,6 4,4 5,7 4,8 3,7 3,0

Carvão 1,3 1,3 1,4 1,6 2,6 4,3 4,5 2,9 3,6

Biomassa 5,4 4,7 6,6 6,8 7,6 7,4 8,0 8,2 8,2

Outras 8,1 6,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,2

Eólica 0,2 0,0 0,5 0,9 1,1 2,0 3,5 5,4 6,8

Nuclear 2,5 2,7 2,8 6,8 2,4 2,5 2,4 2,6 2,5

Geração Total (TWh)

466,2 509,2 567,7 592,8 609,9 624,3 615,9 619,7 624,3

Fonte: adaptado de EPE (2018)

Figura 23 - Oferta interna de energia elétrica por fonte (%)

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Hidrelétrica Gás Natural Derivados do Petróleo

Carvão Biomassa Eólica

Nuclear

Page 72: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

72

Fonte: adaptado de EPE (2018)

Desta maneira, a partir dos dados apresentados e de outras informações

retiradas dos dados emitidos pela Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE),

vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, é possível perceber que a fonte:

• Hidrelétrica sempre foi e permanece fundamental no fornecimento de

energia do país, sendo responsável por cerca de 65% da produção nacional, apesar

do declínio na porcentagem total em relação a outras fontes nos últimos anos.

• Gás Natural cresceu significativamente nos últimos anos, principalmente

devido ao aumento da geração em termelétricas devido à crise hídrica, assim como

derivados do petróleo e carvão, porém este em menor representatividade.

• Biomassa cresceu bastante em porcentagem e constantemente no

período analisado

• Eólica vem crescendo exponencialmente nos últimos anos (figura 24),

mesmo sendo sua participação ainda pequena em porcentagem

Figura 24 - Evolução geração eólica (GWh)

Fonte: adaptado de EPE (2018)

• Nuclear alcançou um pico em 2012, sendo responsável por 6,8%,

todavia reduziu para cerca de 2,5 %.

• A geração eólica ultrapassou a geração nuclear em 2015.

• A geração solar fotovoltaica representou 0,1% da oferta interna de

energia elétrica no país em 2017, obtendo desta forma um número representativo pela

primeira vez.

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

40000

45000

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Page 73: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

73

A situação do Brasil em relação a porcentagem de fontes renováveis na

matriz energética elétrica em comparação a OCDE e ao Mundo é mostrada pela figura

25. Apesar da menor oferta hídrica, a participação de renováveis na matriz elétrica

atingiu 80,4 % em 2017, fato explicado pelo avanço da geração eólica.

Figura 25 - Participação de renováveis da oferta total de energia elétrica (%)

Fonte: adaptado de EPE (2018)

A construção de usinas hidrelétricas com reservatórios de acumulação,

interligações regionais e parque gerador termelétrico em regime operativo

complementar foram as soluções até então aqui adotadas para mitigar a incerteza e

a sazonalidade hidrológica, assim como para explorar, com ganhos sinérgicos

significativos, as diferenças dos regimes de chuvas das inúmeras bacias hidrográficas

brasileiras (TOLMASQUIM, 2016). Com isso, o país parece estar em uma situação

favorável e de destaque em relação ao mundo no que se refere “energia limpa” na

matriz elétrica brasileira. Todavia, o Brasil só possui esta posição se a energia

hidrelétrica for considerada uma energia limpa, e isso é questionável de acordo com

alguns autores (IEA, 2014; LESSA et al., 2015; YANG et al., 2014).

3.2.4. Emissões Associadas ao Setor Elétrico

De acordo com as estimativas do Observatório do Clima (2017), o setor de

energia, considerando todos os seus seguimentos (transporte, geração elétrica, etc),

apresentou a segunda maior taxa média de crescimento anual das emissões brutas

de gases efeito estufa (GEE) no período entre 1990 e 2015. As emissões deste setor

80,40%

22,80%

23,00%

Brasil (2016)

Mundo (2015)

OCDE (2015)

Page 74: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

74

no Brasil partiram de um patamar de 189,6 milhões de toneladas de dióxido de

carbono equivalente (CO2eq) em 1990 para 454,2 milhões de toneladas em 2015,

superando, desde 2012, as emissões da agropecuária e se consolidando como o

segundo setor mais emissor, atrás apenas de mudança de uso da terra, como mostra

a figura 26:

Figura 26 - Evolução das emissões brutas de GEE no Brasil entre 1990 e 2015 (Mt CO2eq)

Fonte: Observatório do Clima (2017)

O forte crescimento das emissões do setor de energia, aliado ao

decréscimo das taxas de desmatamento na Amazônia – fator este que tem reduzido

as emissões oriundas da mudança de uso da terra, modificou significativamente a

participação de cada setor no total das emissões brasileiras nos últimos anos. Isso

ocorreu sobretudo a partir de 2004, ano em que as emissões associadas à mudança

de uso da terra atingiram seu máximo. O setor de energia, que representava apenas

7,9% das emissões em 2004, passou para 23,6% em 2015 (figura 27).

Page 75: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

75

Figura 27 - Emissões brasileiras de GEE por setor (2004-2015) (%)

Fonte: Observatório do Clima (2017)

As emissões do setor de energia estão divididas pelos seguintes

segmentos de atividades (figura 28):

Figura 28 - Emissões de CO²eq do setor de energia por segmento de atividade (1990-2015)

Fonte: Observatório do Clima (2017)

Page 76: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

76

A demanda de eletricidade no Brasil mais que dobrou entre 1990 e 2015,

enquanto que as emissões de GEE devido a este aumento na demanda aumentaram

mais de nove vezes nos mesmos períodos: de 8,6 MtCO2eq em 1990 para 78,2

MtCO2eq em 2015, representando, em 2015, 17% do total do setor de energia e

ocupando a posição de segundo maior emissor, depois dos transportes. A figura 29

adiante mostra a evolução anual das emissões de GEE no Brasil devido à geração de

eletricidade. O ápice de emissões ocorrido em 2014 deveu-se principalmente à crise

hídrica que aconteceu no país naquele ano, em que foi necessário turbinar à produção

de eletricidade por fontes termelétricas, que possuem emissão de GEE por unidade

de energia superior às hidrelétricas, e 2015 ainda sofreu as consequências do ano

anterior.

Figura 29 - Evolução anual das emissões de GEE no Brasil devido à geração de eletricidade

Fonte: Observatório do Clima (2017)

3.2.5. Distribuição por Setor Consumidor

É usual classificar os consumidores pelo setor de consumo e, também, pelo

nível da tensão de alimentação. No Brasil, eles pertencem ao Grupo A, de alta tensão,

ou ao Grupo B, de baixa tensão. O Grupo A é subdividido nas classes de alta tensão

A1 (230 kV ou superiores), A2 (88kV a 138 kV), A3 (69 kV), A3a (30 kV a 44 kV), A4

(2,3 kV a 13,8 kV) e AS (linhas subterrâneas com tensões inferiores a 13,8 kV).

Page 77: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

77

Com a criação da tarifa horo-sazonal verde, os consumidores A3, A4 e AS

passaram a ter a opção de realizar um contrato com a distribuidora de energia elétrica

que concede um grande desconto no valor pago pela energia fora do horário de ponta,

mas cobra um valor bastante elevado para o consumo de energia nesse horário. Essa

modalidade de tarifa tinha por objetivo diminuir o consumo de energia no horário de

ponta para evitar pesados investimentos na expansão da geração e das redes de

transmissão e distribuição. Com isso, consumidores que dispunham de capital para

investimento em autoprodução ou já possuíam geradores diesel, necessários para

proporcionar um backup de energia que permitisse a não interrupção da sua

produção, aderiram à modalidade e passaram a gerar a sua própria energia no horário

de ponta. Essa operação possibilitou relevante retirada de carga do horário de ponta

no país. Hoje no Brasil, a autoprodução corresponde a 16,5% do total produzido de

eletricidade (EPE, 2018), atingindo um montante de 96,8 TWh. Desse total, 55,4 TWh

não são injetados na rede, ou seja, são produzidos e consumidos pela própria

instalação geradora. A figura 30 a seguir mostra o consumo de energia elétrica do

Brasil por setor, e a figura 31 mostra quais a principais indústrias que mais consomem

energia elétrica no país:

Figura 30 - Distribuição setorial do consumo de eletricidade no Brasil (%)

37,56%

25,56%

17,16%

8,32%

5,66%

5,34% 0,40%

Indústria Residências

Comércio Setor Público

Setor Energético Setor Agropecuário

Setor de Transportes (ferrovias)

Page 78: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

78

Fonte: Adaptado de EPE (2017)

Figura 31 - Distribuição do consumo de eletricidade por tipo de indústria no Brasil (%)

Fonte: Adaptado de EPE (2017)

Portanto, percebe-se que a indústria é a maior consumidora de energia

elétrica no país, principalmente as indústrias:

• Metalurgia

• Alimentos e Bebidas

• Papel e Celulose

• Química

• Ferro Gusa e Aço

• Mineração

• Cimento

• Têxtil

• Ferro- ligas

22,93%

13,88%

13,78%11,62%

11,31%

8,84%

6,05%

3,38%3,20%

3,09%1,92%

Outros Não-Ferrosos e outros da metalurgia

Alimentos e Bebidas Papel e Celulose

Química Ferro-Gusa e Aço

Mineração e Pelotização Cimento

Têxtil Ferro-ligas

Cerâmica

Page 79: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

79

Depois das indústrias (37,56% do consumo total de energia elétrica do

país), os maiores consumidores são as residências (25,56%), o comércio

(17,16%), o setor público (8,32%), o próprio setor energético (5,66%) e o

setor agropecuário (5,34%).

3.2.6. Planejamento e Gestão do Setor Elétrico Brasileiro

Alguns pesquisadores dividem o desenvolvimento do setor elétrico

brasileiro em cinco períodos (ABRADEE, 2018). O primeiro deles se inicia com a

proclamação da República, em 1889, e termina no início da década de 1930.

Neste período, a economia brasileira caracterizava-se pela produção de

produtos primários para a exportação, tendo como principal fonte energética o carvão

vegetal. Com o desenvolvimento da indústria do café, iniciou-se um processo de

urbanização que resultou no aumento do consumo de energia elétrica para a

iluminação pública, mas de forma ainda incipiente.

O segundo período estendeu-se de 1930 a 1945, e foi caracterizado pelo

enfraquecimento do modelo agrário/exportador e pela aceleração do processo de

industrialização. O Estado promoveu uma maior regulação do setor, por exemplo,

promulgando o Código de Águas (em 1934), que transmitiu à União a propriedade das

quedas d’água e a exclusividade de outorga das concessões para aproveitamento

hidráulico. Neste mesmo período, introduziu-se também um sistema tarifário sob o

regime de "custo do serviço".

O terceiro período iniciou-se no pós-guerra e se estendeu até o final da

década de 1970, sendo caracterizado pela forte e direta presença do Estado no setor

elétrico, principalmente por meio da criação de empresas estatais em todos os

segmentos da indústria. Para se ter uma ideia do nível de investimentos realizados

nesta época, a potência instalada no país passou de 1.300 MW para 30.000 MW em

pouco mais de 20 anos.

O quarto período iniciou-se na década de 1980 e foi marcado pela crise da

dívida externa brasileira, que resultou em altos cortes de gastos e investimentos pelo

governo. As tarifas de energia, que eram iguais para todo o país, foram mantidas

artificialmente baixas como medida de contenção da inflação, não garantindo às

empresas do setor uma remuneração suficiente para o seu equilíbrio econômico.

Também vigorava a equalização tarifária entre todos os estados brasileiros,

provocando subsídios cruzados entre empresas eficientes e ineficientes. Tal situação

Page 80: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

80

adversa criou condições para a proposição de um novo paradigma para o setor

elétrico, assim como ocorreu também para outros setores de infraestrutura no país,

como o de telecomunicações.

Nesse contexto, iniciou-se o quinto período do desenvolvimento da

indústria de eletricidade no Brasil, que perdura até os dias atuais (ABRADEE, 2018).

Em meados da década de 1990, a partir de um projeto de reestruturação do setor

elétrico, denominado RESEB, o Ministério de Minas e Energia preparou as mudanças

institucionais e operacionais que culminaram no atual modelo do setor.

Esse baseou-se no consenso político-econômico do “estado regulador”, o

qual deveria direcionar as políticas de desenvolvimento, bem como regular o setor,

sem postar-se como executor em última instância. Assim, muitas empresas foram

privatizadas e autarquias de caráter público e independente foram criadas, como é o

caso da própria agência reguladora, a ANEEL.

Apesar das reformas, o novo modelo não garantiu a suficiente expansão

da oferta de energia, levando o país a um grande racionamento em 2001. Alguns

estudiosos do setor atribuem o racionamento, entre outros fatores, à falta de

planejamento efetivo e de monitoramento eficaz centralizado. Foi então, a partir de

2004, que novos ajustes ao modelo foram feitos pelo governo com o intuito de reduzir

os riscos de falta de energia e melhorar o monitoramento e controle do sistema.

Os princípios que nortearam o modelo de 2004 foram: segurança

energética, modicidade tarifária e universalização do atendimento. Com efeito, de

forma sintética, podemos dizer que o setor elétrico brasileiro é atualmente

caracterizado por (ABRADEE, 2018):

• Desverticalização da indústria de energia elétrica, com segregação das

atividades de geração, transmissão e distribuição.

• Coexistência de empresas públicas e privadas.

• Planejamento e operação centralizados.

• Regulação da atividade de geração para empreendimentos antigos.

• Concorrência na atividade de geração para empreendimentos novos.

• Coexistência de consumidores cativos e livres.

• Livres negociações entre geradores, comercializadores e consumidores

livres.

• Leilões regulados para contratação de energia para as distribuidoras,

que fornecem energia aos consumidores cativos.

Page 81: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

81

• Preços da energia elétrica (commodity) separados dos preços do seu

transporte (uso do fio).

A figura 32 ilustra resumidamente o histórico do setor elétrico brasileiro:

Figura 32 - Histórico do setor elétrico brasileiro

Fonte: ABRADEE (2018)

Desde 2007, o Mercado Europeu (27 países membros) está totalmente

aberto: até mesmo os consumidores residenciais (450 milhões de habitantes) podem

escolher seu supridor. Todavia, o mercado livre amplo não é privilégio de países com

economias desenvolvidas. Há países na América Latina com critério de elegibilidade

mais abrangentes que o Brasil, como por exemplo a Colômbia e Chile.

Resultado da experiência de reestruturação, a introdução da competição

no Brasil, seguindo tendências internacionais, resultou num mercado parcialmente

aberto. Ele está dividido em ACR (Ambiente de Contratação Regulada), onde estão

os consumidores cativos, e ACL (Ambiente de Contratação Livre), formado pelos

consumidores livres (MERCADO LIVRE DE ENERGIA ELÉTRICA, 2018).

Os consumidores cativos são aqueles que compram a energia direta e

obrigatoriamente das concessionárias de distribuição às quais estão ligados. Cada

Page 82: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

82

unidade consumidora paga apenas uma fatura de energia por mês, incluindo o serviço

de distribuição e a geração da energia, e as tarifas são reguladas pelo governo.

Os consumidores livres possuem liberdade de negociação e de escolha de

quem vai vender a eletricidade da qual precisam. Eles compram energia diretamente

dos geradores ou comercializadores, através de contratos bilaterais com condições

livremente negociadas, como preço, prazo, volume, etc. Cada unidade consumidora

paga uma fatura referente ao serviço de distribuição para a concessionária local (tarifa

regulada) e uma ou mais faturas referentes à compra da energia (preço negociado de

contrato). A principal vantagem nesse ambiente é a possibilidade de o consumidor

escolher, entre os diversos tipos de contratos, aquele que melhor atenda às suas

expectativas.

A distribuição setorial e a distribuição regional do consumo de eletricidade

de consumidores cativos e consumidores livres através de redes de distribuição no

Brasil em 2015 são ilustrados a seguir pelas figuras 33 e 34 a seguir. Por meio delas

é possível perceber que a participação do consumo livre no Brasil é cerca de 25%,

principalmente devido ao setor industrial, e que as regiões com maior número de

consumidores livres são a Norte e a Sudeste.

Figura 33 - Distribuição setorial do consumo de eletricidade de consumidores cativos e consumidores livres através de redes de distribuição no Brasil em 2015

Fonte: EPE (2016)

Page 83: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

83

Figura 34 - Distribuição regional do consumo de eletricidade de consumidores cativos e consumidores livres através de redes de distribuição no Brasil em 2015

Fonte: EPE (2016)

No mercado livre, a energia contratada pode ser convencional ou

incentivada. A energia incentivada foi estabelecida pelo governo para estimular a

expansão de geradores de fontes renováveis limitados a 30 MW de potência, como

PCHs (Pequenas Centrais Hidroelétricas), Biomassa, Eólica e Solar. Para esses

geradores serem mais competitivos, o comprador da energia proveniente deles,

chamada de energia incentivada, recebe descontos (de 50%, 80% ou 100%) na tarifa

de uso do sistema de distribuição. As fontes incentivadas foram uma medida

importante para fomentar o mercado de energia eólica no Brasil. A energia

convencional é proveniente dos outros tipos de geradores, como usinas térmicas a

gás ou grandes hidroelétricas.

Existem dois tipos de consumidores no mercado livre: consumidor livre e

consumidor especial. Consumidor especial pode ser a unidade ou conjunto de

unidades consumidoras localizadas em área contígua ou de mesmo CNPJ, cuja carga

seja maior ou igual a 500 kW (soma das demandas contratadas) e tensão mínima de

2,3 kV. O consumidor especial pode contratar apenas energia incentivada.

Para ter a opção de ser consumidor livre, cada unidade consumidora deve

apresentar demanda contratada a partir de 2.000 kW e tensão mínima de 69 kV, para

a data de conexão elétrica anterior a julho/1995, ou 2,3 kV, para ligação após

julho/1995. O consumidor livre convencional pode contratar energia convencional ou

incentivada. A figura 35 ilustra os requisitos para ser consumidor livre e especial:

Page 84: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

84

Figura 35 - Requisitos para ser consumidor livre e especial

Fonte: MERCADO LIVRE DE ENERGIA ELÉTRICA (2018)

3.2.7. Problemas da Atual Configuração do Setor Elétrico

Brasileiro

Como mostrado anteriormente, o consumo de energia elétrica no país vem

aumentado a cada ano, seguindo tendências mundiais. Em 2015 e 2016 só não se

superou a produção de 2014 porque houve uma grave crise econômica e energética.

De acordo com Pires (2015), três fatos explicam a crise. Primeiro, o governo baixou a

tarifa no momento em que o custo crescia, incentivando o uso perdulário e criando um

buraco enorme nas distribuidoras, que tiveram que ser socorridas com dinheiro do

Tesouro Nacional. Segundo o governo atrasou as obras de geração e transmissão e

fez leilões de energia privilegiando preço baixo e não dando as taxas de retorno que

o mercado pedia. Terceiro, houve falta de chuva. Após esta situação, as ações do

governo federal, com destaque para a promulgação da Lei 12.783 (BRASIL, 2013),

referente à renovação das concessões de usinas hidrelétricas, criaram uma

instabilidade regulatória, com impacto negativo sobre os investimentos privados no

setor elétrico. Houve, também, perdas da capacidade de investimento e de valor da

Eletrobrás e de suas empresas subsidiárias nas bolsas, já que essas empresas são

proprietárias de várias usinas cuja renovação de concessão passou a ser regida pela

nova regra tarifária.

Alguns autores (BAJAY et al., 2018; GOLDEMBERG E LUCON, 2007)

afirmam que o governo brasileiro não tem metas de comum acordo com os principais

agentes envolvidos e nem estratégias de implementação com prazos e

responsabilidades bem delineadas para as políticas energéticas de longo prazo, e que

tem-se constatado que os resultados dos leilões de novas usinas realizados nos

últimos anos não refletiram as projeções dos planejamentos energéticos vigentes. Isso

deve-se principalmente às oscilações na economia, em que as estimativas partiram

de premissas equivocadas. Para eles, os exercícios de planejamento realizados pelo

Page 85: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

85

MME e pela EPE são difíceis de serem formulados devido às instabilidades política e

econômica, provocando oscilações no PIB e, consequentemente, no consumo de

energia e suas projeções.

Um motivo que desestimula a economia de energia deve-se ao fato de que

os atuais métodos usados para calcular o preço da energia elétrica não refletirem

adequadamente o custo marginal de distribuição – aquele que calcula a mudança que

a entrega de uma unidade a mais de eletricidade pode causar nos custos totais para

o consumidor final. As tarifas de energia reproduzem um custo médio da eletricidade,

que raramente coincide com o custo real. A consequência disso é que a distribuidora

é incentivada a aumentar ao máximo a venda de energia e, por outro lado, a economia

de energia é desencorajada (SWISHER; MARTINO; REDLINGER, 1997).

O modelo de fixação da tarifa com base no custo de serviço requer que o

órgão regulador faça um monitoramento detalhado dos custos operacionais e dos

investimentos das empresas concessionárias. Isso resulta em interações demoradas,

burocráticas e caras entre a empresa concessionária e o órgão regulador. Como a

taxa de remuneração nesse modelo tarifário incide sobre o ativo remunerável, há uma

constante tentação para que a empresa concessionária realize sobre investimentos,

ou seja, investimentos além do necessário (BAJAY et al., 2018).

Há evidências de que o que se assume por energia assegurada para fins

de planejamento e de contrato entre os agentes, também chamada de garantia física

das usinas hidrelétricas instaladas no país, é muito menor do que a real capacidade

de geração dessas usinas. Isso acontece por fatores como equipamentos

deteriorados, assoreamento de reservatórios, qualidade de informações relativas às

vazões na região Nordeste, entre outros. A legislação vigente sobre esse tema prevê

reavaliações periódicas dessa garantia física, mas isso não tem ocorrido. O governo

tem contornado esse problema por meio da realização de leilões de energia de

reserva, sem critérios claros e, por vezes, com custos elevados, que evidentemente

são repassados para as tarifas (BAJAY et al., 2018).

Também, os planos governamentais para as indústrias de petróleo e de

gás têm sido meros reflexos dos planos da Petrobras para essas indústrias. Destaca-

se pela falta de uma política energética e de um planejamento consistentes para o gás

natural, a médios e a longos prazos, no MME. Um planejamento, de fato, para a

indústria de gás natural precisa ser integrado com o planejamento do setor elétrico,

Page 86: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

86

dada a importância crescente desse combustível para a operação e a expansão do

parque gerador nacional (BAJAY et al., 2018).

Ainda, diversos agentes do setor elétrico têm reclamado que os padrões de

segurança do suprimento adotados pelo ONS nos seus despachos de carga são

excessivos e requerem operações frequentes e longas de usinas termelétricas de

elevado custo operacional. Esses agentes propõem que os padrões sejam revistos

sob uma ótica de custo-benefício (BAJAY et al., 2018).

Outra questão está associada ao procedimento utilizado pela EPE para

calcular o índice de custo-benefício empregado para classificar os projetos candidatos

durante os leilões de novas usinas. Esse procedimento simula a operação de todo o

sistema interligado só durante os primeiros anos de operação das usinas candidatas

e emprega diferentes bases de dados de entrada para cada um dos principais

parâmetros envolvidos no cálculo do índice de custo-benefício. Ele tem como

resultado um viés que favorece usinas termelétricas flexíveis, que supostamente irão

operar só de 10 a 20% do tempo, em detrimento de usinas que precisam, por razões

técnico-econômicas, operar com fatores de capacidade mais elevados. Esse viés é

um problema na medida em que todos os tipos de usinas termelétricas serão

despachados com mais frequência no futuro (BAJAY et al., 2018).

O atual procedimento de cálculo do índice de custo-benefício não captura

o aumento do custo operacional das usinas termelétricas flexíveis no longo prazo e o

correspondente aumento da competitividade das usinas termelétricas que atuam no

atendimento da base da curva de carga. O uso das mesmas bases de dados de

entrada no cálculo dos parâmetros do índice de custo-benefício e a simulação da

operação das usinas em horizontes de tempo mais longos poderiam reduzir

substancialmente esse problema (BAJAY et al., 2018).

Segundo Bajay (2013), se a evolução dos mercados de energia indicar que

os rumos previstos pelo planejamento não são realistas, este deve ser modificado. Se

o comportamento dos mercados não estiver refletindo metas estabelecidas pelo

planejamento e amplamente aceitas pela maioria dos agentes, novas políticas devem

ser formuladas, novas leis devem ser promulgadas ou os mecanismos de regulação

precisam ser melhorados de forma a induzir as mudanças desejáveis no

funcionamento desses mercados.

É notória a excessiva centralização pelo governo federal, das políticas

públicas e da regulação do setor energético brasileiro, fator que inibe a atuação dos

Page 87: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

87

governos estaduais na área de eficiência energética. Os governos de alguns estados,

como, por exemplo, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul,

Bahia, Alagoas e Pernambuco, têm implantado políticas públicas e programas de

fomento a fontes de energia, renováveis ou não, abundantes nesses locais. Suas

atuações na área de eficiência energética, no entanto, ainda têm sido muito tímidas

(BAJAY et al., 2018).

Os programas e mecanismos de incentivo são fundamentais para o

desenvolvimento de uma determinada tecnologia. Nos últimos anos, o Brasil avançou

em relação à geração distribuída e impulsionou o desenvolvimento do mercado e a

criação de várias empresas do ramo, com destaque para a área eólica e fotovoltaica.

No entanto, no que diz respeito à potência injetada no Sistema Interligado Nacional

(SIN), a participação da geração distribuída é mínima. Com o aumento das mini

geradoras, também será necessário aumentar as conexões. A forte participação de

fontes intermitentes na matriz energética brasileira traz ainda outro questionamento:

como garantir o atendimento à demanda a qualquer hora do dia? À medida que as

fontes não controláveis passam a responder por parcela significativa da carga, os

momentos em que as usinas com geração controlável serão mais exigidas podem não

mais ocorrer nos instantes de demanda máxima.

A mudança de perfil operativo apresentada acima exige uma mudança do

planejamento. Com esse novo comportamento, a garantia de atendimento pode não

ser mais suficiente para suprir à demanda nas diversas horas do dia. Além, a grande

variação na geração de fontes intermitentes, que poderá ocorrer em poucas horas ou

até mesmo minutos, exigirá da matriz uma participação vigorosa de fontes

controláveis com flexibilidade operativa, para “acompanhar” a curva de carga horária

líquida do sistema (curva de carga total descontada da expectativa de geração horária

das usinas não controláveis). Essas fontes flexíveis, por outro lado, tendem a

apresentar maiores custos operativos, exigindo do planejamento a adequada

definição do montante necessário de modo a não onerar em demasia o sistema

(BAJAY et al., 2018).

Além de tudo isso, ainda é necessário ampliar e intensificar os diversos

programas de eficiência energética vigentes no país (RUCHANSKY et al., 2011;

SILVA, 2010). Embora a eficiência energética tenha sido inserida no discurso oficial

desde a década de 1980, com a criação do Procel no Brasil – e de diversos

Page 88: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

88

instrumentos, mecanismos de fomento e mesmo leis de apoio à eficiência energética

– essas ações têm sido fragmentadas e com poucos impactos no planejamento de

longo prazo do sistema energético brasileiro. O planejamento energético ainda

continua sendo essencialmente um planejamento de expansão da oferta.

Ainda, existe uma certa desconfiança acerca da efetividade da eficiência

energética (muitas vezes a economia é mais baixa que o previsto). As imprecisões

são atribuídas a quatro causas: primeiro, a instalação de baixa qualidade; segundo, a

operação incorreta; terceiro, aos componentes que não estão funcionando de acordo

com sua especificação de projeto; e quarto, aos "efeitos rebote', explicados adiante.

3.3. A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL NO PLANEJAMENTO ELÉTRICO

3.3.1. Como a Criação de um Ambiente Favorável à Geração

Responsável de Energia Elétrica Pode Ser Viável e Vantajosa para os

Entes

Já é sabido que a redução no consumo de energia elétrica e sua produção

mais limpa são pressupostos de um planeta mais ambientalmente responsável.

Todavia, isso não precisa ser uma desvantagem, do ponto de vista econômico, para

os entes envolvidos, como será mostrado adiante.

A geração distribuída pode gerar impactos de natureza técnica na rede,

como já descrito anteriormente. A concessionária de distribuição de energia é a

responsável por manter a qualidade do fornecimento da energia elétrica e isso

também tem um custo, que pode ser adequadamente repassado para o consumidor

final e, consequentemente, à distribuidora.

A atual estrutura de remuneração existente no Brasil caracteriza as

distribuidoras como vendedoras de energia. Esse fenômeno se repete na distribuição

de gás, água e esgoto, internet, telefone e até mesmo na coleta do resíduo sólido. A

receita das distribuidoras, e, portanto, seu lucro, é diretamente proporcional à

quantidade de energia que elas vendem. Com a redução da venda de energia pelas

concessionárias, elas reduzem o próprio lucro (BAJAY et al., 2018).

Uma das possíveis soluções para o problema seria romper essa ligação

entre receita e venda, o que permitiria transformar as distribuidoras em fornecedoras

de serviços de energia ao invés de apenas vendedoras (ETO; STOFT; BELDEN,

1997).

Page 89: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

89

Atualmente, a eficiência energética só é atrativa para as empresas

concessionárias de distribuição de energia elétrica quando é possível reduzir as

perdas próprias e, assim, disponibilizar mais energia ao mercado. A utilização de

transformadores mais eficientes e a modernização de instalações e subestações

sempre que se mostrem sobrecarregadas são alguns dos pontos de atenção para

investimentos em eficiência energética das companhias. Essa é a chamada eficiência

do lado da oferta.

A eficiência energética do lado da demanda, por outro lado, reduz o

consumo e qualquer redução do seu mercado é vista como uma ameaça para a

distribuidora. As exceções são as situações nas quais existe uma concentração dos

esforços de eficiência energética em áreas cuja infraestrutura elétrica se encontra

sobrecarregada e, portanto, a redução do consumo possui um impacto positivo

postergando investimentos. Outra circunstância que acarreta vantagens às

distribuidoras se dá em áreas onde há muito furto de energia: se essas áreas se

tornam mais eficientes, o volume de energia consumido sem remunerar a distribuidora

é reduzido e, assim, este agente aumenta seu volume de vendas sem investir mais

em infraestrutura.

Ainda sobre eficiência energética, perdas de energia acontecem durante o

transporte da eletricidade por longas distâncias, de onde ela é gerada até a casa do

consumidor. Para cada 1 kWh que um consumidor economiza, não se deixa de gerar

o mesmo 1 kWh numa usina, mas 1,1 kWh, considerando-se uma média de 11,5% de

perdas de energia – 4% na transmissão e 7,5% na distribuição (BAJAY et al., 2018).

Um possível crescimento da eficiência energética atual impactaria na

receita das concessionárias de distribuição e, por essa razão, a promoção pelas

mesmas não é satisfatoriamente incentivada. O principal agente do segmento de

distribuição, portanto, não deveria mais vender só um produto (kWh), mas, também

soluções e serviços energéticos (BAJAY et al., 2018).

Segundo Richter (2013), as concessionárias de distribuição de energia

elétrica precisam adaptar os seus modelos de negócio para que oportunidades sejam

criadas com a geração distribuída. O mesmo vale para a eficiência energética. Para

isso, é necessário identificar barreiras e desafios que impedem a concessionária de

inovar e oferecer novos serviços.

A rápida expansão de sistemas de geração distribuída em alguns países

tem promovido a discussão de outras formas de remunerar as distribuidoras. Novos

Page 90: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

90

mecanismos para a formação de tarifas e novos modelos de negócio têm sido

implementados em países com mercados onde a eficiência energética e a geração

distribuída renovável já estão mais desenvolvidas. Algumas opções de modelos de

negócio inovadores e criativos passíveis de serem usados pelas distribuidoras são

apresentadas, de forma resumida, a seguir (BAJAY et al., 2018):

• Atuar como geradoras: investir na construção e na operação de

centrais de geração distribuída, assim como, quando aplicável, na locação de

espaços para geração (telhados, por exemplo).

• Atuar como Escos: oferecendo projetos e serviços de eficiência

energética e geração distribuída.

• Modelo de condomínio operado pela concessionária:

comercialização de cotas de capacidade instalada com os consumidores (em

alguns estados americanos é obrigação regulatória).

• Operadora de leasing (locação), agente financiador ou agregador

de projetos (manutenção e administração dos sistemas).

• Operadora de usinas virtuais: a empresa concessionária equilibra

oferta e demanda em sua área de concessão despachando recursos

distribuídos, tais como geração distribuída, armazenamento, gestão de carga

etc.

A geração distribuída de energia elétrica possibilita a criação de uma

economia local, ligada aos produtos e serviços necessários para a implementação da

eficiência energética e da geração distribuída renovável, que gera empregos e eleva

a arrecadação de tributos. Se a política de incentivo for bem elaborada, pode-se

estimular a melhoria das tecnologias existentes e o desenvolvimento de novas

(BAJAY et al., 2018).

Entretanto, mudanças regulatórias são necessárias para ampliar, além do

mínimo requerido hoje pela legislação, a atuação direta das concessionárias de

distribuição nessa área e evitar que os custos resultantes da redução da receita

ocasionada pelos ganhos de eficiência energética sejam repassados para os

consumidores.

A participação de consumidores finais de energia nos negócios de

eletricidade é uma questão complexa, que deve ser bem pensada e regulamentada

para garantir a sustentabilidade econômica do setor elétrico. Países com fortes

Page 91: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

91

políticas voltadas para a difusão da geração distribuída, a partir de consumidores

finais, têm demonstrado que o sucesso das iniciativas depende da atratividade do

negócio também para esses pequenos investidores (BAJAY et al., 2018).

Esse interesse pode ser melhorado com a implementação de mecanismos

de incentivo que visam, sobretudo, garantir a recuperação do capital investido em

prazos razoáveis, tais como tarifas tipo feed-in, rebates, taxas reduzidas de

financiamento, entre outros. Outras questões como o acesso às informações técnicas,

a garantia de acesso à rede e a regulamentação de novos modelos de negócio

também são questões-chave para a criação de um ambiente favorável à participação

de pequenos consumidores nos negócios de geração distribuída e eficiência

energética (BAJAY et al., 2018).

A seguir são apresentadas algumas das opções para os consumidores

atuarem nos negócios de geração distribuída e eficiência energética (BAJAY et al.,

2018):

• Consumidor-produtor: proprietário da instalação, responsável

pelo financiamento do projeto.

• Leasing (locação): uma terceira parte é proprietária dos

equipamentos e é responsável pelos custos de instalação, manutenção,

contrato e conexão junto à concessionária.

• Modelo de condomínio: consumidores adquirem participações em

instalações e contribuem para que agregadores consigam economia de escala

com a compra ou a locação de equipamentos de maior porte.

• Agentes agregadores: agregação da demanda de diversos

consumidores para negociação de compra de energia renovável.

• Modelos de geração compartilhada: Um dos principais obstáculos

para a difusão da geração distribuída fotovoltaica é o alto custo dos

equipamentos. Este tipo de modelo de negócio permite que múltiplos usuários

obtenham energia de um único sistema fotovoltaico, ou de outros conjuntos

fotovoltaicos instalados em diferentes lugares, mas operados como um sistema

único. Desse modo, se o consumidor reside em um local com muito

sombreamento ou baixa incidência solar, por exemplo, ele poderá adquirir uma

parte, ou o total, da sua demanda de energia por meio de uma instalação

localizada em outro lugar. A vantagem desse modelo está, principalmente, na

Page 92: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

92

divisão do investimento inicial entre os múltiplos usuários atendidos pelo

sistema.

Um dos objetivos da eficiência energética é reduzir a tarifa do consumidor

final no médio e no longo prazo, refletindo os benefícios financeiros advindos da

postergação de investimentos em toda a cadeia da indústria de energia elétrica.

Avanços na eficiência energética, porém, trazem não só ganhos energéticos, mas

também ganhos ambientais e de competitividade.

Estas possíveis medidas podem ser interessantes, do ponto de vista do

governo, não só para o Ministério de Minas e Energia (MME), como para outros

membros do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE): Ministério do Meio

Ambiente, Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações e Ministério

da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

As possíveis modificações no setor elétrico brasileiro também poderão

emanar do consumidor final. Nos mercados europeus de energia, há vários anos, a

maioria dos consumidores de eletricidade tem agora o "poder de escolha". Lá, o

consumidor tem a possibilidade de escolher o fornecedor mais ambientalmente

responsável. Por meio da rotulagem e divulgação de informações, os consumidores

podem agora saber como a eletricidade que usam é produzida. Eles podem comprar

a chamada eletricidade "verde", escolhendo uma tarifa verde, participando de um

programa de eletricidade verde, ou contratando uma empresa de serviços públicos

especializados em comércio de eletricidade verde (BIRD; WÜSTENHAGEN;

AABAKKEN, 2002).

A compra de eletricidade verde não faz diferença no fornecimento real de

eletricidade das famílias, mas sim nos fluxos de investimento. A ideia é que a

crescente demanda por energia verde resultará em menos combustíveis

convencionais e fontes de energia mais benéficas para o ambiente (PICHERT;

KATSIKOPOULOS, 2008). Ainda, o consumidor final pode desempenhar um papel

importante com relação a geração distribuída e a eficiência energética, tornando-se

um prosumidor e adotando medidas de redução do consumo de energia elétrica.

Conforme foi possível argumentar ao longo deste capítulo, a perda de

receita das concessionárias de distribuição de energia elétrica brasileiras com a

redução do volume de energia comercializado por meio da maior participação da

eficiência energética e da geração distribuída é evidente, mas a oportunidade que se

Page 93: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

93

cria para a distribuidora em explorar atividades comerciais ligadas a esses mercados

também deve ser investigada.

Todavia, os modelos de negócio específicos para a concessionária de

distribuição de energia ainda não emergiram, com raras exceções. A atuação das

distribuidoras no Brasil é, ainda, passiva e se caracteriza pela oferta do padrão

simplificado de conexão à rede e dos serviços de net metering (compensação de

energia).

3.3.2. O que já Tem Sido Feito no Brasil

O Brasil possui hoje algumas ações para a racionalização e produção mais

limpa da energia elétrica. Estas ações acontecem principalmente por meio de

regulação, tributação, pesquisa, programas e campanhas.

Uma das formas de produzir energia elétrica de forma mais

ambientalmente responsável é por meio da regulação ambiental. Ela pode ser direta,

o que requer uma fiscalização e o monitoramento das atividades impactantes no meio

ambiente, ou podem ser utilizados incentivos de mercado para premiar medidas que

eliminem ou diminuam impactos negativos no meio ambiente.

A regulação direta requer que o poder público estabeleça padrões de

conduta ambiental considerados adequados. Caso esses padrões não sejam

atendidos pelos regulamentados, aplicam-se as penalidades, criminais ou civis,

previstas na legislação. Os principais instrumentos de regulação ambiental direta são:

os padrões de emissões e os padrões de qualidade; as cotas de extração/uso de

recursos naturais; o controle de processos e produtos; o zoneamento ambiental; e o

licenciamento ambiental.

A regulamentação ambiental no Brasil é compartilhada entre os governos

federais, estaduais e municipais. O principal órgão executivo do governo federal nessa

área é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

(IBAMA), ligado ao Ministério do Meio Ambiente. Diversas secretarias estaduais do

meio ambiente atuam no licenciamento e na fiscalização ambiental. A regulação

ambiental brasileira é elogiada mundialmente, todavia o cumprimento destas

legislações muitas vezes não tem sido inspecionado nem cumprido.

No âmbito da tributação, o Conselho Nacional de Política Fazendária

(Confaz) realizou recentemente duas ações: a publicação do Ajuste Sinief (CONFAZ,

2015a) e do Convênio ICMS 16/2015 (CONFAZ, 2015b). O ajuste dispõe sobre os

Page 94: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

94

procedimentos relativos às operações de circulação de energia elétrica, sujeitas a

faturamento sob o sistema de compensação de energia. O Convênio ICMS concede

a isenção do ICMS, que passou a incidir sobre a diferença entre a energia consumida

e a energia injetada na rede. Anteriormente, o imposto incidia sobre a energia total

consumida, sem considerar a energia injetada na rede pelo micro ou mini gerador.

Atualmente, a isenção do ICMS foi aderida pelos seguintes estados

brasileiros: Acre, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso,

Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro,

Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, São Paulo, Sergipe,

Tocantins e o Distrito Federal (BAJAY et al., 2018). É relevante ressaltar que a

cobrança ou não do imposto fica a cargo do estado e pode ser retirada. Essa isenção

do ICMS foi essencial para a expansão e a viabilidade econômica da geração

distribuída no país.

Por parte do governo federal, esta ação é válida e possível para todos os

estados da federação, assim como a isenção do PIS (Programa de Integração Social)

e do Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), por intermédio

da Lei nº 13.169/2015, publicada em outubro de 2015 (BRASIL, 2015).

Também com relação a tributação, a criação da tarifa horo-sazonal verde

foi uma importante ação que possibilitou a diminuição do consumo de energia no

horário de ponta, a fim de evitar pesados investimentos na expansão da geração e

das redes de transmissão e distribuição devido somente a estes momentos do dia.

Essa operação é caracterizada pela aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de

energia elétrica e de demanda de potência de acordo com as horas de utilização do

dia e dos períodos do ano, e retira, atualmente, significativa carga do horário de ponta

(EPE, 2015b).

No Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES) dá apoio com taxas diferenciadas para a instalação de sistemas de geração

distribuída, a partir de fontes renováveis, e para ações de eficiência energética em

hospitais e escolas públicos (MME, 2015). O BNDES também tem disponibilizado, já

há alguns anos, linhas de crédito para financiamento de medidas de eficiência

energética a agentes privados. Essas linhas, no entanto, têm tido pouca procura por

conta da falta de priorização dos empresários para esse tipo de projeto, pela

burocracia para se conseguir os financiamentos e pelas altas taxas de juros praticadas

no país, que desestimulam investimentos que não sejam considerados prioritários.

Page 95: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

95

Com relação a pesquisa, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)

desenvolveu vários Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), que estimulam

o avanço e a inovação nas diversas áreas do setor elétrico. A Chamada de Projeto de

P&D Estratégico nº 13/2011, por exemplo, intitulada “Arranjos Técnicos e Comerciais

para a Inserção da Geração Solar Fotovoltaica na Matriz Energética Brasileira”, deu

maior visibilidade para a geração distribuída fotovoltaica e buscou promover a

viabilidade econômica da tecnologia, o desenvolvimento da cadeia produtiva da

indústria solar fotovoltaica no país, a capacitação de recursos humanos e o

aperfeiçoamento dos instrumentos regulatórios e tributários da geração distribuída

(ANEEL, 2011).

Com base em sua experiência bem-sucedida com projetos prioritários de

pesquisa e desenvolvimento, a Aneel recentemente requereu chamada pública de

projetos, além de incentivar a realização de projetos piloto e a inserção de fontes

incentivadas de energia que propiciem economias de energia elétrica. A agência

também começou a definir projetos prioritários, visando a execução de políticas

públicas de eficiência energética. O primeiro desses projetos, lançado em 2015,

envolveu a substituição de motores elétricos antigos ou recondicionados por motores

mais modernos e eficientes.

Com o advento da privatização de empresas concessionárias distribuidoras

de energia elétrica, a partir de 1995, o governo federal considerou estratégico

assegurar que parte da receita dessas empresas fosse investida em ações de

eficiência energética e em projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico.

Assim, por meio da Lei nº 9.991/2000 (BRASIL, 2000), ficou estabelecido que 1% das

receitas operacionais líquidas (ROL) das empresas distribuidoras fosse aplicado em

ações que tenham por objetivo o combate ao desperdício de energia elétrica,

constituindo o Programa de Eficiência Energética (PEE) dessas empresas, regulado

pela ANEEL, sendo metade (0,5%) em pesquisa e desenvolvimento do setor elétrico

e a outra metade (0,5%) em programas de eficiência energética no uso final. Esses

recursos têm sido a principal fonte de financiamento desse tipo de projeto no país.

Por outro lado, a atual regulação tarifária brasileira desincentiva

investimentos adicionais ao percentual obrigatório da ROL, porque, nessa regulação,

os lucros das concessionárias são proporcionais às vendas. Mecanismos de

desacoplamento entre receitas e vendas eliminariam esse desincentivo, mas não

resolveriam o problema dos subsídios cruzados entre os consumidores que

Page 96: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

96

implementam medidas de eficiência energética e os que não o fazem. A solução desse

problema requer mudanças na estrutura tarifária utilizada no país.

A exigência do investimento de 0,5% da ROL das empresas

concessionárias distribuidoras de energia elétrica em projetos que resultem em

ganhos de eficiência energética em instalações de seus consumidores criou um

mercado que tem sido muito importante para a sobrevivência e o crescimento das

Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Escos). No Brasil, essas

empresas desenvolvem seus projetos de eficiência energética principalmente em

instalações industriais, já que o direito público no país dificulta, quando não inviabiliza,

a utilização de contratos de desempenho em instituições públicas.

As Escos podem atuar como comercializadoras de energia elétrica no ACL,

desde que devidamente registradas na Câmara de Comercialização de Energia

Elétrica (CCEE). Diversas delas têm oferecido uma variada gama de serviços, tais

como venda de energia gerada por fontes incentivadas, participação em projetos de

cogeração e implantação de medidas visando ganhos de eficiência energética, em

geral por meio de contratos de desempenho.

No âmbito do incentivo a fontes não convencionais de energia elétrica, foi

lançado o PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia

Elétrica), em 2002. Este programa possibilita aos entes federativos da União

incentivos fiscais e/ou creditícios para a geração com certas fontes renováveis de

energia, como a solar e a eólica, em alguns estados do país (BAJAY et al., 2018).

Como já mencionado anteriormente, o governo também estimulou a

expansão de geradores de fontes renováveis limitados a 30 MW de potência, como

PCHs (Pequenas Centrais Hidroelétricas), Biomassa, Eólica e Solar. Para esses

geradores serem mais competitivos, o comprador da energia proveniente deles,

chamada de energia incentivada, recebe descontos (de 50%, 80% ou 100%) na tarifa

de uso do sistema de distribuição. Esta medida foi importante para fomentar o

mercado de energia não convencional no país.

Também neste sentido, nos leilões de energia no mercado atacadista

regulado, estipulou-se tetos de preços de fontes não convencionais superiores aos

praticados para as fontes convencionais de geração no país, como usinas hidrelétricas

de grande porte e usinas termelétricas que utilizam combustíveis fósseis,

reconhecendo, desta forma, a valor associado às primeiras.

Page 97: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

97

Com relação a geração distribuída, com a liberalização do setor elétrico

brasileiro, foram regulamentadas as atividades dos autoprodutores de energia. A Lei

nº 9.074/95 criou, então, a figura do produtor independente de energia elétrica,

autorizado a produzir energia e a comercializá-la, parcial ou integralmente, mas por

sua conta e risco (BRASIL, 1995). No escopo da Lei nº 9.074/95, o Decreto nº 2.003

regulamentou a produção de energia elétrica por produtor independente e por

autoprodutor (BRASIL, 1996).

As principais tecnologias utilizadas no Brasil para a geração distribuída de

médio porte são: instalações de cogeração; moto geradores, geralmente movidos a

óleo diesel; as pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs); e, recentemente, módulos

fotovoltaicos.

Para a geração de pequeno porte, os principais equipamentos empregados

no país, atualmente, são os módulos fotovoltaicos e os motos geradores movidos a

óleo diesel ou gasolina. Portanto, é errôneo associar a geração distribuída apenas às

fontes limpas e renováveis. Parcela considerável de geradores distribuídos utilizam

óleo diesel e gasolina, que são combustíveis fósseis e poluentes (BAJAY et al., 2018).

No Brasil, atualmente, os principais incentivos para a geração distribuída

de energia elétrica por meio de fontes renováveis são:

• Desconto mínimo de 50% na Tarifa de Uso do Sistema de

Transmissão (TUST) e na Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (TUSD);

• Net metering para geradores distribuídos de pequeno porte

(sistema de compensação de energia em que a energia excedente de um

gerador distribuído (como painéis fotovoltaicos e microturbinas eólicas) é

injetada na rede e se converte em créditos de energia para posterior

compensação ao consumidor);

• Criação do Programa de Desenvolvimento da Geração Distribuída

de Energia Elétrica (ProGD), que visa ampliar a geração distribuída com base

em fontes renováveis, principalmente a solar fotovoltaica. De acordo com o

MME (2015), o programa auxiliará na criação de linhas de crédito e de

financiamento de projetos de geração distribuída no país. Além disso, irá

incentivar a indústria de componentes e equipamentos, com foco no

desenvolvimento produtivo, tecnológico e na inovação.

Page 98: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

98

• RN nº 687/2015, principal marco da geração distribuída de

pequeno porte no Brasil (criou a figura da geração compartilhada de energia

elétrica)

Com relação à eficiência energética, o governo promoveu em 2015 a

campanha "Campanha de Energia - Use o bom senso", com o objetivo de mobilizar a

população a adotar atitudes que evitem desperdícios e ajudem a reduzir o consumo

de energia elétrica. A iniciativa ocorreu num momento em que o governo adotou uma

série de medidas para reduzir a demanda de energia no sistema e evitar a

necessidade de um racionamento, diante do baixo nível dos reservatórios das

hidrelétricas. Sobretudo, o Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE), o Programa

Nacional de Conservação de Energia Elétrica (mais conhecido como Procel), e a Lei

de Eficiência Energética foram medidas governamentais recentes na área.

O Plano Nacional de Eficiência Energética (Pnef), lançado em 2011, não

foi implementado até hoje por falta de políticas públicas que lhe dessem sustentação

e promovessem as mudanças institucionais e financeiras necessárias para a sua

adequada execução.

O Programa Nacional de Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo

e do Gás Natural é coordenado pela Petrobras e promove ações de etiquetagem de

produtos e em transporte. Já o Programa Nacional de Conservação de Energia

Elétrica (Procel) é coordenado pela Eletrobrás.

O Procel promove ações de educação, etiquetagem, gestão energética

municipal, iluminação pública, gestão de eletricidade na indústria e em edificações e

saneamento ambiental. O principal objetivo do programa é informar o desempenho

energético de equipamentos, veículos leves e edificações, para que os consumidores

desses produtos levem em conta esse indicador em suas decisões de compra. Essa

informação é transmitida por meio da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia

(Ence) com cinco faixas de consumo energético específico e indicação da faixa que

se aplica ao produto em questão. A figura 36 mostra um exemplo genérico de

etiquetas de desempenho energético de equipamentos, veículos e edificações. A faixa

A é a de menor consumo energético específico, seguida pelas faixas B, C, D e E,

nessa sequência.

Page 99: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

99

Figura 36 - Tipologia das etiquetas de desempenho energético de equipamentos, veículos e edificações

Fonte: BAJAY et al. (2018)

No programa há etiquetagens voluntárias e outras que são compulsórias.

Em geral, para uma dada família de produtos, inicia-se com a etiquetagem voluntária

e se evolui, eventualmente, para a etiquetagem compulsória. Diversos fabricantes de

equipamentos têm considerado a etiquetagem compulsória como uma eficaz barreira

técnica contra a entrada, ou a permanência no mercado, de produtos de baixa

qualidade, nacionais ou importados.

Um grande desafio do PBE é atualizar periodicamente os níveis de

eficiência energética para oferecer, de forma permanente, estímulos à evolução

tecnológica dos equipamentos, veículos e edifícios etiquetados. Hoje isso não tem

ocorrido. Um exemplo são os refrigeradores e os aparelhos de ar condicionado, entre

os quais a maioria dos equipamentos já se encontra nas faixas superiores de

desempenho. Outro desafio é ampliar o escopo dos produtos etiquetados. Com

exceção dos motores elétricos, veículos leves e edificações, a etiquetagem está

limitada a equipamentos de uso doméstico ou comercial. Ainda não foram

contemplados diversos equipamentos de uso geral na indústria e veículos pesados de

transporte de cargas e passageiros (LEONELLI, 2016).

Uma forma criativa de promover a eficiência energética utilizando as

etiquetas do PBE é reduzir os impostos dos produtos que consomem menos energia

Page 100: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

100

em relação àqueles mais ineficientes, podendo-se, inclusive, aumentar as alíquotas

destes últimos. Pela primeira vez no Brasil, esse tipo de ação (redução no IPI) foi

inserida, em 2012, no fomento à indústria automobilística nacional (programa Inovar-

Auto) (BRASIL, 2012b).

Em 2014, o Ministério do Planejamento emitiu a Instrução Normativa nº 02,

que torna obrigatória a obtenção da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia

(Ence), do PBE Edifica, para novos projetos e projetos de retrofit (revitalização) de

edificações ocupadas pelo governo federal.

Ainda sobre eficiência energética, a Lei n.10.295 de 17.10.2001, conhecida

como Lei de Eficiência Energética, instituída durante o racionamento de energia

elétrica de 2000/2001, determina que o Poder Executivo estabeleça níveis máximos

de consumo específico de energia, ou mínimos de eficiência energética, de máquinas

e aparelhos consumidores de energia elétrica, incluindo veículos e edificações,

fabricados ou comercializados no país, com base em indicadores técnicos pertinentes

(BRASIL, 2001b). A figura 37 ilustra os equipamentos regulamentados pela Lei 10.295

entre 2002 e 2014:

Figura 37 - Equipamentos regulamentados pela Lei 10.295 entre 2002 e 2014

Fonte: MME (2014)

Em muitos países, os índices mínimos de eficiência energética são

mecanismos de políticas públicas que eliminam equipamentos ineficientes do

mercado e estão dentre as opções que mais resultados efetivos vêm apresentando

em termos de ganhos de economia de energia e de transformação dos mercados. É

Page 101: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

101

importante, portanto, ampliar a quantidade de equipamentos enquadrados na Lei de

Eficiência Energética.

Leonelli (2016) apresenta alguns benefícios decorrentes dos programas de

eficiência energética:

• 31 famílias de produtos etiquetados, das quais 24 foram

etiquetadas compulsoriamente;

• R$ 23 bilhões de economia (estimativa), desde 2006, pelo

estímulo à substituição de lâmpadas de baixa eficiência

• R$ 6 bilhões de economia calculada em função de melhor

desempenho de refrigeradores e aparelhos de ar condicionado

Essas estimativas de economia são uma consequência da integração do

PBE com os Selos de Eficiência Energética do Programa Nacional de Conservação

de Energia Elétrica (Procel), do Programa Nacional de Racionalização do Uso dos

Derivados do Petróleo e do Gás Natural (Conpet) e da Lei de Eficiência Energética.

Todavia, segundo Silva (2010) e Ruchansky et al. (2011), ainda há muitas

oportunidades de melhoria relacionadas a programas de eficiência energética

possivelmente vigentes no país. De acordo com Bajay (2018), a questão da eficiência

energética não tem “pai”, ou seja, não há instituição responsável especificadamente

por esta questão. Para eles, este problema poderia ser resolvido com a criação de

uma agência executiva, vinculada ao MME, que gerenciaria os programas do governo

federal relacionados à eficiência energética e ao fomento do consumo de fontes

renováveis de energia e de resíduos urbanos, agrícolas e industriais, tal qual hoje

existe na maioria dos países da União Europeia (SILVA, 2010). Assim, o MME poderia

concentrar-se na formulação de políticas públicas para a racionalização do uso de

energia elétrica, que é uma competência sua, indelegável, para a disseminação de

informações e a conscientização da população para a importância do uso mais

eficiente de energia. Ele poderia atuar na definição de diretrizes para a elaboração do

plano decenal e do plano de longo prazo pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE),

incluindo um planejamento pelo lado da demanda, e na revisão final e publicação dos

referidos planos.

3.3.3. O que Tem Sido Feito em Outros Países

A literatura e a experiência internacional, embora ainda não indiquem

soluções definitivas e ideais, mostram que há um amplo espectro de oportunidades

Page 102: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

102

de novos negócios, e que existem diversas alternativas capazes de distribuir de

maneira mais equitativa os custos e os benefícios entre consumidores, geradores,

companhias de distribuição, etc.

A Alemanha se destaca no cenário mundial pelo pioneirismo e pelas metas

ambiciosas para alcançar uma economia de baixo carbono. Além disso, esse país

promoveu grande inserção de geração fotovoltaica no segmento de distribuição e

mostra-se capaz de solucionar os desafios relacionados à grande inserção de geração

distribuída fotovoltaica na sua matriz elétrica.

Em 2010, o governo federal alemão adotou uma estratégia ousada para o

setor energético por meio da Energiewende (revolução energética), que estabelece

os princípios de longo prazo, construídos sobre políticas anteriores, para levar a

Alemanha a ser uma das economias mais eficientes e ambientalmente amigáveis do

planeta. O país tem como meta a redução das emissões dos gases que causam o

efeito estufa (GEEs) entre 80% a 95% até 2050, em relação ao ano base de 1990.

Para tanto, devem reduzir 50% do consumo de energia primária e 25% do consumo

de eletricidade, em relação ao ano base de 2008. Um terceiro objetivo da

Energiewende é que fontes renováveis de energia venham a constituir 80% da matriz

elétrica alemã até 2050 (FRAUNHOFER-ISE, 2017).

Para dar suporte a essa estratégia, a Alemanha lançou um conjunto de

políticas energéticas com os seguintes elementos-chave:

1. Lei para Acelerar a Expansão das Redes de Eletricidade;

2. Lei da Indústria Energética;

3. Lei das Fontes Renováveis de Energia, que visa uma expansão

eficiente, em termos de custo, das fontes renováveis de energia;

4. Lei da Energia Nuclear: eliminação progressiva das centrais

nucleares alemãs até 2022;

5. Lei do Fundo de Energia e Clima;

6. Lei para Fortalecimento de um Desenvolvimento Compatível com

o Clima nos Municípios;

7. Lei de Incentivos Fiscais para a Modernização Energética de

Edifícios Residenciais;

8. Portaria sobre a licitação de contratos públicos.

A geração de energia elétrica na Alemanha foi bastante impactada pela

Energiewende. A figura 38 abaixo mostra que, a partir de 2011, a penetração de fontes

Page 103: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

103

renováveis de energia na matriz elétrica alemã cresceu significativamente, com

destaque para as fontes solar e eólica.

Figura 38 - Evolução, de 2002 a 2016, em GW, da capacidade instalada dos vários tipos de fontes de energia elétrica na Alemanha

Fonte: FRAUNHOFER-ISE (2016)

De acordo com a Lei das Fontes Renováveis de Energia, o Estado alemão

firma contratos, cuja duração varia entre 15 e 20 anos, com os geradores que utilizam

fontes renováveis de energia para garantir uma remuneração pré-fixada, ajustada

anualmente, por cada kWh de energia despachada na rede e por fonte. Essa tarifa,

denominada feed-in (FIT), é calculada de tal forma que os investimentos sejam pagos

e tragam lucro ao investidor. O incentivo é um valor pré-definido por fonte e por

unidade de energia. A parcela destinada a financiar esses incentivos é evidenciada

na tarifa. Com isso, o consumidor sabe o valor que está pagando para promover as

energias renováveis. A tarifa diminui ao longo do tempo, para incentivar os geradores

a investirem em novas tecnologias. O valor da FIT varia com a tecnologia empregada,

a capacidade instalada e a região onde o gerador está conectado na rede.

Os edifícios, tanto residenciais quanto comerciais, são responsáveis por

40% do consumo de energia primária na Alemanha e o governo alemão tem a meta

de torná-los totalmente autossuficientes até 2050. O uso final que demanda mais

energia é o aquecimento. Como medidas de curto prazo, estão sendo adotadas:

• Expansão do programa de consultoria local na busca de ganhos

de eficiência energética em edifícios e aumento do subsídio dado pelo governo

pelo serviço, de 50% para 60%. Além disso, o governo fornece uma série de

ferramentas online para apoiar tais iniciativas;

Page 104: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

104

• Concessão de subsídios, créditos fiscais ou empréstimos a juros

menores do que no mercado para moradores dispostos a investir na eficiência

de edifícios ou na utilização de fontes renováveis de energia;

• Adição de financiamento e melhora do programa CO2 Building

Modernisation Programme. Esse programa oferece subsídios ou empréstimos

a juros menores do que no mercado para a construção ou a modernização de

edifícios, a fim de torná-los mais eficientes; e

• Reformulação de um programa voluntário para indicar ações

visando ganhos de eficiência energética para equipamentos de aquecimento

em edifícios antigos.

Embora, muitas vezes, medidas de conservação de energia tenham

retornos financeiros elevados, os empréstimos e os modelos de negócio são viáveis

apenas para grandes corporações. As iniciativas de curto prazo propostas para sanar

esse problema são:

• Por meio de uma espécie de leilão de eficiência energética,

denominado STEP up! competition, o governo subsidia projetos oriundos de

todos os setores que acarretem nas maiores economias por euro investido,

incentivando que novas ideias e tecnologias sejam propostas e aplicadas.

• O governo alemão oferece um serviço que atesta até 80% da

energia economizada por um projeto de eficiência energética oriundo de uma

pequena ou média empresa industrial. Com essa garantia, tais empresas

podem conseguir empréstimos com juros menores para investimentos em

projetos de eficiência energética.

• Vínculo dos juros de financiamentos dos bancos no fomento a

processos de eficiência para equipamentos, ou seja, os projetos que

apresentarem maior ganho de eficiência por unidade monetária recebem linhas

de créditos a juros menores. Além disso, haverá uma simplificação da

comprovação da energia a ser conservada.

• Um programa oferece especialistas para ensinar como evitar a

perda de calor residual ou reaproveitá-lo em instalações industriais. Esse

especialista pode, inclusive, permanecer na empresa para aplicar as soluções

propostas.

• O governo federal financia o desenvolvimento de um programa

piloto de gestão da demanda, denominado Energy Savings Meter, que permite

Page 105: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

105

a coleta de dados de uso de equipamentos de consumidores e a proposição de

trocas economicamente viáveis de equipamentos, sobretudo as trocas que

propiciam elevadas economias de energia.

Dentre as novas abordagens a serem prospectadas no futuro destaca-se o

estabelecimento de novos modelos de financiamento de investimentos voltados para

ganhos de eficiência energética, sobretudo em empresas de pequeno e médio porte.

Outra iniciativa é prover informação e ferramentas aos consumidores, para

difundir ideias e experiências sobre ações que possibilitam ganhos de eficiência

energética. As medidas de curto prazo previstas são:

• Criação de redes de eficiência energética que permitam que

empresas estabeleçam, com a ajuda de consultores, metas de ganhos de

eficiência energética e ações efetivas visando alcançá-las;

• Apoio às redes municipais de eficiência energética, com o amparo

de um fundo e suporte do governo federal;

Apoio aos gestores da eficiência energética nos parques empresariais.

Esse programa busca encontrar sinergias entre pequenas empresas, órgãos

governamentais e residências para promover ganhos de eficiência energética, em

geral, e a cogeração, em particular;

• Desenvolvimento de serviços de informação sobre conservação

de energia específicos para certos ramos da indústria e do setor de serviços.

Esse programa visa criar campanhas com focos específicos;

• Ampliação da etiquetagem de consumo energético para mais

equipamentos elétricos;

• Destaque de produtos energeticamente eficientes na National Top

Runner Initiative. Essa iniciativa tem por objetivo acelerar o desenvolvimento

de produtos eficientes, treinar vendedores e conscientizar consumidores;

• Introdução de auditorias energéticas mandatórias para grandes

empresas, para identificar oportunidades de ganhos de eficiência energética;

• Melhorias no fornecimento, pelo governo, de informações,

ferramentas e treinamento para pequenas e médias empresas no

desenvolvimento de ações visando ganhos de eficiência energética;

• Rotulagem de sistemas de aquecimento antigos e ineficientes.

Dessa forma, o governo pretende evidenciar a viabilidade econômica de se

Page 106: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

106

investir em equipamentos modernos e acelerar a troca de equipamentos

antigos;

• Financiamento, pelo governo federal, durante três anos, de

consultoria especializada em promover ações visando ganhos de eficiência

energética na exploração agrícola; e

• Implantação de programa que subsidiará investimentos para

promover ganhos de eficiência energética na exploração agrícola, com

destaque para a horticultura.

Para dar suporte à crescente difusão da geração distribuída e responder

ao pleito popular para substituir as usinas nucleares e ir de encontro às suas metas

de redução de gases que causam o efeito estufa (GEEs), a Alemanha fechou usinas

termelétricas nucleares e a carvão e expandiu sua capacidade instalada com gás

natural. Com isso, ela introduziu a necessária flexibilidade operativa que as renováveis

exigem e reduziu suas emissões de GEEs.

Os Estados Unidos têm uma vasta experiência na questão do

desacoplamento entre receita e vendas de energia elétrica pelas empresas

concessionárias distribuidoras. Nesse país, devido à autonomia regulatória dos

estados, há diferenças significativas nas questões relacionadas à distribuição de

energia elétrica.

A lei federal PURPA (Public Utility Regulatory Policy Act) ocasionou, em

1978, uma primeira mudança nessa forma tradicional de regulação do setor elétrico

americano ao obrigar as empresas concessionárias desse setor a adquirirem

suprimentos de geradores qualificados (Qualifying Facilities), que contemplam usinas

de pequeno porte (capacidade instalada inferior a 80 MW) qualificadas que utilizam

fontes renováveis de energia e plantas de cogeração qualificadas.

Outra lei federal, a Energy Policy Act, introduziu competição no mercado

atacadista de energia elétrica dos EUA em 1992. Graças a essa lei, que foi refinada

ao longo dos anos pelo Congresso Americano, foram criadas as figuras do Produtor

Independente de Eletricidade (Independent Power Producer ou Non-utility Generator),

do comercializador (marketer) e do corretor (broker), assim como dos Operadores

Independentes do Sistema (Independent System Operators) e das Organizações

Regionais de Transmissão (Regional Transmission Organizations). Atualmente, cerca

de metade da capacidade de geração nos EUA pertence a produtores independentes

Page 107: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

107

de eletricidade. Grande parte de sua geração está atrelada a contratos de longo prazo

com empresas concessionárias (LAZAR, 2016).

Nos EUA a proposição de políticas energéticas ocorre a nível estadual,

visando à implantação dos objetivos e das metas estabelecidas nas políticas e no

planejamento federal. No estado da Califórnia a California Energy Commission (CEC)

realiza projeções da demanda e da oferta de energia, publica estatísticas do setor

energético, estabelece padrões de eficiência energética para equipamentos e

edificações, promove fontes renováveis de energia, mantém programas de pesquisa,

desenvolvimento e demonstração para tecnologias inovadoras na área de energia,

fomenta tecnologias avançadas de transporte, mais eficientes e menos poluentes, e

licencia usinas (CEC, 2014).

Também neste país há políticas de eficiência energética para edificações e

para os setores industrial, energético e de transportes, estabelecidas nos três níveis

de governo – federal, estadual e municipal (DORIS; COCHRAN; VORUM, 2009). A

Califórnia tem estabelecido políticas públicas mais ambiciosas do que o governo

federal nessa área. Nas edificações, os principais instrumentos utilizados para

implantar essas políticas são: códigos de obras, etiquetas de consumo energético,

padrões mínimos obrigatórios de eficiência energética, campanhas educativas,

incentivos financeiros e financiamento de projetos de P&D.

Prefeituras, governos estaduais e concessionárias de energia elétrica nos

EUA têm oferecido, ao longo dos anos, muitos programas de financiamento de

investimentos em melhorias de eficiência energética nas instalações de consumidores

e empresas concessionárias de energia elétrica e de gás canalizado nos EUA

frequentemente oferecem programas que possibilitam ganhos de eficiência energética

para os seus consumidores.

Os EUA têm um importante programa de pesquisa e desenvolvimento em

eficiência energética desde a década de 70. Esse programa envolve laboratórios

nacionais, universidades e empresas privadas visando desenvolver e comercializar

novas tecnologias poupadoras de energia. Nadel, Elliott e Langer (2015) destacam

quatro dessas novas tecnologias que tiveram uma ampla aceitação no mercado:

compressores avançados para refrigeradores, reatores eletrônicos para lâmpadas

fluorescentes, vidro de baixa emissividade e lâmpadas de LED.

O governo americano e os governos estaduais nos EUA também têm

apoiado a atuação de Empresas Prestadoras de Serviços de Energia (Escos) por meio

Page 108: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

108

de contratos de desempenho. Essas empresas realizam diagnósticos energéticos nas

instalações de seus clientes, arranjam financiamento para as medidas de economia

de energia propostas e supervisionam a instalação e a operação dos novos

equipamentos poupadores de energia, recebendo, em troca, pagamentos regulares,

em geral correspondentes a uma parte das economias propiciadas pela sua atuação.

Elas têm uma forte atividade nos EUA em instalações governamentais,

escolas e hospitais.

O país também realiza o programa “State Energy Efficiency Scorecard”,

que examina os 51 estados americanos no desenvolvimento de políticas e programas

de eficiência energética. Os estados são classificados de acordo com um sistema de

pontuação, que totaliza 50 pontos. Em 2016, a Califórnia ficou em primeiro lugar nessa

classificação e Nova Iorque em quinto lugar (BERG et al., 2016).

Com relação à geração distribuída de eletricidade, os governos dos

estados americanos têm incentivado a utilização de fontes renováveis de energia na

geração de eletricidade por meio de vários mecanismos de fomento (MOREY;

KIRSCH, 2016):

• Créditos fiscais para empresas que investirem em fontes

renováveis de energia para a geração de eletricidade (40 estados);

• Créditos fiscais para pessoas físicas que investirem em

fontes renováveis de energia para a geração de eletricidade (42 estados);

• Incentivos fiscais no imposto sobre propriedade para

investimentos em fontes renováveis de energia para a geração de

eletricidade (quase todos os estados americanos);

• Padrões de portfólios de renováveis (renewable portfolio

standards), por meio dos quais os governos estaduais estabelecem

porcentagens mínimas de eletricidade que precisa ser gerada com fontes

renováveis de energia (30 estados); e

• Net metering, por meio do qual se paga a tarifa cheia do

consumidor para a energia autoproduzida por ele e injetada na rede elétrica

(42 estados).

O Reino Unido estabeleceu que uma parcela da energia distribuída pelas

concessionárias deve ser proveniente de fontes renováveis. Para o cumprimento

dessas metas, a agência do governo Office of Gas and Electricity Markets (OFGEM)

emite certificados de energia renovável. Outro mecanismo para fomentar o mercado

Page 109: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

109

de minigeração de fontes renováveis é a utilização da tarifa feed-in, como na

Alemanha.

Neste país foi desenvolvida uma nova estrutura regulatória, denominada

modelo RIIO (Revenue = Incentives + Innovation + Outputs). Essa nova abordagem

de formação de tarifa, considerada mais abrangente, é baseada em incentivos e

considera fatores que impulsionam o investimento eficiente. Ao definir as tarifas, há o

envolvimento das partes interessadas no processo de tomada de decisão e são

considerados a preocupação com a economia de baixo carbono e os objetivos

ambientais.

Um contrato de diferença é um contrato do direito privado entre um gerador

de eletricidade com baixas emissões de carbono e a Low Carbon Contracts Company

(LCCC), uma empresa estatal. Esse tipo de contrato permite ao gerador receber a

diferença entre o preço (strike price) associado ao custo de geração da tecnologia de

baixas emissões de carbono por ele utilizada e o preço de referência (reference price),

que é o preço médio da energia elétrica no mercado atacadista britânico. Esse

mecanismo visa propiciar maior segurança e estabilidade das receitas auferidas por

esse tipo de gerador e proteger os consumidores contra custos elevados de apoio a

esses geradores quando os preços da eletricidade estiverem elevados (GOV UK,

2017).

O consumo de energia elétrica no país diminuiu 6% entre 2003 e 2013,

revertendo as tendências observadas nas décadas anteriores (IEA, 2015). O governo

do Reino Unido anunciou, em abril de 2013, a meta de redução de 18% de seu

consumo energético final em 2020 em relação à projeção feita em 2007, em um

cenário de evolução do tipo business as usual (DECC, 2014).

O UK Green Investment Bank financia projetos de reforma de edificações

visando melhorar seu desempenho energético, projetos de iluminação pública com

lâmpadas eficientes e projetos de geração distribuída eficientes, utilizando, por

exemplo, unidades de cogeração. A Salix Finance tem recebido recursos do governo

para realizar empréstimos sem juros para instituições do setor público, tais como

hospitais e escolas, que tenham projetos visando ganhos de eficiência energética

(IEA, 2015).

Companhias que têm acordos para redução de emissões (Climate Change

Agreements - CCAs) e que têm conseguido cumprir as metas estipuladas nesses

acordos têm direito a descontos no imposto. O governo do Reino Unido também

Page 110: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

110

implementou o CRC Energy Efficiency Scheme, visando grandes empresas privadas

não eletrointensivas e organizações do setor público com emissões ainda não

cobertas pelas CCAs. Essas instituições devem comprar direitos para cada tonelada

de carbono que emitirem.

Também, Reino Unido, Itália e França começaram a implementar

esquemas de certificados negociáveis para melhorar a eficiência energética de

consumidores finais por meio dos seus distribuidores de eletricidade e de gás, os

chamados Certificados de Economia de Energia (Tradable White Certificates). Nesse

sistema, as empresas concessionárias de distribuição são obrigadas a realizar a

promoção da eficiência energética entre os usos finais e a comprovar a economia de

uma fração preestabelecida da energia que distribuem. Esse montante é certificado,

gerando créditos de eficiência energética às próprias partes sujeitas à obrigação ou a

outros agentes. Tais créditos podem ser trocados e comercializados no mercado.

Cada MWh economizado gera um crédito de eficiência energética.

As partes sujeitas à obrigação que estejam incapazes de apresentar a sua

cota de certificados podem sofrer sanções pecuniárias, ou seja, multas, que excedem

o valor de mercado estimado dos certificados em falta (IAZZOLINO; GABRIELE,

2016).

3.3.4. Papel do Governo

Políticas públicas são um conjunto de programas, ações e atividades

desenvolvidas pelo Estado direta ou indiretamente, com a participação de entes

públicos ou privados, que visam assegurar determinado direito de cidadania, de forma

difusa ou para determinado seguimento social, cultural, étnico ou econômico. As

políticas públicas correspondem a direitos assegurados constitucionalmente ou que

se afirmam graças ao reconhecimento por parte da sociedade e/ou pelos poderes

públicos sobre novos direitos das pessoas, das comunidades, das coisas ou de outros

bens materiais ou imateriais (BELINOVSKI, 2013).

Como demonstrado no capítulo “O que já tem sido feito no Brasil”, o país

possui atualmente algumas políticas públicas voltadas a produção mais limpa e

racionalização no uso de energia elétrica. Em todas as medidas tomadas, o papel do

governo foi essencial para a implementação de políticas públicas. Na medida em que

o mercado se consolida, os mecanismos associados a questão vêm sofrendo

atualizações ao longo do tempo, e seus impactos, positivos e negativos, são melhor

Page 111: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

111

conhecidos (BAJAY et al., 2018). Porém, ainda é necessário aprimorar e ampliar as

políticas públicas neste domínio, e desta forma contribuir para melhorar esta questão,

tantas vezes negligenciada.

De acordo com Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) é

competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas. De

acordo com a mesma, todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,

bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao

Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes

e futuras gerações.

No Brasil, o governo atua diretamente no setor de energia elétrica por meio

de empresas estatais (geradoras, transmissoras, distribuidoras), como agente

regulador, como incentivador, investidor, planejador e exemplo. Mesmo após o

processo de privatização de algumas empresas do setor elétrico brasileiro, a produção

de energia no Brasil ainda é significativamente influenciada pelo estado, sobretudo

pelo governo federal, no estabelecimento dos leilões de energia. O governo federal é

o poder concedente de toda a cadeia produtiva da energia elétrica: geração,

transmissão, distribuição e comercialização. A hierarquia do setor elétrico brasileiro é

mostrada adiante pela figura 39:

Figura 39 - Hierarquia do setor elétrico brasileiro

O CNPE, Conselho Nacional de Política Energética, é o órgão de

Assessoramento do Presidente da República para o setor elétrico brasileiro. Ao MME,

Ministério de Minas e Energia, cabe a formulação e a implantação de políticas

destinadas a promover o aproveitamento dos recursos energéticos do país de acordo

CNPE MME

EPE

ANEEL

CMSE

Page 112: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

112

com as diretrizes do CNPE. A EPE, Empresa de Pesquisas Energéticas, realiza

estudos e pesquisas para embasar o planejamento do setor energético. O CMSE,

Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, acompanha e avalia a continuidade e

segurança do suprimento de energia. A ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica,

autarquia vinculada ao MME, é responsável pela regulação técnica, econômica e

fiscalização de toda essa cadeia. Cabe, também, a ela definir diretrizes e

supervisionar os investimentos mandatórios das empresas do setor elétrico em

projetos de pesquisa e desenvolvimento e em projetos de eficiência energética, além

de preservar o equilíbrio econômico-financeiro dos agentes e proteger os

consumidores quanto aos custos da energia fornecida. Por meio de convênios com

agências reguladoras estaduais, a Aneel repassa recursos para essas agências

realizarem, de forma descentralizada, algumas das suas tarefas regulatórias,

sobretudo no que se refere à fiscalização.

Segundo Bajay, Andrade e Dester (2016), cabe às agências reguladoras

assegurarem a implementação de políticas e planos do governo previstos na

legislação vigente; proverem suporte aos consumidores em suas relações com as

empresas concessionárias, no contexto regulatório existente; e assegurarem a

prestação de serviços de qualidade, tarifas que garantam a viabilidade econômica das

concessões, lucros justos aos acionistas, modicidade tarifária e a evolução

tecnológica na prestação do serviço durante os períodos de concessão. Para eles a

regulação deve acompanhar as transformações requeridas no setor elétrico, de modo

a manter o equilíbrio ambiental, econômico e financeiro de todos os envolvidos e,

inclusive, refletir nas tarifas a repartição dos custos da manutenção do sistema

interconectado e ambientalmente responsável, e sinalizar oportunidades de novos

investimentos onde forem necessários.

O papel dos governos regionais no fomento a ganhos de eficiência

energética tem sido fundamental nos estados americanos, províncias canadenses,

países europeus, províncias chinesas, entre outros. Ganhos de competitividade,

incentivos à economia regional e reduções de impactos ambientais estão entre os

principais motivadores desse fomento. A excessiva centralização pelo governo federal

das políticas públicas, do planejamento e da regulação do setor energético brasileiro

tem inibido a atuação dos governos estaduais nessa área. Os governos de alguns

estados, como, por exemplo, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do

Sul, Bahia, Alagoas e Pernambuco, têm implantado políticas públicas e programas de

Page 113: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

113

fomento a fontes de energia, renováveis ou não, abundantes nesses locais. Suas

atuações na área de eficiência energética, no entanto, ainda têm sido muito tímidas.

Portanto, é necessário fomentar a atuação complementar de instâncias

descentralizadas, como os governos estaduais e municipais.

Historicamente, o país é um grande produtor de produtos intensivos no uso

de energia, como papel e celulose, ferro e aço e alumínio. O incentivo à mudança

desse perfil para produtos menos energético-intensivos pode alterar, no longo prazo,

a demanda de energia no país e adicionar valor à nossa produção e exportações

(GOLDEMBERG; LUCON, 2007).

Os programas e mecanismos de incentivo são fundamentais para o

desenvolvimento de uma determinada tecnologia. Nos últimos anos, o Brasil avançou

em relação à geração distribuída e impulsionou o desenvolvimento do mercado e a

criação de várias empresas do ramo, com destaque para a área fotovoltaica. Também,

novas tecnologias para geração distribuída estão conseguindo, junto da eficiência

energética, das tecnologias de armazenamento de energia e das redes inteligentes,

espaço cada vez maior no mercado. Isso faz com que novos arranjos comerciais

surjam e uma nova regulação seja necessária para reorganizar e redistribuir os custos

e os benefícios dessas transformações entre consumidores e agentes envolvidos.

Os modelos de negócio também podem ser encarados como ferramentas

de incentivo. O desenvolvimento dos modelos exige uma visão de longo prazo. Para

que o desenvolvimento ambientalmente responsável no setor elétrico seja

competitivo, não se deve apenas considerar a questão dos custos, mas, também,

outros atributos, tais como a não liberação de carbono e de gases poluentes e outros

benefícios ambientais, a flexibilidade operativa, a menor exposição à variabilidade

climática, a durabilidade das instalações, o tempo de construção, a segurança

energética, etc.

Com o crescimento da consciência ambiental no país, o consumidor deve

estar disposto a pagar um valor maior pela energia limpa, o que também deve ser

incentivado pelo governo. Ainda não se destacam os modelos de negócio nos quais

as empresas alugam os equipamentos ou oferecem financiamentos com taxas

reduzidas para aqueles que não possuem condições econômicas de arcar com os

custos decorrentes de geração distribuída, por exemplo. O interesse na

implementação de políticas públicas para a criação de um ambiente favorável a

produção mais limpa de energia elétrica pode ser melhorada com a implementação

Page 114: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

114

de mecanismos de incentivo que visam, sobretudo, garantir a recuperação do capital

investido em prazos razoáveis. Outras questões como o acesso às informações

técnicas, a garantia de acesso à rede e a regulamentação de novos modelos de

negócio também são questões-chave de responsabilidade do governo.

São diversos os instrumentos que podem ser utilizados para implementar

políticas energéticas. Entre eles estão: o uso de legislação; a atuação por meio de

empresas controladas pelo governo ou por meio de órgãos públicos reguladores das

atividades de empresas do setor energético; o fomento ou a restrição ao consumo de

energéticos, por meio da manipulação de seus preços; a realização de campanhas

publicitárias ou de esclarecimento público; o apoio a projetos de pesquisa,

desenvolvimento e demonstração; a concessão de facilidades de financiamento, com

taxas de juros menores que as de mercado; e a concessão de incentivos fiscais ou de

subsídios diretos (BAJAY, 1989).

Testa, Cosic e Iraldo (2016) afirmam que o governo é responsável por

estabelecer leis de redução de consumo de energia e de defesa do ambiente. Além,

deve promover a distribuição de informações que, direta ou indiretamente afetam a

economia de energia. Ele também afirma que as escolas devem ensinar princípios e

métodos de economia de energia que envolvem ativamente os alunos. Isto não só os

ajuda a adquirir valores ecológicos, mas também estimula uma discussão entre eles.

(TESTA; COSIC; IRALDO, 2016).

Ainda, há o problema da corrupção. A corrupção, como uma realidade

presente no cenário brasileiro, consiste na obtenção de vantagens em relação a outros

em benefício próprio. Apesar de não ser uma prática recente, a corrupção vem

marcando presença e ganhando fôlego, ao ser verificada em praticamente toda a

estrutura política do Brasil (MOREIRA, 2018).

Segundo Cortella (2009), “Nós não somos o único país do jeitinho. A

corrupção em relação ao público-privado é importada da nossa colonização. Isso é

uma tradição que veio da Europa, das monarquias. Portanto, não é algo que nós

tenhamos inventado”. Embora não seja uma prática exclusiva do Brasil, segundo o

índice de corrupção do Fórum Econômico Mundial de 2016, o Brasil é considerado a

quarta nação mais corrupta do mundo, ficando somente atrás da Venezuela, Bolívia e

Chade, país localizado no centro-norte da África (EL PAÍS, 2016). A corrupção se

institucionalizou no Brasil e, apesar de não ser algo novo, tornou-se uma realidade

incontestável, tendo em vista que grande parte das esferas do Estado brasileiro, ao

Page 115: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

115

que parece, não está isenta de alguma forma de corrupção, seja passiva ou ativa,

desdobrando-se por setores internacionais. (MOREIRA, 2018).

No setor elétrico brasileiro a corrupção ocorre desde a tomada de decisão

de implementação de uma fonte elétrica, na ineficiência de uma empresa estatal e até

no consumo ilegal de energia elétrica, pelos famosos “gatos”. Com relação a decisão

de implementação de uma fonte elétrica, percebe-se que muitas vezes fatores

políticos sobrepõem-se a fatores técnicos ou socioambientais. Isso é um reflexo da

estrutura de tomada de decisão do setor. O Conselho Nacional de Política Energética

(CNPE), é um conselho interministerial consultivo da Presidência da República. Ele

possui a função de promover o aproveitamento racional dos recursos energéticos do

país na tomada de decisão, assegurar o suprimento de insumos energéticos, realizar

revisões periódicas na matriz energética, etc. O Conselho é essencialmente formado

por cargos políticos indicados, o que possivelmente promove muitos conflitos de

interesses.

Algumas ações já foram feitas a fim de melhorar esta questão no setor

elétrico, como: instituição de um Conselho de Monitoramento do Setor Elétrico, maior

independência da atuação das agências regulatórias, audiências públicas, atuação

expressiva da imprensa e da Controladoria Geral da União (CGU). Porém, ainda há

vários desafios a serem vencidos para um setor elétrico mais livre de corrupção no

Brasil no futuro. Entre eles, devem ser destacadas as necessidades de: separação

entre tomadas de decisão políticas e técnicas, assim como a separação de atividades

concorrenciais das empresas e sua atuação executando programas governamentais

de cunho estratégico, social ou ambiental; elaboração de contratos de gestão entre o

governo e suas empresas estatais, propiciando-lhes alguma autonomia e, em

contrapartida, cobrando resultados em relação a metas compactuadas nos contratos;

estabelecimento de planos de carreira e concursos de admissão, além da imposição,

pelo Congresso Nacional, de condicionantes rigorosos relativos à competência e à

experiência para cargos de confiança indicados pelo Poder Executivo (BAJAY et al.,

2018).

3.3.5. Comportamento Pró-ambiental

Os problemas ambientais têm suas origens no comportamento humano e,

como resultado, qualquer solução para questões ambientais exigirá mudanças no

comportamento (MIDDEN; KAISER; TEDDY MCCALLEY, 2007). Enquanto muitas

Page 116: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

116

disciplinas nas ciências sociais e comportamentais oferecem perspectivas importantes

sobre os comportamentos ligados a problemas ambientais, o estudo do indivíduo traz

um foco em processos cognitivos, sociais e motivacionais que fornecem insights sobre

formas eficazes de promover mudanças no comportamento.

O comportamento pró-ambiental tem sido um dos temas de maior interesse

em Psicologia Ambiental. O termo “pró-ambiental” refere-se a comportamentos que

contribuem para a sustentabilidade do meio ambiente natural. Por exemplo, o

comportamento pró-ambiental pode incluir a conservação de recursos, como água ou

energia, ou reduções na poluição. A literatura está repleta de termos e ênfases

semelhantes: conservação, sustentabilidade, eficiência, proteção ambiental e

preservação.

Definir os tipos de comportamentos considerados pró-ambientais é uma

questão complexa por dois motivos. Primeiro, porque há padrões mutáveis para o que

é ambiental, e os comportamentos que são considerados pró-ambientais hoje podem

potencialmente ser considerados ambientalmente prejudiciais no futuro. Então, nesse

sentido, o comportamento pró-ambiental é cultural e historicamente prescrito.

Segundo, porque o impacto de um comportamento no ambiente natural deve ser

considerado em relação a outras ações. Todo o comportamento humano exerce

algum impacto no ambiente natural, mas algumas ações têm um impacto maior do

que outras. Respirar emite dióxido de carbono, assim como andar de ônibus ou dirigir

um carro. Mas andar para o trabalho emite menos carbono do que andar de ônibus, o

que emite menos carbono por pessoa do que dirigir um carro. Mas até mesmo dirigir

um carro pode ser considerado pró-ambiental em comparação com um jato particular.

O ponto aqui é que o que é considerado pró-ambiental deve ser considerado em

relação a outras ações possíveis, e não há um padrão absoluto para determinar o que

é pró-ambiental. (SCHULTZ; KAISER, 2012).

Por mais de 40 anos, os psicólogos ambientais têm trabalhado para

entender os antecedentes psicológicos e contextuais do comportamento pró-

ambiental. Eles visam entender o papel do indivíduo nas causas e respostas a

problemas ambientais, e esforçam-se para promover mudanças no comportamento

com o objetivo de mitigar e se adaptar à deterioração das condições ambientais. Há

duas classes principais de comportamento pró-ambiental: contingenciamento e

eficiência (GARDNER; STERN, 2008). Comportamentos de contingenciamento

envolvem mudanças na rotina. São comportamentos recorrentes que podem produzir

Page 117: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

117

uma redução no consumo, como apagar a luz ao sair de um cômodo.

Comportamentos de eficiência, por outro lado, referem-se a ações ocasionais que

resultam em consumo reduzido, por exemplo comprar uma geladeira mais eficiente.

No entanto, também é importante ressaltar que a simples instalação de tecnologias

mais eficientes não garante um resultado pró-ambiental.

Felizmente, há uma série de estratégias que demonstraram produzir

mudanças significativas no comportamento (OSBALDISTON; SCHOTT, 2012). Elas

podem ser organizadas de acordo com sua base motivacional: egoísta, social-altruísta

ou biosférica (STERN, 2000). Estudos anteriores sugeriram que cada uma delas pode

fornecer uma base motivacional para a preocupação ambiental e o comportamento

pró-ambiental.

Uma base motivacional egoísta baseia-se no interesse próprio, e o

comportamento é motivado pela busca pessoal do reforço ou da precaução de uma

consequência aversiva. Exemplos de estratégias baseadas em motivações egoístas

são os alertas (prompts) e os incentivos.

A motivação social-altruísta reflete a inserção social da pessoa e o desejo

de se engajar em ações socialmente responsáveis. Os seres humanos são por

natureza criaturas sociais e, como resultado, somos sensíveis à pressão do grupo e

aos processos sociais. Geralmente, vemos ações que beneficiam os outros como

desejáveis e somos motivados a nos adequar aos padrões e normas do grupo. A

abordagem social-altruísta para promover o comportamento pró-ambiental alavanca

essas tendências em um esforço para mudar comportamentos. Exemplos incluem

compromissos públicos, mensagens de normas sociais e abordagens que se baseiam

em uma estrutura de normas sociais.

Finalmente, a motivação biosférica reflete o desejo de se engajar em ações

que protejam o ambiente natural (SCHULTZ et al., 2005). Os dados da opinião pública

são claros em mostrar que os indivíduos em todo o mundo estão preocupados com

os problemas ambientais (LEISEROWITZ; KATES; PARRIS, 2005) e que eles

expressam o desejo de agir de maneira que beneficiem o ambiente natural. Todavia,

isso não necessariamente traduz-se em ações efetivas pró-ambientais. A abordagem

biosférica para promover o comportamento pró-ambiental enfatiza principalmente a

educação. De acordo com o modelo valor-crença-norma, cada uma dessas bases

motivacionais pode levar a um comportamento pró-ambiental sob as condições certas

(ABRAHAMSE et al., 2005).

Page 118: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

118

Ao longo das pesquisas psicológicas sobre comportamento pró-ambiental,

descobriram-se algumas ferramentas para promover este tipo de comportamento.

Schultz (2014) afirma que estratégias como alertas, termos de compromisso,

feedbacks, normas sociais, incentivos, entre outras, demonstraram promover

efetivamente o comportamento pró-ambiental - pelo menos em alguns contextos, para

alguns comportamentos e para alguns indivíduos.

Segundo Osbaldiston e Schott (2012), os tratamentos psicológicos de fato

podem aumentar o comportamento pró-ambiental. Porém, a eficácia de um tratamento

não é uniforme e alguns tratamentos são mais eficazes que outros. Segundo eles, em

ordem de grandeza, do mais forte para o mais fraco, os tratamentos mais eficazes

são: dissonância cognitiva, metas, normas sociais, estímulos, tornar mais fácil,

recompensas, justificativa, comprometimento, feedback e instruções.

Todavia, de acordo com SCHULTZ (2014), diferentes tipos de pessoas

respondem de maneira diferente a diferentes tipos de mensagens. Cada estratégia de

mudança de comportamento tem um conjunto de condições de contorno sob as quais

é maximamente eficaz e nenhuma mensagem ou elemento destaca-se como melhor,

nem funcionará o tempo todo. O importante é combinar a ferramenta com o público e

o comportamento.

Schultz (2014) oferece orientação para selecionar uma ferramenta de

mudança de comportamento apropriada. Suas condições de contorno concentraram-

se em duas considerações principais: as características do comportamento (por

exemplo, barreiras) e a população alvo (por exemplo, benefícios percebidos).

Barreiras referem-se a qualquer coisa que reduza a probabilidade de se

engajar no comportamento alvo. Normalmente, as barreiras são estruturais, como a

dificuldade de um programa ou a falta de acesso, mas também podem ser custos

pessoais que um indivíduo associa ao comportamento. Os benefícios referem-se às

crenças de uma pessoa sobre os resultados positivos associados ao

comportamento. Isso pode incluir economizar dinheiro, proteger o meio ambiente ou

receber reconhecimento social.

Por exemplo, estudos de comportamento de reciclagem mostraram que os

indivíduos são menos propensos a reciclar materiais que exigem limpeza - como uma

lata vazia de comida de gato - por causa de sua antipatia pela textura e pelo odor.

Nesse caso, o "fator" é uma barreira. Por outro lado, os benefícios refletem o desejo

de uma pessoa de se engajar no comportamento - ou seja, o valor positivo que o

Page 119: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

119

indivíduo atribui aos resultados esperados. Esses dois processos podem ser

representados como fatores separados que impedem ou facilitam o comportamento.

Quando os benefícios são altos e as barreiras são baixas, uma alta porcentagem da

população deve se envolver no comportamento. No entanto, quando os benefícios

são baixos e as barreiras são altas, apenas alguns membros da população-alvo se

envolverão no comportamento. Este modelo de dois fatores é representado na figura

40:

Figura 40 - Representação conceitual do papel das barreiras e benefícios nos programas de mudança de comportamento

Fonte: adaptado de SCHULTZ (2014)

De acordo com a revisão na literatura, as principais barreiras identificadas

para a mudança de comportamento com relação à economia de energia considerados

na concepção de políticas são:

• A energia é "invisível" e a poupança de energia muitas vezes tem

prioridade baixa;

• Alto tempo de retorno dos investimentos relacionados a produção de

energia limpa, principalmente nos setores não eletrointensivos;

Page 120: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

120

• Muitas vezes, os benefícios percebidos relacionados ao uso mais

responsável de energia elétrica são acumulados por um longo período, enquanto os

custos associados a eles são imediatos e grandes;

• A falta de conhecimento e compreensão do comportamento da economia

de energia e medidas de eficiência disponíveis;

• Fator incômodo de medidas de eficiência na instalação;

• As normas sociais (o que as outras pessoas estão fazendo em torno de

você) - podem impedir de adotar novas medidas de poupança de energia;

• Baixa confiança nos resultados;

• Aceitabilidade política. Por exemplo: é improvável que o governo regule

fortemente o uso de energia por causa de uma falta de aceitação dentro do eleitorado;

Por outro lado, os principais fatores motivadores (benefícios) de usar a

energia racionalmente encontrados na literatura são melhorar o conforto, a saúde, o

bem-estar, o reconhecimento social (podem ser benefícios ou barreiras, depende do

círculo social), a sensação de auto eficácia, a segurança energética, a produtividade

econômica e reduzir as contas de energia.

Uma vez que as barreiras e benefícios tenham sido identificados, um

programa pode ser desenvolvido. Um programa tem como ênfase diminuir

diretamente as barreiras e aumentar os benefícios associados ao comportamento

alvo.

Schultz (2014), com base em uma revisão dos estudos de Osbaldiston e

Schott (2012), e em quatro combinações de benefícios e barreiras, fornece

recomendações para as ferramentas de mudança de comportamento mais eficazes

em cada uma destas combinações, que são ilustradas pela figura 41 adiante.

Page 121: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

121

Figura 41 - Quando cada ferramenta de mudança de comportamento funciona melhor

Fonte: adaptado de SCHULTZ (2014)

Schultz (2012) ressalta a importância de algumas considerações na

formulação de estratégias de mudança de comportamento.

Uma primeira consideração é o impacto ambiental do comportamento

(GELLER, 2002; STERN, 2000). Steg e Vlek (2009) afirmaram que, do ponto de vista

prático, os psicólogos ambientais deveriam estudar comportamentos que afetam

significativamente a qualidade ambiental. Por exemplo, nos Estados Unidos, o

consumo de energia direta é dividido entre famílias e indivíduos (21,7%), indústrias

(32,4%), comercial (17,8%) e transporte (28,1% em todas as formas). Mas dentro de

cada uma dessas categorias existe uma gama de ações específicas. Por exemplo, o

uso doméstico de energia cai em aquecimento ambiente (18,8%), ar condicionado

(6,2%), aquecimento de água (6,5%), iluminação (6,1%) e computadores (0,6%)

(GARDNER; STERN, 2008). Portanto, é improvável que o desenvolvimento de um

programa para encorajar os moradores a desligar seus computadores quando não

estão em uso produza economias substanciais de energia, em comparação com um

programa que visa reduzir o aquecimento ou a iluminação do espaço. Isso não quer

dizer que o uso do computador não seja importante, mas sim que os programas

Page 122: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

122

destinados a reduzir o consumo geral seriam mais bem servidos, visando-se um

domínio comportamental mais importante, como o aquecimento do espaço.

Uma segunda consideração na seleção de um comportamento alvo é o

nível de especificidade. Por exemplo, ao desenvolver um programa para promover

reduções no uso de água residencial, Mckenzie-Mohr (2011) recomendou o foco em

uma ação específica, como “instalar um chuveiro de baixo fluxo” ou “regar o gramado

apenas uma vez por semana”. Comportamentos específicos contrastam com apelos

mais gerais como “usar menos água”.

Outra consideração na seleção de um comportamento-alvo é focar em

ações (ou segmentos de mercado) onde a mudança é possível. Este conceito é

claramente simples, mas amplamente negligenciado. Primeiro, visar pessoas que já

participam do comportamento pró-ambiental desejado fará pouco mais do que o que

já faz para contribuir para a conservação ambiental. Em vez disso, é melhor visar

indivíduos (ou segmentos de mercado) que ainda não estejam fazendo o que parece

possível e sensato dentro de uma determinada população. Kaiser (1998) referiu-se a

esses segmentos de mercado como “sumidouros motivacionais”.

Outro ponto importante na formulação de estratégias é tentar evitar o efeito

“Rebound”. Novas tecnologias oferecem possibilidades interessantes para promover

a conservação. Dispositivos mais eficientes oferecem desempenho igual ou

melhorado ao usar menos recursos naturais. Por exemplo, as lâmpadas CFC e LED

consomem menos energia do que as lâmpadas incandescentes tradicionais,

fornecendo desempenho de iluminação comparável. Dado esse aumento de

eficiência, se um proprietário substituísse todas as lâmpadas de 100 watts de sua casa

por lâmpadas de 15 watts de CFC, esperaríamos uma redução de 85% na energia

usada para iluminação. Infelizmente, isso raramente acontece e a economia de

energia realizada muitas vezes fica aquém das estimativas técnicas projetadas

(SORRELL, 2007). Em uma análise em nível individual, os psicólogos se referem a

isso como efeito “Rebound” ou efeito rebote.

A discrepância entre a economia de recursos projetada e real ocorre devido

a mudanças nos padrões de comportamento. Em muitos casos, o indivíduo percebe

as economias adicionais que resultam da tecnologia mais eficiente e,

subsequentemente, compensa com mais frequência. Uma pessoa que perceba que a

lâmpada CFC está usando menos energia pode ser menos provável de desligá-la

quando sair de uma sala. Esse efeito rebote direto é responsável por uma parte

Page 123: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

123

substancial da discrepância entre a economia projetada e a realizada. Esses efeitos

de repercussão indireta também são chamados de “spillover” negativo (SCHULTZ;

KAISER, 2012).

Na literatura existem vários estudos que indicam estratégias para promover

comportamento pró-ambiental em relação a energia elétrica. Alguns estão explicitados

a seguir.

Moussaoui e Desrichard (2016) concluem que metas específicas e

próximas usadas em campanhas a favor de convencer as pessoas a adotarem

comportamentos pró-ambientais são mais motivadoras do que metas generalizadas e

distantes, a exemplo “salvar o planeta”. Além, o grau de abstração também pode afetar

a motivação. As pessoas veem mais barreiras potenciais para atingir as metas de alto

nível do que as metas de baixo nível. Eles enfatizam que estas metas de alto nível

devem ser usadas com cuidado, pois elas podem gerar a ideia de "ter uma montanha

para escalar", que é susceptível de desencorajar muitas pessoas. No entanto, metas

de alto nível também podem ter efeitos positivos, tais como a criação de valores ou

unir as pessoas em torno de valores morais elevados (MOUSSAOUI; DESRICHARD,

2016).

Pothitou et al. (2017) comparam a predisposição ambiental dos indivíduos

ao seu conhecimento sobre questões ambientais. Também, o estudo tenta relacionar

nível de escolaridade e renda familiar com as variáveis acima. Ele conclui que

conhecimento de economia de energia e comportamento pró-ambiental são

positivamente correlacionados.

Tracy e Oskamp (1983) se predispõem a estudar até em que ponto as

pessoas estão dispostas a economizar energia. Eles afirmam que as mesmas são

mais propensas a participarem de ações de eficiência “one-shot” (aquelas mudanças

que precisam serem feitas apenas vez uma, como a instalação de aquecimento solar)

do que ações de mudança de hábitos (sugerindo sacrifício, sofrimento ou

inconveniência).

Dobbyn e Thomas (2005) relatam que gás e eletricidade operam no nível

do subconsciente dentro de casa. Dizem que não parece haver alguma culpa cultural

latente sobre a noção de desperdício de energia.

Darby (2006) defende a importância em tornar a energia mais visível e mais

passível de compreensão e controle no comportamento de economia de energia, por

meio de displays diretos que revelam leituras de medidores de consumo energético

Page 124: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

124

das residências em tempo real. Darby (2006) e Gov UK (2012) também enfatizam a

importância em tornar a energia em algo visual/físico no estímulo de comportamentos

pró-ambientais de economia de energia.

O Reino Unido aposta na criação de informativos, a exemplo do POSTnote

417 (GOV UK, 2012) (figura 42). Nestes documentos são informam quais as principais

fontes de emissão país e o que fazer para reduzi-las, um bom instrumento de políticas

públicas. POSTnotes são documentos produzidos baseados em conhecimentos

científicos e com alta credibilidade na sociedade.

Figura 42 - Emissões Residenciais de CO2 por uso

Fonte: GOV UK (2012)

O POSTnote 417 (GOV UK, 2012) sugere uma "escada de intervenções”

em favor de comportamentos ambientais. Para o Reino Unido, as intervenções podem

ser genericamente divididas em três categorias: as medidas reguladoras; medidas

fiscais; e medidas não reguladoras e não fiscais. Além, quanto mais acima na escada,

mais restritiva a intervenção e maior a justificativa necessária para garantir o apoio do

público para ele.

Para o país, intervenções diferentes são necessárias dependendo do

comportamento que está tentando ser alterado. Uma mistura de intervenções,

incluindo ambas as medidas reguladoras ou não reguladoras, são mais eficazes na

Page 125: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

125

mudança de comportamento. Então, vários quadros são utilizados para assegurar que

a política use uma combinação de intervenções.

Darby (2006) e GOV UK (2012) também questionam o nível de confiança

na fonte de informação relativa ao desempenho energético e apontam essa como um

dos fatores contextuais que podem convencer as pessoas a adotarem mudanças de

comportamento.

Martínez-Espiñeira; García-Valiñas e Nauges (2014) e Ohler e Billger

(2014) indicam que subsidiar a compra de investimentos ecológicos, promover

descontos, subsídios e impostos, ao invés de promover interesses sociais sozinhos

pode revelar-se eficaz para induzir a maior adoção de dispositivos com eficiência

energética.

Para Testa, Cosic e Iraldo (2016) e Konis, Orosz e Sintov (2016), com

relação a educação, os estudantes desempenham um papel importante dentro de

suas casas, influenciando seus pais e outros membros da família.

Li (2014) e Gifford (2011) não aprovam relações de ameaças

comportamento e desastres ambientais. Primeiro, porque as ligações entre as

ameaças ambientais percebidas e comportamentos pró-ambientais são incertos (LI,

2014). Além, já há cientistas que afirmam que este tipo de abordagem não gera efeitos

intrínsecos de comportamentos pró ambientais a longo prazo (GIFFORD, 2011).

Bermann (2002) expõe a necessidade de implementação de políticas

públicas que estabeleçam metas objetivas de redução do consumo de energia ao

grupo de indústrias exportadoras de produtos básicos de baixo valor agregado e

elevado conteúdo energético (celulose, papel, ferro, siderurgia, alumínio). Para ele é

preciso incentivar a modernização das plantas produtoras e o surgimento de

inovações que possam reduzir o consumo energético no processo produtivo.

Van Vugt e Samuelson (1999), sugerem as principais intervenções para o

gerenciamento de recursos bem-sucedido (figura 43):

Page 126: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

126

Figura 43 - Principais intervenções para o gerenciamento de recursos bem-sucedido

Foco de

Intervenção

Motivo Descrição Objetivo da

intervenção

Restrição

potencial

Informação Compreensão A necessidade de

entender o

ambiente físico e

social

Reduzir a

incerteza

ambiental e

social

Os problemas

ambientais

globais são

inerentemente

incertos

Identidade Senso de

Pertencimento

A necessidade de

uma identidade

social positiva

Melhorar e

ampliar o

senso de

comunidade

Concorrência de

recursos entre

comunidades

aumenta o uso

excessivo

Instituições Confiança A necessidade de

construir

relacionamentos

de confiança

Aumento da

aceitação de

regras e

instituições

comuns

As autoridades

nem sempre

são vistas como

legítimas e

justas

Incentivos Auto

Aprimoramento

A necessidade de

melhorar a si

mesmo e

aumentar os

recursos de uma

pessoa

Punir o uso

excessivo e

recompensar

o uso

responsável

Incentivos

econômicos

minam

motivações

intrínsecas para

conservar

Fonte: VAN VUGT; SAMUELSON, 1999

3.4. A HEURÍSTICA

As heurísticas fazem parte da inteligência inconsciente dos seres humanos,

e muitas vezes são referidas como “pressentimento, intuição ou palpite”

(GIGERENZER, 2009). Heurísticas referem-se a decisões que:

1. Surgem muito depressa na mente consciente das pessoas

Page 127: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

127

2. Cujas razões fundamentais não estão plenamente

acessíveis a essas mesmas mentes

3. São fortes o suficiente para motivar uma ação

Seus mecanismos lógicos de funcionamento consistem em métodos

empíricos simples, que tiram proveito de aptidões evolutivas do cérebro

(GIGERENZER, 2009).

Métodos empíricos se apoiam em experiências vividas, na observação de

coisas, na experiência e não em teorias e métodos científicos formais. Um método

empírico difere bastante de uma planilha de prós e contras: ele procura se ater a

informação mais relevante e ignorar o resto. Alguns exemplos de métodos empíricos

são: “começar pequeno”, “não colocar todos os ovos na mesma cesta” ou “pagar na

mesma moeda”.

O termo evolutivo não se refere a uma aptidão obtida exclusivamente pela

natureza ou pela cultura. Na verdade, a natureza dá ao ser humano um potencial, e a

prática ao longo do tempo a transforma numa capacidade. Sem aptidões evolutivas,

o método simples não daria conta do recado e as capacidades sozinhas também não

seriam suficientes para resolver o problema (GIGERENZER, 2009).

Como apontam os críticos e defensores, a economia neoclássica baseia-

se num modelo singular bem definido do comportamento humano. Este modelo de

custo-benefício pressupõe que os conjuntos de escolhas são pesquisados

exaustivamente, as escolhas alternativas são pontuadas em termos de benefícios e

custos e, finalmente, essas pontuações são integradas para determinar uma ação ou

decisão ótima, como se a inteligência fosse exclusivamente uma atividade consciente,

deliberada, guiada pelas leis da lógica e pressupõe que um problema complexo deve

sempre ser resolvido por uma estratégica complexa. Neste sentido, as estratégias ou

regras comportamentais que geram retornos sub ótimos geralmente tendem a

desaparecer sob pressão competitiva de agentes usando estratégias com ganhos

médios mais elevados.

Essa visão lógica parte do princípio segundo o qual a mente funciona como

uma calculadora, e ignora as aptidões evolutivas dos seres humanos, o que inclui as

capacidades cognitivas e o instinto social. Porém, essas capacidades estão ao seu

dispor e proporcionam soluções rápidas e simples para problemas complexos

(GIGERENZER, 2009).

Page 128: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

128

Heurísticas se baseiam em um volume pequeno de informações. Isso faz

com que não pareçam dignas de confiança aos olhos do superego, que internalizou a

crença de que mais é sempre melhor. Não obstante, experiências demonstram o fato

de que menos tempo e menos informação podem melhorar as decisões. “Menos é

mais” significa que existe uma determinada faixa de informação, de tempo ou de

alternativas na qual um volume menor é melhor. Não significa que menos é

necessariamente mais ao longo de toda a faixa. Normalmente, existe um nível

intermediário no qual as coisas funcionam melhor. Menos é mais contradiz algumas

crenças fundamentais na nossa cultura:

• Mais informação é sempre melhor

• Mais escolhas é sempre melhor

• Mais memória é sempre melhor

• Mais tempo é sempre melhor

Ao se considerar determinadas condições, como aptidões motoras

inconscientes, limitações cognitivas, o paradoxo da liberdade de escolha, os

benefícios da simplicidade e o custo da informação, menos pode, de fato, ser mais,

ou seja, um problema complexo não implica necessariamente em estratégias mentais

complexas (GIGERENZER, 2009).

É comum acreditar que, ao prever o futuro, deveria-se usar o máximo de

informação possível e alimentar com estes dados computadores sofisticados.

Todavia, em ambientes imprevisíveis, a simplicidade pode ser uma ferramenta muito

mais eficaz como uma adaptação à incerteza.

Resolver um problema por otimização, e não por método empírico, exige

tanto que exista uma solução ótima quanto que exista uma estratégia para encontrá-

la. Os computadores parecem a ferramenta ideal para encontrar a melhor solução

para um problema. Porém, paradoxalmente, o advento dos computadores de alto

desempenho mostrou que a melhor estratégia muitas vezes não pode ser encontrada

(GIGERENZER, 2009).

Num mundo incerto, uma estratégia complexa pode falhar exatamente

porque explica excessivamente o que já se sabe. No que diz respeito ao futuro,

apenas parte da informação tem algum valor e o importante é concentrar-se nesta

parte e ignorar o resto. A política adotada, e não a precisão, está em jogo.

Page 129: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

129

“A estratégia mais complexa é melhor que a simples quando

analisamos o passado, mas não para fazer previsões”

(GIGERENZER, 2009)

Especificamente, num ambiente ruidoso com informações limitadas à mão,

ou seja, onde prevalece a incerteza, um algoritmo de decisão complexo incorre em

erro na previsão devido a ser excessivamente sensível à variação nos dados. Uma

heurística simples incorre em erro na previsão devido a seu viés, mas é muito menos

sensível às flutuações no ambiente, o que pode torná-lo uma estratégia robusta e de

alto desempenho (ARTINGER et al., 2015).

Quanto mais ruído no ambiente, os modelos mais complexos com muitos

parâmetros livres tendem a se sobrecarregar, ou seja, refletir o ruído em uma amostra

específica. A simplicidade pode reduzir a sobrecarga e assim produzir estratégias de

decisão robustas. Modelos simples, como a heurística, podem, portanto, ser

superiores aos modelos mais complexos nas previsões sob incerteza.

Consequentemente, regras simples poderiam ser a maneira mais eficaz de lidar com

a incerteza da tomada de decisão (GALESIC; KAUSE; GAISSMAIER, 2016).

À primeira vista, considerar que um método de decisão simplificado e com

poucas informações pode ser mais preciso do que um método complexo e com vasta

base de dados pode parecer impossível. Para esclarecer essa afirmativa é necessário

discutir a natureza do erro estatístico. O erro é obtido pela soma do erro sistemático

(referente ao modelo utilizado), pela variância das informações obtidas e pelo erro

aleatório, conforme a seguinte equação: 𝐸𝑟𝑟𝑜 = 𝐸𝑟𝑟𝑜 𝑆𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚á𝑡𝑖𝑐𝑜 + 𝑉𝑎𝑟𝑖â𝑛𝑐𝑖𝑎 + 𝜀

(GEMAN; BIENENSTOCK; DOURSAT, 1992). Portanto, para diminuir o erro, é

necessário encontrar um equilíbrio entre o erro sistemático e a variância

(GIGERENZER; GAISSMAIER, 2011). Um modelo simples possui alto erro

sistemático e baixa variância; já em um modelo complexo, o contrário ocorre. Isso

quer dizer que, conforme novos dados são inclusos a um modelo, as suas variâncias

se adicionam ao erro total. A inclusão de variáveis pode diminuir o erro sistemático e

compensar o erro da variância. Se isso não acontecer, conforme se adicionam mais

variáveis, mais o modelo se torna mais complexo e menos preciso. Portanto, a

heurística além de poder ser mais eficiente (com baixo custo associado de tempo e

de processamento de dados, mas com resultados razoáveis), ela pode também ter

mais acurada.

Page 130: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

130

Como a busca de informações é geralmente cara, a otimização sob a teoria

de restrição, ou seja, procurar até que os custos marginais se igualem aos benefícios

marginais, pode renunciar a algumas das informações potencialmente disponíveis.

Resumidamente, as heurísticas podem ser entendidas como modelos de

comportamento individual baseados em plausibilidade psicológica e eficácia

ecológica, em vez de axiomas de consistência lógica da teoria econômica. A ideia é

entender que os limites cognitivos não são pura e simplesmente desvantagens, mas

podem conduzir a uma boa capacidade de avaliação (GIGERENZER, 2009). Porém,

é importante reconhecer que as heurísticas não são ferramentas para todos os fins,

mas estratégias que podem funcionar bem em ambientes específicos (ARTINGER et

al., 2015; EKONOMIPRISET, 2017).

A forma mais usual de se obter os dados empíricos sobre o uso de

heurísticas ocorre através de formulários (DUMMEL; RUMMEL; VOSS, 2016;

GOLDSTEIN; GIGERENZER, 2002; SCHEIBEHENNE; BRÖDER, 2007), apesar de

existirem outras formas como observação direta da ação (JOHNSON; GOLDSTEIN,

2003; PICHERT; KATSIKOPOULOS, 2008). A utilização de formulários pode levar à

confusão acerca da metodologia utilizada para a heurística, pois a utilização desse

instrumento pode fornecer a falsa ideia de que se trata de um levantamento, quando

o que é realizado é um estudo experimental.

Segundo a definição de Cook; Campbell e Shadish (2002), a pesquisa

experimental é aquela direcionada a encontrar as relações entre causas e efeitos,

através da variação daquelas e observação destes, de modo que o delineamento

deste estudo é experimental. Utilizando os termos de Oppenheim (2000), o método

desta pesquisa é categorizado como estudo analítico, sendo que as relações de causa

e efeito podem ocorrer por mais de um motivo. Neste estudo, o efeito procurado se

refere a um processo específico de tomada de decisão, a heurística. Portanto, é

necessário ter uma amostragem que permita um nível de significância razoável, dentro

dos métodos estatísticos adotados.

Neste estudo serão abordadas as heurísticas: (i) Padrão, “default”, (ii)

Equality rule (1/N), (iii) Opte pelo Melhor, “take-the-best” e (iv) Enquadramento,

“tallying”. Elas serão apresentadas a seguir.

Page 131: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

131

3.4.1. Default

A heurística “default” é utilizada quando a tomada de decisão é a de não

alterar o padrão que está posto, portanto, utilizar a máxima “se houver um padrão, não

faço nada sobre isso” (GIGERENZER; GAISSMAIER, 2011).

Apenas cerca de 12% dos alemães deram o consentimento legal para doar

seus órgãos quando morrem. Em contraste, no país vizinho, Áustria, mais de 99% são

doadores potenciais. Para explicar essa grande diferença nas taxas de consentimento

para a doação de órgãos, os cientistas sociais que usam o modelo padrão de tomada

de decisão em economia têm procurado diferenças nos benefícios e custos

esperados, ao mesmo tempo em que controlam a renda, a educação e a religião

(GIMBEL et al., 2003).

Modelos de regressão baseados na teoria custo-benefício, no entanto,

mostram pouca evidência de que grandes diferenças nas taxas de consentimento dos

dadores de órgãos reais estão ligadas aos benefícios e custos percebidos. Os críticos

tentaram explicar as diferenças de comportamento entre países em termos de cultura,

normas sociais e história. Mas estas diferenças, em sua maioria pequenas, entre a

Áustria e a Alemanha, parecem improváveis para explicar a grande lacuna nas taxas

de consentimento de seus doadores (TODD; GIGERENZER, 2012).

No entanto, Johnson e Goldstein (2003), identificaram uma importante

diferença institucional entre a Áustria e a Alemanha, que parece explicar as taxas de

consentimento diferentes muito melhor do que as abordagens econômicas,

sociológicas e históricas: diferentes padrões estabelecidos em lei no que diz respeito

ao estatuto de consentimento de doação de órgãos.

Em países presumidos como a Áustria, os indivíduos são, por nascimento,

considerados como potenciais dadores de órgãos, o que significa que há um

consentimento legal efetivo para que seus órgãos sejam colhidos após a morte para

serem transplantados para os vivos. Por outro lado, países com consentimento

explícito, como a Alemanha, usam o padrão oposto: nenhum órgão pode ser colhido

legalmente de entre os mortos, a menos que os indivíduos optem pelo status de

doador de órgãos dando seu consentimento explícito.

Seguindo essa ideia, por exemplo, os Países Baixos empreenderam uma

ampla campanha educacional que incluiu o envio de notificações em massa para mais

de 12 milhões de pessoas pedindo-lhes para registrar sua preferência de doação de

Page 132: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

132

órgãos. O resultado: as taxas de consentimento de doação não melhoraram

(JOHNSON; GOLDSTEIN, 2003). Consequentemente, as chamadas estão

aumentando para adotar o caminho mais simples e mais eficaz de seguir psicologia e

mudança de padrões como uma maneira de revisar os sistemas de saúde em

dificuldades.

Padrão é a condição que é imposta quando um indivíduo não toma uma

decisão (JOHNSON; GOLDSTEIN, 2003) ou a opção que os consumidores recebem

se não solicitarem explicitamente algo diferente (BROWN; KRISHNA, 2004). Muitos

estudos de tomada de decisão mostraram que os padrões tendem a "ficar", ou seja,

as pessoas não mudam para outra alternativa (SUNSTEIN; THALER, 2003). A

heurística padrão reduz os custos de decisão do tempo e da deliberação, que são

benefícios comuns da tomada de decisão rápida e frugal (GIGERENZER; TODD; ABC

RESEARCH GROUP, 1999).

A qualquer momento, a maioria das pessoas simplesmente não altera o

padrão (PICHERT; KATSIKOPOULOS, 2008). Efeitos por omissão também foram

encontrados na participação em planos de aposentadoria (CHOI et al., 2002), em

escolhas de seguros (JOHNSON et al., 1993), em pesquisa de consumo (BROWN;

KRISHNA, 2004) e em políticas de privacidade na Internet (JOHNSON; BELLMAN;

LOHSE, 2002).

Neste sentido, Pichert e Katsikopoulos (2008) também realizaram um

estudo que fornece um exemplo dessa heurística aplicada ao comportamento pró-

ambiental: um grupo dos indivíduos possuía como padrão a energia verde (renovável),

de modo que, caso alguém deste grupo quisesse alterar a fonte energética de sua

residência deveria solicitar a alteração para a energia cinza (não renovável). Outro

grupo estava em situação similar, mas a fonte padrão era de energia cinza. Os

resultados obtidos mostraram que, na maioria dos casos, os indivíduos

permaneceram na situação padrão nos dois grupos, o que indica que esta heurística

pode ser utilizada para promover o comportamento pró-ambiental.

As preferências sociais também podem ajudar a explicar por que as

pessoas seguem padrões. Por exemplo, se as pessoas percebem valor social ao

concordar com a ação da maioria ou se temem consequências sociais negativas ao

se comportarem fora da linha da maioria (ARIELY; LEVAV, 2000).

Ainda, parece racional interpretar o padrão como uma recomendação do

formulador de políticas, indicando o comportamento socialmente desejado

Page 133: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

133

(JOHNSON; GOLDSTEIN, 2003; MCKENZIE; LIERSCH; FINKELSTEIN, 2006). Da

mesma forma, quando uma empresa oferece um "produto padrão" (BROWN;

KRISHNA, 2004) como uma opção padrão, o cliente pode interpretar este produto

como aquele que é conhecido pela empresa para atender a maioria de seus clientes.

Em segundo lugar, é geralmente difícil para as pessoas fazerem concessões (IRWIN;

BARON, 2001) e conciliar objetivos conflitantes, como economizar dinheiro e

preservar o meio ambiente. Este ambiente que fura com o padrão parece permitir uma

decisão estressante e inábil (mesmo que não fazer nada é também uma decisão)

(PICHERT; KATSIKOPOULOS, 2008).

É importante salientar que, no caso da heurística padrão, é fácil perceber

que ela é bem adaptada a ambientes onde os designers institucionais (isto é, os

responsáveis pela escolha dos padrões) têm em mente os interesses dos usuários

padrão e comunicam suas recomendações por meio de sua escolha de opções

disponíveis padrão.

Finalmente, o caso da doação de órgãos também levanta a questão de que

deliberar sobre escolhas inerentemente desagradáveis, como a própria morte, podem

ser substancialmente evitadas ignorando o conjunto de opções completas e aceitando

padrões.

O ponto central é que a estrutura ambiental não é simplesmente uma

variável independente sobre a qual dependem os processos de decisão e seu

desempenho. Os próprios ambientes podem ser, e muitas vezes são, estruturados

ativamente, selecionados e intencionalmente projetados, tanto por humanos quanto

por animais (TODD; GIGERENZER, 2012).

3.4.2. Take-the-best

A heurística “take-the-best” foi a primeira a ser formalizada dentre as

heurísticas rápidas e frugais, que são as estratégias simples e rápidas, que existem

no repertório do tomador de decisão (REIMER; RIESKAMP, 2007). A heurística “take-

the-best” se inicia pela hierarquização de características que serão buscadas nas

alternativas, isto significa: primeiro se procurará todas as alternativas que possuem

determinada característica. As que possuem essa característica recebem o valor 1,

as que não possuem, recebem 0 e serão desconsideradas a partir disso; depois,

repete-se o procedimento para outra característica, e assim por diante até que sobre

Page 134: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

134

apenas uma alternativa. Portanto, essa é uma heurística que ocorre em três etapas

(GIGERENZER; GAISSMAIER, 2011):

i. Escolha as pistas em sua ordem de valor

ii. Pare de procurar quando uma alternativa possua maior valor do que as

demais

iii. Escolha a alternativa com maior valor

Essa heurística também pode ser caracterizada como lexicográfica. Por

exemplo, quando as informações são buscadas seguindo uma ordem, em que a

primeira possui maior valor do que a soma de todas as demais, o mesmo acontece

para a segunda e assim por diante (GIGERENZER; TODD; ABC RESEARCH

GROUP, 1999). Portanto, a rapidez está aliada a simplicidade: inicialmente busca-se

apenas a primeira alternativa, se essa busca já for suficiente para diferenciar todas as

alternativas a busca pode ser encerrada.

Um exemplo para ilustrar esta heurística pode ser a compra de um

computador. Há diversos fatores que guiam a compra: preço, velocidade do

processador, tamanho da tela, durabilidade, etc. Supondo que o comprador decide

que utilizará a heurística “take-the-best” para realizar sua compra, ele elege a

qualidade que lhe é mais importante: o preço. Então, este consumidor observa todos

os modelos a fim de encontrar o menor preço e pagar pelo produto mais barato. Se

houvesse um computador mais barato que os demais, ele o compraria. Entretanto,

para o exemplo posto, dois computadores possuíam o menor valor. Dessa forma, é

necessário escolher um novo atributo para decidir a compra, no caso, velocidade do

processador. O comprador, desta vez, não precisa pesquisar os vários modelos, mas

apenas decidir entre os dois de menor preço. E, um desses dois produtos possui

processador mais rápido que o outro, de modo que, este é o produto escolhido.

Outro exemplo do uso da heurística “take the best” foi avaliado por um

experimento realizado por Garcia-Retamero e Dhami (2009), o qual envolveu

criminosos condenados por roubo, policiais e estudantes de graduação. Este teste

consistia em oferecer diversas características de casas (possuir a caixa do correio

lotada, por exemplo) e os participantes ranqueavam os atributos em ordem de quão

determinante eles eram para que a casa fosse escolhida para ser roubada. Também

foi pedido que os participantes julgassem qual, entre duas casas, era mais propícia

de ser alvo de roubo, sendo que cada residência era descrita em função das

Page 135: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

135

características ranqueadas. Então era dito se uma casa tinha a caixa de correio lotada

e outra vazia, uma possuía alarme e outra não, etc. Dessa forma, foi possível observar

se a heurística “take-the-best” era utilizada. Os criminosos e policiais utilizaram mais

a estratégia “take-the-best”, enquanto os estudantes escolheram métodos

compensatórios.

3.4.3. Tallying

Utilizando do mesmo exemplo da heurística descrita anteriormente, a

compra de um computador, pode-se ilustrar a heurística ““tallying””. Supondo a

existência de outro comprador que não utilizará “take-the-best”, mas sim a “tallying”.

Ele começa por identificar quais atributos ele reconhece como importantes para um

computador. Ele decide quais são os bons atributos: custar menos do que R$6000,

possuir 3 entradas para pen drive e possuir webcam. Ao utilizar este método de

tomada de decisão, o usuário se distancia de diferenciar as qualidades. Para ele, os

três atributos são igualmente importantes. Agora, o consumidor busca cada produto

do mercado e atribui um valor ao produto. Um computador que possui apenas webcam

recebe a pontuação 1; outro que custa menos de R$6000 e possui 3 entradas para

pen drive recebe 1; aquele que só possui 3 entradas para pen drive recebe 1, e assim

por diante. Por fim, o consumidor encontra apenas um produto que possui as três

características quistas, portanto, recebe a pontuação 3, e como opção mais pontuada,

é escolhida.

Enquanto a simplicidade de “take-the-best” está em ignorar uma série de

características, a da heurística “tallying” está em não diferenciar o valor entre elas.

Dessa forma, a simplificação que ocorre nesta heurística é a padronização dos valores

de cada qualidade, seguindo as seguintes etapas (TODD; GIGERENZER, 2007):

i. Escolha quais características serão consideradas e para cada alternativa

pontue +1 se ela possuir a característica quista e 0 se não

ii. Após considerar as características pare a procura, se houver empate

volte à etapa anterior e adicione mais características. — Se não houver mais

características para serem consideradas, escolha aleatoriamente uma opção

iii. Escolha a alternativa com maior valor

Outro exemplo da heurística “tallying” é um experimento realizado por

Dummel, Rummel e Voss (2016). No caso foi observado que as pessoas não ignoram

facilmente informações quando as possuem, principalmente se aparecem todas ao

Page 136: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

136

mesmo tempo ao tomador de decisão. O experimento questionava os participantes

sobre responder entre dois insetos qual seria o mais venenoso. Na fase inicial, houve

um treinamento em que se pôde observar a influência de pistas (como tamanho de

patas, de antenas, tipo de corpo e presa) sobre o quão venenoso eram os insetos.

Então os participantes respondiam, observando a imagem de dois insetos, qual

possuía maior quantidade de veneno. Na etapa seguinte, foi posta a situação de dois

pacientes picados por insetos venenosos quererem o tratamento e se teria de decidir

qual receberia o tratamento primeiro, sendo que era possível obter a imagem das

patas, corpo, antena e presa, separadamente. Dessa forma, os autores puderam

medir a que a decisão tomada foi dada pela quantidade de pistas que os indivíduos

utilizavam.

3.4.4. Equality rule

Ponderar igual (1/N) significa distribuir recursos de forma igual entre

diferentes unidades.

Demiguel et al. (2009) investigaram o desempenho de uma série de

estratégias de seleção de carteira. Esta seleção foi testada com uma heurística

simples, 1 / N, onde todas as ações da carteira recebem uma parcela igual de

investimento. Eles concluíram que nenhum dos modelos sofisticados, realizados a

partir de otimização, que receberam 10 anos de dados de estoque para estimar

parâmetros, foram capazes de superar consistentemente 1 / N.

Observe que 1 / N tem viés, mas não tem variação, pois não requer

qualquer parâmetro a ser estimado. O dilema viés-variância é uma explicação

estatística geral de por que esta heurística pode ser melhor do que estratégias

complexas racionais. Em geral, as heurísticas simples tendem a ser superiores a

algoritmos complexos sob estas condições: maior incerteza preditiva, tamanho de

amostra relativamente pequeno e ambiente menos estável (ARTINGER et al., 2015).

Dentro do domínio gerencial, tal estratégia pode ser aplicada, por exemplo,

a um processo de produção colaborativo, se for difícil explicar a contribuição de um

indivíduo (MESSICK, 1999). Em vez disso, as partes envolvidas recebem o mesmo

pagamento, que muitas vezes é concebido como uma alocação justa. Como Konovsky

(2000) mostrou, a justiça percebida serve como uma heurística para julgar se as

solicitações de empresas colaboradoras ou as demandas de uma unidade

organizacional são legítimas ou não.

Page 137: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

137

Jones e Martens (2009) descobriram que a justiça distribucional percebida

é um importante determinante do comprometimento afetivo e da satisfação no

trabalho, contribuindo para o sucesso das empresas.

4. METODOLOGIA

Este capítulo apresenta como os conceitos expostos anteriormente foram

incorporados no desenvolvimento deste estudo. Aqui também estão incluídas as

justificativas das escolhas metodológicas realizadas e os procedimentos utilizados nas

quatro etapas da pesquisa. A primeira etapa consistiu em uma pesquisa exploratória

de modo que a pesquisa subsequente pode ser concebida com uma maior

compreensão e precisão. A segunda etapa consistiu na elaboração e aplicação online

de um questionário, com base em heurística, a especialistas em planejamento

energético. Depois disso, foi iniciada a terceira etapa, na qual as informações retiradas

do questionário juntamente com dados obtidos por meio de revisão bibliográfica

desenharam diretrizes para um plano de políticas públicas ambientalmente

responsável para o setor elétrico do país. Este plano foi apresentado pessoalmente a

um grupo seleto de especialistas em planejamento energético e discutido por eles,

não necessariamente os mesmos especialistas que participaram do questionário. A

quarta etapa consistiu na análise dos resultados e discussão de como a tomada de

decisão no setor elétrico brasileiro é tomada e perspectivas de como ela pode ser

melhorada.

A figura 44 a seguir revela o fluxograma da pesquisa:

Page 138: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

138

Figura 44 - Fluxograma da pesquisa

Como esta pesquisa envolveu seres humanos, por meio de questionários

e entrevistas, foi necessário enviá-la ao Comitê de Ética da Unicamp. O projeto foi

teve parecer aprovado sob a número 2.680.380.

4.1. PESQUISA EXPLORATÓRIA

Nesta fase, o problema foi identificado e explorado de maneira detalhada

por meio de pesquisa bibliográfica, de modo a definir os aspectos necessários para a

pesquisa a ser desenvolvida. Primeiro, fez-se compreensão e conscientização do

problema, e então iniciou-se a criação de hipóteses que poderiam resolver ou explicar

um questionamento. Esta estrutura fornece uma compreensão abrangente de um

certo campo de conhecimento (MAGALHÃES, 2018).

A metodologia consistiu nos seguintes passos: definição dos temas de

busca, definição das strings de busca, critérios de seleção das fontes de dados,

seleção dos artigos e síntese de dados. Ela é usualmente aplicada quando o tópico a

ser explorado é muito amplo ou quando existem poucas evidências no assunto a ser

explorado (KITCHENHAM, 2007), como é o caso deste estudo.

Primeiro fez-se uma conceituação dos temas a serem explorados, de modo

a abranger a maior quantidade de informação sobre a questão a ser pesquisada.

Então, foi-se em busca de fontes para estes temas. Para a definição dos termos de

busca, palavras-chave foram identificadas a partir da questão de pesquisa. Pesquisas

•Pesquisa Exploratória

1ª Etapa

•Construção e Aplicação dos Questionários

2ª Etapa•Elaboração das

Diretrizes do Plano de Políticas Públicas

•Entrevistas

3ª Etapa

•Análise dos Resultados para a

Discussão

4ª Etapa

Page 139: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

139

testes foram realizadas para identificar termos de busca alternativos e sinônimos.

Com relação à base de dados, considerou-se aquelas que são mais relevantes ao

campo de pesquisa em questão. Neste caso, as bases de dados das áreas de

planejamento energético e psicologia ambiental são as mais apropriadas a serem

exploradas. A fim de se obter uma perspectiva global no assunto, utilizou-se bases de

dados em inglês e português.

4.2. QUESTIONÁRIO

A construção do questionário foi feita com base na pesquisa exploratória

de heurística e planejamento elétrico. Sua elaboração e aplicação consistiram na

segunda etapa. O propósito desta etapa é entender e investigar, diante da diversidade

de fatores e do cenário de incerteza que regem o planejamento do setor elétrico

brasileiro, o processo cognitivo de tomada de decisão de implantação de uma fonte

elétrica por especialistas em planejamento elétrico brasileiros, e averiguar se eles

utilizam determinados mecanismos heurísticos nestes processos, como ilustra a figura

45 a seguir. Dados demográficos (idade, profissão, tempo de atuação na área, setor

(público/ privado) e renda) também foram coletados.

Figura 45 - Objetivo do questionário

As heurísticas avaliadas no questionário foram as descritas na figura 46.

Esperava-se que elas fossem capazes de determinar satisfatoriamente quais fatores

influenciam no processo decisório de tomada de decisão no setor elétrico do Brasil,

do ponto de vista de especialistas técnicos da área.

Diversidade de fatores

Cenário de incerteza

Qual o processo cognitivo de

tomada de decisão de implantação de uma fonte elétrica

por especialistas do setor elétrico?

Page 140: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

140

Figura 46 - Heurísticas Avaliadas nesta Pesquisa

Inicialmente, o questionário seria enviado online por completo, de uma só

vez, com cinco itens. Todavia, na última questão do mesmo, a quinta questão,

dependia das respostas da quarta questão, e não foi encontrado algum software que

conseguisse programar a questão cinco automaticamente com base na questão

quatro, já que aquela foi elaborada de forma personalizada para cada participante, de

acordo com explicações mais detalhadas a seguir. Então, o questionário foi enviado

em duas partes, em que a segunda parte era enviado no máximo 24 horas depois da

resposta recebida na primeira parte do questionário. A plataforma utilizada para envio

do questionário e recolhimento das respostas foi o Google® Forms.

Conforme expõe Weigold, Weigold e Russell (2013), os métodos de

aquisição de dados através de preenchimento de formulários com papel e caneta são

equivalentes aos métodos de preenchimento de formulários online. Além disso, as

pesquisas online se mostraram menos influenciadas pelo social desirability bias, cujo

efeito é o participante responder de forma menos honesta, a fim de exibir algum

atributo seu que seja bem visto pelos demais (DODOU; DE WINTER; 2014).

O primeiro item do questionário teve por objetivo avaliar o que o

especialista em planejamento elétrico entendia por “matriz sustentável”. Ele deveria

escolher entre três matrizes a mais sustentável ou “verde”. As opções eram Estados

•Determinação de que o valor da soma de características positivas é fator preponderante ao se tomar uma decisão

•Determinação de uma característica como preponderante ao se tomar uma decisão

•Não investir todos os recursos em um única oportunidade

•Seguir o padrão, o fluxo, o histórico ou a maioria

Default Equality rule

TalliyngTake the

best

Page 141: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

141

Unidos, Brasil e Alemanha. Claramente, a matriz americana é a menos “verde”, pois

mais de 60% de sua energia consumida em 2016 foi oriunda de fontes fósseis. A

dúvida provavelmente ocorreu entre as opções Brasil e Alemanha, já que o Brasil

possui participação de renováveis muito maior em sua matriz elétrica que a Alemanha.

Desta forma, era desejado perceber se os especialistas reconheciam os impactos

ambientais associados a hidrelétricas e também se eles consideravam a Alemanha

uma matriz mais limpa que o Brasil devido aos seus pesados investimentos em fontes

não convencionais nos últimos anos, apesar de ainda possuir forte participação de

fontes fósseis. Caso o especialista considerou os impactos associados a hidrelétricas

como muito relevantes, ele provavelmente marcou a opção correspondente a

Alemanha, ou caso ele considerou a remanescente presença de fontes fósseis na

matriz Alemã como muito relevante, marcou o Brasil como a opção mais “sustentável”.

1. Na sua opinião, qual das matrizes abaixo é a mais

sustentável, ou a mais “verde”?

a) EUA

b) Alemanha

c) Brasil

Figura 47 - Matrizes Elétricas EUA, Alemanha e Brasil

Fonte: adaptado de EPE (2017) e IEA (2017)

O segundo e o terceiro item apresentaram cenários para o entrevistado

tomar decisões em situações hipotéticas. Estes cenários foram propostos com base

em conceitos e experiências obtidos na revisão bibliográfica e avaliaram se houve

mudança de comportamento ou não na tomada de decisão quando expostos

Page 142: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

142

informações relativas potencial de mudanças climáticas de várias fontes elétricas.

Estas informações foram obtidas por meio da literatura acadêmica com artigos sobre

avaliação de ciclo de vida (ACV) de diferentes fontes elétricas.

ACV é uma importante ferramenta de avaliação ambiental que permite

considerar o desempenho ambiental de produtos ou processos. A abordagem

sistêmica da ACV é conhecida como do “berço ao túmulo”, na qual são levantados os

dados em todas as fases do ciclo de vida do produto ou processo. A metodologia da

ACV é essencialmente quantitativa: os resultados numéricos refletem as categorias

de impacto e permitem, inclusive, comparações entre produtos semelhantes. Com

relação a geração de energia elétrica, normalmente se avalia os impactos desde a

construção da planta geradora, dos equipamentos da planta, operação, transmissão

e até a sua desconstrução e disposição.

Atualmente é bastante grande o número de publicações internacionais

acerca da ACV, tratando de diversos aspectos da metodologia, de suas aplicações e

potenciais de uso, de suas qualidades e limitações, etc. Dentre suas aplicações estão:

o auxílio em decisões de como desenvolver, melhorar e produzir produtos; como

desenvolver políticas e estratégias governamentais; e como organizações não

governamentais (ONGs) podem promover orientações ambientalmente sensíveis

(UNEP, 1996).

A Europa é o continente em que se destaca o uso da ACV, devido às

políticas de sustentabilidade da União Europeia. De acordo com Del Borghi; Gallo e

Del Borghi (2009), várias atividades têm sido lançadas pela comissão europeia para

fortalecer o conceito do ciclo de vida (life cycle thinking) na política e nos negócios. As

prioridades têm sido na minimização do resíduo sólido, proteção do ambiente e saúde

humana.

O segundo item do questionário, exposto abaixo, foi construído a partir da

heurística “default” e avaliou a forma como o especialista dividiria uma quantidade de

dinheiro caso fosse responsável por aplicar investimentos em planejamento

energético no Brasil, após ter acesso aos resultados dos dados das ACVs. As opções

disponíveis são: Gás Natural, Hidrelétrica, Carvão, Demais Renováveis e Nuclear.

Caso ele distribuiu o dinheiro em porcentagens semelhantes a atual matriz energética

brasileira, seguiu o “default”. Caso agiu diferente, isso significou que a exposição das

informações relativas potencial de mudanças climáticas de várias das fontes elétricas

é um fator relevante na tomada de decisão do setor elétrico.

Page 143: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

143

2. Levando os dados afrente em consideração (figura 48), responda à seguinte

questão: O Brasil possui R$1 bilhão para investir em geração elétrica. Como você,

tomador de decisão do setor elétrico brasileiro, iria aplicar este investimento? (Cada

X representa 100 milhões)

100 mi

100 mi

100 mi

100 mi

100 mi

100 mi

100 mi

100 mi

100 mi

100 mi

Gás Natural

Hidrelétrica

Carvão

Demais renováveis

Nuclear

SOMA 1 bi

Figura 48 - Comparação relativas às potenciais mudanças climáticas de diferentes fontes de energia elétrica

Fontes: adaptado de POESCHL,WARD e OWENDE (2012); RAADAL et al. (2011) e

TURCONI, BOLDRIN e ASTRUP (2013)

0

200

400

600

800

1000

1200

g C

O2

-eq/

KW

h

Comparação das emissões de gases efeito estufa (GEE) obtidos por meio de análise de ciclo de vida de diferentes

fontes de energia elétrica

Page 144: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

144

O terceiro item, evidenciado abaixo, foi construído a partir da heurística

“equality rule” e teve por objetivo avaliar se o especialista tivesse que aplicar

investimentos em planejamento energético no Brasil, com apenas opções verdes

disponíveis – biogás, biomassa, eólica e solar - após ter acesso aos resultados dos

dados das ACVs, se ele iria dividir este investimento em partes iguais ou iria privilegiar

alguma fonte elétrica entre as disponíveis.

3. O Brasil possui R$ 400 milhões para investir em fontes não convencionais de

geração de energia elétrica. Como você, tomador de decisão do setor elétrico

brasileiro, iria aplicar este investimento? (Cada X representa 100 milhões):

100 mi 100 mi 100 mi 100 mi

Biogás

Biomassa

Fotovoltaica

Eólica

SOMA 400 mi

O quarto item, evidenciado abaixo, teve objetivo de elaborar um ranking

dos fatores relevantes na decisão de implementação de uma fonte elétrica para cada

participante, desde qual ele reconhecia como mais relevante até o fator menos

relevante. O ranqueamento foi realizado de modo que, em cada alternativa, quando o

participante escolhia um fator como mais relevante que o outro disponível, aquele

recebia 1 (um) ponto, enquanto este recebia 0 pontos. A partir de comparação de sete

fatores relevantes na implementação de uma fonte elétrica dois a dois, foi possível

obter uma pontuação de cada fator e assim elaborar um ranking de preferência. Esta

combinação gerou vinte e uma alternativas para escolha. A lista de fatores relevantes

na decisão de implantação de uma fonte elétrica disponíveis para optar eram:

estimular regiões pouco desenvolvidas no país, fatores técnicos na qualidade da

energia gerada pela fonte, tempo de construção até que a fonte gere energia,

durabilidade das instalações da fonte, (in)dependência de variações climáticas,

fatores financeiros e impactos ambientais.

Page 145: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

145

4. Marque um x no fator que você considera mais relevante na decisão de

implantação de uma fonte elétrica:

( ) Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte x ( ) (In)dependência de variações climáticas

( ) Fatores financeiros x ( ) Impactos ambientais

( ) Durabilidade das instalações da fonte x ( ) (In)dependência de variações climáticas

( ) Estimular regiões pouco desenvolvidas no país x ( ) Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte

( ) Durabilidade das instalações da fonte x ( ) Fatores financeiros

( ) Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte x ( ) Tempo de construção até que a fonte gere energia

( ) Estimular regiões pouco desenvolvidas no país x ( ) Tempo de construção até que a fonte gere energia

( ) Durabilidade das instalações da fonte x ( ) Impactos ambientais

( ) Estimular regiões pouco desenvolvidas no país x ( ) Durabilidade das instalações da fonte

( ) Tempo de construção até que a fonte gere energia x ( ) Impactos ambientais

( ) Tempo de construção até que a fonte gere energia x ( ) Durabilidade das instalações da fonte

( ) Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte x ( ) Durabilidade das instalações da fonte

( ) Estimular regiões pouco desenvolvidas no país x ( ) Impactos ambientais

( ) Tempo de construção até que a fonte gere energia x ( ) (In)dependência de variações climáticas

( ) Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte x ( ) Fatores financeiros

( ) (In)dependência de variações climáticas x ( ) Impactos ambientais

( ) (In)dependência de variações climáticas x ( ) Fatores financeiros

( ) Tempo de construção até que a fonte gere energia x ( ) Fatores financeiros

( ) Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte x

Page 146: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

146

( ) Impactos ambientais

( ) Estimular regiões pouco desenvolvidas no país x ( ) (In)dependência de variações climáticas

( ) Estimular regiões pouco desenvolvidas no país x ( ) Fatores financeiros

Cada ranking poderia gerar uma lista de preferência de 1 a 7, caso não

houvesse empate na pontuação dos fatores. Porém, houve casos em que duas

alternativas ou mais receberam a mesma pontuação. Então, era gerado uma lista de

preferência de 1 a 6, caso dois fatores tivessem a mesma pontuação, 1 a 5, caso dois

fatores tivessem a mesma pontuação e outros dois tivessem outra pontuação igual;

ou 1 a 5, caso três fatores tivessem a mesma pontuação, ou até mesmo 1 a 3, caso

três fatores tivessem a mesma pontuação e outros três tivessem outra pontuação

igual, etc. Ou seja, havia muitas opções de rankings possíveis, como ilustrado na

figura 49 a seguir.

Figura 49 - Algumas possibilidades de rankings possíveis para exemplificar

1 Durabilidade das Instalações na

Fonte

1 Durabilidade das Instalações na

Fonte

1 Durabilidade das Instalações na

Fonte

2 Fatores Financeiros 2

Fatores Financeiros

2

Fatores Financeiros

3 Tempo de Construção

Tempo de Construção

Tempo de Construção

4

Fatores Técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte

3

Fatores Técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte

Fatores Técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte

5 Impactos Ambientais

4

Impactos Ambientais

3

Impactos Ambientais

6 (In)dependência de Variações Climáticas

(In)dependência de Variações Climáticas

(In)dependência de Variações Climáticas

7 Estimular Regiões Pouco Desenvolvidas

5 Estimular Regiões Pouco Desenvolvidas

Estimular Regiões Pouco Desenvolvidas

Feito isso, no quinto item do questionário, enviado no máximo 24 horas

após o recebimento das respostas da primeira parte do questionário, o objetivo era

comparar fatores relevantes para o especialista e descobrir se ele utilizava a heurística

“take the best” ou a “tallying” na tomada de decisão de investimento. Por exemplo,

supondo que o ranking de fatores relevantes de um especialista seja (figura 50):

Page 147: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

147

Figura 50 - Ranking exemplificativo

1 Impactos Ambientais

2 Estimular Regiões Pouco Desenvolvidas

3 (In)dependência de Variações Climáticas

4 Tempo de Construção

5 Fatores Técnicos na Qualidade da Energia Gerada pela Fonte

6 Durabilidade das Instalações na Fonte

7 Fatores Financeiros

Então, o quinto item solicitava ao especialista que ele optasse por escolher

entre uma alternativa que tivesse um fator mais relevante versus outra que tivesse

dois fatores menos relevantes para ele, por exemplo, como ilustra a figura 51 a seguir,

que detalha as alternativas que o participante tinha que responder. Portanto, o quinto

item do questionário era personalizado para cada participante, para se adequar ao

que cada um julgava como mais ou menos relevante na tomada de decisão de

implantação de uma fonte elétrica.

Caso o ranking variasse de 1 a 7, havia mais de cem alternativas possíveis

para avaliar o uso das duas heurísticas, uma quantidade inviável para o participante

responder, com relação ao tempo de preenchimento do questionário, além de ser

desnecessário e cansativo. Então, optou-se por apresentar trinta alternativas para

avaliar a preferência heurística do participante, e duas alternativas para conferir se o

participante realmente estava respondendo de forma honesta, seguindo tendências

da literatura internacional sobre heurística (DUMMEL; RUMMEL; VOSS, 2016;

GOLDSTEIN; GIGERENZER, 2002; RICHTER; SPÄTH, 2006). As duas alternativas

para avaliar a possibilidade de os respondentes não possuírem honestidade suficiente

eram a 5 e a 28, como se vê abaixo na figura 51. Estas duas alternativas testavam se

os participantes reafirmavam a ordem de relevância estabelecida no item quatro.

Desta forma, se o mesmo optasse por uma alternativa que contivesse um fator menos

relevante que o apresentado na outra alternativa, provavelmente ele não estava

respondendo de forma honesta, ou seja, era uma resposta auto incriminadora,

conforme indica Oppenheim (2000).

Page 148: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

148

Figura 51 - Alternativas do item 5 caso o ranking variasse de 1 a 7

Alternativa Classificação versus classificação no ranking do item 4

1 1 2,3

2 1 3,4

3 1 2,5

4 1 3,7

5 2 6

6 2 3,4

7 2 4,5

8 5 6,7

9 1 6,7

10 2 6,7

11 3 3,7

12 1 2,3,4

13 1 2,5,7

14 1 3,4,5

15 2 3,4,5

16 2 5,6,7

17 4 5,6,7

18 1 5,6,7

19 1 2,3,4,5

20 2 3,4,5,6

21 1 4,5,6,7

22 3 4,5,6,7

23 1,2 3,4,5

24 1,2 5,6,7

25 2,3 5,6,7

26 1 2,3,4,5,6

27 1 3,4,5,6,7

28 1 7

29 1,2 3,4,5,6

30 1,2,3 4,5,6,7

31 1,2 3,4,5,6,7

32 1 2,3,4,5,6,7

Esta estrutura de alternativas possibilitou analisar diversas variações, mas

sempre comparando duas alternativas. Em algumas perguntas, uma alternativa

possuía um fator mais relevante e a outra duas menos relevantes, em outras uma

alternativa possuía um fator mais relevante e a outra três menos relevantes, e em

outras situações uma alternativa possuía dois fatores mais relevantes versus outra

que possuía três menos relevantes, por exemplo. A situação que se manteve em todas

Page 149: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

149

as perguntas era: a alternativa que possuía fatores mais relevantes, para o

respondente, possuía sempre menos fatores que a outra alternativa. Portanto, se o

participante julgasse a opção com menos fatores como mais preferível, esta resposta

estaria condizente com a heurística Take-the-Best, do contrário, de acordo com

Tallying.

Para exemplificar, segue o quinto item de um participante cujo ranking

correspondeu à figura 50:

5. Escolha a alternativa que você considera mais relevante na decisão de

implantação de uma fonte elétrica:

Figura 52 - Exemplo item 5

1 ( ) Impactos Ambientais x ( ) Estimular regiões pouco desenvolvidas no país e (In)dependência de variações climáticas

2 ( ) Impactos Ambientais x ( ) (In)dependência de variações climáticas e Tempo de construção até que a fonte gere energia

3 ( ) Impactos Ambientais x ( ) Estimular regiões pouco desenvolvidas no país e Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte

4 ( ) Impactos Ambientais x ( ) (In)dependência de variações climáticas e Fatores financeiros

5 ( ) Estimular regiões

pouco desenvolvidas no país x

( ) Durabilidade das instalações da fonte

6 ( ) Estimular regiões

pouco desenvolvidas no país x

( ) (In)dependência de variações climáticas e Tempo de construção até que a fonte gere energia

7 ( ) Estimular regiões

pouco desenvolvidas no país x

( ) Tempo de construção até que a fonte gere energia e Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte

8 ( ) Fatores técnicos na

qualidade da energia gerada pela fonte x

( ) Durabilidade das instalações da fonte e Fatores financeiros

9 ( ) Impactos Ambientais x ( ) Durabilidade das instalações da fonte e Fatores financeiros

10 ( ) Estimular regiões

pouco desenvolvidas no país x

( ) Durabilidade das instalações da fonte e Fatores financeiros

11 ( ) (In)dependência de variações climáticas x

( ) Tempo de construção até que a fonte gere energia e Fatores financeiros

12 ( ) Impactos Ambientais x

( ) Estimular regiões pouco desenvolvidas no país, (In)dependência de variações climáticas e Tempo de construção até que a fonte gere energia

Page 150: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

150

13 ( ) Impactos Ambientais x ( ) Estimular regiões pouco desenvolvidas no país, Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte e Fatores financeiros

14 ( ) Impactos Ambientais x

( ) (In)dependência de variações climáticas, Tempo de construção até que a fonte gere energia e Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte

15 ( ) Estimular regiões

pouco desenvolvidas no país x

( ) (In)dependência de variações climáticas, Tempo de construção até que a fonte gere energia e Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte

16 ( ) Estimular regiões

pouco desenvolvidas no país x

( ) Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte, Durabilidade das instalações da fonte e Fatores financeiros

17 ( ) Tempo de construção

até que a fonte gere energia x

( ) Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte, Durabilidade das instalações da fonte e Fatores financeiros

18 ( ) Impactos Ambientais x ( ) Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte, Durabilidade das instalações da fonte e Fatores financeiros

19 ( ) Impactos Ambientais x

( ) Estimular regiões pouco desenvolvidas no país, (In)dependência de variações climáticas, Tempo de construção até que a fonte gere energia e Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte

20 ( ) Estimular regiões

pouco desenvolvidas no país x

( ) (In)dependência de variações climáticas, Tempo de construção até que a fonte gere energia, Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte e Durabilidade das instalações da fonte

21 ( ) Impactos Ambientais x

( ) Tempo de construção até que a fonte gere energia, Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte, Durabilidade das instalações da fonte e Fatores financeiros

22 ( ) (In)dependência de variações climáticas x

( ) Tempo de construção até que a fonte gere energia, Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte, Durabilidade das instalações da fonte e Fatores financeiros

23 ( ) Impactos Ambientais e

Estimular regiões pouco desenvolvidas no país x

( ) (In)dependência de variações climáticas, Tempo de construção até que a fonte gere e Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte

24 ( ) Impactos Ambientais e

Estimular regiões pouco desenvolvidas no país x

( ) Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte, Durabilidade das instalações da fonte e Fatores financeiros

25

( ) Estimular regiões pouco desenvolvidas no

país e (In)dependência de variações climáticas x

( ) Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte, Durabilidade das instalações da fonte e Fatores financeiros

Page 151: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

151

26

( ) Estimular regiões pouco desenvolvidas no

país e (In)dependência de variações climáticas x

( ) Tempo de construção até que a fonte gere energia, Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte e Durabilidade das instalações da fonte

27 ( ) Impactos Ambientais x

( ) (In)dependência de variações climáticas, Tempo de construção até que a fonte gere energia, Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte, Durabilidade das instalações da fonte e Fatores financeiros

28 ( ) Impactos Ambientais x ( ) Fatores financeiros

29 Impactos Ambientais e

Estimular regiões pouco desenvolvidas no país x

( ) (In)dependência de variações climáticas, Tempo de construção até que a fonte gere energia, Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte e Durabilidade das instalações da fonte

30

( ) Impactos Ambientais, Estimular regiões pouco desenvolvidas no país e

(In)dependência de variações climáticas x

( ) Tempo de construção até que a fonte gere energia, Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte, Durabilidade das instalações da fonte e Fatores financeiros

31 ( ) Impactos Ambientais e

Estimular regiões pouco desenvolvidas no país x

( ) (In)dependência de variações climáticas, Tempo de construção até que a fonte gere energia, Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte, Durabilidade das instalações da fonte e Fatores financeiros

32 ( ) Impactos Ambientais x

( ) Estimular regiões pouco desenvolvidas no país, (In)dependência de variações climáticas, Tempo de construção até que a fonte gere energia, Fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte, Durabilidade das instalações da fonte e Fatores financeiros

A responsabilidade ambiental dos especialistas em planejamento elétrico

do país foi avaliada de duas formas nesta etapa: uma por meio da posição “questões

ambientais” no ranking de fatores relevantes na decisão de implementar uma fonte

elétrica, e outra por meio da por meio da análise da mudança de comportamento do

especialista em relação ao “default” quando são expostas as emissões de gases

potencialmente causadores de mudanças climáticas encontrados na literatura.

Após a qualificação estes questionários foram aplicados online via e-mail

de forma a obter um número mínimo de 100 participantes. O público alvo foi

estudantes de pós-graduação, professores, pesquisadores e profissionais da área de

planejamento energético. As declarações extraídas foram analisadas

estatisticamente.

Page 152: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

152

Inicialmente, foi analisado se as distribuições de resultados coletados eram

paramétricas ou não. Uma distribuição não paramétrica ocorre quando os dados

obtidos não seguem um ou mais dos três seguintes critérios (LEVIN; 2012).

(i) possuem intervalos contínuos e iguais;

(ii) possuem distribuição normal;

(iii) variância homogênea

Então todos os itens foram submetidos ao teste Anderson-Darling, que é

um teste que indica se a distribuição é ou não é paramétrica. Este teste mede o quão

bem os dados seguem uma distribuição específica. Ele se baseia na área entre a linha

ajustada (que se baseia na distribuição normal) e os pontos do gráfico, que

corresponde a uma distância ao quadrado. Um valor pequeno indica que a distribuição

se ajusta melhor aos dados. Para esse e para os outros testes, o Software utilizado

para os cálculos foi o Minitab ®. As técnicas não paramétricas são capazes de assumir

poucas suposições sobre a distribuição de probabilidade da população no qual retira-

se os dados.

Além desse teste de normalidade, foram conduzidos testes de Teste de

Qui-Quadrado para análise de relacionamento entre variáveis e observação de

tendência e o cálculo de alfa de Cronbach para análise de consistência interna. O

nível de significância (α) adotado é 0,05. Não foram conduzidos testes de diferença

entre médias, já que se considerou que isso não era uma questão relevante para este

caso de estudo.

O Teste de Qui-Quadrado (X²) mede associação ou relacionamento

entre variáveis. Esse teste permite descobrir se um conjunto de frequências

observadas difere de um outro conjunto de frequências esperadas. É um teste de

hipóteses que se destina a encontrar um valor da dispersão para duas variáveis

categóricas nominais e avaliar a associação existente entre variáveis qualitativas.

É um teste não paramétrico, ou seja, não depende de parâmetros

populacionais (média e variância). O valor de X² ao nível de significância 𝛼 é

denominado qui quadrado crítico ou tabelado. Quando o valor do qui-quadrado excede

o valor de um qui-quadrado crítico, se obtém a verificação de uma tendência a certo

nível de significância, cujo valor adotado é de 0,05. Portanto, para uma hipótese nula

ser descartada, a probabilidade de significância (valor-p) precisa ser menor do que

0,05. Esse teste possui a equação descrita abaixo:

Page 153: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

153

A variável Vcj representa o valor observado, ou seja, a quantidade de

respostas condizentes ou não condizentes com a heurística investigada. Vej

representa o valor esperado, portanto, metade das respostas possíveis. A letra n

representa o número de opções de possibilidades de respostas e, j se refere a cada

uma das respostas possíveis, em todos os casos j=1, 2. Pela adoção de Vej como

metade das respostas possíveis, o que o teste de qui-quadrado observa quanto existe

a tendência da maioria das respostas serem de acordo com a heurística. Assim,

quando maior o valor de Χ², maior a possibilidade de as hipóteses serem sustentadas.

O alfa de Cronbach é uma técnica comumente utilizada de confiabilidade e

medida da consistência interna de uma escala para um conjunto de dois ou mais

indicadores de construto (BLAND; ALTMAN, 1997). Para utilizar esta técnica, o

questionário deve estar dividido e agrupado em dimensões (construtos). Essas

dimensões devem agrupar questões que tratam de um mesmo aspecto. Neste

sentido, o único item em que o alfa de Cronbach se aplica é o 5, já que apenas ele

tem várias questões agrupadas de um mesmo aspecto.

A confiabilidade do coeficiente alfa de Cronbach normalmente varia entre 0

e 1 (GLIEM; GLIEM, 2003). O valor mínimo aceitável para o alfa é 0,70. A consistência

interna dos itens da escala é considerada baixa para valores abaixo desse limite.

Freitas e Rodrigues (2005), sugerem a classificação da confiabilidade do

coeficiente alfa de Cronbach de acordo com os seguintes limites:

A. α ≤ 0,30 – Muito baixa

B. 0,30 < α ≤ 0,60 - Baixa

C. 0,60 < α ≤ 0,75 - Moderada

D. 0,75 < α ≤ 0,90 – Alta

E. α > 0,90 – Muito Alta

4.3. ENTREVISTAS

A pesquisa de opinião é uma importante ferramenta na estratégia de

conhecer aspectos determinantes dos entrevistados, como suas especificidades,

necessidades e o nível de satisfação diante da situação analisada. Em contrapartida,

Page 154: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

154

a pesquisa de opinião reflete uma situação específica, identificada em cada intervalo

de tempo, ou seja, os resultados de uma pesquisa de opinião estão restritos ao tempo

no qual ela foi coletada, e representa uma fotografia de uma situação, em certo

momento (SILVA, 2010).

O entrevistador precisa ser neutro durante a discussão para que suas

intervenções não direcionem os participantes a chegarem a um consenso ilegítimo,

mas que a participação permita as pessoas colocarem novas questões (DIAS, 2000).

Esta etapa possui como características: amostra pequena, muitas

informações por entrevistado, entrevistadores e entrevistados habilidosos,

necessidade de equipamentos auxiliares, como gravadores, etc.

As entrevistas desta pesquisa não se fundamentaram em uma alternação

de perguntas e resposta entre os participantes, mas sim na exposição dos

documentos com o estímulo à discussão com o foco de gerar diretrizes para um plano

de políticas públicas.

As sugestões de diretrizes para um plano de políticas públicas

ambientalmente responsável para o setor elétrico do país foram desenhadas com

base nos resultados do questionário, na literatura acadêmica e nas críticas obtidas na

qualificação desta pesquisa.

Já na qualificação, um plano inicial teórico obtido por meio da literatura

acadêmica já havia sido apresentado como resultado preliminar. Ele foi construído

com base na teoria de barreiras e benefícios de Schultz (2014). A ideia era propor

intervenções para cada barreira atualmente encontrada no setor elétrico brasileiro.

Tanto as barreiras quanto às intervenções foram obtidas com base na revisão

bibliográfica e estão incluídas no texto desta pesquisa.

De acordo com Schultz (2014), para desenvolver um programa de políticas

públicas, primeiramente é necessário identificar as barreiras e os benefícios

associados a ação que se deseja alterar. O programa tem como ênfase

desenvolvimento de intervenções que diminuem diretamente as barreiras e aumentam

os benefícios associados ao comportamento alvo.

Barreiras referem-se a qualquer coisa que reduza a probabilidade de se

engajar no comportamento alvo e benefícios referem-se às crenças de uma pessoa

sobre os resultados positivos associados ao comportamento. Isso pode incluir

economizar dinheiro, proteger o meio ambiente ou receber reconhecimento social.

Page 155: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

155

De acordo com Osbaldiston & Schott (2012), há uma série de estratégias

que demonstraram produzir mudanças significativas no comportamento: alertas,

termos de compromisso, feedbacks, normas sociais, incentivos, entre outros,

demonstraram promover efetivamente medidas de mudanças - pelo menos em alguns

contextos, para alguns comportamentos e para alguns indivíduos.

Todavia, de acordo com Schultz (2014), diferentes tipos de pessoas

respondem de maneira diferente a diferentes tipos de mensagens. Cada estratégia de

mudança de comportamento tem um conjunto de condições de contorno sob as quais

é maximamente eficaz e nenhuma mensagem ou elemento destaca-se como melhor,

nem funcionará o tempo todo. O importante é combinar a ferramenta com o público e

o comportamento. Por isso, construiu-se o questionário visando os vários entes

envolvidos nas barreiras e várias ferramentas de intervenção, de forma a abordar

vários contextos, na tentativa de tornar o atual estado do planejamento elétrico do

Brasil mais ambientalmente responsável.

As intervenções foram selecionadas de acordo com as condições de

contorno (domínio da barreira e ente diretamente envolvido). Na construção, manteve-

se a preocupação em formular intervenções que tenham alto potencial de impacto e

que podem significativamente afetar a qualidade ambiental, além de também tentar

desenvolver ações específicas, como recomendado por Schultz e Kaiser (2012). Os

domínios explorados nas diretrizes foram os ilustrados pela figura 53:

Page 156: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

156

Figura 53 - Domínios explorados nas diretrizes

Desta forma, as sugestões de diretrizes para um plano de políticas públicas

foram concebidas da seguinte forma:

1. Mapeou-se todas as barreiras em relação ao uso mais responsável da

energia elétrica encontrados na revisão bibliográfica aplicáveis ao caso brasileiro, e

as possíveis intervenções para cada um deles.

2. Identificou-se as barreiras por letras e as separou por domínios: matriz

verde (MV), geração distribuída (GD), eficiência energética (EE) e mudança de

comportamento (MC). Também se identificou o principal ente envolvido nesta barreira:

próprio governo (GOV), empresas públicas do setor elétrico (EMP) ou os

consumidores finais (CON).

3. Identificou-se as possíveis intervenções por números e correlacionou-se

com o papel que o governo exerce ao possivelmente exercer esta intervenção. Os

papeis que o governo pode exercer ao promover uma intervenção são: empresário

(EP), agente regulador (AR), incentivador (IC), investidor (IV), planejador (PL) e

exemplo (EX).

Matriz

Verde

Eficiência Energética

Geração Distribuída

Mudança de Comportamento

Page 157: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

157

No plano prévio apresentado na qualificação havia 27 barreiras e 115

intervenções. De acordo com a banca, quase todas as barreiras e intervenções

propostas eram relevantes e válidas. Todavia, sua análise demandaria tempo

demasiado do entrevistado, o que seria inviável para o público alvo proposto. Desta

forma, sugeriu-se que se resumisse as intervenções propostas, e que se fizesse

possíveis agrupamentos.

Estas sugestões, juntamente com os resultados dos questionários,

possibilitaram uma reformulação no plano inicial de forma a atingir as metas e os

objetivos da pesquisa, que serão avaliados na discussão. Como recomendado por

Dias (2000), os tópicos foram elaborados de modo que houvesse organização e

clareza na exposição das barreiras e intervenções, e que possibilitam a formação de

um raciocínio lógico, com uma evolução na dimensão do assunto, na profundidade e

na especificidade. Desta forma, as sugestões de diretrizes apresentadas consistiram

em 16 barreiras e 23 intervenções, apresentadas nos quadros das figuras 54 e 55

abaixo.

Page 158: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

158

Figura 54 – Quadro Barreiras

Ente

diretamente envolvido

Domínio da Barreira

Barreiras do Setor Elétrico Brasileiro

Barreira

Governo (GOV) /

Consumidor (CON) /

Empresas Setor

Elétrico (EMP)

Matriz Verde (MV) / Geração

Distribuída (GD)/ Eficiência Energética (EE) / Mudança de

Comportamento (MC)

Descrição

A GOV MV Leilões de energia que privilegiam determinadas fontes de energia elétrica

B GOV MV

Problemas técnicos na qualidade da energia decorrentes de aumento na quantidade de energia gerada por fontes não convencionais (geração de harmônicos e variações de tensão)

C GOV MV Garantir suprimento a demanda tendo em vista a inserção de fontes intermitentes e a diversidade hidrológica do país

D GOV GD Programas insuficientes de geração distribuída por fontes renováveis

E GOV EE

Programas insuficientes de eficiência energética, por exemplo: - Grande parte dos equipamentos (refrigeradores e ar condicionado) já se encontram nas faixas superiores de desempenho (Selo A Procel) - Atual etiquetagem é limitada a equipamentos de uso doméstico ou comercial

F GOV MC Excessiva centralização pelo governo federal na atuação de políticas públicas para o setor elétrico brasileiro.

G GOV MC País é um grande produtor de produtos intensivos no uso de energia

H EMP EE Empresas estatais do setor elétrico ineficientes

I EMP EE Dimensões continentais do país e a grande infraestrutura de transmissão e conexão necessária

J EMP EE Processos industriais e centrais de cogeração de bioeletricidade de baixa eficiência

K EMP MC Lucros das concessionárias elétricas proporcionais às vendas

Page 159: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

159

L CON MV Baixa disposição pelo consumidor a pagar um valor maior pela energia limpa

M CON GD Falta de conhecimento tecnológico sobre geração distribuída

N CON GD

Alto custo dos equipamentos de geração distribuída e alto tempo de retorno dos investimentos relacionados a produção de energia limpa, principalmente nos setores não eletrointensivos

O CON GD Falta de local adequado para instalar equipamentos de geração distribuída

P CON MC

- Falta de informação para a população em geral sobre questões relacionadas ao uso de energia elétrica e seus impactos - A energia é "invisível" e os impactos associados ao seu uso e consumo muitas vezes são esquecidos; - A origem e a quantidade de energia que a maioria das pessoas utiliza não é uma questão relevante para elas (normas socias)

Figura 55 – Quadro Intervenções

Inte

rvençã

o

Papel do governo

nesta Intervenção

Descrição

Empresário (EP)/ Agente

Regulador (AR)/

Incentivador (IC)/

Investidor (IV)/ Planejador

(PL)/ Exemplo (EX)

1 EX Não levar em conta interesses pessoais ou fatores políticos na decisão de implementação de uma fonte elétrica

2 IV Levar em conta a dimensão ambiental na decisão de implementação de uma fonte elétrica

3 PL Planejamento para a indústria de gás natural integrado com o planejamento do setor elétrico nos médio e longo prazos no país

4 AR

Criação de uma agência executiva, vinculada ao MME, que gerencia programas relacionados à eficiência energética e ao fomento da produção de energia por fontes não convencionais, tal qual existe na maioria dos países da União Europeia

Page 160: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

160

5 AR Aperfeiçoar os instrumentos regulatórios e tributários da geração distribuída

6 EX Aprimorar a capacidade das agências reguladoras em implementar políticas e planos do governo previstos na legislação vigente

7 IC

Incentivos ao desenvolvimento de geração distribuída e eficiência energética: - Incentivos a atuação de Escos - Incentivos a atuação de modelos de condomínio - Concessão de créditos fiscais ou empréstimos a juros atrativos, garantindo a recuperação do capital investido em prazos razoáveis - Criação de fundos para fomentar políticas de eficiência energética e geração distribuída por fontes renováveis - Programas e mecanismos de incentivo a pesquisa - Iniciativas para destaque de produtos energeticamente eficientes - Incentivar o desenvolvimento da cadeia produtiva das indústrias de biogás, biomassa, solar fotovoltaica e eólica no país (fontes renováveis não convencionais)

8 IC Promover a capacitação de recursos humanos para a geração distribuída

9 PL

Reavaliações periódicas da garantia física das usinas, levando em conta equipamentos deteriorados, assoreamento de reservatórios, qualidade de informações relativas às vazões, etc, no intuito de fazer uma revisão nos padrões de segurança do suprimento adotados pelo ONS nos seus despachos de carga

10 IV

Preparar a estrutura e o corpo técnico das concessionárias para aumentar a capacidade de resolver problemas técnicos na qualidade da energia decorrentes do aumento da geração por fontes não convencionais

11 EP

- Aprimorar a capacidade das agências reguladoras em garantir a evolução tecnológica na prestação do serviço durante os períodos de concessão das empresas do setor elétrico, mantendo equilíbrio ambiental, econômico e financeiro; - Monitoramento detalhado dos custos destas empresas, com prazos e responsabilidades bem delineadas

12 IC

- Incentivo a implantação de geração distribuída levando em conta o desenvolvimento econômico e o clima nos municípios; - Fomento a atuação complementar deles na implantação de políticas públicas para o uso responsável de energia elétrica

13 IC

- Aprimoramento das normas mínimas de ventilação e iluminação que promovam eficiência energética para novas construções por meio de código de obras; - Criação de programas de consultoria local que buscam ganhos de eficiência energética em edifícios;

Page 161: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

161

14 AR

- Estabelecer padrões para novos grupos de eletrodomésticos; aprimorar os padrões e metas dos produtos existentes, e atualizá-los periodicamente; - Estabelecer níveis máximos de consumo específico de energia, ou mínimos de eficiência energética, de máquinas e aparelhos consumidores de energia elétrica, fabricados ou comercializados no país, com base em indicadores técnicos pertinentes, possibilitando inclusive a eliminação de equipamentos ineficientes do mercado

15 EX Inserir requisitos de eficiência energética nas políticas de aquisição do setor público

16 IC Publicação de tabelas de desempenho mensais mostrando o progresso em direção às próprias metas governamentais

17 IV Reduzir os impostos dos produtos que consomem menos energia em relação àqueles mais ineficientes, podendo-se, inclusive, aumentar as alíquotas destes

18 IC Apoio aos gestores da eficiência energética nos parques empresariais

19 IC

Acordos de responsabilidade convidando empresas e outras organizações a assumirem compromissos públicos para reduzir o uso de energia e às emissões associadas a elas em quantidade e data determinadas e incentivos a companhias que têm conseguido cumprir as metas estipuladas nesses acordos, na forma descontos no imposto, por exemplo

20 IC Busca por sinergias entre agroindústrias e órgãos governamentais para promover aproveitamento eficiente da cogeração;

21 AR

- Estabelecimento de metas objetivas de redução do consumo de energia ao grupo de indústrias exportadoras de produtos básicos de baixo valor agregado e elevado conteúdo energético (celulose, papel, ferro, siderurgia, alumínio) - Incentivo financeiro a modernização das plantas produtoras e o surgimento de inovações que possam reduzir o consumo energético no processo produtivo. - Limitação da instalação e operação de novas indústrias de indústrias deste tipo

22 IC Incentivar a instalação de medidores de consumo de energia (feedbacks) em tempo real e em local apropriado nas residências e indústrias

23 IC

Promoção de educação ambiental nas escolas e a disseminação de informações e campanhas sobre o uso responsável de energia elétrica nas instituições em geral, de modo a não considerar apenas questões financeiras, mas, também atributos tais como a baixa emissão de carbono e de gases poluentes e outros benefícios ambientais

É importante ressaltar que política pública é uma atividade direta ou

indiretamente desenvolvida pelo Estado, e que estimula a mudança de

Page 162: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

162

comportamento de um segmento, o qual pode ser o próprio governo ou outro

(empresas do setor elétrico ou consumidores finais, por exemplo) ou vários

segmentos. Por isso o nome do campo é “ente diretamente envolvido” porque

dificilmente uma intervenção atingirá apenas um segmento, mas geralmente haverá

um segmento alvo para que ela seja eficaz.

Nesta ação executada pelo governo, ele irá exercer algum papel, como já

explicado anteriormente. Todavia, esta ação pode desempenhar mais de um papel.

Porém, na organização da tabela optou-se por identificar o principal papel exercido na

execução daquela intervenção. Situação semelhante ocorre com a escolha do

domínio de uma barreira, já que muitas vezes uma barreira encaixa-se em mais de

um domínio. Contudo, optou-se por identificar um domínio principal daquela barreira.

A participação dos selecionados foi voluntária. Eles correspondem a um

grupo seleto de tomadores de decisão em planejamento energético, e a maioria deles

foi indicado pela própria banca de qualificação, e representam a elite dos tomadores

de decisão de planejamento elétrico no Brasil. Neste caso é amostra não é aleatória,

mas sim formada por especialistas, de forma que as conclusões sejam maximamente

técnicas e minimamente políticas, de modo a tentar garantir que a política

governamental seja a mais eficaz possível em motivar o uso mais responsável de

energia elétrica.

Os encontros foram marcados da seguinte forma: localizou-se os

especialistas em planejamento elétrico indicados (20) e registrou-se seus nomes,

telefones e e-mails. Fez-se um primeiro contato por e-mail com e explicação sucinta

da pesquisa qualitativa (apêndice 2) e fazendo o convite de entrevista, presencial

(desde que fosse no estado de São Paulo (devido a limitações financeiras)) ou online

por Skype®. Ainda, mostrou-se a disposição para eventuais esclarecimentos e

posicionamento da eventual participação na pesquisa. Aos que concordaram em

participar (10), enviou-se um convite oficial e solicitou-se horários alternativos para a

entrevista. Então, fez-se um email de confirmação da participação e do horário para

cada entrevista.

Nos encontros, alguns presenciais e outros online via Skype®, cada

participante foi recebido cordialmente, e foi retomada uma sucinta explicação da

pesquisa, o roteiro e duração esperada da entrevista, deixando claro que aquelas

informações apresentadas tinham sido retiradas da literatura acadêmica e

experiências internacionais.

Page 163: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

163

Também se esclareceu que existia um conhecimento existente da parte do

pesquisador, mas que seria necessário o processo de observação da discussão para

adquirir mais informações, ou seja, que não se buscava encontrar um consenso, mas

sim que as divergências eram importantes. Ainda foi explicitado aspectos de direitos,

sigilo, privacidade, confidencialidade e dignidade sob os quais esta pesquisa está

subordinada.

As diretrizes para um plano de políticas públicas ambientalmente

responsável para o setor elétrico do país foram apresentadas e cada item foi avaliado

e discutido. Foi solicitado a cada especialista que ele analisasse se alguma barreira

ou intervenção proposta era irreal ou insensata, além de que sugerisse outras

barreiras e intervenções caso achasse necessário e conveniente, e também que ele

fizesse críticas à forma de apresentação e conteúdo das diretrizes.

Teve-se o cuidado de não permitir que o foco da discussão se iniciasse

precocemente, para que durante o acompanhamento formal não houvesse

esgotamento da discussão. A duração dos encontros foi ente 60 e 90 minutos.

Tanto nas entrevistas presenciais quanto nas online o ambiente estava

tranquilo, confortável, sem estímulos que pudessem fazer com que a atenção dos

participantes se desviasse. Assim, foi possível criar conceitos, hipóteses e estimular

o pensamento do pesquisador e do pesquisado. Este ambiente proporcionou

liberdade para que houvesse uma discussão fértil.

Estas entrevistas tiveram por objetivo a análise qualitativa das atitudes,

sentimentos, motivações. Ou seja, apresentaram um elevado grau de subjetividade e

foram sujeitas à necessidade de interpretações de seu resultado. As diretrizes do

plano fizeram o entrevistado pensar e responder sobre diversos aspectos, o que gerou

discussão e considerações importantes.

Page 164: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

164

5. RESULTADOS

Os resultados obtidos estão separados por capítulos: pesquisa

exploratória, questionários e entrevistas, os quais encontram-se a seguir.

5.1. PESQUISA EXPLORATÓRIA

Primeiro fez-se uma conceituação dos temas a serem explorados, de modo

a abranger a maior quantidade de informação sobre a questão a ser pesquisada, de

forma que a pesquisa subsequente pode ser concebida com uma maior compreensão

e precisão do problema analisado. Os resultados desta etapa foram explicitados na

revisão bibliográfica. Os temas identificados a serem explorados foram:

• Diferentes fontes de energia elétrica

• Panorama brasileiro da produção de energia elétrica

• Responsabilidade ambiental no planejamento elétrico

• Heurística

Os temas foram revisados bibliograficamente por meio de publicações

oficiais de órgãos governamentais e também por meio de buscas em bases de dados

acadêmicas. Para isso, utilizou-se palavras chave para encontrar artigos e livros

científicos por meio da ferramenta Google® Scholar, que possui acesso às principais

bases de dados já reconhecidas no meio acadêmico, tais como: Web Of Science,

Scopus, ProQuest Dissertations & Theses Global, Compendex, Science Direct e Sciel,

entre outras. Além da busca pelas palavras chave na ferramenta em português e

inglês, selecionando os resultados mais recentes encontrados, procurou-se também

pelos seus sinônimos. Além disso, foi feita busca por referências dos próprios artigos

encontrados para complementar a revisão.

Apesar de a amostra desta pesquisa ser composta por especialistas em

planejamento elétrico, este estudo não pretende ser útil apenas a este setor, mas sim

a qualquer cidadão interessado no assunto. Por isso, introduziu-se o tema “diferentes

fontes de energia elétrica”, de modo a identificar as vantagens e desvantagens de

cada fonte de energia elétrica produzida de forma representativa no Brasil, para que

o leitor consiga conhecer mais do assunto estudado e desta forma obter opinião sobre

ele. Desta forma, as informações apresentadas foram escritas no intuito de subsidiar

e de esclarecer tomadores de decisão, membros da academia, organizações

ambientais, ou quaisquer outros setores da sociedade com interesse na questão da

Page 165: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

165

energia elétrica no Brasil, caracterizando as principais fontes de energia elétrica

atualmente utilizadas no país.

Dentro deste tema, optou-se por aprofundar os esclarecimentos acerca da

fonte hidrelétrica, devido a esta fonte ser tão predominante na matriz energética

brasileira. Então, fez-se uma busca aprofundada sobre as emissões associadas a

hidrelétricas e também sobre a construção da última grande hidrelétrica, Belo Monte.

Com relação às emissões associadas a hidrelétricas, as principais palavras chave

utilizadas na busca foram “greenhouse gases emissions” e “hydro power”, de forma

cumulativa. Com relação à Belo Monte, o estudo baseou-se em apresentações e

documentos publicadas pela Norte Energia, concessionária da Usina, principalmente

os Relatórios de Monitoramento Socioambiental para o BNDES, elaborados pela

consultoria JGP.

O panorama brasileiro da produção de energia elétrica é um assunto muito

amplo, que possui muitas abordagens. As informações apresentadas na revisão

bibliográfica foram retiradas principalmente dos dados apresentados pela Empresa de

Pesquisas Energéticas (EPE), vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, por meio de

seus Balanços Energéticos Anuais (BENs). O BEN é o documento oficial emitido pelo

governo federal que apresenta a contabilização relativa à oferta e ao consumo de

energia no Brasil, contemplando as atividades de extração de recursos energéticos

primários, sua conversão em formas secundárias, importação e exportação, a

distribuição e o uso final da energia. O BEN é fruto de extensa pesquisa, constituindo-

se como base de dados ampla e sistematizada, atualizada em ciclos anuais. De suma

importância para os estudos relacionados ao planejamento energético nacional, o

BEN também tem se mostrado como importante instrumento de pesquisa para

estudos setoriais. O documento é tido como referência para os dados de energia do

país (EPE, 2018). Dentro deste capítulo explorou-se o tema planejamento e gestão

do setor elétrico brasileiro. Buscou-se analisar, histórica e atualmente, como ocorre a

tomada de decisão de implantação de fontes elétricas no Brasil e os agentes

envolvidos. As principais referências utilizadas foram fontes oficiais governamentais,

como publicações da EPE, MME, ANEEL, ABRADEE, entre outras.

No capítulo responsabilidade ambiental no planejamento elétrico, buscou-

se evidenciar como a criação de um ambiente favorável à geração responsável de

energia elétrica pode ser viável e vantajosa para os entes e as atuais políticas públicas

para setor elétrico no país. Ainda, foi apresentado exemplos de políticas públicas bem-

Page 166: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

166

sucedidas para a produção e consumo de energia elétrica em outros países, com o

objetivo de demonstrar como a experiência internacional vem conduzindo a questão

da redução do consumo de energia elétrica e sua produção mais limpa.

Ainda neste capítulo apresentou-se o tema “Comportamento Pró-

Ambiental”. A fundamentação teórica baseou-se principalmente na teoria de Schultz

((Schultz; Kaiser, 2012; Schultz, 2014). Entretanto, também se buscou

especificadamente artigos que exploram a promoção de comportamento pró-

ambiental em relação a energia elétrica existentes na literatura. Ao procurar por

“energy saving”, basicamente os resultados se multiplicam em “economia da energia”

(como ciência econômica) e gestão da energia, mostrando que esta palavra chave

não era ideal no contexto explorado. Então, a solução foi adotar na busca os termos

“energy saving” e “pro environmental behaviour”. Desta forma, encontrou-se alguns

documentos explorando este tema, que foram explicitados na revisão bibliográfica.

Pela forma que a busca de artigos foi feita, percebeu-se que, não só no Brasil, mas

como no mundo, as pesquisas na área de Psicologia Ambiental, ou mais precisamente

Comportamento Pró-Ambiental – economia de energia – são poucas. A maioria dos

artigos são provenientes de países da Europa Ocidental ou da América do Norte, onde

o ambiente físico, cultural, social e econômico é muito diferente do Brasil, e onde, por

exemplo, questões ambientais fazem parte da agenda educativa e política ao longo

de décadas.

Todos estes temas pesquisados evidenciaram a complexidade de fatores

que regem o planejamento energético do país e também os problemas e desafios da

atual configuração do setor elétrico brasileiro. Desta forma, eles foram fundamentais

para a conscientização do problema estudado.

A princípio, as referências para entender o tema heurística foram retiradas

principalmente dos livros e artigos publicados por Gigerenzer. Então, iniciou-se a

busca pelas palavras chave “heuristics”, “public policies”, “energy” e “decision making”,

de forma combinada. Os artigos mais relevantes sobre o tema encontrados estão

ilustrados pela tabela 4:

Page 167: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

167

Tabela 4 - Artigos selecionados

Art

igos S

ele

cio

nad

os

Título Autores Ano de Publicação

Periódico Número de Citações

When should we use simple decision models? A synthesis of various research strands

Katsikopoulos, K. V.; Durbach, I. N.; Stewart, T. J.

2017 Omega 1

Heuristics as adaptive decision strategies in management.

Artinger, F; Petersen, M., Gigerenzer, G., Weibler, J.

2015 Journal of Organizational Behavior

59

The dragons of inaction: psychological barriers that limit climate change mitigation and adaptation

Gifford, R. 2011 American Psychologist

747

Making energy conservation the norm. People-centered initiatives for increasing energy savings

Schultz, P. W. 2010

People-centered initiatives for increasing energy savings

31

Green defaults: Information presentation and pro-environmental behaviour.

Pichert, D.; Katsikopoulos, K. V.

2008 Journal of Environmental Psychology

296

Normative beliefs as agents of influence: Basic processes and real-world applications.

Schultz, P. W.; Tabanico, J.; Rendón, T.

2008 Attitudes and attitude change

58

Heuristics made easy: An effort-reduction framework.

Shah, A. K.; Oppenheimer, D. M.

2008 Psychological bulletin

642

Simple heuristics that make us smart.

Gigerenzer, G.; Todd, P. M.

1999 Evolution and Cognition

5880

5.2. QUESTIONÁRIOS

Os dados desta pesquisa foram coletados através de experimentos online,

durante agosto de 2018 até dezembro de 2018, com especialistas em planejamento

elétrico de todo o Brasil. Para os resultados não possuírem enviesamento, os

participantes foram selecionados aleatoriamente. O contato com os participantes deu-

se através de e-mail. A obtenção dos e-mails foi realizada através de busca em sites

Page 168: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

168

de empresas do setor elétrico e sites de departamentos de pós-graduação ou grupos

de estudo de planejamento elétrico de universidades de todo o Brasil. A partir da lista

de contatos, foi enviado e-mails apresentando sucintamente a pesquisa, a descrição

de que o participante tinha sido escolhido aleatoriamente por ser um profissional de

planejamento do setor elétrico brasileiro, que a o questionário seria enviado em duas

partes, que o tempo de preenchimento seria de aproximadamente de 10 minutos cada

parte, que caso ele aceitasse em participar da pesquisa as informações prestadas

estariam sob sigilo e o nome dele não seria citado, e que a pesquisa tinha o parecer

do Comitê de Ética da Unicamp (o número do parecer é 89306518.2.0000.8142).

Ainda, o email ressaltava a importância da participação do mesmo na pesquisa,

afirmava que caso o especialista decidisse por participar ele estaria contribuindo para

o entendimento do processo cognitivo de tomada de decisão de fontes elétricas no

Brasil e para políticas públicas do setor elétrico brasileiro, e que ele representava

outras pessoas que pensam semelhantemente a ele. Para iniciar o preenchimento do

formulário, o especialista necessariamente tinha que ler e concordar com o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

Os participantes foram voluntários, maiores de 18 anos, de ambos os

gêneros, que concordaram com os termos do TCLE, disponível no apêndice 1. A

primeira parte do questionário foi enviada e reenviada a cerca 670 pessoas, as quais

113 responderam. A segunda parte do questionário só foi enviada a quem respondeu

à primeira parte. O índice de respostas da segunda parte foi 70%. Dos 113, foram

excluídos alguns questionários por serem respondidos por algumas profissões não

claramente ligadas a planejamento energético (biólogo, arquiteto, técnico em saúde)

e outras porque o respondente possuía menos de 2 anos de atuação no setor elétrico,

desta forma ele não foi considerado especialista. Desta forma, o total de formulários

válidos na primeira parte do questionário foi 101, e na segunda parte foi 70. A

caracterização socio demográfica dos participantes do experimento está exposta nas

figuras 56,57,58,59 e 60 adiante.

Page 169: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

169

Figura 56 - Idade do participante

Figura 57 - Tempo de atuação do participante com planejamento elétrico

11

29

18

23

19

0

5

10

15

20

25

30

Menos de 30anos

Entre 30 e40 anos

Entre 40 e50 anos

Entre 50 e60 anos

Mais de 60anos

Núm

ero

de P

art

icip

ante

s

17

25

16

42

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Entre 3 e 5anos

5 e 10 anos 10 e 20 anos Há mais de 20anos

mer

o d

e Pa

rtic

ipan

tes

Page 170: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

170

Figura 58 - Setor em que o participante atua

Figura 59 - Profissão do participante

74

18

8

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Público Privado Ambos

mer

o d

e Pa

rtic

ipan

tes

14

41

54

0

10

20

30

40

50

60

Economista Consultores Engenheiros Pesquisadores

mer

o d

e Pa

rtic

ipan

tes

Page 171: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

171

Figura 60 - Renda mensal do participante

Portanto, pode-se dizer que a moda que caracteriza o perfil do

participante do questionário é um especialista que tem entre 30 e 40 anos de idade,

que atua no setor elétrico há mais de 20 anos no setor público como pesquisador e

recebe entre 10 e 20 salários mínimos por mês. Vale dizer que, venturosamente,

houve pesquisadores de universidades de todas as regiões do Brasil: UFTPR, USP,

UNIFEI, UNICAMP, UNESP, UFSM, UFSC, UFRJ, UFRGS, UFPR, UFPI, UFPA,

UFMG, UFC, UNICAMP, IFTO, IFRS, FURG, FACENS, FGV, entre outras instituições.

Hipóteses

Esta seção introduz as hipóteses da pesquisa sobre a heurística aplicada

a tomada de decisão de implantação de uma fonte elétrica no Brasil. O presente

estudo foca a problemática ambiental da geração e consumo de eletricidade no país

e as possibilidades de medidas públicas que fomentem a geração mais limpa e o

consumo consciente da energia elétrica.

O objetivo aqui é obter entendimento do processo cognitivo de tomada de

decisão de implantação de uma fonte elétrica no Brasil por especialistas em

planejamento elétrico, uma vez que a identificação das fontes, suas vantagens e

desvantagens requer conhecimento específico e as alternativas não são conhecidas

por todos. Neste sentido, analisou-se as possibilidades de decisão sobre o tema e fez-

se hipóteses para sustentar os objetivos da pesquisa. As descrições de cada hipótese

estão postas sequencialmente abaixo.

3

16

21

45

15

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Menos de 2SaláriosMínimos

Entre 2 e 5SaláriosMínimos

Entre 5 e 10SaláriosMínimos

Entre 10 e 20SaláriosMínimos

Mais de 20SaláriosMínimos

mer

o d

e Pa

rtic

ipan

tes

Page 172: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

172

Como mostrado na revisão bibliográfica, a construção de grandes usinas

hidrelétricas, interligações regionais e parque gerador termelétrico em regime

operativo complementar foram as soluções até então aqui adotadas para mitigar a

incerteza e a sazonalidade hidrológica. Com isso, o país recebe o título de país com

maior porcentagem de fontes renováveis do mundo, o que gera uma sensação de

favorável e de destaque em relação ao mundo no que se refere “energia limpa” na

matriz elétrica brasileira. Todavia, o Brasil só possui esta posição se a energia

hidrelétrica for considerada uma energia limpa, e isso é questionável de acordo com

alguns autores.

Como mostrado na revisão bibliográfica, apesar da participação da fonte

hidrelétrica vir diminuindo nos últimos anos, a mesma sempre foi e permanece

fundamental no fornecimento de energia do país, sendo responsável por cerca de 65%

da produção nacional atualmente. Neste sentido, seguindo o exemplo de Pichert e

Katsikopoulos (2008), entre outros, deseja-se verificar se os especialistas brasileiros

utilizam a heurística default como método de tomada de decisão de investimentos em

fonte elétricas no Brasil. Então, estipulou-se que caso ele decida que mais de 50%

dos investimentos devam ir para esta fonte, o especialista utiliza a heurística avaliada,

caso contrário, não.

Nesta hipótese deseja-se avaliar se o montante de investimento disponível

para fontes renováveis não convencionais é distribuído igualmente entre as mesmas

ou se há preferência por alguma(s). Seguindo o exemplo de Demiguel et al. (2009),

Hipótese A (item 1) – Se o Brasil for considerado a matriz mais sustentável ou

“verde”, com relação aos EUA e Alemanha, os especialistas brasileiros não

reconhecem os impactos ambientais associados a hidrelétricas como muito

relevantes e consideram-se numa situação favorável e de destaque em relação ao

mundo com relação a matriz elétrica.

Hipótese B (item 2) – Se mais de cinquenta por cento (50%) dos investimentos

disponíveis forem para a implementação de fontes hidrelétricas no Brasil, então a

tomada de decisão de implantação de uma fonte elétrica no Brasil utiliza a

heurística default.

Hipótese C (item 3) – Se a distribuição dos investimentos em fontes não

convencionais renováveis for uniforme, então a tomada de decisão de implantação

de uma fonte elétrica no Brasil utiliza a heurística equality rule (1/N).

Page 173: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

173

caso os investimentos sejam realizados de forma igualmente distribuída, isso significa

que a heurística equality rule é um método de tomada de decisão de investimentos

em fonte elétricas no Brasil.

O resultado do experimento 1 de Dummel, Rummel e Voss (2016) mostrou

que a utilização de uma única informação para tomada decisão foi mais utilizada do

que a consideração de outros dados. Portanto, se investigará, para a tomada de

decisão de investimentos em fontes elétricas no Brasil, se o mesmo pode ser

observado.

Itens

Os resultados do item 1 sustentam a hipótese A, a qual afirma que se o

Brasil for considerado a matriz mais sustentável ou “verde”, com relação aos EUA e

Alemanha, os especialistas brasileiros não reconhecem os impactos ambientais

associados a hidrelétricas como muito relevantes e consideram-se numa situação

favorável e de destaque em relação ao mundo com relação a matriz elétrica. Das 101

respostas obtidas, 94 (93,07%) consideraram o Brasil como a matriz elétrica mais

sustentável ou verde. Na figura 61, é comparado o total de respostas condizentes com

a hipótese A:

Figura 61 - Matriz elétrica mais sustentável ou verde

Portanto, 0 (zero) participantes consideraram os EUA como matriz mais

sustentável ou verde, 7 participantes consideraram a Alemanha e 94 participantes

07

94

0

20

40

60

80

100

EUA Alemanha Brasil

Núm

ero

de P

art

icip

ante

sHipótese D (item 5) – Se houver uma fonte elétrica com um fator característico

mais relevante na tomada de decisão de investimento em geração elétrica, então

esta opção é preferível do que uma fonte elétrica que tenha mais fatores

característicos, porém menos relevantes.

Page 174: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

174

consideraram o Brasil. O χ² obtido foi de 80,66 e o χ²crítico é de 5,99, para 2 graus de

liberdade e α = 0,05. Portanto, o χ² obtido excede o valor crítico.

Isto significa que apesar dos altos investimento da Alemanha em fontes

limpas e renováveis nos últimos anos, o fato de ainda possuir grande participação de

fontes fósseis em sua matriz não caracteriza a matriz alemã como mais verde ou

sustentável que a brasileira para os especialistas em planejamento elétrico do Brasil

e também que os especialistas em planejamento elétrico não reconhecem com tanta

relevância os impactos ambientais associados a hidrelétricas.

Os resultados do item 2 não sustentam a hipótese B, a qual supõe que se

mais de cinquenta por cento (50%) dos investimentos disponíveis forem para a

implementação de fontes hidrelétricas no Brasil, então a tomada de decisão de

implantação de uma fonte elétrica no Brasil utiliza a heurística default. Dos 101

questionários respondidos, apenas 13 optaram por investir mais de 50% dos

investimentos disponíveis na fonte hidrelétrica.

A normalidade dos dados foi verificada através do Teste Anderson Darling,

e a estatística AD obtida foi AD= 1,833. Portanto, para um nível de significância de

0,05, os dados não possuem uma distribuição normal, ou seja, a distribuição dos

dados é não paramétrica.

A distribuição dos investimentos pelos especialistas é ilustrada abaixo pela

figura 62. É possível perceber que a moda que caracteriza o investimento dos

especialistas em hidrelétrica é 30%. A fonte que frequentemente recebe mais de 50%

dos investimentos é a “demais renováveis”.

Page 175: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

175

Figura 62 - Item 2 - Quantidade de participantes que investiram em cada fonte

De forma resumida, a distribuição dos investimentos do item 2 pelos

especialistas pode ser representada pela figura 63, que revela o total acumulado dos

investimentos do item 2. Seguindo este raciocínio, o perfil de investimento do

especialista em planejamento elétrico no Brasil é:

a) Gás Natural: 13,17%

b) Hidrelétrica: 26,44%

c) Carvão: 1,88%

d) Demais Renováveis: 50,10%

e) Nuclear: 8,12%

59

17

13

9

2

1

2

4

6

11

17

26

14

9

4

8

88

8

4

1

13

11

22

27

15

9

2

2

41

20

17

15

6

2

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

R$0,00

R$100.000,00

R$200.000,00

R$300.000,00

R$400.000,00

R$500.000,00

R$600.000,00

R$700.000,00

R$800.000,00

R$900.000,00

R$1.000.000,00

Gás Natural Hidrelétrica Carvão Demais Renováveis Nuclear

Page 176: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

176

Figura 63 - Item 2 - Total acumulado dos investimentos

A forma como se aplicou o Teste de Qui-Quadrado foi por respondente, ao

invés de um teste para a somatória das respostas. A figura 64 abaixo exibe o

resultado, e cada coluna representa o valor de Qui-Quadrado obtido por cada

participante. A linha horizontal do gráfico marca o limite para o nível de significância

0,05 e 4 graus de liberdade.

Figura 64 - Item 2 - Teste qui quadrado por participante

R$0,00

R$20.000.000,00

R$40.000.000,00

R$60.000.000,00

R$80.000.000,00

R$100.000.000,00

1 5 9

13

17

21

25

29

33

37

41

45

49

53

57

61

65

69

73

77

81

85

89

93

97

10

1

Tota

l Acu

mu

lad

o d

os

Inve

stim

ento

s

Participantes

Gás Natural (13,19%) Hidrelétrica (26,49%) Carvão (1,88%) Demais Renováveis (50,20%) Nuclear (8,23%)

0

20

40

60

80

100

120

1 4 7

10

13

16

19

22

25

28

31

34

37

40

43

46

49

52

55

58

61

64

67

70

73

76

79

82

85

88

91

94

97

10

0

Participantes

X² X²crit

Page 177: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

177

Na realização deste teste, comparou-se a distribuição de investimento de

cada participante com a média dos investimentos do país nos últimos anos, o que é

considerado o default. As barras da esquerda são daqueles participantes que

tenderam a investir o montante disponível semelhante a matriz elétrica brasileira dos

últimos anos, e as colunas da direita o contrário. Como é possível perceber, poucas

colunas excedem o limite X²crit. Isto significa que a heurística default não pode ser

considerada como ferramenta de tomada de decisão de investimentos em fontes

elétricas por especialistas em planejamento elétrico no Brasil.

Os resultados do item 3 sustentam a hipótese C, a qual supõe que se a

distribuição dos investimentos em fontes não convencionais renováveis for uniforme,

ou seja, igualmente distribuída, então a tomada de decisão de implantação de uma

fonte elétrica no Brasil utiliza a heurística equality rule (1/N). A distribuição dos

investimentos pelos especialistas é ilustrada abaixo, na figura 65.

Figura 65 - Item 3 - Quantidade de participantes que investiram em cada fonte

A normalidade dos dados foi verificada através do Teste Anderson Darling,

e a estatística AD obtida foi AD= 1,782. Portanto, para um nível de significância de

0,05, os dados não possuem uma distribuição normal nem uma distribuição

paramétrica.

A princípio, parece que os investimentos não são realizados de forma

uniforme, conforme pode ser observado pela figura 66 abaixo, que revela o total

62

35

4

28

57

16

12

46

40

2

1

10

53

32

5

1

0 10 20 30 40 50 60 70

R$0,00

R$100.000,00

R$200.000,00

R$300.000,00

R$400.000,00

Eólica Fotovoltaica Biomassa Biogás

Page 178: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

178

acumulado dos investimentos do item 3. Seguindo este raciocínio, o perfil de

investimento do especialista em planejamento elétrico no Brasil em fontes renováveis

não convencionais é:

a) Biogás: 10,64%

b) Biomassa: 22,03%

c) Fotovoltaica: 33,66%

d) Eólica: 33,66%

Figura 66 - Item 3 - Total Acumulado dos Investimentos

Todavia, no caso de as fontes biomassa e biogás serem agrupadas dentro

da categoria bioenergia, o total acumulado dos investimentos pode ser representado

pela figura 67 abaixo:

R$0,00

R$5.000.000,00

R$10.000.000,00

R$15.000.000,00

R$20.000.000,00

R$25.000.000,00

R$30.000.000,00

R$35.000.000,00

R$40.000.000,00

1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 77 81 85 89 93 97 101

Participantes

Biogás (10,64%) Biomassa (22,03%) Fotovoltaica (33,66%) Eólica (33,66%)

Page 179: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

179

Figura 67 - Item 3 - Total acumulado dos investimentos com agrupamento de bioenergia

Portanto, analisando segundo este agrupamento, o perfil de investimento

do especialista em planejamento elétrico no Brasil em fontes renováveis não

convencionais é quase igualmente distribuído:

a) Bioenergia: 32,68%

b) Fotovoltaica: 33,66%

c) Eólica: 33,66%

A forma como se aplicou o Teste de Qui-Quadrado foi por respondente,

como no item 2. A figura 68 abaixo exibe o resultado, e cada coluna representa o valor

de Qui-Quadrado obtido por cada participante. A linha horizontal do gráfico marca o

limite para o nível de significância 0,05 e 3 graus de liberdade.

R$0,00

R$5.000.000,00

R$10.000.000,00

R$15.000.000,00

R$20.000.000,00

R$25.000.000,00

R$30.000.000,00

R$35.000.000,00

R$40.000.000,00

1 5 9

13

17

21

25

29

33

37

41

45

49

53

57

61

65

69

73

77

81

85

89

93

97

10

1

Participantes

Bioenergia (Biogás e Biomassa) (32,68%) Fotovoltaica (33,66%) Eólica (33,66%)

Page 180: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

180

Figura 68 - Item 3 - Teste qui quadrado por participante com agrupamento

Como é possível perceber, a maioria das colunas excedem o limite X²crit,

ou seja, possuem p<0,05. Isto demonstra uma possibilidade de a heurística equality

rule ser considerada como ferramenta de tomada de decisão de investimentos em

fontes elétricas por especialistas em planejamento elétrico no Brasil.

O objetivo do item 4 era gerar um ranking dos fatores relevantes na decisão

de implementação de uma fonte elétrica para cada participante, desde qual ele

reconhecia como mais relevante até o fator menos relevante. A figura 69 abaixo ilustra

a pontuação acumulada de cada fator dos 101 respondentes do questionário e a figura

70 revela o ranking representativo da amostra estudada:

Figura 69 - Ranking de fatores relevantes

Ranking de Fatores Relevantes

1 Impactos Ambientais (449 pontos)

2 Fatores Técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte (359 pontos)

3 Estimular Regiões Pouco Desenvolvidas (328 pontos)

4 Fatores Financeiros (305 pontos)

5 Durabilidade das Instalações na Fonte (257 pontos)

6 (In)dependência de Variações Climáticas (232 pontos)

7 Tempo de Construção (191 pontos)

0

2

4

6

8

10

12

14

16

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52 55 58 61 64 67 70 73 76 79 82 85 88 91 94 97

Participantes

X² X²crit

Page 181: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

181

Figura 70 – Item 4 - Pontuação acumulada de cada fator

Algumas pessoas consideraram algum fator irrelevante na tomada de

decisão de uma fonte elétrica (0 pontos):

• 5 pessoas consideraram Impactos Ambientais um fator

irrelevante;

• 2 pessoas consideraram Fatores Técnicos na qualidade da

energia gerada pela fonte um fator irrelevante;

• 12 pessoas consideraram Estimular Regiões Pouco

Desenvolvidas um fator irrelevante;

• 9 pessoas consideraram Fatores Financeiros um fator irrelevante;

• 10 pessoas consideraram Durabilidade das Instalações na Fonte

um fator irrelevante;

0

500

1000

1500

2000

1 4 7

10

13

16

19

22

25

28

31

34

37

40

43

46

49

52

55

58

61

64

67

70

73

76

79

82

85

88

91

94

97

10

0

Participantes

Impactos Ambientais (21,15%)

Fatores Técnicos na Qualidade da Energia Gerada pela Fonte (16,93%)

Estimular Regiões Pouco Desenvolvidas (15,46%)

Fatores Financeiros (14,37%)

Durabilidade das Instalações na Fonte (12,14%)

(In)dependência de Variações Climáticas (10,95%%)

Tempo de Construção (9,01%)

Page 182: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

182

• 19 pessoas consideraram (In)dependência de Variações

Climáticas um fator irrelevante;

• 19 pessoas consideraram Tempo de Construção um fator

irrelevante

No item 5, investigou-se se os especialistas utilizam mais a estratégia de

considerar apenas uma informação mais relevante para tomar suas decisões (Take-

the-Best), ou mais de uma, considerando-as de menor valor (Tallying). Este item foi

realizado após a síntese de informações do item 4 de forma personalizada para cada

participante. Nessa etapa, das 1039 respostas obtidas, dos 70 questionários

respondidos, 698 (67,18%) apontam para a opção com menos fatores, porém mais

relevantes como preferível contra a opção com mais fatores, porém menos relevantes

(341 - 32,82%). A figura 71 abaixo expõe o as decisões escolhidas por cada indivíduo

e revela uma tendência à repostas consistentes com a heurística Take-the-Best. As

colunas da esquerda representam os participantes que tenderam a responder

consistentemente à Take-the-Best, as barras da direita aqueles que tiveram mais

respostas consistentes com Tallying. No experimento 1a de Dummel, Rummel e Voss

(2016), cerca de 60% das respostas foi alinhada com Take-the-Best, e isso é próximo

ao que ocorreu nesse item do experimento.

Figura 71 - Item 5 - Preferência heurística

Pelo Teste Anderson Darling a estatística AD obtida foi AD= 4,092.

Portanto, para um nível de significância de 0,05, os dados não possuem uma

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59 61 63 65 67 69

participantes

Take the Best Tallying

Page 183: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

183

distribuição normal. O alfa de Cronbach deste item foi de 0,119, o que indica uma

consistência interna baixa das respostas do item.

No item 5 também se aplicou o Teste de Qui-Quadrado por respondente e

a figura 72 abaixo exibe o resultado. As colunas da esquerda representam os

participantes que tenderam a responder consistentemente à Take-the-Best e as

colunas da direita aqueles que tiveram mais respostas consistentes com Tallying. A

linha horizontal do gráfico marca o limite para o nível de significância 0,05 e 1 grau de

liberdade.

Figura 72 - Item 5 - Teste qui quadrado por participante

5.3. ENTREVISTAS

Após a qualificação, as diretrizes foram aperfeiçoadas e apresentadas a

um grupo seleto de dez tomadores de decisão. Alguns entrevistados não participaram

dos questionários, outros sim, e a suas participações foram voluntárias. Uma pequena

biografia de cada um dos entrevistados encontra-se abaixo:

Luís Fernando Badanhan possui graduação em Engenharia pela

Universidade de São Paulo (1993), mestrado em Engenharia Civil pela Universidade

Estadual de Campinas (1997) e doutorado em Engenharia Mecânica pela

Universidade Estadual de Campinas (2001). Foi coordenador geral de

sustentabilidade ambiental do setor energético do Ministério de Minas e Energia em

2018.

José Goldemberg é doutor em Ciências Físicas pela Universidade de São

Paulo, da qual foi Reitor de 1986 a 1990. Foi Presidente da Companhia Energética de

0

5

10

15

20

25

30

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59 61 63 65 67 69

Participantes

X² X²crit

Page 184: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

184

São Paulo (CESP); Secretário de Ciência e Tecnologia; Secretário do Meio Ambiente

da Presidência da República; Ministro da Educação do Governo Federal e Secretário

do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Foi professor/pesquisador: da

Universidade de Paris (França); Princeton (EUA); High Energy Physics Laboratory da

Universidade de Stanford (EUA); Universidade de Toronto (Canadá). Também já foi

presidente da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

João Carlos de Oliveira Mello recebeu os títulos de Engenheiro, Mestre em

Ciências e Doutor em Ciências, todos em Engenharia Elétrica, na Pontifícia

Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) em 1983, 1988 e 1994

respectivamente. Atualmente é Sócio Presidente da Thymos Energia Consultoria.

Antônio Celso Abreu possui graduação em Engenharia Civil pela

Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1983), MBA em Gestão Sócio-

Ambiental Aplicada à Energia Hidrelétrica, pela FIA-USP (2008) e mestrado em

Ciências pela Escola Politécnica da USP (2015). Atuou na SABESP entre 1986 e 1988

e na CESP, entre 1988 e 2004. Em 2015 assumiu a Subsecretaria de Energias

Renováveis da Secretaria de Energia e Mineração do Estado de São Paulo,

responsável por elaborar e conduzir as políticas públicas para expansão das fontes

renováveis no estado. Entre 2006 e 2015, foi coordenador do Grupo de Trabalho de

Pesquisa e Desenvolvimento (GT-P&D) da Associação Brasileira dos Produtores

Independentes de Energia (Apine).

Luiz Barroso foi Presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) de

julho de 2016 a abril de 2018. É Pesquisador Associado do Instituto de Investigación

Tecnológica (IIT) da Universidad Pontificia Comillas (Madrid, Espanha) desde 2013.

Vem desenvolvendo atividades nas seguintes áreas principais: economia da energia

e planejamento energético; leilões de energia; desenho de mercados de eletricidade

e gás; e estudos de mercado, projeção de preços e tarifas e assessoria regulatória a

geradores, consumidores, bancos de investimento e financiadores. Tem participado

em desenho de mecanismos para o desenvolvimento de mercados regionais e de

integração de renováveis, incluindo estudos energéticos, econômicos e desenho de

mecanismos. No Cigré, é o coordenador do comitê de Mercados de Eletricidade e

Regulação (C5) do Cigré Brasil desde 2010. Na IEEE Power and Energy (PES)

Society, é Senior Member e editor da revista científica IEEE Transactions on Power

Systems (desde 2012).

Page 185: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

185

Silvia Azucena Nebra de Pérez é Engenheira Mecânica pela UNICAMP

(1985) e recebeu o prêmio ao mérito Zeferino Vaz pela UNICAMP em 1996. Foi chefe

do Departamento de Energia (FEM-UNICAMP) por dois períodos e coordenadora do

curso de Especialização em Engenharia de Gás Natural (1999-2004). Foi Professora

Pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da Universidade

Estadual de Campinas e Professora do curso de Pós-Graduação em Planejamento

Energético entre 1980 e 2005 (FEM, UNICAMP). Atualmente é professora visitante

Sênior do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais da Universidade

Federal do ABC (desde 2017).

Roberto Schaeffer é Professor Titular de Economia da Energia do

Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ. Realizou pós-doutorado em

Política Energética na University of Pennsylvania onde também trabalhou como

Professor Visitante e Professor Palestrante naquela mesma. Atua em ensino,

pesquisa e extensão nas áreas de planejamento energético e de mudanças climáticas.

Foi Membro do Painel Metodológico em Linhas de Base e Monitoramento do

Mecanismo do Desenvolvimento Limpo das Nações Unidas (UNFCCC CDM-Meth

Panel) em 2002-11. Foi membro do Conselho Consultivo do projeto Accelerating

Energy Technology Innovation da Agência Internacional de Energia (IEA), em 2010-

11. Desde 1998 colabora com o Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima

(IPCC) das Nações Unidas. É membro do Conselho Editorial da série de livros

Sustainable Energy Development da CRC Press. Em 2012 recebeu o Prêmio COPPE

Giulio Massarani Mérito Acadêmico 2011. Em 2014 recebeu o prêmio Menção

Honrosa Vale-Capes de Ciência e Sustentabilidade Edição 2013, e em 2015 o Prêmio

Vale-Capes de Ciência e Sustentabilidade Edição 2015. Foi co-recipiente, junto com

outros cientistas, do Prêmio Nobel da Paz 2007, pelas contribuições de pesquisa do

IPCC.

Sérgio Bajay tornou-se Engenheiro Mecânico pela UNICAMP em 1973,

Mestre em Engenharia Mecânica pela UNICAMP em 1976 e PhD em Engenharia pela

University of Newcastle upon Tyne, Inglaterra, em 1981. Foi fundador e professor do

curso de pós-graduação em planejamento de sistemas energéticos da Unicamp

(1987) e do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Energéticas (NIPE) da UNICAMP em

1993. Foi Diretor do Departamento Nacional de Políticas Energéticas do Ministério de

Minas e Energia durante o período 2001 e 2002 e pesquisador e consultor nas áreas

de formulação de políticas energéticas, planejamento energético e regulação de

Page 186: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

186

mercados de energia, junto a órgãos governamentais e empresas, estatais e privadas,

desde 1982. Também foi membro do Conselho Consultivo da EPE entre 2008 e 2010

e é atualmente membro do Conselho Estadual de Política Energética, do governo do

Estado de São Paulo, desde março de 2011.

Maurício Dester é graduado em Engenharia Elétrica (Unicamp), pós-

graduado em Gestão Empresarial (UCM), Mestre em Sistemas de Energia Elétrica

(Unicamp) e Doutor em Planejamento de Sistemas Energéticos (Unicamp). Trabalhou

na área de Sistemas de Energia Elétrica como engenheiro e foi gerente de um Centro

de Operação de Furnas. Atualmente é docente em cursos de graduação de

Engenharia Elétrica, Engenharia de Controle e Automação e Ciência da Computação.

Emílio Lèbre la Rovere possui graduação em Engenharia Elétrica de

Sistemas e Industrial pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1975),

graduação em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1976),

mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade Federal do

Rio de Janeiro (1977) e doutorado em Técnicas Econômicas, Previsão, Prospectiva

pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris (1980). Atualmente é

Professor Titular do Programa de Planejamento Energético (PPE), do Instituto Alberto

Luiz Coimbra de Pesquisa e Pós-Graduação de Engenharia (COPPE), da

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde coordena o Laboratório

Interdisciplinar de Meio Ambiente (LIMA) e o Centro de Estudos Integrados sobre Meio

Ambiente e Mudanças Climáticas (CENTROCLIMA). Tem experiência na área de

Energia e Meio Ambiente, atuando principalmente nos seguintes temas: planejamento

energético, planejamento ambiental, desenvolvimento sustentável e mudanças

climáticas. Participou, desde 1992, da autoria de diversos relatórios do Painel

Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), sendo membro deste grupo de

cientistas que recebeu, em 2007, o Prêmio Nobel da Paz, em conjunto com Al Gore.

Participou em 2017 da Comissão de Alto Nível sobre Preço do Carbono coordenada

pelo prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz e Lord Nicholas Stern, uma iniciativa

da Carbon Pricing Leadership Partnership lançada pelo Governo da França em

conjunto com o Banco Mundial.

Numa análise global, notou-se que alguns entrevistados possuem

significativa responsabilidade ambiental, outros já demonstração preocupação

principal com o atendimento a demanda com baixo custo. Estes não se mostraram

muito dispostos a sair do “default” ou status quo com relação a tentativa de solucionar

Page 187: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

187

a questão de a economia de energia elétrica ser desencorajada ou pouco eficiente no

Brasil e também de se planejar uma produção mais limpa de energia no país.

Alguns participantes descreveram alguns itens como “ingênuos”, outros

itens como factíveis, sugeriram que a redação de alguns deles poderia ser

aperfeiçoada, e que certas barreiras identificadas não são exclusivas do setor elétrico,

mas sim endêmicas em vários setores do Brasil, porém acharam válido discutir cada

um deles. Outros enxergaram alguns itens apenas como características, não

demonstraram identificar problemas com eles, ou vê-los como barreiras. Porém,

quando se mostrou as intervenções concordaram que aquela proposta poderia

superar o item identificado apenas como “característica”. Outros participantes

elogiaram muito os itens e a proposta da pesquisa, de forma global. Disseram que o

tema é inovador e bem explorado. Em suma, a preocupação geral é “como fazer”.

Outras observações é que algumas intervenções consideradas inviáveis

pelos especialistas já são amplamente aplicadas em outros países e que os próprios

especialistas declararam que dominam apenas alguns domínios explorados, e que

tem conhecimento restrito sobre outros. Inclusive, alguns especialistas preferiram não

opinar sobre alguns itens por desconhecerem aquele aspecto. Todos afirmaram que

os quadros e a pesquisa foram bem abrangentes, que foi feito uma “boa varredura”.

Também se notou que mesmo neste universo há um certo embaraço de

separação questões técnicas versus questões políticas, que houve dificuldade por

parte de alguns entrevistados em aceitar críticas ao governo, e que em geral

especialistas acadêmicos são mais críticos que os do setor privado. Outra dificuldade

percebida é que alguns entrevistados são a favor de políticas intervencionistas, e

outros são a favor de políticas liberais.

Na descrição dos resultados será relatado item por item dos quadros e as

considerações apresentadas.

Barreiras

A ideia da barreira A - leilões de energia que privilegiam determinadas

fontes de energia elétrica - era criticar os leilões de energia que são feitos com base

apenas no preço da fonte e o fato de que as fontes não convencionais renováveis

muitas vezes são mais caras por unidade de energia gerada. Todavia, a maioria dos

especialistas não considerou este item como uma barreira e trouxe à tona a existência

dos leilões dedicados a fontes alternativas, os quais “corrigem” este tipo de barreira.

Page 188: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

188

Disseram que hoje os leilões dedicados estão parados, mas isso é devido a

quantidade de energia demandada que está estável, e que atualmente a fonte eólica

já possui preço competitivo suficiente para participar dos leilões convencionais. Ainda,

ressaltaram a importância do equilíbrio sobre a ótica da segurança energética e

questões técnicas e relataram que indústrias chinesas estão provocando dumping nos

leilões dedicados a fonte eólica, o que está quebrando as empresas nacionais desta

cadeia produtiva.

Na barreira B - problemas técnicos na qualidade da energia decorrentes de

aumento na quantidade de energia gerada por fontes não convencionais (geração de

harmônicos e variações de tensão) - a maioria dos especialistas reconheceram

veemente este item como barreira. Sugeriu-se tomar cuidado com o termo “fontes não

convencionais” e relatou-se que a CPFL de Campinas vem implementando um projeto

piloto de instalação de medidores de consumo com capacidade de correção de

harmônicos in loco em um bairro na cidade no intuito de examinar uma possível

correção desta barreira.

Na carreira C - garantir suprimento a demanda tendo em vista a inserção

de fontes intermitentes e a diversidade hidrológica do país - alguns entrevistados

reconhecerem este item como uma barreira, porém a opinião que prevaleceu foi que

na verdade isso não é uma barreira, mas sim uma oportunidade ou uma solução.

Sugeriu-se a separação de lastro de energia para regiões com problemas de

intermitência.

Na barreira D - programas insuficientes de geração distribuída por fontes

renováveis - apenas um entrevistado negou este item como uma barreira, enquanto

os demais reconheceram. Alguns entrevistados citaram a Resolução 482 da Aneel, a

qual trata sobre o tema e foi recentemente aprimorada, e afirmaram que alguns de

seus princípios precisam “sair do papel”. Dois entrevistados sugeriram a substituição

do termo “insuficientes” por “limitados”.

Na barreira E - programas insuficientes de eficiência energética, por

exemplo: grande parte dos

equipamentos (refrigeradores e ar condicionado) já se encontram nas faixas

superiores de desempenho (Selo A Procel) e a atual etiquetagem é limitada a

equipamentos de uso doméstico ou comercial - dois entrevistados sugeriram a

substituição do termo “insuficientes” por “limitados” e 100% dos entrevistados

concordaram veemente com o item e disseram sempre há espaço para

Page 189: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

189

aprimoramento. Um dos entrevistados apenas questionou a parte do item que trata de

“Atual etiquetagem é limitada a equipamentos de uso doméstico ou comercial;”

afirmando que o Procel atualmente possui programas de etiquetagem destinados a

motores e bombas elétricos.

Na barreira F - excessiva centralização pelo governo federal na atuação de

políticas públicas para o setor elétrico brasileiro - metade dos especialistas

reconheceu isso como uma barreira e metade não. Um especialista chegou a afirmar

que a centralização pelo governo federal é imprescindível para o perfil brasileiro e

outro afirmou que acredita que o papel do governo federal deve ser central, porém o

de fiscalização deveria ser descentralizado e estar mais próximo ao produtor e

consumidor.

Na barreira G - país é um grande produtor de produtos intensivos no uso

de energia - a maioria dos especialistas não reconhece este item como uma barreira,

mas sim como uma característica do país. Além disso foi defendido aqui que o aço

brasileiro é mais “verde” do mundo, devido à matriz elétrica do país, e que isso é uma

vantagem e não uma barreira, e que o que realmente precisa ser feito é aumentar a

produção de produtos de alto valor agregado não eletrointensivos.

Na barreira H - empresas estatais do setor elétrico ineficientes - a maioria

dos especialistas reconhece este item como uma barreira, porém afirmam que não

são todas as empresas, e que as que são ineficientes estão sendo privatizadas. Houve

uma crítica sugerindo que ao invés de simplesmente privatizar poderia haver

incentivos para aumentar a eficiência energética, e que historicamente existe pouco

incentivo a isso. Ou seja, prevaleceu a opinião de que é necessário cuidado com as

privatizações.

Na barreira I - dimensões continentais do país e a grande infraestrutura de

transmissão e conexão necessária - a maioria dos especialistas reconhece este item

como uma barreira, porém enxerga isso como uma característica brasileira e vê

dificuldade de sugerir uma possível intervenção para tal.

Na barreira J - processos industriais e centrais de cogeração de

bioeletricidade de baixa eficiência - a maioria dos especialistas não reconhece este

item como uma barreira, mas sim como uma oportunidade mal aproveitada, no sentido

de que há espaço para aumentar esta eficiência e consequentemente, a

complementariedade de fontes elétricas no país. Alguns afirmaram que isso deve ser

resolvido como uma questão de mercado, que não é um problema do governo.

Page 190: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

190

Na barreira K - lucros das concessionárias elétricas proporcionais às

vendas - a maioria dos especialistas reconhece este item como uma barreira, porém

afirmam que a dissociação dos lucros às vendas seria uma revolução e que isso ainda

está muito distante da realidade do setor.

Na barreira L - baixa disposição pelo consumidor a pagar um valor maior

pela energia limpa - todos os especialistas reconhecem este item como uma barreira.

Alguns acreditam que isso não atinge apenas o setor elétrico, mas que o brasileiro

tem baixa disposição para internalizar os custos ambientais de modo geral. Outros já

defendem que brasileiro tem até boa aptidão para questões ambientais, todavia tem

baixa renda e questões mais relevantes para se preocupar. Ainda foi citado que

algumas energias limpas não estão mais caras que as outras (no que tange a energia

eólica este item não seria um impeditivo).

Na barreira M - falta de conhecimento tecnológico sobre geração distribuída

- a maioria dos especialistas reconhece este item como uma barreira. Um deles citou

a rapidez na evolução tecnológica como mais uma dificuldade com relação a isso e

enxergou uma grande oportunidade de atuação de políticas públicas nos governos

estaduais e municipais com relação a este item.

Na barreira N - alto custo dos equipamentos de geração distribuída e alto

tempo de retorno dos investimentos relacionados a produção de energia limpa,

principalmente nos setores não eletrointensivos - todos os especialistas reconhecem

este item como uma barreira, porém alguns ressaltaram que apesar de o valor ainda

ser elevado ele tem caído significativamente nos últimos anos. Os especialistas

reconheceram que há programas de financiamento, porém estes poucos e são

utilizados apenas por famílias de renda maior no país.

Na barreira O - falta de local adequado para instalar equipamentos de

geração distribuída - a maioria dos especialistas reconhece este item como uma

barreira, porém disseram que este é um item “pouco significativo” e que a Resolução

482/2012 intervencionou bastante esta barreira ao regulamentar a geração

compartilhada e remota. Um especialista ainda citou o fato de as placas solares

também podem ser instaladas nas fachadas, não só no teto, e para isso é necessário

projetos arquitetônicos adequados.

Na barreira P – falta de informação para a população em geral sobre

questões relacionadas ao uso de energia elétrica e seus impactos; energia é "invisível"

e os impactos associados ao seu uso e consumo muitas vezes são esquecidos; a

Page 191: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

191

origem e a quantidade de energia que a maioria das pessoas utiliza não é uma

questão relevante para elas (normas socias) - todos os especialistas reconhecem

estes itens como uma barreira, alguns de forma veemente. Para eles, o consumidor

deve estar mais atento a questões relacionadas a energia elétrica. Alguns

especialistas ressaltaram que boa parte da população apenas observa se há energia

ou não e seu custo, que é imprescindível rever a visão de mundo da sociedade como

um todo, e que há grande oportunidade de políticas públicas neste sentido.

Além destas barreiras apontados, ao final perguntou-se aos

especialistas se eles sugeririam outras barreiras ademais destas. Foi citado o grande

endividamento entre os entes do setor elétrico brasileiro nos últimos anos (passivo de

R$120 bilhões), o que acarreta aumento da tarifa e a necessidade de aprimoramento

na regulação neste sentido; as altíssimas taxas do mercado livre; a má remuneração

das estatais e dificuldade de melhorar a eficiência devido a isso; a falta de articulação

entre os órgãos do setor elétrico (EPE, ANEEL, ...) nas questões ambientais e a

grande e quase exclusiva responsabilidade do BNDES no financiamento da geração

distribuída.

Intervenções

Na primeira intervenção proposta, intervenção 1 - não levar em conta

interesses pessoais ou fatores políticos na decisão de implementação de uma fonte

elétrica - todos os especialistas concordaram com a intervenção, mas também todos

ressaltaram a dificuldade em tornar isso real de maneira prática. Um deles também

lembrou que esta situação não é específica do Brasil nem de empresas estatais.

Na intervenção 2 - levar em conta a dimensão ambiental na decisão de

implementação de uma fonte elétrica - todos os especialistas concordaram com a

intervenção, embora alguns acreditem que os atuais mecanismos de licenças

ambientais são suficientes e limitantes na teoria com relação à dimensão ambiental,

porém reconhecem que muitas vezes isso é burlado na realidade. Sugeriram como

medida prática aprimorar a mensuração dos impactos ambientais; aperfeiçoar os

mecanismos de seleção da fonte e também exigir aprimoramento na análise ambiental

nos inventários de hidrelétricas.

Na intervenção 3 - planejamento para a indústria de gás natural integrado

com o planejamento do setor elétrico nos médio e longo prazos no país - a maioria

dos especialistas concordaram com esta intervenção, porém advertiram cuidado com

Page 192: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

192

esta questão, já que o gás natural é um recurso cujo uso vai muito além da geração

elétrica. Um dos especialistas ressaltou a necessidade de se criar um novo marco

regulatório para a fonte. Um especialista que discordou da intervenção afirmou que

para ele o recurso gás natural não deveria ser usado para geração elétrica, só em

último caso, que ele é “muito nobre para isso”.

Na intervenção 4 - criação de uma agência executiva, vinculada ao MME,

que gerencia programas relacionados à eficiência energética e ao fomento da

produção de energia por fontes não convencionais, tal qual existe na maioria dos

países da União Europeia - dois especialistas discordaram, enquanto a maioria

concordou com esta intervenção. Todavia, houve algumas ressalvas, no sentido de

que não necessariamente precisa ser uma agência executiva, poderia simplesmente

ser um órgão e de que não necessariamente precisa criar uma instituição mas poderia

simplesmente concentrar e atribuir esta responsabilidade a um atual ente do setor

elétrico, por exemplo, a EPE, desta forma atribuindo diretamente um “pai” a estas

funções, o qual poderia ser fiscalizado por isso.

Na intervenção 5 - aperfeiçoar os instrumentos regulatórios e tributários da

geração distribuída - todos os especialistas concordaram veemente com a

intervenção. Um deles relembrou o dinamismo desta questão e a necessidade de

estar sempre aprimorando os instrumentos.

Na intervenção 6 - aprimorar a capacidade das agências reguladoras em

implementar políticas e planos do governo previstos na legislação vigente - alguns

especialistas acreditam que a ANEEL já faz isso muito bem, porém a maioria

concordou com a intervenção. Todavia, advertiram o cuidado com a redação da frase,

já que a função das agências reguladoras é fiscalizar e não implementar.

Na intervenção 7 – incentivos ao desenvolvimento de geração distribuída e

eficiência energética: incentivos a atuação de Escos; incentivos a atuação de modelos

de condomínio; concessão de créditos fiscais ou empréstimos a juros atrativos,

garantindo a recuperação do capital investido em prazos razoáveis; criação de fundos

para fomentar políticas de eficiência energética e geração distribuída por fontes

renováveis; programas e mecanismos de incentivo a pesquisa; iniciativas para

destaque de produtos energeticamente eficientes; incentivar o desenvolvimento da

cadeia produtiva das indústrias de biogás, biomassa, solar fotovoltaica e eólica no

país (fontes renováveis não convencionais) - alguns especialistas acreditam que não

Page 193: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

193

é necessário novos incentivos, basta apenas organizar os atuais existentes, enquanto

outros concordaram com estas intervenções.

Na intervenção 8 – promover a capacitação de recursos humanos para a

geração distribuída - todos os especialistas concordaram com a intervenção, e

ressaltaram a dificuldade em fazer isso devido às inovações tecnológicas constantes.

Um dos especialistas comentou sobre a atuação exemplar do SENAI de Belo

Horizonte na área o que possibilitou a posição campeã da cidade na implementação

de painéis elétricos no Brasil.

Na intervenção 9 – reavaliações periódicas da garantia física das usinas,

levando em conta equipamentos deteriorados, assoreamento de reservatórios,

qualidade de informações relativas às vazões, etc, no intuito de fazer uma revisão nos

padrões de segurança do suprimento adotados pelo ONS nos seus despachos de

carga - alguns especialistas com tendências mais liberais discordaram e disseram que

aspectos de livre mercado devem corrigir esta questão, porém a maioria concordou

com a intervenção e ressaltou que isso deve ser feito com urgência, todavia não

apenas sob uma ótica ambiental, mas também técnica e de custo benefício.

Na intervenção 10 – preparar a estrutura e o corpo técnico das

concessionárias para aumentar a capacidade de resolver problemas técnicos na

qualidade da energia decorrentes do aumento da geração por fontes não

convencionais - alguns especialistas acreditam que isto já está sendo feito de forma

automática, outro acredita que isso deve ser feito pelas empresas (por terceirização)

e não pelo governo, porém a maioria acredita que esta intervenção é pertinente e

adequada.

Na intervenção 11 – aprimorar a capacidade das agências reguladoras em

garantir a evolução tecnológica na prestação do serviço durante os períodos de

concessão das empresas do setor elétrico, mantendo equilíbrio ambiental, econômico

e financeiro; monitoramento detalhado dos custos destas empresas, com prazos e

responsabilidades bem delineadas - um especialista considerou estas intervenções

“desnecessárias”, outro questionou esta responsabilidade atribuída a agências

reguladoras e outro considera que a ANEEL já faz isso, todavia reconheceu que é

necessário “por mais o dedo na ferida”. Entretanto, a maioria concordou com esta

intervenção.

Na intervenção 12 – incentivo a implantação de geração distribuída levando

em conta o desenvolvimento econômico e o clima nos municípios; fomento a atuação

Page 194: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

194

complementar deles na implantação de políticas públicas para o uso responsável de

energia elétrica - apenas um especialista discordou enquanto a maioria concordou.

Muitos especialistas relembraram, porém, dificuldade em relação a isso devido a atual

situação financeira dos estados e municípios. Um especialista ressaltou que há muitas

possibilidades de políticas aplicáveis a isso e que a Eletrobrás e o PROCEL já

desenvolveram programas com os municípios e estados neste sentido.

Na intervenção 13 – aprimoramento das normas mínimas de ventilação e

iluminação que promovam eficiência energética para novas construções por meio de

código de obras; criação de programas de consultoria local que buscam ganhos de

eficiência energética em edifícios - todos os especialistas concordaram coma primeira

intervenção e a maioria concordou com a segunda. Alguns dos especialistas que

discordaram da segunda acreditam que isso não caiba ao governo, mas sim à

iniciativa privada.

Na intervenção 14 – estabelecer padrões para novos grupos de

eletrodomésticos; aprimorar os padrões e metas dos produtos existentes, e atualizá-

los periodicamente; estabelecer níveis máximos de consumo específico de energia,

ou mínimos de eficiência energética, de máquinas e aparelhos consumidores de

energia elétrica, fabricados ou comercializados no país, com base em indicadores

técnicos pertinentes, possibilitando inclusive a eliminação de equipamentos

ineficientes do mercado - dois especialistas discordaram por acreditarem que isto

deva vir do próprio mercado, porém a maioria concordou. Houve a ressalva de que já

existe padrões mínimos para certos aparelhos.

Na intervenção 15 – inserir requisitos de eficiência energética nas políticas

de aquisição do setor público - todos os especialistas concordaram com esta

intervenção, inclusive um afirmou que isso pode ser feito nas licitações e que a Lei

8666/93 já previu este tipo de abordagem.

Na intervenção 16 – publicação de tabelas de desempenho mensais

mostrando o progresso em direção às próprias metas governamentais - apenas um

especialista discordou da intervenção, afirmando que ninguém teria tempo de analisar

estes indicadores. Porém, a maioria concordou, disse que isso faria jus ao princípio

de publicidade e que poderia ser usado em contratos de produtividade.

Na intervenção 17 - reduzir os impostos dos produtos que consomem

menos energia em relação àqueles mais ineficientes, podendo-se, inclusive, aumentar

Page 195: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

195

as alíquotas destes - houve empate: metade dos especialistas concordaram com a

intervenção e metade não. Os que discordaram justificaram que são contra abaixar

impostos, que esta questão deve ser mais estudada para ver os impactos que isso

possa causar, outros disseram que isso deve ser corrigido pelo mercado livre e por

exigências dos consumidores e ainda outros disseram que esta questão pode ser

resolvida por outros mecanismos como cotas e créditos e as respectivas cobranças

sobre isso.

Na intervenção 18 - apoio aos gestores da eficiência energética nos

parques empresariais - a maioria dos especialistas discordou desta intervenção e

disseram que isso deve vir do próprio mercado.

Na intervenção 19 - acordos de responsabilidade convidando empresas e

outras organizações a assumirem compromissos públicos para reduzir o uso de

energia e às emissões associadas a elas em quantidade e data determinadas e

incentivos a companhias que têm conseguido cumprir as metas estipuladas nesses

acordos, na forma descontos no imposto, por exemplo - também houve empate.

Alguns especialistas lembraram que isso foi explorado pela COP21 por meio das cotas

de carbono e que o Ministério da Fazenda já tem atuado neste sentido (precificação

das emissões).

Na intervenção 20 - busca por sinergias entre agroindústrias e órgãos

governamentais para promover aproveitamento eficiente da cogeração - apesar de

que alguns especialistas acreditarem que a questão do melhoramento da eficiência

da cogeração deva ser resolvida pelas próprias agroindústrias, a maioria acredita que

esta é uma intervenção pertinente e adequada, inclusive com relação ao problema do

resíduo sólido também.

Na intervenção 21 - estabelecimento de metas objetivas de redução do

consumo de energia ao grupo de indústrias exportadoras de produtos básicos de

baixo valor agregado e elevado conteúdo energético (celulose, papel, ferro, siderurgia,

alumínio); incentivo financeiro a modernização das plantas produtoras e o surgimento

de inovações que possam reduzir o consumo energético no processo produtivo;

limitação da instalação e operação de novas indústrias de indústrias deste tipo - a

maioria dos especialistas discordaram destas intervenções. Disseram que isso não se

resolve “por decreto”, que geraria um sério impacto na economia e alguns disseram

que esta questão deve ser resolvida pelo livre mercado.

Page 196: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

196

Na intervenção 22 - incentivar a instalação de medidores de consumo de

energia (feedbacks) em tempo real e em local apropriado nas residências e indústrias

- todos os especialistas concordaram com esta intervenção, porém alguns trouxeram

à tona o alto custo destes equipamentos e a dificuldade de isso virar realidade.

Na intervenção 23 - promoção de educação ambiental nas escolas e a

disseminação de informações e campanhas sobre o uso responsável de energia

elétrica nas instituições em geral, de modo a não considerar apenas questões

financeiras, mas, também atributos tais como a baixa emissão de carbono e de gases

poluentes e outros benefícios ambientais - todos os especialistas concordaram com

esta intervenção, porém alguns afirmaram que muita coisa já tem sido feita neste

sentido, porém é necessário aprimorá-las.

Além destas intervenções apontadas, ao final perguntou-se aos

especialistas se eles sugeririam outras ademais destas. Foi citado: zelar pela

autonomia das agências reguladoras; cuidado e exemplo das prefeituras com o

consumo de energia para bombeamento de água e esgoto e na geração de energia

elétrica a partir de resíduo sólido; facilitar o acesso ao financiamento para os

consumidores e realizar um planejamento de forma global para entes do setor elétrico

no futuro, com relação a receita e responsabilidades.

Page 197: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

197

6. DISCUSSÃO

A fim de atingir os objetivos estabelecidos deste estudo, a metodologia foi

dividida em duas fases distintas. A primeira fase refere-se à aplicação de

questionários para a identificação das heurísticas utilizadas na tomada de decisão por

especialistas do setor elétrico ao considerar os investimentos para a implementação

de diferentes fontes de energia elétrica.

Os resultados dos questionários mostraram que os especialistas brasileiros

consideram a matriz elétrica do país em situação favorável e de destaque em relação

outros países. Apesar dos altos investimento da Alemanha em fontes limpas e

renováveis nos últimos anos, o fato de ainda possuir grande participação de fontes

fósseis em sua matriz não caracteriza a matriz alemã como mais verde ou sustentável

que a brasileira e também que os especialistas em planejamento elétrico não

reconhecem com tanta relevância os impactos ambientais associados a hidrelétricas.

Apesar disso, o especialista brasileiro tem a intenção de investir massivamente em

outras fontes renováveis diferentes de hidrelétrica, seguindo a tendência da matriz

Alemã. Isso corrobora os pressupostos de Cunha et al. (2019), que afirmam que a

predominância da energia hidrelétrica tende a diminuir na medida em que surgem

limitações à sua expansão e que se enfrenta questões hidrológicas desfavoráveis.

Sabe-se que no contexto do planejamento energético, a ACV pode servir

como orientadora de aspectos e impactos ambientais dos fluxos de matéria e energia,

mas possui suas limitações com relação impactos sócio-econômicos-culturais sobre

a população, e ecológicos atuantes sobre as espécies e ecossistemas. Mesmo assim,

ela é consolidada como uma importante ferramenta de avaliação ambiental que

permite comparar quantitativamente o desempenho ambiental de diferentes fontes de

energia elétrica. Concluiu-se que dados mais concretos a respeito de impactos

ambientais associados a diferentes fontes energéticas de fato contribuem para a

tomada de decisão, haja vista que os resultados dos possíveis investimentos geraram

um feedback positivo a estas informações fornecidas. Desta forma, sugere-se que a

tomada de decisão de implementação de fontes elétricas seja tomada com

informações sólidas, para que o país tenha mais responsabilidade ambiental com

relação ao consumo e produção de energia elétrica. Com essa análise, pretende-se

adicionar suporte empírico para o papel forte que um compromisso de política de longo

prazo (planejamento estratégico) e responsabilidade técnica e ambiental

Page 198: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

198

desempenham em um conjunto eficiente de políticas, assim como fizeram Polzin et al.

(2015).

Coelho Filho, Saccaro Junior e Luedemann (2016) também consideram que

a ACV deve ser encarada como uma ferramenta de gestão. Para eles, a ACV pode,

além disso, ser um instrumento de comando e controle da política ambiental, e desta

forma, representar um papel importante na busca da sustentabilidade ambiental no

Brasil.

Pichert e Katsikopoulos (2008) demonstram como as políticas públicas

podem utilizar a heurística como uma ferramenta poderosa, por meio da imposição do

default “energia verde”, por exemplo, no fornecimento de energia elétrica das

concessionárias de alguns países, tornando esta opção a mais escolhida nestes

lugares, mesmo com custo superior. Como a eletricidade é um produto intangível e os

consumidores não estão tão familiarizados com o produto e têm pouco conhecimento

sobre o assunto, as pessoas simplesmente não mudam para outra alternativa

(ANDERSON, 2003). Um dos motivos para isso talvez seja o fato de que as pessoas

interpretarem o padrão como sendo uma recomendação do formulador de políticas,

indicando o comportamento socialmente desejado (JOHNSON; GOLDSTEIN, 2003;

MCKENZIE; LIERSCH; FINKELSTEIN, 2006). Pichert e Katsikopoulos (2008)

mostram que poucos consumidores presumem que a opção padrão deve ser avaliada

ou que poderia haver algo errado com ela. Possivelmente, muitas pessoas interpretam

a opção padrão como uma recomendação implícita no sentido de que, se existe um

padrão estabelecido por uma autoridade, ele provavelmente não está errado.

Entretanto, Pichert e Katsikopoulos (2008) expõem os limites da

manipulação de padrões em políticas públicas e alertam cautela. Eles afirmam que

podem existir limitações técnicas, como por exemplo se a qualidade ou quantidade de

informação adquirida for inadequada ou se as diferenças de preço se tornarem muito

grandes, ou problemas morais, como por exemplo se os decisores políticos alterarem

os padrões de má fé. Todavia, em certa medida, as instituições sempre fornecem

pontos de partida e padrões (PICHERT; KATSIKOPOULOS, 2008; BERG;

GIGERENZER, 2007; SUNSTEIN; THALER, 2003).

No questionário aplicado, concluiu-se que a heurística default não pode ser

considerada como ferramenta de tomada de decisão de investimentos em fontes

elétricas por especialistas em planejamento elétrico no Brasil. Provavelmente isso

aconteceu devido a que, no caso, o tomador de decisão é um especialista, portanto

Page 199: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

199

ele têm bastante conhecimento do tema, situação oposta à exemplificada por Pichert

e Katsikopoulos (2008).

Acrescido a isso, KATSIKOPOULOS et al. (2017) expõem outra possível

explicação para o não utilização da heurística default neste contexto. Eles estudaram

quando os modelos de tomada de decisão simples funcionam melhor que os mais

complexos, e vice-versa. Chegaram à conclusão de que, em alguns casos, os

potenciais benefícios da simplicidade, como maior transparência e confiança, são

ponderados pelos tomadores de decisão em relação aos seus custos potenciais na

elaboração de políticas devido aos resultados serem fortemente sujeitos a

interpretação. Para eles, os modelos simples funcionam melhor quando os dados são

esparsos ou de baixa qualidade, caracterizando problemas “difíceis”. No outro

extremo dos problemas “fáceis”, modelos simples também competem bem com

modelos mais complexos. Por outro lado, modelos mais complexos tendem a ser

melhores que os mais simples em problemas que se situam numa posição

intermediária entre estes dois extremos. Em suma, chegaram à conclusão de que não

existe um modelo universal que possa resolver todos os problemas de previsão,

porém afirmaram que, basicamente, para modelos complexos superarem os mais

simples, duas condições devem ser satisfeitas: (1) o processo do mundo real deve ser

complexo, e; (2) o previsor deve ser capaz de modelar essa complexidade

corretamente.

Dessa forma, a heurística default não pode ser considerada como

ferramenta de tomada de decisão de investimentos em fontes elétricas, haja vista que

as duas condições foram satisfeitas: o perfil do respondente é um especialista que

atua no setor elétrico há mais de 20 anos, portanto capaz de lidar com adversidades,

e com as situações exploradas (condição 2) e lhe é atribuído a responsabilidade da

tomada de decisão de investimento em fontes elétricas no país (condição 1). A

heurística default é mais comumente utilizada em situações onde não se possui muito

conhecimento a respeito da decisão a ser tomada, por exemplo no ato de comprar um

produto no supermercado frente a diversas opções disponíveis e suas variantes, ou

quando não se identifica diferenças entre as opções disponíveis numa escolha, por

exemplo.

Apesar disso, houve utilização da heurística equality rule, semelhante aos

estudos de ARTINGER et al. (2015) e DEMIGUEL et al. (2009), e tendência de

respostas condizentes com a heurística take-the-best em detrimento da tallying com

Page 200: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

200

relação a opção de fatores relevantes na tomada de decisão de investimento em uma

fonte elétrica, resultados similares àqueles do estudo de Dummel, Rummel e Voss

(2016).

Uma das principais vertentes defendidas por Thaler (EKONOMIPRISET,

2017), Nobel de Economia em 2017, refere-se justamente à aplicação da heurística

equality rule na tomada de decisão de investimentos. Ele defende que na grande

maioria dos casos, a ausência de informações necessárias, o excesso de confiança

ou a incapacidade de prever um comportamento levam a decisões racionais não

satisfatórias. De acordo com o autor, mesmo os maiores economistas não possuem

um desempenho acima da média de mercado de forma consistente. Neste sentido,

ele sugere dividir os investimentos igualmente em ativos que sigam índices de

mercado e mantê-los lá até o vencimento sem alterações, ou seja, utilizar a heurística

equality rule, porém em uma versão aprimorada, ou seja, com maior complexidade,

comportamento análogo aos que os especialistas em planejamento elétrico no Brasil

tiveram.

A ordem de preferência dos fatores relevantes na tomada de decisão de

investimento em fontes elétricas no Brasil encontrada, do mais para o menos, foi:

impactos ambientais, fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte,

estimular regiões pouco desenvolvidas, fatores financeiros, durabilidade das

instalações na fonte, (in)dependência de variações climáticas e tempo de construção

da fonte. O fato de impactos ambientais ser considerado o fator mais relevante na

tomada de decisão de investimento em fontes elétricas no Brasil pela amostra

analisada, somado à opção de investir mais de 50% dos investimentos disponíveis em

fontes renováveis não convencionais e o feedback positivo em relação a informações

sobre o desempenho ambiental de determinadas tecnologias contribuem para gerar

perspectivas positivas relacionadas a preocupação ambiental no planejamento

elétrico brasileiro, de forma geral.

Haja vista estas considerações, percebe-se que lidar com o fator humano

no desenvolvimento sustentável e no comportamento pró-ambiental resulta em

desafios teóricos e práticos (GARDNER; STERN, 2008). Estes resultados revelam

que não se trata de demonstrar a irracionalidade das pessoas, nem tampouco a

inutilidade dos modelos tradicionais utilizados pelos economistas, mas de enriquecer

e melhorar a descrição do comportamento e dos processos decisórios dos indivíduos,

nos mais variados tópicos, na expectativa de melhorar o poder explicativo e preditivo

Page 201: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

201

dos mesmos. O intuito deste estudo é sugerir que a área comportamental como uma

alternativa de entendimento do processo cognitivo do ser humano, porém longe de

ser uma mudança de paradigma radical.

A segunda fase da metodologia conduziu entrevistas com um grupo de

especialistas para a discussão de possíveis diretrizes para o planejamento elétrico

brasileiro. Ao longo de 40 anos de pesquisa e centenas de estudos empíricos da

psicologia ambiental, uma descoberta já concretizada é que o comportamento pode

ser alterado (SCHULTZ; KAISER, 2012). Schultz e Kaiser (2012) afirmam que ao invés

de lamentar o fato de que a atividade humana está causando problemas, a pesquisa

sobre comportamento pró-ambiental deve oferecer uma mensagem positiva, e neste

sentido esta metodologia foi aplicada nesta pesquisa.

O seleto grupo de especialistas avaliou os quadros com as diretrizes

propostas e emitiu seu parecer. Não obstante algumas críticas e considerações

divergentes, a opinião que prevaleceu é que o tema é inovador e bem explorado. A

estrutura organizada alinha-se a ideia de Rocha e Bursztyn (2016) de que cada

indivíduo deve se responsabilizar pelos problemas globais e começar a resolver

aqueles que estão ao seu redor. A formulação de uma visão do futuro a partir do

barreiras e intervenções por entes diretamente envolvidos possibilita a constituição de

uma ativa participação nas tarefas e estimula a noção de corresponsabilidade. Em

síntese, a participação social, ou seja, a cooperação dos tomadores de decisões com

todos os atores e grupos relevantes da comunidade é visualizada como uma

precondição básica à obtenção do tão almejado desenvolvimento local sustentável.

(ROCHA; BURSZTYN, 2016).

Uma percepção preocupante é a dificuldade de alguns entrevistados em

separar questões técnicas versus questões políticas. Neste sentido, ressalta-se a

necessidade de atualização dos princípios éticos-políticos da democracia brasileira,

assim como sugeriram também Rocha e Bursztyn (2016).

A sugestão onipresente nas entrevistas para pesquisas futuras é focar no

“como fazer” para que as diretrizes sejam aplicadas na prática como reais políticas

públicas. De acordo com Schmidt (2017), na perspectiva do ciclo de políticas, o

primeiro passo é a formulação da política, seguida da sua implementação e da

avaliação. Esse ciclo envolve múltiplos fatores e agentes de diferentes grupos de

interesse, cuja interação e correlação de forças definem os seus desdobramentos

Page 202: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

202

práticos. Neste sentido, aqui foi apresentado o primeiro passo do ciclo, e a partir de

então espera-se que outros passos sejam alcançados.

Para Fadigas (2015), nas sociedades contemporâneas, as políticas

públicas são instrumentos privilegiados de organização social e estilo de

desenvolvimento das populações, com consequências cuja dimensão nem sempre é

imediatamente perceptível. Ainda, para Rocha e Bursztyn (2016), as novas políticas

públicas que estão sendo construídos fazem parte das profundas mudanças que estão

ocorrendo nos paradigmas contemporâneos de gestão e de representação social.

Ainda que incipientes, elas são fundamentais para a construção de uma nova

institucionalidade pública, que se mostre capaz de servir aos interesses do povo com

eficiência e eficácia.

Um aspecto que ficou evidente é a preocupação dos especialistas em não

tratar o assunto de forma isolada. Pires (2019) afirma que o setor elétrico brasileiro

opera de forma parecida a um sistema feudal onde há um esquema de poder e tomada

de decisão hierarquizado e descentralizado, com pouca mobilidade, com muitas

associações, as quais representam interesses distintos e específicos dos diversos

agentes. Como cada um defendendo o seu lado, falta ao setor uma visão integrada

para pensar as políticas atuais e as estratégias de médio e longo prazos. O resultado

desse cenário é um modelo ultrapassado para o setor elétrico no Brasil.

De acordo com Pires (2019), observa-se no Brasil desarranjos estruturais

acumulados após anos de gestão insuficiente no setor. A combinação de subsídios

cruzados com períodos de acionamento de térmicas a óleo, em razão da menor

participação das hidrelétricas e tributos elevados, impôs ao consumidor uma das mais

altas tarifas de energia elétrica do mundo. Isso se reflete em prejuízos ao meio

ambiente, aos consumidores, e também aumentam o chamado custo Brasil. O setor

elétrico tem uma enorme importância nas cadeias produtivas, na formação de preços

e custos. Por isso, não pode ser um setor menos relevante e deve ser priorizado para

garantir segurança no abastecimento e responsabilidade ambiental. Esses avanços

dependem de maior segurança regulatória, que depende de uma articulação integrada

entre os agentes do setor. É necessário que haja um ambiente de confiança, buscando

competição, eficiência e responsabilidade (PIRES (2019)).

De Jager et al. (2011) afirmam que comprometimento, estabilidade,

confiabilidade e previsibilidade são todos elementos que aumentam a confiança dos

atores envolvidos, reduzem os riscos regulatórios e o custo do capital. Evidências

Page 203: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

203

adicionais apontam para uma preferência pela consistência das políticas mesmo

quando ocorrem mudanças (WHITE et al., 2013). Todavia, a opinião pública é um

determinante significativo da mudança de política em países democráticos. Os

formuladores de políticas podem relutar em implementar políticas climáticas se

esperam oposição pública (DREWS; BERGH, 2016). Daí percebe-se a importância de

a decisão de implementação de fontes elétricas ser tomada por corpos técnicos

independentemente de aspectos políticos.

Fornecer energia acessível, confiável e sustentável deve ser uma questão

fundamental na política dos países (BAJAY et al., 2018) e, neste sentido, aqui foi

apresentado tanto uma análise aplicada de como a tomada de decisão em fontes

elétricas no Brasil é tomada quanto perspectivas de como ela pode ser melhorada de

acordo com os vários agentes envolvidos. Embora esta pesquisa não indique soluções

definitivas, mostrou-se que existem diversas alternativas capazes de distribuir de

maneira mais equitativa as responsabilidades e os benefícios entre o governo, as

empresas do setor elétrico e os consumidores.

Page 204: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

204

7. CONCLUSÃO

Todos os objetivos da pesquisa foram alcançados: analisou-se o

planejamento e a gestão energética do país; determinou-se e categorizou-se os

fatores relevantes na tomada de decisão do setor elétrico brasileiro; aferiu-se os

processos heurísticos nestas situações; identificou-se o nível de responsabilidade

ambiental dos especialistas e propôs-se diretrizes para um plano de políticas públicas

ambientalmente responsável para o setor elétrico brasileiro.

Os resultados dos questionários mostraram que os especialistas brasileiros

consideram a matriz elétrica do país em situação favorável e de destaque em relação

outros países e também que os especialistas em planejamento elétrico não

reconhecem com tanta relevância os impactos ambientais associados a hidrelétricas.

Concluiu-se que dados mais concretos a respeito de impactos ambientais

associados a diferentes fontes energéticas de fato contribuem para a tomada de

decisão e que existe predominância da utilização da heurística equality rule e take the

best na tomada de decisão em relação aos investimentos em fontes elétricas por

especialistas brasileiros. Não foram verificados resultados significantes das

heurísticas default and tallying. Estes resultados enriqueceram e melhoraram a

descrição do comportamento e dos processos decisórios dentro do contexto

apresentado.

A ordem de preferência dos fatores relevantes na tomada de decisão de

investimento em fontes elétricas no Brasil encontrada, do mais para o menos, foi:

impactos ambientais, fatores técnicos na qualidade da energia gerada pela fonte,

estimular regiões pouco desenvolvidas, fatores financeiros, durabilidade das

instalações na fonte, (in)dependência de variações climáticas e tempo de construção

da fonte. O fato de impactos ambientais ser considerado o fator mais relevante na

tomada de decisão de investimento em fontes elétricas no Brasil pela amostra

analisada, somado à opção de investir mais de 50% dos investimentos disponíveis em

fontes renováveis não convencionais e o feedback positivo em relação a informações

sobre o desempenho ambiental de determinadas tecnologias contribuem para gerar

perspectivas positivas relacionadas a preocupação ambiental no planejamento

elétrico brasileiro, de forma geral.

Ainda, por meio das diretrizes de políticas públicas, mostrou-se como a

criação de um ambiente favorável a geração e consumo responsável de energia

Page 205: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

205

elétrica pode ser viável e às partes interessadas e também que existem diversas

alternativas capazes de distribuir de maneira mais equitativa as responsabilidades e

os benefícios entre o governo, as empresas do setor elétrico e os consumidores.

Foram propostas ferramentas a fim de incentivar a redução no consumo de energia e

tornar a atual produção mais limpa, desta forma possibilitando obter vantagens com

relação a redução das emissões de gases potencialmente causadores de efeito

estufa, caso estas diretrizes forem adotadas.

O seleto grupo de especialistas avaliou os quadros com as diretrizes

propostas e emitiu seu parecer. Não obstante algumas críticas e considerações

divergentes, a opinião que prevaleceu é que o tema é inovador e bem explorado.

Para pesquisas futuras, recomenda-se analisar o design e o planejamento

das políticas pública a fim de promover a efetiva prática das diretrizes propostas nas

mesmas e que a tomada de decisão de implementação de fontes elétricas seja tomada

com informações sólidas, para que o país tenha mais responsabilidade ambiental com

relação ao consumo e produção de energia elétrica.

Page 206: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

206

8. REFERÊNCIAS

ABRADEE. A evolução do setor elétrico brasileiro. [s.l.] Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica, 2018. Disponível em: <http://www.abradee.com.br/setor-eletrico/visao-geral-do-setor>. Acesso em: 2 maio. 2018.

ABRAHAMSE, W. et al. A review of intervention studies aimed at household energy conservation. Journal of environmental psychology, v. 25, n. 3, p. 273–291, 2005.

ANDERSON, C. J. The psychology of doing nothing: forms of decision avoidance result from reason and emotion. Psychological bulletin, v. 129, n. 1, p. 139, 2003.

ANEEL. Resolução Normativa 425, de 1 de fevereiro de 2011. Brasília: Agência Nacional de Energia Elétrica, 2011. Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2011425.pdf >. Acesso em: 14 março. 2019.

_____. Resolução Normativa 457, de 8 de novembro de 2011. Brasília: Agência Nacional de Energia Elétrica, 2011. Disponível em: <https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=114712>. Acesso em: 10 maio. 2018.

_____. BANCO DE INFORMAÇÔES DE GERAÇÂO (BIG), 2015a.

_____. Resolução Normativa 674, de 11 de agosto de 2015. Brasília: Agência Nacional de Energia Elétrica, 2015b. Disponível em: <

http://www.aneel.gov.br/documents/656815/14887121/MANUAL+DE+CONTROLE+PATRIMONIAL+DO+SETOR+EL%C3%89TRICO+-+MCPSE/3308b7e2-649e-4cf3-8fff-3e78ddeba98b>. Acesso em: 14 março. 2019.

_____. Resolução Normativa 687, de 24 de novembro de 2015. Brasília: Agência Nacional de Energia Elétrica, 2015c. Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2015687.pdf>. Acesso em: 10 maio. 2018.

_____. BANCO DE INFORMAÇÔES DE GERAÇÂO (BIG), 2016.

_____. BANCO DE INFORMAÇÔES DE GERAÇÂO (BIG), 2017.

ANP. Resolução 47, de 03 de setembro de 2014. Brasília: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, 2014. Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2015687.pdf>. Acesso em: 10 maio. 2018.

ARIELY, D.; LEVAV, J. Sequential choice in group settings: Taking the road less traveled and less enjoyed. Journal of consumer Research, v. 27, n. 3, p. 279–290, 2000.

Page 207: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

207

ARTINGER, F. et al. Heuristics as adaptive decision strategies in management. Journal of Organizational Behavior, v. 36, n. S1, 2015.

ASDRUBALI, F. et al. Life cycle assessment of electricity production from renewable energies: Review and results harmonization. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 42, p. 1113–1122, 2015.

BAJAY, S. et al. Geração distribuída e eficiência energética. Campinas: Internetional Energy Iniciative - IEI Brasil, 2018. v. 1

BAJAY, S.; ANDRADE, M. T. O.; DESTER, M. Políticas, planejamento energético e regulação de mercados de energia no Brasil. In: São Paulo: Manole, 2016. p. 811–844.

BAJAY, S. Planejamento energético: Necessidade, objetivo e metodologia. Revista Brasileira de Energia, v. 1, n. 1, p. 45–53, 1989.

_____. Evolução do planejamento energético no Brasil na última década e desafios pendentes. Revista Brasileira de Energia, Itajubá, v. 19, n. 1, p. 255–266, 2013.

BELINOVSKI, A. C. Política de Assistência Social: avanços e possibilidades no centro de referência especializado de assistência social (CREAS) do município de Telêmaco Borba/PR. 2013.

BERG, N.; GIGERENZER, G. Psychology implies paternalism? Bounded rationality may reduce the rationale to regulate risk-taking. Social Choice and Welfare, v. 28, n. 2, p. 337–359, 2007.

BERG, W. et al. The 2016 state energy efficiency scorecard. American Council for an Energy-Efficient Economy, 2016

BERMANN, C. Energia no Brasil: para quê. Para quem, v. 2, 2002.

BIRD, L.; WÜSTENHAGEN, R.; AABAKKEN, J. A review of international green power markets: recent experience, trends, and market drivers. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 6, n. 6, p. 513–536, 2002.

BITTLE, R. G.; VALESANO, R. M.; THALER, G. M. The effects of daily feedback on residential electricity usage as a function of usage level and type of feedback information. Journal of Environmental Systems, v. 9, n. 3, 1979.

BLAND, J. M.; ALTMAN, D. G. Statistics notes: Cronbach’s alpha. British Medical Journal, v. 314, n. 7080, p. 572, 1997.

BP. Statistical Review of World Energy. 2015.

___. Statistical Review of World Energy. 2018.

BRACIER. Eólicas saem em busca de fornecedores nacionais. Disponível em: https://www.bracier.org.br/noticias/brasil/4796-eolicas-saem-em-busca-de-fornecedores-nacionais.html. Acesso em 30.julho.2018

Page 208: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

208

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988.

_____. Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel). 1993.

_____. Lei n° 9.074, de 7 de julho de 1995. 1995.

_____. Decreto n° 2.003, de 10 de setembro de 1996. 1996.

_____. Lei n° 9.991 de 24 de julho de 2000. 2000.

_____. Lei n° 10.295, de 17 de outubro de 2001. 2001 a.

_____. Resolução n° 24, de 6 de julho de 2001. 2001 b.

_____. Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). 2009.

_____. Estado libera licenças para instalação de 10 PCHs. 2012a.

_____. Programa Inovar-Auto. 2012b.

_____. Lei n° 12.783, de 11 de janeiro de 2013. 2013.

_____. Campanha Uso Consciente de Energia. 2015a.

_____. Lei n° 13.169, de 6 de outubro de 2015. 2015 b.

BROWN, C. L.; KRISHNA, A. The skeptical shopper: A metacognitive account for the effects of default options on choice. Journal of consumer research, v. 31, n. 3, p. 529–539, 2004.

BÜHLER, A. J.; SANTOS, F. H.; GABE, I. J. UMA REVISÃO SOBRE AS TECNOLOGIAS FOTOVOLTAICAS ATUAIS.VII Congresso Brasileiro de Energia Solar-CBENS 2018. 2018.

CARVALHO, J.F. Prioridades para investimentos em usinas elétricas.2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142008000300013&script=sci_arttext>. Acesso em: 15 mar. 2019.

CCEE. MME, CCEE e ONS realizam evento sobre o preço horário.2019. Disponível em: < https://www.ccee.org.br/portal/faces/pages_publico/noticias-opiniao/noticias/noticialeitura?contentid=CCEE_648092&_afrLoop=310032114239044&_adf.ctrl-state=4hwjwjd4u_14#!%40%40%3Fcontentid%3DCCEE_648092%26_afrLoop%3D310032114239044%26_adf.ctrl-state%3D4hwjwjd4u_18>. Acesso em: 15 jul. 2019.

CEC. Strategic Plan, 2014. Disponível em: <http://www.energy.ca.gov/commission/documents/2014_06_California_Energy_Commission_Strategic_Plan.pdf>. Acesso em: 17 maio. 2018

Page 209: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

209

CHOI, J. J. et al. Defined contribution pensions: Plan rules, participant choices, and the path of least resistance. Tax policy and the economy, v. 16, p. 67–113, 2002.

COELHO FILHO, O.; SACCARO JUNIOR, N. L.; LUEDEMANN, G. A avaliação de ciclo de vida como ferramenta para a formulação de políticas públicas no Brasil. IPEA. 2016.

CONFAZ. Ajuste SINIEF 2, de 22 de abril de 2015. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://www.confaz.fazenda.gov.br/legislacao/ajustes/2015/ajuste-sinief-2-15>. Acesso em: 10 maio. 2018a.

_____. Convênio ICMS 16. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://www.confaz.fazenda.gov.br/legislacao/convenios/convenio?icms/2015/cv016_15>. Acesso em: 10 maio. 2018b.

COOK, T. D.; CAMPBELL, D. T.; SHADISH, W. Experimental and quasi-experimental designs for generalized causal inference. [s.l.] Houghton Mifflin Boston, 2002.

COPEL. Disponível em: <https://www.copel.com/hpcopel/root/nivel2.jsp?endereco=%2Fhpcopel%2Froot%2Fpagcopel2.nsf%2Fdocs%2F24349F1A246428E1032574240049F201>. Acesso em: 15 mar. 2019.

CORTELLA, M. S. Responsabilidade social, 2009. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=OrE59ACTCpQ>. Acesso em: 7 maio. 2018.

CUNHA, E. A. A., et al. ASPECTOS HISTÓRICOS DA ENERGIA EÓLICA NO BRASIL E NO MUNDO. Revista Brasileira de Energias Renováveis, 2018.

DARBY, S. The effectiveness of feedback on energy consumption. A Review for DEFRA of the Literature on Metering, Billing and direct Displays, v. 486, n. 2006, p. 26, 2006.

DE JAGER, D. et al. Financing renewable energy in the European energy market.

Final report by Ecofys, Fraunhofer ISI, TU Vienna EEG and Ernst

&Young, Ecofys, Utrecht, 2011.

DECC. UK National Energy Efficiency Action Plan, 2014.

DEL BORGHI, A.; GALLO, M.; DEL BORGHI, M. A survey of life cycle approaches in waste management. The International Journal of Life Cycle Assessment, v. 14, n. 7, p. 597–610, 2009.

DEMIGUEL, V. et al. A generalized approach to portfolio optimization: Improving performance by constraining portfolio norms. Management Science, v. 55, n. 5, p. 798–812, 2009.

DIAS, C. A. Grupo focal: técnica de coleta de dados em pesquisas qualitativas. Informação & Sociedade, v. 10, n. 2, 2000.

Page 210: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

210

DOBBYN, J.; THOMAS, G. Seeing the light: the impact of micro-generation on our use of energy. Sustainable Consumption Roundtable, 2005.

DODOU, D.; DE WINTER, J. C. Social desirability is the same in offline, online, and paper surveys: A meta-analysis. Computers in Human Behavior, v. 36, p. 487–495, 2014.

DOMINGOS, B. DOS S. et al. Estudo de payback simples para a substituição do gás liquefeito de petróleo pelo biogás em uma unidade hospitalar em Minas Gerais. Anais do IX SIMPROD, 2017.

DORIS, E.; COCHRAN, J.; VORUM, M. Energy efficiency policy in the United States: overview of trends at different levels of government. [s.l.] National Renewable Energy Lab.(NREL), Golden, CO (United States), 2009.

DREWS, S.; BERGH, J. C. J. M. VAN DEN. What explains public support for climate

policies? A review of empirical and experimental studies. Climate Policy, v.

16, n. 7, p. 855–876, 2 out. 2016.

DUMMEL, S.; RUMMEL, J.; VOSS, A. Additional information is not ignored: New evidence for information integration and inhibition in take-the-best decisions. Acta psychologica, v. 163, p. 167–184, 2016.

EKONOMIPRISET 2017 - Pressmeddelande. Disponível em: <https://www.nobelprize.org/search/thaler/>. Acesso em: 28 maio. 2019.

EL PAÍS. Brasil é o 4o país mais corrupto do mundo, segundo Fórum Econômico Mundial. 2016.

ELETROBRAS. Relatório de Impacto Ambiental. [s.l: s.n.]. Disponível em: <http://norteenergiasa.com.br/site/wp-content/uploads/2011/04/NE.Rima_.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2017.

EPE. Balanço Energético nacional BEN 2010 - ano base 2009. Rio de Janeiro: Ministério de Minas e Energia (MME), 2010.

_____. Balanço Energético nacional BEN 2011 - ano base 2010. Rio de Janeiro: Ministério de Minas e Energia (MME), 2011.

_____. Balanço Energético nacional BEN 2012 - ano base 2011. Rio de Janeiro: Ministério de Minas e Energia (MME), 2012.

_____. Balanço Energético nacional BEN 2013 - ano base 2012. Rio de Janeiro: Ministério de Minas e Energia (MME), 2013.

_____. Balanço Energético nacional BEN 2014 - ano base 2013. Rio de Janeiro: Ministério de Minas e Energia (MME), 2014.

_____. Balanço Energético nacional BEN 2015 - ano base 2014. Rio de Janeiro: Ministério de Minas e Energia (MME), 2015a.

Page 211: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

211

_____. Estimativa da capacidade instalada de geração distribuída no SIN: Aplicações no horário de ponta. [s.l: s.n.].

_____. Balanço Energético nacional BEN 2016 - ano base 2015. Rio de Janeiro: Ministério de Minas e Energia (MME), 2016.

_____. Balanço Energético nacional BEN 2017- ano base 2016. Rio de Janeiro: Ministério de Minas e Energia (MME), 2017.

_____. Balanço Energético nacional BEN 2018- ano base 2017. Rio de Janeiro: Ministério de Minas e Energia (MME), 2018.

_____. Plano Decenal de Expansão de Energia 2027. Rio de Janeiro: Ministério de Minas e Energia (MME), 2018.

ETO, J.; STOFT, S.; BELDEN, T. The theory and practice of decoupling utility revenues from sales. Utilities Policy, v. 6, n. 1, p. 43–55, 1997.

FADIGAS, Leonel. Urbanismo e território: as políticas públicas. Lisboa: Edições Sílabo, 2015.

FERREIRA, W. C. A Energia Eólica e a Mudança Estrutural do Setor Elétrico Brasileiro. Revista Brasileira de Energias Renováveis. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/rber/article/view/48167>. Acesso em: 15 mar. 2019.

FILHO, O. C.; JUNIOR, N. L. S.; LUEDEMANN, G. A avaliação de ciclo de vida como ferramenta para a formulação de políticas públicas no Brasil. 2016.FLEURY, L. C.; ALMEIDA, J. A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte: conflito ambiental e o dilema do desenvolvimento. Ambiente & Sociedade, v. 16, n. 4, 2013.

FLURY, K.; FRISCHKNECHT, R. Life cycle inventories of hydroelectric power generation. ESU-Services, Fair Consulting in Sustainability, commissioned by€ Oko-Institute eV, p. 1–51, 2012.

FRAUNHOFER-ISE. Photovoltaics report, 2018. Disponível em: <https://www.ise.fraunhofer.de/content/dam/ise/de/documents/publications/studies/Photovoltaics-Report.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2018

_____. Annual electricity generation in Germany in 2016. Disponível em: <https://www.energy-charts.de/energy.htm?source=all-sources&period=annual&year=2016>. Acesso em: 30 maio. 2018.

FREITAS, A. L. P.; RODRIGUES, S. G. A avaliação da confiabilidade de questionários: uma análise utilizando o coeficiente alfa de Cronbach. XII SIMPEP, p. 1–15, 2005.

FRISCHKNECHT, R. et al. Ökoinventare von Energiesystemen: Grundlagen für den ökologischen Vergleich von Energiesystemen. [s.l.] Institut für Energietechnik, ETH Eidgenössische Technische Hochschule, Zürich, 1996.

Page 212: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

212

GALESIC, M.; KAUSE, A.; GAISSMAIER, W. A sampling framework for uncertainty in individual environmental decisions. Topics in cognitive science, v. 8, n. 1, p. 242–258, 2016.

GARCIA-RETAMERO, R.; DHAMI, M. K. Take-the-best in expert-novice decision strategies for residential burglary. Psychonomic Bulletin & Review, v. 16, n. 1, p. 163–169, 2009.

GARDNER, G. T.; STERN, P. C. The short list: The most effective actions US households can take to curb climate change. Environment: science and policy for sustainable development, v. 50, n. 5, p. 12–25, 2008.

GELLER E. S. The challenge of increasing proenvironment behavior. Handbook of environmental psychology, v. 2, p. 525–540, 2002.

GEMAN, S.; BIENENSTOCK, E.; DOURSAT, R. Neural networks and the bias/variance dilemma. Neural computation, v. 4, n. 1, p. 1–58, 1992.

GIFFORD, R. The dragons of inaction: psychological barriers that limit climate change mitigation and adaptation. American Psychologist, v. 66, n. 4, p. 290, 2011.

GIGERENZER, G. O poder da intuição: o inconsciente dita as melhores decisões. Rio de Janeiro: Best Seller, 2009.

GIGERENZER, G.; GAISSMAIER, W. Heuristic decision making. Annual review of psychology, v. 62, p. 451–482, 2011.

GIGERENZER, G.; TODD, P. M.; ABC RESEARCH GROUP, THE. Simple heuristics that make us smart. [s.l.] Oxford University Press, 1999.

GIMBEL, R. W. et al. Presumed consent and other predictors of cadaveric organ donation in Europe. Progress in Transplantation, v. 13, n. 1, p. 17–23, 2003.

GLIEM, J. A.; GLIEM, R. R. Calculating, interpreting, and reporting Cronbach’s alpha reliability coefficient for Likert-type scales. Midwest Research-to-Practice Conference in Adult, Continuing, and Community, 2003

GOLDEMBERG, J.; LUCON, O. Energia e meio ambiente no Brasil. Estudos avançados, v. 21, n. 59, p. 7–20, 2007.

GOLDSTEIN, D. G.; GIGERENZER, G. Models of ecological rationality: the recognition heuristic. Psychological review, v. 109, n. 1, p. 75, 2002.

GOLDEMBERG, J. Atualidade e perspectivas no uso de biomassa para geração de energia. Revista Virtual de Química, v. 9, n. 1, 2016.

GOV UK. Energy use behaviour change. Parliamentary Office of Science and Technology, set. 2012. Disponível em: <http://www.parliament.uk/business/publications/research/briefing-papers/POST-PN-417>. Acesso em: 17 maio. 2018

Page 213: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

213

_____. Contracts for Difference, 2017. Disponível em: <https://www.gov.uk/government/publications/contracts-for-difference/contract-for-difference>. Acesso em: 19 mar. 2018

GROOT, J. I.; STEG, L. Morality and prosocial behavior: The role of awareness, responsibility, and norms in the norm activation model. The Journal of social psychology, v. 149, n. 4, p. 425–449, 2009.

GWEC. Global Wind Report - Annual Market Update 2015. [s.l: s.n.]. Disponível em: <http://www.gwec.net/wp-content/uploads/vip/GWEC-Global-Wind-2015-Report_April-2016_22_04.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2018.

IAZZOLINO, G.; GABRIELE, R. Energy efficiency and sustainable development: An analysis of financial reliability in energy service company’s industry. International Journal of Energy Economics and Policy, v. 6, n. 2, 2016.

IEA. Key World Energy Statistics 2012. Paris: International Energy Agency, 2012.

___. Key World Energy Statistics 2013. Paris: International Energy Agency, 2013.

___. World Energy Outlook 2014. Paris: OECD/ IEA, 2014.

___. Emissions Reduction through Upgrade of Coal-Fired Power Plants. . Paris: International Energy Agency, 2014. Disponível em: <https://www.iea.org/publications/freepublications/publication/PartnerCountrySeriesEmissionsReductionthroughUpgradeofCoalFiredPowerPlants.pdf>. Acesso em: 15 março. 2019.

___. IEA Headline Energy Data. Paris: International Energy Agency, 2015.

___. Energy balance flows. Paris: International Energy Agency, 2016.

___. World Energy Outlook 2017. [s.l.] IEA, 2017. Disponível em: <https://www.iea.org/weo/china/>. Acesso em: 30 maio. 2018.

___. Snapshot of global photovoltaic market. Disponível em: http://www.iea-pvps.org. Acesso em: 15 março. 2019.

___. Electricity Statistics. Paris: International Energy Agency, 2018. Acesso em: 15 março. 2019.

IRWIN, J. R.; BARON, J. Response mode effects and moral values. Organizational behavior and human decision processes, v. 84, n. 2, p. 177–197, 2001.

ISA, I. S. Especial Belo Monte. 2017.

JGP CONSULTORIA. Relatórios de Monitoramento Socioambiental Independente do Projeto UHE Belo Monte para o BNDES. [s.l.] JGP Consultoria, jun. 2017. Disponível em: <http://norteenergiasa.com.br/site/categoria/documentos/zz-relatorios-de-consultoria-ambiental-independente>. Acesso em: 14 abr. 2018.

Page 214: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

214

JIANG, F. H.; DU, X. Z. Development Status and Problems of Small Hydropower in China. China Rural Water and Hydropower, v. 3, p. 82–83, 2004.

JOHNSON, E. J. et al. Framing, probability distortions, and insurance decisions. Journal of risk and uncertainty, v. 7, n. 1, p. 35–51, 1993.

JOHNSON, E. J.; BELLMAN, S.; LOHSE, G. L. Defaults, framing and privacy: Why opting in-opting out. Marketing Letters, v. 13, n. 1, p. 5–15, 2002.

JOHNSON, E. J.; GOLDSTEIN, D. Do defaults save lives? [s.l.] American Association for the Advancement of Science, 2003.

JONES, D. A.; MARTENS, M. L. The mediating role of overall fairness and the moderating role of trust certainty in justice–criteria relationships: The formation and use of fairness heuristics in the workplace. Journal of Organizational Behavior, v. 30, n. 8, p. 1025–1051, 2009.

KAISER, F. G.; MIDDEN, C.; CERVINKA, R. Evidence for a Data-Based Environmental Policy: Induction of a Behavior-Based Decision Support System. Applied Psychology, v. 57, n. 1, p. 151–172, 2008.

KALDELLIS, J. K.; ZAFIRAKIS, D. The wind energy (r) evolution: A short review of a long history. Renewable Energy, v. 36, n. 7, p. 1887–1901, 2011.

KARAKAYA, E.; SRIWANNAWIT, P. Barriers to the adoption of photovoltaic systems: The state of the art. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 49, p. 60–66, 2015.

KATSIKOPOULOS, K. V.; DURBACH, I. N.; STEWART, T. J. When should we use simple decision models? A synthesis of various research strands. Omega, v. 81, p. 17–25, 2018.

KAZEM, H. A. et al. Optimum design and evaluation of hybrid solar/wind/diesel power system for Masirah Island. Environment, Development and Sustainability, v. 19, n. 5, p. 1761–1778, 1 out. 2017.

KITCHENHAM, B. A. Guidelines for performing Systematic Literature Reviews in Software Engineering. 2.3 ed. UK: EBSE Technical Report, Keele University and University of Durham, 2007.

KONIS, K.; OROSZ, M.; SINTOV, N. A window into occupant-driven energy outcomes: Leveraging sub-metering infrastructure to examine psychosocial factors driving long-term outcomes of short-term competition-based energy interventions. Energy and Buildings, v. 116, p. 206–217, 2016.

KONOVSKY, M. A. Understanding procedural justice and its impact on business organizations. Journal of management, v. 26, n. 3, p. 489–511, 2000.

KRUEGER, R. A. Focus groups: A practical guide for applied research. [s.l.] Sage publications, 2014.

Page 215: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

215

LAZAR, J. Electricity regulation in the US: a guide. [s.l.] Regulatory Assistance Project, 2016.

LEISEROWITZ, A. A.; KATES, R. W.; PARRIS, T. M. Do global attitudes and behaviors support sustainable development? Environment: Science and Policy for Sustainable Development, v. 47, n. 9, p. 22–38, 2005.

LEONELLI, P. A. Conferência Climática de Paris 2015 e Possíveis Repercussões em Eficiência Energética no Brasil - Produto 2.Brasília, 2016.

LESSA, A. C. R. et al. Emissions of greenhouse gases in terrestrial areas pre-existing to hydroelectric plant reservoirs in the Amazon: The case of Belo Monte hydroelectric plant. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 51, p. 1728–1736, 2015.

LI, S.-C. S. Fear appeals and college students’ attitudes and behavioral intentions toward global warming. The Journal of Environmental Education, v. 45, n. 4, p. 243–257, 2014.

LIMA, I. DE; NOVO, E. Carbon flows in the Tucuruí reservoir. Dams and Climate Change, Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia (COPPE), Universidade Federal de Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, p. 78–84, 1999.

MAGALHÃES, M. R. Aplicação Integrada de BIM e ACV como Ferramenta para a Prevenção de Resíduo Sólido de Construção Civil. Qualificação de Mestrado—Campinas: Unicamp, 2018.

MAHL, F. A. Um estudo da usina de Belo Monte. 2015.

MÄKINEN, K.; KHAN, S. Policy considerations for greenhouse gas emissions from freshwater reservoirs. Water alternatives, v. 3, n. 2, p. 91, 2010.

MALEK-ZADEH, Murilo Urssi, et al. A heurística como ferramenta para políticas de prevenção de resíduo sólido. 2018.

MARQUES, A. C.; FUINHAS, J. A.; MANSO, J. P. Motivations driving renewable energy in European countries: A panel data approach. Energy policy, v. 38, n. 11, p. 6877–6885, 2010.

MARTÍNEZ-ESPIÑEIRA, R.; GARCÍA-VALIÑAS, M. A.; NAUGES, C. Households’ pro-environmental habits and investments in water and energy consumption: Determinants and relationships. Journal of environmental management, v. 133, p. 174–183, 2014.

MCKENZIE, C. R.; LIERSCH, M. J.; FINKELSTEIN, S. R. Recommendations implicit in policy defaults. Psychological Science, v. 17, n. 5, p. 414–420, 2006.

MCKENZIE-MOHR, D. Fostering sustainable behavior: An introduction to community-based social marketing. [s.l.] New society publishers, 2011.

Page 216: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

216

MELLO, O. D.; et al. Despacho integrado da geração termelétrica e da produção e transmissão de gás natural. 2006.

MERCADO LIVRE DE ENERGIA ELÉTRICA. Visão Geral Mercado Livre (ACL) X Mercado cativo (ACR) MERCADO LIVRE (ACL) X MERCADO CATIVO (ACR). Disponível em: <https://www.mercadolivredeenergia.com.br/>.

MESSICK, D. M. Alternative logics for decision making in social settings. Journal of Economic Behavior & Organization, v. 39, n. 1, p. 11–28, 1999.

MIDDEN, C. J.; KAISER, F. G.; TEDDY MCCALLEY, L. Technology’s four roles in understanding individuals’ conservation of natural resources. Journal of Social Issues, v. 63, n. 1, p. 155–174, 2007.

MME. Relatório das Atividades do Comitê Gestor de Indicadores e Níveis de Eficiência Energética – 2014. Brasília: EPE, 2014.

_____. Estimativa da capacidade instalada de geração distribuída no SIN: Aplicações no horário de ponta. Rio de Janeiro: EPE, 2015a.

_____. Programa de Desenvolvimento da Geração Distribuída de Energia Elétrica. Disponível em: <http://www.mme.gov.br/documents/10584/3013891/15.12.2015+Apresenta%C3%A7%C3%A3o+ProGD/bee12bc8-e635-42f2-b66c-fa5cb507fd06?version=1.0 > Acesso em: 10/05/2018.>. Acesso em: 10 maio. 2018b.

MOREIRA, R. V. CORRUPÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE: ANÁLISE FILOSÓFICO-JURÍDICA DE “UM TRÁGICO CONFLITO”. In: ANAIS DA XII JNLF. Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos, 2018.

MOREY, M. J.; KIRSCH, L. D. Retail choice in electricity: What have we learned in 20 years. Washington, DC: Christensen Associates Energy Consulting LLC for Electric Markets Research Foundation, 2016.

MOUSSAOUI, L. S.; DESRICHARD, O. Act local but don’t think too global: The impact of ecological goal level on behavior. The Journal of social psychology, v. 156, n. 5, p. 536–552, 2016.

NADEL, S.; ELLIOTT, R. N.; LANGER, T. Energy efficiency in the United States: 35 years and counting. American Council for an Energy-Efficient Economy, 2015

NASA. Climate change evidence: How do we know? Disponível em: <https://climate.nasa.gov/evidence>. Acesso em: 23 jul. 2018.

NEGRO, S. O.; ALKEMADE, F.; HEKKERT, M. P. Why does renewable energy diffuse so slowly? A review of innovation system problems. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 16, n. 6, p. 3836–3846, 2012.

Page 217: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

217

NORTE ENERGIA. UHE Belo Monte. In: IBRACON - 53° CONGRESSO BRASILEIRO DE CONCRETO. Florianópolis, 2011.

_____. Apresentação Geral do Aproveitamento - Belo Monte, 2014. Disponível em: <http://iep.org.br/iep/wp-content/uploads/2014/09/Belo-Monte.pdf>. Acesso em: 21 jul. 2017

OBSERVATÓRIO DO CLIMA. Emissões dos Setores de Energia, Processos Industriais E Uso De Produtos. São Paulo: Observatório do Clima, 2017. Disponível em: <http://seeg.eco.br/wp-content/uploads/2017/09/Relatorios-Seeg-2017-Energia-final.pdf>. Acesso em: 9 abr. 2018.

OHLER, A. M.; BILLGER, S. M. Does environmental concern change the tragedy of the commons? Factors affecting energy saving behaviors and electricity usage. Ecological Economics, v. 107, p. 1–12, 2014.

OLIVEIRA. GERAÇÃO DE ENERGIA X IMPACTO AMBIENTAL.2011. Disponível em: <http://www.waltenomartins.com.br/tcc_2011_Thalles.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2019

OLIVIER, J. G. J. et al. Trends in global CO2 emissions: 2015 Report. Institute for Environment and Sustainability (IES), 2015.

OPPENHEIM, A. N. Questionnaire design, interviewing and attitude measurement. [s.l.] Bloomsbury Publishing, 2000.

OSBALDISTON, R.; SCHOTT, J. P. Environmental sustainability and behavioral science: Meta-analysis of proenvironmental behavior experiments. Environment and Behavior, v. 44, n. 2, p. 257–299, 2012.

OVERHOLM, H. Spreading the rooftop revolution: What policies enable solar-as-a-service? Energy Policy, v. 84, p. 69–79, 2015.

PEREIRA, M. F. Análise exergo ambiental da cadeia produtiva da biomassa florestal para fins energéticos. 2018.

PERIUS, M. R.; CARREGARO, J. B. Pequenas centrais hidrelétricas como forma de redução de impactos ambientais e crises energéticas. Ensaios e Ciência: C. Biológicas, Agrárias e da Saúde, 2015, 16.2.

PICHERT, D.; KATSIKOPOULOS, K. V. Green defaults: Information presentation and pro-environmental behaviour. Journal of Environmental Psychology, v. 28, n. 1, p. 63–73, 2008.

PIRES, A. Brasil enfrenta a pior crise energética da história. Disponível em: <http://noblat.oglobo.globo.com/geral/noticia/2015/01/brasil-enfrenta-pior-crise-energetica-da-historia.html>. Acesso em: 3 jun. 2018.

PIRES, A. Falta visão holística ao setor elétrico - Economia. Disponível em: <https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,falta-visao-holistica-ao-setor-eletrico,70002694678>. Acesso em: 14 mar. 2019.

Page 218: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

218

PIRES, J. C. L.; PICCININI, M. S. Mecanismos de regulação tarifária do setor elétrico: a experiência internacional e o caso brasileiro. Rio de Janeiro: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, 1998.

POESCHL, M.; WARD, S.; OWENDE, P. Environmental impacts of biogas deployment–Part II: life cycle assessment of multiple production and utilization pathways. Journal of Cleaner Production, v. 24, p. 184–201, 2012.

POLZIN, F. et al. Public policy influence on renewable energy investments—A panel data study across OECD countries. Energy Policy, v. 80, p. 98–111, 1 maio 2015.

POTHITOU, M. et al. Linking energy behaviour, attitude and habits with environmental predisposition and knowledge. International Journal of Sustainable Energy, v. 36, n. 4, p. 398–414, 2017.

RAADAL, H. L. et al. Life cycle greenhouse gas (GHG) emissions from the generation of wind and hydro power. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 15, n. 7, p. 3417–3422, 2011.

REIMER, T.; RIESKAMP, J. Fast and Frugal Heuristics. Encyclopedia of Social Psychology. [s.l.] SAGE Publications, Inc. SAGE Publications Inc, Thousand Oaks, CA, 2007.

REN21. Renewable Energy Policy Network for the 21st Century. [s.l.] Renewables, 2015.

RIBEIRO, F. DE M. Inventário de ciclo de vida da geração hidrelétrica no Brasil-Usina de Itaipu: primeira aproximação. PhD Thesis—[s.l.] Universidade de São Paulo, 2003.

RIBEIRO, F. DE M.; SILVA, G. A. DA. Life-cycle inventory for hydroelectric generation: a Brazilian case study. Journal of Cleaner Production, v. 18, n. 1, p. 44–54, 2010.

RICHEY, J. E. The Amazon river system: a biogeochemical model. Transport of Carbon and Minerals in Major World Rivers, Pt, v. 1, p. 365–378, 1982.

RICHTER, T.; SPÄTH, P. Recognition is used as one cue among others in judgment and decision making. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, and Cognition, v. 32, n. 1, p. 150, 2006.

RICHTER, M. German utilities and distributed PV: How to overcome barriers to business model innovation. Renewable Energy, v. 55, p. 456–466, 2013.

ROCHA, J. D.; BURSZTYN, M. A. A importância da participação social na sustentabilidade do desenvolvimento loca. Interações (Campo Grande), 2016, 7.11.ROSA, L. P. et al. Measurements of greenhouse gas emissions in Samuel, Tucuruí and Balbina Dams. Hydropower Plants and Greenhouse Gas Emissions. Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (COPPE), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, p. 41–55, 1997.

Page 219: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

219

ROSA, L. P. et al. Greenhouse gas emissions from hydroelectric reservoirs in tropical regions. Climatic Change, v. 66, n. 1–2, p. 9–21, 2004.

RUCHANSKY, B. et al. Eficacia institucional de los programas nacionales de efiencia energética: los casos del Brasil, Chile, México y el Uruguay. 2011.

SANTOS, M. A. DOS. Inventário emissões de gases de efeito estufa derivadas de Hidréletricas. PhD Thesis—[s.l.] PhD. Dissertation, University of Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil, 154p, 2000.

SANTOS, E. O. et al. The importance of land use change analysis in the greenhouse gases emissions from hydroelectric reservoirs. Internationale Vereinigung für theoretische und angewandte Limnologie: Verhandlungen, v. 30, n. 6, p. 845–849, 2009.

SATC. Carvão Mineral – Dados Estatísticos. [s.l.] Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina, 2014.

SCHEIBEHENNE, B.; BRÖDER, A. Predicting Wimbledon 2005 tennis results by mere player name recognition. International Journal of Forecasting, v. 23, n. 3, p. 415–426, 2007.

SCHMIDT, João Pedro. Condicionantes e diretrizes de políticas públicas: um enfoque comunitarista da transformação social. Revista Brasileira de Políticas Públicas, 2017, 6.3: 43-63.SCHULTZ, P.; KAISER, F. G. Promoting pro-environmental behavior. 2012.

SCHULTZ, P. W. et al. Values and their relationship to environmental concern and conservation behavior. Journal of cross-cultural psychology, v. 36, n. 4, p. 457–475, 2005.

SCHULTZ, P. W. Making energy conservation the norm. People-centered initiatives for increasing energy savings, p. 251–262, 2010.

_____. Strategies for promoting proenvironmental behavior. European Psychologist, 2014.

SCHULTZ, P. W.; OSKAMP, S.; MAINIERI, T. Who recycles and when? A review of personal and situational factors. Journal of environmental psychology, v. 15, n. 2, p. 105–121, 1995.

SCHULTZ, P. W.; TABANICO, J.; RENDÓN, T. Normative beliefs as agents of influence: Basic processes and real-world applications. Attitudes and attitude change, p. 385–409, 2008.

SHAH, A. K.; OPPENHEIMER, D. M. Heuristics made easy: An effort-reduction framework. Psychological bulletin, v. 134, n. 2, p. 207, 2008.

SHAO, C. et al. Integrated Planning of Electricity and Natural Gas Transportation Systems for Enhancing the Power Grid Resilience. IEEE Transactions on Power Systems, v. 32, n. 6, p. 4418–4429, nov. 2017.

Page 220: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

220

SHRUM, L. J.; LOWREY, T. M.; MCCARTY, J. A. Recycling as a marketing problem: a framework for strategy development. Psychology & Marketing, v. 11, n. 4, p. 393–416, 1994.

SILVA, A. L. R. DA. Comportamento do consumidor livre de energia elétrica: pesquisas ano 2007 e ano 2010. Revista Estratégica, v. 10, n. 2, 2010.

SIVAK, M. Potential energy demand for cooling in the 50 largest metropolitan areas of the world: Implications for developing countries. Energy Policy, v. 37, n. 4, p. 1382–1384, 2009.

SMIL, V. Energy Transitions: Global and National Perspectives, 2nd Edition. [s.l.] ABC-CLIO, 2016.

SORRELL, S. The Rebound Effect: an assessment of the evidence for economy-wide energy savings from improved energy efficiency. [s.l.] UK Energy Research Centre London, 2007.

SOUGHGATE, T. Belo Monte: Depois da Inundação, 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=bw4eHUVlMAk>. Acesso em: 3 ago. 2017

SOUMIS, N. et al. Hydroelectric reservoirs as anthropogenic sources of greenhouse gases. Water encyclopedia, 2005.

STEG, L.; VLEK, C. Encouraging pro-environmental behaviour: An integrative review and research agenda. Journal of environmental psychology, v. 29, n. 3, p. 309–317, 2009.

STEINHORST, J.; KLÖCKNER, C. A.; MATTHIES, E. Saving electricity–For the money or the environment? Risks of limiting pro-environmental spillover when using monetary framing. Journal of Environmental Psychology, v. 43, p. 125–135, 2015.

STERN, P. C. New environmental theories: toward a coherent theory of environmentally significant behavior. Journal of social issues, v. 56, n. 3, p. 407–424, 2000.

SUNSTEIN, C. R.; THALER, R. H. Libertarian paternalism is not an oxymoron. The University of Chicago Law Review, p. 1159–1202, 2003.

SWISHER, J. N.; MARTINO, J.; REDLINGER, R. Y. Tools and methods for integrated resource planning. Improving energy efficiency and protecting the environment. [s.l.] United Nations Environmental Programme, 1997.

TESKE, S. et al. Energy [r] evolution-a sustainable world energy outlook. [s.l.] Greenpeace International, EREC and GWEC, 2012.

TESTA, F.; COSIC, A.; IRALDO, F. Determining factors of curtailment and purchasing energy related behaviours. Journal of Cleaner Production, v. 112, p. 3810–3819, 2016.

Page 221: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

221

TESTER, J. W. et al. Sustainable Energy: Choosing Among Options. 1st. [s.l.]

THALER, Richard H.; SUNSTEIN, Cass R. Nudge: Improving decisions about health, wealth, and happiness. Penguin, 2009.

THALER, Richard H.; GANSER, L. J. Misbehaving: The making of behavioral economics. New York: WW Norton, 2015.

TIAN, Z. X. New mission of small hydropower. Small Hydro Power, v. 3, p. 8–9, 2010.

TODD, P. M.; GIGERENZER, G. Environments that make us smart: Ecological rationality. Current directions in psychological science, v. 16, n. 3, p. 167–171, 2007.

_____. Ecological rationality: Intelligence in the world. [s.l.] OUP USA, 2012.

TOLMASQUIM, M. Energia renovável: hidráulica, biomassa, eólica, solar, oceânica. Rio de Janeiro: EPE, 2016.

_____. Energia termelétrica: gás natural, biomassa, carvão e nuclear. Rio de Janeiro: EPE, 2016.

TRACY, A. P.; OSKAMP, S. Relationships among ecologically responsible behaviors. Journal of Environmental Systems, v. 13, n. 2, 1983.

TURCONI, R.; BOLDRIN, A.; ASTRUP, T. Life cycle assessment (LCA) of electricity generation technologies: Overview, comparability and limitations. Renewable and sustainable energy reviews, v. 28, p. 555–565, 2013.

UNEP. Life cycle assessment: What it is and how to do it. Paris: United Nation Environment, 1996.

VAN VUGT, M.; SAMUELSON, C. D. The impact of personal metering in the management of a natural resource crisis: A social dilemma analysis. Personality and Social Psychology Bulletin, v. 25, n. 6, p. 735–750, 1999.

VICHI, F. M.; MANSOR, M. T. C. Energia, meio ambiente e economia: o Brasil no contexto mundial. Química Nova, v. 32, n. 3, p. 757–767, 2009.

WBA. WBA Global Bioenergy Statistics 2014. World Bioenergy Association (WBA), 2014.

_____. WBA Global Bioenergy Statistics 2015. World Bioenergy Association (WBA), 2015.

WEIGOLD, A.; WEIGOLD, I. K.; RUSSELL, E. J. Examination of the equivalence of self-report survey-based paper-and-pencil and internet data collection methods. Psychological methods, v. 18, n. 1, p. 53, 2013.

WGC. Keynote Speeches 1 – session sumaries, 26th World Gas Conference. In: WORLD GAS CONFERENCE (WGC). Paris, 2015.

Page 222: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

222

WHITE, W. et al. The role of governments in renewable energy: The importance of

policy consistency. Biomass and bioenergy, v. 57, p. 97–105, 2013.

XIAO, Jun, et al. Sizing of energy storage and diesel generators in an isolated microgrid using discrete Fourier transform (DFT). IEEE Transactions on Sustainable Energy, 2014, 5.3: 907-916.

YANG, L. et al. Progress in the studies on the greenhouse gas emissions from reservoirs. Acta Ecologica Sinica, v. 34, n. 4, p. 204–212, 2014.

ZHANG, Q. et al. Life-cycle inventory of energy use and greenhouse gas emissions for two hydropower projects in China. Journal of Infrastructure Systems, v. 13, n. 4, p. 271–279, 2007.

Page 223: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

223

9. APÊNDICES

Apêndice 1

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

ANÁLISE DO PROCESSO HEURÍSTICO DE TOMADA DE DECISÃO NO SETOR ENERGÉTICO

ELÉTRICO BRASILEIRO

Nádia Dutra Campos, FEC/Unicamp

Número do CAAE: 89306518.2.0000.8142

Como profissional do setor elétrico brasileiro, você está sendo convidado a participar como voluntário

de uma pesquisa. Este documento, chamado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, visa

assegurar seus direitos como participante.

Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas dúvidas. Se houver perguntas

antes ou mesmo depois de lê-lo, você poderá esclarecê-las com o pesquisador. Se preferir, pode

consultar outras pessoas antes de decidir participar. Não haverá nenhum tipo de penalização ou

prejuízo se você não aceitar participar ou retirar sua autorização em qualquer momento.

Justificativa e objetivos:

O presente projeto consiste em determinar e categorizar quais fatores influenciam no processo de

tomada de decisão no setor elétrico brasileiro, do ponto de vista técnico. O objetivo é utilizar essa

informação para gerar um plano de políticas públicas inovador que forneça ferramentas estruturadas,

viáveis e bem-sucedidas que permitam uma geração de energia elétrica mais limpa, eficiente e

ambientalmente responsável.

Procedimentos:

Participando do estudo você está sendo convidado a participar de um questionário. A duração

aproximada será 20 minutos.

Desconfortos e riscos:

Você não deve participar deste estudo caso não possua 18 anos de idade. A entrevista possui

diretrizes claras e concisas a fim de diminuir o tempo necessário para fazê-la, evitando assim qualquer

desconforto associado. Sua identidade e respostas são confidenciais. Nenhum nome ou informação

individual será utilizado ou compartilhado para futuros propósitos, evitando quaisquer riscos de

invasão de confiabilidade. Somente os pesquisadores inscritos neste projeto manipularão os dados

coletados e não empregando o serviço de terceiros para a análise dos dados. Dessa forma, esses

riscos serão minimizados.

Benefícios:

Você foi selecionado por ser um especialista da área energética, assim suas opiniões e ideias sobre

este assunto são muito importantes. Você representará outras pessoas que pensam

semelhantemente a você. Nosso objetivo é documentar, através desta pesquisa o processo decisório

no planejamento energético brasileiro. Contribuindo, assim, para futuros projetos e políticas públicas

poderão ser definidas e implantadas baseando-se nessas informações. Ressalta-se que esses

benefícios são difusos, coletivos e não incidirão diretamente sobre você devido a sua participação

nesta pesquisa.

Versão: março-2016 Página 1 de 2

Page 224: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

224

Acompanhamento e assistência:

Caso tenha alguma dúvida a respeito desta pesquisa ou sobre este questionário, entre em contato

com Nádia Dutra Campos, pelo email [email protected], que dará a assistência necessária,

incluindo o eventual acompanhamento após o encerramento ou interrupção da pesquisa. Todas as

ferramentas necessárias para a condução do experimento serão fornecidas garantindo a condução

das atividades propostas.

Sigilo e privacidade:

Você tem a garantia de que sua identidade será mantida em sigilo e nenhuma informação será dada

a outras pessoas que não façam parte da equipe de pesquisadores. Na divulgação dos resultados

desse estudo, seu nome não será citado.

Contato:

Em caso de dúvidas sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com a pesquisadora Nádia

Dutra Campos, no Departamento de Saneamento e Ambiente da Faculdade de Engenharia Civil,

Arquitetura e Urbanismo no endereço Avenida Saturnino de Brito, 224, Campinas – SP, 13083889 ou

através do email [email protected].

Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre questões éticas do estudo,

você poderá entrar em contato com a secretaria do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNICAMP

das 08:30hs às 11:30hs e das 13:00hs as 17:00hs na Rua: Tessália Vieira de Camargo, 126; CEP

13083-887 Campinas – SP; telefone (19) 3521-8936 ou (19) 3521-7187; email: [email protected].

O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

O papel do CEP é avaliar e acompanhar os aspectos éticos de todas as pesquisas envolvendo seres

humanos. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), tem por objetivo desenvolver a

regulamentação sobre proteção dos seres humanos envolvidos nas pesquisas. Desempenha um

papel coordenador da rede de Comitês de Ética em Pesquisa (CEPs) das instituições, além de assumir

a função de órgão consultor na área de ética em pesquisas

Responsabilidade do Pesquisador:

Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e complementares na

elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Asseguro,

também, ter explicado e fornecido uma via deste documento ao participante. Informo que o estudo foi

aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi apresentado. Comprometo-me a utilizar o material e

os dados obtidos nesta pesquisa exclusivamente para as finalidades previstas neste documento ou

conforme o consentimento dado pelo participante.

03/09/2018

Consentimento livre e esclarecido:

Após ter recebido esclarecimentos sobre a natureza da pesquisa, seus objetivos, métodos,

benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta possa acarretar, aceito participar e

declaro estar recebendo uma via original deste documento enviada pelo pesquisador.

Versão: março-2016 Página 2 de 2

Page 225: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

225

Apêndice 2

“Prezado especialista,

Meu nome é Nádia, estou finalizando meu mestrado na FEC sob o título “HEURÍSTICA

APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NO

BRASIL” e seus trabalhos publicados relacionados ao tema de planejamento elétrico estão

sendo muito importantes e inspiradores para o meu trabalho.

A metodologia da minha pesquisa basicamente é dividida em duas etapas, em que na

primeira eu apliquei questionários online a mais de 100 especialistas do setor elétrico

brasileiro, na tentativa de analisar qual é processo cognitivo da tomada de decisão de

implementação de fontes elétricas no Brasil. Se você participou desta etapa e eu o

agradeço por isso.

A segunda corresponde a entrevistas com um grupo mais seleto de especialistas em

planejamento energético (10 entrevistas) e você foi indicado como um destes. O

objetivo destas entrevistas é identificar e avaliar as principais barreiras para a geração

ambientalmente responsável de energia elétrica no Brasil e indicar e as possíveis

intervenções que podem ser realizadas para superar estas barreiras, no intuito de

gerar diretrizes para políticas públicas ambientalmente responsáveis no setor elétrico.

Eu já identifiquei e agrupei estas barreiras e intervenções, de acordo com a literatura

acadêmica e experiências internacionais, conforme os quadros em anexo. Desta

forma, a tarefa dos entrevistados aqui é avaliar os quadros, fazer críticas e

sugerir melhorias a eles.

Neste sentido, gostaria de pedir, encarecidamente, para que você participe desta

etapa. Estas entrevistas podem ser feitas pessoalmente, com a restrição de que não

consigo de me deslocar além de São Paulo, devido a limitações financeiras, ou

virtualmente num encontro por Skype. Estou à disposição para eventuais dúvidas e

esclarecimentos.

Desde já sou grata,

Nádia”

Page 226: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

226

10. ANEXOS

Glossário

Alguns conceitos importantes de energia elétrica (BAJAY et al.,2018):

Ativos das empresas: bens e direitos que são utilizados economicamente pelas empresas.

Auto geração de energia: quando o consumidor (de qualquer tipo) gera energia para seu próprio uso.

Autoprodução de energia: é aquela realizada por pessoa física ou jurídica ou, ainda, por empresas reunidas em consórcio que são autorizadas ou recebem uma concessão para produzir energia elétrica destinada ao seu próprio uso. A eletricidade excedente pode ser comercializada com a autorização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Benchmarking: é uma comparação de empresas que desejam aprimorar o seu desempenho com outras que podem servir de modelo ideal por já terem alcançado um patamar de excelência. É um tipo de regulação por incentivos.

Capacidade instalada: é a capacidade máxima de produção instantânea de energia elétrica que um gerador possui. Trata-se de uma medida de potência, referindo-se à quantidade máxima de energia possível de ser instantaneamente gerada.

Carga: demandas de potência ativa e reativa em determinado ponto de interesse. Por exemplo, de um consumidor, de um grupo de consumidores, de um setor, de um transformador ou região geográfica do sistema elétrico. A carga máxima equivale à carga (ou potência) máxima (taxa temporal de transferência de energia) no momento em que é necessária a maior quantidade de energia.

Cogeração: Processo de geração combinada de duas formas diferentes de energia a serem utilizadas: térmica e mecânica. A primeira geralmente é utilizada em processos que requerem uso de vapor (temperaturas altas) e a segunda usualmente para gerar eletricidade.

Concessionárias: são empresas que estabelecem um contrato de concessão com o poder concedente, que lhes fornece o direito e o dever de prestar um serviço público.

Consumidores cativos: aqueles que compram a eletricidade diretamente e obrigatoriamente da distribuidora local.

Consumidores livres: são aqueles que possuem liberdade de negociação e de escolha para comprar a eletricidade que precisam diretamente do gerador ou de um intermediário (comercializador).

Page 227: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

227

Curvas de carga: são gráficos que representam a anotação hora a hora da carga demandada ao longo do dia. O intervalo apresentado pode, com menor frequência, corresponder a uma semana, mês ou ano.

Custos marginais: o custo de prover um serviço para uma unidade a mais. No caso da distribuição de energia elétrica, são os custos que correspondem à mudança que a entrega de uma unidade a mais de eletricidade pode causar nos custos totais.

Demanda: é a média da potência elétrica instalada em operação pelos consumidores durante um período de tempo especificado, normalmente 15 minutos, sofrendo alterações à medida que os equipamentos dos consumidores são ligados ou desligados.

Despacho: injeção da eletricidade gerada pelas usinas no sistema.

Distribuidoras: empresas que contabilizam todo o processo de distribuição da energia consumida em uma região específica, sendo responsáveis pela operação, construção e manutenção da infraestrutura de distribuição da região onde atuam. Elas contabilizam e cobram o consumo energético e o uso do sistema nessa região.

Eficiência energética: relação entre a energia útil (isto é, aquela realmente convertida na forma desejada para uso final) e a energia consumida pelo equipamento (ou conjunto de equipamentos) realizando essa conversão energética. Aparelhos energeticamente mais eficientes são aqueles que gastam menos energia para cumprir o seu propósito. Também pode ser entendida como usufruir mais de um mesmo serviço energético consumindo menos energia. O aumento da eficiência energética reduz o consumo de eletricidade e a sobrecarga no sistema em determinados períodos do dia.

Energia: a energia consumida por um equipamento equivale à sua potência multiplicada pelo tempo de uso. No caso da eletricidade, sua medida é o watt-hora (Wh), que representa, por exemplo, o consumo energético de um equipamento de um watt de potência funcionando durante uma hora ou um equipamento de 2 watts operando durante meia hora ou, ainda, um de 60 watts (como um ventilador de mesa) ligado durante dez minutos.

Energia assegurada: é a quantidade máxima de energia, ou seja, o limite que pode ser comercializado no longo prazo por um gerador, calculada com base no pior ciclo de produção da usina. Também conhecida como garantia física.

Escos: Empresas de Serviços de Conservação de Energia. São empresas especializadas na prestação de serviços relacionados à eficiência energética. Também oferecem outros serviços, na área de geração distribuída, por exemplo. Além disso, elas possibilitam que as concessionárias de distribuição de energia elétrica ofereçam serviços e projetos ligados à eficiência energética e à geração distribuída.

Garantia física: como também pode ser chamada a energia assegurada.

Garantia de suprimento: é a segurança de que o gerador possui a capacidade de fornecer a quantidade de eletricidade necessária para abastecer o público consumidor.

Page 228: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

228

Geração centralizada: a energia é gerada em um local, geralmente distante da carga e em usinas de maior porte. Posteriormente, a energia é transmitida e distribuída para o consumidor por meio das redes de transmissão e de distribuição.

Geração distribuída: ocorre quando a energia é gerada no centro de consumo ou próximo dele. Os sistemas de geração podem ou não estar conectados diretamente à rede de distribuição.

Harmônicos: são correntes ou tensões elétricas produzidas na rede por aparelhos elétricos como motores, lâmpadas fluorescentes, máquinas de lavar roupa e transformadores, por exemplo, que podem distorcer a tensão original da rede e impactar o funcionamento de equipamentos.

Matriz elétrica: é a composição de todas as fontes de energia e as respectivas quantidades de geração de eletricidade utilizadas em um determinado lugar e em um determinado período, normalmente em um ano.

Matriz energética: é o conjunto de todas as fontes (primárias) e as respectivas quantidades de energia consumidas em um determinado local e em um determinado período. Na matriz energética brasileira há, por exemplo, carvão, gás natural, petróleo, madeira, cana-de-açúcar, entre outros.

Modicidade tarifária: é um valor de tarifa considerado razoável, que esteja ao alcance dos consumidores, sem onerá-los excessivamente.

Net metering: é um sistema de compensação de energia. Nesse sistema, a energia excedente de um gerador distribuído (como painéis fotovoltaicos e microturbinas eólicas) é injetada na rede e se converte em créditos de energia para posterior compensação ao consumidor. Outra forma de net metering ocorre quando toda energia gerada é injetada na rede e é remunerada monetariamente pela distribuidora.

Permissionárias: são as empresas, pessoas físicas ou jurídicas, que recebem uma permissão do poder concedente para prestar um serviço público, no caso, a distribuição de energia elétrica. Essa permissão é regulamentada por meio do chamado contrato de permissão.

Potência: é a quantidade de energia (eletricidade, por exemplo) que um equipamento consome em uma unidade de tempo para poder funcionar. Quanto maior a potência, mais energia ele vai consumir em comparação com um equipamento de menor potência. A unidade de medida de potência é o watt (W).

Prosumidor: palavra que mescla produtor e consumidor, do inglês prosumer (producer + consumer). Trata-se do consumidor que passa a produzir a própria eletricidade e, em alguns casos, a fornecer parte dessa energia para as concessionárias de distribuição.

Tarifa horo-sazonal: a tarifa que é diferente para determinado período do dia (horário) e do ano (estação seca ou chuvosa), ou seja, que varia entre os períodos de ponta e fora da ponta e os períodos seco e úmido.

Page 229: HEURÍSTICA APLICADA A POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A …repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/335144/1/Campos_NadiaDutra_M.pdfThe results show the predominance of the use of the heuristic

229

Tensão elétrica: ou diferença de potencial elétrico, é a diferença em energia potencial elétrica por unidade de carga elétrica entre dois pontos. A tensão é indicada pela medida chamada de volt (V).

Watt: unidade de potência de um equipamento, ou seja, determina o quanto de energia por segundo o equipamento vai precisar para funcionar.

Watt-hora: unidade de energia que representa o consumo de um equipamento de um watt de potência funcionando durante uma hora.