História - Arte do Renascimento

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A ARTE DO RENASCIMENTO RENASCIMENTO A ARTE DO JOSÉ DIOGO NOGUEIRA JUNHO DE 11 ESCOLA EB 2,3 FRANCISCO TORRINHA

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A ARTE DO RENASCIMENTO

RENASCIMENTO A ARTE DO

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

JUNHO DE 11

ESCOLA EB 2,3 FRANCISCO TORRINHA

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

A ARTE DO

RENASCIMENTO TRABALHO REALIZADO NO ÂMBITO DA DISCIPLINA DE HISTÓRIA, - 8.º ANO,

DA ESCOLA EB 2,3 FRANCISCO TORRINHA

PORTO

ABRIL DE 2011

A ARTE DO RENASCIMENTO

As mais lindas palavras de amor, são ditas no silêncio

de um olhar.

Leonardo da Vinci

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

Introdução

Tantas vezes ouvimos a palavra renascimento que por vezes a desprovemos do seu sentido mais original.

Apliquemos então este termo num movimento cultural tão amplo que restaura as bases do classicismo. E apertir desse

termo realizemos este trabalho de modo a conseguir que tudo tenha um sentido lógico dentro dos parâmetros que de nós são

esperados.

Se não analiso uma obra concreta é porque isso estenderia o trabalho por mais umas quantas (muitas) páginas, pois as

obras do Renascimento têm na sua generalidade um sentido ambíguo.

E assim me proponho a demonstrar este árduo movimento cultural e saciar a minha própria curiosidade relativa a

outros tempos e outras histórias.

A meu ver o próprio Renascimento contraria o paradigma da história como uma sucessão de acontecimentos.

Espero transmitir a mensagem que pretendo transmitir desde aqui até concluir este trabalho.

Abril de 2011

A ARTE DO RENASCIMENTO

LUCA DELLA ROBBIA:

Cantoría

Relevo em mármore

104 x 107 cm em painel completo

Pormenor

Museu do Duomo, Florença

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

A ARTE DO RENASCIMENTO

ANDREA MANTEGNA:

Decoração da Câmara dos Esposos (óculo

fingido)

1465-1474

Fresco: 270 cm

Palácio Ducal, Mântua.

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

O RENASCIMENTO

Após muita ponderação, nos tempos modernos, considera-se que o termo Renascimento para denominar um espaço cultural

como o século XV não é o mais correcto. Tal acontece igualmente com o Humanismo. Nem mesmo dentro do mesmo a cultura

era homogenia, porque a arte não goza desse critério unificador.

Também os limites cronológicos se revelam pouco adequados

para demarcar a expressão visual dentro dos sistemas de um calendário

assinalado por séculos. As ideias, a vida e a arte não nascem com datas

do calendário.

Isto significa que a utilização termos como Renascimento, Huma-

nismo ou Século XV, estão-se apenas a indicar referências históricas que

permitem uma melhor análise dos movimentos culturais e artísticos de

uma época que também não coincide exactamente com o chamado

século XV.

O século XV, cultural e artisticamente, nasce após a peste na

Europa do ano 1348. esta nova época é marcada pela vida urbana, o

aparecimento da burguesia e o sentido laico da vida.

Em toda a Europa, esta nova época, vai instalar três elementos. A

busca e imitação dos modelos clássicos, gregos e latinos, que aconteceu

nos estados ou centros da península italiana, não de seu por igual no

resto dos centros europeus. O humanismo no sentido clássico, defendi-

do por Petrarca, não se revela na cultura europeia, pelo menos não no

século XV, que, nos seus respectivos locais, não sente grande interesse

pelo classicismo.

O esquema hierárquico em que dominam os clérigos é tentado

revogar pelo desenvolvimento da vida nas cidades, a direcção e o domí-

nio da vida económica e social dos burgueses. Fomenta-se assim um

processo de civilização em todos os aspectos, sociais, económicos, polí-

ticos e artísticos.

O gosto pela vida, a disponibilidade económica e a ânsia de prazer, despertam a encomenda, o mecenato, os investi-

mentos em acções e iniciativas artísticas. A burguesia ostenta assim o seu papel político, ideológico e social, contagiando até,

por vezes, a própria Igreja.

Nasce um novo conceito urbanístico, e o palácio, tal como a Igreja, organiza o espaço urbano, e nascem, sobretudo o

quadro e escultura como objectos de adorno, de comunicação e de luxo. Também os tapetes, a ourivesaria, os vitrais e as

VERROCHIO:

A Dama do Ramalhete

Cerca de 1478

Mármore: 58 cm de altura

Museu Bargello, Florença

A ARTE DO RENASCIMENTO

demais artes igualmente assumem esta nova função.

A produção artística torna-se, como actualmente a produção industrial ou técnica, um espécie de concorrência entre as

diferentes cortes europeias ou centros de produção.

SANDRO BOTTICELLI:

Palas e o Centauro

Cerca de 1478

Têmpera sobre madeira

148x207 cm

Uffizi, Florença

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

Praça da Santíssima Anuziata

Século XV

Florença

A ARTE DO RENASCIMENTO

ANDREA MANTEGNA:

Cristo no Monte das Oliveiras

Cerca 1460

Têmpera sobre madeira

62,9 x 80 cm

National Gallery, Londres

Começam a surgir os artistas, criadores independentes, que abrem a sua própria oficina, libertando-se da estru-

tura rígida da Idade Média, actuando até, por vezes, como empresários a partir do século XV.

A arte passa a estar dependente de um novo sistema de trabalhos e técnicas produtivas. O predomínio da pintura a óleo

sobre o fresco explica um produção de quadros, temas e formas que dependem da nova técnica iniciada no século XV.

Os sistemas de representação deste tempo podem-se contrapor em duas principais tendências: a italiana e a flamenga.

Tratam-se de duas metodologias por vias diferentes para chegar a um mesmo fim: a realidade como um objecto figurá-

vel, contrapondo-se à realidade imaginada da representação gótica.

Os italianos conseguiram-no através de uma racionalização matemática, medida do espaço ocupado pelos objectos,

sobre parede ou madeiras, em fresco ou à têmpera; os flamengos, por uma visualização influenciada pela sensibilidade das

coisas representadas com tanta precisão quanto lhes permite a nova técnica do pigmento aglutinado com óleo, sobre um

suporte móvel em madeira ou tela.

O italiano presta mais atenção ao espaço medido, racionalizado, onde se situam os objectos, do que a estes; o flamengo

concede mais importância aos objectos e a cada uma das partes do conjunto em que se situam. O italiano vê a realidade atra-

vés de uma janela, o flamengo através de uma lupa.

Porém permanecem em países como a Alemanha, Espanha e Inglaterra, goticismos não apenas durante o século XV,

como também durante o século XVI, por mérito próprio, por inércia ou por referência histórica a uma tradição que se identifica

com a ideologia cristã.

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

FILLIPO LIPPI:

Virgem com o Menino e os anjos

Cerca 1465

Têmpera sobre madeira

95 x 62 cm

Uffizi, Florença

A ARTE DO RENASCIMENTO

POLLAIUOLO:

Martírio de São Sebastião

1475

Óleo sobre madeira

291,5 x 202,5 cm

National Gallery, Londres

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

PIERRO DELLA FRANCESCA:

Natividade

1470

Óleo sobre madeira

122,6 x 124,4 cm

National Gallery, Londres

A ARTE DO RENASCIMENTO

CARACTERÍSTICAS DO RENASCIMENTO

O MODELO FLORENTINO

Politicamente, o que hoje conhecemos como República Italiana e que é o resultado da união conseguida no século XIX,

era no século XV uma série de estados ou repúblicas independentes governados por clãs familiares que exerciam o seu poder

numa cidade que dava o nome ao Estado respectivo. De todos os mais importantes eram Florença, Veneza, Milão, Nápoles e os

Estados Pontifícios.

Estes estados mais poderosos e, sobretudo, as monarquias exteriores, como o Sacro Império, França e Espanha, tentam

impor as suas pretensões de domínio sobre os estados mais pequenos, mantendo uma série de campanhas bélicas durante um

longo período. Carlos V, nos princípios do século XVI, consegue de alguma forma impor a sua autoridade imperial sobre Roma e

Florença, já que Nápoles depende do reino de Aragão, pelo que os Habsburgo mantêm uma hegemonia política.

No entanto, as repúblicas italianas não renunciam ao seu carácter cultural de origem romana e o romantismo será um

dos mais importantes elementos de união e também um dos pontos de partida para a renovação das artes e da cultura, com

pressupostos ancorados na imitação do seu passado histórico: a antiguidade. Estas razões históricas não têm a mesma força

nos restantes países da Europa no século XV.

As diversas repúblicas italianas mantêm relações culturais diferentes com os outros países: as do Norte, com França e

Alemanha; Veneza com o Oriente, devido aos seus contactos comerciais; as do sul, com o Mediterrâneo oriental e Espanha, e

as do centro, Florença, Roma, Siena, Ferrara e Urbino mostram um comportamento mais autónomo, o que permitirá uma

reflexão teórica sobre o humanismo e os modelos da antiguidade.

Florença será o centro, dirigido por uma crescente burguesia enriquecida pelo comércio e artesanato, sob a protecção

de alguns príncipes, como os Médicis, que patrocinam a criação de múltiplas obras de arquitectura, escultura e pintura.

Pretendiam romper com os modelos medievais, que, por outro lado, nunca tinham tido muita aceitação nos centros de

produção italianos da Idade Média.

A Florença cabe a sorte de ter rompido com os modelos figurativos do mundo medieval em dois momentos diferentes.

Primeiro, com Giotto e Nicola Pisano e, em segundo lugar, com Ghiberti e Masaccio, separados por quase um século no desen-

volvimento das actividades respectivas.

Giotto e os Pisano avançam até fórmulas diferentes, inovadoras. As figuras adquirem monumentalidade, movimento e

vida em todo o corpo, relacionando-se entre si e movem-se num espaço ou paisagem que serve como cenário.

Mas é especialmente Pisanello, colaborador de Gentille, que com o seu pincel desenha animais e pessoas tirados da

realidade, primeira tentativa de aproximação à realidade vista, não imaginada. No entanto, é sobretudo o seu relacionamento

com os grandes príncipes do momento, a quem dedica medalhas de corte clássico, com retratos de perfil exactos e letras à

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

maneira romana, o que torna Pisanello numa das últimas pontes do gótico cavalheiresco, que faz a transição para o modelo

florentino.

É claro que não se passa de um modelo para o outro sem uma teoria prévia. A teorização da arte pertence neste

momento ao que chamamos Humanismo, que fomenta o interesse pelo mundo antigo e desperta reflexões sobre a arte,

pelo que a arte florentina possui características especiais.

DESIDERIO DA SETTIGNANO:

Madona PanciatichI

1455-1460

Mármore: 47 cm

Museu Bargello, Florença

A ARTE DO RENASCIMENTO

SANDRO BOTTICELLI:

Retrato de um Jovem

1482

Têmpera sobre madeira

28,3 x 37,5cm

National Gallery, Londres

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

SANDRO BOTTICELLI:

Venus

1482

Têmpera sobre madeira

77 x 147 cm

Galeria Sabauda, Turim

A ARTE DO RENASCIMENTO

HUMANISMO

O Renascimento italiano é o resultado do chamado Humanismo, que constitui uma das mais importantes componentes

da arte e da cultura do mundo moderno.

Petrarca formula e concebe esta teoria, diferente da existente até àquele momento. A seu ver a idade romana era uma

época de esplendor e de luz enquanto a idade cristã era de obscuridade e trevas. Começava então uma nova idade que restau-

rava a luz.

Põe-se o homem como o centro de interesse, daí o nome Humanismo.

O seu discípulo, Boccaccio, aplica a teoria histórica de Petrarca à renovação pictórica de Giotto e à aspiração de que os

poetas e os pintores gozem da mesma liberdade, fazendo do pintor florentino uma das luminárias desta nova época. Para tal

serve-se da expressão elogiosa que Dante fez de Giotto.

Com isto tinha-se conseguido a expansão gradual do conceito humanista da literatura e da história até à pintura, e des-

ta às outras artes, e das artes às ciências naturais.

Este conceito de humanismo não aparece nos outros países do mesmo modo que em Florença ou em Roma. A relação

com o clássico é diferente em cada país ao longo do mundo moderno.

AGOSTINO DI DUCCIO:

Relevo do Arco da Fachada do Oratório de

São Bernardino

1457-1461

Perúgia

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

HUMANISMO E ARTE

Os Humanistas são grandes coleccionadores de obras de arte do passado que propõe como modelos a imitar. Cada peça

era como uma relíquia do passado.

Este gosto provocou o coleccionismo e museologia, que poderemos classificar em três classes:

I. Museus naturais (ruínas)

II. Museus privados (palácios, estúdios, conventos)

III. Museus de ideias (descrições, listas, desenhos, etc.)

Os Humanistas têm influência nas artes: trazendo temas da literatura; acentuando o sentido de exaltação do homem;

originando o elitismo tanto do artista como do consumidor e patrono e aumento da consideração do objecto artístico em si

próprio, com consequências no modo de encarar a produção artística nos séculos seguintes. Assim:

a. assinam-se as obras de arte;

b. as encomendas deixam-se ou discutem-se com o patrono;

c. dá-se preferência à ideia sobre a técnica;

d. a obra adquire um valor subjectivo, a autoria;

e. a obra é considerada um exercício prático do pensamento e da acção, considerando igualmente que a

ciência é igual à arte e à técnica;

f. Começam a escrever-se as vidas dos artistas, que são apresentados como vidas exemplares.

Todos estes ingredientes, que determinam a criação de uma nova linguagem visual durante o século XV, poderão tam-

bém ser considerados como característicos do mundo moderno, que tem a sua origem no Humanismo renascentista.

A ARTE CONSIDERADA CIÊNCIA

Uma das características mais destacadas do século XV é a intelectualização da prática artística. De artesãos, os artistas

passaram a ser trabalhadores intelectuais livres.

Esta intelectualização e maneira de trabalhar manifestam-se em certos factos, assim:

I. Substituição do mestre artesão pelo modelo da natureza.

II. O ensino é organizado em oficinas, que se vão desenvolvendo até à posterior abertura e institucionaliza-

ção das academias.

III. À prática acrescenta-se a teoria e o conhecimento de certas ciências.

Inicia-se a reflexão sobre a arte, com o mundo moderno.

Se algo diferencia a arte do mundo moderno a partir do século XV até ao século XX é a utilização de certa ciências na

prática artística; ciências como a Geometria e a Aritmética ou a Anatomia e também a utilização de paisagens.

Inicia-se a reflexão sobre a arte, com o mundo moderno.

Se algo diferencia a arte do mundo moderno a partir do século XV até ao século XX é a utilização de certa ciências na

prática artística; ciências como a Geometria e a Aritmética ou a Anatomia e também a utilização de paisagens

A ARTE DO RENASCIMENTO

I - Geometria e Aritmética

As matemáticas são um elemento comum para as artes e para as ciências. A proporção e a perspectiva baseiam-se na

geometria, óptica e aritmética. Pelo que se pode falar de uma estética matemática utilizada nas artes.

II - Anatomia

A ideia de beleza nasce com a exploração da natureza. A obra mais perfeita da natureza é o homem. Por isso o corpo

humano converte-se no modelo orgânico das proporções.

III - Paisagem

Como cenário onde evolui o homem, estabeleceu-se a paisagem simbólica ou real. Este facto dará origem ao género

paisagístico, tão cultivador na época moderna, ao jardim na arquitectura, às pinturas representando comestíveis e às naturezas

mortas, como cenário de festa e adorno de habitações.

A ENCOMENDA E O MECENATO

Sempre existiu um patrocínio ou apoio económico para que possam criar-se obras de arte. Mas no século XV esta rela-

ção altera-se, não se trata de financiar iniciáticas artísticas destinadas a uma função pública, religiosa ou política.

A ENCOMENDA E O MECENATO

Sempre existiu um patrocínio ou apoio económico para que possam criar-se obras de arte. No entanto, no século XV,

não se trata de financiar iniciativas públicas, mas sim de financiar alguma coisa para a seu próprio prestígio e glória.

O mecenas e a sua família transformam-se, nas peças, nos protagonistas.

Os programas artísticos deixam de ser monopolizados pela Igreja, aparecendo o encomendador ou mecenas que pre-

tende demonstrar a sua posição social e cultural por meio da arte.

É um lux, mas o luxo está vinculado à burguesia e ao capitalismo moderno, sendo que as grandes famílias competem

para conseguir o mais importante papel.

A arte torna-se numa arma, numa estratégia política. Criando rivalidade entre as grandes cortes europeias, utilizando os

serviços dos melhores artistas, estivessem onde estivessem.

Cria-se ainda um novo sistema de mercado:

1. Sistema de contratação permanente, criando empregos como pintor da corte, pintor do rei, etc.

2. Sistema de patrocínio com compromissos escritos.

O Renascimento é um renascimento da antiguidade, no que respeita a formas e temas.

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

(Capa)

DONATELLO

O Profeta Abacue

1427-1436

Mármore: 195 cm de altura

Museu da Catedral, Florença.

A ARTE DO RENASCIMENTO

O URBANISMO

No urbanismo dá-se uma renovação da cidade ou do cenário onde vive. Nunca antes se vira uma paixão pela teorização

arquitectónica como durante o século XV. Utilizam-se as leis matemáticas de cálculo e projecto.

Os edifícios criam-se com fachadas viradas para a rua ou para a praça, havendo uma imensa preocupação com a localiza-

ção, o clima, a água, a defesa, as vias de comunicação, a planificação das ruas, largas para o trânsito de carruagens, mas não

demasiado largas por causa do calor, com os edifícios simetricamente ordenados ao longo da rua e desde um ponto de referên-

cia: a praça.

Os edifícios são, essencialmente, públicos, para os serviços religiosos administrativos e hospitalares ou docentes; edifí-

cios para os cidadãos nobres, e edifícios para o povo, que vivia em casas mais simples e humildes.

A isto dá-se o nome de novo sistema urbanístico.

No entanto, as cidades renascentistas são, também medievais,

rodeadas de muralhas.

A cidade teórica do século XV é, em todo o caso, uma cidade pen-

sada.

A Arte do Renascimento diferencia-se da Arte Medieval em espe-

cial nas formas arquitectónicas, tão características e demarcadas.

A parede renascentista mostra a sua superfície de adorno, inclusive

quando é revestida de mármore de cores, como na Toscana. As janelas

abrem-se na parede conservando no início os arcos e colunas centrais,

mas passando a ser composta por duas colunas ou pilastras e frontão

triangular ou redondo.

As coberturas ou tectos são de madeira, com caixotões e com abó-

badas de arestas ou semicirculares. As cúpulas gigantescas elevam-se

sobre um tambor , com clarabóia e quase sempre sobre triângulos curvilí-

neos na base interna.

Os elementos construtivos aparecem como um quadro. A cobertura de

mármores de cores reafirma este carácter visual, a ornamentação com

frisos, as pilastras e posteriormente a decoração com grotescos.

A Cúpula de Santa Maria dei Fiore

Brunelleschi projectou a cúpula da catedral florentina de Santa Maria dei Fiore. Era necessário cobrir um espaço de

41,50m de diâmetro sobre um tambor, na igreja de Arnolfo di Cambio, sem colocar cimbres desde o chão, madeiramento cus-

toso e complicado. Utilizam-se, por isso, tijolos em forma de peixe, já utilizado pelos romanos.

Na parte superior a clarabóia, primeira construção redonda do Renascimento, centraliza o ponto de fuga como se tratas-

se de uma construção em perspectiva.

O Hospital dos Inocentes

Uma obra também arquitectada por Brunelleschi. Define-se nesta obra um claro abandono das formas góticas a favor

FILARETE

A Cidade Ideal

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

dos elementos do mundo antigo, utilizados de um modo livre e pessoal.

O Tratado sobre Arquitectura

O Tratado sobre Arquitectura, uma obra dividida em 10 livros, escrito entre 1443 e 1452 por Albertini, não conseguiu

logo de inicio o êxito que merecia porque, estando escrito em latim, não atingia directamente os arquitectos e construtores,

que não entendiam aquela língua.

Os arquitectos do século XV dificilmente poderiam compreender que, como disse Albertini, Arquitecto é aquele que,

com método e um procedimento seguro e perfeito, saiba projectar racionalmente e realizar na prática, mediante a distribuição

de esforços e a acumulação e conjunção dos corpos, obras que satisfaçam perfeitamente as necessidades humanas mais impor-

tantes. Para esse fim, é necessário o conhecimento e o domínio das melhores e mais nobres disciplinas. Assim deverá ser o

arquitecto.

O PALÁCIO COMO UMA EXPRESSÃO DE PODER

Os palácios são a síntese de toda a arquitectura civil do século XV. Inclusivamente, os outros temas arquitectónicos são

planeados e concebidos como se fossem um palácio: o claustro religioso, o hospital, a universidade, etc.

O palácio, não surge na nobreza, mas sim na burguesia. Ao castelo isolado, com torres e defensivo, sucede o palácio

urbano, organizando as ruas e praças, pelo menos, em teoria. O palácio é a vivenda civil que identificará a família que o habita,

de grande tamanho, de forma simétrica, com andares marcadamente diferenciados, janelas alinhadas tanto na vertical, como

na horizontal, sem um ponto de referência determinado na fachada, e onde a porta só mais tarde será um ornamento da

fachada.

Nos finais do século, a porta é já usada como ornamento da fachada, com pilastras ou colunas e um frontão, criando um

eixo.

O palácio destaca-se pela monumentalidade desejada por parte do seu patrono.

A decoração

Utiliza-se a pintura, escultura, tapeçaria, ourivesaria, marcenaria, trabalhos em gesso, cerâmica, etc.

O homem importante compra ou encomenda obras de arte para o seu próprio prazer, tornando-se coleccionador de

arte, dando mais tarde origem aos museus.

Ganham lugar os temas históricos, como tipos ou modelos de comportamento ético e real: personagens ilustres, reis,

imperadores, santos ou doutores e guerreiros. Ganham ainda terreno os temas relativos à história própria, como ponte de

referência: retratos, feitos bélicos, etc.

O palácio honra a burguesia, a aristocracia ou a monarquia, adquirindo assim um sentido histórico.

A FESTA

A festa ou celebração utiliza a música, o teatro, a gastronomia e a dança. As celebrações festivas, os carnavais, as pro-

cissões, as festas da primavera e os recebimentos reais ou entradas triunfais das personalidades nas cidades eram muito recor-

rentes no século XV. Estas entradas e festas eram um feito clássico do mundo romano.

Tornam-se um pretexto para decorar as praças, ruas , igrejas e palácios, com arcos triunfais, cartazes, arquitectura de

madeira e telas e cartões.

A ARTE DO RENASCIMENTO

AS ARTES FIGURATIVAS

A escultura e a pintura como artes figurativas têm a capacidade para representar e comunicar mais imediata: são o

meio para representar o mundo das mentalidades da época.

A prática artesanal ou artística desenvolve-se sob a protecção do mecenato, que encomenda e paga as obras, sob con-

tratos rigorosos. Neles são especificadas as condições do trabalho, medidas, materiais, preços, etc.

ESCULTURA

Utilizam-se principalmente o mármore, a pedra e o bronze, assim como a madeira, ou ainda o gesso, os metais e as ter-

racotas policromadas, aplicadas em relevos, estátuas de vulto redondo, bustos, molduras ou medalhões e medalhas. Baseiam-

se em histórias, lendas, mitologias ou monumentos pessoais, como retratos. A preocupação da representação tridimensional

ou perspectiva nos relevos é constante, assim como, as medidas e proporções. O movimento e o nu são uma constante estéti-

ca, sobretudo durante a segunda metade do século.

O relevo torna-se parte integrante da cena. As figuras são dispostas em profundidade, tratadas de corpo inteiro, como

se víssemos a realidade através de uma janela.

As figuras passam a ocupar planos próximos ou afastados relativamente ao observador, ordenando o espaço artificial-

mente, com figuras mais pequenas ou maiores, mais próximas ou mais afastadas, para representar o que vê o olho humano, a

realidade vista, não a realidade representada.

O sepulcro

Um dos programas escultóricos mais importantes desde o século XV é a decoração dos sepulcros.

O sepulcro tumular tem os lados verticais,

enquanto o sepulcro parietal apresenta a forma de retá-

bulo .

A Medalhística

No mundo antigo a medalhística era muito

importante. Utiliza-se o baixo-relevo para representar os

grandes personagens nas moedas, medalhas comemora-

tivas ou placas.

PINTURA

A Encomenda

Os contractos desta época exigem um desenho

prévio, demarcando aspectos essenciais como a autoria

do trabalho como elemento diferenciador de outros

trabalhos.

JACOPO DELLA QUERCIA:

Fonte Gaia

1408-1420

Mármore

Piazza del campo

Siena

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

ANTÓNIO E PIERRO POLLAIOLO

Sepulcro de Sisto IV (pormenores)

1493-1495

Bronze

Museu do Tesouro,

A obra de arte pintada, é uma narração, uma história, uma acção verdadeira, histórica ou de fé, porque a pintura é uma

arte que serve para visualizar o mundo mental.

Instaura-se no Renascimento a pintura em que os personagens se movem num espaço representado que pode ser real e

concreto, mensurável e tridimensional: paisagem, arquitectura urbana, etc. Não é abstracto, de outro, como na Idade Média.

O que se pretende representar pode ser diferente do que se represente.

Inicia-se a utilização de uma maneira sistemática de pintura com azeita: a chamada pintura a óleo, introduzida pelos

Flamengos, que possibilitava um melhor transporte das obras, pois podiam ser enroladas.

Representa-se muito a natureza tal como é vista pelos olhos humanos.

A perspectiva

É um fenómeno luminoso, que utiliza uma pirâmide visual ou feixes de raios luminosos que convergem no olho.

Pensa-se que Brunelleschi tenha sido o seu inventor, pondo em prática o aumento e diminuição das figuras sendo dife-

rentes distâncias das mesmas relativamente ao espectador, e para isso construiu umas tábuas especiais. O quadro torna-se

num corte visual.

Leonardo corrige e precisa algo mais: que a pintura deve responder a uma ciência total da visão e, por conseguinte, exis-

te uma perspectiva de proporções decrescentes, uma intensidade decrescente das cores e da luz. As ilusões visuais e o esfuma-

do dos objectos são por isso essenciais para controlar e representar o tamanho e a distância dos objectos, e a composição do

quadro depende de uma percepção total da realidade, que são formas, tamanhos, luz e cor.

Pinta-se um espaço tridimensional com medidas, escalas e referências humanas aplicáveis à pintura, escultura e à arqui-

tectura.

Há uma crescente preocupação com a anatomia e o movimento das figuras representadas.

Boticelli

Boticelli investigou a luz, a perspectiva. Não utiliza planos e volumes e desenha figuras de aspecto melancólico.

A ARTE DO RENASCIMENTO

Leonardo da Vinci

Nenhum outro artista como Leonardo da Vinci recebeu tantos elogios. Pintor, engenheiro, escultor, arquitecto, cartó-

grafo, um perito nos mistérios da natureza observada, desenhada e reconstruída.

Utiliza técnicas como o sfumato e jogo de luzes no espaço atmosférico. Sem elas não existiria o sorriso da Gioconda,

nem a serenidade de Anunciação.

JOSÉ DIOGO NOGUEIRA

Bibliografia ARENAS, José Fernández e TRIADÓ, Juan Ramón, O Despertar do Renascimento, Ediclube, 2007

Conclusão

Depois de toda a viagem por um século demarcado pela mudança artística chego ao final satisfeito com o resultado.

Ajudou-me o facto de ter encontrado um livro que correspondeu às minhas expectativas, demonstrando-me uma nova

perspectiva do renascimento e ao mesmo tempo complementarizando a minha opinião prévia. Nada disto poderia ser possível

se não fosse graças a esse meu companheiro livro que me acompanhou durante esta viagem pelo Renascimento, pelo reconhe-

cimento da antiguidade. E a cada palavra há uma novidade. Há algo que não sabia.

Pretendia igualmente resistir ao hábito de introduzir uma imagem de Gioconda. A meu ver o Renascimento não gira em

volta de Leonardo da Vinci embora este tenha sido um grande protagonista deste movimento cultural.

E assim termino, agradecendo a oportunidade de descobrir mais e protagonizar, também eu, um pedaço desta tão

extensa cultura.