HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA · 1.1.1.Monistas Para estes a matéria primordial é toda homogênea...

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HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA Rodrigo Silva Carneiro Dezembro 2014

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HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA

Rodrigo Silva Carneiro

Dezembro 2014

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1. Introdução

O termo filosofia deriva das philo e sophia, duas palavras gregas que em

separado significam de maneira bem geral, respectivamente, amizade e

sabedoria. No entanto, nesta palavra esta amizade é tida como um profundo amor

por algo que se deseja avidamente, ou seja, algo que deve ser buscado. Tal

desejo de busca de busca é desencadeado pela necessidade. Por isso, para os

filósofos, a filosofia consiste em uma busca pela sabedoria, pois se compreende

que ela existe e é indispensável aos homens, por isso deve ser buscar as

primeiras causas, chegar ao âmago das questões. A sabedoria consiste no

conhecimento fundamentado exclusivamente pela razão. Daí a definição de

filosofia como conhecimento fundamentado exclusivamente pela razão até as

primeiras causas.

A filosofia tem como objetivo a totalidade das coisas, e utiliza-se assim do

método racional para alcançar a verdade. A filosofia possui um conteúdo (a

totalidade das coisas), um método (uso da razão) e um objetivo (alcançar a

verdade das coisas).

A filosofia se difere das ciências, pois apesar de ambas buscarem as

causas, a ciência se preocupa com as comprovações, já a filosofia quer

demonstrar racionalmente. A filosofia quer explicar a totalidade das coisas, pela

razão. Já a ciência quer explicar aquela parte que lhe cabe e de maneira

empírica.

A filosofia consiste em um saber por saber, ou conhecer por conhecer, sem

interesse, como já bem dividia os saberes Aristóteles. Essa divisão se dava em

três tipos: prático, produtivo e teorético. Os dois primeiros visam pela prática ou

produção de algo melhorar, ou seja, tem finalidade, já o último não visa nenhum

interesse.

No mundo da época as decisões eram tomadas baseadas em métodos

racionais, pois a partir de um problema que surgia construíam-se hipóteses ou

argumentos que pudessem de maneira racional tornar a todos claras as intenções

ou objetivos a alcançar. Daí surge os discursos retóricos, analítico/argumentativo

e dialético. O primeiro é muito mais do que ampliar as possibilidades visava

mover as vontades e os desejos da massa para um fim. Envolvia conhecimentos

técnicos, específicos, conhecimento psicológico das pessoas. Utiliza-se de

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argumentos ambíguos, de autoridade e apelativos, sobretudo a piedade popular

com ênfase na manipulação dos sentimentos. Os discursos analíticos se

preocupavam muito mais com a formalidade lógica do que com a verdade. Sendo

um discurso válido pela formalidade lógica, no entanto muitas vezes não era

verdadeiro.

Ex: Todo ser que tem 6 pernas é ser que tem asas

Todas as aranhas são seres de 6 pernas

Logo, Todas as aranhas são seres com asas

Logicamente a estrutura está correta, no entanto, não se encontra verdade

nas premissas nem na conclusão.

O terceiro tipo que é o discurso dialético consiste em investigar a verdade

das premissas. Este método testa todas as proposições. Apresenta-se uma

premissa, esta precisa ser criticada, com isso ela deve ser melhorada surgindo

uma nova premissa, que deve ser criticada e assim sucessivamente até que se

esgote os argumentos contrários chegando a evidência incontestável.

1. As Escolas do período clássico

1.1. Pré-Socráticos A filosofia surge do espanto dos homens que olham ao seu redor e

percebem a necessidade, pelo questionamento, de entender e explicar o mundo

que está ao seu redor: qual sua origem? Como chegou ao que é hoje?

Os pré-socráticos queriam responder de maneira racional as perguntas de

seu tempo, pois o que se tinha até então eram apenas os mitos.

Os primeiros pré-socráticos surgiram na cidade de Mileto e ali se

desenvolveram, mas tudo isso foi facilitado por quatro condições locais bastante

favoráveis:

a) Uma cidade comercial, o que favorecia que as pessoas fossem mais

tolerantes a opiniões diversas e menos preconceituosas.

b) O que importava na cidade era cumprir as obrigações coletivas. Logo

o que era feito em particular pouco importava, por isso era fácil para

estes reunir-se em casas para discutir.

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c) Ausência de fiscalizações religiosas e presença de muitas religiões

alternativas, como o Orphismo.

d) Ausência de dogmas, pois o que existia antes eram os mitos, mas por

estes não serem tidos como dogmas podiam ser facilmente

contestados.

Toda a filosofia pré-socrática se baseava em uma mesma hipótese que

partia do princípio de buscar a origem das coisas exclusivamente pela razão. Daí

a hipótese principal:

Se todas as coisas são complexas estas devem ter origem em coisas

simples. Dessa forma, descobrindo o mais simples é possível remontar o

complexo. O limite é o mais simples que a razão alcançar. O chamado eterno,

que após ele só se tem o nada, não tem causa.

A base dos pré-socráticos consiste em uma matéria primordial em estado

primordial, ou seja, seu estado mais simples. Essa matéria primordial é submetida

a uma lei imanente que é deus, um deus imanente, que não se distingue da

matéria, mas está nele e é parte integrante dela.

1.1.1. Monistas

Para estes a matéria primordial é toda homogênea e passa por um processo

inicial de transformação. A matéria que é simples e homogênea sofre uma

transformação e passa a ser heterogênea e assume qualquer outra forma das

coisas que possuem o universo.

I. Tales de Mileto (640-548 a.C.) A matéria primordial no estado primordial

(MPEP) consistia na água. Este termo primordial se deve ao fato da água estar

presente e tudo. Apesar dela ser um composto, o que acarretaria estar fora Ca

classificação de simples, mas ele a considerou meramente pelo termo para

denominar o simples.

II. Anaximandro de Mileto (610-547 a.C.) Aprofundando o conceito de Tales ele

chamou a MPEP de áperon, que provém do termo grego “indeterminado”,

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“ilimitado”, “que não tem fim”. Isso evita as confusões que poderiam existir da

palavra anterior. Ele trata assim, pois entende que quando se determina algo

se atribui uma qualidade, e a qualidade é própria de algo formado e não início,

origem.

III. Anaxímenes de Mileto (588 – 524 a.C.) O indeterminado não pode ser a

MPEP, pois o “nada” não pode ser origem das coisas, por isso coloca a origem

no sopro. O pneuma que é o “ar” ou “sopro”. Este é incorpóreo e ilimitado e o

processo de rarefação e condensação são o princípio e movimento que dá a

vida a todas as coisas, e de onde tudo surge.

IV. Heráclito (séc. VI- V a.C.) É conhecido como o filósofo do devir, da

mudança. De acordo com Heráclito, o logos (razão/inteligência /discurso /

pensamento) governa todas as coisas, e está associado ao fogo, gerador do

processo cósmico. Tudo está em incessante transformação: “panta rei” (tudo

flui). As coisas estão, pois, em constante movimento, nada permanece o

mesmo (“não nos banhamos duas vezes no mesmo rio”). Todavia, não se deve

deduzir dessa afirmação que Heráclito defendeu uma teoria da mudança

contínua desregrada. Ao contrário, ele entendia que havia uma lógica - o logos

governando tal mudança contínua.

V. Heráclito compreendeu que seus antecessores utilizavam sempre a lógica do

movimento e da lei. Com isso, ele levou a outro extremo a partir da razão estes

dois princípios. Se Anaxímenes entendia que tudo se baseava em dois

princípios rarefação e condensação, Heráclito postulou que, a existência do

mundo dependeria sempre de dois opostos, que surgem juntos, no qual um

apenas prevalece, como o exemplo do calor, pois na verdade não se sente

calor absoluto, já que esta hipótese seria absurda, mas na verdade prevalece o

calor, mas existe ali o frio, pois não se pode conceber o sentir o frio absoluto.

Estes dois opostos surgem simultaneamente, não existe o absoluto, mas

sempre os opostos. Dessa forma, tudo nasce da tensão de seu oposto. Assim,

a partir da MPEP surgem os opostos em pares, e a imagem do fogo se dá

porque transforma todas as coisas.

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VI. Parmênides de Eléia (544-524 a.C.) Em sua teoria fundamentou o ser como

eterno, imóvel, imutável e uno. Com isso postulou que o ser é. E dessa

maneira quando este sofria o processo de transformação passaria a não-ser.

Se pensarmos que o ser é o não-ser só pode não ser, sendo o não-ser o nada.

Como explicar o processo de transformação que deveria originar o diverso

gerar o nada? Com isso Parmênides instaura uma crise na história da filosofia

da época, pois concorda com a origem em um único princípio, no entanto, o

processo não poderia ser de transformação.

1.1.2. Pluralistas

A partir deste questionamento de Parmênides surge os pluralistas, que

defendiam que a matéria primordial em seu estado primordial deveria ser múltipla

(mais de um composto) e que o processo de formação de múltiplo seria por

combinação, ou seja, pela ligação ou interação entre esses compostos dando

origem a diversidade. Essa combinação não muda a qualidade do ser, mas

apenas os combina.

I. Empédocles definia que a origem de todas as coisas se deu a partir dos

quatro principais elementos que compõem o universo: água, terra, fogo e ar. E

após a união ao acaso desses elementos o “logos” ou “inteligência ordenadora”

promove a seleção natural dos viáveis. Dessa forma, tudo se origina da

cominação e descombinação dos elementos por uma relação de amor e ódio.

O amor, que gera aproximação entre os elementos e o ódio, que promove o

afastamento dão o equilíbrio ao processo de criação das coisas nas

combinações.

II. Anaxágoras Explica que a origem de todas as coisas se dá a partir de várias

partículas que englobam todas as coisas criadas. Dessa forma, na matéria

primordial em seu estado primordial estão contidas as partículas de todas as

coisas que existem. Sendo assim, existem partículas de madeira, ouro, ferro,

homem. Para que estes sejam criados somente é necessário que se agrupem

as formas iguais. Esse agrupamento se dá pelo “nous” a inteligência

ordenadora. Por isso, na teoria de Anaxágoras diz-se que “tudo está em tudo”.

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III. Atomistas Na concepção destes autores a matéria primordial em seu estado

primordial era composta por pequenas partículas indivisíveis, chamadas

átomos que variam em tamanho e forma e posição. A organização deles para a

formação das diversas coisas se dava pela ação do acaso, ou seja, não existe

um inteligência ordenadora.

IV. Pitagóricos a matéria primordial em seu estado primordial era entendida por

eles como o número. No entanto, este número não como os números arábicos,

mas como representação das formas geométricas e aritméticas. Esta era

considerada uma escola mística e ascética que percebeu que em tudo estavam

presentes os números: na música, nos ciclos dos anos, meses e dias. E assim

equivaleram às formas aos números, pela forma das estruturas geométricas.

Sendo assim, uma partícula homogênea (aparentemente) sendo submetida ao

vazio ou introdução de espaços formam-se figuras geométricas e estas darão

origem a diversidade.

1.2. Sofistas

Eram homens que falavam muito bem e tidos como importantes para a

democracia. Eram de fato instrumentos políticas.

Utilizavam-se da retórica e a partir dela ensinavam a seus alunos, e neste

ensino sempre levavam em conta a virtude prévia dos discentes. Eles entendiam

que o logos (capacidade racional) podia muitas coisas, por isso utilizavam como

instrumento para persuadir. No entanto, afirmavam que apesar disso, o logos não

era capaz de chegar a verdade das coisas. Ou seja, eram de certa forma céticos

quanto a verdade e foram os fundadores do relativismo moderno. e descrever

(conhecimento dos sentimentos e psicologia das pessoas para falarem o que as

pessoas queriam ouvir em cada situação). Por serem grandes estudiosos

contribuíram para o desenvolvimento da gramática.

Os sofistas afirmavam que não se podia chegar à verdade, pois afirmavam

que por não existir um critério para a verdade, ela não pode ser alcançada.

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Características dos sofistas:

Declaravam abertamente que ensinavam o conhecimento em troca de

dinheiro;

Defendiam que poderiam ensinar a virtude política. Esta não era advinda

de berço com pensava os aristocratas, mas era ensinada pelas aulas dos

sofistas;

Eram itinerantes;

Relativistas;

Céticos em relação a verdade (pela ausência de um critério);

Pregavam uma elevada contraposição entre Nómos e Physis (entendiam

que a lei coloca limites na natureza);

Davam “aulas públicas” como atrativo, pois quem gostasse de suas aulas

e quisesse se aprofundar precisaria pagar para continuar tendo aqueles

conhecimentos;

Para eles o conhecimento é uma atividade prática;

São extremamente utilitaristas;

Divisão dos sofistas:

1° geração Os primeiros sofistas possuíam todas as características

ditas anteriormente, no entanto, eram menos corrompidos. Ex:

Protágoras, Górgeas, Pródigo e Hípias.

2° geração também chamados de Eristas, pois se utilizavam de

discursos dialéticos cheios de falacias e palavras com sentido distorcido.

Utilizavam o método sofistico somente com a intenção de vencer

discussões, mesmo que com “golpes baixos”. Exploravam o método

sofistico sem preocupação com o conteúdo, mas apenas querendo vencer

o debate pelo aspecto formal, até mesmo lançando mão de “má fé”. Ex:

Eutídemo.

3° geração Sofistas políticos. Estes usavam as técnicas políticas para

teorizar o imoralismo ou desprezar a justiça. Para este grupo, o que

interessava era justamente defender seu poder, mesmo que fosse

necessário oprimir os fracos. Para eles a justiça consiste nos fracos

(maioria) que querem moralizar e lutar contra os fortes (minoria). A justiça

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consistia simplesmente em repressão dos desejos. Ex: Trasímaco e

Cáricles.

O relativismo sofista chega a tal ponto de afirma que “o homem é a

medida de cada coisa”, ou seja, os indivíduos são a medida, pois no

contexto político não faz diferença cada um ser sua própria medida.

Caracterizando profundo relativismo. Nisso usavam o método da antilogia,

que consistia em formar seu discípulo para sair das situações adversas

mudando de opinião de forma a agradar a platéia. Pois todas as coisas

possuem dois raciocínios que se contrapõem entre si, ou seja, a

possibilidade de dizer e se contra dizer, e dessa forma prepara-se para

mudar de opinião conforme a convenção.

1.3. Platão

Foi o primeiro a sistematizar a história da filosofia a partir de uma

metafísica, psicologia, antropologia e ética.

Toda a obra de Platão foi expressa a partir dos diálogos. Estes se

dividem em:

Juventude diálogos mais curtos que tratam principalmente dos

temas morais e éticos.

Maturidade Aprofunda os temas da juventude, melhorando sua

teoria política e apresenta novos temas como metafísica,

psicologia e teoria do conhecimento.

Velhice Seus últimos diálogos. Aprofunda sua metafísica e a

teoria do conhecimento. Nesse momento comenta a problemática

de suas teorias e temas mais complexos e profundos. Seu último

diálogo e mais longo foi a obra, as leis.

“A alma não tinha mácula antes de estar aprisionada ao corpo, ao qual se

une como a ostra a sua concha.” Diante dessa frase impactante de Platão,

percebe-se a pureza que a alma, anteriormente ao contato com a matéria; logo,

essa alma necessitaria de uma volta para seu estado inicial mais perfeito. Tal

perfeição é conferida à alma humana, pela sua própria natureza, por já ter

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contemplado, um dia, o Ser verdadeiro, assim pode-se dizer que e a alma é

muitíssimo superior ao corpo.

A alma é “o movimento capaz de mover a si mesmo”, segundo Teixeira a

alma do mundo é responsável por todo movimento, considerada imortal. No

Timeu, Platão explica que esta alma não é mais nova que o corpo, mas anterior a

este e é responsável por seu governo e domínio.

A alma do mundo foi criada pura, localiza-se, ao mesmo tempo, em seu

centro e envolve-o. E a alma humana, também, foi criada pelo Demiurgo, a partir

da alma do mundo. Mesmo sendo inferior a esta, a ela foi dado todo

conhecimento das leis e das verdades. Visto que, a alma humana comunga da

mesma natureza da alma do mundo, sendo entendida como imortal e, também,

ser chamada divina. O Demiurgo, deste modo, constitui a alma do mundo de

acordo com seu intelecto, e a partir disso fabricou tudo que é corpóreo e os uniu:

essa alma (do mundo) dá início ao começo divino de uma vida inextinguível e

racional para todo sempre. O corpo do céu é gerado (visível) e a alma, invisível,

participa da razão.

A alma, por sua excelência e existência anterior ao corpo, deve comandá-lo.

Desta forma, quando unidos no mesmo ser, cabe ao último obedecer e sujeitar-

se. A harmonia se faz plenamente estabelecida quando a alma exerce sua

natureza de comando e senhorio, enquanto o corpo se limita a servidão e

obediência. Isso se justifica pelo fato de a alma assemelhar-se à realidade divina

e o corpo àquilo que é mortal. A mesma alma tende a liberta-se do que é terreno

e perecível buscando o que lhe é semelhante. No entanto, o corpo é seu abrigo,

pois somente a partir dele ela pode purificar-se e voltar a sua origem. Isto explica

a permanência e unidade do composto no mundo sensível, pois apesar da

inquietação pela liberdade, é necessário o laço de união entre as partes.

A alma humana é de natureza boa, essa bondade se deve ao fato da sua

criação pelo próprio Demiurgo, o mesmo que gerou a alma do mundo e a de

todos os deuses. Este fato também confere a ela certo potencial de ser chamada

“divina”. Uma vez criada, à alma humana foi apresentada a natureza do universo

e ainda, foi-lhe dado conhecer as leis e as verdades, as quais estava destinada a

saber. Outro fato que lhe pode ser acrescentado é a capacidade de praticar

sempre a justiça.

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Em contrapartida, o ser vivente é composto de corpo e alma; enquanto esta

permanecer misturada a tão grande mal, jamais poderá alcançar a verdade que

deseja. Essa limitação se deve ao fato de o corpo ser repleto de necessidades de

sustento, susceptibilidade às doenças, desejos sensuais, apetites temores e toda

infinidade de ilusões e tolices. Não é possível conceber que o impuro possa

atingir o puro, por isso, se torna inviável pensar que, estando aprisionada ao

corpo, a alma possa ir de encontro à verdade, que alguns já comungam. Aqueles

que se encontram atados neste cárcere, só podendo ser libertos pelo Deus, pela

experiência da morte. Somente desse modo libertando se da insanidade do corpo

poder-se-á alcançar a almejada contemplação da verdade, e assim poderão

desfrutar da verdadeira felicidade.

As almas que buscam manter-se na retidão, conservando sua pureza são

mais predispostas ao reencontro com a verdade. Por isso a necessidade do

cuidado desta, pois de nada vale o cuidado somente com o corpo sem querer

curar a alma. Seria um grande erro voltar-se exclusivamente para os cuidados do

corpo – onde se encontram todas as coisas inferiores e que afastam a alma

daquilo para o qual ela foi criada – e não atentar-se para o princípio que o

movimenta. Quando se busca aperfeiçoar a alma, esta se torna boa, e assim

consegue a plenitude, que consiste na libertação do cárcere e contemplação

novamente das verdades eternas, conforme pode ser visto no Fédon.

Pensando nesta necessidade da alma, surge assim a exigência de: ter um

autocontrole sobre as paixões; buscar uma boa conduta; e educar as ações para

que possa um dia alcançar a plenitude que consiste na vida junto aos deuses e

contemplação das perfeições. Como em Platão, a alma é concebida como imortal,

é preciso que ela não seja dominada por vícios que a corrompam e ocasione os

males como: injustiça, insensatez, impiedade e outros males próprios do corpo

fazendo com que ela permaneça mais tempo longe das verdades.

Quanto à imortalidade, Platão diz no Ménon que a alma do homem mesmo,

ora na experiência que se chama morte, ora nascendo de novo, jamais será

aniquilada, demostrando que a alma do homem é imortal. Para Casoretti, a

imortalidade pode-se explicar através da imaterialidade. Se entendermos que a

alma tem acesso e conhecimento das ideias que são imateriais, essa por

conseguinte também tende a ser imaterial. Se a imaterialidade pressupõe

imortalidade, logo a alma é imortal.

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A partir disso, o autor entende, de forma mais refinada, que o que pode torna

o corpo quente não é a quentura, mas sim o calor. Bem como o que o torna

enfermo, não é a enfermidade, mas sim a febre. Analogamente, o que pode ao

corpo torná-lo vivo não pode ser descrito tão somente como a vida mas a sua

alma. Consequentemente, entende que as coisas nas quais a alma habita a elas

transmite vida, não podendo aceitar o seu oposto, que é a morte. Como se

entende que tudo aquilo que não admite a morte é chamado imortal, logo a alma

será chamada imortal. Considerando que o imortal também é indestrutível, não

seria a alma, já que é imortal também indestrutível? Assim, quando a morte atinge

um ser humano, sua parte mortal, pelo que parece, morre, porém a parte imortal

segue incólume e não destruída para alguma região do Hades, furtando-se da

morte.

Na tradição platônica, a alma humana é entendida como tripartida, ou seja,

dividida em três partes a saber: apetitiva, racional e irascível. O elemento apetitivo

irracional é “aquele com a qual a alma experimenta desejo sexual, fome, sede e

fica excitada por outros apetites, é o companheiro de certas concessões (aos

apetites) e prazeres.”. O elemento racional é o que governa a favor da alma

inteira já que é, distintamente, o que possui a sabedoria. O elemento irascível,

também chamado de animosidade, parece confundir-se com o que tratamos

anteriormente, a parte apetecível. No entanto “está longe de o ser, pois, no

conflito de facções no interior da alma, esta se alinha muito mais com o elemento

racional” A guerra civil que ocorre no interior do homem entre o elemento racional

e o apetecível gera certo conflito. Para tentar manter uma ordem, entra em ação o

papel do elemento irascível, o qual trará equilíbrio na alma dominando o apetitivo

sob o governo da razão. Por isso, é considerado de fato o terceiro elemento da

alma, que por natureza deve auxiliar o elemento racional, devido à educação,

excluindo qualquer tipo de corrupção.

A defesa da alma tripartida, segundo Platão, pode ser sustentada por pelo

menos três argumentos. O primeiro teria a necessidade de certo entrosamento

entre as virtudes do Estado e da alma de cada indivíduo, que são: a justiça, a

sabedoria, a coragem e a temperança. Encontram-se precisamente na obra A

República, na sua quarta parte, sendo essas características necessárias tanto à

alma do indivíduo como ao Estado. O segundo argumento advém dos diferentes

modos e características que as cidades podem ter, de acordo com os atributos

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psicológicos de cada indivíduo. O terceiro, por sua vez, está de acordo com o

princípio de não-contradição pelo qual não se pode ser e não ser ao mesmo

tempo em relação à mesma coisa. Ou ainda, não é pertinente afirmar que uma

parte do indivíduo está em movimento enquanto outra parte está em repouso. Se

nesse caso entende-se que o indivíduo como um todo está em movimento, da

mesma forma a alma age por inteiro.

A alma trilha um caminho de libertação para voltar-se para as verdades, que

lhe foram apresentadas pelo demiurgo através da dialética, que proporciona a ela

a capacidade de realizar a maiêutica. Esse processo de recordar, ou trazer para

luz aquilo que já estava em seu interior dá nome a teoria da reminiscência

platônica.

A teoria da reminiscência é explicada a partir da experiência da linha dividida

e do mito da caverna. Em ambos, Platão conduz ao entendimento que todo

conhecimento tem início nas realidades sensíveis e precisa ascender às

realidades inteligíveis. Dessa forma, a partir da experiência com as sobras ou

reflexos da realidade (cópias das cópias) o homem inicia seu processo de

conhecimento, mas este nível ainda é tido como um nível da ignorância. O nível

seguinte é a experiência com os objetos sensíveis (cópias), que nos fazem ter a

convicção das sombras. Sendo assim, toda experiência sensível é somente

experiência com cópias da realidade (visto que esta se encontra na perfeição, no

mundo das formas). Adentrando no nível intelectivo experimenta-se dos números,

que ajudam a desenvolver o raciocínio, e preparam para o nível seguinte que é o

da intuição, no qual se inicia o processo dialético. Esse trajeto consiste na

caminhada do homem para sair das trevas e da prisão da caverna e enxergar as

realidades ou verdades, que não se encontram no mundo a qual ele está, mas se

encontram fora daquele, no transcendente.

Platão entende que virtude é a excelência na função própria. Já que cada

coisa, ou seja, cada objeto assim como cada ser vivo tem uma ou mais funções, a

virtude consiste no fato de exercer perfeitamente essa função. Sendo assim, a

virtude da faca é cortar, do olho enxergar, e em relação ao homem, este deve

saber, ser corajoso e conseguir dominar seus desejos. Dessa maneira, todo

objeto técnico tem uma virtude, assim como todo ser vivo. Com isso, vê-se que

para definir a virtude de cada coisa ou objeto faz-se necessário conhecer a

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natureza da mesma. Portanto, por virtude além da excelência do caráter, pode-se

entender a perfeição de uma atividade, seja ela qual for.

A virtude como excelência deve ser entendida por um caminho que passa

pela posse de um saber que proporcionará a ela seu status. Sendo assim, a

excelência encontra-se na dimensão cognitiva, ou seja, ser excelente nada mais é

do que saber como sê-lo. Dessa forma, o homem de posse de um saber prévio de

suas próprias aptidões irá desenvolvê-las até alcançar a excelência, a virtude.

Em Platão, a justiça tem um caráter objetivo e é o eixo que sustenta sua

ética e sua política. A polis surge do princípio que o homem sozinho não

conseguirá dar conta das diversas atividades que necessita para viver bem, e daí

emergem as necessidades de organização desta relação, e assim surgem das

relações, que estão em mudança, às cidades.

As principais virtudes destacadas por Platão são: sabedoria, coragem,

justiça e temperança são responsáveis por promover a harmonia dos diversos

elementos que compõem o homem, ou seja, as três partes que constituem sua

alma. No entanto, Platão entende que a justiça, dentre todas é a virtude mais

importante, pois esta permite que os homens se assemelhem ao que é invisível,

divino, imortal e sábio, e por meio dela o homem alcança a felicidade.

A educação em Platão é instrumento que garante a formação do homem

virtuoso esta se baseia em duas etapas.

0 a 7 anos educação pelas amas de leite, na qual as crianças são

nutridas pelos mitos e poesias. No entanto, aqui faz-se importante o papel

do governante de forma assegurar a qualidade dos mitos e poesias

ensinados. Pois somente podem ensinar àqueles que favorecem a virtude

e não os que promovam os vícios e provoquem medo nas crianças.

De 7 a 30 anos educação de responsabilidade do Estado que visa a

garantir a educação pela música (para a alma pela harmonia e ritmo da

música formando assim esta alma para a virtude) e ginástica (para o corpo

para ensiná-lo que é possível vencer os próprios limites).

Essa educação visa formar para a virtude e desenvolver no cidadão a

capacidade de perceber qual virtude predomina em sua alma, e com o

acompanhamento do governante discernir qual função este desempenhará na

cidade, de forma a garantir que ele a exerça com excelência, para que pelo

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exercício com excelência da função própria de cada um se alcance a virtude na

cidade.

1.4. Aristóteles

Nasceu em Histagira (por isso é chamado histagirita) na Macedônia filho de

um médico. Era um “homem da realeza”, pois naquela época não se tinha uma

monarquia forte, mas uma linha de pares de sucessão. Aos 17 anos conhece

Platão em sua Academia, onde aprendeu muita coisa durante seus 20 anos de

permanência. E após um período passou de aluno ao principal representante da

academia em debates. Após a morte de Platão ele se afasta da academia e

alguns anos depois (em 335 aproximadamente) funda o Liceu, aos moldes da

academia platônica.

A metafísica aristotélica consiste no estudo do ser enquanto ser. Este

enquanto restringe a amplitude do estudo. Quanto mais restrito mais composto é

o objeto estudado. Aristóteles parte do estudo de seres corpóreos e começa a

fazer a caminhada ascendente para estudas os seres não corpóreos. Toda

explicação se inicia pela teoria hilemórfica, ou seja, na matéria e na forma.

Mas antes de tratar propriamente da matéria e da forma é preciso entender a

teoria das quatro causas de Aristóteles:

Causa material todas as coisas que existem (sensível) são feitas

de algo, ou seja, possuem matéria, um substrato.

Causa formal é o que imprime características na matéria, nas

coisas. Faz com que algo seja o que é (definição de essência). Neste

caso refere-se a matéria-prima (imaterial sem determinações) que ao

receber a forma pode se tornar qualquer coisa que existe. É uma

matéria extremamente potencial para se tornar, ou ser atualizada a

qualquer coisa.

Causa eficiente É o agente ou motor que orienta a forma a ser

impressa em determinada matéria. Responsável pela impressão da

forma.

Causa final finalidade, leva as coisas serem o que são, ou seja,

atrai as coisas para a sua realização a partir de uma forma.

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1.4.1. Metafísica

Hilemorfismo - hilé (matéria) e morfé (forma)

Sendo assim a matéria é o que gera a diversidade e a forma é o princípio de

unidade. A matéria é sempre potencial para receber qualquer forma. No entanto,

após receber uma forma aquela passa a ser a sua forma determinada. Dessa

forma, pode-se inferir que a forma limita a matéria, pois após a atualização da

potencia, não se pode adquirir outro ato.

A coisa em ato pode possuir outras potencias, mas estas são limitadas pelo

mesmo ato, pois não serão mais aceitas potencias para tudo.

Assim temos que deter-nos em mais dois conceitos:

Potencia capacidade ou possibilidade de realização

Ato potencial realizada

Matéria + forma = Essência = Substância

Substância + acidente =

Ente corpóreo

Modo de ser ou categorias (substância mais 9 acidentes)

Substância - aquilo que é em si

Qualidade - os demais existem no outro e não existem por si mesmos.

Quantidade

Relação

Posse

Tempo

Lugar

Ação

Paixão

1.4.2. Psicologia

Aristóteles percebeu a existência de seres vivos e não vivos, ou seja,

animados e inanimados. Sendo anima o principio da vida, ele define que os seres

vivos possuem alma e esta deve, obrigatoriamente, possuir níveis. Diante disso

ele definiu que quem possui o mais tem o menos, logo aquele que possui o

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segundo nível inclui em si o primeiro, bem como o terceiro inclui o primeiro e o

segundo.

Alma Função (desempenhos) OBS:

Alma vegetativa

Nutrição, crescimento e

reprodução

Alma sensitiva

Sentidos internos e

sentidos externos

Sentidos externos são os cinco

sentidos (paladar, olfato, visão,

audição e tato) e os sentidos

internos (sentido comum,

memória, imaginação e estimativa.

Esta última recebe o nome de

cogitativa nos homens.

Alma racional

Intelecto

As três atividades do intelecto são

conceito (verbo mental que

permite armazenar a informação

do que a coisa é e permite ao

voltar a realidade reconhecer a

coisa), juízo (união de dois

conceitos por uma cópula – verbo

ser) e raciocínio (composição

formada a partir de juízos).

O conceito universal então pode ser entendido como produto do intelecto,

que pelo processo de abstração se faz a partir da essência da coisa em si que se

encontra na realidade.

O intelecto está sempre em ato para reconhecer ou abstrair uma essência

de qualquer objeto na realidade.

Dessa psicologia faz-se entender a dinâmica de quem é o homem, este é

um animal racional, mas também um ser político, pois vive em uma cidade (polis)

e é capaz de estabelecer relações coerentes e virtuosas de forma a garantir o

bem comum.

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1.4.3. Ética

A psicologia fundamenta a ética por fornecer a definição de homem como

animal racional, pois dá a entender que este possui uma alma racional capaz de

realizar operações do intelecto. A partir disso, para este homem a ética

questionar-se-á qual a melhor vida para este homem?

A melhor vida para o homem está fundada em viver da melhor maneira de

forma a alcançar a felicidade. Pois a realização plena gera realização e felicidade

no homem. Por isso a ética busca entender o que proporciona a felicidade ao

homem para em seguida propor o caminho que este deve fazer para alcançar seu

objetivo.

A felicidade é um fim em si mesma, segundo Aristóteles. Dessa forma

enquanto os outros bens são buscados em vista de outro, ela é buscada pelo fim

que possui em si mesma. No homem essa felicidade consiste na plenitude da

razão, ou seja, em exercer sua razão com excelência (areté), no mais elevado ato

de sua capacidade racional.

Diante disso, ao entender que a felicidade é atividade da alma em

consonância com a arte, Aristóteles define que existem duas maneiras de ser

feliz: atingido a plenitude da atividade racional (pela areté – plenitude da virtude,

que em Aristóteles é a sabedoria) ou possuindo a virtude moral que, pois ela vai

ajudar a viver bem, ter uma vida boa, que acaba sendo o principal, visto que a

sabedoria na plenitude não é para todos. Daí neste caso existe a phrónesis, que

está próxima das virtudes morais e ajuda a encontrar meios para se alcançar a

felicidade, mesmo que seja pela imitação da vida daquele que é sábio.

1.5. Período Helenístico

É um período de expansão da língua e da cultura, e um momento de

profunda crise moral para os gregos. A tão discutida polis encontra-se em crise e

surgem nesse período escolas que apontam que a felicidade de forma

independente da polis, ou seja, cai a política e surge uma ética individual. São as

principais escolas: cinismo, epicurismo, estoicismo e ceticismo. Eles seguem um

caminho oposto ao traçado por Platão e Aristóteles, pois partiam do entendimento

do que é melhor para o homem, e daí buscavam a melhor explicação para chegar

até ela, ou seja, sua metafísica se baseava na que melhor atendida tal interesse.

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A partir da ética fundavam uma proposta metafísica que geralmente partia de uma

física, pois eram extremamente materialistas, tudo estava reduzido a matéria. Não

se preocupavam propriamente com metafísica, mas sim com virtude e viver bem.

1.5.1. Características gerais deste período

Ideal de autarquia total independência em relação aquilo que não

depende de mim. Não se depende de nada que não se a si próprio. Não se

deve criar necessidades que não dependam de si próprio. Isso não significa

que não se dependa de algumas coisas básicas, necessidades básicas, mas

somente as essenciais, que são vestir e comer.

Ideal de atarquia ausência de qualquer tipo de perturbação na alma.

Viver a vida sem necessidade, pois estas são passageiras e quando forem

necessárias se não estiverem presentes causarão problemas, por isso não

devem ser cultivadas.

1.5.2. Escolas do período helenístico

1.5.2.1. Cinismo

Levaram os ideias de ataraxia e autarquia ao extremo. Seguiam o modelo da

vida dos animas, que não dependem de nada e são totalmente livres. A liberdade

total consiste em nenhuma dependência de nada, nem de palavras (sem

totalmente livre em suas palavras) nem de ações (levavam ao limite do respeito

ou abuso, que chegavam a inflingir a norma da decência. As ações deveriam ser

segundo as necessidades naturais, independente do respeito às leis.

1.5.2.2. Epicurismo

Esta era conhecida com a “Escola do Jardim”. Fundada por Epicuro.

Escola profundamente materialista, pois a origem está fundada nas

sensações. Todas as coisas que existem emitem partículas, que são chamados

eflúvios e estes ao nos atingir permitem que as coisas sejam percebidas. As

sensações são sempre passivas e eles entendem que onde há passividade não

há falsidade, logo estas sensações são sempre verdadeiras. Os eflúvios geram

impressões na alma e dessa forma se dá o conhecimento das coisas, de acordo

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com essas impressões na alma. Existem ainda as prolepses, que são o produto

das imagens formadas pelas sensações. E assim, essas prolepses e as

sensações fazem parte de processo do conhecimento, que é totalmente natural.

Para os epicuristas o mundo é composto por átomos e pelo vazio, ou seja,

retomam a filosofia atomista. Estes átomos possuem pesos, formas, movimento e

velocidade diferentes. Eles possuem declinações, o que permite as declinações

ao acaso e assim formar todas as coisas. Isso dá sentido a liberdade na ética. No

entanto, existem coisas pré-determinadas como a queda que se dá pela ação da

gravidade.

A ética epicurista trata de um hedonismo moderado, pois o prazer é um fim e

não meio, que promovem ausência de dor e de perturbações à alma. Eles prezam

pela uso do prazer de forma moderada. Daí surge a noção de 3 tipos de prazeres:

Naturais e necessários comer, beber e dormir

Naturais e não necessários dormir com lençóis de seda

Não naturais e não necessários prazer, honra e dinheiro. Devem ser

evitados, pois sempre causam dor.

1.5.2.3. Estoicismo

Fundada por Zenão de Cécio. Filosofia do pórtico ou do estoá.

Retomam a proposição heraclítica de que tudo se dá pelo fogo. Esta MPEP

possui dois aspectos que são: um aspecto passivo, que é indissociado do ativo e

passível de ser modelado pelo ativo; e o ativo que é indissociado do passivo, mas

o dirige. Existe o logos que rege tudo, é responsável por tudo, pois da forma e

direção além de conter todas as razões seminais.

Eles propõem que a forma é imanente a matéria, pois não existe esta noção

do imaterial interferir no material. Até o próprio logos é imanente, como parte do

logos universal, que também é imanente. E este logos particular deve estar em

consonância com o logos universal e isso se dá quanto mais de mantém o

afastamento das coisas que aprisionam, pois assim mais se conecta

conscientemente ao logos universal, pois inconscientemente se é regido por ele.

Todas as coisas possuem razões seminais, que são sementes que contém

as possibilidades. São as formas específicas, imateriais. Estas são capazes de

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fertilizar a matéria e gerar as coisas que possuem capacidade de receber forma,

pois possuem potencia germinativa.

Em relação a sua ética, esta preza pela tendência de todas as coisas a sua

conservação, e a felicidade está na conservação. E o bem é aquilo que promove

o logos, tudo que foge a isso é indiferente. Logo o principal é promover o logos. E

isso se dá pelo afastamento dos perturbações que promovem afinamento com o

logos universal.

1.5.2.4. Ceticismo

Representam a oposição ao projeto da filosofia defendendo três premissas

básicas:

As coisas são igualmente indiferentes, imensuráveis, indiscriminadas e por

isso, nem as nossas opiniões nem nossas sensações podem ser

verdadeiras ou falsas As coisas possuem representações, mas não se

pode afirmar a essência delas, pois pode estar em mim, ou ainda numa

mistura entre eu e a coisa, visto que sou o sujeito que experimenta sempre

colocará suas impressões. Não é possível conhecer a “coisa em si” seja

pela incapacidade dos sentidos de alcançarem a essência se considerar

que ela existe, ou seja, pela não existência de uma essência nas coisas.

Não se tem nenhuma fé nos sentidos nem na razão, com isso, deve abster-

se de qualquer julgamento como a essência das coisas não existe e o

que eu experimento são apenas os fenômenos como se pode inferir juízo

sobre isso? Logo a melhor opção é suspender o juízo, visto que aquilo que

aparece é fruto das impressões particulares, ou no mínimo uma mistura.

Defendem a afasia e a ataraxia não se deve falar de nada com pretensão

de verdade e evitar todo tipo de perturbação na alma.

1.6. Neoplatonismo

Surgimento nos séculos primeiro e segundo da era cristã e a principal

motivação era voltar a afirmação do transcendente e do supra sensível.

Justamente era esse o ponto do estudo destes pensadores.

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Características deste período

Recuperação do supra-sensível

Hierarquia do supra-sensível

Além das duas hipóteses anteriores propõem que a matéria é causada pelo

supra-sensível, não é eterna, é criada e é um efeito do inteligível.

Os principais pensadores deste período foram Plotino, Porfírio e Iambecus.

Eles defendiam a existência de três hipóstases: o uno, o nous (realidade

inteligente que gera outra inteligente, também é potencia criadora) e a alma

(realidade inteligente que gera outra realidade é potencia criadora, mas muito

menos). A partir da alma a matéria é gerada por sucessões.

A base da geração se dá por emanação. No qual, a partir do Uno todas as

coisas foram geradas por emanação, que consiste em gerar outro idêntico ao

primeiro, porém com menos número de potencias. Nesse processo o infinito e

absoluto gera um celestial e divino que gera um intermediário ou psicológico, e

este por sua vez, por gerações sucessivas origina o terrestre e físico.

A ideia de uno surge a partir da observação de que os conceitos são unos,

bem como o princípio de identidade. A unidade não está no sentido, mas também

nas coisas, pois estas são unas e diferentes de outras. O uno é capaz de

conhecer a si mesmo.

O Nous é formado por duas gerações na primeira procede do uno, na

segunda volta-se para o uno e o conhece. O nous não conhece a si mesmo, mas

é capaz de conhecer o uno.

A alma é o cosmo inteligível, menos que o nous, mas que se realiza

plasmando relações com a matéria, ou seja, dando forma a esta. A alma é o

elemento unificador, ou seja, responsável por dar unidade a matéria. Além disso,

a alma tem capacidade plasmadora, pois ela ordena a matéria além de gerar.