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HISTÓRIAS DE TAPEROÁ em meio cento de cordéis

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HISTÓRIAS DE TAPEROÁ

em meio cento de cordéis

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HISTÓRIAS DE TAPEROÁ

em meio cento de cordéis

Giusone Ferreira Rodrigues

Aguas de São Pedro, 2013

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Editor responsávelZeca MartinsProjeto gráfico e diagramaçãoClaudio Braghini JuniorCapaZeca MartinsRevisãoÉlsiane DivanescaRevisão críticaFernanda Vitório

Esta obra é uma publicação da Editora Livronovo Ltda.CNPJ 10.519.6466.0001-33www.editoralivronovo.com.br@ 2013, São Paulo, SPImpresso no Brasil. Printed in Brazil

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser

criado, sem o prévio e expresso consentimento dos editores.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

R696hRodrigues, Giusone Ferreira Histórias de Taperoá em meio cento de cordeis / Giusone Ferreira Rodrigues. – Águas de São Pedro: Livronovo, 2013.

420 p.; 21 cmISBN 978-85-8068-033-1

1. Literatura de cordel brasileira. 2. Regionalismo – nordeste. I. Título.

CDD – 398.5

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SOBRE O AUTOR

O autor de “HISTÓRIAS DE TAPEROÁ EM MEIO CENTO DE CORDEIS” nasceu no município de Taperoá, no Estado da Paraíba, onde fez o primário no Grupo Escolar Doutor Félix Daltro e o curso comercial básico na Escola Comercial Professor Minervino Cavalcanti. Em seguida, fez o curso técnico de contabilidade na Escola Técnica de Comércio de Campina Grande-PB e, depois, integrou a turma fundadora da Faculdade de Ciências Sociais e Jurídicas da Fundação Universidade Regional do Nordeste (FURNE) que deu nascimento à Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

Em Taperoá trabalhou na roça até os dezoito anos, em seguida atuou como comerciário. Vindo para Campina Grande, onde foi e escriturário, depois se submeteu a concurso público e foi aprovado, obtendo o terceiro lugar entre os concorrentes. Foi, então, nomeado Agente Fiscal da Fazenda Estadual e designado para a Coletoria Estadual de Lagoa Grande. Dali foi removido (a pedido) para a Coletoria Estadual de Pocinhos, onde trabalhou no Posto Fiscal de Cacimba Nova e, posteriormente, foi nomeado Escrivão. Removido para Campina Grande, exerceu o cargo de Chefe da Seção de Administração da Recebedoria de Rendas. Logo após, passou a integrar a fiscalização de estabelecimentos. No fisco estadual trabalhou doze anos e seis meses, sendo promovido diversas vezes, todas por merecimento absoluto, alcançando o último nível de promoção da carreira: a AF-3.

Submeteu-se a concurso de provas e títulos para a Magistratura paraibana e foi aprovado em oitavo lugar, sendo designado para a Comarca de Serra Branca, onde trabalhou por dez anos. Foi promovido para a Comarca de Monteiro e, depois, removido para a Comarca de São João do Cariri. Dali, obteve nova promoção para a 2ª Vara Cível da Comarca de Campina Grande onde trabalhou como titular das 1ª e 2ª Varas Cí-veis e, como substituto eventual ou plantonista de todas as Varas Cíveis e da Fazenda Pública da Comarca.

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Substituiu as Comarcas de Monteiro, Sumé, Serra Branca, São João do Cariri, Caba-ceiras, Boqueirão, Queimadas, Aroeiras e Umbuzeiro.

Exerceu a função de juiz eleitoral em todas as Comarcas em que trabalhou como titular ou substituto e, em Campina Grande, foi diretor do Fórum Eleitoral Evandro de Sousa Neves, juiz eleitoral coordenador da Propaganda Eleitoral e coordenador do Núcleo de Totalização de votos da região.

Recebeu as comendas de cidadão honorário das cidades de Serra Branca e de Campina Grande.

Casou, quando ainda trabalhava em Pocinhos, com a Senhora Cleodomira Guedes Rodrigues, e dessa união nasceram quatro filhos. Atualmente, tem sete netos.

Escreveu sete livros sobre mitos de sua terra natal, sendo seis em prosa e um em poesia popular, mas, até o presente momento, publicou apenas “A PORCA DE ZÉ SILVA”, “A QUEDA DO METEORITO”, “ A RAPOSA DIFERENTE”, “A BESTA DE MANÉ JOSÉ”, “ e “A CASCAVEL BANGUELA”.

Também teve seu nome incluído na coletânea de Aparício Fernandes “TROVADORES DO BRASIL”, em cujo terceiro volume encontram-se 10 trovas de sua autoria, dessas, a segunda foi premiada no primeiro concurso de trovas do Diário da Borborema de Campina Grande, a que concorreu e obteve o segundo lugar entre os concorrentes, a qual tem o seguinte texto:

Eu vivo perdido a esmo.por este mundo sem fim,procurando por mim mesmo,sem ter notícias de mim.

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APRESENTAÇÃO

HISTÓRIAS DE TAPEROÁ EM MEIO CENTO DE CORDÉIS é uma coletânea de pequenas histórias sobre fatos que aconteceram na cidade ou no município de Taperoá ou que ali foram contadas, algumas engraçadas, outras trágicas, mas todas interessantes. Preferimos contá-las em cordéis porque é a forma que melhor retrata a intenção de quem as contava, deixando transparecer o desejo de introduzi-las no nosso folclore.

Os fatos narrados, na realidade, são autênticas relíquias do folclore daquela região que estavam se perdendo na evolução dos tempos e nos fez tomar a tarefa de resgatá-los. As gerações mais novas não têm condição de saber perfeitamente como se passaram porque elas nunca foram escritas e, não obstante reiteradamente contadas, às vezes uma diferente versão faz com que se confunda a história não escrita e se tenha diver-sidades de interpretações.

Também se tem de levar em conta que os fatos narrados são verídicos, contudo, foram sofrendo acréscimos a cada vez que a história era contada, acabando por se formar uma versão bem mais cheia de acontecimentos impressionantes e, finalmente, dando azo à criação de um verdadeiro mito.

Assim foi que A HISTÓRIA DE CHIMÉ, que teve por fato verdadeiro o encontro do cabrito indefeso pelo caminhoneiro José Calado, já quase nas garras dos carcarás, perto da caveira da cabra sua mãe, levou-o consigo e deu para que Dada Diniz o criasse. Fora criado na cidade e ali cresceu e ficou muito sabido. Tornou-se conhecido fora das fronteiras de Taperoá e morreu de velho porque seu dono nunca se desfez dele. A história, no entanto, acabou se transformando numa história fabulosa de um bode cheio de presepadas, com sabedoria e presunção inadmissíveis, a ponto de andar pelas ruas de Taperoá ouvindo música no seu Olk-man.

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Também o Doutor Miguel da Raiz existiu e tinha sua tarimba de remédios caseiros no meio da feira, onde vendia meizinhas de toda espécie e prometia curas miraculosas. Nem por isso deixou-se de acrescer fatos novos à verdadeira história do raizeiro, como era chamado o comerciante de raízes.

Da mesma forma se passaram: A HISTÓRIA DE MIGUEL, a de SINHÁ ANA E SEU TIMÓTEO, a de TAPEROÁ E O FIM DO MUNDO, a do VIÚVO PERSIS-TENTE, e as demais que compõem o presente livro.

A nossa intenção é retratar tais histórias da forma como elas acabaram sendo contadas, com todos os acréscimos e todos os floreios da criatividade dos contadores de casos de nossa terra.

Os nomes e referências pessoais são puramente fictícios e, caso coincidam com o nome de alguma pessoa de nossa comunidade, o fato não passa de mera coincidência.

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SUMÁRIO

A HISTÓRIA DE CHIMÉ .............................................................. 11

SINHÁ ANA E SEU TIMÓTEO ....................................................... 19

A CABRA JACIRA E OS SETE COUROS ....................................... 27

AS AVENTURAS DE JULIÃO .........................................................36

HISTÓRIA DE CAÇADOR ............................................................ 44

DOUTOR MIGUÉ DA RAIZ .......................................................... 52

A ARATACA .................................................................................61

A HISTÓRIA DE MIGUEL .......................................................... 68

AGRIPINO E O GUAXINIM ........................................................ 75

O ENCONTRO DE LAJEIRÃO COM CAPIVARA DO NORTE ..........82

O LENHADOR VISIONÁRIO ..........................................................90

O HOMEM QUE ESQUECIA TUDO ................................................. 99

JUVENAL E AS CINCO SOVAS ....................................................106

O HOMEM QUE ENGANOU O CAPETA ....................................... 116

O HOMEM QUE VIROU BODE ...................................................... 123

O HOMEM QUE COMEU A COTOVIA .......................................... 131

O SANTO DESCONFIADO ........................................................... 140

O VIÚVO PERSISTENTE ........................................................... 149

PADRE BENTO E OS GATOS DO CÃO ........................................158

A MORANGA QUE EXPLODIU .................................................... 167

A JUMENTA MENTIROSA ........................................................... 175

A VIÚVA JULITA E O PORCO QUE FOI P’RO CÉU ................. 183

A HISTÓRIA DE GONÇALO VALENTE .........................................192

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A FEIRA DE TAPEROÁ ............................................................. 202

A ONÇA, A RAPOSA E O CURURU ............................................. 211

BIU E CASUZA ...........................................................................219

OS DOCUMENTOS DE LAJEIRÃO .................................................227

O TROVÃO QUE DEU CHABU ...................................................... 235

O VAQUEIRO IMPOSTOR .......................................................... 243

O LADRÃO QUE NÃO ROUBAVA .................................................. 251

CANCÃO FERREIRA DE LIMA .................................................. 259

NEM A MORTE DESTRÓI UM GRANDE AMOR ........................... 267

O JOGADOR QUE SURROU O CAPETA ...................................... 277

CAMÕES E O REI ......................................................................286

A SAGA DE UM AZARENTO ...................................................... 295

AS SAÚVAS PERSISTENTES .......................................................304

O BEM COM O MAL SE PAGA ...................................................313

SUPERSTIÇÕES SERTANEJAS ..................................................... 320

TRAUMAS ...................................................................................328

TAPEROÁ E O FIM DO MUNDO .................................................336

SONHO DOURADO ..................................................................... 344

PREVENÇÃO FRUSTRADA .......................................................... 352

PENSE NUM CABAÇO GRANDE!.................................................360

PEDRO MALASARTES ................................................................. 367

O CABRA DO PAJEÚ. ................................................................. 377

O PINGUÇO IMPROVISADO ...................................................... 385

A MINHOCA DE MESTRE OLAVO ...............................................393

ESCLARECIMENTO FATAL ....................................................... 401

O REI E A RENDEIRA ............................................................. 407

O URUBU DE PEDRO MALASARTES ........................................... 413

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Sei que Deus sempre socorreaos que pelejam com fé,por isso peço-lhe forçapara o que der e vier,neste instante singularem que pretendo contara história de Chimé.

Quem por acaso nasceuou mora em Taperoá,muitas histórias de bodecertamente ouviu contare quem sabe se atéa história de Chiménão lhe é familiar.

Do bode de Moacirhá uma história comprida.Ele morreu sete vezesporque tinha sete vidas.Morria e reencarnava,deixando por onde passavamuita gente aborrecida.

A HISTÓRIA DE CHIMÉ

O bode de Joaquim Grosso,como um trampolim caprino,ficava no pé da cercae o rebanho ia subindona sua corcunda grossapara invadir a roçado seu vizinho Agripino.

O bode de Manoel Costaque foi só uma invençãocriada por uns gaiatosque chamavam no portãopara que o velho falassee eles, então, o “serrassem”.Sexta-feira da paixão.

Contam até que um bodepai-de-chiqueiro loquazfazia as cabras correreme ele corria atrásdizendo em tal metiê: “— Não bebeu, venha beber...Se já bebeu não bebe mais”.

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Até doutor Aldomário trouxe para exposiçãoum bode que dava leite,da Alemanha ou do Japão.Oito a dez litros por diao bode velho dariadependendo da ração.

O bode de Zé Hilárioé outra lenda correntede bode daquela terraque importunou muita gente,mas vamos deixar pra láporque pretendo falardo velho Chimé somente.

Um dia José Caladovinha no seu fé-nê-mê, pela estrada de Teixeira,ia a Campina venderuma carga de algodão.Se era dele ou nãoEu nunca pude saber.

O sol estava a pino,nenhuma nuvem no céu.O azul do firmamentoformava um imenso véu.Folha alguma balançavaporque o vento não sopravanaquela tarde cruel.

Zé Calado ouviu um roncoque vinha lá do espaço,dando a impressão dum soprofeito com estardalhaçoe por sobre o caminhãosombras em profusãona terra deixavam rastros.

Foi aí que o motoristaparou o seu fé-nê-mê,abriu a porta do carroe se estarreceu ao verque do alto do céu lindohavia urubus caindonum campo de muçambê.

Andou mais um pouco e viu,na confrontação da porta,pertinho do caminhão,uma grande cabra morta.Urubus e carcaráspor ali tinha demaisfestejando aquela horta.

Quando já se retiravaele foi surpreendidocom um berro rouco abafadoe tenro como um balido.Zé Calado deu um grito,certamente era o cabritocuja mãe tinha morrido.

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Debaixo de uma barreira,vítima de inanição,estava ali um cabritode pura raça Surrãoque ia morrer certamentese dele algum viventenão tivesse compaixão.

Zé Calado observouquão grande era o perigo.Se não o tirasse dali,botando em melhor abrigo.Entre aves de rapina,expondo a língua finae o cordão do umbigo.

Pegou o bicho com a mãoe viu que sentia medo.Devia estar com fomeporque chupava os seus dedos.Apesar do seu estadopodia ser recuperadose cuidasse dele cedo.

Contudo era precisosaber a quem pertencia,porquanto quem furta bodepena severa expia.Tinha de ver o sinalna orelha do animalque deixara aquela cria.

O carcará, no entanto,o sinal tinha comido.O cabrito definhava,tinha de ser socorrido.Era pegar ou largar.O risco de a pena expiarteria de ser corrido.

O velho caminhoneirofizera um gesto bonito,evitando que o bichoesticasse os seus cambitos.Botou dentro da boleia,enquanto bolava ideia para salvar o cabrito.

Levou pra Taperoáe quando lá já estava,na bomba de gasolinado posto onde parava,achou que devia daro cabrito a Seu Dadáque por sorte o esperava.

— Seu Dadá, disse Calado—não me venha com pagode,tome conta desse bicho,não me diga que não pode.Narrou o acontecidoe Seu Dadá, comovido,resolveu criar o bode.

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E, assim, José Caladosentiu-se muito feliz,observando que o bodesobreviveu por um triz.Agora estava guardadosob o zelo e cuidadodo senhor Dadá Diniz.

Daquele dia por diantetudo era diferentepara Dadá e o bode,Taperoá e a genteque morava no lugar,pois a rotina de láse acabou de repente.

Com o nome de Chiméo bode foi batizado.Eu não sei quem pôs o nomese Dadá ou Zé Calado.Também não sei, sequer,desta palavra Chiméqual é o significado.

É um nome esquisitoque ninguém sabe o que é.Pode vir de corruptelaou doutro vício qualquerque afeta a língua da tribo,misto de ximbé com chibo ou de chibo com ximbé.

O bode, logo de novo,revelou sabedoria,acompanhava Dadáa todo lugar que ele ia.Tratado a pão de ló,só comia do melhor,gororoba não comia.

A mordomia do bichonão era nada pequena.Dormia em colchão de molacom travesseiro de pena,usava lençóis azuis,exigia quebra-luze boas cortinas de renda.

De manhã, bem cedo, estavana esquina todo dia,esperando que abrissea mais chique padaria.Exigente e mandão,não comia qualquer pãosó pão doce preferia.

Todo mundo já sabiaque o bode era de Dadá,por isso qualquer despesamandavam logo pra lá.Balconista autorizadopodia vender fiadoque seu dono ia pagar.

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Tudo ia muito bemquando o bicho era pequeno,porém com o passar do tempoo danado foi crescendoe ficando enxerido,gaiato e atrevido,imoral e obsceno.

O bicho acabou virandouma figura nojenta,com uma trunfa na testa,encardida e fedorenta.Cheirava onde não deviae o beiço de cima erguiaque quase tampava a venta.

Bufando com veemência,com um fartum de cachaça,o bicho, no meio da rua,fazia grande desgraça.E como um tarado imundobodejava todo mundoaté os bancos da praça

Fazia xixi no topete,no cavanhaque e bigode,andava mostrando tudocomo quem manda e pode.Pra coisa não piorarcomeçaram a reclamardas safadezas do bode.

Seu Dadá, muito distinto,defendia o caprino,mas a coisa foi piorandoe ele tomou um destino:Castraria o animal,se todo aquele pessoalperdoasse o seu traquino.

Enquanto pensava nisso,chegou, na ponta do pé,gritando com muita forçao velho Chico Tomé:— Eu venho matar o bode,porque esse danado podebodejar minha mulher.

Seu Dadá, muito solícito,ainda que contra a vontade,prometeu ao amigopreservar sua amizade.Tomo agora por capricho,vou mandar castrar o bichopara haver tranquilidade.

Na linguagem do lugarbenefício é castração.O benefício do bodecausava até compaixão,porém tinha de ser feitoporque até o prefeitoexigia solução.