História do Brasil (re)visitada: do descobrimento à abdicação: O indígena nos Relatórios de...
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CENTRO UNIVERSITÁRIO MOACYR SREDER BASTOSCURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DO BRASIL CURSO DE
LICENCIATURA EM HISTÓRIA
História do Brasil (re)visitada: do descobrimento à abdicação: O indígena nos Relatórios de Presidente de Província do Rio de Janeiro, Minas Gerais
e Espírito Santo e sua visão pela literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites1
Vlademir José Luft2
Jefferson Eduardo dos Santos Machado3
Marcelle Barcellos Jabor4
João Luiz Figueira Ribeiro Junior5
Leidiane de Castro Gonçalves6
Marina Aparecida Martins da Cruz7
Michelle Moraes Aniceto Neto8
Rio de Janeiro - RJ
1 Trabalho apresentado no 2º Encontro Institucional de Iniciação Científica do UniMSB, no dia 22 de novembro de 2011.2 [email protected], Professor Adjunto no Curso de História do UniMSB; Doutor em História Social pela UFRJ; Pesquisador e Coordenador do projeto de pesquisa “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites” e Coordenador do Grupo de Estudo e Trabalho (GET) “História do Brasil (re)visitada: do descobrimento à abdicação”. 3Professor Assistente no Curso de História do UniMSB; Mestre em História Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ; Pesquisador Colaborador do Programa de Estudos Medievais da UFRJ e Pesquisador Assistente no projeto de pesquisa “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.4 Professor do Ensino Fundamental da rede privada da cidade do Rio de Janeiro, Licenciado em História pelo UniMSB; Pós-Graduando em História do Brasil Colonial no UniMSB e Auxiliar de pesquisa no projeto “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.5 Professora do Ensino Fundamental da rede privada da cidade do Rio de Janeiro, Licenciada em História pelo UniMSB; Pós-Graduada em Arte e Cultura pela Universidade Candido Mendes; Pós-Graduanda em História do Brasil Colonial no UniMSB e Auxiliar de pesquisa no projeto “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.6 Licenciada em História pelo UniMSB; Pós-Graduanda em História do Brasil Colonial no UniMSB e Auxiliar de pesquisa no projeto “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.7 Aluna do Curso de Licenciatura em História do UniMSB, Estagiária de Iniciação Científica do Programa de Iniciação Científica do UniMSB no projeto “O indígena nos Relatórios de Presidente de Província do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo ”. 8 Aluna do Curso de Licenciatura em Geografia do UniMSB, Estagiária de Iniciação Científica do Programa de Iniciação Científica do UniMSB no projeto “O indígena nos Relatórios de Presidente de Província do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo ”.
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novembro de 2011
Apresentação
O Grupo de Estudo e Trabalho (GET) “História do Brasil (re)visitada: do
descobrimento à abdicação”, que foi proposto a partir do programa de pesquisas com o
mesmo nome, funciona, no intuito de reunir pesquisadores e interessados em uma
(re)avaliação, e uma consequente discussão, acerca da História do Brasil, em seu período
colonial, período este, compreendido entre o seu “descobrimento”, por Pedro Álvares Cabral,
e a abdicação, de D. Pedro I, ao seu trono do Brasil.
O espaço geográfico para o qual o olhar está voltado é o dos Estados de Minas Gerais
(na sua região denominada Zona da Mata Mineira), do Espírito Santo (em sua porção Sul,
entre os rios Itapemirim, ao Norte, e Itabapoana, ao Sul), de São Paulo (em sua porção
Nordeste, entre o rio Paraíba do Sul, a serra da Mantiqueira e o Estado do Rio de Janeiro,
região denominada Valo do Paraíba) e do Rio de Janeiro (em sua região denominada Norte
Fluminense, entre os rios Paraíba do Sul, ao Sul, e Itabapoana, ao Norte).
Os temas que norteiam os estudos são: O indígena, As Ordens Religiosas, Os relatos
de Cronistas e Viajantes e O Meio Ambiente e suas transformações.
Os trabalhos são coordenados pelo Professor Vlademir José Luft e têm tido lugar no 6º
andar do bloco “E”, no UniMSB, às quartas-feiras, no horário de 16:00 às 18:00 horas, com
periodicidade quinzenal.
Como já foi dito, diante do Programa de Pesquisa e do Grupo de Estudos “História do
Brasil (re)visitada: do descobrimento à abdicação”, alguns projetos foram propostos,
sempre no sentido de tratar os indígenas, para os quais entende-se existir, no Brasil, e quem
sabe no mundo, duas maneiras de ser visto. Uma remete ao conhecimento popular, onde ele é
considerado exótico e diferente do “civilizado”, portanto, passível de ser tutelado, conforme o
caso brasileiro e sua Constituição, de 19889. A outra maneira, relaciona-se à forma de como o
mundo acadêmico-intelectual entende este elemento.
Infelizmente a tendência da historiografia brasileira tem sido de manter o elemento
índios no domínio da Antropologia e/ou da Etnologia. Isso faz com que estes trabalhos, que
são de suma importância para as respectivas áreas, fiquem sem uma visão contemporizada e
crítica da sociedade indígena. Além disso, o historiador fica com a impressão de que este
9 Título VIII – da ordem social, Capítulo VIII – dos índios, artigos 231 e 232
2
assunto não faz parte de seu objeto de estudo, logo, ele não tem qualquer responsabilidade
sobre sua análise.
É evidente que se tivermos em mente um conceito de História tradicional, ou seja, a
História que se inicia, no caso brasileiro, com a chegada da armada de Pedro Álvares Cabral
em 1500, logicamente os índios anteriores a esta data não serão do âmbito da História, e os
posteriores somente o serão na medida e que complementarão o contexto europeu da época.
Para os autores desta linha, os índios aparecem somente em alguns momentos da História do
Brasil, como por exemplo com a chegada da armada de Pedro Álvares Cabral, com as
tentativas de escravização ou com os aldeamentos.
Observando a historiografia tradicional sobre o indígena brasileiro, pode-se constatar
que o índio é visto como sendo um bloco único com características gerais. Isto ocorre por
falta de conhecimento prévio de cada grupo por parte dos cronistas e dos autores posteriores a
eles. Desta maneira, o conhecimento sobre o índio brasileiro foi sendo passado de geração em
geração, de forma pouco crítica por parte do historiador.
Como consequência desta visão acrítica, a maior parte das obras sobre os índios
brasileiros não são análises que se detêm nas particularidades de cada um dos grupos.
Um bom exemplo do que acabamos de dizer é a região Norte do Estado do Rio de
Janeiro, conhecida em sua quase totalidade pela expressão “baixada dos Goitacases”,
tradicionalmente identificada como tendo sido ocupada pelos índios Goitacá10. O que acontece
ali é que encontramos nela diversos outros grupos, tais como os Puri, os Coroado e os
Coropó. Os viajantes e depois os historiadores não se preocuparam, ou não tiveram
conhecimentos suficientes, para fazer as distinções entre cada grupo. Desta maneira, foi
traçado um “modelo” do que seria o indígena e a ocupação desta área somente a partir dos
Goitacá. Esse fato tem provocado uma série de distorções na realidade da ocupação desta e de
muitas outras áreas.
Portanto, tem sido nosso objetivo trabalhar com uma sociedade, ou um grupo indígena
específico, procurando segui-lo no tempo e no espaço para entender a forma como tem vivido.
Diante disso, como já foi dito, dois projetos foram criados para dar conta deste objeto:
o primeiro trata de “O indígena nos Relatórios de Presidente de Província do Rio de
Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo”, apoiado pelo Programa de Iniciação Científica do
UniMSB, e o segundo de “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e
limites” fruto do GET.
10 Para a grafia dos nomes dos grupos indígenas, seguimos a convenção estabelecida pela Associação Brasileira de Antropologia - ABA, em 1953, onde normatiza que os nomes de povos e de
línguas indígenas sejam empregados na forma invariável, sem flexão de gênero e número. In: Revista de Antropologia, volume 2, número 2, São Paulo,: USP 1954, pp. 150-154
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A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites
O projeto de pesquisa “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e
limites”, conduzido por seu coordenador, o professor Vlademir José Luft, e assistido pelo
professor Jefferson Eduardo dos Santos Machado, apresenta neste momento, duas vertentes: a
primeira voltada para o Rio de Janeiro e a segunda voltada para além do Rio de Janeiro,
sempre buscando revelar, como cronistas e viajantes perceberam e relataram a terra, sua
natureza, sua gente e as relações entre elas: natureza e gente.
Em sua primeira vertente, trabalha o professor e historiador João Luiz Figueiredo
Ribeiro Junior, onde estamos apresentando o painel “O índio no olhar dos viajantes Fernão
de Cardim e Jean de Léry no Rio de Janeiro do século XVI”.
Em sua segunda vertente, trabalham as professoras e historiadoras Marcelle Barcellos
Jabor e Leidiane de Castro Gonçalves, onde estamos apresentado o painel “Três por Três: os
séculos e os viajantes”.
Como arqueólogo de origem e historiador de destino, temos proposto, faz algum
tempo, a utilização e a leitura do material produzido por viajantes11 e cronistas12, entre outros
tantos, como suporte para uma das etapas do trabalho de campo da arqueologia: a busca do
sitio arqueológico13, de uma sociedade indígena, estabelecida no Brasil, seja no período
considerado histórico (a partir da chegada do elemento europeu), seja no período considerado
pré-histórico (anterior a chegada do elemento europeu).
Em nosso entender, os dados fornecidos neste material, podem proporcionar a
identificação mais segura que o encontro ocasional, de locais a serem estudados, ou mesmo
confirmar o local onde poderiam estar sendo encontrados restos da cultura material de uma
dada sociedade, representando, dessa forma, o elemento identificador, entre tantas outras
informações, do grupo indígena com o qual estaria se trabalhando.
Seguindo proposição de Pesavento (2004, p. 119)14 e buscando “... revelar os
significados perdidos do passado.” através de “... um método trabalhoso e meticuloso, ...”
onde as
11 Termo que se refere aos escritores, botânicos,naturalistas, pintores, desenhistas, astrônomos, cartógrafos e zoólogos que desenvolveram trabalhos individuais de caráter privado ou que integram
missões cientificas, principalmente após a instalação da Corte Portuguesa no Brasil. In: BOTELHO, Ângela Vianna & REIS, Liana Maria, Dicionário Histórico do Brasil: Colônia e Império, 4a
edição, Belo Horizonte: Autentica, 2003, p. 312.
12 Crônica – s. f. 1 – Narração histórica, por ordem cronológica. In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa, São Paulo: Nova Fronteira, 1995.
13 Local onde se encontram restos de cultura passa. In: MENDONÇA DE SOUZA, Alfredo Augusto Castro, Dicionário de Arqueologia, Rio de Janeiro: ADESA, 1997, p. 117.
14 PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural, 2a edição, Belo Horizonte: Autentica, 2004.
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Práticas sociais podem valer como discursos, silêncios falam, ausências revelam presenças, coisas portam mensagens, imagens de segundo plano revelam funções, canções e musicas revelam sentimentos, piadas e caricaturas denunciam irreverências, sendo de humor e deboche.
entendemos que o trato deste tema, a (re)leitura de viajantes e cronistas, é mais um dos
campos onde podem estar atuando os conceitos e pressupostos da história cultural,
principalmente quando o estivermos buscando na “... distinção entre representação e
representando, entre signo e significado, ...”, ou seja, “... entre o signo visível e o referente
por ele significado ...” (Chartier, 1990, p. 21) 15, ou um novo entendimento para estes
documentos que podem dizer muito de um tempo, de uma sociedade e de um espaço. Nada
além, nem aquém, do que entende Chartier (1990, pp. 16-17)16, quando refere-se a historia
cultural, ou seja, “... o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada
realidade social é construída, pensada, dada a ler.”.
Fazer uma (re)leitura de viajantes e cronistas, através do entendimento de seu mundo e
de suas práticas, bem como a força de seu imaginário como representação de um novo mundo,
conforme propõe Assunção (2000, p. 40)17 quando diz que
A maioria dos relatos, numa visão claramente utilitária do mundo natural, destacava as propriedades produtivas dos novos espaços, paisagens bucólicas, fauna e flora exuberante, variadas e exóticas. E as representações criadas proporcionavam uma apropriação com a idéia de paraíso terrestre de abundancia e riqueza, cuja obtenção não requeria grande esforço humano.
é, antes de mais nada, uma necessidade, para que possamos continuar a dispor desta que pode
ser uma importante fonte para entendermos uma determinada sociedade.
Movidos pela necessidade de identificar e analisar “todos” os tipos possíveis de fontes
e documentos que tenham informações sobre as sociedades indígenas do Brasil,
especialmente quando estamos tratando dos grupos Puri, Coroado e Coropó, sentimos a
necessidade de discutir18, da mesma forma que temos feito em outras áreas do conhecimento,
com pesquisadores experientes no trato com este tipo de questão, a validade no uso de fontes
escritas na busca de sociedades indígenas passadas e que possam interessar aos arqueólogos19.
15 CHARTIER, Roger. A História Cultural, entre práticas e representações, Viseu: DIFEL, 1990
16 op. cit.
17 ASSUNÇÂO, Paulo. A terra dos brasis: a natureza da América portuguesa vista pelos primeiros jesuítas (1549-1596), São Paulo: Annablume, 2000.
18 Da forma que temos feito com pesquisadores de outras áreas do conhecimento: como a Antropologia, a História, a Arqueologia, a Etnologia e a Literatura.
19 Com este mesmo objetivo, já participamos de uma mesa de discussão na reunião da Associação Brasileira de Antropologia, no seu encontro de Brasília e de um Seminário Temático na Reunião
da Sociedade de Arqueologia Brasileira, no seu encontro do Rio de Janeiro.
5
Quando conseguimos identificar, localizar e ter acesso a um tipo de fonte que poderá
permitir um conhecimento mais profundo sobre os índios, ou sobre as Instituições que se
acredita serem responsáveis pelos mesmos, é um indício de que provavelmente novos dados,
ainda desconhecidos, poderão vir à tona. É assim que objetivamos melhor pensar, e quem
sabe propor, uma "metodologia" (técnica e prática) que possa utilizar a fonte escrita, em
especial a “literatura de viajantes e cronistas”, principalmente pelo arqueólogo, quando em
seu trabalho de campo, a partir das propostas e da experiência de áreas como a própria
Arqueologia, a Antropologia, a História, a Etnologia e a Literatura, entre outras.
O tema “literatura de viajante e cronistas” tem sido objeto de trabalho e de discussão
nas mais diversas áreas, desde a História até a Literatura, passando pela Antropologia,
Etnologia, Arte e até mesmo pela Sociologia. Em todas elas, busca-se uma forma de poder
utilizar este tipo de informação, este tipo de documentação, este tipo de registro, para melhor
entender as sociedades envolvidas: seja a local, indígena, seja a estrangeira, européia. Neste
momento em que as barreiras disciplinares estão sendo derrubadas, entendemos que a
Arqueologia não pode se furtar de considerar este assunto, uma vez que trata, diretamente,
com um dos elementos presentes nestes registros, documentos ou informações, o indígena.
O ponto de partida para isso seria saber quem estaria sendo considerado viajante,
cronista e/ou naturalista. É assim, que duas características principais se distinguem: “... o fato
de serem viajantes (e não habitantes) com um tempo de permanência limitado, e o de serem
estrangeiros, ou seja, habitantes de outros locais, sem propriedade territorial, nem ligações
mais estreitas e contínuas, com a população local.” (Leite, 1997, p. 161)20, sendo que os
mesmos teriam como objetivo principal “... observar o estado das povoações e indagar a sua
história, religião, costumes, artes, economia, comércio, alimentos, medicina, indumentária,
habitações, armas, guerras, funerais, etc...” (Leite, 1997, p. 201)21.
Dentro deste panorama e considerando que “Um viajante ... é uma espécie de
historiador. Seu dever é contar o que viu e o que ouviu. Não deve inventar, mas também não
deve omitir ...” (Isabelle, 1949 – p. 33)22, entendemos, como Reichel (2003, p. 2)23, que
Os depoimentos dos viajantes, com explicações e aparato crítico adequados, contribuem para uma melhor e mais enriquecida compreensão do passado. Temos que cuidar, porém, para não se cair na armadilha de aceitarmos as suas descrições e informações como sendo a própria e única realidade.
20 - LEITE, Miriam Lifchitz Moreira. Livros de Viagem (1803-1900), Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1997
21 - op. cit.
22 - ISABELLE, A. Viagem ao Rio da Prata e ao Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro: oooooo, 1949
23 - REICHEL, Heloisa Jochims. Os relatos dos viajantes como fonte para estudo da história, Dissertação de Mestrado, São Leopoldo: UNISINOS, 2003
6
Outro ponto a ser considerado na utilização deste tipo de fonte, são os significados
implícitos, direta ou indiretamente, nos textos e/ou nas imagens. De acordo com Reichel
(2003, p. 2)24 “Para utilizarmos as representações dos viajantes como fonte histórica, é
necessário, portanto, decifrar o seu significado, articulando texto e contexto.”
Como ela, também entendemos que Chartier (1990, pp. 16-17)25 deve ser considerado,
principalmente quando propõe uma análise das práticas e das representações sociais derivadas
de uma tradição cultural historicamente estabelecida. Para ele, esta análise, “... tem por
princípio identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada
realidade social é construída, pensada, dada a ler.”, onde “As representações do mundo
social assim construídas ... são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as
forjam.” e “As percepções do social não são de forma alguma discursos neutros ...”.
Ainda segundo Chartier (1990, p. 17-18)26,
Deste modo, espera-se acabar com os falsos debates desenvolvidos em torno da partilha, tida como irredutível, entre a objetividade das estruturas (que seria o terreno da história mais segura, aquela que, manuseando documentos seriados, quantificáveis, reconstrói as sociedades tais como eram na verdade) e a subjetividade das representações (a que estaria ligada uma outra história, dirigida às ilusões de discurso distanciados do real).
É desta forma, que os próprios naturalistas, viajantes ou cronistas, como Wied (1940,
p. 399)27 pensam, discutem e elaboram o problema: “O fato é que raramente se encontram
reunidas todas as coisas agradáveis e interessantes como o imagina um autor sentado em sua
poltrona, depois de haver retirado suas descrições de viajantes acostumados a representar
tudo com exagerada beleza.”.
Dentro desta perspectiva e levando em levando em consideração Cardoso & Brignoli
(1983, p. 429)28 onde
A pesquisa científica é, antes de mais nada, uma busca de respostas a certos problemas. Obviamente, ressalvada a redundância, a pesquisa científica só pode resolver problemas científicos, isto é, questões colocadas com base teórica que possam ser submetidas a algum tipo de prova ou verificação.
24 - op. cit.
25 - CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações, Lisboa: DIFEL, 1990
26 op. cit.
27 - WIED, Maximilian. Viagem ao Brasil nos anos de 1815 e 1817, São Paulo: editora Nacional, 1940
28 - CARDOSO, Ciro Flamarion & BRIGNOLI, Hector Perez. Os métodos da história, 3a edição, Rio de Janeiro: edições Graal, 1983
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e entendendo a “metodologia” como os meios práticos e teóricos pelos quais um pesquisador
busca resolver determinado problema ou tratar determinado objeto de estudo, apresentamos
nossa sugestão e a forma como estamos trabalhando este tema.
Antes disso, é imprescindível ressaltar, que a parte técnica de um trabalho deve estar,
sempre, de acordo com a teoria proposta, uma vez que acreditamos ser ela quem determina a
técnica, que por sua vez nos permite chegar ao objetivo proposto. Também, vale lembrar que
a teoria, entendida como o conjunto de princípios fundamentais de caráter racional que
norteiam o ato de realizar uma tarefa, estaria presente em tudo o que fazemos. Neste sentido,
Kern & Schmitz29 concordam com o exagero nas "discussões teóricas" em algumas situações
da arqueologia, principalmente a brasileira. Para eles, e entendemos ser verdadeira tal
afirmativa, em tudo o que realizamos há uma teoria implícita, proposta, testada e
concretizada. Dessa forma, concordando com Becker (1993, pp. 12-13)30, entendemos que “...
toda pesquisa tem o propósito de resolver um problema que, em aspectos importantes não é
parecido com nenhum outro problema, e deve fazê-lo dentro de um ambiente específico
diferente de todos os que existiram antes.".
Por isso, ainda como Becker (1993, p. 12)31, preferimos "... um modelo artesanal de
ciência, no qual cada trabalhador produz as teorias e métodos necessários para o trabalho
que está sendo feito.".
De acordo com isso, nosso objeto de estudo nesta oportunidade, a “fonte escrita”,
requer um tratamento específico para que possamos chegar ao resultado desejado, conforme
exposto nos objetivos estabelecidos. Deve-se frisar que o objetivo maior é identificar
informações sobre os grupos indígenas Puri, Coroado e Coropó.
A primeira questão sobre estas fontes é o fato de poderem ser divididas, em termos de
existência, em dois tipos principais: pela autoria e pela forma32. Na primeira estariam
inseridos documentos produzidos por viajantes, cronistas, religiosos, historiadores e
pesquisadores em geral e por documentos produzidos pelo Estado. Quanto a forma, poderiam
ser cartas, relatórios, decretos, ofícios, instruções, mapas, plantas, cartas topográficas e livros,
entre outras.
Além disso, por sua vez, o tipo de informações apresentadas por estes documentos,
está dividida em três grandes grupos, aqui apresentados na ordem de importância no que se
29 - Comunicação oral em Simpósio do IX Congresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira, Rio de Janeiro, 1997.
30 - BECKER, Haward S. Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais, Coleção Ciências Sociais, volume 31, São Paulo: Hucitec, 1993
31 - op. cit.
32 - LUFT, Vlademir José; AMANTINO, Marcia Sueli & MACEDO, Jacqueline. Programa Arqueológico Puri-Coroado: Elementos para uma tipologia de sua fontes históricas. In: Revista da
Sociedade Brasileira de Pesquisa Histórica, número 12, Curitiba, 1997, pp. 91-95
8
refere a frequência com que aparecem: origem e dispersão, modo de vida e estrutura física, e
aldeamentos.
Dentre estes documentos, os principais, que nos informam sobre os grupos indígenas,
são os relatos de "viajantes" e "cronistas" que passaram pelo território nacional desde o
princípio do século XVI até o final do século XIX.
Contudo, este grupo de documentos apresenta, em maior ou menor escala, problemas
de ordem prática, como por exemplo, o elevado etnocentrismo e o pouco, ou nenhum,
conhecimento sobre as diversas tribos que pretendiam descrever e analisar. Estes problemas
são ainda mais sérios na medida em que recuamos no tempo, uma vez que as obras não devem
ser totalmente confiáveis, devido principalmente às inúmeras falhas nas descrições.
Todavia, ainda que apresentando problemas, estas obras, se lidas com um olhar crítico
e atento, permitem atingir, ainda que de forma frágil, o universo destes grupos, ou seja, suas
características físicas, culturais, religiosas, políticas e econômicas. Além disso, permitem-
nos também um contato com o meio ambiente que os cercavam, propiciando assim, subsídios
para as análises de paleo-ambiente, de paleo-flora e de paleo-fauna.
Para finalizar, devemos ressaltar outros dois fatos. O primeiro é que este nosso
trabalho esta elaborado no sentido de ser mais uma proposta para tratar, ou melhor tratar, o
tema de viajantes e cronistas, como todos os outros que tem sido apresentados. Pensamos que
uma classificação quanto a forma e ao conteúdo possa ser o primeiro indicativo para um guia
de consulta, leitura e utilização.
O outro fato, diz respeito à forma como estaríamos entendendo a Arqueologia. Faz
tempo, deixamos de vê-la como algo único e independente, embora interdisciplinar, para vê-la
como uma técnica a serviço da História, talvez na mesma proporção que percebemos a
História Oral para a História. É assim que o material arqueológico, ou a cultura material,
passa a ser apenas mais um tipo de documento a ser analisado, sendo o “sítio arqueológico”
nada mais que o arquivo onde estão depositados os documentos, de origem cerâmica, óssea,
vegetal, alimentar, lítica, pictográfica, etc, que servirão para reconstituir, historicamente, com
a técnica arqueológica, aquela sociedade, em seu tempo e em seu espaço. Sociedade esta
buscada intencionalmente, e não encontrada aleatoriamente. Por isso a necessidade de buscar
informações em documentos como os de viajantes e cronistas, entre outros.
É importante ressaltar ainda, que com isso não estamos desvalorizando o trabalho do
arqueólogo e as diversas técnicas de análise e de pesquisa dos mais diversos tipos de restos
materiais (cultura material), transformados agora, e dessa forma, em documentos e de seu
9
constante aprimoramento, mas devemos lembrar que estas (técnicas) não são da arqueologia,
mas das mais diversas áreas correlatas e na maioria das vezes distintas, com utilização e, em
alguns casos, aprimoramento pela arqueologia.
10
O indígena nos Relatórios de Presidente de Província do Rio de
Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo
O projeto de pesquisa “O indígena nos Relatórios de Presidente de Província do
Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo”, conduzido por seu coordenador, o
professor Vlademir José Luft, e assistido pelo professor Jefferson Eduardo dos Santos
Machado, apresenta neste momento, duas vertentes: a primeira voltada para a Província do
Espírito Santo e a segunda voltada para a Província de Minas Gerais, sempre buscando
revelar, o elemento indígena é percebido e relatado nos Relatórios de Presidente de Província
no período de 1840 a 1870.
Em sua primeira vertente, trabalha a Licencianda em História Michelle Moraes
Aniceto Neto, onde estamos apresentando o painel “Os Relatórios de Presidente de Província
do Espírito Santos” e em sua segunda vertente, trabalha a Licencianda em Geografia Marina
Aparecida Martins da Cruz, onde estamos apresentado o painel “Os Relatórios de Presidente
de Província das Minas Gerais”.
Se, como já dissemos, existem duas maneiras de entendermos o elemento indígena no
Brasil, e quem sabe no mundo, e diante disso nosso objetivo é trabalhar com uma sociedade
ou um grupo indígena específico, procurando segui-lo no tempo e no espaço para entender a
forma como tem vivido, nesse trabalho estaremos utilizando os Relatório de Presidente de
Província do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e do Espírito Santo, no período de 1840 a 1870.
Nossos objetivos principais são:
1. Analisar os RPP identificando os relatos sobre indígenas;
2. Identificar os grupos indígenas relatados nos RPP;
3. Identificar, nos relatos sobre os grupos Puri e Coroado, a cultura material, o modo de
vida, a estrutura social, a estrutura física e as relações internas e externas desses grupos
presentes nos relatos;
4. Associar os elementos identificados sobre os grupos Puri e Coroado, nos RPP, com as
referencias correlatas sobre indígenas no Brasil;
Tendo como referencial as obras de Curt Nimuendaju, “... o mais profundo
conhecedor dos aborígines do Brasil em seu tempo.” (Correa Filho, 1987, p. 9)33. Dentre elas,
33
11
o mapa etno-histórico34 é nossa obra de referência, como tem sido para qualquer estudo sobre
indígenas no Brasil. Além disso, as obras, bem como todas as informações e referências
produzidas por Wilhelm Ludwig Eschwege, Manoel Aires de Casal, Maximilian Wied, Simão
de Vasconcelos, Gabriel Soares de Souza, Nelson Coelho de Senna, Pero de Magalhães
Gandavo, Alberto Lamego, Augusto de Carvalho, Guido Marlière, Alberto Noronha de
Torrezão e Pizarro, serão de extrema necessidade e valia. Ressalvamos que essa relação de
autores, que não representa a totalidade sobre o assunto, nem o esgota, será usada apenas
como ponto de partida para nosso trabalho.
Devido ao pouco conhecimento e às poucas referências sobre os Puri e Coroado, não
será possível encontrar, em uma única biblioteca ou arquivo, todas as informações
necessárias. Assim, trabalharemos, principalmente nessa etapa do projeto, com os Relatórios
de Presidente de Província, disponíveis, digitalmente em http://www.crl.edu/brazil/provincial.
Por ser um trabalho de longa duração, com, em principio, cinco etapas, claramente
definidas, e com interação teórico-metodológica e prática de várias áreas do conhecimento, os
objetivos aqui apresentados não poderiam deixar de ser amplos. Dessa forma, cada um dos
objetivos representam uma etapa de trabalho, para a qual objetivos específicos deverão ser
estabelecidos.
É importante deixarmos claro que a sequência das etapas não significa que uma deva
ser concluída para que a seguinte seja iniciada. Assim, várias etapas poderão estar em
andamento concomitantemente, sem prejuízo algum para a pesquisa ou para o projeto. São
etapas complementares e não excludentes. Eis, portanto, nossos objetivos gerais:
1. Localizar geográfica e temporalmente, através de fontes primárias e/ou secundárias,
os grupos Puri e Coroado existentes na área determinada para estudo, entre os séculos
XVI e XX.
2. Identificar a partir das fontes bibliográficas, entre outras coisas, a cultura material, o
modo de vida, a estrutura social, a estrutura física e as relações internas e externas
desses grupos.
3. Relacionar as diferentes hipóteses, afirmações ou fatos existentes nessas fontes
bibliográficas e que dizem respeito à origem dos Puri e Coroado.
4. Consultar as populações atuais, das regiões mencionadas nas fontes, no sentido de
confirmar, ou não, as informações bibliográficas a respeito das localizações e
possíveis restos desses grupos indígenas.
34 IBGE. Mapa etno-histórico de Curt Nimuendajú, Rio de Janeiro: IBGE, 1987
12
5. Verificar, em campo, os locais apresentados pelas informações bibliográficas e
reconhecidos pelas informações da população regional como sendo de assentamento
Puri e/ou Coroado.
Como dezenas de pequenos grupos indígenas brasileiros, principalmente os de língua
isolada, acerca dos índios Puri e Coroado existem pouquíssimos relatos.
Considerados selvagens e sem alma, como o restante dos indígenas americanos, além
de muito ferozes, resistentes e de difícil contato, até o século XVII, esses grupos são muito
pouco citados e descritos pelos viajantes e cronistas.
A partir do século XVIII, com a ocupação mais intensa do território brasileiro e com a
chegada, em maior número, de viajantes com o intuito de identificar, catalogar e descrever a
fauna, a flora e a geografia, essa situação se modificou.
Nos séculos XIX e XX, a Antropologia e a Etnologia estiveram mais voltadas para os
grupos maiores e “mais ricos” culturalmente. O aldeamento, pacífico, acabou por ser a única
saída para alguns grupos, como o caso dos Coroado de São Fidélis. Aos Puri, grupos mais
rebeldes, nem mesmo sua extinção foi motivo de notícias. Hoje, raríssimos remanescentes
escondem sua descendência. Um quadro caótico para grupos que dominaram parte dos sertões
das Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais.
No que diz respeito ao conhecimento sobre os Puri e Coroado, as informações
existentes dão conta, de modo geral, de suas origens e de sua distribuição geográfica. Os
autores que mais e melhor discorrem sobre esses assuntos são Eschwege (1881)35, Wied
(1989)36, Carvalho (1888)37, Casal (1976)38 e Reis (1979)39.
Outras informações, como as de cunho etnográfico, que deem conta da cultura, do
modo de vida, da estrutura física, da estrutura social e de suas relações internas e externas,
entre outras coisas, não são comuns.
Por sua vez, os Relatórios de Presidente de Província, nossa fonte principal neste
projeto, embora de origem confiável, traz consigo alguns problemas que não merecem aqui o
tratamento, mas que os fazem ser excluídos das relações de fontes de trabalhos acadêmicos
cotidianos.
35 ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig. Diário do Brasil ou notícias diversas acerca do Brasil (Journal von Brailien), Edição do GR. H. S., Landes Ind. Comp., Weimar, 1818. Tradução da Dra.
Lúcia L. Lahmeyer, Rio de Janeiro: IHGB, 1946.
36 WIED, Maximilian. Viagem ao Brasil, , Coleção Reconquista do Brasil, volume 156, série 2, Belo Horizonte: Itatiaia / EDUSP, 1989
37 CARVALHO, Augusto de. Apontamentos para a história da Capitania de São Thomé,. Campos,Typ. e Lith. de Silva, Carneiro e Co, 1888
38 CASAL, Manuel Aires de. Chorographia brasileira ou relação histórico-geográfica do Reino do Brasil, , Coleção Reconquista do Brasil, volume 27, Belo Horizonte: Itatiaia / EDUSP, 1978.
39 REIS, Paulo Pereira dos. O Indígena do Vale do Paraíba: apontamentos históricos para o estudo dos indígenas do vale do Paraíba e regiões circunvizinhas, Coleção Paulística, volume XVI,
São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, 1979.
13
Entendendo a metodologia como os meios práticos e teóricos pelos quais um
pesquisador busca resolver determinado problema ou tratar determinado objeto de estudo,
apresentamos a seguir a maneira como trabalharemos os grupos indígenas Puri e Coroado.
Devemos ressaltar, ainda, que a parte técnica do trabalho deve estar, sempre, de acordo
com a teoria proposta, uma vez que acreditamos ser ela quem determina a técnica, que por sua
vez nos permite chegar ao objetivo proposto.
Com o intuito de facilitar e de melhor orientar a pesquisa, preparamos, com base nas
obras de Wied40, Casal41, Lamego42, Teixeira43 e Pizarro44, uma série de palavras-chave que
nos guiarão durante toda a pesquisa com as fontes bibliográficas. Esta lista de termos-chave
deverá ser, com toda a certeza, alterada no decorrer do tempo. Assim, novos termos serão
acrescentados a ela e muitos, já existentes, deixarão de ser utilizados. Em momento algum os
termos que deixados de ser utilizados serão retirados da listagem, uma vez que com isso
poderemos mostrar, com facilidade, a evolução da pesquisa.
Toda a referência bibliográfica consultada será fichada, retirando-se dela localizações,
descrições a respeito da cultura material, do modo de vida, da estrutura social, da estrutura
física dos indivíduos, das relações internas e externas dos grupos, bem como todas as
referências a autores e trabalhos sobre o assuntos.
No que diz respeito ao contato com as populações, no sentido de verificar as
informações obtidas com a bibliografia, a abordagem para obtenção de informações acontece
sempre com a cordialidade e paciência, tendo como intuito, saber da existência de registros
rupestres, de material cerâmico, de material lítico e de enterramentos. A linguagem usada para
tal deve ser, sempre, compatível com o nível das pessoas com as quais se está trocando
informações. Assim, os registros rupestres podem vir a ser “desenho”, o material lítico ser
“pedra de curisco”, os enterramentos serem “cemitério de caboclo” e o material cerâmico ser
“pote de barro”.
Três por Três: os séculos e os viajantes45
40 op. cit.
41 op. cit.
42 LAMEGO, Alberto Ribeiro. A Terra Goytacá, 8 volumes, Paris: L’Édittion D’Art 1913.
43 TEIXEIRA, Francisco Camargo. Bom Jesus de Itabapoana, Academia Bonjusuense de Letras, Rio de Janeiro: EDUF / DAMADA, 1985.
44
45 Fazendo referência à escolha de três viajantes e cronistas e aos séculos XVI, XVII e XVIII.
14
Marcelle Barcellos Jabor46
Leidiane de Castro Gonçalves47
Vlademir José Luft48
Colaboradores:Jefferson Eduardo dos Santos Machado49
João Luiz Figueira Ribeiro Junior50
Marina Aparecida Martins da Cruz51
Michelle Moraes Aniceto Neto52
Na segunda parte do projeto de pesquisa “A leitura de Viajantes e Cronistas: suas
possibilidades e limites” apresentamos o painel, “Três e Três: os séculos e os viajantes”, onde
nossa proposta limita-se a análise de três viajantes, respeitando a temporalidade estabelecida
pelo projeto. Assim, entram em nossa discussão os relatos de Olivier VAN NOORT53 que
esteve em terras brasileiras em 1599, François Pyrard de LAVAL54 em 1610 e, John BYRON
em 176455.
Nosso estudo se utiliza de um gênero histórico como análise, a crônica. Este padrão
surgiu na Europa durante a Idade Média e o Renascimento, primeiramente em latim e depois
46 Professor do Ensino Fundamental da rede privada da cidade do Rio de Janeiro, Licenciado em História pelo UniMSB; Pós-Graduando em História do Brasil Colonial no UniMSB e Auxiliar de pesquisa no projeto “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.47 Licenciada em História pelo UniMSB; Pós-Graduanda em História do Brasil Colonial no UniMSB e Auxiliar de pesquisa no projeto “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.48 [email protected], Professor Adjunto no Curso de História do UniMSB; Doutor em História Social pela UFRJ; Pesquisador e Coordenador do projeto de pesquisa “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites” e Coordenador do Grupo de Estudo e Trabalho (GET) “História do Brasil (re)visitada: do descobrimento à abdicação”. 49Professor Assistente no Curso de História do UniMSB; Mestre em História Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ; Pesquisador Colaborador do Programa de Estudos Medievais da UFRJ e Pesquisador Assistente no projeto de pesquisa “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.50 Professora do Ensino Fundamental da rede privada da cidade do Rio de Janeiro, Licenciada em História pelo UniMSB; Pós-Graduada em Arte e Cultura pela Universidade Candido Mendes; Pós-Graduanda em História do Brasil Colonial no UniMSB e Auxiliar de pesquisa no projeto “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.51 Aluna do Curso de Licenciatura em História do UniMSB, Estagiária de Iniciação Científica do Programa de Iniciação Científica do UniMSB no projeto “O indígena nos Relatórios de Presidente de Província do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo ”. 52 Aluna do Curso de Licenciatura em Geografia do UniMSB, Estagiária de Iniciação Científica do Programa de Iniciação Científica do UniMSB no projeto “O indígena nos Relatórios de Presidente de Província do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo ”.53 “... primeiro marítimo da nação holandesa e o quarto do mundo... a dar a volta ao globo terrestre.” In. FRANÇA, Jean Carvalho e RAMINELLI, Ronaldo. Andanças pelo Brasil Colonial: catálogo comentado (1503-1808). São Paulo: UNESP, 2009. p. 41.54 “... autor da primeira narrativa francesa sobre as Índias Orientais...” In. FRANÇA & RAMINELLI, 2009, p. 4555 A ele coube “... testar a eficácia do novo revestimento do casco que a Real Armada pretendia adotar, o revestimento com placas de cobre. A embarcação escalada para essa viagem foi uma fragata de fabricação inglesa, construída em 1751, o Dolphin.” FRANÇA & RAMINELLI, 2009, p. 143.
15
em outras línguas, como o Português: “O sentido tradicional do termo decorre de sua
etimologia grega (Khronos=tempo): é o relato dos acontecimentos em ordem cronológica.
Sua parenta mais próxima: anais.”56.
A intenção é ver embutido nos relatos de viajantes e cronistas, as características
econômicas, políticas, sociais, ambientais da colônia portuguesa na América, porém por um
olhar imparcial, viajantes que utilizavam-se da costa brasileira muita das vezes apenas para
abastecimento ou reparos de seus navios. Compreendendo57 em seus relatos o afastamento da
realidade colonial, já que é notável que muitos viajantes demonstraram uma certa aversão à
Colônia.
Nossa intenção na escolha dos viajantes foi puramente estabelecer uma ordem
temporal, portanto tivemos o cuidado em optar por três viajantes de diferentes séculos e
também de nacionalidades distintas, usando como fonte França e Raminelli58.
Partindo do pressuposto de que “todo dizer é ideologicamente marcado”59 comecemos
nossa discussão pelos relatos do capitão holandês Van Noort, que estava à frente da esquadra
da recém criada Companhia de comércio de Roterdam. Designado á ir ao Pacífico atacar e
saquear o maior número possível de possessões espanholas. Sua esquadra de quatro navios
saiu do porto de Roterdam em 13 de setembro de 1598, com destino á Inglaterra e em seguida
á costa africana: “No dia 6 de fevereiro de 1599, a frota avistou Cabo Frio e, no dia 9, lançou
ferro na entrada da baía de Guanabara, onde, mal recebida, permaneceu por somente três
dias.”60.
Para uma maior compreensão do trajeto percorrido pelo capitão Van Noort, nos
servimos do Mapa da costa do Estado de Rio de Janeiro, o mapa é recente, porém está
demarcado o trajeto percorrido, via navegação, pelos viajantes durante os séculos XVI, XVII
e XVIII (Mapa 1).
56 COUTINHO, Afrânio. Notas de Teoria Literária. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. p. 10357 “Compreender é saber como um objeto simbólico (enunciado, texto, pintura, música, etc.) produz sentido. É saber como as interpretações funcionam.” In. ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso. 8ªed. Campinas, SP: Pontes, 2009. p. 26.58 FRANÇA & RAMINELLI, 2009.59 ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso. 8ªed. Campinas, SP: Pontes, 2009. p. 38.60 FRANÇA & RAMINELLI, 2009, p. 42.
16
Mapa ... 61
Van Noort e sua tripulação não foram bem recebidos no Rio de Janeiro, logo que
desembarcaram no porto foram indagados por homens enviados pelo governador, a fim de
saber de onde eram e o que pretendiam: “Respondemos que éramos flamengos e que
desejávamos obter algumas frutas e provisões em troca de dinheiro ou mercadorias, ou seja,
desejamos negociar com eles.”62. No dia seguinte, apenas o que conseguiram foram algumas
laranjas, fato que deixava claro que eles não eram bem vindos na região, “demonstração
evidente da má vontade do governo para conosco”63.
O holandês, Van Noort foi aqui o viajante representante do século XVI. Agora para o
século XVII, optamos por um francês, ou que supostamente é conhecido como francês por
participar da expansão marítima francesa, o marinheiro Laval. Este aponta no litoral brasileiro
em agosto de 1610, vindo do Oriente e a caminho da França “farto da vida do Oriente, o
suposto francês pôs-se a caminho de casa”64.
Depois de passar pela ilha de Santa Helena, na África, sua embarcação chega à Baía de
todos os Santos, onde permanece por dois meses, tempo em que despendeu para contratar
franceses e preparar-se para a viagem de volta ao porto de La Rochelle na França. O livro de
Laval reúne uma série de importantes e detalhadas informações geográficas da Baía, são
freguesias, fortificações, disposição de igrejas, dos principais prédios de Salvador da Bahia, o
comércio, os hábitos, o comportamento e a beleza das mulheres.
61 Mapa Caminhos na região do sal no decorrer dos séculos, in: Projeto Inventário de Bens Culturais Imóveis: Desenvolvimento Territorial dos Caminhos Singulares do Estado do Rio de Janeiro, Governo do Estado do Rio de Janeiro/Sebrae-RJ, 2004, p. 70, apud FIGUEIREDO, Eduardo Rodrigues. Notas para a história de Maricá, Anuário geográfico do Estado do Rio de Janeiro. IBGE, Conselho Nacional de Geografia, 1952. Acesso em: 18 de Novembro/2011. http://www.sebraerj.com.br/custom/pdf/cam/sal/00_CaminhoDoSal_FULL.pdf. 62 FRANÇA & RAMINELLI, 2009. p. 43.63 FRANÇA & RAMINELLI, 2009. p. 4364 FRANÇA & RAMINELLI, 2009. p. 45.
17
Nesta terra do Brasil os portugueses não tem gente suficiente para povoar e ocupar a costa, onde tem grande quantidade de cidades, fortalezas e belas casas nobres, até vinte e trinta léguas pelo sertão. Há senhores que possuem grandes territórios e neles muitos engenhos de açúcar, ao quais territórios lhe há dado El-rei de Espanha em recompensa de algum serviço e são erguidos em título de alguma dignidade, como baronia, condado, etc.65
Estas terras são cedidas pelos senhores a quem se propuser habitá-la e cultivá-la,
pagando por isso um “tostão”. Nesse arrendamento são construídas casas, plantam-se variados
tipos de sementes, e cria-se galinha, gado e outros. Mas aos olhos de Laval, esse não deveria
ser um negócio muito lucrativo, já que menciona em seus relatos que o Brasil era uma terra
impossível de habitar: “Esta terra do Brasil é pois, tão má, que seria impossível habitá-la e
permanecer por muito tempo”66.
Os registros deixados por Laval são de fundamental importância, não só pela riqueza
de detalhes nas descrições, mas também pelo período e pela localização. Data do século XVII,
quando a Bahia era ainda a capital do Estado do Brasil (Mapa 2): “Não restam dúvidas de que
Laval e seus informantes construíram um mapa com as mais estratégicas informações da
capital do Estado do Brasil, dados indispensáveis para uma possível invasão.”67.
Mapa ... 68
65LAVAL. In. NASCIMENTO, Ana Luiza Serrano da Silva. Impressões e sensações de François Pyrard de Laval nas suas Andanças pela Baía de todos os Santos em 1610. XIV Encontro Reginal da ANPUH-RIO: Memória e Patrimônio. 2010. p.5. Acesso em: 19 de Novembro/ 2011. http://www.encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1276685841_ARQUIVO_ANPUH.pdf 66 NASCIMENTO, 2010, p. 6.67 FRANÇA & RAMINELLI, 2009, p. 48.68 La Baie de Tous-les-Saints. (Dessin de Ph.Guittau, 1647, BN Paris) In. FRANÇA 2009, p.47.
18
Fato interessante a ser destacado é que o período em que Laval e também Van Noort
estiveram no Brasil, esses relatos devem ser analisados e entendidos acerca da história da
União Ibérica, período entre os anos de 1580 a 1640.
Já para a análise do século XVIII, optamos em estabelecer diálogo com o inglês
Byron. Saiu de Plymouth, na Inglaterra, no dia 3 de julho de 1764, e dez dias depois estava na
Ilha da Madeira. Em seguida, seu navio esteve nas Canárias em Cabo Verde: “Abastecidos...
dirigiu-se para o porto do Rio de Janeiro, o qual foi alcançado no dia 5 de setembro”69 do
mesmo ano, onde permaneceu por somente 45 dias (Mapa 3).
Mapa ... 70
Seus relatos acerca das características do Brasil são muito ricos em detalhes. Fala-se
da autoridade do vice-rei na colônia, a cor dos habitantes, a comercialização de negros, a vida
de prazeres de portugueses já casados e, a condição feminina. “Os homens locais são
excessivamente ciumentos; se um estrangeiro olha em demasia para uma mulher, ele corre
sério risco de ser alvo da fúria de um marido ou de um pai mais zeloso.”71.
Neste trabalho nos propusemos à análise de somente três viajantes, porém Laval,
parece que sai do propósito do tema, por ter ido ao Nordeste do território brasileiro, já que o
69 op.cit. p. 14370 “Mappa Geographica Regni Brasiliae” de Georg Matthäus Seuter (Ca. 1735). In. TEIXEIRA, Dante Martins. Toas as criaturas do mundo: a arte dos mapas como elemento de orientação geográfica. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material. São Paulo, 2009. Acesso em: 19 de novembro de 2011. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-47142009000100009&script=sci_arttext 71 FRANÇA & RAMINELLI, 2009, p. 145.
19
nosso enfoque maior é a região Sudeste. Mas não cabe a nós fazermos delimitações por agora,
porém, estamos atentos a essas questões. A análise das obras também não está feita em sua
totalidade, por enquanto ela se limita à citações e referências de outros autores. Porem
optamos aqui em expressar as ideias e impressões de cada um dos viajantes ou/e cronistas
escolhidos para análise. Partindo da ideia que o autor, “não entendido, é claro, como o
indivíduo falante que pronunciou ou escreveu o texto, mas o autor como princípio de
agrupamento do discurso, como unidade e origem de suas significações, como foco de sua
coerência.”72.
Referencial Bibliográfico:
COUTINHO, Afrânio. Notas de Teoria Literária. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
FIGUEIREDO, Eduardo Rodrigues. Notas para a história de Maricá, Anuário geográfico do Estado do
Rio de Janeiro. IBGE, Conselho Nacional de Geografia, 1952. Acesso em: 18 de Novembro de 2011.
Disponível em http://www.sebraerj.com.br/custom/pdf/cam/sal/00_CaminhoDoSal_FULL.pdf.
FRANÇA, Jean Carvalho, Ronaldo Raminelli. Andanças pelo Brasil Colonial: catálogo comentado
(1503-1808). São Paulo: UNESP, 2009.
FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. 19ªed. São Paulo: Loyola, 2009.
NASCIMENTO, Ana Luiza Serrano da Silva. Impressões e sensações de François Pyrard de Laval nas
suas Andanças pela Baía de todos os Santos em 1610. XIV Encontro Reginal da ANPUH-RIO:
Memória e Patrimônio. 2010. Acesso em: 19 de Novembro de 2011. Disponível em
http://www.encontro2010.rj.anpuh.org/resources/anais/8/1276685841_ARQUIVO_ANPUH.pdf
ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso. 8ª ed. Campinas, SP: Pontes, 2009.
TEIXEIRA, Dante Martins. Toas as criaturas do mundo: a arte dos mapas como elemento de orientação
geográfica. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material. São Paulo, 2009. Acesso em: 19 de
novembro de 2011. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-
47142009000100009&script=sci_arttext
72 FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. 19ªed. São Paulo: Loyola, 2009.
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Os Relatórios do Presidente da Província das Minas Gerais
Marina Aparecida Martins da Cruz73
Vlademir José Luft74
Colaboradores:Jefferson Eduardo dos Santos Machado75
Marcelle Barcellos Jabor76
João Luiz Figueira Ribeiro Junior77
Leidiane de Castro Gonçalves78
Michelle Moraes Aniceto Neto79
Apresentação
Integrante, inicialmente, da capitania do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais e
separada, primeiramente do Rio de Janeiro, em 1709, por Carta Régia, e posteriormente de
São Paulo, em 1720, por Alvará, Minas Gerais tornou-se província a partir de 1821, devido ao
juramento de D. João, em obediência às leis portuguesas, estas Capitanias passaram a ser
denominadas Províncias, confirmadas pela Constituição Outorgada de 1824 (Cunha, 2007)80.
73 Aluna do Curso de Licenciatura em História do UniMSB, Estagiária de Iniciação Científica do Programa de Iniciação Científica do UniMSB no projeto “O indígena nos Relatórios de Presidente de Província do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo ”. 74 [email protected], Professor Adjunto no Curso de História do UniMSB; Doutor em História Social pela UFRJ; Pesquisador e Coordenador do projeto de pesquisa “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites” e Coordenador do Grupo de Estudo e Trabalho (GET) “História do Brasil (re)visitada: do descobrimento à abdicação”. 75Professor Assistente no Curso de História do UniMSB; Mestre em História Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ; Pesquisador Colaborador do Programa de Estudos Medievais da UFRJ e Pesquisador Assistente no projeto de pesquisa “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.76 Professor do Ensino Fundamental da rede privada da cidade do Rio de Janeiro, Licenciado em História pelo UniMSB; Pós-Graduando em História do Brasil Colonial no UniMSB e Auxiliar de pesquisa no projeto “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.77 Professora do Ensino Fundamental da rede privada da cidade do Rio de Janeiro, Licenciada em História pelo UniMSB; Pós-Graduada em Arte e Cultura pela Universidade Candido Mendes; Pós-Graduanda em História do Brasil Colonial no UniMSB e Auxiliar de pesquisa no projeto “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.78 Licenciada em História pelo UniMSB; Pós-Graduanda em História do Brasil Colonial no UniMSB e Auxiliar de pesquisa no projeto “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.79 Aluna do Curso de Licenciatura em Geografia do UniMSB, Estagiária de Iniciação Científica do Programa de Iniciação Científica do UniMSB no projeto “O indígena nos Relatórios de Presidente de Província do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo ”.80 CUNHA, Alexandre Mendes. Minas Gerais, da capitania à província: elites políticas e administração da fazenda em um espaço em transformação, tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da
21
Mapa1: Província das Minas Gerais81
Com um perfil específico, os relatórios do Presidente da Província das Minas Gerais82
têm sido apresentados na abertura da Assembleia Legislativa Provincial (figura 1) relatando,
de forma geral, os mais diversos eventos, desde a casa imperial, passando pela polícia,
pelas leis, pela educação, pela igreja, pelas obras públicas, pela iluminação pública,
pela saúde pública, pelos hospitais, pela vacinação, pelos impostos, arrecadação e finanças,
pelos índios e a catequese, pelas colônias e os imigrantes, pela municipalidade,
pelo judiciário, pelo executivo, e por informações de caráter geral, apresentados em mapas e
estatísticas, como os apresentados no relatório de 184383, onde consta um mapa das estradas
do Parahynuna no ano de 1843 (figura 2), ou no relatório de 1844, onde consta um mapa dos
indivíduos mortos e feridos durante rebelião em 1842 (figura 3).
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2007.81Mappa da Provincia de Minas Geraes levantado pelo Coronel de Engenharia Barão e Eschwege em MDCCCXXI e aumentado em 1826 por Luiz Maria da Silva Pinto, disponível em82 Disponíveis emhttp://www.crl.edu/brazil/provincial/minas_gerais, consultados entre julho e outubro de 2011.83Exposição feita pelo exm. conselheiro Bernardo Jacintho da Veiga, na qualidade de presidente da provincia de Minas Geraes, a seu successor, o exm. tenente-general Francisco José de Souza Soares de Andréa, no acto da sua posse. Rio de Janeiro, Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve e C.a, 1843.
22
Figura 1: Capa do Relatório de 184084
Figura 2: Mapa anexo ao Relatório de 184385
84Falla que o ex.mo presidente da provincia do Espirito Santo dirigio á Assembléa Legislativa Provincial no dia 1.o de abril de 1840. Rio de Janeiro, Typographia Nacional, 1840.85Exposição feita pelo exm. conselheiro Bernardo Jacintho da Veiga, na qualidade de presidente da provincia de Minas Geraes, a seu successor, o exm. tenente-general Francisco José de Souza Soares de Andréa, no acto da sua posse. Rio de Janeiro, Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve e C.a, 1843.
23
Figura 3: Mapa anexo ao Relatório de 184486
Objetivos
6. Localizar geográfica e temporalmente, através de fontes primárias e/ou secundárias,
os grupos Puri e Coroado existentes na área determinada para estudo, entre os séculos
XVI e XX.
7. Identificar a partir das fontes bibliográficas, entre outras coisas, a cultura material, o
modo de vida, a estrutura social, a estrutura física e as relações internas e externas
desses grupos.
8. Relacionar as diferentes hipóteses, afirmações ou fatos existentes nessas fontes
bibliográficas e que dizem respeito à origem dos Puri e Coroado.
9. Consultar as populações atuais, das regiões mencionadas nas fontes, no sentido de
confirmar, ou não, as informações bibliográficas a respeito das localizações e
possíveis restos desses grupos indígenas.
86Exposição feita pelo exm. conselheiro Bernardo Jacintho da Veiga, na qualidade de presidente da provincia de Minas Geraes, a seu successor, o exm. tenente-general Francisco José de Souza Soares de Andréa, no acto da sua posse. Rio de Janeiro, Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve e C.a, 1843.
24
10. Verificar, em campo, os locais apresentados pelas informações bibliográficas e
reconhecidos pelas informações da população regional como sendo de assentamento
Puri e/ou Coroado.
Resultados e discussões
Após a análise dos relatórios provinciais da província de Minas Gerais dos anos de
1840 a 1844, do Diretório Geral de Índios do ano de 1755 podemos verificar poucas, mas
significantes contribuições de trechos relatando de forma direta ou indireta os indígenas.Com
exceção dos anos de 1841 e 1842 verificamos um tratamento que marginaliza os povos
indígenas. Isso pode ser visto no relatório de 184087:
No Município de Minas Novas houve uma agressão dos índios selvagens, que depois haverem acometido a fazendo de Francisco dos Santos Passos, onde todavia se limitarão a matar algum gado, a destruir plantações, atacaram a guarnição do quartel, do Asavessas,Distrito de Calhão em cujas vizinhanças assassinaram um soldado...conhecendo a deficiência que se sentia de praças na divisão do quartel de militares do Rio Doce ...
Nesse trecho, os indígenas são chamados de selvagens e são apresentadas
argumentações que passam a ideia de atitudes selvagens, mas, se analisarmos a questão
espacial,podemos nos deparar com terras indígenas sendo ocupadas por portugueses.No
trecho que apresentamos, no relatório do mesmo ano, 184088,fica clara a forma como os
indígenas eram tratados: selvagens e criminosos:
... obedeço a imperiosa Lei da necessidade,quando ela exige que se empregue a força armada contra as HORDAS SELVAGENS, eu não deixarei por isso de insistir nas idéias...acerca da catequese e civilização desses mesmo indígenas, que errantes nas matas, inúteis a si mesmo e hostis a sociedade , poderiam ser chamados ao grêmio dela pelas diversas maneiras já adotados com feliz resultado em muitas partes da América ...
Além do fato da marginalização desses indígenas, é notória a intenção de sua
catequização. Ao serem chamados de “errantes”, denota que o são perante o império
português, o que nos trás uma problemática entorno do termo e seu significado.
87Falla dirigida á Assembléa Legislativa Provincial de Minas-Geraes na sessão ordinaria do anno de 1840 pelo presidente da provincia, Bernardo Jacintho da Veiga. Ouro-Preto, Typ. do Correio de Minas, 1840.88 Relatório de 1840, op. cit.
25
Essa marginalização continua nos relatórios seguintes. No relatório de 184389, por
exemplo, o Presidente da Província das Minas Gerais relata que “Essa província é uma das
que mais diversas nações de índios tem em si,os quais são sempre pobres e parece-me claro
que sempre que lhes for feita alguma violência lhes caberá em cheio o antigo provérbio – tem
razão, mas falta-lhe a justiça.”.
Minas Gerais é reconhecida como a Província onde se tem um grande número de
povos indígenas, geralmente conhecidos como violentos,embora não se faça distinção de que
povos indígenas eram, mesmo esperando-se que houvessem povos semelhantes.
Um dos temas mais comentados nos relatórios provinciais de Minas Gerais é a
abertura de estradas. Ao analisarmos os relatóriossão geradas expectativas de relatos sobre
indígenas quando da abertura dessas estradas, o que acaba por não ser concretizado, embora
possamos supor, sem que tenham sido citados, sua presença. Um exemplo poderia ser no
relatório de 184090, onde é dito que “A ponte do Paraybuna foi queimada pelos rebeldes e
algum trabalho vai dar para reconstrução...”. É provável que estes rebeldes sejam indígenas.
O trabalho requer atenção nas particularidades. No relatório de 184491, ainda em
análise, deparamo-nos com o seguinte relato: “...mandei abrir uma picada desde Cuietê por
Abre-Campo até encontrar a nova estrada do Espírito Santo, entre Matipó e Manhuassu ...
uma grande revolução nos interesses daqueles habitantes que não sabem hoje o que hão de
fazer com seus gados e outros efeitos...”.
A construção de estradas na província mineira foi intensa no século XIX, e em vários
momentos pode-se perceber, de forma indireta, que o acontecimento influenciaria os nativos
daquela área, como é o caso do trecho citado acima, onde o Presidente da Província afirma
que a construção da estrada que uniria Minas Gerais ao Espírito Santo mudaria os hábitos dos
habitantes ao longo do caminho, inclusive dos nativos, uma vez que a começar pelo nome do
local onde esta estrada tem inicio, Matipó, nome derivado da expressão indígena match-poo,
que significa milho em pó, e acabando em Manhuassu, também de nome derivado de
expressão indígena, que pode, de acordo com o entendimento, significar chuva grande, rio
grande ou peixe amarelo grande, tudo lembra e trata de nativos.
89Exposição feita pelo exm. conselheiro Bernardo Jacintho da Veiga, na qualidade de presidente da provincia de Minas Geraes, a seu successor, o exm. tenente-general Francisco José de Souza Soares de Andréa, no acto da sua posse. Rio de Janeiro, Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve e C.a, 1843.90 Relatório de 1840, Op. cit.91Falla dirigida á Assembléa Legislativa Provincial de Minas Geraes na abertura da sessão ordinaria do anno de 1844 pelo presidente da provincia, Francisco José de Souza Soares d'Andrea. Rio de Janeiro, Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve e Comp., 1844.
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Não deixando de analisar, também, o Diretório Geral de Índios que intensifica ainda
mais o processo de margilanização esses povos indígenas, em trechos do diretório podemos
observar os indígenas:
... haverá em cada uma das sobreditas Povoações, em quanto os Índios não tiverem capacidade para se governarem, um Diretor, que nomeará o Governador, e Capitão General do Estado, o qual deve ser dotado de bons costumes, zelo, prudência, verdade, ciência da língua, e de todos os mais requisitos necessários para poder dirigir com acerto os referidos índios debaixo das ordens, e determinações seguintes, que inviolavelmente se observarão enquanto Sua Majestade o houver assim por bem, e não mandar o contrário. (Diretório Geral de Índios, capítulo 1º )92
Trata-se os povos indígenas como povos necessitados de uma administração que tenha
bons costumes, já que segundo o próprio diretório os índios não tinham:
Não se podendo negar, que os índios deste Estado se conservaram até agora na mesma barbaridade, como se vivessem nos incultos Sertões, em que nasceram, praticando os péssimos, e abomináveis costumes do Paganismo, ... (Diretório Geral de Índios, capítulo 3º )93
Em todo Diretório é visível a intenção de cristianizar os indígenas com abertura de
escolas aonde seja obrigado o ensino religioso com meninas e meninos separados.
Outro relato interessante a respeito dos índios e descrito nos relatórios é o fato de muitos se
chamarem de negros.
Entre os lastimosos princípios, e perniciosos abusos, de que tem resultado nos Índios o abatimento ponderado, é sem dúvida um deles a injusta, e escandalosa introdução de lhes chamarem Negros; querendo talvez com a infâmia, e vileza deste nome, persuadir-lhes, que a natureza os tinha destinado para escravos dos Brancos, como regularmente se imagina a respeito dos Pretos da Costa da África. (Diretório Geral de Índios, capítulo 10º )94
Conclusão
Dos relatórios lidos o que mais nos chama atenção sobre a questão indígena é o fato
dos mesmos não serem citados, ate então, quando se fala da construção das estradas e o fato
de quando se fala desses povos indígenas sem pré colocá-los como violentos, rebeldes e povos
que precisam ser catequizados.
92 Diretório que se deve observar nas Povoações dos Índios do Pará, e Maranhão, enquanto Sua Majestade não mandar o contrário, In: ALMEIDA, Rita Heloísa de. O Diretório dos índios: um projeto de “civilização no Brasil do século XVIII, Brasília: UNB, 1997.93 ALMEIDA, 1997, op. cit.94 ALMEIDA, 1997, op. cit.
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No critério espacial é percebível a localização de povos indígenas sempre próximos
aos rios como é o caso do rio Manhuassu, Matipó, Cuietê, Paraybuna, que é um dos rios mais
citados no relatório e Rio Doce.
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Os Relatórios do Presidente da Província do Espírito Santo
Michelle Moraes Aniceto Neto95
Vlademir José Luft96
Colaboradores: Jefferson Eduardo dos Santos Machado97
Marcelle Barcellos Jabor98
João Luiz Figueira Ribeiro Junior99
Leidiane de Castro Gonçalves100
Marina Aparecida Martins da Cruz101
Apoio
UniMSB – Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos
Apresentação
95 Aluna do Curso de Licenciatura em Geografia do UniMSB, Estagiária de Iniciação Científica do Programa de Iniciação Científica do UniMSB no projeto “O indígena nos Relatórios de Presidente de Província do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo ”.96 [email protected], Professor Adjunto no Curso de História do UniMSB; Doutor em História Social pela UFRJ; Pesquisador e Coordenador do projeto de pesquisa “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites” e Coordenador do Grupo de Estudo e Trabalho (GET) “História do Brasil (re)visitada: do descobrimento à abdicação”. 97Professor Assistente no Curso de História do UniMSB; Mestre em História Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ; Pesquisador Colaborador do Programa de Estudos Medievais da UFRJ e Pesquisador Assistente no projeto de pesquisa “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.98 Professor do Ensino Fundamental da rede privada da cidade do Rio de Janeiro, Licenciado em História pelo UniMSB; Pós-Graduando em História do Brasil Colonial no UniMSB e Auxiliar de pesquisa no projeto “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.99 Professora do Ensino Fundamental da rede privada da cidade do Rio de Janeiro, Licenciada em História pelo UniMSB; Pós-Graduada em Arte e Cultura pela Universidade Candido Mendes; Pós-Graduanda em História do Brasil Colonial no UniMSB e Auxiliar de pesquisa no projeto “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.100 Licenciada em História pelo UniMSB; Pós-Graduanda em História do Brasil Colonial no UniMSB e Auxiliar de pesquisa no projeto “A literatura de viajantes e cronistas: suas possibilidades e limites”.101 Aluna do Curso de Licenciatura em História do UniMSB, Estagiária de Iniciação Científica do Programa de Iniciação Científica do UniMSB no projeto “O indígena nos Relatórios de Presidente de Província do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo ”.
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Estabelecida a partir de 1534, quando da implantação do sistema de Capitanias
Hereditárias para a colonização do Brasil, o território compreendido entre a foz do rio Mucuri
até a foz do rio Itapemirim foi doada a Vasco Fernandes Coutinho102, que a batizou de
Capitania do Espírito Santo, por ser, o dia do desembarque, um domingo de Pentecostes.
Neste mesmo local decidiu erguer uma povoação conhecida hoje como Vila Velha, onde sob a
capela de São João e uma fortificação, erigiu as primeiras habitações.
A partir de 1821, devido ao juramento de D. João, em obediência às leis portuguesas,
estas Capitanias passaram a ser denominadas Províncias, confirmadas pela Constituição
Outorgada de 1824 (Oliveira, 2008) 103.
Figura 1: Província do Espírito Santo104
Com um perfil específico, os relatórios do Presidente da Província do Espírito Santo105
têm sido apresentados na abertura da Assembléia Legislativa Provincial, figura 1, relatando,
de forma geral, os mais diversos eventos, desde a casa imperial, passando pela polícia,
pelas leis, pela educação, pela igreja, pelas obras públicas, pela iluminação pública,
pela saúde pública, pelos hospitais, pela vacinação, pelos impostos, arrecadação e finanças,
102 Fidalgo português agraciado por D. João III com uma das Capitanias Hereditárias distribuídas no Brasil. Também participou das conquistas portuguesas na África e na Ásia.103 OLIVEIRA, José Teixeira de. História do Estado do Espírito Santo, coleção Canaã, vol. 8, 3ª ed., Vitória: SEC-SEE-APEES, 2008.104 KRAUSS, C.. Mappa geral da Provincia do Espirito-Santo relativo às colonias e vias de comunicação [Material cartográfico] / por C. Krauss. - Escala 1:1885000. - [Rio de Janeiro]: Lithografia do Imperial Instituto Artístico, 1866. - 1 mapa: litografia, color. ; 45,50x34,50 cm em, folha de 59,70x44,60 cm, disponível em http://purl.pt/1965, consultado em outubro de 2011.105 Disponíveis em http://www.crl.edu/brazil/provincial/esp%C3%ADrito_santo, consultados entre julho e outubro de 2011.
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pelos índios e a catequese, pelas colônias e os imigrantes, pela municipalidade,
pelo judiciário, pelo executivo, e por informações de caráter geral, apresentados em mapas e
estatísticas, como os apresentados no relatório de 1848106, onde consta um mapa dos
nascimentos, batismos, casamentos, falecimentos e enterros ocorridos nas mais diversas
freguesias da Província no ano de 1846 (figura 2), ou no relatório de 1841, onde consta um
mapa das pessoas vacinadas na província naquele ano (figura 3).
Figura 2: Capa do Relatório de 1840107
106 Relatório do presidente da província do Espírito Santo, o doutor Luiz Pedreira do Coutto Ferraz, na abertura da Assembléa Legislativa Provincial no dia 23 de maio de 1847. Rio de Janeiro, Typ. do Diario de N.L. Vianna, 1848.107 Falla que o ex.mo presidente da província do Espírito Santo dirigio á Assembléa Legislativa Provincial no dia 1.o de abril de 1840. Rio de Janeiro, Typographia Nacional, 1840.
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Figura 3: Mapa anexo ao relatório de 1841108
Figura 4: Mapa anexo ao relatório de 1840109
Destes relatos, os que mais nos chamam a atenção são os que mencionam o elemento
indígena. Principalmente encontrados com o título de “Índios”, “Civilização dos Indígenas” e
108 Falla com que o ex.mo presidente da provincia do Espirito Santo, José Joaquim Machado d'Oliveira, abrio a Assembléa Legislativa Provincial no dia 1.o de abril de 1841. Rio de Janeiro, Typ. Nacional, 1841.109 Anexo da Falla que o ex.mo presidente da provincia do Espirito Santo dirigio á Assembléa Legislativa Provincial no dia 1.o de abril de 1840. Rio de Janeiro, Typographia Nacional, 1840.
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“Cathequese”, relatam, como acontece no Relatório de 1845110, que “A catechese e a
civilisação dos indígenas marcha mui lentamente.”.
No que tange aos relatos, repetidas vezes feitas, dão conta “dos indígenas, que
habitam as extensas matas do Rio-Doce” 111, que transitam por seus aldeamentos e que
interferem na abertura de estradas, que devem ligar as vilas e servem-se das trilhas deixadas
pelos índios.
Objetivos
11. Localizar geográfica e temporalmente, através de fontes primárias e/ou secundárias,
os grupos Puri e Coroado existentes na área determinada para estudo, entre os séculos
XVI e XX.
12. Identificar a partir das fontes bibliográficas, entre outras coisas, a cultura material, o
modo de vida, a estrutura social, a estrutura física e as relações internas e externas
desses grupos.
13. Relacionar as diferentes hipóteses, afirmações ou fatos existentes nessas fontes
bibliográficas e que dizem respeito à origem dos Puri e Coroado.
14. Consultar as populações atuais, das regiões mencionadas nas fontes, no sentido de
confirmar, ou não, as informações bibliográficas a respeito das localizações e
possíveis restos desses grupos indígenas.
15. Verificar, em campo, os locais apresentados pelas informações bibliográficas e
reconhecidos pelas informações da população regional como sendo de assentamento
Puri e/ou Coroado.
Resultados e discussões
Através da analise das informações extraídas de forma direta ou subjetiva dos
Relatórios de Presidente da Província do Espírito Santo, acrescida das informações contidas
110 Falla com que o exm. vice-presidente da provincia do Espirito Santo, José Francisco de Andrade e Almeida Monjardim, abrio a Assembléa Legislativa Provincial no dia 23 de maio de 1844. Rio de Janeiro, Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve e Comp., 1845.111 Op. cit.
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em outras fontes históricas primárias, como por exemplo, o decreto lei n° 426 de 1845, temos
a possibilidade através do cruzamento do resultado destas obter elementos que nos conduzam
ao caminho da descoberta e entendimento da multiplicidade a cerca das características
específicas de cada grupo indígenas que habitara e/ou circula pela região do Rio Doce.
Conclusões
Destes relatos, os que mais nos chamam a atenção são os que mencionam o elemento
indígena. Principalmente encontrados com o título de “Índios”, “Civilização dos Indígenas” e
“Cathequese”, como acontece no Relatório de 1845112, que descreve “A catechese e a
civilisação dos indígenas marcha mui lentamente.”.
No que tange aos relatos, repetidas vezes feitos, dão conta “dos indígenas, que
habitam as extensas matas do Rio-Doce” 113, que transitam por seus aldeamentos e que
interferem na abertura de estradas, que devem ligar as vilas e servem-se das trilhas deixadas
pelos índios.
Através das analises estabelecidas até o presente momento, destacamos a aceitação da
catequese como critério utilizado pelos representantes do Governo Imperial como elemento
diferenciador do nativo selvagem.
Material e métodos
Entendendo a metodologia como os meios práticos e teóricos pelos quais um
pesquisador busca resolver determinado problema ou tratar determinado objeto de estudo,
apresentamos a seguir a maneira como trabalharemos os grupos indígenas Puri e Coroado.
Devemos ressaltar, ainda, que a parte técnica do trabalho deve estar, sempre, de acordo
com a teoria proposta, uma vez que acreditamos ser ela quem determina a técnica, que por sua
vez nos permite chegar ao objetivo proposto.
Com o intuito de facilitar e de melhor orientar a pesquisa, preparamos, com base nas
obras de Wied, Casal, Lamego, Teixeira e Pizarro, uma série de palavras-chave que nos
112 Falla com que o exm. vice-presidente da provincia do Espirito Santo, José Francisco de Andrade e Almeida Monjardim, abrio a Assembléa Legislativa Provincial no dia 23 de maio de 1844. Rio de Janeiro, Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve e Comp., 1845.113 Op. cit.
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guiarão durante toda a pesquisa com as fontes bibliográficas. Esta lista de termos-chave
deverá ser com toda a certeza, alterada no decorrer do tempo. Assim, novos termos serão
acrescentados a ela e muitos, já existentes, deixarão de ser utilizados. Em momento algum os
termos que deixados de ser utilizados serão retirados da listagem, uma vez que com isso
poderemos mostrar, com facilidade, a evolução da pesquisa.
Toda a referência bibliográfica consultada será fichada, retirando-se dela localizações,
descrições a respeito da cultura material, do modo de vida, da estrutura social, da estrutura
física dos indivíduos, das relações internas e externas dos grupos, bem como todas as
referências a autores e trabalhos sobre os assuntos.
No que diz respeito ao contato com as populações, no sentido de verificar as
informações obtidas com a bibliografia, à abordagem para obtenção de informações acontece
sempre com a cordialidade e paciência, tendo como intuito, saber da existência de registros
rupestres, de material cerâmico, de material lítico e de enterramentos. A linguagem usada para
tal deve ser sempre, compatível com o nível das pessoas com as quais se está trocando
informações. Assim, os registros rupestres podem vir a ser “desenho”, o material lítico ser
“pedra de curisco”, os enterramentos serem “cemitério de caboclo” e o material cerâmico
serem “pote de barro”.
Fonte
Relatório de Presidente da Província do Espírito Santo de 1840.
Relatório de Presidente da Província do Espírito Santo de 1841.
Relatório de Presidente da Província do Espírito Santo de 1842.
Relatório de Presidente da Província do Espírito Santo de 1843.
Relatório de Presidente da Província do Espírito Santo de 1844.
Relatório de Presidente da Província do Espírito Santo de 1845.
Relatório de Presidente da Província do Espírito Santo de 1846.
Referencial bibliográfico
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Decreto Lei N° 426.
OLIVEIRA, José Teixeira de. História do Estado do Espírito Santo, coleção Canaã,
vol. 8, 3ª ed., Vitória: SEC-SEE-APEES, 2008.
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