História do Cururu em Santa Bárbara

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A História do Cururu em Santa Bárbara Paulo César D’Elboux Organizador Coleção Santa Bárbara História e Memória A História do Cururu em Santa Bárbara Paulo César D’Elboux Organizador

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Conta a Hitoria do Cururu em Santa Bárbara e Região

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A História do Cururu em Santa BárbaraPaulo César D’ElbouxOrganizador

Coleção

Santa Bárbara

História e Memória

A História do Cururu em Santa BárbaraPaulo César D’ElbouxOrganizador

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Paulo César D’ElbouxOrganizador

A História do Cururu em Santa Bárbara

1ª Edição

Santa Bárbara d’Oeste - SPPMSBO/SP

2010

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Copyright do Texto - Todos os Direitos Reservados

Este livro é uma publicação da Administração Pública Municipal de Santa Bárbara d’Oeste, com recursos do Governo

do Estado de São Paulo

Prefeito MunicipalMário Celso Heins

Secretário Municipal de Cultura e TurismoPaulo César D’Elboux

OrganizadorPaulo César D’Elboux

RedaçãoRodrigo Maiello e Ubaldino Caixeta

RevisãoJosé Roberto Silva

Diagramação e CapaRodrigo Maiello e Ulisses Nunes

Foto Capawww.sxc.hu

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

D’Elboux, Paulo César A História do Cururu em Santa Bárbara/ Paulo César D’Elboux, Santa Bárbara d’Oeste - São Paulo: PMSBO/SP, 2010.

ISBN

I - Cururu - Santa Bárbara d’Oeste. II - Biografia. III - Título

978-85-86725-14-2

1ª Edição2010

Impressão e AcabamentoCYMK QUALITY

Gráfica e Editora

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A cultura é a alma manifestada através da música, da arte, da dança, da poesia e tudo

mais que ela representa.

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Prefácio

Em todos os momentos da vida é necessário lembrar o passado quando se projeta o futuro. Neste trabalho realizado com maestria pelo secretário de Cultura e Turismo de Santa Bárbara d’Oeste, Paulo César D’Elboux, do qual tenho a oportunidade e a honra de prefaciar, essa máxima ganha ainda mais coerência. Nas próximas páginas o leitor vai conhecer um pouco mais da riqueza cultural de nossa cidade, por meio do resgate detalhado de uma tradição que tem o saudoso Edgar Tricânico D’Elboux – pai do autor – como um dos protagonistas. Tendo como principais bases os estados de São Paulo e Minas Gerais, o cururu envolve o som da viola, sapateados e palmeados, além de repentes em improviso. Uma cultura genuinamente caipira, como define D’Elboux. Além do mestre Tricânico, o livro resgata ainda os não menos especiais cururueiros Alcides Bortoleto, Durvalino Martins Francelino, Domingos dos Santos, Francisco Arruda, Celestino Frutuoso, Mário Soares da Silva, Pedro Paes Moreira, Aparecida Lucas Carvalho (a Cidinha do Cururu), José de Lucas e Geraldo Colombo, todos personagens inesquecíveis pela valiosa contribuição à cultura barbarense.

Neste livro o secretário de Cultura nos apresenta, de forma simples, toda a história do cururu, não se esquecendo de peculiaridades como o vocabulário criado pelos praticantes. O autor também se preocupa em projetar a cultura popular para o futuro, lembrando da necessidade de novos cururueiros surgirem no cenário. Em síntese, o livro traça uma linha do tempo do cururu em Santa Bárbara d’Oeste, em uma leitura edificante para todas as gerações. Boa leitura.

Mário Celso HeinsPrefeito Municipal

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Introdução

O povo só tem história quando guarda viva sua memória. Esse é o intuito deste livro e de tantos outros que são editados pela Administração Municipal. A coleção “Santa Bárbara História e Memória” cumpre a sua missão, que é valorizar os talentos dos artistas e este livro, em especial, relata a trajetória do Cururu na cidade e eterniza os cantadores que por aqui passaram. É uma forma de reconhecer o trabalho de cada um.

Pra mim, de modo especial, é motivo de muita alegria ser o organizador deste livro, já que o cururu é algo muito próximo. Meu pai era cururueiro e desde criança convivia com as reuniões e cantorias, seja nos pousos do divino ou nas rodas de cururu, que eram frequentadas por pessoas da cidade e da região.

Sinto que cumpri o meu papel, ajudando a preservar viva a memória desta tradição. Que este livro também sirva de incentivo para o surgimento de novos talentos na cidade e região, sendo também um estímulo aos cururueiros que já estão há anos nesta missão.

Nas próximas páginas, contamos um pouco da história da cidade, do surgimento do cururu e sua trajetória no município. Aproveitamos para agradecer a todos que contribuíram para a realização dessa verdadeira jornada de trabalho, pesquisa e dedicação.

É uma forma de reconhecimento do nosso município e das pessoas que aqui moram. Que têm alma e raiz musicais, além de muito talento para fazer sempre o melhor.

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Nosso reconhecimento também ao Governo do Estado de São Paulo, que tem valorizado a cultura local financiando este trabalho.

Muito obrigado e que possamos ajudar ainda mais talentos que esta terra chamada Santa Bárbara d'Oeste tem para mostrar e se orgulhar. Boa leitura.

Paulo César D'ElbouxSecretário Municipal de Cultura e Turismo

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SUMÁRIO

Capítulo I

Um pouco da cidade de Santa Bárbara d’Oeste.............13

Capítulo II

O Cururu.................................................................17Suas Formas............................................................19As Regras................................................................21Vocabulário do Cururu...............................................23Costumes e canções..................................................27

Capítulo III

O Cururu em Santa Bárbara d’Oeste............................31Santa Bárbara - Parte da Zona Cururueira....................35

Capítulo IV

Os cururueiros da nossa terra......................................39O futuro do cururu em Santa Bárbara............................63

Agradecimentos.......................................................65

Bibliografia..............................................................67

Sobre o Organizador..................................................69

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Este livro apresenta um pouco da cultura musical da

cidade de Santa Bárbara d'Oeste.

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Capítulo I

Um pouco da cidade de Santa Bárbara d'Oeste

A fundação de Santa Bárbara d'Oeste aconteceu no início do século XIX, com a abertura de uma estrada entre São Carlos (Campinas) e Constituição (Piracicaba) para escoamento da produção açucareira das duas vilas. A estrada permitiu conhecer uma região fartamente banhada por cursos de água, com terras do tipo massapé, próprias para plantação de cana-de-açúcar e cereais. Com isso, sesmarias foram demarcadas e novas terras começaram a ser vendidas.

O interesse aumentou e, entre as pessoas que vieram para a região, estava a fundadora. Dona Margarida da Graça Martins, viúva do sargento-mor Francisco de Paula Martins, adquiriu uma das sesmarias de duas léguas quadradas, delimitada ao norte com o Rio Piracicaba e na direção nordeste do rio Quilombo e segue com sua família, parentes, escravos e agregados para estabelecer uma fazenda, montar um engenho de

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Valter Guarnieri

Praça Coronel Luiz Alves - Centro

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açúcar, iniciando assim a fundação da cidade.

Devota de Santa Bárbara, Dona Margarida doa à Cúria Paulista uma parte de suas terras para a construção de uma capela, que foi erguida em 1818, marcando assim a fundação da cidade. O dia 4 de dezembro foi escolhido como aniversário da cidade devido a comemoração litúrgica da santa de devoção da fundadora. Santa Bárbara d'Oeste é a única cidade do Brasil fundada por uma mulher.

A região foi sendo povoada e novos lavradores chegaram. As sesmarias acabaram divididas em sítios e fazendas, dedicando-se à cultura de cana e cereais. Os moradores urbanos limitavam-se às profissões liberais, trabalhando como comerciantes, ferreiros, carpinteiros, latoeiros e curadores homeopatas.

A região começou a receber imigrantes norte-americanos a partir de 1867. Eram sulistas sobreviventes da Guerra da Secessão, um violento confronto que dividiu os Estados Unidos e deixou centenas de milhares de mortos. Esses imigrantes trouxeram novos métodos agrícolas, contribuindo muito para o progresso da agricultura.

Vieram ainda colonos de origem europeia, principalmente italianos, que também passaram a trabalhar na agricultura. Aos poucos, o povoado foi crescendo com a abertura de oficinas, fabricação de implementos agrícolas e desenvolvimento de outras atividades artesanais.

O grande impulso da indústria açucareira surgiu a partir de 1877, quando o major João Frederico Rehder

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Um pouco da cidade de Santa Bárbara d’Oeste

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comprou, de Prudente de Moraes, a Fazenda São Pedro, iniciando o cultivo da cana em larga escala. Em 1883, montou o primeiro grande engenho do município. Seis anos depois, em 1889, inaugurou a destilaria de álcool. Esse processo culminou com a escolha da Fazenda São Pedro para instalação da usina açucareira, inaugurada em 25 de julho de 1914 (posteriormente, Cia. Industrial e Agrícola Santa Bárbara – Usina Santa Bárbara). Na sequência, foram surgindo outras grandes usinas, como Furlan, Cillos e Galvão.

Novas indústrias surgiram com o passar dos anos que, em sua grande parte, produziam tecidos, implementos agrícolas e tornos mecânicos.

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Usina Santa Bárbara. Hoje espaço utilizado para shows e atividades culturais

Em 1956 começou a produção da “Romi-Isetta”, considerado o primeiro au tomóve l b ras i l e i ro produzido em série.

Valter Guarnieri

Romi-Issetas no CEDOC - Centro de Documentação Histórica - Fundação Romi

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Mas foi a partir da década de 70 que Santa Bárbara d'Oeste começou a deixar para trás a tradição agrícola. Parques industriais foram implantados, criaram-se distritos especialmente para o desenvolvimento nas áreas da indústria e do comércio.

Com o desenvolvimento da indústria (máquinas operatrizes computadorizadas, injetoras de plásticos, fiação e tecelagens, usinas de açúcar e álcool) foi acelerado o crescimento urbano.

Com uma população que se aproxima de 200 mil habitantes, Santa Bárbara d'Oeste, definitivamente, ocupa seu espaço e assume o papel como uma das cidades que mais se destacam no Estado de São Paulo. Cortada por importantes rodovias, como a Luiz de Queiroz (SP 304) e dos Bandeirantes (SP 348), a cidade continua sua busca pelo crescimento sustentável, pela preservação da história e pela manutenção da qualidade de vida. Estes são os objetivos e a síntese de uma realidade na qual estão inseridos os barbarenses.

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Um pouco da cidade de Santa Bárbara d’Oeste

Valter Guarnieri

Trevo das Rodovias Luiz de Queiroz (SP 304) e Bandeirantes (SP 348)

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Capítulo II

O Cururu

Cido Garoto define o Cururu como um “repente, o desafio trovado ao som de violas do Médio Tietê. São numerosos, afamados e respeitados os cururueiros (os trovadores) da região. Alguns deles com várias viagens para o exterior. Não há Festa, ou Pouso de Bandeira do Divino sem o cururu que pode varar a noite num revezamento de vários trovadores. E não há cidadão que arrede pé diante de uma porfia de canturiões (cantadores).” Em resumo, o cururu é um desafio cantado, composto por rimas, que relatam acontecimentos ou uma série de fatos, cantando alternadamente, considerado por muitos um embate poético.

Além disso, a tradição faz parte da cultura musical e folclórica de nossa região e da lenda do rio Tietê. Relatos mostram que a categoria musical surgiu através dos cantos religiosos dos jesuítas como forma de ensinamento para os indígenas, narrando os fatos e histórias bíblicas. Na época, era utilizado um chocalho chamado Mabaraca, que foi substituído posteriormente pela viola.

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A “cantoria” era marcada por batidas de pé, feitas ao redor dos oratórios, e das modinhas dos portugueses, misturados às danças dos índios. Foi a partir desta miscelânea que o cururu foi se fundamentado, surgindo cada vez mais os gêneros que se enraizaram especialmente na região sudeste, designando-se como “música-caipira”.

No final do século XIX e primeira metade do século XX, o cururu era executado principalmente em festas religiosas, como São Benedito, Santo Antônio, Juninas e no Pouso do Divino. Nas festas religiosas, é cantado e dançado, somente pelos homens. O ponto alto da apresentação é o momento em que o Divino "pousa", quando o cururueiro canta e saúda a sua chegada. Nesse momento ele deve mostrar sua habilidade em citar versos bíblicos e a partir deles criar histórias cujo rumo ele determinará, como uma narrativa. Entretanto, hoje os temas são mais livres, podendo incluir conteúdo político, social e até esportivo.

Em suas pesquisas no médio Tietê, interior paulista, Mário de Andrade nos anos 30 descobriu que “o cururu” era um desafio improvisado, um combate poético entre violeiros e cantadores, que sempre se iniciavam com uma louvação aos santos e uma saudação aos apreciadores.

No livro “As danças dramáticas do Brasil” ele faz uma análise e diz que o cururu é o exemplo mais puro e íntegro do que foi a adaptação artística dos jesuítas do primeiro século.

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O Cururu

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Suas formas

Há diversas formas para o cururu, mas em Santa Bárbara d'Oeste, o mais conhecido é a de cântico, no qual dois cururueiros disputam versos rimados e repentes de temas diversos, conhecidos como perguntação e bateção.

Na perguntação, um cururueiro faz uma pergunta para que o outro possa responder. Já na bateção, tenta-se “bater” em seu adversário através dos versos, usando temas que falam do cantador, da viola e até mesmo da vida familiar de cada um. Este era um dos desafios que mais agradava ao público, deixando-o empolgado à medida que cada cantador vai surpreendendo seu adversário com as respostas e perguntas, sempre bem humoradas e inocentes.

O instrumento base do cururu é a viola, considerada uma companheira inseparável do cantador e feita com madeiras cuidadosamente selecionadas de árvores de lei, cordas feitas de tripas de animais e em seguida de arame. A mais usada é a de dez cordas ou cinco cordas duplas, devido a afinação ser mais alta. Para os cururueiros uma coisa é unânime “Não há cururu sem viola”. No cururu, algumas vezes, a viola é acompanhada pela percussão do pandeiro e reco-reco.

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O mais empolgante nas apresentações são as rimas. Elas são determinadas por “carreiras” que obrigam o cantador a finalizar, pelo menos a cada dois versos, da mesma forma, como na conhecida carreira de São João, onde todos os versos devem terminar em "ao", da mesma forma como na carreira do Divino, todos os versos do cururu precisam terminar em "ino". Esta última carreira é uma das mais utilizadas. Porém, há inúmeras rimas e carreiras, como “sinhô”, “ano”, “dia” e “abc”, que são um pouco mais difíceis e menos utilizadas. Em síntese, carreira então nada mais é do que a sílaba final na qual se deverá fazer a rima.

As principais bases do cururu se estabeleceram nos estados de São Paulo e Minas Gerais, com base de violas e coro, acompanhados de sapateados (cateretês) e palmeados, conhecido pelos admiradores do cururu de “recortado”. Podemos dizer, então, que o cururu é composto por melodias e músicas, entre as letras cantadas com improviso, uma dança de roda com uma cultura genuinamente caipira.

Tem mais. O cururu é cercado ainda de variáveis. Existem dois tipos, que são o rural e o urbano. O rural é a forma original, praticada na sua origem, com todos os costumes. Já o urbano é uma forma de revitalização do folclore, que sofreu algumas mudanças no passar dos anos pelas novas técnicas de subsistência. Nesse processo de secularização do cururu, ocorreu principalmente a eliminação da dança, típica na década de 40. É a forma mais vista nos dias atuais.

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Suas Formas

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As regras

O cururu também tem regras que devem ser respeitadas por todos os cantadores e apreciadores. Antes que o cururu comece, é necessário sempre “pedir

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Ilust

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o: Jo

ão B

atis

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k

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licença” e quem faz este ato é o p r i m e i r o c u r u r u e i r o , determinando a carreira e o tema que cada cantador irá seguir, sendo feito apenas uma vez e não sendo repetido pelos outros q u e f a z e m parte. Mas a principal delas é seguir as rimas.

O primeiro que cantar deverá puxar uma rima ou carreira. Geralmente o cururu é cantado por quatro cantadores, dois contra dois. No entanto, é comum em certas ocasiões cantar com dois, três, cinco e seis cantadores.

Lembrando sempre que quando o número for par, permanece o sistema de duplas. Quando for ímpar, é cada um por si. Cada cururueiro tem o seu adversário, chamado de “duelista”, que faz a segunda voz e o instrumentista, que toca a viola, quase sempre acumula esta função.

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Geralmente, os cururueiros possuem uma indiscutível experiência, uma capacidade de comunicação e criatividade apreciável.

Os versos são criados com base em leituras e observações do cotidiano e do local, pois os praticantes do cururu têm uma imaginação apurada e rápida. As melodias são muito apreciadas pelos espectadores, pois as primeiras palavras ou sílabas a serem pronunciadas formavam as melodias como “lái-lái-lái”, formando assim a essência da música. Podemos assim relatar que essas apresentações são únicas e podem durar horas dependendo da criatividade e talento de cada cururueiro.

Muito respeito. Essa regra é algo levado à risca pelos praticantes da modalidade musical. O ponto principal, seguido por todos os cantadores, é nunca contar problemas particulares do adversário. Nas canções, são criadas situações ou assuntos que, em grande parte, não são verdadeiros. Porém, podem existir “brincadeiras” reais, relacionadas, por exemplo, a características das vestimentas usadas pelos participantes na ocasião, mas não chegam a ofender a moral do adversário.

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As Regras

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O cururu, com o passar dos anos, criou um vocabulário próprio, com palavras que são utilizadas com frequência nas apresentações. O escritor e cururueiro Cido Garoto, relata com muita propriedade em seu livro “Cururu, Retratos de uma Tradição” os termos mais utilizados pelos praticantes dessa modalidade muito apreciada nas cidades que compõem o médio Tietê. Separamos alguns termos e gírias utilizadas até hoje pelos cururueiros da região.

Apovoado: A plateia do desafio.

Baixão: Canto inicial do cururu que serve de introdução à música, com o objetivo de dar harmonia entre a voz e a altura do som da viola.

Batida: Verso do desafio. É o bate e rebate dos versos.

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Vocabulário do Cururu

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Caçoista: Cantador gozador, que gosta de caçoar o adversário.

Cana-verde: Espécie de repente paulista.

Canotio: Contando-se de baixo para cima, a quarta corda da viola. É a corda chave, pois ela é que dá o repicar da viola.

Cantador: É o repentista do cururu. É também chamado de canturião, canturino, cantante.

Cantar no livro: É cantar versos baseados na Bíblia Sagrada ou na História do Brasil.

Caracaxa ou Caracacha: Cantador ruim, fraco na elaboração dos versos.

Carreira: O mesmo que rima.

Carreira Dura: Rima difícil de ser cantada.

Cebolão: Tipo de afinação da viola.

Contrário: O mesmo que adversário no desafio.

Dobra: Duas ou três rimas seguidas na mesma estrofe da canção.

Escritureiro: Cantador que faz versos baseados na Bíblia Sagrada.

Festeiro: Responsável pela festa do cururu.

Folha: O mesmo que Bíblia Sagrada.

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Vocabulário do Cururu

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Frango novo: Cantador novato no cururu. O mesmo que iniciante.

Função: Local onde é apresentado o cururu.

Intimadô: Cantador que conta vantagem sobre si mesmo.

Lero-lero: Cantador que enrola, novato.

Letra: A Escritura Sagrada. O mesmo que folha.

Louvação: Elogiar, saudar alguém presente. São os versos do início da canção.

Maião: Ritmo da Viola.

Meia-boca: Cantador fraco no vocabulário e nas rimas do cururu.

Meia-guela: Cantador de voz fraca.

Meia-pataca: Cantador ingênuo.

Pedestre: Cantador que puxa as rimas na canção.

Pinto no ovo: Cantador novato.

Quatro ponto: Espécie de afinação da viola.

Regra das dez rimas: Regra estabelecida em alguns torneios de cururu, na qual fica determinada a relação das dez carreiras (rimas) que poderão ser utilizadas durante o torneio. A utilização de qualquer outra rima que não consiste nessa relação que desclassifica o

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cantador que a utilizou.

Repente: Versos de improviso.

Repentista: O praticante do cururu.

Repique: Dedilhado da viola utilizado durante o vai e vem dos versos entoados pelo cantador de cururu.

Rio abaixo: Espécie de toque da viola.

Saudação: O mesmo que louvação.

Tablado: O mesmo que palco.

Tagarela: O cantador que utiliza os versos de outros cantadores como se fossem de sua autoria. Outro termo também utilizado é o tico-tico.

Tão: Tom da música.

Toada: A música que acompanha o cururu.

Tria: O mesmo que dobra.

Vai e vem: Recurso utilizado pelo cantador, que atrasa ou adianta um tempo no ritmo da canção para favorecer a composição da estrofe.

Verso batido: O mesmo que batido. O mesmo significado tem a palavra verso encontrado.

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Vocabulário do Cururu

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Costumes e canções

Foto Pouso do Divino

Em algumas ocasiões, como por exemplo no Pouso do Divino, era formada uma roda em volta do altar e pediam licença aos santos para iniciar o cururu. É neste mesmo momento que se faziam a louvação, agradecendo pela festa e pedindo saúde a todos os presentes.

Veja algumas canções que falam do Cururu:

Carreiras de cururuPiraí / Biguá / Teddy VieiraLiu & Léu – 78 rpm - 1959

Pra cantar o cururu tem que ser desta maneiraCururu pra ser bonito é um versinho em cada carreira

Este é o primeiro verso na carreira de São JoãoVou louvar a imagem santa de joelho pelo chãoEu canto verso trovado sempre na imaginaçãoTenho o verso na cabeça que nem terra no terrão

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Cláudio Mariano

Devoção no Pouso do Divino

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Este é o segundo verso na carreira do sagradoO salto de Piracicaba é pedra pra todo ladoPra cima corre ligeiro pra baixo mais sossegadoNo meio faz um remanso onde os peixes tão parados

Vou cantar o terceiro verso carreira Santa TerezinhaSe você pega um peixe como ele com farinhaAqui nós não pega nada só pega lambarizinhaEu quero ver nesta sala este peixe quem cozinha

Vou cantar o quarto verso carreira Santa CatarinaEu gosto de tora grossa não gosto madeira finaQuando a tora é muito grossa levo pra minha oficinaE da tora faço caibro e divido em quatro quinaTem quem canta o cururu canta de qualquer maneiraEscute preste atenção a carreira da bandeiraCantador que não é firme eu amarro na toceiraEu jogo ele pra fora e depois fecho a porteira

CururuTonico / Tinoco

Vou cantar o cururu, ai, ai,ai,Falando em toda carreira,ai,ai,ai,Homenagem dos violeiros, ai, ai,ai,Louvando sua bandeira, ai, ai,ai.

Carreira de cururu,ai,ai,ai,Canta no Brasil inteiro, ai, ai,ai,Cururu verde-amarelo, ai, ai,ai,Do folclore brasileiro, ai, ai,ai.

Cururu é brasileiro, ai, ai, ai,Nascido em Piracicaba, ai,ai,ai,

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Costumes e Canções

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Andou pro sertão inteiro, ai,ai,ai,Tá morando em Sorocaba, ai,ai,ai.

Vamos dar a despedida, ai,ai,ai,Já cantamos a noite inteira, ai,ai,ai,Um viva pros cantador, ai,ai,ai,Que louvaram a Padroeira, ai,ai,ai.

Cururu tá terminando,ai,ai,ai,Cantador já vai-se embora, ai,ai,ai,O dia já vem clareando, ai,ai,ai,De saudade todos chora, ai,ai,ai.

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Ilustração: João Batista Storck

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Capítulo III

O Cururu em Santa Bárbara d'Oeste

Dados e relatos históricos mostram que na cidade de Santa Bárbara d'Oeste, o cururu possui mais de 60 anos de tradição e a grande maioria dos cantadores teve suas raízes e aprendizado com os cantadores da cidade de Piracicaba, considerada a pioneira nesta região. O cururu iniciou-se nas festas religiosas tradicionais como a Festa do Divino Espírito Santo.

Após muito aprendizado com os cantadores da cidade de Piracicaba, o cururu de Santa Bárbara d'Oeste tornou-se um dos berços de grandes nomes, como: Geraldo Colombo, Zé Moreno, Celestino Frutuoso, Edgar D'Elboux, Francisco Arruda e Mário Soares.

O cururu era encontrado nas festas religiosas e também nos bairros rurais, sítios e na zona urbana da cidade. Mas foi em meados de 1952 que os cantadores tiveram um espaço para divulgar suas músicas e mostrar seus talentos para a população barbarense nos alto-falantes existentes na Praça Coronel Luiz Alves, no Centro da cidade. Conhecido como SAF (Serviço de Alto-falantes) “Nove de Julho” o local, comandado por muitos anos pelo jornalista José Naidelice, funcionava como uma emissora de rádio, veiculando durante duas horas os programas musicais. O primeiro dedicado inteiramente ao cururu aconteceu no ano de 1959 e atraiu olhares atentos de dezenas de apreciadores.

Já no final da década de 50 foi aberta uma nova porta de divulgação para os cururueiros, inclusive de toda região. Fundada em 1955, a Rádio Brasil (AM 690) dava

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oportunidade para que os cururueiros se apresentassem. O programa era muito prestigiado e após alguns anos passou a ser apresentado no auditório do Nosso Clube, com capacidade para um pouco mais de cem pessoas e sempre estava lotado.

Alcindo Rocha, conhecido como Zinhão, promoveu vários eventos de Cururu em Santa Bárbara, geralmente um por ano.

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O Cururu em Santa Bárbara d’Oeste

Foto: Augusto Stradin

Foto datada de 1959 mostra apresentações de Cururu

Foto: Augusto Stradin

Imagem mostra apresentação de cururu no ano de 1959, em comemoração ao 4º aniversário da Rádio Brasil, que ficava na Rua XV de Novembro. Arvelino Custódio e Zé de Paula cantaram por Santa Bárbara. O violeiro foi Chico Arruda. Pedro Chiquito e Nhô Serra cantaram por Piracicaba e tinham como violeiro Neno.

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Segundo Zinhão, devido ao grande prestigio, Negrinho Parafuso era a atração principal. O cururueiro foi eternizado na música gravada pela dupla sertaneja “Tião Carreiro e Pardinho” intitulada “Negrinho Parafuso”, onde a dupla presta uma justa homenagem ao grande nome regional e conta a vida do cururueiro. Veja a canção na íntegra:

Negrinho ParafusoTião Carreiro e PardinhoNhô Chico / Tião Carreiro

Existe uma velha casa perto da linha Fepasa, antiga sorocabana, Lembrança que ainda resta de quem foi o rei das festas das noites interioranas,

Era ele um trovador renomado cantador de versos improvisados, Por esse interior afora muita gente ainda chora o Parafuso afamado,

Vivia aquele negrinho rodeado de carinho todos lhe queriam bem, Quando o povo lhe cercava Parafuso não negava um sorriso pra ninguém,

No lugar que ele cantava o povão aglomerava para ouvir seu repenteAlém de bom repentista era também humorista divertia toda gente,

Na cidade ou na fazenda onde houvesse uma contenda era sempre convidado,Das pousadas do divino velhos moços e meninos

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A História do Cururu em Santa Bárbara

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amanheciam acordados,

Tietê, Capivari, Sorocaba, Tatuí, Laranjal, Botucatu,Em qualquer localidade era ele na verdade o Pelé do cururu,

Depois de tantas viagens tantas noites na friagem Parafuso adoeceu,

Nem mesmo estando doente ele cantava contente e nunca se retrocedeu,

Mais um dia eu me lembro naquele dois de dezembro a sua hora chegou,

A região toda chorava quando o rádio anunciava a morte do cantador,

Naquela tarde chuvosa uma multidão chorosa cabisbaixa encontristada,

Carregava seu artista o maior dos repentistas para derradeira morada,

No mundo tudo se acaba a linda Piracicaba perdeu mais um trovador,

O negrinho idolatrado que também foi convocado para seleção do Senhor.

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O Cururu em Santa Bárbara d’Oeste

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Santa Bárbara - Parte da Zona Cururueira

A denominada “Zona Cururueira” é citada por Sérgio Santa Rosa, no livro “Prosa de Cantador”. Ela consiste basicamente pela região do Vale do Médio Tietê. São as seguintes cidades que o cururu se apresenta: Sorocaba, Votorantim, Piedade, Pilar do Sul, Araçoiaba da Serra, Alambari, Sarapui, Itapetininga, Capão Bonito, Angatuba, Porto Feliz, Tietê, Laranjal Paulista, Jumirim, Conchas, Botucatu, Rubião Junior, Capivari, Saltinho, Piracicaba, Rio das Pedras, Mombuca, Elias Fausto, Quadra, Santa Bárbara d'Oeste, Artemis, São Pedro, Anhembi, Salto de Pirapora, Itu, Rafard, Iperó, entre outras.

Porém, alguns pesquisadores dizem que o cururu paulista está compreendido entre os municípios de Piracicaba, Sorocaba e Botucatu. Mas o fato é que o Cururu é encontrado em muitas cidades dos estados de São Paulo, Mato Grosso e Goiás, com características muito específicas reforçando assim uma teoria existente de que a cultura rompeu barreiras e se espalhou por várias regiões do Brasil através da ação dos bandeirantes.

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Valter Guarnieri

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Um resgate das raízes

Como forma de resgatar as origens do Cururu em Santa Bárbara d'Oeste, a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo desenvolveu, no ano de 1997, um programa com duração de duas horas e que disponibilizava cerca de 30 minutos aos cururueiros da cidade e da região. Nascia então o programa “Canta Santa Bárbara”, que era apresentado pelo radialista Sérgio Silva. A parte do cururu era conduzido pelo cantor, cururueiro e apresentador Edgar D'Elboux. A edição semanal acontecia aos domingos, das 8 às 11 horas, no auditório da Prefeitura Municipal. O programa era transmitido ao vivo pela rádio oficial “Santa Bárbara FM” (95,9). Após a morte de Edgar, no dia 7 de março de 1998, o bloco de cururu passou a ser apresentado por Antonio Bassa, da cidade de Rio das Pedras e que também era cururueiro.

No ano de 2001, o programa deixou de ser transmitido. Mas deixou um saldo positivo: quatro livros editados com a biografia e fotos das homenagens prestadas às personalidades da cultura barbarense, que fazem parte do acervo de bibliotecas de escolas e centros culturais da cidade.

As raízes nunca são esquecidas, mas sim preservadas. No ano de 2009, a Secretaria retomou o projeto e realiza novamente o programa dominical, que prioriza a cultura local e prestigia artistas barbarenses e da região, inclusive com a participação da nova geração de cururueiros, que rotineiramente se apresentam no palco da antiga Estação Ferroviária conhecida pelos munícipes por “Estação Cultural”, resgatando assim um pouco dessa cultura ao povo

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O Cururu em Santa Bárbara d’Oeste

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barbarense.

O “Canta Santa Bárbara” é apresentado pelo radialista Jota Alves. E como parte do projeto, anualmente será editado um livro nos mesmos moldes dos anteriores e que farão parte desta tradição, que é a preservação da história de vida de um povo que tem a cultura circulando em suas veias.

Mas não é só. A Rádio Brasil AM (690 Khz) também deu início a esse resgate de cururu. Denominado “Rancho do Edgard D'Elboux - Cururu da Brasil”, o programa foi levado ao ar pela primeira vez em 25 de agosto de 2002, em homenagem ao cururueiro Edgard Tricânico D'Elboux.

Inicialmente, o semanário era apresentado ao vivo pelo grande conhecedor e renomado cururueiro Piracicabano, Abel Bueno. O programa era transmitido diretamente do Clube Social do União Agrícola Barbarense aos domingos, com duas horas e meia de duração. A produção deste programa era do Zé Largueza e Chico D’Elboux.

A partir de 2 de maio de 2004, a apresentação passou a ser feita pela dupla sertaneja Zé Proença e Sueli, grandes conhecedores do folclore e também ambos possuem um bom conhecimento do cururu, transmitindo diretamente do estúdio da Rádio Brasil, situado na Avenida Monte Castelo, nº 225, no coração de Santa Bárbara d'Oeste.

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Ilustração: João Batista Storck

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Capítulo IV

Os Cururueiros da nossa terra

O cururu em Santa Bárbara d'Oeste teve muitas oportunidades para crescer, pois a aceitação dos munícipes era muito forte e fez parte de muitas histórias de nossa cidade.

Conforme informações levantadas em arquivos históricos e jornais da época, o cururu barbarense tem mais de 60 anos. Os primeiros cantadores foram Zé de Paula, João Pires, José Benedito, Toninho Costa, Lando Arruda, João Nunes, Manoel dos Santos, Zé Ribeiro, Júlio Braga e Bera. Os violeiros mais conhecidos na época foram Pedro Meia Noite, Chiquinho Cearense, Benedito Amâncio e João Borba. Um pouco mais tarde, mais precisamente na década de 50, apareceram os cantadores mais conhecidos como Celestino Frutuoso, Francisco Arruda, Miro Candido, Mário Soares, Geraldo Colombo, Edgard D'Elboux, Zé Moreno e Mingo dos Santos. Os violeiros mais

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Para direita: Toninho Costa, Américo Antunes, Celestino Frutuoso, Luis Menegatti, Geraldo Colombo, Edgar D’Elboux, Nelson Carreiro, Andó, Zé Moreno.

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conhecidos foram Luis Menegatti, Nelson Carreiro, Janjão, Toninho Heleno, Toninho Soares, Garcia, Jabá e Sabará.

Já na década de 60, apareceram os seguintes cantadores: Geraldo Brazília, Siriri, Alcides Bortoleto, Rubinho, Sachetinho, Aristeu Mariano, Tiãozinho Marciano e mais recentemente o Galvãozinho, Dona Cida e o violeiro senhor Lino. Os cururueiros Rubinho e o Sachetinho eram dois meninos que se enfrentavam e tinham grande repercussão na época. Eles foram lançados por Edgar D’Elboux. O município de Santa Bárbara demonstra talento no cururu devido ao grande número de cururueiros. Mas o certo é que, durante décadas, muitos deles fizeram história na cidade. Conheça mais de perto neste capítulo alguns deles.

José de Lucas

Era considerado um cururueiro profissional. Nascido em Santa Bárbara d'Oeste, no dia 23 de julho de 1932, trabalhou por muitos anos na Represa do Cillos como operador de bomba e sustentou sua mulher e seus filhos com a profissão.

No Cururu, Zé de Lucas, sempre que podia, reunia os cantadores em sua casa. Sua irmã, Cidinha do Cururu, relembra que era uma grande festa a reunião de cururueiros e era sua maior alegria. Com o casamento dos filhos, o casal resolveu se mudar para a cidade.

Logo depois, veio adoecer e parou com o Cururu, mas deixou seu legado, incentivando a irmã a manter a tradição viva dentro da família. Falecido, Zé de Lucas deixou muita saudade aos amigos e familiares.

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Alcides Bortoleto

Alcides Bortoleto nasceu em 15 de março de 1944 na cidade de Piracicaba. Motorista aposentado, foi casado com Tereza Guilherme Bortoleto, com quem teve três filhos. Desde menino, t inha como música predileta o repente. Ouvia sempre no rádio os maiores cantadores de cururu danossa região. No final da década de 70, adquiriu um bar no bairro Santa Luz ia , onde realizava apresentações de cururu. E era nessas

ocasiões que aproveitava para cantar o que havia aprendido. Nunca se esqueceu das pessoas que o incentivava a colocar à mostra o que mais gostava de fazer: cantar cururu.

Estas pessoas que o incentivava foram: Luiz Menegatti, que era seu tio, e os amigos Edgar D'Elboux, Celestino Frutuoso, Mário Soares, Francisco Arruda, Domingos dos Santos e José Moreno.

Sua primeira apresentação de cururu aconteceu no ano de 1979. Foi homenageado no Programa Canta Santa Bárbara 20 anos mais tarde, em 2 de maio de 1999. Reside em Santa Bárbara d'Oeste no bairro São Francisco.

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Rodrigo Maiello

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Domingos dos Santos

Domingos dos Santos nasceu no dia 11 de junho de 1933. O aposentado t r a b a l h o u n a lavoura em Porto Feliz, no Horto Florestal Vila Nova, U s i n a S a n t a Bárbara, Fazenda São Luiz, Indústrias R o m i , S a n s Máquinas Agrícolas, Soma e Máquinas Cerâmicas Monaro. C a n t a d o r d e Cururu, recebeu vários troféus por s u a s t r o va s e versos. O fato que mais marcou sua v i d a f o i o recebimento do

t r o f é u G e r a l d o C o l o m b o , a l é m d aapresentação com Pedro Chiquinho na cidade de Serrinha e a apresentação na Igreja São José dos Toledos. Recebeu a homenagem no Programa Canta Santa Bárbara no dia 2 de julho de 2000. Hoje, com 77 anos, reside no bairro Santa Rita.

Francisco Arruda

Francisco Antonio Arruda, ou Chico Arruda, como era conhecido, nasceu no ano de 1916, no dia 15 de maio. Por alguns anos, viveu em Rio das Pedras e nas cidades

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Os Cururueiros da nossa terra

Rodrigo Maiello

Mingo dos Santos

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da região. Aos dez anos de idade, deixou a família e foi viver fora de casa.

Anos depois, novamente na região, trabalhou como carroceiro no bairro barbarense do Santo Antonio do Sapezeiro, na Usina Prezotto. No anode 1944, passou a integrar o quadro de funcionários das Indústrias Romi, onde trabalhou por 39 anos.

Casou-se com Rita dos Santos Arruda, com quem teve cinco filhos. Tocador e cantador de cururu, realizou vár ios eventos como cururueiro. Quando fazia programas na emissora de rádio, conseguiu o dinheiro necessário para o alicerce do Hospital Santa Bárbara, bem como a aquisição do primeiro órgão para a Igreja Matriz de Santa Bárbara.

Representou a cidade em Campinas, no concurso “O que é que a viola faz”. Cantou a vida de Nossa Senhora Aparecida, na cidade da padroeira do Brasil e também em Piracicaba, Campinas, São Paulo, Americana e em outras cidades da região. Dedilhando sua viola, com alegria e prazer, passava horas e horas contando “causos” e criando novas tiradas do cururu, sempre rodeado de amigos.

Aos 81 anos de idade, no dia 16 de março de 1997, recebeu a justa homenagem no Programa Canta Santa Bárbara pelos serviços prestados à cultura barbarense. Faleceu em 20 de agosto de 2001, aos 85 anos.

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A História do Cururu em Santa Bárbara

Reprodução

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Celestino Frutuoso

Natural da vizinha cidade de Piracicaba, Celestino Frutuoso nasceu em 20 de outubro de 1917. Iniciou seu trabalho na lavoura de cana-de-açúcar juntamente com o inseparável amigo P e d r o C h i q u i t o . Começou a cantar aos 15 anos de idade, em Piracicaba, em festas. Na época eram raras as estações de rádio que transmitiam Cururu. Cantou em Pousos em Tatuí, Piracicaba, Tietê, Porto Feliz.

Foi em Piracicaba que começou sua vida profissional como servidor da Prefeitura Municipal, onde conheceu sua esposa, Laura Neves Frutuoso, com quem teve nove filhos.

Contudo sua vida tomou novos rumos e no ano de 1940 mudou-se para Santa Bárbara d'Oeste. Trabalhou como charreteiro, como funcionário da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, além de atuar nas Indústrias Romi. No ano de 1969, iniciou suas atividades como comerciante.

Com seus versos cheios de improvisos, teve grandes professores do cururu, com conceituados nomes de Piracicaba como Nhô Serra, Pedro Chiquito e Zico

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Cláudio Mariano

Os Cururueiros da nossa terra

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Moreira. Além do cururu, colaborou grandemente com que o Grupo de Congado se apresentasse em cidades da região.

Em reconhecimento pela sua colaboração com a cultura local, em 1992 foi homenageado pela Câmara Municipal, através do vereador José dos Santos (Zé Pretinho), que outorgou um diploma por sua colaboração com a cultura barbarense e pela Prefeitura, na administração de Isaias Hermínio Romano. No dia 16 de fevereiro de 1997, na estreia do Programa Canta Santa Bárbara, Frutuoso foi o primeiro homenageado, recebendo um troféu das mãos do prefeito da época, o médico Dr. José Adilson Basso.

Gravou várias canções e participou de vários programas em rádios de Santa Bárbara d'Oeste, Americana, Porto Feliz, Capivari e Piracicaba. Faleceu aos 85 anos de idade, em 5 de abril de 2004.

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Frutuoso com Amendoim à direita, Janjão na Viola e Siriri ao lado.

Arquivo de família

A História do Cururu em Santa Bárbara

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Mário Soares da Silva

Considerado um dos cururueiros mais antigos e experientes da cidade de Santa Bárbara d'Oeste, Mário Soares nasceu em 24 de maio de 1925, na cidade de Rio das Pedras.

Começou a cantar cururu com seu pai aos 15 anos de idade, em festas do Pouso do Divino e nos sítios ao redor de sua casa.

Casou-se com Carolina Duarte da Silva e logo iniciou sua carreira de cantador. Soares morava com sua família em um sítio localizado na zona rural de Santa Bárbara d ' O e s t e , o q u e dificultava a ida até as apresentações que aconteciam na cidade. O casal teve dois filhos, J o s é F r a n c i s c o e Terezinha.

Mais conhecido como Tatão, José Francisco acompanhava o pai em suas apresentações, principalmente na cidade. Ele relata que o pai chegava a passar a noite inteira fora de casa quando fazia as apresentações na cidade. Na década de 70, Mário Soares resolveu mudar-se para

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Cláudio Mariano

Os Cururueiros da nossa terra

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a área urbana, o que facilitou a comunicação entre os cururueiros. Com a mudança, as apresentações eram mais frequentes, o que lhe trouxe um reconhecimento maior. Ele cantava em diversos programas, na cidade de Santa Bárbara d'Oeste na Rádio Brasil, em Capivari na Rádio Cacique, em Piracicaba na Rádio Eldorado, e em festas do Pouso do Divino de Anhembi, Sorocaba e Tatuí. “Meu pai cantava o cururu rimado, com base na bíblia, não era um cururueiro de desafios e palavrões, ele prezava muito as saudações e as festas de Pouso do Divino, onde iniciou a cantar”, conta José Francisco. Um dos reconhecimentos da população barbarense aconteceu com a homenagem no programa “Canta Santa Bárbara” em 20 de abril de 1997, que contou com a entrega do troféu da Rádio Santa Bárbara FM.

Mário Soares faleceu em 3 de junho de 2005, deixando saudades em todos.

Pedro Paes Moreira

Pedro Paes Moreira, conhecido popularmente como Pedrinho Paes, nasceu no dia 17 de outubro de 1942 na cidade de São Pedro. Motorista aposentado, trabalhou também como instrutor, programador de rádio, construtor e inspetor de vendas. Aos seis anos de idade, começou o interesse por versos e

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A História do Cururu em Santa Bárbara

Arquivo de Família

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e músicas sertanejas, em especial pelo cururu, que marcou grandemente sua vida. Participou de shows em entidades, festas e casas de amigos. Seu estilo de música predileto sempre foi o sertanejo, mas tinha também uma paixão pelo repente e pelo folclore.

A música sempre esteve presente na família. Ele é irmão do violeiro Toninho Paes (Kojak) e também do cururueiro e violeiro Manezinho Paes Moreira, que inclusive já se apresentou cantando na França.

Compositor e grande cantor, fez várias participações, inclusive na gravação do compacto de 78 rotações chamado “Campeões das 7 Léguas”, onde tem participação na música “Dragão do Mar”.

Os Cururueiros da nossa terra

Reprodução

As músicas apresentadas neste disco foram selecionadas durante o

“Torneio Sete Léguas de Música Regional” em 1977, realizado nas cidades de Marília e Piracicaba. O evento foi transmitido ao vivo pelas Rádios Dirceu de Marília e

Difusora de Piracicaba.

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Recebeu em forma de homenagem uma carta de honra ao mérito, troféus e vários diplomas em reconhecimento à colaboração pela cultura.

Dentre elas, no dia 12 de novembro de 2000, Paes foi homenageado no Programa Canta Santa Bárbara, realizado no Anfiteatro da Prefeitura e comandado na época pelo radialista Sérgio Silva. O troféu de homenagem do programa foi entregue a Pedrinho Paes pelo prefeito Adilson Basso. Pai exemplar e marido dedicado, deixou saudade com seu falecimento, ocorrido em 10 de dezembro de 2002 aos 60 anos de idade.

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A História do Cururu em Santa Bárbara

Algumas homenagens recebidas por

Pedro Paes

Reprodução

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Edgar Tricânico D'Elboux

Edgar Tricânico D'Elboux, nasceu em Piracicaba, no dia 11 de setembro de 1928. Foi casado com a senhora Yolanda Pereira D'Elboux, com quem teve sete filhos.

Fundidor aposentado das Indústrias Romi, D'Elboux foi cururueiro e seresteiro. Cantou cururu na Feira das Nações em São Paulo e na semana do Folclore em Olímpia, em São José dos Toledos (MG) e em várias

cidades da região. Foi presidente do Clube dos Cavaleiros Aureliano de Mello, em Santa Bárbara.

Um fato marcante aconteceu na cidade de Itapetininga, quando o padre simplesmente parou a missa para que fosse cantado o evangelho pelos cururueiros presentes na ocasião, os amigos Neginho Parafuso, Antônio Vila Nova, Chico Arruda e Edgar D'Elboux.

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Os Cururueiros da nossa terra

Cláudio Mariano

Arquivo de Família

Entre Amigos: Foto mostra os desafios de cururu na

cidade e que eram acompanhados pelos

barbarenses. No pandeiro Andó, na viola

Luis Menegatti, nos versos Celestino Frutuoso e

Edgar Tricânico D’Elboux.

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D’Elboux era considerado um cururueiro profissional devido sua facilidade na construção de versos baseados em histórias e acontecimentos da Bíblia Sagrada. Recebeu o diploma do Centro Folclórico de São Paulo, além de vários troféus e medalhas em concursos.

Luciana D’Elboux Lourenço, neta de Edgard D’Elboux relembra as apresentações do avô. “Eu me lembro de ter entendido o que é o Cururu, de verdade, em 1990, ou 91, não sei ao certo, quando assisti a uma apresentação do meu avô com outros cantadores da cidade e da região na Escola Irene de Assis Saes, no bairro São Francisco II, em Santa Bárbara d’Oeste. Naquela manhã, acho que era uma Festa da Primavera da escola, se não me engano, lembro de ter me divertido muito vendo os desafios e de ter percebido o quanto aqueles artistas eram importantes para as tradições da nossa cidade, pois eles cantavam as histórias de Santa Bárbara. Lembro de ter admirado a agilidade de raciocínio e a perspicácia daqueles senhores que, de forma muito simples, talvez sem nem saber, estavam contribuindo para os registros da cultura local e regional. O mais divertido era vê-los provocando-se mutuamente, em brincadeiras, mas sem perder o ritmo e a rima”.

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A História do Cururu em Santa Bárbara

Cláudio Mariano

A foto mostra a apresentação dos cururueiros Edgar

D’Elboux e Chico Arruda, durante a realização do programa “Canta Santa

Bárbara”.

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No ano de 1997, foi homenageado no programa dominical “Canta Santa Bárbara”, onde também comandava por meia hora um bloco de cururu, que valorizava a cultura presente na cidade. Faleceu com 69 anos de idade, vítima de um ataque cardíaco fulminante, que aconteceu entre amigos, numa roda de cururu.

Após sua morte, em 1998 foi lançado um CD com o título “O mestre do cururu”, com gravações do Edgar e que teve uma tiragem de 1500 cópias.

O jornalista Rubens Fornasari Júnior, em seu espaço no Jornal Diário de Santa Bárbara chamado de “Coluna Aberta”, dedicou a edição do dia 10 de março de 1998 especialmente ao cururueiro. Ele definiu a vida do senhor Edgar da seguinte forma:

“Com uma vida que serve de lição, seo Edgard só cultivou amizades, pregou a palavra de Deus através de versos de repente. Conhecia a bíblia com uma precisão invejável. Contava a vida dos santos com desenvoltura e segurança. Sempre alegre e conversador, com muitos casos a contar, das

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Os Cururueiros da nossa terra

Cláudio Mariano

Cururu durante o programa “Canta Santa Bárbara” Na foto Sérgio

Silva, Edgar D’Elboux, Jabá e Alcides

Bortoleto.

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barganhas de animais, das viagens para o cururu, enfim dos fatos de sua própria vida das mais dinâmicas, porém simples ao extremo. Respeitava a todos e não permitia o mau trato para com as pessoas com isso se deparava não se acovardava e ia no combate, como recentemente no caso dos aposentados. Mas, Edgard D'Elboux já se encontra em nova fase da vida engrossando o coral de Deus”.

Como forma de prestar uma homenagem ao cururueiro Edgar D'Elboux, o poeta Manoel Marques Nogueira escreveu uma poesia que foi publicada no Jornal Diário de Santa Bárbara do dia 14 de abril de 1998, no espaço “Coluna Aberta”, do jornalista Rubens Fornasari Júnior e reproduzida a seguir.

AO MESTRE DO CURURU – Edgar D'ElbouxManoel Marques Nogueira

Com o microfone na mãoCantando de coraçãoPara o público ali presenteCantava de corpo e almaO povo batia palmaA cada verso do repente.

Enquanto o povo aplaudiaAs suas rimas saiamFormando os versos na horaE o último dos versos seus:"Agora eu vou com DeusVocês fiquem com Nossa Senhora”.

Foi quando se despediuDeu dois passos e caiuSem sentir nada de dorAinda foi socorrido

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A História do Cururu em Santa Bárbara

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Mas logo havia partidoCom Jesus nosso senhor.

Foi uma perda irreparávelUm homem forte e saudávelQue dava e vendia saúdeO velho cururueiroTratar bem o companheiroEra sua grande virtude.

Daquela grande amizadeHoje nos resta saudadeE muita recordaçãoA chuva que caiu sem tréguaFoi lágrimas de seus colegasEspalhados na região.

Quando ouvirmos cururuLembraremos o Edgar D'ElbouxCom seus versos e abusosQue despediu-se da terraPra cantar com o Nhô SerraE com o Neguinho Parafuso.

Aos domingos, no programaSeu nome a plateia aclamaQuerem ouvir sua vozEu elevo o pensamentoE sinto nesse momentoQue você está entre nós.

Deus reservou seu lugarPrá continuar a cantarNo palco da imensidãoMais um cururueiro afamadoQue também foi convocadoPara eterna seleção.

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Ovídio de Camargo

Nascido na cidade de Bajé – RS, o violeiro Ovídio de Camargo, conhecido como Ovídio da Viola, veio para a cidade de Santa Bárbara d'Oeste com sua família quando tinha 25 anos de idade, para trabalhar como administrador na antiga Fazenda dos Cem. Casado com Maria de Souza Camargo e pai de três filhos, tinha uma dupla chamada Ovídio e Osvaldo e também se dedicava ao cururu como violeiro. Mas sua paixão pelo cururu falou mais alto e desmanchou a parceria e se dedicou apenas para tocar nos desafios, acompanhando os grandes amigos Zé Janjão,

Edgar D'Elboux, Chico Arruda, Mário Soares e Pedro Paes.Excelente afinador de violas, era procurado por muitos violeiros da região.

Um dos primeiros moradores da Vila Sartori, realizava rodas de cururu todos os finais de semana. “Na Vila Sartori tinha uma casa que era do Ditinho da Antena e da Judite, lá acontecia rodas de cururu todos os finais de semana. Isso marcou minha vida porque eram apresentações memoráveis. Vinha gente de todo lado era uma grande festa, com muita música e um café completo”, conta Flávio de Camargo – filho do Violeiro Ovídio de Camargo.

Ovídio de Camargo faleceu no ano 2000.

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A História do Cururu em Santa Bárbara

Arquivo de Família

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Bera

Benedito de Jesus Nogueira, conhecido como Bera, nasceu no ano de 1950 na Colônia de Trabalhadores São Pedro, localizada na Usina Santa Bárbara. Quando c r i a n ça sofreu um acidente com o reio usando p a r a d o m a r o s an ima i s , que o deixou cego do olho esquerdo. Devido a isso, não conseguiu tirar habilitação para c o n d u ç ã o d o s caminhões da usina que car regavam cana, mas mesmo a s s im r ea l i z ava v i a g e n s à s

escondidas. Como cururueiro, foi adotado por Negrinho Parafuso, devido sua semelhança na voz e na forma física. Segundo seu irmão, José Roberto Nogueira, conhecido no meio artístico como Azulão, Bera na época cantava muito bem e era muito conhecido em Piracicaba e na região, principalmente em Santa Bárbara. “Ele cantava muito bem na escritura e o Parafuso gostava muito dele e o considerava o Bera como filho”, relatou Azulão emocionado, relembrando as apresentações do cururueiro.

Bera faleceu no ano de 1986, com 36 anos de idade.

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Os Cururueiros da nossa terra

Arquivo - Sérgio Silva

Na foto Janjão, Sérgio Silva e Bera

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A História do Cururu em Santa Bárbara

Durvalino Martins Francelino

Durvalino Martins Francelino, conhecido como Durvalino Carro, nasceu no dia 11 de novembro de 1933, na Fazenda do Bom Retiro, e m S a n t a B á r b a r a d'Oeste. Conheceu o cururu aos 12 anos de idade no rádio. Casado com Neusa Mart ins Francelino, teve um filho. A p o s e n t a d o c o m o a j u d a n t e g e r a l d a Prefeitura Municipal, realizava reuniões em sua casa com o objetivo de apreciar os versos do

cururu. Os encontros aconteciam na pequena sala de sua casa no ano de 1978. Mas com o crescimento do público que se reunia no local para prestigiar a cantoria, foi preciso um local maior. Ficou então decidido pela construção de um salão com palco em seu quintal, para acomodar os apreciadores e garantir ao cururu o espaço necessário.

Fundou com alguns amigos na juventude o time de futebol “Corinthians Barbarense”, com o qual conquistaram o título de campeão regional na cidade de Piracicaba, no campo do XV de Novembro. Foi jogador dos times: Mariano, Fluminense e União Aparecida, onde foi diretor. Foi homenageado no ano de 2000, durante o quadro destaque cultural do Programa Canta Santa Bárbara, realizado no dia 14 de maio daquele ano. É um grande incentivador do cururu em Santa Bárbara. Reside na Vila Godoy.

Rodrigo Maiello

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Siriri

Começou a cantar cururu nos anos 60. Trabalhou nas Indústrias Romi. Era solteiro e também se dedicava a ser técnico de futebol. Foi treinador do infantil do time “Sete de Setembro” e também no “Esporte Clube Real” da Vila Pires. Residiu no bairro Vila Brasil.

Geraldo Colombi

Geraldo Colombi nasceu no dia 10 de agosto de 1928. Filho de Luiz Colombi e Ana Jeremias Colombi, estudou

até a 4ª série do primário na escola localizada dentro das dependências da Usina Santa Bárbara, onde nasceu e foi criado. Ainda criança trabalhou no corte de cana. Foi no ano de 1946 que começou a trabalhar como seleiro na Usina, passando para a função de pedreiro, no qual trabalhou até março de 1954.

Em 14 de janeiro de 1950, com 22 anos, casou-se com Clarice Marcelino Colombi. O casal foi morar na colônia da Usina, onde nasceram as duas filhas: Iraídes e Ivonete.

No ano de 1955, mudou-se para a cidade com a família e começou a trabalhar como construtor.

Os Cururueiros da nossa terra

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Fotos: Arquivo de Família

Colombi jovem

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A família cresceu com o nascimento de mais três filhos: Sebastião, João Carlos e Igmara.

Quando jovem, gostava de jogar futebol e começou a cantar cururu com 19 anos, onde era chamado de Geraldo Colombo. No final dos anos 50, entre 1958 e 1959, Colombi abriu vários salões de cururu. O primeiro foi na Avenida Monte Castelo e depois no Centro da cidade. Mas além do cururu, Colombi tinha outra paixão, a pescaria. Ele tinha um rancho em Laranjal Paulista, onde passava bons momentos ao lado da família.

Várias rodas de cururu foram feitas em sua residência, levando vários cururueiros para apresentações memoráveis, junto com os amigos Edgar D'Elboux, José de Paula, Toninho Costa, Mário Soares, Celestino Frutuoso, José Moreno, entre outros, cantando junto com o violeiro Luiz Menegatti, que era seu compadre e chamado por ele de Jindão. Cantava tanto no desafio quanto na escritura. Levava os cururueiros em sua Kombi para várias cidades para apresentações.

Sua fama ia além das rodas. Segundo sua filha Ivonete, certa vez ele foi convidado pelo candidato à prefeito de Santa Bárbara, João da Silveira, para apresentar os comícios que eram realizados por ele. Religioso, viajava todos os anos com a família para Pirapora e Aparecida do Norte, em momentos de lazer e devoção. Faleceu em 8 de dezembro de 1977, aos 48 anos de idade.59

A História do Cururu em Santa Bárbara

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Jabá da Viola

Natural de Quintana - SP, Alfredo Antonio Camargo, popularmente conhecido como Jabá da Viola, nasceu no dia 12 de outubro de 1943. Morava no sertão matogrossense, quase na divisa com a Bolívia, onde trabalhava com a família na roça. Veio para a cidade de Americana para morar com o avô no bairro carioba após seu pai adoecer em virtude do falecimento de sua mãe. Trabalhou em várias empresas e no Departamento de Água e Esgoto americanense, onde chegou ao cargo de motorista.

No cururu, segundo ele, os cururueiros viram ele tocar em um show e Alcides Bortoletto perguntou se ele tocava viola para eles. Aceitando a proposta, passou a tocar e tornou-se amigo de grandes nomes da cidade, como Edgar D’Elboux, Alcides Bortoletto, Mingo dos Santos, Mário Soares, Durvalino Carro, Zé de Luca e Galvãozinho. Ainda participa de rodas de cururu com Mingo dos Santos e Alcides Bortoletto, além de participar da programação dominical “Rancho do Edgar- Cururu da Brasil”, com Zé Proença e Sueli. Além do cururu, toca viola para os sanfoneiros Antonio Morale e Filinto.

É Casado com Maria G e r o n a z i o d e Camargo, é pai de três filhos. Reside no bairro Santa Rita.

Rodrigo Maiello

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A História do Cururu em Santa Bárbara

Aparecida Lucas Carvalho

Conhecida como Cidinha do Cururu, Aparecida Lucas Carvalho é nascida em 6 de julho de 1942. Conheceu o Cururu na fazenda o n d e m o r a v a , d u r a n t e a s fes t i v idades do D i v i no E sp í r i t o San t o , onde a bandeira passava em sua casa.

Irmã do cururueiro José de Lucas começou a cantar a pedido dele, que estava doente e queria manter viva a tradição. Quem deu a primeira chance para a dona Cida cantar no rádio foi o Edgar D’Elboux.

Ela relembra: “Meu irmão adoeceu e me pediu para que eu cantasse no lugar dele, quando não estivesse mais aqui. Ele me disse também que onde eu estivesse cantando, ele estaria junto de mim”, disse satisfeita e ainda acrescenta que o amor pelo Cururu é antigo e que vai continuar cantando até o dia em que Deus permitir. Ela reside no bairro do Campo, em Santa Bárbara d'Oeste.

Arquivo

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Ilustração: João Batista Storck

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O Futuro do Cururu em Santa Bárbara

Santa Bárbara d'Oeste tem grandes talentos em todas as áreas e essa estatística se repete também no cururu. Apesar das perdas, com o falecimento de grandes nomes da cultura popular na cidade, novos cururueiros têm surgido e agradado aos expectadores que prestigiam as apresentações da cantoria. Estudiosos dessa modalidade de desafio são otimistas com relação aos novatos, mas destacam que o futuro do cururu na cidade é incerto.

É o que compactua José Domingues Proença, conhecido como Zé Proença e que, ao lado de sua esposa Sueli, apresenta o programa “Rancho do Edgar - Cururu da Brasil” na Rádio Brasil (AM 690).

Ele diz que grandes nomes como Ercão e Hamilton Batagin têm se destacado em apresentações na cidade e que é necessário incentivar outros nomes que

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A História do Cururu em Santa Bárbara

Rodrigo Maiello

Tião Felício com as promessas do Cururu em SB: Hamilton Batagin e Ercão

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eventualmente possam surgir durante os anos.

Já os cururueiros mais antigos, como é o caso de Domingos dos Santos e Alcides Bortoleto, ainda têm dúvidas sobre o futuro, mas garantem que o cururu não vai desaparecer e que novos talentos vão surgir.

Mas todas as respostas sobre o futuro, somente o tempo dirá. A esperança é que novos talentos se revelem e que o cururu, que sempre reúne grandes públicos, seja sempre vivo, preservando assim a cultura do nosso povo.

O Futuro do Cururu em Santa Bárbara

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Agradecimentos

Agradecemos a colaboração e atenção das famílias e dos cururueiros de nossa cidade, que não mediram esforços para a preservação da memória e cultura do cururu, tão presente na história de Santa Bárbara d’Oeste.

E por falar em esforços, ao amigo inseparável Ubaldino Caixeta, que deu o melhor de si, colaborando de forma grandiosa para a pesquisa e coleta de materiais históricos. Muito obrigado e que Deus te prospere sempre!

Nosso agradecimento também aos funcionários da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo e a todos que colaboraram de forma direta e indireta para a realização deste trabalho.

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Bibliografia

ALLEONI, Olívio Nazareno. Cururu em Piracicaba. Piracicaba: Degaspari, 2006. 162 p.

D’ELBOUX, Paulo César. Canta Santa Bárbara. 1ª ed. Santa Bárbara d’Oeste: PMSBO, 1998. 161 p.

D’ELBOUX, Paulo César. Canta Santa Bárbara II. 1ª ed. Santa Bárbara d’Oeste: PMSBO, 1999. 128 p.

D’ELBOUX, Paulo César. Canta Santa Bárbara III. 1ª ed. Santa Bárbara d’Oeste: PMSBO, 2000. 144 p.

D’ELBOUX, Paulo César. Canta Santa Bárbara IV. 1ª ed. Santa Bárbara d’Oeste: PMSBO, 2000. 128 p.

GARUTI, Aparecido. Cururu: retratos de uma tradição. 1ª ed. Sorocaba:Creart, 2003. 87 p.

SANTA ROSA, Sérgio Henrique. Prosa de Cantador: A história e as histórias dos cururueiros paulistas. 1ª ed. Botucatu: FEPAF, 2007. 286 p.

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Sobre o Organizador

Paulo César D'Elboux é barbarense, nascido no dia 9 de maio de 1965, filho de Edgard Tricânico D'Elboux, cururueiro e personalidade cultural da cidade e Yolanda Pereira D'Elboux.

Bacharel em Direito pela Universidade Metodista de Piracicaba é Especialista em Comunicação Jornalística pela Faculdade de Comunicação Cásper Líbero-SP, Mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo e MBA em Gestão de Pessoas pela Faculdade Anhanguera de Piracicaba. Leciona para o curso de Publicidade e Propaganda na Faculdade Claretianas de Rio Claro e é Coordenador e Professor dos Cursos de Comunicação Social e de Marketing da Faculdade Anhanguera de Santa Bárbara. É Diretor da Rádio Brasil (AM) de Santa Bárbara d'Oeste.

No Poder Público, foi Secretário Municipal de Cultura e Turismo nos períodos de 1990 a 1992 e de 1997 a 2000 e ocupa pela terceira vez a função na Administração Municipal.

Atuou também como Secretário de Planejamento da Prefeitura no período de 1998 a 2000.

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“O povo só tem história quando guarda viva sua memória. Esse é o intuito deste livro e de tantos outros que são editados pela Administração Municipal. A coleção “Santa Bárbara História e Memória” cumpre a sua missão, que é valorizar os talentos dos artistas e este livro, em especial, relata a trajetória do Cururu na cidade e eterniza os cantadores que por aqui passaram. É uma forma de reconhecer o trabalho de cada um”.

Paulo César D’ElbouxOrganizador e

Secretário Municipal de Cultura e Turismo

ISBN 978-85-86725-14-2