História dos hebreus flávio josefo

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  • 3. ____________________Flvio Josefo____________________ HISTRIA dosHEBREUSDe Abrao queda de Jerusalm Traduzido por
  • 4. Vicente PedrosoPreparao dos originais: Judson Canto, Kleber Cruz e Reginaldo de SousaReviso: Daniele Pereira, Kleber Cruz e Luciana AlvesCapa: quila GrativolProjeto Grfico: Eduardo EvangelistaEditorao: Josias FinamoreISBN: 85-263-0641-3CDD: 956.94 Hebreus HistriaAs citaes bblicas foram extraidas da verso Almeida Revista e Corrigida, edio de1995 da Sociedade Bblica do Brasil, salvo indicao em contrrio.Casa Publicadora das Assemblias de DeusCaixa Postal 33120001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil8 edio: 2004
  • 5. I ParteAntiguidades Judaicas
  • 6. Apresentao Flvio Josefo foi um escritor e historiador judeu que viveu entre 37 e 103d.C. Seu pai era sacerdote, e sua me descendia da casa real hasmoneana.Portanto, Josefo era de sangue real. Ele foi muito bem instrudo nas culturasjudaica e grega. Falava perfeitamente o latim o idioma do Imprio Romano e tambm o grego. Logo cedo, demonstrou intenso zelo religioso, filiando-se aogrupo religioso dos fariseus. Durante toda a sua vida, a sua terra e o seu povoestiveram sob o domnio romano. Em 66 d.C, irrompeu uma revolta dos judeus contra os romanos, e josefofoi enviado para dirigir as operaes contra os dominadores, na turbulentaGalileia. A ele logrou algumas vitrias, mas logo foi derrotado, rendendo-se aoexrcito romano. Finda a guerra, foi conduzido a Roma, onde lhe conferiram acidadania romana e tambm uma penso do Estado, poca em que lhe foi dadoo nome romano de Flvio. Ele viveu em Roma at o fim de sua vida, escrevendoa obra que atravessaria os sculos e chegaria at ns. Depois da Bblia, amaior fonte de informaes sobre os imprios da Antigidade, o povo judeu e oImprio Romano. As obras de Josefo vm sendo preservadas e divulgadas pela Igreja crist,uma vez que os judeus at hoje consideram josefo um oportunista, devido aoseu relacionamento com os romanos. Qualquer estudante da Bblia encontrar em Flvio Josefo descries mi-nuciosas de personagens dos Evangelhos e de Atos do Apstolos, tais comoPilatos, os Agripas e os Herodes. A histria desses personagens e inmerospormenores do mundo greco-romano, relatados nesta obra, receberam sur-preendente confirmao com as recentes descobertas de Qunram e Massada,em Israel, as quais conferiram aos relatos de Josefo uma credibilidade aindamaior. A CPAD publicou inicialmente a obra completa de Flvio Josefo em trs
  • 7. volumes, reunindo-a depois num nico livro. Agora, apresentamos esta novaedio, tambm em volume nico, porm totalmente revisada e com novadiagramao. Com isso, pretendemos colocar disposio dos nossos leitoresum trabalho com a qualidade editorial exigida por uma obra de tal envergadura. Os editores
  • 8. A importncia da Histria para se Compreender o Plano de Deus Flvio Josefo considerado um dos maiores historiadores de todos ostempos. Acha-se ele, devido sua importncia no somente aos judeus mastambm a toda a humanidade, ao lado de Herodoto, Polbio e Estrabo. Emborano fosse profeta, e apesar de no contar com a inspirao dos escritoresbblicos, mostra-nos ele claramente como as profecias do Antigo Testamentocumpriram-se na vida dos filhos de Abrao. O que isto vem demonstrar? Que a histria, qual solcita e amvel servados desgnios divinos, tem como funo realar a interveno do Todo-Poderosonos negcios humanos. Vejamos, a seguir, como podemos definir a histria. NoDicionrio Teolgico, assim a conceituamos: "A palavra histria de origem grega. Vem de histor. "Aquele que sabe, queconhece, conhecedor da lei, juiz." Aprofundando-nos um pouco mais em suaetimologia, descobrimos que este vocbulo origina-se da raiz de um termo quesignifica conhecer: "id". "Cientificamente, a Histria pode ser definidada como a narrao metdi-ca dos principais fatos ocorridos na vida dos povos, em particular, e na vida dahumanidade, em geral. "Usada pela primeira vez por Herodoto (484-425 a.C), tinha a palavrahistria as seguintes conotaes: informao, relatrio, exposio. Na mesma obra, discorremos ainda sobre a funo da histria: "David Ben Gurion lia regularmente a Histria Universal. Por causa desteseu compromisso com o estudo das antigas civilizaes, conforme disse, certavez, ao escritor brasileiro, rico Verssimo, no tinha tempo para outrosentretenimentos. Se pudssemos perguntar ao fundador do Estado de Israel opor qu desta sua preferncia, certamente responder-nos-ia com estas palavrasde Ccero:
  • 9. "Ignorar... o que aconteceu antes de termos nascido eqivale a ser semprecriana". Como um estadista no se deve portar infantilmente, punha-se BenGurion aos ps da Histria para no repisar as asneiras passadas. "Desgraadamente, bem poucos foram os governantes que se dedicaramao exame do pretrito. Eis porque so to lamentveis nossas crnicas; e,nossas memrias, to cruentas. Que lies de Histria assimilou Napoleo?Apenas aquelas que contavam as glrias de Alexandre? E, Hitler? Limitou-se acircunscrever-se s efemeridades do Imprio Romano? Isto aprender Histria?No! repetir as idiotices de ontem com o nariz enterrado no dia anterior. "Sendo didtica a funo primordial da Histria, com ela aprendemos aolhar o mundo de forma retrospectiva e perspectiva. Para que o primeiro olharseja lmpido, mister que comecemos a estudar a Histria Universal pelasSagradas Escrituras. Afinal, teremos de responder a algumas perguntas que,embora simples, no deixam de ser complexas e intrincadas queles queignoram os escritos hebreus e cristos. Eis as perguntas que tanto nosdesafiam: Quem criou o Universo? Quem foram nossos primeiros pais?Proviemos todos de um mesmo tronco gentico? E: Foi realmente Deus quemnos criou? "Das respostas a estas indagaes que se formaro nossas filosofias devida e de governo. "Quanto ao segundo olhar, desnecessrio dizer que ele depende essen-cialmente do primeiro. S conseguiremos trafegar com segurana, se os nossosretrovisores no estiverem quebrados. Doutra forma: atropelaremos o futuropor no perceber que o presente uma estrada de mo dupla; e, que ossemforos desta via to irregular, nem sempre funcionam. Quando funcionam,o verde passa para o vermelho sem nenhuma contemplao. Mas quem aprendecom a Histria Sagrada; e, da Histria Universal, faz-se discpulo (ambas soregidas pelo Altssimo) sabe avanar e parar. Quando necessrio, espera. Isto aprender Histria: estar com os olhos no futuro, com o esprito no pretrito, ecom o corao sempre presente". O historicismo, porm, desconhece por completo a ao de Deus na his-tria. Vejamos, em primeiro lugar, o que vem a ser esta filosofia. O historicismo a "filosofia que ensina estarem todos os acontecimentos e fatos humanos
  • 10. condicionados pelas circunstncias histricas. Desta forma, a religio, a morale o direito nada mais so do que resultados dos vrios processos e movimentosda histria. Como se v, este mtodo torna as coisas relativamente perigosas,inclusive a religio e a moral, induzindo o ser humano a deixar de lado osvalores absolutos, a fim de se apegar s circunstncias" Quando a histria fielmente relatada, afigura-se-nos ela como algo almda histria; poderamos denomin-la, sem cometermos qualquer exagero, comoa Histria da Salvao. Recorramos, uma vez mais, obra j citada: "A Histriada Salvao ao redentiva de Deus no contexto da Histria, conduzindoamorosa e providencial-mente os filhos de Ado a usufrurem do sacrifciovicrio de Nosso Senhor Jesus Cristo. "Jesus o personagem central da Histria da Salvao, que compreendequatro momentos distintos: o Antigo Testamento, o Novo Testamento, a Histriada Igreja de Cristo e a consumao de todas as coisas. "Num sentido mais amplo, a Histria da Salvao compreende toda a His-tria Universal; pois esta, semelhana daquela, tambm comandada porDeus. Num sentido mais estrito, a Histria da Salvao o conjunto dos fatosque compem a vida e o ministrio de Nosso Senhor Jesus Cristo, queculminaram com a sua morte e ressurreio". A obra de Flvio Josefo uma leitura obrigatria aos que desejam conhe-cer a histria judaica, principalmente o perodo que marcou a segunda maiortragdia dos filhos de Abrao - a destruio do Santo Templo no ano 70 denossa era. Neste relato, observamos, claramente, como a profecia de Cristo, noque tange runa de Jerusalm, cumpriu-se nos mnimos detalhes. EmboraJosefo no fosse cristo, demonstrou de forma indireta estarem os cristosmais do que certos em depositar sua confiana em Jesus de Nazar. Josefo no se limitou historiografia; foi um consumado artista dapalavra. Num estilo vivido, demonstra quo preciosa a herana espiritual,cultural e emocional dos hebreus. Tantos nas Antigidades Judaicas, como naGuerra dos Judeus, vai desvendando as conquistas da alma israelita. claroque, nas Antigidades Judaicas, Josefo no agiu propriamente comohistoriador. Dando asas imaginao, coletando o exotismo do folclore judaicoe aferrando-se hermenutica dos ancios, narrou a seu modo os fatos que
  • 11. compem a histria do Antigo Testamento. Na Guerra dos Judeus, porm,escreveu o que testemunhara ele ocularmente, pois atuou como um de seuspersonagens. De qualquer forma, temos uma obra indispensvel aos que se dedicam histria judaica. uma leitura obrigatria aos que procuram saber os detalhesda desventura da nao judaica no ano 70 de nossa era. Claudionor Corra de Andrade
  • 12. Prefcio de Josefo De todas as guerras que se travaram, quer de cidade contra cidade, querde nao contra nao, o nosso sculo ainda no viu outra to grande e nosabemos que tenha havido outra semelhante como a que os judeussustentaram contra os romanos. Houve, no entanto, pessoas que sedispuseram a escrev-la, embora por si mesmas dela nada soubessem,baseando os seus conhecimentos apenas em informaes vs e falsas. Quantoaos que nela tomaram parte, a sua bajulao aos romanos e o seu dio pelosjudeus os fez relatar as coisas de maneira muito diferente do que eram narealidade. Os seus escritos esto cheios de louvores a uns e censuras a outros,sem qualquer preocupao com a verdade. Foi isso o que me fez decidirescrever em grego, para satisfao daqueles que esto sujeitos ao ImprioRomano e para informar as outras naes, o que escrevi h pouco em minhalngua. Meu pai chamava-se Matatias. Meu nome Josefo, e sou hebreu de nasci-mento, sacerdote em Jerusalm. No princpio, combati contra os romanos, e anecessidade, por fim, me obrigou a empreender a carreira das armas. Quando essa grande guerra comeou, o Imprio Romano era agitado porquestes internas. Os judeus mais jovens e exaltados, confiando em suas rique-zas e em sua coragem, suscitaram to grande perturbao no Oriente, paraaproveitar a ocasio, que povos inteiros tiveram receio de lhes ficar sujeitos,porque eles haviam chamado em seu auxlio os outros judeus que habitavamalm do Eufrates, a fim de se revoltarem todos juntamente. Foi depois da mortede Nero que se viu mudar a face do imprio. A Glia, vizinha da Itlia,sublevou-se. A Alemanha no estava tranqila, e muitos aspiravam aosoberano poder. Os exrcitos desejavam a revoluo, na esperana de com issoserem beneficiados mo-netariamente. Como todas essas coisas eram por demais importantes, a tristeza quesenti ao ver que se desvirtuava a verdade fez-me tomar o cuidado de informarexatamente aos partos, aos babilnios, aos mais afastados entre os rabes, aos
  • 13. judeus que habitam alm do Eufrates e aos atenienses acerca da causa dessaguerra, bem como de tudo o que se passou e de que modo ela chegou ao fim. Eno posso ainda agora tolerar que os gregos e os romanos, que no estavampresentes, a ignorem e sejam enganados pela bajulao desses historiadores,que s lhes narram fbulas. Confesso no poder compreender a imprudncia deles, quando, para fazerpassar os romanos pelos primeiros de todos os homens, rebaixam os judeus.Ser uma grande glria superar inimigos pouco temveis? Ignoram eles asforas poderosas empregadas pelos romanos nessa guerra, durante o tempo emque ela durou, e as dificuldades que suportaram? No consideram eles que diminuir o mrito extraordinrio de seus generais minimizar a resistncia que ovalor dos judeus os fez experimentar na execuo de to difcilempreendimento? Evitarei bem imit-los, revelando, alm da verdade, os feitos dos de minhanao, tal como eles relataram os dos romanos. Farei justia a uns e a outros,expondo os fatos sinceramente. Nada afirmarei que no possa provar e no pro-curarei outro alvio minha dor seno deplorando a runa de minha ptria ainda mais quando o prprio imperador Tito, que teve a direo de toda aguerra e dela fez referncia como testemunha, reconheceu que as divisesdomsticas foram a causa de nossa derrota e que no foi voluntariamente, maspor culpa daqueles que se haviam tornado os nossos tiranos, que os romanosincendiaram o nosso Templo. Esse grande prncipe no somente tevecompaixo desse pobre povo, vendo-o correr para a sua prpria runa, pelaviolncia daqueles facciosos, como tambm ele mesmo muitas vezes adiou atomada da praa para lhes dar tempo e ocasio de se arrepender. Se algum julgar que o meu ressentimento pela infelicidade de meu pasme motivou, contra as leis da histria, a acusar fortemente os responsveis porela, que acrescentaram ladroeira pblica sua tirania, devem perdoar-me eatribu-lo minha extrema aflio. E ela no poderia ser mais justa, pois entretantas cidades sujeitas ao Imprio Romano no se encontrar uma que, como anossa, tendo sido elevada a to alto grau de honra e de glria, tenha cado emmisria to espantosa que, creio eu, desde a criao do mundo jamais sepresenciou algo semelhante. A isso, acrescente-se que no a inimigos
  • 14. externos, mas a ns mesmos, que devemos atribuir as nossas desgraas.Assim, como me poderei conter em tamanha dor? No entanto, ainda quealgumas pessoas no se deixem comover por essa considerao e desejemcondenar com rigor um sentimento que me parece to razovel, elas poderoater-se minha histria somente nas coisas que refiro, sem se incomodar comas minhas queixas, admitindo-as apenas como uma efuso da alma dohistoriador. Confesso que muitas vezes censurei com razo, parece-me os maiseloqentes gregos porque, embora as coisas acontecidas no seu tempo sobrepu-jem em muito as dos sculos que os precederam, eles contentam-se em julg-las sem nada escrever e em censurar os que as escreveram, sem considerarque, se estes lhes so inferiores em capacidade, tm sobre eles a vantagem dehaver servido o bem pblico com o seu trabalho. Esses mesmos censores dosoutros escrevem o que se passou entre os srios e os medos como tendo sidomal narrado pelos antigos escritores, embora estes no lhes sejam menosinferiores na maneira de bem escrever que no intento que tiveram ao faz-lo,pois s referiram e quiseram referir as coisas de que tinham conhecimento eteriam tido vergonha de falsear a verdade. Assim, no poderamos deixar de louv-los aps terem dado posteridadeo conhecimento do que se passou no seu tempo, que ainda no havia aparecidoem pblico. Eles devem ser tidos como os mais hbeis, pois, em vez detrabalhar sobre as obras de outros, trocando somente a ordem, escrevem coisasnovas e compem um corpo de histria que somente a eles se deve. Por mim,posso dizer que, sendo estrangeiro, no houve despesa que eu no fizesse nemcuidado que no tomasse para informar os gregos e os romanos de tudo o quese refere nossa nao. Os gregos, ao contrrio, falam muito quando se tratade sustentar os seus interesses, quer em particular, quer perante os juizes, masse calam quando preciso reunir com muita dificuldade tudo o que necessrio para compor uma histria verdadeira e no acham estranho queaqueles que nenhum conhecimento tm dos feitos dos prncipes e dos grandesgenerais e so incapazes de os descrever ousem faz-lo. Isso mostra que nsprocuramos a verdade da histria tanto quanto os gregos a desprezam e dissose descuidam.
  • 15. Eu teria podido dizer qual foi a origem dos judeus, de que maneira saramdo Egito, por quais provncias vagaram durante longo tempo, as que ocuparame como passaram a outras. Mas, alm do fato de que isso no se refere a estetempo, eu o julgaria intil, pois vrios de meus compatriotas j o escreveram,com muito cuidado, e os gregos traduziram essas obras para a sua lngua semse afastar muito da verdade. Assim, comearei a minha histria por onde osseus autores e os nossos profetas concluram as suas. Referireiparticularmente, com toda a exatido que me for possvel, a guerra que setravou no meu tempo e contentar-me-ei em tocar brevemente o que se passounos sculos precedentes. Direi de que modo o rei Antoco Epifnio, depois de tomar Jerusalm e det-la possudo durante trs anos e meio, de l foi expulso pelos filhos deMatatias, hasmoneu; como a diviso suscitada entre os seus sucessores, comrelao posse do reino, atraiu os romanos sob o comando de Pompeu; comoHerodes, filho de Antpatro, com o auxlio de Ssio, general do exrcito romano,ps fim dominao dos prncipes hasmoneus; como, depois da morte deHerodes, sob o reinado de Augusto, sendo Quintlio Varo governador da Judia,o povo se revoltou; como, no dcimo segundo ano do reinado de Nero, comeoua guerra, que se deu sob Cstio, que comandava as tropas romanas; quaisforam os primeiros feitos dos judeus e as praas que eles fortificaram; como asperdas sofridas em vrias ocasies por Cstio fizeram Nero temer pelo xito desuas armas, entregando-as a Vespasiano; como esse general, acompanhadopelo mais velho de seus filhos, entrou na judia com um grande exrcitoromano; como um grande nmero de suas tropas auxiliares foi desbaratada naGalileia; como ele tomou algumas cidades dessa provncia e outras, que seentregaram a ele. Referirei tambm, sinceramente e segundo o que presenciei e constateicom os meus prprios olhos, o proceder dos romanos em suas guerras, a suaordem e a sua disciplina; a extenso e a natureza da Alta e da Baixa Galileia; oslimites e as fronteiras da judia, a qualidade da terra, os lagos e as fontes quea se encontram; e os males suportados pelas cidades que foram tomadas. Nodeixarei de mencionar, do mesmo modo, as calamidades que eu mesmoexperimentei em minha vida e que so bem conhecidas.
  • 16. Direi tambm como a morte de Nero aconteceu, estando j em pssimoestado os interesses dos judeus e os do imprio; como Vespasiano, que seapressava para marchar contra Jerusalm, foi chamado a Roma; os pressgiosque ele teve de sua futura grandeza; as mudanas sucedidas na capital doimprio; como ele, contra a sua vontade, foi declarado imperador pelos soldadose como foi ao Egito dar as ordens necessrias; como a judia foi agitada pornovas perturbaes; como surgiram tiranos uns contra os outros; como Tito, sua volta do Egito, entrou duas vezes naquela provncia; como e em que lugarele reuniu o seu exrcito; como e quantas vezes ele prprio testemunhou assedies que se sucederam em Jerusalm; suas aproximaes e todas asdificuldades que enfrentou para atacar essa praa; qual era a torre dos murosda cidade, a sua fortificao e a do Templo; a descrio do Templo, as suasmedidas e as do altar nisso nada omitirei. Falarei das nossas festas solenes, das cerimnias que nelas se observam,das sete espcies de purificao; das funes dos sacerdotes, de seus hbitos edos do sumo sacerdote; e da santidade do Templo, sem nada deturpar ouacrescentar. Farei ver tambm a crueldade de nossos tiranos contra os de suaprpria nao e a humanidade dos romanos para conosco, sendo que ramosestrangeiros com relao a eles. Mostrarei tambm quantas vezes Tito seesforou para salvar a cidade e o Templo e reunir os que estavam toobstinadamente divididos. Falarei dos muitos e diversos males suportados pelopovo, o qual, depois de sofrer todas as misrias que a guerra, a carestia e assedies podem causar, ainda se viu reduzido servido, pela tomada dessagrande e poderosa cidade. No me esquecerei tambm de dizer em que desgraas caram osdesertores da nao, a maneira como o Templo foi queimado, contra a vontadede Tito, a quantidade de riquezas consagradas a Deus que o fogo destruiu, bemcomo a destruio completa da cidade, os prodgios que precederam essaextrema desolao, a escravido de nossos tiranos, o grande nmero daquelesque foram levados cativos e as suas diversas vicissitudes. Direi ainda a maneiracomo os romanos perseguiram os que escaparam da guerra e como, depois deos vencer, destruram completamente as praas e os lugares para onde eles sehaviam retirado. Por fim, falarei da visita feita por Tito a toda a provncia para
  • 17. restabelecer a ordem e de sua volta Itlia e de seu triunfo. Escreverei todasessas coisas em sete livros, divididos em captulos, para satisfao das pessoasque amam a verdade, e no tenho motivo para temer que aqueles que tiveram adireo dessa guerra ou que l se encontraram presentes me acusem de haverfaltado sinceridade. Mas tempo de comearmos a executar o que prometi.
  • 18. Livro Primeiro CAPTULO 1 CRIAO DO MUNDO. ADO E EVA DESOBEDECEM ORDEM DE DEUS, E ELE OS EXPULSA DO PARASO TERRESTRE. 1. Gnesis 1. No princpio, Deus criou o cu e a Terra, mas a Terra noera visvel porque estava coberta de trevas espessas, e o Esprito de Deusadejava por cima dela. Deus ordenou em seguida que se fizesse a luz, e a luzapareceu imediatamente. Depois de ter considerado essa massa, Deus separoua luz das trevas. s trevas chamou noite, e luz, dia, dando ao comeo do dia onome de manh, e ao fim, o de tarde. Foi ao primeiro dia que Moiss chamou"um dia", e no "o primeiro dia", por razes que eu poderia explicar, mas, comoprometi escrever sobre todas essas coisas em um trabalho especial, reservo-mepara falar disso nele. No segundo dia, Deus criou o cu, separou-o de todo o resto e colocou-opor cima, como sendo o mais nobre. Rodeou-o de cristal e temperou-o comumidade prpria para formar as chuvas que regam docemente a terra, paratorn-la fecunda. No terceiro dia, tornou fixa a terra, rodeou-a pelo mar e f-laproduzir as plantas com as suas respectivas sementes. No quarto dia, criou oSol, a Lua e os outros astros e colocou-os no cu para lhe serem o ornamentoprincipal. Regulou de tal maneira os seus movimentos e o seu curso que elesdeterminam claramente as estaes e as revolues do ano. No quinto dia, criouos peixes que nadam na gua e os pssaros que voam no ar e quis queformassem casais, a fim de crescerem e se multiplicarem, cada um segundo asua espcie. No sexto dia, criou os animais terrestres e distinguiu-os em sexosdiversos, fazendo-os macho e fmea. E, nesse mesmo dia, criou tambm ohomem. Assim, segundo o que refere Moiss, Deus criou em seis dias o mundoe todas as coisas que nele existem. No stimo dia, Ele descansou e deixou detrabalhar as grandes obras da criao do mundo: por esse motivo que notrabalhamos nesse dia e lhe damos o nome de sbado, que em nossa lngua
  • 19. quer dizer "descanso". 2. Gnesis 2. Moiss fala ainda mais particularmente da criao dohomem. Ele diz que Deus tomou p da terra, fez o homem e, com a alma,inspirou nele o esprito e a vida. Ele acrescenta que esse homem foi chamadoAdo, que em hebreu significa "ruivo", porque a terra de que ele foi formado eradessa cor, que a cor da terra natural e a qual se pode chamar virgem. Deus mandou vir os animais, tanto os machos quanto as fmeas, paradiante de Ado, e este, o primeiro de todos os homens, deu-lhes os nomes queconservam ainda hoje. 3. Deus, vendo que Ado estava sozinho, enquanto os outros animais ti-nham cada qual uma companheira, quis tambm dar-lhe uma consorte. Paraisso, quando ele estava adormecido, tirou-lhe uma das costelas, da qual formoua mulher. E, logo que Ado a viu, percebeu que ela havia sido tirada dele e queera parte dele mesmo. Os hebreus do mulher o nome de Issa, e a que foi aprimeira de todas chamou-se Eva, isto , "me de todos os viventes". 4. Moiss narra em seguida como Deus plantou do lado do oriente umdelicioso jardim, que cumulou de todas as espcies de plantas, entre elas, duasrvores, uma das quais era a rvore da vida, e a outra, a da cincia, queensinava a discernir o bem do mal. Ele colocou Ado e Eva nesse jardim emandou que cultivassem as plantas. O jardim era regado por um grande rio,que o rodeava completamente e se dividia em quatro outros rios. O primeirodesses rios, chamado Pisom, que significa "plenitude" e ao qual os gregoschamam Canges, corre para a ndia e desemboca no mar. O segundo, que sechama Eufrates e Fora, em nossa lngua, significa "disperso" ou "flor", e oterceiro, a que chamam Tigre ou Diglath, que significa "estreito e rpido",ambos desembocam no mar Vermelho. O quarto, de nome Giom, que significa"que vem do oriente", chamado Nilo pelos gregos e atravessa todo o Egito. 5. Deus ordenou a Ado e Eva que comessem de todos os frutos, mas lhesproibiu de tocar no da cincia, alertando-os de que morreriam se o comessem.Havia ento perfeita harmonia entre todos os animais, e a serpente estavamuito acostumada com Ado e Eva. Mas como a sua malcia a fizesse invejar afelicidade de que ambos desfrutariam se observassem a ordem de Deus ejulgasse ela que, ao contrrio, eles seriam vtimas de todas as desgraas se
  • 20. desobedecessem, tratou de persuadir Eva a comer do fruto proibido. Paramelhor induzi-la, disse-lhe que o fruto continha uma virtude secreta, que davao conhecimento do bem e do mal, e que se ela e o marido comessem dele,seriam to felizes quanto Deus. Assim, a serpente enganou a mulher, e estadesprezou a ordem divina: comeu o fruto, alegrou-se por t-lo feito e induziuAdo a com-lo tambm. Ora, como era verdade que o fruto dava grandssimodiscernimento, eles logo perceberam que estavam nus e sentiram vergonha.Ento tomaram folhas de figueira para se cobrir, julgando-se mais felizes doque antes, porque agora conheciam o que at ali haviam ignorado. Deus entrou no jardim, e Ado, que antes do pecado conversava familiar-mente com Ele, no ousou apresentar-se, por causa da falta que havia cometi-do. Deus perguntou-lhe por que, em vez de sentir prazer em se aproximar dEle,estava fugindo e se escondendo. Como Ado no soubesse o que responder,porque se sentia culpado, Deus lhe disse: "Eu vos havia provido de tudo o quepodereis desejar para viver sem penas e com prazer uma vida isenta dequalquer cuidado, que teria sido ao mesmo tempo muito longa e feliz. Mas vsvos opusestes ao meu desgnio, desprezastes a minha ordem e no por res-peito que vos calais, mas porque a vossa conscincia vos acusa". Ado, ento,fez o que podia para se desculpar, pediu a Deus que lhe perdoasse e lanou asua falta sobre a mulher, que o enganara e fora a causa de seu pecado. Ela, porsua vez, alegou que a serpente a havia enganado. Por isso Deus, para castigarAdo por assim se ter deixado vencer, declarou que a terra no produziria maisfrutos, a no ser para aqueles que a cultivassem com o suor do rosto, e mesmoassim no daria tudo o que dela se poderia desejar. Castigou tambm Eva,estabelecendo que, por se haver deixado enganar pela serpente e atrado todosaqueles males sobre o marido, ela teria filhos com dor e sofrimento. E, paracastigar a serpente pela sua malcia, condenou-a a rastejar pela terra, declaran-do que ela seria inimiga do homem. Depois que Deus imps a todos o devidocastigo, expulsou Ado e Eva daquele jardim de delcias. CAPTULO 2CAIM MATA SEU IRMO ABEL. DEUS O EXPULSA. SUA POSTERIDADE TO M QUANTO ELE. VIRTUDES DE SETE, OUTRO FILHO DE ADO.
  • 21. 6. Gnesis 4. Ado e Eva tiveram dois filhos e trs filhas. O primeirochamava-se Caim, que significa "aquisio", e o segundo, Abei, que quer dizer"aflio". Os dois eram de temperamentos completamente opostos. Abel, que erapastor de rebanhos, era mais justo. Considerava que Deus se fazia presente emtodas as suas aes e s pensava em agradar-lhe. Caim, ao contrrio, que porprimeiro trabalhou a terra, era muito mau. Buscava apenas proveito prprio. Asua horrvel impiedade levou-o ao excesso de furor, a ponto de matar o prprioirmo. Eis a causa disso: Ambos resolveram oferecer um sacrifcio a Deus, Caim, dos frutos de seutrabalho, e Abel, do leite e das primcias de seu rebanho. Deus demostrouaceitar melhor o sacrifcio de Abel, que era produo livre da natureza, do que aoferta que a avareza de Caim dela havia tirado, quase fora. O orgulho deCaim no pde tolerar que Deus tivesse preferido o irmo a ele: matou-o eescondeu o corpo, esperando que assim ningum tivesse cincia de seu crime.Deus, porm, a cujos olhos nada h de oculto, perguntou-lhe onde estava oirmo, que no via h vrios dias, pois antes eles estavam sempre juntos. Caim,no sabendo o que responder, disse primeiro que se admirava de tambm no oter visto mais. Todavia, como Deus insistisse, respondeu-lhe insolen-tementeque no era nem senhor nem guarda do irmo e que no se havia encarregadode cuidar daquilo que no lhe dizia respeito. Deus ento perguntou-lhe como seatrevia a afirmar nada saber do que acontecera ao irmo, se ele mesmo o haviamatado. E, se Caim no tivesse oferecido imediatamente um sacrifcio paraacalmar-lhe a clera, teria recebido naquele mesmo instante o castigo que o seucrime bem merecia. Deus, no entanto, amaldioou-o, ameaou castigar os seusdescendentes at a stima gerao e expulsou-o. Porm, como Caim temesseque, andando errante, animais ferozes o devorassem, Deus o tranqilizoucontra esse temor. Deu-lhe um sinal, com o qual podia ser reconhecido, eordenou-lhe que se fosse. 7. Depois de haver atravessado diversos pases, Caim estabeleceuresidncia em um lugar chamado Node, onde teve vrios filhos. No entanto ocastigo, em vez de torn-lo melhor, f-lo, ao contrrio, muito pior. Abandonou-se a toda sorte de prazeres e at usou de violncia, apoderando-se de bens
  • 22. alheios para enriquecer-se. Reuniu homens maus e celerados, dos quais setornou o chefe, e ensinou-os a cometer toda espcie de crimes e de aesmpias. Mudou a inocente maneira de viver que adotara no princpio, inventouos pesos e as medidas e substituiu a franqueza e a sinceridade, to maislouvveis e simples, pela astcia e pelo engano. Ele foi o primeiro a estabelecerlimites para a diviso de propriedades e construiu uma cidade. Chamou-aEnoque, nome de seu filho mais velho, rodeou-a de muralhas e a povoou. Enoque teve por filho Irade, Irade gerou Meujael, Meujael a Metusalm eMetusalm a Lameque. Lameque teve setenta filhos de suas duas esposas, Zile Ada, um dos quais, de nome jabal, filho de Ada, foi o primeiro a morarembaixo de tendas e de pavilhes, levando uma vida de simples pastor. Jubal,seu irmo, inventou a msica, o saltrio e a harpa. Tubalcaim, filho de Zil,sobrepujava a todos os outros em coragem e fora, e foi grande comandante.Nesse entretempo, enriqueceu e serviu-se de suas riquezas para viver aindamais suntuosamente do que at ento. Ele inventou a arte de forjar e teveapenas uma filha, de nome Naam. Como Lameque era muito instrudo nascoisas divinas, julgou facilmente que sofreria a pena do assas-snio de Caim, napessoa de Abel, e disse-o s suas duas mulheres. Eis como a posteridade de Caim chafurdou-se em toda espcie de crimes.No se contentaram em imitar os de seus pais, mas inventaram outros. Entreeles, havia assassnios e latrocnios, e os que no mergulhavam as mos emsangue estavam cheios de orgulho e de avareza. 8. Ado ainda vivia e tinha cento e trinta anos. A morte de Abel e a fugade Caim fizeram-no desejar ardentemente outros filhos. E teve mesmo vrios:depois de viver ainda oitocentos anos, morreu na idade de novecentos e trintaanos. 9. Seria demasiado longo discorrer sobre todos os filhos de Ado.Contentar-me-ei em dizer algo de um deles, de nome Sete. Educado junto deseu pai, deu-se com afeto virtude. Deixou filhos semelhantes a ele, quepermaneceram em sua terra, onde viveram felizes e em perfeita unio. Deve-seao seu esprito e ao seu trabalho a cincia dos astros. Como os seus filhoshaviam sido informados por Ado que o mundo pereceria pela gua e pelo fogo,o medo de que essa cincia se perdesse antes que os homens a aprendessem
  • 23. levou-os a construir duas colunas, uma de tijolos e outra de pedras, e sobreelas gravaram os conhecimentos que possuam. Se um dilvio destrusse acoluna de tijolos, ficaria a de pedras, para conservar posteridade a memriadaquilo que haviam escrito. A previdncia deles deu bom resultado, e afirma-seque a coluna de pedras pode ser vista ainda hoje, na Sria. CAPTULO 3DA POSTERIDADE DE ADO AT O DILVIO, DO QUAL DEUS PRESERVOU NO POR MEIO DA ARCA, PROMETENDO-LHE NO MAIS CASTIGAR OS HOMENS COM DILVIO. 10. Gnesis 5. Sete geraes continuaram a viver no exerccio da virtude eno culto do verdadeiro Deus, ao qual reconheciam por nico Senhor douniverso. Mas as que vieram em seguida no imitaram os costumes dos pais. Noprestavam mais a Deus a honra que lhe era devida nem exerciam mais a justiapara com os homens, mas se entregavam com mais ardor ainda a toda sorte decrimes, enquanto os seus antepassados se haviam dedicado prtica de todaespcie de virtudes. Assim, atraram sobre si a clera de Deus, e os grandes* daterra, que se haviam casado com as filhas dos descendentes de Caim,produziram uma raa indolente que, pela confiana que depositavam na prpriafora, se vangloriava de calcar aos ps a justia e imitava os gigantes de quefalam os gregos. _____________________ * Nessa poca, havia duas raas distintas: a descendncia de Sete e a deCaim. Os expositores modernos, em sua maioria, concordam que os "filhos deDeus", citados em Gnesis 6.2, constituam a descendncia de Sete, e os "filhosdos homens", a descendncia de Caim. (N do E) 11. No, entristecido pela dor de v-los imersos nos crimes, exortava-os amudar de vida. Mas quando viu que em vez de seguir os seus conselhos eles setornavam cada vez piores, o temor de que o fizessem morrer com toda a suafamlia levou-o a deixar a sua ptria. Deus, que o amava por causa de sua
  • 24. probidade, ficou to irritado pela malcia e corrupo do resto dos homens queresolveu no somente castig-los, mas extermin-los completamente e repovoara terra com homens que vivessem na pureza e na inocncia. Assim, abreviou-lhes o tempo da vida, reduzindo-o a cento e vinte anos, inundou a terra demodo a parecer que ela havia sido tomada pelo mar e f-los todos perecer nasguas, com exceo de No. A este, para salv-lo, ordenou que construsse umaarca de quatro andares, com trezentos cvados de comprimento, cinqenta delargura e trinta de altura; que l se encerrasse com a esposa, os trs filhos e astrs esposas deles; e que levasse todo o necessrio para o seu alimento etambm para os animais de todas as espcies, os quais ele deveria levarconsigo, para conservar-lhes a raa. Isto , um casal de cada espcie, macho efmea, e sete casais de algumas. O teto e os lados da arca eram to fortes queela resistiu violncia das guas e dos ventos e salvou No e sua famlia dainundao geral que fez morrer todos os outros homens. Ele era o dcimodescendente de Ado, de masculino em masculino, pois era filho de Lameque,que era filho de Metusalm. Metusalm era filho de Jarede. Jarede era filho deMaalalel, que tinha vrios irmos. Maalalel era filho de Cain. Cain era filho deEnos. Enos era filho de Sete, e Sete era filho de Ado. 12. No tinha seiscentos anos quando veio o dilvio. Foi no segundo ms,que os macednios chamam dius, e os hebreus, maresv, pois os egpciosassim dividiram o ano. Quanto a Moiss, ele deu, nos seus fastos, o primeirolugar ao ms chamado nis, que o xntico macednio, porque foi nesse msque ele retirou os hebreus da terra do Egito e por essa razo comeou por essemesmo ms a registrar o que se refere ao culto a Deus. No que se refere scoisas civis, no entanto, como as feiras e mercados determinados pelo comrcioe empreendimentos semelhantes, no houve mudana alguma. Moiss registraque a chuva causadora do dilvio geral comeou a cair no dia 27 do segundoms do ano 2256 depois da criao de Ado. A Sagrada Escritura faz o clculodisso e anota com cuidado muito particular o nascimento e a morte dosgrandes personagens daquele tempo.* Ado viveu novecentos e trinta anos etinha duzentos e trinta** quando nasceu o seu filho Sete. Sete viveu novecentose doze anos e tinha duzentos e cinco quando nasceu o seu filho Enos. Enosviveu novecentos e cinco anos e tinha cento e noventa quando nasceu o seu
  • 25. filho Cain. Cain viveu novecentos e dez anos e tinha cento e setenta quandonasceu o seu filho Maalalel. Maalalel viveu oitocentos e noventa e cinco anos etinha cento e sessenta e cinco quando nasceu o seu filho Jarede. Jarede viveunovecentos e sessenta e dois anos e tinha cento e sessenta e dois quandonasceu o seu filho Enoque. Enoque viveu trezentos e sessenta e cinco anos etinha cento e sessenta e cinco quando nasceu o seu filho Metusalem. Na idadede trezentos e sessenta e cinco anos, foi tirado do mundo, e ningum escreveusobre a sua morte. Metusalem viveu novecentos e sessenta e nove anos e tinha cento eoitenta e sete quando nasceu o seu filho Lameque. Lameque viveu setecentos esetenta e sete anos e tinha cento e oitenta e dois quando nasceu o seu filhoNo. No viveu novecentos e cinqenta anos, os quais, acrescentados aosseiscentos que j contava na ocasio do dilvio, perfazem o nmeroanteriormente assinalado de dois mil duzentos e cinqenta e seis anos. Foimais conveniente para esse clculo citar, como fiz, a poca do nascimentodesses primeiros homens, e no a de sua morte, porque a vida deles era tolonga que se estendia at a posteridade mais remota. ____________________ * Este trecho est inteiramente corrompido no texto grego e foi corrigidopelo que dizem os manuscritos. ** Algumas idades neste trecho diferem do relato bblico porque seguem acronologia da Septuaginta o texto da Bblia baseado na cronologiahebraica. (N do E) 13. Gnesis 7e8. Deus, ento, deu o sinal e livre curso s guas, a fim deinundarem a terra, e elas elevaram-se, por uma chuva contnua de quarentadias, at quinze cvados acima das mais altas montanhas e no deixaramnenhum lugar para onde o povo pudesse fugir e salvar-se. Depois que a chuvacessou, passaram-se cento e cinqenta dias antes que as guas se retirassem, esomente no vigsimo stimo dia do stimo ms a arca se deteve sobre o vrticede uma montanha da Armnia. No ento, abriu uma janela e, vendo um poucode terra ao redor da arca, comeou a se consolar e a conceber melhores
  • 26. esperanas. Alguns dias depois, ele fez sair um corvo para saber se havia aindaoutros lugares de onde as guas se tivessem retirado completamente e se elepodia sair sem perigo. O corvo, porm, achando a terra ainda toda inundada,voltou arca. Sete dias depois, No fez sair uma pomba, e ela voltou com os psenlameados, trazendo no bico um ramo de oliveira. Assim, ele soube que odilvio havia cessado. Aps haver esperado outros sete dias, fez sair todos osanimais que estavam na arca. E ele tambm saiu, com a mulher e os filhos,ofereceu um sacrifcio a Deus em ao de graas e deu um banquete famlia. Os armnios chamaram a esse lugar Descida ou Sada, e os seushabitantes apontam ainda hoje alguns restos da arca. Todos os historiadores,mesmo os brbaros, falam do dilvio e da arca, dentre outros Berose, caldeu.Eis as suas palavras: "Diz-se que ainda hoje se vem restos da arca sobre amontanha dos Cordiens, na Armnia, e alguns levam desse lugar pedaos debetume, com o qual ela estava recoberta, e dele se servem comoimpermeabilizante". jernimo, egpcio que escreveu sobre as antigidades dosfencios, Mnazeas e vrios outros disso falam tambm. Nicolau de Damasco, nononagsimo sexto livro de sua histria, menciona-o nestes termos: "H naArmnia, na provncia de Miniade, uma alta montanha chamada Baris, sobre aqual, diz-se, muitos se salvaram durante o dilvio, e que uma arca cujos restosse conservaram por vrios anos, e na qual um homem se havia encerrado,deteve-se no cume dessa montanha. H probabilidade de que esse homem aquele de que fala Moiss, o legislador dos judeus". 14. Gnesis 8 e 9. Com medo de que Deus inundasse a terra todos osanos, a fim de exterminar a raa dos homens, No ofereceu-lhe vtimas,rogando que nada mudasse na ordem estabelecida anteriormente e que Ele nousasse de tal rigor, fazendo perecer todas as criaturas vivas, mas secontentasse por ter castigado os maus, como os seus crimes mereciam, e porter poupado os inocentes, aos quais Ele quisera salvar a vida. Pois, de outromodo, eles seriam ainda mais infelizes do que os que haviam sido sepultadosnas guas, tendo visto com tremor to estranha desolao e tendo dela sidopreservados apenas para perecer mais tarde, de maneira semelhante. Assim,rogava que Deus aceitasse o seu sacrifcio e no mais olhasse para a terra comclera, de jnodo que ele e seus descendentes pudessem cultiv-la sem medo,
  • 27. construir cidades, desfrutar de todos os bens que possuam antes do dilvio epassar uma vida to longa quanto feliz, como a de seus antepassados. Como No era homem justo, Deus atendeu sua orao e concedeu-lhe oque pedia, dizendo-lhe que no fora o patriarca a causa dos que se haviamperdido no dilvio; que eles s podiam acusar a si mesmos pelo castigo rece-bido; que, se tivesse querido perd-los, no os teria feito nascer, sendo maisfcil no dar a vida do que a tirar aps t-la concedido; que eles deviam,portanto, atribuir os castigos aos seus prprios crimes; que, em considerao sua orao, no lhes seria mais to severo no futuro; e que, quando viessemtempestades e furaces extraordinrios, nem ele nem seus descendentes de-veriam pensar num outro dilvio, pois Ele no mais permitiria que as guasinundassem a terra. Contudo proibia a ele e aos seus manchar as mos nosangue, e ordenava-lhes que castigassem severamente os homicidas, e os faziasenhores absolutos dos animais, para dispor deles como quisessem, exceto deseu sangue, do qual no podiam usar como do resto, porque no sangue est avida. "E meu arco", acrescentou, "que vereis no cu, ser o sinal e a garantia dapromessa que vos fao". Isso disse Deus a No. E ao arco que apareceu no cu,chamaram arco de Deus. 15. No viveu trezentos e cinqenta anos depois do dilvio, na mximaprosperidade, e morreu com novecentos e cinqenta anos de idade. Por maiorque seja a diferena entre a pouca durao da vida dos homens de hoje e alonga durao da dos de que acabo de falar, o que narro no deve passar porinverossmil. que, alm de os nossos antepassados serem muito queridos deDeus, e como obra que Ele havia feito com as prprias mos, os alimentos deque se nutriam eram mais apropriados para conservar a vida. E Deus aprolongava, tanto por causa de sua virtude como para lhes dar meios deaperfeioar as cincias da geometria e da astronomia, que eles haviaminventado o que eles no teriam podido fazer se tivessem vivido menos deseiscentos anos, pois somente aps a revoluo de seis sculos que secompleta o grande ano. Todos os que escreveram a histria, tanto da Grciacomo de outras naes, do testemunho do que digo. Mneto, que escreveu ahistria dos egpcios, Berose, que nos deixou a dos caldeus. Moco, Hestieu eJernimo, que escreveram a dosfencios, dizem tambm a mesma coisa.
  • 28. Hesodo, Hecateu, Ascausila, Helnico, foro e Nicolau, referem que essesprimeiros homens viviam at mil anos. Deixo aos que lerem isto que faam ojuzo que quiserem. CAPTULO 4NINRODE, NETO DE NO, CONSTRI A TORRE DE BABEL, E DEUS, PARA CONFUNDI-LOS E DESTRUIR ESSA OBRA, MANDA A CONFUSO DE LNGUAS. 16. Gnesis 10 e 11 .Os trs filhos de No, Sem, jaf e Cam, nascidos cemanos antes do dilvio, foram os primeiros a deixar as montanhas para morarnas plancies, o que os outros no ousavam fazer, assustados ainda com adesolao universal causada pelo dilvio. Mas o exemplo daqueles animouestes a imit-los. Deram o nome de Sinar primeira terra em que habitaram.Deus ordenou que mandassem colnias a outros lugares, a fim de que, multi-plicando-se e estendendo-se, pudessem cultivar mais terras, colher frutos emmaior abundncia e evitar as divergncias que de outro modo poderiam sersuscitadas entre eles. Porm esses homens rudes e indceis no obedeceram e,pelo seu pecado, foram castigados com os males que lhes sucederam. E Deus,vendo que o seu nmero crescia sempre, ordenou-lhes segunda vez queformassem novas colnias. Esses ingratos, porm, esquecidos de que deviam a Ele todos os seus bense atribuindo-os a si mesmos, continuaram a desobedecer-lhe e acrescentaram sua desobedincia a impiedade de imaginar que era uma cilada que se lhesarmava, a fim de que, estando divididos, pudesse Deus mais facilmente destru-los. Ninrode, neto de Cam, um dos filhos de No, foi quem os levou a desprezara Deus dessa maneira. Ao mesmo tempo valente e corajoso, persuadiu-os deque deviam unicamente ao seu prprio valor, e no a Deus, toda a sua boafortuna. E, como aspirava ao governo e queria que o escolhessem como chefe,abandonando a Deus, ofereceu-se para proteg-los contra Ele (caso Deusameaasse a terra com outro dilvio), construindo uma torre para esse fim, toalta que no somente as guas no poderiam chegar-lhe ao cimo como aindaele vingaria a morte de seus antepassados. O povo, insensato, deixou-se dominar pela estulta convico de que lhes
  • 29. seria vergonhoso ceder a Deus, e comearam a trabalhar nessa obra comincrvel ardor. A multido e a atividade dos operrios fez com que a torre empouco tempo se elevasse a uma altura acima de qualquer expectativa, mas asua debilidade fazia com que parecesse menos alta do que era de fato.Construram-na de tijolos, cimentando-a com betume, para torn-la mais forte.Deus, irado com essa loucura, no quis no entanto extermin-los, como fizeraaos seus predecessores, cujo exemplo, alis, lhes havia sido de todo intil, masps diviso entre eles, fazendo com que a nica lngua que falavam semultiplicasse num instante, de tal modo que no mais se entendiam. Aconfuso fez com que se desse ao lugar onde se havia construdo a torre o nomede Babilnia, pois Babel em hebreu significa "confuso". A Sibila assimdescreve esse grande acontecimento: "Todos os homens que ento tinham umas lngua construram torre to alta que parecia que ela se elevaria at o cu.Mas os deuses levantaram contra ela to violenta tempestade que ela foiderribada e fizeram com que aqueles que a haviam construdo falassem nomesmo instante diversas lnguas. Isso foi causa de que se desse o nome deBabilnia cidade que depois foi construda naquele mesmo lugar". Hestieutambm fala do campo de Sinar, onde Babilnia est localizada: "Diz-se que ossacerdotes que se salvaram dessa grande catstrofe com as coisas sagradas,destinadas ao culto de Jpiter, o vencedor, vieram a Sinar de Babilnia". CAPTULO 5 COMO OS DESCENDENTES DE NO SE ESPALHARAM PELOS DIVERSOS LUGARES DA TERRA. 17. Gnesis 10. A diversidade de lnguas obrigou a multido quase infinitadesse povo a dividir-se em diversas colnias, segundo Deus, por suaprovidncia, os ia levando. Assim, no somente o meio da terra, mas tambm asmargens do mar encheram-se de habitantes. Houve mesmo quem embarcasseem navios e passasse s ilhas. Algumas dessas naes conservam ainda osnomes dados por aqueles que lhes deram origem, outras mudaram-nos e outrasainda, por fim, em vez dos nomes brbaros que antes possuam, receberamnomes que eram do agrado daqueles que nelas vinham se estabelecer. Osgregos foram os principais autores dessa mudana, pois, havendo-se tornado
  • 30. senhores de todos esses pases, davam-lhes nomes e como bem desejavamimpunham leis aos povos conquistados, usurpando, assim, a glria de passarpor seus fundadores. CAPTULO 6 DESCENDENTES DE NO AT JAC. DIVERSOS PASES QUE ELES OCUPARAM. 18. Gnesis 10. Os filhos dos filhos de No, para honrar-lhe a memria,deram os prprios nomes aos pases onde se estabeleceram. Assim, os setefilhos de Jaf, que se estabeleceram pela sia desde o monte Tauro e o Am ato rio de Tanais e na Europa at Gades, deram os seus nomes s terras queocuparam e que no eram ainda povoadas. Gomer fundou a colnia dosgrneres, que os gregos chamam gaiatas. Magogue fundou a dos magogianos, aque chamam citas. Jav deu o nome Jnia e a toda a nao dos gregos. Madaifoi o fundador dos madianos, que os gregos chamam medas. Tubal deu o seunome aos tubalinos, que agora se chamam iberos.* Meseque deu o prprionome aos mescinianos (o de capadcios, que eles tm agora, novo), e aindahoje uma de suas cidades tem o nome de Malaca, o que nos mostra que essacidade antigamente se chamava assim. Tiras deu o seu nome aos trios, dosquais foi o prncipe e que os gregos chamam trcios. Assim, todas essas naesforam fundadas pelos filhos de Jaf. Gomer, que era o mais velho dos filhos de Jaf, teve trs filhos: Asquenaz,que deu o seu nome aos asquenzios, aos quais os gregos chamam reginianos;Rifate, que deu o seu nome aos rifanianos, aos quais os gregos chamampaflagonianos; Togarma, que deu o seu nome aos togarmanianos, aos quais osgregos chamam frgios. Jav, outro filho de Jaf, teve quatro filhos: Elisa, Trsis, Quitim eDodanim. Elisa deu o seu nome aos elisamos, que hoje se chamam ecolianos.Trsis deu o seu nome aos tarsianos, que hoje so os cilicianos, cuja principalcidade ainda hoje se chama Tarso. Quitim ocupou a ilha que agora se chamaChipre, qual deu o seu nome, razo por que os hebreus chamam de Quitimtodas as ilhas e todos os lugares martimos. Ainda hoje, uma das cidades dailha de Chipre chamada Citium por aqueles que do nomes gregos a todas as
  • 31. coisas, que pouco difere do nome Quitim. Eis as naes de que os filhos de Jafse tornaram senhores. Antes de retomar o fio de minha narrao acrescentareiuma coisa que talvez os gregos ignorem: esses nomes foram mudados segundoa maneira de falar, para tornar a pronncia mais agradvel, pois entre ns nosero jamais mudados. ________ * Ou espanhis. 19. Os filhos de Cam ocuparam a Sria e todos os pases que esto almdos montes de Amane e do Lbano at o oceano, dando-lhes nomes dos quaisalguns so hoje inteiramente desconhecidos, e outros, modificados de tal modoque mal se poderiam reconhecer. Somente os etopes, dos quais Cuxe, filho deum dos quatro filhos de Cam, foi prncipe, conservaram o nome ancestral, nosomente naquele pas mas em toda a sia. Ainda hoje eles so chamadoscuxeenses. Os mizraenses, descendentes de Mizraim, tambm conservaram oseu nome, pois ns chamamos Mizrau ao Egito e mizraenses aos egpcios. Putepovoou a Lbia e chamou a esses povos com o seu nome: puteenses. Existeainda hoje, na Mauritnia, um rio que tem esse nome, e vrios historiadoresgregos o mencionam, como tambm ao pas vizinho, a que chamam Pute, masque depois mudou de nome, por causa de um dos filhos de Mizraim, Leabim.Direi em seguida por que lhe deram o nome de frica. Cana, quarto filho deCam, estabeleceu-se na Judia, a que chamou com o seu nome: Cana. Cuxe, o mais velho dos filhos de Cam, teve seis filhos: Seb, prncipe dossebaenses; Havil, prncipe dos havilenses, que agora so chamadosgetulienses; Sabt, prncipe dos sabataenses, a que os gregos chamamastabarienses; Raam, prncipe dos ramaenses (que teve dois filhos, que moramentre os etopes ocidentais: um de nome Ded e outro de nome Sab, que deunome aos sabaenses); Sabtec. Quanto a Ninrode, sexto filho de Cuxe, ficouentre os babilnios e tornou-se senhor deles, como j o disse anteriormente. Mizraim foi pai de oito filhos, que ocuparam todos os pases que estoentre Gaza e o Egito. Mas somente um desses oito, Filistim, manteve o nome noseu pas os gregos deram o nome de Palestina a uma parte dessa provncia.Quanto aos sete outros irmos, chamados Ludim, Anamim, Leabim, Naftuim,
  • 32. Patrusim, Casluim e Caftorim, com exceo de Leabim, que fundou umacolnia na Lbia e lhe deu o seu nome, nada sabemos de suas obras, porque ascidades que construram foram destrudas pelos etopes, como diremos a seutempo. Cana teve onze filhos: Sidnio, que construiu na Fencia uma cidade qual deu o seu nome e qual os gregos chamam Sidom; Hamate, que construiua cidade de Hamate, que ainda hoje se v e conserva o mesmo nome entre osque nela habitam, embora os macednios lhe chamem Epifania, nome de um deseus prncipes; Arqueu, que teve como herana a ilha de Aruda; Amom, queteve a cidade de Arce, situada no monte Lbano. Quanto aos outros sete irmos,chamados Heveu, Hete, Jebuseu, Arvadeu, Sineu, Zemarco e Cirgaseu, sficaram os nomes nas Sagradas Escrituras, porque os hebreus destruram-lhesas cidades por motivo que depois direi. Gnesis 9. Quando, depois do dilvio, a terra foi restaurada ao seu estadoprimitivo, No cultivou-a como antes e plantou uma vinha, da qual ofereceu asprimcias a Deus. Bebeu vinho que dela fez e, como no estava acostumado auma bebida to forte e ao mesmo tempo to deliciosa, bebeu demais e ficouembriagado. Dormiu em seguida, tendo-se descoberto ao dormir, contra o quelhe permitia a decncia. Cam, o mais novo de seus filhos, vendo-o naquele esta-do, zombou dele e mostrou-o aos irmos. Estes, porm, ao contrrio, cobrirama nudez do pai com o respeito que lhe deviam. No, ao saber o que se haviapassado, deu-lhes a sua bno, e a ternura paternal f-lo perdoar Cam,contentando-se em amaldioar apenas os seus descendentes, que foram assimcastigados pelo pecado de seu pai, como iremos expor em seguida. 20. Gnesis 11. Sem, outro filho de No, teve cinco filhos, que estenderamo seu domnio desde a sia, a partir do rio Eufrates, at o oceano ndico. DeElo, o mais velho, vieram os elameenses, e dele os persas tiveram a suaorigem. Assur, o segundo, construiu a cidade de Nnive e deu o nome deassrios aos seus sditos, os quais foram extraordinariamente ricos epoderosos. Arfaxade, o terceiro, tambm chamou aos seus pelo seu nome, isto, arfaxadeenses, que so hoje os caldeus. De Ar, o quarto, vieram osarameenses, aos quais os gregos chamam srios, e de Lude, o quinto, vieram osludeenses, que hoje so chamados ldios.
  • 33. Ar teve quatro filhos, dos quais Uz, o mais velho, estabeleceu-se naTraconites e a construiu a cidade de Damasco, que est situada entre aPalestina e a Sria, cognominada Coelem. Hul, o segundo, ocupou a Armnia.Geter, o terceiro, foi prncipe dos bactrianos. E Ms, o quarto, dominou osmesanianos, cujo pas hoje se chama o vale de Pasin. Arfaxade foi pai de Sala, e Sala, pai de ber, de cujo nome os judeusforam chamados hebreus. ber teve por filhos Joct e Pelegue, este nascidoquando se fazia a diviso das terras, pois Pelegue em hebreu significa"partilha", joct teve treze filhos: Almod, Selefe, Hazar-Mav, Jer, Hadoro,Uzal, Dicla, Obal, Abimael, Sab, Ofir, Havil e Jobabe, que se espalharamdesde o rio Confem, que est na ndia, at a Assria. Depois de haver falado dos descendentes de Sem, preciso agora falar doshebreus, descendentes de ber. Pelegue, filho de ber, teve por filho Re. Reteve Serugue, Serugue teve Naor e Naor teve Ter, pai de Abrao, que assim foio dcimo desde No e nasceu duzentos e noventa e dois anos aps o dilvio,pois Ter tinha setenta anos ao nascer Abrao. Naor tinha vinte e nove anosquando teve Ter, Serugue tinha trinta anos quando teve Naor, Re tinha trintae dois anos quando teve Serugue, Pelegue tinha trinta anos quando teve Re,ber tinha trinta e quatro anos quando teve Pelegue, Sala tinha trinta anosquando teve ber. Arfaxade tinha trinta e cinco anos quando teve Sala eArfaxade, filho de Sem e neto de No, nasceu dois anos aps o dilvio. 21. Abrao teve dois irmos: Naor e Har. Este morreu na cidade de Urda Caldia, onde ainda hoje se v o seu sepulcro, e deixou um filho de nome deL e duas filhas: Sara e Milca. Abrao desposou Sara, e Naor desposou Milca. Ter, pai de Abrao, tendo concebido averso pela Caldia, porque lperdera o filho Ar, deixou-a e foi com toda a famlia para Har, naMesopotmia. E l morreu, com a idade de duzentos e cinco anos a duraoda vida humana j ia pouco a pouco diminuindo, continuou a diminuir atMoiss, e foi ento que Deus a reduziu a cento e vinte anos, o tempo que viveuesse admirvel legislador. Naor teve de sua mulher, Milca, oito filhos: Uz, Buz,Quemuel, Qusede, Hazo, Pildas, jidlafe e Betuel; de Reum, sua concubina,teve Teba, Ga, Tas e Maaca. Betuel, que foi o ltimo filho de Naor, teve umfilho de nome Labo e uma filha de nome Rebeca.
  • 34. CAPTULO 7 ABRAO, NO TENDO FILHOS, ADOTA L, SEU SOBRINHO, DEIXA A CALDIA E VAI MORAR EM CANA. 22. Gnesis 12. Abrao, no tendo filhos, adotou L, filho de seu irmoAr e irmo de sua mulher, Sara. E, para obedecer ordem que havia recebidode Deus, deixou a Caldia na idade de setenta e cinco anos e foi morar na terrade Cana, a qual deixou sua posteridade. Era homem muito sensato,prudente e de grande esprito e to eloqente que podia persuadir sobre o quequisesse. Como nenhum outro o igualava em capacidade e em virtude, deu aoshomens um conhecimento muito mais perfeito da grandeza de Deus, comojamais tiveram antes. Foi ele quem primeiro ousou dizer que existe um s Deus,que o universo obra das mos dEle e que a nossa felicidade deve ser atribudaunicamente sua bondade, e no s nossas prprias foras. O que o levava a falar dessa maneira era o fato de ter deduzido, apsconsiderar atentamente o que se passava sobre a terra e sobre o mar e o cursodo Sol, da Lua e das estrelas, que h um poder superior regulando essesmovimentos, sem o qual todas as coisas cairiam em confuso e desordem, porno terem de si mesmas poder algum para nos proporcionar os benefcios quedelas haurimos elas os recebem dessa potncia superior, qual estoabsolutamente sujeitas, o que nos obriga a honrar somente a Ele e a reconhecero que lhe devemos por contnuas aes de graas. Os caldeus e os outros povosda Mesopotmia, no podendo tolerar as palavras de Abrao, levantaram-secontra ele. Assim, por ordem e com o auxlio de Deus, ele saiu do pas para irmorar na terra de Cana. L, construiu um altar e ofereceu a Deus umsacrifcio. Berose, sem nome-lo, fala nestes termos desse grande homem: "Nadcima era, depois do dilvio, havia entre os caldeus um homem muito justo emuito hbil na cincia dos astros". Hecateu cita-o somente de passagem, masescreveu um livro inteiro sobre esse assunto. Lemos no quarto livro da histriade Nicoiau de Damasco estas apropriadas palavras: "Abrao saiu com grandeacompanhamento da terra dos caldeus, que est acima da Babilnia, reinou emDamasco e partiu algum tempo depois com todo o seu povo, estabeleceu-se na
  • 35. terra de Cana, que agora se chama Judia, onde a sua posteridade semultiplicou de maneira incrvel, como direi mais particularmente em outro lu-gar. O nome de Abrao ainda hoje muito clebre e tido em grande veneraona terra de Damasco. V-se a uma aldeia que tem o seu nome e onde se dizque ele morou". CAPTULO 8 UMA GRANDE CARESTIA OBRIGA ABRAO A IR AO EGITO. O FARA APAIXONA-SE POR SARA. DEUS A PRESERVA. ABRAO RETORNA PARA CANA E DIVIDE OS SEUS BENS COM L, SEU SOBRINHO. 23. Gnesis 12 e 13. O pas de Cana foi ento assolado por grandecarestia, e Abrao, tendo sabido nesse mesmo tempo que o Egito desfrutavagrande abundncia, resolveu tanto mais facilmente ir para l quanto lhe erainteressante conhecer os sentimentos dos sacerdotes daquele pas com relao Divindade. E, se eles fossem mais bem instrudos do que ele, conformar-se-ia sua crena, mas se, ao contrrio, ele fosse o mais instrudo, comunicaria aeles a sua f. Como Sara, sua esposa, era muito formosa, e sabendo ele daincontinncia dos egpcios, e temendo que o rei se apaixonasse por ela e omandasse matar, fingiu que ela era sua irm e ensinou-lhe como proceder paraevitar esse perigo. O que ele havia previsto aconteceu. A fama da beleza de Sara espalhou-selogo. O rei quis v-la e no somente v-la, como tambm possu-la. Deus,porm, impediu a realizao do seu mau desgnio por meio de uma peste, quelhe avassalou o reino, e pela revolta dos seus sditos. Por isso o prncipeconsultou os seus sacerdotes, para saber de que maneira se poderia aplacar aclera divina. Responderam-lhe que a violncia que ele queria fazer mulher deum estrangeiro era a causa daquilo. Fara, espantado com a resposta,perguntou quem era essa mulher e quem era esse estrangeiro. Depois de haversabido de tudo, pediu grandes desculpas a Abrao, disse-lhe que julgara quefosse sua irm, e no sua mulher, e que em vez de querer fazer-lhe afronta notivera outro intento seno contrair aliana com ele. Deu-lhe em seguida grandesoma de dinheiro e permitiu-lhe conversar com os homens mais instrudos do
  • 36. reino. Essa conversa tornou conhecida a sua virtude e granjeou-lhe granderenome, pois apesar de os sbios do Egito serem de sentimentos diversos,impondo essa diversidade uma grande diviso entre eles e Abrao, ele toclaramente lhes deu a conhecer que estavam longe da verdade que eles lheadmiraram mais a grandeza de esprito que o dom de persuadir. Ele ensinou-lhes at mesmo a aritmtica e a cincia dos astros, que lhes eramdesconhecidas: foi por meio dele que essas cincias passaram dos caldeus aosegpcios e dos egpcios aos gregos. 24. Abrao, ao voltar a Cana, dividiu o pas com L, seu sobrinho. Osguardas de seus rebanhos estavam brigados uns com os outros por causa daspastagens. Ento ele disse a L que escolhesse e tomou para si o que o outrono quis, contentando-se com as terras que esto ao p das montanhas.Estabeleceu em seguida a sua moradia na cidade de Hebrom, que sete anosmais velha que Tanis, no Egito. Quanto a L, escolheu ele as plancies queesto ao longo do rio Jordo e prximas da cidade de Sodoma, que estava entoem franco progresso, mas que agora se acha inteiramente destruda pela justavingana de Deus e nada resta dela, nem mesmo o menor vestgio, comodiremos em seguida. CAPTULO 9 OS ASSRIOS DERROTAM SODOMA. LEVAM DIVERSOS PRISIONEIROS, DENTRE ELES L, QUE VIERA PRESTAR AUXLIO. 25. Gnesis 14. O imprio da sia achava-se ento nas mos dosassrios, e o pas de Sodoma estava to populoso e to rico que era governadopor cinco reis de nome Bera, Birsa, Sinabe, Semeber e Bela. Os assriosatacaram-nos com grande e poderoso exrcito, que dividiram em quatro corpos,comandados por quatro chefes. Tendo obtido a vitria depois de sangrentocombate, obrigaram os reis de Sodoma a pagar tributo. Estes lhes estiveramsujeitos durante doze anos. No dcimo terceiro ano, revoltaram-se. Os assrios,para se vingar, voltaram segunda vez, sob o comando de Marfede, de Arioque,de Codologomo e de Tidal, devastaram toda a Sria, subjugaram os
  • 37. descendentes dos gigantes e entraram nas terras de Sodoma, onde acamparamno vale que tinha o nome de Poos de Betume, por causa dos poos de betumenatural que ali existiam, mas que depois da destruio de Sodoma foi mudadonum lago que se chama Asfaltite, porque o betume dele sai continuamente aosborbotes. Travou-se grande combate, que foi muito renhido: vrios de Sodomaforam mortos e muitos foram feitos prisioneiros, dentre os quais estava L, queviera prestar auxlio. CAPTULO 10 ABRAO PERSEGUE OS ASSRIOS, AFUGENTA-OS, LIBERTA L E TODOS OS OUTROS PRISIONEIROS. O REI DE SODOMA E MELQUISEDEQUE, REI DE JERUSALM, PRESTAM-LHE GRANDES HONRAS. DEUS PROMETE-LHE QUE ELE TER UM FILHO COM SARA. NASCIMENTO DE ISMAEL, FILHO DE ABRAO E AGAR. CIRCUNCISO ORDENADA POR DEUS. 26. Gnesis 14. Abrao ficou to comovido com a derrota dos habitantesde Sodoma, que eram seus vizinhos e amigos, e com o cativeiro de L, seusobrinho, que resolveu ajud-los. Sem retardar um s momento, seguiu osassrios e alcanou-os no quinto dia, perto de D, uma das nascentes doJordo. Surpreendeu-os noite vencidos pelo vinho e pelo sono e matou grandeparte deles. Ps os restantes em fuga e perseguiu-os todo o dia seguinte atSoba de Damasco. Esse grande feito fez ver que a vitria no depende do grandenmero, mas da coragem dos combatentes, pois Abrao tinha com ele apenastrezentos e dezoito homens e trs de seus amigos quando derrotou aquelegrande exrcito. Os poucos assrios que restaram fugiram para o seu pascobertos de vergonha e de confuso. Assim, Abrao libertou L e todos osoutros prisioneiros e voltou plenamente vitorioso. 27. O rei de Sodoma veio at ele no lugar a que chamam Campo Real,onde o rei de Salm, que agora Jerusalm, o recebeu com grandesdemonstraes de estima e de amizade. Esse prncipe chamava-seMelquisedeque, isto , "rei justo". E ele era verdadeiramente justo, pois a suavirtude era tal que, por consentimento unnime, havia sido feito sacerdote doDeus Todo-poderoso. Ele no se contentou em receber penas a Abrao, mas
  • 38. tambm a todos os seus. Deu-lhes, no meio dos banquetes que realizou, oslouvores devidos sua coragem e virtude e prestou a Deus pblicas aes degraas por to gloriosa vitria. Abrao, por sua vez, ofereceu a Melquisedeque adcima parte dos despojos que tomara dos inimigos, e este aceitou, j o rei deSodoma, ao qual Abrao ofereceu tambm parte dos despojos, teve dificuldadeem receber a oferta, contentando-se com a parte de seus sditos. Mas Abrao oobrigou a receber tudo, reservando-se somente alguns vveres para os seushomens e uma parte dos despojos para os seus trs amigos, Escol, Aner eManre, que o haviam acompanhado. 28. Gnesis 15. Esse ato generoso de Abrao foi to agradvel aos olhosde Deus que Ele afirmou que no o deixaria sem recompensa, pelo que Abraorespondeu: "E como, Senhor, os vossos benefcios me poderiam dar alegria, poisque no deixarei a ningum depois de mim que deles possa gozar e possu-los?"Ele ainda no tinha filhos. Ento Deus prometeu que lhe daria um filho e que asua posteridade seria to grande que igualaria o nmero das estrelas. Ordenou-lhe em seguida que oferecesse um sacrifcio, e eis a ordem que ele observou:tomou uma novilha de trs anos, uma cabra e um carneiro da mesma idade,que cortou em pedaos, e uma rola e uma pomba, que ofereceu inteiras, sempartir. Antes de erguer o altar, quando as aves adejavam em torno das vtimas,para se alimentar de seu sangue, ele ouviu uma voz do cu vaticinando que osseus descendentes sofreriam durante quatrocentos anos grande perseguio noEgito, mas que triunfariam enfim sobre os seus inimigos, venceriam oscananeus e se tornariam senhores de seu pas. 29. Gnesis 16. Abrao morava naquele tempo num lugar chamadoCarvalho de Manre, muito prximo da cidade de Hebrom. Como vivia sempreaflito, por ver que sua mulher era estril, no deixava de rogar a Deus que lhedesse um filho. E Deus no somente confirmou a promessa que lhe fizera, comolhe garantiu ainda todas as outras coisas que lhe havia prometido quando elefora obrigado a deixar a Mesopotmia. 30. Sara, ento, deu a Abrao uma de suas escravas, de nome Agar,egpcia, a fim de que esta lhe desse um filho. Quando a escrava se sentiugrvida, desprezou a sua senhora e vangloriou-se de que os seus filhos seriamum dia os herdeiros de Abrao. Esse homem justo ficou horrorizado com aquela
  • 39. ingratido e deixou Sara vontade para castigar a escrava emo bementendesse. Agar, cheia de dor e de sofrimento, fugiu para o deserto e rogou aDeus que tivesse compaixo de sua misria. Estava ainda nesse estado quandoum anjo ordenou-lhe que voltasse sua senhora, asseverando-lhe que esta aperdoaria, contanto que Agar reconhecesse a sua falta e aceitasse o castigo quedevia receber como justa punio por sua ingratido e por seu orgulho.Acrescentou que, se em vez de obedecer a Deus, ela se afastasse mais, pereceriamiseravelmente. Todavia, se se submetesse de boa vontade, seria me de umfilho que um dia haveria de reinar naquela provncia. Ela obedeceu, pediuperdo sua senhora, e o obteve, e pouco tempo depois deu luz um filho, quefoi chamado Ismael, isto , "atendido", para mostrar que Deus atendera soraes de sua me. 31. Gnesis 17. Abrao tinha oitenta e seis anos quando nasceu Ismael enoventa e nove anos quando Deus lhe apareceu e disse que Sara teria um filho,o qual se chamaria Isaque, cuja posteridade seria muito grande e da qualnasceriam dois reis, que submeteriam pelas armas toda a terra de Cana,desde Sidom at o Egito. E, a fim de distinguir a sua raa de outras naes,mandou circunci-dar todas as crianas do sexo masculino, oito dias aps onascimento, de que darei ainda outra razo. E, sobre o que Abrao pediu aDeus, se Ismael viveria, Ele respondeu-lhe que viveria muito tempo e que a suaposteridade tambm seria muito grande. Abrao deu graas a Deus por essesfavores e logo fez-se circunci-dar com toda a sua famlia, tendo j Ismael aidade de treze anos. CAPTULO 11 UM ANJO PREDIZ QUE SARA TER UM FILHO. DOIS ANJOS VO A SODOMA. DEUS EXTERMINA A CIDADE. SOMENTE L SE SALVA COM AS SUAS DUAS FILHAS E SUA MULHER, QUE TRANSFORMADA EM ESTTUA DE SAL. NASCIMENTO DE MOABE E DEAMOM. DEUS IMPEDE QUE O REI ABIMELEQUE EXECUTE O SEU MAU INTENTO COM RELAO A SARA. NASCIMENTO DE ISAQUE. 32. Gnesis 78 e 7 9. Os povos de Sodoma, cheios de orgulho por sua
  • 40. abundncia e grandes riquezas, esqueceram-se dos benefcios que haviamrecebido de Deus e no foram menos mpios para com Ele do que ultrajosospara com os homens. Odiavam os estrangeiros, e chafurdaram-se em prazeresinominveis. Deus, irritado pelos seus crimes, resolveu castig-los: destruir asua cidade de tal modo que no restasse o menor vestgio dela, tornando o pasto estril que jamais pudesse produzir fruto ou planta alguma. 33. Um dia, quando Abrao estava sentado porta de sua casa, junto aocarvalho de Manre, trs anjos apresentaram-se a ele. Tomou-os porestrangeiros e, tendo-se levantado para saud-los, ofereceu-lhes a sua casa. Osanjos aceitaram a sua hospitalidade. Abrao mandou matar um vitelo, que lhesfoi servido assado com bolos de farinha. Puseram-se mesa debaixo docarvalho, e pareceu a Abrao que eles comiam. Perguntaram-lhe depois ondeestava a sua mulher. Ele respondeu-lhes que estava em casa e mandou logocham-la. Quando ela chegou, disseram-lhe que voltariam algum tempo depoise a encontrariam grvida. A essas palavras ela sorriu, porque, sendo idosa tendo j noventa anos, e seu marido, cem , julgava que fosse impossvel.Ento os anjos, no mais se ocultando, declararam que eram enviados de Deus,um para anunciar-lhes que teriam um filho e os outros dois para exterminarSodoma. Abrao, consternado pela runa daquele povo infeliz, rogou a Deus queno fizesse morrer os inocentes com os culpados. Deus respondeu-lhe que nohavia l inocentes e que, se ao menos dez fossem encontrados como tais, Eleperdoaria a todos os outros. Depois dessa resposta, Abrao no ousou maisfalar em favor deles. 34. Os anjos chegaram a Sodoma, e L, a exemplo de Abrao, tambm semostrou muito atencioso para com os estrangeiros, rogando-lhes que ficassemem sua casa. Os habitantes dessa detestvel cidade, vendo-os to belos e toapresentveis, pediram a L, em cuja casa eles haviam entrado, que osentregasse, para que se servissem deles. Esse homem justo censurou-os,rogando-lhes que tivessem mais compostura, que no lhes fizessem injriaalguma, ultrajando os estrangeiros que estavam hospedados em sua casa, eque no violassem em suas pessoas os direitos da hospitalidade. Acrescentouque, se essas razes no os persuadissem, ele preferia entregar-lhes as prpriasfilhas. Mas nem isso os convenceu. Deus contemplava com olhares de clera a
  • 41. ousadia daqueles celerados, e feriu-os com tal cegueira que no puderam achara sada da casa de L. Resolveu ento exterminar aquele povo abominvel.Ordenou a L que se retirasse com toda a sua famlia e avisasse queles aosquais as suas duas filhas, que ainda eram virgens, haviam sido prometidas emcasamento que tambm partissem. Mas eles zombaram do aviso, dizendo queera uma das habituais imaginaes de L. Deus ento lanou do cu os raios desua clera e de sua vingana contra essa cidade criminosa. Ela foiimediatamente reduzida a cinzas, com todos os seus habitantes. O mesmo fogodestruiu toda a regio vizinha, como j disse na minha histria da Guerra dosJudeus. 35. A mulher de L, que fugia com ele, contrariando a proibio divina,voltou-se para trs, a fim de ver a cidade e o terrvel incndio. Foi transformadanuma esttua de sal e assim castigada pela sua curiosidade. Falei em outrolugar dessa esttua, que ainda hoje pode ser vista. Assim, L retirou-se com as duas filhas a um recanto do pas, o nicopoupado, que at hoje tem o nome de Zoar, isto , "pequeno". Eles viveramalgum tempo com muita dificuldade, tanto porque estavam sozinhos quanto portrazerem consigo de casa muito pouco alimento. As duas filhas, julgando quetoda a raa dos homens havia perecido, acharam que lhes era permitido, paraconserv-la, enganar o pai. Dessa maneira, a mais velha teve dele um filho, aque chamou Moabe, que significa "de meu pai", e a mais jovem deu luz Ben-Ami, isto , "filho de minha raa". Do primeiro vieram os moabitas, que aindahoje so um povo poderoso. Os amonitas so descendentes do segundo, ealguns deles habitam a Sria de Ceiem. Eis de que maneira L se salvou doincndio de Sodoma. 36. Gnesis 20. Quanto a Abrao, ele retirou-se a Gerar, na Palestina. Omedo que tinha do rei Abimeleque levou-o a fingir uma segunda vez que Saraera sua irm. E esse prncipe no deixou de se enamorar dela. Mas Deus lheimpediu o perverso desgnio enviando-lhe uma grave enfermidade, e quandoestava abandonado pelos mdicos avisou-o em sonhos de que no fizesseultraje algum a Sara, porque era esposa daquele estrangeiro, e no sua irm. Abimeleque, encontrando-se um pouco melhor ao despertar, contou osonho aos que estavam junto dele e por conselho destes mandou chamar a
  • 42. Abrao. Disse-lhe que nada temesse por sua mulher, pois Deus se haviatornado protetor dela, e que tomava Abrao como testemunha, tanto quantoela, de que a devolvia pura s suas mos. Disse-lhe tambm que, se tivessesabido que era sua esposa, no lha teria tirado, mas julgara ser ela somentesua irm, e que no lhe faria injustia alguma. Suplicou-lhe ento que noguardasse ressentimento contra ele, mas, ao contrrio, rogasse a Deus que lhefosse favorvel. E, ademais, se desejasse habitar nos seus estados, receberiatoda sorte de atenes, ou, se pensasse em retirar-se, f-lo-ia acompanhar edar-lhe-ia todas as coisas que viera buscar em seu pas. Abrao respondeu-lhe que nada dissera contra a verdade ao cham-la deirm, pois ela era filha de um irmo seu, e que havia assim procedido apenaspor medo do perigo ao qual se julgava exposto. Estava muito aborrecido por tersido a causa da enfermidade do rei e de todo o corao desejava-lhe a sade. Eficaria com muito prazer em suas terras. Abimeleque, ante essa resposta, deu-lhe dinheiro e terras e fez aliana com ele, confirmando-a com juramento juntoaos poos ainda hoje denominados Berseba, isto , "poo do juramento". 37. Gnesis 21. Algum tempo depois, Abrao teve de sua mulher, Sara,segundo a promessa que Deus lhe havia feito, um filho ao qual chamou Isaque,isto , "riso", porque Sara havia sorrido quando, sendo j bastante idosa, o anjolhe anunciou que teria um filho. Ele foi circuncidado ao oitavo dia, segundo ocostume que ainda hoje se observa entre os judeus. E, enquanto eles fazem acircunci-so ao oitavo dia do nascimento da criana, os rabes a realizam idade de treze anos, porque Ismael, do qual so originrios e de quem irei falarem seguida, foi circuncidado com essa idade. CAPTULO 12 SARA OBRIGA ABRAO A AFASTAR AGAR E ISMAEL DE SEU PRPRIO FILHO. UM ANJO CONSOLA AGAR. POSTERIDADE DE ISMAEL. 38. Gnesis 22. Sara, de incio, amou Ismael como se fosse seu prpriofilho, porque o considerava sucessor de Abrao. Quando se viu me de Isaque,todavia, julgou que no era mais conveniente cri-los juntos, porque Ismael,sendo muito mais velho, poderia muito facilmente, aps a morte de Abrao,
  • 43. tornar-se senhor. Assim, ela persuadiu Abrao a afast-lo, juntamente com suame. Ele, em princpio, teve dificuldades em faz-lo, porque lhe pareciadesumano expulsar de casa uma criana e uma mulher aos quais tudo faltava.No entanto Deus lhe deu a conhecer que ele devia dar essa satisfao a Sara.Como Ismael no era ainda capaz de se governar sozinho, ele o entregou me,a quem disse que se fosse embora, dando-lhe apenas alguns pes e um odrecheio de gua. Depois de se haver esgotado o po e o pouco de gua, Ismael sentiu talsede que estava a ponto de morrer, e Agar, no podendo suportar a pena de v-lo morrer diante de seus prprios olhos, colocou-o ao p de um pinheiro eafastou-se. Um anjo apareceu e mostrou-lhe uma fonte que estava prxima,recomen-dando-lhe que tivesse muito cuidado com o filho e asseverando-lheque, se cumprisse bem esse dever, ela seria eliz. Uma consolao toinesperada f-la retomar a coragem: continuou a andar e encontrou algunspastores, que a ajudaram em to grave necessidade. Quando Ismael chegou idade de se casar, Agar deu-lhe por esposa umamulher egpcia, porque ela tambm havia nascido no Egito. Ele teve doze filhos:Nebaiote, Quedar, Abdeel, Mibso, Misma, Duma, Massa, Hadade, Tema, Jetur,Nafis e Quedem. Eles ocuparam toda a regio que est entre o Eufrates e omar Vermelho e a chamaram Nabatia. Os rabes originaram-se deles, e osseus descendentes conservaram o nome de nabateenses por causa do seu valore da fama de Abrao. CAPTULO 13 ABRAO, PARA OBEDECER ORDEM DE DEUS, OFERECE-LHE O FILHO ISAQUE EMSACRIFCIO. DEUS, PARA RECOMPENSAR-LHE A FIDELIDADE, CONFIRMA-LHE TODAS AS PROMESSAS. 39. Gnesis 22. Nada se poderia acrescentar ternura que Abrao tinhapara com Isaque, tanto porque era o nico filho quanto porque lhe foraconcedido por Deus em sua velhice. E Isaque, por sua vez, praticava com tantoentusiasmo toda espcie de virtudes, servia a Deus com tanta fidelidade eprestava a seu pai tantos servios que dava a Abrao todos os dias novos
  • 44. motivos para am-lo. Assim, Abrao s pensava em morrer, e seu nico desejoera deixar aquele filho como seu sucessor. Deus concedeu o que Abraodesejava, mas antes quis experimentar a sua fidelidade. Apareceu-lhe e, depoisde haver-lhe lembrado as graas particulares com que sempre o favorecera, asvitrias que o haviam feito conquistar os inimigos e a prosperidade com que obrindara, ordenou-lhe que lhe sacrificasse o filho Isaque sobre o monte Mori eassim testemunhasse, por aquele ato de obedincia, que ele preferia a vontadedivina ao que ele tinha de mais caro no mundo. Estando Abrao persuadido de que nenhuma considerao poderiadispens-lo de obedecer a Deus, a quem todas as criaturas so devedoras daprpria existncia, nada disse sua esposa nem a qualquer outro de seusfamiliares sobre a ordem que havia recebido de Deus ou acerca da resoluo deexecut-la, com medo que eles se esforassem para dissuadi-lo de seupropsito. Disse somente a Isaque que o seguisse, acompanhado por doiscriados, e mandou colocar sobre um jumento todas as coisas de quenecessitava para o sacrifcio. Aps haver caminhado durante dois dias,avistaram o monte que Deus lhe havia indicado. Deixou ento os dois criadosno sop do monte e subiu-o somente com Isaque (no cimo desse monte o reiDavi, mais tarde, fez construir um Templo). Levou para l tudo o queprecisavam, exceto a vtima, para o sacrifcio. Isaque tinha ento vinte e cincoanos. Ele preparou o altar, mas, no vendo vtima alguma, perguntou ao paiquem ele queria sacrificar. Abrao respondeu-lhe que Deus, que pode dar aoshomens todas as coisas que lhes faltam e tirar-lhes as que j possuem, dar-lhes-ia uma vtima, se se dignasse aceitar o sacrifcio deles. Depois de haver colocado a lenha sobre o altar, Abrao falou a Isaque:"Meu filho, eu vos pedi a Deus com muita insistncia e muitas oraes. Nohouve cuidado que eu no tivesse tido de vs, desde que viestes ao mundo, e euconsideraria como realizados todos os meus votos se vos visse chegar a umaidade muito avanada e deixar-vos, ao morrer, como herdeiro de tudo o quepossuo. Mas, como Deus, depois de vos ter dado a mim, quer agora que eu vosperca, consenti generosamente em oferecer-vos a Ele em sacrifcio. Prestemos-Ihe, meu filho, esse ato de obedincia e essa honra como testemunho de nossagratido pelos favores que Ele nos fez na paz e pela assistncia que nos deu na
  • 45. guerra. Como nascestes para morrer, que fim vos pode ser mais glorioso do queser oferecido em sacrifcio por vosso prprio pai ao soberano Senhor douniverso, que, em vez de terminar a vossa vida por uma doena, numa cama,ou por uma ferida na guerra, ou por algum outro acidente, aos quais os ho-mens esto sujeitos, vos julga digno de entregar-lhe a alma no meio de oraese sacrifcios, de modo a ficar para sempre unida a Ele? Consolareis assim aminha velhice, dando-me a assistncia de Deus em lugar da que eu devia rece-ber de vs, depois de vos ter educado com tanta diligncia". Isaque, filho digno de to admirvel pai, escutou essas palavras nosomente sem se admirar, mas at com alegria, e respondeu-lhe que ele teriasido indigno de nascer se se recusasse a obedecer vontade de seu pai,principalmente quando ela estava de acordo com a de Deus. Assim dizendo,colocou-se ele mesmo sobre o altar, para ser imolado. Esse grande sacrifcio ter-se-ia realizado se Deus mesmo no o tivesse impedido. Ele chamou Abrao pelonome e proibiu-o de matar o filho, dizendo-lhe que havia ordenado o sacrifciono para tir-lo depois de o haver concedido ou porque sentia prazer em verderramar sangue humano, mas somente para lhe experimentar a obedincia.Agora, vendo com quanto zelo e fidelidade fora obedecido, aceitava o sacrifcio egarantia-lhe, como recompensa, que jamais deixaria de assistir a ele e a toda asua descendncia. Quanto ao filho que lhe fora oferecido e que iria restituir,viveria feliz e por muito tempo, e a sua posteridade seria ilustre por uma longasrie de homens valentes e virtuosos, que submeteriam pelas armas todo o pasde Cana. A fama deles tomar-se-ia imortal. As suas riquezas seriam tograndes e a sua felicidade to extraordinria que eles seriam invejados portodas as outras naes. Concludo esse orculo, Deus fez aparecer um carneiro, para ser oferecidoem sacrifcio. Aquele pai fiel e seu filho sensato e feliz abraaram-se, no auge daalegria, pela grandeza das promessas, terminaram o sacrifcio e voltaram paraencontrar Sara. Deus, fazendo prosperar todos os seus desgnios, cumulou defelicidade todo o restante da vida de Abrao. CAPTULO 14 MORTE DE SARA, MULHER DE ABRAO.
  • 46. 40. Gnesis 23. Algum tempo depois, Sara morreu, com a idade de centoe vinte e sete anos, e foi enterrada em Hebrom, onde os cananeus se oferecerampara lhe dar sepultura. Abrao, porm, preferiu adquirir para esse fim umcampo que