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História e análise da Política Externa Brasileira 4. A POLÍTICA EXTERNA NOS PRIMEIROS ANOS DA REPÚBLICA Gilberto Maringoni UFABC – Outubro – dezembro de 2014

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História e análise da Política Externa Brasileira

4. A POLÍTICA EXTERNA NOS PRIMEIROS ANOS DA REPÚBLICA

Gilberto Maringoni

UFABC – Outubro – dezembro de 2014

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• Política externa na República• O traço fundamental da diplomacia operada a

partir dos anos iniciais da República (1889) foi o de estreitar relações com os Estados Unidos.

• Isso levava, paulatinamente, à colocação dos laços com a Inglaterra em segundo plano.

• O processo era a expressão regional da decadência da Grã Bretanha como potência hegemônica mundial e da ascensão dos EUA não apenas à proeminência continental, mas do início de sua arrancada como centro do sistema global.

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• Primeiros Presidentes da República

1.Deodoro da Fonseca (1889-1891)2.Floriano Peixoto (1891-1894)3.Prudente de Morais (1894-1898)4.Campos Sales (1898-1902)

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• A expressão prática disso se deu na Primeira Conferência Internacional Americana e na intervenção estrangeira durante a Revolta da Armada (1893).

• Antes, é importante marcar como se deu a transição entre a monarquia e a República, no Brasil.

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• Anos de agitação e incerteza• A derrubada da monarquia e a instauração da

República, através de um golpe militar, estava longe de garantir estabilidade política.

• A crise que resultou no fim do Império – na qual a luta pela Abolição estava inserida – adentrou os primeiros anos do novo regime e trouxe em seu bojo uma intensa disputa de rumos para o país, enfrentada inicialmente através do uso da força.

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• As resistências se materializavam, na sua maior parte, em conflitos sobre a partilha de poder em ambientes localizados, seja nas diversas regiões, seja nas forças armadas.

• Além de ter se mostrado como uma necessidade histórica, fruto da evolução da economia capitalista, das relações de produção e da inserção do Brasil no mercado internacional, o fim da monarquia marcou a entrada definitiva das forças armadas na cena política.

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• As raízes mais profundas da República estão na dessintonia entre as necessidades do setor mais dinâmico da economia nacional, os cafeicultores paulistas, com “o emperramento da máquina centralizadora do Império, que lhe trava a marcha dos interesses e o acesso ao poder político” .

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• Café• Por ser o principal fornecedor mundial de café, as

demandas e as necessidades do mercado internacional irrigavam e organizavam as bases da produção interna no Brasil, especialmente após 1870.

• A crescente complexidade dos negócios do setor criara uma teia de vínculos entre o setor produtivo rural, os agentes de comércio, o sistema de transportes, as casas financiadoras de crédito, o processo de estocagem, a seleção de grãos e o ensacamento, e o sistema portuário. As cidades maiores deixam paulatinamente de ser meras organizadoras da vida rural, para tornarem-se o centro efetivo dos negócios.

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• Relação rígida• O Estado imperial, baseado numa relação rígida

com as Províncias – a nomeação de seus presidentes muitas vezes não levava em conta aspirações das oligarquias locais – e numa burocracia lenta e desaparelhada, tornava-se um obstáculo ao desenvolvimento.

• Sua declinante capacidade de representar e articular politicamente a ordem produtiva que se impunha resultava em crises freqüentes e numa gradativa perda de legitimidade de setores da oligarquia agrária.

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• Quem proclama?• A proclamação não se dá, no entanto, pelas mãos dos

principais atores econômicos, os cafeicultores paulistas, que há anos buscavam a mudança de regime.

• Ela acontece pela confluência de interesses estruturais desses setores com descontentamentos circunstanciais no interior da própria burocracia imperial. Deodoro da Fonseca (1827-1892), marechal monarquista , é um dos que reagem aos problemas no meio castrense – que ficariam conhecidos como a Questão Militar – e à crise do gabinete ministerial do Visconde de Ouro Preto (7 de junho a 15 de novembro de 1889), o último da monarquia. Assim, quem proclama a República não são as frações de classe mais profundamente interessadas nela, mas um setor que tinha atritos pontuais com o regime.

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• Instabilidades• Essa contradição gera uma década de

instabilidade e de intensa luta política, até a oligarquia cafeeira assumir a plena hegemonia do processo, a partir de 1898, com a chegada do paulista Campos Salles ao palácio.

• Ao invés de fechar um ciclo de disputas, o 15 de novembro abre um novo período de confrontos, choques, conspirações, rebeliões e debates, mostrando que a unanimidade acerca da nova situação estava longe de acontecer.

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• As divergências entre as várias frações das classes dominantes, envolvidas em atritos regionais e na divisão do novo poder instituído são resolvidos na base da prepotência, da violência e da freqüente suspensão das garantias constitucionais.

• O mesmo se dá com as dissensões no meio militar e com insatisfações sociais acumuladas por décadas. Os exemplos do comportamento governamental não tardariam a aparecer.

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• Congresso dissolvido• Enfraquecimento gradaO governo

provisório, instalado até que acontecesse a Constituinte de 1891, começa marcado por uma aguda instabilidade política. Em novembro deste ano, Deodoro procura dissolver o Congresso, num golpe logo abortado. Edgar Carone assim registra a situação:

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• Enfraquecimento gradativo do governo – oposição militar e do Congresso – e ausência de bases sólidas nos governos de São Paulo e Minas, sem iniciativas felizes para contrabalançar o avanço dos opositores federais e estaduais – são fatores que conduzem o governo a crises impossíveis de serem sanadas mediante as soluções de desespero apresentadas para evitá-las.

• O radicalismo das partes levará o país à beira de uma guerra civil, que será ainda evitada, mas que se desencadeará posteriormente durante o governo de Floriano Peixoto.

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• Floriano• O presidente renuncia e Floriano Peixoto

(1839-1895), o vice, assume o poder. O ano seguinte é marcado por duas rebeliões, que colocavam diretamente em questão o regime.

• No Rio Grande do Sul, uma guerra civil – a Revolução Federalista – inicia-se em 1893 e prolonga-se por mais de dois anos. E no Rio de Janeiro, a Armada rebela-se contra o governo. Em setembro é decretado o estado de sítio, com suspensão das garantias constitucionais para o Distrito Federal e Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

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• O SEGUNDO EVENTO ERA A Revolta da Armada, da qual falaremos adiante.

• Ditadura• Floriano colocara em prática, em meio à

agitação reinante, uma verdadeira ditadura. A República, em seus primeiros anos, trouxe ao país o contrário do que pregavam muitos republicanos durante o Império, uma redução das liberdades civis.

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• A. Primeira Conferência Internacional Americana• A Primeira Conferência

Internacional Americana, ocorrida em Washington entre os dias 2 de outubro de 1889 e 19 de abril de 1890, marcou o início oficial do pan-americanismo.

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• O Brasil apresenta uma situação curiosa. Começa as negociações como império e termina como república.

• Convocada pelos Estados Unidos depois de quase uma década de negociações diplomáticas e debates internos, a Conferência Pan-Americana resultava de um projeto do secretário de Estado norte-americano James G. Blaine (1830-1893), considerado o principal mentor do Pan-americanismo.

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• Para os Estados Unidos, o movimento deveria incorporar vários fatores, como localização geográfica, interesses econômicos e aspirações nacionais, enquanto a perspectiva latino-americana, de um modo geral, configurava o pan-americanismo como um dos principais pilares da política externa, além de instrumento de defesa da soberania e da igualdade jurídica dos Estados.

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• Doutrina Monroe• A Conferência em Washington marcou a

política exterior do Brasil: significava a adesão do país à Doutrina Monroe e à crescente esfera de poder norte-americana no continente.

• Considerando que nenhuma das ações da diplomacia brasileira foi desacompanhada de diretrizes do governo, bastante criticado pela crescente militarização e violência na contenção dos diversos conflitos que iam surgindo, as dificuldades de organização no plano interno ecoaram de uma forma ou de outra no exterior.

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• A partir do exterior, notadamente o paradigma norte-americano, adotavam-se referências e buscava-se respaldo para as ações internas, validando o par republicanização/americanização.

• Na prática, dois eventos traduziram o referido no parágrafo anterior: a assinatura do Tratado de Reciprocidade em 1891 e a intervenção estrangeira na Revolta da Armada entre 1893 e 1894. Nas duas situações, o papel do diplomata Salvador de Mendonça foi determinante.

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• Salvador de Mendonça conseguiu retomar o acordo proposto por Cleveland na década anterior, conseguindo a negociação de um acordo comercial que garantiria exclusividade à exportação do açúcar brasileiro (entre outros produtos de origem agrícola) sem o pagamento de tarifas aduaneiras.

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• B. Revolta da Armada• Começou a delinear-se em Março de 1892,

quando treze generais enviaram uma Carta-Manifesto ao Presidente da República, marechal Floriano Peixoto. Este documento exigia a convocação de novas eleições presidenciais para que, cumprindo-se o dispositivo constitucional, se estabelecesse a tranquilidade interna na nação.

• Floriano reprimiu duramente o movimento, determinando a prisão de seus líderes.

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• A armada• Em 6 de setembro de 1893, um grupo de altos

oficiais da Marinha exigiu a imediata convocação dos eleitores para a escolha dos governantes. Entre os revoltosos estavam os almirantes Saldanha da Gama, Eduardo Wandenkolk e Custódio de Melo, ex-ministro da Marinha e candidato declarado à sucessão de Floriano.

• Sua adesão refletia o descontentamento da Armada com o pequeno prestígio político da Marinha em comparação ao do Exército. No movimento encontravam-se também jovens oficiais e muitos monarquistas.

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• Apoios• A revolta teve pouco apoio político e popular na

cidade do Rio de Janeiro, onde a partir de 13 de setembro diversas unidades encouraçadas trocaram tiros com a artilharia dos fortes em poder do Exército.

• O presidente da República, apoiado pelo Exército brasileiro e pelo Partido Republicano Paulista conteve o movimento em março de 1894, para o que fez adquirir, às pressas, no exterior, por meio do empresário e banqueiro estadunidense Charles Ranlett Flint, alguns navios de guerra, a chamada "frota de papel".

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• A intervenção externa• No momento em que rebentou o movimento

armado, os comandantes das forças navais de potências estrangeiras – Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Portugal – ancoradas na baía de Guanabara, em nome dos “interesses superiores da humanidade”, intermediaram, em conjunto, um convênio, firmado de Outrobro de 1893, entre o governo Floriano e a Armada rebelada, pelo qual se estabeleceram as regras de combate.

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• Se declarou o Rio de Janeiro cidade aberta, com o objetivo de resguardar alvos civis e o funcionamento do porto.

• Antes do convênio, as autoridades navais, autorizadas pelos respectivos governos, comunicaram ao líder da revolta, Custódio de Melo, que resistiriam pela força a qualquer ataque contra a cidade.

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• A intervenção, apesar de ferir a soberania nacional, foi bem aceita pelas autoridades legais, uma vez que, afastada a possibilidade de bloqueio e resguardada a capital de bombardeio, retirava o principal trunfo dos revoltoso.s

• Floriano aceitou a autoridade do corpo diplomático e dos comandantes navais estrangeiros no referente à execução do acordo que fixou normas para o desenvolvimento das ações e para o movimento de navios na baía de Guanabara.

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• Essa frota, adquirida nos Estados Unidos, foi também denominada pelos governistas como "Esquadra Flint" e viajou do porto de Nova York até a baía de Guanabara tripulada por mercenários estadunidenses.

• De acordo com Joaquim Nabuco, as tropas contratadas para auxiliar o governo federal eram "a pior escória de filibusteiros americanos".

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• A ação do governo dos Estados Unidos em prol do governo de Floriano Peixoto possuía uma dupla face, complementar: era política, pois se justificava pela consolidação da República brasileira, e militar, por usar de meio bélico na dissipação do movimento sedicioso doméstico brasileiro.

• O processo de americanização/republicanização chegava ao seu ápice, tendo na diplomacia o principal instrumento de sua condução.

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• Rearranjo de forças• A chegada da República marca um rearranjo de forças

políticas internas com vistas a uma nova inserção do país na economia internacional e à possibilidade de se atraírem vultosas somas de capital para áreas de infra-estrutura voltadas para a exportação de produtos primários.

• O Brasil, assim como outros países da América Latina, coloca-se como fornecedor seguro e constante de matérias-primas para os beneficiários mais diretos da segunda Revolução Industrial, além de comprador de produtos industrializados e tomador de empréstimos.

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• A carência de investimentos encontra um sistema monetário rígido e inflexível para as necessidades expansionistas da economia. São necessárias grandes inversões de capital destinadas ao financiamento da produção cafeeira, da política imigrantista e para pagar o trabalhador livre.

• Visando atender demandas do regime de trabalho assalariado e de um setor importante da base social do novo regime com créditos maiores – grandes senhores de terras em todo o país -, essas iniciativas provocam violenta pressão inflacionária.

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• Ao mesmo tempo, ocorre uma contração da receita do Tesouro Nacional, por desorganização do regime fiscal. A situação chega a um ponto crítico, em fins de 1891. A inelasticidade dos meios de pagamento do período imperial não preparara a economia nacional para uma dinâmica baseada no trabalho assalariado .

• Emissões sem lastro, negócios em profusão e confusão jurídica. Está montado o terreno para que os primeiros anos do novo regime aconteçam sob o signo da especulação desenfreada.

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• Re-proclamação• Sob vários aspectos, a consolidação e estabilização do

novo regime se dá a partir de 1898, com a posse do paulista Manoel Ferraz de Campos Salles (1841-1913) na presidência. Acabam-se as agitações e hesitações. A República – elitista, oligárquica e ajustada à inserção do Brasil na economia mundial – viera para ficar.

• Campos Salles ataca rapidamente em duas frentes, para dissolver rebeliões.

• No plano político, celebra um grande pacto com as diversas oligarquias regionais, denominado política dos governadores, visando obter sólida base congressual.

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• A Constituição de 1891 estabelecia que os parlamentares eleitos deveriam ter seu mandato ratificado, no início da legislatura, por uma comissão da Câmara e do Senado, mecanismo chamado de verificação de poderes.

• O presidente pressiona pela mudança do regimento interno das duas casas, garantindo o controle governista da comissão. Assim, com golpes regimentais, impugnavam-se os adversários das administrações estaduais, invertendo resultados eleitorais e conformando ampla maioria situacionista.

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• Aperto fiscal• Na economia, o governo dá curso ao brutal

aperto fiscal, já comentado anteriormente, que retira dinheiro de circulação, corta gastos públicos, e leva o país a uma recessão sem precedentes. Ao final de seu governo, as contas públicas voltam a ter solvência, ao mesmo tempo que a concentração de capital se acentua.

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• Poder unificado• O traço político fundamental do governo Campos

Salles é a reunificação das diversas frações das classes dominantes – as oligarquias agrárias regionais, os setores exportador, do grande comércio e financeiro e a nascente burguesia industrial – num único projeto de desenvolvimento, que moderniza a economia voltada para a exportação de produtos primários e a torna atraente para o capital estrangeiro.

• Seu governo reconfigura o Estado e poderia ser sintetizado como o da re-proclamação da República.