História em movimento vol. 01

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história • ENsiNO MÉDiO AO ESTADO MODERNO DOS PRIMEIROS HUMANOS rEiNalDO sEriacOpi GislaNE azEvEDO em MOVIMENTO História • MaNual DO prOfEssOr

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1. histria ENSINO MDIO AO ESTADO MODERNO DOS PRIMEIROS HUMANOS Reinaldo Seriacopi Gislane azevedo em MoVIMENTOHistria Manual do professor 2. histria ENsiNO MDiO Gislane azevedo Mestre em Histria Social pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Professora universitria, pesquisadora e ex-professora de Histria dos ensinos Fundamental e Mdio nas redes privada e pblica. Coautora da coleo Telris (Editora tica), para alunos do Ensino Fundamental II. Reinaldo seRiaCoPi Bacharel em Lngua Portuguesa pela Faculdade de Filosoa, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo e em Jornalismo pelo Instituto Metodista de Ensino Superior (IMS-SP). Editor especializado na rea de Histria. Coautor da coleo Telris (Editora tica), para alunos do Ensino Fundamental II. 2- edio So Paulo, 2013 AO ESTADO MODERNO DOS PRIMEIROS HUMANOS rEiNalDO sEriacOpi GislaNE azEvEDO em 1MOVIMENTOHistria MaNual DO prOfEssOr 3. Diretoria editorial: Anglica Pizzutto Pozzani Gerncia de produo editorial: Hlia de Jesus Gonsaga Editoria de Cincias Humanas e suas Tecnologias: Heloisa Pimentel e Deborah DAlmeida Leanza Editoras: Deborah DAlmeida Leanza; Priscila DAlmeida Manfrinati e Mirna Acras Abed M. Imperatore (estag.) Superviso de arte e produo: Srgio Yutaka Editor de arte: Andr Gomes Vitale Diagramador: Walmir S. Santos Superviso de criao: Didier Moraes Design grfico: Homem de Melo & Troia Design (capa) Tyago Bonifcio da Silva (miolo) Reviso: Rosngela Muricy (coord.), Sandra Regina de Souza (prep.), Ctia de Almeida e Gabriela Macedo de Andrade (estag.) Superviso de iconografia: Slvio Kligin Pesquisador iconogrfico: Caio Mazzilli e Josiane Laurentino Cartografia: Alex Argozino, Allmaps, Juliana Medeiros de Albuquerque, Maps World e Mrcio Santos de Souza Tratamento de imagem: Cesar Wolf e Fernanda Crevin Foto da capa: Album/Oronoz/Latinstock/ Museu Arqueolgico Nacional, Npoles, Itlia. Ilustraes: Tempo & Arte Direitos desta edio cedidos Editora tica S.A. Av. Otaviano Alves de Lima, 4400 6o andar e andar intermedirio ala A Freguesia do CEP 02909-900 So Paulo SP Tel.: 4003-3061 www.atica.com.br/[email protected] Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Azevedo, Gislane Campos Histria em movimento / Gislane Campos Azevedo, Reinaldo Seriacopi. 2. ed. So Paulo:tica, 2013. Contedo: v. 1. Dos primeiros humanos ao Estado moderno v. 2. O mundo moderno e a sociedade contempornea v. 3. Do sculo XIX aos dias de hoje. Bibliografia. 1. Histria (Ensino mdio) I. Seriacopi, Reinaldo. II.Ttulo. 1302432CDD907 ndice para catlogo sistemtico: 1. Histria : Ensino mdio 907 2013 ISBN 978 8508 16305-2 (AL) ISBN 978 8508 16306-9 (PR) Cdigo da obra CL 712773 Uma publicao 2 Verso digital Diretoria de tecnologia de educao: Ana Teresa Ralston Gerncia de desenvolvimento digital: Mrio Matsukura Gerncia de inovao: Guilherme Molina Coordenadores de tecnologia de educao: Daniella Barreto e Luiz Fernando Caprioli Pedroso Editores de tecnologia de educao: Cristiane Buranello e Juliano Reginato Editora de contedo digital: Deborah DAlmeida Leanza Editores assistentes de tecnologia de educao: Aline Oliveira Bagdanavicius, Drielly Galvo Sales da Silva, Jos Victor de Abreu e Michelle Yara Urcci Gonalves Assistentes de produo de tecnologia de educao: Alexandre Marques, Gabriel Kujawski Japiassu, Joo Daniel Martins Bueno, Paula Pelisson Petri, Rodrigo Ferreira Silva e Saulo Andr Moura Ladeira Desenvolvimento dos objetos digitais: Agncia GR8, Atmica Studio, Cricket Design, Daccord e Mdias Educativas Desenvolvimento do livro digital: Digital Pages HMOV_v1_PNLD2015_002_digital.indd 2 16/07/2013 09:12 4. Digo adeus iluso mas no ao mundo. Mas no vida, meu reduto e meu reino. Do salrio injusto, da punio injusta, da humilhao, da tortura, do terror, retiramos algo e com ele construmos um artefato um poema uma bandeira Ferreira Gullar Observe ao seu redor: praticamente tudo o que est nossa volta e que utilizamos em nossa es- cola, casa ou trabalho foi construdo por seres humanos. Pense tambm no sistema poltico que rege nossa sociedade, nas leis que regulam nossas relaes e em tudo aquilo que consideramos justo ou injusto, certo ou errado: todos esses princpios e valores tambm foram estabelecidos por pessoas ao longo do tempo. Estudar Histria no apenas conhecer e entender os caminhos trilhados pelos seres hu- manos no passado. Graas a esse estudo, podemos fazer uma leitura crtica de nosso presente e compreender como e por que nossa sociedade encontra-se hoje constituda da maneira que a conhecemos e no de outra forma. Com base nessa viso, procuramos elaborar um livro que, ao tratar de assuntos do passado, tivesse como ponto de partida o presente. Ao adotar essa proposta, voc ver como a Histria est intimamente relacionada com aspectos centrais do mundo contemporneo e de nossa vida, constituindo um assunto extremamente interessante e instigante. O texto central do livro complementado por boxes e sees. Alguns contm escritos de autores clssicos; outros, abordagens historiogrcas recentes. Na seo No mundo das letras, aprofundamos o dilogo entre Literatura e Histria. Na seo Eu tambm posso participar dis- cutimos, com base em contextos histricos especcos, quanto os atos de cada um de ns pode interferir no destino da humanidade. Uma terceira seo, intitulada Olho vivo e voltada para o trabalho com imagens, oferece uma ampla leitura das informaes contidas em pinturas, escul- turas e outros materiais iconogrcos. Na seo Patrimnio e diversidade, entramos em contato com os aspectos histricos e culturais de cada um dos estados brasileiros. Todos os volumes desta coleo esto permeados por imagens, mapas, documentos e ativi- dades reexivas que procuram enfatizar a permanente relao entre passado e presente. Acreditamos que dessa maneira estamos lhe oferecendo instrumentos para interpretar e anali- sar criticamente a realidade de nosso mundo. Voc ver que a Histria exerce um papel privilegiado no processo de consolidao da cidadania e na construo de um mundo mais solidrio, fraterno e tolerante. Os autores 3 Apresentao 3 HMOV_v1_PNLD2015_003_Iniciais.indd 3 3/6/13 10:38 AM 5. 161 A cavalhada um folguedo de origem crist bastante popular no Brasil. Entre as mais tradicionais esto a da cidade de Pirenpolis, em Gois, e a de So Lus do Paraitinga, em So Paulo. Nesse folguedo, dois grupos de cavaleiros armados de lanas e espadas simulam um combate. Os cavaleiros de azul representam os cristos e os de vermelho, os muulmanos, tambm chamados de mouros. O enredo da cavalhada baseia-se nas histrias e lendas em torno da figura do rei cristo Carlos Magno. No sculo IX, ele controlava um imprio que ocupava boa parte da Europa ocidental: o Imprio Carolngio. O Imprio Carolngio se formou em uma poca em que muitos europeus se sentiam Mascarados no dia da abertura das Cavalhadas de Pirenpolis, Gois. Os mascarados representam o povo e saem s ruas com roupas coloridas. A encenao da luta de cristos e mouros dura trs dias. Foto de maio de 2012. Gianni Dagli Orti/Corbis/Latinstock Os primeiros reinos medievais Captulo 21 Objetivos do captulo n Explicar a formao dos reinos germnicos na Europa aps as invases. n Entender o fortalecimento da Igreja catlica. n Abordar as origens e a organizao do Imprio Carolngio. n Conhecer o processo de integrao de tradies germnicas e romanas que definiu algumas caractersticas das sociedades feudais. ameaados pelos muulmanos. De fato, como vimos no captulo 18, desde 711 os muulmanos eram senhores no s do norte da frica, mas tambm da pennsula Ibrica. Neste captulo estudaremos os reinos surgidos na Europa aps a queda do Imprio Romano do Ocidente e como o Reino Franco se transformou no Imprio Carolngio. ThomazVitaNeto/PulsarImagens 34 35 A urbanizao 2 COMEO DE CONVERSA 1. A vida nas cidades proporciona espaos sociais e momentos de participao coletiva bastante diversificados. De que maneira voc participa desses espaos sociais da sua cidade? Quais so os outros moradores da cidade que voc encontra? Que atividades realizam? 2. Na sua opinio, quais so as cinco maiores qualidades da sua cidade? E os cinco grandes problemas? Aponte possveis solues para eles. Populao* 26,615 15,880 10,690 9,844 9,614 8,926 8,745 8,558 7,888 7,623 19,040 19,028 18,978 18,845 15,926 14,987 14,787 13,485 12,795 26,385 22,498 22,015 21,428 21,009 20,628 20,560 19,412 19,095 (* em milhes de habitantes) CIDADES MAIS POPULOSAS Cidade Tquio Nova York Cidade do Mxico Osaka-Kobe So Paulo Los Angeles Buenos Aires Paris Calcut Moscou Posio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 10 11 4 5 8 9 5 7 66 3 2 Pas Japo EUA Mxico Japo Brasil EUA Argentina Frana ndia Fed. Russa 1975 Cidade Tquio Nova York Cidade do Mxico Mumbai So Paulo Nova Dlhi Xangai Calcut Daca Buenos Aires Posio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 10 1 4 10 5 8 9 1 7 44 8 9 63 2 10 1 2 5 8 4 1 9 10 2 1010 2 8 4 36 7 Pas Japo EUA Mxico ndia Brasil ndia China ndia Bangladesh Argentina 2007 Cidade Tquio Mumbai Nova Dlhi Daca So Paulo Cidade do Mxico Nova York Calcut Xangai Karachi Posio 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Pas Japo ndia ndia Bangladesh Brasil Mxico EUA ndia China Paquisto 2025 35,676 36,400 PeterParks/AgnciaFrance-Presse Vista de Xangai na extenso do rio Huangpu. Foto de janeiro de 2011. Vivemos em um mundo cada vez mais urbanizado. Hoje, mais da metade dos 7,1 bilhes de habitantes do planeta vive em cida- des, algo bem diferente de meio sculo atrs, quando somente um tero da populao do mundo era urbana. Em 1950, apenas 86 ci- dades tinham mais de 1 milho de habitantes. Hoje so quatrocentas e, de acordo com as previses da Organizao das Naes Unidas (ONU), at 2025 sero quinhentas. A maioria encontra-se em pases pobres ou em desenvolvimento, como ndia, China, Bangladesh e Brasil (veja ta- bela na pgina ao lado sobre o movimento populacional das maiores cidades do mundo). A concentrao demogrfica nesses pases acentua suas desigual- dades econmicas e sociais. Isso se manifesta das mais diversas formas: falta de moradias e de saneamento bsico para a populao pobre, mar- ginalidade, desemprego, prostituio infantil, violncia, poluio, etc. Entretanto, os problemas das cidades tm soluo, e muitas delas podem estar em nossas mos. Quando escolhemos vereadores e pre- feitos honestos e competentes, por exemplo, colaboramos para a me- lhoria de nossa cidade. Alm disso, no nosso dia a dia podemos discutir os problemas da comunidade e apresentar propostas para sua soluo em associaes de bairro e outras or- ganizaes populares. Tambm importante preservar e cuidar do patrimnio pblico, evitando sujar ou da- nificar praas, escolas, bibliotecas, etc. Morar em cidades significa, antes de tudo, saber vi- ver em coletividades, ter respeito pelos outros e pelas re- gras de convivncia. Como veremos nesta unidade, foi graas preocupao com o coletivo que, h milhares de anos, surgiram as primeiras cidades e as primeiras gran- des civilizaes. AlexArgozino/Arquivodaeditora Fonte: UNITED NATIONS. Department of Economic and Social Affairs. Population Division (2008). World Urbanization Prospects. The 2007 Revision. Highlights, United Nations Working Paper n. ESA/P/WP/205. Unidade Fazendeiro de seda puxa um feixe de palha para ser utilizado como fertilizante de amoreiras em Nanxun, municpio de Huzhou, Provncia de Zhejiang, na China. Foto de junho de 2011. Tan Jin/Xinhua/Newsteam/Getty Images O crescente processo de urbanizao verificado atualmente no mundo pode ser analisado com base nos trs do- cumentos que voc ler a seguir. O primeiro consiste em um grfico com a evoluo das populaes rural e urbana a partir de 1950 e suas respectivas projees at 2030; o segundo um texto extrado de um relatrio de 2007 do Fundo de Populao das Naes Unidas (UNFPA); o terceiro, finalmente, a letra de um rap do grupo Faco Cen- tral. Leia os trs documentos e responda ao que se pede. DOCUMENTO2Relatrio O crescimento urbano e seus problemas compreensvel que os formuladores de polticas te- nham uma preocupao com a velocidade e a mag- nitude do crescimento urbano. Muitos prefeririam um crescimento mais lento ou nenhum crescimento; um crescimento mais lento garantiria, em tese, maior flexi- bilidade para se lidar com os problemas urbanos. Geral- mente, eles tentam retardar o crescimento restringin- do a migrao para as cidades, mas [...] isso raramente funciona. Alm disso, tais esforos refletem falta de compreenso sobre as razes demogrficas do cresci- mento urbano. A maioria das pessoas pensa que a mi- grao o fator dominante; na verdade, hoje a princi- pal causa geralmente o crescimento vegetativo. [...] Centenas de milhes de pessoas vivem em situao de pobreza nas cidades de naes de baixa e mdia renda, e esses nmeros certamente aumentaro nos prximos anos. [...] A pobreza, a mendicncia e a falta de moradia tm sido parte do cenrio urbano desde as primeiras cidades da Mesopotmia. Os pobres, em sua maioria, so relegados a reas socialmente segregadas, genericamente chamadas de favelas. [...] As favelas abrigam um de cada trs moradores das cidades, um bilho de pessoas, um sexto da populao do planeta. Mais de 90% dos moradores de favelas es- to hoje no mundo em desenvolvimento. [...] Embora a renda em dinheiro seja muito mais impor- tante nas cidades do que no campo, a pobreza de ren- da somente um aspecto da pobreza urbana. Outros so a m qualidade e superlotao das moradias, falta de servios pblicos e de infraestrutura, como gua en- canada, saneamento, coleta de lixo, drenagem e estra- das, assim como a posse insegura da terra. [...] Os riscos sade advm da falta de saneamen- to, de gua potvel e de moradia, dos ambientes de trabalho superlotados e mal ventilados, e da polui- o industrial e do ar. Uma dieta inadequada reduz a resistncia dos moradores de favelas a doenas, espe- cialmente por viverem na presena constante de mi- crorganismos patognicos. [...] DOCUMENTO1Grfico Fonte: UNFPA. 1950 71 29 67,2 32,8 64,1 Populao rural Populao urbana Populao rural x Populao urbana Evoluo (1950-2030) 35,9 60,9 39,1 57 43 53,3 46,7 50 52,9 57,5 59,9 40,142,5 47,1 1960 1970 1980 1990 2000 2007 2015 2025 2030 Fechando a unidade A urbanizao 76 DOCUMENTO3Letrademsica O que os olhos veem O retrato da favela tem s uma imagem, mas cada olho tem sua interpretao pra essa imagem. Meus olhos veem quando eu olho pra favela almas tristes, sonhos frustrados, esperanas destrudas, crianas sem futuro, vejo apenas vtimas e dor. Os olhos do gamb veem traficantes com R-15 e lanador de granada, vagabundas drogadas, mes solteiras, desempregados embriagados no balco do bar, adolescentes viciados, pivetes com pipa com rojo avisando que os homi to chegando. Veem em cada barraco um esconderijo, uma boca em cada senhora de cabelo branco, uma dona Maria me de bandido. Os olhos do poltico veem presas ignorantes, ingnuas, marionetes de manuseio simples a faca e o queijo, o passaporte pra Genebra o talo de cheque especial, o tapete vermelho pra loja da Mercedes [...] Veem o mar de peixes cegos que sempre mordem o mesmo anzol. Os olhos do boy esses a, esses no veem nada, nenhum problema, no veem os avies com droga, o trfico de arma, as escolas sem telhado, lousa, professor, segurana, o jovem sem acesso a livro, quadra esportiva, centro cultural; No veem os ossos no cemitrio clandestino, as vtimas da brutalidade da polcia, o povo esquecido e desassistido. Os olhos do boy s so capazes de enxergar na imagem da favela, o medo, o medo em forma de HK na ponta do seu nariz. E voc, truta, o que seus olhos veem quando olham pra favela? Faco Central. Direto do campo de extermnio. So Paulo: Unimar Music, 2003. 1 CD. O que significa? Gamb: policial. R-15 e HK: armas de grosso calibre. Avio: pessoa que repassa, vende ou transporta drogas. Na Amrica Latina, somente 33,6% da popula- o urbana pobre tem acesso a instalaes sani- trias com descarga, comparados com 63,7% da populao urbana no pobre da regio. [...] As po- lticas voltadas para a melhoria das moradias em reas urbanas podem ter enormes impactos na re- duo da pobreza e no bem-estar ambiental. Extrado de: Situao da populao mundial 2007: desencadeando o potencial do crescimento urbano. Disponvel em: . Acesso em: 16 abr. 2012. Reflita e responda 1. Observe o grfico Populao rural x Populao urbana e responda: a) Qual a informao central apresentada pelo grfico? b) Em que ano a populao urbana e a populao rural atingiram o mesmo patamar percentual, isto , a mes- ma quantidade de habitantes? c) Segundo as projees do grfico, qual ser o percentual da populao urbana em 2030 em relao popu- lao mundial? 2. Baseado na leitura do relatrio e nos dados do grfico, levante hipteses de como ser a vida nas grandes ci- dades em 2030. 3. Rena-se com alguns colegas e, juntos, entrevistem pessoas mais velhas para descobrir como era a vida na ci- dade quando elas eram crianas. Pea-lhes que comparem aquela poca com a atual e falem das principais mu- danas verificadas na cidade desde ento. Procurem obter fotos da poca. No fim, todos os grupos devem se reunir sob a orientao do professor e montar um mural com o material obtido. 4. Tanto o relatrio da UNFPA como a letra do rap abordam um tema em comum: a falta de qualidade de vida dos moradores das favelas. Releia os dois textos e selecione passagens de ambos que evidenciam essa realidade. 5. No rap O que os olhos veem, o autor sugere diversos pontos de vista sobre os moradores da favela: o do pr- prio autor, o da polcia, o dos polticos e o ponto de vista dos boys. O rap termina com a pergunta: E voc, truta, o que seus olhos veem quando olham pra favela?. Como voc responderia a ela? 77 Peter Parks/Agncia France-Presse Esta coleo composta de trs volumes. A seguir mostraremos algumas das principais caractersticas das obras. Abertura das unidades: apresenta sempre um texto introduzindo um conceito importante para os dias de hoje como cidadania, meio ambiente, violncia e que ser trabalhado ao longo da unidade. O texto vem acompanhado de fotos e da seo de atividades Comeo de conversa. Abertura dos captulos: relaciona um assunto atual com algo do passado a ser visto no captulo, mostrando que a Histria est presente em nosso dia a dia. Em Objetivos do captulo, voc informado sobre os principais tpicos abordados nas pginas seguintes. Fechando a unidade: de forma multidisciplinar, a seo utiliza diferentes documentos, como quadrinhos, poesia, relatrio, fotografia, etc. O conceito da unidade retomado por meio de atividades. 4 Conhea sua coleo HMOV_v1_PNLD2015_004a005_Conheca.indd 4 3/6/13 10:39 AM 6. Sees Eu tambm posso participar: por meio de contextos histricos especficos, a seo discute quanto os atos de cada um de ns podem interferir no destino da humanidade. 38 Unidade 2 A urbanizao gua: fonte da vida em perigo Os rios desempenharam papel fundamen- tal no surgimento das primeiras civilizaes. Alm de serem utilizados para o transporte de pessoas e mercadorias, eles asseguravam a so- brevivncia da populao ao garantir o abaste- cimento de peixes e gua potvel. Na regio da Mesopotmia e do Egito, quando os rios trans- bordavam, as guas fertilizavam suas margens, proporcionando assim um solo ideal para a pr- tica da agricultura. As enchentes, porm, ao mesmo tempo que deixavam o solo bom para o plantio, podiam pro- vocar prejuzos, alagando casas e destruindo plan- taes. Diante desses problemas, a populao teve de se organizar e construir coletivamente di- ques e canais para conter as inundaes e irrigar as terras cultivveis. Os sumrios, por exemplo, conseguiram transformar diversas regies do de- serto em reas frteis desviando a gua de alguns rios da Mesopotmia, entre eles o Eufrates. Passados muitos sculos, a gua continua sendo essencial para a vida na Terra. Mas a gua potvel um recurso natural finito. De toda a gua existente no mundo, somente 2,5% so constitudos por gua doce (os outros 97,5% so de gua salgada, imprpria para o consumo). Desse percentual, apenas 0,3% correspondem a rios e lagos. O restante da gua doce se encon- tra em lenis freticos, geleiras ou coberturas de neve permanente. Assim, de toda a gua que existe no mundo, apenas uma pequena frao est disponvel para o consumo humano. Fatores como a poluio, a urbanizao e a industrializao descontroladas, o desperdcio e a distribuio desigual transformaram a gua em recurso escasso e no renovvel. Hoje, de cada cinco pessoas no mundo, uma sofre algum tipo de problema resultante da escassez de gua. Reverter esse processo um dos grandes de- safios de nosso tempo. Evitar uma crise mundial de abastecimento e assegurar o acesso gua tanto para as geraes do presente quanto para as do futuro so aes que no dependem s do poder pblico, mas tambm das empresas e das pessoas em geral. Para evitar essa crise anuncia- da, algumas medidas simples podem ser adota- das no dia a dia: O vaso sanitrio responsvel por um tero de toda a gua consumida nas residncias. Us-lo como lixeira ou acionar a descarga sem necessidade gera consumo desnecess- rio de gua. Os vazamentos tambm produ- zem grande desperdcio de gua. Escovar os dentes, fazer a barba ou ensaboar as mos com a torneira aberta consome em mdia 11 litros de gua. Com a torneira fechada gasta- -se somente meio litro. Algumas medidas ajudam a diminuir o consu- mo de gua durante o banho: ligar o chuveiro apenas quando estiver sem roupa, deslig-lo enquanto se ensaboa e no tomar banhos com mais de 10 minutos de durao. A gua da mquina de lavar roupas pode ser reutilizada para lavar o cho ou o quintal. E var- rer o quintal e a calada antes de lav-los ajuda a economizar gua. Usar regadores ou baldes para regar plantas e jar- dins ou para lavar o carro gasta menos gua do que fazer essas atividades com uma mangueira. At 1960, a grande extenso de areia escura que aparece na foto esteve coberta pelas guas do mar (ou lago) de Aral, entre as repblicas do Casaquisto e do Usbequisto, que faziam parte da ex-Unio Sovitica. O mar de Aral era, por essa poca, alimentado por dois rios que atravessam a regio. A partir de 1960, o governo da ento Unio Sovitica comeou a desviar as guas desses rios para projetos de irrigao. Passadas algumas dcadas, o grande lago perdeu 80% de sua superfcie e boa parte dele se transformou em um deserto, como mostra esta foto de 1990. DavidTurnley/Corbis/Latinstock Eu tambm posso participar 256 Unidade 5 Soberania e Estado nacional Durante seu reinado, a rainha Elizabeth I foi representada por diversos pintores. O luxo e o esplendor exibidos nas obras desses artistas destacavam o prestgio e a fora da rainha. Este o caso do leo sobre madeira reproduzido nesta seo, executado em 1588 pelo pintor ingls George Gower (c. 1540-1596). Ele foi feito pouco depois de uma vitria inglesa sobre a armada espanhola, a mais poderosa da poca. Em julho de 1588, o rei Filipe II, da Espanha, enviou 130 navios e 30 mil soldados ao canal da Mancha para atacar os ingleses. Os confrontos duraram nove dias e a Espanha foi derrotada. O feito foi registrado nesse quadro. Atravs das janelas podem-se ver dois momentos diferentes do combate. Fonte: HILL, Suzanne. The armada portrait of Elizabeth I. Disponvel em: . Acesso em: 30 out. 2012. Olho vivo Uma representao do poder Navios ingleses no canal da Mancha, identificados pelo pavilho de So Jorge (cruz vermelha em fundo branco). Navios espanhis diante das embarcaes inglesas no canal da Mancha. Em 1588, a rainha contava 55 anos, mas o artista a representou como se fosse mais jovem. Coroa, smbolo da realeza. As prolas do colar simbolizam a castidade. Elizabeth no se casou. Era chamada de Rainha Virgem. Quatro anos antes de o quadro ser pintado, os ingleses haviam fundado a colnia de Virgnia. A mo da rainha repousa sobre a Amrica, indicando o domnio da Inglaterra sobre terras no Novo Mundo. Barcos espanhis com a Cruz de Santo Andr (em forma de xis). Depois de terem batido em retirada, colidem contra as rochas, durante tempestade na costa da Irlanda. Rainha segura leque com penas de pavo. GeorgeGower/akg-images/Latinstock Navios ingleses com explosivos foram enviados contra a frota espanhola. Quando estavam prximos, foram incendiados. Temendo as exploses, os espanhis fugiram e foram derrotados. O luxo das roupas e as joias eram destinados a mostrar aos sditos a imponncia da rainha. 86 Unidade 2 O trabalho A cana-de-acar o principal produto agr- cola da Paraba, e o setor canavieiro o que ain- da mais gera empregos na regio. Hoje, quase toda a produo paraibana comprada pelas usinas para ser transformada em etanol, mas em 1587, ano em que foi erguido o primeiro engenho paraibano, a cana era usada primordialmente na produo do acar. Embora a produo auca- reira das capitanias de Pernambuco e Bahia fos- se maior, o produto paraibano era considerado pelos europeus como o melhor de toda a colnia portuguesa na Amrica. A memria desse perodo colonial encontra- -se preservada nos engenhos que sobreviveram ao tempo, erguidos em cidades como Bananeiras, Pi- les e Alagoa Grande. Nesses locais, hoje so fa- bricados cachaa, doces e uma das iguarias mais tradicionais do nordeste brasileiro: a rapadura. A importncia da rapadura na sociedade paraibana to significativa que na cidade de Areia existe o Museu da Rapadura, funcionando em um engenho do sculo XVIII. A histria da Paraba, contudo, no se restrin- ge presena do acar. Na cidade de Ing, a cerca de 100 quilmetros de Joo Pessoa, encon- tra-se a Pedra do Ing, um imenso bloco de pe- dra, com 24 metros de comprimento e quatro de altura que, em 1944, foi transformado em Patri- mnio Arqueolgico Nacional. Nessa pedra existem centenas de inscries rupestres (como estudado no captulo 3 do volume 1). Alm da Pedra do Ing, ao longo do territrio paraibano esto espalhadas mais de 30 mil pintu- ras rupestres, o que faz do estado um verdadeiro museu a cu aberto. A Paraba guarda no serto uma relquia ainda mais antiga: as pegadas de dinossauros, animais que viveram milhes de anos antes do surgimento do ser humano na Terra. Essas pegadas esto numa regio conheci- da como Vale dos Dinossauros. Ocupando uma rea de 700 quilmetros quadrados e engloban- do 30 municpios, o Vale dos Dinossauros o stio arqueolgico que concentra o maior nme- ro de pegadas fossilizadas desses animais no mundo. So ao todo 505 trilhas de dinossauros de diferentes espcies, entre eles o tiranossauro e o estegossauro. Na cidade de Sousa existe um parque no qual, alm das pegadas, possvel visitar um museu com informaes a respeito desses ani- mais pr-histricos. Patrimnio e diversidade Paraba Um museu a cu aberto CorreiodaParaba/FuturaPress Patrimnio e diversidade Engenho Lagoa Verde, em Alagoa Grande, na Paraba, maio de 2009. 168 Unidade 4 Diversidade religiosa Os reinos anglo-saxes Na poca imediatamente posterior queda do Imprio Romano do Ocidente, a grande ilha situa- da ao norte da Glia (Frana atual) e conhecida como Bretanha (hoje, Gr-Bretanha) era invadida pelos anglos, saxes e jutos, povos de origem ger- mnica provenientes do norte da Europa. A resis- tncia dos habitantes locais, os bretes, durou v- rios anos e foi descrita no livro Excidio Britanniae (A runa da Bretanha), escrito em 550 por um sa- cerdote historiador chamado Gildas. Por volta de 500, segundo Gildas, um lder guerreiro breto conhecido como Arthur*, teria vencido os saxes em uma batalha no mon- te Badon. Entretanto, apesar dessa vitria e da forte resistncia dos bretes, os invasores aca- baram ocupando quase toda a Bretanha. Assim, entre 477 e 540, aproximadamen- te, enquanto a Glia se transformava em Reino Franco, anglos, jutos e saxes criavam na Breta- nha sete pequenos reinos, mais tarde chamados de heptarquia: Kent, Mrcia, Essex, Sussex, Wes- sex, East Anglia e Nortmbria. sso...Enquanto * Veja os filmes Rei Arthur, de Antoine Fuqua, 2004, e Excalibur, de John Boorman, 1981. Elmo de ferro, proveniente de um dos reinos anglo-saxes da atual Inglaterra e datado do incio do sculo VII. Segundo algumas fontes, ele teria sido usado pelo Rei Redwald, morto em 625. 1. As invases germnicas contriburam decisiva- mente para a queda do Imprio Romano do Oci- dente. Resuma com poucas palavras as mudan- as verificadas na Europa ocidental com a chega- da dos povos germnicos. 2. Por que possvel afirmar que as sociedades ger- mnicas eram fortemente militarizadas? 3. Entre os sculos V e VI, o poder real dos reinos germnicos se enfraqueceu, em razo do esva- ziamento das cidades e da ampliao do poder da nobreza rural. Enquanto isso, a Igreja catli- ca tornava-se uma instituio poderosa. Explique como se realizaram essas transformaes. 4. Qual foi o papel do Reino Franco na consolida- o do poder catlico na Europa? 5. O Imprio Carolngio consolidou-se e cresceu durante o governo de Carlos Magno, a partir de 771. Observe o mapa Imprio Carolngio (p. 164) e indique as regies conquistadas por Carlos Magno e a que pases essas regies pertencem atualmente. 6. O renascimento carolngio preparou o caminho para a criao das primeiras universidades euro- peias por meio da organizao de um conjunto de saberes e prticas educacionais. Em que con- sistiu esse movimento cultural? 7. Explique por que os monges copistas foram fun- damentais para a preservao da cultura escrita da Antiguidade greco-romana. Organizando AS IDEIAS A espada mgica A Demanda do Santo Graal um dos mais co- nhecidos romances de cavalaria da Europa medie- val. Escrito por volta do sculo XIII, ele rene his- trias a respeito de Arthur, um rei breto, ou lder guerreiro, que teria lutado contra os saxes, fren- te de um grupo de cavaleiros, conhecidos como Cavaleiros da Tvola Redonda. Leia a seguir um tre- cho dessa obra e responda ao que se pede. Segundo a lenda, Arthur teria se tornado rei ao arrancar uma espada, conhecida como excalibur, do interior de uma pedra, na qual estava fincada. No mundo DAS LETRAS BritishMuseum,London/Album/Akg-Images/Latinstock Patrimnio e diversidade: nos captulos de Brasil dos volumes 2 e 3, a seo apresenta os principais aspectos histricos, culturais e sociais de cada um dos estados brasileiros. Olho vivo: a seo oferece uma ampla leitura das informaes contidas em pinturas, esculturas e outros materiais iconogrficos. Atividades Dentro dos boxes temos quatro tipos de atividade: Sua opinio, Sua comunidade, Dilogos e De olho no mundo, cada uma com um objetivo bem especfico. Dilogos, por exemplo, trabalha a interdisciplinaridade, e Sua comunidade, a relao entre o local e o global. Ao final do captulo temos: Organizando as ideias que retoma o contedo visto no captulo. No mundo das letras onde feita uma relao entre Histria e Literatura. Interpretando documentos que trabalha com o aluno a capacidade de leitura e interpretao de diferentes tipos de documento, como fotografias, mapas, grficos, tabelas, charges, textos impressos, etc. Hora de refletir atividade que relaciona o captulo com o conceito da unidade. ndice remissivo: voc localiza facilmente em que pgina do livro se encontra o assunto que est procurando. Glossrio: as palavras marcadas no texto ganham uma explicao aprofundada no glossrio. Passado presente: por meio desta seo percebemos que assuntos do passado esto mais presentes no nosso dia a dia do que muitas vezes imaginamos. Mundo virtual: rica e diversificada seleo de sites relacionados ao contedo do captulo. 5 Enquanto isso...: trabalho com a simultaneidade histrica, revelando que a histria da humanidade no nica nem linear. Este cone indica Objetos Educacionais Digitais relacionados aos contedos do livro. HMOV_v1_PNLD2015_004a005_Conheca.indd 5 26/03/2013 16:33 7. Captulo 1 frica, bero da humanidade ...................................................................................12 1. Um conceito em debate.......................................................................................................13 2. Em busca de nossas origens ................................................................................................13 3. Os primeiros homindeos .....................................................................................................14 4. O Homo sapiens moderno...................................................................................................14 Captulo 2 A Revoluo Agrcola .................................................................................................19 1. Saindo da frica...................................................................................................................20 2. O domnio da agricultura.....................................................................................................21 Captulo 3 Nossos mais antigos ancestrais................................................................................25 1. Os primeiros ocupantes .......................................................................................................26 2. Stios arqueolgicos .............................................................................................................26 Fechando a unidade ......................................................................................................................33 Captulo 4 Povos da Mesopotmia..............................................................................................36 1. As cidades-Estado ................................................................................................................37 2. A civilizao sumria............................................................................................................37 3. O Primeiro Imprio Mesopotmico......................................................................................39 4. Babilnia e seu imprio........................................................................................................39 5. Hititas e assrios....................................................................................................................40 6. O Segundo Imprio Babilnico ............................................................................................40 Captulo 5 Na terra dos faras .....................................................................................................42 1. No norte da frica ...............................................................................................................43 2. A unicao do Egito...........................................................................................................43 3. A sociedade egpcia .............................................................................................................44 4. A crena na imortalidade.....................................................................................................45 5. A servio dos deuses e do fara ..........................................................................................46 6. O saber egpcio ....................................................................................................................46 Captulo 6 A civilizao chinesa...................................................................................................48 1. A primeira dinastia chinesa..................................................................................................49 2. O primeiro imperador ..........................................................................................................50 Sumrio 6 A fora do conhecimento e da criatividade A urbanizao Unidade 1 Unidade 2 10 34 HMOV_v1_PNLD2015_006a009_Sumario.indd 6 3/6/13 10:40 AM 8. Captulo 11 A Grcia antiga: formao ......................................................................................80 1. Miscigenao tnica e cultural.............................................................................................81 2. Os cretenses.........................................................................................................................81 3. Os aqueus ............................................................................................................................81 4. A invaso dria ....................................................................................................................84 Captulo 12 A Grcia clssica ........................................................................................................87 1. A plis grega........................................................................................................................88 2. A sociedade espartana ................................................................................................... 88 3. A democracia em Atenas.....................................................................................................91 Captulo 13 O helenismo ...............................................................................................................94 1. A expanso macednia........................................................................................................95 2. A formao de um imprio..................................................................................................95 Captulo 14 Os primeiros sculos de Roma................................................................................. 100 1. A fundao de Roma .........................................................................................................101 2. A monarquia e suas instituies ........................................................................................102 3. Tempos republicanos..........................................................................................................103 4. Roma contra Cartago.........................................................................................................108 Captulo 15 A Repblica em crise ..............................................................................................111 Um perodo conturbado.........................................................................................................112 Captulo 16 O Imprio Romano..................................................................................................117 1. Primeiros tempos do Imprio.............................................................................................118 2. Imprio dividido .................................................................................................................121 Fechando a unidade ....................................................................................................................125 Captulo 7 As civilizaes da ndia ..............................................................................................55 1. Ao longo do rio Indo............................................................................................................56 2. Os arianos e o hindusmo ....................................................................................................56 Captulo 8 Os fencios, inventores do alfabeto........................................................................60 Cidades porturias ...................................................................................................................61 Captulo 9 O Imprio Persa ...........................................................................................................65 1. Medos e persas ....................................................................................................................66 2. A formao do imprio........................................................................................................66 3. Entre o Bem e o Mal ............................................................................................................69 Captulo 10 Os hebreus..................................................................................................................71 1. O papel da religio...............................................................................................................72 2. Hebreus na Palestina............................................................................................................72 3. Os juzes e o monotesmo....................................................................................................72 4. As doze tribos ......................................................................................................................73 Fechando a unidade...........................................................................................................76 7 Direito e democraciaUnidade 3 78 Sumrio HMOV_v1_PNLD2015_006a009_Sumario.indd 7 3/6/13 10:40 AM 9. Captulo 17 Civilizaes asiticas...............................................................................................128 1. A Idade de Ouro na China.................................................................................................129 2. O Imprio Mongol..............................................................................................................130 3. O Japo dos samurais ........................................................................................................132 Captulo 18 O mundo rabe-muulmano.................................................................................135 1. Em torno dos osis.............................................................................................................136 2. Politesmo dos rabes................................................................................................... 136 3. Surge o islamismo..............................................................................................................136 4. O isl e a jihad....................................................................................................................136 5. Sunitas e xiitas....................................................................................................................138 6. A dinastia Omada (661-749).............................................................................................139 7. A dinastia abssida (749-1258) .........................................................................................139 8. Saber e cultura no mundo islmico ...................................................................................139 9. O mundo islmico se divide...............................................................................................140 Captulo 19 Os reinos africanos .................................................................................................144 1. O continente africano........................................................................................................145 2. O Reino de Axum...............................................................................................................146 3. Reinos do Sahel..................................................................................................................148 4. A civilizao iorub ............................................................................................................150 5. Os bantos...........................................................................................................................151 Captulo 20 O Imprio Bizantino ...............................................................................................154 1. Imprio dividido .................................................................................................................155 2. O poder do basileu ............................................................................................................155 3. O governo de Justiniano....................................................................................................155 4. Um longo declnio..............................................................................................................158 5. A arte bizantina..................................................................................................................159 Captulo 21 Os primeiros reinos medievais.............................................................................161 1. Os reinos germnicos.........................................................................................................162 2. A Igreja se fortalece ...........................................................................................................163 3. O Imprio Carolngio..........................................................................................................163 4. O m do Imprio................................................................................................................166 Captulo 22 O feudalismo............................................................................................................170 1. O mundo feudal.................................................................................................................171 2. O feudo..............................................................................................................................171 3. Os camponeses ..................................................................................................................173 Captulo 23 O poder da Igreja ....................................................................................................177 1. Poder material e poder espiritual.......................................................................................178 2. As Cruzadas .......................................................................................................................179 3. O Tribunal do Santo Ofcio.................................................................................................182 Captulo 24 Renascimento urbano e comercial ......................................................................186 O ano 1000............................................................................................................................187 Fechando a unidade ....................................................................................................................198 8 Unidade 4 126Diversidade religiosa HMOV_v1_PNLD2015_006a009_Sumario.indd 8 3/6/13 10:40 AM 10. GLOSSRIO....................................................................................................................................260 SUGESTES DE FILMES E DE LEITURAS COMPLEMENTARES..............................................266 BIBLIOGRAFIA BSICA ................................................................................................................266 NDICE REMISSIVO .......................................................................................................................268 Captulo 25 A formao do Estado moderno .........................................................................202 1. O fortalecimento do poder real .........................................................................................203 2. A Inglaterra sob os normandos..........................................................................................203 3. As origens da Frana..........................................................................................................204 4. Cristos mouros..............................................................................................................204 5. A formao de Portugal.....................................................................................................207 6. A Espanha e a Inquisio ...................................................................................................207 Captulo 26 A revoluo cultural do Renascimento ..............................................................210 1. A pennsula Itlica no sculo XV........................................................................................211 2. O Renascimento.................................................................................................................212 Captulo 27 A Reforma protestante..........................................................................................221 1. Crticas Igreja...................................................................................................................222 2. As 95 teses de Lutero.........................................................................................................222 3. O calvinismo.......................................................................................................................225 4. A Igreja anglicana ..............................................................................................................225 5. A reao da Igreja catlica.................................................................................................228 Captulo 28 As Grandes Navegaes ........................................................................................231 1. Um comrcio lucrativo .......................................................................................................232 2. A aventura portuguesa ......................................................................................................232 3. Os espanhis chegam Amrica.......................................................................................234 4. O Tratado de Tordesilhas....................................................................................................235 5. A caminho das ndias.........................................................................................................235 6. Portugueses na Amrica ....................................................................................................236 Captulo 29 Os imprios coloniais .............................................................................................239 1. A Revoluo Comercial......................................................................................................240 2. O mercantilismo.................................................................................................................242 3. O Pacto Colonial............................................................................................................242 4. O Imprio Portugus..........................................................................................................243 5. Espanha e o El Dorado.......................................................................................................244 6. Tordesilhas, adeus ..............................................................................................................244 7. As companhias de comrcio..............................................................................................245 Captulo 30 O absolutismo monrquico...................................................................................249 1. Os Estados modernos ........................................................................................................250 2. O rei encontra o poder ......................................................................................................250 3. Um poder (quase) absoluto ...............................................................................................252 Fechando a unidade ....................................................................................................................258 9 Unidade 5 200Soberania e Estado nacional Sumrio HMOV_v1_PNLD2015_006a009_Sumario.indd 9 26/03/2013 16:34 11. 10 Do ponto de vista biolgico e cognitivo, no somos muito dife- rentes dos homens, mulheres e crianas que viveram 10 mil ou 12 mil anos atrs. Se mudanas significativas no ocorreram no organismo humano ao longo desse perodo, como explicar o fato de que a humanidade deixou de viver em cavernas e passou a dominar tecnologias que nos permitem at mesmo conquistar o espao sideral? Segundo o historiador Eric Hobsbawm, que formulou a pergun- ta, todas essas mudanas verificadas ao longo de milhares de anos foram resultado da persistente e crescente capacidade da espcie humana de controlar as foras da natureza. Esse domnio ocorreu (e ainda ocorre) por meio do trabalho manual e intelectual, da tecno- logia e da organizao da produo. Isso nos permite concluir que a base do desenvolvimento humano repousa no conhecimento e no uso da criatividade. Mas ser que conhecimento algo que adquirimos somen- te nos bancos escolares? E como ficam aqueles que nunca tive- ram a oportunidade de estudar? Todas as pessoas quer tenham estudado ou no detm conhecimento. Os povos indgenas, por exemplo, durante mil- nios, curaram seus doentes utilizando somente ervas e plantas me- dicinais sem nunca terem feito faculdade de Medicina. Saber qual a planta correta a ser utilizada s foi possvel graas a uma profunda ca- pacidade de observar e interagir com a natureza. Algo semelhante acontece com um cientista que inventa uma va- cina. Em seu trabalho, ele precisa conhecer os experimentos j realiza- dos, identificar diferentes tipos de drogas medicinais e fazer muitos tes- tes antes de anunciar sua descoberta. A fora do conhecimento e da criatividade Unidade 1 Dorganismo humano ao longo desse perodo, como explicar o fato de que a humanidade deixou de viver em cavernas e passou a dominar tecnologias que nos permitem at mesmo conquistar o espao sideral? ta, todas essas mudanas verificadas ao longo de milhares de anos foram resultado da persistente e crescente capacidade da espcie humana de controlar as foras da natureza. Esse domnio ocorreu (e ainda ocorre) por meio do trabalho manual e intelectual, da tecno- logia e da organizao da produo. Isso nos permite concluir que a base do desenvolvimento humano repousa no conhecimento e nios, curaram seus doentes utilizando somente ervas e plantas me- dicinais sem nunca terem feito faculdade de Medicina. Saber qual a planta correta a ser utilizada s foi possvel graas a uma profunda ca- pacidade de observar e interagir com a natureza. cina. Em seu trabalho, ele precisa conhecer os experimentos j realiza- dos, identificar diferentes tipos de drogas medicinais e fazer muitos tes- tes antes de anunciar sua descoberta. Album/akg-images/WernerForman/Latinstock Vnus de Doln Vestonice, estatueta feminina de terracota, encontrada no stio arqueolgico de Doln Vestonice. Faz parte do Museu de Brno, na atual Repblica Tcheca. Mede 111 mm de altura e foi esculpida entre 29000 a.C. e 25000 a.C. Seus seios, ventre e ndegas volumosos seriam uma aluso fertilidade. ErichLessing/Album/AlbumArt/Latinstock HMOV_v1_PNLD2015_010a018_U01_C01.indd 10 3/6/13 10:41 AM 12. 11 COMEO DE CONVERSA 1. Utilizamos nossa criatividade em diversas situaes da vida cotidiana: para solucionar problemas, encontrar novas formas de realizar certas atividades ou simplesmente para nos divertir. Pense em situaes nas quais voc resolveu problemas utilizando sua criatividade. Narre um desses episdios classe. 2. Em sua opinio, o conhecimento sobre o passado pode ajudar a transformar a realidade em que vivemos? Por qu? Adquirir conhecimentos no significa apenas acu- mular informaes a respeito de determinado assunto. Significa, antes de mais nada, organizar as informaes disponveis para compreender a realidade e partir em busca de mais conquistas. Nesta unidade veremos como a busca pelo saber mobiliza os seres humanos desde os tempos mais remo- tos. O domnio do fogo e a inveno da roda so alguns exemplos de como a humanidade utilizou seus conhe- cimentos para adequar a realidade em que vivia s suas necessidades. Esse potencial criativo foi um dos fatores responsveis por garantir a sobrevivncia da espcie hu- mana sobre a Terra. Retrato de Jacqueline Roque de Braos Cruzados, tela de Pablo Picasso (1881-1973). Pintada em 1954, essa obra do modernista espanhol pretende representar uma mulher de forma no realista. Compare esta representao com a da pgina anterior. Ambos os artistas utilizam a fora de sua criatividade e de seu conhecimento para criar formas capazes de emocionar e estimular a imaginao. Reproduo/MuseuPicasso,Paris,Frana. Pintura rupestre de 13 mil a 9,5 mil anos atrs. Gruta das Mos, Argentina. HMOV_v1_PNLD2015_010a018_U01_C01.indd 11 3/6/13 10:41 AM 13. 12 As mulheres e os homens encontram-se sobre a face da Terra h cerca de 200 mil anos. Mas milhes de anos antes de seu surgimento, diversos ancestrais da espcie humana j andaram sobre o planeta. Entre esses ancestrais podemos citar o Australopithecus afarensis, o Homo habilis e o Homo erectus. Cada um tem caractersticas fsicas prprias, mas em comum contam o fato de andarem sobre duas pernas, como os humanos. Em 2010, pesquisadores anunciaram a descoberta de uma nova espcie de australopiteco, o Australopithecus sediba. Os fsseis desse homindeo foram encontrados em 2008 em uma caverna nas proximidades de Johannesburgo, na frica do Sul. De acordo com os cientistas, o A. sediba viveu cerca de 1,977 milho de anos atrs. Apesar de possuir corpo pequeno cerca de 1,3 metro de altura e grandes braos tpico de outros australopitecos que viviam em rvores , o A. sediba tinha uma srie de traos fsicos semelhantes aos dos humanos, como o formato do crebro, o tamanho dos dentes e a estrutura da plvis e do fmur. Em razo dessas semelhanas, muitos especialistas consideram esse australopiteco um ancestral da espcie humana. Neste captulo estudaremos o que os cientistas j sabem a respeito das origens da humanidade. As palavras destacadas nesta cor esto no Glossrio, pgina 260. Kazuyoshi Nomachi/Corbis/Latinstock Prof.LeeBerger/WikimediaCommons frica, bero da humanidade Captulo 1 Objetivos do captulo nn Refletir sobre os conceitos de Histria e Pr-Histria. nn Compreender os conceitos de homindeo, fssil e primata. nn Discutir as limitaes dos seres humanos pr-histricos e as estratgias que eles criaram para super-las (o conhecimento e a criatividade). Matthew Berger, de 9 anos, filho do paleoantroplogo norte-americano Lee Berger, segurando sua descoberta: a clavcula do Australopithecus sediba, encontrada na frica do Sul. Em 2010, seu pai apresentou o fssil comunidade cientfica. Foto de 15 de agosto de 2008. HMOV_v1_PNLD2015_010a018_U01_C01.indd 12 3/6/13 10:41 AM 14. 13frica, bero da humanidade Captulo 1 Um conceito em debate Tradicionalmente, as origens da humanidade eram situadas pelos historiadores numa poca conhe- cida como Pr-Histria. Hoje, entretanto, essa expres- so no mais aceita por muitos estudiosos. Por qu? A Pr-Histria costumava ser definida como o pe- rodo compreendido entre o aparecimento dos primeiros homindeos e a inveno da escrita, ocorrida por volta do quarto milnio antes de Cristo, na Mesopotmia (no atual Oriente Mdio) e, logo depois, no Egito. Essa pe- riodizao comeou a ser utilizada a partir do sculo XIX, na Europa. Por essa poca, os estudiosos acreditavam que s seria possvel resgatar o passado de uma socieda- de caso existissem registros escritos feitos por ela. Hoje, essa viso encarada com reservas. Outras fontes, como imagens, objetos do cotidiano e rela- tos orais, por exemplo, passaram a ter a mesma im- portncia que a escrita no processo do conhecimento histrico. Alm disso, recentes avanos cientficos e tecnolgicos colaboram na tarefa de resgatar o pas- sado. o caso da anlise do DNA, de programas de computador que reconstroem rostos humanos a par- tir de um crnio e de mtodos cientficos que deter- minam a idade de fsseis e de restos arqueolgicos. A inveno da escrita como marco inicial da His- tria tambm pode ser questionada pelo fato de no ter ocorrido ao mesmo tempo em todo o planeta. Muitos povos s entraram em contato com ela no final do sculo I a.C., durante a expanso de Roma. Ainda hoje, h grupos indgenas no Brasil e aborgi- nes na Austrlia que no fazem uso de nenhum sinal grfico para representar palavras. Se considerssemos o surgimento da escrita como o incio da Histria, conquistas como o dom- nio do fogo, a inveno da roda e a prtica da agri- cultura ficariam de fora da histria da humanidade, pois elas ocorreram muitos sculos antes da inveno dessa forma de comunicao. Amparados nessas ressalvas, podemos dizer que o mais indicado considerar o que foi chamado de Pr-Histria como uma etapa no processo histrico do ser humano. Do ponto de vista social, podemos entend-la como um perodo em que ainda no ha- viam surgido sociedades complexas e sedentrias e no qual as pessoas se reuniam em pequenos grupos ou agrupamentos nmades. Em busca de nossas origens H cerca de 60 milhes de anos, apareceram na Terra os primeiros primatas. Desse grupo surgiram o gorila, o chimpanz, o orangotango e os primeiros homindeos, que deram origem espcie humana. Atualmente, especialistas como paleoantroplo- gos, gelogos, arquelogos, bilogos, geneticistas, etnlogos, paleontlogos, etc. participam de escava- es em busca de vestgios dos nossos ancestrais com o propsito de descobrir como eles eram e como vi- viam. Esses vestgios podem ser fsseis, ferramentas, esculturas, pinturas em cavernas, utenslios, restos de fogueiras, entre outros (veja a imagem). 1 2 Com mais de 3 milhes de anos, o fssil do homindeo da espcie Australopithecus afarensis encontrado na frica em 1974 recebeu o nome de Lucy porque seu descobridor, no momento em que o encontrou, escutava a cano dos Beatles Lucy in the sky with diamonds. A foto mostra o crnio do beb Lucy, fssil da mesma espcie de Lucy e tambm com mais de 3 milhes de anos. Vilem Bischof/AFPPhoto/Researchand ConservationofCulturalHeritages HMOV_v1_PNLD2015_010a018_U01_C01.indd 13 3/6/13 10:41 AM 15. 14 Unidade 1 A fora do conhecimento e da criatividade Entretanto, a cincia ainda no encontrou uma resposta precisa a respeito de como e quando o ser humano apareceu. O que os cientistas sabem que o surgimento de homens e mulheres foi resultado de um longo processo, que se estendeu por centenas de milhes de anos e envolveu no s alteraes fsicas no corpo, mas tambm mudanas culturais, como o modo de viver e agir desses seres. Os primeiros homindeos Os fsseis so uma das principais fontes de es- tudo para entender a evoluo da espcie humana. A anlise dessas amostras indica que os indivduos com caractersticas tipicamente humanas no apare- ceram recentemente nem de uma s vez. thecus anamensis, a dos Australopithecus afarensis e a dos Australopithecus sediba, sobre a qual comenta- mos na abertura do captulo. De modo geral, os australopitecos tinham braos longos, maxilares salientes e crebros pe- quenos, mas sua principal caracterstica era anda- rem eretos. O Homo sapiens moderno Uma das espcies de australopiteco no se sabe qual deu origem a um grupo de homindeos, o Homo. Os cientistas ainda no descobriram quan- do, como e onde isso aconteceu. Acredita-se que os primeiros seres do gnero Homo apareceram h cerca de 2 milhes de anos e por mais de 800 mil anos conviveram com os australopitecos na fri- ca. Estes, porm, no conseguiram se adaptar crescente competio entre as espcies e acaba- ram extintos. Segundo alguns especialistas, a espcie mais an- tiga de Homo que se conhece a do Homo habi- lis. Com cerca de 1,57 m de altura, pouco mais de 50 quilos de peso e um crebro de at 800 cm, o Homo habilis se desenvolveu graas sua capacidade de adaptao cultural e social: ele tinha, por exem- plo, o hbito de dividir os alimentos com os integran- tes de seu grupo, criando assim laos de solidarieda- de entre si. Pesquisas recentes mostram que o Homo habi- lis conviveu por centenas de milhares de anos com outro homindeo, o Homo erectus, que apareceu na frica por volta de 1,8 milho de anos atrs. Para os cientistas, essas duas espcies podem ter tido um ancestral comum, ainda desconhecido. O Homo erectus chegava a medir at 1,80 m. Seu crebro tinha um volume mdio de 950 cm, mas podia chegar a 1250 cm. Seu rosto era largo e sua arcada dentria, saliente. O Homo erectus revelou-se um ser de gran- de capacidade mental: andava em grupos de vin- te a trinta indivduos, fabricava utenslios, construa cabanas, aprendeu a dominar o fogo* e a organizar caadas, dividindo ta- refas entre si. 3 4 * Veja o filme A guerra do fogo, de Jean Jacques Annaud. EquinoxGraphics/SPL/Latinstock Um dos homindeos mais antigos que se conhe- ce o Ardipiecus kadabba, que habitou a frica h 5,8 milhes de anos. Posteriormente, surgiram outros homindeos do gnero dos australopitecos. Eles teriam habitado a frica entre 4,2 milhes e 1 milho de anos atrs e se dividiam em vrias espcies, como a dos Australopi- Montagem computadorizada de um crnio de Homo floresiensis ( esquerda) ao lado de um crnio de Homo sapiens sapiens ( direita). O Homo floresiensis foi um homindeo de pouco mais de um metro de altura e crebro muito pequeno. Acredita-se que foi extinto h 12 mil anos e que coexistiu com os seres humanos modernos (Homo sapiens). Em 2003, restos desse crnio foram encontrados na caverna Liang Bua, localizada na Ilha das Flores, Indonsia. HMOV_v1_PNLD2015_010a018_U01_C01.indd 14 3/6/13 10:41 AM 16. 15frica, bero da humanidade Captulo 1 As descries dos primeiros ancestrais da espcie humana que voc l em livros e revistas no bro- tam da imaginao dos historiadores ou dos cientistas. Na verdade, centenas de pesquisadores vas- culham continuamente diversas regies da frica, da sia, da Amrica, da Europa e da Oceania em busca de vestgios de nossos antepassados mais remotos. com base no que eles descobrem ossos, restos de fogueiras, ferramentas, pontas de flechas, utenslios de cermica, etc. que reconstituda a rvore genealgica da espcie humana e so descritos os espcimes, os cenrios em que viviam, seu modo de vida. Fssil toda evidncia de um organismo vegetal ou animal preservado em gelo ou rochas sedimen- tares. A preservao de um organismo em sua totalidade (isto , com a permanncia de seus tecidos rgi- dos e macios) muito rara. Entre os casos mais notveis desse tipo de achado, encontram-se os mamutes (elefantes arcaicos) siberianos, que tm sido recuperados de estratos de gelo em condies perfeitas de preservao. [Enciclopdia ilustrada Folha. So Paulo: Folha da Manh S.A., 1996. v. 1, p. 363. Sobre os mamutes e sua utilidade para os seres humanos da chamada Pr-Histria, veja o captulo 2.]. Quando o esqueleto de um ser humano encontrado, seus ossos trazem informaes valiosas para os cientistas, como se pode ver a seguir. Eles podem dizer a que sexo pertencia seu portador, se se tratava de uma criana, de um adulto ou de um adolescente e, em certos casos, as circunstncias de sua morte. At mesmo fezes humanas fossilizadas, conhecidas como coprlitos, podem ser uma importante fonte de informaes. Elas revelam, por exemplo, os hbitos alimentares de um grupo humano e a incidncia de parasitas nos intestinos das pessoas desse grupo. Supondo, por exemplo, que esses parasitas sejam co- muns em zonas tropicais e que os coprlitos tenham sido encontrados em uma regio fria, isso mostraria que o grupo humano estudado teria migrado de um lugar para outro. Olho vivo O que os fsseis revelam O tamanho do crnio pode identificar a espcie. Os dentes e o tamanho dos ossos revelam se o esqueleto era de um adulto ou de uma criana. Tambm podem mostrar problemas como ane- mia e outras deficincias alimentares. Riscos microscpicos e buracos no esmalte dos dentes podem indicar o tipo de alimentao. Molares grandes e mandbulas grossas sugerem a mastigao de alimentos mais duros. Os ossos podem reter evidncias de infeces por tumores, bactrias, parasitas e fungos, ou revelar traumas como fraturas, amputaes e golpes na cabea. O formato da plvis identifica o sexo. Adaptado de: . Acesso em: 16 abr. 2012. Fssil do esqueleto de uma mulher do perodo Neoltico encontrado na Frana. PascalGoetgheluck/Spl/StockPhotos/Latinstock HMOV_v1_PNLD2015_010a018_U01_C01.indd 15 3/6/13 10:41 AM 17. 16 Unidade 1 A fora do conhecimento e da criatividade O Homo erectus foi o primeiro homindeo a emigrar da frica. Seguindo o curso do rio Nilo, al- canou a sia e depois a Europa. Desapareceu h cerca de 300 mil anos, quando espcies arcaicas de Homo sapiens j andavam sobre o planeta. Tudo indica que essas espcies evoluram at que, por volta de 195 mil anos atrs, apareceu o Homo sapiens sapiens (ou Homo sapiens moderno*), espcie da qual fazemos parte. Por ter uma faringe mais longa e uma lngua mais flexvel, essa espcie desenvolveu a capacidade da fala, por meio da qual passou a expressar seus pensamentos e a desenvol- ver conceitos abstratos (sobre a espcie humana, veja o boxe a seguir). Durante algum tempo, o ser humano conviveu com indivduos de outra espcie do gnero Homo o Homo neanderthalensis, tam- bm conhecido como Homem de Neanderthal , mas ela desapa- receu h cerca de 30 mil anos. Representao artstica de um grupo de ancestrais e precursores do Homo sapiens moderno. Da esquerda para a direita e da frente para trs: Homo erectus, Australopithecus africanus, Kenyathropus rudolfensis, Australopithecus afarensis, Homo habilis, Australopithecus boisei, Homo neanderthalensis e Australopithecus anamensis. * Veja o filme A origem do homem, Discovery Channel, 2002. Hess.Landesmuseum/akg-images/Latinstock Somos todos iguais Pele negra, branca ou parda; olhos arredon- dados ou puxados. Cabelos lisos, crespos ou en- caracolados. As variaes fsicas entre os seres humanos so imensas, porm a cincia j com- provou: apesar das diferenas observadas entre os indivduos, a espcie humana nica. Isso significa que, ao contrrio do que muitos afirma- ram no passado, as pessoas no podem ser sepa- radas em raas. A comprovao definitiva desse fato aconte- ceu em 2003, quando cientistas do Projeto Genoma concluram o sequenciamento gentico de 94% do DNA humano. Ao analisarem os genes formadores de nossas caractersticas fsicas, os cientistas ob- servaram que as diferenas das sequncias genti- cas entre dois indivduos no chega a 1%. As variaes encontradas como a cor da pele ou dos olhos, por exemplo so resultado do processo evolutivo do ser humano diante da necessidade de se adaptar s condies ambien- tais em que passou a viver. Segundo os cientistas, o cabelo crespo dos negros, por exemplo, surgiu como uma forma de proteger o couro cabeludo das pessoas que vi- viam em regies de climas quentes. Esse tipo de cabelo forma uma camada de ar entre o couro cabeludo e o ambiente, protegendo a cabea da grande incidncia dos raios solares. Ainda de acordo com os cientistas, um dos fa- tores pelos quais os europeus teriam a pele mais clara do que a dos africanos, por exemplo, se deve ao clima. Durante o processo de seleo natural verificado ao longo de milhares de anos, prevalece- ram na Europa regio onde os dias costumam ser mais curtos e frios indivduos de pele mais clara, pois estes tm capacidade de melhor absorver a luz solar necessria produo de vitamina D, respon- svel pela absoro de clcio, essencial para o de- senvolvimento de ossos e dentes. Em estudo publicado em 2007, o antroplogo nor- te-americano Henry Harpending, baseado na anlise do DNA de indivduos de diferentes populaes, afir- ma que os europeus ficaram mais claros, mais louros e com olhos mais azuis h apenas cinco mil anos. Fontes: ESCOBAR, Herton. Evoluo do Homo sapiens continua, cem vezes mais rpida. O Estado de S. Paulo, 11 dez. 2007; . Acesso em: 16 abr. 2012; Superinteressante, n. 50. nov. 2001. Disponvel em: . Acesso em: 16 abr. 2012. HMOV_v1_PNLD2015_010a018_U01_C01.indd 16 3/6/13 10:41 AM 18. 17frica, bero da humanidade Captulo 1 1. O conceito de Pr-Histria representa, tradicio- nalmente, o perodo entre o aparecimento da humanidade e a inveno da escrita. Essa perio- dizao foi construda no sculo XIX, quando os estudiosos acreditavam que os registros escritos eram fundamentais para o entendimento das so- ciedades antigas. Por que o conceito de Pr-His- tria deve ser visto com ressalvas? 2. A inveno da escrita no ocorreu da mesma for- ma e na mesma poca entre todos os povos. Cite algumas sociedades atuais que no utilizam a es- crita na vida cotidiana. 3. Nossos conhecimentos sobre a origem da huma- nidade dependem das pesquisas de diversos es- pecialistas, como paleontlogos, geneticistas, an- troplogos, etc. Com base na leitura do captulo, descreva o que a cincia descobriu at agora sobre a origem e o desenvolvimento dos homindeos. 4. Alm do Homo sapiens, outras espcies de Homo povoaram a Terra nos ltimos milhes de anos: o Homo habilis, o Homo erectus e o Homo neanderthalensis. Descreva as caractersticas fun- damentais dessas espcies indicando a poca em que existiram. 5. As descobertas sobre a origem da humanida- de so fruto da pesquisa cientca de diferentes reas. Descreva, em linhas gerais, como se reali- zam essas pesquisas. Organizando AS IDEIAS Agora, voc vai ver duas representaes da evoluo da espcie humana. Depois de compar-las, respon- da ao que se pede. Documento 1 Representao livre da evoluo humana. Habitualmente, essa evoluo representada como uma caminhada de figuras do sexo masculino. Aqui, o artista inovou, introduzindo figuras femininas como representantes da cadeia evolutiva da humanidade. DavidGifford/SciencePhotoLibrary/Latinstock Interpretando DOCUMENTOS HMOV_v1_PNLD2015_010a018_U01_C01.indd 17 3/6/13 10:41 AM 19. 18 Unidade 1 A fora do conhecimento e da criatividade 1. Como a evoluo da espcie humana represen- tada no documento 1 e no documento 2? 2. Comparando os dois documentos, por que po- demos armar que o primeiro no representa corretamente os nossos conhecimentos atuais sobre o desenvolvimento da espcie humana? 3. Podemosdizerqueodocumento2representaaverda- de sobre a evoluo humana? Justique sua resposta. Documento 2 rvore genealgica da espcie humana feita com base nos conhecimentos disponveis em 2007. Na coluna da direita est registrado, em milhes de anos, o momento em que cada espcie apareceu. rvore genealgica da espcie humana feita com base nos conhecimentos disponveis em 2007. Na coluna Homo orensiensis Homo neanderthalensis Homo cepranensis Homo mauritanicus/antecessorHomo erectus Homo habilisHomo ergaster Paranthropus robustus Paranthropus boisel 7 MILHES DE ANOS ATRS (MAA) 2 MAA 3 MAA 4 MAA 5 MAA 6 MAA 1 MAA PRESENTE Paranthropus aethopicus Ardipithecus ramidus Australopithecus bahrelghazali Australopithecus afarensis Australopithecus anamensis Kenyathropus platyops Kenyathropus rudolfensis Ardipithecus kadabba Sahelanthropus tchadensis Orrorin tugenensis Homo sapiens (ser humano moderno) Australopithecus africanus Adaptado de: . Acesso em: 16 abr. 2012. Mundo virtual n Lascaux Um passeio virtual pelo interior da caverna de Lascaux, na Frana, famosa por suas pinturas rupestres. O site est em ingls, mas basta clicar na pgina inicial para comear o passeio. Disponvel em: . Acesso em: 10 out. 2012. n Evoluo humana Uma linha do tempo interativa sobre a evoluo da espcie humana. Est em ingls, mas de fcil navegao. Disponvel em: . Acesso em: 10 out. 2012. Nos primrdios da humanidade, diversas for- mas de conhecimento contriburam para a sobre- vivncia e o desenvolvimento dos homindeos: a construo e o manuseio de instrumentos, a orga- nizao coletiva da caa, o domnio do fogo, etc. Rena-se em grupo com outros colegas e, juntos, escrevam um texto sobre o papel da socializao do conhecimento para a sobrevivncia da espcie humana. Ao nal da atividade, apresentem para a classe as ideias discutidas no grupo. Hora DE REFLETIR HMOV_v1_PNLD2015_010a018_U01_C01.indd 18 3/6/13 10:41 AM 20. 19 Captulo 2 A Revoluo Agrcola Arroz vermelho, babau, umbu, feijo-canapu, palmito-juara, castanha-baru. Voc j ouviu falar dessas plantas encontradas no Brasil? Pois elas fazem parte de uma relao de 750 espcies vegetais do mundo inteiro que, pelos mais variados motivos, correm o risco de desaparecer para sempre. Uma lista atualizada de plantas sob risco de extino encontra-se disponvel no site da Slow Food, fundao internacional que desenvolve projetos de plantio de vegetais ameaados com a nalidade de impedir seu desaparecimento. Quantas outras espcies vegetais, contudo, foram perdidas para sempre ao longo da histria da humanidade algo difcil de calcular. Durante milhares de anos, nossos ancestrais viveram da caa, da pesca e da coleta de frutas e razes. O domnio de tcnicas de plantio s ocorreu h cerca de 10 mil anos. Mas a FbioColombini/Acervodofotgrafo Rubens Chaves/Acervo do fotgrafo Objetivos do captulo Apresentar as teorias sobre o povoamento da Terra pelo gnero Homo. Mostrar a importncia do domnio da agricultura e da domesticao de animais para a sedentarizao dos grupos humanos e a formao dos primeiros ncleos urbanos. Destacar o papel da especializao de funes na organizao social e poltica dos grupos humanos. Umbuzeiro em Paulo Afonso, na Bahia, em foto de 2008. Nativo da caatinga do Serto nordestino, o umbuzeiro (rvore do umbu), hoje em processo de extino, tem razes capazes de armazenar grande quantidade de gua. Essa caracterstica lhe permite sobreviver nos perodos de seca prolongada. agricultura signicou para o ser humano uma verdadeira revoluo, modicando seus hbitos, xando-o terra e permitindo que alguns grupos abandonassem pouco a pouco a vida nmade e se tornassem sedentrios. Tal fato promoveu o surgimento das primeiras cidades e civilizaes. Neste captulo estudaremos as grandes mudanas ocorridas na vida humana com o desenvolvimento da agricultura. HMOV_v1_PNLD2015_019a024_U01_C02.indd 19 3/6/13 10:42 AM 21. 20 Unidade 1 A fora do conhecimento e da criatividade OCEANO ATLNTICO OCEANO ATLNTICO OCEANO NDICO OCEANO PACFICO 120 O 0 OCEANO GLACIAL RTICO Estr. de Bering Grupos humanos no monglicos Grupos humanos monglicos Crculo Polar rtico Trpico de Cncer Trpico de Capricrnio Equador TEoRIa Da ocuPao Da aMRIca Fonte: nEVES, W.; PIL, L. O povo de Luzia: em busca dos primeiros americanos. So Paulo: Globo, 2008. 0 3100 QUILMETROS ESCALA 6200 Isso s teria sido possvel porque, naquela poca, o planeta vivia sua ltima Era Glacial*, durante a qual as guas do mar baixaram drasticamente, deixando descoberto o fundo do estreito de Bering. Do Alasca, essa popu- lao teria alcanado a Amrica do Sul h 11500 anos. Entretanto, descobertas arqueolgicas mais re- centes recuam a chegada do ser humano Amri- ca para muito antes dessa data. Para alguns pesqui- sadores, existiriam vestgios da presena humana no continente de at 50 mil anos, o que obrigaria os es- tudiosos a reverem a teoria Clvis. As pesquisas coor- denadas pela arqueloga brasileira Nide Guidon na regio de So Raimundo Nonato (Piau) contriburam decisivamente para esse debate. Outra polmica recente refere-se ideia, defen- dida pelo pesquisador brasileiro Walter Neves, de que houve mais de uma leva de migrao pelo estreito de Bering, sendo uma delas realizada por povos de traos africanos (veja o mapa abaixo). Para reforar essa hiptese, Neves baseia-se no crnio de uma mu- lher achado em 1975 em Lagoa Santa (MG) e qual se deu o nome de Luzia. Ela teria vivido h cerca de 11500 anos e apresentaria caractersticas morfolgi- cas mais prximas dos aborgines negroides da Aus- trlia do que dos mongoloides asiticos. Reconstituio da cabea de Luzia feita na Universidade de Manchester, Inglaterra, com a ajuda de tomografias computadorizadas. A reconstruo revela uma face de traos africanos, em contraste com a dos indgenas de caractersticas mongoloides encontrados por Cabral em 1500. MarcosHermes/Arquivo daeditora saindo da frica Entre 1 milho e 700 mil anos atrs, o Homo erectus saiu da frica, onde surgiu, e iniciou o povoa- mento da sia e da Europa. Entretanto, foi o Homo sapiens sapiens quem conseguiu ocupar at por volta de 12000 a.C. todos os continentes do plane- ta, com exceo da Antrtida. Segundo os especialistas, o Homo sapiens sa- piens chegou ao Oriente Prximo e sia entre 90000 a.C. e 45000 a.C. Do continente asitico ele teria alcanado h cerca de 40 mil anos a Ocea- nia por meio de embarcaes. Enquanto isso, outros grupos ocupavam a Europa e a sia central. A, leva- vam uma vida nmade, ou seja, deslocavam-se cons- tantemente em busca de alimentos. Viviam da coleta de frutos e razes e caavam animais, como mamutes e bises, hoje extintos. O povoamento da Amrica Ainda hoje, a cincia no chegou a uma expli- cao nica a respeito de quando os primeiros hu- manos atingiram o continente americano. A teoria Clvis, formulada na primeira metade do sculo XX, afirma que, h cerca de 15 mil anos, grupos de ca- adores-coletores teriam sado do nordeste da sia, atravessado o estreito de Bering e chegado ao Alasca. 1 * Veja o filme A Era do Gelo, de Chris Wedge, 2002. HMOV_v1_PNLD2015_019a024_U01_C02.indd 20 3/6/13 10:42 AM 22. 21A Revoluo Agrcola Captulo 2 o domnio da agricultura Com o fim da Era Glacial, o clima tornou-se mais ameno e o solo, mais frtil. Grupos nmades come- aram a construir suas cabanas junto a rios e lagos, onde pescavam, abasteciam-se de gua, caavam e coletavam cereais silvestres. Levados para os acampamentos, onde eram mo- dos e cozidos, muitos desses gros de cereais caam acidentalmente no solo, e provvel que as pessoas tenham percebido que, com o tempo, eles germina- vam. Segundo alguns estudiosos, foi dessa maneira que o ser humano aprendeu a cultivar a terra. As evidncias indicam que o domnio da agri- cultura ocorreu de forma independente em dife- rentes lugares do mundo. Na regio de Jeric, no Oriente Mdio, a agricultura teria surgido h cerca de 10 mil anos. Nessa mesma poca, na Amrica, grupos humanos j cultivavam abboras na atual regio do Equador. Povos sedentrios O domnio da agricultura provocou uma grande transformao na vida dessas populaes a ponto de ser chamado de Revoluo Agrcola. Diversos po- vos, que antes levavam uma vida nmade em busca de alimentos, se fixaram (sedentarizaram) em deter- minada regio e comearam tambm a cultivar verdu- ras e legumes. Dessa maneira, conseguiam ter melhor controle sobre seu estoque de alimentos. A tomada de conscincia dessa nova capacidade resultou em um aprimoramento das tcnicas agrcolas e provocou in- meras mudanas nos hbitos dos grupos humanos. 2 Pintura rupestre em caverna da Arglia, no norte da frica, datada de 4500 a.C., alusiva criao de gado por grupos humanos do perodo Neoltico. GeorgeHolton/PhotoResearchers,Inc./Latinstock Com a agricultura, os seres humanos passaram a elaborar melhor seus instrumentos e utenslios de pedra. Essa mudana, qual se acrescentou mais tar- de a utilizao dos metais como matria-prima, le- vou os cientistas a dividir a chamada Pr-Histria em trs perodos: Paleoltico, ou Idade da Pedra Lascada* do surgimento dos primeiros seres humanos at 8000 a.C. Caracterizado por ins- trumentos rsticos, no polidos. Neoltico, ou Nova Idade da Pedra de 8000 a.C. a 5000 a.C. Principais carac- tersticas: instrumentos de pedra polida, agricultura e sedentarizao. Idade dos Metais de 5000 a.C. inveno da escrita. Durante o Neoltico, o maior estoque de alimen- tos permitiu que algumas comunidades crescessem. Quase ao mesmo tempo que se deu o domnio da agricultura, ocorreu a domesticao de animais ca- bras, ovelhas, galinhas, porcos, cavalos e bois. Com ela, alguns desses animais passaram a ser utilizados como meio de transporte, como fonte de leite, l e esterco, alm de carne para os perodos de fome (leia o texto Dos potes de cermicas s garrafas PET na se- o Eu tambm posso participar, a seguir). Em quase todos os lugares, a vida sedentria e o cultivo do solo levaram ao crescimento demogrfico e formao de aglomeraes humanas. Pouco a pou- co, algumas dessas aglomeraes se transformaram nas primeiras vilas e cidades (veja o mapa da pgina 23). Com o crescimento populacional, surgiram no- vos problemas. Sobreviver nos lugares de clima ri- do, por exemplo, exigia um enorme esforo coletivo. A populao dessas regies precisava construir reser- vatrios para garantir gua nos perodos de seca, er- guer diques para controlar as cheias dos rios, abrir ca- nais para irrigar as plantaes. * Veja o filme Homens pr-histricos Vivendo entre as feras, Discovery Channel, 2002. nais para irrigar as plantaes. Erich Lessing/Album/Latinstock Com uma foice de agricultor apoiada no ombro direito, esta pequena estatueta de cermica (25,6 cm de altura) representa uma divindade do perodo Neoltico. Encontrada na regio do leste europeu hoje conhecida como Hungria, foi esculpida por volta de 4500 a.C. Uma mscara triangular encobre seu rosto. Os braos so ornamentados com braceletes e em seu corpo h desenhos geomtricos. HMOV_v1_PNLD2015_019a024_U01_C02.indd 21 3/6/13 10:42 AM 23. 22 Unidade 1 A fora do conhecimento e da criatividade Dos potes de cermica s garrafas PET Uma inveno criada h milhares de anos de- sempenhou papel fundamental para a sobrevi- vncia das primeiras comunidades sedentrias. Trata-se da cermica, tcnica que consiste em modelar o barro no formato desejado e lev-lo ao fogo para secar. Os objetos de cermica mais antigos conheci- dos foram encontrados no Oriente, onde hoje ficam o Japo e a China. So vasos e potes com cerca de 20 mil anos de existncia. Porm, a cermica teve seu uso ampliado por volta do quarto milnio a.C. graas introduo da roda de oleiro e dos fornos de alta temperatura. Com eles era possvel produ- zir panelas, formas, jarros, potes, entre outros uten- slios, mais resistentes e em maior quantidade. Com esses objetos, as pessoas puderam levar a comida ao fogo de forma mais adequada, o que facilitava a ingesto e o aproveitamento dos ali- mentos. Jarros e potes, por sua vez, se tornaram fundamentais para o armazenamento e transpor- te de produtos como azeite e gua. A cermica tambm era usada em rituais. Passados milhares de anos desde a inven- o dos primeiros potes de cermica, um dos produtos mais utilizados atualmente para o ar- mazenamento e transporte de lquidos so as garrafas plsticas. Um dos plsticos mais utilizados para esse fim o PET (sigla para polietileno tereftalato), re- sina originria do petrleo com a qual se fazem embalagens reciclveis usadas principalmente para armazenar bebidas no alcolicas, como gua e refrigerantes. Foi no final dos anos 1980 que a indstria bra- sileira comeou a produzir garrafas PET como opo leve e barata para substituir as garrafas de vidro. Lanadas nas ruas ou espalhadas nos lixes a cu aberto, essas embalagens entopem esgotos e poluem rios e mares. Muitos animais marinhos como baleias, lees-marinhos, tartarugas aca- bam confundindo essas embalagens com alimen- tos e morrem asfixiados ao ingeri-las. Para agravar ainda mais a situao, as gar- rafas PET so de difcil decomposio, levando em mdia cerca de cem anos para se desfaze- rem naturalmente. A adoo de procedimentos bsicos em rela- o ao uso e descarte dessas embalagens no dia a dia ajuda a minimizar tal situao. Veja o que pode ser feito. O uso mais frequente de embalagens retor- nveis ajuda a reduzir a quantidade de lixo produzida. Muitas embalagens podem ser reutilizadas. Assim, as garrafas PET podem ser transforma- das em recipientes para guardar gua ou em vasos. J existem experimentos que transfor- mam recipientes PET em paredes de casa e at mesmo um barco j foi fabricado com es- sas embalagens. Com ele foi possvel navegar cerca de 1,5 mil quilmetros ao longo do rio So Francisco. As embalagens PET so reciclveis e seu uso pode ser bem variado. Em 2008, o governo federal aprovou uma lei que permite s em- presas utilizarem PET reciclado para emba- lar alimentos. Isso possvel porque j existe tecnologia capaz de limpar e descontaminar esse material. Entretanto, as empresas bra- sileiras ainda no tm condies de reciclar toda a quantidade de embalagens PET des- cartadas diariamente. Eu tambm posso participar Fragmentos de cermica encontrados na caverna de Xianrendong, no norte da provncia de Jiangxi, na China. Acredita-se que foi produzida em uma comunidade de caadores-coletores h cerca de 20 mil anos, ou seja, 10 mil anos antes do desenvolvimento da agricultura. Foto de 2012. Fotos:Science/AAAS/AgnciaFrance-Presse HMOV_v1_PNLD2015_019a024_U01_C02.indd 22 3/6/13 10:42 AM 24. 23A Revoluo Agrcola Captulo 2 Ora, isso s poderia ser feito se o grupo estivesse bem organizado e preparado para enfrentar os pro- blemas surgidos com a sedentarizao, entre os quais doenas contagiosas como sarampo, gripe e catapo- ra, resultantes do contato com animais domsticos, ou a disenteria, provocada pelo acmulo de dejetos. Alm disso, esses grupamentos humanos sofriam com a ao de ladres nmades, com as tempesta- des de areia e inundaes repentinas. Tudo isso exigia melhor diviso das tarefas: en- quanto algumas pessoas se responsabilizavam por obras como a construo de diques e de canais de irrigao, outras cuidavam da agricultura e da fabri- cao de ferramentas e utenslios. O resultado desse esforo foi um gradual avano tecnolgico, que cul- minou na inveno da roda, do arado de trao ani- mal, do barco a vela e na fundio de metais, ativida- de iniciada por volta de 5000 a.C. Com a metalurgia tornou-se possvel criar ferramentas, armas e outros utenslios do tamanho e do formato desejado. O primeiro metal a ser fundido foi o cobre, encon- trado na forma de veios no meio das rochas. Por volta de 3000 a.C., os sumrios (veja captulo 4) descobri- ram que, ao misturar cobre com estanho, obtinha-se uma liga muito mais resistente e moldvel: o bronze. O ferro s veio a ser descoberto por volta de 2000 a.C. pelos chineses (veja captulo 6), e com ele foi possvel fazer ferramentas e armas mais rgidas ainda. medida que algumas atividades e profisses assumiram maior importncia, comearam a se afir- mar os primeiros graus hierrquicos (pessoas que mandavam e pessoas que obedeciam) e formas ini- ciais de estratificao social. Alguns indivduos, graas autoridade moral, capacidade de liderana ou riqueza, passaram a ser consultados em relao a determinadas ques- tes. Outros se destacaram como chefes guerreiros, ou seja, por sua capacidade de conduzir o grupo nos conflitos com grupos rivais. Em vrios casos, essas pessoas (e os grupos sociais a que estavam ligadas) passaram a deter privilgios e poder sobre os demais, tornando-se governantes e reis. Com o crescimento das comunidades, aumen- tou a procura por alimentos e utenslios, intensifican- do-se o comrcio com outros grupos. Um dos resulta- dos desse processo foi o surgimento, h cerca de 10 mil anos, dos primeiros ncleos urbanos, como atal Hyk e Jeric (veja mapa abaixo).