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A Farmácia e a História J. P. Sousa Dias História e Sociologia da Farmácia

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A Farmácia e a História

J. P. Sousa Dias

História e Sociologia da Farmácia

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Evolução da História da Farmácia

• Primeiras grandes obras– 1847 - Espanha - C. Mallaina e Q. Chiarlone– 1853 - França - A. Phillippe– 1855 - Alemanha - J. F. H. Ludwig – 1866 - Portugal - Pedro José da Silva

• Escola alemã– J. Berendes (1837-1914), H. Peters (1847-1920) e H. Schelenz

(1882-1960)

• G. Urdang (1882-1960)• História da Farmácia e História da Ciência

– História interna e História externa

• História do Medicamento

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Método histórico

• Fontes históricas– Materiais– Iconográficas– Escritas– Orais

• Método - Crítica Histórica– Heurística - Busca– Crítica - Verificação

» Externa - Autenticidade» Interna - Credibilidade

– Hermenêutica– Síntese

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Ciências Auxiliares. I

– Geografia– Estatística– Arqueologia

» Estuda vestígios materiais da actividade humana.

– Climatologia» Estuda evolução do clima.

– Cronologia» Estuda situação dos factos históricos no tempo, diferentes formas de

medir o tempo e vários calendários.

– Demografia» Estuda quantitativamente as populações.

– Diplomática» Estudo dos diplomas e documentos oficiais.

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Ciências Auxiliares. II

– Heráldica.» Estudo dos brasões.

– Filologia.» Estudo das línguas.

– Genealogia.» Estudo das filiações.

– Onomástica.» Estudo dos nomes próprios.

– Paleografia.» Paleografia. Estuda os diferentes tipos de escrita ao longo dos tempos.

– Outras.» Epigrafia, Papirologia, Sigilografia, etc.

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Pré-História

Primeiros sereshumanos sobrea Terra

Paleolítico Mesolítico Neolítico Cobre Bronze Ferro

Idade da Pedra Idade dosMetais

Esc

rita

c. 2.000 a.C.

c. 500.000 a.C.

c. 10.000 a.C.

c. 5.000 a.C.

c. 3.000 a.C.

c. 3.000.000 a.C.

c. 1.000 a.C.

Homo erectus

c. 1.000.000 a.C. tempos históricos

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O Crescente Fértil

– Primeiras sociedades com escrita surgem no Crescente Fértil e vale do Indo

– Grande desenvolvimento desde o 4.º milénio a.C.

• Egipto– Vale do Nilo

• Mesopotâmia– Planície do Tigre e do Eufrates

• Corredor sírio-palestiniano– Faixa mediterrânica que liga o Egipto à Mesopotâmia

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Crescente Fértil

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Civilizações do Crescente Fértil

• Egipto– unificado ca. 3000 a.C.– Antigo Império (2850-2052 a.C.). Capital em Mênfis– Médio Império (2052-1570 a.C.). Tebas– Novo Império (1570-715 a.C.). Tebas e depois Sais

• Mesopotâmia– Sumérios (3000-1900 a.C.)– Babilónios (1900-1200 a.C.)– Assírios (1200-612 a.C.)

• Corredor sírio-palestiniano– Fenícios– Hebreus

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Mais antigas fontes escritas médico-farmacêuticas

• Mesopotâmia– Tabuinhas de argila gravadas com estilete em escrita cuneiforme– Bibliotecas

» Hammurabi (ca. 1700 a.C.) em Mari» Assurbanípal (ca. 630 a.C.) em Nínive

– Mais antigo documento farmacêutico conhecido– Tabuinha suméria de Nippur.

» ca. último quartel do 3.º milénio» 15 receitas medicinais

– Centenas de tabuinhas médicas do primeiro milénio

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MesopotâmiaDeuses com funções concretas

• Deuses da doença e de doenças específicas• Deuses pessoais

» Deuses protectores, confidentes e amigos» Primeiros deuses a quem é pedida intervenção» Não agem directamente» Intercedem junto de deuses poderosos: Marduk e Ea

• Marduk• Deus tutelar da Babilónia, senhor dos deuses• Deus da luz, do exorcismo, da arte de curar e da sabedoria• Pai de Nabu, deus da escrita e da literatura

• Ea (Bab.) <> Enki (Sum.)• Seu reino é o oceano de água doce sob a terra.• Deus da sabedoria e da arte mágica.• Criador da vegetação e dos seres humanos

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Deus ou Génio protectorPalácio de Assurnasípal II, Kalah, Síria

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Oração de Apiladad

«Ao deus, meu pai, me dirijo: isto diz Apiladad, teu servo:porque te desentendeste comigo ?,quem te proporcionará algum que possa tomar o meu lugar ?Escreve ao deus Marduk, que é teu amigo, para que possa terminar o meu cativeiro; então olharei o teu rosto e beijarei os teus pés.Considera também a minha família, tanto os mais velhos como os

pequenos:tem piedade de mim, por eles, e concede-me o teu auxílio.»

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Deuses invocados

• Ea– Todo-poderoso, convém não recorrer directamente a ele

• Marduk, Shamash, Isthar» Intercessores mais invocados, mais fortes que «deus pessoal»» por vezes recitam-se largas listas com outros deuses como Bel, Belit,

Ninurta

• Deuses que protegem os actos médicos» Invocados pelos médicos

– Edin-mugi» protector dos partos difíceis;

– Ninurta e Gula» com acção sanitária

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Gilgamesh

– Lenda de Gilgamesh• Visão negativa da vida depois da morte• Busca da vida eterna

» Histórico• Rei sumério de Uruk (3.º milénio)

» Poema de Gilgamesh12 tabuínhas da bibl. Assurbanípal no BM

Engidu - companheiro de G.Homem c/ força do javali, crina do leão e velocidade

do pássaroIshtar - deusa do amor e da sexualidade pretende casar

com G.Depois da morte de Engidu (Ishtar), procura Shamash-

napishtim que sobrevivera ao Dilúvio e se tornara imortal. Serpente

Engidu conta a G. sobre o mundo dos mortos

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Do Poema de Gilgamesh

«A vida, que tanto anseias, nunca a poderás alcançar. Porque, quando os deuses criaram o homem, infundiram-lhe a morte, reservando a vida para si mesmos. Gilgamesh, enche o teu ventre, alegra-te de dia e de noite, que os dias sejam de completo regozijo, cantando e bailando de dia e de noite. Veste-te com roupas frescas, lava a tua cabeça e banha-te. Contempla o menino que agarra a tua mão, e deita-te com a tua mulher, abraçando-a, porque isto é tudo o que se encontra ao alcance dos homens.»

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Conceito de doença

• Doença– Mal causado por espíritos malignos, demónios;– Aproveitando a falta de protecção dos deuses

• Shêrtu– “Pecado”, “cólera divina”, “castigo”

• Génese da doença– Acção directa dos deuses– Posse por demónio

» Deuses retiram a protecção» Magia negra» Destino (Suméria)

• Causas naturais– as conhecidas são consideradas acessórias

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Espíritos malignoscausadores de doenças

• Edimmu ou Ekimmu– espíritos dos mortos que não conseguiram descansar

» Mortos por enterrar» A que não se dedicavam oferendas» Que não tinham cumprido a sua missão na terra

• Lilû, Lilîtinou Ardatlilî– Resultantes da união entre demónio e humano (M/F)

• Deuses inferiores ou diabos– Nergal - peste– Ashakku - Febre– Ti’u - Cefaleias– Sualu - Doenças do peito

Pazuzu, demónio das tormentas. M. Louvre

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Demónios

«Febre (Ashakku) no homem, invadiu a sua cabeça. Enfermidade (Namtaru) no homem, invadiu a sua vida. Um espírito mau (Utukku) invadiu o seu pescoço.Um demónio mau (Alú) invadiu o seu peito.Um fantasma mau (Ekimmu) invadiu o seu ventre.Um diabo mau (Gallu) invadiu a sua mão.Um deus mau (Ilu) invadiu o seu pé.Estes sete juntos sequestraram-noDevoram o seu corpo como um fogo consumidor.»

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Interrogatório

• «Semeaste a discórdia entre pai e filho? Semeaste a discórdia entre mãe e filha?• Semeaste a discórdia entre irmão e irmão? Semeaste a discórdia entre amigo e amigo?• Recusaste deixar partir o prisioneiro, tirar as correntes ao acorrentado?• Cometeste não sei que pecado contra o seu deus, não sei que pecado contra a sua deusa?• Disseste "sim" em vez de "não"?• Empregaste falsas balanças?• Expulsaste o filho legítimo? Instalaste o filho ilegítimo?• Arrancaste cercas, limites, separações?• Entraste na casa do teu próximo?• Tiveste comércio com a mulher do teu próximo?• Expulsaste da tua família um bom homem?• Roubaste a roupa do teu próximo?• Dividiste uma família unida?• Dirigiste-te contra o teu superior?• Foi a tua boca recta (mas) ou teu coração falso?• Cometeste crimes, roubaste, mandaste roubar?• Ocupaste-te de bruxarias ou de encantamentos?«

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Impureza moral por contágio

• «Enquanto caminhava por ruas e caminhos• foi a uma libação que se tinha vertido,• ou meteu o pé em água suja,• ou olhou a água de lavar as mãos,• ou tocou numa mulher que tinha as mãos sujas,• ou olhou para uma rapariga que não tinha as mãos limpas, • ou a sua mão tocou numa mulher embruxada,• ou tocou num homem que não tinha lavado as mãos, • ou viu alguém que não tinha lavado as mãos, • ou a sua mão tocou em alguém cujo corpo estava sujo.»

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Diagnóstico

• Objectivos– Que pecado cometeu ?– Que demónio se apoderou do seu corpo ?– Quais os propósitos do deus ?

• Métodos– Adivinhação

» Processo pelo qual os deuses manifestam sua vontade.» Ex. Piromancia (interpr. chama e fumo), hepatoscopia (fígado dos

animais sacrificados), oniromancia (sonhos), presságios a partir de nascimentos anormais (homens/animais), astrologia.

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Adivinhação

• «Se um homem acode a casa de um homem doente (e) um falcão voa paralelamente à sua direita, o doente melhorará.

• Se o falcão voa paralelamente à sua esquerda, o doente morrerá.• Se pela manhã na parte posterior da casa do homem doente um falcão vai de

uma cerca do lado direito a outra do lado esquerdo, o doente melhorará rapidamente.

• Se pela manhã na parte posterior da casa do homem doente um falcão vai de uma cerca do lado esquerdo a outra do lado direito, a sua enfermidade aumentará.

• Se pela manhã na parte posterior da casa do homem doente, sai um falcão voando, o doente morrerá.»

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Terapêutica

• Objectivos e métodos– Reconciliação com os deuses

» Oração• Marduk e outros intermediários• Por mandato de Ea, o sacerdote representa o doente perante o tribunal

dos deuses

» Sacrifícios• Alimentício (dos deuses), expiatório (destruição do bem) e substitutivo

(do homem)

– Expulsão dos demónios» Encantamentos e purificações por magia

• Dirigidos ao tribunal dos deuses;• Dirigidos directamente contra os demónio• Profiláticos; amuletos• Dirigidos a objectos (para lhes incutir espírito)

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Encantamento

«Oh sal, criado num local puro.Enlil te destinou para alimento dos deuses.Sem ti, nenhuma comida se condimenta em Ekur.Sem ti, deus, rei, senhor, príncipe, o incenso não exala o teu aroma.Sou fulano de tal, o filho de sicrano.Encontro-me preso de um encantamento.Tenho febre devido a um feitiço.Oh sal, rompe o sortilégio ! Destrói o feitiço !Afasta de mim o encantamento ! E te louvarei como ao meu criador.»

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O justo doente

• Pecado inconsciente– Nomear o pecado cometido, mesmo que inconsciente

» poder da palavra• Nome - representação espiritual de objecto ou pessoa

– Mencionar algo aprox. possuí-lo

» Recitar listas de possíveis faltas

• Pecado de família– Na cultura judaica: cura do cego de nascença

• Discípulos a Jesus: “Rabi, quem foi que pecou para este homem ter nascido cego ? Ele ou os seus pais ?” (São João, 9, 2)

• Fariseus ao cego: “Tu nasceste coberto de pecados e dás-nos lições ?” (São João, 9, 34)

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O justo doente: ausência de cura

«A enfermidade de Alu cobre o meu corpo como um manto,o sono prende-me na sua rede os meus olhos parecem olhar, mas não vêm; os meus ouvidos estão abertos, mas não ouvem, a debilidade apoderou-se do meu corpo.»

Dado por morto, roubam-lhe os bens, os seus inimigos riem-se dele, os deuses desamparam-no. Porquê ? Os juizos dos deuses são por vezes insondáveis:

«O que a um lhe parece louvável é, em vez disso, desprezível para os deuses.O que parece mal ao coração é bom para o deus pessoal. Quem pode compreender a mente dos deuses na profundidade do céu ? Os pensamentos do deus são como as águas profundas, quem as pode sondar ?.»

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Fontes no Egipto

• Papiros– Papiro de Ebers (ca. 1550 a.C.)

» Mais importante» Estudado por Georg Ebers (1837-1898) em 1875» Escrita hierática» + de 20 metros com referências a

• + de 7000 substâncias medicinais• + de 800 fórmulas

» Actualmente na Universitats Bibliothek de Leipzig.

– Outros: papiros de Hearst, de Londres e de Berlim• Contrariamente às mesopotâmicas, as fórmulas egípcias são

quantitativas

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Aspectos da mitologia egípcia relacionados com a saúde

• Imhotep– Médico egípcio, primeiro-ministro do faraó Zoser (ca. 2700-2650

a.C.) e arquitecto da pirâmide de Sakkara e do templo de Edfu– Deificado ca. 2.500 anos após a morte– Tornou-se principal deus egípcio da medicina– Considerado pelos gregos como representação de Asclépio.

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Asclépio

• Saga de Asclépio• Píndaro (ca. 522-443 a.C.)

– Filho de Apolo e da ninfa Coronis– Tirado do ventre da mãe na pira funerária– A arte da medicina ensinada pelo centauro

Quirón– Serpente ensinou-lhe como dar vida aos mortos– Morto por raio de Zeus por diminuir número

dos mortos

• Caduceus• Filhos de Asclépio e de Epione

• Higeia e Panaceia

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Apolo, Quirón e Asclépio

Fresco de Pompeia, Mus. Arq. Naz., Nápoles

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Templos de Asclépio (asklépieia)

• Kos, Epidauro, Knidos, Pérgamo e outros lugares– Sacerdotes dedicavam-se à cura de doentes

• Incubatio– Doentes passavam a noite no templo, normalmente em grupo, mas eram visitados

individualmente– Epidauro (Sec. IV a.C.)

» Asclépio presta directamente cuidados curativos

– Pérgamo (Sec. II d.C.)» A. indica a prescrição

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Bases filosóficas da Medicina grega

» Preocupação com explicação racional da saúde e da doença nasce com a filosofia grega

• Alcméon (fl. 535 a.C.)– Saúde como equilíbrio no corpo humano de qualidades opostas

» frio e quente, húmido e seco, doce e amargo

– Doença como predomínio de uma qualidade

• Empédocles (492-432 a.C.)– Quatro elementos, terra, água, ar e fogo, como constituintes de

todas as coisas– Doença provocada por desequilíbrio entre elementos na

constituição do corpo humano

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As escolas pré-hipocráticas

• Escolas médicas– Knidos, Crotone e Kos

• Patologia geral– Oposta à ideia dominante de que as doenças se encontravam

limitadas apenas a um órgão– Processos morbosos devidos a reacção da natureza a situação de

desequilíbrio humoral, constituídos por três fases:» apepsia - aparecimento do desequilíbrio» pepsis - reacção do corpo

• febre, inflamação e pus

» crisis ou lysis - eliminação dos humores em excesso.

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Hipócrates

• Hipócrates de Kos (460-370 a.C.)– Médico grego, natural de Kos– Contemporâneo de Péricles, de Empédocles, Sócrates, Platão e

outras figuras do florescimento intelectual ateniense

• Corpus Hippocraticum– Vasta obra constituída por 53 livros– Reunido em Alexandria por Baccheio no séc. III a.C.– Tradicionalmente atribuída a Hipócrates– Só parte foi escrita por ele, restantes livros das escolas de Knidos,

Kos e Crotone

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Teoria dos Humores

coléricos sanguíneos

melancólicos fleugmáticos

Quente

Seco Húmido

Frio

Fígado

Baço

Coração

Cérebro

Fogo

Bílis Amarela

Terra

Bílis Negra

Ar

Sangue

Água

Linfa

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Escola de Alexandria

• Medicina grega levada para Egipto e Ásia Menor– Conquistas de Alexandre (356-323 a.C.).– Fundação de Alexandria (332 a.C.)– Biblioteca do mouseion, fundado por Ptolomeu I (c. 285 a.C.)

• Escola médica– Herófilo e Erasístrato– Baccheio de Tanagra reune escritos hipocráticos.

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Medicina grega

Alcméon(fl. 535 a.C.)

Saúde como equilíbrio de qualidadesopostas

frio - quentedoce - amargohúmido - seco

Empédocles(492-432 a.C.)

Quatro elementos consti tuintesde todas as coisas

Terra ÁguaArFogo

Aristóteles(385-322 a.C.)

Escolas pré-hipocráticasKnidos, Crotone e Kos

Hipócrates de Kos (460-370 a.C.)

Corpus HippocraticumReunido por Baccheio emAlexandria no séc. III a.C.

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Medicina Indiana

• India - Ayurveda– Susruta e Caraka (ca. Sec. I a.C.)– Cinco elementos

» Eter (vazio), ar, agua, terra e fogo

– Tres humores» Prana (respiraçao) – Ar

• seco, frio, ligeiro, claro e cru

» Pitta (bilis) - Fogo» Kapha (fleuma ou muco) – Agua

– Anatomia (Susruta)» Baseado na inspecçao de cadaveres humanos

• Sem faca, com uma escova após macerar em agua 1 semana

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Medicina greco-romana

– Roma adoptou a Medicina grega» Asclépio tomou em Roma nome de Esculápio» Médicos influentes em Roma são de origem grega

– Figuras mais importantes da medicina e da farmácia em Roma• Celso• Plínio o velho• Scribonius Largus• Dioscórides• Galeno

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Autores romanos

• Aulo Cornelio Celso (ca. 25 a.C.-ca. 40)– De medicina octo libri

» Div. seg. critério terapêutico, dietético, farmacêutico e cirúrgico» Descoberto pelo papa Nicolau V no século XV» Primeiro livro médico a ser impresso (Florença, 1478)

• Plínio o velho (23-79)• Também não era médico mas sim militar

– Naturalis Historia» Compilação enciclopédica sobre 3 reinos da natureza em 37 livros

• Scribonius Largus (fl. 10-50)» Médico do imperador Cláudio

– De compositiones medicamentorum» Formulário farmacêutico

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Pedáneo Dioscórides (fl. 50-70)

• Biografia– Nasceu em Anazarbo, próximo de

Tarsos

– Terá estudado Medicina em Tarsos e em Alexandria

– Acompanhou as legiões romanas» provavelmente como médico,

na Ásia Menor, em Itália, Grécia, Gália e Espanha, no tempo de Nero

• De materia medica– Considerado o fundador da

Farmacognosia

Dioscorides recebe a mandragora da ninfa Epinoia. Juliana Anicia Codex (512)

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Dioscórides - De materia medica

• Dividida em cinco livros, onde descreve cerca de

» 600 plantas» 35 fármacos de origem animal» 90 de origem mineral

• Só cerca de 130 já apareciam no Corpus hippocraticum

• 100 ainda são considerados como tendo actividade farmacológica

• Obra essencialmente de carácter empírico

• Não seguiu nenhuma escola ou sistema médico em particular

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De materia medica

Dioscorides. Erva-moira (Physalis) e Verbasco (Verbascum). Codex Neopolitanus, Sec. VII.

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Galeno (129-200)

• Biografia– Nasceu em Pérgamo

quando era colónia romana

– Aí estudou Medicina– Médico de gladiadores.

Foi viver para Roma em 161

– Médico de Cómodo, filho de Marco Aurélio, igualmente imperador em 180

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Galenismo

• Baseou-se na Medicina hipocrática• Transformou patologia humoral em teoria sistemática• Medicina greco-romana que passou para Ocidente cristão

medieval na forma de galenismo• Dominante até ao S. XVII e mantendo ainda grande

influência no s. XVIII

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Terapêutica medicamentosa galénica

• Classificou medicamentos em 3 grandes grupos:– Simplicia - possuíam apenas uma das quatro qualidades

» seco, húmido, quente ou frio

– Composita - possuíam mais que uma– Específicos - actuavam seg. efeito específico inerente à substância

» purgantes» vomitivos

• Aplicação de medicamentos dependia de factores como» Personalidade do doente, Idade, Raça e Clima

• Importante eram as qualidades e intensidade do medicamento– Dose não seria tão importante

» Propriedade do medicamento era um atributo essencialmente qualitativo e não quantitativo

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A visão cristã da Medicina. I.Uso metafórico da medicina

• Redenção– Cristo médico

» Quando fariseus o acusam de partilhar mesa com pecadores:• ``Não são os que têm saúde que necessitam de um médico, mas sim os

doentes'' (Mateus 9, 12; Marcos 2, 17; Lucas 5, 31)

» Actos dos Apóstolos: • ``Pelas suas feridas fostes curados''

Pedro (1 Petr. II, 24).

• Analogia cara aos filósofos clássicos: médicos da alma• Padres da igreja vêem-se como medici animarum

» Exemplo do Christus medicus - simultaneamente médico e medicamento

» Salvação <> uso de regime e meios terapêuticos penosos p/ cura

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Cristo como boticário.Viena, Österreichisches Museum

für Volkskunde, colecção de arte popular religiosa do antigo convento das Ursulinas.

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A visão cristã da Medicina. II.Ancestralidade da visão da saúde e doença

• Doença por possessão demoníaca– Manutenção da crença – Cristo curou com exorcismo mudo possuído por demónio

• (São Mateus, 9, 32).

• Associação entre doença e pecado– Episódio do cego de nascimento

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Episódio do cego de nascimento. Interpretação

• Visão judaica dominante na perplexidade dos fariseus– "Tu nasceste coberto de pecados e dás-nos lições ?" (João, 9, 34)– E na pergunta dos discípulos:– ``Mestre, quem pecou para que este homem tenha nascido cego, ele

ou os seus pais ?''. » Preocupações herdadas do mundo sumério e assírio-babilónico.

• Resposta de Jesus Cristo:– "nem ele nem os seus pais pecaram" – acontecera para que poder de Deus se manifestasse na sua cura (João

9, 1-3)» negação do nexo causal entre doença e pecado ou negação que o pecado

seja etiologia única e necessária da doença ?

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Relação entre pecado e doença no Novo Testamento

• Paralítico de Cafarnaum– ``Meu filho, os teus pecados estão perdoados''

» antes da cura com

– ``Levanta-te e caminha''• (Mateus 9, 1-7; Marcos 2, 1-12; Lucas 5, 17-26)

• Paralítico da piscina de Bezathaou Bethesda.

» mais tarde quando o encontra no Templo:

– ``Foste curado, não voltes a pecar, para que não te suceda algumacoisa pior''

• (João 5, 1-14)

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Pecado Original

• Queda do Paraíso– Homem afastado dos frutos

da Árvore da Vida– Sem imortalidade– Sujeito à doença e ao

sofrimento.

• Pecado– individual ou colectivo,

mantém-se causa última da doença.

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Dor e sofrimento

• Sacríficio de Cristo – tornou possível salvação do pecado– permitiu que homens alcancem o céu e a vida eterna

» erradicação da doença

• Vida eterna– percurso de treino e aprendizagem terrena– sofrimento, dor física e doença

• Doença causada p/ única divindade– deixa de ser mal absoluto

» provocado por entidade sobrenatural» anulado por outra

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Sofrimento com objectivo

• Deus único do Cristianismo– visa bem último mesmo quando aparentemente causa o mal

• Instrumento divino– para o bem e maturidade espiritual dos seus filhos– corrigir certos pecados ou fraquezas

» gula

– aumentar o auto-conhecimento e estimular as graças cristãs» humildade, a paciência e a fé

• Medicina como metáfora» Médico

• Cura final exige regime e meios terapêuticos rigorosos e mesmo penosos

» Deus• Vida eterna exige conduta de vida pura e mesmo sofrimento

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Religião curativa

– Mesmo Deus que dá a doença também pode dar a cura

– Curas por Jesus» Evangelhos: ca. três dezenas e

meia de curas por Jesus» cegos, surdos, leprosos, coxos e

paralíticos e ressurreição de um morto

– Manifestação da vontade e poder divinos

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Continuação da prática curativa

• Prática de Cristo cont. p/ apóstolos e primeiros cristãos– Actos dos Apóstolos

» São Pedro e São João

– São Paulo » Em Listra, curou coxo de nascença» Em Malta

• Cura do pai de Públio, senhor da ilha– de cama com febre e disenteria– e outros doentes

» Em Tróade: Ressurreição de Eutico• rapaz que adormecera durante sermão e caira de 3.º andar

• Cura ritual» Cura ritual pelos presbíteros da Igreja, que oravam sobre o doente, ``ungindo-o

com o óleo no nome do Senhor''

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Condenação do culto de Asclépio

• Deuses greco-romanos como demónios• Mártir Justino (mart. ca. 165)

– Deuses gregos não eram ficção» Anjos caídos que se tinham cruzado com as filhas dos homens e os seus

descendentes.

– Ignorantes, antigos adoptaram-nos como deuses, c/ os nomes que tinham adoptado

• Asclépio– Curas praticadas na qualidade de demónio

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Herança da Filosofia e Medicina clássica

• Padres alexandrinos» Clemente (ca. 150-ca. 220)

» Orígenes (ca. 184-ca. 253)• Síntese do pensamento grego e cristão• Fé deve ser corroborada pelo pensamento filosófico

• Padres da Capadócia» Basílio o Grande (S. Basílio, ca. 329-79)

» Gregório de Nazianzus (ca. 330-ca. 390)

» Gregório de Nissa (ca. 335-394)• Educação filosófica, profundamente influenciados por Orígenes• Basílio e G. de Nazianzus compilam seus escritos na Philocalia

• Santo Agostinho (354-430)• Influenc. p/ filosofia cláss., part. neo-platonismo, antes da conversão

• S. Jerónimo (ca. 345-ca. 419)• Formação filosófica latina

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Adopção da Filosofia clássica

• Lição de Filosofia– Fresco de

catacumba romana. Séc. IV.

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Mundo palco da Salvação e bondade da Medicina

– Mundo material criado por Deus» para ser usado por e para o homem» Divina Providência concedeu ao homem meios materiais para

sobreviver fora do Paraíso• incl. sabedoria e conhecimento para os utilizar

– ``Todo o conhecimento vem de Deus''• (Eclesiástico, 19, 19)

» cit. Orígenes p/ sublinhar origem divina da M. e qualidade de

– ``benéfica e essencial para a humanidade''• Medicina boa enquanto parte do plano p/ socorrer homem na terra.

» Orígenes, Clemente, Gregório de Nissa, João Crisóstomo e Santo Agostinho

• Medicina: bem concedido por Deus que cristãos não devem ignorar

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Hipócrates cristão

• Versão cristã do Juramento hipocrático.– Manuscrito grego medieval.

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Culto dos santos

– Afirmar a superioridade do poder curativo do cristianismo» Cristianização do Império Romano (391)

• crescimento massivo do número de cristãos

» Final Séc. IV• Elites aristocráticas e populações urbanas do Império ganhas para o

Cristianismo

» Séculos seguintes• Populações rurais e bárbaros invasores pagãos ou convertidos à heresia

Ariana

– Culto dos santos e das relíquias• capacidade de produzir curas miraculosas

» convencer e ganhar populações» integrar no Cristianismo formas de relação com sobrenatural herdadas

do panteísmo pagão

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Linha divisória

• Sobrenatural lícito– Culto dos santos

• Sobrenatural ilícito– Superstição, bruxaria e toda a demonologia

• Papa Gregório I (590-604)– Catolicismo c/ jurisdição universal s/ povo cristão– promove principais manifestações culturais católicas medievais

» monasticismo» virtudes ascéticas» culto dos santos e das relíquias» demonologia

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Santos Cosme e Damião

• Anargyroi» médicos que curavam sem

dinheiro

– Santos Cosme e Damião» irmãos martirizados sob

imperador Diocleciano (284-305).

Fra Angelico. Cura de Justiniano por São Cosme e São Damião. 1438-40Museo di San MArco, Florença.

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Assistência e Hospitais

– Actividade característica da Igreja nas Idades Média e Moderna– Cuidar dos pobres e visitar os doentes

» dever expresso nos Evangelhos - reafirmado por vários concílios• Parábola do bom samaritano (Lucas, 10, 25-27).

– Seres humanos criados à imagem de Deus» forma de homenagear o criador

• na própria pessoa de Cristo:

» ``sempre que destes de comer a um homem com fome, foi a mim que o fizestes''

• (Mateus, 25, 39-40)

» “amai-vos uns aos outros como eu vos amei''• (João, 15, 12).

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Filantropia

• Filantropia (gr. agape, lat. caritas)» virtude central no cristianismo.

• Bispos geriam fundos para assistência– criadas instituições próprias, lig. catedrais / outras igrejas:

» pandokheion (albergue de peregrinos)» xenodochium (albergue de forasteiros)» Mais tarde denominações latinas:

• hospitium e hospitalium

– Maior parte albergues, • teto e comida aos pobres• muito raramente cuidados médicos

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Hospitais cristãos – Séc. IV

• Basileias– fundado ca. 372 por Basílio

» nos arredores de Cesareia, actual Queisari, Anatólia Oriental

– acomodações para viajantes e doentes– cuidados médicos– secção para leprosos

• Geral» primeiros hospitais cristãos com poucas décadas dos primeiros

mosteiros» organização, incl. espaços arquitetónicos, mantém semelhanças

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Pantokrator

Hospital Pantokrator, fundado em 1136 pelo imperador bizantino João II

Inclui mosteiro, asilo de terceira idade e gafaria.

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Canais dos conhecimentos greco-romanos para o Ocidente cristão

Império Romano 31 a.C.-14 d.C. - 1.º reinadodo Império (Augusto)

Santos Cosme eDamião (S. IV) 313 d.C. - Édito de Milão

(Constantino - Baixo Império cristão)

395 - Morte de TeodósioImpério romanodo Ocidente

Império romanodo Oriente

ou Bizantino

Invasõesgermânicas

(Séc. V)

OcidenteCristão

Medicinabizantina

Heresias doSéc. V

431 - Concílio de Efeso

Edessa(Síria)

489 - Encerradaescola de Edessa

Nisibis

Gundishapur(Pérsia)

529 - Encerradaescola de Atenas

Grego Siríaco Árabe

Ascensão eexpansão doIslão (S. VII)

Medicinaárabe Bagdade

(S. VIII)Latim

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Divisão do Império Romano (395 d.C.)

Roma

Alexandria

Bizâncio

Nis ibis

BRETANHA

HISPANIA

GÁLIA

EGIPTO

ITÁLIA

PONTOMACEDÓNIAMérida

Divisão do Império Romanodepois da morte de Teodósio (395 d.C.)

I. R. do Ocidente I. R. do Oriente

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Nestorianos

– Síria » Nisibis e Edessa - principais centros culturais

• Actividade missionária para Oriente a partir do século II d.C.

– Nestório» Patriarca de Constantinopla

• Condenado como herege no Concílio de Éfeso - 431– Defende que Maria não era mãe de Deus, pois Jesus seria apenas um

homem habitado pelo Verbo divino

» Nestorianos• Desterrados para Edessa e Nisibis por Teodósio II• Após 451, juntam-se os partidários da heresia monofisita

– Eutiques de Alexandria proclama que natureza divina e humana de Jesus são o mesmo

• Expulsos de Edessa em 489• Recebidos pelos Sassânidas na Pérsia - Gundishapur• Escola de Atenas encerrada por Justiniano (527-565) em 529

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Ascensão do Islão

• Árabes iniciaram a expansão em 634, após conversão da Arábia à fé revelada por Maomé (570-632)– Derrotaram persas e bizantinos e conquistaram Síria, Palestina,

Mesopotâmia, Egipto, Tunis e Península Ibérica (711)– Na Europa, foram detidos em Poitiers em 732– Chegaram até à Índia em 1001

• Povos conquistados foram integrados no império, mantendo alguns direitos quanto á manutenção de culturas e religiões

• Grego foi proibido por volta de 700• Árabe tornou-se língua oficial, incluindo literatura filosófica e

científica, princ. desde período dos Abássidas, com transferência da capital de Damasco (Síria) para Bagdade (Mesopotâmia) em 750

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A herança da cultura helénica pelos árabes

• Medicina pouco desenvolvida no início da expansão do Islão• Papel da religião na medicina islâmica

– Práticas sanitárias identificadas com cerimónias rituais e regras religiosas– Elevado conteúdo ético e religioso atrib.o à prática e conhecimento médico– Para o hakim, médico, a assistência aos doentes e a busca do conhecimento eram

obrigações no caminho da salvação

• Início do apoio dos dirigentes islâmicos à medicina grega– Cura do califa de Bagdá al-Mansur em 765 pelo médico Girgis ibn Gibril do

hospital nestoriano de Gundishapur– Ordenada tradução do grego e sírio para árabe de autores médicos clássicos– Escola de tradutores em Bagdade

» Iniciada pelos médicos nestorianos• Abu Zakariya Yuhanna ibn Masawayh (777-857), conhecido por Mesué o velho João Damasceno• Abu Zayd Hunayn ibn Ishaq al-Ibadi (808-873), latinizado como Johannitius

» Traduzidas obras de Aristóteles, Hipócrates, Dioscórides, Galeno e outros autores

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Medicina islâmica

• Galenismo arabizado– Medicina baseou-se na teoria humoral

• Nível muito elevado no campo da farmácia e do conhecimento dos medicamentos– Incorporação dos conhecimentos clássicos– Contributos próprios

» Árabes acrescentaram c. 3-4 centenas ao cerca de um milhar de drogas medicinais conhecidas na Antiguidade clássica

• Grande extensão do império islâmico

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Alguns autores médicos árabes

• Al-Kindi (ca. 801-ca. 866)– Viveu em Bagdade. Autor de obras de filosofia e ciência– Várias obras de cunho farmacêutico

» Um Aqrabadhin (formulário)» Outra obra traduzida para latim com título De medicinarum compositarum

gradibus investigandis• Estuda os graus de intensidade das qualidades (frio, húmido, etc.) dos

medicamentos composto• Propôs fórmula matemática

• Al-Biruni (973-1050)– Nasceu na região a sul do Mar de Aral e faleceu no Afeganistão. Centena

e meia de obras no campo da astronomia, matemática, geografia e história, e outras disciplinas

– Importante obra farmacêutica, a Farmacologia» Entradas para c. 720 medicamentos

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Autores médico-farmacêuticos árabes. II

• Ibn Sina, conhecido no Oc. como Avicena (980-1037)– Nasceu na Ásia central e faleceu na Pérsia. Foi médico, jurista, professor e

ocupou cargos políticos– Obra enorme: quase 270 títulos de filosofia e ciência– Principal obra médica é o enciclopédico al-Qanun ou Canon com uma

parte farmacêutica

• Ibn al-Baytar (ca. 1190-1248)– Nasceu em Málaga e faleceu em Damasco. Estudou em Sevilha e emigrou

para o Oriente ca. 1220. Estabeleceu-se no Cairo, onde foi nomeado primeiro ervanário pelo sultão

– Várias obras de cunho farmacêutico– Principal contributo consistiu na sistematização do conhecimento de

novas drogas introduzidas pelos árabes durante a Idade Média

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Autores médico-farmacêuticos árabes. III

• Abulcassis (ca.936-ca.1013), Al-Zahrawi– Nasceu e viveu em al-Zahra', perto de Córdoba, no período de maior

florescimento intelectual no al-Andalus– Exerceu medicina, farmácia e cirurgia– Escreveu enciclopédia médica em trinta tratados

» Enriqueceu conhecimento da mat. méd. c/ descrições da flora e fauna ibéricas» Tratou da preparação e purificação de várias subs. químicas medicinais» Um capítulo foi traduzido para latim com título Liber servitoris

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Geber, ou Jabir ibn Hayyan (ca.702-765)

• Contributo para desenvolvimento de técnicas e operações unitárias, como a destilação, sublimação, cristalização e filtração

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Canais de transmissão do galenismo

Paris

ToledoCórdoba

Oxford

Bolonha

RomaSalerno

CairoAlexandria

Damasco

Bizâncio

PérgamoEdessaNisibis

GundishapurBagdade

G r e g oÁ r a b eLa t im

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A Medicina e a Farmácia monástica.

• Instituições– Mosteiro de Montecassino

» Fundação (529) por São Bento (c. 480-544)» Regula Benedicti

• “Devemo-nos ocupar com importância dos enfermos: devemos servi-los como se de Jesus Cristo se tratasse, e a Ele na verdade servimos nos seus corpos, pois que Ele disse: Estive enfermo e vós cuidastes de mim, e também: O que haveis feito a qualquer um destes pobres, o haveis feito a mim ” (Capítulo 36 da Regula)

• inclui necessidade de cuidar dos enfermos, com local próprio e religioso dedicado

– Irmão enfermeiro e celas para enfermos– Enfermarias, boticas e jardins botânicos

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Medicina monástica

• Escolas médicas - Mosteiros de Montecassino e de Saint Gall• cura de enfermos e ensino • Auge do prestígio - finais do séc. IX

• Pessoas » Cassiodoro, Isidoro de Sevilha e Hildegarde de Bingen

• Procuraram compendiar conhecimentos greco-latinos, compilando e trad. p/ latim mss. antigos guardados nos mosteiros

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Cassiodoro Senator (c. 480-575)

– Prefeito de Teodorico, o Grande– Fundou (537) mosteiro de Vivarium, Calábria– Escola médica monástica - traduz. e copiaram Hipócrates,

Dioscórides, Galeno e outros– Escreveu texto enciclopédico de história natural– Aconselhou religiosos a estudar terapêutica pelas plantas

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Isidoro de Sevilha (c. 560-636)

– Bispo de Sevilha– Escreveu Etymologiarum Libri XX

» obra enciclopédica compendiando em vinte livros os conhecimentos do seu tempo sobre artes e ciências

– Destinada ao ensino na escola fundada por Leandro, bispo de Sevilha e irmão de Isidoro

– Alguns livros dedicados à Medicina, ao corpo humano, à História Natural e à dietética

– Papel importante na afirmação da Medicina no contexto do ensino

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Hildegarde de Bingen (1098-1179)

– Abadessa beneditina. Fundou convento de Ruperstsberg, perto de Bingen

– Escreveu textos sobre uso medicinal de plantas, animais e vegetais e descrevendo as doenças e os seus medicamentos seguindo a ordenação

» ab capitae ad calcem (da cabeça aos pés)

– Atenção a problemas do foro ginecológico, em perspectiva que chocava com visão tradicionalmente negativa da mulher na cultura medieval

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Medicina nas Artes Liberais

– Isidoro» atribuiu lugar de destaque à Medicina entre as artes liberais

– Bispo Teodulfo de Orleans (f. 821)» proclamou-a como a oitava arte liberal, digna de ser ensinada nas» Escolas monásticas (nos próprios mosteiros)» Escolas episcopais ou catedralícias (em seminários)

– As sete artes liberais» Trivium

• gramática, retórica e dialéctica

» Quadrivium• aritmética, geometria, música e astronomia

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A Physica

• A partir do séc. IX– Medicina começou a ser ensinada no quadrivium, integrada na

Physica– Astronomia dividida em duas partes

» uma extraterrestre - a astronomia propriamente dita» outra terrestre - a física

– Daqui os médicos serem chamados físicos na Idade Média

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Salerno - Origem

– Civitas Hippocratica (c. séc. X)» Comunidade de médicos que estudava, compendiava e ensinava a

medicina» centro laico em estreita ligação com mosteiro de Montecassino

– Lenda da fundação» Atribuída a 4 médicos» Ponto, grego, Helinus, judeu, Adela, árabe e Salernus, latino

– Primeiras figuras da escola» Garioponto (c. 970-1050)

• Autor de Passionarius Galeni - epítome de textos bizantinos

» Alfano (c. 1015-1085)• Médico, aprendeu em Montecassino. Arcebispo de Salerno• Igualmente de influência bizantina e greco-síria

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Salerno - Afirmação da sua identidade

• Influência médica árabe no Studium Salernitanum– Constantino o Africano (c. 1020-1087)

» Natural de Cartago, comerciante de drogas

» Viajou entre Oriente e Europa até se instalar em Salerno, trazendo selecção de manuscritos médicos árabes

» Recebido no mosteiro de Montecassino, onde se converteu ao cristianismo

» Traduziu, do árabe para o latim, um total de cerca de três dezenas de textos médicos importantes.

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Salerno - outros autores(séc. XII e XIII)

– Tractatus de aegritudinum curatione - vários mestres – Trotula - a ela se deverá parte da obra

» De passionibus mulierum, s/ ginecologia, obstetrícia e cosmética

– Articella» Isagoge de Joahnitius; In arte parva de Galeno, Prognostikón de

Hipócrates; Liber pulsum de Philaretros e o Liber urinarum de Teophilus» Universidades

Impressas pela primeira vez em Pádua em 1476

– Regimen Sanitatis Salernitanus ou Flos medicinae (c. 1300)» Poema c/ c. 360 versos com conselhos relativos a higiene e saúde» 3 três centenas de edições em várias línguas» 1.ª ed. em Pisa, 1484.

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Joannitius. Isagoge

– Hunayn ibn Ishaq al-'Ibadi, 809?-873 (Joannitius). Isagoge Johannitii in Tegni Galeni.

» Oxford, Sec XIII.(Bethesda, NLM, DeRicci NLM [78].)

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Ensino médico

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Ensino médico

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Salerno - Farmácia e terapêutica

• Obras de conteúdo farmacêutico e terapêutico– Antidotarium de Nicolaus Salernitanus (fl. 1110-1150)

» Fac. Medicina de Paris determinou (1322) ser obrigatório em todas as boticas

– De simplici Medicina de Mattheus Platearius, o Jovem (c. 1120-1161), ou Circa instans

• Fora de Salerno– Macer Floridus

» atribuído a Otto de Meudon (fl. 1161), poema - trata das virtudes de 77 plantas

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Toledo

– Reconquista de Toledo - 1085– Arcebispo cria uma escola de tradutores com cristãos e judeus - ca.

1135– Gerardo de Cremona (c. 1114-1187) juntou-se em 1144

» Traduziu total de 90 obras, incluindo 24 de medicina.» Entre autores médicos traduzidos:

• Galeno, Hipócrates, Al-Israili, Razés, Al-Wafid, Serapião, Abulcassis, Al-Kindi e Avicena.

– Fora de Toledo• Burgundio de Pisa (1110-1193), trad. directamente do grego ao latim os

Aforismos de Hipócrates e vários de Galeno, incluindo o Methodus medendi.

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Ensino médico nas universidades

– Escola de Salerno» centro da formação médica na Europa até finais do séc. XII

• Primeira titulação médica– 1140 - Rogério II da Sicília estabelece obrigatoriedade de exame

oficial para exercício da medicina– 1240 - édito de Melfi - promulgado por Frederico II

– Algum ensino médico começou a ser ministrado ainda nas escolas clericais

– A Medicina» integra-se no conjunto do sistema universal do saber e da filosofia

(Trivium e Quadrivium)» deixa de ser um mero ofício manual

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Universidades

– Criação das universidades nasce» da necessidade de professores e alunos terem uma estrutura própria,

diferenc. das clericais, capaz de afirmar o seus direitos e privilégios

– Salerno e Montpellier - os professores médicos na origem do impulso para a criação das universidades

» Montpellier - escola médica autorizada em 1180, mais de cem anos antes da criação da Universidade

– Paris - a Universidade criada por volta de 1200, a partir da escola catedralícia. Dominada pelos teólogos.

– Bolonha - Séc. XIII - dom. juristas– Oxford - Séc. XIII - dom. teólogos

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Ensino da medicina

• Três fases– Bacharel

» 1 ano em Artes e 3 anos em Medicina + Exames

– Licenciado - licença para o exercício» + 3 séries de lições teóticas e 1

prática + Redacção de Texto

– Magister - substituído mais tarde pelo título de doutor

» + Periodo de prática e + 2 exames

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Separação de facto das profissões médicas

• Médicos» Assimilação do saber médico greco-romano» Domínio do latim e ensino universitário» Processo de nobilitação da profissão médica» Abandono progressivo das funções manuais» Separação entre medicina dogmática, e a Medicina ministrante (farmacêuticos

e cirurgiões)

• Especieiros» Impulso do comércio de especiarias orientais através do Mediterrâneo» Especialização na preparação de medicamentos» Aumento da perícia e formação técnica» Perca progressiva do carácter ambulante

– Boticários» Formação baseada na aprendizagem com mestre» Estabelecidos com botica (armazém)

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Separação legal das profissões médicas.

• Arlés, França (1162)– Posturas municipais determinam separação

• Édito de Melfi (1240)– Frederico II da Sicília e Nápoles

» Reafirmou obrigatoriedade de um curso de tipo superior em Salerno para os médicos

» proibiu qualquer sociedade entre médicos e farmacêuticos» determinou que os farmacêuticos tinham de dispensar os medicamentos de

acordo• com as receitas médicas• e as normas da arte provenientes de Salerno

» Introduziu o princípio• da necessidade de controlo dos preços dos medicamentos;• do licenciamento e inspecção da actividade farmacêutica.

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Alargamento das medidas de separação

• Em França– Avignon (1242) e Nice (1274) proibiram sociedade entre

farmacêuticos e médicos

• Europa central– Basileia separou as duas profissões - entre finais séc. XIII e princ.

Séc. XIV

• Portugal– Obrigatoriedade da separação determinada em 1462.