Historia Guaira
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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA FARROUPILHA
CÂMPUS SÃO BORJA
CURSO TECNÓLOGO EM GESTÃO DE TURISMO
Cláudio Corso da Silva
História e Patrimônio Cultural
Prof. Msc. Roberto Leal
Missões Jesuíticas em Guairá (Paraná) e Rio grande do Sul
São Borja
2013
2
Os homens mais perigosos são aqueles que aparentam muita religiosidade, especialmente quando estão organizados e detêm posições de autoridade, contando com o profundo respeito do povo, o qual ignora seu sórdido jogo pelo poder nos bastidores.
Esses homens chamados "religiosos", que fingem amar a Deus, recorrerão ao assassinato, incitarão revoluções e guerras, se necessário, em apoio à sua causa. São políticos ardilosos, inteligentes, gentis e de aparência religiosa, vivendo em um obscuro mundo de segredos, intrigas e santidade mentirosa. (Edmond Paris 1997, Introdução do Dr. Alberto Rívera1).
1 Dr. Alberto Rivera, ex-sacerdote jesuíta, criado desde os sete anos de idade em um seminário na Espanha, sob extremo juramento e os mais rígidos métodos de indução, treinado inclusive no Vaticano, que resumiu a história dos jesuítas.
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Sumário
.....................................................................................................................................................3INTRODUÇÃO..........................................................................................................................31. 0 ESPANHÓIS, ÍNDIOS, JESUÍTAS E BANDEIRANTES NO GUAIRÁ ENTRE 1500 E 1630.............................................................................................................................................7
1.1 Os espanhóis e os índios no Guairá.............................................................................71.1 1 No que consistia o Guairá.........................................................................................71.1.2 As relações entre Indígenas e Espanhóis..................................................................8
1.2 Os Jesuítas e os Bandeirantes no Guairá...................................................................111.2.1 O desdobramento do trabalho missionário e a fundação das reduções do Guairá, O CONTEXTO HUMANO E SOCIAL..............................................................................111.2.2 Missão por Redução...............................................................................................121.2.3 A Produção e a Representação do Espaço Missional..............................................131.2.4 Poder Coercitivo da Religião..................................................................................141.2.5 O motor da Ação Missionária.................................................................................141.2.6 A Expansão do Espaço Missional...........................................................................14
2.0 FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SÃO BORJA E REGIÃO..............................................153.0 CONCLUSÃO....................................................................................................................19
3.1 Das Missões...............................................................................................................19REFERÊNCIAS........................................................................................................................20
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INTRODUÇÃO
Conforme Ruy Diaz de Guzmán2, que foi o primeiro historiador paraguaio, que
assim define a palavra “Guairá”3, significa no seu entendimento, local habitado por
jovens. Reduzia-se assim, em um local atrativo e densamente povoado, como
província em desenvolvimento.
A conquista espanhola e portuguesa após grande decepção, logrando
expectativas de saques e pilhagens, teve como sua maior riqueza o povo guarani,
procurando o melhor para si através de sues interesses a expansão no território
desconhecido. Responsáveis pela exploração econômica do Guairá, espanhóis e
portugueses, resolveram praticar ações predatórias, a mão-de-obra indígena, era
limitada, por motivos de força de produção, onde os guaranis vêem seu povo perder
a densidade demográfica, e também pelo convívio, aceitação dos algozes
predadores4.do Guairá. O povo guarani era visto como mercadoria descartável,
servindo a produção e sendo assim pelos fatores acima citados, de recomposição
impossível. Os Jesuítas ai alocados, acompanhavam o fator desumano como eram
tratados os guaranis, e nada podendo fazer para reverter a situação do povo
guarani.
O guarani, o 'encomendero'5 espanhol, o mameluco paulista e os Jesuítas,
personagens reais, interagindo entre si, não possuindo uma história definida por in
2
Manuscritos da Coleção De Angelis, 1,:209, em CORTESÃO. Jaime. Manuscrttos da Coleção De Angelis:Jesuítas e bandeirantes no Guairá. Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional, 1951. (em diante terá como referência MCA 1).3
Derivada do nome de um cacique guarani que habitava em regiões próximas ao Salto do Paraná, "Guairá", Guay - é gente jovem, enquanto ra - corresponde a lugar populoso donde abundam.4 O conceito de economia predatória é emprestado de NOVAIS, F.A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808). São Paulo, Hucitec, 1989.pg.29.5 Encomendero refere-se aos colonos espanhóis que utilizavam a encomienda para exploração da mão-de-obra indígena. A encomienda trata do modo, definido juridicamente, com que os indígenas eram distribuídos aos colonos. A forma mais usual tomada pela encomienda obrigava o indígena, súdito do rei da Espanha, a trabalhar determinado tempo para um colono para pagar um tributo à coroa espanhola.
5
dividualismos, nem conseguindo ser contada a parte, mas apenas como um todo.
Pouco se avançou para a edificação da história do Guairá, região que hoje é grande
parte do Estado do Paraná, mas graças a Romário Martins6, procura em sua obra
reestudar a região, que por sua vez foi marginalizada, e esquecida por muitos
historiadores. Os intereses exarcebados pelos conquistadores, que dominaram e
destruíram o povo local é de natureza estritamente econômica, para bandeirantes e
encomenderos, e religiosa, para os jesuítas, nos aspectos determinantes.
As características do povo e cultura guaranis serão estudadas para que
possamos compreender como se deu a relação dos mesmos para com seus agentes
colonizadores. As atividades econômicas eram basicamente de aprisionamento,
exploração da região e missões jesuíticas, onde o espaço era disputado pelos
agentes colonizadores, muitas vezes conflitantes jáno fim da colonização do Guairá
entre 1628 a 1632, tornando-se uma região praticamente de passagem de
portugueses e espanhóis, aproveitando a segurança de seus caminhos, pelos
guaranis, deixando de ser apenas uma região de trânsito para se tornar produtora de
erva mate, retirando assim, o Guairá do isolamento. No século XVII, tal erva
praticamente sustentou a região, dando a esta, grande importância, gerando um
desenvolvimento econômico. Estas cidades guairaenses, ficavam cada vez mais
sedentas por encomiendas, estas por sua vez cada vez mais limitada pelo
crescimento de inúmeras reduções jesuíticas.
Na definição do padre Antonio Ruiz de Montoya, um dos principais jesuítas do Guairá, "chamamos reduções aos povos de índios que vivendo a sua antiga usança em selvas, serras e vales, em escondidos arroios, em três quatro ou seis casas só, separados a légua, dois, três e mais umas das outras, os reduziu (foram reduzidos) a diligência dos padres à povoações grandes e à vida política e humana, ... " (MONTOYA, Antonio Ruiz de Montoya. Conquista espiritual hecha por los religiosos de la Companía de Jesus en las províncias de/ Paraguay, Paraná, Uruguay y Tape. Bilbao, Corazón de Jesus, 1892.reed., pg 58.).
Os espanhóis viram nas reduções uma ótima vantagem, pois a mesma servia
6 publicado em 1937, com o titulo de "História do Paraná", incluindo em uma narrativa tanto os acontecimentos relativos às cidades guairenhas como a edificação das reduções jesuíticas, "conquistas da fé e da civilização". MARTINS, Romário. História do Paraná. São Paulo, Rumo, 1939.
6
de obtenção de mão-de-obra, porém as missões se oporão contra esses interesses
econômicos procurando retirar os indígenas do serviço dos encomenderos, desse
modo proteger os mesmos dos colonizadores, tendo como objetivo ímpar a
conquista espiritual dos indígenas. A partir de 1625 as reduções expandem-se
rapidamente, aumentando muito os conflitos potenciais com os outros agentes
colonizadores. Os bandeirantes pauistas sempre procuraram nesta região, também
conhecida como sertão de carijós a obtenção de trabalhadores para suas lavouras.
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1. 0 ESPANHÓIS, ÍNDIOS, JESUÍTAS E BANDEIRANTES NO GUAIRÁ ENTRE 1500 E 1630
1.1 Os espanhóis e os índios no Guairá
1.1 1 No que consistia o Guairá
O território do Guairá correspondia à região entre os rios Paranapanema (ao
Norte) e Iguaçu (ao Sul), ou seja, correspondia as terras pertencentes à Espanha
mediante o Tratado de Tordesilhas, que havia estabelecido que todas as terras a
Leste pertenciam a Portugal e a Oeste a Espanha. Isso significava que quase todas
as terras do atual Paraná pertenciam à Espanha. Em função do tratado, não existia
uma concordância entre portugueses e espanhóis quanto a divisão das terras do
atual Paraná. Por esse motivo, o fluxo de portugueses e, principalmente, de
espanhóis foi intenso na região. Para se estabelecerem no Guairá a fim de
assegurar o domínio sob a região, os espanhóis fundaram três cidades,
Ontiveros em 1554, localizada próxima a foz do rio Piquiri.
Ciudad Real Del Guairá em 1555, localizada na foz do rio Piquiri próxima ao
município de Terra Roxa.
Villa Rica Del Spiritu Sancto em 1576, localizada no município de Fênix.
8
Geralmente são apontadas três razões que determinaram a opção de fundar
vilas no Guairá Uma primeira era de ordem geográfica e estratégica, pois o Guairá
era o meio do caminho entre Assunção e o pretendido porto a ser fundado na costa
atlântica, mais precisamente na Ilha de Santa Catarina ou na Baía de São Francisco.
Em segundo, razões de ordem econômica, os numerosos índios da província eram
yanaconas e mitayos em potencial a ser explorado pela distribuição de
encom1endas. A terceira razão, de natureza política, espelhando muito mais
interesses metropolitanos do que coloniais, interpretava a consolidação do
povoamento espanhol no Guairá como um anteparo a penetração portuguesa em
terras de Espanha, e ainda segundo muitos autores, como uma forma de
salvaguardar as distantes minas de Potosí. Esta última razão é discutível,
contrastando com as comuns ações e decisões tomadas basean.do-se nos
interesses privados dos colonizadores do núcleo assuncenho, pouco preocupados
com os limites e fronteira da colônia quando não refletidos em seus interesses
imediatos. Porém fundamenta-se nas ações do governador lrala, de 1553 e 1556,
procurando afastar os portugueses das terras guairenhas, então sob seu domínio,
"assegurando-as" à coroa espanhola.
1.1.2 As relações entre Indígenas e Espanhóis
Em suas andanças, os europeus fizeram contatos com as populações
indígenas aqui existentes. Primeiro fizeram com os Guaranis no litoral e depois, na
medida em que foram avançando para o interior (pelos vales do rios), com os
Kaingangs e Xoklengs. Para os espanhóis, estabelecer contatos e alianças com os
indígenas era uma forma de atravessar o Guairá por terra (saindo do litoral em
direção ao Oeste) e atingir o Paraguai e às minas de Ouro, localizadas nas
Cordilheiras dos Andes.
A outra opção, muito mais dificultosa, para atingir o Império Inca, ou seja, as
minas de ouro e prata seria contornar todo o Sul até o rio da Prata e subir em
direção ao Paraguai. O 4º governador do Paraguai, nomeado pelo rei da Espanha,
Dom Alvar Nunez Cabeza de Vaca também firmou relações com os índios guaranis
no momento de sua chegada ao litoral de SC em 1541. A viagem de Cabeza de
9
Vaca, do litoral de SC em direção a Assunção, renderam importantes relatos e
constitui o primeiro documento que informa que todo o interior do Paraná era
habitado por populações organizadas politicamente.
Para atingir a capital do Paraguai, Assunção, e tomar posse precisou da ajuda
dos indígenas para atravessar todo o Guairá, visto que escolheu fazer o caminho por
terra. O fato dos Guaranis terem ajudado Cabeza de Vaca a chegar à Assunção
demonstra que o relacionamento entre europeus e indígenas não era apenas de
enfrentamento7.
No início de 1597 são divulgadas pelo governador Ramirez Velazco importantes ordenanças em proteção ao indígena, regulamentando o serviço da "mita", instituindo a jornada de quatro dias de trabalho semanal, permitindo que só fossem retirados a quarta parte dos indígenas encomendados, proibindo castigo aos indios, carregamento excessivo em seus trabalhos (na erva por exemplo), encarregando os encomenderos do doutrinamento de seus índios, etc ... (CHAVES,J.C., op.cit, 378)
O modo de servirse os espanhóis dos índios antes das ordenanças (de Alfaro)
era este: os governadores em nome do rei nosso senhor davam cédulas de serviço
pessoal que chamam yanaconas e estes índios os tinham os espanhóis em suas
chácaras ou em pueblo em suas casas com tão grande domínio sobre eles que
diziam que eram seus e como coisa sua os emprestavam e davam a quem queriam,
" ... se davam em dote de maneira que a um davam o filho e a outro a filha e a outro
o Padre e assim os íam repartindo como queriam seus amos ... "; “...de maneira que
para ser verdadeiramente escravos não faltava se não lançá-los e vendê-los a
público pregão, mas em o que é vendas paliadas fartas faziam." Segundo a
legislação colonial espanhola, os yanaconasesta vam atrelados às terras e não aos
proprietários; daí não poderem ser vendidos, e assim não serem escravos.
Independente da legislação que vigorava, parece ter sido as redes de parentesco
que amarrou sociedade indígena aos encomendeiros, situação esta perdurando por
7
Em 1591 foi divulgada no Paraguai, em Assunção especificamente, cédula real emitida em 1582 para a proteção do índio, mandando castigar os encomendaras em seus excessos e maus tratamentos, evitando a diminuição e violência praticada aos indígenas tratados muitas vezes como escravos.
10
muito tempo.
A evangelização foi em grande parte financiada pelo Estado, e realizou
grandes esforços no Paraguai, por exemplo, região de interesse marginal para
coroa, pela sua pobreza. O Paraguai sempre representou despesas para a coroa.
Dado estas feições que assume a participação do "Estado" na economia paraguaia,
torna-se difícil a aceitação da hipótese de Pastare e da utilização do modelo
empregado para explicar aspectos da economia colonial paraguaia. É interessante
no texto a apresentação dos encomenderos e do Estado como agentes
substancialmente distintos, com interesses muitas vezes contraditórios durante o
processo de integração do indígena na economia colonial e no Estado Mercantilista.
Em geral, os indígenas encomendados permaneciam em aldeamentos, locais
"a escolha" onde as aldeias deveriam ser reduzidas para a cristianização e controle
do estado espanhol. Eram nomeados caciques, alcaides e outros oficiais, e
geralmente eram supervisionados por alguma autoridade religiosa, padres
franciscanos ou seculares (não pertencentes à ordens religiosas). Modificava
essencialmente a organização da sociedade indígena. Tornava-se assim mais fácil a
prevenção de revoltas, a organização da mão-de-obra e a doutrinação religiosa.
Eram portanto uma resposta a crescente instabilidade apresentada nas
relações indígenas-espanhóis. Nestes aldeamentos, o cacique passa a ser
hereditário, reduzindo as possibilidades de representação de interesses dos
indígenas e principalmente objetivando aumentar a estabilidade dos aldeamentos,
evitando revoltas.
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1.2 Os Jesuítas e os Bandeirantes no Guairá
1.2.1 O desdobramento do trabalho missionário e a fundação das reduções do Guairá, O CONTEXTO HUMANO E SOCIAL
No século XVI o Guairá fora passagem e local de trabalho de vários
religiosos, porém a conquista espiritual só adquirirá importância no século XVII. Até
1617 a região do Rio do Prata esteve polarizada administrativamente em torno de
Assunção, que era o núcleo colonial. Contudo, o grande centro comercial da região
era Buenos Aires em função da sua posição estratégica
A política e as atividades de conquista eram exercidas por Criollos e
Mestiços8, visto que a região não havia recebido nenhum contingente expressivo de
imigrantes até a primeira metade do século XVIII. Em relação a sociedade, entre
1617 a 1621, o crescimento demográfico dos índios foi inferior ao dos brancos. Tais
números revelam a eliminação dos índios na região. A diminuição dos índios está
ligada aos conflitos tribais, bem como a exploração conduzida pelos encomenderos.
Frente a essa situação, os missionários “buscavam reunir os índios em
povoados para livrá-los da exploração dos encomenderos e evitar que andassem
dispersos”, (SHALLENBERG, Erneldo. As missões jesuíticas do Guairá, Ed. Toledo
1997, p.172).
O objetivo principal dos padres era “...pacificar a colônia e moralizar os
costumes, dentro dos princípios éticos e cristãos da sociedade ibérica..”
(SHALLENBERG, Erneldo. As missões jesuíticas do Guairá, Ed. Toledo 1997, p.172)
A proteção oferecida pelos padres aos indígenas se opunha aos interesses
dos encomenderos, que travavam conflitos contra a ação missionária e a tornava
impraticável na região do Rio do Prata. A saída encontrada pelos missionários para
desenvolverem mais tranquilamente seus trabalhos foi o Guairá, visto que a região
apresentava grande potencial humano para a obra de colonização e cristianização.
No Guairá havia um grande número de Guaranis e também uma grande
8 Criollos - Elite colonial, descendentes de espanhóis, nascidos na América, grandes proprietários rurais ou arrendatários de minas, podiam ocupar cargos administrativos ou militares inferiores. Mestiços - , de brancos com índios, eram homens livres, trabalhadores braçais desqualificados e superexplorados na cidade (oficinas) e no campo ( capatazes).
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influência dos Criollos (encomenderos) e dos mamelucos9 que, respectivamente,
subjugavam e aprisionavam/traficavam os Guaranis.
Para os encomenderos a apropriação do trabalho dos Guaranis era muito
fácil, pois:
“Havia entre eles um principal e toda gente era „muy doméstica y amiga de
cristianos, y que com poco trabajo verrán em conoscimiento de nuestra santa fé
católica...(SHALLENBERG, Erneldo. As missões jesuíticas do Guairá, Ed. Toledo
1997, p.174)
Toda essa situação (grande número de indígenas e desejo dos colonizadores de
se apropriar dessa mão de obra) foi notada pelos padres que tentavam
“..frear os impulsos dos encomenderos e pacificar os índios
revoltosos através da evangelização”. Desse modo, “A ação
missionária dos jesuítas teve, neste particular, um sentido de
apresentar uma solução humana e evangelizadora para os conflitos
resultantes entre os encomenderos e os índios”. (SHALLENBERG,
Erneldo. As missões jesuíticas do Guairá, Ed. Toledo 1997,p.175).
Os encomenderos reagiram contra a ação missionária no Guairá mediante
ameaças. Mas, por outro lado, a ação dos padres na região ganhou o amparo das
autoridades coloniais da região do Rio do Prata, preocupadas com a preservação
dos índios.
1.2.2 Missão por Redução
A fundação das duas primeiras reduções no Guairá, na região do rio
Paranapanema em 1610 e 1611, Nuestra Señora de Loreto e San Ignacio, se deu
em um período de profunda crise da sociedade guarani. Tal crise foi gerada pela
opressão exercida pelos espanhóis sobre as comunidades indígenas que passaram
a encarar qualquer ação vinda de brancos (mesmo dos padres) com desconfiança.
Na primeira década do século XVIII, portanto, os índios do Paranapanema
apresentaram grande resistência ao trabalho missionário; contestavam a ação dos
9 s.m. Brasil. Indivíduo que possui uma ascendência indígena e branca; mestiço ou filho de branco com índio.
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padres que muitas vezes foram atacados por movimentos organizados pelos
caciques. Mas, por outro lado, para conseguir se infiltrar entre as comunidades e
implantar as “..reduções jesuíticas em meio aos índios, os missionários
aproveitaram-se, portanto, do papel fundamental dos caciques, adaptando-se e
aproveitando as suas qualidades de liderança para que a redução à vida civil e cristã
fosse possível”. (SHALLENBERG, Erneldo. As missões jesuíticas do Guairá, Ed.
Toledo 1997,p.179). Para haver uma redução era necessário determinação do sítio,
que deveria oferecer:
Condiondições de clima, de relevo, de solo e de hidrografia para o
desenvolvimento agropastoril.
Aspectos culturais dos Guaranis (como elementos de caça e pesca e água
suficiente para seus hábitos de higiene).
O papel das reduções era o de defender os índios dos abusos cometidos
pelos colonizadores. Todavia, o autor afirma que as reduções só foram possíveis
mediante tais abusos. (SHALLENBERG, Erneldo. As missões jesuíticas do Guairá,
Ed. Toledo 1997,p.181).
1.2.3 A Produção e a Representação do Espaço Missional
A proposta principal dos padres ao reduzir os índios era a de oferecer a esses um
alívio diante dos abusos cometidos pelos colonizadores. Mas, os padres não
ofereceram de graça esse alívio. O mesmo foi alcançado pelas populações
indígenas mediante a remodelação dos seus antigos modos de vida. Apesar dos
missionários livrarem os índios dos colonizadores espanhóis e dos bandeirantes
paulistas, eles acabaram destruindo seus espaços humano e social.
Nesse sentido, a ação dos missionários foi parecida com a dos colonizadores.
“O que houve, em contraste com os colonos espanhóis, foi que os missionários
transmitiam suas habilidades profissionais..” (SHALLENBERG, Erneldo. As missões
jesuíticas do Guairá, Ed. Toledo 1997,p.183)
14
1.2.4 Poder Coercitivo da Religião
Para conseguir transformar os modos de vidas das populações indígenas os
padres utilizaram o poder coercitivo da religião, que inculcava regras de conduta
social e religiosa, tais como: os conceitos do bem e do mal, da recompensa ou do
castigo e do pecado. Os padres também introduziram a ideia de caridade: dar
esmola para amparar os órfãos e viúvas.
1.2.5 O motor da Ação Missionária
O que moveu de fato a ação missionária foi o ideal profético do anúncio do
reino de Deus e a salvação das almas por meio do batismo. As condições de
trabalho dos padres nas reduções e a resistência dos encomenderos. As condições
do trabalho missionário eram limitadas devido à presença dos encomenderos e
preadores, que travavam conflitos com os padres.
Apartir de 1623 as expedições de bandeirantes paulistas na região do Guairá
se intensificaram. Para defender os indígenas dos ataques dos preadores, os
jesuítas decidiram expandir a ação missionária no Guairá, fundando novas
reduções.
1.2.6 A Expansão do Espaço Missional
A partir de 1823, os padres começaram a fundar novas reduções próximas
aos rios Tibagi, Ivaí, Piquiri e Iguaçu. Ao todo foram 12 reduções, além das de Nossa
Senhora do Loreto e de Santo Inácio.
Localização das Reduções:
Vale do Paranapanema:Nossa Senhora de Loreto e San Ignacio.
Vale do Tibagí: San Jose, San Francisco Xavier, Encarnación e San Miguel.
Rio Ivaí: Jesus Maria, San Antonio e San Pablo.
Rio Corumbataí: São Tomé e Sete Arcanjos.
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Rio Piquiri: San Pedro e Concepcióni e no médio Piquiri o santuário de Nossa
Senhora de Copacabana.
O trabalho catequético dos padres jesuítas com os indígenas no Guairá
resistiu até 1630, quando os Bandeirantes destruíram as reduções.
Com o fim das reduções no Guairá as populações indígenas se dispersaram.
Uma parte se dirigiu para o Sul junto com os padres jesuítas e fundaram os Sete
Povos das Missões no RS. Outra parte voltou a ocupar seus antigo territórios.
Sete Povos das Missões:
São Francisco de Borja (1682)
São Luiz Gonzaga (1687)
São Miguel Arcanjo (1687)
São Nicolau(1687)
São Lourenço Mártir (1690)
São João Batista (1697)
Santo Ângelo Custódio (1706-1707)
2.0 FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SÃO BORJA E REGIÃO
Criadas no século XVII, as reduções jesuíticas inovaram e muito a região
formada pelos países que formam a bacia conhecida como Prata, e que fazem
fronteira com o Brasil, através do rio Uruguai. Fizeram-se em torno de 30 aldeias
missioneiras, onde apenas no Rio Grande do Sul, construíram-se sete cidades,
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conhecidas como os Sete Povos.
São Borja foi o primeiro dos Sete Povos das Missões fundada pelo padre
jesuíta Francisco Garcia de Prada, que em homenagem ao então Jesuíta Francisco
de Borja, nascido na Espanha em 1510, à margem esquerda do Rio Uruguai,
quando da segunda fase do estabelecimento das missões jesuíticas no atual
território do Rio Grande do Sul, em meados de 1682, a partir de um grupamento
avançado constituído de índios originários do Povo de Santo Tomé, localizado na
margem direita do Rio Uruguai.
Posteriormente, tivemos a chegada de espanhóis e portugueses. Em 1801
com a conquista de Borges do Canto, São Borja passou ao domínio português.
Assim passou a ser a comunidade mais antiga do Rio Grande do Sul com a
presença de agentes da Igreja Católica, a qual nunca foi interrompida desde essa
data.
Conforme o dicionário Larousse, “redução eram povoações, também
chamadas missões, congregavam milhares de indígenas de diferentes grupos e
troncos linguísticos, onde a cultura indígena era gradualmente substituída pela
europeia imposta pelos missionários”.
Sendo a catequese a principal missão da Companhia de Jesus10 na América,
gradualmente foi transformando o povo Guarani, passando aos mesmos os
elementos da cultura europeia através dos jesuítas. A Praça Missioneira era o centro
da vida comunitária, onde se encontrava a igreja com arquitetura barroca, adotado
pela Igreja Católica como forma de encantar as almas.
Conforme pregava René Huyghe, “se a arte pode seduzir a alma, perturbá-la,
encantá-la nas profundezas não percebidas pela razão, que isso se faça em
benefício da fé”.
Tal era a dificuldade dos missionários em se aproximar e ganhar a confiança dos índios. Estes “fugiam” dos aldeamentos, onde eram reunidos com objetivos de
10 A Companhia de Jesus foi fundada por um fidalgo basco espanhol, Dom Inácio de Loyola, com a bênção do Papa Paulo Farnese III. Loyola, anterior à fundação de sua Nova Ordem dos Templários primeiramente chamou-a de "Cavaleiros da Virgem Maria, "foi no comando das forças espanholas em uma batalha com as forças francesas em Pamplona, Espanha. um exemplo típico desse "misticismo ativo" e "distorção da vontade". A transformação do cavaleiro-guerreiro em fundador da Ordem mais militante da Igreja Romana foi muito lenta.
17
catequização pelos missionários, porque a liberdade era de sua própria natureza, mas também fugiam da dominação pela força. No caso espanhol as tentativas de dominação “militar faziam com que eles buscassem abrigo nas florestas, onde os europeus não tinham condições de penetrar. Mesmo a “conquista espiritual” não chegou a obter maiores êxitos entre esses grupos do Paraguai” (FRANZEN, 1999; p. 210 apud BOGONI, Saul; BONNICI, Thomas. 2009, p. 923-930).
O sistema de oficinas desenvolvido nas reduções, “transformou os Índios em
hábeis artífices metalúrgicos, tipógrafos, escultores, pintores, músicos, ceramistas,
tecelões, fabricantes de instrumentos musicais, entre outras manifestações.”,
(PARIS EDMOND -1997). A riqueza das estátuas missioneiras de São Borja mostra
o nível do desenvolvimento a que chegou São Borja, em relação aos demais.
Eles não deixaram uma forte impressão quando passaram através dos territórios que hoje formam os Estados Unidos. Apenas no século XIX é que começaram a plantar raízes naquela parte do continente. Na América do Sul, a ação dos jesuítas passou por bons e maus momentos. Em 1546, os portugueses haviam convocado os jesuítas para trabalhar nos territórios que possuíam no Brasil; enquanto convertiam os nativos, encontravam muitos conflitos com a autoridade civil e outras ordens religiosas. O mesmo acontecia em Nova Granada. (PARIS EDMOND -1997).
Os Guarani11 foram ensinados a viver em rígida disciplina. A liberdade era
ignorada em detrimento da cultuar passada pelos jesuítas.
[....] Tudo o que o cristão possui e usa, a cabana em que vive; os campos que cultiva; o gado que lhe dá comida e roupas; as armas que carrega; as ferramentas com as quais trabalha; até mesmo a única faca de mesa dada a um jovem casal, quando se casa, é "Tupambac", propriedade de Deus. (PARIS EDMOND -1997).
Não podemos considerar as reduções como um “paraíso”, apesar de
todas as adversidades, os jesuítas foram persistentes. Utilizaram as
dificuldades para fortalecer-se em seus objetivos missionários,
conseguindo superar a resistência indígena, a transformação do seu estilo
11 Escreve-sem”Guarani” no singular e não “Guaranis” no plural pois segundo a “Convenção para a Grafia de Nomes Tribais” assinado pelos participantes da 1ª Reunião Brasileira de Antropologia, no Rio de Janeiro em 1953, para uniformizar a maneira de escrever os nomes das socidades indígenas em língua português: “os nomes tribais, quer usados como substantivos, quer como adjetivos, não terão flexão de gênero e de número, a não ser que sejam de origem portuguesa ou morficamente aportuguesados
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de vida.
Para Sebe
as tarefas da Companhia variavam bastante d lugar para lugar, mas podem ser agrupadas em duas áreas básicas. Na Europa, o cuidado pedagógico, nos colégios ensinando. Nas colônias o missionalismo era o objetivo principal. (1982, p.8 apud Nogueira, Carmen Regina Dorneles 2007 p.29).
As reduções foram uma estratégia de catequização , pois
“reduzindo-os” puderam controlá-los, agrupando-os em comunidade. Para
alcançar o objetivo principal de catequização dos índios, eles tiveram que
encontrar formas de conquistar a confiança dos mesmos, conforme mostra
o relato do padre Montoya.
Em suas crônicas, o padre Montoya faz diversas referências aos índios como “bárbaros” e “selvagens”. Em certo sentido, “redução” também pode ser citada aqui como a “conversão”, já que, a princípio, esta era a intenção dos religiosos no contato com aquela gente que despertava na Europa, desde a chegava de Cristóvão Colombo, verdadeiras fantasias medievais. Montoya não questionava o que era benéfico ou não para o índio, já que revelava em seus registros exclusivamente a preocupação evangelizadora e a conquista de novos fiéis para a religião católica.” (SOUZA, 1971; p. 561 apud BOGONI, Saul; BONNICI, Thomas. 2009, p. 923-930).
Os jesuítas exerciam forte influência enquanto aprendiam a cultura
indígena.
Sob a concepção religiosa, analisada nos tempos atuais, talvez não fosse intenção de Montoya “retratar os índios como uma população de degenerados, com base na sua origem social”, porém é claramente perceptível a utilização de tais referências a fim de “justificar sua conquista e instituir sistemas de administração e instrução” (SOUZA, 1971; p. 561, apud BOGONI, Saul; BONNICI, Thomas. 2009, p. 923-930).
[...] ainda que aqueles índios que viviam de acordo com seus costumes antigos em serras, campos, selvas e povoados, dos quais cada um contava de cinco a seis casas, já foram reduzidos por nosso esforço ou indústria a povoações grandes e transformados de gente rústica em cristãos civilizados com a contínua pregação do Evangelho. (MONTOYA, 1997; p.18-19, apud BOGONI, Saul; BONNICI, Thomas. 2009, p. 923-930).
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3.0 CONCLUSÃO
3.1 Das Missões
É sabido que os jesuítas deixaram suas marcas nas terras em que hoje
vivemos. Ao chegarem os missionários, os indígenas12 estranharam, mas os
receberam com muita cordialidade, cortesia e hospitalidade e por onde passaram
infringiram, domesticaram, subjugaram os povos. Através da mão de obra índia, os
grandes empreendimentos religiosos levantaram templos e construções para
veneração de Deus, e aproximaram-se Dele. Trouxeram o conhecimento, mas sem
repassá-los aos índios, que serviam de meros executores das obras. Os índios
“catequizados” lançavam mão de sua própria cultura, construíam templos e
substituíam os fiéis que a igreja perdia na Europa.
Mas é inegável também que, se num primeiro momento estes dados serviram
para dar aos índios uma existência mais humana, serviram também para torná-los
presas mais fáceis para os bandeirantes paulistas e mesmo os espanhóis radicados
nesta mesma região (Villa Rica do Espírito Santo, Ciudad Real del Guairá) e vítimas
das doenças transmitidas pelo “Outro”, que acabaram resultando no seu próprio mal.
Ao longo dos séculos, desde 1500, outros episódios são registrados em prejuízo dos
primitivos habitantes. De cinco milhões de indivíduos estimados no século 16, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou em 1991 pouco mais
de 294 mil. Dados mais recentes estimam para o próximo censo em torno de 734 mil
(um salto de 150%) no alvorecer do século 21. Cultural e socialmente “civilizados”.
12 Indígenas, foi dado este nome devido a um erro de cálculo na navegação das embarcações, assim, os seus capitães achavam que tinham chegado às Índias ocidentais.
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REFERÊNCIAS
BOGONI, Saul; BONNICI, Thomas. As reduções jesuíticas na comquista espiritual
(1639) de Antonio Ruiz de Montoya, sob a crítica pós-colonial. In: CELLI–
COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS. 3, 2007, Maringá.
Anais...Maringá, 2009, p. 923-930
acessado em 13/06/2013 http://www.pph.uem.br/cih/anais/trabalhos/313.pdf.
LAROUSSE, Grande Enciclopédia Delta. Rio: Ed. Delta S.A., 1978.
NOGUEIRA, Carmen Regina Dorneles, O Turismo, o Reencontro e a Descoberta da Região das Missões, São Paulo, 2007 p.29)
PARIS EDMOND A História Secreta dos Jesuítas. Traduzido para o português em
1997 por Josef Sued 21 edição: 2* tiragem / Ano 2000.
SHALLENBERG, Erneldo. As missões jesuíticas do Guairá, Ed. Toledo 1997.
SPINELLI, Teniza. Esculturas Missioneiras em Museus do Rio Grande do Sul - Porto
Alegre: Evangraf, 2008.