Historiador Contesta Visão Hegemônica Do Golpe e Da Ditadura

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24 de maro de 2014Historiador contesta viso hegemnica do golpe e da ditaduraLuciano Trigoditadura_capaClippingCostuma-se afirmar que a Histria escrita pelos vencedores, mas no caso do golpe de 1964 e da ditadura que se seguiu aconteceu o oposto: a narrativa que prevaleceu em nosso imaginrio coletivo sobre o perodo foi a dos derrotados, dos torturados, dos exilados, das vtimas. Nesse sentido, um dos maiores fracassos do regime militar foi no ter conseguido afirmar minimamente para a posteridade um discurso consistente que tentasse justificar suas aes. Essa peculiaridade de nossa Histria recente, se por um lado confortadora, por outro tambm limitadora, por reduzir um perodo complexo a uma leitura maniquesta, focada na resistncia, com se a ditadura tivesse sido um hiato negro entre dois momentos normais da nao.Ditadura e democracia no Brasil, do historiador da UFF Daniel Aaro Reis (Zahar, 192 pgs. R$ 35,90), um dos muitos lanamentos editoriais motivados pelos 50 anos do golpe militar, destaca-se pelo esprito crtico e pela afirmao de que, sem o conhecimento aprofundado e sem o debate sobre os fundamentos sociais e histricos da ditadura, no faremos mais que reforar esteretipos. No livro, a reconstituio equilibrada das diferentes etapas do regime militar sempre pontuada pela anlise da relao entre ditadura e sociedade civil que esteve longe de ser apenas uma relao entre opressor e oprimido, at porque houve mais de uma ditadura, e dentro de cada uma houve foras e interesses civis e militares em conflito.A prpria ideia de ditadura militar, adotada pelas esquerdas derrotadas em 1964, apaga da equao da ditadura seu elemento civil, que foi da tolerncia passiva cumplicidade aberta. Para alvio e convenincia de muita gente, foram assim os milicos os nicos responsabilizados por tudo que aconteceu. Como escreve o autor, inquestionvel a dimenso civil do regime ditatorial, mesmo que o topo da pirmide do poder fosse ocupado por chefes militares. O golpe, afirma, no foi um raio que desceu de um cu sem nuvens: Jango estava atolado, sem projeto, pilotando a olho nu a crise do pas inflao de 80%, crescimento pfio em 1963 etc, gerando crescente insatisfao popular; e, j s vsperas do 31 de maro: Jango no queria dar ordens, estava apavorado diante do incndio que ajudara a provocar, horrorizado com a hiptese de uma guerra civil que no desejava.Raciocnios polarizados (opresso e liberdade; represso e resistncia) so mais fceis de entender, mas ignoram a conspirao de fatores que permitiram o golpe e a manuteno da ditadura, bem como os seus desdobramentos e resqucios autoritrios nos governos democrticos que se seguiram. Conhecemos (escolhemos conhecer?) apenas uma parte da Histria, o que no deixa de ser uma forma de falsific-la. O fato que amplos segmentos da populao apoiaram o golpe de 1964 ao qual praticamente no houve resistncia, vale lembrar: (a hiptese de uma luta derrotada no pde ser verificada, porque a rendio assegurou uma derrota sem luta) e sustentaram o regime militar, at onde interessou.Daniel Aaro Res lembra que apoiaram as Marchas com Deus pela Liberdade (que hoje tentam ridiculamente reeditar, resta saber atendendo a quais interesses) os principais partidos, lideranas empresariais e polticas e importantes entidades da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Conferncia Nacional dos Bispos Brasileiros (CNBB). Para s citar alguns exemplos, Ulysses Guimares foi um dos lderes da Marcha da Famlia e apoiou o golpe, tendo feito parte da comisso do Congresso responsvel por elaborar o primeiro Ato Institucional. A prpria CNBB, que mais tarde teria importante papel na denncia de violaes aos direitos humanos durante a ditadura, tambm apoiou o golpe. D.Paulo Evaristo Arns, ento bispo de Petrpolis, apoiou as tropas do General Olmpio Mouro Filho que marcharam de Minas para o Rio.daniel_aarao_reisSempre segundo o autor, mesmo Juscelino Kubitscheck defendeu o golpe e a eleio do general Castello Branco no Congresso. Muito pouco se escreve sobre isso. E muito est para ser revelado sobre a participao de diretores e funcionrios das grandes empresas estatais e privadas, das diretorias dos sindicatos corporativos, de membros das universidades e das academias, de jornalistas dos principais meios de comunicao etc. Mas esta uma pesquisa talvez no convenha a todos da a insistncia da maioria das pessoas em chover no molhado, em repetir a leitura reconfortante da luta entre heris e bandidos e de sua superao pacfica e negociada.Daniel Aaro Reis reafirma a independncia de sua anlise em diversos temas, contrariando a memria oficial da resistncia. Por exemplo, ele afirma que um equvoco superestimar o papel externo (leia-se o apoio norte-americano) no processo golpista, cujo sucesso deve ser atribudo to-somente ampla aliana social entre civis e militares. Em outro momento, ele escreve: inegvel que o golpe militar e civil foi empreendido sob bandeiras defensivas. No para construir um novo regime. O que a maioria desejava era salvar a democracia, a famlia, o direito, a lei (). Tambm enfatiza que ditadura no se limitou a reprimir, torturar e matar, mas tambm conduziu um processo de acelerada modernizao conservadora da economia e da administrao do pas, com um projeto nacional-estatista que tem desdobramentos at hoje, sendo portanto um equvoco associ-la a um Brasil arcaico.O autor questiona ainda a memria consolidada da saga guerrilheira, imortalizada em relatos simpticos de jovens generosos, que acabam por reforar a leitura simplificadora da ditadura e atender aspirao coletiva por conciliao. Escreve, por exemplo, que as passeatas eram um movimento democrtico, mas em relao aos esquerdistas revolucionrios reconhece que no desejavam apenas se livrar da ditadura, queriam tambm destruir o sistema capitalista, abrindo a via para a construo de um regime alternativo, socialista o que nem sempre to claramente admitido por historiadores do perodo. E, mais adiante, em relao ao sequestro de diplomatas estrangeiros: No plano estratgico, pela magnitude da represso que suscitaram, acabaram sendo nocivas para as esquerdas revolucionrias. apesar de seu otimismo, elas estavam poltica e socialmente isoladas.Toda memria, individual ou coletiva, at certo ponto seletiva e fabricada. 50 anos aps o golpe, enxergar a ditadura como um conflito em preto e branco entre bandidos e mocinhos sinal de ingenuidade ou preguia intelectual, que s serve queles que apoiaram o golpe, que se beneficiaram da ditadura, que financiaram a represso, que comemoraram na tranquilidade do lar os atos de exceo. Se os militares foram os nicos culpados, a sociedade civil foi absolvida, ficando para a posteridade a conveniente imagem de que todos foram desde sempre oposicionistas e heris da resistncia.FONTE: G1Compartilhar isto: Facebook112 Google Twitter1 LinkedInTags: 50 anos do golpe militar, Ditadura e democracia no Brasil, Regime Militar, UFFComo punir o lder do KremlinCISB e Exrcito Brasileiro celebram concluso de treinamento executivo com foco em Inovao e TecnologiaAbout Alexandre GalanteView all posts by Alexandre GalanteJornalista especializado em temas militares, editor-chefe da revista Foras de Defesa e da trilogia de sites Poder Naval, Poder Areo e Foras Terrestres. tambm fotgrafo, designer grfico e piloto virtual nas horas vagas. Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/alexandregalante6 Responses to Historiador contesta viso hegemnica do golpe e da ditadura Subscribe aldoghisolfi 24 de maro de 2014 at 11:02 # Exaistivamente tenho referido SEMPRE E EM QUALQUER LUGAR que a conversa proporcione a matria, que no houve golpe, e sim! contra-golpe; exatamente, contra o golpe que estava em andamento via Jango e Brizola. O Che andava solto, lpido e faceiro por aqui Apesar da histria estar sendo deturpada e escrita por jarges estereotipados por parte dos esquerdistas vencidos, ainda temos vivo e lcido o Cel. Jarbas Passarinho que o mais equilibrado repositrio da memria do perodo de exceo que vivenciamos com o ttulo de ditadura. Brandenburg 24 de maro de 2014 at 13:42 # Mais um ex-integrante da luta armada(MR-8,AP,DI-GB) que se junta a Jacob Gorender, Gabeira e uns poucos mais para desmascarar a mentira daqueles que afirmam e reafirmam que lutaram pela democracia no Brasil, comeando pela presidente e Cia Ltda.Em 2001 , em entrevista ao Globo, j havia reconhecido a mentira, sendo duramente criticado por companheiros pela declarao politicamente incorreta ao afirmar que lutaram pela implantao da ditadura proletria caso tivessem derrotado as foras do governo, e no pela democracia.Aguardemos as crticas ao livro que certamente viro pois, afinal, jamais reconhecero qual o objetivo final deles, at que o tenham atingido.A meus amigos, a esquerda caviar e os inocentes teis de hoje faro cara de espanto e se perguntaro mas como aconteceu? Eles no adoravam a democracia?Ento, se a idade permitir, creio que eu que terei de passar clandestinidade! Sds Vader 24 de maro de 2014 at 19:08 # Se os esquerdista tpico no fosse naturalmente um psicopata que odeia a raa humana, e portanto tivesse um mnimo de auto-crtica, veria ao menos hoje, 50 anos passados, que a esmagadora maioria do povo brasileiro apoiou durante muito tempo o Regime Militar, que posteriormente se convencionou chamar de ditadura, mas que na realidade nunca, nem em seus piores momentos, passou de uma ditabranda (esse um dos melhores termos criados nos ltimos dez anos). Se no fossem uns teleguiados do PCUS e dos PCCs (chins e, principalmente, cubano), teriam percebido que estavam sozinhos no meio de dezenas de milhes. Se a esquerda tivesse um mnimo de auto-crtica, coisa impossvel pra gente empedernida e que odeia tudo que a civilizao ocidental construiu em 2000 anos de histria, veria que a luta armada foi a pior deciso que ela, esquerda, podia tomar. Foi o que decretou o seu quase extermnio. Eram um bando (no sentido penal do termo) de incompetentes e lunticos ento; e salvo um ou outro regenerado que se salvou, continuam sendo. Essa guerra continua at hoje, com outras armas, especialmente a comunicao em massa. Que trabalhemos para abrir os olhos da juventude, porque essa nossa gerao j est perdida. Mas no tem problema: ns, os seres humanos, j derrotamos eles uma vez, e derrotaremos de novo, quantas vezes for necessrio, simplesmente porque o socialismo antiracional e ilgico. impossvel ele funcionar por mais que um lapso de tempo, porque ele antinatural: um aborto da inteligncia. timo texto. Vou ler o livro. Rafael M. F. 24 de maro de 2014 at 19:56 # Vader 24 de maro de 2014 at 19:08 Se a esquerda tivesse um mnimo de auto-crtica, coisa impossvel pra gente empedernida e que odeia tudo que a civilizao ocidental construiu em 2000 anos de histria, veria que a luta armada foi a pior deciso que ela, esquerda, podia tomar. Foi o que decretou o seu quase extermnio. Voc tocou em um ponto interessante: Se no me engano, Elio Gaspari tambm afirma que a opo pela luta armada foi o maior erro que a esquerda cometeu, pois deu o motivo que os milicos precisavam para instituir os AIs. Antonio M 25 de maro de 2014 at 10:56 # Eu no sou otimista porm, tenho esperana na mudana sim. Adaptei aqui o comentrio de um outro blog que ironiza a marcha pela famlia ocorrida no ltimo final de semamas onde at concordo com o que disse o deputado Bolsanaro que seria melhor se no estivessem pedindo a volta dos militares ao poder pois, nem eles querem se meter nessa enrascada novamente. Mas poderemos chegar a duas dcadas no Brasil e boa parte da AL, de ter no poder os tais paladinos da justia, os revolucionrio de bom corao que queriam salvar o Brasil e o mundo das garras da perversidade a 50 anos atrs e que no poder provaram no querer nada disso, apenas locupletar. Como j foi dito por l e tantos outros blogs, se houvesse uma convocao dessas a 12 anos atrs, nem meia dzia de pessoas, literalmente, teriam ido a tal marcha ento, a nossa esquerda conseguiu o que j havia conseguido 50 anos atrs, incomodar com suas propostas fajutas. E ainda assim, conseguiram chegar ao poder e tem o mrito de despertar essa vontade em parte da populao agora, que nem mesmo os militares querem. Restou ento o velho sentimento de desejar o fim da humanidade como bom humanistas que so, na medida exata da descrio de J.P Coutinho, e com a cereja do bolo isso no esquerda sendo que historicamente assim que a esquerda se comporta no poder. E ainda mandam os outros estudarem mais.. Rafael Oliveira 25 de maro de 2014 at 15:05 # No sei quem mais se esfora para reescrever os fatos. Se a esquerda ou os militares e os apoiadores do golpe. Para a esquerda, os movimentos guerrilheiros lutavam pela democracia. Para os militares e demais golpiistas, a ditadura era uma democracia. Ambos querem ser os mocinhos, assim como querem dar os papis de bandidos para os rivais. Mas, nessa histria toda, no h mocinhos. S bandidos. E a vtima o povo. Em 64, de um roubo. Hoje, de um estelionato. E a elite econmica brasileira continua ali, como coautora dos crimes narrados. S usando o Estado em seu favor.Leave a ReplyYou must be logged in to post a comment.PublicidadePublicidadeNavegue na trilogiaNossos leitores agora[Stats by whos.amung.us]BuscaParceirobanner-LAAD2014-250x250PublicidadeLeia nossa revista no seu tablet ou smartphoneO Jornaleiro BannerCompre nossa revista impressaFordefesa 08 - CAPA250pxCurta nossa pgina no FacebookFale com os [email protected]@[email protected]@forte.jor.brParceiroMag LabsPainel Login Posts RSS RSS dos comentrios WordPress.orgComentrios Recentes Joker em Aquisio de Viatura Oficina do Sistema Astros para o CFN Colombelli em De Moscou, com amor Joker em Aquisio de Viatura Oficina do Sistema Astros para o CFN rsbacchi em Aquisio de Viatura Oficina do Sistema Astros para o CFN Vader em Aquisio de Viatura Oficina do Sistema Astros para o CFNMisso do ForTeDesenvolvimento de uma Mentalidade de Defesa no BrasilA sociedade brasileira no demonstra ainda grande interesse pelos assuntos diretamente ligados defesa nacional e o tema no prioritrio para as lideranas e os formadores de opinio do Pas.A Estratgia Nacional de Defesa apresenta dentre suas metas o desenvolvimento de uma mentalidade de defesa na sociedade. Nesse sentido, A "trilogia" Foras de Defesa tem como objetivo tornar os assuntos de defesa parte da agenda nacional, a ponto de influenciar decisivamente as polticas governamentais no futuro.Quem compra a nossa revista impressa Foras de Defesa pode solicitar, como cortesia dos editores, login e senha para comentar, desde que dentro das regras estabelecidas. Os comentrios so de responsabilidade de seus autores, e caso tenham contedo inapropriado ou fora do tpico, sero editados ou removidos. Os leitores que insistirem em comentar fora do tpico, realizar propaganda poltica e desrespeitar outros leitores e editores, podero ser removidos sem aviso prvio.AliadoSociedade Bblica Trinitariana