Histórias%20dos%20Pilotos%20do%20Douro%20e%20Leixões

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INTRODUO O nosso pai, Jos Fernandes Amaro Jnior, alm da relao minuciosa de todos os servios que realizou durante a sua vida de Piloto da Barra, de 1929 a 1957, deixou-nos imensos relatos escritos e verbais de naufrgios, acidentes, encalhes, manobras embaraosas no porto de Leixes, rio e barra do Douro, e ainda na costa e no mar, mas tambm muitos recortes de noticias martimas da imprensa diria, a que ns demos e continuamos a dar seguimento, e que nos veio a dar uma valiosa ajuda para a composio dos episdios postados no nosso blogue O PILOTO PRTICO DO DOURO E LEIXES. A pesquisa na Internet, no Lloyd's Register of Shipping, e em publicaes nacionais e estrangeiras da especialidade de que ramos e somos leitores, tais como Revistas da Marinha Mercante, da Marinha, da Armada, Marine News, Sea Breezes, Fairplay, Blauwe Wimpel, etc., tambm foi de grande valia, assim como a minha actividade profissional em agncia de navegao, no atendimento aos navios. Sempre fomos entusiastas de navios e navegao, desde que nos conhecemos, e isso deve-se ao facto descender de uma famlia com alguns membros ligados s artes marinheiras e pesqueiras, dentre os quais se inclui o meu pai. Os nossos brinquedos preferidos eram barquitos feitos em palmeira por um amigo da famlia, carpinteiro naval de profisso, que nos levava pela mo a passear pela praia da Cantareira e pelo lugar das Palmeiras, ali junto barra do Douro e que nos dizia o nome e a nacionalidade de todos os navios que ento estavam a cruzar aquela barra. Tambm os relatos de nosso pai, forosamente tinham de se referir, como no poderia deixar de ser com os seus servios de pilotagem ou com os seus tempos de pescador e foram-nos narrados pela vida fora. Algumas vezes acompanhmo-lo nos navios, nomeadamente nas mudanas de ancoradouro ou numa ou noutra ida do rio Douro para bacia do porto de Leixes. Em Setembro de 1951, num dia de nortada fresca e fora da barra, o nosso pai fez-nos saltar para bordo do belo e genuno lugre vela bacalhoeiro de trs mastros, ANA MARIA, que acabado de chegar barra, vindo de mais uma campanha aos Bancos da Terra Nova, trazendo carregamento completo de bacalhau, chegara pela manh. Aquele lugre devido ao mar cavado provocado pela nortada, no fundeara e, enquanto aguardava prtico e rebocador, fazia bordos ao mar e terra, navegando bolina a todo o pano, dando um adornamento tal, que a sua borda do lado de sotavento ficava afogada pela entrada de gua pelos embornais e a sua elevada mastreao de to inclinada, provocava-nos um temor medonho um verdadeiro espectculo que jamais tive oportunidade de reviver! Pelas 15 horas, foi estabelecida a amarreta ao rebocador VANDOMA, e ferradas as velas, o velho lugre, construdo em 1873, entrou a barra com a sua equipagem e companha acenando ao seu familiares, que pela margem acompanhavam o navio, e pouco depois, junto das bias dos Arribadouros, ns desembarcamos para a lancha de pilotos das amarraes, a fim de evitar incmodos com as autoridades martimo-porturias, e o lugre foi amarrar junto ao lugar do cais da Pedras, Massarelos. Durante as suas horas de folga, o nosso pai, com a nossa colaborao de novato na arte, entretinha-se a modelar miniaturas de embarcaes ou a fazer redes de pesca em fio de ticum, a titulo gratuito, para os pescadores da Cantareira, e enquanto com a agulha e o muro confeccionava as malhas ou empatava os ns na tralha, ia-nos dando a conhecer os nomes das pedras, baixios, bancos de areia, ancoradouros, jeitos de mar, guas e ventos, enfiamentos das duas barras e suas marcas em terra e explicava-nos ao pormenor como se manobrava embarcaes ou navios vela, assim como todos os procedimentos a realizar nas manobras de entrada e largada dos portos do Douro e Leixes, fosse em condies de acalmia, mau tempo ou cheia no rio, pelo que nos arriscamos a afirmar ter ficado a saber quase tanto como ele. Note-se que quando assistamos junto da barra, s entradas ou s sadas de navios, e reparvamos que estavam a ser levados pelos andaos de mar e pelas correntes de gua para cima do cabeo ou banco da barra, a guinarem restinga do Cabedelo ou ao enrocamento do cais do Touro e da Meia Laranja, lugares de muitos acidentes graves, ns, de olhos arregalados, at parecia que estvamos a puxar os navios para bom canal, movimentando os olhos para o bordo certo. H cerca de 60 anos, a crianada da borda d'gua da Foz do Douro, mais propriamente da praia do Ourigo, poca mais identificada por praia da Senhora da Luz, modelava de modo tosco em materiais tais como palmeira, cortia, madeira ou chapa, pequenas miniaturas do mais variado tipo de embarca1

es, mas sobretudo embarcaes vela que lanadas gua nas poas ou no lago da referida praia, utilizando velame em papel, lemes de folha de flandres ou vidro, evolucionavam principalmente de norte para sul, aproveitando ventos predominantes daquele quadrante. Ns tnhamos a predileco por modelar lugres bacalhoeiros, tais como o ANA MARIA, PAOS DE BRANDO, AVIZ, OLIVEIRENSE, INFANTE DE SAGRES 3, SANTA MARIA MANUELA, NOVOS MARES, etc., e aproveitando os ensinamentos de nosso pai, fazamo-los navegar contra o vento, bolina. Tambm na Cantareira, j dentro do rio, pegvamos num bote ou at mesmo na caca dos pilotos, e de paneiro ao alto e remo r para governar, l amos rio acima, aproveitando o vento da barra at ao lugar do Bico de Sobreiras, e no regresso a nica alternativa era baixar o paneiro e popa remar ginga contra ventos e mars. Chegmos a presenciar muitos acidentes com pequenas embarcaes, alguns deles fatdicos para os seus ocupantes, nomeadamente aqueles do sacrificado centro piscatrio da Afurada, contudo tambm j presenciamos vrios sinistros martimos nos portos do Douro e Leixes e nas suas reas adjacentes com embarcaes de maior porte, e, em alguns casos antevramos o acidente. Aquele que mais nos marcou foi a tragdia do iate-motor costeiro METEORO, da praa do Porto, naufragado a 16 de Janeiro de 1947, quando, inexplicavelmente se fez barra do Douro, sem qualquer sinal de permisso do Piloto-Mr, perecendo sete valiosas vidas dentre as quais o imprevidente prtico, salvando-se apenas dois tripulantes. Foram momentos de aflio e pavor vividos por ns, ainda criana, e por nossa me, porque constara que o Piloto que conduzia o navio era o nosso pai. Alis, muitas vezes assistimos e passramos por situaes dessas, sabendo que o meu pai estava a bordo de navios em dificuldades no rio, na barra e ainda em ocasies de ciclones na bacia do porto de Leixes. Felizmente, durante todo o seu longo percurso de Piloto da Barra, jamais foi protagonista de qualquer incidente martimo de vulto, muito pelo contrrio era chamado pelos seus chefes a solucionar servios de uma certa complexidade. Resta-me acrescentar que sou autor do livro A BARRA DA MORTE A FOZ DO RIO DOURO, publicado em 2007 pela editora "O Progresso da Foz", que versa acidentes martimos, episdios, opinies, recordaes familiares e outros. Rui Amaro

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Podem-se ver quatro fotos de navios a demandar a barra do Douro em dia de alguma agitao martima, mas s eram possveis estas entradas aps o Piloto-Mr reunir com os seus subalternos, e depois de muito bem observada a barra que decidiam se havia movimento ou no. Est claro que essas entradas ou sadas com mar era possvel, porque a barra do Douro, contra o que acontecia nas outras barras, tinha a alternativa dos pilotos embarcarem ou desembarcarem ali a cerca de trs milhas, pela Lancha de Pilotos de Leixes, ou em ltimo caso entravam para Bacia (ante-porto), e receber ou deixar o Piloto, e por vezes nem Leixes lhes valia seguiam viagem para desembarcarem no primeiro porto de escala. Como curiosidade posso dizer que houveram Pilotos, e mesmo de Leixes, foram desembarcar aos Aores, Madeira, Londres, Liverpool, Vigo, Lisboa, e um no paquete NYASSA, se no estou em erro durante a 2 Guerra Mundial foi parar ao Rio de Janeiro, e permaneceu l em casa de um tio meu, amigo do Piloto, at o NYASSA regressar do sul, vindo para Lisboa, e foi manchete na Imprensa Carioca. O meu pai que tambm j esteve para seguir para Boston, mas acabou por desembarcar a muito custo. Numa outra ocasio o meu pai ao dar sada ao paquete Ingls HILARY, nos anos 30, a fim de evitar seguir a bordo para Liverpool, ao descer para a lancha, entre molhes, devido a uma volta de mar imprevista, e para no ser colhido nas pernas, saltou desamparadamente para a lancha, que era de boca aberta, e ficou sem sentidos e bastante maltratado, ficando cerca de dois a trs meses inactivo. No ps-guerra os acidentes no rio e barra diminuram, porque comearam a aparecer navios mais sofisticados, e hoje a navegao resume-se a navio flvio-maritimos, com impulsionadores proa, que vo carregar pedra zona de Entre-os-Rios, e o rio com as barragens deixou de ter as fortes correntes e cheias do antigamente. A foto de jornal, tirada por um foto-amador local, do iatemotor METEORO mostra-o no momento em que se iria virar de fundo para o ar.

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RECORDANDO O NAUFRGIO DO VAPOR NORUEGUS "INGA I" (1) NA BARRA DO DOUROINGA I (1) / Lillesand Sjomannsforening.

A 30/03/1936, manh cedo, o vapor Noruegus INGA l apareceu vista da barra do Douro. O mar estava um pouco agitado e aquele vapor carvoeiro fundeou ao largo da costa, aguardando a mar e o prtico da barra, juntamente com outros seis vapores, que tambm se destinavam ao rio Douro. O piloto-mor Francisco Rodrigues Brando, como o mar na barra, antes da mar, no permitisse a sada da lancha de pilotar P4, ordenou aos pilotos de servio, que seguissem para Lea da Palmeira, a fim de embarcarem na lancha de pilotar P1 no porto de Leixes, a qual os conduziria para bordo daqueles vapores, que continuavam fundeados ao largo da barra. Os referidos pilotos assim procederam e embarcaram nos respectivos vapores por ordem de escala de servio e posicionamento dos mesmos. O piloto Francisco Soares de Melo subiu a bordo do INGA l, a fim de dirigir as manobras de entrada da barra e subida do rio at ao seu ancoradouro. s 16h35 foi iado nos mastros do cais do Margrafo e do castelo da Foz o sinal de galhardetes convencional do calado de gua dos aludidos vapores, que comearam a aproximar-se da entrada da barra. Depois de terem entrado os vapores Noruegueses DOURO, CRESCO, GRANA e o pequeno petroleiro Portugus SHELL 15, coube a vez ao INGA l, que comeou por fazer o conveniente mas embaraoso enfiamento ao canal da barra. Entretanto ao aproximar-se da bia da barra, junto das pedras da Ponta do Dente, e apanhando um estoque de gua ou ronhenta originado pelas guas de cheia de cima e alguma ondulao, desgovernou a bombordo e foi embater nessa penedia pelo lado de oeste, acabando por sofrer um rombo. O INGA l, atravessado vaga, que crescia de momento a momento e corrente do rio, foi levado por esta at a uma distncia de cerca de 400 metros para os-sudoeste do farolim de Felgueiras, sem de nada lhe valerem os dois ferros lanados gua, acabando por se deter encalhado num banco de areia submerso, formado por uma anterior cheia, um pouco a norte do local onde sete anos antes, tragicamente naufragara o vapor Alemo DEISTER. A tripulao do INGA l, vendo a situao critica em que se encontrava, tratou de preparar as baleeiras salva-vidas, ao mesmo tempo que se munia dos coletes de salvamento. Enquanto se desenrolava toda esta actividade com visvel nervosismo, o piloto Francisco Soares de Melo pedia socorro por meio de toques lgubres da sirene de bordo, originando grande alarme, pelo que correu clere a noticia pela cidade do Porto e arrabaldes, tendo acorrido para a Foz do Douro, de todos os pontos, milhares de curiosos alarmados, servindo-se de todos os meios de transporte. Ao longo dos cais e do areal do Cabedelo, a multido cheia de inquietao e ansiedade, tomava as suas posies, a fim de assistir aos trabalhos de salvamento dos nufragos do vapor sinistrado.A imagem mostra o Inga I encalhado, a sua tripulao no ptio do Hotel Boa Vista, Foz do Douro, e a lancha salva-vidas Carvalho Arajo entrando a barra, j com os nufragos a bordo. /(c) Gravura de noticia do dirio O Comrcio do Porto de 01-04-1936/.

Para a barra seguiram a lancha de pilotar P4 e os rebocadores MARS 2, VOUGA 1, TRITO, NEIVA e LUSITNIA. Aproximaram-se, tambm as lanchas salva-vidas a remos da Foz e da Afurada, que chegaram a dirigir-se para as imediaes do naufrgio, sem qualquer sucesso. Momentos depois saram do porto de Leixes, a toda a velocidade, o 4

salva-vidas motor CARVALHO ARAJO e a lancha de pilotar P1 daquele porto. Por terra compareceram as corporaes dos bombeiros voluntrios do Porto, Portuenses, Matosinhos e Lea, Leixes e ainda o Batalho de Sapadores Bombeiros, todas elas com o seu pessoal e o material de socorros a nufragos. O momento era impressionante, havia em toda a multido uma emoo profunda, que se justificava plenamente, atendendo tragdia do DEISTER, que se desenrolara um pouco a sul do baixio onde o vapor INGA l se encontrava encalhado e na mais critica situao. Os Bombeiros Voluntrios do Porto sob o comando do capito Miranda, instalados no molhe de Felgueiras, prepararam um fogueto, que lanaram pelas 18h10 em direco ao vapor, a fim de se estabelecer um cabo de vaivm no sentido de resgatar a sua tripulao, o qual no conseguiu atingir o alvo devido grande distncia a percorrer. A sirene de bordo continuava a fazer-se ouvir, denunciando a gravidade da situao e de bordo os tripulantes vendo, que o fogueto no atingira o seu vapor e que as embarcaes de resgate no se podiam aproximar, lanaram por meio de uma pipa uma espia ao mar, com o intuito de ser recolhida por qualquer das embarcaes, que pairavam por perto e que a levaria aos bombeiros em terra. No conseguiram, porm o seu intento, pois a corrente das guas fizera mudar de direco a referida pipa, para lugar onde no poderia ser recolhida. A situao comeou-se a tornar demasiado aflitiva e para mais com o aproximar da noite. O salva-vidas motor CARVALHO ARAJO tripulado pelos bravos homens do mar Antnio Rodrigues Crista, patro; Aristides Molta da Silva, motorista; Jaime Serafim Bessa, Antnio Francisco da Silva e Ricardo Rodrigues da Costa, marinheiros, comeou por fazer algumas evolues de aproximao ao vapor, procurando manobrar no sentido de o poder abordar mas em vo, acabando por se colocar em segurana, contudo no desistindo. A multido silenciosa, fixa os seus olhos no pequeno barco, que em plenas vagas de mar, teimosamente luta para atingir o vapor INGA l. H momentos parecendo submergir mas em breve endireita-se, como triunfante numa luta titnica e na ocasio certa investe contra a maresia, por terra do vapor que estava posicionado de proa a sul, portanto atravessado barra e ondulao, que o envolve de borda a borda e consegue atracar por bombordo. Pelos milhares de espectadores passou uma sensao de alvio e de singular admirao pelos bravos e indmitos homens do salva-vidas CARVALHO ARAJO. Havia, porm, outra grande dificuldade a vencer. A situao do salva-vidas ainda no se encontrava, completamente resolvida, porque estava atracado ao vapor naufragado, recolhendo os nufragos e as vagas eram bastante alterosas, ocasionando por vezes correrem ao longo do costado de bombordo, elevando aquela embarcao no seu cume. O patro Antnio Rodrigues Crista, firme ao leme, logo aps ter resgatado toda a tripulao e o piloto da barra, faz-se barra riscando, perigosamente nos enormes vagalhes que o elevam no ar para de pronto desaparecer no vau dos mesmos e logo a seguir reaparecer. Vagalhes, que lhe criam bastante perigo, contudo desta vez no o conseguem fazer naufragar, como aquando do trgico encalhe do GAUSS. Ao entrar a barra, triunfante da sua luta com os elementos, que desta vez no o conseguiram derrotar, a multido emocionada, acenava milhares de lenos e batia palmas de contentamento e de admirao pelos bravos martimos. Foi um espectculo empolgante e grandioso. Os tripulantes do salva-vidas CARVALHO ARAJO olhavam a multido com aquela simplicidade e rudeza, que lhes so peculiares. Para eles foi, somente um servio feito com certa felicidade, o qual lhes dera imensa satisfao por terem podido salvar aquelas dezassete vidas, seus companheiros das rspidas artes marinheiras. Aquela lancha salva-vidas, sempre ovacionada pela multido em terra, foi atracar s escadas dos pilotos, no cais do Margrafo, onde j se encontravam Jos Gomes de Almeida e o seu scio Carlos Gonalves Guimares da firma Almeida & Guimares, Lda. da rua do Infante D. Henrique, l5, na cidade do Porto, qual vinha consignado o vapor sinistrado e a respectiva carga de carvo. Desembarcaram ali os nufragos, alguns dos quais traziam sacos com as suas roupas, outros nada traziam, porque no tiveram tempo de salvar os seus haveres. O ltimo a saltar para terra foi o capito do INGA l, Cdt. Georges Bugge, embora um pouco extenuado, teve palavras de exaltao e simpatia para a tripulao do salvavidas, a quem acentuou que todos os seus subordinados e o piloto local, lhe deviam a vida. Entretanto, apareceu junto das escadas uma camioneta da P.S.P., que transportou os tripulantes do INGA l para o hotel da Boavista, situado junto do castelo da Foz, onde ficaram hospedados, aguardando a evoluo dos acontecimentos. Os tripulantes do salva-vidas CARVALHO ARAJO, acompanhados pelo seu arrojado 5

patro Antnio Crista, dirigiram-se para a Capitania do porto de Leixes, a fim de se apresentarem ao capito do porto, para prestarem conta dos acontecimentos. A notcia do salvamento dos tripulantes e do piloto da barra, espalhada pelos cartazes do jornal O Comrcio do Porto causou na populao a mais agradvel sensao. No hotel da Boavista, esplanada do Castelo, a tripulao do vapor INGA l, atravs do imediato Strandberg, um rapaz alto e robusto, cheio de vida e de bom humor, que acolhera com um sorriso franco o reprter daquele jornal, relatara que toda a tripulao estava satisfeita com os socorros rpidos, que lhes tinham sido prestados, pelo que jamais deixariam de o esquecer, o que os destemidos tripulantes do salva-vidas CARVALHO ARAJO fizeram por eles. A sua bravura impressionara-os profundamente, pois foram uns grandes camaradas. O capito do vapor, que fora expedir telegramas, ao chegar ao hotel, manifestou tambm a sua grande admirao pelos bravos homens do salva-vidas. O vapor INGA l procedia do porto carbonfero de Barry Dock transportando 1.500 toneladas de carvo para o porto comercial do Douro e da respectiva lista de tripulantes, alm do capito e do imediato, acima referidos, constava tambm o segundo piloto Rorsnes, chefe de mquinas B. Eliassen, segundo maquinista C. Foss e os restantes tripulantes, telegrafista, contra-mestre, marinheiros, fogueiros, cozinheiro e despenseiro, cujos nomes eram F. Isaksen, O. Icvalvik, M. Borge, O. Kristiansen, H. Michaelsen, G. Anderson, N. Lerso, H. Markussen, O. Icleiveland, A. Asse e K. Frisvold, os quais foram visitados pelo cnsul da Noruega no hotel da Boavista, a fim de se inteirar da sua situao. A 01/06/1936, na sede da Associao Comercial do Porto, ao edifcio da Bolsa, os cinco elementos da companha do salva-vidas CARVALHO ARAJO foram homenageados e condecorados pelo ministro da Noruega em Portugal, com os diplomas de louvor e sobretudo as medalhas da Aco Generosa, em prata, a qual na frente e em relevo mostrava a figura do Rei Haakon X, da Noruega e no verso o nome de cada um dos condecorados e a data em que praticaram a aco altrusta. Tambm a Associao Comercial do Porto, pela mo do seu presidente Antnio Calem, concedeu aos quatro tripulantes o subsdio de 300$00 e ao patro Antnio Crista coube a quantia de 500$00.Esboo de um mapa da barra do Douro de 22-01-1937, apresentando os enfiamentos e os calados de gua permitidos, da autoria do piloto da barra Jos Fernandes Amaro Jnior para seu prprio uso e no qual se nota o banco de areias estendido desde o Cabeo at penedia do Bezerro de Fora. Em baixo, esquerda, esto assinalados os destroos do vapor noruegus Inga I naufragado em 30-03-1936 e que prevaleceram no local por cerca de um ano.

O vapor INGA I manteve-se encalhado durante bastantes meses, apesar de ter suportado alguns temporais. A 05/11/1936 foi solicitada a sua destruio, a fim de evitar futuras consequncias, sobretudo aquela de dificultar o movimento da barra, A 05/05/1937, depois dos trabalhos interrompidos por vrias vezes, finalmente foram retomados os trabalhos da sua destruio. Em face da perda do seu vapor, o armador Johan Eliassen adquiriu o antigo vapor noruegus BA, usual frequentador da barra do Douro, que passou a denominar-se INGA I (2), o qual continuou afecto ao trfego dos portos do Douro e Leixes.

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MAIS UMA VEZ A BARRA DO DOURO E O PORTO DE LEIXES ENCERRADOS NAVEGAO DEVIDO AO TEMPORAL esquerda v-se o IRENE DORATY, e direita em cima est o PRO DE ALENQUER, e finalmente em baixo aparece o WALTER LEONHARDT j posicionado no meio do rio.

A 17/02/1936, voltou o temporal. A barra do Douro e o porto de Leixes estiveram encerrados navegao, devido forte agitao martima e corrente de guas do monte. O rio apresentava-se com bastante gua com tendncia a aumentar o seu nvel, sendo tomadas as necessrias precaues para precaver a eventualidade de uma nova cheia. Os pilotos da barra, coadjuvados pelo seu pessoal assalariado, andavam pelas margens a reforar as amarraes dos muitos navios surtos no rio Douro. No porto de Leixes, motivado pelo temporal, garraram alguns vapores fundeados na bacia, dos quais se destacavam o Alemo ATTIKA, Portugus IBO e o Noruegus FAGERSTRAND, que tiveram de procurar ancoradouros mais abrigados. O salva-vidas CARVALHO ARAJO passou todo o dia a recolher as tripulaes das vrias embarcaes em perigo, sobretudo laitas e traineiras, que a cada momento pediam socorro. Todos os vapores fundeados na bacia mantinham-se de fogo aceso e com pilotos da barra a bordo para acorrer a qualquer emergncia. A 19/02/1936, devido ao crescimento das guas de cheia no rio Douro, que iam com uma forte corrente descontrolada, os cabos que sustinham o WALTER LEONHARDT, fortemente amarrado no lugar do cais das Pedras, rebentaram e aquele vapor foi parar ao meio do rio, onde se deteve. Ao cabo de algum tempo comeou a descair para o lado sul e a sua tripulao orientada pelo piloto Manuel de Oliveira Alegre, f-lo encostar um pouco mais prximo da margem esquerda e amarr-lo no lugar da Arrozeira, onde permaneceu a salvo. No lugar do cais do Monchique encontrava-se o vapor Portugus PERO DE ALENQUER, que com o crescer das guas descaiu sobre a margem, nada lhe valendo as amarras reforadas, causando danos num pio de barcas, e o palhabote a motor Portugus IRENE DORATY amarrado junto da lingueta do cais das Pedras/Paixo, Massarelos, garrou ficando encostado margem. No mesmo dia a situao comeou a degradar-se, devido impetuosidade da corrente, pelo que o servio das autoridades responsveis redobraram, procurando-se fazer face a qualquer perigo eventual e como tal algumas tripulaes abandonaram as suas embarcaes, entre as quais a do WALTER LEONHARDT, que vieram para terra pelo cabo de vaivm, incluindo o piloto da barra. Os navios surtos no rio Douro encontravam-se intensamente iluminados, incidindo ainda sobre os mesmos a luz forte de alguns projectores colocados distncia pelas vrias corporaes de bombeiros. Os pilotos da barra e o seu pessoal continuavam a tarefa de vigiar e reforar os navios durante a madrugada, esta ou aquela amarrao, que parecia ceder forte corrente. O vapor Estoniano MARTA amarrado no lugar do Gs, ao Ouro, devido a ter-se partido alguns cabos de proa garrou, indo embater contra a traineira BOA ESPERANA, que sofreu algumas avarias e ficou com a popa sobre alguns lugres, ali ancorados.

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O VAPOR ALEMO "WALTER LEONHARDT" SOFRE UM INCIDENTE QUANDO SEGUIA RIO ACIMA A CAMINHO DO SEU ANCORADOUROA 13/02/1936, pelas 09h00, quando o vapor Alemo WALTER LEONHARDT, pilotado pelo Manuel de Oliveira Alegre, depois de ter demandado a barra do Douro, seguia a caminho do seu ancoradouro, ao passar diante da lingueta do Bicalho, devido a um forte estoque de gua, formado pela corrente de guas de cheia, f-lo ir de guinada para bombordo embater com o vapor portugus SECIL, ali amarrado na descarga de cimento ensacado e correndo o risco de ir encalhar sobre as pedras da margem norte. Acorreram os rebocadores VOUGA 1, AGUILA e DEODATO, que passaram cabos de reboque quele vapor, conduzindo-o de popa para jusante at atingirem o ancoradouro do Gs, ao Ouro, ficando a amarrado a aguardar melhores condies de navegabilidade, a fim de seguir para o ancoradouro dos Vanzelleres, o qual lhe era destinado.O SECIL(1) no esturio do Sado, diante do Outo, dcada de 30 / foto da Secil - coleco F. Cabbral, Porto.

Este incidente, que devido s circunstncias do local poderia ter sido de consequncias mais graves, fez juntar muitos curiosos, que sua maneira comentavam o sucedido e davam sugestes para se retirar o WALTER LEONHARDT da sua posio critica, o qual transportava carvo e pertencia ao armador Leonhardt & Blumberg, Hamburgo.

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O ENCALHE DOS VAPORES INGLESES "ESTRELLANO" E "SEAMEW" NO ESTURIO DO DOUROA posio em que ficaram os vapores sinistrados, aps o encalhe: esquerda o ESTRELLANO e direita o SEAMEW / jornal O Comrcio do Porto /

Desde o dia 18/01/1936, que no havia movimento de navegao na barra do Douro, devido situao de cheia e sobretudo maresia. A 05/02/1936, dia ameaador de neblina, entre alguns navios, que entravam a barra e outros que iam de sada, estavam os vapores Ingleses SEAMEW e ESTRELLANO com calados de gua no superior a 16 ps, que carregados com carga diversa, se destinavam ao porto de Londres. Eram 13h45, quando ambos os vapores desandaram proa abaixo, iniciando a sua navegao. Primeiro o SEAMEW, piloto Joel da Cunha Monteiro, logo seguido do ESTRELLANO, piloto Mrio Francisco da Madalena. Prximo do lugar do Ouro, um dos pontos do rio bastante arenoso e de pouca altura de gua, aquele segundo vapor adiantou-se na sua marcha, todavia perdendo o primeiro de vista devido a uma enorme parede de nevoeiro cerrado, que entretanto se formara, impondo por tal motivo o mximo cuidado na navegao mas que desorientou os respectivos pilotos. De sbito, aqueles vapores, que assinalavam a sua presena com os usuais toques das suas sirenes, estancaram, sem que antes no tivessem deixado de colidir ligeiramente. Ambos estavam encalhados. O SEAMEW a sul do canal, prximo de So Paio da Afurada, aproado a sul e o ESTRELLANO diante do Ouro, aproado a norte. Supe-se, dada a posio dos dois vapores, que o motivo do encalhe, aliado ao denso nevoeiro, tivesse sido devido ao grande nmero de barcaas afundadas pela cheia naquele rea, e batendo nelas, os tenham feito desgovernar. Essas barcaas facilitando a concentrao de areias, tornavam-se elementos de srio perigo para uma boa navegao. Dado o alarme, acorreram ao local os pilotos da barra com o seu material flutuante, espiando com ancorotes os dois vapores, a fim de no serem arrastados mais para sul pela forte corrente da cheia na fora da vazante, e tambm compareceram os rebocadores MARS 2, VOUGA 1, NEIVA, LUSITNIA e o RECORD, que no chegaram a prestar os seus servios por desnecessrios, visto os dois vapores no correrem perigo imediato. Os respectivos agentes consignatrios fizeram seguir para junto daqueles vapores algumas barcaas e pessoal de estiva, para na eventualidade de ser necessrio aliviar alguma carga, o que se julga no chegou a ser necessrio. No dia seguinte os dois vapores safaram-se pelos seus prprios meios e seguiram viagem, sem mais percalos.SEAMEW / Autor desconhecido - Photoship co., UK /.

O ESTRELLANO, que como o SEAMEW escalava os portos Portugueses com regularidade, no resistiu conflagrao mundial, tendo sido torpedeado em 02/1941 pelo submarino Alemo U-37 a 160 milhas para Sudoeste do Cabo de S. Vicente, para onde rumou, a fim de se juntar ao comboio naval HG53, quando se encontrava em viagem de Douro/Leixes para Liverpool com um carregamento de 2.000 toneladas de carga diversa, incluindo 1.110 toneladas de conservas de peixe. No seu afun-

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damento, pereceram cinco dos seus vinte e cinco tripulantes, falecendo um outro a bordo do HMS DEPTFORD (L-53), navio salvador. Alm do ESTRELLANO foram torpedeados pelo U-37 os vapores da mesma nacionalidade COURLAND e BRANDENBURG, que seguiam no mesmo comboio naval.

NOVA CHEIA NO RIO DOURO E SOBRESSALTOS PARA AS POPULAES RIBEIRINHAS E ACIDENTES COM NAVIOSO SILVA GOUVEIA que garrou vendo-se por estibordo o VESTA e pela popa o ALFERRAREDE, e mais a jusante o SEBOU, suportando as guas de cheia do rio Douro

No dia 20/01/1936, pelas 04h30, a populao da beirario foi alarmada com os toques de pedido de socorro lanado por algumas embarcaes surtas nas ribeiras do Porto e Gaia. Aconteceu, que o vapor Ingls ESTRELLANO amarrado no lugar do Jones, margem de Gaia, bastante exposto forte corrente, acabou por arrancar os peorzes, que lhe prendiam os grossos cabos da amarrao e levado pela corrente, sempre com os ferros de proa e o ancorote de popa no fundo, atravessou o rio e foi abalroar o vapor da mesma bandeira BACKWORTH, que estava amarrado junto do cais do Terreiro, com um carregamento de bacalhau. O pnico foi grande, porque entre aquele vapor e o cais haviam muitas barcaas carregadas e atracados encontravam-se os rebocadores RECORD, AGUILA e MARIAZINHA, que correram perigo de serem despedaados e afundados, tendo sido impelidos contra a muralha. A presena dos responsveis da capitania e as corporaes de bombeiros no se fizeram esperar e os pilotos da barra trataram de regularizar a situao. s 08h00, a fim de auxiliar a retirar o ESTRELLANO da crtica situao foi chamado o salvadego Dinamarqus VALKYRIEN, que por um acaso se encontrava surto no rio Douro, pegando proa e arriando-o para jusante ao sabor da corrente, mais propriamente para o lugar do cais do Cavaco, ancoradouro mais seguro, assim como o rebocador VOUGA 1 pegou no BACKWORTH, levando-o de popa para o lugar de Santo Antnio do Vale da Piedade, o mesmo fazendo em relao aos vapores Dinamarqus VARING e Ingls DARINO, sendo reforadas as amarraes de todos ao vapores e navios desde as Ribeiras do Porto e Gaia at aos lugares dos cais da Arrozeira e do Ouro. Na Ribeira do Porto estavam os vapores Portugueses IBO, OUREM, lugre-motor AMIZADE 1 e o iate-motor ALENTEJO 1, este acabou por soobrar. Na margem de Gaia encontravam-se amarrados os vapores Ingleses SEAMEW, BRINKBURN, MAUD LLEWLLYN; Noruegueses GALATEA e BALDER. No quadro da Alfandega estavam os Alemes VESTA, SEBOU e GUNTHER RUSS; portugueses SILVA GOUVEIA e ALFERRAREDE e o Noruegus AUD.O ALENTEJO 1 aps naufragar, estando por fora o AMIZADE 1, uma fragata e mais a jusante o IBO. Na margem de Gaia, distingue-se o BRINKBURN

O SILVA GOUVEIA, que estava amarrado por terra do VESTA, garrou e foi sobre este, valendo-lhe os ferros do ALFERRAREDE, amarrado pela sua popa, que o aguentaram. Na prancha do Peixe, a Massarelos, viam-se os pescadores ALBATROZ, MACHADO e CABO DE SO VICENTE. e pela popa estavam alguns lugres 10

bacalhoeiros. Desde o lugar de Santo Antnio do Vale da Piedade at lingueta do Lugan, encontravam-se os vapores Portugueses MIRA TERRA e CORTE REAL; Dinamarqueses ENERGI e VARING; Ingleses BACKWORTH, ESTRELLANO e DARINO. O iate-motor ALENTEJO 1 teve no seu longo curriculum quatro afundamentos. Como ALENTEJO na cheia do rio Douro de 1936, alguns anos mais tarde afundou-se na ria de Aveiro. Aps a guerra de 1939/45 foi adquirido por um armador do Porto, que o registou como TEFILO e devido a cheias do rio Douro, afundou-se por duas vezes, uma no cais do Terreiro e outra no lugar de Massarelos e na cheia de 1961/62 no resistindo forte corrente foi barra fora, tendo sido resgatado ao largo da costa, completamente desalvorado, tendo sido levado para o porto de Leixes.

BARRA ABERTA RESTANTE NAVEGAONo dia 08/01/1936, passaram a barra os navios, que o no puderam fazer no primeiro dia de movimento na barra, aps a cheia e como tal comeou por sair o vapor Noruegus OPHIR, piloto Manuel de Oliveira Alegre. de salientar o arrojo do seu capito, que sozinho permaneceu a bordo durante a cheia. Entraram os seguintes navios: vapores Alemes KLIO, piloto Francisco Lus Gonalves; BELLONA, piloto Antnio Gonalves dos Reis; STAHLECK, piloto Jos Fernandes Amaro Jnior; AUGUST SCHULTZ, piloto Pedro Reis da Luz; PORTO, piloto Bento da Costa; ROBERT RUSS, piloto Eurico Pereira Franco; Ingls SEAMEW, piloto Joo Pinto de Carvalho; OTTERBURN, piloto Aristides Pereira Ramalheira; BACKWORTH, piloto Manuel de Oliveira Alegre; Noruegueses TEJO, piloto Mrio Francisco da Madalena; BRAVO 1, piloto Jlio Pinto de Carvalho; Portugueses PERO DE ALENQUER, piloto Elsio da Silva Pereira; VILA FRANCA, piloto Aires Pereira Franco e o lugre Dinamarqus ALBERT, piloto Jos Fernandes Tato. Por falta de pilotos, ficaram ao largo os vapores Noruegueses AUD e o HAVBRIS; Dinamarqus EMANUEL; Estoniano MINA e o Alemo VESTA, que s puderam entrar no dia 12, devido s condies da barra se terem deteriorado. No dia 12, passaram a barra os cinco vapores, que permaneciam ancorados ao largo, desde o dia 8, e outros, que entretanto apareceram vista. Saiu o vapor de pesca Portugus ESTRELA DO NORTE, piloto Joel da Cunha Monteiro e entraram os seguintes: Noruegueses AUD, piloto Eurico Pereira Franco; GALATEA, piloto Pedro Reis da Luz: BALDER, piloto Francisco Lus Gonalves; ALA, piloto Manuel de Oliveira Alegre; HAVBRIS, piloto Jos Fernandes Amaro Jnior; Dinamarqueses ENERGI, piloto Joo Pinto de Carvalho; EMANUEL, piloto Mrio Francisco da Madalena; Portugueses SECIL, piloto Hermnio Gonalves dos Reis; COSTEIRO, piloto Francisco Soares de Melo; Z MANL, piloto Carlos de Sousa Lopes e o lugre ROSITA, piloto Jos Fernandes Tato; Estoniano MINA, piloto Aristides Pereira Ramalheira; Alemo ACHILES, piloto Jos Fernandes Amaro Jnior e o lugre Ingls da praa de S. Joo da Terra Nova BASTIAN, piloto Joel da Cunha Monteiro. Tambm no dia 12, o rebocador Dinamarqus VALKYRIEN conseguiu safar o vapor Ingls MAUD LLEWELLYN, que se encontrava encalhado no lugar de So Paio da Afurada, devido cheia, desde o dia 29/12/1935.Salvadego Dinamarqus VALKYRIEN / (c) cortesia Museu Martimo da Dinamarca, Elsinore /.

No dia 13, saram os vapores Alemes SEVILLA, piloto Francisco Piedade; AJAX, piloto Joo Antnio da Fonseca e Noruegus TEJO, piloto Mrio Francisco da Madalena e fizeram-se barra os seguintes: Vapores Portugueses CORTE REAL, piloto Aires Pereira Franco; SILVA GOUVEIA, piloto Joel da Cunha Monteiro; vapor de pesca SANTA F, piloto Hermnio Gonalves dos Reis; iate-motor ALENTEJO 1, piloto Antnio Gonalves dos Reis; lugre-motor AMIZADE 1, piloto 11

Antnio Duarte; vapor Ingls ESTRELLANO, piloto Jos Fernandes Amaro Jnior e o vapor Noruegus KOMET, piloto Delfim Duarte. Estes navios j seguiram rio acima com alguma dificuldade, porque no rio j se notava mais corrente, devido a haver tendncias de nova cheia. Visto a situao comear a deteriorar-se, o piloto-mor Francisco Rodrigues Brando fez iar nos dois mastros da barra, o sinal indicativo de porto fechado a toda e qualquer navegao

O PILOTO-MOR AUTORIZOU A ABERTURA DA BARRA NAVEGAOVapor de pesca por arrasto ESTRELA DO MAR / desenho de Jos Fernandes Amaro Jnior, 1935 /.

Desde o dia 20/12/1935, que no havia movimento de navegao na barra do Douro, devido fora da corrente de cheia e maresia. A 07/01/1936, como as condies no rio e barra tivessem melhorado embora com alguma corrente forte de cheia e aps sondagens do canal de navegabilidade, o piloto-mor Francisco Rodrigues Brando autorizou a abertura da barra navegao, pelo que deixaram o porto comercial do Douro o vapor Ingls CRESSADO, piloto Hermnio Gonalves dos Reis e o vapor de pesca Portugus ESTRELA DO MAR, piloto Joel da Cunha Monteiro. De entrada, passaram a barra, sem qualquer percalo, os seguintes unidades: navio-tanque Portugus SHELL 15, piloto Francisco Soares de Melo; vapores Portugueses PDUA, piloto Mrio Francisco da Madalena; COSTEIRO SEGUNDO, piloto Elsio da Silva Pereira; OUREM, piloto Pedro Reis da Luz; Espanhol MARI CARMEN, piloto Joo Pinto de Carvalho; Vapor de pesca ESTRELA DO NORTE, piloto Aristides Pereira Ramalheira; Holands AJAX, piloto Eurico Pereira Franco; Noruegus DOURO, piloto Antnio Gonalves dos Reis; Alemo SEVILLA, piloto Jos Fernandes Amaro Jnior e ainda o salvadego Dinamarqus VALKYRIEN, piloto Francisco Lus Gonalves, que veio ao rio Douro tentar safar o MAUD LLEWELLYN. Fora da barra, ficaram a aguardar entrada para o outro dia, os seguintes vapores: Noruegueses AUD e BRAVO 1; Alemes AUGUST SCHULTZ, STAHLECK, BELLONA, KLIO e JOHNES E. RUSS; Ingleses SEAMEW e OTTERBURN; Noruegus HAVBRIS e o estoniano MINA.

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CHEIA NO RIO DOURO PROVOCA ACIDENTESO NRP DIU tendo a mquina a trabalhar de marcha avante e amarraes reforadas, a fim de aguentar as guas de cheia que o rio Douro levava em 12/1935, vendo-se tambm os vapores CRESSADO e SILVA GOUVEIA suportando a forte corrente.No cais da Arrozeira distinguem-se dois lugres fortemente amarrados, dos quais o segundo o ADAMASTOR.

A 24/1/1935, vspera de Natal, comeou a formarse um grande temporal de sudoeste, acompanhado de muita chuva, que perdurou nos dias seguintes. O rio Douro aumentava de volume das guas a nveis preocupantes, ao ponto de inundar as zonas ribeirinhas, com uma forte corrente a desenvolver-se e ancorados encontravam-se os seguintes navios, que mais se expunham ao perigo de rebentarem as suas amarras: lugre Portugus GEORGINA, no Sandeman; vapores Portugueses CATALINA, no Faria, e SILVA GOUVEIA, no quadro da Alfndega; vapor Noruegus OPHIR, no Jones; Ingleses CRESSADO, no quadro da Alfndega e o MAUD LLEWELLYN, no cais das Pedras.O MAUD LLEWELLYN enclhado junto de So Paio da Afurada, depois deter rebentado as amarras e ter sido levado pela forte corrente de cheia / foto de autor desconhecido - coleco Francisco Cabral /.

No dia 28, o nvel das guas na Rgua subira aos 14 metros e por precauo o capito do porto ordenou que as tripulaes daqueles navios se retirassem para terra. s 17h00 desembarcaram atravs do cabo de vaivm a equipagem do MAUD LLEWELLYN, e o OPHIR abandonado pelos seus tripulantes, salvo o capito, que se recusou a sair e como tal permaneceu a bordo, contudo estando com a mquina a trabalhar de marcha avante para aliviar as retesadas amarras. Dois dias antes, os pilotos tinham mandado colocar duas "paixes" ou seja dois ancorotes espetados no pavimento da estrada, a fim reforarem a amarrao daquele navio com novos cabos. A tripulao do CATALINA veio para terra no bote de servio. Os bombeiros municipais lanaram dois foguetes para bordo do CRESSADO e a sua tripulao foi desembarcada pela cesta-calo. Pelas 21h00, o comandante do NRP DIU, amarrado no quadro dos vasos de guerra, ao Bicalho, requisitou dois pilotos, tendo seguido para bordo os pilotos Manuel de Oliveira Alegre e Bento da Costa.Pormenores da cheia de 01/1935 junto do porto comercial do Douro, vendo-se o lugre-motor GEORGINA na margem de Gaia e o vapor Ingls CRESSADO junto do quadro da Alfandega / O Comercio do Porto /.

No dia 29, pela 01h30 rebentaram-se as amarraes do MAUD LLEWELLYN, que foi de guinada ao sul, descaindo e quebrando as amarraes dos lugres Portugueses MARIA CARLOTA, ADAMASTOR, ANDORINHA e CLARA, pelo que estes navios foram sobre o cais da Arrozeira onde se aguentaram, mas a fragata FRAZ, da praa de Lisboa foi levada pela forte corrente, indo-se deter junto da pedra do Escorregadinho, Lavadores. Quanto ao 13

MAUD LLEWELLYN, tambm foi rio abaixo at encalhar no lugar de So Paio da Afurada, diante da Fbrica do Acar. Ainda no dia 29, foi a vez do lugre ANDORINHA ir parar Afurada e o lugre MARIA CARLOTA guinou ao norte, atravessando o rio foi abalroar o NRP DIU, e aps ter sido libertado daquela canhoneira, foi sobre o lugre INFANTE, ficando atravessado na sua proa. Ento, saltaram a bordo alguns tripulantes, que arriando as amarras fizeram com que os dois lugres ficassem libertos, contudo acabaram por encalhar na margem. Durante a noite, nos ancoradouros da Ribeira, Porta Nova e Vanzelleres, rebentaram as amarraes de vrios pies de barcaas e estas foram rio abaixo, desaparecendo no mar revolto da barra, sem que antes no tivessem deixado de colidir com outras embarcaes ancoradas junto das margens. 1935 ficaria lembrado como o ano das sete cheias.

ACIDENTE NA BARRA COM A TRAINEIRA ESPANHOLA "MARUJO"A 14/12/1935 a traineira Espanhola MARUJO, que ao princpio da noite anterior, havia encalhado na penedia da Eira, Cantareira, acabou por se safar pelos prprios meios e com o auxlio da subida da mar de enchente, cerca das 04h00. Aps verificada a no existncia de rombos ou de outras avarias, meteu piloto e saiu a barra, rumando a Marin, seu porto de armamento, sem mais percalos. Aos camaradas, que aps o encalhe, por falta de recursos para se hospedarem, andaram a vaguear pelas ruas da Foz, foi-lhes oferecido para pernoitar a estao de socorros a nufragos e a estao de pilotos da barra, tendo optado pela ltima, por se situar mais perto do local onde se encontrava a traineira acidentada. Aquele oferecimento deixou-os muito sensibilizados, ao ponto de na ocasio da largada terem dado alguns vivas, alm de tocarem a sirene de bordo, repetidamente como prova do seu muito obrigado pela hospitalidade que lhes fora dispensada. A traineira MARUJO, com mais outras trs, NUEVO ARAGUAYO, TERCERO e OSCARCITO REAL, fora apresada pelo NRP DIU, canhoneira da fiscalizao das pescas, por se encontrar a pescar em guas territoriais portuguesas, ao largo da costa de Viana do Castelo e com os faris apagados, tendo o seu mestre e os seus colegas sido julgados pelo tribunal martimo, que lhes aplicou multas que variavam entre 3.300$00 e 5.200$00. As quatro traineiras, enquanto detidas, estiveram amarradas no lugar do Bicalho com uma praa da NRP DIU embarcada, e aps o pagamento das respectivas multas trataram de abandonar o rio Douro, sem a orientao de pilotos, tendo sido nessa ocasio que se deu o acidente.

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O "ALFERRAREDE" UM VAPOR CHEIO DE ADVERSIDADESA 03/12/1935, a barra do Douro est a ter um movimento de embarcaes desusado, atendendo s boas condies de mar, que se tem feito sentir e sendo assim, entre muitas embarcaes, demandou a barra do Douro o vapor Portugus ALFERRAREDE, que desde alguns dias se encontrava fundeado na bacia do porto de Leixes, na situao de embargado pela capitania, pelo motivo de ainda no ter pago a multa, a que o seu capito fora condenado, por ter demandando aquele porto sem a presena de piloto da barra, infringindo por tal motivo os regulamentos da pilotagem porturia. Esta questo, que ainda no ficara resolvida dado o agravo feito pela Sociedade Geral de Comrcio, Indstria e Transportes, empresa armadora daquele vapor, deu motivo a grande discusso na classe martima. O vapor ALFERRAREDE para ser desembaraado pela capitania do porto de Leixes, a fim de se dirigir ao rio Douro, teve de depositar uma cauo naquela autoridade martima por ordem da Direco Geral da Marinha Mercante e no por ordem daquela capitania, que desde princpio a no queria aceitar Assim, o vapor ALFERRAREDE saiu do porto de Leixes e fez-se ao rio Douro, conduzido pelo piloto Jos Fernandes Amaro Jnior. Porm, quando aquele vapor, auxiliado pelo rebocador VOUGA 1, passava junto do cais da Meia Laranja, local mais apertado da barra, devido ao areal do Cabedelo e a sua restinga estarem demasiado espraiados a norte. Assim, aquele vapor teve de se mover numa apertada curva para estibordo, a fim de ir safo das pedras do enrocamento do cais do Margrafo, mas devido a um forte estoque de gua desgovernou a bombordo mesmo com o rebocador a puxar para estibordo, no conseguiu obedecer ao leme, pelo que aquele piloto mandou largar o ferro de estibordo para aguentar a guinada e ordenou mquina de marcha r. Aps algumas manobras com o rebocador sempre a puxar para sul, descativou a corrente do ferro, deixando-a por mo e seguiu para montante at amarrar junto da lingueta da Sociedade Geral, ao lugar do Monchique. Este vapor sempre foi de muito mau leme. O ALFERRAREDE foi lanado gua em 22/04/1905 pelo estaleiro Joh. C. Tecklemborg A. G., Geestemunde, por encomenda do armador Dampfs. Ges. Neptun, Bremen., que lhe deu o nome de PLUTO e o colocou no trfego da pennsula Ibrica. Em 1914, no incio do conflito na Europa, foi internado no porto de Lisboa, tendo sido requisitado pelo governo Portugus e, consequentemente apresado em 24/02/1916, a fim de fazer face falta de transportes para abastecimento do pas. A sua primeira tarefa, sob bandeira Portuguesa, foi ao servio da marinha de guerra como navio lana-minas sob o nome de NRP SADO e em 1919 passou a fazer parte da frota dos TME - Transportes Martimos do Estado, Lisboa. Entre 1923 e 1925 esteve ao servio de dois armadores Portugueses, sob administrao dos agentes E. Pinto Basto & Ca., Lda., Lisboa, at ser adquirido em 1927 pela Soc. Geral de Comrcio, Industria e Transportes, Lda, Lisboa, que o matriculou com o nome de ALFERRAREDE. Alm de servir vrios trfegos, realizou vrias viagens Terra Nova, a fim de transportar bacalhau para o Norte do pas, atravs do porto do Douro, principalmente na dcada de 40 e numa dessas viagens, encontrou e recolheu os sobreviventes do petroleiro Holands LUCRECIA, torpedeado e afundado a 07/07/1940 pelo submarino alemo U-34, a cerca de 100 milhas para Oeste de Lands End, Sudoeste de Inglaterra, quando em viagem das Antilhas Holandesas para o porto de Falmouth. Em meados da dcada de 50 o ALFERRAREDE, devido a um forte ciclone, garrou e encalhou na praia de Algs, tendo sido safo com o auxlio dos salvadegos Portugueses PRAIA DA ADRAGA e D. LUIS, no dia seguinte. De vspera o PRAIA DA ADRAGA do armador do vapor sinistrado e o COMANDANTE PEDRO RODRIGUES, vapor dos pilotos da barra do Tejo, fizeram vrias tentativas de desencalhe, porm a amarreta do ltimo quebrou. O ALFERRAREDE foi adquirido em 1961 pela armador Sofamar Sociedade de Fainas de Mar e Rio, Lisboa, tendo o seu nome sido alterado para JOO DIOGO (1), que o colocou no trfego costeiro 15

nacional, transportando produtos siderrgicos, desde as instalaes da Siderurgia, Seixal, para o porto de Leixes e no regresso minrio de ferro. Em 1963 em viagem do porto de Leixes para o rio Tejo, devido ao denso nevoeiro, encalhou ao norte de Peniche, tendo sido considerado perda total.

BARRA DO DOURO DE NOVO ABERTA NAVEGAODois sugestivos aspectos da barra do Douro em 25/11/1935, distinguindo-se direita o grupo de bandeiras e disco iados no mastro do cais do Margrafo, sinal convencionado para a entrada de vapores a reboque com calados no superiores a 15 ps de gua, justificado por na ocasio da preia-mar sondar-se apenas 14 ps de gua no canal de navegabilidade, diante do cais do Touro, conquanto a escala do Margrafo, situada no pontal da Cantareira, registava 19 ps. Em face da situao vrios vapores foram abrigar-se ao porto de Leixes ou seguiram viagem para outros portos, apenas tendo entrado sete vapores, entre os quais os que se v na imagem: Em cima, o vapor carvoeiro Ingls MAUD LLEWELLYN, 76m/1.454tb, Cardingan Shipping, Ltd, Cardiff, piloto Jlio Pinto de Carvalho, que vai de guinada a bombordo, pelo que o rebocador LUSITNIA tenta traz-lo a estibordo, a fim de entrar no canal e em baixo, v-se o vapor Portugus SILVA GOUVEIA, 72m/958tb, Sociedade Geral, Lisboa, piloto Hermnio Gonalves Reis, passando diante do dique da Meia Laranja, auxiliado pelo rebocador NEIVA.

A 25/11/1935, pelas 11h00, devido agitao martima ter decrescido, recomeou o movimento martimo na barra do Douro, tendo entrado, com rebocador proa at ao lugar dos Arribadouros, os seguintes vapores: Noruegueses DOURO, piloto Aires Pereira Franco; BRAVO I, piloto Antnio Gonalves dos Reis; Ingleses MAUD LLEWELLYN, piloto Jlio Pinto de Carvalho; CRESSADO, piloto Elsio da Silva Pereira; ESTRELLANO, piloto Eurico Pereira Franco; Portugueses COSTEIRO, piloto Jos Fernandes Amaro Jnior; SILVA GOUVEIA, piloto Hermnio Gonalves dos Reis e o Holands TIBERIUS, piloto Francisco Soares de Melo. Haviam mais vapores prontos para entrar a barra, no entanto no o puderam fazer devido ao seu excessivo calado.

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NA SUA VIAGEM INAUGURAL O VAPOR ALEMO RABAT SOFRE UM INCIDENTE ENTRADA DA BARRA DO DOUROA 21/01/1930, pelas 17h30, demandou a barra do Douro, na sua viagem inaugural, o vapor Alemo RABAT, 91m/2.719tb, nova e excelente unidade do armador OPDR (Companhia Oldenburg Portuguesa), Hamburgo, de cujo porto procedia com carga diversa. Pouco tempo aps a passagem pela bia da barra e j diante do cais Velho, apesar do seu bom governo e mquina, sofreu uma estocada das guas de cima, que o obrigou a ir de guinada para bombordo, pelo que o piloto Eurico Pereira Franco, imediatamente ordenou leme a estibordo e mais fora na mquina, a fim de ganhar governo e no obedecendo manobra, mandou largar o ferro de estibordo e mquina toda fora r. Passado o perigo, virou o ferro e seguiu rio acima, sem mais percalos, at dar fundo no lugar de Oeste da Cbrea, a dois ferros com ancorote dos pilotos pela popa e cabos passados para terra. O RABAT vinha agenciado firma Burmester & Cia. Lda. O RABAT e o CEUTA, seu gmeo, foram empregues no trfego de Hamburgo, Bremen, Roterdo e Anvers para Portugal, Espanha, Marrocos e Canrias.

O INCIDENTE COM VAPOR NORUEGUS AQUILAVapor Noruegus AQUILA / Desenho de Rui Amaro /.

A 20.01.1930, pelas 17h30, quando o vapor Noruegus AQUILA demandava a barra do Douro, motivado por um golpe de mar desgovernou a bombordo, diante da Ponta do Dente, pelo que o piloto Antnio Gonalves dos Reis mandou, imediatamente largar o ferro de estibordo e marcha toda a fora r, a fim de evitar o encalhe nas pedras. Contudo, ao suspender o dito ferro e o vapor de marcha avante, resultou que a amarra se partisse, e como tal perdeu o ferro. Logo a seguir ao incidente subira a bordo o piloto Jlio Pinto de Carvalho, que foi auxiliar o seu colega nas manobras de levar o vapor ao meio do rio. O AQUILA retomou a sua navegao para montante, indo amarrar no lugar do cais do Cavaco com o nico ferro que lhe restou, cabos para terra e ancorote dos pilotos pela popa para Noroeste. A 29.01.1943 enquanto em viagem de Kola para os EUA, a 500 milhas de Akureyri, Islandia, transportando madeira, foi torpedeado e afundado pelo U-255 com perda de toda a tripulao.

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VAPOR INGLS HALCYONA 11.01.1930, pelas 09h55, entrou pela primeira vez na barra do Douro, consignado aos agentes Kendall, Pinto Basto & Ca. Lda., Porto, o vapor Ingls HALCYON, piloto Carlos de Sousa Lopes, que procedia do porto de Londres com carga diversa e foi amarrar no lugar do Jones, junto ponte D. Lus, margem de Gaia, a dois ferros, cabos para terra e ancorote dos pilotos pela popa ao Noroeste. A 05/11/1956 foi afundado no Suez para bloquear o canal.

PERDA DE AMARRAS E SEU RESGATE ENQUANTO AS EMBARCAES AGUARDAVAM ENTRADA NOS PORTOS DO DOURO E LEIXESO EHEA no porto de Amesterdo / autor desconhecido KNSM /.

A 11/01/1934, quando o vapor Portugus Z MANL se encontrava fundeado ao largo da costa, aguardando a chegada do piloto, a fim de demandar a barra do Douro, devido forte ondulao e ao vento intenso, que se fazia sentir, partira-se-lhe a amarra, pelo que se perdeu o ferro de bombordo com 15 braas de corrente. A 24/02 foi a vez do vapor Sueco LENITA, piloto Francisco Soares de Melo, perder um dos ferros, devido forte nortada. A 19/03 coube a vez ao vapor Holands RHEA, piloto Aires Pereira Franco, perder o ferro devido forte ondulao, o qual, logo de seguida, foi rocegado e recuperado, tendo aquele vapor demandado a barra, sem mais percalos e a 31/03 o vapor Portugus VILLA FRANCA, piloto Delfim Duarte, tambm partiu a amarra, quando suspendia o ferro para se fazer barra, contudo dois dias depois, quando da sua sada da barra, foi rocegar o local e conseguiu pegar e recuperar o ferro perdido. Nestas situaes, os pilotos da barra ou os prprios capites, para evitar perder a mar, ou com pessoal de estiva j chamado, logo que a amarra era perdida, tomavam nota da posio pelas marcas em terra, para aquando da sada voltarem ao local, e mais das vezes eram bem-sucedidos no resgate da amarra perdida.A lancha de pilotar colaborava nessas operaes. Haviam casos de ao suspender a amarra, o ferro estar bem pegado no leito do oceano, na penedia ou em qualquer naufrgio, e nesse caso para no haver demoras na entrada ou nas operaes comerciais, desmanilhavam a corrente da amarra, que era deixada no mar suspensa em bides vazios, e aquando da largada do porto, antes de seguirem viagem para o porto de destino, iam tentar a sua sorte para resgatar a amarra. Era um costume antigo, os armadores ou mesmo as companhias seguradoras gratificarem o pessoal envolvido nessas operaes, nomeadamente os pilotos da barra ou os capites. A 01/03/1943 foi bombardeado e afundado por aeronave ao largo de Npoles. 18

A LAITA "MARIA ADOZINDA" DESFAZ-SE NA PRAIA DO OURIGO DEPOIS DE BATER E ARROMBAR NAS PEDRAS DA PONTA DO DENTEA 26/04/1928, ao fim da tarde, a populao da Foz do Douro, correu alarmada para a entrada da barra, quasi que enchendo por completo o dique da Meia Laranja e o paredo do Farolim da Barra, pois fora dado sinal de que estava a naufragar uma enbarcao. De facto, assim era, e toda aquela gente assistia impressionada s diversas fases do sinistro. Acontecera que a 27 entraria em Leixes o paquete Alemo GOTHA, que vinha receber passageiros para os portos do Rio de Janeiro, Santos, Montevideu e Buenos Aires.Paquete GOTHA / NDL, Bremen /

Como esse vapor levava carga diversa, a laita MARIA ADOZINDA, pertencente a David Jos de Pinho, da praa do Porto, esteve durante o dia de ontem recebendo aquela que se lhe destinava e que era constituda m na sua maioria por caixas de vinho do Porto, das firmas Borges & Irmo, Ramos Pinto, Calem e outras. Logo que a carga ficou toda estivada a bordo, o mestre Candido Monteiro, ordenou, cerca das 18h30, que o rebocador BURNAY 2 levasse a laita para Leixes, onde esperaria a chegada do paquete GOTHA. Com efeito, a viagem iniciou-se sem novidade a caminho da barra. O mar apresentava-se com alguma agitao, fazendo-se sentir o vento fresco de sudoeste. Quando o rebocador BURNAY 2 comeou a demandar a barra com a laita, parece que devido ao mar e ao vento, a MARIA ADOZINDA foi descaindo at que bateu nas pedras denominadas Ponta do Dente, que resultou abrir rombo e comear a naufragar. A bordo do rebocador BURNAY 2 deram logo pelo desastre e como vissem que iriam tambm correr perigo, pois ao largo j se formava mar de andao, a machado cortaram a amarreta que puxava a laita, livrando-se assim de iminente naufrgio. O BURNAY 2 vendo-se livre, tratou de prestar socorro ao mestre da laita, Candido Monteiro e ao outro tripulante que o acompanhava. A abordagem, porm, no se podia fazer. Ento, aqueles dois homens, metidos em boias, lanaram-se ao mar, e foram recolhidos, embora com sacrifcios, pelo rebocador, que os trouxe rio acima, sem mais novidade. Nessa altura, da estao de pilotos da barra, na Foz do Douro, era pedido o socorro do salva-vidas da Afurada, que no se fez demorar, mas j no puderam ser utilizados os seus servios devido aos dois nufragos estarem j a bordo do rebocador. A MARIA ADOZINDA, porm, devido s vagas, e meio naufragada, andou balouando por algum tempo na entrada da barra, at que impelida pelas mesmas vagas foi dar praia do Ourigo, ao norte do castelo da Foz. Momento depois, comeou a desfazer-se, arremessando para o areal tanto a madeira do seu casco como as caixas de vinho e outra mercadoria, 19

Algumas daquelas caixas j vinham desfeitas, vendo-se tambm ali muitas garrafas espalhadas. O povo, em grande massa, acorreu quela praia, comeando a transportar para longe tudo o que podia, at os guarda-freios e cobradores dos carros elctrico e os passageiros iam ao areal buscar caixas para as levar consigo, e os poucos condutores de veculos que naqueles tempos havia tambm procediam da mesma forma. Pudera! O guarda-fiscal ali de servio viu-se impotente para obstar aquela pouca-vergonha, chegando a disparar alguns tiros para o ar. Foi preciso o auxlio da polcia da esquadra da Foz, para obrigar os populares a colocarem-se distancia. Rara era a casa junto da praia, que no tivesse um falso ou alapo, muito bem dissimulado, para esconder o produtos e utenslios do saque dos naufrgios, e o meu av materno tambm o tinha. O guarda-fiscal vasculhava as casas ribeirinhas, mas muito raramente era bem-sucedida. Est claro, que a instituio no possua os meios rpidos de que hoje dispem, pois iam a p, a cavalo ou de carro elctrico, apesar de terem postos ao logo de toda a costa. Aqui na Foz do Douro parece que h quem tenha garrafas de vinho do Porto deste naufrgio. Contava-me o saudoso mestre-de-obras Fernando Amaral, aqui da Foz do Douro, que em adolescente, vindo da obra em que trabalhava para os lados de Matosinhos, aps um dia de trabalho, usualmente percorria o trajecto at sua casa pela praia, e no dia do naufrgio da MARIA ADOZINDA, comeou a encontrar muita caixa de vinho do Porto depositada na restinga, e vai da h que levar uma caixita ao ombro para casa, quando se v no meio do silvar de balas disparadas pelas praas da guarda-fiscal, e h que largar a caixita e pr-se ao largo. A guarda tambm exagerava! Aqui no rio Douro, mais propriamente no lugar do Quadro da Alfandega, um certo dia houve incndio na carga de fardos de algodo que estava descarga de um vapor, e h que alijar fardos ao rio, uns afundavam-se outros flutuavam e vinham ao sabor da vazante, e o pessoal ribeirinho, h que sacar uns fardozitos, que ainda valiam uns bons mil reis, para as suas casas, s que passadas algumas horas os bombeiros no tinham mos a medir, com tanto fardo a arder, pois por fora estavam chamucados e molhados mas no interior como ainda estavam secos, o lume reacendeu-se e comearam a arder, e a guarda-fiscal a levar para o posto os "imprudentes contrabandistas". Os prejuzos da perda da laita e da sua carga foram importantes mas no se chegou a saber os valores calculados. Laita (lighter) era a designao muito em uso aqui no Norte para batelo ou fragata.

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RECORDANDO O ENCALHE E PERDA DO VAPOR PORTUGUS "ANGRA" A SUL DA BARRA DO DOUROO vapor ANGRA numa das suas vindas ao rio Douro /foto de autor desconhecido - Coleco F. Cabral, Porto /.

A 27/12./1933, pelas 00h30, navegava o vapor Portugus ANGRA de norte para sul, rumando barra do Douro, sob vento fresco de oeste e noroeste, alm de vaga alterosa, a cerca de seis milhas a noroeste do farol da Boa Nova, e reconhecida pelo comandante a impossibilidade de poder fundear no ancoradouro usual, a fim de aguardar o piloto da barra e no tendo hipteses de reconhecer, com preciso, qualquer ponto de referncia na costa, foi forado a pairar ao largo e a tomar todas as precaues, que as condies de mau tempo o exigiam para uma boa segurana e boa navegabilidade do vapor. Desde ento, passou a pairar com proas de 22 NW e 22 SE em perodos respectivamente de uma e meia hora, tendo o cuidado de prumar quando o vapor navegava, principalmente a sueste, para assim poder obter uma posio aproximada, acusando essas sondagens entre quinze e dezoito braas. Cerca das 04h50, como se tornavam mais intensos os aguaceiros de noroeste, o que cerrava por completo a visibilidade, o capito resolveu desandar para oeste, mandando meter leme todo a estibordo e mquina toda fora avante, no sentido de conseguir melhor governo. Apesar de todas aquelas precaues, a fora do vento e mar aliada a fortes correntes de gua em direco a terra, ocasionaram o vapor no obedecer de imediato, sendo certamente impelido para a costa. Com grande surpresa, s 05h10, sentira-se um violento choque, a princpio tornado como forte golpe de mar, contudo um novo choque veio certificar, que o vapor batera numa rocha. Desde logo, todos os esforos foram feitos no sentido de se salvar o vapor, seu carregamento e vidas, o que em breve se verificou ser de todo impossvel, visto que o vapor no se movia, ao mesmo tempo que o primeiro maquinista se apresentava ao capito, informando que a casa das caldeiras e da mquina estavam a ser invadidas pelas guas, por cuja razo logo foram pedidos socorros pela telegrafia sem fios e pela sirene de bordo, que silvava intermitentemente. O mar desde logo, apoderou-se do vapor, ao ponto de se tornar impossvel a permanncia em qualquer lugar, a no ser popa, para onde foi ordenada a concentrao de toda a equipagem, sem que se pudessem salvar os documentos de bordo e da tripulao, a qual ficou a aguardar a chegada de socorros, at que pelo amanhecer, se reconheceu estar o vapor encalhado junto das pedras denominadas do Co, na povoao de Lavadores, a sul do cabedelo da barra do Douro Dado o alarme, compareceram por terra as Corporaes de Bombeiros Voluntrios de Coimbres, Carvalhos, Valadares, Esmoriz, Matosinhos-Lea, Leixes, Leixes, Porto e Portuenses com o seu material de salvamento adequado, tendo sido estabelecido com o vapor sinistrado um cabo de vaivm, e reconhecido o perigo iminente da permanncia a bordo, foi pelo comandante ordenado o abandono do vapor e o consequente resgate da sua tripulao, atravs daquele meio de salvamento, lanado pelos Voluntrios de Matosinhos-Lea. Dado a barra do Douro estar encerrada navegao, devido forte maresia existente, o que no permitia a sada dos salva-vidas locais, vindo do porto de Leixes aproximou-se o salva-vidas motor CARVALHO ARAJO, sendo tripulado pelo seu patro e o motorista, coadjuvados pelos pilotos Alfredo Pereira Franco e Jos Fernandes Amaro Jnior e o marinheiro da corporao Carlos Guedes. s 06h15 o referido salva-vidas iniciou vrias tentativas arriscadas de abordagem ao vapor naufragado sem qualquer sucesso, devido fora do mar, pelo que s 09h40, aps reconhecerem que a tripulao estava a salvo, regressaram ao porto de Leixes. A 08/07/1934 foram todos aqueles elementos do salva-vidas agraciados pelo ISN com diplomas de louvor, pelos servios prestados. Os rebocadores TRITO, 21

MARS 2, BURNAY 2 e VOUGA 1 fizeram-se barra mas foram impedidos de sair, devido forte agitao martima, que se comeou a fazer sentir.O vapor ANGRA encalhado junto da povoao de Lavadores, V. N. de Gaia / Imprensa diria - Coleco F. Cabral, Porto /.

Em Lavadores, junto ao naufrgio, marcaram presena as seguintes entidades martimas: Cdte Pais Amaral, Chefe do Departamento Maritimo do Norte; Patro-Mr da Capitania, Antnio Rodrigues; Sota-piloto-mor Antnio Francisco de Matos; Cabopiloto Alexandre Meireles, e alguns pilotos da barra, que coadjuvaram os bombeiros, tendo-se destacado os pilotos Joaquim Alves Matias e Pedro Reis da Luz. Este relato parte do que constava no respectivo protesto de mar apresentado pelo capito autoridade martima a 28/12 e do qual constava tambm o seguinte: Em virtude do que fica exposto, reuniu o capito, os seus oficiais e principais elementos da equipagem e disse na presena dos mesmos, que em nome do proprietrio do vapor, carregadores, recebedores e pessoas outras nele interessadas e no seu carregamento, protestava contra fora maior (mar, vento, correntes de guas e nevoeiro), que ocasionou o sinistro sucedido e contra quem de direito for e pertencer posse pela perda total do vapor e seu carregamento. E, por ser assim verdade, mandou o capito lavrar o presente protesto, que depois de lido o assinou com os seguintes elementos da tripulao: Imediato, 1 maquinista, 2 piloto, contra-mestre e um marinheiro. O ANGRA, que era capitaneado pelo Cmte Francisco Jos de Brito e procedia dos portos de Londres, Hamburgo e Le Havre, transportando cerca de 700 toneladas de carga diversa, a maior parte da qual destinada a importadores da regio do Porto, e destinava-se a Lisboa e Ilhas.Os nufragos do vapor ANGRA / O comrcio do Porto /.

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BARRA DO DOURO BASTANTE ASSOREADA E A NAVEGAO A AGUARDAR MELHOR MAR NA BACIA DO PORTO DE LEIXESO vapor PRO DE ALENQUER na doca n 1 do porto de Leixes em 1967 / foto Rui Amaro /.

A 11/12/1933, encontrava-se a barra do Douro bastante assoreada, desde h alguns dias, com 13 ps na preia-mar. Em face da difcil situao toda a navegao arribava ao porto de Leixes, a fim de aliviar parte da carga para laitas, que mais tarde a transportariam para o rio Douro. Naquele dia encontravam-se fundeados na bacia, a aguardar melhor mar para demandarem a barra do Douro, os seguintes vapores: Portugueses PERO DE ALENQUER, ALFERRAREDE, LOBITO e MALANGE; Ingleses LYLLEBURN, OTTERBURN e OTTINGE; Alemes KRONOS, SATURN, CEUTA e LARACHE; Estoniano GOL; Francs MONCOUSSU; Dinamarqus JOHANNES MAERSK e o Sueco LENNA.

O LUGRE-MOTOR BACALHOEIRO "SANTA IZABEL" SOFRE UM ENCALHE SADA DA BARRA DO DOUROO SANTA IZABEL na Gafanha da Nazar, ria de Aveiro /foto de autor desconhecido /.

A 19/11/1933, pelas 08h00, quando o lugre-motor bacalhoeiro SANTA IZABEL, da praa de Aveiro, se preparava para abandonar a barra do Douro, cuja manobra era dirigida pelo piloto Antnio Duarte, estranhamente topou num banco de areia submerso de formao recente, ficando encalhado de popa. Dado o alarme, acorreram as lanchas dos pilotos e os rebocadores LUSITNIA, MARS 2 e NEIVA, no tendo sido necessrios os seus servios. O navio safou-se cerca das 11h00 pelos seus prprios meios e saiu a barra, tomando o rumo do sul. O SANTA IZABEL entrara h dias vindo dos pesqueiros da Terra Nova e Groenlndia, trazendo nos seus pores cerca de 6.000 quintais de bacalhau. No entanto, devido ao seu calado de gua ficara impossibilitado de demandar as instalaes da Gafanha da Nazar, pelo que arribou ao rio Douro, a fim de desembarcar a sua companha de pescadores mas tambm aliviar-se de alguns quintais de bacalhau, que seriam transportados para Aveiro por uma fragata e ainda aguardar mar suficiente na barra de Aveiro para onde rumou, aps se ter safo da coroa de areia. Entretanto, foram tomadas as providncias para se dragar o local do encalhe, que se situava a meio do canal de navegao. O SANTA IZABEL, (45 m / 345,25 tb) entregue 1929 por Manuel Maria Bolais Mnica, Gafanha da Nazar, Empresa de Pesca de Aveiro, Lda, Aveiro, como lugre vela. Em 1932 instalado um motor auxiliar. O SANTA IZABEL foi um dos primeiros lugres vela, juntamente com o seus gmeos SANTA MAFALDA e SANTA JOANA tambm do mesmo armador Aveireinse, e ainda o Vians 23

SANTA LUZIA, a demandar os perigosos e gelados pesqueiros da Groenlndia, os quais foram bemsucedidos nas suas capturas, na campanha de 1931.

MAU TEMPO NO PORTO DE LEIXES E PILOTOS A BORDO PARA QUALQUER MANOBRA DE EMERGNCIABacia do porto de Leixes em dia de ciclone

A 16/11/1933, pelas 16h00, foram chamados dois pilotos da estao da Foz do Douro, a fim de seguirem para Leixes para reforarem o reduzido nmero de pilotos efectivos daquele porto, e para embarcarem a bordo de vapores fundeados na bacia do porto de Leixes, para qualquer manobra de emergncia, devido ao mau tempo e maresia, que se estava a desencadear. Essa tarefa coube aos pilotos Elsio da Silva Pereira e Pedro Reis da Luz. s 18h00, a fim de estarem de preveno para qualquer eventualidade, alguns pilotos foram para bordo dos seguintes vapores: Portugueses NRP VOUGA, piloto Manuel Pinto da Costa; NRP DIU, piloto Pedro Reis da Luz; CUBANGO, piloto Hermnio Gonalves dos Reis e o pescador FAFE, piloto Elsio da Silva Pereira; Espanhol ALDECOA, piloto Jlio Pinto de Almeida e s 20h00 fez-se ao porto, o paquete Holands ZEELANDIA, piloto Jos Fernandes Tato, tendo sado s 22h00, piloto Alfredo Pereira Franco. A lancha P1 abordou aquele paquete da Koninklijke Hollandsche Lloyd (Mala Real Holandesa), Amesterdo, entre molhes, para embarque e desembarque dos respectivos pilotos.ZEELANDIA /postal da KHL /.

Em 21/07/1910 a viagem inaugural de Amesterdo, Southampton, Cherburgo, Vigo, Leixes; Lisboa, Las Palmas, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Santps, Montevideo, Buenos Aires. Em 03/1918 requisitado pelo Governo dos EUA para o transporte de tropas; 1919 e, devolvido ao seu armador, reinicia o servio Europa / Rio da Prata. Em 05/1936 chega a Hendrickido Ambacht para demolio.

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O VAPOR FRANCS "PENERF" SOFRE INCIDENTE NA BARRAA 17/02/1935, pelas 15h00, em 15 ps de calado entrou a barra o vapor Francs PENERF, piloto Jos Fernandes Amaro Jnior, o qual j perto do cais do Touro desgovernou demasiado a bombordo devido correnteza de guas de cheia e sobretudo ao seu pssimo governo, pelo que aquele piloto mandou meter leme todo a estibordo mas aliviando-o de imediato para no bater com a popa no enrocamento do cais, contudo insistiu, teimosamente em no largar os ferros e ordenou ao capito mais fora na mquina, correndo o vapor pela beirada da margem norte at alcanar o lugar da Meia Laranja, felizmente sem topar nas pedras, acabando por obedecer ao leme e entrando no canal, tudo isto com certo sangue frio. O vapor PENERF, que procedia de St. Nazaire com carga diversa, seguiu rio acima at ao ancoradouro do lugar dos Vanzelleres, sempre a governar mal, onde deu fundo a dois ferros e ancorote dos pilotos pela popa, alm de estabelecer cabos para terra. O PENERF, foi torpedeado e afundado pelo submarino Ingls HMS ULTON (P53), Lt C. E. Hunt (DSC, RN), ao largo do cabo de Antibes, costa Francesa do Mediterrneo, quando em viagem de Nice para Port Vendres, sob controlo da Frana ocupada, governo de Vichy, tendo desaparecido 20 tripulantes de um loteamento de 31, e ainda 3 guardas italianos de uma guarnio de 7.

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O NAUFRGIO DO PAQUETE "ORANIA" NO PORTO DE LEIXES POR TER SIDO ABALROADO PELO PAQUETE "LOANDA"ORANIA / Postal oficial da Koninklijke Hollandsche Lloyd /.

O ORANIA, 142m/ 9.763tb, vindo da Amrica do Sul com escala pelo porto de Lisboa, consignado aos agentes Orey Antunes & Cia, Lda, do Porto, aparecera vista pelas 07h00 de 19/12/1934, e apesar do mau tempo que se fazia sentir, foi decidido dar entrada quele paquete, dado que vinha desembarcar poucos passageiros e alguma carga, e como tal demoraria no mximo umas quatro horas. A lancha de pilotar P1 tentou, por vrias vezes, fazer-se ao largo, contudo a forte maresia, cujos vagalhes se vinham desfazer em espuma entre molhes e nas praias vizinhas, galgando os dois paredes porturios, no permitia a sua sada, e s 12h00, conduzindo o piloto, saiu o rebocador MARS 2, muito possivelmente levando a reboque a catraia P5 para manobras de abordagem, que o fez embarcar com sucesso e o ORANIA demandou o porto sem percalos, fundeando a meio porto a dois ferros, espao exguo, devido aglomerao de outros 12 vapores e mais embarcaes de pequeno porte e de seguida foi iado no mastro do castelo de Lea o sinal de porto encerrado.LOANDA / (c) Photo purchased from A. Duncan in the 60's - My own collection /.

O paquete LOANDA, 127m/ 5.085tb, procedente do porto de Lisboa, que vinha receber carga para vrios portos de Angola, sem que se previsse, e segundo consta, o seu capito, um veterano nas suas vindas ao porto de Leixes, entendera que ele tinha prioridade sobre o ORANIA, por ter chegado anteriormente, e por isso no deveria ficar ao largo, s que demandou o porto sem a presena fsica de um piloto da barra, e ainda para mais com sinal negativo, j acima referido, que estranhamente parece no ter sido visvel de bordo. A bordo do vapor Noruegus BJORNOY, 80m/ 1.493tb, fundeado na covada do molhe Sul, que de vspera estivera barra do Douro e devido forte maresia no entrara, tendo-se ido abrigar bacia do porto de Leixes, juntamente com mais 10 vapores, encontrava-se o piloto Jos Fernandes Amaro Jnior, meu pai, que permanecia a bordo, para orientar qualquer manobra de emergncia, que viesse a ser necessria devido ao mau tempo, assim como os seus outros colegas embarcados nos outros vapores, testemunhara o naufrgio, e prevendo o desastre que se avizinhava, o meu pai chamou o capito ponte, e disse-lhe, o LOANDA vem com demasiado andamento e embalado pela ondulao no vai conseguir estancar, o espao de manobra curto e de certeza a sua proa vai entrar pelo costado, a meia-nau, zona de caldeiras e mquina, do ORANIA, e vai ser uma grande tragdia, jamais vista neste porto e acrescentou, que ele mandasse preparar as baleeiras para prestar auxilio aos muitos nufragos, 158 tripulantes, 121 passageiros, e ainda um razovel nmero de pessoal de terra, e de regresso ponte o capito apareceu de mquina fotogrfica, comeando a disparar a objectiva. O capito Laurens Maars, do ORANIA, prevendo o embate, d ordem para que todos a bordo se segurassem, enquanto o LOANDA, expelindo imenso fumo pela chamin, v-se diante do ORANIA, e sem espao de manobra, de marcha toda fora r, sem conseguir deter-se, larga os dois ferros, e embate estrondosamente no ORANIA por r da ponte de comando, abrindo-lhe uma enorme brecha desde a coberta superior at a linha de gua, por onde comea a entrar gua a rodos, ao mesmo tempo que o seu capito, conscientemente manda descarregar as caldeiras, a fim de evitar uma grande exploso. De bordo ergue-se um coro de gritos de pavor, nomeadamente dos passageiros, que procuravam socorro, apesar da tripulao se mostrar relativamente calma. http://www.archeosousmarine.net/orania.html (Sequncia fotogrfica obtida pela objectiva do tripulante Kurt Balts-

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chun, do vapor Alemo CEUTA e publicada na l'Illustration n 4801 de 09/03/1935).

O ORANIA comea a adornar a bombordo, e em pouco tempo acaba de ficar completamente tombado e semi submerso. Todo o pessoal a bordo salvo pelos meios de salvamento do vapor, por baleeiras de outros navios e por embarcaes porturias, incluindo o salva-vidas do ISN. Em face da situao, o LOANDA foi intimado a abandonar o porto, assim como os vapores BJORNOY, OTTINGE, KRONOS, GONALO VELHO, MINA e ODYSSEUS, que se fizeram ao largo, tendo os respectivos pilotos desembarcado. Os vapores IBO, PADUA, CEUTA e MARIVALDES continuaram fundeados na Bacia, com pilotos embarcados. Chegada a notcia do naufrgio cidade do Porto e arredores, os cais de Leixes encheram-se de populares, e nos dias seguintes a romagem de curiosos continuava. Nas praias das proximidades do porto de Leixes, a guarda-fiscal coadjuvada pela PSP procedia a uma rigorosa vigilncia, a fim de impedir que fossem "pilhados" por estranhos aos servios martimos, os materiais e restos de bagagens que o mar se tinha encarregado de arrebatar do interior do paquete. Tambm como usual vrias companhias de salvamento comearam a afluir ao porto de Leixes, dentre as quais a A/S Em; a Svitzer's Bjerg, de Copenhaga, com o seu salvadego VALKYRIEN, que passado alguns dias tentou deslocar o ORANIA para rea porturia que no obstrusse o movimento martimo. O destroo do ORANIA permaneceu por muito tempo, e por duas vezes flutuou e outras duas vezes se afundou, embora tivesse sido retirado do local do acidente, e dizse que s no foi recuperado, devido a interesses alheios s autoridades martimo-porturias e ao prprio armador, a Koninklijke Hollandsche Lloyd (Mala Real Holandesa), de Amesterdo, que em 1935 abandonou o servio de passageiros devido a um litgio com o porto de Leixes, tendo os seus outros dois paquetes, o FLANDRIA e o ZEELANDIA, e mesmo os navios de carga deixado de escalar portos Portugueses receando arresto dos mesmos, s regressando a Leixes, com um navio j na dcada de 70. Ao que parece o navio dava mais dinheiro no fundo, com a tentativa de recuperao, que a flutuar. At que algum disse basta! Da que veio a ordem para o demolir. Nos trabalhos de tentativa de reflutuao do ORANIA, e da sua deslocao para rea que no obstrusse o movimento porturio, o que ocorreu por vrias vezes, tomaram parte os salvadegos CABO ESPICHEL e CABO SARDO, do porto de Lisboa (AGPL). A companhia Koninklijke Hollandsche Lloyd (Mala Real Holandesa) foi fundada em 1899, passando a dedicarse ao transporte de gado desde Amrica do Sul para a Europa. O comrcio do gado terminou em 1903, quando o Governo Britnico proibiu a importao de gado vivo devido a um surto epidmico na Argentina e em 1906 a companhia voltou-se para o transporte de passageiros e emigrantes a partir do porto de Amesterdo com escalas nos portos de Boulogne-sur-Mer, Plymouth, Corunha, Lisboa, Las Palnas, Pernambuco, Baa, Rio de Janeiro, Santos, Montevideo e Buenos Aires, e mais tarde passou tambm a utilizar o porto de Leixes. Entre 1917 e 1919 a companhia tambm fez algumas escalas em Nova Iorque. O servio de passageiros cessara em 1935 devido aos seus navios deixaram de escalar os portos Portugueses de Leixes e Lisboa, pelas razes j acima relatadas, portos tradicionalmente de emigrao compensadora para o Brasil e Rio da Prata, mas em contra partida continuou e desenvolveu o servio de carga para os portos do Brasil e Rio da Prata, e em 1981 foi incorporada no grupo Nedlloyd, atravs da KNSM. Relativamente aos navios demandarem o porto de Leixes sem a presena fisica de piloto da barra ou ao sinal, posso dizer, porque assisti a muitos casos, que at dcada de 50, houveram navios que acabados de chegar ou estivessem fundeados ao largo, e afim de se abrigarem do mau tempo e mar que estava deteriorar-se, iam-se aproximando dos molhes e mais tarde do farol do Esporo e a vinham debaixo de mar, riscando perigosamente na vaga, e raramente abortavam a manobra de entrada, e quando os pilotos, no seu posto de vigia, o antigo torreo do castelo de Lea, davam por ela, e corriam para a lancha de pilotar, no cais do Margrafo, j o navio estava dentro da bacia, salvo se houvesse sinal de porto encerrado.

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O VAPOR ALEMO "CEUTA" SOFRE ACIDENTE GRAVE AO DEMANDAR O RIO DOUROO CEUTA encalhado no lugar da Praia de Baixo / Jornal O COMERCIO DO PORTO /.

A 16/11/1935, correu clere pela cidade do Porto, a notcia do encalhe dum vapor Alemo, tendo-se posto, de tal maneira, em evidncia os perigos gravssimos que continuavam a oferecer a entrada da barra. Como sempre acontecia, a imaginao popular ferveu, aumentando as propores do acidente, e vendo um nmero interminvel de vtimas O desastre que poderia, de facto, ter sido de consequncias graves, merc da rapidez dos socorros, no assumiu tais propores. De manh cedo, antes das 07h00, o vapor Alemo CEUTA baloiava a uma pequena distncia da barra, esperando mar para entrar. O mar, um tanto agitado, no oferecia, ainda, condies favorveis aos desejos dos tripulantes do CEUTA, mas sobretudo aos pilotos da barra. s 07h30, o piloto-mr Antnio Joaquim de Matos mandou iar nos mastros do cais do Margrafo e do Castelo da Foz os grupos de galhardetes indicativos do respectivo calado de gua, e o CEUTA dirigido pelo piloto Jos Antnio da Fonseca, a principio sem apresentar qualquer percalo, contudo quando passava diante do dique da Meia Laranja, devido a barra apertada, e um estoque de gua repentino, e ainda geografia do local, que obrigava a uma manobra bastante cuidadosa para estibordo, devido ao encurvamento do canal de navegabilidade, acabando por ser impelido, lateralmente pela corrente, para bombordo, indo encalhar junto do enrocamento do lugar denominado de Praia de Baixo, parte oeste do pontal da Cantareira, ali junto estao dos pilotos, apesar de ter lanado gua o ferro de estibordo, que acabou por suspender na esperana de ir ao canal Apesar da m posio em que o vapor ficou, o que avolumava uma grave ameaa, no houve a bordo grande pnico, mostrando os seus tripulantes uma relativa serenidade. Dada a impossibilidade do CEUTA se safar, naquele momento, os pilotos trataram imediatamente de espiar o vapor, estabelecendo, assim, dois fortes cabos de arame proa, que foram amarrados em terra, nos peorizes do cais do Margrafo. Lanaram, tambm, duas fortes espias popa do CEUTA, uma presa a um ancorote dos pilotos, ao lanante para o rio pelo sudoeste, e outra a um peoris do cais da Meia Laranja. Feitas as amarraes, por intermdio do pessoal dos pilotos da barra, que se serviram, ainda, de duas das suas lanchas das amarraes, procedeu-se descarga duma grande parte da mercadoria, a fim de se aliviar o CEUTA, no sentido de se aproveitar a mar da noite para o pr a flutuar. Descarregou-se, assim, para algumas barcaas, que foram rebocadas para ali por uma lancha a motor e pelo rebocador fluvial DEODATO, empregando-se nessa rdua tarefa o pessoal de estiva do rio Douro, sob a direco do mestre estivador Antnio Duarte.O vapor CEUTA / OPDR - Reinhart Schmelzkopf /.

Alm do DEODATO, compareceram, tambm, no local, os rebocadores LUSITANIA e o NEIVA, sendo, naquele momento, desnecessrios os seus servios. Permaneceram, no entanto, ali, na eventualidade de perigo. O rebocador MARS 2, que estava em Leixes, veio at barra, mas retirou novamente. Gesto interessante e digno de registo foi o dos pilotos da barra. Logo aps o acidente, subiram para bordo do CEUTA, ajudando, com verdadeiro af, o seu colega e os tripulantes do vapor Alemo. Estes sensibilizados, tiveram palavras de viva gratido para os prestveis prticos. s 17h00, nas imediaes da praia de Baixo, nos cais cais prximos, via-se uma multido numerosa, seguindo,

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atentamente, os trabalhos de desencalhe do CEUTA. Apesar da chuva e do vento, por vezes rigorosos, a multido no arredou dali. Via-se, ainda, grande nmero de automveis, na sua maioria do Porto e Matosinhos. Era um momento de ansiedade. s 17h30, orientados pelos pilotos da barra, o rebocador LUSITANIA passou um cabo de reboque popa do vapor CEUTA; e o NEIVA passou, tambm um cabo proa do mesmo vapor. Os dois rebocadores fizeram, com prudncia e preciso, umas manobras rpidas. O CEUTA, em poucos momentos, desencalhava, baloiando, j sem perigo, nas guas revoltas e espumantes. De todas as bocas saram expresses de alegria e as usuais salva de palmas. A tripulao do CEUTA, espalhada pelo convs, exteriorizava a sua grande satisfao. O seu vapor estava, absolutamente salvo. O vapor CEUTA, conduzido pelos dois rebocadores, tomou, ento, a direco do canal. Seguiu rio acima, indo dar fundo no lugar do cais do Cavaco, a dois ferros, cabos estabelecidos para terra, e ancorote dos pilotos pela ppa ao lanante para noroeste. O vapor CEUTA que parece ter sofrido ligeiras amolgadelas no seu fundo, procedia do porto de Hamburgo, com carga diversa, parte dela destinada a diversas firmas importadoras da cidade do Porto, alm de dez passageiros, sendo dois deles para o Porto, e vinha consignado aos agentes Burmester & Cia, Lda., da rua da Reboleira. Antes da entrada do CEUTA, demandara a barra o vapor Portugus SAN MIGUEL, de idntico porte, piloto Manuel de Oliveira Alegre, felizmente sem qualquer dificuldade, contudo o vapor Portugus COSTEIRO, que devido ao acidente, ficara impedido de transpor a barra, tomou o rumo do sul, dirigindo-se ao porto de Lisboa, por instrues do seu armador, levando a bordo o piloto Elsio da Silva Pereira. Cenrios em ocasies de guas de cima, infestos, ronhentas, quebra de leme ou falha de mquina, era o quotidiano da barra do Douro e pela prtica ganha, assistindo passagem das navios, a partir do cais Velho, a garotada notando que eles tomavam a direco das pedras ou da restinga do Cabedelo, era v-los gesticulando e ouvi-los bradando a usual expresso de comando leggo starboard/port anchor, mesmo antes de escutarem a voz do comandante ou do piloto da barra, dando ordem para a proa no sentido de se lanar o ferro.O SAFI ex-CEUTA amarrado no lugar do cais do Monchique, Rio Douro, em 1956 / foto F. Cabral /.

O CEUTA atacado e afundado durante uma incurso da "Royal Air Force" a Roterdo, contudo mais tarde foi posto a flutuar e reparado, regressando ao servio. A 05/1945 o CEUTA confiscado pelos Britnicos em Kiel como presa de guerra. A 03/10/1946, o CEUTA entregue ao Ministrio da Guerra e Transportes (MOWT), Londres, alterando o nome para EMPIRE CAMEL, o qual pouco tempo depois visitava o porto de Leixes, a fim de transportar para Inglaterra um carregamento completo de cortia em fardos.

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MESTRE EUSBIO CONDUZ DE ENTRADA O VAPOR ESTONIANO "TAAT" NUM DIA DE INUSITADO MOVIMENTO DE NAVIOS NA BARRA DO DOUROMestre Eusbio Amaro

A 04/11/1935, foi admitido para mestre das lanchas de pilotar, tendo tomado a seu cargo a lancha P4, da barra do Douro, Cantareira, Eusbio Fernandes Amaro, que se candidatara a uma de trs vagas para piloto da barra no concurso de 25/01/1935, tendo sido excludo por ter ficado em quarto lugar.A lancha P4 em 1945 /foto de autor desconhecido/.

Aquele mestre, que era um destemido e experimentado mareante das barras do Douro e Leixes, fora incumbido pelo piloto-mor Antnio Joaquim de Matos de embarcar e conduzir de entrada o vapor carvoeiro Estoniano TAAT, a fim de no perder a mar, no ano de 1937, num dia de inusitado movimento de entradas e sadas de navios na barra do Douro e mudanas de ancoradouro no rio, tendo conduzido aquele vapor at ter sido substitudo junto do lugar do Ouro por um piloto da barra, que vinha numa lancha a caminho da Cantareira, aps ter concludo o seu servio de entrada de um outro vapor. Competia ao piloto-mor na falta de pilotos ter sido ele a conduzir as manobras de entrada do vapor TAAT, mas possivelmente estaria ocupado com outros afazeres ou por qualquer outro motivo, tendo entendido que aquele mestre teria competncia suficiente para o substituir. Note-se que para se ter uma ideia do movimento martimo no Douro naquele dia, a corporao era composta de cerca de 33 pilotos, nmero que incluia 7 em Leixes, entre graduados e subalternos. Mestre Eusbio, que em ocasies de vidas em perigo na barra, no hesitava, e juntamente com o motorista e o marinheiro avanava com a sua lancha para o local do sinistro, mesmo sem autorizao dos seus superiores, nasceu na Foz do Douro, era irmo do piloto Jos Fernandes Amaro Jnior, sobrinho do sota-piloto-mor Manuel de Oliveira Alegre, parente do piloto Joo dos Santos Galvo, que foi director do INPP e ainda tio do autor do Blogue. Deve-se frisar que no passado as embarcaes dos pilotos eram alternativas s lanchas salva-vidas a remos do ISN, motivo porque esta instituio agraciava amiudamente as vrias corporaes de pilotos espalhadas pelo pas.TAAT na dcada de 50 / foto de autor desconhecido /.

O TAAT, a 10/04/1940, em trnsito de Gotenburgo para Londres, com um carregamento completo de madeira, foi declarado presa de guerra no porto de Bergen pelos ocupantes Nazis da Noruega, tendo rumado ao porto de Hamburgo. A 18/02/1941, devido ao acordo secreto entre a Alemanha e a Unio Sovitica, e apesar de inactivo, arvorou o pavilho da Unio Sovitica. A 28/06/1941, desfeito o acordo, hasteou novamente a bandeira Germnica e passou a servir a "Kriegsmarine. No final da guerra, encontrava-se muito danificado no porto de Dinamarqus de Fredericia, onde a 25/06/1945 foi confiscado como presa de guerra, tendo sido entregue ao MOWT (Ministrio dos Transportes Britnicos, Londres). Antes e no ps-guerra, como TAAT ou WEAR, era um frequentador regular transportando carvo do Pas de Gales e no retorno levava toros de pinheiro para serem utilizados como esteios nas minas de carvo.

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O PILOTO JOS FERNANDES TATO POR SORTEIO VAI PRESTAR SERVIO NO PORTO DE LEIXES EM SUBSTITUIO DO SEU COLEGA CARLOS DE SOUSA LOPES QUE REGRESSA BARRA DO DOUROA 10/04/1935, pelas 14h00, foi efectuado um sorteio para escolher um dos pilotos da estao da Cantareira, que iria substituir na seco de Lea da Palmeira, o piloto Carlos de Sousa Lopes, que terminado o seu tempo de servio naquele porto regressaria Foz do Douro. Os pilotos que entraram no sorteio foram os seguintes: Eurico Pereira Franco, Aires Pereira Franco, Pedro Reis da Luz, Joo Antnio da Fonseca, Antnio Gonalves dos Reis, Hermnio Gonalves dos Reis, Francisco Lus Gonalves, Francisco Piedade, Joel da Cunha Monteiro, Jos Fernandes Tato, Bento da Costa, Francisco Soares de Melo, Delfim Duarte e Antnio Duarte. A sorte caiu no piloto Jos Fernandes Tato, tendo seguido para o porto de Leixes e apresentando-se na sede da corporao Foz do Douro, o piloto Carlos de Sousa Lopes. A 19/04/1935, pelas 10h00, apresentou-se ao capito do porto de Leixes o sota-piloto-mor Antnio da Silva Pereira (Carola), que foi chefiar a seco da corporao de pilotos em Lea da Palmeira em substituio do seu colega Antnio Joaquim de Matos, que regressou sede, na Foz do Douro.

A FROTA BACALHOEIRA PORTUENSE PREPARA-SE E RUMA AOS PESQUEIROS DOS GRANDES BANCOS DA TERRA NOVA E GROENLNDIALugres bacalhoeiros em Massarelos, rio Douro, distinguindo-se o MARIA CARLOTA pintado de cor branca /foto de autor desconhecido - coleco F. Cabral, Porto/.

Nos meses de Abril e Maio de 1935, os lugres bacalhoeiros vela ou com motor auxiliar da praa do Porto ou de outros portos de registo, que estiveram a hibernar e a sofrer beneficiaes com vista campanha do ano de 1935, comearam a largar do rio Douro com rumo aos grandes bancos da Terra Nova e Groenlndia, aproveitando as nortadas frescas, que se faziam sentir ao largo da barra do Douro, e prprias daquela poca do ano. A 27/04 saiu o MARIA CARLOTA, 42m/230tb, piloto Jos Fernandes Amaro Jnior. A 01/05 foi de sada o PALMIRINHA, 38m/269tb, conduzido pelo mesmo piloto e na sua popa ia o PAOS DE BRANDO, 39m/187tb, piloto Hermnio Gonalves dos Reis. Este ltimo navio foi um dos dois derradeiros puros lugres vela da conhecida e famosa Portuguese White Fleet, que terminou os seus dias na dcada de 50 do sculo XX, no fundo dos mares da Terra Nova. O outro foi o elegante ANA MARIA, 51m/271tb, do Porto. ex ARGUS, da Parceria Geral de Pescarias, de Lisboa, construdo no ano de 1873, pelos estaleiros de Dundee/Esccia, tambm com o nome de ARGUS. A 28/05, o NAVEGADOR, 44m/283tb, foi fazer experincias de mquina e regular agulhas, tendo sado a barra e regressado mais tarde, amarrando no quadro dos navios bacalhoeiros, em Massarelos, sob a orientao do piloto Jos Fernandes Amaro Jnior. Este navio, alguns anos mais tarde, foi adquirido por Augusto Fernandes Bago e Outros, Aveiro, que o registou com o nome de MARIA ONDINA, nome de uma das scias, e o colocou no trfego comercial. A 16/04/1946, pelas 15h00, o MARIA ONDINA, 48m/388tb, perdeu-se por encalhe na restinga do Cabedelo da barra do Douro, devido ao seu pouco andamento mas sobretud