HISTÓRIA DA AMÉRICA

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Instituto Superior de Educação Ateneu. Mantido pela: ATENEU Instituição de Ensino e Pesquisa Ltda. Credenciado pela Portaria MEC 2.797 de 06/09/2004, publicada no D.O.U. em 10/09/2004. Rua Doutor Annor da Silva, nº 106, Residencial Coqueiral, Vila Velha/ES - Telefone: (27) 3319-1617 - iseat.com.br HISTÓRIA DA AMÉRICA Belo Horizonte - MG

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Instituto Superior de Educação Ateneu. Mantido pela: ATENEU Instituição de Ensino e Pesquisa Ltda. Credenciado

pela Portaria MEC Nº 2.797 de 06/09/2004, publicada no D.O.U. em 10/09/2004.

Rua Doutor Annor da Silva, nº 106, Residencial Coqueiral, Vila Velha/ES - Telefone: (27) 3319-1617 - iseat.com.br

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Belo Horizonte - MG

HISTÓRIA DA AMÉRICA

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Sumário

1 O PROCESSO DE EXPANSÃO MARÍTIMA ............................................ 3

1.1 Lusitânia ................................................................................................... 4

2 ORDENS MILITARES E RELIGIOSAS .................................................... 7

2.1 O papel da nobreza .................................................................................. 7

2.2 A importância do mar na formação de Portugal ....................................... 8

2.3 Desenvolvimento Econômico e Social ..................................................... 8

3 O ENCONTRO DA CIVILIZAÇÃO EUROPEIA COM AS ANTIGAS

CIVILIZA-ÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS ...................................................................... 14

3.1 Os Astecas ............................................................................................. 15

3.2 Os Maias ................................................................................................ 18

3.3 Os Incas ................................................................................................. 20

4 A AMÉRICA APÓS A CHEGADA DE COLOMBO .................................. 22

5 FORMAS DE OCUPAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO NAS

COLÔNIAS ENTRE PORTUGUESES, ESPANHÓIS E INGLESES .......................... 26

5.1 O fim do Sistema Colonial ...................................................................... 30

6 A FASE DE INSTABILIDADE POLÍTICO-ADMINISTRATIVA ................ 31

6.1 A Fase de Estabilidade Política e Econômica ........................................ 32

6.2 Exemplo de Estado Oligárquico: a Argentina ......................................... 35

6.3 ROSAS: o caudilho dos caudilhos ......................................................... 36

7 O PROCESSO DE IMIGRAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO ..................... 38

8 O PARAGUAI NO SÉCULO 19 .............................................................. 39

8.1 A Guerra contra o Paraguai ................................................................... 42

9 REFERÊNCIAS ................................................................................... 45

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1 O PROCESSO DE EXPANSÃO MARÍTIMA

Fonte: descomplica.com.br

A condição fundamental para o processo de formação das nações europeias foi

a crise do feudalismo, que teve início em meados do século XIII. Esta crise foi

resultante da relativa paz que vivia o continente europeu, que permitiu a criação dos

burgos (fora dos limites do senhor feudal, que lhes dava proteção em troca da

vassalagem), que viriam a se transformar em vilas ou cidades com relativa autonomia.

Isto provocou o enfraquecimento dos senhores feudais, reduzindo o poder da nobreza

e, consequentemente, abrindo espaço para a retomada do poder político pelos reis.

Os soberanos, à medida que obtinham recursos financeiros, em troca de privilégios,

fortaleciam seus exércitos e submetiam os antigos feudos e as novas vilas e cidades

à sua autoridade, incorporando esses territórios ao que viria ser seus reinos. Era o

embrião do futuro Estado Nacional.

Intensas lutas precederam e consolidaram o Estado português. Iniciou com a expulsão

dos mouros da Península Ibérica em 1249 (os mouros invadiram a Península Ibérica

no ano de 711), no movimento denominado Reconquista, quando Portugal consolidou

seu território e firmou-se como “o primeiro Estado europeu moderno”, segundo o

historiador Charles Boxer. Mas somente após a vitória sobre os Reinos de Leão e

Castela, em 1385, na Batalha de Aljubarrota, e a assinatura do tratado de paz e aliança

perpétua com o Reino de Castela, em 1411, a paz foi selada.

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Portugal iniciou seu processo de expansão ultramarina conquistando aos

mouros a cidade de Ceuta, no norte da África. A partir daí, virou-se para o mar, onde

se tornou dominante. Como não poderia deixar de ser, está empreitada envolveu

somas altíssimas e, para financiá-la, a coroa portuguesa se valeu do aumento de

impostos e recorreu a empréstimos de grandes comerciantes e banqueiros (inclusive

italianos).

1.1 Lusitânia

Fonte: vortexmag.net

A região que hoje é conhecida como Portugal foi originalmente habitada por

populações iberas de origem indo-europeia. Mais tarde, foi ocupada, sucessivamente,

por fenícios (século XII a.C.), gregos (século VII a.C.), cartagineses (século III a.C.),

romanos (século II a.C.) e, posteriormente, pelos visigodos (povo germânico,

convertido ao cristianismo no século VI), desde 624.

Em 711, a região foi conquistada pelos muçulmanos, impulsionados por sua

política de expansionismo, tendo como base uma coligação formada por árabes, sírios,

persas, egípcios e berberes, estes em maioria, todos unidos pela fé islâmica e

denominados mouros. Quase a totalidade da península caiu em mãos dos mouros que,

em seu avanço, só foram bloqueados quando tentaram invadir a França. A resistência

aos invasores só ganhou força a partir do século XI, após a formação dos reinos

cristãos ao norte, como Leão, Castela, Navarra e Aragão. A guerra deflagrada contra

os mouros contou com o apoio de grande parte da aristocracia europeia, atraída pelas

terras que a conquista lhes proporcionaria.

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Fonte: www.redebim.dphdm.mar.mil.br

Durante o reinado de Afonso VI (1069-1109), de Leão e Castela, a partir de

1072, dois nobres franceses – Raimundo e Henrique de Borgonha – receberam como

recompensa pelos serviços prestados na campanha a mão das filhas do rei, além de

terras como dote. D. Raimundo recebeu as terras a norte do Rio Minho, o Condado de

Galiza, e D. Henrique o Condado Portucalense. Estas terras não se constituíam em

reinos independentes e seus proprietários deviam prestar vassalagem ao rei de Leão.

A origem do próprio Estado português se deu com a formação do Condado

Portucalense, sob o domínio de D. Henrique de Borgonha.

Este nobre, tendo o senhorio de ampla região entre os Rios Minho e Mondego,

procurou reforçar, através da luta contra os mouros, seu poderio sobre os demais

senhores de terras daquela área, bem como conseguir autonomia frente aos interesses

do vizinho Reino de Leão, a cujo soberano, como já foi dito, devia vassalagem. O

caráter inicial da formação dos reinos ibéricos, definido pelos aspectos militar e

religioso desenvolvidos nas lutas contra os mouros, marcou as tendências principais

da constituição desses Estados.

De um lado, o processo de expulsão do inimigo muçulmano deu prioridade ao

aspecto militar, o que criou a necessidade de unificação do comando das forças

cristãs, papel exercido pelos senhores de terras mais poderosos das diversas regiões

da península. Por outro lado, o profundo caráter religioso tomado pela Reconquista,

identificada com as cruzadas contra os infiéis muçulmanos, fez com que a Igreja de

Roma tivesse grande interesse no sucesso das forças cristãs.

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As vitórias alcançadas pelos exércitos de D. Henrique mostraram à Santa Sé a

importância que estes vinham adquirindo no sucesso das lutas militares. Assim, os

interesses do senhorio do condado e os do papado iam aos poucos convergindo para

o reconhecimento da autonomia portucalense ante o Reino de Leão. O Tratado de

Zamora, firmado em 1143 entre o Duque portucalense D. Afonso Henriques

(11281185), filho de Henrique de Borgonha, e D. Afonso VII, imperador de Leão,

determinou o reconhecimento por parte deste último da independência do antigo

condado, agora Reino de Portugal.

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2 ORDENS MILITARES E RELIGIOSAS

Outro fator a ser ressaltado diz respeito às ordens militares (ordens de cavalaria

sujeitas a um estatuto religioso e que se propunham a lutar contra os mulçumanos) no

processo da Reconquista. Tais ordens, fundadas com o intuito de auxiliar os doentes

e peregrinos que iam à Terra Santa e, sobretudo, para combater militarmente os

adeptos da fé mulçumana, participaram das batalhas contra os mouros na Península

Ibérica. Seus contingentes, em muitos casos, formaram a base dos exércitos cristãos.

Em consequência dessa atuação, várias ordens receberam doações de terras nos

reinos ibéricos. Em Portugal, as ordens dos Templários, de Avis e de Santiago foram

as mais beneficiadas por tais privilégios.

As ordens, no entanto, não se destacaram apenas pelo seu aspecto militar.

Contribuíram significativamente para o povoamento do território português, a partir das

regiões que lhes foram distribuídas. Em torno de castelos e fortalezas, com efeito,

desenvolveram atividades agrícolas que levaram à fixação da população. Além disso,

foi igualmente importante nesse processo de ocupação territorial a participação das

ordens religiosas cujos membros não atuavam das lutas militares. Os mosteiros e

capelas destas ordens, dentre as quais se destacou a dos beneditinos, tornaram-se

pólos de atração pela segurança que ofereciam a inúmeras famílias. Da mesma forma,

desde a Reconquista, as ordens tomaram a peito a colonização de zonas desertas ou

dizimadas pela guerra, criando novos focos de povoamento e estimulando a

exploração da terra.

2.1 O papel da nobreza

Além de setores diretamente ligados à Igreja, assinala-se também intensa

vinculação da nobreza portucalense na formação do Estado Nacional lusitano. Este

setor social, cujo poder se originava na propriedade da terra, também participou de

forma decisiva nas guerras da Reconquista, apoiando o esforço militar da realeza.

Esta, num primeiro momento, concedeu privilégios bastante amplos à nobreza.

Mais tarde, contudo, pretendeu limitar tais privilégios, impondo medidas que

beneficiavam a centralização do poder.

Uma das providências tomadas nesse sentido foi a autonomia concedida pelo

poder central aos concelhos (que correspondem aos municípios nos dias de hoje),

onde começavam a ter influência as aspirações de comerciantes e mestres de ofício.

O apoio do rei aos concelhos visava a enfraquecer o poder da nobreza fundiária em

sua própria base territorial, impedindo assim que os senhores de terras fizessem

prevalecer livremente seus interesses nas áreas que comandavam, sem levar em

conta as determinações régias. Outro mecanismo de limitação do poder da nobreza foi

o estabelecimento das inquirições. A partir de uma interrupção nas lutas militares

contra os mouros, entre os séculos XII e XIII, a coroa portuguesa buscou avaliar a

situação da propriedade de terras no reino.

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Durante a Reconquista, a nobreza laica e eclesiástica aproveitou-se da falta de

controle régio para alargar seus domínios territoriais e privilégios, prejudicando em

alguns casos os direitos e rendimentos da coroa. Para coibir tal situação, o poder real

utilizou-se das inquirições, pelas quais se formavam comissões de inquérito (alçadas)

a fim de investigar se os direitos reais devidos estariam sendo cumpridos e até mesmo

verificar o direito legal às propriedades.

Tal mecanismo se completava com as confirmações, processo pelo qual o rei

sancionava não só a propriedade da terra como o próprio título nobiliárquico do senhor

em questão. Esses poderes submetiam, de certa maneira, a nobreza eclesiástica e

civil à coroa, já que passavam a depender desta para a preservação tanto do título

quanto da propriedade.

2.2 A importância do mar na formação de Portugal

Paralelamente aos problemas político-territoriais apontados, é digno de

destaque que, além da agricultura, o comércio marítimo e a pesca eram as mais

importantes atividades praticadas em Portugal, país de solo nem sempre fértil e

produtivo. A atividade pesqueira destacou-se como fundamental para complemento da

alimentação de sua população.

Situado em posição geográfica estratégica, à beira do Oceano Atlântico e

próximo ao Mediterrâneo, era de se esperar que desenvolvesse grande devotamento

à navegação e, consequentemente, à construção naval. Natural, também, que a

Marinha portuguesa fosse utilizada em caráter militar, o que ocorreu a partir do século

XII. No reinado de D. Sancho II (1223-1245) podem ser assinaladas as primeiras

tentativas de implantação de uma frota naval pertencente ao Estado, ordenando,

inclusive, a construção de locais específicos nas praias para reparo de embarcações.

2.3 Desenvolvimento Econômico e Social

Durante o reinado de D. Dinis (1279-1325), sexto rei de Portugal (primeiro a

assinar documentos com nome completo e, presumidamente, primeiro rei não

analfabeto daquele país), iniciativas bastante relevantes foram adotadas para o

fomento da cultura, da agricultura, do comércio e da navegação. Denominado O

Lavrador ou Rei Agricultor e ainda Rei Poeta ou Rei Trovador, D. Dinis foi um monarca

essencialmente administrador e não guerreiro. Envolvendo-se em guerra contra

Castela, em 1295, desistiu dela em troca das Vilas de Serpa e Moura. Pelo Tratado de

Alcanizes (1297) formou a paz com Castela, ocasião em que foram definidas as

fronteiras atuais entre os países ibéricos.

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Fonte: www.mundoportugues.pt

Preocupado com a infraestrutura do país, ordenou a exploração de minas de

cobre, estanho e ferro, fomentou as trocas comerciais com outros países, assinou o

primeiro tratado comercial com a Inglaterra, em 1308, e instituiu a Marinha Real.

Nomeou então o primeiro almirante (que se tem conhecimento) da Marinha

portuguesa, Nuno Fernandes Cogominho, para cuja vaga foi contratado, em 1317, o

genovês Pezagno (ou Manuel Pessanha). Data dessa época a chegada dos

portugueses às Ilhas Canárias.

Deve-se também à sua iniciativa a intensificação da monocultura do pinheiro

bravo (Pinhal de Leiria), em princípio, com a finalidade de criar uma barreira vegetal

que protegesse as terras agrícolas do avanço das areias costeiras e, também, como

reserva florestal para o fornecimento de madeira destinada à construção naval e à

exportação.

O cultivo era extremamente racional: sempre que havia corte de árvores, novas

mudas eram plantadas de imediato, recorrendo-se a enormes sementeiras. Esta ação

manteve o pinhal praticamente intacto e foi bastante utilizado durante os séculos XV e

XVI, no período dos descobrimentos marítimos. Além de fornecer madeira para a

construção naval, o pinho fornecia um subproduto importantíssimo para conservação

e calafeto dos cascos das embarcações: o chamado pez, alcatrão vegetal de grande

poder de vedação. É notável que o Pinhal de Leiria exista até os dias de hoje,

constituindo uma das maiores manchas naturais da região do norte do distrito de

Leiria.

No reinado de D. Fernando I (1367-1383), último soberano da dinastia de

Borgonha, foi baixada a Lei de Sesmarias, de 28 de maio de 1375. Tendo como medida

coercitiva mais rígida a expropriação das terras não produtivas, essa lei foi mais uma

tentativa de solucionar a carência de mão-de-obra no campo, causada pela fuga das

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populações para os centros urbanos, devido à peste negra. O resultado foi uma séria

crise de abastecimento de gêneros alimentícios no reino.

A Lei de Sesmarias, que mais tarde seria aplicada no Brasil, teve pouco efeito

prático. Seus artigos, apesar de conterem ameaças aos proprietários de terras,

atuaram no sentido de fortalecê-los, pois obrigavam os trabalhadores a permanecerem

nos campos, mesmo em troca de baixa remuneração.

Ainda durante o reinado de D. Fernando I, a construção naval recebeu grande

incentivo, mediante a isenção de impostos e a concessão de vantagens e garantias

aos construtores navais, tais como a autorização aos construtores de embarcações

com mais de cem tonéis que cortassem a madeira necessária nas matas reais com

isenção de impostos. Também ficou isenta de impostos, a matéria-prima importada

destinada à construção naval. Em 1380, o monarca criou a Companhia das Naus, que

funcionava como uma empresa de seguros destinada a evitar a ruína financeira dos

homens do mar. Como resultado, incrementaram-se o comércio marítimo, a

exportação de produtos da agricultura e a importação de tecidos e manufaturas. As

rendas da Alfândega de Lisboa, considerado porto franco, aumentaram

significativamente e era intensamente frequentado por estrangeiros.

Outra importante iniciativa de D. Fernando foi a instalação da Torre do Tombo,

o Arquivo Nacional Português, onde se guardavam documentos importantes que

preservavam a memória e a história de Portugal. Foi-lhe dado este nome porque ficava

sediado numa torre do Castelo de São Jorge, e tombo, porque significava lançar em

livro, inventariar, registrar.

D. Fernando I envolveu-se em três guerras contra Castela e passou a ser

malvisto pela opinião pública por seu casamento com Dona Leonor Teles (cujo

casamento anterior fora anulado). Após a morte de D. Fernando, os portugueses não

aceitaram a regência da rainha viúva em nome da filha, a Infanta Dona Beatriz, casada

com um potencial inimigo, o rei de Castela. Este fator, somado à continuidade da crise

de abastecimento, deflagrou a Revolução de Avis.

Após deliberação das Cortes, foi aclamado rei o Mestre da Ordem de Avis, D.

João I (1385-1433), filho bastardo do oitavo rei de Portugal D. Pedro I (1357-1367), a

quem caberia inaugurar uma nova dinastia. Vitoriosa em Lisboa, a revolta transformou-

se em movimento de fidalgos e plebeus em guerra contra Castela, cujo rei declarou

pretensão à coroa portuguesa. Os castelhanos foram vencidos em várias batalhas e,

embora tenham bloqueado Lisboa, foram, afinal, fragorosamente derrotados na

Batalha de Aljubarrota (1385). A paz só foi selada em 1411.

Outra consequência importante dos fatos apontados foi a renovação da

aristocracia portuguesa. Os setores que haviam apoiado Castela tiveram seus bens

confiscados pela coroa, a qual os doou em parte aos seus aliados. Com tal divisão na

nobreza, houve até mesmo casos em que pais perderam os bens para seus próprios

filhos. Além disso, o apoio dos grupos mercantis a D. João I fez com que as aspirações

de tais grupos passassem a ser valorizadas pelo poder régio. A situação econômica

do reino, ao sair vitoriosa da revolução, era uma das mais graves. A alta do custo de

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vida e a queda do valor da moeda colocaram o tesouro português em situação bastante

difícil.

A nobreza também teve suas bases de poder atingidas pelo movimento de

centralização régia, com a colocação em prática da Lei Mental. Por meio dessa lei,

baixada por D. Duarte (1433-1438) em 8 de abril de 1434, os bens doados pela coroa

à nobreza só poderiam ser herdados pelo filho varão legítimo mais velho. Isso permitiu

à coroa retomar uma série de propriedades antes doadas às famílias nobres,

reforçando seu poder e, de alguma maneira, minando as bases do poderio senhorial.

Tal processo de centralização do poder foi o elemento essencial que permitiu ao

reino português lançar-se na expansão ultramarina. Deve-se destacar ainda que os

limites da extração das rendas obtidas com a agricultura fizeram a coroa voltar seus

olhos às atividades comerciais e marítimas.

O monopólio exercido pelas cidades italianas de Gênova e Veneza sobre as

rotas de comércio com a Ásia levou os grupos mercantis portugueses a procurar outra

alternativa para a realização de seus negócios e, consequentemente, para obtenção

de lucros. A saída seria a tentativa de contato direto com os comerciantes árabes,

evitando o intermediário genovês ou veneziano. Para isso muito contribuiu a estrutura

naval já existente no reino, cujo desenvolvimento foi estimulado pela coroa.

A expansão marítima portuguesa caracterizou-se por duas vertentes. A primeira,

de aspecto imediatista, realizada ao norte do continente africano, visava à obtenção de

riquezas acumuladas naquelas regiões através de prática de pilhagens. A tomada de

Ceuta, no norte da África (Marrocos), em 1415, seria um dos exemplos mais

representativos deste tipo de empreendimento e marca o início da expansão

portuguesa rumo à África e à Ásia.

Em menos de um século, Portugal dominou as rotas comerciais do Atlântico Sul,

da África e da Ásia, cuja presença foi tão marcante nesses mercados que, nos séculos

XVI e XVII, a língua portuguesa era usada nos portos como língua franca – aquela que

permite o entendimento entre marinheiros de diferentes nacionalidades. Na segunda

vertente, o objetivo colocava-se mais a longo prazo, já que se buscava conquistar

pontos estratégicos das rotas comerciais com o Oriente, criando ali entrepostos

(feitorias) controlados pelos comerciantes lusos. Foi o caso da tomada das cidades

asiáticas. Tal modo de expansão também ficou marcado pelo aspecto religioso

(cruzadas), pois mantinha-se a ideia de luta cristã contra os muçulmanos.

A expansão ultramarina permitiu, assim, uma convergência de interesses entre

os setores mercantis e a nobreza, tendo o Estado o papel de controle e direção de tal

empreendimento. O monopólio do comércio dos produtos asiáticos e o tráfico de

escravos africanos (mão-de-obra para as regiões produtoras de matérias-primas)

enriqueciam não só os grupos mercantis, como geravam vultosas receitas para o

tesouro régio, as quais a coroa, em certa medida, repassava à nobreza através da

doação de mercês, bens móveis e de raiz, bem como de privilégios.

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• Entre 1421 e 1434, os lusitanos chegaram aos Arquipélagos da Madeira

e dos Açores e avançaram para além do Cabo Bojador. Até esse ponto,

a navegação era basicamente costeira.

• Em 1436 atingiram o Rio do Ouro e iniciaram a conquista da Guiné. Ali

se apropriaram da Mina, centro aurífero explorado pelos reinos nativos

em associação aos comerciantes mouros, a maior fonte de ouro de toda

a história de Portugal até aquela data.

• Em 1441, chegaram ao Cabo Branco.

• Em 1444, atingiram a Ilha de Arguim, no Senegal, onde instalaram a

primeira feitoria em território africano e iniciaram a comercialização de

escravos, marfim e ouro.

• Entre 1445 e 1461, descobriram o Cabo Verde, navegaram pelos Rios

Senegal e Gâmbia e avançaram até Serra Leoa.

• Entre 1470 e 1475, exploraram a costa da Serra Leoa até o Cabo de

Santa Catarina.

• Em 1482, atingiram São Jorge da Mina e avançaram até o Rio Zaire, o

trecho mais difícil da costa ocidental africana. O navegador Diogo Cão

explorou a costa da África Ocidental entre 1482 e 1485.

• No período 1487/1488, Bartolomeu Dias atingiu o Cabo das Tormentas,

no extremo Sul do continente – que passou a ser chamado de Cabo da

Boa Esperança – e chegou ao Oceano Índico, conquistando o trecho

mais difícil do caminho das Índias.

• Em 1498, Vasco da Gama chegou a Calicute, na costa Sudoeste da

Índia, estabelecendo a rota entre Portugal e o Oriente.

Durante o reinado de D. João II, iniciado em 1481, a expansão ultramarina

atingiu o auge com os feitos dos navegadores Diogo Cão e Bartolomeu Dias.

Abriramse, desse modo, novas e extraordinárias perspectivas para a nação

portuguesa. O negócio das especiarias do Oriente, levadas para a Arábia e para o

Egito pelos árabes e dali transportadas aos países europeus, por intermédio de Veneza

– que enriquecera com o tráfico –, vai se concentrar em novas rotas, deslocando o foco

do comércio mundial do Mediterrâneo para o Oceano Atlântico.

Foi justamente um genovês, Cristóvão Colombo, quem abalou as pretensões de

D. João II na sua política expansionista, ao descobrir a América em 1492. No retorno

de sua famosa viagem, Colombo avistou-se com o rei de Portugal comunicando-lhe a

descoberta. Anteriormente, o mesmo Colombo já havia oferecido seus serviços ao

soberano português, que recusou a oferta baseado em informações dadas pelos

cosmógrafos do reino, levando o genovês a dirigir-se a Castela, onde obteve apoio

financeiro para sua famosa viagem.

Abalado com as notícias trazidas por Colombo, D. João II cogitou em mandar

uma expedição em direção às terras recém descobertas, convencido de que lhe

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pertenciam por direito. Pouco depois, a questão foi arbitrada por três bulas do Papa

Alexandre VI, que concederam à Espanha os direitos sobre as terras achadas por seus

navegadores a ocidente do meridiano traçado a cem léguas a oeste das Ilhas dos

Açores e de Cabo Verde.

Os portugueses discordaram da proposta e novas negociações resultaram na

assinatura do Tratado de Tordesilhas (cidade espanhola) em 7 de junho de 1494, que

garantiu à coroa portuguesa as terras que viessem a ser descobertas até 370 léguas

a oeste do Arquipélago de Cabo Verde. As terras situadas além desse limite

pertenceriam à Espanha.

D. João II morreu em 1495 e coube ao seu sucessor, D. Manuel, dar

continuidade ao projeto expansionista. Durante sua gestão aconteceu a famosa

viagem de Vasco da Gama, que partiu do Rio Tejo em julho de 1497, dobrou o Cabo

da Boa Esperança, transpôs o Rio Infante, ponto extremo da viagem de Bartolomeu

Dias, reconheceu Moçambique, Melinde, Mombaça e, em maio de 1498, após quase

um ano de viagem, chegou a Calicute, na Índia.

A façanha de Vasco da Gama colocou Portugal em contato direto com a região

das especiarias, do ouro e das pedras preciosas, e, como consequência, a conquista

do quase total monopólio de tais produtos na Europa, abalando seriamente o comércio

das repúblicas italianas. A conquista da rota marítima para as Índias assumiu, na

época, importância revolucionária e suas consequências imediatas empalideceram até

mesmo o maior acontecimento da história moderna das navegações: o descobrimento

da América por Cristóvão Colombo.1

1 Texto extraído: Introdução a História Marítima brasileira. Disponível em:

www.redebim.dphdm.mar.mil.br › vínculos.

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3 O ENCONTRO DA CIVILIZAÇÃO EUROPEIA COM AS ANTIGAS CIVILIZA-

ÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS

Fonte: historiazine.com

Esta expressão, “América pré-colombiana”, é empregada amplamente na

historiografia para designar o longo período histórico que os povos americanos viveram

antes da chegada de Cristóvão Colombo na América em 1492, ano tido como um

marco histórico, pois a partir daí os nativos que viviam aqui na América foram

incorporados à História Moderna.

Essa incorporação não significou um processo de igualdade de relações, muito

pelo contrário, os europeus impuseram o seu etnocentrismo, pois se consideravam

superiores aos nativos, que não eram considerados cristãos. O mais importante a

salientar, contudo, é que estes nativos tiveram as suas vidas totalmente transformadas,

sendo subjugados ao processo de colonização. A entrada da América na História

Moderna significou uma incorporação ao que podemos denominar de précapitalismo,

com o início de uma nova fase no sistema produtivo europeu. A partir das grandes

navegações alguns países europeus conquistaram terras e riquezas no Novo Mundo.

Espanha e Portugal foram agressivos neste processo de expansão, pois investiram

capitais e conhecimentos para conquistar riquezas além-mar.

Antes da chegada de Colombo à América já havia uma história, não ligada à

Europa, mas dos nativos que viviam neste espaço. O importante é preservar as

diferentes formas de vivências dos nativos para não cometermos o erro de chamá-los

de bárbaros ou selvagens somente porque não tinham os mesmos hábitos dos

europeus. A organização social dos nativos era bem diferente daquela do europeu,

mas isso não os tornava inferiores, ao contrário do que defendem alguns historiadores,

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que revelando uma atitude etnocêntrica, os denominam de bárbaros, selvagens e

pagãos. Devemos entender que as culturas têm a sua própria organização, e no caso

dos nativos, eles viviam em diferentes estágios de desenvolvimento, o que os tornava

também diferentes entre si, sem, contudo, que essa diferença seja motivo para que os

classifiquemos como inferiores.

A História da América antes da chegada de Colombo já era vivida pelo menos

há aproximadamente 20 mil anos, ou seja, já tinha a sua própria trajetória,

independente da Europa, não fazendo parte das classificações históricas dos povos

europeus. Os nativos que viviam aqui na América atingiam um número extremamente

expressivo, estima-se que eram aproximadamente 50 milhões de pessoas, mas seus

estágios de desenvolvimento eram bem diferentes, vivendo, em sua maioria, em tribos.

Alguns, inclusive, ainda no estágio da pedra lascada, pois eram várias etnias e grupos

linguísticos, e outros, por sua vez, habitavam cidades, apresentando uma organização

social mais complexa.

Os nativos tinham os seus próprios credos, os seus deuses, diferentes daquele

dos cristãos, gerando, com isso um estranhamento por parte do europeu, que

procurava catequizá-los. Esses diferentes estágios de desenvolvimento dos nativos

foram decisivos para impor todo o processo de colonização, facilitando ou dificultando

a dominação imposta pelo espanhol. A imposição do processo de ocupação e posterior

colonização foi totalmente dramática para os nativos, pois estes ainda não haviam feito

contatos com os brancos, o que de imediato já causou uma série de problemas, desde

doenças contagiosas que ocasionaram a morte de populações nativas que não

possuíam resistência àqueles tipos de vírus e bactérias.

O que mais dizimou, no entanto, foram realmente os saques que os espanhóis

faziam, devastando os povoados em busca de metais preciosos e, mais tarde, com o

próprio processo de escravização do nativo. Alguns historiadores chegam a comentar

que esse foi um verdadeiro cataclismo demográfico, ou seja, uma destruição em massa

da população nativa. É importante destacar e ter sempre em mente que na América

viviam nativos em diferentes estágios de povoamento, o que torna ainda mais

complexo entender o processo de ocupação.

Vamos num primeiro momento apenas fazer alguns comentários sobre estas

comunidades ou, como alguns denominam, estas civilizações, por ser uma abordagem

ilustrativa para compreendermos a diversidade da ocupação. Serão feitas algumas

considerações sobre os astecas, maias e incas, mas não pretendemos aqui esgotar o

assunto, fazendo apenas uma ilustração destes povos que foram fundamentais para a

história da América pré-colombiana.

3.1 Os Astecas

As primeiras considerações sobre os astecas descrevem o seu processo de

ocupação no vale do México, mais precisamente às margens do grande Lago Texcoco.

Neste local surgiram os primeiros povoados ou civilizações, originários de vários povos

que se constituíram como os astecas propriamente ditos. Os astecas foram os últimos

HISTÓRIA DA AMÉRICA

16

a chegarem neste vale. Eram não só provenientes de Astlán, uma região situada no

noroeste do México, como também eram oriundos do sul dos Estados Unidos, vindo a

ocupar este vale e formando ali uma civilização bem organizada em todos os aspectos.

Os astecas ocupavam grande parte do vale do México, e para isso enfrentaram

muitos obstáculos, pois naquele espaço já existiam outras comunidades. Foi realmente

um processo de conquista, um processo de ocupação que se deu lentamente, pois os

astecas foram aos poucos dominando o espaço, criando suas comunidades e também

as suas cidades.

Construíram a cidade de Tenochtitlán, localizada às margens do Lago Texcoco,

local onde se encontra atualmente a Cidade do México. Esse processo de criação de

cidades foi lento, pois foram construindo aos poucos as cidades de Texcoco e, mais

tarde, Tlacopán. Desta forma foi criado um conjunto de cidades nas quais os astecas

estabeleceram os seus domínios sobre os demais povos que ocupavam os espaços

próximos, com isso formado um verdadeiro império, não sem lutas e violência, pois

enfrentaram a resistência dos demais povos.

Fonte: www. historiazine.com

A cidade de Tenochtitlán ficava exatamente às margens do Lago de Texcoco,

sendo uma região muito pantanosa, apresentando condições de produção muito

complexas. Naquele tempo, uma das principais atividades produtivas era a pescaria, e

também aproveitavam as terras ao longo do lago, que eram pantanosas, para produzir

hortaliças. Com o processo de conquistas de outras terras foram intensificados a

agricultura, criando várias técnicas de plantio e irrigações, sendo possível produzir

vários tipos de cereais e outros alimentos, tais como: milho, feijão, melão, baunilha,

cacau, pimentão e mesmo o algodão.

Como podemos perceber, essa agricultura era bem desenvolvida, permitindo o

sustento e inclusive o acúmulo de excedentes. Neste contexto, a plantação do cacau

foi fundamental para o seu beneficiamento, produzindo o conhecido chocolate, o qual,

mais tarde, com a colonização, levado à Europa. A organização da propriedade da

terra também era diferente da atual, pois para os astecas ela era, em sua maioria,

coletiva, ou seja, de propriedade do Estado, praticamente não existindo a propriedade

privada como conhecemos hoje. A distribuição da terra ocorria da seguinte maneira:

HISTÓRIA DA AMÉRICA

17

cada um dos adultos ou famílias recebiam um pedaço de terra para ser cultivada, na

qual deveria produzir para a família e mais tarde também para guardar como

excedente.

Com a expansão dos astecas e conquistas de novas áreas iniciou-se a

ocupação privada da terra. Nestas novas áreas conquistadas eram criadas o que

chamamos de fazendas (uma grande propriedade de terras); estas terras privadas

passaram a pertencer aos nobres, pois a sociedade era dividida em castas (o que

chamamos atualmente de classes sociais). Os excedentes produzidos eram

comercializados nas cidades, não era utilizada moeda, mas a troca era em forma de

escambo, quer dizer, produto trocado por produto. A estrutura da sociedade para os

astecas mudou muito desde a sua chegada no vale do México, pois logo que ocupavam

o espaço eles formavam uma sociedade mais homogênea, ou seja, mais igualitária, e

governada por sacerdotes. Com o processo de ocupação foi se formando e

complexificando uma verdadeira sociedade de classes.

A divisão social era a seguinte: uma classe dominante (como em toda a

sociedade) formada pelos denominados nobres, que eram chefes guerreiros e os

sacerdotes. Depois destes havia uma classe média, formada pelos comerciantes, que

acumulavam riquezas, não com moedas, mas com um grande volume de produtos que

iam adquirindo ao longo do tempo nas atividades comerciais. O povo propriamente dito

era dividido em duas camadas: os que eram classificados como cidadãos comuns e os

mais baixos, os escravos.

Os cidadãos comuns que, em sua maioria, dedicavam-se ao cultivo da terra,

eram realmente os trabalhadores, mas também podiam praticar o pequeno comércio e

o artesanato. As suas obrigações com o Estado eram várias, pois pagavam os

impostos, também prestavam o serviço militar e eram convocados a realizar trabalhos

obrigatórios, como na construção da infraestrutura (ruas, pontes, canais e templos). Os

escravos eram geralmente os capturados como prisioneiros de guerras, e alguns

sacrificados em nome do Deus-Sol. Os demais eram condenados pela justiça, como

também por dívidas que não podiam pagar.

Os astecas possuíam uma vida cultural bem variada, sua formação cultural foi

decorrente da junção das diversas manifestações dos povos que habitavam o vale do

México. Os astecas desenvolveram muitos conhecimentos na área da astronomia, e

os aplicavam na prática da agricultura. Também desenvolveram a Astrologia e a

Matemática. O desenvolvimento da arquitetura foi fenomenal, pois construíram

grandes cidades, e suas construções encantaram inclusive os próprios espanhóis. A

cidade mais importante foi Tenochtitlán, a qual chegou a contar com aproximadamente

500 mil habitantes. Esta cidade era realmente formidável, tendo sido, inclusive,

comparada à Veneza, pois contava com inúmeros canais.

A cidade possuía até aquedutos para o fornecimento de água. A vida cultural

também era intensa, e o sistema educacional estava dividido em duas partes, ou tipos

de escolas: a escola Calmecac, local onde estudavam os filhos dos nobres, e a escola

Telpochcalli, frequentada pelos jovens do povo.

HISTÓRIA DA AMÉRICA

18

3.2 Os Maias

Fonte: revistagalileu.globo.com

Os maias habitavam uma extensa região, que atualmente compreende o sul do

México, Guatemala Honduras e Honduras Britânica. Essa região começou a ser

habitada aproximadamente em 300 a.C., o que significa que estes povos já tinham toda

uma história antes da chegada de Colombo na América. A história dos maias divide-

se em períodos que compreendem três fases: pré-Maia, de 300 a 317; o Antigo

Império, 317 a 987, e finalmente o Novo Império, que vai de 987 a 1697.

A primeira fase, conhecida como Pré-Maia, é pouco estudada, pois os indícios

documentais são raros, mas entende-se que nessa fase teve início a produção do

milho, como também o começo da construção das cidades. A segunda fase, o Antigo

Império, foi um período marcado pelo estabelecimento de um Estado com

características centralizadoras. Nessa época as cidades maias foram dirigidas pelos

monarcas divinos, sendo estes os grandes proprietários de terras, que determinavam

como deveriam ser os trabalhos obrigatórios que a população precisava cumprir. Já na

terceira fase, o Novo Império, as cidades reconquistaram a sua independência.

A principal atividade econômica dos maias era a agricultura, e as terras eram de

propriedade do Estado. Os produtos cultivados eram os mais diversos, mas

basicamente plantavam milho, algodão, feijão, tomate, batata, cacau, etc. Como a

agricultura era a principal atividade, eles lhe dedicavam muita atenção e as técnicas

eram aplicadas sempre para conseguir uma maior produtividade, destacando-se, por

exemplo, a irrigação. Ao mesmo tempo também praticavam a queimada, o que

contribuía para o esgotamento dos solos.

HISTÓRIA DA AMÉRICA

19

Fonte: cyberclio.wordpress.com

Os historiadores são unânimes em afirmar que o cultivo do milho era realmente

uma atividade expressiva, e consistia em a base da alimentação dos maias, e por ser

uma cultura fácil de praticar, eles dedicavam grande parte de seu tempo a outras

ocupações. As demais atividades eram destinadas à construção de cidades e

magníficas obras arquitetônicas, como seus templos.

A sociedade maia também tinha a sua complexidade, e era basicamente dividida

em classes: a primeira classe incluía os considerados nobres, e constituíamse em

chefes guerreiros; também mantinham a liderança com as tarefas de toda a

administração pública. A classe dos sacerdotes era considerada a segunda na

hierarquia; eles controlavam as atividades religiosas e culturais. O povo fazia parte

desta classe e também exercia várias atividades, como as produtivas, pagamento de

impostos, prestação de serviço militar e trabalhos obrigatórios para o Estado. A terceira

classe na hierarquia era a dos escravos, não muito numerosa, e formada por

prisioneiros de guerras e também condenados pela justiça.

A população total dos maias era estimada em aproximadamente 15 milhões de

pessoas, e as famílias eram a base da sociedade, mantendo a preocupação de

amparar os velhos. A arquitetura maia era extremamente desenvolvida, pois

construíram extraordinárias cidades com templos, palácios e observatórios. Isso tudo

ainda pode ser visitado, servindo como testemunho do desenvolvimento desta

civilização, que impressionou pelo seu esplendor.

A questão cultural, porém, não está restrita à cultura material, ela também pode

ser percebida nas ciências, por exemplo, na própria astronomia, considerada tão

desenvolvida quanto a europeia na época dos descobrimentos. Os instrumentos da

cultura material também são expressivos, pois já trabalhavam com alguns metais como

o ouro e a prata. Também utilizavam a pedra polida para a confecção de instrumentos,

tanto para o trabalho, quanto para a guerra. Quanto às suas crenças, eram adeptos

aos deuses da natureza.

HISTÓRIA DA AMÉRICA

20

3.3 Os Incas

Os incas também organizaram um verdadeiro império, formado ao longo dos

tempos, num processo de conquistas de outros povos que habitavam a sua região de

abrangência. O local ocupado pelos maias era extremamente vasto, compreendendo

uma região de aproximadamente 950.000 Km2, localizada em parte da Colômbia,

norte da Argentina e Chile.

Fonte: www.historiazine.com

Esta região é configurada geograficamente pela Cordilheira dos Andes, ou seja,

um local de difícil ocupação por questões climáticas. Essa região era ocupada há muito

tempo, mesmo antes da chegada dos incas, mas a documentação arqueológica não

permite um estudo mais detalhado dessa fase da ocupação.

A partir do ano 600 este espaço foi ocupado pelos Chimu, que desenvolveram

amplamente os processos de irrigação, possibilitando a agricultura. Os Chimu

fundaram a cidade de Chan-Chan, sua capital, que contou com aproximadamente 80

mil pessoas. Os incas foram sucessores dos Chimu. Os incas, segundo os estudos,

eram oriundos da região amazônica e pertenciam à etnia quíchua. Tinham a

característica de serem bons guerreiros e conquistadores, e com isso alastraram-se

até as terras altas do Peru, conquistando Cuzco. A partir daí as guerras continuaram

no processo de conquistas e expansões, que durou praticamente três séculos,

submetendo ao seu domínio vários povos andinos.

Este processo teve várias fases, mas pode-se citar a conquista do Império

Chimu e da cidade de Tiahuanaco. Este longo processo de expansão é marcado pela

conquista de povos e cidades, bem como pela assimilação de culturas mais

desenvolvidas. A expansão dos incas ocorreu devido as suas constantes guerras e

busca de riquezas, consequentemente incorporando povos, culturas e bens materiais.

Antes da chegada dos espanhóis eles formavam um verdadeiro império, com

praticamente 8 milhões de habitantes, divididos em vários grupos étnicos.

Os povos andinos tinham muitas dificuldades de sobreviver num clima e relevo

extremamente hostil e, sendo assim, criaram muitas técnicas para desenvolver a

agricultura naquele espaço. A agricultura destes povos pré-colombianos era bem

HISTÓRIA DA AMÉRICA

21

adiantada, cultivando muitas espécies de alimentos. Para isso várias técnicas foram

sendo experimentadas para dominar o clima e a geografia, desenvolveram a irrigação,

transformando a área desértica em local produtivo, irrigado com as águas das geleiras.

Esse processo agrícola foi realmente bem desenvolvido, inclusive realizavam

fertilização dos solos, utilizando o guano como adubo, resíduo proveniente dos

excrementos das aves marinhas. Todo este trabalho de agricultura e realização de

obras de infraestrutura exigia um grande esforço coletivo, e para isso realizavam

mutirões para dar conta destas atividades.

Essa relação com a terra é semelhante aos demais impérios, pois em quase

todos ela era propriedade do Estado. Com os incas este processo se repete, uma vez

que não havia a propriedade privada da terra, e sim, a organização em unidades

produtivas chamadas de ayllu. O ayllu consistia num agrupamento de várias tribos num

mesmo território, dividido em partes que compreendiam as terras destinadas ao Deus-

Sol, ao imperador e às da comunidade. Nestes ayllu havia a prática da mita, ou seja,

de trabalhos obrigatórios. Quanto às práticas do comércio, não havia moedas e as

trocas eram também em forma de escambo, ou seja, produto trocado por produto. Os

impostos eram pagos pela mita. Toda a produção excedente era armazenada pelo

Estado, para enfrentar eventuais desastres naturais, como também para sustentar os

nobres, sacerdotes e mesmo os militares, os quais dependiam do auxílio do Estado.

Como todo império, os incas também se dividiam em classes sociais, as quais

compreendiam o clero, a nobreza e naturalmente o povo. O clero, responsável pela

parte espiritual do império, tinha como responsabilidade a magia e os rituais. A nobreza

era constituída pela família do nobre, ou seja, do imperador inca; também faziam parte

dela os chefes guerreiros e os denominados curacas. O povo era constituído

basicamente pelos camponeses, os quais muito cedo casavam e permaneciam

morando no ayllu, praticando a agricultura e prestando a mita. Quanto às formas de

união, as pessoas casavam um tempo depois de morar juntos, e os nobres podiam

praticar a poligamia.

No que se refere à administração política, havia uma concentração de poder nas

mãos da família do Inca, ou seja, do imperador. Era um tipo de império teocrático, pois

o domínio era exercido em nome do Deus-Sol. Seus poderes estendiam-se ao papel

de chefe civil, poder militar e religioso, e realmente havia uma concentração de poder

na sua figura. O processo de sucessão dos imperadores era extremamente complexo,

ocorrendo disputas que incluíam guerras e desordens políticas. Este processo de luta

pelo poder serviu para enfraquecer o império, abrindo uma brecha para a conquista

por parte dos espanhóis.

O grande império era dividido em províncias, cada uma delas com um

governador, havendo uma estrutura política bem organizada, o que possibilitava a

perfeita comunicação dentro do império. A vida cultural dos incas foi extremamente

desenvolvida, pois estes herdaram um significativo patrimônio cultural dos povos da

região andina, incorporando vários elementos destes em sua cultura. Na cultura

material destaca-se a arquitetura, com a construção de grandes edifícios utilizandose

HISTÓRIA DA AMÉRICA

22

de pedras irregulares que se encaixavam perfeitamente. Este patrimônio cultural pode

ser constatado nas cidades de Cuzco e Machu Picchu, que são exemplos desta cultura.

Os incas também possuíam um sistema numérico decimal, e eram muito

eficientes na metalurgia, trabalhavam com ouro, prata, cobre e bronze. A tecelagem

também foi extremamente desenvolvida, cuja técnica está presente inclusive nos dias

atuais. Essas três civilizações podem ser consideradas as mais desenvolvidas da

América Pré-colombiana, pois viviam em cidades e possuíam formas de produção bem

organizadas, mas mesmo assim foram dominadas e saqueadas pelos espanhóis, e

não conseguiram resistir ao invasor.

Isso não significa que seus integrantes não reagiram aos ataques dos

espanhóis, pois os relatos dos religiosos revelam que os conflitos foram devastadores

para a população nativa, que assistiu à destruição de suas cidades e organizações

sociais. Com a finalidade de saquear as riquezas, os espanhóis realmente colocavam

fogo nos povoados, matavam a população, não tinham nenhuma piedade, e por incrível

que possa parecer, ainda se apresentavam como cristãos que levavam o nome de

Deus para os pagãos.

Os nativos que ocupavam mais o sul da América ainda viviam no estágio da

pedra lascada e polida, não pertenciam às grandes civilizações e a sua vivência ainda

era em forma tribal, sofrendo também os ataques dos espanhóis, que procuravam

riquezas, principalmente metais.

4 A AMÉRICA APÓS A CHEGADA DE COLOMBO

Fonte: noticiasaominuto.com

Com a chegada de Colombo, em 1492, a América entra para o mundo moderno,

ou seja, passamos a integrar a modernidade, e com o início do pré-capitalismo vamos

fazer parte de um mundo cuja forma de produção estava em transformação. A busca

de riquezas fora do continente europeu fazia parte do mercantilismo, que procurava

metais para incrementar a economia. Quando os espanhóis chegaram na América

ocorreu um verdadeiro choque de culturas, e, na realidade, este foi um acontecimento

nefasto para os nativos, mas muito lucrativo para os colonizadores. Neste cenário de

HISTÓRIA DA AMÉRICA

23

transformações, a cultura dos nativos passava por uma profunda alteração, pois com

a convivência com uma nova forma de organização social e o início do processo de

colonização, a partir daí passariam a ser colônias de exploração da Espanha.

Logo na chegada os espanhóis foram adentrando no território à procura de

riquezas. Este processo foi de submissão dos nativos, para inseri-los no novo sistema

econômico estabelecido pelos conquistadores. Esse sistema pode ser designado como

colonial mercantilista, ou seja, já estávamos pertencendo ao pré-capitalismo europeu,

com todas as consequências que isso poderia gerar, e que realmente foram

desastrosas para os nativos. A instituição do sistema colonial fazia parte de todo um

processo mais amplo de mudança do feudalismo para o capitalismo. Com a chegada

na América efetivou-se este sistema colonial estabelecendo relações de exclusividade

entre as metrópoles e as colônias. Assim, tudo o que era explorado e produzido nas

colônias era destinado para os países colonizadores.

Fonte: www.infoescola.com

Neste sentido, podemos afirmar que este sistema econômico era complementar

ao pré-capitalismo europeu, ou seja, os metais preciosos eram todos enviados para o

país colonizador, além dos produtos tropicais e matérias-primas. A organização do

sistema colonial foi extremamente rígida, pois a Espanha criou todo um aparato para

garantir a dominação nos territórios conquistados, além de estabelecer as formas de

produzir riquezas, organizando as formas de trabalho de acordo com o próprio sistema

mercantilista. O aparato criado pela Espanha era complexo, havia o Conselho das

Índias, tendo a tarefa de organizar as questões judiciais, legislativas, militares e

eclesiásticas. Já a Casa de Contratação era responsável pelo comércio. Toda a parte

administrativa era regulamentada pelos vice-reis, que se instalavam por todo o território

conquistado, formando o seu núcleo de poder, mas subordinado às metrópoles.

HISTÓRIA DA AMÉRICA

24

O poder mais local era representado pelos cabildos e ayuntamientos, que

consistiam em órgãos locais de poder; seus representantes eram os descendentes de

espanhóis nascidos na América. A organização dos territórios conquistados foi

distribuída em vice-reinados e capitanias gerais. Foi a forma encontrada para controlar

a administração com os vice-reis e os capitães encarregados de manter a estrutura de

poder representando a Espanha e seus interesses na América. A distribuição dos vice-

reinados ficou assim estabelecida: vice-reinado da Nova Espanha; vice-reinado da

Nova Granada; vice-reinado do Peru; vice-reinado do Rio da Prata, além de algumas

capitanias gerais.

O vice-reinado da Nova Espanha se expandia pelo oeste dos Estados Unidos,

o atual México e uma parte da América Central, e, como podemos observar nos

diferentes mapas (disponíveis na biblioteca), era um território muito extenso. Convém

salientar que o México e o Peru foram importantes centros produtores para o sistema

colonial, com grande parte da produção consistindo na extração de metais preciosos,

pois era o que a Espanha procurava naquele período.

Com a decadência da extração de metais, iniciou-se o sistema produtivo

agrícola, com isso dividindo as terras e utilizando-se da mão de obra indígena. A

divisão das terras formou as grandes propriedades, as denominadas fazendas, que

eram unidades produtivas rurais praticamente isoladas do poder da Espanha. Os

proprietários das terras, que exploravam os tributos e o trabalho dos indígenas, eram

os espanhóis e seus descendentes. As grandes propriedades também eram

exploradas pela Igreja mexicana, um dos maiores latifundiários do vice-reinado. Os

índios eram os mais explorados, posto que não possuíam direitos, apenas trabalhavam

nas grandes fazendas e nas minas. A localização do vice-reinado da Nova Granada

compreende os atuais territórios da Colômbia, Panamá e Equador, sendo estes

territórios os primeiros a ser ocupado pelos espanhóis, nele sendo criados os primeiros

povoamentos. Foi a partir daí que os espanhóis se deslocaram para a conquista dos

novos territórios na busca constante de metais preciosos.

Os espanhóis logo na chegada dominaram os nativos, que já se encontravam

num acentuado processo de desenvolvimento, e que foram forçados a trabalhar nas

minas e, mais tarde, na agricultura. Os espanhóis, no início, caçavam os índios e os

vendiam para as áreas de mineração, e somente mais tarde começaram a praticar a

agricultura com produtos destinados ao mercado europeu, também criando gado para

vender para as zonas de mineração. Na agricultura utilizavam a mão de obra indígena

e mais tarde a escravidão negra. Com a redução do ouro e prata do México, este

vicereinado foi intensificando a sua produção para suprir as necessidades da Espanha.

O vice-reinado do Peru situava-se onde atualmente estão o Peru e parte da atual

Bolívia, ou seja, um espaço do Império Inca. Antes da chegada dos espanhóis era um

território muito rico, com metais preciosos que foram motivo de cobiça pelos

colonizadores. Após o saque das riquezas, os espanhóis escravizaram os nativos,

obrigando-os a trabalharem nas minas extraindo metais, como também formaram

grandes fazendas, cuja mão de obra era composta pelos nativos. Os proprietários das

HISTÓRIA DA AMÉRICA

25

minas e os fazendeiros detinham um amplo poder local, entrando em conflito com os

representantes da Coroa.

Os nativos foram os que mais sofreram com a colonização, pois estavam

submetidos à escravidão, trabalhando nas minas e nas fazendas, tendo sua liberdade

condicionada à prestação do trabalho compulsório. Na nova escala social os nativos

estavam condicionados à escravidão, era a classe mais baixa na hierarquia social,

acima deles estavam os mestiços, que constituíram uma classe livre, mas que não

subiam na escala social e permaneciam temerosos de serem rebaixados a escravos.

Esse processo de colonização também teve as suas reações, a exemplo do caso de

Tupac Amaru, que era descendente de índios, mas revoltou-se contra a servidão e a

abusiva cobrança de impostos, sendo morto e esquartejado pelos espanhóis.

Na parte mais meridional da América tivemos o vice-reinado do Rio da Prata,

território que compreendia um amplo espaço onde atualmente localizam-se a

Argentina, Uruguai, Paraguai e uma parte do Peru e da Bolívia. Como podemos

perceber, era realmente uma extensa área. Começou a ser ocupada ainda no século

16, quando os espanhóis desceram do Peru e seguiram até o extremo norte da

Argentina, chegando ao Rio da Prata, território que disputavam com os portugueses,

todos em busca de ouro e prata. Como não encontraram de imediato, este território

permaneceu abandonado por um longo tempo.

Os núcleos de povoamento eram raros, pois não se tinha uma riqueza aparente,

então se atraía um grande número de aventureiros que se dedicavam ao comércio e

também à apropriação de grande quantidade de terras que tinham pouco valor, mas já

contava com a presença de gado selvagem. Os espanhóis geralmente ocupavam as

margens do Rio da Prata, pois era uma área dedicada ao comércio e ao contrabando

de couro e metais. Nesse vice-reinado as relações com os nativos de imediato foram

diferentes das ocorridas nos demais territórios, pois os espanhóis não encontraram

minas, nem cultivavam a terra. Sendo assim, os nativos não sofreram num primeiro

momento o processo de escravização. Os espanhóis tiveram muitos filhos com as

nativas, gerando um grande número de mestiços.

Fonte: www.nationalgeographic.sapo.pt

Com o declínio da mineração os espanhóis descem em direção ao Rio da Prata

e passam a intensificar a atividade agropecuária e o comércio. O couro era o produto

de exportação, e também praticavam outras atividades comerciais, pois ali era um

porto de entrada de produtos para os demais vice-reinados. Além disso, o contrabando

era amplamente praticado. Os filhos de espanhóis nascidos aqui eram chamados de

HISTÓRIA DA AMÉRICA

26

criollos, e formavam um grupo que se dedicava à agropecuária, possuindo poder local,

sendo decisivos para o processo de independência desse vicereinado. Para além dos

vice-reinados ainda havia as capitanias gerais, as quais ficavam subordinadas àqueles.

As mais expressivas eram as da Guatemala, Flórida, Cuba, Venezuela e Chile, e como

podemos perceber, ocupavam uma vasta região territorial.

Também desenvolviam atividades produtivas, como nos vice-reinados. Essa

divisão territorial em vice-reinados e capitanias gerais foi fundamental para a Espanha

controlar todas as atividades de extração de metais e produção agrícola praticada aqui,

pois o pacto colonial obrigava a enviar para a metrópole toda a produção, bem como a

pagar impostos da extração e exportação. Esse período colonial foi realmente muito

longo, mas ao mesmo tempo foi estabelecido um poder local pelos criollos, que mais

tarde se revoltaram com a situação colonial e lutaram pela independência das colônias.

5 FORMAS DE OCUPAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO NAS

COLÔNIAS ENTRE PORTUGUESES, ESPANHÓIS E INGLESES

As formas de trabalho foram extremamente exploradoras, com os espanhóis

submetendo os nativos a tarefas que eles não desejavam realizar. Dentre as diversas

formas de organização do trabalho podemos destacar a mita, que foi muito utilizada

durante todo o período colonial. Logo que os espanhóis chegaram à América a busca

de metais preciosos foi constante e a economia mineradora tornou-se responsável pelo

enriquecimento da Espanha. A exploração iniciou-se pelos planaltos do México,

expandindo-se pela Cordilheira dos Andes, e todo o trabalho foi feito pelos nativos,

com a denominação de mita. Esse sistema consistia num trabalho compulsório que

empregava as comunidades dos nativos no processo de mineração.

Fonte: www.todamateria.com.br

Os nativos eram forçados ao trabalho nas minas, sendo denominados de

mitayos. Quando os nativos partiam para explorar as minas era feito um verdadeiro

ritual, pois rezava-se o oficio dos mortos. Com a mita era feito muitos deslocamentos

HISTÓRIA DA AMÉRICA

27

dos nativos e o trabalho era tão exaustivo que poucos voltavam vivos para casa. Além

da mita ainda podemos destacar com outra forma de exploração do trabalho dos

nativos, a encomienda, também amplamente utilizada no período colonial americano.

Podemos destacar duas formas distintas de atividade econômica, a mineração e a

produção agrícola, e nesta última era adotada a encomienda.

A forma de distribuição da propriedade de terras foi a base da grande

propriedade, conhecidas como fazendas, nas quais eram produzidos gêneros

alimentícios e matérias-primas, no início geralmente direcionados para as regiões

mineradoras. Com a gradual crise da mineração, essa produção passou a ser mais

destinada ao consumo nas propriedades, e somente mais tarde para a exportação. A

partir do século 18, com o auge da crise da mineração, os produtos exportáveis

passaram a ser realmente os produzidos nas grandes fazendas nos territórios do

Caribe e do Rio da Prata, transformando-as em grandes propriedades rurais

exportadoras. A forma de trabalho denominada de encomienda consistia na servidão

dos nativos em vastas áreas de terras apropriadas pelos colonizadores.

A administração colonial reconhecia a propriedade privada do colonizador e

encomendava um considerável número de nativos, os quais deveriam pagar tributos

aos proprietários de terras sob a forma de prestação de serviços. O encomendeiro,

porém, tinha suas obrigações, tais como cristianizar os nativos que lhe prestavam

serviços e também pagar impostos à Coroa pelo número de nativos confinados.

Outra forma de trabalho presente na América foi a escravidão negra, introduzida

a partir do século 16 nas regiões onde os nativos resistiam à servidão ou foram

exterminados pelos espanhóis. Podemos perceber que os negros trabalhavam nas

Antilhas, alguns também nas minas e no serviço doméstico das grandes fazendas.

Alguns historiadores defendem a tese de que a Espanha não participava diretamente

do tráfico de escravos, mas que comprava de outras companhias, como dos

portugueses, que praticaram intensamente o tráfico por vários séculos. Os escravos

negros também reagiam à escravidão por meio de fugas e motins, pois não aceitavam

facilmente as condições de trabalho impostas pelos seus proprietários.

A intensa exploração dos nativos despertou o interesse da Igreja, que mandou

para as terras americanas a Companhia de Jesus, ainda no século 16, formando assim

o que podemos denominar de Reduções Jesuíticas. No Rio Grande do Sul tivemos os

sete povos das missões: São Francisco de Borja, São Nicolau, São Luiz Gonzaga, São

Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista e Santo Ângelo Custódio, sendo

um dos mais conhecidos o de São Miguel, patrimônio da humanidade reconhecido pela

Unesco. As reduções ocupavam grandes territórios e agrupavam um grande número

de índios, os quais viviam coletivamente, praticavam a agricultura, a pesca e o

artesanato, mas em troca eram cristianizados pelos jesuítas. Nas reduções a

distribuição dos bens era igualitária, pois produziam para viver e manter a ordem

religiosa, os nativos eram inclusive alfabetizados em sua própria língua.

Também podemos constatar a presença do trabalho semilivre, que se iniciou

ainda no final do século 16, nas grandes fazendas e mais tarde se estendeu para as

minas, onde era conhecido como sistema de peonagem, que em algumas regiões

HISTÓRIA DA AMÉRICA

28

ainda persiste na atualidade. É uma forma de trabalho assalariado, mas o trabalhador

recebe o seu salário em produtos e não em dinheiro. Esses produtos podem ser os

mais variados possíveis, tais como: carne, cachaça, roupas, utensílios, etc.

O detalhe desta relação é a seguinte: esses produtos são comprados nos

armazéns das minas ou fazendas por um preço muito alto. Sendo assim, o trabalhador

fica permanentemente endividado, e isso faz com que ele continue trabalhando para

esse mesmo patrão pelo resto de sua vida, caracterizando mais uma servidão do que

um trabalho livre. A estrutura comercial da América Espanhola era totalmente atrelada

à metrópole, pois as relações eram estabelecidas a partir dos tratados que os

regulamentavam. No início do processo de colonização tudo era feito a partir de

Castela, pois foi instituída a Casa de Contratación para cuidar da administração da

América Espanhola. O comércio era feito todo pelo porto de Sevilha, e a partir de 1717

o porto único foi transferido para Cádiz.

No século 18 foi posto fim ao regime de porto único. Sendo assim, qualquer

porto espanhol poderia comercializar com a América. Toda a produção de metais

explorados aqui deveria ser enviada à Espanha, bem como as matérias-primas que

aqui eram produzidas. O ouro e a prata pagavam altos impostos, e era chamado de

quinto um imposto de 20% sobre o metal.

Os produtos manufaturados importados pelas colônias eram comprados com

um alto preço, resultando em altos ganhos por para a Espanha. Nas colônias poderiam

ser praticados a produção de manufaturas e o artesanato. Isso servia para atender à

economia interna, mas era proibido elaborar produtos que concorressem com a

metrópole, como o vinho. Durante um longo período as colônias não podiam

comercializar entre si, pois todo o comércio deveria ser feito pelos espanhóis, no

entanto era possível encontrar práticas de contrabando.

A Espanha tinha uma fraca indústria, que não conseguia atender às demandas

das colônias. Com isso, havia muito contrabando, inclusive com a permissão dos

administradores locais, que recebiam propinas para permitir que os navios estrangeiros

atracassem e vendessem as suas mercadorias para as colônias. Os funcionários

corruptos recebiam muitas propinas por permitir esse comércio, juntando muito

dinheiro e voltando a viver na Espanha. Os ingleses, holandeses e franceses

frequentavam constantemente os portos para fazer contrabando, vendiam os produtos

manufaturados, e, em troca, compravam produtos agrícolas recebendo em ouro e

prata, comércio lucrativo para os contrabandistas.

A sociedade espanhola era extremamente tradicional, possuindo resquícios do

feudalismo, mostrando-se muito aristocrática e fechada, transferindo esse modelo para

as colônias. Os critérios para classificações dos indivíduos em classes sociais foram

estabelecidos pela renda de cada um, pelo poder e nascimento. Aqui ainda levava-se

em conta a cor da pele, tudo isso era critério para a alocação nas classes. Outra grande

herança espanhola foi a questão da grande propriedade, pois foi constituída uma

estrutura agrária com predomínio dos latifúndios destinados aos conquistadores e seus

sucessores. A estrutura dos latifúndios é um modelo que começou no período colonial

e que persiste até a atualidade. Toda a produção colonial era destinada para a

HISTÓRIA DA AMÉRICA

29

metrópole, assim o desenvolvimento interno das colônias foi extremamente

prejudicado, pois não se investia internamente.

A estrutura social determinava que no seu topo ficariam alocados os espanhóis

provenientes da península ibérica, os denominados chapetones, descendentes da

nobreza empobrecida da Espanha. Esses chapetones ocupavam todos os cargos

administrativos das colônias, pois eram os letrados, também se tornando donos das

grandes propriedades e das minas, portanto tinham poder político e econômico ao

mesmo tempo. Abaixo dos chapetones ficavam os criollos. Esses eram os filhos de

espanhóis nascidos na América, mas não podiam ter mestiçagem, ou seja, não podiam

ter cruzamento interétnico. Os criollos geralmente eram grandes proprietários de

terras, mas também comerciantes. Não podiam ocupar altos cargos administrativos,

mas participavam dos cabildos, um órgão que representava o poder local. O modelo

de estrutura de classes foi complexo, pois sempre privilegiou os brancos e a

superioridade da raça e do sangue, e isso, de imediato, já excluía índios, negros,

mestiços e outros cruzamentos raciais.

Os mestiços, resultado do cruzamento de brancos com índios, de brancos e

negros e de negros com índios, constituíam a maior parcela da população, mas nunca

ocupavam os cargos administrativos, no máximo poderiam ser capatazes das fazendas

e minas, bem como mão de obra servil e livre.

Na base da sociedade estavam os índios, que na época da chegada dos

espanhóis eram aproximadamente 30 milhões e ficaram reduzidos a cerca de 10

milhões. Isso comprova o verdadeiro massacre que essa população sofreu ao longo

do processo de colonização, pois foram condenados à servidão nas minas e fazendas.

Na tentativa de interferir no massacre dos índios, a Espanha criou a Lei das Índias, que

procurava proteger a organização comunitária da propriedade e do trabalho indígena.

Na prática, porém, essas leis não funcionaram, pois o encomendero que cobrava

impostos e estava encarregado de cristianizar os indígenas, na realidade os explorava

ainda mais, transformando-os em força de trabalho e quando estes morriam ou

deixavam as terras, ficava com elas.

Essa mesma Lei da Índias também proibia a mita, mas isso, na prática, também

não teve acesso, pois os índios continuavam a ser alocados em trabalhos forçados, o

que contribuiu decisivamente para o genocídio desse povo. Na lei foi instituída a

igualdade de direitos entre índios e espanhóis, mas isso somente existiu formalmente,

pois na realidade os indígenas continuaram a ser mão de obra nas fazendas e minas.

A cultura colonial foi uma imposição dos espanhóis sobre os colonizados, e a

cristianização, mais especificamente o catolicismo, que era a religião oficial dos

espanhóis, a maior delas. Com a imposição do cristianismo as crenças dos nativos

foram todas relegadas a segundo plano, algumas proibidas e até consideradas

heresias. O clero participou de todo o processo de colonização, em acordo com a

Coroa, pois eram os reis que nomeavam os religiosos, bem como cobravam o dízimo.

Convém salientar que a Igreja Católica Espanhola foi a que mais praticou a Inquisição,

e na América a Santa Inquisição foi realmente de causar medo nos colonos. Qualquer

coisa poderia ser considerada como heresia, e os religiosos ainda estavam na caça de

HISTÓRIA DA AMÉRICA

30

judeus, muçulmanos e protestantes. Por outro lado, também foram tenazes na

conversão dos índios ao cristianismo.

A Igreja Católica foi representada também pela Companhia de Jesus, cujos

integrantes eram os que mais se dedicavam a catequizar os índios. Os jesuítas foram

implacáveis na difusão do cristianismo e no combate às heresias, sendo os principais

responsáveis pela introdução do cristianismo na América, e no seu trabalho de

cristianização criaram escolas, batizaram índios e colonos e tentaram de todas as

formas livrar os índios da escravidão.

Foram os responsáveis pelas missões jesuíticas, como já vimos anteriormente,

e obedeciam diretamente ao papa. Nesse sentido, não acatavam as ordens dos bispos

e demais autoridades eclesiásticas, e após muito tempo de conflito com as autoridades,

foram expulsos da América Espanhola e Portuguesa no século 18.

O estilo barroco também esteve presente na América Espanhola, mostrandose

uma fiel reprodução do que estava em voga na Europa e muito divulgado pelos jesuítas

a partir do século 17, chegando ao seu auge no século 18. A arquitetura foi

decisivamente influenciada pelo barroco: cidades inteiras, como exemplo algumas do

Peru, e vários tipos de construções, como igrejas, cadeias, cabildos e mesmo

residências particulares, todas seguindo os traços da arquitetura barroca. As igrejas

eram as que mais ostentavam as riquezas, todas barrocas, com pinturas e altares

recobertos com finas camadas de ouro. O barroco também influenciou a própria

literatura, sendo fruto da sociedade colonial, ou seja, as artes em geral eram todas

influenciadas por este estilo, que possuía seus próprios fundamentos estéticos.

5.1 O fim do Sistema Colonial

Fonte: estudopratico.com.br

O período colonial foi o mais longo de toda a história da América Espanhola,

pois começou no século 16 e foi até o início do século 19, mais de três séculos de

intensa exploração da Espanha em todos os territórios, nos vice-reinados e capitanias

gerais. Durante todo o período colonial a produção mineral e agropecuária era

HISTÓRIA DA AMÉRICA

31

destinada à metrópole, além, é claro, dos impostos que os colonos tinham de pagar.

Houve inclusive a concorrência desleal dos produtos aqui produzidos com os

comprados da Europa. No começo do século 19 iniciaram-se as lutas pela

independência, pois os que aqui viviam não suportavam mais a dominação da Espanha

e queriam liberdade de comércio e produção.

Neste processo de independência podemos destacar o papel fundamental dos

criollos, filhos de espanhóis nascidos na América, e que foram os que mais ansiavam

pela independência, daí deflagrando todo um processo de lutas contra a Espanha. Este

período violento começou no século 19. Nos vários vice-reinados ocorreram lutas pela

independência, mobilizadas pelos criollos, para acabar com as velhas estruturas

coloniais, mas a Espanha reagiu violentamente a esse processo, pois não desejava o

fim do período colonial. Os criollos, por sua vez, se mostraram muito organizados e

com força de mobilização, mantendo a luta até conseguirem definitivamente a

libertação da Espanha, tendo fim o longo período colonial.

6 A FASE DE INSTABILIDADE POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

Esta primeira fase após o processo de independências foi marcada por um longo

período de reestruturação de toda a sociedade, pois ainda não estava definido

exatamente como seriam as bases do Estado. Alguns historiadores chamam esta de

fase da anarquia, haja vista que ainda não se tinha organizado as formas

administrativas, tendo essa expressão sido largamente utilizada na historiografia latino-

americana, pois remete a um período difícil no processo político destes novos países

independentes, que passaram por um longo processo até atingir um ordenamento

estável.

Por outro lado, os historiadores também observam que essa desorganização do

Estado deu origem ao fenômeno conhecido como caudilhismo, ou seja, o poder

concentrado nas mãos de uma figura política centralizadora, denominado caudilho.

Isso tudo atestou a incapacidade das classes dominantes de instituir um Estado que

realmente ocupasse um lugar de poder, sendo um processo muito longo no decorrer

do século 19. Podemos afirmar que após a independência foi marcante a militarização

na sociedade latino-americana, pois o Estado ainda não se encontrava estruturado. Os

militares desempenhavam vários papéis, e estavam quase sempre presentes nos

momentos em que a classe dominante não conseguia um consenso, com cada

segmento tentando impor a sua hegemonia sobre as demais classes.

Outro papel dos militares era servir como mediadores para acalmar conflitos em

alguns países que apresentavam a economia totalmente debilitada em decorrência do

processo de independência. A economia foi a que mais se desestabilizou, pelo fato de

ter ficado muito tempo sem receber os capitais dos investidores estrangeiros. A

situação de instabilidade e as dificuldades de impor uma política estável,

transformaram toda a economia da América Latina num verdadeiro caos, uma situação

totalmente dramática para esses países livres. A interrupção das exportações foi a

principal causa do desequilíbrio econômico.

HISTÓRIA DA AMÉRICA

32

Toda esta instabilidade política e econômica que abateu a América Latina foi

decorrente das lutas de poder, criando um clima de pessimismo em vários países,

principalmente a partir de 1830, dando margem para que segmentos tradicionais

tomassem o poder e constituíssem um Estado totalmente conservador. Podemos citar

vários exemplos destes conservadores e centralizadores no poder, tais como: Antonio

López de Santa Anna, no México, Juan Manoel Rosas, na Argentina (este foi, no

sentido literal da palavra, um verdadeiro caudilho), além de Diego Portales, no Chile.

A instabilidade econômica entrou em uma outra fase na segunda metade do

século 19, pois a partir desse período foi percebido um acelerado desenvolvimento do

setor primário exportador, isso tudo devido a uma melhor organização das economias

internas pela intervenção do Estado.

Por outro lado, a economia europeia também já se encontrava estável,

demandando mais produtos primários e, com isso, fortalecendo a economia dos países

exportadores de matérias-primas. Com a recuperação, fez-se necessário uma nova

política econômica, com a reformulação do sistema fiscal, pois alguns segmentos

sociais mais produtivos defendiam que seria preciso abolir os impostos abusivos que

impediam determinadas atividades mercantis.

Alguns destes impostos eram resquícios do período colonial, tais como o dízimo

e a alcabala, e os segmentos mais liberais defendiam o seu fim, bem como

argumentavam que o governo federal não deveria intervir em determinados assuntos

econômicos, por exemplo, nas tarifas alfandegárias protecionistas e nos privilégios de

certas empresas públicas.

6.1 A Fase de Estabilidade Política e Econômica

Na segunda metade do século 19 já se percebia certa estabilidade econômica

e política, tendendo a estabilizar as relações sociais, até então conflituosas. Em muitos

países os liberais conquistaram o poder e lutaram pelas reformas fundiárias, na

tentativa de apropriação de grande parte de terras que os índios ocupavam. Outro

projeto seria a formação de um mercado de trabalho, pois no novo contexto econômico

era preciso criar uma mão de obra que atendesse as demandas do novo mercado.

Os liberais no poder eram a favor da expulsão dos índios das terras comunais e

pretendiam também nacionalizar os bens do clero. Eles viam como uma ameaça ao

seu poder os privilégios do clero, dado que pretendiam pôr em prática um projeto de

modernização econômica e social. Esses liberais denunciavam que o clero não poderia

mais ter o poder de decisão na educação e cultura, pois viam isso como uma forma de

centralização da liberdade de pensamento.

A intervenção dos liberais foi decisiva no novo modelo de Estado, conquistando

o poder em diversos países, como na Argentina e no Uruguai onde, a partir de 1830,

introduziram políticas de contenção do próprio clero. O outro objetivo dos liberais era

a desapropriação das terras indígenas, no que obtiveram muito sucesso em toda a

América Latina. No caso específico da Argentina foi estabelecida a campanha do

deserto, que ocasionou o total extermínio dos índios que habitavam o sul do país. No

HISTÓRIA DA AMÉRICA

33

caso do Chile, ocorreu uma verdadeira matança de índios, exterminando essa

população de nativos.

A historiografia latino-americana descreve que a atuação dos caudilhos foi

realmente muito controvertida, pois eles representavam algum segmento da classe

dominante, não tendo uma legitimidade em relação a todos os grupos sociais. Isso

gerou tensão entre os caudilhos, resultando em muitas guerras civis entre eles, que

desejavam a concentração de poder em suas mãos.

Os caudilhos representavam um segmento mais conservador, que defendia um

Estado centralizador, com o poder concentrado num governante com reconhecimento

popular. Os caudilhos eram temidos e ao mesmo tempo respeitados e amados, pois

eles realmente personalizavam o poder de decisão. A configuração do Estado nacional

foi de fato um longo processo, pois os grupos que assumiam o poder não tinham uma

visão muito clara do que concretamente era necessário fazer para dar conta de toda

uma diversidade socioeconômica vivenciada por esses países.

Fonte: www.coladaweb.com

Era possível perceber vários estágios de desenvolvimento da própria economia,

até se chegar a uma definição mais precisa do capitalismo, pois como o período

colonial foi muito amplo, as mudanças também foram lentas. Havia, como declaram os

historiadores, um verdadeiro hibridismo na matriz econômica e social. O Estado

nacional institui verdadeiramente uma nova matriz econômica, agora baseada no

grande latifúndio, daí decorrendo um grande processo de desapropriações de terras,

as quais foram parar nas mãos dos latifundiários ligados ao setor primário exportador.

O Estado nacional, a partir de suas novas políticas, foi incisivo na efetivação de

uma estrutura econômica mais compatível com o mercado externo, conquistando

HISTÓRIA DA AMÉRICA

34

dessa forma uma retomada dos negócios internacionais. O latifúndio foi responsável

pelo incremento da produção para exportação, aumentando significativamente a

quantidade de produtos. Nesta fase a economia já estava mais estabilizada, mas

direcionada para o mercado externo, marcando decisivamente o mercado

latinoamericano, que adotou uma economia voltada para as exportações.

O ordenamento político passou para as oligarquias primário-exportadoras,

estabelecendo, desta forma, um modelo de Estado extremamente centralizador, com

o poder concentrado nas mãos desse segmento dominante. Neste sentido, podemos

perceber que este foi um momento de consolidação do Estado Nacional e para isso

também foi importante a configuração de um modelo exportador, que conseguiu

alavancar a economia.

Com isso, alguns segmentos da classe dominante conseguiram fazer parte do

Estado, com a posse de capital suficiente para impor o seu domínio sobre os demais.

Sendo assim, configurou-se esse segmento dominante tanto no comando político

quanto na economia. Vale destacar que desde a segunda metade do século 19 a

Europa já se encontrava plenamente recuperada economicamente, impulsionando o

processo de industrialização, e com isso importando matéria-prima da América Latina.

Essa foi a nova configuração do capitalismo, ou seja, os países europeus

industrializados e os demais fornecendo a matéria-prima.

Esse modelo econômico primário-exportador caracterizou o capitalismo na

América Latina a partir do século 19 e parte do século 20, até se estabelecer o processo

de industrialização, que ocorreu bem mais tarde por aqui. Esse modelo primário-

exportador revelou-se muito importante para o capitalismo da Europa e dos Estados

Unidos, pois nós vendíamos para eles a matéria-prima por um preço baixo e

adquiríamos os produtos industrializados por um preço muito alto.

Esses países industrializados ganharam muito nestas trocas desiguais e por

isso investiram parte deste capital por aqui, possibilitando a construção de estradas de

ferro, a instalação de iluminação elétrica, como também estabelecendo filiais de

bancos. No decorrer do século 19 era necessário a formação de mão de obra para

atuar nesta produção primária, e por isso gradualmente foi ocorrendo a abolição da

escravatura, um passo fundamental para a consolidação do capitalismo como modo

de produção dominante.

A configuração do capitalismo na América Latina foi um processo muito longo,

pois a escravidão ainda estava presente ao lado do trabalho livre, gerando toda uma

contradição nas relações de trabalho. Ainda prevaleciam algumas práticas

précapitalistas, juntamente com o capitalismo, com os segmentos dominantes

mantendo o seu poder de coerção sobre os demais segmentos sociais.

É importante frisar que foi somente com essa oligarquia primário-exportadora

que realmente se instalaram as bases efetivas para o desenvolvimento do capitalismo.

Já no final do século 19 percebeu-se uma estabilidade social, econômica e

política, demonstrando o sucesso do capitalismo na América Latina como um todo.

Todo esse período de estabilidade foi decorrente da atuação desses segmentos

HISTÓRIA DA AMÉRICA

35

primárioexportadores, que desenvolveram um projeto que atendia aos interesses

internos, aliados ao próprio desenvolvimento do capitalismo internacional.

Os demais segmentos sociais foram, gradativamente, se ajustando às

determinações desses dominantes, inclusive os populares, que acabaram se

constituindo mão de obra para este modelo exportador. Com esse processo o modelo

de Estado nacional acabou sendo consolidado a partir da inserção destas economias

periféricas latino-americanas a um modelo capitalista dominante nos países

industrializados.

Grande parte dos autores discute o capitalismo na América Latina defendendo

a ideia de modelo primário exportador dependente dos rumos do capitalismo

internacional. Essa é a verdadeira ideia de teoria da dependência, que vigoraram muito

tempo nas teorias clássicas sobre a dependência, para explicar o modelo capitalista.

Atualmente já existem outras correntes teóricas que discutem o capitalismo de um

outro ângulo.

6.2 Exemplo de Estado Oligárquico: a Argentina

Fonte: sites.google.com

Após o processo de independência a Argentina foi governada pelos unitaristas.

Isso revelava o poder de Buenos Aires sobre as demais províncias que possuíam

liberdade de comércio, mas as rendas obtidas com a exportação sempre ficavam na

alfândega de Buenos Aires. Este segmento que ocupou o poder apresentava-se como

liberal, mas era um grupo oligárquico, extremamente conservador, pois ainda

preservava as mesmas atitudes do período colonial, tentando impor o seu domínio

sobre as demais províncias.

Havia, entretanto, uma outra oligarquia que vivia no interior e que não se

dedicava ao comércio, ou seja, os grandes proprietários rurais, que estavam mais

preocupados em manter as suas grandes propriedades de terras, levando uma vida

HISTÓRIA DA AMÉRICA

36

simples no campo. Por outro lado, os que viviam em Buenos Aires adotavam hábitos

europeus e importavam todos os produtos manufaturados do exterior.

Essa oligarquia interiorana era conhecida como federalista, porque defendia a

descentralização econômica e política, ou seja, lutava pela autonomia das províncias

do interior, opondo-se aos unitaristas de Buenos Aires. Ambas as oligarquias lutavam

constantemente após o processo de independência. Os unitaristas assumiram o poder

realizando uma política que favorecia Buenos Aires, e todas as exportações e

importações eram taxadas na sua alfândega, arrecadando um bom capital. Esse era o

papel que a metrópole exercia no período colonial, quando Buenos Aires detinha todo

o controle sobre a economia da Argentina, pois todos os bancos estavam lá

localizados, e também era responsável pela emissão da moeda.

Nos primeiros anos após a independência os federalistas permaneceram

acuados, pois estavam subordinados ao centralismo dos portenhos, ou seja, dos

unitaristas. Essa situação era totalmente desfavorável para as províncias, pois estas

não conseguiam competir com os produtos manufaturados importados da Inglaterra.

Os artesãos das províncias lutavam ferozmente contra a hegemonia de Buenos

Aires, porque a liberdade de importação desvalorizava os produtos locais, gerando

uma concorrência desleal, pois os produtos, não raras vezes, custavam mais caro que

os importados, que apresentavam uma qualidade superior aos confeccionados

artesanalmente. A mão de obra local das estâncias era feita pelos gaúchos, um tipo

social interiorano que vivia da criação e matança de gado, que com a exportação

destes produtos ficaram à margem do mercado de trabalho e acabaram formando as

tropas dos caudilhos que lutavam contra a hegemonia de Buenos Aires. Com a guerra

civil de 1828 a 1829 os unitaristas de Buenos Aires foram destituídos do poder e cada

província passou a desfrutar de autonomia.

6.3 ROSAS: o caudilho dos caudilhos

HISTÓRIA DA AMÉRICA

37

Fonte: www.infoescola.com

Na própria guerra civil um nome se destacou: Juan Manoel Rosas, um rico

proprietário de terras da Província de Buenos Aires, que obteve apoio dos caudilhos

do interior, conquistando o poder desta província com o apoio dos aliados das demais

províncias interioranas. Rosas ficou conhecido como o “caudilho dos caudilhos”, pois

enorme era o seu poder, tendo a capacidade de dominar toda a vida política da

Federação, procurando desta forma a consolidação da unidade nacional. Seu poder

era reconhecido pelos demais caudilhos das províncias do interior, que mantinham sua

autonomia política, mas cabia a Buenos Aires cuidar das relações exteriores da

Federação.

Rosas era um herói da oligarquia rural conservadora e das massas populares

que não eram atendidas por ninguém, ou seja, totalmente desassistidas. O apoio a

Rosas era basicamente concedido pelos ricos porque ele era capaz de impor ordem

na política, garantindo assim a prosperidade deste segmento. Por outro lado, as

classes populares eram submetidas ao seu poder porque ele era tido como típico

gaúcho, era respeitado e venerado inclusive em procissões, que carregavam a sua

imagem, quase como um Deus.

Rosas instituiu uma política severa em relação à economia e estabeleceu uma

legislação alfandegária protecionista. Essas medidas estendiam-se ao artesanato,

ficando proibido importar selas de cavalo, tecidos de lã e algodão, sapatos, bebidas

alcoólicas, frutas secas e demais gêneros. Com isso acabaria a concorrência entre o

artesanato local e os produtos importados. Essa medida também mantinha os rios do

interior fechados ao comércio externo.

Durante o governo de Rosas não havia na Argentina uma burguesia industrial,

portanto o país era dominado pela burguesia comercial e pelos grandes proprietários

de terras, voltados para o comércio externo, pois naquela ocasião ainda não havia

interesse em investir no processo de industrialização. A Argentina era especializada

em produzir produtos agrícolas e consequentemente importar os produtos

manufaturados, e fazia parte do sistema capitalista global, que designava alguns

países a produzir manufaturados e outros a fornecer matérias-primas. A Argentina

importava quase tudo da Inglaterra, e com isso forçando a abertura dos rios para a

navegação internacional, com o apoio dos grandes proprietários e grandes

comerciantes.

Rosas, ao longo de seu governo como caudilho dos caudilhos, obteve

significativa credibilidade por parte do povo, pois era temido e amado ao mesmo tempo,

mas todo o seu esforço não logrou quebrar o domínio do porto de Buenos Aires sobre

o comércio internacional. As províncias, apesar das medidas protecionistas, não

conseguiam entrar no comércio internacional, portanto o seu artesanato era destinado

ao consumo interno. Buenos Aires ainda continuava a concentrar a renda e a

população, e algumas províncias do interior permaneciam quase que despovoadas,

sendo assim os portenhos ainda continuavam a exercer as atividades mais lucrativas.

O governo de Rosas foi a demonstração de que o caudilhismo obteve muito respaldo

HISTÓRIA DA AMÉRICA

38

na América Latina, concentrando o poder nas mãos de um sujeito autoritário e popular

ao mesmo tempo.

O governo de Rosas teve fim por um movimento militar liderado por Justo José

Urquiza, governador da Província de Entre-Rios. O movimento teve apoio do Brasil e

do Partido Colorado do Uruguai. Com a derrota de Rosas na Argentina foi instituído

um Estado nacional dominado pelos comerciantes portenhos e pela aristocracia rural

de Buenos Aires, todos vinculados ao imperialismo inglês.

O Estado liberal foi concebido pelos grandes proprietários de estâncias e dos

setores ligados ao comércio internacional, e funcionou plenamente no período de 1870

a 1930. Esse mesmo Estado acabou com a autonomia regional das oligarquias não

vinculadas ao mercado externo. Desta forma, o setor exportador impôs sua hegemonia

em toda a Argentina.

7 O PROCESSO DE IMIGRAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO

As elites que conquistaram o poder após a queda de Rosas eram

economicamente mais diversificadas, ou seja, não apenas ligadas à exportação. As

novas teorias econômicas das elites refletiam as concepções que vinham do exterior,

pois apresentavam um verdadeiro entrave para o desenvolvimento, os denominados

gaúchos, que eram os interioranos definidos como bárbaros, entendidos um dos

motivos do subdesenvolvimento da Argentina.

As elites que conquistaram o poder começavam a mostrar preconceitos em

relação à mestiçagem, desejavam um verdadeiro branqueamento da população, pois

os mestiços eram a maioria. Para resolver este problema de branqueamento da raça

a solução encontrada foi a imigração. O processo de imigração foi intenso. Decorrente

disto a população aumentou consideravelmente a partir de 1880, e o processo de

branqueamento ocorreu de forma gradativa. A mestiçagem ficou amenizada, pois a

miscigenação foi significativa. O governo criou uma legislação que concedia vantagens

para os estrangeiros em relação aos nativos, atraindo assim, um número muito grande

de imigrantes para este país.

No começo a imigração foi feita em colonização oficial, ou seja, o imigrante

recebia um pedaço de terras do Estado, bem como a passagem, e deveria, portanto,

cultivar aquela terra com cereais. Num segundo momento do processo os imigrantes

não recebiam mais terras e foram destinados para trabalhar nas estâncias e outros

encaminhados para as cidades, atuando como operários na nascente indústria.

O Estado oligárquico iniciou o processo de modernização do país a partir das

terras devolutas, que foram doadas para os imigrantes e uma outra parte vendida aos

grandes pecuaristas, que modernizaram o campo, transformando as terras em grandes

estâncias capitalistas. A modernização da Argentina levou sua plena inserção no

próprio imperialismo, pois cada vez mais desenvolvia o livre comércio internacional,

recebendo recursos externos para investimentos em ferrovias, nos telégrafos e na

modernização dos portos, dessa forma beneficiando a exportação dos produtos

HISTÓRIA DA AMÉRICA

39

primários e a importação das manufaturas. Com isso criou-se uma economia de

dependência do capitalismo inglês.

A Argentina foi o primeiro país da América Latina a se industrializar, pois o

acúmulo de capitais foi possível a partir de investimentos dos ingleses em algumas

áreas específicas de produção, tais como: moinhos, frigoríficos e principalmente na

indústria lanífera. O desenvolvimento destas áreas foi uma combinação do capital

externo com o capital nacional e também dos imigrantes, todos destinados ao processo

de industrialização com a matéria-prima que havia disponível.

Grande parte da produção industrial era destinada ao mercado externo, pois o

mercado interno era um tanto quanto limitado para absorver toda esta produção. Com

o processo de industrialização a Argentina tornou-se um dos países mais ricos da

América Latina, com um desenvolvimento muito rápido e aumento do poder de compra

dos assalariados, tendo as aplicações financeiras alcançado um patamar bem

significativo. Este processo de crescimento da economia vai praticamente até a década

de 30 do século 20, pois a partir daí ocorreu uma queda das exportações devido a uma

crise do mercado externo. A própria Inglaterra, que comprava muito de seus produtos,

também entrou em crise, afetando a economia dependente da Argentina que, em

decorrência, entrou em crise profunda, com reflexos no século 20.

8 O PARAGUAI NO SÉCULO 19

Após o processo de independência do Paraguai, instala-se naquele país a

autocracia paternalista do governo de Francia, que aconteceu de 1813 a 1840, um

longo período de um governo centralizador. Francia, com a morte do governador

Yegros, convocou o Congresso que o decretou governo, uma forma de ditador, num

primeiro momento por dois anos, e posteriormente como vitalício.

O governo de Francia foi realmente diferente dos demais governos da América

Latina, pois desde o início ele isolou o Paraguai do mundo externo. As fronteiras do

país foram fechadas e vigiadas pelos militares, as pessoas e mercadorias não podiam

circular, estando sujeitas à punição. Era muito rara a permissão para navios

estrangeiros comercializarem com o país e, às vezes, trocavam mercadorias por

ervamate. O desenvolvimento econômico do Paraguai foi autossustentado, sendo um

dos únicos países da América Latina a não depender de capitais estrangeiros,

realmente buscando sua autonomia. No Paraguai não havia uma burguesia que

pudesse financiar o seu desenvolvimento econômico, portanto o Estado assumiu esse

papel e fez investimentos capazes de manter a sua produtividade.

HISTÓRIA DA AMÉRICA

40

Fonte: brasilescola.uol.com.br

Francia, por meio do Estado patriarcal, fazia os direcionamentos das políticas

públicas orientando os investimentos na economia. Com essas diretrizes políticas e

econômicas o Estado conseguiu desenvolver a produção de manufaturas para o

abastecimento do mercado interno, não necessitando da mão de obra da imigração

europeia para alavancar o processo de industrialização. Francia mantinha em suas

mãos o controle total do país, inclusive usando a coerção física, pois em alguns casos

mandava fuzilar os considerados inimigos.

O governo de Francia foi realmente centralizador, e ele poderia ser considerado

um ditador, pois desejava manter o controle de tudo e de todos os cidadãos, tentando,

a todo momento, acabar com a oligarquia rural. Para tanto, impôs uma lei que proibia

o casamento entre índios, brancos, negros e mulatos. Com essa lei ele atingiu

diretamente a oligarquia rural, pois havia muita mestiçagem, e muitos que eram

considerados brancos foram rebaixados para mestiços e, sendo assim, não poderiam

mais se casar com brancos.

Quando Francia morreu em 1840, a oligarquia rural estava totalmente

desarticulada, pois seus integrantes não tinham participação política e a maior parte

de suas terras haviam sido confiscadas pelo governo. Por outro lado, a incipiente

burguesia também não tinha poder de decisão. Sendo assim, caberia ao Estado manter

o desenvolvimento do país. Com a morte de Francia o autoritarismo continuou a

vigorar, sendo eleito pelo Congresso Carlos Antonio Lopez, que se manteve no poder

de 1844 a 1862, juntamente com mais um cônsul, mas o poder realmente permaneceu

apenas em suas mãos. Ele foi eleito presidente da República por dez anos, e no

começo do governo se mostrou progressista, abolindo a tortura, libertando os escravos

nascidos a partir de 1843, limitando o período em que o escravo se mantinha

trabalhando, bem como submetendo os religiosos ao poder do Estado.

Na política, continuou o regime autoritário de Francia, delegando a seus

familiares o controle dos principais postos do Estado. Seu poder foi tão centralizador e

autoritário que perseguia qualquer pessoa que pudesse ser contra o seu governo. Na

economia procurou inovar um pouco, permitiu a abertura dos portos para

comercialização e também a entrada de imigrantes. Os estrangeiros foram tratados

com muita restrição, pois não lhes eram permitidos a posse de terras e o casamento

HISTÓRIA DA AMÉRICA

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com mulheres paraguaias, somente com autorização especial do governo, o que na

maioria dos casos era negado.

O Paraguai tinha apenas um produto para exportação, a erva-mate, mantendo

monopólio estatal sobre o produto, pois o governo comprava dos produtores e revendia

com alta lucratividade aos importadores estrangeiros. Com esse comércio o governo

obtinha capital para obras de infraestrutura, tais como estradas de ferro e comprar

navios a vapor. A exportação da erva-mate foi fundamental para o desenvolvimento

interno do Paraguai, pois o governo detinha grande parte dos lucros com esse

comércio e, sendo assim, os cidadãos não necessitavam pagar impostos. Carlos Lopez

também foi o criador do exército permanente, defendendo que era preciso manter-se

alerta diante dos interesses expansionistas dos países vizinhos. No caso da Argentina,

havia um perigo permanente, uma vez que está desejava anexar o Paraguai aos seus

domínios territoriais.

Carlos Lopez governou o Paraguai até 1862, e com sua morte assumiu o poder

o seu filho Francisco Solano Lopez, que governou até 1870. Solano Lopez manteve a

mesma política econômica desenvolvimentista dos governos anteriores, ou seja, de

manter o Paraguai como uma economia autônoma, sem depender dos investimentos

externos. O governo sustentou o desenvolvimento da economia investindo na

infraestrutura, pois foi o primeiro país da América Latina a possuir uma ferrovia

controlada pelo Estado, e instalou também uma linha telegráfica, investiu na fabricação

de navios a vapor nos seus próprios estaleiros, avançou na produção siderúrgica e na

indústria bélica.

Com todos os investimentos internos feitos, o Paraguai foi um dos únicos países

da América Latina a manter uma balança comercial favorável, ou seja, seu

desenvolvimento não se baseava no capital externo, como os demais países. Para

manter a balança comercial, investia os lucros obtidos com a exportação da erva-mate

e madeira, produzia praticamente tudo o que o país consumia. O Estado era quem

controlava a economia, sem a intervenção dos países estrangeiros.

O Paraguai tinha uma excelente infraestrutura interna, e com isso foi possível

investir também na organização de um exército forte, considerado um dos melhores da

América Latina. O governo entendia que o fortalecimento militar era fundamental para

impedir qualquer tentativa expansionista dos países vizinhos. Com esse forte exército,

também era necessário um grande número de soldados, os quais quando não estavam

de prontidão, eram destinados a trabalhos em obras tais como: construções de

estradas, canais de irrigação e ferrovias, além de ocuparem cargos em empresas

estatais.

O governo de Solano Lopez também investiu muito na educação, procurou

elaborar um programa para alfabetizar a grande maioria da população. Também enviou

jovens ao exterior, principalmente para a Europa, e muitos técnicos estrangeiros vieram

dar aulas no Paraguai. Grande parte da população era composta por camponeses, e

estes ocupavam as terras que estava em poder do Estado, que as cedia para serem

cultivadas pelos agricultores, que colonizavam e produziam, mas não podiam vendê-

las.

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A composição social da população não comportava uma burguesia, e a classe

que possuía maior capital era a dos artesãos, os quais fabricavam produtos para serem

vendidos para o mercado interno. Essa classe produtiva basicamente empregava mão

de obra familiar para desenvolver a sua produção, e era muito rara a presença do

trabalho assalariado. Nas grandes manufaturas pertencentes ao Estado, a mão de obra

era composta pelos soldados que exerciam estas atividades quando não estavam

lutando. A maioria das terras era de propriedade do Estado, que organizava o que

denominava de “fazendas da pátria”, que produziam principalmente erva-mate para a

exportação.

8.1 A Guerra contra o Paraguai

Fonte: g1.globo.com

Geralmente os livros didáticos denominam de Guerra do Paraguai a que se

desenvolveu de 1865 – 1870, mas nós vamos nos basear na nova historiografia e

denominar a investida do Brasil, Argentina e Uruguai contra aquele país. A guerra, que

se estendeu por cinco anos, foi totalmente devastadora para o Paraguai, pois foi

destruído tudo o que os governos haviam construído anteriormente. O Paraguai resistiu

bravamente contra os três países que o atacaram, pois, estes países ainda contavam

com o apoio da Inglaterra. Com essa guerra acabou o sonho de um país com

desenvolvimento autônomo na América Latina, uma vez que os demais países eram

dependentes dos investimentos externos.

A situação do Paraguai era realmente delicada até o início da guerra, uma vez

que o governo de Solano pretendia manter a saída para o mar pelo Rio da Prata, pois

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o país naturalmente não era banhado pelo mar e necessitava uma saída para os

produtos exportáveis, principalmente a erva-mate.

Por outro lado, a Inglaterra apresentava uma política de estranheza em relação

ao Paraguai, não vendo com bons olhos o seu desenvolvimento autônomo, mesmo

porque essa forma de desenvolvimento poderia ser seguida por outro país da

vizinhança e isso não seria nada bom para sua economia. A Inglaterra tinha interesse

em vender seus produtos para o Paraguai, e, desta forma, queria acabar com a política

protecionista de Solano Lopez, ampliando os seus mercados.

Este foi o real motivo para aliar-se, aos demais países do Prata, acabando com

o protecionismo do Paraguai. Com relação ao Brasil, um dos aliados, os problemas

com o Paraguai já haviam começado anteriormente, pois para atingir o Mato Grosso

era necessário navegar pelo Paraguai, e dessa forma toda a vez que um navio

trafegava em águas paraguaias, necessitava pedir uma autorização. Os brasileiros

começaram a fortificar o Mato Grosso para garantir a sua posse, mas também tinham

problemas com as fronteiras, pois as divisas com o Paraguai ainda não estavam bem

definidas, o que provocava graves incidentes.

Por outro lado, a Argentina, também aliada, iniciou uma ofensiva que visava a

fortificar a embocadura dos Rios Paraguai e Paraná, e isso naturalmente afetava

diretamente a navegação do Paraguai, que não conseguia exportar a erva-mate. Com

essa série de problemas e bloqueios a Argentina, o Brasil e o Uruguai uniram-se e

formaram a Tríplice Aliança, que, naturalmente, com o apoio da Inglaterra, era a forma

mais ofensiva de combater o Paraguai.

Sentindo a força ofensiva da Tríplice Aliança, o Paraguai ficou acuado e resolveu

lançar-se à guerra, primeiro com uma ofensiva contra o Brasil, invadindo o Mato Grosso

Solano esperava contar com o apoio das províncias do interior da Argentina, mas não

teve sucesso na tentativa, pois os caudilhos do interior já estavam submetidos ao poder

de Buenos Aires.

No decorrer da guerra, que durou cinco anos, o Paraguai resistiu bravamente

aos adversários, mas teve também muitas baixas. Quando as munições bélicas

começaram a faltar, os soldados paraguaios combatiam com cacos de vidros,

alternativa encontrada para a falta de armas. A Tríplice Aliança foi financiada pela

Inglaterra, portanto, dispunha das melhores armas e munições, e, depois de um

verdadeiro massacre, acabou com o Paraguai, que permaneceu ocupado pelo Brasil

até 1876.

Quando terminou a guerra, metade do território do Paraguai pertencia aos

países integrantes da Tríplice Aliança. O mais impactante, porém, foi a redução da

população, o que comprova que ocorreu um verdadeiro extermínio, pois antes da

guerra havia 1,5 milhão de habitantes, mas no fim do conflito restaram apenas 500 mil.

Isso significa que foram exterminadas nada menos que 1 milhão de pessoas em cinco

anos, e dos que sobreviveram em sua maioria eram mulheres, velhos, inválidos e

crianças.

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A situação ficou muito crítica após a derrota, pois foram destruídos os meios de

produção, as fábricas, os fornos de fundição, tudo ficou arrasado. A maior perda,

todavia, foi o desenvolvimento sustentável que ostentavam, a sua independência

econômica. Todo esse projeto teve fim com a guerra.

A partir da guerra a oligarquia rural conquistou o poder, desenvolvendo o

latifúndio. Enfim, finalmente o capital inglês penetrou no Paraguai, e de um país rico e

independente passou a ser uma nação pobre e subdesenvolvida, suas manufaturas

desapareceram com a concorrência inglesa.2

2 Texto extraído: História da América Meridional / Ivo dos Santos Canabarro. – Ijuí: Ed. Unijuí, 2010.

– 62 P. – (Coleção educação a distância. Série livro-texto). Disponível em:

http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/233/Hist%C3%B3ria%20da%2

0Am%C3%A9rica%20Meridional.pdf?sequence=1.

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9 REFERÊNCIAS

AQUINO, Rubin Santos Leão de. História das sociedades americanas. Rio de

Janeiro: Livraria Eu e Você, 1981.

ARENAL, Celestino del. "La teoría de laservidumbre natural

enelpensamientoespañol de lossiglos XVI y XVII." Historiografía y Bibliografía

Americanistas, 19/20 (1975/76), pp. 67-126.

ARNOLD, David. A época dos descobrimentos. Trad. De Luiz Felipe Barreto.

Lisboa: Editora Grávida, s/d.