HISTÓRIA DA AMÉRICA
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Belo Horizonte - MG
HISTÓRIA DA AMÉRICA
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Sumário
1 O PROCESSO DE EXPANSÃO MARÍTIMA ............................................ 3
1.1 Lusitânia ................................................................................................... 4
2 ORDENS MILITARES E RELIGIOSAS .................................................... 7
2.1 O papel da nobreza .................................................................................. 7
2.2 A importância do mar na formação de Portugal ....................................... 8
2.3 Desenvolvimento Econômico e Social ..................................................... 8
3 O ENCONTRO DA CIVILIZAÇÃO EUROPEIA COM AS ANTIGAS
CIVILIZA-ÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS ...................................................................... 14
3.1 Os Astecas ............................................................................................. 15
3.2 Os Maias ................................................................................................ 18
3.3 Os Incas ................................................................................................. 20
4 A AMÉRICA APÓS A CHEGADA DE COLOMBO .................................. 22
5 FORMAS DE OCUPAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO NAS
COLÔNIAS ENTRE PORTUGUESES, ESPANHÓIS E INGLESES .......................... 26
5.1 O fim do Sistema Colonial ...................................................................... 30
6 A FASE DE INSTABILIDADE POLÍTICO-ADMINISTRATIVA ................ 31
6.1 A Fase de Estabilidade Política e Econômica ........................................ 32
6.2 Exemplo de Estado Oligárquico: a Argentina ......................................... 35
6.3 ROSAS: o caudilho dos caudilhos ......................................................... 36
7 O PROCESSO DE IMIGRAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO ..................... 38
8 O PARAGUAI NO SÉCULO 19 .............................................................. 39
8.1 A Guerra contra o Paraguai ................................................................... 42
9 REFERÊNCIAS ................................................................................... 45
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1 O PROCESSO DE EXPANSÃO MARÍTIMA
Fonte: descomplica.com.br
A condição fundamental para o processo de formação das nações europeias foi
a crise do feudalismo, que teve início em meados do século XIII. Esta crise foi
resultante da relativa paz que vivia o continente europeu, que permitiu a criação dos
burgos (fora dos limites do senhor feudal, que lhes dava proteção em troca da
vassalagem), que viriam a se transformar em vilas ou cidades com relativa autonomia.
Isto provocou o enfraquecimento dos senhores feudais, reduzindo o poder da nobreza
e, consequentemente, abrindo espaço para a retomada do poder político pelos reis.
Os soberanos, à medida que obtinham recursos financeiros, em troca de privilégios,
fortaleciam seus exércitos e submetiam os antigos feudos e as novas vilas e cidades
à sua autoridade, incorporando esses territórios ao que viria ser seus reinos. Era o
embrião do futuro Estado Nacional.
Intensas lutas precederam e consolidaram o Estado português. Iniciou com a expulsão
dos mouros da Península Ibérica em 1249 (os mouros invadiram a Península Ibérica
no ano de 711), no movimento denominado Reconquista, quando Portugal consolidou
seu território e firmou-se como “o primeiro Estado europeu moderno”, segundo o
historiador Charles Boxer. Mas somente após a vitória sobre os Reinos de Leão e
Castela, em 1385, na Batalha de Aljubarrota, e a assinatura do tratado de paz e aliança
perpétua com o Reino de Castela, em 1411, a paz foi selada.
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Portugal iniciou seu processo de expansão ultramarina conquistando aos
mouros a cidade de Ceuta, no norte da África. A partir daí, virou-se para o mar, onde
se tornou dominante. Como não poderia deixar de ser, está empreitada envolveu
somas altíssimas e, para financiá-la, a coroa portuguesa se valeu do aumento de
impostos e recorreu a empréstimos de grandes comerciantes e banqueiros (inclusive
italianos).
1.1 Lusitânia
Fonte: vortexmag.net
A região que hoje é conhecida como Portugal foi originalmente habitada por
populações iberas de origem indo-europeia. Mais tarde, foi ocupada, sucessivamente,
por fenícios (século XII a.C.), gregos (século VII a.C.), cartagineses (século III a.C.),
romanos (século II a.C.) e, posteriormente, pelos visigodos (povo germânico,
convertido ao cristianismo no século VI), desde 624.
Em 711, a região foi conquistada pelos muçulmanos, impulsionados por sua
política de expansionismo, tendo como base uma coligação formada por árabes, sírios,
persas, egípcios e berberes, estes em maioria, todos unidos pela fé islâmica e
denominados mouros. Quase a totalidade da península caiu em mãos dos mouros que,
em seu avanço, só foram bloqueados quando tentaram invadir a França. A resistência
aos invasores só ganhou força a partir do século XI, após a formação dos reinos
cristãos ao norte, como Leão, Castela, Navarra e Aragão. A guerra deflagrada contra
os mouros contou com o apoio de grande parte da aristocracia europeia, atraída pelas
terras que a conquista lhes proporcionaria.
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Fonte: www.redebim.dphdm.mar.mil.br
Durante o reinado de Afonso VI (1069-1109), de Leão e Castela, a partir de
1072, dois nobres franceses – Raimundo e Henrique de Borgonha – receberam como
recompensa pelos serviços prestados na campanha a mão das filhas do rei, além de
terras como dote. D. Raimundo recebeu as terras a norte do Rio Minho, o Condado de
Galiza, e D. Henrique o Condado Portucalense. Estas terras não se constituíam em
reinos independentes e seus proprietários deviam prestar vassalagem ao rei de Leão.
A origem do próprio Estado português se deu com a formação do Condado
Portucalense, sob o domínio de D. Henrique de Borgonha.
Este nobre, tendo o senhorio de ampla região entre os Rios Minho e Mondego,
procurou reforçar, através da luta contra os mouros, seu poderio sobre os demais
senhores de terras daquela área, bem como conseguir autonomia frente aos interesses
do vizinho Reino de Leão, a cujo soberano, como já foi dito, devia vassalagem. O
caráter inicial da formação dos reinos ibéricos, definido pelos aspectos militar e
religioso desenvolvidos nas lutas contra os mouros, marcou as tendências principais
da constituição desses Estados.
De um lado, o processo de expulsão do inimigo muçulmano deu prioridade ao
aspecto militar, o que criou a necessidade de unificação do comando das forças
cristãs, papel exercido pelos senhores de terras mais poderosos das diversas regiões
da península. Por outro lado, o profundo caráter religioso tomado pela Reconquista,
identificada com as cruzadas contra os infiéis muçulmanos, fez com que a Igreja de
Roma tivesse grande interesse no sucesso das forças cristãs.
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As vitórias alcançadas pelos exércitos de D. Henrique mostraram à Santa Sé a
importância que estes vinham adquirindo no sucesso das lutas militares. Assim, os
interesses do senhorio do condado e os do papado iam aos poucos convergindo para
o reconhecimento da autonomia portucalense ante o Reino de Leão. O Tratado de
Zamora, firmado em 1143 entre o Duque portucalense D. Afonso Henriques
(11281185), filho de Henrique de Borgonha, e D. Afonso VII, imperador de Leão,
determinou o reconhecimento por parte deste último da independência do antigo
condado, agora Reino de Portugal.
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2 ORDENS MILITARES E RELIGIOSAS
Outro fator a ser ressaltado diz respeito às ordens militares (ordens de cavalaria
sujeitas a um estatuto religioso e que se propunham a lutar contra os mulçumanos) no
processo da Reconquista. Tais ordens, fundadas com o intuito de auxiliar os doentes
e peregrinos que iam à Terra Santa e, sobretudo, para combater militarmente os
adeptos da fé mulçumana, participaram das batalhas contra os mouros na Península
Ibérica. Seus contingentes, em muitos casos, formaram a base dos exércitos cristãos.
Em consequência dessa atuação, várias ordens receberam doações de terras nos
reinos ibéricos. Em Portugal, as ordens dos Templários, de Avis e de Santiago foram
as mais beneficiadas por tais privilégios.
As ordens, no entanto, não se destacaram apenas pelo seu aspecto militar.
Contribuíram significativamente para o povoamento do território português, a partir das
regiões que lhes foram distribuídas. Em torno de castelos e fortalezas, com efeito,
desenvolveram atividades agrícolas que levaram à fixação da população. Além disso,
foi igualmente importante nesse processo de ocupação territorial a participação das
ordens religiosas cujos membros não atuavam das lutas militares. Os mosteiros e
capelas destas ordens, dentre as quais se destacou a dos beneditinos, tornaram-se
pólos de atração pela segurança que ofereciam a inúmeras famílias. Da mesma forma,
desde a Reconquista, as ordens tomaram a peito a colonização de zonas desertas ou
dizimadas pela guerra, criando novos focos de povoamento e estimulando a
exploração da terra.
2.1 O papel da nobreza
Além de setores diretamente ligados à Igreja, assinala-se também intensa
vinculação da nobreza portucalense na formação do Estado Nacional lusitano. Este
setor social, cujo poder se originava na propriedade da terra, também participou de
forma decisiva nas guerras da Reconquista, apoiando o esforço militar da realeza.
Esta, num primeiro momento, concedeu privilégios bastante amplos à nobreza.
Mais tarde, contudo, pretendeu limitar tais privilégios, impondo medidas que
beneficiavam a centralização do poder.
Uma das providências tomadas nesse sentido foi a autonomia concedida pelo
poder central aos concelhos (que correspondem aos municípios nos dias de hoje),
onde começavam a ter influência as aspirações de comerciantes e mestres de ofício.
O apoio do rei aos concelhos visava a enfraquecer o poder da nobreza fundiária em
sua própria base territorial, impedindo assim que os senhores de terras fizessem
prevalecer livremente seus interesses nas áreas que comandavam, sem levar em
conta as determinações régias. Outro mecanismo de limitação do poder da nobreza foi
o estabelecimento das inquirições. A partir de uma interrupção nas lutas militares
contra os mouros, entre os séculos XII e XIII, a coroa portuguesa buscou avaliar a
situação da propriedade de terras no reino.
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Durante a Reconquista, a nobreza laica e eclesiástica aproveitou-se da falta de
controle régio para alargar seus domínios territoriais e privilégios, prejudicando em
alguns casos os direitos e rendimentos da coroa. Para coibir tal situação, o poder real
utilizou-se das inquirições, pelas quais se formavam comissões de inquérito (alçadas)
a fim de investigar se os direitos reais devidos estariam sendo cumpridos e até mesmo
verificar o direito legal às propriedades.
Tal mecanismo se completava com as confirmações, processo pelo qual o rei
sancionava não só a propriedade da terra como o próprio título nobiliárquico do senhor
em questão. Esses poderes submetiam, de certa maneira, a nobreza eclesiástica e
civil à coroa, já que passavam a depender desta para a preservação tanto do título
quanto da propriedade.
2.2 A importância do mar na formação de Portugal
Paralelamente aos problemas político-territoriais apontados, é digno de
destaque que, além da agricultura, o comércio marítimo e a pesca eram as mais
importantes atividades praticadas em Portugal, país de solo nem sempre fértil e
produtivo. A atividade pesqueira destacou-se como fundamental para complemento da
alimentação de sua população.
Situado em posição geográfica estratégica, à beira do Oceano Atlântico e
próximo ao Mediterrâneo, era de se esperar que desenvolvesse grande devotamento
à navegação e, consequentemente, à construção naval. Natural, também, que a
Marinha portuguesa fosse utilizada em caráter militar, o que ocorreu a partir do século
XII. No reinado de D. Sancho II (1223-1245) podem ser assinaladas as primeiras
tentativas de implantação de uma frota naval pertencente ao Estado, ordenando,
inclusive, a construção de locais específicos nas praias para reparo de embarcações.
2.3 Desenvolvimento Econômico e Social
Durante o reinado de D. Dinis (1279-1325), sexto rei de Portugal (primeiro a
assinar documentos com nome completo e, presumidamente, primeiro rei não
analfabeto daquele país), iniciativas bastante relevantes foram adotadas para o
fomento da cultura, da agricultura, do comércio e da navegação. Denominado O
Lavrador ou Rei Agricultor e ainda Rei Poeta ou Rei Trovador, D. Dinis foi um monarca
essencialmente administrador e não guerreiro. Envolvendo-se em guerra contra
Castela, em 1295, desistiu dela em troca das Vilas de Serpa e Moura. Pelo Tratado de
Alcanizes (1297) formou a paz com Castela, ocasião em que foram definidas as
fronteiras atuais entre os países ibéricos.
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Fonte: www.mundoportugues.pt
Preocupado com a infraestrutura do país, ordenou a exploração de minas de
cobre, estanho e ferro, fomentou as trocas comerciais com outros países, assinou o
primeiro tratado comercial com a Inglaterra, em 1308, e instituiu a Marinha Real.
Nomeou então o primeiro almirante (que se tem conhecimento) da Marinha
portuguesa, Nuno Fernandes Cogominho, para cuja vaga foi contratado, em 1317, o
genovês Pezagno (ou Manuel Pessanha). Data dessa época a chegada dos
portugueses às Ilhas Canárias.
Deve-se também à sua iniciativa a intensificação da monocultura do pinheiro
bravo (Pinhal de Leiria), em princípio, com a finalidade de criar uma barreira vegetal
que protegesse as terras agrícolas do avanço das areias costeiras e, também, como
reserva florestal para o fornecimento de madeira destinada à construção naval e à
exportação.
O cultivo era extremamente racional: sempre que havia corte de árvores, novas
mudas eram plantadas de imediato, recorrendo-se a enormes sementeiras. Esta ação
manteve o pinhal praticamente intacto e foi bastante utilizado durante os séculos XV e
XVI, no período dos descobrimentos marítimos. Além de fornecer madeira para a
construção naval, o pinho fornecia um subproduto importantíssimo para conservação
e calafeto dos cascos das embarcações: o chamado pez, alcatrão vegetal de grande
poder de vedação. É notável que o Pinhal de Leiria exista até os dias de hoje,
constituindo uma das maiores manchas naturais da região do norte do distrito de
Leiria.
No reinado de D. Fernando I (1367-1383), último soberano da dinastia de
Borgonha, foi baixada a Lei de Sesmarias, de 28 de maio de 1375. Tendo como medida
coercitiva mais rígida a expropriação das terras não produtivas, essa lei foi mais uma
tentativa de solucionar a carência de mão-de-obra no campo, causada pela fuga das
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populações para os centros urbanos, devido à peste negra. O resultado foi uma séria
crise de abastecimento de gêneros alimentícios no reino.
A Lei de Sesmarias, que mais tarde seria aplicada no Brasil, teve pouco efeito
prático. Seus artigos, apesar de conterem ameaças aos proprietários de terras,
atuaram no sentido de fortalecê-los, pois obrigavam os trabalhadores a permanecerem
nos campos, mesmo em troca de baixa remuneração.
Ainda durante o reinado de D. Fernando I, a construção naval recebeu grande
incentivo, mediante a isenção de impostos e a concessão de vantagens e garantias
aos construtores navais, tais como a autorização aos construtores de embarcações
com mais de cem tonéis que cortassem a madeira necessária nas matas reais com
isenção de impostos. Também ficou isenta de impostos, a matéria-prima importada
destinada à construção naval. Em 1380, o monarca criou a Companhia das Naus, que
funcionava como uma empresa de seguros destinada a evitar a ruína financeira dos
homens do mar. Como resultado, incrementaram-se o comércio marítimo, a
exportação de produtos da agricultura e a importação de tecidos e manufaturas. As
rendas da Alfândega de Lisboa, considerado porto franco, aumentaram
significativamente e era intensamente frequentado por estrangeiros.
Outra importante iniciativa de D. Fernando foi a instalação da Torre do Tombo,
o Arquivo Nacional Português, onde se guardavam documentos importantes que
preservavam a memória e a história de Portugal. Foi-lhe dado este nome porque ficava
sediado numa torre do Castelo de São Jorge, e tombo, porque significava lançar em
livro, inventariar, registrar.
D. Fernando I envolveu-se em três guerras contra Castela e passou a ser
malvisto pela opinião pública por seu casamento com Dona Leonor Teles (cujo
casamento anterior fora anulado). Após a morte de D. Fernando, os portugueses não
aceitaram a regência da rainha viúva em nome da filha, a Infanta Dona Beatriz, casada
com um potencial inimigo, o rei de Castela. Este fator, somado à continuidade da crise
de abastecimento, deflagrou a Revolução de Avis.
Após deliberação das Cortes, foi aclamado rei o Mestre da Ordem de Avis, D.
João I (1385-1433), filho bastardo do oitavo rei de Portugal D. Pedro I (1357-1367), a
quem caberia inaugurar uma nova dinastia. Vitoriosa em Lisboa, a revolta transformou-
se em movimento de fidalgos e plebeus em guerra contra Castela, cujo rei declarou
pretensão à coroa portuguesa. Os castelhanos foram vencidos em várias batalhas e,
embora tenham bloqueado Lisboa, foram, afinal, fragorosamente derrotados na
Batalha de Aljubarrota (1385). A paz só foi selada em 1411.
Outra consequência importante dos fatos apontados foi a renovação da
aristocracia portuguesa. Os setores que haviam apoiado Castela tiveram seus bens
confiscados pela coroa, a qual os doou em parte aos seus aliados. Com tal divisão na
nobreza, houve até mesmo casos em que pais perderam os bens para seus próprios
filhos. Além disso, o apoio dos grupos mercantis a D. João I fez com que as aspirações
de tais grupos passassem a ser valorizadas pelo poder régio. A situação econômica
do reino, ao sair vitoriosa da revolução, era uma das mais graves. A alta do custo de
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vida e a queda do valor da moeda colocaram o tesouro português em situação bastante
difícil.
A nobreza também teve suas bases de poder atingidas pelo movimento de
centralização régia, com a colocação em prática da Lei Mental. Por meio dessa lei,
baixada por D. Duarte (1433-1438) em 8 de abril de 1434, os bens doados pela coroa
à nobreza só poderiam ser herdados pelo filho varão legítimo mais velho. Isso permitiu
à coroa retomar uma série de propriedades antes doadas às famílias nobres,
reforçando seu poder e, de alguma maneira, minando as bases do poderio senhorial.
Tal processo de centralização do poder foi o elemento essencial que permitiu ao
reino português lançar-se na expansão ultramarina. Deve-se destacar ainda que os
limites da extração das rendas obtidas com a agricultura fizeram a coroa voltar seus
olhos às atividades comerciais e marítimas.
O monopólio exercido pelas cidades italianas de Gênova e Veneza sobre as
rotas de comércio com a Ásia levou os grupos mercantis portugueses a procurar outra
alternativa para a realização de seus negócios e, consequentemente, para obtenção
de lucros. A saída seria a tentativa de contato direto com os comerciantes árabes,
evitando o intermediário genovês ou veneziano. Para isso muito contribuiu a estrutura
naval já existente no reino, cujo desenvolvimento foi estimulado pela coroa.
A expansão marítima portuguesa caracterizou-se por duas vertentes. A primeira,
de aspecto imediatista, realizada ao norte do continente africano, visava à obtenção de
riquezas acumuladas naquelas regiões através de prática de pilhagens. A tomada de
Ceuta, no norte da África (Marrocos), em 1415, seria um dos exemplos mais
representativos deste tipo de empreendimento e marca o início da expansão
portuguesa rumo à África e à Ásia.
Em menos de um século, Portugal dominou as rotas comerciais do Atlântico Sul,
da África e da Ásia, cuja presença foi tão marcante nesses mercados que, nos séculos
XVI e XVII, a língua portuguesa era usada nos portos como língua franca – aquela que
permite o entendimento entre marinheiros de diferentes nacionalidades. Na segunda
vertente, o objetivo colocava-se mais a longo prazo, já que se buscava conquistar
pontos estratégicos das rotas comerciais com o Oriente, criando ali entrepostos
(feitorias) controlados pelos comerciantes lusos. Foi o caso da tomada das cidades
asiáticas. Tal modo de expansão também ficou marcado pelo aspecto religioso
(cruzadas), pois mantinha-se a ideia de luta cristã contra os muçulmanos.
A expansão ultramarina permitiu, assim, uma convergência de interesses entre
os setores mercantis e a nobreza, tendo o Estado o papel de controle e direção de tal
empreendimento. O monopólio do comércio dos produtos asiáticos e o tráfico de
escravos africanos (mão-de-obra para as regiões produtoras de matérias-primas)
enriqueciam não só os grupos mercantis, como geravam vultosas receitas para o
tesouro régio, as quais a coroa, em certa medida, repassava à nobreza através da
doação de mercês, bens móveis e de raiz, bem como de privilégios.
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• Entre 1421 e 1434, os lusitanos chegaram aos Arquipélagos da Madeira
e dos Açores e avançaram para além do Cabo Bojador. Até esse ponto,
a navegação era basicamente costeira.
• Em 1436 atingiram o Rio do Ouro e iniciaram a conquista da Guiné. Ali
se apropriaram da Mina, centro aurífero explorado pelos reinos nativos
em associação aos comerciantes mouros, a maior fonte de ouro de toda
a história de Portugal até aquela data.
• Em 1441, chegaram ao Cabo Branco.
• Em 1444, atingiram a Ilha de Arguim, no Senegal, onde instalaram a
primeira feitoria em território africano e iniciaram a comercialização de
escravos, marfim e ouro.
• Entre 1445 e 1461, descobriram o Cabo Verde, navegaram pelos Rios
Senegal e Gâmbia e avançaram até Serra Leoa.
• Entre 1470 e 1475, exploraram a costa da Serra Leoa até o Cabo de
Santa Catarina.
• Em 1482, atingiram São Jorge da Mina e avançaram até o Rio Zaire, o
trecho mais difícil da costa ocidental africana. O navegador Diogo Cão
explorou a costa da África Ocidental entre 1482 e 1485.
• No período 1487/1488, Bartolomeu Dias atingiu o Cabo das Tormentas,
no extremo Sul do continente – que passou a ser chamado de Cabo da
Boa Esperança – e chegou ao Oceano Índico, conquistando o trecho
mais difícil do caminho das Índias.
• Em 1498, Vasco da Gama chegou a Calicute, na costa Sudoeste da
Índia, estabelecendo a rota entre Portugal e o Oriente.
Durante o reinado de D. João II, iniciado em 1481, a expansão ultramarina
atingiu o auge com os feitos dos navegadores Diogo Cão e Bartolomeu Dias.
Abriramse, desse modo, novas e extraordinárias perspectivas para a nação
portuguesa. O negócio das especiarias do Oriente, levadas para a Arábia e para o
Egito pelos árabes e dali transportadas aos países europeus, por intermédio de Veneza
– que enriquecera com o tráfico –, vai se concentrar em novas rotas, deslocando o foco
do comércio mundial do Mediterrâneo para o Oceano Atlântico.
Foi justamente um genovês, Cristóvão Colombo, quem abalou as pretensões de
D. João II na sua política expansionista, ao descobrir a América em 1492. No retorno
de sua famosa viagem, Colombo avistou-se com o rei de Portugal comunicando-lhe a
descoberta. Anteriormente, o mesmo Colombo já havia oferecido seus serviços ao
soberano português, que recusou a oferta baseado em informações dadas pelos
cosmógrafos do reino, levando o genovês a dirigir-se a Castela, onde obteve apoio
financeiro para sua famosa viagem.
Abalado com as notícias trazidas por Colombo, D. João II cogitou em mandar
uma expedição em direção às terras recém descobertas, convencido de que lhe
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pertenciam por direito. Pouco depois, a questão foi arbitrada por três bulas do Papa
Alexandre VI, que concederam à Espanha os direitos sobre as terras achadas por seus
navegadores a ocidente do meridiano traçado a cem léguas a oeste das Ilhas dos
Açores e de Cabo Verde.
Os portugueses discordaram da proposta e novas negociações resultaram na
assinatura do Tratado de Tordesilhas (cidade espanhola) em 7 de junho de 1494, que
garantiu à coroa portuguesa as terras que viessem a ser descobertas até 370 léguas
a oeste do Arquipélago de Cabo Verde. As terras situadas além desse limite
pertenceriam à Espanha.
D. João II morreu em 1495 e coube ao seu sucessor, D. Manuel, dar
continuidade ao projeto expansionista. Durante sua gestão aconteceu a famosa
viagem de Vasco da Gama, que partiu do Rio Tejo em julho de 1497, dobrou o Cabo
da Boa Esperança, transpôs o Rio Infante, ponto extremo da viagem de Bartolomeu
Dias, reconheceu Moçambique, Melinde, Mombaça e, em maio de 1498, após quase
um ano de viagem, chegou a Calicute, na Índia.
A façanha de Vasco da Gama colocou Portugal em contato direto com a região
das especiarias, do ouro e das pedras preciosas, e, como consequência, a conquista
do quase total monopólio de tais produtos na Europa, abalando seriamente o comércio
das repúblicas italianas. A conquista da rota marítima para as Índias assumiu, na
época, importância revolucionária e suas consequências imediatas empalideceram até
mesmo o maior acontecimento da história moderna das navegações: o descobrimento
da América por Cristóvão Colombo.1
1 Texto extraído: Introdução a História Marítima brasileira. Disponível em:
www.redebim.dphdm.mar.mil.br › vínculos.
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3 O ENCONTRO DA CIVILIZAÇÃO EUROPEIA COM AS ANTIGAS CIVILIZA-
ÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS
Fonte: historiazine.com
Esta expressão, “América pré-colombiana”, é empregada amplamente na
historiografia para designar o longo período histórico que os povos americanos viveram
antes da chegada de Cristóvão Colombo na América em 1492, ano tido como um
marco histórico, pois a partir daí os nativos que viviam aqui na América foram
incorporados à História Moderna.
Essa incorporação não significou um processo de igualdade de relações, muito
pelo contrário, os europeus impuseram o seu etnocentrismo, pois se consideravam
superiores aos nativos, que não eram considerados cristãos. O mais importante a
salientar, contudo, é que estes nativos tiveram as suas vidas totalmente transformadas,
sendo subjugados ao processo de colonização. A entrada da América na História
Moderna significou uma incorporação ao que podemos denominar de précapitalismo,
com o início de uma nova fase no sistema produtivo europeu. A partir das grandes
navegações alguns países europeus conquistaram terras e riquezas no Novo Mundo.
Espanha e Portugal foram agressivos neste processo de expansão, pois investiram
capitais e conhecimentos para conquistar riquezas além-mar.
Antes da chegada de Colombo à América já havia uma história, não ligada à
Europa, mas dos nativos que viviam neste espaço. O importante é preservar as
diferentes formas de vivências dos nativos para não cometermos o erro de chamá-los
de bárbaros ou selvagens somente porque não tinham os mesmos hábitos dos
europeus. A organização social dos nativos era bem diferente daquela do europeu,
mas isso não os tornava inferiores, ao contrário do que defendem alguns historiadores,
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que revelando uma atitude etnocêntrica, os denominam de bárbaros, selvagens e
pagãos. Devemos entender que as culturas têm a sua própria organização, e no caso
dos nativos, eles viviam em diferentes estágios de desenvolvimento, o que os tornava
também diferentes entre si, sem, contudo, que essa diferença seja motivo para que os
classifiquemos como inferiores.
A História da América antes da chegada de Colombo já era vivida pelo menos
há aproximadamente 20 mil anos, ou seja, já tinha a sua própria trajetória,
independente da Europa, não fazendo parte das classificações históricas dos povos
europeus. Os nativos que viviam aqui na América atingiam um número extremamente
expressivo, estima-se que eram aproximadamente 50 milhões de pessoas, mas seus
estágios de desenvolvimento eram bem diferentes, vivendo, em sua maioria, em tribos.
Alguns, inclusive, ainda no estágio da pedra lascada, pois eram várias etnias e grupos
linguísticos, e outros, por sua vez, habitavam cidades, apresentando uma organização
social mais complexa.
Os nativos tinham os seus próprios credos, os seus deuses, diferentes daquele
dos cristãos, gerando, com isso um estranhamento por parte do europeu, que
procurava catequizá-los. Esses diferentes estágios de desenvolvimento dos nativos
foram decisivos para impor todo o processo de colonização, facilitando ou dificultando
a dominação imposta pelo espanhol. A imposição do processo de ocupação e posterior
colonização foi totalmente dramática para os nativos, pois estes ainda não haviam feito
contatos com os brancos, o que de imediato já causou uma série de problemas, desde
doenças contagiosas que ocasionaram a morte de populações nativas que não
possuíam resistência àqueles tipos de vírus e bactérias.
O que mais dizimou, no entanto, foram realmente os saques que os espanhóis
faziam, devastando os povoados em busca de metais preciosos e, mais tarde, com o
próprio processo de escravização do nativo. Alguns historiadores chegam a comentar
que esse foi um verdadeiro cataclismo demográfico, ou seja, uma destruição em massa
da população nativa. É importante destacar e ter sempre em mente que na América
viviam nativos em diferentes estágios de povoamento, o que torna ainda mais
complexo entender o processo de ocupação.
Vamos num primeiro momento apenas fazer alguns comentários sobre estas
comunidades ou, como alguns denominam, estas civilizações, por ser uma abordagem
ilustrativa para compreendermos a diversidade da ocupação. Serão feitas algumas
considerações sobre os astecas, maias e incas, mas não pretendemos aqui esgotar o
assunto, fazendo apenas uma ilustração destes povos que foram fundamentais para a
história da América pré-colombiana.
3.1 Os Astecas
As primeiras considerações sobre os astecas descrevem o seu processo de
ocupação no vale do México, mais precisamente às margens do grande Lago Texcoco.
Neste local surgiram os primeiros povoados ou civilizações, originários de vários povos
que se constituíram como os astecas propriamente ditos. Os astecas foram os últimos
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a chegarem neste vale. Eram não só provenientes de Astlán, uma região situada no
noroeste do México, como também eram oriundos do sul dos Estados Unidos, vindo a
ocupar este vale e formando ali uma civilização bem organizada em todos os aspectos.
Os astecas ocupavam grande parte do vale do México, e para isso enfrentaram
muitos obstáculos, pois naquele espaço já existiam outras comunidades. Foi realmente
um processo de conquista, um processo de ocupação que se deu lentamente, pois os
astecas foram aos poucos dominando o espaço, criando suas comunidades e também
as suas cidades.
Construíram a cidade de Tenochtitlán, localizada às margens do Lago Texcoco,
local onde se encontra atualmente a Cidade do México. Esse processo de criação de
cidades foi lento, pois foram construindo aos poucos as cidades de Texcoco e, mais
tarde, Tlacopán. Desta forma foi criado um conjunto de cidades nas quais os astecas
estabeleceram os seus domínios sobre os demais povos que ocupavam os espaços
próximos, com isso formado um verdadeiro império, não sem lutas e violência, pois
enfrentaram a resistência dos demais povos.
Fonte: www. historiazine.com
A cidade de Tenochtitlán ficava exatamente às margens do Lago de Texcoco,
sendo uma região muito pantanosa, apresentando condições de produção muito
complexas. Naquele tempo, uma das principais atividades produtivas era a pescaria, e
também aproveitavam as terras ao longo do lago, que eram pantanosas, para produzir
hortaliças. Com o processo de conquistas de outras terras foram intensificados a
agricultura, criando várias técnicas de plantio e irrigações, sendo possível produzir
vários tipos de cereais e outros alimentos, tais como: milho, feijão, melão, baunilha,
cacau, pimentão e mesmo o algodão.
Como podemos perceber, essa agricultura era bem desenvolvida, permitindo o
sustento e inclusive o acúmulo de excedentes. Neste contexto, a plantação do cacau
foi fundamental para o seu beneficiamento, produzindo o conhecido chocolate, o qual,
mais tarde, com a colonização, levado à Europa. A organização da propriedade da
terra também era diferente da atual, pois para os astecas ela era, em sua maioria,
coletiva, ou seja, de propriedade do Estado, praticamente não existindo a propriedade
privada como conhecemos hoje. A distribuição da terra ocorria da seguinte maneira:
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cada um dos adultos ou famílias recebiam um pedaço de terra para ser cultivada, na
qual deveria produzir para a família e mais tarde também para guardar como
excedente.
Com a expansão dos astecas e conquistas de novas áreas iniciou-se a
ocupação privada da terra. Nestas novas áreas conquistadas eram criadas o que
chamamos de fazendas (uma grande propriedade de terras); estas terras privadas
passaram a pertencer aos nobres, pois a sociedade era dividida em castas (o que
chamamos atualmente de classes sociais). Os excedentes produzidos eram
comercializados nas cidades, não era utilizada moeda, mas a troca era em forma de
escambo, quer dizer, produto trocado por produto. A estrutura da sociedade para os
astecas mudou muito desde a sua chegada no vale do México, pois logo que ocupavam
o espaço eles formavam uma sociedade mais homogênea, ou seja, mais igualitária, e
governada por sacerdotes. Com o processo de ocupação foi se formando e
complexificando uma verdadeira sociedade de classes.
A divisão social era a seguinte: uma classe dominante (como em toda a
sociedade) formada pelos denominados nobres, que eram chefes guerreiros e os
sacerdotes. Depois destes havia uma classe média, formada pelos comerciantes, que
acumulavam riquezas, não com moedas, mas com um grande volume de produtos que
iam adquirindo ao longo do tempo nas atividades comerciais. O povo propriamente dito
era dividido em duas camadas: os que eram classificados como cidadãos comuns e os
mais baixos, os escravos.
Os cidadãos comuns que, em sua maioria, dedicavam-se ao cultivo da terra,
eram realmente os trabalhadores, mas também podiam praticar o pequeno comércio e
o artesanato. As suas obrigações com o Estado eram várias, pois pagavam os
impostos, também prestavam o serviço militar e eram convocados a realizar trabalhos
obrigatórios, como na construção da infraestrutura (ruas, pontes, canais e templos). Os
escravos eram geralmente os capturados como prisioneiros de guerras, e alguns
sacrificados em nome do Deus-Sol. Os demais eram condenados pela justiça, como
também por dívidas que não podiam pagar.
Os astecas possuíam uma vida cultural bem variada, sua formação cultural foi
decorrente da junção das diversas manifestações dos povos que habitavam o vale do
México. Os astecas desenvolveram muitos conhecimentos na área da astronomia, e
os aplicavam na prática da agricultura. Também desenvolveram a Astrologia e a
Matemática. O desenvolvimento da arquitetura foi fenomenal, pois construíram
grandes cidades, e suas construções encantaram inclusive os próprios espanhóis. A
cidade mais importante foi Tenochtitlán, a qual chegou a contar com aproximadamente
500 mil habitantes. Esta cidade era realmente formidável, tendo sido, inclusive,
comparada à Veneza, pois contava com inúmeros canais.
A cidade possuía até aquedutos para o fornecimento de água. A vida cultural
também era intensa, e o sistema educacional estava dividido em duas partes, ou tipos
de escolas: a escola Calmecac, local onde estudavam os filhos dos nobres, e a escola
Telpochcalli, frequentada pelos jovens do povo.
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3.2 Os Maias
Fonte: revistagalileu.globo.com
Os maias habitavam uma extensa região, que atualmente compreende o sul do
México, Guatemala Honduras e Honduras Britânica. Essa região começou a ser
habitada aproximadamente em 300 a.C., o que significa que estes povos já tinham toda
uma história antes da chegada de Colombo na América. A história dos maias divide-
se em períodos que compreendem três fases: pré-Maia, de 300 a 317; o Antigo
Império, 317 a 987, e finalmente o Novo Império, que vai de 987 a 1697.
A primeira fase, conhecida como Pré-Maia, é pouco estudada, pois os indícios
documentais são raros, mas entende-se que nessa fase teve início a produção do
milho, como também o começo da construção das cidades. A segunda fase, o Antigo
Império, foi um período marcado pelo estabelecimento de um Estado com
características centralizadoras. Nessa época as cidades maias foram dirigidas pelos
monarcas divinos, sendo estes os grandes proprietários de terras, que determinavam
como deveriam ser os trabalhos obrigatórios que a população precisava cumprir. Já na
terceira fase, o Novo Império, as cidades reconquistaram a sua independência.
A principal atividade econômica dos maias era a agricultura, e as terras eram de
propriedade do Estado. Os produtos cultivados eram os mais diversos, mas
basicamente plantavam milho, algodão, feijão, tomate, batata, cacau, etc. Como a
agricultura era a principal atividade, eles lhe dedicavam muita atenção e as técnicas
eram aplicadas sempre para conseguir uma maior produtividade, destacando-se, por
exemplo, a irrigação. Ao mesmo tempo também praticavam a queimada, o que
contribuía para o esgotamento dos solos.
HISTÓRIA DA AMÉRICA
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Fonte: cyberclio.wordpress.com
Os historiadores são unânimes em afirmar que o cultivo do milho era realmente
uma atividade expressiva, e consistia em a base da alimentação dos maias, e por ser
uma cultura fácil de praticar, eles dedicavam grande parte de seu tempo a outras
ocupações. As demais atividades eram destinadas à construção de cidades e
magníficas obras arquitetônicas, como seus templos.
A sociedade maia também tinha a sua complexidade, e era basicamente dividida
em classes: a primeira classe incluía os considerados nobres, e constituíamse em
chefes guerreiros; também mantinham a liderança com as tarefas de toda a
administração pública. A classe dos sacerdotes era considerada a segunda na
hierarquia; eles controlavam as atividades religiosas e culturais. O povo fazia parte
desta classe e também exercia várias atividades, como as produtivas, pagamento de
impostos, prestação de serviço militar e trabalhos obrigatórios para o Estado. A terceira
classe na hierarquia era a dos escravos, não muito numerosa, e formada por
prisioneiros de guerras e também condenados pela justiça.
A população total dos maias era estimada em aproximadamente 15 milhões de
pessoas, e as famílias eram a base da sociedade, mantendo a preocupação de
amparar os velhos. A arquitetura maia era extremamente desenvolvida, pois
construíram extraordinárias cidades com templos, palácios e observatórios. Isso tudo
ainda pode ser visitado, servindo como testemunho do desenvolvimento desta
civilização, que impressionou pelo seu esplendor.
A questão cultural, porém, não está restrita à cultura material, ela também pode
ser percebida nas ciências, por exemplo, na própria astronomia, considerada tão
desenvolvida quanto a europeia na época dos descobrimentos. Os instrumentos da
cultura material também são expressivos, pois já trabalhavam com alguns metais como
o ouro e a prata. Também utilizavam a pedra polida para a confecção de instrumentos,
tanto para o trabalho, quanto para a guerra. Quanto às suas crenças, eram adeptos
aos deuses da natureza.
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3.3 Os Incas
Os incas também organizaram um verdadeiro império, formado ao longo dos
tempos, num processo de conquistas de outros povos que habitavam a sua região de
abrangência. O local ocupado pelos maias era extremamente vasto, compreendendo
uma região de aproximadamente 950.000 Km2, localizada em parte da Colômbia,
norte da Argentina e Chile.
Fonte: www.historiazine.com
Esta região é configurada geograficamente pela Cordilheira dos Andes, ou seja,
um local de difícil ocupação por questões climáticas. Essa região era ocupada há muito
tempo, mesmo antes da chegada dos incas, mas a documentação arqueológica não
permite um estudo mais detalhado dessa fase da ocupação.
A partir do ano 600 este espaço foi ocupado pelos Chimu, que desenvolveram
amplamente os processos de irrigação, possibilitando a agricultura. Os Chimu
fundaram a cidade de Chan-Chan, sua capital, que contou com aproximadamente 80
mil pessoas. Os incas foram sucessores dos Chimu. Os incas, segundo os estudos,
eram oriundos da região amazônica e pertenciam à etnia quíchua. Tinham a
característica de serem bons guerreiros e conquistadores, e com isso alastraram-se
até as terras altas do Peru, conquistando Cuzco. A partir daí as guerras continuaram
no processo de conquistas e expansões, que durou praticamente três séculos,
submetendo ao seu domínio vários povos andinos.
Este processo teve várias fases, mas pode-se citar a conquista do Império
Chimu e da cidade de Tiahuanaco. Este longo processo de expansão é marcado pela
conquista de povos e cidades, bem como pela assimilação de culturas mais
desenvolvidas. A expansão dos incas ocorreu devido as suas constantes guerras e
busca de riquezas, consequentemente incorporando povos, culturas e bens materiais.
Antes da chegada dos espanhóis eles formavam um verdadeiro império, com
praticamente 8 milhões de habitantes, divididos em vários grupos étnicos.
Os povos andinos tinham muitas dificuldades de sobreviver num clima e relevo
extremamente hostil e, sendo assim, criaram muitas técnicas para desenvolver a
agricultura naquele espaço. A agricultura destes povos pré-colombianos era bem
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adiantada, cultivando muitas espécies de alimentos. Para isso várias técnicas foram
sendo experimentadas para dominar o clima e a geografia, desenvolveram a irrigação,
transformando a área desértica em local produtivo, irrigado com as águas das geleiras.
Esse processo agrícola foi realmente bem desenvolvido, inclusive realizavam
fertilização dos solos, utilizando o guano como adubo, resíduo proveniente dos
excrementos das aves marinhas. Todo este trabalho de agricultura e realização de
obras de infraestrutura exigia um grande esforço coletivo, e para isso realizavam
mutirões para dar conta destas atividades.
Essa relação com a terra é semelhante aos demais impérios, pois em quase
todos ela era propriedade do Estado. Com os incas este processo se repete, uma vez
que não havia a propriedade privada da terra, e sim, a organização em unidades
produtivas chamadas de ayllu. O ayllu consistia num agrupamento de várias tribos num
mesmo território, dividido em partes que compreendiam as terras destinadas ao Deus-
Sol, ao imperador e às da comunidade. Nestes ayllu havia a prática da mita, ou seja,
de trabalhos obrigatórios. Quanto às práticas do comércio, não havia moedas e as
trocas eram também em forma de escambo, ou seja, produto trocado por produto. Os
impostos eram pagos pela mita. Toda a produção excedente era armazenada pelo
Estado, para enfrentar eventuais desastres naturais, como também para sustentar os
nobres, sacerdotes e mesmo os militares, os quais dependiam do auxílio do Estado.
Como todo império, os incas também se dividiam em classes sociais, as quais
compreendiam o clero, a nobreza e naturalmente o povo. O clero, responsável pela
parte espiritual do império, tinha como responsabilidade a magia e os rituais. A nobreza
era constituída pela família do nobre, ou seja, do imperador inca; também faziam parte
dela os chefes guerreiros e os denominados curacas. O povo era constituído
basicamente pelos camponeses, os quais muito cedo casavam e permaneciam
morando no ayllu, praticando a agricultura e prestando a mita. Quanto às formas de
união, as pessoas casavam um tempo depois de morar juntos, e os nobres podiam
praticar a poligamia.
No que se refere à administração política, havia uma concentração de poder nas
mãos da família do Inca, ou seja, do imperador. Era um tipo de império teocrático, pois
o domínio era exercido em nome do Deus-Sol. Seus poderes estendiam-se ao papel
de chefe civil, poder militar e religioso, e realmente havia uma concentração de poder
na sua figura. O processo de sucessão dos imperadores era extremamente complexo,
ocorrendo disputas que incluíam guerras e desordens políticas. Este processo de luta
pelo poder serviu para enfraquecer o império, abrindo uma brecha para a conquista
por parte dos espanhóis.
O grande império era dividido em províncias, cada uma delas com um
governador, havendo uma estrutura política bem organizada, o que possibilitava a
perfeita comunicação dentro do império. A vida cultural dos incas foi extremamente
desenvolvida, pois estes herdaram um significativo patrimônio cultural dos povos da
região andina, incorporando vários elementos destes em sua cultura. Na cultura
material destaca-se a arquitetura, com a construção de grandes edifícios utilizandose
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de pedras irregulares que se encaixavam perfeitamente. Este patrimônio cultural pode
ser constatado nas cidades de Cuzco e Machu Picchu, que são exemplos desta cultura.
Os incas também possuíam um sistema numérico decimal, e eram muito
eficientes na metalurgia, trabalhavam com ouro, prata, cobre e bronze. A tecelagem
também foi extremamente desenvolvida, cuja técnica está presente inclusive nos dias
atuais. Essas três civilizações podem ser consideradas as mais desenvolvidas da
América Pré-colombiana, pois viviam em cidades e possuíam formas de produção bem
organizadas, mas mesmo assim foram dominadas e saqueadas pelos espanhóis, e
não conseguiram resistir ao invasor.
Isso não significa que seus integrantes não reagiram aos ataques dos
espanhóis, pois os relatos dos religiosos revelam que os conflitos foram devastadores
para a população nativa, que assistiu à destruição de suas cidades e organizações
sociais. Com a finalidade de saquear as riquezas, os espanhóis realmente colocavam
fogo nos povoados, matavam a população, não tinham nenhuma piedade, e por incrível
que possa parecer, ainda se apresentavam como cristãos que levavam o nome de
Deus para os pagãos.
Os nativos que ocupavam mais o sul da América ainda viviam no estágio da
pedra lascada e polida, não pertenciam às grandes civilizações e a sua vivência ainda
era em forma tribal, sofrendo também os ataques dos espanhóis, que procuravam
riquezas, principalmente metais.
4 A AMÉRICA APÓS A CHEGADA DE COLOMBO
Fonte: noticiasaominuto.com
Com a chegada de Colombo, em 1492, a América entra para o mundo moderno,
ou seja, passamos a integrar a modernidade, e com o início do pré-capitalismo vamos
fazer parte de um mundo cuja forma de produção estava em transformação. A busca
de riquezas fora do continente europeu fazia parte do mercantilismo, que procurava
metais para incrementar a economia. Quando os espanhóis chegaram na América
ocorreu um verdadeiro choque de culturas, e, na realidade, este foi um acontecimento
nefasto para os nativos, mas muito lucrativo para os colonizadores. Neste cenário de
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transformações, a cultura dos nativos passava por uma profunda alteração, pois com
a convivência com uma nova forma de organização social e o início do processo de
colonização, a partir daí passariam a ser colônias de exploração da Espanha.
Logo na chegada os espanhóis foram adentrando no território à procura de
riquezas. Este processo foi de submissão dos nativos, para inseri-los no novo sistema
econômico estabelecido pelos conquistadores. Esse sistema pode ser designado como
colonial mercantilista, ou seja, já estávamos pertencendo ao pré-capitalismo europeu,
com todas as consequências que isso poderia gerar, e que realmente foram
desastrosas para os nativos. A instituição do sistema colonial fazia parte de todo um
processo mais amplo de mudança do feudalismo para o capitalismo. Com a chegada
na América efetivou-se este sistema colonial estabelecendo relações de exclusividade
entre as metrópoles e as colônias. Assim, tudo o que era explorado e produzido nas
colônias era destinado para os países colonizadores.
Fonte: www.infoescola.com
Neste sentido, podemos afirmar que este sistema econômico era complementar
ao pré-capitalismo europeu, ou seja, os metais preciosos eram todos enviados para o
país colonizador, além dos produtos tropicais e matérias-primas. A organização do
sistema colonial foi extremamente rígida, pois a Espanha criou todo um aparato para
garantir a dominação nos territórios conquistados, além de estabelecer as formas de
produzir riquezas, organizando as formas de trabalho de acordo com o próprio sistema
mercantilista. O aparato criado pela Espanha era complexo, havia o Conselho das
Índias, tendo a tarefa de organizar as questões judiciais, legislativas, militares e
eclesiásticas. Já a Casa de Contratação era responsável pelo comércio. Toda a parte
administrativa era regulamentada pelos vice-reis, que se instalavam por todo o território
conquistado, formando o seu núcleo de poder, mas subordinado às metrópoles.
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O poder mais local era representado pelos cabildos e ayuntamientos, que
consistiam em órgãos locais de poder; seus representantes eram os descendentes de
espanhóis nascidos na América. A organização dos territórios conquistados foi
distribuída em vice-reinados e capitanias gerais. Foi a forma encontrada para controlar
a administração com os vice-reis e os capitães encarregados de manter a estrutura de
poder representando a Espanha e seus interesses na América. A distribuição dos vice-
reinados ficou assim estabelecida: vice-reinado da Nova Espanha; vice-reinado da
Nova Granada; vice-reinado do Peru; vice-reinado do Rio da Prata, além de algumas
capitanias gerais.
O vice-reinado da Nova Espanha se expandia pelo oeste dos Estados Unidos,
o atual México e uma parte da América Central, e, como podemos observar nos
diferentes mapas (disponíveis na biblioteca), era um território muito extenso. Convém
salientar que o México e o Peru foram importantes centros produtores para o sistema
colonial, com grande parte da produção consistindo na extração de metais preciosos,
pois era o que a Espanha procurava naquele período.
Com a decadência da extração de metais, iniciou-se o sistema produtivo
agrícola, com isso dividindo as terras e utilizando-se da mão de obra indígena. A
divisão das terras formou as grandes propriedades, as denominadas fazendas, que
eram unidades produtivas rurais praticamente isoladas do poder da Espanha. Os
proprietários das terras, que exploravam os tributos e o trabalho dos indígenas, eram
os espanhóis e seus descendentes. As grandes propriedades também eram
exploradas pela Igreja mexicana, um dos maiores latifundiários do vice-reinado. Os
índios eram os mais explorados, posto que não possuíam direitos, apenas trabalhavam
nas grandes fazendas e nas minas. A localização do vice-reinado da Nova Granada
compreende os atuais territórios da Colômbia, Panamá e Equador, sendo estes
territórios os primeiros a ser ocupado pelos espanhóis, nele sendo criados os primeiros
povoamentos. Foi a partir daí que os espanhóis se deslocaram para a conquista dos
novos territórios na busca constante de metais preciosos.
Os espanhóis logo na chegada dominaram os nativos, que já se encontravam
num acentuado processo de desenvolvimento, e que foram forçados a trabalhar nas
minas e, mais tarde, na agricultura. Os espanhóis, no início, caçavam os índios e os
vendiam para as áreas de mineração, e somente mais tarde começaram a praticar a
agricultura com produtos destinados ao mercado europeu, também criando gado para
vender para as zonas de mineração. Na agricultura utilizavam a mão de obra indígena
e mais tarde a escravidão negra. Com a redução do ouro e prata do México, este
vicereinado foi intensificando a sua produção para suprir as necessidades da Espanha.
O vice-reinado do Peru situava-se onde atualmente estão o Peru e parte da atual
Bolívia, ou seja, um espaço do Império Inca. Antes da chegada dos espanhóis era um
território muito rico, com metais preciosos que foram motivo de cobiça pelos
colonizadores. Após o saque das riquezas, os espanhóis escravizaram os nativos,
obrigando-os a trabalharem nas minas extraindo metais, como também formaram
grandes fazendas, cuja mão de obra era composta pelos nativos. Os proprietários das
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minas e os fazendeiros detinham um amplo poder local, entrando em conflito com os
representantes da Coroa.
Os nativos foram os que mais sofreram com a colonização, pois estavam
submetidos à escravidão, trabalhando nas minas e nas fazendas, tendo sua liberdade
condicionada à prestação do trabalho compulsório. Na nova escala social os nativos
estavam condicionados à escravidão, era a classe mais baixa na hierarquia social,
acima deles estavam os mestiços, que constituíram uma classe livre, mas que não
subiam na escala social e permaneciam temerosos de serem rebaixados a escravos.
Esse processo de colonização também teve as suas reações, a exemplo do caso de
Tupac Amaru, que era descendente de índios, mas revoltou-se contra a servidão e a
abusiva cobrança de impostos, sendo morto e esquartejado pelos espanhóis.
Na parte mais meridional da América tivemos o vice-reinado do Rio da Prata,
território que compreendia um amplo espaço onde atualmente localizam-se a
Argentina, Uruguai, Paraguai e uma parte do Peru e da Bolívia. Como podemos
perceber, era realmente uma extensa área. Começou a ser ocupada ainda no século
16, quando os espanhóis desceram do Peru e seguiram até o extremo norte da
Argentina, chegando ao Rio da Prata, território que disputavam com os portugueses,
todos em busca de ouro e prata. Como não encontraram de imediato, este território
permaneceu abandonado por um longo tempo.
Os núcleos de povoamento eram raros, pois não se tinha uma riqueza aparente,
então se atraía um grande número de aventureiros que se dedicavam ao comércio e
também à apropriação de grande quantidade de terras que tinham pouco valor, mas já
contava com a presença de gado selvagem. Os espanhóis geralmente ocupavam as
margens do Rio da Prata, pois era uma área dedicada ao comércio e ao contrabando
de couro e metais. Nesse vice-reinado as relações com os nativos de imediato foram
diferentes das ocorridas nos demais territórios, pois os espanhóis não encontraram
minas, nem cultivavam a terra. Sendo assim, os nativos não sofreram num primeiro
momento o processo de escravização. Os espanhóis tiveram muitos filhos com as
nativas, gerando um grande número de mestiços.
Fonte: www.nationalgeographic.sapo.pt
Com o declínio da mineração os espanhóis descem em direção ao Rio da Prata
e passam a intensificar a atividade agropecuária e o comércio. O couro era o produto
de exportação, e também praticavam outras atividades comerciais, pois ali era um
porto de entrada de produtos para os demais vice-reinados. Além disso, o contrabando
era amplamente praticado. Os filhos de espanhóis nascidos aqui eram chamados de
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criollos, e formavam um grupo que se dedicava à agropecuária, possuindo poder local,
sendo decisivos para o processo de independência desse vicereinado. Para além dos
vice-reinados ainda havia as capitanias gerais, as quais ficavam subordinadas àqueles.
As mais expressivas eram as da Guatemala, Flórida, Cuba, Venezuela e Chile, e como
podemos perceber, ocupavam uma vasta região territorial.
Também desenvolviam atividades produtivas, como nos vice-reinados. Essa
divisão territorial em vice-reinados e capitanias gerais foi fundamental para a Espanha
controlar todas as atividades de extração de metais e produção agrícola praticada aqui,
pois o pacto colonial obrigava a enviar para a metrópole toda a produção, bem como a
pagar impostos da extração e exportação. Esse período colonial foi realmente muito
longo, mas ao mesmo tempo foi estabelecido um poder local pelos criollos, que mais
tarde se revoltaram com a situação colonial e lutaram pela independência das colônias.
5 FORMAS DE OCUPAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO NAS
COLÔNIAS ENTRE PORTUGUESES, ESPANHÓIS E INGLESES
As formas de trabalho foram extremamente exploradoras, com os espanhóis
submetendo os nativos a tarefas que eles não desejavam realizar. Dentre as diversas
formas de organização do trabalho podemos destacar a mita, que foi muito utilizada
durante todo o período colonial. Logo que os espanhóis chegaram à América a busca
de metais preciosos foi constante e a economia mineradora tornou-se responsável pelo
enriquecimento da Espanha. A exploração iniciou-se pelos planaltos do México,
expandindo-se pela Cordilheira dos Andes, e todo o trabalho foi feito pelos nativos,
com a denominação de mita. Esse sistema consistia num trabalho compulsório que
empregava as comunidades dos nativos no processo de mineração.
Fonte: www.todamateria.com.br
Os nativos eram forçados ao trabalho nas minas, sendo denominados de
mitayos. Quando os nativos partiam para explorar as minas era feito um verdadeiro
ritual, pois rezava-se o oficio dos mortos. Com a mita era feito muitos deslocamentos
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dos nativos e o trabalho era tão exaustivo que poucos voltavam vivos para casa. Além
da mita ainda podemos destacar com outra forma de exploração do trabalho dos
nativos, a encomienda, também amplamente utilizada no período colonial americano.
Podemos destacar duas formas distintas de atividade econômica, a mineração e a
produção agrícola, e nesta última era adotada a encomienda.
A forma de distribuição da propriedade de terras foi a base da grande
propriedade, conhecidas como fazendas, nas quais eram produzidos gêneros
alimentícios e matérias-primas, no início geralmente direcionados para as regiões
mineradoras. Com a gradual crise da mineração, essa produção passou a ser mais
destinada ao consumo nas propriedades, e somente mais tarde para a exportação. A
partir do século 18, com o auge da crise da mineração, os produtos exportáveis
passaram a ser realmente os produzidos nas grandes fazendas nos territórios do
Caribe e do Rio da Prata, transformando-as em grandes propriedades rurais
exportadoras. A forma de trabalho denominada de encomienda consistia na servidão
dos nativos em vastas áreas de terras apropriadas pelos colonizadores.
A administração colonial reconhecia a propriedade privada do colonizador e
encomendava um considerável número de nativos, os quais deveriam pagar tributos
aos proprietários de terras sob a forma de prestação de serviços. O encomendeiro,
porém, tinha suas obrigações, tais como cristianizar os nativos que lhe prestavam
serviços e também pagar impostos à Coroa pelo número de nativos confinados.
Outra forma de trabalho presente na América foi a escravidão negra, introduzida
a partir do século 16 nas regiões onde os nativos resistiam à servidão ou foram
exterminados pelos espanhóis. Podemos perceber que os negros trabalhavam nas
Antilhas, alguns também nas minas e no serviço doméstico das grandes fazendas.
Alguns historiadores defendem a tese de que a Espanha não participava diretamente
do tráfico de escravos, mas que comprava de outras companhias, como dos
portugueses, que praticaram intensamente o tráfico por vários séculos. Os escravos
negros também reagiam à escravidão por meio de fugas e motins, pois não aceitavam
facilmente as condições de trabalho impostas pelos seus proprietários.
A intensa exploração dos nativos despertou o interesse da Igreja, que mandou
para as terras americanas a Companhia de Jesus, ainda no século 16, formando assim
o que podemos denominar de Reduções Jesuíticas. No Rio Grande do Sul tivemos os
sete povos das missões: São Francisco de Borja, São Nicolau, São Luiz Gonzaga, São
Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista e Santo Ângelo Custódio, sendo
um dos mais conhecidos o de São Miguel, patrimônio da humanidade reconhecido pela
Unesco. As reduções ocupavam grandes territórios e agrupavam um grande número
de índios, os quais viviam coletivamente, praticavam a agricultura, a pesca e o
artesanato, mas em troca eram cristianizados pelos jesuítas. Nas reduções a
distribuição dos bens era igualitária, pois produziam para viver e manter a ordem
religiosa, os nativos eram inclusive alfabetizados em sua própria língua.
Também podemos constatar a presença do trabalho semilivre, que se iniciou
ainda no final do século 16, nas grandes fazendas e mais tarde se estendeu para as
minas, onde era conhecido como sistema de peonagem, que em algumas regiões
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ainda persiste na atualidade. É uma forma de trabalho assalariado, mas o trabalhador
recebe o seu salário em produtos e não em dinheiro. Esses produtos podem ser os
mais variados possíveis, tais como: carne, cachaça, roupas, utensílios, etc.
O detalhe desta relação é a seguinte: esses produtos são comprados nos
armazéns das minas ou fazendas por um preço muito alto. Sendo assim, o trabalhador
fica permanentemente endividado, e isso faz com que ele continue trabalhando para
esse mesmo patrão pelo resto de sua vida, caracterizando mais uma servidão do que
um trabalho livre. A estrutura comercial da América Espanhola era totalmente atrelada
à metrópole, pois as relações eram estabelecidas a partir dos tratados que os
regulamentavam. No início do processo de colonização tudo era feito a partir de
Castela, pois foi instituída a Casa de Contratación para cuidar da administração da
América Espanhola. O comércio era feito todo pelo porto de Sevilha, e a partir de 1717
o porto único foi transferido para Cádiz.
No século 18 foi posto fim ao regime de porto único. Sendo assim, qualquer
porto espanhol poderia comercializar com a América. Toda a produção de metais
explorados aqui deveria ser enviada à Espanha, bem como as matérias-primas que
aqui eram produzidas. O ouro e a prata pagavam altos impostos, e era chamado de
quinto um imposto de 20% sobre o metal.
Os produtos manufaturados importados pelas colônias eram comprados com
um alto preço, resultando em altos ganhos por para a Espanha. Nas colônias poderiam
ser praticados a produção de manufaturas e o artesanato. Isso servia para atender à
economia interna, mas era proibido elaborar produtos que concorressem com a
metrópole, como o vinho. Durante um longo período as colônias não podiam
comercializar entre si, pois todo o comércio deveria ser feito pelos espanhóis, no
entanto era possível encontrar práticas de contrabando.
A Espanha tinha uma fraca indústria, que não conseguia atender às demandas
das colônias. Com isso, havia muito contrabando, inclusive com a permissão dos
administradores locais, que recebiam propinas para permitir que os navios estrangeiros
atracassem e vendessem as suas mercadorias para as colônias. Os funcionários
corruptos recebiam muitas propinas por permitir esse comércio, juntando muito
dinheiro e voltando a viver na Espanha. Os ingleses, holandeses e franceses
frequentavam constantemente os portos para fazer contrabando, vendiam os produtos
manufaturados, e, em troca, compravam produtos agrícolas recebendo em ouro e
prata, comércio lucrativo para os contrabandistas.
A sociedade espanhola era extremamente tradicional, possuindo resquícios do
feudalismo, mostrando-se muito aristocrática e fechada, transferindo esse modelo para
as colônias. Os critérios para classificações dos indivíduos em classes sociais foram
estabelecidos pela renda de cada um, pelo poder e nascimento. Aqui ainda levava-se
em conta a cor da pele, tudo isso era critério para a alocação nas classes. Outra grande
herança espanhola foi a questão da grande propriedade, pois foi constituída uma
estrutura agrária com predomínio dos latifúndios destinados aos conquistadores e seus
sucessores. A estrutura dos latifúndios é um modelo que começou no período colonial
e que persiste até a atualidade. Toda a produção colonial era destinada para a
HISTÓRIA DA AMÉRICA
29
metrópole, assim o desenvolvimento interno das colônias foi extremamente
prejudicado, pois não se investia internamente.
A estrutura social determinava que no seu topo ficariam alocados os espanhóis
provenientes da península ibérica, os denominados chapetones, descendentes da
nobreza empobrecida da Espanha. Esses chapetones ocupavam todos os cargos
administrativos das colônias, pois eram os letrados, também se tornando donos das
grandes propriedades e das minas, portanto tinham poder político e econômico ao
mesmo tempo. Abaixo dos chapetones ficavam os criollos. Esses eram os filhos de
espanhóis nascidos na América, mas não podiam ter mestiçagem, ou seja, não podiam
ter cruzamento interétnico. Os criollos geralmente eram grandes proprietários de
terras, mas também comerciantes. Não podiam ocupar altos cargos administrativos,
mas participavam dos cabildos, um órgão que representava o poder local. O modelo
de estrutura de classes foi complexo, pois sempre privilegiou os brancos e a
superioridade da raça e do sangue, e isso, de imediato, já excluía índios, negros,
mestiços e outros cruzamentos raciais.
Os mestiços, resultado do cruzamento de brancos com índios, de brancos e
negros e de negros com índios, constituíam a maior parcela da população, mas nunca
ocupavam os cargos administrativos, no máximo poderiam ser capatazes das fazendas
e minas, bem como mão de obra servil e livre.
Na base da sociedade estavam os índios, que na época da chegada dos
espanhóis eram aproximadamente 30 milhões e ficaram reduzidos a cerca de 10
milhões. Isso comprova o verdadeiro massacre que essa população sofreu ao longo
do processo de colonização, pois foram condenados à servidão nas minas e fazendas.
Na tentativa de interferir no massacre dos índios, a Espanha criou a Lei das Índias, que
procurava proteger a organização comunitária da propriedade e do trabalho indígena.
Na prática, porém, essas leis não funcionaram, pois o encomendero que cobrava
impostos e estava encarregado de cristianizar os indígenas, na realidade os explorava
ainda mais, transformando-os em força de trabalho e quando estes morriam ou
deixavam as terras, ficava com elas.
Essa mesma Lei da Índias também proibia a mita, mas isso, na prática, também
não teve acesso, pois os índios continuavam a ser alocados em trabalhos forçados, o
que contribuiu decisivamente para o genocídio desse povo. Na lei foi instituída a
igualdade de direitos entre índios e espanhóis, mas isso somente existiu formalmente,
pois na realidade os indígenas continuaram a ser mão de obra nas fazendas e minas.
A cultura colonial foi uma imposição dos espanhóis sobre os colonizados, e a
cristianização, mais especificamente o catolicismo, que era a religião oficial dos
espanhóis, a maior delas. Com a imposição do cristianismo as crenças dos nativos
foram todas relegadas a segundo plano, algumas proibidas e até consideradas
heresias. O clero participou de todo o processo de colonização, em acordo com a
Coroa, pois eram os reis que nomeavam os religiosos, bem como cobravam o dízimo.
Convém salientar que a Igreja Católica Espanhola foi a que mais praticou a Inquisição,
e na América a Santa Inquisição foi realmente de causar medo nos colonos. Qualquer
coisa poderia ser considerada como heresia, e os religiosos ainda estavam na caça de
HISTÓRIA DA AMÉRICA
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judeus, muçulmanos e protestantes. Por outro lado, também foram tenazes na
conversão dos índios ao cristianismo.
A Igreja Católica foi representada também pela Companhia de Jesus, cujos
integrantes eram os que mais se dedicavam a catequizar os índios. Os jesuítas foram
implacáveis na difusão do cristianismo e no combate às heresias, sendo os principais
responsáveis pela introdução do cristianismo na América, e no seu trabalho de
cristianização criaram escolas, batizaram índios e colonos e tentaram de todas as
formas livrar os índios da escravidão.
Foram os responsáveis pelas missões jesuíticas, como já vimos anteriormente,
e obedeciam diretamente ao papa. Nesse sentido, não acatavam as ordens dos bispos
e demais autoridades eclesiásticas, e após muito tempo de conflito com as autoridades,
foram expulsos da América Espanhola e Portuguesa no século 18.
O estilo barroco também esteve presente na América Espanhola, mostrandose
uma fiel reprodução do que estava em voga na Europa e muito divulgado pelos jesuítas
a partir do século 17, chegando ao seu auge no século 18. A arquitetura foi
decisivamente influenciada pelo barroco: cidades inteiras, como exemplo algumas do
Peru, e vários tipos de construções, como igrejas, cadeias, cabildos e mesmo
residências particulares, todas seguindo os traços da arquitetura barroca. As igrejas
eram as que mais ostentavam as riquezas, todas barrocas, com pinturas e altares
recobertos com finas camadas de ouro. O barroco também influenciou a própria
literatura, sendo fruto da sociedade colonial, ou seja, as artes em geral eram todas
influenciadas por este estilo, que possuía seus próprios fundamentos estéticos.
5.1 O fim do Sistema Colonial
Fonte: estudopratico.com.br
O período colonial foi o mais longo de toda a história da América Espanhola,
pois começou no século 16 e foi até o início do século 19, mais de três séculos de
intensa exploração da Espanha em todos os territórios, nos vice-reinados e capitanias
gerais. Durante todo o período colonial a produção mineral e agropecuária era
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destinada à metrópole, além, é claro, dos impostos que os colonos tinham de pagar.
Houve inclusive a concorrência desleal dos produtos aqui produzidos com os
comprados da Europa. No começo do século 19 iniciaram-se as lutas pela
independência, pois os que aqui viviam não suportavam mais a dominação da Espanha
e queriam liberdade de comércio e produção.
Neste processo de independência podemos destacar o papel fundamental dos
criollos, filhos de espanhóis nascidos na América, e que foram os que mais ansiavam
pela independência, daí deflagrando todo um processo de lutas contra a Espanha. Este
período violento começou no século 19. Nos vários vice-reinados ocorreram lutas pela
independência, mobilizadas pelos criollos, para acabar com as velhas estruturas
coloniais, mas a Espanha reagiu violentamente a esse processo, pois não desejava o
fim do período colonial. Os criollos, por sua vez, se mostraram muito organizados e
com força de mobilização, mantendo a luta até conseguirem definitivamente a
libertação da Espanha, tendo fim o longo período colonial.
6 A FASE DE INSTABILIDADE POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
Esta primeira fase após o processo de independências foi marcada por um longo
período de reestruturação de toda a sociedade, pois ainda não estava definido
exatamente como seriam as bases do Estado. Alguns historiadores chamam esta de
fase da anarquia, haja vista que ainda não se tinha organizado as formas
administrativas, tendo essa expressão sido largamente utilizada na historiografia latino-
americana, pois remete a um período difícil no processo político destes novos países
independentes, que passaram por um longo processo até atingir um ordenamento
estável.
Por outro lado, os historiadores também observam que essa desorganização do
Estado deu origem ao fenômeno conhecido como caudilhismo, ou seja, o poder
concentrado nas mãos de uma figura política centralizadora, denominado caudilho.
Isso tudo atestou a incapacidade das classes dominantes de instituir um Estado que
realmente ocupasse um lugar de poder, sendo um processo muito longo no decorrer
do século 19. Podemos afirmar que após a independência foi marcante a militarização
na sociedade latino-americana, pois o Estado ainda não se encontrava estruturado. Os
militares desempenhavam vários papéis, e estavam quase sempre presentes nos
momentos em que a classe dominante não conseguia um consenso, com cada
segmento tentando impor a sua hegemonia sobre as demais classes.
Outro papel dos militares era servir como mediadores para acalmar conflitos em
alguns países que apresentavam a economia totalmente debilitada em decorrência do
processo de independência. A economia foi a que mais se desestabilizou, pelo fato de
ter ficado muito tempo sem receber os capitais dos investidores estrangeiros. A
situação de instabilidade e as dificuldades de impor uma política estável,
transformaram toda a economia da América Latina num verdadeiro caos, uma situação
totalmente dramática para esses países livres. A interrupção das exportações foi a
principal causa do desequilíbrio econômico.
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Toda esta instabilidade política e econômica que abateu a América Latina foi
decorrente das lutas de poder, criando um clima de pessimismo em vários países,
principalmente a partir de 1830, dando margem para que segmentos tradicionais
tomassem o poder e constituíssem um Estado totalmente conservador. Podemos citar
vários exemplos destes conservadores e centralizadores no poder, tais como: Antonio
López de Santa Anna, no México, Juan Manoel Rosas, na Argentina (este foi, no
sentido literal da palavra, um verdadeiro caudilho), além de Diego Portales, no Chile.
A instabilidade econômica entrou em uma outra fase na segunda metade do
século 19, pois a partir desse período foi percebido um acelerado desenvolvimento do
setor primário exportador, isso tudo devido a uma melhor organização das economias
internas pela intervenção do Estado.
Por outro lado, a economia europeia também já se encontrava estável,
demandando mais produtos primários e, com isso, fortalecendo a economia dos países
exportadores de matérias-primas. Com a recuperação, fez-se necessário uma nova
política econômica, com a reformulação do sistema fiscal, pois alguns segmentos
sociais mais produtivos defendiam que seria preciso abolir os impostos abusivos que
impediam determinadas atividades mercantis.
Alguns destes impostos eram resquícios do período colonial, tais como o dízimo
e a alcabala, e os segmentos mais liberais defendiam o seu fim, bem como
argumentavam que o governo federal não deveria intervir em determinados assuntos
econômicos, por exemplo, nas tarifas alfandegárias protecionistas e nos privilégios de
certas empresas públicas.
6.1 A Fase de Estabilidade Política e Econômica
Na segunda metade do século 19 já se percebia certa estabilidade econômica
e política, tendendo a estabilizar as relações sociais, até então conflituosas. Em muitos
países os liberais conquistaram o poder e lutaram pelas reformas fundiárias, na
tentativa de apropriação de grande parte de terras que os índios ocupavam. Outro
projeto seria a formação de um mercado de trabalho, pois no novo contexto econômico
era preciso criar uma mão de obra que atendesse as demandas do novo mercado.
Os liberais no poder eram a favor da expulsão dos índios das terras comunais e
pretendiam também nacionalizar os bens do clero. Eles viam como uma ameaça ao
seu poder os privilégios do clero, dado que pretendiam pôr em prática um projeto de
modernização econômica e social. Esses liberais denunciavam que o clero não poderia
mais ter o poder de decisão na educação e cultura, pois viam isso como uma forma de
centralização da liberdade de pensamento.
A intervenção dos liberais foi decisiva no novo modelo de Estado, conquistando
o poder em diversos países, como na Argentina e no Uruguai onde, a partir de 1830,
introduziram políticas de contenção do próprio clero. O outro objetivo dos liberais era
a desapropriação das terras indígenas, no que obtiveram muito sucesso em toda a
América Latina. No caso específico da Argentina foi estabelecida a campanha do
deserto, que ocasionou o total extermínio dos índios que habitavam o sul do país. No
HISTÓRIA DA AMÉRICA
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caso do Chile, ocorreu uma verdadeira matança de índios, exterminando essa
população de nativos.
A historiografia latino-americana descreve que a atuação dos caudilhos foi
realmente muito controvertida, pois eles representavam algum segmento da classe
dominante, não tendo uma legitimidade em relação a todos os grupos sociais. Isso
gerou tensão entre os caudilhos, resultando em muitas guerras civis entre eles, que
desejavam a concentração de poder em suas mãos.
Os caudilhos representavam um segmento mais conservador, que defendia um
Estado centralizador, com o poder concentrado num governante com reconhecimento
popular. Os caudilhos eram temidos e ao mesmo tempo respeitados e amados, pois
eles realmente personalizavam o poder de decisão. A configuração do Estado nacional
foi de fato um longo processo, pois os grupos que assumiam o poder não tinham uma
visão muito clara do que concretamente era necessário fazer para dar conta de toda
uma diversidade socioeconômica vivenciada por esses países.
Fonte: www.coladaweb.com
Era possível perceber vários estágios de desenvolvimento da própria economia,
até se chegar a uma definição mais precisa do capitalismo, pois como o período
colonial foi muito amplo, as mudanças também foram lentas. Havia, como declaram os
historiadores, um verdadeiro hibridismo na matriz econômica e social. O Estado
nacional institui verdadeiramente uma nova matriz econômica, agora baseada no
grande latifúndio, daí decorrendo um grande processo de desapropriações de terras,
as quais foram parar nas mãos dos latifundiários ligados ao setor primário exportador.
O Estado nacional, a partir de suas novas políticas, foi incisivo na efetivação de
uma estrutura econômica mais compatível com o mercado externo, conquistando
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dessa forma uma retomada dos negócios internacionais. O latifúndio foi responsável
pelo incremento da produção para exportação, aumentando significativamente a
quantidade de produtos. Nesta fase a economia já estava mais estabilizada, mas
direcionada para o mercado externo, marcando decisivamente o mercado
latinoamericano, que adotou uma economia voltada para as exportações.
O ordenamento político passou para as oligarquias primário-exportadoras,
estabelecendo, desta forma, um modelo de Estado extremamente centralizador, com
o poder concentrado nas mãos desse segmento dominante. Neste sentido, podemos
perceber que este foi um momento de consolidação do Estado Nacional e para isso
também foi importante a configuração de um modelo exportador, que conseguiu
alavancar a economia.
Com isso, alguns segmentos da classe dominante conseguiram fazer parte do
Estado, com a posse de capital suficiente para impor o seu domínio sobre os demais.
Sendo assim, configurou-se esse segmento dominante tanto no comando político
quanto na economia. Vale destacar que desde a segunda metade do século 19 a
Europa já se encontrava plenamente recuperada economicamente, impulsionando o
processo de industrialização, e com isso importando matéria-prima da América Latina.
Essa foi a nova configuração do capitalismo, ou seja, os países europeus
industrializados e os demais fornecendo a matéria-prima.
Esse modelo econômico primário-exportador caracterizou o capitalismo na
América Latina a partir do século 19 e parte do século 20, até se estabelecer o processo
de industrialização, que ocorreu bem mais tarde por aqui. Esse modelo primário-
exportador revelou-se muito importante para o capitalismo da Europa e dos Estados
Unidos, pois nós vendíamos para eles a matéria-prima por um preço baixo e
adquiríamos os produtos industrializados por um preço muito alto.
Esses países industrializados ganharam muito nestas trocas desiguais e por
isso investiram parte deste capital por aqui, possibilitando a construção de estradas de
ferro, a instalação de iluminação elétrica, como também estabelecendo filiais de
bancos. No decorrer do século 19 era necessário a formação de mão de obra para
atuar nesta produção primária, e por isso gradualmente foi ocorrendo a abolição da
escravatura, um passo fundamental para a consolidação do capitalismo como modo
de produção dominante.
A configuração do capitalismo na América Latina foi um processo muito longo,
pois a escravidão ainda estava presente ao lado do trabalho livre, gerando toda uma
contradição nas relações de trabalho. Ainda prevaleciam algumas práticas
précapitalistas, juntamente com o capitalismo, com os segmentos dominantes
mantendo o seu poder de coerção sobre os demais segmentos sociais.
É importante frisar que foi somente com essa oligarquia primário-exportadora
que realmente se instalaram as bases efetivas para o desenvolvimento do capitalismo.
Já no final do século 19 percebeu-se uma estabilidade social, econômica e
política, demonstrando o sucesso do capitalismo na América Latina como um todo.
Todo esse período de estabilidade foi decorrente da atuação desses segmentos
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primárioexportadores, que desenvolveram um projeto que atendia aos interesses
internos, aliados ao próprio desenvolvimento do capitalismo internacional.
Os demais segmentos sociais foram, gradativamente, se ajustando às
determinações desses dominantes, inclusive os populares, que acabaram se
constituindo mão de obra para este modelo exportador. Com esse processo o modelo
de Estado nacional acabou sendo consolidado a partir da inserção destas economias
periféricas latino-americanas a um modelo capitalista dominante nos países
industrializados.
Grande parte dos autores discute o capitalismo na América Latina defendendo
a ideia de modelo primário exportador dependente dos rumos do capitalismo
internacional. Essa é a verdadeira ideia de teoria da dependência, que vigoraram muito
tempo nas teorias clássicas sobre a dependência, para explicar o modelo capitalista.
Atualmente já existem outras correntes teóricas que discutem o capitalismo de um
outro ângulo.
6.2 Exemplo de Estado Oligárquico: a Argentina
Fonte: sites.google.com
Após o processo de independência a Argentina foi governada pelos unitaristas.
Isso revelava o poder de Buenos Aires sobre as demais províncias que possuíam
liberdade de comércio, mas as rendas obtidas com a exportação sempre ficavam na
alfândega de Buenos Aires. Este segmento que ocupou o poder apresentava-se como
liberal, mas era um grupo oligárquico, extremamente conservador, pois ainda
preservava as mesmas atitudes do período colonial, tentando impor o seu domínio
sobre as demais províncias.
Havia, entretanto, uma outra oligarquia que vivia no interior e que não se
dedicava ao comércio, ou seja, os grandes proprietários rurais, que estavam mais
preocupados em manter as suas grandes propriedades de terras, levando uma vida
HISTÓRIA DA AMÉRICA
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simples no campo. Por outro lado, os que viviam em Buenos Aires adotavam hábitos
europeus e importavam todos os produtos manufaturados do exterior.
Essa oligarquia interiorana era conhecida como federalista, porque defendia a
descentralização econômica e política, ou seja, lutava pela autonomia das províncias
do interior, opondo-se aos unitaristas de Buenos Aires. Ambas as oligarquias lutavam
constantemente após o processo de independência. Os unitaristas assumiram o poder
realizando uma política que favorecia Buenos Aires, e todas as exportações e
importações eram taxadas na sua alfândega, arrecadando um bom capital. Esse era o
papel que a metrópole exercia no período colonial, quando Buenos Aires detinha todo
o controle sobre a economia da Argentina, pois todos os bancos estavam lá
localizados, e também era responsável pela emissão da moeda.
Nos primeiros anos após a independência os federalistas permaneceram
acuados, pois estavam subordinados ao centralismo dos portenhos, ou seja, dos
unitaristas. Essa situação era totalmente desfavorável para as províncias, pois estas
não conseguiam competir com os produtos manufaturados importados da Inglaterra.
Os artesãos das províncias lutavam ferozmente contra a hegemonia de Buenos
Aires, porque a liberdade de importação desvalorizava os produtos locais, gerando
uma concorrência desleal, pois os produtos, não raras vezes, custavam mais caro que
os importados, que apresentavam uma qualidade superior aos confeccionados
artesanalmente. A mão de obra local das estâncias era feita pelos gaúchos, um tipo
social interiorano que vivia da criação e matança de gado, que com a exportação
destes produtos ficaram à margem do mercado de trabalho e acabaram formando as
tropas dos caudilhos que lutavam contra a hegemonia de Buenos Aires. Com a guerra
civil de 1828 a 1829 os unitaristas de Buenos Aires foram destituídos do poder e cada
província passou a desfrutar de autonomia.
6.3 ROSAS: o caudilho dos caudilhos
HISTÓRIA DA AMÉRICA
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Fonte: www.infoescola.com
Na própria guerra civil um nome se destacou: Juan Manoel Rosas, um rico
proprietário de terras da Província de Buenos Aires, que obteve apoio dos caudilhos
do interior, conquistando o poder desta província com o apoio dos aliados das demais
províncias interioranas. Rosas ficou conhecido como o “caudilho dos caudilhos”, pois
enorme era o seu poder, tendo a capacidade de dominar toda a vida política da
Federação, procurando desta forma a consolidação da unidade nacional. Seu poder
era reconhecido pelos demais caudilhos das províncias do interior, que mantinham sua
autonomia política, mas cabia a Buenos Aires cuidar das relações exteriores da
Federação.
Rosas era um herói da oligarquia rural conservadora e das massas populares
que não eram atendidas por ninguém, ou seja, totalmente desassistidas. O apoio a
Rosas era basicamente concedido pelos ricos porque ele era capaz de impor ordem
na política, garantindo assim a prosperidade deste segmento. Por outro lado, as
classes populares eram submetidas ao seu poder porque ele era tido como típico
gaúcho, era respeitado e venerado inclusive em procissões, que carregavam a sua
imagem, quase como um Deus.
Rosas instituiu uma política severa em relação à economia e estabeleceu uma
legislação alfandegária protecionista. Essas medidas estendiam-se ao artesanato,
ficando proibido importar selas de cavalo, tecidos de lã e algodão, sapatos, bebidas
alcoólicas, frutas secas e demais gêneros. Com isso acabaria a concorrência entre o
artesanato local e os produtos importados. Essa medida também mantinha os rios do
interior fechados ao comércio externo.
Durante o governo de Rosas não havia na Argentina uma burguesia industrial,
portanto o país era dominado pela burguesia comercial e pelos grandes proprietários
de terras, voltados para o comércio externo, pois naquela ocasião ainda não havia
interesse em investir no processo de industrialização. A Argentina era especializada
em produzir produtos agrícolas e consequentemente importar os produtos
manufaturados, e fazia parte do sistema capitalista global, que designava alguns
países a produzir manufaturados e outros a fornecer matérias-primas. A Argentina
importava quase tudo da Inglaterra, e com isso forçando a abertura dos rios para a
navegação internacional, com o apoio dos grandes proprietários e grandes
comerciantes.
Rosas, ao longo de seu governo como caudilho dos caudilhos, obteve
significativa credibilidade por parte do povo, pois era temido e amado ao mesmo tempo,
mas todo o seu esforço não logrou quebrar o domínio do porto de Buenos Aires sobre
o comércio internacional. As províncias, apesar das medidas protecionistas, não
conseguiam entrar no comércio internacional, portanto o seu artesanato era destinado
ao consumo interno. Buenos Aires ainda continuava a concentrar a renda e a
população, e algumas províncias do interior permaneciam quase que despovoadas,
sendo assim os portenhos ainda continuavam a exercer as atividades mais lucrativas.
O governo de Rosas foi a demonstração de que o caudilhismo obteve muito respaldo
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na América Latina, concentrando o poder nas mãos de um sujeito autoritário e popular
ao mesmo tempo.
O governo de Rosas teve fim por um movimento militar liderado por Justo José
Urquiza, governador da Província de Entre-Rios. O movimento teve apoio do Brasil e
do Partido Colorado do Uruguai. Com a derrota de Rosas na Argentina foi instituído
um Estado nacional dominado pelos comerciantes portenhos e pela aristocracia rural
de Buenos Aires, todos vinculados ao imperialismo inglês.
O Estado liberal foi concebido pelos grandes proprietários de estâncias e dos
setores ligados ao comércio internacional, e funcionou plenamente no período de 1870
a 1930. Esse mesmo Estado acabou com a autonomia regional das oligarquias não
vinculadas ao mercado externo. Desta forma, o setor exportador impôs sua hegemonia
em toda a Argentina.
7 O PROCESSO DE IMIGRAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO
As elites que conquistaram o poder após a queda de Rosas eram
economicamente mais diversificadas, ou seja, não apenas ligadas à exportação. As
novas teorias econômicas das elites refletiam as concepções que vinham do exterior,
pois apresentavam um verdadeiro entrave para o desenvolvimento, os denominados
gaúchos, que eram os interioranos definidos como bárbaros, entendidos um dos
motivos do subdesenvolvimento da Argentina.
As elites que conquistaram o poder começavam a mostrar preconceitos em
relação à mestiçagem, desejavam um verdadeiro branqueamento da população, pois
os mestiços eram a maioria. Para resolver este problema de branqueamento da raça
a solução encontrada foi a imigração. O processo de imigração foi intenso. Decorrente
disto a população aumentou consideravelmente a partir de 1880, e o processo de
branqueamento ocorreu de forma gradativa. A mestiçagem ficou amenizada, pois a
miscigenação foi significativa. O governo criou uma legislação que concedia vantagens
para os estrangeiros em relação aos nativos, atraindo assim, um número muito grande
de imigrantes para este país.
No começo a imigração foi feita em colonização oficial, ou seja, o imigrante
recebia um pedaço de terras do Estado, bem como a passagem, e deveria, portanto,
cultivar aquela terra com cereais. Num segundo momento do processo os imigrantes
não recebiam mais terras e foram destinados para trabalhar nas estâncias e outros
encaminhados para as cidades, atuando como operários na nascente indústria.
O Estado oligárquico iniciou o processo de modernização do país a partir das
terras devolutas, que foram doadas para os imigrantes e uma outra parte vendida aos
grandes pecuaristas, que modernizaram o campo, transformando as terras em grandes
estâncias capitalistas. A modernização da Argentina levou sua plena inserção no
próprio imperialismo, pois cada vez mais desenvolvia o livre comércio internacional,
recebendo recursos externos para investimentos em ferrovias, nos telégrafos e na
modernização dos portos, dessa forma beneficiando a exportação dos produtos
HISTÓRIA DA AMÉRICA
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primários e a importação das manufaturas. Com isso criou-se uma economia de
dependência do capitalismo inglês.
A Argentina foi o primeiro país da América Latina a se industrializar, pois o
acúmulo de capitais foi possível a partir de investimentos dos ingleses em algumas
áreas específicas de produção, tais como: moinhos, frigoríficos e principalmente na
indústria lanífera. O desenvolvimento destas áreas foi uma combinação do capital
externo com o capital nacional e também dos imigrantes, todos destinados ao processo
de industrialização com a matéria-prima que havia disponível.
Grande parte da produção industrial era destinada ao mercado externo, pois o
mercado interno era um tanto quanto limitado para absorver toda esta produção. Com
o processo de industrialização a Argentina tornou-se um dos países mais ricos da
América Latina, com um desenvolvimento muito rápido e aumento do poder de compra
dos assalariados, tendo as aplicações financeiras alcançado um patamar bem
significativo. Este processo de crescimento da economia vai praticamente até a década
de 30 do século 20, pois a partir daí ocorreu uma queda das exportações devido a uma
crise do mercado externo. A própria Inglaterra, que comprava muito de seus produtos,
também entrou em crise, afetando a economia dependente da Argentina que, em
decorrência, entrou em crise profunda, com reflexos no século 20.
8 O PARAGUAI NO SÉCULO 19
Após o processo de independência do Paraguai, instala-se naquele país a
autocracia paternalista do governo de Francia, que aconteceu de 1813 a 1840, um
longo período de um governo centralizador. Francia, com a morte do governador
Yegros, convocou o Congresso que o decretou governo, uma forma de ditador, num
primeiro momento por dois anos, e posteriormente como vitalício.
O governo de Francia foi realmente diferente dos demais governos da América
Latina, pois desde o início ele isolou o Paraguai do mundo externo. As fronteiras do
país foram fechadas e vigiadas pelos militares, as pessoas e mercadorias não podiam
circular, estando sujeitas à punição. Era muito rara a permissão para navios
estrangeiros comercializarem com o país e, às vezes, trocavam mercadorias por
ervamate. O desenvolvimento econômico do Paraguai foi autossustentado, sendo um
dos únicos países da América Latina a não depender de capitais estrangeiros,
realmente buscando sua autonomia. No Paraguai não havia uma burguesia que
pudesse financiar o seu desenvolvimento econômico, portanto o Estado assumiu esse
papel e fez investimentos capazes de manter a sua produtividade.
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Fonte: brasilescola.uol.com.br
Francia, por meio do Estado patriarcal, fazia os direcionamentos das políticas
públicas orientando os investimentos na economia. Com essas diretrizes políticas e
econômicas o Estado conseguiu desenvolver a produção de manufaturas para o
abastecimento do mercado interno, não necessitando da mão de obra da imigração
europeia para alavancar o processo de industrialização. Francia mantinha em suas
mãos o controle total do país, inclusive usando a coerção física, pois em alguns casos
mandava fuzilar os considerados inimigos.
O governo de Francia foi realmente centralizador, e ele poderia ser considerado
um ditador, pois desejava manter o controle de tudo e de todos os cidadãos, tentando,
a todo momento, acabar com a oligarquia rural. Para tanto, impôs uma lei que proibia
o casamento entre índios, brancos, negros e mulatos. Com essa lei ele atingiu
diretamente a oligarquia rural, pois havia muita mestiçagem, e muitos que eram
considerados brancos foram rebaixados para mestiços e, sendo assim, não poderiam
mais se casar com brancos.
Quando Francia morreu em 1840, a oligarquia rural estava totalmente
desarticulada, pois seus integrantes não tinham participação política e a maior parte
de suas terras haviam sido confiscadas pelo governo. Por outro lado, a incipiente
burguesia também não tinha poder de decisão. Sendo assim, caberia ao Estado manter
o desenvolvimento do país. Com a morte de Francia o autoritarismo continuou a
vigorar, sendo eleito pelo Congresso Carlos Antonio Lopez, que se manteve no poder
de 1844 a 1862, juntamente com mais um cônsul, mas o poder realmente permaneceu
apenas em suas mãos. Ele foi eleito presidente da República por dez anos, e no
começo do governo se mostrou progressista, abolindo a tortura, libertando os escravos
nascidos a partir de 1843, limitando o período em que o escravo se mantinha
trabalhando, bem como submetendo os religiosos ao poder do Estado.
Na política, continuou o regime autoritário de Francia, delegando a seus
familiares o controle dos principais postos do Estado. Seu poder foi tão centralizador e
autoritário que perseguia qualquer pessoa que pudesse ser contra o seu governo. Na
economia procurou inovar um pouco, permitiu a abertura dos portos para
comercialização e também a entrada de imigrantes. Os estrangeiros foram tratados
com muita restrição, pois não lhes eram permitidos a posse de terras e o casamento
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com mulheres paraguaias, somente com autorização especial do governo, o que na
maioria dos casos era negado.
O Paraguai tinha apenas um produto para exportação, a erva-mate, mantendo
monopólio estatal sobre o produto, pois o governo comprava dos produtores e revendia
com alta lucratividade aos importadores estrangeiros. Com esse comércio o governo
obtinha capital para obras de infraestrutura, tais como estradas de ferro e comprar
navios a vapor. A exportação da erva-mate foi fundamental para o desenvolvimento
interno do Paraguai, pois o governo detinha grande parte dos lucros com esse
comércio e, sendo assim, os cidadãos não necessitavam pagar impostos. Carlos Lopez
também foi o criador do exército permanente, defendendo que era preciso manter-se
alerta diante dos interesses expansionistas dos países vizinhos. No caso da Argentina,
havia um perigo permanente, uma vez que está desejava anexar o Paraguai aos seus
domínios territoriais.
Carlos Lopez governou o Paraguai até 1862, e com sua morte assumiu o poder
o seu filho Francisco Solano Lopez, que governou até 1870. Solano Lopez manteve a
mesma política econômica desenvolvimentista dos governos anteriores, ou seja, de
manter o Paraguai como uma economia autônoma, sem depender dos investimentos
externos. O governo sustentou o desenvolvimento da economia investindo na
infraestrutura, pois foi o primeiro país da América Latina a possuir uma ferrovia
controlada pelo Estado, e instalou também uma linha telegráfica, investiu na fabricação
de navios a vapor nos seus próprios estaleiros, avançou na produção siderúrgica e na
indústria bélica.
Com todos os investimentos internos feitos, o Paraguai foi um dos únicos países
da América Latina a manter uma balança comercial favorável, ou seja, seu
desenvolvimento não se baseava no capital externo, como os demais países. Para
manter a balança comercial, investia os lucros obtidos com a exportação da erva-mate
e madeira, produzia praticamente tudo o que o país consumia. O Estado era quem
controlava a economia, sem a intervenção dos países estrangeiros.
O Paraguai tinha uma excelente infraestrutura interna, e com isso foi possível
investir também na organização de um exército forte, considerado um dos melhores da
América Latina. O governo entendia que o fortalecimento militar era fundamental para
impedir qualquer tentativa expansionista dos países vizinhos. Com esse forte exército,
também era necessário um grande número de soldados, os quais quando não estavam
de prontidão, eram destinados a trabalhos em obras tais como: construções de
estradas, canais de irrigação e ferrovias, além de ocuparem cargos em empresas
estatais.
O governo de Solano Lopez também investiu muito na educação, procurou
elaborar um programa para alfabetizar a grande maioria da população. Também enviou
jovens ao exterior, principalmente para a Europa, e muitos técnicos estrangeiros vieram
dar aulas no Paraguai. Grande parte da população era composta por camponeses, e
estes ocupavam as terras que estava em poder do Estado, que as cedia para serem
cultivadas pelos agricultores, que colonizavam e produziam, mas não podiam vendê-
las.
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A composição social da população não comportava uma burguesia, e a classe
que possuía maior capital era a dos artesãos, os quais fabricavam produtos para serem
vendidos para o mercado interno. Essa classe produtiva basicamente empregava mão
de obra familiar para desenvolver a sua produção, e era muito rara a presença do
trabalho assalariado. Nas grandes manufaturas pertencentes ao Estado, a mão de obra
era composta pelos soldados que exerciam estas atividades quando não estavam
lutando. A maioria das terras era de propriedade do Estado, que organizava o que
denominava de “fazendas da pátria”, que produziam principalmente erva-mate para a
exportação.
8.1 A Guerra contra o Paraguai
Fonte: g1.globo.com
Geralmente os livros didáticos denominam de Guerra do Paraguai a que se
desenvolveu de 1865 – 1870, mas nós vamos nos basear na nova historiografia e
denominar a investida do Brasil, Argentina e Uruguai contra aquele país. A guerra, que
se estendeu por cinco anos, foi totalmente devastadora para o Paraguai, pois foi
destruído tudo o que os governos haviam construído anteriormente. O Paraguai resistiu
bravamente contra os três países que o atacaram, pois, estes países ainda contavam
com o apoio da Inglaterra. Com essa guerra acabou o sonho de um país com
desenvolvimento autônomo na América Latina, uma vez que os demais países eram
dependentes dos investimentos externos.
A situação do Paraguai era realmente delicada até o início da guerra, uma vez
que o governo de Solano pretendia manter a saída para o mar pelo Rio da Prata, pois
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o país naturalmente não era banhado pelo mar e necessitava uma saída para os
produtos exportáveis, principalmente a erva-mate.
Por outro lado, a Inglaterra apresentava uma política de estranheza em relação
ao Paraguai, não vendo com bons olhos o seu desenvolvimento autônomo, mesmo
porque essa forma de desenvolvimento poderia ser seguida por outro país da
vizinhança e isso não seria nada bom para sua economia. A Inglaterra tinha interesse
em vender seus produtos para o Paraguai, e, desta forma, queria acabar com a política
protecionista de Solano Lopez, ampliando os seus mercados.
Este foi o real motivo para aliar-se, aos demais países do Prata, acabando com
o protecionismo do Paraguai. Com relação ao Brasil, um dos aliados, os problemas
com o Paraguai já haviam começado anteriormente, pois para atingir o Mato Grosso
era necessário navegar pelo Paraguai, e dessa forma toda a vez que um navio
trafegava em águas paraguaias, necessitava pedir uma autorização. Os brasileiros
começaram a fortificar o Mato Grosso para garantir a sua posse, mas também tinham
problemas com as fronteiras, pois as divisas com o Paraguai ainda não estavam bem
definidas, o que provocava graves incidentes.
Por outro lado, a Argentina, também aliada, iniciou uma ofensiva que visava a
fortificar a embocadura dos Rios Paraguai e Paraná, e isso naturalmente afetava
diretamente a navegação do Paraguai, que não conseguia exportar a erva-mate. Com
essa série de problemas e bloqueios a Argentina, o Brasil e o Uruguai uniram-se e
formaram a Tríplice Aliança, que, naturalmente, com o apoio da Inglaterra, era a forma
mais ofensiva de combater o Paraguai.
Sentindo a força ofensiva da Tríplice Aliança, o Paraguai ficou acuado e resolveu
lançar-se à guerra, primeiro com uma ofensiva contra o Brasil, invadindo o Mato Grosso
Solano esperava contar com o apoio das províncias do interior da Argentina, mas não
teve sucesso na tentativa, pois os caudilhos do interior já estavam submetidos ao poder
de Buenos Aires.
No decorrer da guerra, que durou cinco anos, o Paraguai resistiu bravamente
aos adversários, mas teve também muitas baixas. Quando as munições bélicas
começaram a faltar, os soldados paraguaios combatiam com cacos de vidros,
alternativa encontrada para a falta de armas. A Tríplice Aliança foi financiada pela
Inglaterra, portanto, dispunha das melhores armas e munições, e, depois de um
verdadeiro massacre, acabou com o Paraguai, que permaneceu ocupado pelo Brasil
até 1876.
Quando terminou a guerra, metade do território do Paraguai pertencia aos
países integrantes da Tríplice Aliança. O mais impactante, porém, foi a redução da
população, o que comprova que ocorreu um verdadeiro extermínio, pois antes da
guerra havia 1,5 milhão de habitantes, mas no fim do conflito restaram apenas 500 mil.
Isso significa que foram exterminadas nada menos que 1 milhão de pessoas em cinco
anos, e dos que sobreviveram em sua maioria eram mulheres, velhos, inválidos e
crianças.
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A situação ficou muito crítica após a derrota, pois foram destruídos os meios de
produção, as fábricas, os fornos de fundição, tudo ficou arrasado. A maior perda,
todavia, foi o desenvolvimento sustentável que ostentavam, a sua independência
econômica. Todo esse projeto teve fim com a guerra.
A partir da guerra a oligarquia rural conquistou o poder, desenvolvendo o
latifúndio. Enfim, finalmente o capital inglês penetrou no Paraguai, e de um país rico e
independente passou a ser uma nação pobre e subdesenvolvida, suas manufaturas
desapareceram com a concorrência inglesa.2
2 Texto extraído: História da América Meridional / Ivo dos Santos Canabarro. – Ijuí: Ed. Unijuí, 2010.
– 62 P. – (Coleção educação a distância. Série livro-texto). Disponível em:
http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/233/Hist%C3%B3ria%20da%2
0Am%C3%A9rica%20Meridional.pdf?sequence=1.
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9 REFERÊNCIAS
AQUINO, Rubin Santos Leão de. História das sociedades americanas. Rio de
Janeiro: Livraria Eu e Você, 1981.
ARENAL, Celestino del. "La teoría de laservidumbre natural
enelpensamientoespañol de lossiglos XVI y XVII." Historiografía y Bibliografía
Americanistas, 19/20 (1975/76), pp. 67-126.
ARNOLD, David. A época dos descobrimentos. Trad. De Luiz Felipe Barreto.
Lisboa: Editora Grávida, s/d.