História da Madragoa 1 CONTA-ME História do Centro de Dia ......História do Centro de Dia 2...

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Conteúdo e informação visual e textual da exposição CONTA-ME Histórias da Madragoa ÍNDICE História da Madragoa 1 História do Centro de Dia 2 Histórias pessoais dos Utentes 5 Legendas dos objetos 10

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Conteúdo e informação visual e textualda exposição

CONTA-ME Histórias da Madragoa

ÍNDICE

História da Madragoa 1

História do Centro de Dia 2

Histórias pessoais dos Utentes 5

Legendas dos objetos 10

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I. HISTÓRIA DA MADRAGOA

A Madragoa divide-se na Madragoa de antes de 1500 e depois de 1500, e a anterior ao terramoto e a de depois do terramoto.

Madragoa era uma zona de fornecimento para dentro da muralha, até que o rei D.Manuel I se mudou para o bairro de forma a fugir à peste e viver em bons ares. O rei proporcionou a formação do bairro ao trazer a Corte consigo e ao ceder terrenos para a construção de conventos que ainda hoje existem no bairro, assim contribuiu para que os primei-ros residentes se fixassem na zona.

Aconteceu outro salto demográfico após o Terramoto de 1755, quando o Marquês de Pombal ordenou que em todos os lotes que estivessem vazios fossem construídas habitações para quem ficou sem casa no centro de Lisboa. De repente, temos uma Madragoa a duplicar.Mais tarde, começam a haver populações ligadas à faina do rio que vêm do Norte Litoral de Portugal, sejam construtores navais, pescado-res, marinheiros, vêm por causa da proximidade ao rio. Vêm primeira-mente os homens, como migrantes sazonais. E depois começam a vir asmulheres, as filhas, as sogras, e assim fixam-se na Madragoa permanentemente. Ainda muito desta história é encontrada no bairro, quer pelas ruas que ainda têm denominações que remontam ao tempo do rei (rua do Pasteleiro, era onde o Pasteleiro do rei se encontraria) quer pelas con-versas comos moradores, sendo que ainda se encontra quem tenha histórias para contar sobre a altura das varinas.

A Madragoa é um bairro muito marcado e construído pela cultura e tra-dição da pesca. Pescadores e varinas são dois símbolos da Madragoa.As varinas são mulheres fortes, habituadas aos trabalhos duros do-meio rural e da pecuária, tornaram-se num símbolo da cidade, com os seus pregões e as suas vestimentas características sempre de pés descalços, e também com a sua relativa liberdade e esperteza afiada na vida de rua e de bairro.

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LEGENDAS DAS IMAGENS:

1. Concurso das Janelas Flori-das, Rua das Madres (1955)

2. Lavadouro das francesinhas

3. Varinas (1950-70)

4. Varinas (1950-70)

5. Varinas (1950-70)

6. Lavadouro das Francesinhas

7. Travessa do Pasteleiro (1950-57)

8. Marcha da Madragoa

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II. HISTÓRIA DO CENTRO DE DIA

O local que atualmente oferece companhia e atividades aos idosos da Freguesia de Santos o Velho durante o dia, era um consultório médico de voluntários.Na Lapa viviam famílias mais abastadas, muitas das pessoas eram médicas e mais conhecedores que a população daquela zona.Em alturas de grandes efemeridades, foi alojado um consultório voluntário na Madragoa, inicialmente numa sala da Igreja, e em 1942 num andar na rua da Esperança. Esta consultório foi instalado de forma a auxiliar as pessoas do bairro que viviam maioritariamente da pesca, sendo que a grande maioria das famílias passava por grandes dificuldades económicas, o que originava más condições de vida e uma saúde precária. Os médicos iam de de livre vontade para aquele espaço prestar auxílio a quem mais precisava. Sucessivamente a este apoio, foi notado uma falta de apoio àscrianças e aí foi aberto uma creche/jardim de infância, que dava apoio às crianças do bairro. Esse serviço continua a existir mas agora na rua das Janelas Verdes. Mais tarde verificaram que fazia falta ao bairro apoio aos mais idosos e então nesse espaço, existe hoje o Centro de Dia da Associação Paroquial da Freguesia de Santos-o-Velho.Este local para além de bem-disposto, devido ao espírito jovem que as responsáveis por ele implementam, é também um “museu vivo”. Ao circular pelos corredores das instalações, damos conta de móveis, armários e muitos objetos e registos das histórias daquele local. O centro de saúde continua visível, ainda existem os registos dos doen-tes e alguns dos materiais com que trabalhavam. As paredes do espa-ço, decoradas com fotografias do que lá aconteceu e como era aquele tempo, permitem-nos uma viagem no tempo.As histórias das pessoas que lá se encontram permitem então preen-cher a linha da história começada naquelas paredes.

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III. HISTÓRIAS PESSOAIS DOS UTENTES

BEATRIZ PINTO, 83 ANOS

Vivia em Campo de Ourique, casou e veio para a Madragoa.“O meu pai queria que estudasse e tinha essas possibilidades, mas o que eu mais queria era ser costureira, ainda hoje é a minha adoração. É onde me sinto bem, é onde me sinto realizada.” Impôs a sua vontade à do pai e afirmou-se dizendo “ não quero estu-dar mais, assim nem sou boa a escriturar, nem sou boa costurar”.O seu casamento foi polémico para a altura. Casou com o seu vizinho, que já era divorciado. Namorou apenas com ele e diz ter-se casado bem e pela sua escolha, sem condicionantes. O seu pai queria que tivesse casado com um homem com mais posses. Quando se juntou com o marido, ele estava em processo de divórcio e isso para a Madragoa podia-se considerar escandaloso.Diz que não se importa de ser velha. “Quero ser uma velha em pé! Ati-va, produtiva, criativa! Não me desejem um bom dia, desejem-me um dia criativo!”

Relembra a história de um polícia. O polícia dos “9 dedos” que multava as varinas que andavam descalças na rua. Chegou ao ponto de mul-tar a sua própria mulher por sacudir um pano à janela (pois havia um horário para fazer isso). A sua mulher abanava o paninho à janela para avisar a comunidade que o marido andava na rua, para serem cuidadosos.Conta a história que um dia uma varina zangada, mordeu-lhe e arran-cou-lhe um dedo. Desde aí ficou com a alcunha dos “9 dedos”.

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ALICE RODRIGUES

Veio para Lisboa com 14 anos anos para casa da sua madrinha para ter outras oportunidades, aconselhada pela sua mãe. Vinha da provín-cia, habituada a ajudar em casa com a horta e os porcos. Sempre aju-dou nessa vida mas a sua mãe achava que ia ter mais oportunidades em Lisboa. Foi para a Guarda fazer xailes de “merino”, que mais tarde, na Madragoa via as varinas usarem. Casou na Igreja de Santos e depois na Madragoa, teve as suas duas filhas. O seu marido era pescador. “Nós tínhamos um barco chamava--se Maria Alice e nós estávamos sempre a arranjá-lo! Era tão bom ver as pessoas à pesca. Às vezes ia conduzir o barco com as minha filhas, iam atrás sentadas. Sempre preferi andar de barco do que de avião.”

O Convento das Bernardas enchia-se de varinas e de pessoas da ribei-ra. Relembra o bairro das varinas, que era delimitado desde a Calçada do Castelo Picão até à Rua do Machadinho. As varinas andavam com o peixe nas canastras, outras enchiam as ca-nastras com redes e vendiam galinhas e coelhos. “Eu costumava fazer o trono de Santo António, punha as flores e as minhas filhas pediam para o santo. A rua ficava toda bonita, metiamos flores nas varandas, as chamadas janelas floridas.”

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ADELAIDE QUINTÃO, 65 ANOS

Nasceu em Aveiro, veio para a madragoa servir na Calçada de Mar-quês de Abrantes na casa de uma senhora. Esteve algum tempo sozi-nha com os seus filhos porque o seu marido foi destacado para ir para a tropa, mostra que foi um momento díficil.Fez parte das Marchas juntamente com o seu marido e mais tarde com os seus dois filhos, a sua filha chegou a ser a mascote da marcha num ano.

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ANTÓNIA CABRAL, 62 ANOS

Veio de Angola com 20 anos. Sem o seu pai e a sua mãe. Teve que arranjar maneira de dar volta à situação e diz que encontrou a sua “familia do coração”- família de origem indiana que a acolheu. Mora na Rua do Machadinho desde que casou, ficou viúva muito cedo (4 anos de casamento), trabalhou na casa de Santa Zita.Essa casa ( Casa de Santa ZIta) foi considerada a sua família também durante toda a sua vida e ainda agora que não trabalha lá por questões de saúde, mantém relações com as pessoas com quem cresceu, que se continuam a preocupar com ela. Conheceu o seu marido,inesperadamente através de uma revista. Tro-caram secretamente cartaz, marcaram um encontro e “como era giro demais” teve de ficar com ele.A Casa de Santa Zita foi onde cresceu, era uma casa religiosa que se assume como agente social e de transformação social, foi aí onde aprendeu o que as mulheres daquela altura deviam de aprender. Algu-mas cozinhavam, outras serviam à mesa, e entre as colegas formava--se uma grande amizade. Nos Santos Populares queriam sempre sair para ir passear e, ora tinha que convidar umas das irmã para ir com elas supervisionar e tentar que ficassem mais um pouco, ora ganhar coragem de pedir à superior que as deixasse ir passear.E assim reconstruiu a sua vida, num país que não era o seu. Adaptou--se. Conheceu a cidade, que agora é sua, diz que passeava por todo o lado. Conheceu a Madragoa quando se casou, através do seu marido. A partir daí e depois de algum tempo de adaptação, a rua do Machadi-nho é a sua morada.

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ADOZINDA BARRADAS

Veio da Guiné. Casou tarde, por volta dos trinta anos já em Portugal. Teve apenas um filho porque dedicou todo seu tempo ao mesmo. Este mesmo filho nasceu com uma determinada deficiência que o impos-sibilitou de falar e de se mover a vida inteira, de maneira que, o seu filho era totalmente dependente dela e vice-versa. Mais tarde, e porque a idade já não a permitia cuidar do filho, Adozinda viu-se obrigada a pô-lo numa instituição. O Centro de Apoio a Deficientes João Paulo II, em Fátima, foi o local que se disponibilizou e que fora escolhido por Adozinda para cuidarem do seu filho até os últimos dias de vida. Mor-reu com 50 anos e a mãe Adozinda recorda-o de forma muito querida e emocionante.Para além da vida enquanto mãe, Adozinda fala-nos também da vida amorosa entre a Guiné e Portugal. Adozinda conheceu o seu marido, que tinha uma paixão por fotografia, na Guiné mas devido a condições políticas viram-se obrigados a separar. Adozinda vem para Portugal e deixa o seu futuro marido por terras guineenses. Mas isso, não os im-pediu de continuarem a namorar. Entre cartas para lá e para cá, os dois reúnem-se já em Portugal e casam-se pouco tempo depois.

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IV. LEGENDAS DOS OBJETOS PESSOAIS

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ÓCULOS DE BEATRIZ PINTODesde os 7 anos que Beatriz guarda e preserva religiosamente estes óculos. Tem uma grande estima pela forma, como ao longo dos anos, e desde criança os conservou imaculados.

GUARDA JÓIAS DE BEATRIZ PINTO

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RELÓGIO DE BEATRIZ PINTO

MÁQUINA FOTOGRÁFICA BEATRIZ PINTO11

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FOTOGRAFIA DO CASAMENTO DE ADOZINDA BARRADASAcompanhada pelo seu marido, os seus irmãos gémeos e sogros, Adozinda retrata um momento especial do seu casamento.

BEATRIZ PINTOÀ direita retrato de Beatriz com 2 anos e à esquerda com 20 anos.

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CÉDULA DE NASCIMENTO DE BEATRIZ CASTROCuriosamente Beatriz foi baptizada já adulta e este é o documento que o prova.

FOTOGRAFIA DO DIA DO BAPTIZADO DA AFILHADA DE MARIA DA GUIA

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FOTOGRAFIA DE ANTÓNIA CABRAL NUMA VISITA A SINTRA

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