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HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO INFLUENCIADORES SOCIAIS COMICS AS SOCIAL INFLUENCERS Maria Júlia Loli Penha 1 Thaís Sanches Coracini 2 . RESUMO Muitos métodos são utilizados pelos Estados e seus governos ao redor do mundo para promover suas ações, buscar apoio e influenciar a opinião da população de forma positiva acerca delas. Nesse artigo será analisado o uso das histórias em quadrinhos e seus personagens por parte dos Estados Unidos da América exatamente para a promoção e justificativa de seus movimentos e ações no sistema internacional. Palavras Chave: Histórias em Quadrinhos; Segunda Guerra Mundial; Guerra Fria; Guerra ao Terror. ABSTRACT States and its governments around the world utilize many methods to promote their actions, seek support and influence the opinion of the population in a way that it‟s positive to their beliefs. This article will analyze the usage of comic books and its characters by part of the United States of America to promote and justify their moves and actions in the international system. Key-Words: Comics; Second World War; Cold War; War on Terror. 1 Cursando Graduação em Relações Internacionais pela Universidade Sagrado Coração de Jesus (USC). E-mail: [email protected]. 2 Cursando Graduação em Relações Internacionais pela Universidade Sagrado Coração de Jesus (USC). E-mail: [email protected].

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HISTÓRIAS EM QUADRINHOS COMO INFLUENCIADORES SOCIAIS

COMICS AS SOCIAL INFLUENCERS

Maria Júlia Loli Penha1

Thaís Sanches Coracini2.

RESUMO

Muitos métodos são utilizados pelos Estados e seus governos ao redor do mundo para

promover suas ações, buscar apoio e influenciar a opinião da população de forma positiva

acerca delas. Nesse artigo será analisado o uso das histórias em quadrinhos e seus

personagens por parte dos Estados Unidos da América exatamente para a promoção e

justificativa de seus movimentos e ações no sistema internacional.

Palavras Chave: Histórias em Quadrinhos; Segunda Guerra Mundial; Guerra Fria; Guerra ao

Terror.

ABSTRACT

States and its governments around the world utilize many methods to promote their actions,

seek support and influence the opinion of the population in a way that it‟s positive to their

beliefs. This article will analyze the usage of comic books and its characters by part of the

United States of America to promote and justify their moves and actions in the international

system.

Key-Words: Comics; Second World War; Cold War; War on Terror.

1 Cursando Graduação em Relações Internacionais pela Universidade Sagrado Coração de Jesus (USC). E-mail:

[email protected]. 2 Cursando Graduação em Relações Internacionais pela Universidade Sagrado Coração de Jesus (USC). E-mail:

[email protected].

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1 INTRODUÇÃO

Durante períodos diferentes da história, tais como o período da Segunda Guerra

Mundial, conflito no qual os Estados Unidos se uniram aos Aliados, grupo de potências

composto pelo Reino Unido, União Soviética, França e China, contra os países que

compunham o Eixo, Alemanha, que se encontrava sob o governo de Adolf Hitler; Itália, com

seu líder Mussolini; ambas com características governamentais fascistas; e o Império Japonês.

A Guerra Fria, período de disputas políticas, econômicas e militares indiretas entre os Estados

Unidos e a então União Soviética. Além da mais recente Guerra ao Terror, como foi chamada

por George W. Bush a luta contra movimentos terroristas após o ataque acontecido no dia 11

de setembro de 2001, ao World Trade Center, promovido pelo grupo Al-Qaeda, nos Estados

Unidos da América; os EUA fizeram uso de diferentes meios para influenciar a opinião e

buscar apoio da população norte americana para suas causas.

Muitas técnicas foram utilizadas pelo governo norte americano, pela mídia e pela

própria população para auxiliarem nessa busca por apoio da sociedade em geral para as ações

promovidas pelo governo.

Um dos métodos utilizados foi a criação de personagens de histórias em quadrinhos ou

a utilização de personagens já existentes e sua inserção em situações que refletissem o cenário

que os Estados Unidos estavam a enfrentar durante cada um dos momentos anteriormente

citados. Nessas circunstâncias, os heróis lutavam contra vilões que representavam os, então,

inimigos da pátria americana que ameaçavam seus ideais de democracia e liberdade,

transmitindo, assim, visões e conceitos pré-definidos a cerca da realidade social e política

vivida em determinado momento, como, por exemplo, o Capitão América, que em sua

primeira aparição, é representado combatendo Adolf Hitler diretamente.

Um dos pontos que auxiliou a grande extensão da influência de tal meio durante o

período da Segunda Guerra Mundial, que foi um período importante para a introdução das

histórias em quadrinhos no mercado e o início de sua crescente popularidade, foi,

principalmente, o fator do preço de tal produto, que era de um valor baixo e de fácil acesso a

todas as classes sociais. Então, após tal introdução de sucesso à sociedade, as histórias em

quadrinhos passaram a ganhar popularidade com seus novos heróis e histórias criadas no

período pós-guerra, principalmente aqueles criados durante a Guerra Fria, quando a

apreciação por tais histórias cresceu devido à abordagem de como muitos deles adquiriram

seus poderes que atraiam a curiosidade do público.

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2 SURGIMENTO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

As histórias em quadrinhos, HQs3, não apenas se colocam como meio de

entretenimento, mas fazem ligações diretas entre seus enredos com o período histórico em que

são criados e suas características políticas e sociais.

As histórias em quadrinhos surgiram, no século XIX, antes do surgimento das

empresas mais populares atualmente, DC Comics e Marvel Comics, que tiveram sua origem

na década de 1930, a primeira no ano de 1934 e a última em 1939. Sendo que a histórias das

HQs e de sua origem muitas vezes se confunde com a das duas editoras, pois, muitos dos

enredos de ambas editoras norte-americanas representavam seus personagens em situações em

que participavam e vivenciavam os acontecimentos marcantes de tal período.

O formato das HQs como estamos familiarizados hoje surgiu em 1895, como criação

do artista americano Richard Outcault, através da publicação em jornais, principalmente os de

caráter mais sensacionalistas, de Nova York dos quadrinhos chamados The Yellow Kid, A

Criança Amarela em português. As tirinhas de quadrinhos dessas histórias fizeram tanto

sucesso que em pouco tempo jornais de mais renome passaram a disputar para poderem

publicá-las.

Figura 1 – Tirinha do The Yellow Kid publicada no New York Journal, em 1897.

Fonte: San Francisco Academy of Comic Art Collection, The Ohio State Univeristy Cartoon

Research Library.4

3 HQ: abreviação comumente utilizada para ‘histórias em quadrinhos’.

4 Disponível em:< https://cartoons.osu.edu/digital_albums/yellowkid/index.htm>. Acesso em 21 de out. de

2017.

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3 SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Tendo suas histórias representando questões e acontecimentos contemporâneos a sua

criação, não foi somente a presença de questões políticas e sociais em seus enredos que atraía

ao público, apesar dessas retratarem situações onde os heróis enfrentariam as questões que

estavam presentes no cotidiano da sociedade, mas também pelos artifícios visuais,

simplicidade de entendimento das representações feitas e a possibilidade de se discernir com o

que é apresentado por essas histórias nos enredos que são apresentados à população.

O surgimento do personagem Capitão América possuiu certo diferencial para a época

em que foi criado, pois, até então, os heróis combatiam monstros ou criminosos, enquanto o

Capitão América surgiu e possuía seus enredos voltados a sua luta contra nazistas, uma

ameaça crescente no continente Europeu que colocava em risco e ia contra os ideais norte-

americanos de democracia e liberdade, durante a expansão Alemã no continente durante o

período da Segunda Guerra Mundial, na década de 1940.

[...] O Capitão seria a síntese da ideologia militarista norte-americana: um

herói intervencionista, que toma a justiça pelas próprias mãos, contra

governos estrangeiros que representariam "o mal", justamente por seguirem

outro modo de vida que não o norte-americano. A única arma usada pelo

Capitão - um escudo - representaria a idéia de que os EUA só atacam para se

defender; o fato do Capitão agir de forma independente - do governo ou de

instituições - faz parte da ideologia liberal capitalista da "livre iniciativa",

onde pessoas vestem uniformes e saem caçando criminosos [...] por sua

própria conta. (SOUZA, 2003).

É facilmente reconhecida a importância e o propósito da criação de tal personagem

quando se nota, em sua primeira edição, na capa, a imagem de Capitão América enfrentando

com seus próprios punhos Adolf Hitler, mostrando-se como uma forma clara de criação de

propaganda nacionalista durante o período da Segunda Guerra, possuindo, não só a

característica de representação do herói ao lutar contra tal ameaça nazista, mas a história por

trás de tal herói, cujo nome civil é Steve Rogers, que antes de se transformar em uma

„máquina de guerra‟ para enfrentar nazistas na Europa, desejava se alistar para o exército

estadunidense exatamente com o propósito de lutar ao lado de seus compatriotas defendendo

os ideais e valores acreditados por seu país que estava sendo ameaços pelo crescimento e

expansão de movimentos fascistas no continente europeu, porém ele teve seu pedido de

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alistamento negado devido a suas características físicas que não se encaixavam no perfil

procurado para um soldado norte-americano. História anterior à transformação do rapaz Steve

em Capitão América, já apresenta o ato de se alistar para tal causa como um objetivo nobre a

ser realizado.

Figura 2 – Primeiro volume de Capitão América publicado em 1940.

Fonte: Sindicato dos Quadrinhos.5

4 GUERRA FRIA

Os quadrinhos apresentam um caráter político e representam a realidade, durante a

guerra fria não foi diferente.

O período entre o fim da segunda guerra mundial e a queda do muro de Berlin em

1989 foi marcado por um grande número de novos super heróis sendo introduzidos nos

quadrinhos, em uma tentativa de entender a nova realidade e representar a dualidade

característica do conflito cultura e sociológico entre Estados Unidos e União Soviética.

Do começo da década de 50 até meados da década de 60, a Marvel fazia uma

campanha anticomunista forte e direta em seus quadrinhos.

5 Disponível em: < http://sindicatodosquadrinhos.blogspot.com/2016/05/heroi-do-dia-capitao-america.html>.

Acesso em 20 de out. de 2017.

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Uma boa representação disso é o personagem Sputinik, que apareceu pela primeira vez

em um quadrinho do Capitão América em 1957, e tratava de uma „lacuna de misseis‟, que

supostamente era inteiramente ficcional, entre Estados Unidos e a antiga União Soviética.

Outro HQ que refletiu bem a realidade dos conflitos dessa época foi o Quarteto

Fantástico, também lançado neste período, onde os personagens principais adquirem seus

poderes ao serem enviados em uma missão espacial perigosa, que só realizada para ganhar da

URSS na corrida espacial.

A personagem Sue Storm, alter ego da Mulher Elástica, chega a dizer para Ben Grimm

no primeiro quadrinho da série que eles devem tentar a sorte e irem para ao espaço caso não

quisessem que os comunistas ganhassem deles na corrida espacial. A preocupação da

personagem é um reflexo da própria preocupação americana de chegar ao espaço antes dos

soviéticos, um fato que estes não conseguem conquistar já que meses após a publicação do

quadrinho, em 1961, a URSS lançou o primeiro homem ao espaço.

Outro personagem que foi introduzido nesta época foi o Incrível Hulk, onde o Doutor

Bruce Banner é transformado em um monstro verde quando este tem crises de raiva devido a

exposição à raios gamas, exposição esta que só aconteceu pois o assistente do Doutor Banner,

Igor, sabotou o experimento deste pois ele era um agente secreto Soviético.

A história da transformação do Doutor Bruce Banner em Hulk, devido a sua exposição

a raios gama, um substituto da energia nuclear, pode ser entendido como a demonstração da

forma destrutiva e do medo existente das armas nucleares e de sua produção em massa

durante o período da corrida armamentista da Guerra Fria.

No entanto o personagem em fazer a maior campanha anticomunista foi o Homem de

Ferro. A primeira armadura criada por Tony Stark foi quando este estava no cativeiro de um

líder comunista racista no Sudeste da Ásia.

O Homem de Ferro foi introduzido ao público em 1963, tendo sido criado como um

herói da Guerra Fria cujo objetivo seria proteger os Estados Unidos e o mundo da ameaça

comunista. Ele foi criado para que fosse explorada a participação estadunidense na Guerra

Fria, desempenhando um papel tão importante nesse período quanto o Capitão América

durante a Segunda Guerra Mundial.

A partir de 1964, no entanto, a Marvel começa a focar mais nos problemas sociais e

nos conflitos culturais e passa a não atacar tanto o comunismo, tentando mostrar a

superioridade da cultura norte americana de uma forma mais sutil.

Os personagens começaram a se adaptar a esta nova realidade, focando em conflitos

sociais. O Homem de Ferro é o que, no entanto, mais tem dificuldade em se adaptar a mudar o

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foco de uma campanha anticomunista, devido a este ter sido criado justamente com o intuito

de bater de frente de maneira direta contra o comunismo.

Um personagem com alusão mais social, mesmo tendo sido introduzido no ano de

1962, é o Homem Aranha, um adolescente que se torna super herói após ser picado por uma

aranha radioativa e a partir disso começa a desenvolver uma maior confiança própria em

poder fazer a diferença para o bem. Durante esse período, durante a Guerra do Vietnam,

jovens começavam a compreender o poder que poderiam alcançar por si mesmos através de

protestos e manifestações em âmbito nacional, sem precisarem, e não sendo possível, se

envolverem diretamente no conflito, podendo se identificar com o personagem de Peter

Parker, alter ego do Homem Aranha.

Figura 3 – Primeira aparição de Homem Aranha em 1962.

Fonte: Sequart Organization.6

Durante esse período da Guerra Fria a editora DC Comics usou a estratégia de ao

invés de focar na introdução de novos heróis, como feito pela Marvel, reinventar alguns dos

6 Disponível em: < http://sequart.org/magazine/3224/reviews-out-of-time-1-fantastic-four-1-the-incredible-

hulk-1-and-amazing-fantasy-15/>. Acesso em 20 de out. de 2017.

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existentes, fazendo com que eles ganhassem novos alter egos, sendo em sua maioria cientistas

e militares. O novo Flash seria Barry Allen que faz parte da polícia científica, que depois foi

alterado para ser um policial da perícia forence, que ganha seus poderes após um acidente no

laboratório, e o novo Lanterna Verde é Hal Jordan, um piloto de testes.

E colocando aqueles que não passaram por essa transformação por isso, como Batman,

por exemplo, e os novos personagens em situações onde enfrentavam ameaças nucleares ou

diretamente ligadas ao comunismo.

Figura 4 – Liga da Justiça e The Outsiders publicadas durante a Guerra Fria.

Fonte: Gotham Calling.7

5 GUERRA AO TERROR

Um tema mais atual também tratado pelos HQs é o período da Guerra Ao terror, o

nome dado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, após os atentados de 11

de Setembro a luta contra terroristas do oriente médio, que atualmente, é majoritariamente

visto como uma luta contra o grupo autointitulado Estado Islâmico.

7 Disponível em: < http://www.gothamcalling.com/batman-comics-and-the-late-cold-war-part-1/> . Acesso em

20 de out. de 2017.

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De acordo com o editor chefe da Marvel, Axel Alonso, a guerra ao terror forçou os

quadrinhos a ter uma visão mais ampla de mundo.

Isso fez com que os HQs que usavam metáforas para comentar sobre o

posicionamento incerto dos Estados Unidos no mundo fossem obrigados a

olhar além dos problemas em seu quintal. Nós não tomamos lados e nós

evitamos política pura. Nós focamos mais na ética. O lançamento de

„Capitão América: Soldado Invernal‟ é um ótimo exemplo do papel único de

abordar assuntos atuais do Capitão América desde que este foi criado em na

década de 40 para lutar contra nazistas. O Capitão lutou contra terroristas

jihadistas no começo dos anos 2000, mas ao mesmo tempo lutou contra o

racismo anti-islâmico que assolou o mundo após os ataques ao World Trade

Center. O Capitão América não trabalha a favor do governo, ele trabalha a

favor dos Estados Unidos. (ALONSO, 2014, tradução nossa).

Outra questão importante da Guerra Ao Terror é o debate de segurança versus

liberdade. Alonso afirma que a semente para a criação dos quadrinhos da „Guerra Civil‟ da

Marvel, era a realidade que as pessoas estavam vivendo no seu dia a dia em Nova Iorque,

estando constantemente em alerta, tendo suas bolsas checadas por militares para poderem

embarcar no metro após o ataque acontecido em 11 de Setembro.

Sacrificar a liberdade em troca de segurança é, segundo Axel Alonso, o novo desafio

de „conosco ou contra nós‟ dado aos super-heróis, o que faz com que estes se dividam em dois

grupos: um liderado pelo Capitão América, que afirma que as medidas do governo que

pediam para que os super-heróis se desmascarassem e assumissem uma posição de arma letal

infringia o direito de liberdade dos cidadãos e outro liderado pelo Homem de Ferro, que se

posicionava a favor do governo.

Ainda nos quadrinhos da Marvel, a luta contra o terror é também amplamente

representada no papel de James Bourne, dos HQs „Solo‟, que após ter sua namorada Mellinda

Wallace assassinada durante um ataque terrorista, o personagem Solo entra em um grupo de

serviço secreto para lutar contra o terrorismo.

Solo lutou também contra uma organização terrorista denominada A.R.E.S., um grupo

que também foi combatido pelo Homem Aranha, e que podemos perceber ter sido inspirado

pelos grupos terroristas que estão na ativa atualmente.

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Figura 5 – Primeira aparição do personagem Solo, em 1994.

Fonte: Marvel Database.8

Outra célula terrorista que Bourne luta contra é a chamada Peace Through Superior

Firepower (P.I.S.F), Paz Por Meio de um poder Armamentista Maior (tradução nossa),

comandada pelo pai do vilão Mercenário, mostrando por meio desta que atentados terroristas

podem provir também de cidadãos americanos, e não só de inimigos estrangeiros, desta forma

reforçando a ideologia da Marvel de que nossos inimigos não estão restritos à uma cor de pele

ou nacionalidade.

A maior concorrente da Marvel, a DC Comics, também abordou o assunto em seus

filmes „Superman – O Retorno‟ e „Batman: O cavaleiro das trevas‟. No primeiro um dos

personagens indaga o posicionamento de Superman a favor da verdade e justiça, ao invés da

antiga postura de defensor do „American Way of Life’, o estilo de vida americano. Já no

segundo, é abordado os desafios éticos da vigilância em massa.

8 Disponível em: < http://marvel.wikia.com/wiki/Solo_Vol_1_1>. Acesso em 21 de out. de 2017.

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O que fica claro em ambos os quadrinhos da Marvel quanto os da DC, é que os super

heróis não podem salvar todo mundo, mas eles são heróis porque eles tentam. O primeiro

quadrinho do Homem Aranha publicado após o ataque ao World Trade Center, mostra o herói

nova iorquino andando pelos escombros e buscando sobreviventes junto as equipes de

resgate, o que é uma forma de demonstrar um dos desafios dos quadrinhos atuais, que de

acordo com Alonso, é o fato de que os HQs atuais tem que aceitar que existem problemas que

heróis podem resolver e problemas que eles não podem.

Figura 6 – Heróis auxiliam equipes de resgate nos escombros do atentado de 21 de

setembro de 2001.

Fonte: Marvel Database.9

9 Disponível em: http://marvel.wikia.com/wiki/Amazing_Spider-Man_Vol_2_36<>. Acesso em 21 de out. de

2017.

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Como coloca Axel Alonso, em entrevista para U.S. News & World Report, em 2014,

“nem todos os problemas podem ser espancados, chutados e engarrafados em submissão.

Algumas vezes, a melhor coisa que um super-herói pode fazer é tentar salvar o maior número

possível de pessoas”.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Histórias em quadrinhos, assim, como muitos outros meios de entretenimento e

comunicação podem e são usados com outros propósitos além de entreter, como a transmissão

e divulgação de mensagens de caráter político, com o objetivo de reafirmar ações ou

ideologias e reforçar o apoio e aceitação popular das mesmas. Essa técnica foi utilizada por

muitos Estados, em diferentes momentos históricos, sendo possível uma observação dessa

aplicação de maneira mais clara e perceptível durante períodos de crise e guerra, como no

decorrer da Crise de 1929, da Segunda Guerra Mundial, da Guerra Fria e da Guerra ao Terror.

Ainda hoje, utiliza-se de tais meios para reforçar o sentimento de orgulho e

patriotismo de ações tomadas durante essas épocas, por meio de enredos que retomem esses

períodos, e continuando a ilustrar situações contemporâneas.

Um exemplo dessa reafirmação seria a história retratada no filme da Mulher

Maravilha, que introduz a heroína ao universo cinematográfico, onde a Princesa Diana, alter

ego da Mulher Maravilha, que passara a vida em Themyscira, Ilha Paraíso das amazonas,

onde a presença de homens é proibida, tem sua introdução ao mundo „patriarcal‟ durante o

período da Primeira Guerra Mundial, quando decide deixar a ilha e dar um fim ao conflito. A

personagem, durante esse conflito luta ao lado dos Aliados, a Tríplice Entente, formada por

França, Rússia, Império Britânico, Estados Unidos e outros, que enfrentava contra os

Impérios Centrais, a Tríplice Entente, composta, principalmente por Alemanha, Áustria-

Hungria, Bulgária e Império Otomano.

Outro exemplo a ser citado é o filme do Pantera Negra, lançado em Fevereiro de 2018,

onde T‟Challa, o pantera negra e rei de um país africano, com ajuda de uma de suas guardas

da Dora Milaje, um exército composto somente por mulheres que servem o propósito de

proteger o rei do país fictício de Wakanda, busca Nakia em sua missão infiltrada em um grupo

de terroristas que estavam sequestrando mulheres, que pode ser identificado como uma alusão

ao Boko Haram, grupo terrorista africano que é conhecido principalmente pelo sequestro de

meninas.

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Seja por meio dos quadrinhos ou de filmes baseados nestes, é inegável a influência

que os super heróis exercem na sociedade, principalmente na última década com a expansão e

consolidação do universo cinematográfico tanto da Marvel quanto da DC.

REFERÊNCIAS

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