HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

17
29. Nordmann, inP. Nora (org.), LesLieuxrkMimoin, vol. lI", p. 52. 3D. Ibtdem, pp. 55-56. 31. Brix, Die Umgangspraclum, p. 90. 32. Richard Bõckh, "Die statistische Bedeutung der Volkssprache ais Kennzeichen der natíonalitã t" ('úil.schrift for VõllurpsycJwlogie UM sprachunssenscnaft, 4, 1866, P? 259-402); do mesmo autor, Der Drutsthen VolJtswhl un Spmchgebiet in dm europiiischm Staatew (Berlim, 1869). 33. Até Hitler distinguia os alemães do Reich daqueles "alemães nacio- nais" (Voll5dtutscht) que viviamfora de suas fronteiras, mas aos quais era dada a opção de voltar "para casa", no Reich. 34. Bríx, Die Umgangsprachen, p. 94. 35. lbidem, p. 114. 124 I-IOBSBAWM)~. ~ -e, "h~~~~ .~ ~l~O. Aw <?a.u1o: ?~~ ~/ ;tqC]Õ. rr. -125-A5f IV As transformações do nacionalismo: 1870-1918 Uma vez tendo sido alcançado um certo grau de desenvolvimento europeu, as comunidades de ?Ovos, lingüísúcas e culturais, tendo maturado silenciosamente através dos séculos, emergem do mundo da existência passiva como ?Ovos (passiVtT Volkheit). Tomam-se conscientes de si mesmas como uma força que possui destino his- tórico. Demandam o controle do Estado como o mais alto instru- mento dé'}>oderdiS?Onível, e lutam pela sua autodeterminação política:-()' aniversário da idéia política de nação e o ano em que nasceu esta nova consciência é 1789, o ano da Revolução Francesa.' Duzentos anos após a Revolução Francesa, nenhum historia- dor sério e, espera-se, ninguém que leu este livro até aqui poderá considerar afirmações como a acima citada mais do que um exer- cício em mitologia programática. No entanto, essa citação parece ser uma declaração representativa do "princípio da nacionalida- de" que convulsionou a política internacional da Europa depois de 18~O, criando um número de Estados novos, dos quais a meta- de corresponderia, até onde era possível, ao princípio que Maz- zini formulava como "Cada nação, um Estado"; entretanto, esse grupo poderia ser menor se comparado à outra metade, que se- guíria a formulação "apenas Um Estado para toda a nação".2 Esse princípio é particularmente representativo, considerando cinco direções: a ênfase na comunidade cultural e lingüística, que era uma inovação no século XIX;' a ênfase no nacionalismo, cuja as- 125 I j

Transcript of HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

Page 1: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

29. Nordmann, inP. Nora (org.), LesLieuxrkMimoin, vol. lI", p. 52.3D. Ibtdem, pp. 55-56.31. Brix, Die Umgangspraclum, p. 90.32. Richard Bõckh, "Die statistische Bedeutung der Volkssprache ais

Kennzeichen der natíonalitã t" ('úil.schrift for VõllurpsycJwlogie UMsprachunssenscnaft, 4, 1866, P? 259-402); do mesmo autor, DerDrutsthen VolJtswhl un Spmchgebiet in dm europiiischm Staatew (Berlim,1869).

33. Até Hitler distinguia os alemães do Reich daqueles "alemães nacio-nais" (Voll5dtutscht) que viviamfora de suas fronteiras, mas aos quaisera dada a opção de voltar "para casa", no Reich.

34. Bríx, Die Umgangsprachen, p. 94.35. lbidem, p. 114.

124

I-IOBSBAWM)~. ~ -e, "h~~~~ .~~l~O. Aw <?a.u1o: ?~~ ~/ ;tqC]Õ. rr. -125-A5f

IV

As transformações do nacionalismo:1870-1918

Uma vez tendo sido alcançado um certo grau de desenvolvimentoeuropeu, as comunidades de ?Ovos, lingüísúcas e culturais, tendomaturado silenciosamente através dos séculos, emergem do mundoda existência passiva como ?Ovos (passiVtT Volkheit). Tomam-seconscientes de si mesmas como uma força que possui destino his-tórico. Demandam o controle do Estado como o mais alto instru-mento dé'}>oderdiS?Onível, e lutam pela sua autodeterminaçãopolítica:-()' aniversário da idéia política de nação e o ano em quenasceu esta nova consciência é 1789, o ano da Revolução Francesa.'

Duzentos anos após a Revolução Francesa, nenhum historia-dor sério e, espera-se, ninguém que leu este livro até aqui poderáconsiderar afirmações como a acima citada mais do que um exer-cício em mitologia programática. No entanto, essa citação pareceser uma declaração representativa do "princípio da nacionalida-de" que convulsionou a política internacional da Europa depoisde 18~O,criando um número de Estados novos, dos quais a meta-de corresponderia, até onde era possível, ao princípio que Maz-zini formulava como "Cada nação, um Estado"; entretanto, essegrupo poderia ser menor se comparado à outra metade, que se-guíria a formulação "apenas Um Estado para toda a nação".2 Esseprincípio é particularmente representativo, considerando cincodireções: a ênfase na comunidade cultural e lingüística, que erauma inovação no século XIX;' a ênfase no nacionalismo, cuja as-

125

Ij

Page 2: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

piração era a de formar ou tomar os Estados, e não as "nações",de Estados já existentes; o seu ~!st.Qricisl!!.0e o sentidode.missâçhistórica; a reivindicação da paternidade de 1789; e, não menos, asua ambigüidade terminológica e retórica.

No entanto, se a citação parece, à primeira vista, algo que opróprio Mazzini poderia ter escrito, de fato ela foi escrita setentaanos depois das revoluções de 1830, por um socialista marxiano,de origem morávia, em um livro sobre os problemas específicosdo império Habsburgo. Em poucas palavras, embora pudesse serconfundida com o "princípio de nacionalidade" que transformouo mapa político da Europa entre 1830 e 1870, pertence de fato auma fase posterior e distinta do desenvolvimento nacionalista nahistória européia.

O nacionalismo dos anos 1880-1914 diferia em três grandesaspectos da fase mazziniana de nacionalismo. Primeiro, abando-nava o "princípio do ponto critico" que, como vimos, tinha sidocentral ao nacionalismo da era liberal. Doravante, qualquer corpode pessoas que se considerasse uma "nação" demandaria o direitoà autodeterminação, o que, em última análise, significava o direi-to a um Estado independente soberano separado para seu territó-rio. Em segundo lugar, e em conseqüência dessa multiplicação denações "não históricas" potenciais, a etnicidade e a língua toma-ram-se o critério central, crescentemente decisivo ou mesmo úni-co para a existência de uma nação potencial. Entretanto, haviauma terceira mudança que afetava não tanto os movimentosnacionais não estatais, então cada vez mais numerosos e ambici-osos, mas os sentimentos nacionais dentro dos Estados-nações es-tabelecidos: uma mudança aguda no direito político a nação ebandeira, para a qual o termo "nacionalismo" foi realmente in-ventado na(s) última(s) década(s) do século XIX. A citação deRenner representa as primeiras duas mudanças, mas evidente-mente não a terceira, pois esta vinha da esquerda.

Existem três razões pelas quais freqüentemente não se reco-nhece que muito tardiamente o critério etnolingüístico se tomoude fato dominante para definir uma nação. Primeiro, os doismovimentos nacionais não estatais mais proeminentes da primei-

'".; ra metade do século XIX eram essencialmente baseados em co-, munidades de letrados, unidos através de fronteiras políticas e

;,"'.

126

1i

f geográficas pelo uso de uma língua estabelecida da alta cultura e,por sua literatura. Para os alemães e italianos, a sua língua nacio-nal não era meramente uma conveniência administrativa ou ummeio dê unificar a comunicação ampliada do Estado, como ofrancês tinha sido para a França desde a ordenação de Villers-Cotterets em 1539; ou nem mesmo como plano revolucionáriopar,~ 1@Zer as verdades da ciência, do progresso e da liberdadepã~a todos, assegurando a permanência da igualdade para os cida-d~~"epre"enindo a revivescência da hierarquia do ancien regime,c.<?_moj!rapara os jacobinos." Era até mesmo mais do que veículode expressão para uma literatura de prestígio e para expressãointelectual universal. Era, na verdade, a única coisa que os faziaalemães e italianos, e conseqüentemente tinha um peso maiorpara a identidade nacional do que, digamos, o inglês tinha paraquem o lia e escrevia. No entanto, nessa época, para as classesmédias liberais italianas e alemãs a língua provia então um argu-mento central para a criação de um Estado unificado nacional, eisso não tinha acontecido em lugar nenhum, na primeira metade;do século XIX. As demandas políticas por independência na Po-lônia ou na Bélgica não eram baseadas na língua, nem tampoucoas rebeliões de vários povos balcânicos contra o império otomano,que produziram alguns Estados independentes. Menos ainda erao caso do movimento irlandês na Grã-Bretanha. Alternativamen-'te, quando os movimentos lingüísticos já tinham uma base políti-ca significativa, como nas terras tchecas, a autodeterminação na- ,.cional (como oposta ao reconhecimento cultural) não era aindauma questão, e não se pensava seriamente no estabelecimento deum Estado separado.

No entanto, desde o final do século XVIII (e, em grandeparte, sob influência intelectual alemã), a Europa havia sido varri-

;'!da pela paixão romântica pelo campesinato puro" simples e não',I corrompido; e para essa redescoberta folclórica do "povo" foram

essenciais as línguas vemáculas que este falava. Contudo, emboraesse renascimento cultural populista tenha fornecido a base paramuitos movimentos nacionalistas subseqüentes, e tenham justifi-cavelmente entrado no que Hroch classificou como a primeirafase ("fase A"), o próprio Hroch deixou claro que, em nenhumsentido, isso implicava um movimento político do povo que o

.·t

127 -'1l

Page 3: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

fazia nem alguma aspiração ou programa político. Na verdade,mais freqüente do que a descoberta da tradição popular et de suatransformação em "tradição nacional" de alguns grup~s"campone-ses esquecidos pela história era o fato de serem fruto de umtrabalho de alguns entusiastas da classe dominante ou elite (es-trangeira) como os alemães bálticos e os suecos finla!1<i.i~";~:--ASociedade de Literatura Finlandesa (fundada em 1831) foi esta-belecida por suecos, e seus registros eram feitos em sueco, e todosos escritos do principal ideólogo do nacionalismo cultural fin-landês, Snellrnan, parecem ter sido feitos em sueco." Embora nãose possa negar a formação ampla de movimentos de revivescêncialingüística e cultural no período de 1780 a 1840, é um erro con-fundir a fase A de Hroch com a fase B, quando passou a existirum corpo de ativistas devotados à agitação política pela "idéianacional"; e menos ainda com a "fase C", quando se pode contarcom apoio de massa para a "idéia nacional". Como mostra o casobritânico, não há casualmente nenhuma conexão necessária entrea revivescência de movimentos desse tipo e as agitações nacionaisou movimentos de nacionalismo político subseqüentes, e, aocontrário, esses movimentos nacionalistas podem não ter nada aver, originalmente, com a revivescência cultural. A SociedadeFolclore (1878) e o reflorescirnento, na Inglaterra, das cançõesfolclóricas não eram mais nacionalistas do que a Gypsy Lore So-ciety.

A terceira razão se refere mais ao problema da identificação_étnica do que da identificação lingüística. Isso está relacionadocom a falta de teorias influentes, ou pseudoteorias, que identifica-

'J vam as nações com descendência genética (estas só aparecerammuito tardiamente no século XIX). Mas esse assunto será cuidadomais adiante.

A crescente significação da "questão nacional" nos quarentaanos que precederam 1914 não é medida simplesmente por suaintensificação nos velhos impérios multinacionais austro-húngaroe turco. Havia se tornado uma questão importante da políticainterna de quase todos os Estados europeus. Assim, precisamenteno Reino Unido ela não ficou muito tempo confinada ao irlan-dês, até mesmo o nacionalismo irlandês crescia com esse nome -o número de jornais que se autodescreviam como "nacionais" ou

128

"nacionalistas" cresceu de um em 1871 para treze em 1881, che-gando a 33 em 1891 _Be se tornaram politicamente explosivos napolítica britânica. Contudo, é freqüenternente esquecido que essefoi o período no qual pela primeira vez foram reconhecidos ofici-almente os interesses galeses como nacionais (a lei galesa do fe-chamento aos domingos, em 1881, foi descrita como "a primeiralei do Parlamento especificamente galesa"),' e quando a Escóciaconseguiu não só um mecanismo modesto de regulamentaçãointerna, um escritório escocês no governo, mas também a partici-pação nacional garantida no gasto público do Reino Unido,através da chamada Goschen Formula. O nacionalismo interno po-dia também tomar a forma de ascensão daqueles movimentos dedireita para os quais o termo "nacionalismo" foi de fato cunhadonesse período - como na França, Itália e Alemanha - ou, maisgeralmente, da xenofobia política que encontrou sua expressãomais deplorável, embora não fosse a única, no anti-semitismo.Que um Estado tão relativamente tranqüilo como a Suécia pudes-se ter sido, nesse período, sacudido pela secessão nacional daNoruega (1907) - que não foi proposta por ninguém até a déca-da de 1890 - é, sem dúvida, tão significativo quanto a paralisia dapolítica dos Habsburgo diante das agitações rivais nacionalistas.

Além disso, é durante esse período que encontramos movi-mentos nacionalistas se multiplicando em regiões onde eram ple-namente desconhecidos, ou entre povos até então interessantesapenas para os folcloristas; e, mesmo que pela primeira vez, fan-tasticamente também no mundo não ocidental. Não é muito claro.0 quanto esses novos movimentos antiimperialistas podem serolhados como nacionalistas, embora seja irrecusável a influênciada ideologia ocidental nacionalista sobre seus porta-vozes e ativis-tas - como no caso da influência irlandesa sobre o nacionalismoindiano. Entretanto, mesmo se ficarmos apenas na Europa e emseu entorno, encontramos em 1914 muitos movimentos que nãohaviam existido em 1870: entre armênios, georgianos e lituanos eoutros povos bálticos, entIe os judeus (e versões sionistas e nãosionistas), entre macedõnios e albaneses nos Bálcãs, entre rutenose croatas no império Habsburgo - o nacionalismo croata nãodeve ser confundido com o apoio anterior croata para o nacio-nalismo iugoslavo, ou "ilirianismo" -, entre os bascos e catalães,

129 "\

Page 4: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

entre os galeses, na Bélgica com um movimento flamengo radica-lizado de forma distinta, bem corno inesperados e inéditos toquesde nacionalismo local em lugares como a Sardenha. Podemos atémesmo detectar os primeiros sinais do nacionalismo árabe noimpério otomano.

Como já foi sugerido, a maioria desses movimentosdestaca-va agora o elemento lingüístico e/ou étnico. Que isso fosse, comfreqüência, novo pode ser prontamente demonstrado. Antes dafundação da Liga Gaélica, em 1893, que inicialmente não tinhafins políticos, a língua irlandesa não era uma questão do movi-mento nacional irlandês. Não figurava nem na agitação do apelode O'Connell - embora o libertador fosse um kerryman de falagaélica - nem no programa feniano. Mesmo as tentativas sériasde criar uma língua irlandesa uniforme a partir do comum com-plexo de dialetos não foram feitas antes de 1900. O nacionalismofinlandês tematizava a defesa da autonomia do grãc-ducado sob ogoverno dos czares, e os liberais finlandeses que surgiram depoisde 1848 assumiram a idéia de que representavam uma nação úni-ca, bilíngüe. O nacionalismo finlandês apenas se tornou essencial-mente Iingüístico na década de 1860 (quando um decreto impe-rial melhorou a posição pública da língua finlandesa diante dossuecos), mas até a década de 1880 a luta lingüística permaneceu,em grande parte, uma luta de classes interna entre os finlandesesde classe baixa (representados pelos fenomen; que queriam umaúnica nação tendo o finlandês como língua) e a minoria sueca declasse alta (representada pelos suecomen, que argumentavam que opaís tinha duas nações e, portanto, duas línguas). Somente depoi.~de 1880 é que coincidiram a IE!..apela autonomia e a luta _p'~la~í.flguae pela cultura, dado que o czarismo deslocou-se para seupróprio nacionalismo russificador."

Da mesma forma, o catalonisrno, como um movimento cul-tural-lingüístico (conservador), não pode ser historiado mais alémde 1850, e seus Jocs florais (análogos ao Eisteddfodau galês) nãoforam revividos antes de 1859. A própria língua não foi padroni-zada, de forma oficial, até o século XX,9e o regionalismo catalâonão se preocupou com a questão lingüística até 1880.10 Já foi su-gerido que o desenvolvimento do nacionalismo basco ficou unstrinta anos atrás daquele do movimento catalâo, embora a mu-

130

~~ dança ideológica do autonomismo basco (que foi da defesa darestauração de privilégios feudais an tigos para o argumen to lin-güístico-racial) tenha sido súbita: em 1894, menos de vinte anos'depois do final da segunda guerra carlista, Sabino Arana fundouo seu Partido Nacional Basco (PNV), inventando, a propósito, onome basco para o país (Eusl!ad%) até então inexisten te.11

Na outra extremidade da Europa, os movimentos nacionaisdos povos bálticos ainda estavam apenas saindo de suas primeirasfases (culturais) no último terço do século e, nos remotos bálcãs,onde a questão macedônia fez aparecer sua carga sangrenta de-pois de 1870, a idéia de que as várias nacionalidades que viviamnesse território deveriam ser diferenciadas por sua língua foi aúltima que atingiu os Estados da Sérvia, Grécia, Bulgária e a Subli-me Porta, os quais passaram a lutar por ela.12 Os habitantes daMacedônia foram diferenciados por sua religião; ou então as rei-vindicações por esta ou aquela parte da Macedônia foram basea-das em uma história que ia da Idade Média ao Mundo Antigo; ouentão a diferença vinha por conta de argumentos etnográficossobre costumes e práticas rituais comuns. A Macedônia se tornouum campo de batalha para os filólogos apenas no século XX, aopasso que os gregos, que não podiam competir nesse terreno,compensaram-se ao destacar 1}.ma.etniçiqade imaginária.

Ao mesmo tempo - mais ou menos na segunda metade do'século XIX -, o nacionalismo étnico recebeu reforços enormes;em termos práticos através da crescente e maciça migração geo-gráfica; na teoria, pela transformação da "raça" em conceito cen-tral das ciências sociais do século XIX. Por um lado, a velha eestabelecida divisão da humanidade em algumas poucas "raças"que se diferenciavam pela cor da pele passou a ser elaboradaagora em um conjunto de diferenciações "raciais" que separavampessoas que tinham aproximadamente a mesma pele clara, como"arianos" e "semitas" ou, entre os "arianos", os nórdicos, os alpi-nos e os mediterrâneos. Por outro lado, o evolucionismo darwi-.nista, suplementado pelo que seria depois conhecido como ge-nética, alimentou o racismo com aquilo que parecia ser um con-junto poderoso de razões "científicas" para afastar ou mesmo,como aconteceu de fato, expulsar e assassinar estranhos. Tudo)isso aconteceu comparativamente tarde. O anti-semitismo não

131

Page 5: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

a.4quu-i~,!:lm caráter "racial" (diferente de um carát~LI:(!Jigi,Q§Qe,~ultura,,) até por volta de 1880; os maiores profetas do racismoalemão e francês (Vacher de Lapouge, Houston Stewart Charn-berlain) pertencem à década de 1890, e os nórdicos não tiveramnenhum discurso, nem o racista, até por volta de 1900}3

Os liames entre o racismo e o nacionalismo são óbvios. Alíngua e a "raça" eram facilmente confundidas como no caso dos"arianos" e "semitas", para indignação de estudiosos escrupulososcomo Max Muller, para quem a "raça", um conceito genético, nãopodia ser inferida da língua, que não era herdada. Além disso, háuma evidente analogia entre a insistência dos racistas na purezaracial e nos horrores da miscigenação, e também a insistência detantas formas de nacionalismo lingüística - a maioria, talvez -sobre a necessidade de purificar a língua nacional de elementosestrangeiros. No século XIX, os ingleses foram bastante excepcio-nais em exagerar suas origens híbridas (bretões, anglo-saxões, es-candinavos, normandos, escoceses, irlandeses, etc.) e orgulhar-seda mistura filológica de sua língua .. Contudo, o que trouxe a"raça" e a "nação" mais perto ainda foi a prática de usá-Ias comosinônimos possíveis, generalizando, de modo igualmente inexato,o caráter "'racial/nacional", como era então a moda. Assim, comoobservou um escritor francês, antes da Entente Cordiale anglo-francesa de 1904, os dois países tinham considerado um acordocomo impossível porque haveria uma "inimizade hereditária" en-tre as duas raças. H Dessa forma, o nacionalismo lingüística e oétnico reforçavam-se um ao outro.

Não é surpreendente que o nacionalismo tenha conseguidoespaço tão rapidamente nos anos que vão de 1870 a 1914. Asmudanças tanto políticas quanto sociais eram em função dele;isso, sem mencionar uma situação internacional que forneciaabundantes desculpas para pendurar manifestos de hostilidade aestrangeiros. Socialmente, J;rê~,fatos deram um alcance crescentepara o desenvolvimento de novas formas de invenção de comuni-dades - reais ou "imaginárias" - como nacionalidades: a resis-tência de grupos tradicionais ameaçados pelo rápido progresso damodernidade, as novas classes e estratos, não tradicionais, querapidamente cresciam nas sociedades urbanizadas dos países de-senvolvidos e as migrações sem precedentes que distribuíram uma

132

ri

diáspora múltipla de povos através do planeta, cada um estranhotanto aos nativos quanto aos outros grupos migrantes ,e .nenhum,ainda, ~()m~,º,tM_bit~s._t:50lly.e!l~õesda coexistência. O ritmo e opeso absolutos da mudança nesse período seria suficiente paraexplicar por que, sob tais circunstâncias, as ocasiões para fricçãoentre grupos se multiplicaram, mesmo se não contássemos com ostremores da "grande depressão" que tão freqüentemente, nessesanos, alterou a vida dos pobres e dos economicamente modestose inseguros. Tudo o que se requeria para a entrada do nacionalis-mo na política era que os grupos de homens e mulheres que seviam, de algum modo, como ruritânios, ou eram assim vistos pelosoutros, estivessem prontos a aceitar que seus descontentamentoseram causados pelo tratamento inferior dado aos ruritânios (mui-tas vezes inegável), cQ.mp.arad.QçQmQ!ltra~Jlª&i9.1Hdidades.()!l p~rl!1J.l.~!!.tado.LllIll~_.clas~e__~olTlill~llt~._!!~-.!..~!i!!I1}3:~_De qualquerforma, por volta de 1914 alguns observadores surpreenderam-secom populações européias que ainda pareciam completamentefechadas a qualquerapelo feito com base na nacionalidade, em-bora isso não si~ificasse necessariamente aceitação de um pro-grama nacionalista. Os cidadãos americanos de origem imigrantenão reivindicaram qualquer concessão lingüística ou de outrotipo à sua nacionalidade pelo governo federal, embora, no entan-,~9..,.,q!l_alquer político democrata urbano soubesse perfeitamentebem o quanto rendia dirigir-se aos irlandeses como irlandeses eaos poloneses como poloneses.

Como vimos, as maiores mudanças políticas que possibilita-ram a transformação da receptividade potencial aos apelos nacio-nais em recepção real foram a democratização da política em umnúmero crescente de Estados e a criação de um Estado administra-tivo moderno, mobilizador e influenciador dos cidadâos. Contudo, 'a ascensão da política de massas ajuda-nos mais a reformular, doque responder, a questão do apoio popular ao nacionalismo. O queprecisamos saber, exatamente, é o que significavam os slogans na-cionais em política e se eles significavam a mesma coisa para dife-rentes eleitorados sociais; como tais slogans mudaram e em quecircunstâncias eles combinavam ou eram incompatíveis com osoutros slogans que poderiam mobilizar a coletividade de cidadãos, ecomo eles conseguiram, ou não, realizar essa mobilização.

133

Page 6: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

.~

A identificação de uma nação com uma língua nos possibili- '; I.,'

ta responder a tais questões, ~toque o naciQnalismo Iíngüístícorequer, essencialmente, controle ,d() ~~G!dQouao.menoso ganho'do reconhecimento oficial para a língua. Isso não tem a mesmaimportância para todos os estratos' ougrupos que vivem dentro deum Estado ou nacionalidade, ou mesmo para cada Estado ounacionalidade. De qualquer modo, não são os problemas de co-\municaçâo, ou mesmo de cultura, que estão no coração do nacio-nalismo da língua, mas sim os de poder" siatus; política eideolc- i

g~a. Se comunicação ou cultura tivessem sido a questão crucial, omovimento nacionalista judeu (sionismo) não teria optado porum hebraico moderno que ninguém ainda falava e em uma pro-núncia diferente daquela usada nas sinagogas européias. O ídichef()i rejeitado, e no entanto ele era falado por 950/0 dos judeusashkenazim; do Leste europeu e, seus emigrantes ao Ocidente+-«ou seja, por uma substancial maioria dos judeus do mundo, Porvolta de 1935, já foi dito, o ídiche era "uma das principais línguascultas do tempo"," devido à sua literatura variada, ampla e dife-renciada, desenvolvida para seus dez milhões de usuários. Damesma forma, o movimento nacional irlandês não teria se jogadona condenada campanha para reconverter o irlandês para umalíngua que a maioria deles não entendia e que mesmo aquelesque passaram a ensiná-Ia aos seus compatriotas mal tinham come-çado a aprendê-la.!"

Como mostra o exemplo do ídiche e confirma o século XIX,essa idade de ouro das literaturas em dialeto, a existência de umidioma amplamente falado ou mesmo escrito óão necessariamt;,n-te gerou nacionalismo de base lingúística .. Essas línguas e literatu-ras viam-se e eram vistas, conscientemente, como suplementandoe não competindo com as línguas hegemônicas da cultura e,~~municação geral.

O elemento político-ideológico é evidente no processo deconstrução da língua, que pode percorrer desde a mera "corre-ção" e padronização das línguas culturais e literárias existentes,através da formação de tais línguas a partir do complexo recor-rente de dialetos contíguos, até a ressurreição de línguas mortasou quase extintas que resultam na virtual invenção de línguasnovas. Pois, ao contrário dos mitos nacionalistas, a língua de um

134

rpovo não é a base da consciência nacional mas sim, na frase deEinar Haugen, um "artefato cultural".'? O desenvolvimento dovernáculo moderno indiano mostra isso com clareza.

No século XIX, o bengali erudito foi deliberadamente en-volvido pelo sânscrito e se tomou uma língua cultural, que nãoapenas separou as classes altas das populares como também india-nizou a alta cultura bengali, rebaixando assim o muçulmanobengali para as massas; em troca, foi notada uma certa retirada dosânscrito como influência na língua de Bangladesh (Bengala doLeste) desde a divisão. Mais instrutiva ainda é a tentativa deGandhi de desenvolver e manter uma única linguagem hindubaseada na unidade do movimento nacional, ou seja, de preveniras variantes do hindu e do muçulmano, que formavam a línguahíbrida da Índia do Norte, de se afastarem em demasia, fornecen-do, ao mesmo tempo, uma alternativa nacional ao inglês. No en-tanto, os paladinos de um hindu mais ecumênico foram desafia-dos por um grupo fortemente pró-hindu e antimuçulmano (por-tanto, antiurdu) que, em 1930, conseguiu o controle da organiza-ção formada pelo Congresso Nacional para propagar a língua,levando Gandhi, Nehru e outros líderes do Congresso a renunciarà organização (a Hindi Shitya Samuelan ou HSS). Em 1942,Gandhi voltou, sem sucesso, ao projeto de criar um "hindu am-plo". Enquanto isso, a HSS criou o que entendia ser um hindipadronizado, e oportunamente montou centros de exames paraconferir graus e diplomas em língua para o ensino secundário,padronizando assim a língua para fins do ensino; em 1950, criouum "Comitê de Terminologia Científica" para aumentar seu voca-bulário, coroando essa ação com a Enciclopédia Hindu; começadaem 1956.18

De fato, a língua se tomou um exercício mais deliberado deengenharja social na medida em que seu significado simbólico

j>!l:S~C?.':l a prevalecer sobre seu uso real, como o testemunham osvários movimentos para "nativizá-la" ou tomar seu vocabuláriomais "verdadeiramente" nacional, dos quais a luta dos governosfranceses contra o franglais é o exemplo recente melhor conheci-do. As paixões que movem esses movimentos são fáceis de serentendidas, mas elas não têm ~ada a ver com a prática de falar,entender e escrever ou mesmo com o espírito da literatura. O

135

Page 7: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

norueguês influenciado pelo dinamarquês foi e continua a ser oprincipal meio da literatura norueguesa. A reação contra essa lín-gua, no século XIX, foi nacionalista. Como é mostrado pelo seutom, a declaração do Cassino Alemão de Praga de que aprendertcheco - então falado por 93% da população da cidade - eratraição,19 não é uma declaração sobre comunicações. Os entusiastasgaleses, que estão até hoje dando nomes em seu idioma para lu-gares que jamais tiveram algum nome galês até hoje sabem muitobem que os que falam o idioma não precisam "galecizar" o nomede Binningharn mais do que o de Bamako ou qualquer outra ci-

,., dade estrangeira. Todavia. qualquer que seja a motivação da cons--.;. truçâo e manipulação planejada da língua e qualquer que seja o

grau de transformação visualizado, o poder estatal é essencial,Pois como poderia o nacionalismo romeno insistir em suas

origens latinas, em 1863 (marcando a diferença dos vizinhos esla-vos e magiares), escrevendo e imprimindo em letras romanas emvez de usar o cirílico comum, fora do poder do Estado? (O chefede polícia de Metternich, conde Sedlnitzky, praticou uma formaparecida de política cultural e lingüística subsidiando a impressãode trabalhos religiosos ortodoxos em caracteres latinos e não emcinlico, para desmobilizar as tendências pan-eslavas entre os eslavosdo império Habsburgo.j '" Como poderiam os idiomas domésticosou rurais ser transformados em linguagens capazes de competircom as línguas prevalecentes da cultura nacional ou mundial -para não mencionar as línguas virtualmente não existentes a que seconferiu realidade - sem o apoio da autoridade do reconheci-mento público dado pela educação ou administração? Qual teriasido o futuro do hebraico se o mandato britânico não tivesse, em1919, aceitado esse idioma como uma das três línguas oficiais daPalestina, em um tempo em que o número de pessoas que efeti-vamente falavam hebraico como linguagem diária não passava de20 mil? O que poderia ter remediado o fato observado de que, namedida em que as linhas lingüísticas se congelavam na Finlândiapor volta do final do século XIX, "a proporção de intelectuais quefalavam sueco era muito maior do que o faziam as pessoas comuns"- isto é, que finlandeses cultos continuavam a achar o sueco maisútil do que sua língua materna - senão um sistema de educaçãosecundário e mesmo superiorê"

136

r~

Contudo, as línguas têm um número considerável de usospráticos e socialmente diferentes e, por mais que sejam simbólicasdas aspirações nacionais. as atitudes em relação à língua escolhidacomo a oficial para fins administrativos, educacionais e outrosdiferem em suas conseqüências. Lembremo-nos, uma vez mais, deque o elemento controverso é a língua escrita, ou a língua faladapara fins públicos. A(s) língua(s) falada(s) dentro da esfera priva-da de comunicação não enseja(m) maiores problemas, mesmoquando coexiste(m) com línguas públicas, já que cada uma ocupaseu próprio espaço, como sabe toda criança que muda do idiomaque utiliza para falar com seus pais para aquele adequado parafalar com professores e amigos.

Além disso, enquanto a extraordinária mobilidade geográfi-ca e social do período forçou, ou encorajou, um número semprecedentes de homens - e mesmo de mulheres, não obstanteseu confinamento à esfera privada - a aprender novas línguas,esse processo em si mesmo nã(~.-!~Y~!l!QY.:.JluestÕesj.d.eológic.ª~anão. ser. quando.uma Iínguafci deliber_a_Q.'!~r:!~~_~ªtq4t;1e outra~~pstituída.,geralmente (!l.ll..verdade, quase universalmente) como~l!l meio deentrar na cu.1~ra.'~ãls'ampia~(;ü~~ -tima Classe socialIJJ~is alta,.idemlificada .c:(}IJ.:l o.~Q::aJíngl1ª. Certamente foi esse ocaso mais freqüente, como aconteceu com as classes médias assi-miladas de judeus ashlrenazim da Europa central e ocidental, quetinham orgulho de não falar nem entender o Idiche, e tambémpossivelmente com famílias de numerosos e apaixonados naciona-listas ou nacional-socialistas da Europa central em um ponto desua trajetória, cujos sobrenomes indicam uma origem obviamenteeslavônica. Contudo, era mais freqüente as línguas novas e antigasviverem em simbiose, cada urna em sua própria esfera. Para aclasse média educada de Veneza, falar italiano não implicava de-sistir de falar vêneto em casa ou no mercado, não mais do que obilingüismo sugeria uma traição à sua língua originária galesa aLloyd George.

A língua falada não apresentava, assim, um problema políti-co de maior importância, seja para os estratos mais altos da socie-dade, seja para as massas de trabalhadores. As pessoas do topofalavam as línguas da cultura universal e, se seu próprio vernáculoou língua familiar não era nenhuma dessas, os homens - e, no

137

Page 8: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

começo de 1900, também as mulheres - aprendiam uma ouvárias delas. Eles falariam naturalmente a língua nacional padrãono modo "culto", com ou sem sotaque e com um toque do voca-bulário regional, mas sempre de um modo que os identificassecomo membros de sua classe social." Podiam ou não falar a gíria,o dialeto ou o vernáculo das classes baixas com quem mantinhamcon tato, dependendo de suas próprias origens familiares, lugar deresidência, forma de educação, das convenções de sua classe e, éclaro, dependendo da extensão na qual a comunicação com asclasses baixas requeria conhecimento de sua ís) língua(s) ou dealgum créole ou pidgin. O status oficial dessas línguas era poucoimportante se, qualquer que fosse a língua de uso oficial e cultu-ral, esta estivesse à sua diposição.

Para os analfabetos, que faziam parte do povo comum, omundo de palavras era inteiramente oral e, conseqüentemente, alíngua de qualquer escrito, oficial ou não, não tinha outro signifi-cado a não ser o de lembrá-Ias crescentemente de sua falta deconhecimento e poder. A reivindicação dos nacionalistas albane-ses, de que sua língua não deveria ser escrita em caracteres gregosou árabes mas sim no alfabeto latino, o que não implicava inferio-ridade nem para gregos nem para turcos, era obviamente poucoimportante para pessoas que não podiam ler nenhum alfabeto.Na medida em que pessoas de diferentes terras natais se relacio-navam e que a auto-suficiência dos vilarejos degradava, tornou-sesério o problema de achar uma língua comum para comunicação- não tanto para as mulheres, confinadas a um meio restrito, emenos ainda para aqueles que colhiam e os que criavam animais-, e a forma mais fácil de resolvê-Ia era a de aprender o sufici-ente de uma (ou da) língua nacional. Mais ainda quando as duasgrandes instituições da educação de massa, a escola primária e oexército, trouxeram algum conhecimento da língua oficial paracada lar.25 Não é surpreendente que as línguas de uso puramentelocal ou socialmente restritas perdessem terreno para as línguas.de uso mais amplo. Nem existem quaisquer evidências de queessas mudanças e adaptações lingüísticas encontrassem algumaresistência de baixo. Entre duas línguas, aquela que é mais ampla-mente usada tem vantagens amplamente reconhecidas e aparen-temente nenhuma desvantagem, mais ainda por não haver nada

138

Ipara impedir o uso da língua materna entre os que falavam umasó língua. No entanto, o bretão que falasse uma só língua estavaperdido se saísse da área natal e de suas ocupações tradicionais.Em outros lugares, estaria um pouco melhor do que um animalestúpido: um fardo de músculos mudo. Do ponto de vista dehomens pobres que procuravam trabalho ou melhoria no mundomoderno, não havia nada de errado com os camponeses que setornavam franceses ou polacos e italianos em Chicago aprenden-do inglês e desejando ser americanos.

Se eram óbvias as vantagens em conhecer uma língua nãolocal, mais inegáveis ainda eram as que advinham da alfabetizaçãoem uma língua de circulação ampla, especialmente em uma lín-gua universal. As pressões que existem na América Latina para aeducação em língua vernácula indígena, às quais falta uma escri-ta, não vêm dos índios, mas sim de intelectuais indigenistas. Sermonolíngüe é estar acorrentado, a não ser que sua língua localseja de fato uma língua mundial. As vantagens de saber francêseram tantas na Bélgica de 1846 a 1910, que mais flamengos torna-ram-se bilíngües do que pessoas que falavam francês aprenderamflarnengo." O declínio de línguas localizadas e de baixa circula-ção não precisa ser explicado pela hipótese da opressão lingüísti-ca nacional. Pelo contrário, os esforços admiráveis e sistemáticospara mantê-Ias, com muito custo, não apenas permitiram que de-clinassem mais vagarosamente: sorbiano, reto-romano (voman-che z ladinsch) ou o gaélico escocês. A despeito das amargas lem-branças de intelectuais do vernáculo que foram proibidos, porprofessores pouco imaginativos, de usar seu patois ou sua línguanas salas de aula onde se ministravam as lições em inglês oufrancês, não há evidência de que os pais de alunos, en masse,preferissem uma educação exclusivamente em sua própria língua.É claro que a obrigação de ser educado exclusivamente em outraljngua de circulação limitada - por exemplo, em romeno e nãoem búlgaro - deve ter encontrado maiores resistências.

Daí não haver entusiasmo especial pelo nacionalismo lin-güístico nem por parte da aristocracia ou grande burguesia nempor parte dos camponeses ou trabalhadores. A grantU bourgeoisie;como tal, não estava necessariamente comprometida nem com ochauvinismo imperialista nem com o nacionalismo dos povos pe-

139

Page 9: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

quenos, as duas variantes do nacionalismo que chegaram à cenano final do século XIX - e menos ainda com o zelo lingüísticade pequenas nações. A burguesia flarnenga em Gand ou Antuér-pia era, e talvez ainda seja, deliberadamente francófona e anti-júlminganL Os industriais poloneses, e muitos deles se considera-vam mais alemães ou judeus do que poloneses," viram claramenteqJ!,~seus interesses econômicosejam melhor. qtel1ºiºg§~eJorn_e-cfssem à grande .Rússia e outrosmercados supJ:.a,nªs:jgnª~s,a talponto que isso fez Rosa de Luxernburgo enganar-se subestimandoa força do nacionalismo polonês. A classe comerciante escocesa,por mais que fosse orgulhosa do modo de ser escocês, teria con-siderado qualquer sugestão de abolir a União de 1707 como idio-tice sentimental.

Como vimos, as classes operárias dificilmente se motivariamem torno das questões da língua como tal, embora esta pudessemuito bem servir como símbolo para outros tipos de fricção entregrupos. O fato de a maioria dos trabalhadores de Gand e Antuér-pia não poderem sequer se comunicar com seus colegas de Liêgee Charleroi sem tradução não os impediu de, juntos, formaremum único movimento operário, no qual a língua causou tão pou-cos problemas que um trabalho corrente sobre o socialismo naBélgica, escrito em 1903, apenas se refere à questão flamenga,uma situação que hoje seria inconcebível." De fato, no Sul deGales, os interesses liberais burgueses e operários juntaram-separa resistir às tentativas do liberalismo nacionalista do Norte de .Gales do jovem Lloyd George em identificar o modo de ser galêscom a língua galesa, e o Partido Liberal - o partido nacional doprincipado - com sua defesa. Foram bem-sucedidos na décadade 1890.

As classes que defendiam o uso oficial do vernáculo escritoou se expressavam nessa língua eram os estratos médios mais po-bres, porém cultos, que incluíam aqueles que tinham adquirido ostatus de baixa classe média precisamente por ocuparem empre-gos não-manuais que requeriam escolaridade. Os socialistas doperíodo sabiam bem do que falavam quando incluíam o prefixo"pequeno-burguês" ao falarem de "nacionalismo". As linhas defrente da batalha do nacionalismo lingüístico eram reforçadaspelo jornalismo provincial, pelos professores de escola e pelos

140

Iaspirantes de oficiais subalternos. As batalhas da política Habsbur-go foram travadas a respeito da língua do ensino nas escolas se-cundárias ou da nacionalidade dos que ocupariam os empregosde mestres efetivos, quando a contenda nacional tornava metadedo império da Áustria virtualmente ingovernável. Foi quando osativistas pan-germânicos ultranacionalistas do império de Guilher-me II passaram a recrutar fortemente os instruídos (mas os Ober-lehrer e não os professores) e semi-instruídos de uma sociedadesocialmente móvel e em expansão.

Não desejo reduzir o nacionalismo lingüístico a uma questãode empregos, como fizeram os liberais materialistas vulgares quan-_º9...reduziarn a questão da guerra aos lucros das empresas de ar-..marnentos. Contudo, nem o nacionalismo nem a oposição a elepodem ser plenamente entendidos' a menos que vejamos as línguasvemáculas como interesses constituídos das classes com menospassagem por exames. Além disso, cada passo que dava ao vernácu-lo uma melhor posição oficial, especialmente como uma língua deensino, multiplicava o número de homens e mulheres que poderi-am partilhar desses interesses constituídos. A criação de provínciasessencialmente lingüísticas na Índia pós-independência e a resistên-cia à imposição de uma das línguas vemáculas (o hindu) como!í!lgua nacional refletem, ambas, esta situação: dentro da provínciade Tamilnadu a educação em tâmil abre as carreiras públicas esta-tais, enquanto que a manutenção do inglês não coloca uma pessoaculta tàmil em desvantagem nacional em relação a outras educadasem qualquer outra língua vemácula. Daí o fato de o momentocrucial da criação da língua como um trunfo potencial não estarem sua aceitação como meio de educação primária (embora issocrie automaticamente um corpo de professores primários e dou-trinadores da língua) mas sim sua aceitação cOJ!lomeio de educa-ção secundária, tal como foi conseguido em Flandres e na .Finlân-

'\. dia na década de 1880. Pois como se davam conta os nacionalistas~ .:" finlandeses, era isso que vinculava a mobilidade social ao vernáculo,

i,' e, portanto, ao nacionalismo lingüístico. "Foi em grande parte em.. Antuérpia e em Gand que uma geração nova e com mentalidade

secular, educada nas escolas secundárias públicas em flamengo ...que produziu muitos dos indivíduos e grupos que formaram esustentaram a ideologia jlamingant. >t7

141

Page 10: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

No entanto, ao criar os estratos médios gentflicos, o progres-so lingüístico deixou claros a inferioridade, a insegurança de sta-tus e o ressentimento tão característicos dos estratos médios bai-xos, fazendo o novo nacionalismo ser muito atraente para eles.Assim, as novas classes instruídas flamengas encontraram-se posi-cionadas entre as massas flamengas, cujos elementos mais dinâmi-cos foram levados a assumir o francês pelas vantagens práticas deconhecer esta língua, e os níveis superiores da administração, dacultura e dos negócios belgas, que se conservaram firmemente delíngua francesa." O próprio fato de um flamengo precisar serbilíngüe para conseguir um posto, enquanto uma pessoa de lín-gua francesa necessitava apenas de uma vaga noção da outra lín-gua, se tanto, expunha a inferioridade da língua menor, comomais tarde aconteceu em Quebec (onde havia empregos que re-queriam, genuinamente, o bilingüismo, os que falavam línguasmenores estariam, portanto, em desvantagem, eram normalmentesubalternos).

Seria possível esperar que os flamengos, como os de Que-bec, com a demografia a seu favor, olhassem o futuro com maisconfiança. Pois, afinal de contas, eles estavam mais favorecidos aesse respeito do que os povos que falavam idiomas rurais decli-nantes e antigos como o irlandês, o bretão, o basco, o frisão, oromanche e mesmo o galês, que, por si sós, claramente não pa-reciam ser competidores efetivos na luta interlingüística pelaexistência, no sentido puramente darwinista. O flamengo e o fran-cês canadense não eram, em sentido nenhum, línguas arneaçadas,mas os que falavam não requeriam uma elite sociolingüística e,por outro lado, os que falavam a língua dominante não reconhe--ciam os usuários instruídos da língua vernácula como uma elite.Não era a sua língua que estava ameaçada, mas posição social e ostatus das classes médias flamingants ou de Quebec. Apenas aproteção política poderia levantã-los.

A situação não era essencialmente diferente nos casos emque a questão lingüística se definia como a defesa de um idiomaque declinava - frequentemente, um idioma que, como o bascoou galês, estava virtualmente em ponto de extinção nos novoscentros urbano-industriais do país. Certamente, a defesa da antigalíngua significava a defesa dos velhos costumes e tradições contra

142

I"~.

as subversões da modemidade: daí o apoio que movimentos comoos dos bretões, flamengos e bascos receberam dos sacerdotes cató-licos romanos. Nessa medida eles não eram simplesmente movi-mentos de classes médias. No entanto, o nacionalismo lingüísticobasco não era um movimento do campo tradicional, em que aspessoas ainda falavam a língua que o fundador do Partido Nacio-nal Basco, ele próprio de fala hispânica, aprendeu quando adulto.O campesinato basco não tinha o menor interesse no novo nacio-nalismo. Suas raízes estavam no "meio (urbano e da costa) conser-vador, católico e pequeno-burguês",29 que reagia contra a_~mea5=ada industrialização e do socialismo, ateu, proletário e imigranteque vinha com ela, enquanto rejeitavam a grande burguesia bas-ca, cujos interesses estavam atados à monarquia espanhola. Aocontrário do autonomismo catalão, o PNV tinha apenas um apoiomuito fraco na burguesia. E a reivindicação à singularidade lin-güística e racial na qual o nacionalismo basco se baseava é da-quelas que soam familiares a qualquer conoisseur da direita radicalpequeno-burguesa: os bascos seriam superiores aos outros povosem virtude de sua pureza racial, demonstrada pela singularidadede sua língua, que indicaria a recusa a misturar-se com outrospovos, sobretudo com árabes e judeus. Algo muito parecido podes_~rdito sobre os movimentos de um nacionalismo croata exclu-~yis.ta.' que, emergindo em pequena escala na década de 18.60("apoiado pela pequena burguesia, especialmente por pequenosvarejistas e negociantes"), ganhou alguma base durante a grandedepressão do final do século XIX, novamente entre o mesmo tipode !?a~ classe média economicamente ..comprimida, Ele "espe-lhava a oposição da pequena burguesia ao iugoslavismo vistocomo ideologia da burguesia mais próspera". Desde que nem alíngua nem a raça estavam disponíveis para marcar a diferençaentre o povo escolhido e o resto, uma missão histórica da naçãocroata para defender o cristianismo contra a invasão do Lesteserviu para fornecer o senso de superioridade necessário aos es-tratos carentes de autoconfiança.ê?

Os mesmos estratos sociais formaram o âmago daquela sub-variedade de nacionalismo, os movimentos políticos de anti-se-mitismo que apareceram nas duas últimas décadas do século, es-pecialmente na Alemanha (Stôcker), na Áustria (Schõnerer, Lue-

143

Page 11: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

,ger) e na França (Drumont e o caso Dreyfus). A incerteza sobre~t:!!stat~s_t:_~.efinlção, a insegurança de grandes estratos situadosentre os sem dúvida filhos e filhas de trabalhadores manuais e ossem dúvida membros da classe alta e média-alta, a supercompen-saçâo pelos reclamos de singularidade e superioridastç)llliçaçadospor trabalhadores, por indivíduos e Estados est!a.!!.8!.!!:.os,P-Q!:imigrantes, por capitalistas e financistas prontamente~Q.~!1ti[i~dos com judeus, que também eram vistos como agi@ºor,~s revo-lucionários - tudo isso forneceu os vínculos entre os estratos.~ - .. - ..... -._' . . .. _--_ .._---_._._-- ..._.~-~_.---~médios mais medíocr(!~ e umnacionalismo militan te, que.p-ode

\ q!l.!lseser definidoÇ9!J:l() resposra a tais ameaças. Pois esses estra-\"tos médios consideravam-se em luta e em perigo. A palavra-chave

no vocabulário político da direita francesa na década de 1880 nãoera "família", "ordem", "tradição", "religião", "moralidade" ouqualquer outro termo semelhante. De acordo com os analistas,essa palavra era "ameaça"Y

Entre os estratos médios mais baixos, portanto, o nacionalis-mo sofreu uma mutação: de um conceito associado ao liberalismoe à esquerda para um movimento da direita chauvinista, imperia-lista e xenófoba ou, mais precisamente, da direita radical, umamutação mais prontamente observável no uso ambíguo de termostais como "patrie" e "patriotismo" na França da década de 1870.32

O próprio termo "nacionalismo" foi cunhado para refletir a emer-gência desta tendência, especialmente na França e pouco depoisna Itália, onde as línguas românicas prestaram-se a essa forma-ção.33 Pelo final do século esses termos pareciam ser bastantenovos. Contudo, mesmo onde houve continuidade, como nas or-ganizações de ginástica de massa do nacionalismo alemão, osTurner, a mudança para a direita dos anos 1890 pode ser medidaseguindo-se a trilha do espraiamento do anti-sernitismo do ramoaustríaco para o germânico e a substituição da bandeira tricolor(preta-branca-vermelha) pela bandeira nacional-liberal (preta-ver-melha-amarela) de 1848, além do novo entusiasmo pelo expansio-nismo imperial.P' Pode ser um assunto de debate o quanto ocentro de gravidade de tais movimentos estava alto na escala dasclasses médias - por exemplo, "o da rebelião de grupos da baixae média burguesia urbana contra o que consideravam como umproletariado hostil em ascensão"," o que jogou a Itália na Primei-

144

T~

ra Guerra Mundial. Mas pesquisas sobre a composição dos fascis- .;;;.'mos alemão e italiano não deixam dúvidas de que esses movimen-tos tiravam sua força, essencialmente, dos estratos médios."

Além disso, embora nos poderes e Estados-nações estabeleci-dos o zelo patriótico fosse mais do que bem-vindo para governoscomprometidos com a expansão imperial e com a rivalidadenacional contra outros Estados, vimos que esses sentimentos eramautóctones e, portanto, não inteiramente manipuláveis de cima.

Poucos governos, mesmo antes de 1914, foram tão chauvinistasquanto os ultranacionalistas que os pressionavam nessa direção.E, mesmo assim, não houve governos que tenham sido criadospelos ultras.

No entanto, se o governo não podia controlar inteiramenteo novo nacionalismo e este não podia ainda controlar os gover-nos, a identificação com o Estado era essencial ao nacionalismopequeno-burguês e classes médias baixas. Se não tinham aindaum Estado, a independência nacional lhes daria a posição quejulgavam merecer. Pregar o retorno da Irlanda à sua antiga línguanão seria mais um slogan propagandístico para os homens e mu-lheres que estudavam gaélico elementar em turmas noturnas, emDublin, e ensinavam o que tinham acabado de aprender paraoutros militantes. Como a história do Estado Livre Irlandês iriademonstrar, saber o gaélico tornou-se uma qualificação para to-dos os empregos públicos, menos os muito subalternos, e passarnos exames de irlandês seria, portanto, o critério para pertenceràs dªss~s intelectuais e profissionais. Se eles já vivessem em umEstado-nação, o nacionalismo dava-lhes a identidade social que osproletários obtin-fiam de seu movimento de classe. Poder-se-ia su-gerir que a autodefiniçâo das classes médias baixas - tanto aque-les que eram fracos, como artesãos e pequenos comerciantes,quanto os que tinham ocupações profissionais e de colarinhobranco, ou seja, estratos sociais tão recentes quanto os dos traba-lhadores e que vinham da expansão sem precedentes da educação

. superior - não era tanto uma definição de classe como a de umcorpo dos mais zelosos, leais e "respeitáveis" filhos e filhas dapátria.

Qualquer que fosse o nacionalismo que apareceu nos cin-qüenta anos antes de 1914, todas as suas versões têm algo em

145

Page 12: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

comum: a rejeição dos novos movimentos socialistas proletários,não apenas porque eram proletários mas também porque eram,cônscia e militanternente, ituernacionclistas -, ou, no mínimo,não nacionalistas." Nada parecia mais lógico, portanto, do quever os apelos do nacionalismo e do socialismo como mutuamenteexclusivos, e o avanço de um como equivalente ao recuo do ou-tro. E a versão consagrada entre historiadores é de fato que, nesseperíodo, o nacionalismo de massa triunfou contra suas ideologiasrivais, especialmente o socialismo com base de classe, como ficoudemonstrado pela irrupçâo da guerra de 1914, a qual revelou ovazio do socialismo internacionalista, e pelo generalizado triunfodo "princípio da nacionalidade" nos acordos de paz que se segui-ram ao término da guerra.

No entanto, e de modo oposto às afirmações comuns, osvários princípios nos quais o apelo político de massas estava basea-do - especialmente o. apelo de classe dos socialistas, o apel?confessional das religiões e o apelo da nacionalidade - não erammutuamente exclusivos. Não havia nem mesmo uma linha estritaque distinguisse uns dos outros, mesmo no caso em que ambos oslados tendiam a insistir em uma incompatibilidade ex o!ficio: a re-ligião e o socialismo ateu. Homens e mulheres não escolhiam suasidentificações como escolhiam sapatos, sabendo que se pode ape-nas colocar um par por vez. Eles tinham sirnultaneamenteçcomo i

ainda têm, várias adesões e lealdades. entre as.quais-a.nacionalida-de, e estão simultaneamente interessados em vários aspectos-davida, e qualquer destes pode ..~e tornar maisImportanteque, os~~tros •.dependendo da ocasião. Por longos períodos de tempoesses diferentes vínculos não representariam exigências incompa-tíveis para uma pessoa, de modo que um homem poderia não terproblema algum em sentir-se filho de irlandês. marido de umaalemã, membro de uma comunidade mineira, um trabalhador,um torcedor do Barnsley Football Club, um liberal, um metodista,um inglês patriota, um possível republicano e um apoiador doimpério britânico.

Foi apenas quando uma dessas lealdades passou a conflitardiretamente com outra, ou outras, que surgiu o problema entreelas. A minoria dos militantes comprometidos politicamente serianaturalmente mais sensível a tais incompatibilidades, de modo

146

1"f

que é seguro dizer que agosto de 1914 foi uma experiência bemmenos traumática para a maioria dos trabalhadores britânicos,franceses e alemães do que para os líderes dos seus partidos socia-listas, simplesmente porque - devido a razões já parcialmentediscutidas aqui (ver capítulo 3, pp. 109 e 110) - parecia compa-tível, aos trabalhadores comuns, apoiar seu próprio governo naguerra e expressar sua consciência de classe e sua hostilidade aosempregadores. Os mineiros do Sul do País de Gales chocaramseus líderes revolucionários, sindicalistas e internacionalístas aoaderirem tão rapidamente à bandeira quanto tinham aderido auma greve geral nas minas menos de um ano antes, surdos àacusação de que não eram patriotas. Contudo, até mesmo os mi-litantes podem, sem problemas, compatibilizar o que os teóri-cos consideram incompatível: por exemplo, o nacionalismo fran-cês e a lealdade total à União Soviética, como muitos dos mili-tantes do Partido Comunista Francês já mostraram.

Na verdade, o fato de os novos movimentos políticos demassa - nacionalistas, socialistas, confessionais ou outros - esta-rem, frequentemente, competindo pelas mesmas massas sugereque seu eleitorado potencial estava disposto a responder a váriasinterpelações. A aliança entre o nacionalismo e a religião é obviao suficiente, especialmente na Irlanda e na Polõnia. Qual dele~ éo mais básico? A resposta está longe de ser clara. Muito maissurpreendente e pouco notada é a grande contigüidade entre osapelos da insatisfação nacional e social que Lenin, com seu habi-tual olho penetrante para realidades políticas, transformou emum dos fundamentos da política comunista no mundo colonial.Os bem conhecidos debates marxistas internacionais sobre a"questão nacional" não são meramente sobre a interpelação deslogans nacionalistas a trabalhadores que deveriam ouvir somenteo chamado do internacionalismo e da classe. Eram também, etalvez de forma mais imediata, sobre como tratar partidos de clas-se operária que simultaneamente apoiavam demandas nacionalis-tas e socialistas." Além disso, é agora evidente que - embora istonão figurasse então nos debates - havia inicialmente partidossocialistas que eram, ou se tornaram, os principais veículos dos movi-mentos nacionais de seus povos, tal como existiam partidos campo-neses orientados socialmente que desenvolveram naturalmente

147

Page 13: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

-;..

uma dimensão nacionalista, como na Croácia. Em resumo, a uni-dade da liberação socialista e nacionalista com a qual Connollysonhou na Irlanda - e a qual não conseguiu liderar - foi con-seguida, na realidade, em outro lugar.

Pode-se ir além. A combinação das reivindicações ~.B!l,Ç~~is, como um todo, provaram ser bem mais efetivas comQmobilizadoras da independência do que o puroapelo.donaciona-li~m~,.o qual se limitava às classes médias baixas descontentes, asúnicas para quem ele substituía - ou parecia substituir - umprograma simultaneamente social e político.

A Polônia é um caso instrutivo do que estamos discutindo. Arestauração do país, depois de um século e meio de partilha, nãofoi conseguida sob a liderança de nenhum dos movimentos políti-cos devotados exclusivamente a esse fim, mas sob o Partido Socia-lista Polonês, cujo líder, o coronel Pilsudsk.i, tornou-se o liberta-dor do país. Na Finlândia, o partido nacional dos finlandeses foi,de fato, o Partido Socialista, que conseguiu 47% dos votos nasúltimas eleições (livres) antes da Revolução Russa de 1917. NaGeórgia, foram os mencheviques, outro partido socialista, queadquiriram essa função; na Armênia foram os dashnaks, afiliados àInternacional Socialista." Entre os judeus da Europa oriental, aideologia socialista dominou a organização nacional tanto entreos não-sionistas (bundist) como nas versões sionistas. Esse fenôme-no não estava confinado apenas ao império czarista, onde de fatoquase todas as organizações e ideologias que visassem a mudançatinham que se definir, em primeiro lugar, como representando arevolução social e política. Os sentimentos nacionais dos galeses eescoceses no Reino Unido não encontraram expressão em parti-dos nacionalistas como tais, mas sim nos maiores partidos de opo-sição do Reino Unido - primeiro nos liberais, depois no traba-lhista. Na Holanda (mas não na Alemanha), os sentimentos na-cionais, pequenos mas reais, traduziram-se principalmente no ra-dicalismo pequeno-burguês. Conseqüentemente, os frísios estãosuper-representados na história da esquerda holandesa e, da mes-ma forma, estão os escoceses e galeses na história da esquerdabritânica. O líder mais eminente do primeiro Partido SocialistaHolandês, Troelstra (1860-19~O), começou sua carreira comopoeta na língua frísia e líder do 'jovem Frísia", um grupo de

148

"'1·

revivificação frísia.t" Nas décadas recentes, o fenômeno tambémtem sido observado, embora esteja escondido, até certo ponto,na tendência que têm os velhos partidos e movimentos nacio-nalistas pequeno-burgueses - originalmente vinculados com asideologias de direita (como no País de Gales, Euskadi, Flandrese outros) - de colocá-lo no hábito da moda da revolução sociale do marxismo. No entanto, o veículo principal das reivindica-ções nacionais tâmil na Índia - o DMK - começou sua vidacomo um partido regional socialista em Madras; transformaçõessemelhantes podem infelizmente ser detectadas na esquerda deSri Lanka, na direção de um chauvinismo cingalês."

Os exemplos acima são citados não para constatar a relaçãodos elementos nacionalistas e socialistas em tais movimentos, aqual, de modo bastante justificável, trazia preocupações e proble-mas para a Internacional Socialista. Servem para demonstrar queos movimentos de massa podiam, simultaneamente, esperar aspi-rações que pensamos ser mutuamente exclusivas. De fato, ao fazerum apelo basicamente social-revolucionário, tais movimentos po-deriam formar a matriz daquilo que se tomaria, oportunamente,os movimentos de massa nacionais de seus povos.

De fato, o caso mais frequentemente citado como a prova dasupremacia do apelo nacional sobre o apelo de classe exernplifica,na realidade, a complexidade das suas relações mútuas. Graças àexcelente pesquisa já feita, estamos hoje bem informados sobreum caso crucial para julgar esse conflito de idéias: o impériomultinacional Habsburgo." Nas linhas que se seguem, sumarizouma interessante exploração de opinião feita por Peter Hanák,baseada na análise de um grande número de cartas, troca das en-tre soldados e suas famílias, censuradas e confiscadas durante aPrimeira Guerra Mundial em Viena e Budapeste." Nos primeirosanos, não havia muito nacionalismo nem antimonarquismo entreos correspondentes, exceto para aqueles que pertenciam a umairredmia, como os sérvios (notadamente aqueles da Bósnia e daVoivodina), os quais geralmente simpatizavam com o reino daSérvia enquanto sêrvios, e com a sagrada Rússia enquanto eslavose ortodoxos; entre os italianos e - depois da entrada da Romêniana guerra - entre os romenos. A base social da hostilidade sérviaà Áustria era claramente popular, mas a maioria das cartas nacio-

149

Page 14: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

nalistas entre italianos e romenos vinha da classe média e da in-telligentsia_ A única outra dissidência nacional de importância eraencontrada entre os tchecos (a julgar pelas cartas dos prisioneirosde guerra, que incluíam com certeza um grande grupo de deser-tores patriotas). No entanto, mais da metade dos inimigos ativosdos Habsburgo, e dos voluntários das forças tchecas na Rússia,vinha da classe média e da intelliJ5ffitsia. (As cartas da Boêmia paraos prisioneiros eram muito mais cautelosas e, portanto, menosinstrutivas. )

Os anos da guerra - mas especialmente a primeira Revolu-ção Russa - revelaram dramaticamente o conteúdo político dacorrespondência interceptada. De fato, os relatórios dos censoresa respeito da opinião pública observavam unanimemente que aRevolução Russa era o primeiro acontecimento político, desde oadvento da guerra, cujas ondas de choque atingiam as camadasmais baixas do povo. Entre os ativistas de algumas nacionalidadesoprimidas, como os poloneses e os ucranianos, o acontecimentodava esperanças para a reforma - e talvez mesmo até para aindependência. Contudo, o espírito dominante era formado pelodesejo de paz e de transformação social.

As opiniões políticas que agora começam a aparecer - atémesmo nas cartas dos trabalhadores, camponeses e mulheres tra-balhadoras - são melhor analisadas em termos de três oposiçõesbinãrias encadeadas: rico-pobre (ou senhor-camponês, patr~operário), guerra-paz e ordem-desordem. Os liames entre eles, aomenos nas cartas, são óbvios: Qpco vive bem e não serve npexército, o~pobres estão à mercê dos ricos e poderosos, das auto-~,idades do:E;,s!2.-,~o"do,exércitoe assim por diante. A novidade estánão apenas na maior freqüência de queixas, no sentido de que dediferentes modos os pobres uniformizados e no front domésticoestavam sendo igualmente maltratados, mas sobretudo no sentidode que essa expectativa revolucionária de mudanças fundamen-,tais era ag~rn-dispOllível como uma alternativa à aceitaç'áopassiVado destino.:... 000 '"

O tema fundamental na correspondência dos pobres eraaguerra como uma destruição e uma ruptura na ordem de vida e detraball1,o. Conseqüentemente, em uma hostilidade à guerra, ao ser-Y,Íçomilitar, à economia de guerra, etc., e um desejo de paz. Mas,

150

novamente, encontramos a queixa transformada em resistência."Se ao menos o bom Deus nos trouxesse a paz de novo" transfor-ma-se em Já tivemos o bastante" ou "eles dizem que os socialistasvão fazer a paz".

Os sentimentos nacionais aparecem apenas indiretamentenesses argumentos principalmente porque, para citar Hanák, "até1918 o sentimento nacional vigente em amplas massas do povonão havia ainda se cristalizado como um componente estável daconsciência, ou porque as pessoas ainda não estavam conscientesda discrepância entre a lealdade ao Estado e a lealdade à nação,ou, ainda, não haviam feito uma escolha clara entre as duas"." Anacionalidade aparecia mais freqüentemente como um aspectodo conflito entre ricos e pobres, especialmente quando os doispertenciam a diferentes nacionalidades. Todavia, mesmo ondehavia o tom nacional mais forte - como nas cartas dos tchecos,sérvios e italianos - encontramos também um desejo generaliza-do de transformação social.

Não vou me referir às detalhadas instruções dos censores-sobre os mutáveis climas de opinião no ano de 1917. Mas é instru-tiva a análise de Hanák sobre uma amostra de 1500 cartas escritasentre meados de novembro de 1917,e a metade d'e março de 1918- isto é, depois da Revolução de Outubro. Dois terços dessascartas foram escritos por trabalhadores e camponeses, e um terçopor intelectuais, o que correspondia aproximadamente às propor-ções nacionais da composição nacional da monarquia; 18~ dessascartas referem-se, basicamente, ao tema social; 10% ao desejo depaz; 16% à questão nacional e à atitude diante da monarquia, e56% representam uma combinação dos seguintes temas: pão epaz - se posso simplificar o tema - ~~_%;pão e nação, 9%; paz enação, 18%. Assim, o tema social aparece em 56% das cartas; otema da paz em 57%; e o tema nacional em 43% delas. A ênfasesocial e, de fato, revolucionária, é particularmente forte nas cartasdos tchecos, húngaros, eslovacos, alemães e croatas. A paz - queum terço das cartas esperava receber da Rússia, um terço da re-volução e outros 20% de uma combinação de ambos - natural-mente surgia como apelo a correspondentes de todas as nacio-nalidades, com uma qualificação à qual darei atenção. Das cartasque tratavam do tema nacional, 60% representavam a hostilidade

~.

f;I,

~

*'o,~

i:

•i}

151

Page 15: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

ao império e o desejo variavehnen te definido pela independência,e 40% eram leais a ele - ou melhor, se omitirmos os alemães ehúngaros, 28% eram leais; 35% das cartas "nacionais" esperavama independência como um resultado da vitória aliada,mas )~~_ainda acreditavam que o que desejavam era passível de ser alcan-

,.çado I}.Q ..quadro 1).amºQ~r..q~ia.Como se poderia esperar, os desejos de paz e da revoluçâo

social estavam juntos, especialmente entre alemães, tcheç.º~ ..~húngaros. Contudo, as aspirações nacionais pela paz pare~}.~!lldepender muito da vitória aliada. De fato, durante as negociaçõesde Brest-Litovsk, muitas cartas nacionalistas desaprovavam, poressa razão, um acordo imediato de paz. Isso é evidente nas cartasdas elites tchecas, polonesas, italianas e sérvias. Qpe..rÍ.Q.dQJ1QQ!l!!Ja.R.!!~2111çã.º.de. O.tHJ,l'/;>.I9_PJ:.O-Y..Q..CQll...5.eJ.Lpri.mcir..Q.im.p-ªctQ..i9.iJ!!~bêm ..Q período ,l10 .qual..o ..elemento sociaLnLQp.inlªº Rº~í.~icaestava em seu ponto mais forte •.-mas ..aomesmo ..ternpo.um mO.~~nto no qual. - corno _çJm.<;orºarnZ.~man_~_.tI<l:nák - os ele-mentos nacionais e sociais presentes na aspiração à"revolução co-meçaram a divergir e conflitar, As grandes greves de janeiro de1918 marcaram uma espécie de ponto crítico. Em certo sentido, ; \como Zeman observou, ao decidir suprimir a agitação revolucio-nária e continuar uma guerra perdida, as autoridades da monar-quia Habsburgo asseguravam que haveria uma Europa wilsonianae não uma Europa soviética. Contudo, mesmo quando o temanacional finalmente se tornou dominante na consciência popular,no curso de 1918, ele não estava separado do tema social ouoposto a ele. Enquanto a monarquia desmoronava, para a maioriados pobres ambos os dQi§. temas estavam juntos.

O que pode ser concluído deste breve exame? Primeiro, queainda sabemos muito pouco sobre o que significava a consciêncianacional para as massas das nacionalidades envolvidas. Para des-cobri-Ia precisaríamos de muito mais pesquisas do tipo que Hanákfez ao mergulhar nas cartas censuradas; mas, antes disso, precisa-mos de um olhar frio e desmistificador dirigido à terminologia e àideologia que cerca a "questão nacional" nesse período, particu-

;~.l' larmente em sua variante nacionalista. Segundo, que a aquisição de~. uma consciência nacional não pode ser separada da aquisição de

outras formas de consciência social e política nesse período: todas

O.!..:,

.;,<

152

estão juntas. Terceiro, que o desenvolvimento de uma consciência'nacional (fora das classes e casos identificados com o nacionalis-mo integralista ou de extrema direita) não é nem linear nem feitonecessariamente à custa de outros elementos da consciência so-cial. Visto da perspectiva de agosto de 1914, poder-se-ia concluirque a nação e o Estado-nação haviam triunfado sobre todas aslealdades sociais e políticas rivais. ~oderia alguém dizer a mesmacoisa da perspectiva de 1917? O nacionalismo foi vitorioso nasnacionalidades anteriormente independentes da Europa belige-rantey na medida em que, em 1918, falharam os movimentos quer:~fleJia~ •as _pr,;.o~llpaçÕes. re~~:_!ios. po"-c::~..e?~~ ..?l~ur,op<!.

\. Quando -j"sSõ--aconteceu,os -estratos médios e médio-baixos d-as'.nacionalidades oprimidas ~s~vam naposiçâo <i.~ ~(U9J;"Ilarenl.asçli tes dirige IJt<e.~d()~poY..()~..P~.9...~~.Jlo~Es.tad()s~jJ~~!!~ll.<?~)p:?~p_en-~tentes:_f!.:. ind(!p~.~~ê.~.<:~an.aci9º'~1:>.~.ma revolução social era, sol>o_pª-liC::>..!iél.vit<?!"i~a.:~~~.<!~.lu~a posição de recuo possível paraaque-

"" les que tinham sonhado comjima combinação .de, ambas, 1'1a_~\ maioria. ~()~..~_~tados!>eligerantes de.!!:º.~dºLQ1L,s.emi!ierr.()taQ.()s

?'. não havia .c:~~posição. de rec~CI: Aí, o colapso levou à revolução~Q.sj~·Os sovietes e 'mésmo as repúblicas soviéticas de vida curtaeram encontrados não entre tchecos e croatas, mas na Alemanha,na Áustria alemã e na Hungria - e sua sombra estendeu-se àItália. Lá, o nacionalismo ressurgiu não como um substituto maissuave para a revolução social, mas como Ulll,,,!mobilização de e~-oficiais e civis da classe média e da baixa classe média para acontra-revolução. ~mergiél«:()IJlC?.ª_!l1.atrizdo fascismo, ...

f~I

153

Page 16: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

NOTAS

1. K. Renner, Staa: UM Nation; p. 89.2. lbidem, p. 9.3. Cf. Th. Schieder, Typologie und Erscheinungs formen des

Nationalstaats", in H. A. WinkIer (org.), Nationalismus (Kõnigsteinim Taunus, 1985), p. 128.

4. 1'0008 OS membros do soberano (povo) podem ocupar todos os car-gos (públicos); é desejável que todos os preencham rotativamente,antes de voltar para suas ocupações agrícolas ou mecânicas. O estadode coisasnos confronta com a alternativa que se segue. Se essescargossão ocupados por homens incapazes de se expressar ou escrever nalíngua nacional, como é que os direitos dos cidadãos podem ser sal-vaguardados por documentos, cujos textos contêm errostermínolôgicos, idéias sem precisão - em resumo, todos os sintomasda ignorância? Se, por outro lado, tal ignorância fosseexcluir homensde cargos públicos, logo veríamos o renascimento daquela aristocraciaque antes usava o patois como um sinal de afabilidade protetoraquando estava falando com aqueles que eles chamam insolentementede 'gentinha' (/es petits grm). Logo a sociedade estaria mais uma vezinfectada do 'tipo certo de gente' (des gms annme il faW) ... Entre duasclassesseparadas, algum tipo de hierarquia se estabelecerá. Por isso aignorância da língua colocariaem risco o bem-estarsocial,ou destruiriaa igualdade." (Do Ro.pport do Abbé Grégoire, cit, in Femand Brunot,HisWirt fÚ Ia LangueFmnçai.se [Paris, 19~1948], vol. IX, I, pp. 207-8).

5. E.juttikala e K. Pirinen, A Histoq of Finland (Helsinque, 1975), p.176.

6. Devo esses dados, extraídos do Newspaper Press Directory daquelesanos, às pesquisas inéditas da imprensa provincial da Irlanda, 1852-1892, de Mary Lou Legg, do Bírkbeck College.

7. Ver "Report of the Commissioners appointed to inquire into theoperation of the Sunday Closing (Wales) Act, 1881" (ParliamenlaryPapers, H.o.C., vol. XI, de 1890); K. o. Morgan, Walts, Rtbirlh of aNation 1880-1980 (Oxford, 1982), p. 36.

154

8. juttikala e Pirinen, A Histcry of Finland, pp. 17&.186.9. Carles Riba, "Cent Anys de Defensa Illustraciô de !'Idioma a

Catalunya" (L'Avenç, 71, maio1984, pp. 54-62).Esse é o texto de umaaula dada em 1939.

10. Francesc Va!1verdú,"EICatalá ai Segle XIX",L'Avenç, 27, mai. 1980),pp.30-36.

11. H.:J. Puhle, "Baskischer Nationalismus im spanischen Kontext", inH.A. Wink!er (org.), Nationalismus in der Welt von Heute (Gõttingen,1982), p. 6l.

12. Fundo Camegie para a Paz International: Report of tht lnternatumalCommision to Enquire into lhe Cause and Conducl of lhe Balkan Wars(Washington, 1914), p. 27.

13. J. Romein, The Watershed of Two Eras: Europe in 1900 (Middletown,1878), p. 108. Uma raça "nórdica" sob essa nomenclatura surgiuprimeiro na literatura de antropologia cJassificatóriaem 1898 (DEDSupplement. "nordic"). O termo parece pertencer aJ. Deniker, Raceset Peuples fÚ la Tem (Paris, 1900), mas foi adotado pelos racistas, queo acharam conveniente para descrever a raça loura, de cabeçaalongada, que associavam com sua superioridade.

14. Jean Finot, Race Prejudice (Londres, 1906), pp. v-vi.15. Lewis Glinert, "Víewpoint: the Recovery of Hebrew" (Times Literary

Supplement, 17,jun. 1983, p. 634).16. Cf. Declan Kiberd, Synge and the lrish Langu.n.ge (Londres, 1979), e.g.

p.223.17. Einar Haugen, Language Conflicts and Language Planning: The Case of

MofÚm Norwegian (Haia, 1966); do mesmo autor, "The ScandinavianLanguages as Cultural Artifacts", in joshua A. Fishman, Charles A.Ferguson, jyotíndra Das Gupta (orgs.), Language Problems ofDeveloping Nations (Nova York-Londres-Sydney-Toronto, 1968), pp.267-284.

18. J. Bhattacharyya, "Language, Class and Community in Bengal" (SouthAsia Bulleti«, VII, 1 e 2, outono 1987, pp. 5&.63);S. N. Mukherjee,"Bhadralok in Bengali Language and Literature: an Essay on theLanguage of Class andStatus" (Bengal Past and Present, 95, parte 11,jul.-dez. 1976, pp. 225-237); J. Das Gupta e john Gumperz,"Language, Communication and Control in North India, inFishman, Ferguson, Das Gupta (orgs.), Language Problems, pp. 151-166.

19. B. Suttner, nu Badenischen. Sprachenvtrordnungen von 1897, 2 vols,(Craz-Colônia, 1960, 1965), vol. n, pp. 86-88.

20. J. Fishman, "The Sociology of Language: an Interdisciplinary

155

Page 17: HOBSBAWM Nações e Nacionalismo 125-157

Approach", in T. E. Sebeok (org.), Ourrem Trends in Linguistics, vol,12*** (Haia-Paris, 19'74), p. 1755.

21. Juttikala e Pirinen, A Historj of Finland, P: 176.22. Nenhum taxista de Viena, ao escutar o dialeto de Ochs von

Lerchenau, mesmo sem ver quem fala, teria qualquer dúvida sobreseu status social.

23. Por volta de 1794, Abbé Grégoire notou, com satisfação, q:le "emgeral o francês é falado em nossos batalhões", presumívelmenteporque homens de origens regionais diferentes muitas vezes en-con travam-se misturados.

24. A. Zolberg, "The Making of Flemings and WalJoons: Belgium 1830-1914~ (fouY'rl4l of InterdisciPlinay History, vol. 2, 1974, pp. 210-215).

25. Waclaw Dlugoborski, "Das polriische Bürgertum V0r 1918 invergleichender Perspektive", in J. Kocka (org.), Bürptum im 19.jahrhundert: Deutsdilonâ im europãischen Vergleich (Munique, 1988),vol. I, pp. 266-289.

26. Jules Destrée e Emile Vandervelde, Le Socialisme en Belgique (Paris,1903, originalmente 1898). Para ser preciso, a bibliografia de 48páginas contém um único título sobre o problema flamengo - umpanfleto eleitoral.

27. Zolberg, "The Making ofFlemings ans Wallons", p. 227.28. lbidem, pp. 209 e segs.29. Puhle, "Baskischer Nationalismus", pp. 62-65.30. MiIjana Cross, "Croatian National-Integrational Ideologies from lhe

End of Illyrism to the Creation of Yugoslavia" (Austrian HistoryYearbook, 15-16, 1979-1980, pp. 3-44, esp. 18,20-1,34 - discussão de A.Suppan).

31. Antoine Prost, Vocabulain des Proclamatums Électorales de 1881, 1885 et1889 (Paris, 1974), p. 37.

32. Jean Dubois, Le Vocabulaire Politique et Social en France de 1869 à 1872(Paris, s.d. - 1962), p. 65, item 3665. O termo "nacionalismo" aindanão está registrado, e permanece ausente em A. Prost, Vocabulain desProclamations Électorales, que discute a mudança para a direita do vo-cabulário "nacional" nesse período, esp. pp. 52-53,64-65.

33. Para a França, Zeev Sternhell, Maurice Barrês et le Nationalisme Français(Paris, 1972): para a Itália, os capítulos de S. Valtutti e F. Perfetti, inR. Lill e F. Valsecchi (orgs.), 11Naaonalismo inltalia e in Germaniafinoalia Prima Guerra Mondiale (Bolonha, 1983).

34. Hans-Georg John, Politilc und Tumen: die deutsche Turnerschaft alsnationale Beioegumg im deutschew Kaiserreicn von 1871 bis 1914(Ahrensberg hei Hamburg, 1876), pp. 41 e segs.

156

35. Jeans Petersen, in W. Schieder (org.), Faschismus als soziale Bewegung(Gõttingen, 1983), p. 122, citando uma fonte de 1923.

36. Michael Kater, The Nazi Party: a Social Profile of Members and Leadets1919-1945 (Cambridge, MA, 1983), esp. p. 236; Jens Petersen,"Elettorato e Base Social de! Fascismo negli Anni Venti" (Studi Storici,XVI/3, 1975), pp. 627-669.

37. Isso é considerado no capo N de E. J. Hobsbawm, Worlds of Labour(Londres, 1984) e, do mesmo autor, "Working-class Internatio-nalism", in F. van Holthoon e Mareei van der Linden (orgs.),lnternationalism in lhe Labour Movement (Leiden-Nova York-Copenha-gue-Colônia, 1988), pp. 3-16.

38. Para um breve sumário, G. Haupt, in Haupt, Lowy e Weill, LesMarxistes et la Qp.estion Natumale (Paris, 1972), pp. 39-43. A questãopolonesa era a mais importante, mas não a única desse tipo.

39. Sobre o fracasso do nacionalismo finlandês ao competir com o Par-tido Socialista, ver David Kirby, "Rank-and-file Attitudes in lheFinnish Social Democratic Party (1905-1918)", (Past & Present, III,mai. 1986), esp. p. 164. Sobre a Geórgia e a Armênia, ver Ronald G.Suny (ed.), Transcaucasia: Nationalism and Social Change (Ann Arbor,1983), esp. parte II, os ensaios de R. G. Suny, Anahide Ter Minassiane Gerard J. Libaradian.

40. A. Fejtsma, "Histoire et Situation Actuelle de Ia Langue Frisonne"(Plurie~ 29, 1982), pp. 21-34.

41. Para uma breve consideração sobre a mudança do ultra-esquerdismopara o chauvinismo cingalês no movimento JVP (Janalha VimuktiPeramuna), que liderou a florescente 'Juventude" rural de esquerdade 1971, ver Kurnari J ayawardene, Ethnic and Class Conjlicts in SriLanha (Dehiwala, 1985), pp. 84-90.

42. Ver Z. A. Zeman, The Break-up of tbe Habsburg Empire 1914-1918(Londres, 1961); e a coleção de estudos Die A uflõsung desHabsbusgerreiches. Zusammenbruch und Neuorientierung im Donauraum(Schriftenreihe des ôsterreichischen Ost-und Südosteuropainstituts,vol. III, Viena, 1970).

43. Pé ter Hanák, "Die Volksmeinung wâhrend des 1etzten Kriegsjahresin Ôsterreich-Ungarn", in Die Aufiõsung; pp. 58-66.

44. lbid.em, p. 62.

157