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"Hoje, em Cordeiro, infelizmente, não temos regras inteligentes, atualizadas e específicas para esse contr Ter, 28 de Março de 2017 18:41 O empresário Vinício Salles Monnerat, que é formado em arquitetura e urbanismo e é proprietário da Marvin Arquitetura e Engenharia, concedeu, com exclusividade, uma entrevista ao JORNAL DA REGIÃO analisando a situação do urbanismo na cidade de Cordeiro. Ele defende várias ações do Poder Público para estabelecer um novo plano diretor para o município. Vinício esteve recentemente um encontro com as autoridades municipais discutindo o assunto. JORNAL DA REGIÃO (JR) – Um pequeno perfil seu: formação, idade, onde nasceu e estudou. Vinício Monnerat (VM) – Me formei em arquitetura e urbanismo há 25 anos, tempo que coincide com a idade da Marvin Arquitetura e Engenharia. Atuamos na área de arquitetura residencial, comercial e industrial, planejamento de interiores, consultoria de negócios imobiliários, gerenciamento de obras e planejamentos urbanos. JR – Quando surgiu a empresa Marvin e quais foram os primeiros trabalhos? Atualmente, a Marvin Arquitetura e Engenharia atua em outros municípios? Quais? VM – Eu e meu então sócio, engenheiro Márcio Balbo Monnerat, iniciamos as atividades informalmente no segundo semestre do ano de 1992. No ano seguinte, formalizamos a empresa. Atuávamos de forma restrita com elaboração de projetos para obras de pequenos portes, planejamento de interiores e acompanhamento de obras apenas nas cidades de Cordeiro e vizinhas mais próximas. Hoje, além de expandir nossas atividades, atuamos também em várias cidades, inclusive de outros estados. JR – A crise que vem passando o país não tem prejudicado o setor habitacional? VM – De uma maneira geral, a grande maioria dos setores de produção de bens e serviços está sendo abalada neste momento econômico que o país vive,  e não está sendo diferente na construção civil. Mas é uma ocasião em que os profissionais do setor devem se adaptar à nova realidade, atuando ainda com mais dedicação e criatividade. No caso da construção civil, muitas coisas estão sendo reavaliadas. Os projetos deverão acompanhar as novidades e tendências que não são exclusivamente ditadas pela crise econômica, mas, também, pela harmonização com o meio ambiente e as profissionalizações setoriais. Acredito que sairemos dessa “tempestade” fortalecidos, o que vai favorecer diretamente os clientes, empreendedores e os trabalhadores da construção civil.   JR – Nos últimos anos, temos percebido a construção de muitos prédios nas cidades do interior, principalmente em Cordeiro. Qual sua avaliação sobre isso? VM – A preferência por morar em condomínios acontece por motivos de segurança, conforto, praticidade e baixo custo de manutenção em relação a se morar em casa. E, além disso, o fato de estar localizado no Centro “perto de tudo”, perto das lojas, mercados, bancos e padarias. Não precisar de carro, pois as vagas são cada vez mais disputadas, gera uma preferência do morador, tanto da pequena, média como da terceira idade. Acho, contudo, que o empreendedor deve investir em qualidade de vida para o consumidor direto dessas unidades, como também no bem público que vai ser condicionado à população. O planejamento de automatização reflete em baixo custo das taxas de condomínio, segurança e praticidade aos condôminos. E, por fim, alguns critérios como a harmonização com o entorno, acessibilidade e sustentabilidade devem ser considerados na elaboração do projeto com prioridades. JR – O mercado não ficará saturado, já que a população não tem aumentado muito nos últimos 20 anos? Os futuros proprietários não correm o risco de ficar com imóveis fechados?VM – A 1 / 4

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"Hoje, em Cordeiro, infelizmente, não temos regras inteligentes, atualizadas e específicas para esse controle organizado de crescimento urbano".Ter, 28 de Março de 2017 18:41

O empresário Vinício Salles Monnerat, que é formado em arquitetura e urbanismo e éproprietário da Marvin Arquitetura e Engenharia, concedeu, com exclusividade, uma entrevistaao JORNAL DA REGIÃO analisando a situação do urbanismo na cidade de Cordeiro. Eledefende várias ações do Poder Público para estabelecer um novo plano diretor para omunicípio. Vinício esteve recentemente um encontro com as autoridades municipais discutindoo assunto.

JORNAL DA REGIÃO (JR) – Um pequeno perfil seu: formação, idade, onde nasceu e estudou.Vinício Monnerat (VM) – Me formei em arquitetura e urbanismo há 25 anos, tempo que coincidecom a idade da Marvin Arquitetura e Engenharia. Atuamos na área de arquitetura residencial,comercial e industrial, planejamento de interiores, consultoria de negócios imobiliários,gerenciamento de obras e planejamentos urbanos.JR – Quando surgiu a empresa Marvin e quais foram os primeiros trabalhos? Atualmente, aMarvin Arquitetura e Engenharia atua em outros municípios? Quais?VM – Eu e meu então sócio, engenheiro Márcio Balbo Monnerat, iniciamos as atividadesinformalmente no segundo semestre do ano de 1992. No ano seguinte, formalizamos aempresa.  Atuávamos de forma restrita com elaboração de projetos para obras de pequenosportes, planejamento de interiores e acompanhamento de obras apenas nas cidades deCordeiro e vizinhas mais próximas. Hoje, além de expandir nossas atividades, atuamostambém em várias cidades, inclusive de outros estados.JR – A crise que vem passando o país não tem prejudicado o setor habitacional?VM – De uma maneira geral, a grande maioria dos setores de produção de bens e serviçosestá sendo abalada neste momento econômico que o país vive,  e não está sendo diferente naconstrução civil. Mas é uma ocasião em que os profissionais do setor devem se adaptar à novarealidade, atuando ainda com mais dedicação e criatividade. No caso da construção civil,muitas coisas estão sendo reavaliadas. Os projetos deverão acompanhar as novidades etendências que não são exclusivamente ditadas pela crise econômica, mas, também, pelaharmonização com o meio ambiente e as profissionalizações setoriais. Acredito que sairemosdessa “tempestade” fortalecidos, o que vai favorecer diretamente os clientes, empreendedorese os trabalhadores da construção civil.   JR – Nos últimos anos, temos percebido a construção de muitos prédios nas cidades dointerior, principalmente em Cordeiro. Qual sua avaliação sobre isso? VM – A preferência por morar em condomínios acontece por motivos de segurança, conforto,praticidade e baixo custo de manutenção em relação a se morar em casa. E, além disso, o fatode estar localizado no Centro “perto de tudo”, perto das lojas, mercados, bancos e padarias.Não precisar de carro, pois as vagas são cada vez mais disputadas, gera uma preferência domorador, tanto da pequena, média como da terceira idade. Acho, contudo, que oempreendedor deve investir em qualidade de vida para o consumidor direto dessas unidades,como também no bem público que vai ser condicionado à população. O planejamento deautomatização reflete em baixo custo das taxas de condomínio, segurança e praticidade aoscondôminos. E, por fim, alguns critérios como a harmonização com o entorno, acessibilidade esustentabilidade devem ser considerados na elaboração do projeto com prioridades.JR – O mercado não ficará saturado, já que a população não tem aumentado muito nos últimos20 anos? Os futuros proprietários não correm o risco de ficar com imóveis fechados?VM – A

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demanda está sendo saturada provisoriamente com as unidades que estão entrando nomercado, mas a opção de pessoas de outras cidades a vir morar e/ou construir empresas emCordeiro tem sido crescente e, assim, a procura por residências e pontos comerciais tenderá aalimentar a cadeia local da construção civil. E, hoje, em Cordeiro, temos ofertas de unidadesresidenciais que vem atendendo a população nos diferentes níveis socioeconômicos.JR – De acordo com essa preferência da população, citada acima, por unidades no Centro dacidade, o controle de gabarito e ocupação de terreno estaria de acordo e seria o ideal para ocrescimento organizado do município?VM – Essa é uma questão importantíssima. Hoje, em Cordeiro, infelizmente, não temos regrasinteligentes, atualizadas e específicas para esse controle organizado de crescimento urbano. Oplano diretor existente não foi elaborado democraticamente e conforme deveria ser, contandocom as participações dos três poderes municipais, instituições, entidades organizadas dasociedade e membros das associações de moradores, então não contribui como parâmetropara organizar o crescimento urbano. Precisamos de uma revisão na lei de uso e ocupação do solo com urgência, pois o queacontece na nossa cidade é que muitas obras estão sendo construídas de forma clandestinapor falta de fiscalização ao projeto aprovado e muitas até mesmo sem o projeto aprovado.Além disso, o limite de gabarito deve ser diminuído e especificado por setor. O mais racionalseria a criação de zoneamentos na malha urbana do município e tratar cada setor desses comparticularidade, levando em considerações condições geográficas, larguras de vias, tendênciasde uso (comerciais, residenciais, mistas, industriais corporativas), por exemplo. Assim seriapossível planejar o desenvolvimento socioeconômicos da cidade, distinguindo cada região econsiderando os gabaritos, taxas de ocupação, separadamente.JR – Percebemos muitas obras de reparos das redes de águas pluviais e esgotos com certafrequência em Cordeiro. A estrutura existente de saneamento na cidade comporta essas novasconstruções?VM – Essas obras de reparos pontuais sinalizam um problema grave na redes subterrâneas deáguas pluviais e esgoto.A partir do momento em que a Prefeitura aprova o projeto de uma edificação, ela dáautorização para a construção e lançamento de esgotos sanitários e águas pluviais na suarede, desta forma se comprometendo com os cuidados desses resíduos a partir dorecebimento nessas tubulações. Contudo, essas tubulações não estão mais suportando ademanda e, assim, devemos temer que a cidade entre num colapso num curto espaço detempo se as redes de águas pluviais e esgoto sanitário não forem reformadas eredimensionadas. Estamos de frente com um risco iminente de saturação dessas instalaçõesatuais, que já apresentam problemas pontuais e ficarão obsoletas se e o ritmo das construçõesna área concentrada no bairro do Centro da cidade, como é a tendência, continuar.JR – Recentemente, você participou de uma reunião na Prefeitura, com o prefeito LucianoBatatinha e a vice-prefeita Maria Helena, para discutir a questão do desenvolvimento dacidade. Qual sua avaliação sobre o encontro, e o que ficou definido?VM – Nós, como cidadãos, conhecedores do município, atuantes na economia como geradoresde empregos e, principalmente, profissionais especialistas, deveríamos ter a oportunidade decontribuir com ideias para as prefeituras de nossas cidades. Seria uma forma de promovergrandes valores para o município. Defendo que essa participação deva existir de formamultidisciplinar e apartidária. No caso de Cordeiro, temos muitos profissionais capacitados quepoderiam contribuir em suas áreas de expertises.

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Então, aproveitando esse convite, fui conversar com o prefeito e a vice-prefeita sobreplanejamento urbano. Sugeri que na sua gestão ele dê atenção ao combate às ocupaçõesirregulares, coíba as obras irregulares, intensifique as fiscalizações neste sentido, além depriorizar o planejamento, pois o nosso município carece de uma administração que priorizeobras a partir de um planejamento. O que temos presenciado nas últimas gestões são as ações acontecendo semamadurecimento. É como se construir uma casa, o ideal é estudar o terreno, os anseios dafamília, fazer um estudo planejado do projeto através de desenhos e, depois disso, é que seiniciam as obras. Mas muitas pessoas constroem sem planejamento, sem projeto e o queacontece, na maioria das vezes, é que a obra fica mais cara, acontecem demolições quegeram desperdícios, adaptações improvisadas na implantação ao terreno, equívocos estéticos.Enfim, se houvesse um planejamento dentro das normas, a obra ficaria mais barata, maisbonita, mais segura e, assim, atenderia às necessidades pretendidas. Na administração públicamunicipal, é assim também, porém em maior grandeza. Então, chamei a atenção de Luciano ede Maria Helena para terem esse cuidado de modo que não errem como os seus antecessoresnesse sentido e proporcionem um verdadeiro progresso com qualidade.JR – Você poderia explicar o que são ocupações irregulares e como poderiam ser combatidas?VM – Em Cordeiro, como outros municípios do interior, acontecem casos graves de ocupaçãoindevida da área pública para o bem privado, como a apropriação das calçadas e até mesmoruas, impedindo o livre acesso de pedestres normais ou deficientes físicos através decolocação de mesas, cadeiras, expositores, placas de propaganda, toldos com altura mínimasuperior a dois metros (que é considerada uma invasão do espaço público aéreo). Muito curioso o caso de alguns estabelecimentos comerciais construídos e/ou instalados emáreas públicas. Caso explícito de omissão do órgão público competente. É evidente a falta derespeito com a acessibilidade, mesmo no Centro da cidade, que impede o trânsito seguro paraos deficientes físicos. Essas infrações devem ser combatidas com obras de adaptação dentrodas normas da construção civil e uma fiscalização rigorosa e até mesmo punitiva.JR – Poderia citar uma questão que deveria ter grande relevância nas revisões dos planosdiretores e leis de uso e ocupação do solo?VM – Revitalização urbana. O problema de Cordeiro começa pelo Centro da cidade, que estáficando saturado por instalações obsoletas de esgotamento sanitário e pluviais, pelas ofertasde vagas de automóveis desproporcionais em relação às edificações residenciais e comerciais.Desta forma, alguns prédios públicos deveriam ser remanejados para outros bairros, menospopulosos, afim de arejar essa área.  Nesses espaços, deveriam ser estimuladas as ocupações por edificações com funçõesatraentes culturalmente (por exemplo) trazendo novidades e adaptando-se a legislaçãonacional de acessibilidade, gerando vagas de carros comuns e especiais e áreas verdes compropriedades de promover o convívio entre as pessoas de forma harmônica, confortável esustentável.Em bairros que possuem certa baixa estima, falta de identidade e muitas vezes são preteridosou também em regiões com baixa densidade demográfica e potencial geográfico favorável aocrescimento da malha urbana, poderiam receber esses prédios que funcionariam comoequipamento urbano, instrumentos de valorização do entorno e criador de uma identidade parao bairro, que, certamente, reagiria de forma positiva socioeconomicamente. Porém, deve haverum planejamento criterioso antes dessas intervenções, obedecendo a uma legislação urbanamunicipal a ser criada.

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JR – Como seria, de fato, a contribuição da Prefeitura nessas ‘reformas urbanas’?VM –Primeiramente, o crédito deve partir do prefeito em acreditar num investimento desse porte,sem precedentes do nosso município, em política urbana.  E o desenvolvimentosocioeconômico com sucesso será obtido com a participação inclusive das secretarias deEducação, Cultura, Esportes, Turismo, Planejamento, Meio Ambiente, Agricultura e Obras. Elasdevem estar envolvidas na criação da legislação municipal, juntamente com membros dasociedade organizada, objetivando captar e atender os anseios da comunidade. Somente apósesse plano concluído seriam executadas as ações de intervenções urbanas.

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