Homenagem a Garrincha

1
16 + MONET + JANEIRO táticas. “O senhor combinou isso com o adversário também?”, teria comentado após ouvir a longa palestra de um treinador so- bre o esquema que seria utilizado. O seu estilo quase o tirou da Copa do Mundo de 1958, num jogo amistoso, na Itá- lia, quinze dias antes do Mundial. Depois de driblar vários adversários, inclusive o go- leiro, mesmo com o gol livre, Garrincha es- perou um zagueiro se recuperar para dri- blá-lo mais uma vez, antes de marcar o gol. O lance, classificado como irresponsável pela comissão técnica, fez com que Mané não jogasse as duas primeiras partidas do Brasil na Suécia. Ele e Pe- lé só entraram na terceira, contra a União Soviética, jogo que marcou a ar- rancada da seleção para a conquista do primeiro título mundial. Mas qua- tro anos depois, no Chile, Garrincha viveu seu grande momento. Não é exa- gero dizer que ele ganhou a Copa sozinho. Com Pelé machucado, coube ao ponta desequilibrar as partidas. Além dos dribles e cruzamentos, ele foi de- cisivo ao marcar gols de fora da área e até um raro gol de cabeça. Após o Mundial de 1962, a carreira de Mané Garrincha entrou em de- clínio. Com uma contusão grave no joelho, além de problemas com o al- coolismo, ele não conseguia se firmar em nenhum clube. Morreu em 20 de janeiro de 1983, com apenas 49 anos. – Humberto Peron + mixer MESMO SEM ESTAR EM CAMPO, Garrincha foi respon- sável pela maior vaia da história do Maracanã. O alvo da ira da torcida foi Julinho Botelho, outro craque fantástico que brilhou na Portuguesa, Fiorentina (Itália) e Palmeiras. Botelho foi escalado no lugar do jogador do Botafogo, que estava machucado, na primeira partida da seleção no Bra- sil após a conquista da Copa de 1958. Mas com a bola em jogo, Julinho transformou os apupos em aplausos, depois de fazer um gol e dar o passe para o outro, na vitória por 2 a 0 sobre a Inglaterra. Saiu como herói da partida. NÃO EXISTE NA HISTÓRIA DO FUTEBOL brasileiro jogador que mais se identificou com os torcedores do que Mané Garrincha, que este mês ganha uma programação em sua ho- menagem no Canal Brasil (confira na página 89). Um dos motivos dessa ligação é que o genial ponta- direita, que brilhou no Botafogo, mostrou quanto o futebol é democrático. Não é preciso ter um corpo perfeito para atuar com sucesso. Mesmo com a per- na direita arqueada para dentro, a esquerda para fo- ra e uma diferença de seis centímetros entre elas, Garrincha infernizava os marcadores. Mas o que transformava o ponta na “Alegria do Povo” era a maneira como ele encarava os jogos. Por mais que a partida fosse importante, o ponta-direi- ta parecia estar disputando uma pelada. Em qual- quer jogo, Mané queria dar espetáculo, principal- mente driblando seus adversários. Aliás, o craque nem gostava de saber quem era o lateral que iria mar- cá-lo, por isso tratava a todos por “João”. Os adver- sários também não interessavam a ele. “É um time que joga com a camisa igual à do São Cristóvão”, dis- se, ao ser perguntado sobre a seleção da Inglaterra. Como bom peladeiro, ele pouco se importava com povo A maior vaia GARRINCHA EM AÇÃO na final da Copa de 1962 contra a Checoslováquia (à esq.) e ao lado da cantora Elza Soares, uma de suas esposas Com seus dribles desconcertantes e seu jeito simples, Garrincha se transformou no jogador mais adorado do nosso futebol B GARRINCHA - ESTRELA SOLITÁRIA, dia 27, sábado, às 23h no Canal Brasil, 66 + FOTOS: DIVULGAÇÃO Alegria do

description

Um texto sobre o gênio Garrincha.

Transcript of Homenagem a Garrincha

Page 1: Homenagem a Garrincha

1 6 + M O N E T + J A N E I R O

táticas. “O senhor combinou isso com oadversário também?”, teria comentado apósouvir a longa palestra de um treinador so-bre o esquema que seria utilizado.

O seu estilo quase o tirou da Copa doMundo de 1958, num jogo amistoso, na Itá-lia, quinze dias antes do Mundial. Depoisde driblar vários adversários, inclusive o go-leiro, mesmo com o gol livre, Garrincha es-perou um zagueiro se recuperar para dri-blá-lo mais uma vez, antes de marcar o gol.

O lance, classificado como irresponsável pela comissão técnica, fez com queMané não jogasse as duas primeiras partidas do Brasil na Suécia. Ele e Pe-lé só entraram na terceira, contra a União Soviética, jogo que marcou a ar-rancada da seleção para a conquista do primeiro título mundial. Mas qua-tro anos depois, no Chile, Garrincha viveu seu grande momento. Não é exa-gero dizer que ele ganhou a Copa sozinho. Com Pelé machucado, coube aoponta desequilibrar as partidas. Além dos dribles e cruzamentos, ele foi de-cisivo ao marcar gols de fora da área e até um raro gol de cabeça.

Após o Mundial de 1962, a carreira de Mané Garrincha entrou em de-clínio. Com uma contusão grave no joelho, além de problemas com o al-coolismo, ele não conseguia se firmar em nenhum clube. Morreu em 20de janeiro de 1983, com apenas 49 anos. – Humberto Peron

+mixer

MESMO SEM ESTAR EM CAMPO, Garrincha foi respon-sável pela maior vaia da história do Maracanã. O alvo daira da torcida foi Julinho Botelho, outro craque fantásticoque brilhou na Portuguesa, Fiorentina (Itália) e Palmeiras.Botelho foi escalado no lugar do jogador do Botafogo, queestava machucado, na primeira partida da seleção no Bra-sil após a conquista da Copa de 1958. Mas com a bola emjogo, Julinho transformou os apupos em aplausos, depoisde fazer um gol e dar o passe para o outro, na vitória por2 a 0 sobre a Inglaterra. Saiu como herói da partida.

NÃO EXISTE NA HISTÓRIA DO FUTEBOLbrasileiro jogador que mais se identificou

com os torcedores do que Mané Garrincha,que este mês ganha uma programação em sua ho-menagem no Canal Brasil (confira na página 89).Um dos motivos dessa ligação é que o genial ponta-direita, que brilhou no Botafogo, mostrou quanto ofutebol é democrático. Não é preciso ter um corpoperfeito para atuar com sucesso. Mesmo com a per-na direita arqueada para dentro, a esquerda para fo-ra e uma diferença de seis centímetros entre elas,Garrincha infernizava os marcadores.

Mas o que transformava o ponta na “Alegria doPovo” era a maneira como ele encarava os jogos. Pormais que a partida fosse importante, o ponta-direi-ta parecia estar disputando uma pelada. Em qual-quer jogo, Mané queria dar espetáculo, principal-mente driblando seus adversários. Aliás, o craquenem gostava de saber quem era o lateral que iria mar-cá-lo, por isso tratava a todos por “João”. Os adver-sários também não interessavam a ele. “É um timeque joga com a camisa igual à do São Cristóvão”, dis-se, ao ser perguntado sobre a seleção da Inglaterra.Como bom peladeiro, ele pouco se importava com

povo

A maior vaia

GARRINCHA EM AÇÃO na final da Copa de1962 contra a Checoslováquia (à esq.) e ao ladoda cantora Elza Soares, uma de suas esposas

Com seus dribles desconcertantes e seu jeito simples, Garrincha se transformou no jogador

mais adorado do nosso futebol

B GARRINCHA - ESTRELA SOLITÁRIA,dia 27, sábado, às 23h no Canal Brasil, 66

+

FOTO

S: D

IVU

LGAÇ

ÃO

Alegria do

MNT46_Garrincha_p16e17 12/15/06 18:58 Page 16