HOMILÉTICA BENTES

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Faculdade de Teologia e Filosofia

Bacharel em Teologia HOMILTICAA SUA UNO VOS ENSINA A RESPEITO DE TODAS AS COISAS 1 Jo 2.27 A sabedoria a coisa principal; adquire pois, a sabedoria; sim com tudo o que possuis adquire o conhecimento (Pv 4.7)

Pr. A. Carlos G. Bentes DOUTOR EM TEOLOGIA

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Criado por Pr. Bentes

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Copyright 2007 Antnio Carlos Gonalves Bentes

Capa: Carlos Bentes Reviso e diagramao: Carlos Bentes 1 edio: 2007

O AUTOR

Bentes, Antnio Carlos Gonalves Homiltica Belo Horizonte: edio do autor, 2007. ISBN CDD CDU

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EPGRAFE

O sermo uma bandagem que trata as feridas da alma. AmbrsioGanhar almas a principal ocupao do ministro cristo. Na verdade, deveria ser a principal atividade de todo crente verdadeiro. Eu desejaria antes levar um s pecador a Jesus Cristo do que desvendar todos os mistrios de Deus, pois a salvao aquilo pelo que devemos viver.

Charles H. Spurgeon

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NDICE INTRODUO: A NOBREZA DA PREGAO O PROPSITO DE DEUS PARA A PREGAO A CONTEMPORANEIDADE DA PREGAO HOMILTICA RETRICA DISTINES CLSSICAS ORATRIA A RELAO ENTRE A HOMILTICA E OUTRAS DISCIPLINAS O CONTEDO DA HOMILTICA A NATUREZA DA HOMILTICA CLASSIFICAO DO SERMO A ESTRUTURA HOMILTICA DIVISO DO SERMO GRANDES PREGADORES EVANGELHO, EVANGELIZAO, EVANGELISMO MTODOS, ESTRATGIAS E TCNICAS O EVANGELISMO E O PROCESSO DA COMUNICAO O ESPRITO SANTO E O EVANGELISMO BIBLIOGRAFIA

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INTRODUO: A NOBREZA DA PREGAO

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O pregador ingls Lan Tait zomba de quem estuda a Bblia somente para adquirir mais informaes, crendo que sua mente esteja se desenvolvendo quando, de fato, apenas seus ouvidos esto inchando. Conhecer simplesmente por amor ao conhecimento ensoberbece (l Co 8.1). As riquezas da Palavra de Deus no so tesouros privativos de ningum, e quando compartilhamos esses valores estamos participando de seus mais elevados propsitos. Esta a razo pela qual Robert G. Rayburn ensinou por mais de um quarto de sculo, aos estudantes seminaristas: Cristo o nico Rei dos seus estudos, mas a rainha a homiltica.2 Quer sejam seus estudos num seminrio, num instituto bblico ou num programa de leitura particular, sero melhor recompensados quando voc visualiza a maneira como cada elemento o prepara para pregar com preciso e autoridade. Cada disciplina bblica atinge o propsito mais elevado, quando a usamos no simplesmente para dilatar nossa mente, mas para propagar o evangelho. Elevar a pregao a um pedestal to sublime pode intimidar at mesmo o mais leal estudante da Escritura. Provavelmente, nenhum pregador cuidadoso tenha incorrido em erro ao questionar se a tarefa maior do que o servo. Quando encaramos pessoas reais dotadas de uma alma eterna, equilibrando-se entre o cu e o inferno, a nobreza da pregao nos amedronta mesmo quando revela nossa insuficincia. Sabemos serem insuficientes nossas habilidades para uma tarefa de to amplas conseqncias. Reconhecemos que nosso corao no puro o bastante para guiar outros santidade. Uma honesta avaliao de nossa percia inevitavelmente nos leva concluso de que no temos eloqncia ou sabedoria capazes de levar as pessoas da morte para a vida. Esta pode ser a causa de jovens pregadores fugirem de sua primeira pregao, imposta como tarefa que precisa ser cumprida, e ainda de experimentados pastores sentirem-se desalentados quando no plpito. O PODER NA PALAVRA Em face das dvidas relativas eficincia pessoal numa poca que questiona a validade da pregao precisamos de uma lembrana do desgnio de Deus para a transformao espiritual do ser humano. No final das contas, a pregao cumpre seus objetivos espirituais no por causa das habilidades do pregador, mas por causa do poder da Escritura proclamada. Os pregadores exercero seu ministrio com grande zelo, confiana e liberdade quando compreenderem que Deus retirou de suas costas as artimanhas da manipulao espiritual. Deus no est confiando em nossa destreza para a realizao dos seus propsitos. Por certo, Deus pode usar a eloqncia e deseja esforos adequados importncia do assunto em questo, porm sua prpria Palavra cumpre o programa de salvao e santificao. Os esforos pessoais dos maiores pregadores so aindaCHAPELL, Bryan. Pregao Cristocntrica.1 ed. So Paulo. Editora Cultura Crist, 2002, p.26-28. Robert G. Raybyurn foi presidente fundador do Covenant Theological Seminary, e seu primeiro professor de homiltica de 1956-1984. Citaes de suas notas de classe, no publicadas.2 1

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demasiados fracos e manchados pelo pecado para serem responsveis pelo destino eterno das pessoas. Por essa razo Deus infunde sua Palavra com poder espiritual. A eficcia da mensagem, mais que qualquer virtude do mensageiro, transforma coraes. O PODER DE DEUS INERENTE PALAVRA No podemos saber precisamente como a verdade de Deus transforma vidas, mas devemos discernir a dinmica que nos d esperana em nossa prpria pregao. A Bblia torna isto claro - que a Palavra no somente poderosa, ela inigualvel. A palavra de Deus: Cria: Disse Deus: Haja luz; e houve luz (Gn 1.3). Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou e tudo passou a existir (Sl 33.9). Controla: Ele envia as suas ordens terra, e sua palavra corre velozmente; d neve como l e espalha a geada como cinza. Ele arroja o seu gelo em migalhas ... Manda a sua palavra e o derrete (Sl 147.15-18). Persuade: mas aquele em quem est a minha palavra fale a minha palavra com verdade ... diz o Senhor. No a minha palavra fogo, diz o Senhor, e martelo que esmia a penha? (Jr 23.28,29). Cumpre seus propsitos: Porque, assim como descem a chuva e a neve dos cus e para l no tornam, sem que reguem a terra... assim ser a palavra que sair da minha boca; no voltar para mim vazia, mas far o que me apraz, e prosperar naquilo para que a designei (Is 55.10,11). Anula os motivos humanos: Na priso, o apstolo Paulo se regozijava, porque quando outros pregavam a Palavra, quer por pretexto, quer por verdade, a obra de Deus seguia adiante (Fp 1.18). A descrio da Escritura acerca da sua potncia desafia-nos a lembrar sempre que a Palavra pregada, antes mesmo da pregao, cumpre os propsitos do cu. Pregao que fiel Escritura converte, convence e amolda o esprito de homens e mulheres, pois ela apresenta o instrumento da compulso divina, e no que pregadores tenham em si mesmos qualquer poder transformador. O PODER DA PALAVRA MANIFESTADO EM CRISTO Deus manifesta plenamente o poder dinmico da Palavra do Novo Testamento ao identificar seu Filho como o divino Logos, ou Palavra (Jo 1.1). Por meio da identificao do seu Filho como sua Palavra, Deus revela que a mensagem do Filho e a Pessoa do Filho so inseparveis. A palavra o incorpora. Isso no quer dizer que as letras e o papel da Bblia so divinos, mas que as verdades que a Escritura sustenta so veculos de Deus,

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de sua prpria atividade espiritual. A Palavra de Deus poderosa porque ele est presente nela e opera por meio dela. Por meio de Jesus todas as coisas foram feitas (Jo 1.3) e ele continua sustentando toda as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1.3). A Palavra emprega sua palavra para levar a cabo todos os seus desgnios. O poder redentor de Cristo e o poder da sua Palavra unem-se ao Novo Testamento com Logos (a encarnao de Deus) e logos (a mensagem acerca de Deus), tornando-se termos to reflexivos como que para formar uma identidade conceptual. Da mesma forma como a obra da criao procede da Palavra que Deus articula, assim tambm a obra da nova criao (i., redeno) nos vem pela Palavra viva de Deus. Tiago afirma: ele [i., o Pai] nos gerou pela palavra da verdade ... (Tg 1.18). A expresso palavra da verdade se aplica como um trocadilho que reflete a mensagem sobre a salvao e o nico que opera o novo nascimento. O mesmo jogo de palavras empregado por Pedro: pois fostes regenerados no de semente corruptvel, mas de incorruptvel, mediante a palavra de Deus (1 Pe 1.23). Nessas passagens, a mensagem acerca de Jesus e o prprio Cristo se harmonizam. Ambos so a viva e eterna Palavra de Deus, pela qual nascemos de novo. Assim, no algo meramente prosaico insistir que o pregador deve servir ao texto, pois se a Palavra a presena mediadora de Cristo, o servio devido. Paulo instrui corretamente o jovem pastor Timteo a ser um obreiro que maneja bem a palavra da verdade (2 Tm 2.15), pois a Palavra de Deus viva e eficaz (Hb 4.12a). A verdade da Escritura no objeto passivo para nossa investigao e apresentao. A Palavra nos examina. [Ela] apta para discernir os pensamentos e propsitos do corao (Hb 4.12c). Cristo permanece ativo em sua Palavra, levando a efeito tarefas divinas que o apresentador da Palavra no tem o direito ou a capacidade pessoal de assumir. Essas perspectivas sobre a Palavra de Deus culminam no ministrio do apstolo Paulo. O estudioso missionrio que no se tornou conhecido pela habilidade no plpito, no entanto, escreveu: Pois no me envergonho do evangelho, porque o poder de Deus para a salvao de todo aquele que cr (Rm 1.16). Como estudantes do grego elementar logo aprendem, a palavra poder nesse versculo dunamis, da qual nos vem o termo dinamite em portugus. A fora do evangelho transcende o poder do pregador. Paulo, em suas habilidosas comunicaes, prega sem envergonhar-se, pois a Palavra que ele anuncia quebra a dureza do corao humano de tal forma que nenhum progresso tcnico pode competir com ela. De certo modo, o processo como um todo parece ridculo. Pensar que o destino eterno sofrer mudana s por que anunciamos conceitos de um texto antigo, desafia o bom senso. Quando Paulo elogia a loucura da pregao no pregao louca - ele reconhece a aparente insensatez de tentar transformar atitudes, estilos de vida, perspectivas filosficas e compromissos de f, com meras palavras (1 Co 1.21). No entanto, a pregao persiste e o evangelho se expande porque Deus confere aos dbeis esforos humanos a fora de sua prpria Palavra.

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O PROPSITO DE DEUS PARA A PREGAO 3 A pregao no discurso nem aula de retrica. Seu propsito tem de estar na transformao de vidas. Se a mensagem no provoca mudana na vida das pessoas, no pregao! Ela no deve focar os planos do ser humano, e sim os propsitos de Deus, porque estes que prevalecero. So eternos. O propsito da pregao e da Bblia consiste em buscar um fim corporativo para a explanao e o ensino (1 Tm 1.5,6; Cl 1.28).4 O maior desafio da pregao : Declarar verdades eternas que nunca mudam e aplic-las num mundo em constante mudana.5 A CONTEMPORANEIDADE DA PREGAO 1.1. A Contemporaneidade na Pregao Apostlica

Quando pensamos em pregao apostlica, tendo por fonte de pesquisa o Novo Testamento, ficamos restritos a dois expoentes na pregao da Igreja Primitiva: Pedro e Paulo. O primeiro muito mais pelo sermo pregado no Pentecostes (Atos captulo 2) e o sermo incompleto pregado na casa de Cornlio (Atos captulo 10). Com relao a Paulo, temos os sermes transcritos em Atos, o primeiro na sinagoga de Antioquia da Psdia (captulo 13), o segundo no Arepago, em Atenas (captulo 17), o terceiro em Mileto, aos ancios da Igreja em feso (captulo 20), o quarto ao povo judeu irado, em Jerusalm, o que na verdade no pode ser considerado um sermo, mas um testemunho pessoal (captulo 22) e o derradeiro na presena do rei Agripa (captulo 26). Alm disso, as treze epstolas atribudas autoria paulina igualmente podem nos auxiliar neste intento. Quanto pregao de Pedro, pouco podemos analisar face a falta de esboos. Entretanto, podemos assegurar que atingiu em cheio o objetivo da pregao pela resposta dada pela populao, conforme nos assevera a Bblia, quando quase trs mil almas se converteram seguida pela mesma resposta na casa do oficial romano. Sabemos ser improvvel que Lucas tenha registrado as palavras exatas de Pedro, mas, certamente, registrou a essncia do sermo pregado pelo apstolo. Tal sermo visou provar tanto pela profecia de Joel como pelo salmo de Davi que Jesus era verdadeiramente o Messias, e que este ressuscitara dentre os mortos. To bem sucedido foi o pregador que os ouvintes o inquiriram acerca de que atitude deveriam tomar.

PAES, Carlito. COMO PREPERAR MENSAGENS PARA TRANSFORMAS VIDAS. 1 ed. So Paulo: Editora Vida, 2004, p.21. 4 Ibid. PAES, Carlito. p. 22. 5 Ibid. PAES, Carlito. p. 23.

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Podemos afirmar que Pedro utilizou-se exatamente das ferramentas adequadas para tratar com israelitas de diversas nacionalidades: ele os chama israelitas e no judeus, justamente porque a segunda forma de tratamento pressupunha que habitavam em Jud; alm disso, utiliza argumentao puramente veterotestamentria para persuadi-los. Outro fato a destacar que o prprio Esprito Santo cooperou para que no houvesse barreiras na comunicao da Verdade, pois Ele deu a cada israelita estrangeiro a oportunidade de ouvir na sua prpria lngua o testemunho dos discpulos. No envio de Pedro casa de Cornlio, por obra do Esprito - que convenceu o apstolo reticente e lhe possibilitou compreender que o Evangelho era igualmente destinado aos gentios encontramos outro exemplo de que o prprio Esprito Santo ensina o caminho da contextualizao. O material acerca da pregao do apstolo Paulo muito mais farto, justamente por que o livro de Atos lhe d especial destaque. Alm disso, temos toda a sua produo literria constituda por suas epstolas que muito nos podem auxiliar na averiguao do estilo de pregao do apstolo. C. H. Dodd ressalta a riqueza de informaes que o Novo Testamento nos apresenta acerca de Paulo e, com base nestas informaes, enaltece a inteligncia e a versatilidade da pregao do apstolo. As cartas de Paulo so intensamente vivas - vivas como poucos documentos chegados at ns de to remota antiguidade. Elas nos do no um mero esquema de pensamento, mas um homem vivo. Era uma pessoa de extraordinria versatilidade e variedade. (...) Era igualmente algum capaz de aplicar a fria crtica da razo aos seus prprios sonhos, e de julgar com sereno equilbrio o valor verdadeiro dos fenmenos anormais da religio. (...) O seu pensamento forte e sublime, mais aventuroso que sistemtico. Possua uma inteligncia colhedora e uma faculdade de assimilar e usar as idias dos outros, o que um grande atributo para quem tenha uma nova mensagem para propagar; sabia pensar nos termos das outras pessoas. justamente esta habilidade ltima observada por Dodd, de que Paulo sabia pensar nos termos das outras pessoas, que ressalta a contemporaneidade de sua pregao. No congresso realizado na cidade sua de Lausanne, em 1974, o missilogo Michael Green asseverou dentre vrias caractersticas da evangelizao por parte da Igreja Apostlica, que esta era flexvel em sua mensagem. Para ele aquela Igreja adaptava-se ao pblico e s circunstncias, de acordo com a necessidade do momento, com a cultura, o lugar, o povo. Esta flexibilidade caracterstica na pregao do apstolo Paulo. Especificamente acerca da pregao do apstolo Paulo, o Dr. Shepard enaltece sua personalidade e a capacidade de adaptar-se s circunstncias, classificando-o como o maior dos pregadores, exceto Cristo.

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Foi uma personalidade altamente enriquecida, tanto dos dons hereditrios como de educao aprimorada. Nos seus discursos, s vezes, a veemncia da natureza corre como o rio, avolumado por chuvas torrenciais; s vezes aparece to terna e mansa a sua palavra como o amor de me. O seu fim no trabalho foi a edificao do carter cristo. A sua habilidade de adaptar-se s circunstncias do seu ministrio parecia infinita. Os seus sermes eram a lgica personificada, uma correnteza de argumento e apelo que levava tudo de vencida, na sua fora irresistvel. (...) Majestoso pelo seu intelecto estupendo, versatilssimo, poderoso no uso da palavra, incansvel, infinito em adaptabilidade, esse gnio natural, reforado pelo preparo mais completo, entregue nas mos de Deus, representa nas cenas da histria o papel de verdadeiro gigante espiritual proeminente na lista dos heris da f... Assim, no resta dvidas de que um dos pontos altos da pregao de Paulo era sua habilidade em contextualizar-se para alcanar a relevncia junto a seus ouvintes. Podemos ainda destacar com relao pregao apostlica registrada no Novo Testamento, que era essencialmente bblica, referindo-se fartamente a textos do Antigo Testamento, que era Cristocntrica, pois a cruz de Cristo era o ponto central, alm de flexvel em sua forma. Sendo bblica e contextualizada, a pregao apostlica nos serve de modelo pois, justamente este binmio que entendemos ser fundamental pregao eficiente. A flexibilidade da mensagem se expressa muito bem tambm nos sermes pregados por Pedro, Estevo, alm dos pregados por Paulo em Atos e nas cartas endereadas s vrias Igrejas. Aos judeus o tema da mensagem foi Jesus o Messias e o Servo Sofredor, isto claramente posto na pregao de Pedro no Pentecostes e no discurso de Estevo. Aos romanos a temtica foi a justificao e o senhorio de Cristo, conforme bem podemos perceber na epstola aos Romanos; e aos gregos o tema da pregao foi a ressurreio dos mortos e O Logos de Deus. Isto tambm observado por Orlando Costas, ao afirmar que todo pregador necessita ter em conta a cultura de seus ouvintes se que deseja comunicar-se eficazmente. Ele nota nos pregadores bblicos a capacidade de refletir profundamente sobre a cultura de seu tempo e cita como exemplos os apstolos Paulo e Joo: Paulo se acerca dos filsofos esticos em Atenas fazendo uso das prprias categorias deles, lhes fala do deus desconhecido e capta sua ateno. Da passa ao problema bsico dos gregos: a ressurreio dos mortos, e especificamente, a ressurreio de Cristo (Atos 17). Joo toma emprestado um termo da filosofia clssica grega (logos) para comunicar a f crist, usando, pois, os smbolos caractersticos de sua cultura, e expe ante seu mundo a mensagem crist. Desta forma, o Novo Testamento nos oferece elementos para dizermos que a Igreja Primitiva cumpria seu papel de pregao da Palavra eficientemente, porque era bblica e, ao mesmo tempo, flexibilizava a mensagem, levando em conta a realidade dos ouvintes.

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1.2.

A Contemporaneidade na Pregao Ps-Apostlica

Segundo G. Burt, o perodo que seguiu o dos pais apostlicos foi assinalado por uma decadncia. Ele afirma que o material homiltico dos trs sculos seguintes ao apostlico, muito escasso. Mesmo assim cita algumas instrues de Clemente de Roma, Igncio e Dionsio, no primeiro sculo, Aniceto no segundo e Cipriano, no terceiro. L. M. Perry e C. Sell referem-se a Clemente de Roma (30-100 AD) como um pregador de objetivos ticos e que conseguia, atravs de suas mensagens, propiciar consolo para as pessoas que atravessavam tribulao. Outro pregador deste perodo destacado por estes autores Tertuliano (150-220 AD). Este teria sido um pregador exmio atravs de mensagens acerca da pacincia e da penitncia. Um perodo de ascenso da oratria na Igreja iniciou-se no quarto sculo, quando a partir de ento floresceram Ambrsio, Baslio, Gregrio, Crisstomo e Agostinho, os mais clebres pregadores da Igreja Antiga. Outros pegadores dos primeiros sculos, dignos de serem citados, so Orgenes, Lactncio, Jernimo e Cirilo de Alexandria, dentre outros, dos quais temos somente discursos e homilias. Destes pregadores, conforme Burt, destacam-se Crisstomo e Agostinho, que trouxeram relevante contribuio literatura Homiltica. A obra Peri Hierosynes, ou De Sacerdcio, de Crisstomo, escrita no incio de seu ministrio, expressa, ainda que indiretamente, alguns preceitos fundamentais para a Homiltica da poca: 1. 2. 3. 4. O clrigo - ou ministro - deve ser prudente e douto; Deve possuir alocuo fcil; Deve conhecer as controvrsias entre gregos e judeus; Deve ser hbil na dialtica (como Paulo, no menor na arte de falar do que nos escritos e aes); 5. H necessidade de um longo e srio preparo para o ministrio; 6. indispensvel o desdm pelos aplausos humanos; 7. Cada sermo deve ser um meio de glorificar a Deus.

Parece-nos que a capacidade de flexibilizar a mensagem a ponto de torn-la adequada ao contexto dos ouvintes ainda que no esteja explicitamente anunciada acima, pode ser compreendida nas entrelinhas destas afirmaes. Entretanto, parece bvio que a maior preocupao era para com a oratria e a dialtica. Ao referir-se a este mesmo pregador o Dr. Shepard ressalta que ele foi proeminente entre os principais pregadores de todos os tempos. Refere-se sua instruo na cincia do direito, do seu intelecto extraordinrio e de seu desapontamento como mestre no discurso argumentativo e da retrica. Ainda sobre Crisstomo, Shepard destaca que conhecia a natureza humana e nos seus discursos jamais se esqueceu de que os seus argumentos eram para convencer o

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povo. Para este autor os sermes de Crisstomo refletem de modo vivo as condies do seu tempo. Outra caracterstica deste clebre pregador era sua simplicidade, sua clara preocupao em falar ao povo de sua poca. Shepard enaltece a capacidade de Crisstomo de interpretar a Palavra e de aplic-la s necessidades do povo de sua poca. Na verdade, Joo de Constantinopla (c. 347-407), que era natural de Antioquia da Sria e filho de me crist, foi bispo de Constantinopla. Quando ocupou este to importante cargo seu primeiro objetivo foi reformar a vida do clero. Justo Gonzales relata que alguns sacerdotes que diziam ser celibatrios tinham em suas casas mulheres que chamavam de irms espirituais, e isto escandalizava a muitos. Alm disso, outros clrigos haviam se tornado ricos e viviam em grande luxo e o trabalho pastoral da Igreja era negligenciado. As finanas foram submetidas a um sistema de controle detalhado. Os objetos de luxo que havia no palcio do bispo foram vendidos para dar de comer aos pobres. (...) desnecessrio mencionar que isto tudo, apesar de lhe conquistar o respeito de muitos, tambm lhe granjeou o dio de outros. O empenho do bispo de Constantinopla no limitou-se apenas ao clero. Seus sermes exortavam os leigos a que levassem uma vida nos moldes dos princpios cristos: Este freio de ouro na boca do teu cavalo, este aro de ouro no brao do teu escravo, estes adornos dourados em teus sapatos, so sinal de que ests roubando o rfo e matando de fome a viva. Depois de morreres, quem passar pela tua casa dir: Com quantas lgrimas ele construiu este palcio? Quantos rfos se viram nus, quantas vivas injuriadas, quantos operrios receberam salrios injustos? Assim, nem mesmo a morte te livrar dos teus acusadores. Eis a um exemplo de pregador contextualizado ao seu povo. Ele recebeu o ttulo de Crisstomo (lngua de ouro) cerca de 100 anos aps a sua morte, face ao respeito que conquistou com seus sermes, tratados e cartas publicados. A histria nos conta que Crisstomo morreu no exlio, nas montanhas da sia Menor. O outro grande pregador destacado neste perodo foi Agostinho de Hipona (354430).Tido por muitos como o maior telogo da antiguidade, converteu-se em Milo em meio a uma exortao ouvida por acaso num jardim, tirada de Romanos 13.13-14; foi batizado por Ambrsio em 387. Antes de sua converso fora mestre de retrica; por isso em suas obras podem ser encontradas muitas instrues quanto oratria, especialmente na obra De Proferendo, um dos quatro livros que constituem a sua Doctrina Christiana. Dela podemos retirar o conceito de timo pregador de Agostinho: aquele de quem a congregao ouve a

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Verdade, compreendendo o que ouve. Para Agostinho a vitria do pregador consistia em levar o ouvinte a agir. A pregao atraente devia ser temperada de s doutrina e gravidade. Agostinho foi ordenado bispo em Hipona, no norte da frica, em 395. Dentre seus escritos merece ateno especial as suas Confisses, uma autobiografia onde o conta a Deus, em orao, suas lutas e peregrinao. tida como uma obra nica em seu gnero na antiguidade. Outra obra a destacar A Cidade de Deus, escrita sob a motivao da queda da cidade de Roma, em 410, e tida como a maior de todas as suas obras literrias. Nesta, Agostinho responde queles que afirmavam que Roma tivesse cado porque se tinha entregue ao cristianismo e abandonado os velhos deuses que a tinham feito grande. Dennis F.Kinlaw enaltece grandemente tanto a obra literria como a pregao de Agostinho. Para ele o bispo de Hipona exemplifica o dever de todo pregador em ser um intrprete de sua poca. Este autor sugere a leitura do sermo pregado por Agostinho no primeiro domingo aps o recebimento da notcia de que Roma cara nas mos dos invasores godos, liderados por Alarico, em 410, como um digno exemplo de sermo contextualizado. Kinlaw define Agostinho como um homem de viso clara de onde se encontrava a humanidade na sua peregrinao para Deus. No intento de comprovarmos a preocupao com a mensagem contextualizada por parte dos pregadores na histria da pregao, reconhecemos que aps o pice alcanado com Crisstomo e Agostinho, houve pelo menos sete sculos de obscurantismo. O Dr. Ruben Zorzoli, professor do Seminrio Internacional de Buenos Aires, descreve este perodo como tendo sido marcado por completa escurido e declnio. Segundo Zrzoli, alguns fatores que contriburam para este declnio foram a corrupo do clero, o crescimento das formas litrgicas (que substituram o lugar da pregao), a elevao da funo sacerdotal sobre a do pregador, as controvrsias doutrinais, e o declnio no contedo da pregao pelo uso extremo da alegorizao bblica. O Dr. G. Burt comenta que nesta poca utilizava-se a postilla, uma brevssima parfrase do texto bblico, e que apenas alguns privilegiados tinham direito a assisti-la. Estes privilegiados eram chamados akpoumenoi na Igreja grega e audientes na latina. Nos sculos XII e XIII houve uma recuperao no prestgio da pregao. Zorzoli ressalta como motivos desta mudana as reformas na vida do clero, institudas pelo papa Gregrio VII; o avivamento intelectual resultante do escolasticismo e que elevou o contedo da pregao; a propagao de seitas herticas que faziam uso da pregao - o que constrangeu a Igreja Catlica a reagir; as cruzadas, que se utilizavam da pregao na mobilizao das massas populares, e o uso crescente do idioma popular na pregao. O mesmo autor assevera que, apesar desta recuperao, este perodo da histria da pregao ainda foi marcado pelos erros, dentre os quais destaca o uso do material extra

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bblico como se fosse bblico, a interpretao e aplicao equivocados, o uso extremo da alegoria e a freqente falta de texto bblico nas mensagens. Com o surgimento das ordens missionrias dos Franciscanos e Dominicanos, no sculo XIII, a pregao ganha mais notoriedade. A preocupao de falar ao povo, de contextualizar-se realidade dos ouvintes, parece existir numa obra de Guibert de Nogent, abade francs que morreu em 1124. Dentre os seus preceitos homilticos destacam-se os seguintes: o pregador deve exercitar o seu talento o mais freqentemente possvel, nunca deve assumir o plpito sem ter orado, deve ser breve, dar preferncia a assuntos prticos e no dogmticos. Conclui que poucas coisas ouvidas e guardadas valem mais que muitas que passem pela cabea do auditrio, sem penetrar nem a inteligncia, nem a conscincia. Perry e Sell destacam deste perodo alguns pregadores. Um deles o alemo Berthold von Regensburg (1220-1272) que, com seus sermes prticos atacou os pecados de todas as classes na poca de um grande interregno na Alemanha. Acrescentam ainda que Regensburg buscava sempre atingir as necessidades do povo. Destacam tambm o ingls John Wycliffe (1329-1384), igualmente realado como um pregador prtico, que se dedicou ao cuidado das almas. J nos sculos XIV e XV houve um novo declnio na nfase da pregao, quando esta deixou de priorizar a populao, dando lugar ao intelectualismo rido do escolasticismo. Alm disso, contriburam para isto o perodo de estabilidade que passava a Igreja Catlica, sem as ameaas hereges. Um novo despertamento viria com o sculo XVI e a Reforma. 1.3. A Contemporaneidade na Pregao dos Reformadores

A Reforma marca um avivamento na pregao. Como fatores mais importantes deste avivamento Zrzoli destaca a nova nfase na pregao como um elemento vital na vida e na adorao, tendo a mensagem proferida por um pregador voltado ao lugar que a missa havia ocupado. Alm disso, o mesmo autor ainda acrescenta a influncia da pregao na luta contra os erros patrocinados pela Igreja Papal, a volta da utilizao do texto bblico na pregao e o refinamento dos mtodos homilticos at ento utilizados. Os precursores anabatistas, alm de Lutero, Calvino e Zwinglio, atestam o restabelecimento da prioridade da pregao. Neste perodo surgem obras no campo da Homiltica que merecem destaque, como a Ratio Brevissima Concionandi, de Felippe Melanchton (1517) e que em sua primeira parte discorre sobre as vrias partes do discurso (exrdio, narrao, preposio,

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argumentos, confirmao, ornamentos, amplificao, confutao , recapitulao e perorao), em seguida enfoca a maneira de desenvolver temas simples, depois como trabalhar com temas complexos, e assim por diante. Constitui-se numa das principais obras do gnero, conforme Burt. Outra obra Homiltica citada pelo mesmo autor o Ecclesiastes, Sive Concionator Evangelicus, de Erasmo (c. de 1466-1536), que dividiu-se em quatro livros: o primeiro sobre a dignidade, piedade, pureza, prudncia e outras virtudes que o pregador deve cultivar; o segundo sobre estudos que o pregador deve fazer; os demais sobre figuras do discurso e o carter do sacerdcio. Embora Martinho Lutero (1483-1546) no tenha escrito uma obra especfica sobre a arte de pregar, Burt destaca suas Palestras Mesa, das quais resume os seguintes preceitos homilticos: O bom pregador deve saber ensinar com clareza e ordem. Deve ter uma boa inteligncia, uma boa voz, uma boa memria. Deve saber quando terminar, deve estudar muito para saber o que diz. Deve estar pronto a arriscar a vida, os bens e a glria, pela Verdade. No deve levar a mal o enfado e a crtica de quem quer que seja. Ainda sobre ensinos de Lutero acerca da pregao, Burt destaca estas palavras do reformador, voltadas especificamente aos jovens pregadores: Tende-vos em p com garbo, falai virilmente, sede expeditos. Quando fores pregar, voltai-vos para Deus e dizei-lhe: Senhor meu, quero pregar para tua honra, falar de ti, magnificar e glorificar o teu nome. E que o vosso sermo seja dirigido no aos ouvintes mais conspcuos, mas aos mais simples e ignorantes. Ah! que cuidado tinha Jesus de ensinar com simplicidade. Das videiras, dos rebanhos, das rvores, deduzia Ele as suas parbolas; tudo para que as multides compreendessem e retivessem a Verdade. Fiis vocao, ns receberemos o nosso prmio, seno nesta vida, na futura. Podemos perceber nestes conselhos de Lutero a preocupao de tornar a mensagem compreensvel ao povo mais simples que compe a Congregao. Esta uma das caractersticas principais dos reformadores deste perodo. Com relao a Joo Calvino (1509-1564), que foi pastor da glise St. Pierre, em Genebra, na Sua, podemos destacar sua obra literria que foi amplamente distribuda e lida em todas as partes da Europa e que influenciou grandemente o movimento reformador.6

Confutar. [Do lat. confutare.] Verbo transitivo direto. 1.Rebater, refutar. 2.Impugnar, contrariar; reprimir: "pregue livremente a F de u'a s Divindade, confute a falsidade dos que ainda so chamados deuses imortais" (P.e Antnio Vieira, Sermes, III, p. 196.) Verbo pronominal. 3.Dar provas contra si mesmo. [Pret. imperf. ind.: confutava, ... confutveis, confutavam. Cf. confutveis, pl. de confutvel.].

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Como telogo e pastor, Calvino deu prioridade ao ensino das Escrituras, tendo escrito comentrios sobre 23 livros do Antigo Testamento e sobre todos os livros do Novo Testamento, menos Apocalipse. Suas Institutas, obra composta de 79 captulos e completada em 1559, o principal de seus escritos. Dentre outras coisas, Calvino tido como um pregador preocupado com a delimitao do verdadeiro papel da Igreja na sociedade, tendo sido precursor de um grande impacto na sociedade de sua poca. Ensinava que a Igreja precisava orar pelas autoridades polticas. Comentando 1 Timteo 2.2, afirmou que precisamos no somente obedecer a lei e os governantes, mas tambm em nossas oraes suplicar pela salvao deles. Expressou tambm grande preocupao com a injustia social. Comentando Salmo 82.3, afirmou: um justo e bem equilibrado governo ser distinguido por manter os direitos dos pobres e dos aflitos. Sua pregao levou a Igreja de Genebra a batalhar contra os juros elevados, a lutar por oportunidades de empregos e tudo aquilo que era pertinente a uma sociedade secular mais humana. Dentre os grandes pregadores do sculo XVI podemos destacar ainda John Knox (1514-1572), o reformador escocs. Uma de suas caractersticas marcantes foi sua viso social bem esclarecida expressa na defesa da obrigao de cada cristo cuidar dos pobres e no sistema elaborado por ele mediante o qual cada igreja sustentaria seus prprios necessitados e administraria escolas de catequese para todas as crianas, ricas e pobres. Para Zrzoli, no geral, os sculos XVII e XVIII foram de novo declnio, com uma quase generalizada pobreza de plpitos na Europa. Destaca pregadores como Baxter, Bunyan e Taylor, na Inglaterra, e Bossuet e Fenelon, na Frana, como sendo excees no sculo XVII. Destaca como grandes pregadores e excees do sculo XVIII, que considera marcado pela mediocridade, John e Carl Wesley, juntamente com George Whitefield, na Inglaterra, que produziram um avivamento centrado na pregao s multides. Na Amrica do Norte destaca Jonathan Edwards. Todos estes foram pregadores que conseguiram fazer a ponte da Palavra aos coraes de multides de pessoas. Sobre Jonathan Edwards (1703-1758), cujo mais famoso sermo foi intitulado Pecadores nas Mos de Um Deus Irado, pregado na Igreja Congregacional em Northampton, Massachusetts, em 1741, podemos destacar o seu sermo de despedida do pastorado daquela igreja, depois de 23 anos de ministrio ali. Ao buscardes o futuro progresso desta sociedade de maior importncia que eviteis a contenda. Um povo contencioso um povo miservel. As contendas que tm surgido entre ns desde que me tornei vosso pastor tm sido o fardo mais pesado que tenho carregado no decurso do meu ministrio - no somente contendas que tendes comigo, mas aquelas que tendes tido uns com os outros por questes de terras e outros interesses. Eu j

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sabia muito bem que a contenda, o esprito inflamado, a maledicncia e coisas semelhantes, eram frontalmente contrrias ao esprito do Cristianismo e tm concorrido, de modo todo peculiar, para afastar o Esprito de Deus de um povo, a tornar sem efeito todos os seus meios de graa, alm de destruir o conforto e o bem estar temporal de cada um. Permita-me que vos exorte com todo o vigor, que, daqui para a frente, todas as vezes que vos empenhardes na busca do vosso bem futuro, que vigieis atentamente contra ume esprito contencioso: se quiserdes ver dias bons, buscai a paz e segu-a( 2 Pedro 3.1011). Nota-se nesta transcrio da concluso do sermo o cuidado de enfocar um assunto vivenciado pela congregao. O pregador falou ao povo sobre uma deficincia do povo. Esta contextualizao da pregao determinou o sucesso e caracterizou os grandes pregadores em todos os perodos da histria da pregao. 1.4. A Contemporaneidade da Pregao dos Sculos XIX e XX

H quem iguale o prestgio e eficincia da pregao do sculo XIX com o sculo primeiro, com Pedro e Paulo, e com o sculo IV, com Crisstomo e Agostinho. Inegavelmente, este sculo foi marcado por grandes e renomados pregadores, como Finney, Brooks, Broadus, Moody, Spurgeon, Hall e Mclaren, alistados como os prncipes da pregao neste perodo. Como grandes pregadores do sculo XIX Perry e Sell destacam, dentre outros, o norte americano Henry Ward Beecher (1813-1887). Beecher notabilizou-se pela pregao contra os vcios sociais de sua poca, tendo sido lder do movimento anti escravista. Segundo estes autores, este pregador costumava pregar diretamente a respeito das necessidades pessoais de seus ouvintes. Outro grande pregador deste perodo destacado por Perry e Sell Phillips Brooks (1835-1893). Referem-se a Brooks como tendo sido um pregador extraordinariamente sensvel para com as necessidades humanas. Contam que ele costumava investir suas tardes em visitas ao seu povo, especialmente os pobres, doentes e atribulados. Transcrevem um comentrio feito por um admirador, de nome Bryce: Brooks fala ao seu auditrio como um homem fala ao seu amigo. No intento de demonstrar a preocupao com a contemporaneidade por parte de ilustres pregadores, citamos como exemplos dois dentre estes mais destacados, Finney e Spurgeon. Primeiramente citamos Charles G. Finney (1792-1875), que viveu uma intensa experincia de converso em Nova Iorque, em 1821, sendo introduzido Igreja Presbiteriana. Foi pastor presbiteriano e depois congregacionalista. Pregador avivacionalista, chega a ser apontado como o mais ungido evangelista de reavivamento

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dos tempos modernos. Estima-se que mais de 250 mil almas se converteram como resultado de suas pregaes. Em sua obra Lectures on Revival (Prelees Sobre o Reavivamento), de 1835, Finney demonstrou sua esperana de que o reavivamento varresse os Estados Unidos, trazendo progresso e reformas sociais; democracia e abolio da escravido, dentre outras conseqncias. Finney no pregava simplesmente sobre a vida eterna em Jesus, mas que a f em Jesus seria o caminho para que a sociedade americana fosse redimida. Outro ilustro pregador deste perodo foi o clebre Charles Haddon Spurgeon (18341892), um pastor batista muito influente na Inglaterra. Em 1854 iniciou um ministrio de 38 anos consecutivos na capela batista na Rua New Park, em Londres e, com apenas vinte e dois anos de idade era o pregador mais popular de Londres. Em 1861 foi edificado o Tabernculo Metropolitano nas Ruas Elephant e Castle, um templo com capacidade de abrigar seis mil pessoas, onde Spurgeon ministrou ininterruptamente at sua morte. Junto ao Tabernculo foi criado um seminrio e uma sociedade de colportagem que enfatizava a distribuio de literaturas. Calcula-se que 14 mil membros foram acrescentados quela Igreja durante o ministrio de Spurgeon. Teve muitos de seus sermes publicados, num total de 3.800 deles! Na obra Lies Aos Meus Alunos encontramos farto material resultante de prelees deste ilustre pregador que bem podem expressar sua preocupao com a relevncia que a pregao precisa encontrar nas vidas dos ouvintes. Assim Spurgeon expressa sua preocupao com o desempenho eficiente dos pregadores: desejvel que os ministros do Senhor sejam os elementos de vanguarda da Igreja. Na verdade, do Universo todo, pois a poca o requer. Portanto, quanto a vocs, em suas qualificaes pessoais, dou-lhes este moto: Sigam avante. Avante nas conquistas pessoais, avante nos dons e na graa, avante na capacitao para a obra, e avante no processo de amoldagem imagem de Jesus. Sobre a eficincia na comunicao da Verdade ao povo, Spurgeon afirmava que o ministro s seria verdadeiramente eficiente se fosse apto para ensinar. Sobre ministros inaptos, ele asseverou em tom hilrio: Vocs sabem de ministros que erraram a vocao e, evidentemente, no tm dons para exerc-la. Certifiquem-se de que ningum pense a mesma coisa de vocs. H colegas de ministrio que pregam de modo intolervel: ou nos provocam raiva, ou nos do sono. Nenhum anestsico pode igualar-se a alguns discursos nas propriedades sonferas. (...) Se alguns fossem condenados a ouvir os seus prprios sermes, teriam merecido julgamento, e logo clamariam como Caim: tamanho o meu castigo, que j no posso suport-lo. Oxal no caiamos sob a mesma condenao.

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Esta to bem humorada declarao de Spurgeon demonstra sua preocupao com a relevncia da pregao na vida dos ouvintes. Esta foi a caracterstica dos ilustres pregadores desta e das demais pocas. Com relao ao nosso sculo, podemos notar algumas tendncias que indicam o desprestgio da pregao nas Igrejas e a perda da centralidade no ministrio pastoral. Para Martyn Lloyd-Jones, que enxergava este declnio da importncia da pregao na Igreja do sculo XX, tal desprestgio se deve, primeiramente, perda da crena na autoridade das Escrituras. Outra razo apontada pelo autor para este declnio o fato de a forma ter-se tornado mais importante que a substncia, a oratria e a eloqncia por conseguinte, coisas valiosas por si mesmas. Tal declnio da pregao no nosso sculo se acentua, porque, segundo Lloyd-Jones, a pregao tornou-se uma forma de entretenimento. A situao da pregao na atualidade enfocada na prxima etapa da pesquisa, onde a opinio supra citada reforada com depoimentos de outros autores. Nos preocupamos tambm em discorrer acerca das conseqncias deste declnio de prestgio da pregao.

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HOMILTICA1. Definio Homiltica a cincia que se ocupa com a pregao crist e, de modo particular, com o sermo proferido no culto, no seio da comunidade reunida. O termo homiltica deriva do substantivo grego h( o(mili/a H homilia [Leia r romilia], que significa literalmente associao, companhia, e do verbo homilo (o(mile/w), que significa falar, conversar. O Novo Testamento emprega o substantivo homilia em 1 Co 15.33 ... as ms conversaes (o(mili/ai) corrompem os bons costumes. O verbo H HOMILEIN (h( o(milei=n)7 era usado pelos gregos sofistas 8 para expressar o sentido de relacionar-se, conversar. HE HOMILIA designa, especialmente no Novo Testamento, o estar juntos, o relacionar-se, e, nos primeiros sculos da Era Crist, o termo passou a ser usado para denominar a arte de pregar sermo. Homilia. Pregao em estilo familiar e quase coloquial sobre o Evangelho (Aurlio). Da deriva o sentido homiltica e suas formas de expresso. Desde ento e muito cedo, a homiltica passou a fazer parte da teologia prtica. O termo homiltica surgiu durante o Iluminismo, entre os sculos XVII e XVIII, quando as principais disciplinas teolgicas receberam nomes gregos, como, por exemplo, dogmtica, apologtica e hermenutica. Na Alemanha, Stier props o nome Kerctica, derivado de kryx (kh=ruc), que significa arauto. Sikel sugeriu haliutica, derivado de halies (a(lieu/j), que significa pescador. O termo homiltica firmou-se e foi mundialmente aceito para referir-se disciplina teolgica que estuda a cincia, a arte e a tcnica de analisar, estruturar e entregar a mensagem do evangelho.A homiltica cincia, quando considerada sob o ponto de vista de seus fundamentos tericos (histricos, psicolgicos e sociais); arte, quando considerada em seus aspectos estticos (a beleza do contedo e da forma); e tcnica, quando considerada pelo modo especfico de sua execuo ou ensino.

O termo homilia tem suas razes etimolgicas em trs palavras da cultura grega: 1. Homilos (o(/miloj), que significa multido, turma, assemblia do povo (cf. At 18.17); 2. Homilia (o(mili/a), que significa associao, companhia (cf. 1 Co 15.33);7 8

HOMILEIN = o(milei=n. Homile = o(mile/w. Estar com, tratar com. Encontrar-se, vir s mos. Ter relaes matrimoniais. Sofista. [Do gr. sophists, 'sbio', posteriormente 'impostor', pelo lat. sophista.] Substantivo de dois gneros. Hist. Filos. 1.Cada um dos personagens contemporneos de Scrates (v. socratismo) que chamavam a si a profisso de ensinar a sabedoria e a habilidade, e entre os quais se destacam Protgoras (480-410 a. C.), que afirmava ser o homem a medida de todas as coisas, e Grgias (485-380 a. C.), que atribua grande importncia linguagem. Os sofistas desenvolveram especialmente a retrica, a eloqncia e a gramtica. [Cf. sofisma (1 e 2).] .

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3. Homile (o(mile/w), que significa falar, conversar (cf. Lc 24.14; At 20.11; 24.26). Sua tarefa no se limita apenas a princpios tericos, mas concentra-se grandemente no treinamento prtico. a) Seu objetivo primordial O objetivo principal da homiltica desde o seu remoto princpio foi orientar os pregadores na dissertao de suas prdicas e, ao mesmo tempo, fazer que os mesmos adquiram princpios gerais corretos e despert-las a terem idia dos erros e falhas que os mesmos em geral cometem. So inmeras as obras, boas e teis, em diversos idiomas e de diferentes datas que tratam diretamente desta disciplina. Quando as lemos, descobrimos inmeros defeitos em ns mesmos e nos outros -, alguns deles at extravagantes e grosseiros. Com efeito, porem, medida que vamos lendo estas obras, corrigimos essas falhas que se apresentam. Convm notar que a homiltica no a mensagem. Ela disciplina o pregador para melhor entregar a mensagem. No nos esqueamos: A mensagem de Deus (Ef 6.19, etc). Entretanto, no devemos esquecer que para melhor compreenso e apresentao da mensagem deve haver um certo preparo e treinamento por parte do orador. b) A homiltica e a eloqncia A misso principal da homiltica conservar o pregador (pregador aqui tem sentido abrangente - inclui pessoas de ambos os sexos) na rota traada pelo Esprito Santo. Ela ensina, onde (e como) se deve comear e terminar o sermo. O sermo tem por finalidade convencer os ouvintes, seja no campo poltico, forense, social ou religioso. Por esta razo a homiltica encontra-se ligada diretamente eloqncia. A eloqncia a capacidade intelectual de convencer pelas palavras. As palavras esclarecem, orientam e movem as pessoas. O orador que consegue mover as pessoas, persuadindo-as a aceitar suas idias, eloqente, pois a eloqncia a capacidade de persuadir pela palavra. Fala-se de Apolo, um judeu, natural de Alexandria, que era ... eloqente e poderoso nas Escrituras (At 18.24b). c) Como podemos convencer Existem vrias maneiras de persuadirmos ou convencermos algum a seguir nossa orientao: - Pela fora moral (princpios e doutrinas) - regras fundamentais. - Pela fora social (costumes, normas e leis) - o direito. - Pela fora fsica (braos e armas) - a guerra. - Pela fora pessoal (exemplo) - influncia psicolgica. - Pela fora verbal (falada ou escrita) - retrica . - Pela fora divina (atuao do Esprito Santo) Ele ... convence .... O poder da persuaso pode convencer at o prprio Deus! Moiss, o grande legislador hebreu, pregou para que Deus se arrependesse e conseguiu! Com efeito, Deus se arrependeu e perdoou ao povo (Ex 32.7-14). Jonas, de igual modo, conseguiu o arrependimento do povo ninivita e o arrependimento de Deus (Jn 3.4-10).

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2. Jesus e a homiltica No ministrio de Cristo, a homiltica ocupou o lugar central no que diz respeito a sua propagao plena. Embora fortemente ousado a dar primazia a outros mtodos de abordar o povo, Jesus ... veio pregando (Mc 1.14). Na sinagoga de Nazar, o Mestre descreveu a si mesmo como divinamente enviado ... para evangelizar os pobres ... a pregar liberdade aos cativos ... a anunciar o ano aceitvel do Senhor (Lc 4.18,19). Os evangelhos nos apresentam quadros inesquecveis do Pregador Itinerante, nas sinagogas, nos montes, nas plancies, beira-mar, de vila em vila, de cidade em cidade finalmente em todo o lugar, trazendo aps si multides quase incontveis, deixando o povo fascinado com suas palavras de graa e com autoridade do seu ensino. A pregao de Jesus continha todo o sabor da bondade divina: era um clamor insistente por sua compaixo, e poderoso por sua urgncia. A pregao direta , sem dvida, um convite conscincia, razo, imaginao e aos sentimentos, mediante a declarao da verdade e da graa de Deus, pois produz um efeito mais urgente e eficaz. 3. O valor da homiltica A homiltica contribuiu, no sentido geral, na propagao da Palavra de Deus. Duas coisas, contudo, influenciaram grandemente a pregao crist, levando-a para as formas retricas. a) A primeira vantagem A primeira foi a disseminao do Evangelho entre as naes gentlicas, em cujo seio as tradies e formas judaicas eram pouco conhecidas. Basta lembrarmos da crtica que de Paulo fizeram alguns corntios, e como se deliciavam em ouvir Apolo, por ser ... eloqente e poderoso nas Escrituras. b) A segunda vantagem A segunda coisa que influiu foi a converso de homens que j tinham sido treinados na retrica. Muitos deles, dia-a-dia, se tomavam pregadores, e naturalmente usavam seus dotes retricos na proclamao do Evangelho. Acrescentemos a essa influncia o declnio dos pregadores judeus no cristos, e veremos como a homilia (a arte de pregar) cedeu lugar proeminente ao sermo elaborado. Por isso, naqueles dias j se definia a homiltica como a cincia que ensina os princpios fundamentais de discursos em pblico, aplicados na proclamao e ensino da verdade em reunies regulares congregadas para o culto divino (Hoppin). 4. A origem da homiltica A homiltica propriamente dita, nasceu muito cedo na histria humana, embora no como termo designativo homiletiks (o(milhtiko/j) (arte de pregar sermo) e homilia (o(mili/a) (arte de falar elegantemente na oratria eclesistica), mas como oratria

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pictogrfica (sistema primitivo de escrita no qual as idias so expressas por meio de desenhos das coisas ou figuras simblicas). Ela surgiu na Mesopotmia h mais de 3000 anos a.C., para auxiliar necessidade que os sacerdotes tinham de prestar contas dos recebimentos e gastos s corporaes a que pertenciam e faziam suas prdicas em defesa da existncia miraculosa dos deuses do paganismo. O sistema sumeriano viria a ser o prottipo (primeiro tipo ou exemplo) de outros importantes sistemas de escrita, como o egpcio, por exemplo. a) Como termo designativo Entretanto, homiltica como termo designativo com suas tcnicas, sistematizao e adaptao s habilidades humanas, nasceu entre os gregos com o nome de retrica. Depois foi adaptada no mundo romano com o nome de oratria, e, finalmente, para o mundo religioso com o nome de homiltica. A retrica e a oratria tornaram-se sinnimos para identificar o discurso persuasivo (profano). A homiltica, entretanto, passou a identificar o discurso sacro (religioso). b) A partir do IV Sculo d.C. A partir desta poca os pregadores cristos comearam a estruturar suas mensagens, seguindo as tcnicas da retrica grega e da oratria romana. Com efeito, porm, desde o primeiro sculo da Era Crist, esta influncia estrutural da homiltica j comeava a ser sentida no seio do Cristianismo. No de se surpreender, portanto, que a maioria dos telogos cristos primitivos compunha-se dos que aceitavam as teorias gregas e romanas, pois muitos deles eram filsofos neoplatnicos convertidos ao Cristianismo ou estavam sob a influncia dessas idias (conforme foi o caso de Justino Mrtir, de Clemente de Alexandria, de Orgenes, de Agostinho, de Ambrsio e muitos outros).

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RETRICA1. Noo e definio

O vocbulo retrica (do grego, rhtr (r(h/twr), - orador numa assemblia) tem sido interpretado como a arte de falar bem ou arte de oratria, isto , a arte de usar todos os meios e recursos da linguagem com o objetivo de provocar determinado efeito nos ouvintes. A retrica a tcnica (ou a arte, como preferem alguns) de convencer o interlocutor atravs da oratria, ou outros meios de comunicao. Os gregos sofistas a dividiam em trs grupos: Poltica Forense Epidtica9 (demonstrativa).

DISTINES CLSSICAS10Embora no sejam certamente inspiradas, as clssicas distines retricas de Aristteles podem auxiliar os pregadores a considerar suas responsabilidades bsicas e a ateno que cada uma merece. Embora o apstolo Paulo tenha ensinado acerca da inerente eficcia da Palavra, tambm relatou sua resoluo pessoal de no colocar pedra de escndalo ao evangelho no caminho de quem quer que fosse (2 Co 6.3). Na retrica clssica trs elementos compem cada mensagem persuasiva: Logos (lo/goj) - o contedo verbal da mensagem incluindo sua arte e lgica. Pathos (pa/qoj) - os traos emotivos da mensagem incluindo paixo, fervor e sentimento, que o orador transmite e os ouvintes experimentam. Ethos (e)/qoj) - o carter percebido do orador; determinado mais significativamente pelo interesse expresso pelo bem-estar dos ouvintes. Aristteles acreditava que o ethos era o componente mais poderoso da persuaso. Os ouvintes avaliam automaticamente cada um desses aspectos na mensagem de modo a pensarem que o pregador apresenta. Essa percepo adverte os pregadores que desejam criar livre acesso Palavra que transforma coraes a se esforarem seriamente para tornar cada aspecto de sua mensagem uma porta e no uma barreira. Paulo pondera a importncia de cada um desses componentes em sua primeira carta aos tessalonicenses (veja fig. 1.1). Embora seus termos no sejam os de Aristteles, eles repercutem traos das categorias clssicas do professor de retrica e nos lembram que a arte no o bastante para tornar poderosa a mensagem, se o corao e o carter no validarem suas verdades. Paulo torna claro que, embora o Esprito Santo molde o caminho do evangelho, os9 10

Epidtico. epidctico. [Do gr. epideiktiks, pelo lat. epidicticu.] Adjetivo. E. Ling. 1.Aparatoso, ostentoso. 2.Demonstrativo. CHAPELL, Bryan. Pregao Cristocntrica. 1 ed. So Paulo. Editora Cultura Crist, 2002, p.26-28.

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ouvintes avanam para uma confrontao com a Palavra atravs das portas que o pregador abre com a mensagem. Paulo cita, significativamente, sua prpria vida como afetando a receptividade da mensagem dando assim credencial bblica noo de que o ethos uma fora poderosa no processo ordinrio da persuaso espiritual. Porque o nosso evangelho no chegou at vs to-somente em palavra (logos), mas, sobretudo, em poder, no Esprito Santo e em plena convico (Pathos), assim como sabeis ter sido o nosso procedimento (Ethos) entre vs e por amor de vs (1 Ts 1.5). Paulo menciona sua conduta e sua compaixo no apenas como evidncia de sua profunda convico, mas tambm como fontes integrais do poder de sua mensagem. Embora este livro de mtodo homiltico enfoque os elementos do logos e do pathos na pregao, a prpria nfase bblica nos lembra que o carter pastoral permanece como o fundamento do ministrio. A glria da pregao pode ser a eloqncia, mas a batida do corao a fidelidade. Nossa pregao deveria refletir o carter nico de nossa personalidade, mas nosso ser deveria refletir a semelhana de Cristo, de modo que sua mensagem se espalhe sem embarao.

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OS SOFISTAS O primeiro estudo sistematizado acerca do poder da linguagem em termos de persuaso atribudo ao filsofo Empdocles (444 a.C.), do qual as teorias sobre o conhecimento humano iriam servir de base para vrios teorizadores da retrica. O primeiro livro de retrica escrito comumente atribudo a Crax e seu pupilo Tsias. A sua obra, bem como as de diversos retricos da antiguidade, surgiu das tribunas jurdicas; Tisias, por exemplo, tido como autor de diversas defesas jurdicas defendidas por outras personalidades gregas (uma das funes primrias de um sofista). A Retrica foi popularizada a partir do sculo V a.C. por mestres peripatticos (itinerantes) conhecidos como sofistas. Os mais conhecidos destes foram os gregos Crax, Scrates, Plato e Aristteles (500-300 a.C.). Os sofistas se compunham de grupos de mestres que viajavam de cidade em cidade realizando aparies pblicas (discursos, etc) para atrair estudantes, de quem cobravam taxas para oferecer-lhes educao. O foco central de seus ensinamentos concentrava-se no logos ou discurso, com foco em estratgias de argumentao. Os mestres sofistas alegavam que podiam melhorar seus discpulos, ou, em outras palavras, que a virtude seria passvel de ser ensinada. A conhecida frase o homem a medida de todas as coisas surgiu dos ensinamentos sofistas. Uma das mais famosas doutrinas sofistas a teoria do contraargumento. Eles ensinavam que todo e qualquer argumento poderia ser contraposto por outro argumento, e que a efetividade de um dado argumento residiria na verossimilhana (aparncia de verdadeiro, mas no necessariamente verdadeiro) perante uma dada platia. O termo sofista tem uma conotao pejorativa nos dias de hoje mas, na Grcia antiga, os sofistas eram profissionais muito bem remunerados e respeitados por suas habilidades. Tratando no somente do estilo, mas, tambm do assunto, da estrutura e dos mtodos de elocuo em cada caso, os gregos combinavam a tcnica dos sofismas com a concepo platnica e aristotlica de que a arte da oratria deve estar a servio da verdade. A retrica ensinada na Grcia antiga pelos sofistas, fundamentada em princpios disciplinares de conduta, teve origem na Siclia, no V sculo a.C., atravs do siracusano Crax e seu discpulo Tsias. Tsias tornou-se o discpulo mais famoso de Crax. Quando Crax lhe cobrou as aulas ministradas, Tsias recusou a pagar, alegando que, se fora bem instrudo pelo mestre, estava apto a convenc-lo de no cobrar, e, se este no ficasse convencido, era porque o discpulo ainda no estava devidamente preparado, fato que o desobrigava de qualquer pagamento. O resultado que Tsias ganhou a questo.11

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GONALVES, Delmo. HOMILTICA A arte de pregar sermes. Apostila do SEBEMGE.

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a) As regras do discurso Crax formulou uma srie de regras para dividir o discurso em cinco partes: Promio (prlogo) Narrao Argumentao Observaes adicionais Perorao (eplogo). As regras estabelecidas por Crax tinham por finalidade orientar os advogados que se propunham a defender as causas das pessoas que desejavam reaver seus bens e propriedades tomados pelos tiranos. Os sofistas foram os primeiros a dominar com facilidade a palavra modulada nestes princpios; entre os objetivos que possuam, visando a uma completa formao, trs eram procurados com maior intensidade: adestrarem-se para julgar, falar e agir. Seu aprendizado na arte de falar consistia em fazer leituras em pblico, comentrios sobre poetas famosos, improvisar e promover debates. A partir da, a palavra retrica passou a ser usada no campo da comunicao para descrever o discurso persuasivo, quer escrito ou falado. A partir da, a palavra retrica passou a ser usada no campo da comunicao para descrever o discurso persuasivo, quer escrito ou falado. b) As qualidades exigidas Os oradores sofistas, entre eles, Grgias, Iscrates (que viveu de 436 a 338 a.C., e implantou a disciplina da retrica no currculo escolar dos estudantes atenienses) e muitos outros, exigiam vrias habilidades dos oradores. Entre todas, quinze so consideradas imprescindveis: memria, habilidade, inspirao, criatividade, entusiasmo, determinao, observao, teatralizao, sntese, ritmo, voz, vocabulrio, expresso corporal, naturalidade e conhecimento. Filsofos destacados como Plato (430-347 a.C.), Aristteles (382-322 a.C.) e Ccero (106-44 a.C.) deram muita ateno aos princpios a serem seguidos por quem desejasse levar os homens a crerem e agirem. Paulo, pelo que parece, observou que estes princpios retricos levaram alguns oradores cristos aos extremos, firmando-se apenas em ... sublimidade de palavras ou de sabedoria... (1 Co 2.1). Era esta a poca em que os ... gregos buscavam sabedoria. c) O Retor (r(h/twr) O retor, entre os gregos, era o orador de uma assemblia. Entre ns, entretanto, a palavra rhetor veio a ter o significado pomposo de mestre de oratria. O objetivo do retor (orador retrica) era, atravs de seu discurso laureado, o de persuadir os sentimentos nas discusses e nas deliberaes sobre os problemas na democracia grega. As reunies eram processadas nas praas ou no Arepago. Logo se percebeu que os cidados falantes, de fcil verbo, se expressavam mais adequadamente, dominavam a situao, sentiam-se sempre vitoriosos, tornavam-se admirados pelas multides e galgavam os melhores postos na comunidade. No demorou para que todo o mundo

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desejasse conquistar os segredos dessa nova arte. 2. A diviso da retrica Entre os gregos e os romanos, os discursos retricos deviam ser modulados em cinco pontos, a cada um dos tais foram associadas muitas sugestes para o bem falar. a) Inveno. A inveno consistia na coleta e planejamento do uso dos materiais e idias, a fim de influenciar aos ouvintes. Trs tipos de apelo que o orador pode fazer. So: Apelos lgicos baseados na evidncia e no raciocnio. Apelos emocionais baseados nos impulsos e sentimentos. Apelos ticos baseados no carter, personalidade, experincia e reputao do orador. b) Disposio. Consistia no arranjo do material na ordem destinada a servir melhor o propsito do orador. c) Estilo. Nesse sentido Aristteles foi o maior deles. Consistia no uso de palavras para transmitir a mensagem da maneira mais eficaz. d) Memria. Consistia em lembrar a mensagem a ser transmitida. e) Entrega. Consistia no uso correto da voz e do corpo para apresentar a mensagem aos ouvintes. Depois, com a grande influncia do Cristianismo, passou-se a distinguir a retrica da homiltica e alguns princpios ticos foram incorporados a esta ltima.

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ORATRIA1. Sua extenso Convm que o leitor saiba que a retrica inventada pelos gregos passou para o mundo romano com o nome de oratria e para o campo religioso com o nome de homiltica. Entretanto, a partir do IV sculo d.C., a retrica e a oratria tornam-se sinnimos usados para identificar o discurso profano, e a homiltica identifica o discurso sacro, religioso, cristo. A homiltica, a partir da, passou a ser a arte de pregar o Evangelho. Assim, a oratria (de oris, boca) passou a indicar mais a parte tcnica do sermo; enquanto que a homiltica, as partes prticas e dogmticas crists, que vo do sermo celebrao do culto. 2. Os grandes mestres de oratria Os romanos sofreram extraordinria influncia cultural dos gregos no sculo I a.C., inclusive na arte da oratria. Com efeito, porm, outros grandes mestres, de diferentes nacionalidades, deram tambm sua contribuio. a) Ccero Ccero foi o maior orador romano. Nascido no ano 106 a.C., preparou-se desde muito cedo para a arte da palavra. Com apenas dez anos de idade, seu pai o deixou aos cuidados de dois mestres da oratria. Aos quatorze anos, iniciou seu aprendizado retrico na escola do retor Plcio e j aos dezesseis anos abraou a prtica da fala, observando os grandes oradores da sua poca, que se defrontavam nas assemblias do frum. b) Quintilian Depois de Ccero, merece ateno especial na histria da Arte Oratria romana, Quintiliano. Nascido na metade do primeiro sculo da Era Crist, na Espanha, foi para Roma logo nos primeiros anos de vida para estudar oratria. Seu pai e seu av foram retores e o pai lhe ministrou as primeiras aulas de retrica. c) Demstenes Demstenes, orador grego de extraordinria eloqncia, foi contemporneo de Filipe da Macednia, que atravs das Filpicas12, Oraes Violentas, atacava a sua poltica, denunciando-lhe as intenes de dominar a Grcia. Demstenes, considerado um dos maiores e mais perfeitos oradores da antiguidade, obteve xito na arte de falar, depois de ter superado dificuldades impostas pelas suas prprias deficincias naturais. Os problemas de respirao, dico, articulao e postura no lhe creditavam as condies ltimas para que pudesse atingir seu objetivo de tornar-se um orador. Duas12

filpica. Do gr. philippik, pelo lat. philippica.] Substantivo feminino. Discurso violento e injurioso.

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qualidades, porm, Demstenes possua: a determinao e a vontade. A determinao Ao iniciar sua preparao, isolou-se num local onde ningum pudesse perturb-lo. Para que a sua concentrao e meditao fosse completa... a sua dico foi corrigida com seixos que colocava na boca e com os quais procurava pronunciar as palavras da forma mais correta possvel. Outros maus hbitos, entre eles o de levantar um ombro quando falava, foi tambm corrigido com disciplina rgida. A fora de vontade Demstenes parece ter tido um incio difcil e sido filho do prprio esforo. Entretanto, superou todas essas dificuldades. Empregou todas as tcnicas e meios engenhosos para conseguir ser o maior orador da antiguidade (declamar diante da praia vencendo com a voz o rudo e barulho das ondas; correr, subindo montanhas ngremes, recitando trechos de autores gregos para desenvolver o flego, etc.). O resultado de seu esforo foi gratificante. Ele conseguiu aquilo que almejava!

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A RELAO ENTRE A HOMILTICA E OUTRAS DISCIPLINAS Como disciplina teolgica, a homiltica pertence teologia prtica. As disciplinas que mais se aproximam da homiltica so a hermenutica e a exegese. Enquanto a hermenutica a cincia, arte e tcnica de interpretar corretamente a Palavra de Deus, e a exegese a cincia, arte e tcnica de expor as idias bblicas, a homiltica a cincia, arte e tcnica de comunicar o evangelho. A hermenutica interpreta um texto bblico luz de seu contexto; a exegese expe um texto bblico luz da teologia bblica; e homiltica comunica um texto bblico luz da pregao bblica. A homiltica depende amplamente da hermenutica e da exegese. Uma homiltica sem hermenutica bblica trombeta de som incerto (1 Co 14.8) e uma homiltica sem exegese bblica a mera comunicao de uma mensagem humanista e morta. A importncia do assunto dificilmente pode ser exagerada, pois a hermenutica a base terica da exegese, que por sua vez, o alicerce tanto da Teologia (quer bblica, quer sistemtica) como da pregao. O diagrama abaixo ilustra estas relaes: Hermenutica Exegese Teologia Bblica Teologia Sistemtica Pregao/Homilia

A homiltica deve valer-se dos recursos da retrica (assim como da eloqncia), utilizar os meios e mtodos da comunicao moderna e aplicar a avanada estilstica. No se pode ignorar o perigo de substituir a pregao do evangelho pelas disciplinas seculares e de adaptar a pregao do evangelho s demandas do secularismo. A relao entre a homiltica e as cincias modernas de carter secundrio e horizontal; pois as Escrituras Sagradas so a fonte primria, a revelao vertical, o fundamento bsico de toda a homiltica evanglica. Por isso, o apstolo Paulo escreveu aos corntios: Eu, irmos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, no o fiz com ostentao de linguagem, ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vs, seno a Jesus Cristo, e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vs. A minha palavra e a minha pregao no consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstrao do Esprito e de poder, para que a vossa f no se apoiasse em sabedoria humana; e sim, no poder de Deus (1 Co 2.1-5).s O DESENVOLVIMENTO HISTRICO DA HOMILTICA O modelo predominante no perodo proftico era a palavra vinda diretamente do Senhor (assim diz o Senhor) que os profetas anunciavam e ilustravam em suas prprias vidas: uma prostituta como esposa (Osias); nomes dos filhos (Is 7.3, 8.3); cinto (Jr 13.111); o vaso do oleiro (Jr 18.1-17); a botija quebrada (Jr 19.1-15); a morte da mulher de Ezequiel (Ez 24.15-27). Aps o exlio, desenvolveu-se a homilia primitiva, em que passagens das Escrituras Sagradas eram lidas em pblico ou nas sinagogas (Ne 8.1-18).

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Por volta de 500-300 a.C., os gregos Crax, Scrates, Plato e Aristteles desenvolveram a retrica, aperfeioada pelos romanos na forma da oratria (principalmente Ccero, em cerca de 106-43 a.C.). Jesus, no entanto, pregou o evangelho do reino de Deus com simplicidade, utilizando principalmente parbolas (Mt 13.34s.; Mc 4.10-12,33,34) e aplicando textos do Antigo Testamento Sua prpria vida (Lc 4.16-22). Uma anlise do livro de Atos revela cinco elementos bsicos comuns s mensagens apostlicas: O Messias prometido no Antigo Testamento; a morte expiatria de Jesus Cristo; Sua ressurreio pelo poder do Esprito Santo; a gloriosa volta de Cristo; e o apelo ao ouvinte para que se arrependesse e cresse no evangelho. A maioria dos cristos antigos, portanto, seguiu o exemplo da sinagoga, lendo e explicando de modo simples e popular as Escrituras do Antigo Testamento e do Novo. No se percebe muito esforo em estruturar um esboo homiltico ou um tema organizador. A homilia Crist apenas segue a ordem natural do texto da Escritura e visa meramente ressaltar, mediante a elaborao e aplicao, as sucessivas partes a passagem como esta se apresenta. As primeiras teorias homilticas encontram-se nos escritos de Crisstomo (345-407 a.D.), o mais famoso pregador da igreja primitiva. A primeira homiltica foi escrita por Agostinho, em De Doctrina Christiana. Agostinho dividiu-a em de inveniende (como chegar ao assunto) e de proferendo (como explicar o assunto). Na prtica, esta diviso sistemtica corresponde hoje s homilticas material e formal. A Idade Mdia no foi alm de Agostinho, mas produziu coletneas famosas de sermes, atualmente publicadas em forma de livros devocionais. Homiltica era quase a nica forma de oratria conhecida. O maior pregador latino da Idade Mdia foi Bernardo de Claraval (1090-1153). Graas a Carlos Magno (768-814), a pregao era feita na lngua do povo e no exclusivamente em latim. A grande inovao da Reforma Protestante foi tornar a Bblia o centro da pregao. Os discursos ticos e litrgicos foram substitudos pela pregao evanglica das grandes verdades bblicas, versculo por versculo. Martinho Lutero e Joo Calvino expuseram quase todos os livros da Bblia em forma de comentrios que, ainda hoje, possuem vasta aceitao acadmica e espiritual. Os lderes da Reforma Protestante deram pregao um novo contedo (a graa divina em Jesus Cristo), um novo fundamento (a Bblia Sagrada) e um novo alvo - a f viva. Enquanto Lutero enfatizava o contedo da pregao do evangelho (a justificao pela f), Melanchton ressaltava o mtodo e a forma da pregao. Como humanista convertido, Melanchton escreveu, em 1519, a primeira retrica evanglica, seguida de duas publicaes homilticas, em 1528 e 1535, respectivamente. Melanchton sugeriu enfatizar a unidade, um centro organizador, um pensamento principal (loci) para o texto a ser pregado. A pregao evanglica deveria incluir: introduo, tema, disposio, exposio do texto e concluso.

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OS PROBLEMAS DA HOMILTICA A palavra de Deus afirma que a f vem pela pregao e a pregao pela palavra de Cristo (Rm 10.17). Como possvel, ento, que surjam dificuldades quando esta palavra proclamada? O problema no est na palavra em si, porque a palavra de Deus viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra at a ponto de dividir alma e esprito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propsitos do corao (Hb 4.12). O problema no est na Palavra de Deus, mas em sua proclamao, quando feita por pregadores que no admitem suas imperfeies homilticas pessoais! Atualmente, as dificuldades mais comuns da pregao bblica encontram-se nas seguintes reas: Falta de preparo adequado do pregador. Na maioria das vezes, a pregao pobre tem sua raiz na falta de estudo do orador. Muitos julgam ter condies de preparar uma mensagem bblica em menos de seis horas, sem o rduo trabalho exegtico e estilstico. Pensam que basta ter um esboo de trs ou quatro pontos para edificar a igreja, ou acham suficiente manipular as Quatro Leis Espirituais para levar um indivduo perdido obedincia a Cristo. Falta de unidade corporal na prdica. Os ouvintes do sermo dominical perdem o interesse pelo recado do pastor quando este apresenta uma mensagem que consiste numa mera juno de versculos bblicos, s vezes at desconexos pulando de um livro para outro, sem unidade interior, sem um tema organizador. A falta de unidade corporal na prdica leva o ouvinte a depreciar at a mais correta exposio da Palavra de Deus. Falta de vivncia real do pregador na f crist. O pior que pode acontecer ao pregador do evangelho proclamar as verdades libertadoras de Cristo e, ao mesmo tempo, levar uma vida arraigada no pecado e em total desobedincia aos princpios da Palavra de Deus. Por isso, Paulo escreveu: ... esmurro o meu corpo, e o reduzo escravido, para que, tendo pregado a outros, no venha eu mesmo a ser desqualificado (1 Co 9.27). Em outras ocasies, o pregador talvez esteja vivendo em santificao, mas ainda assim, quando suas mensagens so apresentadas de forma muito terica, empregando termos tcnicos, latinos e gregos que o povo comum no entende, elas se tornam enfadonhas. No fim do culto, o rebanho admite que seu pastor falou bem e bonito, mas se queixar de no ter entendido nada. Falta de aplicao prtica s necessidades existentes na igreja. Muitas mensagens so boas em si mesmas, mas se tornam pobres na prtica, na edificao do povo de Deus. Constituem verdadeiros castelos doutrinrios, mas no mostram como colocar em prtica, de maneira vivel, o ensino da Palavra de Deus negligenciando, por exemplo, oferecer

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ajuda concreta a uma senhora que, aps 35 anos de vida conjugal feliz, perdeu seu esposo num acidente de trnsito, na semana anterior. Falta de equilbrio na seleo dos textos bblicos. A maior parte das Escrituras foi praticamente abandonada na pregao eficiente do evangelho. Mais de 95% dos sermes evanglicos pregados no Brasil baseiam-se no Novo Testamento e em geral, limitam-se a textos evangelsticos, tais como: Lc 19.1-10; Jo 1.12; 3.16; 14.6; Rm 8.28; 2 Co 5.15-21 etc. Prega-se a verdade, mas no toda a verdade! O alvo do apstolo Paulo era pregar o evangelho das insondveis riquezas de Cristo (Ef 3.8). bom lembrar que os apstolos, e com eles a primeira gerao da igreja primitiva, utilizavam quase sempre o Antigo Testamento. Eles baseavam suas mensagens naqueles 39 livros, que constituem mais de dois teros de nossa Bblia atual. Falta de prioridade da mensagem na liturgia. O culto teve incio pontualmente s 19:30, com um belo programa musical seguido de muitos testemunhos empolgantes, vrias oraes e diversos avisos. Finalmente, s 21h30, quando toda a congregao j estava cansada, o dirigente anunciou: Vamos agora para a parte mais importante de nosso culto. Com a palavra, nosso pastor, que vai pregar o santo evangelho. O pastor, ento, fica constrangido de pregar 40 minutos, pois sabe que ningum ir agentar. A caracterstica principal de um culto evanglico a pregao da Palavra de Deus. Nmeros especiais bem ensaiados, testemunhos autnticos, avisos, tudo isso til e necessrio, desde que em seu devido lugar. Devemos zelar para que nossos cultos no se tornem festivais de msica popular ou reunies para avisos, mas, sim, encontros com Deus em Sua palavra! Lutero era muito enftico em afirmar que, onde se prega a palavra de Deus e so ministrados o batismo e a ceia, ali que se encontra a verdadeira igreja. Falta de um bom planejamento ministerial. O pregador eficiente tem de planejar sua pregao com antecipao. Muitos pastores falam sem nenhum plano ou propsito. Eles simplesmente decidem, a cada semana, quais os tpicos para os sermes do domingo seguinte. Algumas vezes, a deciso feita na sexta-feira ou no sbado. A pregao sem um plano de longo alcance produz diversos resultados negativos: 1. O pregador colocado sob tenso e ansiedade desnecessrias; 2. Muitos pastores simplesmente pregam os mesmos sermes, domingo aps domingo. Eles escolhem um texto novo, mas, no fim, o contedo acaba sendo idntico ao daquele outro velho sermo; 3. Outras vezes, o pregador tem uma idia boa para um sermo, mas no d tempo para que ela se desenvolva; e 4. Aqueles que no planejam sua pregao, geralmente cedem tentao do plgio. O bom pregador deve fazer um planejamento anual, incluindo mensagens para os dias especiais (Natal, Pscoa, aniversrio da igreja etc.). Dessa forma, ele alimentar seu

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rebanho com uma dieta sadia e balanceada. Outros motivos que resultam em problemas para a homiltica. Alm das dificuldades j mencionadas, devemos lembrar que a pregao vem sendo desvalorizada pela secularizao que atinge nossas igrejas. Muitas famlias preferem assistir ao Fantstico, em vez de ouvir uma mensagem simplesmente exortativa e moralista. H tambm a questo da grande diversidade de igrejas e pregadores evanglicos, o que facilita famlia recm-chegada optar entre o pregador eloqente e popular e a igreja com status. Alm disso, o estresse do dia-a-dia faz com que, mesmo no domingo, no haja mais o sossego necessrio para reflexes espirituais profundas. AS CARACTERSTICAS DA HOMILTlCA Charles W. Koller apresenta o conceito bblico de pregao como aquele processo nico pelo qual Deus, mediante Seu mensageiro escolhido, Se introduz na famlia humana e coloca pessoas perante Si, face a face. Em sua tese, Koller refere-se ao mensageiro (vocao, carter, funo) e mensagem (contedo, poder, objetivo). Na realidade, porm, as caractersticas da homiltica evanglica no devem restringir-se somente aos plos mensageiro e mensagem. Trs elementos, no mnimo, participam da prdica: o pregador, o(s) ouvinte(s) e Deus. Podemos represent-los por meio de um tringulo, cujos vrtices simbolizam o autor, o comunicador e o receptor: Neste tringulo, o pregador dirige-se a Deus, na preparao e na proclamao da mensagem, e ao ouvinte, sua comunidade evanglica. O ouvinte recebe a mensagem da Palavra de Deus atravs da comunicao pelo pregador ou por sua prpria leitura. Deus, por Sua vez, autor, inspirador e ouvinte de Sua Palavra. Entretanto bom lembrar que o tringulo s se completa com um ncleo: este mago a palavra do Cristo crucificado (1 Co 2.2). O tringulo, ento, deve ser aperfeioado da seguinte forma: DEUS

a BBLIA w

PREGADOR

OUVINTE OU COMUNIDADE

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Para os evanglicos, Cristo o centro da Bblia. Lutero ensinou enfaticamente: A Escritura deve ser entendida a favor de Cristo, no contra Ele; sim, se no se refere a Ele no verdadeira Escritura... Tire-se Cristo da Bblia, e que mais se encontrar nela?.

O CONTEDO DA HOMILTICACom a Palavra de Deus, -nos dado o contedo da pregao. Pregamos esta Palavra, e no meras palavras humanas. Na comunicao da Palavra de Deus, lembramonos de que nossa pregao deve consistir nessa mesma Palavra: Se algum fala, fale de acordo com os orculos de Deus... (1 Pe 4.11). Este falar no o nosso falar, sendo antes um dom de Deus, um charisma (xa/risma). No poder de Deus, nosso falar torna-se o falar de Deus: ... tendo vs recebido a palavra que de ns ouvistes, que de Deus, acolhestes no como palavra de homem, e, sim, como, em verdade , a palavra de Deus, a qual, com efeito, est operando eficazmente em vs, os que credes (1 Ts 2.13; cf. 1 Co 2.4s.; 2 Co 5.20; Ef 1.13). Conclumos, pois, que o contedo da homiltica evanglica a Palavra de Deus. Com ela, -nos confiado um tesouro em vasos de barro (2 Co 4.7). a responsabilidade dos ministros de Cristo, e despenseiros dos mistrios de Deus (1 Co 4.1), que anunciam todo o desgnio de Deus (At 20.27). O contedo da pregao apostlica testifica a plenitude do testemunho bblico. Isto se torna evidente ao analisarmos os sermes de Pedro e de Paulo, no livro de Atos (mensagens de Pedro: At 2.14-40; 3.12-26; 4.8-12; 5.29-33; 10.34-43; mensagens de Paulo: At 13.16-41; 14.15-17; 17.22-31; 20.18-35; 22.121; 24.10-21; 26.1-23; 26.25-29). Nestes sermes, encontramos um testemunho de seis faces que, com palavras diferentes, repete-se: 1. O testemunho da perdio do homem (o pecado e seu julgamento); 2. O testemunho da histria da salvao efetivada por Deus em Jesus Cristo (Sua humilhao, encarnao, sofrimento, morte, ressurreio, exaltao e segunda vinda); 3. O testemunho das Escrituras e da prpria experincia; 4. O testemunho da necessidade imperativa de arrependimento e dedicao da vida a Jesus Cristo (confisso dos pecados, f salvadora, vida santificada); 5. O testemunho do julgamento sobre a incredulidade; e 6. O testemunho das promessas para os fiis. As mensagens apostlicas dirigem-se ao homem integral e convidam-no a uma entrega absoluta a Cristo (conscincia, razo, sentimento e vontade).

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A IMPORTNCIA DA HOMILTICA A igreja viva de nosso Senhor Jesus Cristo origina-se, vive e perpetuada pela Palavra de Deus (Rm 10.17). Pregar o evangelho significa despertar, confirmar, estimular, consolidar e aperfeioar a f (Ef 4.11ss.). Por essa razo, a prdica a caracterstica marcante do cristianismo. Nenhuma outra religio jamais tornara a reunio freqente e regular de massas humanas para ouvir instruo religiosa e exortao uma parte integrante do culto divino. Para o seminarista e futuro pregador do evangelho, a homiltica constitui a coroa da preparao ministerial, porque para ela convergem todas as matrias teolgicas a fim de originar, vivificar, caracterizar, renovar e perpetuar o cristianismo autntico. Alm de importante, a homiltica tambm nobre, porque se interessa exclusivamente pelo bem das almas, que so objeto do amor infinito, da graa remidora e do poder renovador de Jesus Cristo. Durante o COMIBAM 87 (Congresso Missionrio Ibero-Americano), o lder evanglico Ren Zapata (El Salvador) disse: A pregao o principal meio de difuso do cristianismo mais poderosa do que a pgina escrita, mais efetiva do que a visitao e o aconselhamento, mais importante do que as cerimnias religiosas. uma necessidade sobrenatural, convence a mente, aviva a imaginao, move os sentimentos, impulsiona poderosamente a vontade. Mas, depende do poder do Esprito Santo. um instrumento divino; no o resultado da sabedoria humana, no descansa na eloqncia, no escrava da homiltica. A homiltica importante devido a seu contedo (a proclamao do evangelho como caracterstica fundamental do cristianismo autntico), seu lugar central na preparao do ministro evanglico e seu objeto (o bem-estar do homem, criado por Deus). A NATUREZA DA HOMILTICA a teoria e a prtica da pregao do evangelho de nosso bendito Senhor Jesus Cristo, que revela o poder e a justia de Deus para todo homem que nEle cr (Rm 1.16). O telogo alemo Trillhaas define a natureza prtica da homiltica como a voz do evangelho na poca atual da igreja de Cristo. Os termos pregao e pregar vm do latim praedicare, que significa proclamar. O Novo Testamento emprega quatro verbos para exemplificar a natureza da pregao: I. Krysso (khru/ssw proclamar, anunciar, tornar conhecido (61 ocorrncias khru/ sw), no Novo Testamento). Est relacionado com o arauto (kryx - kh=ruc), que comissionado pelo seu soberano ... para anunciar em alta voz alguma notcia, para assim torn-la conhecida. Assim, pregar o evangelho significa fazer o servio e cumprir a misso de um arauto. Joo Batista era o arauto de Deus. Para sua atividade, os sinticos empregam o termo krysso: Mt 3.1; Mc 1.4; Lc 3.3. Jesus, por Sua vez, era arauto de Seu Pai: Mt 4.17,

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23; 11.1; e os doze discpulos, Paulo e Timteo, arautos de Jesus: Mt l0.7,27; Mc 16.15; Lc 24.47; At 10.42; Rm 10.8; 1 Co 1.23; 15.11; 2 Co 4.5; Gl 2.2; 1 Ts 2.9; 1 Tm 3.16; 2 Tm 4.2. Estas referncias bblicas mostram que a natureza da pregao consiste em quatro caractersticas principais: 1) Um arauto fala e age em nome do seu senhor. O arauto o porta-voz de seu mestre. isto que d sua palavra legitimidade, credibilidade e autenticidade; 2) A proclamao do arauto j determinada. Ele deve tornar conhecidas a vontade e a palavra de seu Senhor. O no-cumprimento desta misso desclassifica-o de sua funo e responsabilidade; 3) O teor principal da mensagem do arauto bblico o anncio do reino de Deus: Mt 4.17-23; 9.35; 10.7; 24.14; Lc 8.1; 9.2; e; 4) O receptor da mensagem do arauto bblico o mundo inteiro: Mt 24.l4; 26.13; Mc 16.15; Lc 24.47; Cl 1.23; 1 Tm 3.16. II. Euangelizomai (eu)aggeli/zomai - eu)aggeli/zw evangelizar. Quem w), eu) evangeliza transmite boas novas, uma mensagem de alegria. Assim se caracteriza a natureza da prdica evanglica. O pregador do evangelho o portador de boas novas, de uma mensagem de salvao e alegria. Ele anuncia estas boas novas de salvao ao homem corrompido por seu pecado (Is 52.7; Rm 10.15)13. O contedo do evangelho a salvao realizada por Jesus Cristo (Lc 2.10; At 8.35; 17.18; Gl 1.16; Ef 3.8; Rm 1.16; 1 Co 15.15ss). e seu alcance o mundo inteiro. O evangelho no deve limitar-se a uma classe especial. Ele para todos. Todos tm direito de ouvir a mensagem de Jesus Cristo (At 5.42; 11.20; 1 Co 1.17; 9.16). III. Martyrein (marturei=n - marture/w), testemunhar, testificar, ser marturei= testemunha. O testemunho de Jesus Cristo outra caracterstica autntica da prdica evanglica. Jesus convidou seus discpulos para serem Suas testemunhas do poder do Esprito Santo (Lc 24.48; At 1.8). Neste sentido, os apstolos compreenderam e executaram seu ministrio (At 2.32; 3.15; 5.32; 10.39; 13.31; 22.15; 23.11; 1 Jo 1.2; 4.14). A testemunha qualifica-se atravs da comprovao de sua experincia. Isto lhe d credibilidade, convico e liberdade no cumprimento de sua misso. O evangelista diz: ... e ns temos crido e conhecido que tu s o Santo de Deus (Jo 6.69). Isto significa que somente aquele que experimentou pessoalmente o poder salvador e transformador de Cristo, por meio da f em Sua pessoa e obra, qualificado para ser testemunha13

Is 52.7: Como so belos nos montes os ps daqueles que anunciam (mebassr) boas novas, que proclamam a paz, que trazem boas notcias, que proclamam (mebassr) salvao, que dizem a Sio: O seu Deus reina!. Mebassr - r"&bm, na Septuaginta a : eu)aggelizome/nou e eu)aggelizo/menoj de eu)aggeli/zw.

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evanglica. Por isso, a testemunha do Novo Testamento testifica para outras pessoas aquilo que apropriou pela f. E o que de minha parte ouviste, atravs de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiis e tambm idneos para instruir a outros (2 Tm 2.2). IV. Didaskein (dida/skein - dida/skw ensinar. Encontramos este verbo 95 kw), dida/ vezes no Novo Testamento. Seu significado sempre ensinar ou instruir. O Novo Testamento apresenta-nos Jesus como um grande educador: Quando Jesus acabou de proferir estas palavras [o Sermo do Monte], estavam as multides maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e no como os escribas (Mt 7.28, 29). o testemunho unnime de todos os escritores sinticos, que sem dvida coincide com a realidade histrica, que Jesus ensinava publicamente, i. e., nas sinagogas (Mt 9.35; 11.54; Mc 6.2; 1.21 e passim), no templo (Mc 12.15; Lc 21.37; Mt 26.55; Mc 14.49); (cf. Jo 18.20) ou ao ar livre (Mt 5.2; Mc 6.34; Lc 5.3; e passim). Somente Lucas 4.16ss d detalhes acerca da forma externa de Seu ensino, ficava em p para ler um trecho dos profetas.

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CLASSIFICAO DO SERMOO sermo classificado por duas formas, a saber: pelo assunto ou pelo mtodo, podendo ser discursivo ou expositivo. 1. Pelo assunto: 1.1. Doutrinrio. aquele que expe uma doutrina. (Ensinamento). Sua finalidade instruir os crentes sobre as grandes verdades da f e como aplic-las, portanto, didtico. O dom de ensino era muito difundido no cristianismo nascente. Jesus era intitulado de Mestre e os seus seguidores de discpulos. O sermo doutrinrio atende quatro funes na vida da igreja: a) b) c) d) 1.2. 1.3. 1.4. 1.5. 1.6. 1.7. Atende o desejo de aprender que existe na vida do crente; Previne contra as heresias; D embasamento ao; Contribui para o crescimento dos ouvintes e do prprio pregador. Histrico. aquele que narra uma histria; Ocasional. aquele destinado a ocasies especiais; Apologtico. Tem a finalidade de fazer apologia. (defender); tico. quando exalta a conduta e a vida moral e tica; Narrativo. Quando narra um fato, um milagre; Controvrsia. Tem por finalidade atacar erros e heresias.

2. Pelo mtodo (James Braga. COMO PREPARAR MENSAGENS BBLICAS, Pg. 1776). 2.1. Topical ou Temtico. Trata de um tpico e no de um texto bblico em particular. As divises derivam-se do tpico (ou tema). [COMO PREPARAR MENSAGENS BBLICAS, Pg. 17-29]. 2.2. Textual. Trata do desenvolvimento de um texto bblico, um ou dois versculos. As divises derivam-se do texto. [COMO PREPARAR MENSAGENS BBLICAS, Pg. 3046]. 2.3. Expositivo. Trata do desenvolvimento de um texto bblico, geralmente longo. As divises tambm derivam-se do texto. Este pode expor uma histria ou uma doutrina. (Parbola, Milagre, Peregrinao, Pecado). Em certo sentido todo sermo expositivo, mas aqui indica a extenso do texto. Leia: O Cajado do Pastor, pg. 163-170. [COMO PREPARAR MENSAGENS BBLICAS, Pg. 47-76].

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A ESTRUTURA HOMILTICA

A Estrutura homiltica de um sermo possui o seguinte esquema: TTULO: TEXTO: INTRODUO: PROPOSIO: Sentena Interrogativa Sentena de Transio AS DIVISES PRINCIPAIS: I. PRIMEIRO SUBTTULO 1. Primeira subdiviso; 2. Segunda subdiviso; 3. Terceira subdiviso.

II. SEGUNDO SUBTTULO 1. Primeira subdiviso; 2. Segunda subdiviso; 3. Terceira subdiviso.

III. TERCEIRO SUBTTULO 1.Primeira subdiviso; 2.Segunda subdiviso; 3.Terceira subdiviso. CONCLUSO APLICAO APELO

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HOMILTICA

Criado por Pr. Bentes

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DIVISO DO SERMOO Sermo deve possuir divises, que permitem um bom aproveitamento do assunto que vai ser apresentado. a expresso do aspecto especfico a ser apresentado, formulado de maneira que seja um anncio adequado do sermo. TTULO 15 O pregador no deve se preocupar com o ttulo no incio do preparo de seu sermo, pois geralmente o ttulo, assim como a introduo, um dos ltimos itens a ser preparado. CARACTERSTICAS DO TTULO O ttulo deve ser interessante e atraente a fim de despertar a ateno dos ouvintes. Para ser interessante ele deve relacionar-se as situaes especficas e s necessidades das pessoas que ouvem o sermo. 1. O ttul