Homilia _ Vida Pastoral

download Homilia _ Vida Pastoral

of 10

description

Homilia _ Vida Pastoral

Transcript of Homilia _ Vida Pastoral

  • PORTAL LOJA VIRTUAL FAPCOM PAULINOS RDIO

    ASSISTNCIA SOCIAL

    Brasil

    Ol Visitante! Faa o login ou cadastre-se.

    Buscar

    Artigos Autores Ediesanteriores

    Roteiroshomilticos

    Como assinar Enviar artigos Fale conosco

    Artigos

    (O presente artigo reproduz o quinto captulo do livro de J. B.Libanio Como saborear a celebrao eucarstica?)

    A homilia um ato litrgico que faz ponte entre a Palavra anunciadae a Palavra celebrada. (Paul de Clerck)

    A homilia o prolongamento da palavra da Escritura para dentro domomento de hoje e para a comunidade presente em ressonnciacom o tempo litrgico e em conexo com a celebrao litrgica comtonalidade espiritual, orante, e no doutrinal ou moralizante. Otermo grego homilia reflete uma experincia humana de estar emcompanhia, de ajuntar-se a, de conversar, de ter e estar numrelacionamento profundo, de frequentar as pessoas. A transposiodesse termo para dentro da celebrao indica o esprito da homilia,que deve criar entre o pregador e a assembleia um relacionamento

    de proximidade, de companhia, de presena, e no de distncia nemde erudio magisterial. Est inserida na ao litrgica, cercada de

    Baixar verso em PDF

    Temas pastorais

    Data: novembro-dezembro de 2015Ano: 56Nmero: 306

    ltima edio

    Publicado em Janeiro-Fevereiro de 2006 (pp. 25-30)

    HomiliaPor Pe. Joo Batista Libanio

  • de erudio magisterial. Est inserida na ao litrgica, cercada deorao de contemplao, de mistrio, de clima de f. Essa aura deveenvolv-la.

    primeira vista, a homilia parece um enclave na liturgia.Interrompe-se o ciclo das palavras da tradio litrgica e daEscritura para inserir o comentrio vivo, novo, diversificado dopregador. Rompe-se a estrutura de uma celebrao hiertica paraintroduzir nela a palavra do cotidiano, imprevisvel, desde homiliasrealmente consoantes com o conjunto litrgico at aquelas banais evulgares. A liturgia perde a segurana da tradio para aceitarcomentrios de hoje.

    No entanto, apesar dos riscos de confiar aos limites dos celebrantesa palavra da homilia, ela faz parte desde os incios da liturgia. umadas partes mais antigas e remonta aos elementos pr-cristos vindosda tradio sinagogal. No evangelho, deparamos com a cena deJesus lendo e comentando uma passagem de Isaas (Mc 6,1-6; Lc4,16-30). Era um costume no mundo judaico de que Jesus fez usoenquanto membro do povo e piedoso frequentador da sinagoga. Omesmo aconteceu com Paulo, que, estando presente com seuscompanheiros na sinagoga de Antioquia da pisdia, convidado pelochefe, tomou a palavra e fez o maravilhoso anncio da boa-nova daressurreio de Jesus (At 13,13-43). Eram os antecedentes bblicosde nossa homilia. Tornou-se natural no mundo cristo que seseguisse leitura da Escritura, como elemento indispensvel daliturgia da palavra, o comentrio.

    A histria da Igreja, especialmente na Antiguidade, conta commaravilhosa tradio de homilias dos Santos Padres. No Oriente, nosculo IV, em concelebraes, cada um dos celebrantes podia fazerseu comentrio sobre as leituras bblicas, cabendo ao bispo ser oltimo a falar. No entanto, em Alexandria, por causa dos desvariosteolgicos de rio ou mesmo na frica do Norte at Santo Agostinho,era vedada aos sacerdotes a pregao. O mesmo aconteceu emRoma e em outros lugares durante muito tempo. Pregaes de Pa-dres da Igreja, bispos ou simples sacerdotes, constituem umariqueza teolgica de insuspeitada beleza e grandeza.

    O cristo mdio no nosso contexto no se acostumou a ler os Padresda Igreja, seja por falta de tradues em portugus de fcil acesso,seja por desconhecimento e falta de motivao.

    A partir do incio da Idade Mdia, a homilia na liturgia entrou emdecadncia. Durante algum tempo, ficou restrita aos bispos, tantopara garantir-lhes o poder doutrinal quanto pela falta de preparodos sacerdotes. Em outros momentos, o descuido pela pregaocresceu, afetando at os bispos que j no pregavam. Houve um

    ressurgimento da pregao por obra e graa dos fradesmendicantes, sobretudo dos dominicanos, cuja ordem sedenominou Ordo Praedicatorum, a Ordem dos Pregadores. Mas

    Leia tambm

    Publicado em novembro-dezembrode 2015Convite papal VidaConsagrada: passar daautorreferencialidade paraa cultura do encontro

    Publicado em novembro-dezembrode 2015Famlias em segunda unio:um desafio evangelizador

    Publicado em novembro-dezembrode 2015A humanizao e adesumanizao do trabalho

    Publicado em novembro-dezembrode 2015Comunicao e parquia:alguns pontos bsicos econcretos

    Loja Virtual

    Introduo ticaTeolgica

    Jos AntonioTrasferetti/Maria Ins de...

    De R$ 23,00Por R$ 21,39

    Roteiros homilticos

    25 de outubro

  • denominou Ordo Praedicatorum, a Ordem dos Pregadores. Masnem sempre os sermes se faziam no quadro da missa. O Conclio deTrento imps a obrigao aos procos e bispos de pregarem aosdomingos e dias de festa. E os ventos novos da renovao dosestudos bblicos do sculo passado trouxe substancial melhora daspregaes, incentivada pelo movimento litrgico e reforada pelasorientaes do Conclio Vaticano II.

    A posio da pregao variou ultimamente. Antigamente o bisposempre pregava sentado e o povo ficava em p. o jogo simblicodo mestre e discpulo, do que ensina (sentado) e do que aprende (dep). Valia em muitos lugares tambm para o pregador sacerdote. Osfiis apoiavam-se em seus bastes para suportarem melhor aposio ereta. Razes pragmticas debilidade de certos ouvintes,prolongamento das pregaes levaram a providenciarem-secadeiras. Mas o atual costume de bancos para os fiis veio por meioda influncia dos templos protestantes na poca moderna.

    A Igreja de Belo Horizonte, por ocasio do lanamento do ProjetoPastoral Construir a Esperana, encetou esforo singular noaprimoramento das homilias, oferecendo cada domingo subsdiosbblico. Projeto que depois a prpria Conferncia dos Bisposassumiu em mbito nacional. Tanto sacerdotes como fiis hoje jcontam com ajudas substanciosas para o aprofundamento dostextos bblicos selecionados pela liturgia.

    No se leem os textos bblicos como um livro de Histria que nosrelata o que aconteceu no passado e nos deixa totalmenteindiferentes. Quando estudamos a Inconfidncia Mineira, no nossentimos interpelados hoje. Emitimos espontaneamente um juzohistrico sobre o fato, glorificando a Tiradentes e chamando detraidores os que o condenaram morte. um sentimento de justiahistrica do passado. A vida de Tiradentes no nos atingeexistencialmente. A histria faz seu percurso e emite seusjulgamentos.

    A Bblia diferente. Os fatos histricos passados, relatados por ela,tm um significado presente e interpelante para quem a l e ouve.Sendo Palavra de Deus, encerra um sentido maior que vale paratodos os tempos, embora reinterpretados na nova conjuntura. Ahomilia uma ajuda para os fiis fazerem tal releitura da Bblia parasua vida presente. De toda leitura da Escritura, vale o que Marcosnos diz do incio da vida pblica de Jesus: O Reino de Deus estprximo, isto , ele nos toca por meio da Palavra lida. Convertei-vos, a leitura pede que mudemos de vida. Mas em que direo?Crede na boa-nova, entendendo, aceitando e vivendo o anncio desalvao de Jesus. Em que consiste fundamentalmente tal propostade Jesus? Colocar-nos diante da interpelao de Deus por meio dosacontecimentos da vida, da histria, descobrindo neles comopodemos amar e ajudar mais e melhor o prximo. Nisso consiste oamor a Deus e de Deus.

    25 de outubro30 DOMINGO DO TEMPOCOMUM

    18 de outubro29 DOMINGO DO TEMPOCOMUM

    12 de outubroNOSSA SENHORAAPARECIDA

    11 de outubro28 DOMINGO DO TEMPOCOMUM

  • Toda leitura da Palavra que nos atinge pede converso cum +vertere mudana de rumo. Em grego, a palavra mais profunda:metanoia met + nous que a nossa mente v mais alm, deixe oseu crculo fechado. A leitura atualizada da Escritura na homilia pediante de ns o caminho a ser trilhado, abandonando o lugar paradoem que estvamos. A homilia incentivo mudana de vida, aavanarmos para guas mais profundas, deixando para trs acomodidade e a segurana da margem.

    A homilia nasce da inteligncia e do corao do pregador. Quantomais ele penetra o texto, tanto mais tem o que comunicar aos fiis.Esse trabalho se constri por meio de uma intimidade com aspercopes. Duas posturas permitem melhor acesso a elas: a intuioe a anlise.

    medida que um cristo se familiariza com os textos bblicos, sejasimples fiel ou estudioso erudito, vai adquirindo crescente sentidobblico da f. uma espcie de olfato espiritual, de conaturalidadecom a revelao de Deus, sem necessidade de recorrer erudio ous vestimentas lingusticas.

    Como cultivar e ativar tal sentido da f? Sem ele, nenhuma homiliaconsegue sair de chaves, de bvios triviais, de moralismosimprovisados e baratos, de mera repetio do texto que se acaboude ler. Perde-se nas palavras sem contedo ou em contedos semdensidade existencial e humana. Mero ecoar de frases feitas! Comoento acordar esse dom do Esprito que dorme em cada um de ns?Segue, guisa de sugesto, um roteiro didtico.

    1. Depois de ler o texto, sem nenhum outro instrumento do que aprpria vivncia de f, faamos a seguinte pergunta: queensinamento principal, que verdade fundamental, que lio bsica otexto bblico passa para mim e para a comunidade qual voupregar? No silncio, na solido meditativa, na espera sem ansiedadeativista, deixemos que tal questo nos penetre e germine at quesurja de dentro da experincia de f uma intuio, uma ideia motriz.

    2. A intuio nasce de uma matriz existencial. Avanamos a reflexoperguntando-nos pela experincia de f subjacente intuio. Mais:com que imagem conseguimos vesti-la para em seguida esgalhar-seem inmeras aluses?

    Vai um exemplo.

    Leiamos o evangelho da fuga da Sagrada Famlia para o Egito.Imaginemos, que nos surja a intuio de que Jesus pequeno comeaa histria humana mergulhando no mais fundo da histria desofrimento de seu povo: a escravido do Egito. Depois decompartilhar com seu povo essa histria de sofrimento, ouve a vozdo anjo: Volta para Israel, a Terra onde manam leite e mel. A est

  • do anjo: Volta para Israel, a Terra onde manam leite e mel. A esta intuio. E a partir dela abrem-se inmeras analogias com osEgitos pessoais, comunitrios, sociais, polticos e eclesiais quevivemos para ouvir o chamado: Deixa tudo isso e vem para Israel!.E Israel, por sua vez, permite a simbologia da libertao em todosesses nveis. E, em seguida, a referncia celebrao litrgica domemorial de Jesus, para que mergulhemos mais fundo ainda nessemistrio maior de nossa libertao. Assim se constri uma homiliaem torno de uma nica intuio espiritual, inspirada pelo textobblico, relacionada com a celebrao e com a vida dos fiis.

    Um outro exemplo, inspirado em E. Drewermann. Jesus cura oleproso, tocando-o (Mt 8,1-4). Para ns, atualmente, a doena nunca s orgnica, traduzindo frequentemente uma falsa viso de mundoe de modo de viver. O leproso sofre da terrvel ruptura que o penetraprofundamente, ao exclu-lo do convvio humano. Ele pertence aomundo de fora. uma doena da pele, da exterioridade. E Jesuscura, tocando-o. A partir dessa intuio, constri-se uma homiliaoriginal, diferente do bvio das pregaes sobre os milagres.

    3. Esse tipo de homilia se baseia na conaturalidade com o texto apartir da intuio espiritual, existencial, ao lado da sensibilidadesocial e vivncia litrgica. Supe do pregador nvel mais elevado deespiritualidade, vida de orao e contemplao, acostumado smoes e luzes nascidas no seu interior. Conjuga mais intimamentea dimenso intelectual intuio com a afetiva percepoexistencial e interior. A densidade da pregao atinge mais aspessoas porque surge da vida e se dirige vida. Apreciam-na aspessoas mais profundas e espirituais, j que sintonizam no Espritocom a experincia transmitida.

    4. Um percurso mais longo, que no se ope ao anterior, antes oenriquece e at mesmo o provoca, consiste em trabalhar o textobblico com o tringulo hermenutico: texto, contexto e pr-texto.

    5. A aproximao ao texto se faz por meio de um aprofundamentocom os recursos das cincias bblicas. Existem disposio dopregador inmeras publicaes, desde livros de exegese e leitura

    bblica at subsdios preparados por exegetas em revistas oufolhetos bblicos. Uma leitura atenta permite captar o significado dotexto em sua complexidade e riqueza. Trabalho nitidamenteintelectual. Supe que se v realmente ao texto na busca de suacompreenso. Os exegetas desenolveram verdadeira cinciahermenutica. No se tratando de nenhum estudo cientfico, ahomilia necessita simplesmente de alguns marcos gerais

  • importantes para facilitar a compreenso do fiel e assim evitarbarbaridades interpretativas.

    6. O primeiro cuidado do pregador evitar que uma inteleco literaldo texto gere uma imagem de Deus incompatvel com o conjunto darevelao. Certos textos passam, primeira vista, a ideia de um Deusvingativo, cheio de humor, que protege uns e castiga outros, quedeixa modificar seu plano pela insistncia do pedinte, que agepontual e arbitrariamente sobre a histria, que manda Israel mataros adversrios indiscriminadamente. Existe uma mentalidadereligiosa mgica de Deus. E, se a homilia no for perspicaz, terminapor refor-la ainda mais.

    7. A revelao um todo dentro do qual se entende cada texto. Nemtodos os momentos e passagens tm a mesma clareza. Assim a cenada ocupao da Palestina por Israel, em que Deus ordena verdadeirogenocdio, no pode ser entendida nela mesma, mas como ummomento que reflete a rudeza da compreenso do povo daqueletempo. Jesus vai mostrar um Deus que ama os estrangeiros, aorepreender os discpulos que queriam pedir fogo do cu contra ossamaritanos. Vs no sabeis de que esprito sois! (Lc 9,55). Aprimeira passagem do Antigo Testamento s pode ser entendida apartir dessa do Novo Testamento. o mesmo Deus, s que um revelado pela bronquice da mente judaica antiga, e o outro peloFilho Jesus.

    8. A homilia no pode desconhecer a diferena de gnero literrio. algo que qualquer pessoa entende. Na experincia diriadistinguimos muito bem a descrio de um acidente de automvel euma histria ou caso pitoresco. O nvel de veracidade histrica no o mesmo. Isso vale para a Escritura. Quando Jesus fala de fogo eranger de dentes do inferno, no faz uma descrio; portanto, noafirma a existncia de fogo. No se trata disso, mas de umaadmoestao. E para admoestar recorremos, na linguagem humana,a uma srie de imagens condizentes com a cultura e a idade daspessoas. Quando a me admoesta o filhinho para no sair rua

    sozinho, ela veste a afirmao com imagens e lendas que vo atfiguras mitolgicas. No nenhuma descrio, mas advertncia.

    Os milagres de Jesus merecem muita ateno para no se reforar aideia milagreira popular e incentivar a busca de milagres em vez dese perceber o significado da proximidade do Reino de Deus.

    A distncia cultural, a diferena das linguagens e das lnguas com

  • seu gnero prprio, os problemas da comunidade a que os textosbblicos foram dirigidos devem ser explicitados toda vez que se tornenecessrio para no interpretar falsamente a passagem bblica. No questo de erudio, mas de respeito Palavra de Deus que foifalada em dado momento cultural bem definido, sem o qual ela no entendida.

    9. Em se tratando dos Evangelhos, especialmente dos sinpticos, oestudo comparativo da percope permite descobrir pormenores reaise simblicos expressivos. Ler o texto numa sinopse faz-nos percebera originalidade de cada um dos evangelistas e descobrir o toquepessoal que deu, ampliando o significado. guisa de exemplo, asbem-aventuranas em Mateus so proclamadas na montanha e emLucas na plancie. S esse pormenor j significativo. E assim, poucoa pouco, aguamos a observao do texto, enriquecendo-lhe acompreenso pela simples constatao das diferenas sinpticas.

    10. Cada percope se situa dentro do conjunto de um livro bblico. Jvimos que a revelao faz um todo e que nenhuma passagem podeser entendida por ela mesma. As barbaridades que se ouvem empregaes de pastores despreparados vm especialmente daconcepo verbalista da Escritura, como se fosse um ditado de Deuse cada palavra e frase fosse um tijolo completo, e no uma parte daparede. Tal reflexo vale em miniatura para um determinado livro,especialmente os Evangelhos. Assim o texto da homilia dominical tirado de um dos quatro Evangelhos. Em que lugar do Evangelho taltexto se situa? Sab-lo fundamental.

    Vai uma dica prtica. Tomemos uma boa traduo e copiemos numafolha o esquema do Evangelho proposto pelo tradutor. E assim dosquatro Evangelhos. Tenhamos essas folhas constantemente sob osolhos. Pouco a pouco assimilaremos a estrutura dos Evangelhos. E,quando formos pregar, olhemos em que lugar se situa a percope emquesto, reparando bem o que vem antes imediata e mediatamentee o que vem depois imediata e mediatamente. S o fato de situar nocontexto amplo do Evangelho o pequeno texto dominical j nossugere relaes criativas. Assim, quanto mais conhecermos o texto lna sua origem, tanto mais possibilidade teremos de interpret-lopara dentro de nosso contexto e pr-texto.

    11. Depois dessa aproximao ao texto, segue-se o momentofundamental da interpretao para a comunidade a que se dirige. o contexto de f. No se prega uma verdade em si, abstrata, por elamesma, mas em vista do bem da comunidade. A homilia visaprimeiramente a introduzir os fiis no mistrio da Palavra lida ecelebrada a fim de viverem melhor a f. Ajuda muito o pregador, aoolhar para os fiis, pensar: que posso dizer que sirva espiritualmenteaos fiis presentes? Um psicanalista comentava, certa vez, a

  • aos fiis presentes? Um psicanalista comentava, certa vez, adiferena entre dois pregadores. Um estava muito preocupado como que ia dizer. Preparava-se bem, armava sua pregao compalavras e frases bem-feitas. E, quando falava, gerava uma distnciaentre ele e os fiis. No os atingia. Estava muito autocentrado,preocupado, no fundo, consigo mesmo. Outro, por sua vez,preparava-se bem, sim. Mas, quando ia falar, olhava fundo para aspessoas e dizia-se: que vou pregar para anim-las na vida, na f? Eraoutra coisa. Aqui est um segredo fundamental da pregao. umaquesto de interioridade, de subjetividade, de intencionalidade parao outro que se extravasa na pregao. E quando falta, tem-se aimpresso de um bronze que soa, mesmo que seja um sino demuito valor.

    12. O pr-texto completa o passo anterior. Pr-texto significa asituao social e cultural que se est vivendo. Quanto mais opregador capta o momento de vida da comunidade, tanto maispercuciente sua pregao. No se trata de nenhum moralismobarato, fcil e que no requer preparao. Muita pregao se perdenesse matagal horroroso de vituperaes dos vcios presentes. Antes uma questo de sensibilidade cultural e social, captando emprofundidade as correntes que atravessam a hora atual. Consiste emir mais fundo do que a simples aparncia dos acontecimentos, dosfatos, a modo de Jornal Nacional, para descobrir os vetores culturaise sociais predominantes. Eles movem os fatos, do-lhes explicao.Numa palavra, questo de ir alm de uma anlise conjuntural paraatingir o nvel estrutural das realidades mais constantes econsistentes.

    Temas como droga e violncia pedem anlises mais profundas doque simples constatao ou indignao contra aes violentaseventualmente acontecidas no seio da comunidade. A anlisedesmascara uma cultura do vazio, uma substituio crescente do serpelo aparecer, uma exterioridade miditica que constripersonagens de espuma. E, avanando mais, o vazio e sem sentidopergunta pela estrutura mais profunda do ser humano, como ser-desejo, ser-busca, ser-transcendente. Quando a homilia conseguerevelar a pessoa a ela mesma e a dentro colocar a palavra de Deus elig-la ao mistrio celebrado, alcanou uma de suas maisimportantes finalidades.

    13. No somos donos totais de nossa interioridade. Esta jaz emprofundidade que no atingimos facilmente no cotidiano.Permanecemos frequentemente no nvel das aes, dascausalidades externas. Isso vale para o pregador como paraqualquer pessoa. Se ele vai direto homilia, sua pregao revelaressa camada superficial de seu eu. Por isso, ajuda muito alongar otempo de preparao. No se trata de quantidade material de

  • 7ZHHWDU

    tempo de preparao. No se trata de quantidade material detempo, mas de deixar que o tema da homilia, antes de ser proferido,penetre. Nesse sentido, ajuda ler o texto com antecedncia at dedias e ir ruminando-o at que atinja camadas abissais doinconsciente. A meditao sobre o texto diante de Deus, com o olharvoltado para a comunidade, tem enorme fora maiutica, isto , dearrancar do profundo de nosso ser consideraes e reflexes queultrapassem o bvio e a banalidade do cotidiano ou o cientismopedante do acadmico.

    14. Cabe recordar, na conduo de uma reflexo bblica e homilia, adistino entre o significado central da percope, a ponta daparbola e uma interpretao alegrica. A homilia visa, em primeirolugar, a mostrar esse ncleo central do texto bblico. Seguindo osexemplos dos padres e sobretudo dos medievais, uma leituraalegrica, desde que sensata e sem extravagncias ou distores,serve para despertar a piedade e a interiorizao do mistrio que secelebra finalidade principal da homilia. Ela multiplica ossignificados, decompe os smbolos e a parbola em partes eatribui-lhes um significado. Uma parbola contm numerosospormenores que, de si, a enfeitam e conduzem-na ao sentidoprincipal. No entanto, pode-se trabalh-los separadamente, desdeque no impeam a compreenso do seu todo.

    15. No final da homilia, os fiis, embora tenham entrado seminteligncia e de corao lento para crer, depois que se lhesexplicaram as Escrituras, deveriam poder dizer como os discpulosde Emas: No nos ardia o corao quando pelo caminho nosfalava e explicava as Escrituras? (Lc 24,32).

    Pe. Joo Batista Libanio

    00HJXVWD

    Institucional

    Quem somos

    Rede de Livrarias

    Vida Pastoral

    Artigos

    Autores

    Facebook

    Twitter

    Pia Sociedade deSo Paulo

    CNPJ: 61.287.546/0012-12R. Francisco Cruz, 229 -

  • Copyright 2015 PIA SOCIEDADE DE SO PAULO - Todos os direitos reservados

    Rede de Livrarias

    FAPCOM

    Paulinos

    Autores

    Edies anteriores

    Roteiros homilticos

    Como assinar

    Enviar Artigos

    Fale Conosco

    Youtube

    RSS

    R. Francisco Cruz, 229 -04.117-090Vila Mariana - SoPaulo/SP

    Paulus Editora pelomundo:

    Brasil