Hora H - Diário de um fotógrafo (Érico Hiller)

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34 | 29HORAS | de 29 de maio a 29 de junho de 2011 35 De encher os olhos. Este êxtase, aliado ao regozijo da subida, e com essas questões ambientais sendo lembradas a cada instante, tornam a escalada um algo a mais que uma caminhada normal. À medida que você vai subindo, seu oxigênio vai ficando escasso, e a gente tende a falar menos. A trip vai ficando mais intimista, uma queda livre para dentro de nós mesmos. Bem, e eu continuo a minha jornada pelos lugares que estão mudando no planeta por causa da ação do homem e das mudanças climáticas. Não deixem de seguir estas fotos e outras mais no meu site www.ericohiller.com. br. Vejo vocês! PS: Pra quem quiser ir, enquanto houver gelo, sugiro fechar um pacote com a empresa TERRA MUNDI, que me deu um ótimo auxílio, fora que são muito legais e profissionais. Érico Hiller é fotógrafo, colaborador das antigas (e de várias capas) da 29HORAS e vai passar este ano visitando lugares, vidas e culturas do planeta que estão em risco. POR ÉRICO HILLER DIÁRIO DE UM FOTÓGRAFO ISTO É ÁFRICA O futuro vai ser passado no Kilimanjaro. Com a mudança climática, a grande montanha africana talvez seja o cartão postal que vai mudar mais radicalmente e mais rapidamente, perdendo justamente o que lhe tornou mais peculiar, o gelo. Imagine o Rio sem o Cristo. Paris sem a Torre Eiffel. Londres sem o Big Ben. Este degelo é um processo de difícil reversão, que vem sendo acompanhado com angústia por cientistas e pela comunidade internacional há um bocado de tempo. Na internet é possível ver imagens comparativas e as diferenças da camada de gelo permanente que existia na montanha da década de oitenta pra cá, só pra dar um exemplo recente. É no mínimo desconcertante. Justamente o lugar que era conhecido pelos habitantes locais como a montanha branca, vai deixar de ser branca. Pela sua característica de uma montanha relativamente larga, plana, é possível caminhar até o topo e não escalar propriamente. Por isso é comum vermos jovens, grupos de amigos, casais ÉRICO HILLER e até idosos indo encarar o desafio de pelos menos cinco dias de andança. Claro, deve-se dizer que o frio e a altitude pesam bastante, fazendo que grande parte desista pelo caminho. Eu mesmo acabei me sentindo mal e não cheguei ao ponto mais alto. Mas valeu, e muito. Indiferente a todas essas dores, a viagem como um todo é lindíssima. À medida em que vamos caminhando para cima da linha das nuvens, as paisagens parecem ter sido extraídas de um filme recente de Tim Burton. SIM. ENCOSTAS GIGANTES COM GELO...NA ÁFRICA. ESTE É O ÚLTIMO GELO PERMANENTE QUE AINDA É POSSÍVEL VER NO CONTINENTE E FICA NA TANZÂNIA, NO TOPO DO MONTE KILIMANJARO, A MAIS DE CINCO MIL METROS DE ALTITUDE

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Isto é África

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34 | 29HORAS | de 29 de maio a 29 de junho de 2011 35

De encher os olhos. Este êxtase, aliado ao regozijo da subida, e com essas questões ambientais sendo lembradas a cada instante, tornam a escalada um algo a mais que uma caminhada normal. À medida que você vai subindo, seu oxigênio vai ficando escasso, e a

gente tende a falar menos. A trip vai ficando mais intimista, uma queda livre para dentro de nós mesmos.

Bem, e eu continuo a minha jornada pelos lugares que estão mudando no planeta por causa da ação do homem e

das mudanças climáticas. Não deixem de seguir estas fotos e outras mais no meu site www.ericohiller.com.br. Vejo vocês!

PS: Pra quem quiser ir, enquanto houver gelo, sugiro fechar um pacote com a empresa TERRA

MUNDI, que me deu um ótimo auxílio, fora que são muito legais e profissionais.

Érico Hiller é fotógrafo, colaborador das antigas (e de várias capas) da 29HORAS e vai passar este ano visitando lugares, vidas e culturas do planeta que estão em risco.

POR ÉRICO HILLER

DIÁRIO DE UM FOTÓGRAFO

ISTO É ÁFRICAO futuro vai ser passado no Kilimanjaro. Com a mudança climática, a grande montanha africana talvez seja o cartão postal que vai mudar mais radicalmente e mais rapidamente, perdendo justamente o que lhe tornou mais peculiar, o gelo. Imagine o Rio sem o Cristo. Paris sem a Torre Eiffel. Londres sem o Big Ben.

Este degelo é um processo de difícil reversão, que vem sendo acompanhado com angústia por cientistas e pela comunidade internacional há um bocado de tempo. Na

internet é possível ver imagens comparativas e as diferenças da camada de gelo permanente que existia na montanha da década de oitenta pra cá, só pra dar um exemplo recente. É no mínimo desconcertante. Justamente o lugar que era conhecido pelos habitantes locais como a montanha branca, vai deixar de ser branca.

Pela sua característica de uma montanha relativamente larga, plana, é possível caminhar até o topo e não escalar propriamente. Por isso é comum vermos jovens, grupos de amigos, casais ÉR

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HIL

LER

e até idosos indo encarar o desafio de pelos menos cinco dias de andança. Claro, deve-se dizer que o frio e a altitude pesam bastante, fazendo que grande parte desista pelo caminho. Eu mesmo acabei me sentindo mal e não cheguei ao ponto mais

alto. Mas valeu, e muito. Indiferente a todas essas dores, a viagem como um todo é lindíssima. À medida em que vamos caminhando para cima da linha das nuvens, as paisagens parecem ter sido extraídas de um filme recente de Tim Burton.

SIM. ENCOSTAS GIGANTES COM GELO...NA ÁFRICA. ESTE É O ÚLTIMO GELO PERMANENTE QUE AINDA É POSSÍVEL VER NO CONTINENTE E FICA NA TANZÂNIA, NO TOPO DO MONTE KILIMANJARO, A MAIS DE CINCO MIL METROS DE ALTITUDE