Hospitais

6
HOSPITAIS 26 A Debate em alta Um dos segmentos que primeiro se valeu dos conhecimentos sobre o controle de contaminação, os hospitais agora são motivo de estudos e debates para estabelecer padrões mais objetivos para os ambientes controlados e áreas limpas em seus interiores Alberto Sarmento Paz denominação Estabelecimentos Assistenciais de Saúde – EAS é indicativa de qualquer edificação destinada à prestação de assistência à saúde da população, que demande acesso de pacientes – em regime de internação ou não – independente do seu porte ou nível de complexidade. Reúne, portanto, hospitais, clínicas e unidades de tratamento avançado, por exemplo, sejam esses espaços públi- cos ou privados. Os EAS são, possivelmente, o setor econômico que atualmente gere maior demanda por informações sobre produtos e serviços de áreas limpas e ambientes controlados e, portanto, é foco de atenção dos fornecedores. Isso porque os setores usuários industriais, tais como farmacêutico, veterinário e eletrônica, têm consolidado diversos parâmetros para a aplicação da tecno- logia de áreas limpas, seja por meio de A contagem de partículas e sistemas de condicionamento do ar dotados de filtros são temas comuns no meio hospitalar há pelo menos três décadas normas seja por expertise desenvolvida notadamente nas últimas décadas de aplicação intensa da tecnologia na linha de produção. O tema, porém, não é distante dos hospitais e demais instituições de saúde. “Na verdade, os hospitais, em função da busca por ações preventivas para o controle de infecções, foram talvez os primeiros a debater com certa eficiência soluções para o controle de contaminação”, observa Maurício Sa- lomão, diretor da Somar Engenharia e coordenador do GT 53 da SBCC – Ambientes Controlados em Hospitais. “A contagem de partículas e sistemas de condicionamento de ar dotados de filtros são temas comuns no meio hospitalar há pelo menos três décadas e isso, como em todos os setores de conhecimento, vem evoluindo e se con- solidando. O GT 53 acredita que agora o momento é de desenvolver uma lite- ratura técnica que organize as ideias e o conhecimento, ou seja, estabeleça parâmetros consensuais para o bom desempenho dessas ferramentas em hospitais”, avalia Salomão. O GT 53, criado em setembro de 2009, realiza reuniões mensais com participação de profissionais de engenharia e da área de saúde que debatem o assunto e procuram criar

description

Hospitais

Transcript of Hospitais

Page 1: Hospitais

Hospitais

26

a

Debate em alta

Um dos segmentos que primeiro se valeu dos conhecimentos sobre o controle de contaminação, os hospitais agora são motivo de estudos e debates para estabelecer padrões mais objetivos para os ambientes controlados e áreas limpas em seus interiores

alberto sarmento paz

denominação Estabelecimentos Assistenciais de Saúde – EAS é indicativa de qualquer edificação

destinada à prestação de assistência à saúde da população, que demande acesso de pacientes – em regime de internação ou não – independente do seu porte ou nível de complexidade. Reúne, portanto, hospitais, clínicas e unidades de tratamento avançado, por exemplo, sejam esses espaços públi-cos ou privados.

Os EAS são, possivelmente, o setor econômico que atualmente gere maior demanda por informações sobre produtos e serviços de áreas limpas e ambientes controlados e, portanto, é foco de atenção dos fornecedores. Isso porque os setores usuários industriais, tais como farmacêutico, veterinário e eletrônica, têm consolidado diversos parâmetros para a aplicação da tecno-logia de áreas limpas, seja por meio de

a contagem de partículas e sistemas de condicionamento do ar

dotados de filtros são temas comuns no

meio hospitalar há pelo menos três

décadas

normas seja por expertise desenvolvida notadamente nas últimas décadas de aplicação intensa da tecnologia na linha de produção.

O tema, porém, não é distante dos hospitais e demais instituições de saúde. “Na verdade, os hospitais, em função da busca por ações preventivas para o controle de infecções, foram talvez os primeiros a debater com certa

eficiência soluções para o controle de contaminação”, observa Maurício Sa-lomão, diretor da Somar Engenharia e coordenador do GT 53 da SBCC – Ambientes Controlados em Hospitais. “A contagem de partículas e sistemas de condicionamento de ar dotados de filtros são temas comuns no meio hospitalar há pelo menos três décadas e isso, como em todos os setores de conhecimento, vem evoluindo e se con-solidando. O GT 53 acredita que agora o momento é de desenvolver uma lite-ratura técnica que organize as ideias e o conhecimento, ou seja, estabeleça parâmetros consensuais para o bom desempenho dessas ferramentas em hospitais”, avalia Salomão.

O GT 53, criado em setembro de 2009, realiza reuniões mensais com participação de profissionais de engenharia e da área de saúde que debatem o assunto e procuram criar

Page 2: Hospitais

27

Foto

: Div

ulga

ção

/ Hos

pita

l Síri

o-Li

banê

s

convergências. A interdisciplinaridade é fundamental nesse caso. Aos enge-nheiros cabe o conhecimento técnico sobre os fundamentos dos sistemas de condicionamento de ar, sistemas de fil-tros, uso de arquitetura de áreas limpas e controle de pressão, entre outros pon-tos. Os profissionais da área da saúde (médicos e enfermeiros) entram com as informações, por exemplo, sobre a dinâmica do hospital, as necessidades do atendimento aos pacientes, a rotina dos profissionais em cada um dos am-bientes (deve-se levar em conta que um

UTI do Hospital Sírio-Libanês. Pressão diferenciada entre quartos e corredor evita contaminação cruzada do ar

hospital tem desde cozinha até áreas de pesquisa de ponta, dependendo do tipo de instituição).

É essa troca de experiência que, avalia Salomão, será fundamental para criar documentos que não sejam uma peça de ficção. “Estabelecer critérios mínimos permite que o documento seja aceito e disseminado pelas par-tes envolvidas. Almejar uma desejada ‘excelência’, em função da tecnologia disponível, pode gerar um documento inócuo e sem efetividade no mundo real. Acredito que o bom documento é

aquele que estabelece diretrizes plau-síveis, sem grande impacto econômico e que, de forma relevante, ajuda a criar ambientes mais qualificados para o atendimento médico no curto e médio prazo”, resume Salomão.

O coordenador do GT 53 informa que o grupo está empenhado em es-crever e validar os ensaios feitos em ambientes hospitalares críticos, tais como centros cirúrgicos, unidades de tratamento intensivo – UTI, farmácias de manipulação de medicamentos, áreas de isolamento, de pesquisa avan-

Page 3: Hospitais

Hospitais

28

que não há espaço para classificação no modelo “em operação” em função das características de um hospital, principalmente nas áreas mais críticas).

çada e de transplante de medula óssea ou de pele. E a ideia é apresentar à sociedade esse documento até o final de 2012. Salomão explica ainda que todo o processo está sendo feito como se o documento fosse produzido para virar uma norma técnica ABNT. “Mas ainda não estamos certos se esse é o caminho. Há ainda um campo de deba-te para saber como melhor utilizar essa informação”.

Os especialistas do GT estão em busca de exemplos internacionais sobre o assunto. Foi encontrada, por exemplo, uma norma russa para hospitais espe-cificamente para a área de transplante de medula óssea e centro cirúrgico, com classificação nos modelos “como construído” e “em repouso” (é consenso

o grupo de estudo está empenhado

em escrever e validar ensaios

feitos em ambientes hospitalares críticos,

tais como centros cirúrgicos, Uti e

farmácias

Vista parcial do corredor que dá acesso às salas de cirurgia do Hospital Octávio Frias, em São Paulo

Também há publicações norte-ameri-canas sobre ambientes controlados e sistemas de condicionamento de ar e de água em EAS.

No Brasil, três documentos são avaliados como diretrizes gerais para consulta: a RDC 50 de 21/2/2002, a Re-solução RE 176 de 24/10/2000 e a NBR 7256. A RDC 50 dispõe sobre o regu-lamento técnico para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos físicos de EAS, enquanto a RE 176 estabelece orientação téc-nica contendo padrões referenciais de qualidade do ar interior em ambientes de uso público e coletivo, climatizados artificialmente. A resolução recomen-da um índice máximo de poluentes de contaminação biológica e química e

Foto

: Lui

z P

eleg

rini /

Ric

ardo

Har

a E

stúd

io /

Hos

pita

l São

Lui

z - U

nida

de A

nália

Fra

nco

Page 4: Hospitais

prevê métodos analíticos e recomen-dações para controle e correção, caso os padrões de ar sejam considerados regulares e ruins.

Já a norma brasileira ABNT NBR 7256:2005 versa sobre o “Tratamento de ar em estabelecimentos assisten-ciais de saúde - EAS - Requisitos para projeto e execução das instalações”, definindo os requisitos específicos para ambientes hospitalares, no que tange aos sistemas de ar.

avaliação complexa

Existem muitos questionamentos antes da formalização de algum proce-dimento mínimo para ambientes contro-lados ou mesmo áreas classificadas em

hospitais. Por exemplo, é necessária uma máquina dotada de filtro terminal para cada sala cirúrgica? Quando a contagem de partículas será feita? Qual a sequência mais eficaz para a conta-gem de partículas em um ambiente hospitalar e em quais ambientes a con-tagem deve ser feita? “Os questiona-mentos são muitos e para a melhoria do controle de contaminação, como forma de ampliar o controle de infecção em hospitais, é importante que tenhamos um procedimento conhecido por todos os atores envolvidos nesse processo. Estou convicto de que precisamos de-safiar a instalação”, diz Salomão.

As novas instalações têm ao menos um aspecto comum: há uma preocupa-ção dos administradores hospitalares com o tema. E os resultados são no-

tados. Por exemplo, é frequente esta-belecer diferencial de pressão entre as salas cirúrgicas e os corredores, e cada sala contar com seu próprio sistema de condicionamento de ar com filtro terminal. Esse procedimento reduz a possibilidade de contaminação cruza-da, além de propiciar maior eficiência em casos de limpeza ou manutenção em uma única sala cirúrgica.

Como reforça Antonio Gibertoni, da ABEClin – Associação Brasileira de En-genharia Clínica e da área de Engenha-ria Clínica do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, o controle de infecção é o maior desafio dos hospitais e um dos principais indicadores de qualidade das instituições. “O controle de con-taminação do ar pode ser um grande aliado no controle de infecção, daí sua

SEU PARCEIRO NO CONTROLE DE CONTAMINAÇÃO

*Anios Desinfectante para superfícies e equipamentos.áreas controladas Grade A e B.

*Produto filtrado 0,2µm*Dupla Embalagem esterilizado por irradiação.

Linha Wipe®6755% celulose/ 45% polyesterLinha Valuclen®

65% celulose/ 35% Polyester “autoclavável”Para Uso em ISO Classe 5

Embalagem para EsterilizaçãoBOP“Best Open Peelability”NBR 14.990-1

Campo Cirurgico Secu Drape Uso Único100% impermeavel para áreas controladasIsento de “PVC” EN 13.795

SP-TEL.: 55 (11) 2606-5349 • e-mail: [email protected].: 55 (31) 3241-6078 • e-mail: [email protected] TEL: 55 (62) 7814-1868 • e-mail: [email protected]

www.sterilex.com.br

Cleanroom

Sterilex.indd 1 2/16/11 3:24 PM

Page 5: Hospitais

Hospitais

30

importância. Mas o tema é muito com-plexo. Gosto sempre de citar o exemplo do pronto-socorro que recebe pessoas com todo o tipo de problema de saúde. As perguntas são várias, desde qual a importância do grau de pureza do ar, quantas trocas de ar devem ocorrer, como esse ar deve ser tratado antes de ir para o ambiente externo e quais filtros usar, até como manter controlados es-ses ambientes. Enfim, são avaliações complexas e nosso trabalho no GT 53 é incentivar o debate e gerar conhe-cimento e procedimentos aplicáveis”, comenta Gibertoni.

Um exemplo recente da comple-xidade da situação foi a epidemia de gripe suína. Até o conhecimento do impacto real da infecção, houve uma tendência de segregar as pessoas contaminadas. “Porém, como deveria ser o controle do ar nesse ambientes isolados? É um questionamento perti-nente e que precisa ser estudado para

Sala cirúrgica é um dos pontos críticos que merecem a atenção dos envolvidos em controle de contaminacão do ar

os questionamentos são muitos e para

a melhoria do controle de

contaminação, como forma de

ampliar o controle de infecção

em hospitais, é importante que

se tenha um procedimento

conhecido por todos os atores envolvidos

nesse processo

Foto

s: D

ivul

gaçã

o / H

ospi

tal O

távi

o Fr

ias

/ Sec

reta

ria d

e S

aúde

do

Est

ado

de S

ão P

aulo

Page 6: Hospitais

que a ação seja mais efetiva em novas situações críticas como a causada pela gripe suína”, avalia Gibertoni.

Ele observa ainda que não há exi-gência legal de ambientes controlados ou áreas limpas em hospitais, mas há uma tendência para o uso dessa tec-nologia em alguns ambientes. “Não se imagina um hospital referência, seja público ou privado, que não tenha filtro HEPA em seu centro cirúrgico e que não faça contagem de partículas. Mas não há um procedimento objetivo estabele-cido sobre como fazer essa contagem. A padronização, nesse caso, traria ex-celentes resultados a curto prazo e sem investimentos adicionais, pois isso já é feito como rotina nos hospitais”, avalia.

Para o especialista, o trabalho do GT 53 segue outros estudos de pa-

dronização que aperfeiçoaram o setor hospitalar, como é o caso da norma produzida pela ABNT CB 26 que deu diretrizes para a fabricação de equi-pamentos médicos. Hoje, se um fabri-

cante quiser atuar no mercado nacional tem que ensaiar os equipamentos em laboratório certificado pelo Inmetro e receber a certificação de conformidade.

A padronização do comissiona-mento, para Gibertoni, pode contribuir para a qualificação do setor. “Existem várias vertentes que contribuem para que essa situação se torne realidade. Primeiro, há uma preocupação social para a melhoria contínua do atendi-mento hospitalar. Depois, a sociedade é mais exigente, e quando se cria um impasse jurídico uma norma – ou uma resolução – é um documento que dá sustentação técnica ao debate. Tenho certeza de que os documentos gerados pelo GT 53 serão um grande avanço para toda a sociedade”, finaliza o diretor da ABEClin.

Não se imagina um hospital referência,

seja público ou privado, que não tenha filtro HEpa

em seu centro cirúrgico e que não faça contagem de

partículas

Soluções & Tecnologias para a Saúde

Fone: 55 11 3670-0000 Fax: 55 11 [email protected] www.baumer.com.br

PASS THROUGH

Dimensões de 80 a 600 litros;

Permite tanto a desinfecção de superfície por radiação UV como processos químicos e por fluxode ar estéril;

Sistema de abertura das portas em dobradiças ou tipo guilhotina;

Controle analógico de alta resolução;

Atende aos mais exigentes requisitos e normas de biossegurança mundiais.

Ideal para o controle de fluxo de materiais entre áreas classificadas, tais como laboratórios debiossegurança, biotérios, arsenais e sistemas de produção em área controlada. Possui sistemasopcionais de fumigação química, radiação ultravioleta, sistema de intercomunicação, entre outros.

C

M

Y

CM

MY

CY

CMY

K

PassThrough_mpag.pdf 1 5/2/2011 3:05:22 PM