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OS DESAFIOS E AS POTENCIALIDADES DO HTML5 O HTML5 foi considerado uma das tecnologias mais promissoras em 2010, depois do suporte integral do Google e duma série de “startups”, co- mo foi o exemplo da Clicker. A Microsoft decidiu igualmente centrar o seu focus no HTML5 à custa duma forte integra- ção no seu navegador Internet Explorer e Windows OS. A Apple também é uma das impulsionadoras, tendo igualmente ficado célebre a frase na comunidade "write once, run anywhere". O HTML (HyperText Markup Langua- ge) definitivamente marcou e modificou a forma como hoje encaramos a Internet. É necessário recuar uns anos para chegar até à criação da primeira versão de HTML. A ideia e concepção foram da autoria de Tim Berners-Lee, físico britânico, cien- tista na área da computação e professor do MIT, responsável pela criação da World Wide Web (simplesmente conhecida por WWW) em 1989. Em 1990 a sua equipa conseguiu com sucesso a primeira comuni- cação “http” com um servidor via Internet. De referir que o primeiro servidor web foi criado num NeXTCUBE (criação de Ste- ve Jobs) e esteve pela primeira vez online no CERN em 1991. O HTML, nas suas primeiras versões, apresentava uma sintaxe flexível com o intuito de atrair um número crescente de utilizadores. A nossa actual experiência de navegação na Internet não seria a mesma coisa sem o aparecimento duma série de protocolos de comunicação (tais como o TCP, UDP e IP) e o aparecimento do HTML. Este foi o primeiro esforço para a criação dum formato inteligível pelos navegadores (bro- wsers), permitindo embutir na visualização texto, imagens e, posteriormente, conteú- dos mais ricos como os de multimédia. O HTML passou por várias versões, sem- pre com novas funcionalidades, e estendeu artificialmente os seus limites recorrendo a plugins que permitem aos browsers a vi- sualização de conteúdos de formatos espe- cíficos e a execução de conteúdos lúdicos. A estratégia dos plugins fez parecer que o HTML não apresentava limites, mas tinha e tem as suas desvantagens. Os plugins obrigam à utilização de mais recursos e o HTML5 veio quebrar esse constrangimen- to. O HTML5 é, portanto, a quinta versão da linguagem HTML. As suas novas po- tencialidades vão alterar profundamente a sua aplicação com uma nova semântica e acessibilidade, permitindo a integração de novas funcionalidades e tecnologias até aqui inviáveis de serem suportadas pelas versões anteriores do HTML. A sua cres- cente vulgarização nos mais variados tipos de browsers permite uma visão e aplicação mais universal. O impacto do HTML5 é já bem notório: uma das tecnologias que começou a ser "ul- HTML5 “killed” the Flash-Vídeo Star? O HTML5 traz uma nova série de desafios e potencialidades ao velho HTML. Actualmente a discussão centra-se na análise de saber até que ponto o HTML5 irá ou não, gradualmente, substituir o modelo actual de download e instalação de aplicações nativas. Por: Justino Lourenço* Fotos: Ingimage HTML5 MOBILE 46

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Artigo de descrição da aplicação e vantagens do HTML5

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Os desafiOs e as pOtencialidades dO HtMl5

O HTML5 foi considerado uma das tecnologias mais promissoras em 2010, depois do suporte integral

do Google e duma série de “startups”, co-mo foi o exemplo da Clicker. A Microsoft decidiu igualmente centrar o seu focus no HTML5 à custa duma forte integra-ção no seu navegador Internet Explorer e Windows OS. A Apple também é uma das impulsionadoras, tendo igualmente ficado célebre a frase na comunidade "write once, run anywhere". O HTML (HyperText Markup Langua-ge) definitivamente marcou e modificou a forma como hoje encaramos a Internet. É necessário recuar uns anos para chegar até à criação da primeira versão de HTML. A ideia e concepção foram da autoria de Tim Berners-Lee, físico britânico, cien-tista na área da computação e professor do MIT, responsável pela criação da World Wide Web (simplesmente conhecida por

WWW) em 1989. Em 1990 a sua equipa conseguiu com sucesso a primeira comuni-cação “http” com um servidor via Internet. De referir que o primeiro servidor web foi criado num NeXTCUBE (criação de Ste-ve Jobs) e esteve pela primeira vez online no CERN em 1991. O HTML, nas suas primeiras versões, apresentava uma sintaxe flexível com o intuito de atrair um número crescente de utilizadores. A nossa actual experiência de navegação na Internet não seria a mesma coisa sem o aparecimento duma série de protocolos de comunicação (tais como o TCP, UDP e IP) e o aparecimento do HTML. Este foi o primeiro esforço para a criação dum formato inteligível pelos navegadores (bro-wsers), permitindo embutir na visualização texto, imagens e, posteriormente, conteú-dos mais ricos como os de multimédia. O HTML passou por várias versões, sem-pre com novas funcionalidades, e estendeu

artificialmente os seus limites recorrendo a plugins que permitem aos browsers a vi-sualização de conteúdos de formatos espe-cíficos e a execução de conteúdos lúdicos. A estratégia dos plugins fez parecer que o HTML não apresentava limites, mas tinha e tem as suas desvantagens. Os plugins obrigam à utilização de mais recursos e o HTML5 veio quebrar esse constrangimen-to. O HTML5 é, portanto, a quinta versão da linguagem HTML. As suas novas po-tencialidades vão alterar profundamente a sua aplicação com uma nova semântica e acessibilidade, permitindo a integração de novas funcionalidades e tecnologias até aqui inviáveis de serem suportadas pelas versões anteriores do HTML. A sua cres-cente vulgarização nos mais variados tipos de browsers permite uma visão e aplicação mais universal. O impacto do HTML5 é já bem notório: uma das tecnologias que começou a ser "ul-

HTML5 “killed” the Flash-Vídeo Star? O HtMl5 traz uma nova série de desafios e potencialidades ao velho HtMl. actualmente a discussão centra-se na análise de saber até que ponto o HTML5 irá ou não, gradualmente, substituir o modelo actual de download e instalação de aplicações nativas.

por: Justino Lourenço* fotos: Ingimage

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trapassada" foi o Flash. Contudo, existia a preocupação das aplicações que já estavam desenvolvidas nesta tecnologia. O Google resolveu o problema com o Swiffy, um novo serviço que permite uma reconversão sem a necessidade de escrever uma única linha de código. O Swiffy ainda não permite o suporte da totalidade dos conteúdos Flash, estando ainda limitado ao SWF 8 e ao Ac-tionScript 2.0. Os grupos de discussão e eventos têm-se igualmente multiplicado. No passado dia 7 de Julho realizou-se o primeiro evento organiza-do pela comunidade em Portugal – HTML5 PT. O evento permitiu a troca de experiências e teve o seu focus em dois temas: aplicações offline e novas APIs no HTML5.

E o que o HTML5 realmente tem de novo? Se procurarmos enumerar as principais particularidades que o HTML5 fornece,

chegamos a uma lista que nos ajuda a com-preender as suas "armas": potencialidade de esboços 2D e transformações 3D; leitu-ra de áudio e vídeo embebida; optimização da entrada de dados em formulários; offli-ne caching, armazenamento local e acesso client-side a uma BD SQL; user-defined data; e permite utilizar as API Geoloca-tion, Web Storage, Web Messaging, Web Sockets e Web Workers. Todas estas capacidades permitem ao HTML5 subir uns patamares em termos de capacidades. Vai competir e até mesmo substituir as soluções Flash/AIR como uma plataforma adequada para o desenvol-vimento de conteúdos ricos para a Internet, substituindo o modelo actual de suporte de serviços e entretenimento via instalação de aplicações. A título de exemplo, o website do New York Times utiliza HTML5 para incorporar conteúdos multimédia sem o apoio do habitual Flash. A estratégia foi

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um pouco forçada pelo browser Mobile Safari, que fez com que a direcção tenha sido no sentido do HTML5, para não pri-var os utilizadores do iPad, iPhone ou iPod Touch de conteúdos. O papel da Apple foi fundamental como catalisador da adopção do HTML5. Segundo o director da área tecnológica da Razorfish, Michael Scafi-di, o crescimento de quota de mercado dos dispositivos móveis da Apple, associado à estratégia do Mobile Safari, foi o impul-so necessário que o HTML5 necessitava. Apenas sectores específicos, como o da pu-blicidade, poderão resistir à migração para o HTML5. Contudo o Swiffy (já descrito neste artigo) poderá ajudar a ultrapassar essa barreira.

O universo das aplicações nativas Actualmente, o modelo existente no mer-cado contempla a criação duma aplicação nativa que, por sua vez, é distribuída numa App Store e, posteriormente, instalada na memória do dispositivo móvel. As aplica-ções nativas têm sido o modelo utilizado pa-ra adicionar novas funcionalidades e serviços nos dispositivos móveis. Vários dados apon-tam para que as vendas de aplicações móveis atingirão o seu pico em 2013, prevendo-se alguma desaceleração a partir dai. As aplicações nativas têm permitido uma melhor interacção e consequentemente uma melhor experiência e performance no dispositivo móvel, em parte porque a interacção dos utilizadores com os brow-sers nos telemóveis nem sempre têm tido a melhor experiência, em especial quando é necessária a introdução de dados. Como estas aplicações são customizadas para um determinado sistema operativo e correm em memória, são menos sujeitas à impre-visibilidade do resultado quando visualiza-dos em múltiplas soluções de navegação. Outra questão pertinente tem a ver com a rede. Apesar do esforço duma cobertura consistente das redes 3.5G (e do roaming em redes Wi-Fi), a verdade é que a perfor-mance destas continua a resultar em más experiências de browsing. Ao recorrer ao conteúdo residente em memória, a solução da aplicação nativa apresenta performances mais estáveis. Por último, os programadores têm manti-do uma estratégia de procurar desenvolver em plataformas específicas: Android ou iOS, que permitem que as suas aplicações

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sejam distribuídas por um número elevado de utilizadores. Mas esta estratégia também tem os seus inconvenientes. Uma aplicação nativa dis-tribuída numa App Store pode ficar perdi-da no meio de muitas outras, no meio de aplicações nativas sem qualquer utilidade e interesse por parte dos utilizadores. O fenómeno de multiplicação do número de aplicações disponíveis criou algum caos na maior parte das App Stores. Segundo o vi-ce-presidente Matt Shea, da WildTangent, a dificuldade das lojas de aplicações em ca-tegorizar e organizar as aplicações tem si-do uma barreira relevante na disseminação destas. É frequente um utilizador, perdido no meio duma oferta dispersa, não sentir qualquer tipo de impulso para descarregar a aplicação nativa adequada. Refere ainda que é essa a razão do aparecimento destas lojas especializadas, de jogos por exemplo. HTML5 é um Killer-Application? O HTML5 é um forte candidato para des-tronar a solução de aplicações nativas em múltiplos cenários. A este propósito a Ado-be já reagiu e apresentou a solução Edge. A empresa anunciou que o Edge é, e passo a citar "uma ferramenta de design que permite aos web designers a criação de animações de forma similar às em Flash, para websites que estejam suportados por HTML, JavaScript e CSS". A preocupação da Adobe foi clara-mente no sentido de não perder o mercado que detinha com a tecnologia Flash, depois da chegada do HTLM5. A preocupação pertinente é o desenvolvi-mento de um conteúdo que garanta uma visualização universal (incluindo nos mo-bile browsers). O HTML5, definitivamente, tem do seu lado o facto de permitir a visualização cor-recta independentemente do navegador utilizado. Assim, a questão já não pode ser posta na forma: o HTML5 tem um gran-

de suporte móvel. Passa, sim, a assumir-se como o melhor para a visualização de con-teúdos em dispositivos móveis. Ao abrir a porta para a concepção de websites que funcionam em tablets ou smartphones, o HTML5 permite fornecer conteúdos de forma eficiente à, cada vez maior e hete-rogénea, nuvem de dispositivos móveis que usamos no nosso dia-a-dia.

Até que ponto o HTML5 pode efectivamente destronar o crescimento de aplicações nativas? É uma questão que no curto-prazo será es-clarecida, mas é evidente que há uma ten-dência para a deslocalização de parte do processamento e armazenamento para uma nuvem. É a solução que no curto-prazo irá permitir minimizar o esforço do hardware local e levará ao aparecimento de disposi-tivos móveis com autonomias no funciona-mento impressionantes.

Conclusões O HTML5 é a solução que tem gerado mais consenso na comunidade, em parti-cular depois do empurrão de Steve Jobs, que milita activamente contra a tecnolo-gia Flash. Basta tomar em consideração o facto da Apple voltar a exceder as expecta-tivas, com o terceiro trimestre fiscal, con-cluído a 25 de Junho, voltando as vendas a surpreender com um aumento de 82% relativamente ao período homólogo, com o iPhone e iPad em destaque. Focando a análise nos números, entre Março e Junho, a Apple vendeu 20,3 milhões de iPhones e 9,3 milhões de iPads. O facto do iPhone usar o Safari e este ter suporte HTML5 é um forte ataque. A condicionar ainda mais a balança, temos o facto dos actuais smar-tphones terem suporte HTML5. É o fim definitivo das aplicações nativas e do conceito das App Stores? Não, apesar

estes são alguns exemplos de sites e repositórios onde podemos visualizar sites "desenhados" em HtMl5.

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das potencialidades do HTML5 que, por exemplo, permite invocar funções como a de geolocalização. Explicando de outra forma, uma aplicação nativa que realmente explore ao máximo o hardware do terminal móvel terá mais funcionalidades e potencialidades que uma desenvolvida em HTML5. E a rede móvel está do lado de quem? Ape-sar das constantes evoluções que desde o 1G nos aproximam agora do 4G, a verdade é que ainda existe uma heterogeneidade

de coberturas. Actualmente, uma viagem pelo país mostra que estaremos registados em GPRS, EDGE e em 3.5G. Este factor condiciona a opção de usar um browser em detrimento duma aplicação que usa os re-cursos de rede de forma descontínua. Por último, e como já foi referido, a experiência dos utilizadores nos browsers móveis nem sempre tem sido a melhor: velocidades de acesso flutuantes e dificuldade na interac-ção com o browser.

Mas algo é óbvio: se os dispositivos móveis suportam HTML5 este certamente come-çará a massificar-se. E, como procurei ex-plorar ao longo deste artigo, penso que continuará a haver espaço para aplicações móveis e para o recurso ao HTML5, tudo dependendo do tipo de experiência e das potencialidades que se pretendam fazer chegar ao utilizador final, tenha este um acesso móvel ou fixo. Mas que o "write on-ce, run anywhere" é tentador, lá isso é!

*Professor e investigador do Instituto Superior

Politécnico Gaya. Consultor na área das

Telecomunicações.

Contacto: [email protected]

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