Humanismo, Diáspora e...através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia...

HumanismoDiaacutespora eCiecircnCia seacuteCulos xvi e xvii

estudos |

cataacutelogo |

exposiccedilatildeo |

Versatildeo integral disponiacutevel em digitalisucpt



estudos | cataacutelogo | exposiccedilatildeo

universidade de aveiro

biblioteca puacuteblica municipal do porto

porto 2013


Coloacutequio internacional cataacutelogo bibliograacutefico e exposiccedilatildeo documental promovidos no acircmbito do projeto de IampD rdquoDioscoacuterides e o Humanismo Portuguecircs os Comentaacuterios de Amato Lusitanordquo do Centro de Liacutenguas e Culturas da Universidade de Aveiro financiado por Fundos FEDER atraveacutes do Programa Operacional Fatores de Competitividade ndash COMPETE e por Fundos Nacionaisatraveacutes da FCT ndash Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia e a Tecnologia (FCOMP-01-0124-FEDER-009102)

ORGANIZACcedilAtildeOCacircmara Municipal do Porto Biblioteca Puacuteblica Municipal e Universidade de Aveiro Centro de Liacutenguas e Culturas

COMISSARIADO CIENTIacuteFICOA A Marques de AlmeidaAntoacutenio AndradeCarlos Ascenso AndreacuteHenrique LeitatildeoJoatildeo TorratildeoJoseacute MeirinhosMaria do Ceacuteu FialhoMiguel Aacutengel Gonzaacutelez Manjarreacutes

COMISSAtildeO ORGANIZADORAAntoacutenio AndradeJoatildeo TorratildeoJorge CostaJuacutelio Costa

CATAacuteLOGO

EDICcedilAtildeOImpresa da Universidade de Coimbra Cacircmara Municipal do Porto Biblioteca

Puacuteblica Municipal e Universidade de

Aveiro Centro de Liacutenguas e Culturas

ApOIOSCaacutetedra de Estudos Sefarditas ldquoAlberto Benvenisterdquo Universidade de LisboaCentro de Estudos Claacutessicos e Humaniacutesticos Universidade de CoimbraInstituto de Filosofia da Universidade do Porto

ORGANIZACcedilAtildeO E COORDENACcedilAtildeOEDITORIALAntoacutenio Andrade Joatildeo TorratildeoJorge CostaJuacutelio Costa

SELECcedilAtildeO DE IMpRESSOSAntoacutenio AndradeJuacutelio Costa

CATALOGACcedilAtildeO E pROCESSAMENTObIbLIOGRAacuteFICOFaacutetima PintoGraccedila SucenaSiacutelvio Costa

DIGITALIZACcedilAtildeOConceiccedilatildeo MoreiraMarta RuaMaacuterio Borges

DESIGNPedro Velho

IMpRESSAtildeO E ACAbAMENTOGreca - Artes Graacuteficas Lda

ISbN978-972-634-121-5978-972-789-374-4

DEpoacuteSITO LEGAL35566013

TIRAGEM500 Exemplares

REGISTO bIbLIOGRAacuteFICO NO CATAacuteLOGOCOLETIvO DAS bIbLIOTECAS MuNICIpAIS DO pORTO URI httpbibliotecascm-portoptipac20 ipacjspampuri=full=3100024~469514~0

Versatildeo digitalizada desta publicaccedilatildeo em texto integral disponiacutevel em linha na Biblioteca Digital (Bibliotecas Municipais do Porto) ndash URL httparquivodigitalcm-portoptConteudosConteudos_BPMP0BAD 0027100BAD 002710htm

Tambeacutem disponiacutevel em linha nos siacutetios web ou repositoacuterios institucionais daUniversidade de Aveiro Centro de Liacutenguas e Culturas e das entidades patrocinadoras

copy CMP Biblioteca Puacuteblica Municipal do Porto e UA Centro de Liacutenguas e Culturas 2013

ESTuDOSAdelino Cardoso Amacircndio Jorge Morais Barros Ana Isabel Martiacuten Ferreira Antoacutenio Guimaratildees Pinto Antoacutenio Manuel Lopes Andrade Belmiro Fernandes Pereira Carlos Ascenso Andreacute Hugo Miguel Crespo James W Nelson Novoa Joatildeo Manuel Nunes TorratildeoJoseacute Francisco MeirinhosJuacutelio Manuel Rodrigues Costa Miguel Aacutengel Gonzaacutelez Manjarreacutes Paula Oliveira e Silva Telmo Corujo dos Reis Virgiacutenia Soares Pereira

EXpOSICcedilAtildeO

Conceccedilatildeo planeamento e coordenaccedilatildeo Jorge Costa

Selecccedilatildeo de impressosAntoacutenio AndradeJoatildeo TorratildeoJuacutelio Costa

Restauro e preparaccedilatildeo das espeacutecies bibliograacuteficasLucinda Oliveira

MontagemFrancisco Manuel SousaJorge CostaLucinda Oliveira

Local e dataBiblioteca Puacuteblica Municipal do Porto Sala de Exposiccedilotildees Temporaacuterias7 marccedilo a 30 abril de 2013

Humanismo Diaacutespora e CiecircnCia (seacuteCulos XVi e XVii) estuDos Cataacutelogo eXposiccedilatildeo

ApOIOS

ISbN Digital978-989-26-0945-4

DOI httpdxdoiorg1014195978-989-26-0945-4


NOTA DE ABERTURA Guilhermina Rego 7

APRESENTACcedilAtildeO Antoacutenio Andrade e Juacutelio Costa 9

ESTUDOS

O humanismo portuguecircs a sua identidade e as suas contradiccedilotildees | CARlOs AsCensO AndReacute 17

Aproximaccedilatildeo agrave Archipathologia de Filipe Montalto | AdelinO CARdOsO 41

Os negoacutecios e a aritmeacutetica Bento Fernandes e as redes cristatildes-novas do Porto no seacuteculo XVi| AMacircndiO JORGe MORAis BARROs 51

la epiacutestola De medicis philologis de G Franck von Franckenau (Wittemberg 1691)| AnA isABel MARtiacuten FeRReiRA 75

Poesia latina de dois jesuiacutetas diogo de sande e Francisco de Mendonccedila | AntoacuteniO GuiMARatildees PintO 91

Amato lusitano diogo Pires e Pedro santerna os caminhos entrecruzados de um meacutedico de um poeta e de um jurisconsulto portugueses | AntoacuteniO MAnuel lOPes AndRAde 117

no rasto do humanismo filoloacutegico europeu ediccedilotildees quinhentistas de retoacutericas claacutessicas na BPMP| BelMiRO FeRnAndes PeReiRA 139

Andreacute de Resende na inquisiccedilatildeo de eacutevora e a apologeacutetica anti-judaica ciecircncia teoloacutegica doutrina e castigo (1541) um autoacutegrafo ineacutedito (Novos documentos para as biografias de Andreacute de Resende e Jorge Coelho) | HuGO MiGuel CResPO 151

Medicine learning and self Representation in seventeenth Century italyRodrigo and Gabriel da Fonseca | JAMes W nelsOn nOVOA 213

d Jeroacutenimo Osoacuterio e o De gloria um best-seller europeu de Quinhentos | JOatildeO MAnuel nunes tORRatildeO 233

Arte Meacutedica breve olhar sobre alguns impressos quinhentistas e seiscentistas da BPMP| JuacuteliO MAnuel ROdRiGues COstA 251

el comentario de Francisco saacutenchez a la Fisiognomiacutea de Pseudo Aristoacuteteles| MiGuel AacutenGel GOnzAacutelez MAnJARReacutes 271

A doutrina suareziana das paixotildees da alma notas para o reconhecimento de uma escolaacutestica humanista| PAulA OliVeiRA e silVA 285

O acervo bibliograacutefico de Jeroacutenimo Cardoso na Biblioteca Puacuteblica Municipal do Porto| telMO CORuJO dOs Reis 297

Plantas de uso terapecircutico e alimentar em Amato lusitano e diogo Pires | ViRGiacuteniA sOARes PeReiRA 313

O Tesouro dos pobres de Pedro Hispano entre o seacuteculo Xiii e a ediccedilatildeo de scribonius em 1576| JOseacute FRAnCisCO MeiRinHOs 327

AUTORES 351

CATAacuteLOGO 365

sumaacuterio



7nota De abertura

nota De abertura

Agrave Cacircmara Municipal do Porto possuidora de um vasto diversificado e distinto patrimoacutenio cultural compete especiais responsabilidades na salvaguarda conhecimento e difusatildeo deste patrimoacutenio

Assim tem sido desde 1833 ano em que correspondendo ao desejo dos seus cidadatildeos D Pedro IV mandou criar a Real Biblioteca Puacuteblica da Cidade do Porto determinando em decreto que laquoEsta Bi-bliotheca fundada aacute custa da Fazenda Puacuteblica pertenceraacute de propriedade aacute Cidade do Porto debaixo da Administraccedilatildeo da Camara Municipal drsquoella a cujo cargo ficaraacute depois como a Commissatildeo que hoje a representa propoz prover aacute custa dos seus rendimentos aacute conservaccedilatildeo e costeamento da dita Biblio-theca assim pelo que toca aacutes despezas ordinaacuterias como aacute acquisiccedilatildeo das Obras Brochuras ou Folhas Perioacutedicas mais interessantes em todos os geacuteneros que se publicarem em Paizes Estrangeirosraquo

A esse feliz gesto real deveu a Cidade do Porto poder passar a contar entre as suas mais nobres insti-tuiccedilotildees com a Biblioteca Puacuteblica Municipal do Porto digna representante do legado cultural de que a Cacircmara eacute beneficiaacuteria

Tendo por propoacutesito dar sequecircncia a essa responsabilidade a Cacircmara por intermeacutedio da Biblioteca Puacuteblica Municipal do Porto em conjunto com a Universidade de Aveiro promove no acircmbito da ini-ciativa ldquoHumanismo Diaacutespora e Ciecircnciardquo a realizaccedilatildeo de um coloacutequio internacional de uma exposiccedilatildeo bibliograacutefica e de um livro impresso ndash a disponibilizar tambeacutem em versatildeo digital na Internet ndash com as comunicaccedilotildees do coloacutequio e um cataacutelogo com cerca de duas centenas de obras quinhentistas e seis-centistas em que mais uma vez fica bem patente a importacircncia do patrimoacutenio da Biblioteca Puacuteblica Municipal do Porto

Aos 180 anos de vida a Biblioteca do Porto continua assim a cumprir o papel para o qual foi criada protegendo o patrimoacutenio que lhe tem sido entregue e transmitindo-o agraves novas geraccedilotildees

Eacute desta forma apoiando actividades deste geacutenero de grande valia e distinccedilatildeo promotoras de haacutebitos e do consumo culturais que melhor se corporiza a poliacutetica cultural do municiacutepio portuense apostar na cultura para melhorar a qualidade de vida das pessoas e a coesatildeo social e assim assegurar o futuro e a identidade da Cidade

A Vereadora do Pelouro do Conhecimento e Coesatildeo SocialGuilhermina Rego


8 humanismo diaacutespora e ciecircncia


9apresentaccedilatildeo

apresentaccedilatildeo

Este volume resulta de uma iniciativa conjunta da Biblioteca Puacuteblica Municipal do Porto (BPMP) e do Centro de Liacutenguas e Culturas da Universidade de Aveiro (CLC-UA) tendo como enquadramento o projeto de IampD laquoDioscoacuterides e o Humanismo Portuguecircs os Comentaacuterios de Amato Lusitanoraquo financiado pela Fundaccedilatildeo para a Ciecircncia e a Tecnologia [httpamatolusitanowebuapt]

Os trabalhos em curso neste projeto de investigaccedilatildeo constituiacuteram-se como o ponto de partida de uma reflexatildeo alargada e fecunda sobre trecircs temas ndash Humanismo Diaacutespora e Ciecircncia ndash que consideramos nucleares tanto para a leitura da obra do proacuteprio Amato Lusitano o meacutedico albicastrense que passou a maior parte da existecircncia no desterro como no fundo para a compreensatildeo do percurso e da obra de tantos outros vultos insignes de Portugal e da Europa sobretudo nos seacuteculos XVI e XVII

O objetivo principal do projeto eacute a ediccedilatildeo e traduccedilatildeo para portuguecircs dos dois livros que Amato Lusi-tano dedicou ao comentaacuterio do tratado grego De materia medica de Dioscoacuterides ou seja o Index Dios-coridis (Antueacuterpia 1536) e as In Dioscoridis Anazarbei de medica materia libros quinqueenarrationes (Veneza 1553) estando prevista tambeacutem a traduccedilatildeo de mais duas obras diretamente correlacionadas com os livros do meacutedico portuguecircs a montante a do proacuteprio tratado grego de Dioscoacuterides a jusante a do livro intitulado Apologia aduersus Amathum Lusitanum (Veneza 1558) do humanista Pietro An-drea Mattioli

Os comentaacuterios de Amato Lusitano a Dioscoacuterides inserem-se no movimento humanista de regresso agrave pureza dos textos matriciais da Antiguidade Claacutessica de que o tratado original eacute um exemplo para-digmaacutetico Satildeo textos de caraacuteter muito diversificado que natildeo se cingem apenas ao acircmbito estritamente filoloacutegico porquanto constituem no seu todo uma manifestaccedilatildeo significativa da contribuiccedilatildeo decisiva dada pelo Humanismo Portuguecircs para a revoluccedilatildeo cultural e cientiacutefica que nos seacuteculos XV e XVI aba-lou as estruturas da sociedade europeia e rasgou as fronteiras do mundo conhecido abrindo as portas agrave modernidade

Nos primeiros anos da deacutecada de trinta do seacuteculo XVI a questatildeo judaica ganhava cada vez mais cen-tralidade no plano poliacutetico religioso e econoacutemico O confronto tenaz de posiccedilotildees antagoacutenicas que se revelaram totalmente inconciliaacuteveis gerou um conjunto de ondas de choque fortiacutessimas que varreu de leacutes a leacutes a sociedade portuguesa e pocircs a nu uma fratura profunda que durante seacuteculos haveria de dividir o paiacutes As circunstacircncias muito especiacuteficas vividas no Portugal de Quinhentos e de Seiscentos



nomeadamente o estabelecimento do Tribunal do Santo Ofiacutecio cuja accedilatildeo continuada e determinante se estendeu por quase trecircs centenas de anos condicionaram e moldaram de uma forma singular a inovaccedilatildeo e a criaccedilatildeo cultural e cientiacutefica desenvolvida no paiacutes e fora dele lanccedilando natildeo raras vezes al-gumas das suas principais figuras em aacutereas do saber diversas nos caminhos da Diaacutespora em resultado do seu pensamento da sua feacute ou tatildeo-soacute da sua ascendecircncia cristatilde-nova

Amato Lusitano eacute um dos primeiros a abandonar o Reino rumo ao empoacuterio de Antueacuterpia pouco an-tes do estabelecimento da Inquisiccedilatildeo em Portugal Muitos outros cristatildeos-novos se lhe seguiram e natildeo poucos se distinguiram na Diaacutespora pela excelecircncia da sua obra em muacuteltiplas aacutereas do conhecimento Entre todas a Arte de Galeno eacute sem duacutevida a mais bem representada num tempo em que a figura do meacutedico-filoacutelogo-humanista adquiriu uma notoriedade assinalaacutevel como bem patenteiam os nomes de Amato Lusitano Diogo Pires Filipe Montalto Francisco Sanches Rodrigo e Gabriel da Fonseca apenas para citar alguns dos autores estudados neste volume

Por conseguinte Humanismo Diaacutespora e Ciecircncia como bem se percebe entrecruzam-se de forma inextricaacutevel no percurso e na obra de vaacuterios autores ndash Amato Lusitano eacute apenas um de muitos exemplos ndash nos alvores da modernidade

Atendendo a estes pressupostos desafiaacutemos um conjunto de investigadores portugueses e estrangeiros a refletir sobre os temas nucleares desta realizaccedilatildeo de tal forma que fosse possiacutevel articular harmonio-samente a investigaccedilatildeo produzida com as obras que integram o riquiacutessimo acervo agrave guarda da BPMP O resultado alcanccedilado foi o volume que ora vem a puacuteblico reunindo natildeo soacute um notaacutevel e inovador conjunto de estudos mas tambeacutem um cataacutelogo bibliograacutefico selecionado a partir dos trecircs temas cen-trais que deram o mote a esta iniciativa Assim trazem-se a lume noviacutessimos dados e perspetivas sobre diversos autores como Amato Lusitano Andreacute de Resende Aquiles Estaccedilo Bento Fernandes Diogo Pires Duarte de Sande Filipe Montalto Francisco Sanches Francisco Suaacuterez Gabriel da Fonseca Georg Franck von Franckenau Jeroacutenimo Cardoso Jeroacutenimo Osoacuterio Pedro Hispano Pedro Nunes Pedro Santerna Rodrigo da Fonseca entre outros Em simultacircneo promove-se o conhecimento dos proacuteprios livros sobre os quais incidem os estudos apresentados dando a conhecer a um puacuteblico alarga-do um cataacutelogo selecionado de obras da BPMP sobre a temaacutetica em apreccedilo

Um dos meacuteritos desta iniciativa consistiu precisamente na elaboraccedilatildeo de um cataacutelogo bibliograacutefico balizado temaacutetica e cronologicamente e que natildeo sendo exaustivo (nem poderia ser nas circunstacircncias)


11

deixa um importante contributo para a divulgaccedilatildeo nacional e internacional de um relevante nuacutecleo de impressos quinhentistas e seiscentistas agrave guarda da Biblioteca Portuense

Este cataacutelogo descreve uma seleccedilatildeo de 219 espeacutecies bibliograacuteficas de formato variado (do in-12ordm ao in-foacutelio) escritas em latim e em vernaacuteculo impressas em prelos portugueses e estrangeiros (maiorita-riamente) e publicadas no decurso dos seacuteculos XVI e XVII Natildeo obstante o recurso a obras e a bases bibliograacuteficas de referecircncia nacionais e internacionais as espeacutecies documentais foram compulsadas in manu recorrendo ao exame direto do exemplar Em muitos casos foi possiacutevel analisar cadernos e cons-tatar erros tipograacuteficos de paginaccedilatildeo registar assinaturas e mencionar anotaccedilotildees e marcas que perdura-ram nos livros A descriccedilatildeo bibliograacutefica foi realizada de acordo com o disposto na ediccedilatildeo consolidada da ISBD ndash Descriccedilatildeo Bibliograacutefica Internacional Normalizada e sempre que se revelou pertinente seguiram-se as DCRM ndash Descriptive Cataloging of Rare Materials (Books) a estrutura informatizada dos registos bibliograacuteficos processados no sistema integrado de gestatildeo de bibliotecas HORIZON obedeceu ao formato UNIMARC As obras descritas no cataacutelogo bibliograacutefico impresso foram orde-nadas alfabeticamente pela entrada principal de autor-pessoa fiacutesica ou coletividade-autor

Foi tambeacutem possiacutevel enriquecer o presente livro com algumas dezenas de imagens com realce para os frontispiacutecios das obras catalogadas selecionadas em funccedilatildeo das temaacuteticas ndash Humanismo Diaacutespora Ciecircncia (seacuteculos XVI e XVII) ndash que deram o mote a esta iniciativa dos estudos dos autores que cola-boram neste volume e evidentemente da relevacircncia documental e iconograacutefica de muitas das espeacutecies escolhidas Na maioria dos casos a legenda numeacuterica destas imagens remete para o correspondente nuacutemero de ordem do registo e respectiva descriccedilatildeo bibliograacutefica no cataacutelogo

Tendo em consideraccedilatildeo a dimensatildeo quantitativa da amostra das espeacutecies arroladas os condicionalismos inerentes agrave extensatildeo do volume e sobretudo o facto de cada um dos registos ter sido processado bi-bliograficamente em formato eletroacutenico optou-se deliberadamente por natildeo coligir iacutendices especiacuteficos (autores tiacutetulos locais de impressatildeo editores antigos possuidores etc) no cataacutelogo impresso ateacute por-que estes e outros relevantes pontos de acesso agrave informaccedilatildeo satildeo facilmente pesquisaacuteveis no cataacutelogo puacuteblico de acesso em linha das Bibliotecas Municipais do Porto [httpbibliotecascm-portopt] que complementarmente disponibiliza uma versatildeo digitalizada e em texto integral desta ediccedilatildeo O cataacutelo-go em suporte eletroacutenico possibilitaraacute tambeacutem a atualizaccedilatildeo e enriquecimento ulteriores dos registos bibliograacuteficos atraveacutes de eventuais notas complementares aos exemplares adiccedilatildeo das correspondentes




imagens das paacuteginas de rosto e menccedilatildeo a versotildees digitalizadas destas obras existentes em bibliotecas e repositoacuterios de referecircncia nacionais e internacionais

Natildeo cabe no acircmbito desta Apresentaccedilatildeo aprofundar a importacircncia das coleccedilotildees de livro antigo da BPMP e concretamente do nuacutecleo bibliograacutefico ora selecionado enquanto fontes privilegiadas para a histoacuteria da ciecircncia do livro e da leitura arte meacutedica diaacutespora e circulaccedilatildeo do conhecimento ou para os estudos sobre humanismo e cultura Tal eacute evidenciado com mestria nos estudos e ensaios aqui publicados da autoria de reputados investigadores e especialistas (cujas breves notas curriculares se apresentam no final da rubrica lsquoEstudosrsquo) e nas vaacuterias abordagens multidisciplinares que o Coloacutequio Internacional a realizar no acircmbito deste projeto certamente patentearaacute Os textos ineacuteditos incluiacutedos nesta ediccedilatildeo constituem uma das mais-valias deste projeto e estamos convictos enriqueceratildeo a biblio-grafia alusiva agraves temaacuteticas aqui abordadas

Chamariacuteamos apenas a atenccedilatildeo para a existecircncia neste nuacutecleo bibliograacutefico de cimeacutelios relevantes e mesmo de exemplares uacutenicos conhecidos Sem qualquer pretensatildeo de esgotar o assunto recorde-se a propoacutesito que no corrente ano de 2013 ocorre uma relevante efemeacuteride dual ligada agrave histoacuteria do livro e da ciecircncia ie decorrem precisamente 470 anos sobre a primeva ediccedilatildeo de duas obras emblemaacuteti-cas associadas agrave denominada lsquoRevoluccedilatildeo Cientiacuteficarsquo De revolutionibus orbium coelestium de Nicolau Copeacuternico (Nuremberga 1543) e De humani corporis fabrica de Andreas Vesalius (Basileia 1543) ambas existentes na BPMP na editio princeps circunstacircncia singular em bibliotecas portuguesas e ra-riacutessima mesmo em termos mundiais Registe-se ainda o uacutenico exemplar conhecido do tiacutetulo Apologus de morte et pastore cum aliis elegiacis (Lisboa 1558) do humanista portuguecircs Jeroacutenimo Cardoso ou a iconograficamente deslumbrante Historia Naturalis Brasiliae (Amesterdatildeo 1648) entre outros exem-plos de preciosidades bibliograacuteficas que poderiacuteamos aqui destacar

A generalidade destes impressos quinhentistas e seiscentistas da BPMP permanece desconhecida do grande puacuteblico pelo que se impunha o seu aprofundado tratamento biblioteconoacutemico e sobretudo diversas e amplas formas de divulgaccedilatildeo cataacutelogo exposiccedilatildeo e coloacutequio internacional A disponibili-zaccedilatildeo ndash em suporte graacutefico e eletroacutenico ndash deste instrumento de pesquisa investigaccedilatildeo e referecircncia am-biciona assim corresponder a expectativas e necessidades de utilizadores especializados (acadeacutemicos investigadores etc) e do puacuteblico em geral Neste acircmbito registe-se ainda que o presente cataacutelogo impresso serve simultaneamente como cataacutelogo da exposiccedilatildeo homoacutenima que estaraacute patente ao puacuteblico entre 7 de marccedilo a 30 de abril de 2013 nas instalaccedilotildees da BPMP


89

W Copp o J Caius faltan A Vesalio y l lorenzano por ejemplo tambieacuten los espantildeoles Pedro Jai-me esteve y Cristoacutebal de Vega por otra parte se incluyen textos medievales posiblemente porque se tiene en cuenta la difusioacuten contemporaacutenea de los textos (pe Mateo silvaacutetico y las Pandectae) sin entrar en la criacutetica de los contenidos la idea del meacutedico filoacutelogo se hace coincidir en muchos casos con la del lexicoacutegrafo poliacutegrafo ldquopolihistoacutericordquo coleccionista de antiguumledades a veces fatuo capaz de llenar voluacutemenes con las notas eruditas acumuladas a lo largo de las dos uacuteltimas centurias dicho esto a grandes rasgos pues este espacio no nos permite un anaacutelisis maacutes profundo de la cuestioacuten

estaacute clara la importancia dada al origen italiano del movimiento tambieacuten observamos que muchas nacionalidades se confunden y que los autores germanos se llevan la palma en nuacutemero de citas (muchos son contemporaacuteneos del autor)36 Otra de las criacuteticas que cabe hacerle a esta his-toriografiacutea sesgada del humanismo meacutedico es que pudo depender en buena medida de los fondos bibliograacuteficos disponibles en el entorno de Franckenau Aunque como contrapartida este ejercicio literario nos muestra queacute textos fueron capaces de romper sus fronteras poliacuteticas y religiosas en un momento determinado de la convulsa historia de europa

no obstante esta iatrophilologia entendida como πολυμαθεία tuvo la virtud de ampliar reu-nir y consolidar los tesoros de etapas precedentes maacutes creativas y originales desde el punto de vista estrictamente filoloacutegico de velar por el legado de la lengua griega ndashtodo ello en el entorno cientiacutefico- y sobre todo tuvo la virtud de preparar los espiacuteritus para el periodo maacutes glorioso de la Altertumwissenschaft sin imaginar ni de lejos la separacioacuten que un diacutea conoceriacutean las ciencias y las letras

36 En el mismo antildeo 1691 Daniel Wilhelm Moller publica en Wittenberg su Indiculus medicorum philologorum ex Germania oriundorum dedicado precisamente a Franckenau

ana isabel martiacuten Ferreira | LA EPIacuteSTOLA DE MEDICIS PHILOLOGIS DE G FRANCK VON FRANCKENAU (WITTEMBERG 1691)



bibliograFia

BAAdeR G ldquoMedizinische theorie und Praxis zwischen Arabismus und Renaissance Humanismusrdquo en Keil G-MOelleR B-tRu-sen W (eds) Der Humanismus und die oberen Fakultaumlten Weinheim Acta Humaniora-VCH 1987 p 185-213

BAueR AW ldquoGeorg Franck von Franckenau Repraumlsentant einer empirischen Heilkunde im zeitalter des Barockrdquo en dOeRR W et alii (eds) Semper Apertus Sechshundert Jahre Ruprecht-Karls-Universitaumlt Heidelberg 1386-1986 Band 1 Mittelalter und fruumlhe neuzeit (1386-1803) Berlin 1985 p 440-462

BlAnCO PeacuteRez Ji Humanistas meacutedicos en el Renacimiento vallisoletano Burgos universidad 1999

COnde PARRAdO P Hipoacutecrates Latino El ldquoDe medicinardquo de Cornelio Celso en el Renacimiento Valladolid universidad 2003

diePGen P Historia de la medicina trad espantildeola Barcelona labor 1932

FOsseYeuX M ldquolrsquoHumanisme meacutedical au XViegraveme siegraveclerdquo Bulletin de la Societeacute Franccedilaise drsquoHistoire de la Meacutedeacutecine 28 (1934) p 75-95

GOnzAacutelez MAnJARReacutes MA Andreacutes Laguna y el Humanismo meacutedico Valladolid Junta de Castilla y leoacuten 2000

GRAnJel ls La medicina espantildeola renacentista Vol II Historia general de la medicina espantildeola salamanca 1980

JAuMAnn H ldquoIatrophilologia Medicus philologus und analoge Konzepte in der fruumlhen neuzeitrdquo en Philologie und Erkenntnis Beitraumlge zu Begriff und Problem fruumlhneuzeitlicher Philologie R HAFneR ed tubingen niemeyer 2001 p 151-176

KellY WA A catalogue of seventeenth century medical and scientific imprints in Edinburgh libraries edimburgo scottish Centre for the Book napier university 2008

KiVistOuml s ldquoGF von Franckenaursquos Satyra sexta (1674) on Male Menstruation and Female testiclesrdquo en A KORHOnen - K lOWe (eds) The Trouble with Ribs Women Men and Gender in Early Modern Europe Studies across Disciplines in the Humanities and Social Stories 2 Helsinki 2007 p 82-102

KiVistOuml s Medical Analogy in Latin Satire uK Palgrave Macmillan 2009

MARtiacuten FeRReiRA Ai El Humanismo meacutedico en la Universidad de Alcalaacute (siglo XVI) Valladolid universidad 1995

MOnteRO e ldquoel meacutedico filoacutelogo en el siglo XVirdquo en GARCiacuteA HOuRCAde Jl- MORenO Yuste JM (coords) Andreacutes Laguna Humanismo ciencia y poliacutetica en la Europa Renacentista Valladolid Junta de Castilla y leoacuten 2001 p 93-121

PeacuteRez iBAacuteNtildeez MordfJ El Humanismo meacutedico del siglo XVI en la Universidad de Salamanca Valladolid universidad 1997

sAntAMARiacuteA HeRnAacutendez Mordft El Humanismo meacutedico en la Universidad de Valencia (siglo XVI) Valencia Consell Valenciagrave de Cultura 2003

sCHMitz R-Keil G (eds) Humanismus und Medizin Weinheim 1984

WeAR A-FRenCH R-lOnie iM (eds) The medical Renaissance of the XVI Century Cambridge 1985


91

pOESIA LATINA DE DOIS JESuIacuteTAS DIOGO DE SANDE E FRANCISCO DE MENDONCcedilA

ANToacuteNIO GuIMARAtildeES pINTO Universidade Federal do Amazonas

RESuMONeste artigo o Autor contextualiza e apresenta os originais e as traduccedilotildees de dez composiccedilotildees poeacuteticas latinas de dois escritores portugueses quase coetacircneos e aos quais aproxima tambeacutem o mesmo haacutebito religioso e parecida destreza no domiacutenio do idioma do Laacutecio As injunccedilotildees da missionaccedilatildeo ou a disciplina da Ordem inaciana obriga-ram ambos a viverem e morrerem longe da paacutetria Aleacutem do valor intriacutenseco destas composiccedilotildees literaacuterias ateacute hoje praticamente desconhecidas e transpostas para vernaacuteculo por outro exemplo da diaacutespora salienta-se o pendor tecnicista exemplificado numa destas composiccedilotildees com o que se acata e respeita o triacuteplice lema sob o qual se or-ganizou este encontro que decorre na Casa insigne onde se guardam dois raros cimeacutelios bibliograacuteficos associados aos nomes dos dois jesuiacutetas quinhentistas

Palavras-chaveHumanismo poesia neo-latina jesuiacutetas preacute-barroco

AbSTRACTThis article aims to present the transcription and translation into Portuguese of ten latin poems whose authors were almost contemporary and connected by a similar dexterity in the use of Latin Also they were both Jesuits In obedience to superior commands or injunctions of missionary needs both lived and died far from his native coun-try (Portugal) Besides the intrinsic value of this litterary compositions until now nearly unknown and translated by an other victim of ldquoPortuguese diasporardquo claims our interest the lsquotechnicistrsquo flavour we can taste on a poem by Father Mendonccedila thereby this article obeys to the threefold motto under which the present event was summoned celebrating also a Library among whose treasuries is possible to find two rare books by the Authors now selected and translated

KEywORDSHumanism XVIth Century Latin Poetry Jesuits pre-Baroque



emparceirei neste trabalho dois autores que eacute possiacutevel aproximar por um lado pela identi-dade da profissatildeo religiosa como membros da Companhia de Jesus e pela idade ndash pois embora pertencentes a diferentes geraccedilotildees ainda foram coetacircneos1 ndash e por outro devido a uma notaacutevel dexteridade e elegacircncia no manejo da liacutengua poeacutetica latina Procurando ser fiel agrave epiacutegrafe sob a qual se organizou e convocou este coloacutequio e simultaneamente homenagear a nobre entidade que o patrocina escolhi escritores e composiccedilotildees em que avultam algumas das tendecircncias e pendores mais especiacuteficos do Humanismo portuguecircs e que de uma forma ou de outra (como mais adiante se veraacute) se encontram ligados agrave BPMP eacute tambeacutem certo que o vocaacutebulo diaacutespora vem muito de molde para caracterizar o percurso vital das trecircs entidades humanas sobre as quais assenta esta comunica-ccedilatildeo o autor da mesma portuguecircs do Minho obrigado a emigrar para a Amazoacutenia para ganhar o seu sustento o tambeacutem minhoto Pe duarte de sande cujos uacuteltimos deceacutenios de vida transcorreram no Oriente entregue agrave propagaccedilatildeo da feacute cristatilde e o aristocrata lisbonense Pe Francisco de Mendonccedila que depois de uma existecircncia passada em diferentes cidades da paacutetria foi procurador em Roma da sua proviacutencia religiosa acabando por morrer em solo estrangeiro Finalmente numa das composi-ccedilotildees deste mesmo Pe Mendonccedila vislumbra-se de par com algumas caracteriacutesticas da emergente esteacutetica e forma mentis barroca um gosto ou interesse lsquotecnicistarsquo com o que se torna triacuteplice e pleno o foro com que me apresento neste encontro em que se iraacute falar sobre humanismo ciecircncia e diaacutespora

1

O jesuiacuteta duarte de sande tem o seu nome sobretudo associado a um livro interessantiacutessimo para o conhecimento da mentalidade tanto europeia como japonesa dos finais do seacuteculo XVi o DE MISSIONE LEGATORVM IAPONENSIVM AD ROMANAM CVRIAM Rebusque in Europa ac toto itinere animaduersis DIALOGVS EX EPHEMERIDE IPSORVM LEGATORVM COLLECTVS ET IN SERMONEM LATINVM VERSVS Ab Eduardo de Sande sacerdote Societatis IESV ou seja na traduccedilatildeo do meu Mestre e Amigo o Prof Ameacuterico da Costa Ramalho que fez e publicou em 1997 a 1ordf versatildeo integral da obra para idioma moderno ldquodiaacutelogo sobre a missatildeo dos embaixadores japoneses agrave Cuacuteria romana e as coisas que eles observaram na europa coligido do diaacuterio

1 Nestacomunicaccedilatildeonatildeomedebruccedilosobreasbiografiasdosautoresqueosinteressadospoderatildeoconhecerconsultandoasobrasdosinves-tigadores jesuiacutetas que ex professo se ocuparam delas Lembro apenas que Duarte de Sande natural de Guimaratildees (ou mais precisamente ao que suponho de alguma das quatro freguesias de nome Sande que se incluem neste concelho minhoto) professou na Companhia de Jesus em 1562 ensinou retoacuterica no Coleacutegio das Artes em Coimbra e embarcou para o Oriente em 1578 tendo sido reitor dos Coleacutegios da Compa-nhia de Baccedilaim e Macau cidade onde morreu em 1600 Quanto ao Pe Francisco de Mendonccedila (que nos textos mais antigos aparece grafado Mendoccediladeacordoaliaacutescomaliacutedimaorigemdonobiliacutessimosobrenome)foifilhodeDAacutelvarodaCostaarmeiro-mordeDSebastiatildeoenetodo2ordmgovernador-geraldoBrasilDDuartedaCostaedesuaesposaDMariadeMendoccedila(dequemtomouosobrenomequandoabraccedilouavida religiosa) e nasceu em Lisboa em 1573 ingressando na Companhia de Jesus em Coimbra no ano de 1587 contra a vontade da famiacutelia Doutorou-se em Teologia em Eacutevora em 1609 e foi reitor dos Coleacutegios desta cidade e de Coimbra Em 1625 foi eleito procurador geral da Proviacutencia portuguesa em Roma adoeceu na viagem de regresso agrave paacutetria vindo a falecer no dia 3 de Junho de 1626 no Coleacutegio da Companhia em Lyon na Franccedila


93antOacutenio guimaratildees pinto | POESIA LATINA DE DOIS JESUIacuteTAS DIOGO DE SANDE E FRANCISCO DE MENDONCcedilA

dos proacuteprios embaixadores e vertido para latim por duarte de sande sacerdote da Companhia de Jesusrdquo2 livro de dilatado e informativo tiacutetulo ao gosto do tempo que teve a sua primeira ediccedilatildeo em Macau no ano de 1590 constituindo a terceira produccedilatildeo3 saiacuteda dos prelos que a mesma missatildeo japonesa trouxe de Portugal e que por muitos anos imprimiria milhares de exemplares de obras em liacutengua nipoacutenica com fins sobretudo apologeacuteticos ainda que natildeo de forma exclusiva sobre o elegante e vivo latim deste livro natildeo subsistem duacutevidas que ele pertence ao sacerdote vimaranense existindo poreacutem alguma diversidade de opiniotildees acerca do grau de originalidade que lhe cabe no traccedilado geral e pecuacutelio extra-narrativo do De Missione diaacutelogo que como se sabe e o proacuteprio tiacutetulo em parte indica tem como base diaacuterios de viagem apontamentos e relaccedilotildees impressas proporcio-nadas ao compilador pelos viajantes nipoacutenicos e seus acompanhantes A este respeito surgiu algu-ma poleacutemica entre os que por um lado como o Professor Ramalho defendem ardorosamente a exclusividade da autoria literaacuteria do Pe sande4 e por outro o numericamente mais nutrido partido que podemos apelidar de ldquoproacute-italianordquo dos que tecircm como mais novel e bem apetrechado porta--voz o britacircnico J F Moran e cuja opiniatildeo se pode cifrar nas seguintes palavras

ldquoA full reconsideration of the question shows conclusively that de sande is not and does not claim to be the true author and that the work was originally composed in spanish by Valignanordquo5

natildeo eacute agora meu propoacutesito ocupar-me desta questatildeo que eacute de somenos importacircncia para o ponto de vista sob o qual me ocupo aqui do Pe sande ou seja como autor literaacuterio novilatino desejava apenas lembrar e ateacute para justificar a escolha de um dos dois autores que elegi para a minha comunicaccedilatildeo que a BPMP possui6 um dos trecircs exemplares hoje existentes em solo portuguecircs deste rariacutessimo espeacutecime da tipografia quinhentista

2 A1ordfediccedilatildeodestatraduccedilatildeosaiuemMacaunoanode1997DelaaImprensadaUniversidadedeCoimbraeoCentroCientiacuteficoeCulturaldeMacaufizeramem2009uma2ordfediccedilatildeorepartidapordoistomoscomestabelecimentodotextolatinodoProfessorSebastiatildeoTavaresdePinho

3 A primeira obra composta por esta impressora pelo menos em terras do Oriente foi a Oratio habita a Fara D Martino Iaponio suo et sociorum nomine cum ab Europa redirent ad Patrem Alexandrum Valignanum Visitatorem Societatis IESV Goae in D Pauli Collegio pridie Non Iunii Anno Domini 1587 CVM FACVLTATE Inquisitorum et superiorum Goae Excudebat Constantinus Douratum Iaponium a aedibus Societatis IESV 1588 (ldquoDiscurso pronunciado por D Martinho Hara japonecircs em seu nome e dos seus companheiro quando regressaram da Europa dirigido ao Pe Alexandre Valignano Visitador da Companhia de Jesus em Goa no Coleacutegio de S Paulo a 4 de Junho de 1587 Com autorizaccedilatildeo dos in-quisidores e dos superiores Em Goa Impresso por Constantino Dourado japonecircs nas casas da Companhia de Jesus 1588rdquo) Deste rariacutessimo opuacutesculodenovefolhasfizemosatranscriccedilatildeoetraduccedilatildeoparaportuguecircsquejuntamentecomoutraspeccedilasdamesmatemaacuteticaintegramum voluminho intitulado Adenda ao livro De Missione legatorum Iaponensium as orationes de Gaspar Gonccedilalves e de Martinho Hara ineacutedito haacute mais de dois anos como prova do desinteresse que os conventiacuteculos que em Portugal se consagram aos estudos sino-nipoacutenicos parecem votar ao idioma latino

4 Veja-se sobretudo o artigo ldquoO Padre Duarte de Sande S I verdadeiro autor do De Missione Legatorum Iaponensium ad Romanam Curiam () Dialogusrdquo apud Para a Histoacuteria do Humanismo em Portugal (III) Lisboa INCM 1998 pp 209-220

5 J F Moran ldquoThe Real Author of the De Missione Legatorum Iaponensium ad Romanam CuriamDialogusrdquo Bulletin of PortugueseJapanese Studies Lisboa volume 2 June 2001 pp 7-21

6 Com a cota Yacute-1-79


94 HUMANISMO DIAacuteSPORA E CIEcircNCIA

Ora ainda que parcas e subordinadas a dife-rentes desiacutegnios esteacuteticos e sub-geacuteneros literaacuterios chegaram ateacute hoje para aleacutem do De Missione mais algumas mostras da escrita de duarte de sande na verdade dele nos restam vinte e tal cartas das quais duas relativamente longas dada a sua cate-goria de cartas acircnuas se encontram hoje impressas e com as quais ndash no caso destas uacuteltimas ndash infor-mava prima facie os confrades mas de facto talvez visando como amiuacutede sucedia alcanccedilar por via da imprensa o orbe catoacutelico em geral muito inte-ressado nesta variedade quinhentista de literatura exoacutetica das dificuldades e sucessos da atividade missionaacuteria jesuiacutetica em terras do extremo Orien-te ou no caso das missivas ateacute hoje manuscritas e guardadas nos arquivos da Companhia e outros dava conta miuacuteda aos seus dirigentes em Roma de situaccedilotildees concretas e de casos por vezes me-lindrosos para os quais se requeriam medidas ri-gorosas devidamente sancionadas pela autoridade do prepoacutesito-geral7 Previsivelmente este tipo de produccedilatildeo escrita natildeo tem intenccedilatildeo esteacutetica e visa sobretudo um escopo praacutetico e informativo pelo

que da sua leitura natildeo podemos coligir grande coisa acerca dos dotes literaacuterios de quem a pratica embora vez ou outra algum torneio de frase mais elegante ou uma metaacutefora imprevista nos faccedilam entrever o antigo mestre de retoacuterica sensiacutevel agraves musas e cativo da variegada beleza que a Criaccedilatildeo constantemente potildee diante dos seus olhos

Jaacute o mesmo natildeo sucede como aliaacutes seria de esperar com os testemunhos do seu engenho li-teraacuterio que ficaram manuscritos ateacute hoje nos repositoacuterios em que a Companhia de Jesus transcrevia as mais seletas produccedilotildees do estro poeacutetico focirclego oratoacuterio ou inspiraccedilatildeo dramaacutetica dos alunos e

7 Joatildeo Paulo Oliveira e Costa e Ana Fernandes Pinto editaram as Cartas Acircnuas do Coleacutegio de Macau (1594-1627) Macau CTMCDP e Fundaccedilatildeo Macau 1999 ndash Nesta coletacircnea encontramos duas cartas acircnuas de Duarte de Sande a correspondente ao ano de 1594 que ocupa as pp 55--67 e a que regista a atividade do Coleacutegio e seus membros no ano de 1595 nas pp 68-79

O CHAM apresentou na deacutecada de 90 do passado seacuteculo um projeto intitulado ldquoJesuiacutetas Portugueses no Extremo Oriente nos seacuteculos XVI-XVIIrdquo que tinha como principal desiacutegnio a transcriccedilatildeo e ediccedilatildeo criacutetica do epistolaacuterio de oito jesuiacutetas Fazia parte deste nuacutemero Duarte de Sande do qual se arrolaram 22 cartas Que saibamos a transcriccedilatildeo anotada das mesmas natildeo foi ateacute hoje entregue ao domiacutenio puacuteblico

Ao Doutor Rui Loureiro agradeccedilo penhorado a pronta e gentil cooperaccedilatildeo com que contribuiu para a elaboraccedilatildeo desta nota

186


95

mestres do seu Coleacutegio de Coimbra e com os quais ao mesmo tempo que se abrilhantavam com o lustre da beleza os certames e festividades que faziam parte do calendaacuterio acadeacutemico se aponta-va ao escopo pedagoacutegico e religioso de propor modelos de comportamento e glorificar virtudes situaccedilatildeo que sobretudo se verificava nos dias de sueto anualmente consagrados agrave exaltaccedilatildeo de d Joatildeo iii patrono da Companhia e responsaacutevel pela entrega do seu Coleacutegio das Artes agrave mesma em 1555 e da Rainha santa isabel padroeira da cidade de Coimbra8 nestas composiccedilotildees o jaacute entatildeo provaacutevel professor de Retoacuterica duarte de sande revela com desembaraccedilada mestria o domiacutenio tanto do diacutestico elegiacuteaco como das elegacircncias e louccedilainhas de uma prosa oratoacuteria de recorte cice-roniano pondo ambas as modalidades literaacuterias a serviccedilo quase exclusivo do exalccedilamento da santa esposa do rei d dinis

eacute que e entrando jaacute de pleno nos textos que vou apresentar as composiccedilotildees literaacuterios latinas da autoria de duarte de sande que logrei descobrir nos coacutedices jesuiacuteticos rerum scholasticarum satildeo em nuacutemero de onze repartindo-se do modo seguinte de acordo com os temas e sub-geacuteneros literaacuterios seis poemas e duas oraccedilotildees laudatoacuterias dedicados agrave Rainha santa dois ldquoenigmasrdquo em verso e uma breve oraccedilatildeo lida numa cerimoacutenia de colaccedilatildeo do grau de bacharel Quanto agraves orationes duas ndash ou seja a 1ordf de laudibus de santa isabel e a breve alocuccedilatildeo acadeacutemica ndash foram pronunciadas em 15729 e a outra ou seja a 2ordf consagrada agrave Rainha santa em 157310 destes trecircs textos talvez me ocupe al-gum dia fazendo-os figurar juntamente com a versatildeo lusitana numa nutrida antologia das muitas e valiosas peccedilas oratoacuterias que integram estes coacutedices manuscritos reduzidos ao mais injusto silecircncio pelo preconceito e vesacircnia anti-jesuiacutetica dos intelectuais bem pensantes nacionais dos derradeiros dois seacuteculos e pico

A produccedilatildeo versiacutestica consta de um total de 136 versos ou melhor de 68 diacutesticos elegiacuteacos metro claacutessico que o Autor exclusivamente utilizou para nele vazar a sua inspiraccedilatildeo por um lado de vate liacuterico-hagiograacutefico (em 6 poemas cuja extensatildeo varia entre 5 e 10 diacutesticos) e por outro de expositor engenhoso de ldquoenigmasrdquo ou seja gravuras alegoacutericas ou simboacutelicas penduradas nas paredes que o texto poeacutetico latino colocado ao lado deveria esclarecer (em 2 composiccedilotildees ambas de 14 diacutesticos)

8 A descriccedilatildeo e siacutentese das composiccedilotildees que integram os mais conhecidos acervos manuscritos da produccedilatildeo humaniacutestica da principal escola jesuiacuteta portuguesa nos seacuteculos XVI e XVII pode ver-se nos trecircs seguintes artigos de Sebastiatildeo Tavares de Pinho ldquoLiteratura humaniacutestica do Coleacutegio das Artes da Universidade de Coimbra no seacuteculo XVIrdquo Congresso de Histoacuteria da Universidade no VII Centenaacuterio Actas Coimbra 1991 pp 67-86 ldquoO Coleacutegio das Artes na Universidade de Coimbra e a tradiccedilatildeo claacutessica no iniacutecio do seacuteculo XVIrdquo Biblos Coimbra 68 (1992) pp 49-76 ldquoUm coacutedice latino de literatura jesuiacutetica quase desconhecido o Coacutedice 1963 da Livraria dos ANTTrdquo HVMANITAS Coimbra 57 (2005) pp 351- 382

9 Oratio de laudibus Beatae Elisabethae Lusitaniae Reginae habita ab Eduardo de Sande Conimbricae anno 1572ff124rordm-130vordmdocoacutedice993daBGUCnestemesmocoacutediceenomesmof130vordminicia-seaOratio ad baccalariatus gradum consequendum habita 1572 Ab eodem que acaba no recto do f 132

10 De laudibus Diuae Elisabethae Lusitanorum Regina oratio secunda habita ab Eduardo de Sande Conimbricae anno 1574ff161rordm-169vordmdomesmo coacutedice citado na nota anterior

antOacutenio guimaratildees pinto | POESIA LATINA DE DOIS JESUIacuteTAS DIOGO DE SANDE E FRANCISCO DE MENDONCcedilA



destes ldquoenigmasrdquo11 bem nutridos de lardo mitoloacutegico colige-se o trato contiacutenuo do mestre de retoacuterica com os autores claacutessicos cujo ensino ministrava como tambeacutem no caso de um deles a data da sua composiccedilatildeo uma vez que versa sobre a liga santa alianccedila poliacutetico-estrateacutegica da iniciativa de Pio V celebrada em Maio de 1571 entre o Papado a espanha as repuacuteblicas de Veneza e Geacutenova o ducado de saboacuteia e a Ordem de Malta com o propoacutesito de derrotar a esquadra turca desiacutegnio alcanccedilado com a estrondosa vitoacuteria de lepanto conseguida em Outubro desse mesmo ano A outra composiccedilatildeo luacutedica fornece tambeacutem alguma achega conquanto sumamente vaga para a determinaccedilatildeo da eacutepoca da sua composiccedilatildeo uma vez que numa das notas manuscritas que a acompanham se diz ldquoQuando o velho reverdecer fazendo-se o edifiacutecio novordquo entenda-se do Coleacutegio das Artes Ora eacute sabido que a construccedilatildeo das novas instalaccedilotildees desta academia embora iniciadas em 1568 soacute se concluiacuteram em 1616 Atendendo ao que jaacute dissemos facilmente se colhe que sande escreveria estes versos no lustro imediatamente apoacutes aquela 1ordf data

no que toca agraves composiccedilotildees que caracterizei como liacuterico-hagiograacuteficas o seu interesse em mi-nha opiniatildeo radica mais na fruiccedilatildeo esteacutetica que proprorciona agrave nossa sensibilidade o bom manejo da linguagem poeacutetica latina do que no lastro doutrinal cultural ou histoacuterico que oferecem ao nosso ldquofarordquo e interesse de eruditos em boa verdade em conformidade com as caracteriacutesticas da poesia hagiograacutefica12 que aliaacutes teve nos seacuteculos XVi e XVii o seu periacuteodo aacuteureo (pelo menos na vertente humaniacutestica) nestes seis carmes duarte de sande mostrou-se menos preocupado com a exaccedilatildeo histoacuterica dos episoacutedios biograacuteficos do que com o exalccedilamento da humildade piedade religiosidade e fortaleza de acircnimo da santa que propotildee aos moccedilos estudantes como modelo de perfeiccedilatildeo cristatilde que devem procurar imitar

2

tatildeo-pouco me ocuparei aqui de alguma das duas facetas pelas quais hoje mais se recorda ainda que mui raramente o nome do jesuiacuteta Francisco de Mendonccedila a de pregador vernaacuteculo13 e a de exegeta biacuteblico autor de um ponderoso comentaacuterio ao Livro dos Reis Homem de intensa ati-vidade religiosa e intelectual da variedade dos seus interesses daacute prova a vasta coletacircnea na qual os

11 De entre os variados exerciacutecios que a Ratio studiorumjesuiacuteticaconfiavaaosmembrosdasldquoacademiasderetoacutericosehumanistasrdquonasquaisosalunos com mais crescida bossa literaacuteria se podiam juntar para reuniotildees ordinariamente dominicais constava o de ldquocomporem e interpretarem inscriccedilotildees descriccedilotildees e enigmasrdquo Coacutedigo pedagoacutegico dos jesuiacutetas Ratio Studiorum da Companhia de Jesus versatildeo portuguesa e notas de Mar-garida Miranda Lisboa Esfera do Caos Editora 2009 pp 262-263

12 Sobreestetemavejam-seosdoisseguintesartigosdeCarlotaMirandaUrbanoldquoSFranciscoXaviereapoesiahagiograacuteficanovilatinaemPor-tugalrdquo Coimbra HVMANITAS58(2006)pp369-390ldquoEpopeianovilatinaehagiografiaalgunsexemplosemPortugalrdquoCoimbraHVMANITAS 57 (2005) pp 383-402

13 Embora durante a sua vida se tenham publicado avulso alguns poucos sermotildees o grosso da sua produccedilatildeo pareneacutetica soacute foi coligida e publica-da postumamente a partir do ano de 1632 em que saiu a lume a Primeira Parte dos Sermotildees


97

confrades de lyon compilaram um razoaacutevel nuacutemero de obras suas que eacute de supor o acompanha-riam em manuscrito no momento em que a morte o colheu inesperadamente e em idade ainda vi-gorosa naquela cidade francesa Com efeito sob o seu nome publica o editor Jacob Cardon no ano de 1631 uma obra de 350 ff a duas colunas com o seguinte noticioso e dilatado tiacutetulo Viridarium sacrae et profanae eruditionis a P Francisco de Mendoccedila Olysiponensi Societatis IESV doctore Theologo olim in Conimbricensi Academia primario eloquentiae magistro et Philosophiae professore postea in Eborensi diuinorum Oraculorum interprete satum excultumque Posthuma proles14 ou seja ldquoVergel de sagrado e profano saber semeado e cultivado pelo Padre lisboeta Francisco de Mendonccedila da Companhia de Jesus doutor em teologia em tempos professor catedraacutetico de eloquecircncia e professor de Filosofia do Coleacutegio de Coimbra e posteriormente professor de sagrada escritura no de eacutevora Obra poacutestumardquo

Como se vecirc pelo teor do iniacutecio do tiacutetulo jaacute nos encontramos em pleno periacuteodo barroco Pas-sando ao iacutendice verificamos que as espeacutecies vegetais postas agrave nossa disposiccedilatildeo se repartem por nove talhotildees (digamos assim) representativos dos diferentes pendores e aptidotildees do nobre jesuiacuteta alfacinha interessa-nos para o presente escopo o Liber nonus que ostenta o fragante subtiacutetulo de De floribus poeticis (ldquodas flores poeacuteticasrdquo) que se esparzem do f 321 ao 350 Aiacute encontraremos as seguintes composiccedilotildees Dialogus de sacratissima Assertoris Christi Passione (ldquodiaacutelogo sobre a sacratiacutessi-ma Paixatildeo do libertador Cristordquo peccedila de teatro) Cunae Bethlemici Infantis (ldquoBerccedilo do menino de Be-leacutemrdquo) Augustissimae Eucharistiae miracula (ldquoMilagres da santiacutessima eucaristiardquo) Virginis Magnae Matris Purificatio (ldquoPurificaccedilatildeo da Virgem grande Matildeerdquo) Ignatius Societatis IESV auctor ac parens sanctissimus ut quemdam e scelerum lacu extrahat in lacum se abdit (ldquoinaacutecio fundador e progenitor da Companhia de Jesus retira-se para o interior de uma cisterna a fim de arrancar certa pessoa do tremedal dos pe-cadosrdquo) Francisci Xauerii Herois sanctissimi illustria facta (ldquoBrilhantes feitos do santiacutessimo heroacutei Fran-cisco Xavierrdquo) Vrsulae et sociarum laurea triumphalis (ldquoCoroa triunfal de uacutersula e suas companheirasrdquo) Victricis Catharinae Mausoleum (ldquotuacutemulo da vencedora Catarinardquo) Erenae Virginis Lusitanae Martyrium triumphale (ldquoMartiacuterio triunfal da virgem portuguesa erenardquo) Historiae laudes (ldquolouvores da histoacute-riardquo) Nascenti Virgini Magnae Matri quae tunc scholastico anno nascenti initium auspicatissimum faciebat (ldquoAo nascimento da Virgem grande Matildee que tornava muitiacutessimo auspicioso o ano escolar que entatildeo se iniciavardquo) Ad Vrsulam et comites beatissimas (ldquoA uacutersula e agraves suas bem-aventuradas companheirasrdquo) e por derradeiro as duas composiccedilotildees que aqui ousamos apresentar e traduzir

Agrave primeira deu o Autor o tiacutetulo de Amoenissima Tiburtini nemoris consideratio (ldquoMui apraziacutevel con-templaccedilatildeo dos jardins de tiacutevolirdquo) e foi presumivelmente escrita entre 1625 e 1626 durante a sua estadia em Roma como procurador-geral da proviacutencia portuguesa da Companhia de Jesus Consta de 76 versos ou melhor de 38 diacutesticos elegiacuteacos nos quais descreve as maravilhas dos ainda hoje

14 Esta 1ordf ediccedilatildeo faz parte do riquiacutessimo acervo de obras em latim da BPMP que tambeacutem possui a que da mesma obra no ano seguinte saiu dos prelos de Petrus Henningius de Coloacutenia que tambeacutem consultei na mesma Biblioteca portuense




ceacutelebres Jardins da Villa de este situados na localidade proacutexima de Roma de tiacutevoli e comeccedilados a construir por iniciativa do cardeal Hipoacutelito ii de este (1509-1572) a quem secundaram na monu-mental edificaccedilatildeo seus sobrinhos e herdeiros os tambeacutem cardeais luigi de este (1538-1580) e Ales-sando de este (1568-1624) nesta composiccedilatildeo vemos exemplificadas algumas das particularidades mais caracteriacutesticas da mentalidade barroca o interesse pelo visual e a necessidade de fazer o leitor compartilhar com o Autor da experiecircncia deste como sujeito observador O gosto pelo detalhe e o descritivismo exaustivo satildeo a primeira consequecircncia desta forma mentis a que Mendonccedila natildeo escapa

Outra feiccedilatildeo do homem barroco que aqui sobremaneira avulta eacute o interesse e seduccedilatildeo pelo ar-tifiacutecio ou melhor pelos mecanismos engrenagens e artefactos a que tatildeo grande desenvolvimento se deu no seacuteculo XVii e que tem como reflexo uma espeacutecie de iacutentima convicccedilatildeo de que a natureza eacute uma imitaccedilatildeo ou pelo menos inferior agrave Arte neste sentido parecem significativos os seguintes versos

Artis opus natura suum miratur et artisludum experta ldquominor sumrdquo canit ldquoarte minorrdquo15

Curiosamente mas de facto em loacutegica consonacircncia com esta exaltaccedilatildeo que no presente poema encontramos das recentes invenccedilotildees da mecacircnica e da hidraacuteulica vemos desterrado desta composi-ccedilatildeo o pessimismo sobre o presente que eacute da praxe associar agrave mentalidade barroca eacute que Mendonccedila natildeo pertence ao grupo dos laudatores temporis acti e na poleacutemica entre antigos e modernos natildeo tre-pidaria em terccedilar armas por estes uacuteltimos

iam meritas antiqua trahant monumenta ruinasHoc se se astrorum cursibus aequet opus16

A composiccedilatildeo com que se encerra o ldquoVergelrdquo e tambeacutem a minha apresentaccedilatildeo dos dois vates jesuiacutetas vincula o Pe Francisco Mendonccedila ao humanismo duro e estreme digamo-lo assim para caracterizarmos de alguma forma a corrente literaacuteria e cultural que encontrou o seu auge nas pri-meiras deacutecadas do seacuteculo XVi e teve como figura de proa o embora polifaceacutetico sempre enigmaacute-tico erasmo de Roterdatildeo Como toacutepicos tendentes a uma definiccedilatildeo sumaacuteria apontaria no plano esteacutetico-cultural a predileccedilatildeo pelos poetas mais grados da eacutepoca de Augusto sobretudo Horaacutecio e Virgiacutelio o recurso moderado agrave mitologia e o menos moderado aos exempla da Histoacuteria antiga sobretudo os transmitidos pelas biografias plutarquianas no que tange agraves ideias esta vertente do humanismo que acabou talvez por ser a grande vencida no tumultuar de guerras fratricidas em

15 ldquoNatura admira a sua obra de arte mas vendo Da arte a obra exclama lsquoA Arte me superarsquordquo Vv 28-29 ndash Visatildeo contrastante com a normalmen-te adjudicada agrave esteacutetica claacutessica de que satildeo siacutentese feliz os versos seguinte do neo-claacutessico sevilhano Manuel Maria de Arjona En vano con espleacutendido aparato Finge el arte soliacutecito grandezas Natura vence con sencillo ornato Tan altivo disfraz

16 ldquoOs antigos monumentos merecem hoje arrastar consigo as suas ruiacutenas E esta obra nivelar-se com a alta carreira dos astrosrdquo Vv 75-76


176 HUMANISMO DIAacuteSPORA E CIecircNCIA

Nos seus estudos sobre o messianismo cristatildeo-novo e suas principais figuras que resultaram na sua obra O sapateiro de Trancoso e o alfaiate de Setuacutebal Elias Lipiner104 dava a conhecer o processo jaacute referido de Pecircro Aacutelvares Da nossa leitura atenta do feito-crime vemos tratar-se de um cristatildeo--novo baptizado com dois anos portanto da primeira geraccedilatildeo de conversos de 1497 um merca-dor e figura importante em Eacutevora e do ciacuterculo de figuras maiores do messianismo cristatildeo-novo de Quinhentos como o alfaiate de Setuacutebal o lsquomessiasrsquo Luiacutes Dias105 mestre Gabriel o licenciado Francisco Mendes (fiacutesico do cardeal D Afonso) o antigo desembargador Gil Vaz Bugalho ou Joatildeo Fernandes Estamos perante um influente cristatildeo-novo que e para aleacutem de segundo diz frequentar a casa do Duque de Braganccedila D Teodoacutesio I ndash diz-nos Lipiner106 com alguma ingenuidade que para com ele discutir assuntos da teologia hebraica ndash e a do outrora governador da Iacutendia Nuno da Cunha onde lera livros luteranos (fl 177) era ou assim o tinha amigo do Conde da Castanheira D An-toacutenio de Ataiacutede Com dois anos e em Eacutevora tinha sido feito cristatildeo contando entre os padrinhos o Licenciado Borges secretaacuterio de D Afonso de Portugal bispo de Eacutevora com quem viveu algum tempo (fl 176v) De resto do rol de testemunhas requeridas para sua defesa (fls 26-30) constam Antoacutenio Godinho (capelatildeo do rei) Mateus Rodrigues (escudeiro do cardeal) Andreacute Crato (capelatildeo do infante D Henrique) Pedro Margalho o bispo de Santiago D Joatildeo Parvi o bispo de Safim D Gonccedilalo Pinheiro o arcebispo do Funchal D Martinho de Portugal o conde de Vimioso D Francisco de Portugal o conde da Vidigueira D Francisco da Gama ou Rui de Melo alcaide-mor de Elvas Da familiaridade do reacuteu com a famiacutelia real em particular com o infante D Luiacutes eacute clara a forma como a propoacutesito da pouca confianccedila que lhe merecia a nomeaccedilatildeo do mamccedilebo Pedro Aacutelva-res de Paredes107 para a Inquisiccedilatildeo vindo da de Llerena relata a D Henrique dej Senhor comta disto ao serenjsemo Jfamte dom Lujs e Respondeu-me natildeo a tamtos velhos na terra eu dise hay esta o bispo de Cojmbra ou hobriguem o bispo de Ccedilejta que amde na corte e o Jfamte dise o bispo de Cojmbra e muito velho dise eu senhor ahi esta o senhor Jfamte dom Amrique que o pode fazer que por sua alta proeza tem em sy todas as calidades pera o poder ser e oulhara por a comciemccedila del Rey noso senhor e omra drsquoel Rey voso pay (fl 205) A natureza proacutexima ao infante estendia-se igualmente como o proacuteprio diz agrave troca epistolar (fl 213v) A proximidade

104 Cf Elias LIPINER o sapateiro de Trancoso e o alfaiate de Setuacutebal [] pp 107-110 pp 125-158 (cap v Dois ciacuterculos concecircntricos sobre Pecircro Aacutelvares) e passim IDEM Os baptizados em peacute Estudos acerca da origem e da luta dos cristatildeos-novos em Portugal Lisboa Vega 1998 pp 255- -273 (cap Pero Aacutelvares Eborense O Homem que queria implantar o Evangelho como regimento da Inquisiccedilatildeo) e IDEM Gonccedilalo Anes Bandarra e os cristatildeos-novos [] p 116 n 27 jaacute citado supra

105 Para aleacutem das obras de Lipiner veja-se Elvira Azevedo MEA ldquoDias Luiacutes (detto il Messia di setuacutebal)rdquo in PROSPERI Adriano (direcccedilatildeo de) Dizio-nario storico dellrsquoInquisizione volume 1 [] p 477

106 Cf Elias LIPINER O sapateiro de Trancoso [] p 190

107 sobre o inquisidor veja-se susana Bastos MAteus ldquoAacutelvarez de paredes pedrordquo in PROSPERI Adriano (direcccedilatildeo de) Dizionario storico dellrsquoInquisizione volume 1 [] p 52 licenciado em cacircnones foi nomeado para a Inquisiccedilatildeo de eacutevora a 5-IX-1541 transitando depois para a de Lisboa a 2-III-1559 retornando a 27-XI-1565 para a de Eacutevora cidade onde obteve benefiacutecios eclesiaacutesticos e foi coacutenego na seacute


177

ao rei tambeacutem transparece ao referenciar o reacuteu duas audiecircncias que teve uma em casa da Rainha no dia em que se instituiu a Inquisiccedilatildeo (fl 204v) e outra pouco antes de ser preso onde lhe fez ver o poderoso argumento da memoacuteria futura oulhaj senhor que a vosa caronjqua a de ser lida por os soccedilesores Jumtamte com a drsquoel Rey voso paj fazej senhor cousa com que nam ajais mjster hũ omem que viua pera sempre que vos desqullpe (fl 207) Mas tambeacutem agrave corte imperial chegavam os seus apelos escritos tendo recebido confirmaccedilatildeo de Francisco de los Cobos y Molina secretario universal de Carlos V que o imperador havia lido a sua missiva em que expunha as lsquocruezasrsquo do procedimento inquisitorial luso (fls 204v e 213) Na verdade de nada lhe valeram os apelos que fez junto do inquisidor-geral mesmo quando estes revelam uma grande proximidade ao poder oulhe vossa alteza muito sua concyemccedilya e faccedila o que lhe peccedilo (fl 214)

Do seu processo ressaltam entatildeo duas extensas cartas-memoriais ndash que Lipiner data erradamente de 1 e 24 de Setembro de 1541108 quando satildeo efectivamente dos dias 1 e 30 (derradeiro) daquele mecircs109 ndash enviadas a D Henrique e a um religioso ali natildeo identificado (falta a folha do sobrescrito com o lsquoendereccedilorsquo) e recolhidas no seu processo e bem assim ressaltam as respostas ou censuras de acircmbito teoloacutegico expendidas muito provavelmente a mando do infante da autoria de Frei Andreacute de Resende110 No entanto passou praticamente despercebido ao autor o alcance desta circunstacircncia que ligava assim o humanista lsquoerasmianorsquo ao aparelho inquisitorial mas natildeo como reacuteu como tantos humanistas com quem privou e foi amigo Com efeito Lipiner parece quase ignorar quer a figura quer as respostas do humanista ndash um ramificado debate sobre problemas teoloacutegicos e exegeacuteticos contemporacircneos levantados nos memoriais e que natildeo vem a propoacutesito serem tratados neste ensaio111 ndash atendo-se mais como seria de esperar nas novidades e importacircncia do discurso inflamado e lsquomiacutesticorsquo do reacuteu quer nesse estudo quer num capiacutetulo que lhe dedicou nrsquo Os baptizados em peacute lembrando-o igualmente no seu Gonccedilalo Anes Bandarra e os cristatildeos-novos No entanto se os memoriais satildeo ricos testemunhos do destemor de alguns cristatildeos-novos ainda influentes na corte e na qualidade de declaraccedilatildeo de um projecto utoacutepico de diaacutelogo inter-religioso como o satildeo as abordagens puramente teoacutericas e livrescas sem qualquer repercussatildeo efectiva na sociedade portuguesa dada a sua recepccedilatildeo nula ou muito restrita ndash caso das obras de Joatildeo de Barros Diogo de Saacute e da de Francisco Machado na sua versatildeo vernacular ndash jaacute as censuras de Resende emergem nesse debate pela efectividade da doutrinaccedilatildeo teoloacutegica e na eficaacutecia da poliacutetica doutrinal anti-judaica e deve acrescentar-se tambeacutem anti-luterana

108 IDEM ibidem p 151

109 Respectivamente ANTT Tribunal do Santo Ofiacutecio Inquisiccedilatildeo de eacutevora processo 8628 fls 201-215v e fls 217-221v

110 Elias LIPINER Os baptizados em peacute [] p 267

111 IDEM O sapateiro de Trancoso [] p 151

Hugo Miguel Crespo | Andreacute de resende nA InquIsIccedilatildeo de eacutevorA e A ApologeacutetIcA AntI-judAIcA cIecircncIA teoloacutegIcA doutrInA e cAstIgo (1541)



Trata-se entatildeo de um raro autoacutegrafo de Resende como prova a indicaccedilatildeo no canto superior di-reito do fl 201 no iniacutecio da carta de Pecircro Aacutelvares ao infante D Henrique o prometor tem as commisotildees tiradas a limpo per frej Andre de Resende [Fig 3] Da natureza autoacutegrafa dos seis foacutelios (doze paacuteginas) natildeo se pode duvidar tanto pela lsquonotarsquo referida como pela comparaccedilatildeo com outros manuscritos caligraacuteficos e lsquocursivosrsquo jaacute confrontados por Sebastiatildeo Tavares de Pinho que natildeo conheceu este de que nos ocupamos112 Como particularidade que o distingue dos restantes conta neste caso o pre-cioso manuscrito com exemplar da sua escrita na liacutengua hebraica escrevendo o teoacutelogo as palavras gentios [Fig 4] גוים gentio e o plural גוי

O modelo caligraacutefico proacuteprio a Resende natildeo eacute senatildeo a humaniacutestica lsquocursivarsquo lsquoinclinadarsquo ou dita itaacutelica e que se firmou neste periacuteodo como a escrita comum aos humanistas ou como era apelidada

112 veja-se sebastiatildeo tavares de pInHo ldquoAndreacute de resende o manuscrito do sermatildeo do siacutenodo de eacutevora (1534) e outros autoacutegrafosrdquo in Cataldo amp Andreacute de Resende [] pp 219-256

[Fig 3] prIMeIrA pAacutegInA dA cArtA-MeMorIAl dIrIgIdA por pecircro AacutelvAres Ao InFAnte d HenrIque (1-IX-1541) Antt TriBunaL do SanTo ofiacutecio INQUISIccedilatildeO DE EacuteVORA PROCESSO 8628 FL 201 (PORMENOR)

[Fig 4] IniacutecIo dAs censurAs AutoacutegrAFAs de Andreacute de resende (1541) Antt TriBunaL do SanTo ofiacutecio INQUISIccedilatildeO DE EacuteVORA PROCESSO 8628 FL 224 (PORMENOR COM O DUCTUS EM HEBRAICO)


na eacutepoca cancellaresca corsiva (da chancelaria papal responsaacutevel pela expediccedilatildeo dos breves) [Fig 6] uma derivaccedilatildeo da goacutetica cursiva com forte influecircncia da littera antiqua afinal a medieva minuacutescula carolina que os filoacutelogos biblioacutefilos copistas e notaacuterios renascentistas tomaram como herdeira do modelo graacutefico claacutessico e desenvolveram antes da corsiva como humaniacutestica redonda nos finais do seacuteculo XIV e com a qual produziram coacutepias corrigidas dos claacutessicos uma escrita bela limpa elegante e legiacutevel em oposiccedilatildeo agrave escrita goacutetica livresca artificiosa e ornamental a littera scholastica113 O modelo preciso usado por Resende parece-nos ser uma interpretaccedilatildeo lsquosuarsquo mas muito fiel da can-cellaresca formata [Fig 7] visiacutevel em especial nos exemplares mais caligraacuteficos do seu ductus (ordem de sucessatildeo e sentido dos traccedilos que compotildeem cada letra) como na acta do sermatildeo inaugural do Siacutenodo de Eacutevora de 1534 [Fig 8] onde exibe uma esmeradiacutessima caligrafia de tipo solene (uma regularidade possiacutevel pelo uso de um espaccedilado regramento e um moacutedulo muito grande beliacutessi-mos) ou na lsquocolectacircnearsquo de cartas trocadas entre si e o seu amicus cardeal D Afonso (que pocircs a limpo e que D Manuel II adquiriu para a sua biblioteca) ou mesmo na missiva que dirigiu a D Joatildeo de Castro e ateacute nas correcccedilotildees em bela e legiacutevel caligrafia que deixou em exemplares impressos de obras suas a testemunhar o alto cuidado filoloacutegico que nisso punha Verifica-se mesmo uma afini-dade estreita entre a sua escrita caligraacutefica (menos personalizada que a sua escrita usual ou corrente) e a famosa do paduano Bartolomeo Sanvito importante copista e caliacutegrafo (scriptor librarius) com

113 Veja-se a este propoacutesito Berthold Louis ULLMAN The Origin and Development of Humanistic Script Roma Edizioni di Storia e Letteratura 1960 Alfred J FAIRBANK e Richard W HUNT Humanistic Script of the Fifteenth and Sixteenth Centuries Oxford Bodleian Library 1960 James WARDROP The Script of Humanism Some Aspects of Humanistic Script 1460-1560 Oxford Clarendon Press 1963 Bernhard BISCHOFF Latin Palaeography Antiquity and the Middle Ages Cambridge Cambridge University Press 1990 pp 145-149 (Humanistic script) e Thomas FERENZ Lrsquointroduzione della scrittura umanistica nei documenti e negli atti della curia pontificia del secolo XV vaticano scuola vaticana di paleografia Diplomatica e Archivistica 2005

[Fig 5] IniacutecIo dA lsquoFAlArsquo AutoacutegrAFA de Andreacute de resende nA lsquoentrAdArsquo dA prIncesA d joAnA de AacuteustrIA (1552) centro de estudos clAacutessIcos dA FAculdAde de letrAs dA unIversIdAde de LISBOA (PORMENOR)

179Hugo Miguel Crespo | Andreacute de resende nA InquIsIccedilatildeo de eacutevorA e A ApologeacutetIcA AntI-judAIcA cIecircncIA teoloacutegIcA doutrInA e cAstIgo (1541)



obra ateacute iniacutecios de Quinhentos cujo modelo graacutefico eacute a par daquele que o editor e filoacutelogo Aldo Manuzio difundiu atraveacutes dos seus prelos a partir de 1501 nas ediccedilotildees lsquode bolsorsquo os enchiridion dos claacutessicos que imprimiu Caracteriza-se entatildeo a escrita de Resende [Figs 8 e 9] tanto na versatildeo caligraacutefica como na corrente por um moacutedulo (dimensatildeo e proporccedilatildeo das letras) mais quadrado ndash ao inveacutes do mais estreito e apertado da pura cancellaresca corsiva que no entanto adopta ligeiramente

na versatildeo mais solene ndash um ductus regular espaccedilado pouco inclinado e pouco anguloso onde se evidencia uma relaccedilatildeo de simetria do corpo da letra face agraves hastes e agraves caudas

No autoacutegrafo que aqui editamos observa-se no entanto se natildeo uma escrita cursiva pelo menos um ductus mais expedito onde o nuacutemero de traccedilos no desenhar da letra eacute menor tanto como o eacute a sua regularidade sem perder com isso beleza e inteira legibilidade proacutepria a uma lettera allrsquoantica O moacutedulo eacute um pouco mais pequeno (ca 2x2mm o corpo e 6mm de altura desde a haste agrave cauda) se comparando com a caligrafia solene das actas do Siacutenodo de 1534 devendo-se a sua grande clareza e legibilidade a um ductus pouco comprimido resultando num peso ligeiro onde quase natildeo se veri-fica contraste entre traccedilos grossos e finos numa escrita que diremos filiforme Nas marginalia que

[Fig 9] DUCTUS lsquoCORRENTErsquo DE ANDREacute DE RESENDE ANTT TriBunaL do SanTo ofiacutecio INQUISIccedilatildeO DE EacuteVORA PROCESSO 8628 FL 224 (PORMENOR MUITO AUMENTADO)

[Fig 8] DUCTUS cAlIgrAacuteFIco de Andreacute de resende no serMatildeo InAugurAl do siacutenodo de eacutevorA (1534) ArquIvo do cABIdo dA seacute MetropolItAnA de eacutevorA cec 5-IX Fl 7v (porMenor)



[Fig 6 e 7] agrave esquerdA A cancELLarESca corSiVa DE LUDOVICO DEGLI ARRIGHI La oPErina [] roMA 1522 Fl AXIIIr e agrave dIreItA A cancELLarESca forMaTa DE GIOVANNI BATTISTA PALATINO LiBro nEL quaL SrsquoinSEGna a ScriuEr oGni SorTE LETTEra [] roMA 1561 Fl d1r



deixou nas cartas de Pecircro Aacutelvares o moacutedulo chega a ser miniaturizado sem perder as caracteriacutesticas do seu ductus (ca 1x1mm o corpo e 35 mm de altura deste a haste agrave cauda) embora se torne por vezes mais angulosa por razotildees de espaccedilo e pelo biselado da pena (mais evidente) Das caracteriacutesti-cas da sua escrita usual e comparaccedilatildeo com a sua solene ressaltamos o traccedilado do lsquodrsquo apenas num movimento contiacutenuo ascensional a simplificaccedilatildeo do traccedilado do lsquogrsquo de trecircs traccedilos (com o desenho da oval do corpo da letra) para dois traccedilos de movimento contiacutenuo (com ligaccedilatildeo agrave letra seguinte) e um uacutenico levantar da pena (no entanto jaacute previsto na cancellaresca corsiva de Arrighi) a opccedilatildeo di-remos lsquopessoalrsquo por um lsquohrsquo caudato de haste recta onde a cauda se enrola para a direita no sentido da escrita (indiacutecio de cursividade) ou se liga mesmo agrave seguinte ou a preferecircncia manifesta no uso do lsquosrsquo longo (caudato) em iniacutecio de palavra para maior rapidez ao contraacuterio do que prefere na ver-satildeo caligraacutefica quando o usa quase somente em nexos como lsquostrsquo Da aprendizagem ou posterior adopccedilatildeo deste modelo por parte de Resende podemos dizer pouco dado o que falta saber (quase tudo) sobre a introduccedilatildeo do novo modelo nos ciacuterculos letrados e da corte em especial quanto ao ensino114 O que fica claro eacute que ao contraacuterio de outros humanistas lusos soacute a custo se observa na escrita de Resende (e apenas na versatildeo cursiva) algum substracto goacutetico a evidenciar uma apren-dizagem segura do modelo humaniacutestico e uma quase total diluiccedilatildeo desses caracteres aquando da possiacutevel adopccedilatildeo do novo modelo graacutefico nos centros europeus que percorreu nos seus anos de formaccedilatildeo se a aprendizagem natildeo tiver sido jaacute nacional e em tenra idade durante o magisteacuterio do gramaacutetico humanista Estecircvatildeo Cavaleiro Os insignificantes casos que detectamos no texto que ora editamos de 1541 e jaacute natildeo os encontramos por exemplo no autoacutegrafo da Fala que fez na entrada da princesa D Joana de Aacuteustria em finais de 1552 [Fig 5] prendem-se com a rapidez posta na execuccedilatildeo portanto com a cursividade o lsquodrsquo e o nexo goacutetico lsquodersquo logo no cabeccedilalho a que se junta o nexo lsquodosrsquo (em allumiados l 1) com lsquosrsquo final espiralado dextroacutegiro e o lsquoRrsquo goacutetico de se Regerem na l 6 [Fig 1] Certo eacute que a partir da publicaccedilatildeo em 1522 de La Operina da imparare di scriuere littera cancellarescha de Ludovico degli Arrighi dito Vicentino o ensino e praacutetica do novo modelo graacutefico ficava acessiacutevel sendo faacutecil de ver [Fig 6] quanto a escrita de Resende deve ao mestre caliacutegrafo de Veneza e Roma scrittore de breui apostolici cujo projecto de difusatildeo foi depois continuado pelas obras de G Antonio Tagliente (1524) e G Battista Palatino (1540) [Fig 7] manuais que tanto contribu-iacuteram para a implantaccedilatildeo do novo modelo graacutefico115

114 Temos entre matildeos um estudo aprofundado sobre a bela escrita humaniacutestica do 5ordm Duque de Braganccedila D Teodoacutesio I no contexto da cultura qui-nhentista lusa ele que aleacutem de possuir alguns manuais de escrita na sua vasta biblioteca teraacute encomendado ao seu pintor e fresquista Giraldo Fernandez de prado dois tratados de caligrafia (1560-1561) ainda hoje remanescentes para ensinar a arte caligraacutefica aos seus filhos sobre estas obras e autor veja-se Viacutetor SERRatildeO ldquoManiera Mural painting and calligraphy giraldo Fernandez de prado (c 1530-1592)rdquo in AFONSO Luiacutes Urbano et al Out of the Stream Studies in Medieval and Renaissance Mural Painting Cambridge Cambridge University Press 2007 pp 115-140

115 Sobre estas obras veja-se Oscar OGG (introduccedilatildeo de) Three Classics of Italian Calligraphy An Unabridged Reissue of the Writing Books of Arrighi Tagliente and Palatino Nova Iorque Dover 1953 e Emanuele CASAMASSIMA Trattati di Scrittura del Cinquecento Italiano Milatildeo Edizioni Il Poli-filo 1966 sobre a obra do vicentino veja-se paul stAndArd Arrighirsquos Running Hand A Study of Chancery Cursive Nova Iorque Taplinger 1979


Mas os velhos modelos continuaram em uso jaacute que a renovaccedilatildeo era lenta dada a natureza gera-cional de tais mestres das primeiras letras Em jeito de comparaccedilatildeo sublinhe-se o contraste gritante entre a humaniacutestica de Resende e o cursivo veloz de grande angulosidade do poeta e seu lsquorivalrsquo na corte dos purpurados o secretaacuterio do infante D Henrique o humanista Jorge Coelho que exibe uma escrita de tradiccedilatildeo ainda totalmente goacutetica [Fig 10]

Passemos entatildeo da forma ao conteuacutedo do manuscrito resendiano O particular interesse deste autoacutegrafo prende-se com a sua natureza enquanto censuras de acircmbito teoloacutegico que aqui iremos analisar em particular quanto ao argumento escrituriacutestico Natildeo profundamente analisadas por Lipi-ner116 as cartas-memorial de Pecircro Aacutelvares [Fig 11] revelam-nos um utoacutepico projecto de reforma dos estilos inquisitoriais que o reacuteu destemidamente faz apresentar ao infante D Henrique e que comprovam o sentimento de descreacutedito que a nova instituiccedilatildeo merecia por parte dos conversos nestes tempos de afinaccedilatildeo da maacutequina inquisitorial confiantes de que o seu prestiacutegio junto da cuacuteria apostoacutelica belas letras (retoacuterica) e as suas moedas de ouro os salvariam da perseguiccedilatildeo Foi muito tambeacutem por esse descreacutedito e certo destemor visto como insolente desrespeito que se viu preso Pecircro Aacutelvares como o proacuteprio sublinha na sua criacutetica contra o temiacutevel Joatildeo de Melo na carta

116 Elias LIPINER O sapateiro de Trancoso [] pp 149-154 (cap v 9) e IdeM Os baptizados em peacute [] pp 255-273


[Fig 10] Aspecto dA escrItA de jorge coelHo no prIMeIro Auto (de ApresentAccedilatildeo do lIBelo AcusAtoacuterIo) do processo contrA o crIstatildeo-novo luiacutes dIAs AlFAIAte e lsquoMessIAsrsquo de setuacuteBAl (7-v-1538) Antt TriBunaL do SanTo ofiacutecio INQUISIccedilatildeO DE LISBOA PROCESSO 3734 FL 1V (PORMENOR)



ao infante hya Senhor a todas [as] aodiamccedilas de Joam de Mello elle Receamdo-se de mjm pasados algus dias paresemdo-lhe que eu estoruava que nao houvese muito que fazer que era o meio delle medrar me ccedilhamou apartamdo-se comjguo com seos espriuatildees dizemdo que lhe era dito que eu falaua comtra a Jmquisiccedilao e fazia por os presos [] e porem senhor certo mjnha alma chorou amte Deus de ver vomtade tam danada a omem que o carguo todo tynha em sua matildeo (fl 205)

A publicaccedilatildeo futura e anotada das extensas cartas-memorial de Pecircro Aacutelvares (que por motivos de espaccedilo aqui natildeo poderiacuteamos fazer) daraacute precioso contributo para o estudo quer do movimento messiacircnico de que Aacutelvares foi arauto quer da literatura que o susteve sendo de analisar as fontes rabiacutenicas ndash as rabinarias ou rabinices de que fala Resende ndash e igualmente a toacutenica miacutestica que as ca-racteriza e que Resende toma por selada ou discurso emburilhado todos aspectos a que a anaacutelise de Lipiner esteve alheia Fazem parte estas duas missivas de toda uma estrateacutegia epistolar do reacuteu que assentou na vatilde esperanccedila de que os seus interlocutores do alto das suas prerrogativas impedissem a plena implantaccedilatildeo do Santo Ofiacutecio ou pelo menos limitassem os seus terores ccedilruezas e Ryguores fazendo Justiccedila com Rosto de misericordja que Deus diz que sejamos mjsericordiosos como noso padre esprituall (fl 204 cita Lc 636) Nestas duas haacute referecircncias a umas quantas outras que teraacute enviado e que natildeo sobrevivem a Frei Joatildeo Soares depois bispo-conde de Coimbra (fls 212v-213) ao provincial dominicano Jeronimo de Padilla (fl 211v) ao infante D Luiacutes ao imperador e ao rei (fl 204v) Como fundamento evangeacutelico (cita Mt 1720 Lc 1 e Mt 2121 Mc 1123) da sua temeraacuteria inicia-tiva epistolar diz os primccediljpes senhor am drsquooulhar pera as palauras do mjnjmo homem e muito majs quamdo sao prelados majs obrigaccedilao quamdo vam fumdadas em Deus que o Redemtor o da por emxempro e doutrina no avamjelho (fl 202v) Quanto ao conteuacutedo destas que nos chegaram na que enviou ao infante e jaacute preso de tam aspera prisatildeo inflamado com este chejro dos alumjados e tomando o exemplo de Jeremias (Jr 1716-17) diz-lhe que agrave semelhanccedila do profeta natildeo quer fazer outra coisa se natildeo dizer aos primccedilepes e ao pouo as cousas que elles faziatildeo que os via amdar afastados de fazer misericordja como Deus mandaua e Rejiam-se per outros Rejimemtos de letrados (fl 201) E sublinha que o seu fumdamemto natildeo eacute Reprouar a Samta Jmquisiccedilatildeo somemte dar lembramccedilas o por omde se deue leuar ordem de misericordja (fl 201) e isto lembrando como poderoso argumento a memoacuteria de D Manuel I se deuja drsquooulhar que el Rey voso paj que samta gloria aja o natildeo dejxou em testamemto que nos comsumjsem (fl 201) Perante o escrutiacutenio inqui-sitorial lembra de novo o velho rei ndash voso paj nos tornou ccedilrestatildeos por forccedila e seus filhos buscam leys pera nos comsumjr (fl 201v) ndash e usando o texto de Jeremias diz ao futuro cardeal usais as doutrinas dos omems e deixais as de Deus (fl 202) Comparando os reacuteus que no interrogatoacuterio tudo dizem e se confun-dem agrave lsquoverdadersquo pretendida pelo inquisidor a S Paulo tam alumjado que tamtos mjlagres vio fazer ao Redemtor que tambeacutem ele neguo tres vezes somemte de medo da carne e que depois por vomtade comfesou o que tynha neguado e ofereccedileo-se ao saccedilrificyo as cousas de Deus (fl 202) sublinha Pecircro Aacutelvares depojs que lhe foy Reuelado que o apoacutestolo espreueo se natildeo Jrmatildeos perdoay amjguos e a Jmjguos com toda doutrina que se pode espreuer tudo fumdado em miserjcordia se Deus fora serujdo de ccedilruezas hũ vaso tam cheo dellas amtes drsquoallumjado


[Fig 11] prIMeIrA pAacutegInA dA cArtA-MeMorIAl dIrIgIdA por pecircro AacutelvAres Ao InFAnte d HenrIque (1-IX-1541) Antt TriBunaL do SanTo ofiacutecio INQUISIccedilatildeO DE EacuteVORA PROCESSO 8628 FL 201


263

gravada em metal por Conrad Meyer contendo vinhetasmedalhotildees que retratam alguns ilustres representantes antigos e modernos da medicina e das ciecircncias entre os quais Amato lusitano

A Histoacuteria natural vai tambeacutem e progressivamente abandonando arqueacutetipos antigos e abrindo caminho agrave individualizaccedilatildeo de disciplinas cientiacuteficas como a zoologia que se autonomizaratildeo nos seacuteculos seguintes ulisses Aldrovandi reuniu ao longo de vaacuterios volumes profusamente ilustrados impressotildees diversas sobre o mundo natural mesclando fantasia com informaccedilatildeo de cariz cientiacutefico de entre os vaacuterios tiacutetulos existentes na BPMP elegi De piscibus libri V et de cetis lib unus (Bolonha 1638) no domiacutenio da dissecaccedilatildeo animal a obra do arquiteto e naturalista francecircs Claude Perrault Description anatomique drsquoun cameleon drsquoun castor drsquoun dromadaire drsquoun ours et drsquoune gazelle (Paris 1669) apresenta-nos uma rigorosa descriccedilatildeo anatoacutemica interna e externa de cada um destes animais acompanhada de belas gravuras alusivas A subordinaccedilatildeo de alguns estudos naturais renascentis-tas ao fasciacutenio mitoloacutegico do unicoacuternio eacute quase sempre indissociaacutevel do interesse antidotaacuterio e terapecircutico entatildeo atribuiacutedo agraves presas de mamiacuteferos marinhos (narval) ou terrestres (por exemplo o rinoceronte) como eacute bem percetiacutevel na obra de thomas Bartholin De unicornu observationes novae (2ordf ediccedilatildeo Amesterdatildeo 1678) A utilidade econoacutemica do mundo natural e a eficaacutecia na gestatildeo dos seus recursos estatildeo patentes em obras de cariz mais pragmaacutetico como o Trattato della coltivazione delle vitihellip (Florenccedila 1600) de soderini ou as Meacutemoires et instructions pour le plant des meuriers blancs nourriture des vers agrave soye et lrsquoart de filer mouliner et aprester les soyeshellip (Paris 1665) de Christophle isnard terminamos esta breviacutessima incursatildeo nos domiacutenios da Histoacuteria natural enfatizando o cimeacutelio Historia Naturalis Brasiliae15 da autoria de Guillelm Pison e Georg Marcgraf Patrocinada pelo me-cenato do Conde Johann Maurits van nassau-siegen e publicada em Amesterdatildeo em 1648 pela prestigiada oficina tipograacutefica elsevier esta sumptuosa ediccedilatildeo ndash de que a BPMP possui uma rariacutes-sima variante com ilustraccedilotildees a cores ndash espelha bem o fasciacutenio com as maravilhas e versatilidade do novo Mundo na centuacuteria de seiscentos incidindo sobretudo sobre a faixa litoral do nordeste do Brasil entatildeo sob domiacutenio colonial Holandecircs atraveacutes da West-Indische Compagnie esta obra magistral eacute sem duacutevida uma fonte essencial para o estudo do conhecimento cientiacutefico sobre o mundo natural (flora fauna fitoterapia etnografia linguiacutestica hellip) sul-americano na eacutepoca Moderna

5 marCas nos liVros posse e Censura

impressos em prelos portugueses e estrangeiros em latim e em vernaacuteculo alguns destes cimeacutelios da BPMP ostentam marcas manuscritas ndash mais raramente carimbos e ex-libris ndash com nome do antigo

15 Para uma anaacutelise mais pormenorizada sobre este livro e o seu contexto veja-se o artigo de FRANCcedilOZO Mariana ndash Alguns comentaacuterios agrave Historia Naturalis Brasiliae Cadernos de Etnolinguumliacutestica 2 1 (2010) 1-7

Juacutelio manuel roDrigues Costa | ARTE MEacuteDICA BREVE OLHAR SOBRE ALGUNS IMPRESSOS QUINHENTISTAS E SEISCENTISTAS DA BPMP



possuidor individual ou coletivo que justificariam estudo mais aprofundado16 e que certamente um processamento bibliograacutefico mais detalhado das espeacutecies possibilitaraacute Agrave guisa de sondagem constata-se que predominam as marcas de posse de congregaccedilotildees ou ordens religiosas o que natildeo eacute de estranhar uma vez que o primitivo fundo bibliograacutefico da biblioteca portuense incorporou so-bretudo entre os anos de 1832 a 1835 muitas livrarias pertencentes precisamente a casas religiosas abandonadas ou extintas e tambeacutem algumas sequestradas a particulares17

As marcas de posse alusivas a casas religiosas satildeo na sua totalidade autoacutegrafas Circunscreven-do-nos apenas ao livro meacutedico registem-se entre muitos os seguintes exemplos a Fabrica de Vesalius (X-13-3) proveniente da livraria da Congregaccedilatildeo do Oratoacuterio do Porto um comentaacuterio de Jean de Ruelle ao quinto livro De materia medica de dioscoacuterides (u-2-46) procedente da livraria do Convento de santo Agostinho do Porto um outro comentaacuterio de Marcelo Vergiacutelio agrave mesma obra (u-13-25) mas provinda da livraria do Coleacutegio de s Jeroacutenimo ou o uacutenico impresso de Paracelsus existente na BPMP (u-14-35) oriundo da livraria de santa Cruz de Coimbra Ocorrem tambeacutem muito esporadicamente inequiacutevocas marcas de posse de instituiccedilotildees laicas como eacute o caso dos pe-culiares carimbos octogonais a tinta preta lsquoMvsevm Britannicvmrsquo e lsquoBritish Museum sale duplicate 1787rsquo patentes em alguns cimeacutelios (eg Thesaurus pauperum cota X-9-48) que nos remetem para a geacutenese das primeiras bibliotecas nacionais ou para dinacircmicas relacionadas com o comeacutercio livreiro e o colecionismo Pontualmente eacute a proacutepria encadernaccedilatildeo que nos fornece indicaccedilotildees pertinentes como eacute bem visiacutevel na obra de Juan Fragoso Aromatum fructuum et simplicium aliquot medicamento-rumhellip (t-7-13) que ostenta os ferrosmonograma do Museu Britacircnico a cuja biblioteca que esteve na origem da atual Bristish library pertenceu

As marcas de posse individuais ndash autoacutegrafas carimbos ou ex-libris (estes dois uacuteltimos sinais distintivos mais frequentes a partir do seacutec XiX) ndash aparecem autonomamente ou coexistem com menccedilatildeo de pertenccedila de um determinado volume a uma livraria monaacutestica O Tractado de las drogashellip de Cristoacutevatildeo da Costa (u-3-2) lsquoda livraria da Congregaccedilatildeo do Oratoacuterio do Portorsquo ostenta tambeacutem vaacuterios autoacutegrafos presumivelmente de eclesiaacutesticos A leitura de muitos destes autoacutegrafos eacute amiuacutede difiacutecil quando natildeo impossiacutevel e o seu estudo implica frequentemente intrincadas e morosas pes-quisas muitas vezes infrutiacuteferas Por vezes a recompensa traduz-se num nome que vai possibilitar o estabelecimento de pistas de investigaccedilatildeo conexotildees ou ateacute uma indicaccedilatildeo do valor comercial de uma dada espeacutecie na obra de Franccedilois Valleriola Enarrationum medicinalium (X-14-17) eacute o proacuteprio antigo possuidor lsquoPaulo da sylva Manoelrsquo que manuscreve na paacutegina de rosto lsquocostou i000 reisrsquo

16 Numa aacuterea de investigaccedilatildeo ndash estudo de marcas de posse em espeacutecies documentais ndash muito negligenciada em Portugal (os trabalhos de Fer-nanda Maria Guedes de Campos constituem uma das poucas excepccedilotildees neste domiacutenio) e cujo desenvolvimento certamente recompensaria o labor dos investigadores da histoacuteria do livro e das bibliotecas

17 SobreosfundosprimitivosdaBPMPverCABRALLuiacutesMEIRELESMariaAdelaidendashTesourosdaBibliotecaPuacuteblicaMunicipaldoPorto[Lisboa]Inapa 1998 P 13-14


265

em algumas destas obras intuiacutemos de algum modo os interesses pessoais ou lsquoprofissionaisrsquo dos seus antigos possuidores e em determinadas ocorrecircncias eacute possiacutevel inclusivamente reconsti-tuir itineraacuterios de circulaccedilatildeo do livro ou mesmo nuacutecleos bibliograacuteficos18

O opuacutesculo Estat au vray du bien et revenu de lrsquoHostel-Dieu de Parishellip (z-11-63[6]) percorreu pelo menos trecircs bibliotecas aristocraacuteticas privadas em Franccedila inglaterra e Portugal e teve como antigos possuidores insignes colecionadores e biblioacutefilos como Jean-Baptiste Colbert (1619-1683) Hans sloane (1660-1753) e luiacutes Pinto de sousa Coutinho (1735-1804) da biblioteca deste uacuteltimo nobilitado 1ordm Visconde de Balsematildeo em 1801 identificamos jaacute vaacuterios livros de medicina e histoacuteria natural de que satildeo exemplos uma ediccedilatildeo aldina com texto em grego da obra de dioscoacuterides De materia medica (u-2-43) a coletacircnea De re medica de Antoacutenio luiacutes (Res-XVi-B-31[2]) ou a iconograficamente deslumbrante Historia naturalis Brasiliaehellip (u-13-4) Por uacuteltimo e porque o espaccedilo natildeo permite mais refira-se a ediccedilatildeo de Roterdatildeo 1649 do Tractatus Philosophicihellip de Francisco sanches (RJ-1867) que pertenceu ao ilustre meacutedico portuense Ricardo Jorge (1858-1939)

sendo certo que a difusatildeo do livro impresso foi acompanhada de perto pela vigilacircncia por vezes pouco atenta da censura e que o arqueacutetipo institucional da censura intelectual portuguesa vi-veu ateacute meados de setecentos da infraestrutura repressora organizada pela igreja Catoacutelica parece--me pertinente a opiniatildeo de Payan Martins19 quando afirma que ldquo(hellip) o comportamento das auto-ridades censoacuterias oscila entre uma severidade implacaacutevel e uma indiferenccedila tolerante (hellip)rdquo numa breviacutessima incursatildeo por temaacutetica algo complexa ateacute porque em muitos casos e em bom rigor natildeo se pode afirmar claramente que todas as marcas se devam ao exame inquisitorial20 detetamos num ou noutro livro meacutedico da BPMP inequiacutevocas manifestaccedilotildees de censura literaacuteria bem como rasu-ras seletivas no texto que denotam de algum modo intervenccedilotildees censoacuterias

Como seria de esperar os meacutedicos judeus ou cristatildeos-novos foram objeto de desconfianccedila e em alguns casos de apertada vigilacircncia ou mesmo perseguiccedilatildeo por parte do santo Ofiacutecio O caso do meacutedico albicastrense Joatildeo Rodrigues eacute conhecido e paradigmaacutetico a este propoacutesito Como eacute sa-bido o nome de Amato lusitano consta como autor proscrito nos iacutendices proibitoacuterios do seacutec XVi bem como no iacutendice expurgatoacuterio de 1624 Praticamente todos os exemplares das vaacuterias ediccedilotildees e variantes das Centuacuterias existentes na BPMP apresentam marcas de censura mais ou menos extensas

18 Referimo-nosemparticularaosnossostrabalhosldquoNorastoportuguecircsdabibliotecacientiacutefico-meacutedicadeHansSloaneproblemaseevidecircn-ciasrdquo Paacuteginas aampb Arquivos e BibliotecasS29 (2012)91-108eldquoAlguns livroscientiacuteficos (seacutecsXVIeXVII)no lsquoInventaacuteriorsquodaLivrariadosViscondes de Balsematildeordquo Aacutegora Estudos Claacutessicos em Debate 141 (2012) 47-61

19 MARTINS Maria Teresa Esteves Payan ndash A censura literaacuteria em Portugal nos seacuteculos XVII e XVIII Lisboa FCG FCT 2005 P 157

20 Eacute frequentemente problemaacutetico quando natildeo impossiacutevel destrinccedilar a tipologia destas marcas comprovar (ou natildeo) da sua coetaneidade e aquilatar se foram geradas pela pena do censorrevedor do impressor do(s) leitor(es) proprietaacuterio(s) do livro ou somente produto de mero vandalismo




ou evidentes21 As frases ou excertos censurados referem-se principalmente a assuntos meacutedicos sensiacuteveis na eacutepoca (reproduccedilatildeo sexualidade etc) e a questotildees ou vocaacutebulos de natureza religiosa que pudessem de algum modo (heresia apostasia hellip) suscitar controveacutersia

Muitas vezes natildeo eacute propriamente o conteuacutedo cientiacutefico ou meacutedico da obra que eacute censurado mas o autor tradutor ou comentador considerados proscritos por motivos relacionados com a con- fissatildeo religiosa Creio que teraacute sido o caso que verifiquei no exemplar dos Commentarii de varia rei me-dicae lectione (u-11-41) a pena e rasura do censor teve como objeto e em 3 ocorrecircncias unicamente o nome do seu autor Garcia lopes cristatildeo-novo natural de Portalegre cuja vida atribulada termi-nou num auto de feacute consumado na praccedila de eacutevora em 14 de dezembro de 1572 natildeo tendo tido destino tatildeo funesto zacuto lusitano natildeo escapou agrave intoleracircncia do revedor mesmo nas suas obras poacutestumas no tomo primeiro dos Opera omnia ediccedilatildeo de lyon de 1649 (u-14-16) o censor traccedilou 3 riscos no retrato do ilustre meacutedico lusitano e manuscreveu junto agrave legenda da gravura o reacutepro-bo lsquoAutor Danatusrsquo e numa outra ediccedilatildeo 1657 tambeacutem de lyon e com o mesmo tiacutetulo (u-14-8) as intervenccedilotildees censoacuterias incidiram em paacuteginas preliminares do primeiro tomo concretizando-se ndash riscos verticais na totalidade da mancha graacutefica e mutilaccedilatildeo de paacutegina ndash sobre epigramas laudatoacuterios de meacutedicos hebraicos da eacutepoca Mesmo o meacutedico particular do Papa Juacutelio iii o converso Andreacutes de laguna natildeo escapou agrave intransigecircncia censoacuteria A traduccedilatildeo e comentaacuterios do humanista de segoacutevia agrave obra de dioscoacuterides Acerca de la materia medicinal y de los uenenos mortiacuteferos traduzido de lengua griega en la vulgar castellana amp illustrado con claras y substantiales annotationeshellip numa segunda ediccedilatildeo de sala-manca 1566 patenteia no exemplar que analisei (u-13-20) rasuras seletivas marginais na Epistola Nuncupatoria mas algo abundantes ao longo do corpo do texto22 expurgando sobretudo frases e termos relacionados com botacircnica meacutedica

Conveacutem tambeacutem frisar que subsistem na BPMP diversas obras de autores proibidos que natildeo apresentam quaisquer vestiacutegios de atividade censoacuteria o que de algum modo corrobora a tolerante indiferenccedila inquisitorial a que acima aludi para aleacutem de outras explicaccedilotildees peculiares Por exemplo os Diaacutelogos de Amor de leatildeo Hebreu uma obra defesa que soacute podia circular expurgada de trechos que ldquopodiam fazer danosrdquo encontra-se surpreendentemente incoacutelume no exemplar (Y1-3-69) da ediccedilatildeo Veneziana de 1558 de igual modo no que concerne agrave obra do lsquoluteranorsquo leonhart Fuchs

21 Vejam-se por exemplo a Centuacuteria II ediccedilatildeo de Lyon Guillaume Rouilleacute 1580 cota BPMP X-9-53 censurada nas pp 29 99 101 223 512 553 584 e x5 e mais elucidativamente a primeira ediccedilatildeo do seacutec XVII (Bordeacuteus 1620) que agrega todas as Centuacuterias num uacutenico volume e cujo exem-plar BPMP RES-XVII-A-32 (natildeo referenciado no exaustivo census de DIAS Joatildeo Joseacute Alves op cit nota 10) ostenta intervenccedilotildees censoacuterias em nuacutemerosignificativopp[29]317-1845136187198-199215231240397-398406424-425436-437441458463-464(emtodaamancha do texto uma carta dedicatoacuteria a Joseacute Naci) 485 494 515 534 542-544 553 557-559 604 612 615 620 645 660 693 716 718 762-763 767 e 790 Frise-se que outros exemplares portugueses conhecidos desta ediccedilatildeo (eg Biblioteca Nacional de Portugal e Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto) apresentam tambeacutem censuras em muitas das paacuteginas acima indicadas A censura incidindo sobre a epiacutestola ao Duque de Naxos eacute de tal forma veemente que em alguns exemplares as paacuteginas 463-464 foram mesmo mutiladas

22 Nas paacuteginas 15 29 73 77 145 157 170 172 241 242 247 299 314 346 422 429 435 451 452 456-458 467 503-505 539 564 573 577 e 608


267

De Historia Stirpiumhellip (u-1-49) a que acima aludimos Como explicar entatildeo a presenccedila na BPMP destes exemplares bem como de outros tiacutetulos (versando diferentes aacutereas do conhecimento) e au-tores proscritos Penso que a justificaccedilatildeo se encontraraacute essencialmente no facto de muitas destas obras terem pertencido originalmente agraves livrarias monaacutesticas e conventuais que foram incorporadas na biblioteca portuense sabe-se que o regime censoacuterio vigente agrave eacutepoca admitia algumas exceccedilotildees designadamente na concessatildeo de licenccedilas especiacuteficas a membros do clero e da aristocracia para leitura e posse de livros proibidos a ldquoler e ter debaixo da chave e com o maior resguardordquo Os autoacute-grafos referentes a cleacuterigos individuais e as menccedilotildees manuscritas de pertenccedila a vaacuterias congregaccedilotildees religiosas percetiacuteveis em diversos impressos da BPMP assim o indiciam de igual modo sabe-se que algumas obras defesas pertenceram agrave livraria privada dos Viscondes de Balsematildeo tambeacutem in-tegrada na BPMP cujos titulares com especial ecircnfase para o 1ordm Visconde beneficiariam certamente de prerrogativas especiais para poderem possuir legalmente obras proibidas

natildeo obstante os livros banidos nunca deixaram de circular por outros meios e vias estaacute docu-mentado que muitos livros impressos ou adquiridos no estrangeiro acabavam por chegar a Portugal apesar de a censura tambeacutem exercer o seu controlo nas alfacircndegas e nos portos como por exemplo o da cidade invicta onde os dominicanos ao serviccedilo da inquisiccedilatildeo buscavam incessantemente os livros defesos nos navios Ao contrabando mariacutetimo e terrestre que engendrava variados e ardi-losos estratagemas de dissimulaccedilatildeo dos impressos associavam-se as astuacutecias dos livreiros na venda ilegal de livros defesos a particulares que iludiam natildeo poucas vezes a fiscalizaccedilatildeo das autoridades Ocorrem ainda circunstacircncias senatildeo uacutenicas pelo menos pouco canoacutenicas como a do Bibliotecaacuterio do cenoacutebio cruacutezio de Coimbra na segunda metade de setecentos d Pedro da encarnaccedilatildeo cujo esclarecimento teraacute salvado muitas espeacutecies da adulteraccedilatildeo ou mesmo da pura eliminaccedilatildeo fiacutesica23 O empreacutestimo de livros entre casas religiosas e entre particulares a atividade diplomaacutetica o colecionis-mo e a bibliofilia tambeacutem desempenharam casuisticamente um papel importante na sobrevivecircncia de muitos impressos proibidos atualmente existentes em bibliotecas portuguesas24 BPMP incluiacuteda

6 notas Finais

Como referido na nota introdutoacuteria a este texto o objetivo primordial do presente trabalho eacute contribuir para a divulgaccedilatildeo puacuteblica do lsquolivro meacutedicorsquo ndash seacuteculos XVi e XVii ndash existente nas

23 Cf CARVALHO Joaquim Martins Teixeira de ndash A livraria do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra estudo dos seus cataacutelogos livros de muacutesica e coro incunaacutebulos Coimbra Imprensa de Universidade 1921 Registe-se que muitos impressos (e coacutedices iluminados) originaacuterios de Santa Cruz de Coimbra integram hoje os fundos patrimoniais da BPMP

24 Especificamentesobrecensuranolivromeacutedicoassinale-seaquiumarecentecomunicaccedilatildeodeHerveacuteBaudryintituladaldquoThecensorshipofPor-tuguese medical books a methodological description of the copies from the Library of the Oporto University Faculty of Medicinerdquo apresentada no3ordmEncontroNacionaldeHistoacuteriadasCiecircnciasedaTecnologia(Eacutevora26-28deSet2012)ecujapublicaccedilatildeoaguardamoscomexpetativa




coleccedilotildees patrimoniais da Biblioteca Puacuteblica Municipal do Porto colmatando uma lacuna existente neste domiacutenio e desmistificando de algum modo o estereoacutetipo de que os fundos bibliograacuteficos da biblioteca portuense ainda que sejam de livro antigo incidem exclusivamente (ou quase) em disciplinas da aacuterea das humanidades Como objetivo secundaacuterio mas igualmente importante acalenta-se a expectativa de que uma informaccedilatildeo bibliograacutefica mais detalhada decorrente dos trabalhos de catalogaccedilatildeo retrospetiva que incidiratildeo na maioria das obras que acima enfatizei possa potenciar contextualizaccedilatildeo mais precisa pesquisas complementares ou mesmo novas abordagens em domiacutenios como a ediccedilatildeo e circulaccedilatildeo censura literaacuteria audiecircncias e praacuteticas de leitura e antigos possuidores facilitando o desejaacutevel aprofundamento e confronto com outras leituras O cataacutelogo em suporte eletroacutenico possibilitaraacute tambeacutem a atualizaccedilatildeo e enriquecimento ulterior dos registos bibliograacuteficos atraveacutes da indicaccedilatildeo de marcas de posse e de censura menccedilatildeo a manifestaccedilotildees digitalizadas destas obras existentes em bibliotecas de referecircncia e contribuiccedilotildees pertinentes resultantes do coloacutequio internacional a realizar e estudos produzidos no acircmbito do projeto ldquoHumanismo diaacutespora e Ciecircnciardquo

Relativamente aos livros que aqui sumariamente evidenciei constata-se sem margem para duacute-vidas que nos fundos da BPMP avultam fontes primaciais para a histoacuteria da medicina em Portugal e aleacutem-fronteiras com ecircnfase para alguns cimeacutelios emblemaacuteticos de que a editio princeps da Fabrica de Vesalius eacute exemplo paradigmaacutetico Registe-se ainda que para aleacutem da sua evidente importacircncia cientiacutefico-meacutedica iconograacutefica e patrimonial muitas destas obras satildeo suscetiacuteveis de alcanccedilar um valor transacionaacutevel natildeo despiciendo25 natildeo obstante o valioso nuacutecleo de livro meacutedico quinhen-tista e seiscentista existente na BPMP importa tambeacutem constatar algumas ausecircncias de nomeada para aleacutem do jaacute acima mencionado Garcia de Orta e os seus Coloacutequios natildeo descortinei qualquer tiacutetulo de Conrad Gessner Ambroise Pareacute Bartolomeo eustacchio Gabriello Fallopio Fabricius ab Aquapendente Fortunio liceti Govard Bidloo entre outros autores que poderiam ser lembrados Parece-me contudo inquestionaacutevel a relevacircncia qualitativa e quantitativa deste precioso nuacutecleo de bens moacuteveis de interesse cultural conforme procurei salientar com alguns exemplos concretos e concisa exposiccedilatildeo de motivos fundamentais

ensaiando-se aqui apenas uma sondagem e sem pretensatildeo de esgotar o assunto eacute tambeacutem per-cetiacutevel neste nuacutecleo a circulaccedilatildeo e a leitura em Portugal de livros de medicina de mateacuteria meacutedica e de histoacuteria natural alguns deles proibidos contrariando algumas opiniotildees divergentes relativamente a este ponto de vista Mesmo defesos livros e novas ideias a eles associadas nunca deixaram de circular por diversos meios e vias O recurso (in)direto ao mercado editorial aleacutem-fronteiras eacute bem patente na abundacircncia de tiacutetulos e ediccedilotildees dadas agrave estampa em prelos europeus incluindo nestas

25 Atiacutetulodemeroexemploentreoutrosquepoderiacuteamosapresentarrefira-sequenumleilatildeopromovidopelaChristiersquos em 2011 (Londres 23 novembro) uma editio princeps da Fabrica de Vesalius foi arrematada por um valor superior a 32500000 euro


269

a criaccedilatildeo intelectual da insigne constelaccedilatildeo dos autores meacutedicos portugueses judeus ou cristatildeos--novos da diaacutespora Para aleacutem da sua simples existecircncia algumas destas espeacutecies bibliograacuteficas apresentam anotaccedilotildees marginalia sublinhados e outros sinais de que foram efetivamente lidas e manuseadas As marcas de posse que sobrevivem em alguns destes impressos permitem em casos pontuais identificar antigos detentores individuais reconstituir itineraacuterios de circulaccedilatildeo do livro e no caso de lsquopertencesrsquo a livrarias monaacutesticas e conventuais confirmar o papel notaacutevel que algumas congregaccedilotildees religiosas desempenharam no ensino e na disseminaccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico e meacutedico em Portugal

Porque a ars medica ldquoumana cosa egraverdquo ndash glosando as palavras inaugurais do proeacutemio do Decameron e o tiacutetulo de um ensaio do ilustre neurocirurgiatildeo Joatildeo lobo Antunes26 ndash obras marcantes da histoacute-ria da medicina e disciplinas que com ela dialogaram proficuamente repousam apoacutes 4 ou 5 seacuteculos nas estantes da biblioteca portuense aguardando que leitores e investigadores as redescubram explorem folheiem leiam e estudem recuperando-lhes assim o seu significado autecircntico

26 ANTUNES Joatildeo Lobo ndash Inquietaccedilatildeo Interminaacutevel ensaios sobre eacutetica das ciecircncias da vida 2ordf ed Lisboa Gradiva 2010 P 15-30

bibliograFia

AndRAde Antoacutenio Manuel lopes ndash Ciecircncia negoacutecio e Religiatildeo Amato lusitano em Antueacuterpia lisboa Centro de estudos Claacutessicos 2010 P 9-49 sep de Revisitar os saberes referecircncias claacutessicas na cultura portuguesa do Renascimento agrave Eacutepoca Moderna

CARleY James P tite Colin G C ed lit ndash Books and collectors 1200-1700 essays presented to Andrew Watson london the British library 1997

COnGRessO inteRnACiOnAl inQuisiCcedilatildeO PORtuGuesA teMPO RAzatildeO e CiRCunstacircnCiA lisBOA 2004 ndash inquisi-ccedilatildeo portuguesa tempo razatildeo e circunstacircncia lisboa satildeo Paulo Prefaacutecio 2007

COstA Palmira Fontes da CARdOsO Adelino org ndash Percursos na histoacuteria do livro meacutedico 1450-1800 lisboa Colibri 2011

CuRtO diogo Ramada ndash A histoacuteria do livro em Portugal uma agenda em aberto Leituras revista da Biblioteca Nacional 9-10 (2001-2002) 13-61

diAs Joatildeo Joseacute Alves ndash Amato lusitano e a sua obra seacuteculos XVi e XVii lisboa Biblioteca nacional de Portugal Centro editor livreiro da Ordem dos Meacutedicos Centro de estudos Histoacutericos-univ nova 2011

diCtiOnARY OF sCientiFiC BiOGRAPHY new York Charles scriberrsquos sons 1970-80 16 vols

FROnt dov ndash the expurgation of Medical Books in sixteenth-Century spain Bulletin of the History of Medicine 75 2 (2001) 290-296

GRAnt edward ndash Os fundamentos da ciecircncia moderna na idade Meacutedia Porto Porto editora 2004

leMOs Maximiano de ndash Histoacuteria da medicina em Portugal doutrinas e instituiccedilotildees 2a ed - lisboa dom Quixote Ordem dos Meacutedicos 1991 2 vols

lindeMAnn Mary ndash Medicina e sociedade no iniacutecio da europa moderna novas abordagens da histoacuteria europeia lisboa Replicaccedilatildeo 2002




lisBOA Joatildeo luiacutes ndash lrsquoeurope des livres auteurs portugais aux XVie et XViie siegravecles in BetHenCOuRt Francisco (dir) ndash Lrsquoeacutedition drsquoauteurs portugais agrave lrsquoetranger lisboa Paris Centro Cultural Calouste Gulbenkian 2004 P 3-17

MARtins Maria teresa esteves Payan ndash A censura literaacuteria em Portugal nos seacuteculos XVii e XViii lisboa FCG FCt 2005

MediCinA nA BeiRA inteRiOR dA PReacute-HistoacuteRiA AO seacuteCulO XXi CAdeRnOs de CultuRA Castelo Branco [sn] 1989 ndash

nAVARRO BOnillA diego ndash las huellas de la lectura marcas y anotaciones manuscritas en impresos de los siglos XVi a XViii in CAs-tillO GoacuteMez Antonio (coord) ndash Libro y lectura en la Peniacutensula Ibeacuterica y Ameacuterica siglos XIII a XVIII Valladolid Junta de Castilla y leoacuten 2003 P 243-288

PeARsOn david ndash Provenance research in book history a handbook london the British library 1998

PinA luiacutes de ndash Histoacuteria da histoacuteria da medicina em Portugal lisboa [sn dl 1956] sep de Impr Meacutedica 20

PORtO Biblioteca Puacuteblica Municipal ndash tipografia portuguesa do seacutec XVi nas colecccedilotildees da Biblioteca Puacuteblica Municipal do Porto = Portu-guese printing (16th century) in the Oporto Municipal Public library collection Porto CMP-BPMP 2006

PORtuGAl Biblioteca nacional ndash Arte meacutedica e imagem do corpo de Hipoacutecrates ao final do seacuteculo XViii lisboa BnP 2010

RAMAlHO Ameacuterico da Costa ndash estudos sobre o seacuteculo XVi Paris FCG-CCP 1980

RAsteiRO Alfredo ndash Medicina judaica lusitana seacuteculo XVi lisboa Quarteto 2000

ReuniatildeO inteRnACiOnAl de HistoacuteRiA dA MediCinA lisBOA 2001 ndash Actas da reuniatildeo internacional de histoacuteria da medicina = Proceedings of the international meeting of the history of medicine = Actes de la reacuteunion internationale drsquohistoire de la meacutedecine lisboa [sl] 2001

RudeRMAn david B ndash Jewish thought and scientific discovery in early Modern europe detroit Wayne state university Press 2001

sHAW david J ed lit ndash Books and their owners provenance information and the european cultural heritage london CeRl 2005

siRAisi nancy G ndash Medieval and early Renaissance medicine an introduction to knowledge and practice Chicago london the university of Chicago Press 1990

sOusA Armando tavares de ndash Curso de Histoacuteria da Medicina das origens aos fins do seacuteculo XVi 2a ed rev lisboa FCG 1996

steFAni Marta ndash Histoacuteria da ciecircncia e da tecnologia a revoluccedilatildeo cientiacutefica Porto Asa 2002

tuBiAnA Maurice ndash Histoacuteria da medicina e do pensamento meacutedico lisboa teorema imp 2000

WilKe Carsten l ndash Histoacuteria dos judeus portugueses lisboa ediccedilotildees 70 imp 2009

WYMeR norman ndash Medical scientists and doctors lives of great men and women london Oxford university Press 1958


271

EL COMENTARIO DE FRANCISCO SAacuteNCHEZ A LA fisiogNomiacuteA DE pSEuDO ARISToacuteTELES

MIGuEL AacuteNGEL GONZAacuteLEZ MANJARReacuteS Universidad de Valladolid

RESuMOEl meacutedico y filoacutesofo esceacuteptico Francisco Saacutenchez (ca 1551-1623) conocido sobre todo por su Quod nihil scitur tiene una gran obra meacutedica y algunos tratadillos filosoacuteficos que sus hijos publicaron poacutestumamente Entre estos uacuteltimos destaca un comentario breve a la Fisiognomiacutea de Pseudo Aristoacuteteles en el que da cierta validez a la discipli-na en tanto que ars de base empiacuterica reflexiona sobre la probabilidad de los signos e incluye algunas interesantes anotaciones filoloacutegicas

Palavras-chaveFrancisco Saacutenchez fisiognomiacutea Pseudo Aristoacuteteles signos

AbSTRACTThe doctor and sceptical philosopher Francisco Saacutenchez (ca 1551-1623) mainly known for his Quod nihil scitur has an extensive medical bibliography and some philosophical little treatises that his sons had posthumously published Among the latter a brief commentary to the Physiognomy of Pseudo Aristotle stands out here he gives certain validity to the discipline in so far as ars in empirical nature reflects about the probability of signs and in-cludes some interesting philological notes

KEywORDSFrancisco Saacutenchez physiognomy Pseudo Aristotle signs



introDuCCiOacuten

de origen espantildeol nacido en tuy y criado en Braga el filoacutesofo y meacutedico Francisco saacutenchez (ca 1551-1623) emigroacute con su familia a Burdeos en 1562 en cuyo Colegio de Guyena recibioacute una completa educacioacuten humaniacutestica Realizoacute sus estudios meacutedicos en Roma aunque obtuvo los tiacutetulos en Montpellier en 1574 se trasladoacute luego a toulouse donde pasoacute el resto de su vida desde 1582 y durante treinta antildeos como meacutedico del Hocirctel dieu que compaginoacute desde 1585 con la ensentildeanza de filosofiacutea en la Facultad de Artes de la ciudad francesa en 1612 obtuvo ya una caacutetedra de medicina que ocupoacute hasta su muerte en 16231

lo poco que saacutenchez publicoacute en vida tuvo que ver con la reivindicacioacuten de su pensamiento esceacuteptico el poema de criacutetica astroloacutegica Carmen de cometa (lioacuten 1578) y el tratado Quod nihil scitur (publicado en lioacuten en 1581 pero compuesto unos cuantos antildeos antes) esta segunda obra se hizo muy ceacutelebre desde bien pronto y convirtioacute a saacutenchez en uno de los representantes maacuteximos del escepticismo europeo el texto formoacute parte en 1636 de los Tractatus philosophici que sus propios hijos editaron en toulouse como apeacutendice a unos mucho maacutes amplios Opera medica Aun cuando en Quod nihil scitur anuncia la redaccioacuten de otros textos filosoacuteficos maacutes sistemaacuteticos (Examen rerum Libri naturae De methodo sciendi Tractatus de anima Tractatus de loco Tractatus de vita) nada de ellos se conserva y se duda incluso de que llegara a escribirlos2 los otros trabajos filosoacuteficos incluidos en el elenco de 1636 son comentarios a Aristoacuteteles de raiacutez docente De longitudine et brevitate vitae In librum Aristotelis Physiognomicon commentarius y De divinatione per somnum ad Aristotelem Aun cuando en ellos se aprecia menos su tendencia esceacuteptica la conviccioacuten de que toda ciencia perfecta era ficticia se observa tambieacuten en una carta al matemaacutetico italiano Cristoforo Clavio en que saacutenchez arremete contra la veracidad de la matemaacutetica3

la postura antidogmaacutetica de saacutenchez aparece tambieacuten en sus obras meacutedicas en ellas se adopta un sesgo praacutectico en torno a las enfermedades y su tratamiento pues las aborda con una actitud empiacuterica y casi probabilista4 no concibe la medicina como una ciencia perfecta demostrativa sino como un ars conjetural que permitiriacutea cierto eacutexito praacutectico por la acumulacioacuten de experiencias y su asimilacioacuten racional no existiriacutea pues contradiccioacuten entre su escepticismo y su profesioacuten meacutedica

1 Una buena siacutentesis de su vida se ofrece en las introducciones a las versiones inglesa y alemana de Quod nihil scitur (QNS) Limbrick 1988 4-24 Howald 2011 xii-xxi

2 Cf Howald 2011 xxxvii-xxxviii Algunos estudiosos ofrecen una interpretacioacuten mitigada de su escepticismo (Limbrick 1988 78-89) Caluori 2007 mantiene la opcioacuten contraria Saacutenchez aceptariacutea solo un deacutebil acercamiento a la verdad conjugando escepticismo y empiricismo

3 IncluidaenSaacutenchez1955ay2011UnanaacutelisisdelostratadosfilosoacuteficospuedeverseenLimbrick198828-47Howald2011xxi-xxxviiiBuccolini 2011

4 Siraisi 2011


431cataacutelogo

197 SuAacuteREZ FRANCISCO 1548-1617 sj

R Patris Francisci suarez e societate iesu Metaphysicarum disputationum in quibus et vniversa naturalis theologia ordinate traditur et quaestiones ad omnes duodecim Aristotelis libros pertinentes accurategrave disputantur tomi duo Cum quinque indicibus quorum rationem vide lector pagina sequente - Coloniae Allobrogum excudebat Philippus Albertus MdCXiV [1614] - [8] 468 p 516 [66] p 35 cm (folio)

Assinaturas [par]4 A-2Q6 a-3b6 3c4

BPMP R-14-5

httpbibliotecascm-portoptipac20ipacjspampuri=full =3100024~458042~0

198 TACquET ANDReacute 1612-1660 sj

Arithmeticae theoria et praxis auctore Andrea tacquet e societate Jesu matheseos professore - editio ultima correctior - Bruxellis apud Franciscum Foppens MdClXXXiii [1683] - [8] 383 [4] [1 br] p [1] f 16 cm (8vo)

1 f entre p 112-113 (G8-H1)Assinaturas 4 A-2A8 2B2

Pert ldquoJMBArdquo ldquoAo Maga rdquo

BPMP R-7-18


199 TEIvE DIOGO DE ca 1514-ca 1565

Cotildementarius de rebus in india apud dium gestis anno salutis nostrae MdXlVi iacobo teuio lusitano autore - Conimbricae excudebant ioannes Barrerius amp ioannes Aluarus 1548 - [8] 92 p 22 cm (4to)

ded ldquoRegi ioanni iiirdquono rosto escudo das armas reais com grifo no timbre Capitais decoradasAssinaturas pi4 a-k4 l6

F manchadas de humidade aparado sobretudo na parte inf afectando texto

BPMP Res-XVi-A-143[1]


200 TEIXEIRA ANToacuteNIO 1602-1687 OssT

epitome das noticias astrologicas para a Medicina por Fr Antonio texeira[sic] - lisboa na officina de ioam da Costa 1670 - [12] 374 [ie 368] [12] p 21 cm (4to)

Assinaturas 4 2 A-2z4 3e4 3F2

F manchadas de humidade e acidez

BPMP Res-XVii-A-251




201 TESAuRO EMANuELE 1592-1675

Filosofia moral derivada de la alta fuente del grande Aristoteles stagirita escribiola en toscano el don Manuel thesauro Patricio traducela en espantildeol don Gomez de la Rocha y Figueiroa - lisboa en la imprenta de Antonio Craesbeeck de Mello 1682 - [4] 440 [ie 432] [16] p 20 cm (4to)

erro tipograacutefico de paginaccedilatildeoAssinaturas pi2 A-2A8 2B4 2C-2d8 2e4 [adaga]8

F manchadas de humidade e acidez f [1] do proacutelogo manchada

BPMP Res-XVii-A-130


202 THOMAS MORE SANTO 1478-1535

thomae Mori angliae ornamenti eximii lvcubrationes ab innumeris mendis repurgata Vtopia libri ii Progymnasmata epigrammata ex lvciano conuersa quaedam declamatio lucianicae respondens epistolae Quibus additae sunt duae aliorum epistolae de uita moribus amp morte Mori adiuncto rerum notabilium indice - Basil apud episcopium F 1563 - [32] 530 [46] p il 17 cm (8vo)

Assinaturas [alfa]-[beta]8 a-z8 A-n8

Pert ldquodo Principal Castrordquo

BPMP n-6-12


203 TOmAacutes AacutelvarO Fl 1509

liber de triplici motu proportionibus annexis magistri Aluari thome ulixbonen[sis] philosophicas suiseth calculato[n]es ex parte declara[n]s - Venundantur parrhisiis a ponceto le preuxt 1509 ( impressum parris[iis] per Guillermum Anabat) - [2] 277 [3] p 28 cm (4to)

Assinaturas a-b6 c4 d6 e4 f6 g4 h6 i4 k6 l4 m6 n4 o6 p4 q6 r4 s6 t4 v-x6 y4 z6 A4 B6 C-d4 e5

BPMP Y1-3-40


204 vALLERIOLA FRANCcedilOIS 1504-1580

enarrationum medicinalium libri sex item responsionum liber vnus Francisco Valleriola medico autore cum indice rerum notatu dignarum locupletissimo - lugduni apud sebastianum Gryphium Mdliiii [1554] - [18] 466 [ie 470] [52] p 35 cm (folio)

Assinaturas pi2 2A8 a6-z6 A6-M6 n4 O6-t6 V8

Pert ldquode Paulo da sylva Mattosrdquo ldquoJMBArdquo

BPMP X-14-17



433cataacutelogo

205 vALLES FRANCISCO 1524-1592

Methodus medendi Francisci Vallesij covarrubiani - Conimbricae ex typis viduae emmanuelis de Carvalho acusta de Manoel de Figueiredo mercador de libros 1666 - [8] 215 [32] p 15 cm (8vo)

Assinaturas pi4 A-n8 O4 a-b8


BPMP Res-XVii-a-231


206 vASCONCELOS SIMAtildeO DE 1597-1671 sj

Chronica da Companhia de Jesu do estado do Brasil e do que obraratildeo seus filhos nesta parte do novo Mundo pello Padre simatildeo de Vasconcellos - lisboa na officina de Henrique Valente de Oliueira anno MdClXiii [1663] - [14] 188 528 [12] p [1] f estampa il 34 cm (folio)

Assinaturas pi2 [cruz de malta]3 2[cruz de malta]2 A-Y4 z1 a2 A-3V4 a4 b2Conteacutem de Beata Virgine dei Matre Maria pelo Padre Joseacute de Anchieta

Pert ldquosta Cruz de Coimbrardquo Acccedilatildeo de insectos afectando margens das f de rosto e guardas

BPMP Res-XVii-C-2


203



207 vESALIuS ANDREAS 1514-1564

Andreae Vesalii Bruxellensis scholae medicorum Patauinae professoris de humani corporis fabrica libri septem - Basileae ex officina ioannis Oporini anno salutis reparatae MdXliii mense iunio [Junho 1543] - [12] 659 [i e 663] [37] p il 39 cm (folio)

Assinaturas 6 A-z6 a-z6 2A-2l6 2M8

Pert ldquoda Congccedilatildeo do Orato do Portordquo

BPMP X-13-3



Radicis chynae usus Andrea Vesalio - lugduni sub scuto Coloniensi 1547 - 290 [38] p 13 cm (12mo)

Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]


209 vETTORI pIETRO 1499-1585

Commentarii in tres libros Aristotelis de arte dicendi Positis ante singulas declarationes graecis verbis auctoris - Florentiae in officina Bernardi iunctae MdXlViii [1548] - [16] 637 [ie 645] [27] p 33 cm (folio)

Assinaturas [floratildeo]8 A-2z6 3A-3K6

BPMP l-13-69



Petri Victorii Commentarii in librum demetrii Phalerei de elocutione positis ante singulas declarationes graecis vocibus auctoris ijsdemque ad verbum latine expressis additus est rerum et verborum memorabilium index copiosus - Florentiae in officina iuntarum Bernardi F MdlXii [1562] - [20] 268 [12] p 31 cm (folio)

Assinaturas a6 b4 A-Y6 z4 2A4

BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207



211 vIEIRA ANToacuteNIO 1608-1697 sj

sermoens do P Antonio Vieira da Companhia de iesu pregador de sua Alteza - em lisboa na officina de ioam da Costa MdClXXiX-1699 [1679-1699] - 12 v 22 cm (4to)

A partir do 2o volume ldquona officina de Miguel deslandes a custa de Antonio leyte Pereyrardquo

BPMP Res-XVii-A-74A


212 vIRDuNG JOHANN 1463-ca 1538

tabulae resolutae de supputandis siderum motibus clarissimi mathematici amp medici ioannis Virdungi Hasfurdij ex quibus omnium siderum motus tam ad praeterita [que] ad futura quantu[m]uis longatempora facile calculari possunt - nunquam antea typis excusae ad librum hunc iacobus Curio H - norimbergae apud iohan Petreium MdXlii [1542] - [2] 3-61 [1] f il 21 cm (4to)

Assinaturas a-k4 l4-O4 P6

Pert ldquoMArdquo ldquoPaulus de pina dataiacutederdquo

BPMP R-9-10


213 vIvES JuAN LuIS 1492-1540

ioannis lodouici Viuis Valentini de ratione dicendi libri tres - louanij ex officina Rutgeri Rescij 1533 - 277 [129] p 17 cm (8vo)

Assinaturas A4 B-z8 a-c8

BPMP i-6-56



ioannis lodouici Viuis Valentini de anima et vita libri tres Opus insigne nunc primum in lucem editum Rerum amp uerborum in ijsdem memorabilium copiosissimus index - Basileae in officina Roberti VVinter anno MdXXXViii mense septembri [setembro 1538] - [8] 264 [48] p 23 cm (4to)

Assinaturas [alfa]4 A-2Q4

BPMP R-1-2



437cataacutelogo


ioannis lodouici Viuis Valentini de disciplinis libri XX in tres tomos distincti cum indice nouo eo[que] accuratissimo - excudebat Coloniae ioannes Gymnicus an mense ianuario MdXXXii [Janeiro 1532] - [32] 622 p 15 cm (8vo)

Assinaturas AA-BB8 A-2Q8

BPMP M-6-27


216 wERNER JOHANN 1468-1528

Jn hoc opere haec continentur libellus ioannis Verneri nurembergen super vigintiduobus elementis conicis eiusdem Co[m]mentarius seu paraphrastica enarratio in vndecim modos conficiendi eius problematis eiusdem Co[m]mentatio in dionysodori problema quo data sphaera plano sub data secat[ionis] ratione ioanne Vernero nouissime co[m]pertus demo[n]stratus[que] eiusdem ioannis de motu octauae sphaerae tractatus duo eiusdem summaria enarratio theoricae motus octauae sphaerae - impressum nurembergae per Fridericum Peypus impensis lucae Alantsee Ciuis amp Bibliopolae anno MdXXii [1522] - [99] f il 22 cm (8vo)

Assinaturas a-b8 c-y4 z3

Pert ldquoda livrarya do collegio de sao Hierordquo

BPMP Y1-3-30


217 wILLIS THOMAS 1621-1675

Clarissimi viri thomae Willis de anima brutorum quae hominis vitalis ac sensitiva est exercitationes duae Quarum prior philosophica ejusdem naturam partes potentias amp affectiones tradit altera pathologica morbos qui ipsam sedem ejus primariam nempe cerebrum amp nervosum genus afficiunt explicat eorumque therapeias instituit - lugduni sumptibus Joannis Antonii Huguetan amp soc MdClXXVi [1676] - [24] 298 [12] p 8 f est il 23 cm (4to)

Assinaturas a4 atilde4 ẽ4 A4-2Q4

Pert ldquoCollegii lugdunensis sanctissimae trinitatis soc Jesu catalogo inscriptus ano 1679rdquo

BPMP R-11-17




218 ZACCHIA pAOLO 1584-1659

Pauli zacchiae romani totius status ecclesiastici proto-medici generalis quaestionum medico-legalium tomi tres Olim aucti et emendati a viro celeberrimo Joh daniel Horstio celeberrimi jcti amp medici quorum catalogus post praefationem videre est illustrati emendati atque adaucti a Georgio Franco Opus omnibus juris utriusque amp medicinae peritis nec non tribunalium (ecclesiastici civilis) Cum gratia amp privilegio sacrae Caesar majestatis - Francofurti ad Moenum sumtibus Johannis Melchioris Bencard MdClXXXViii [1688] - 3 t em 1 vol ([36] 482 [4] 483-825 [61] [6] 326 [36] p) 35 cm (folio)

Assinaturas )(6 )( )(4 )( )( )(8 A-2Q6 2R-2s4 csi2 A-2F6 (A)-(F)4 (G)6 )(2 )( )(1 A-z6 2A-2G6 2H2

Anotaccedilatildeo manuscrita na p [2] ldquoB Portuense duplicadordquo (uacuteltima palavra rasurada)

BPMP X-14-43


219 ZACuTO LuSITANO 1575-1642

zacuti lusitani de Medicorum principum historia Opus absolutissimum in quo medicinales omnes historiae de morbis internis quae passim apud principes medicos occurrunt concinno ordine disponuntur paraphrasi et commentariis illustrantur necnon quaestionibus dubiis et observationibus exquisitissimis exornantur - editio postrema - lugduni sumptibus ioannis-Antonii Huguetan in vico Mercatorio ad insigne sphaerae MdCXlii [1642] - 2 vol ([72] 984 [32] 54 655 [ie 653] [65] 148 [8] p) 36 cm (folio)

P de tiacutet do t 2 zacuti lusitani Praxis historiarum in qua morborum omnium internorum curatio ad principum medicorum mentem explicatur graviora dubia ventilantur ac resolvuntur practicae denique observationes permultae suis locis insperguntur Praemittitur ldquointroitus medici ad praxinrdquo necnon ldquoPharmacopoea elegantissimardquo Accessit ldquoPraxis medica admirandardquo editio postrema agrave mendis correctissima lugduni sumptibus ioannis Antonii Huguetan vicacirc Mercatoriacirc ad insigne sphaerae MdCXliiiAssinaturas atilde4 b-f6 g2 A-4n6 4O-4R4 atilde4(-atilde4) ẽ6 ĩ6 otilde6 ű6 A-K6 l-M4 n-3M6 3n8 [par]8 A-l6 M8 n4

Pert ldquode Manoel Valadaresrdquo ldquoManoel Antonio de Mena Falcaordquo

BPMP u-14-47




este livro foi composto em tipo Garamond tendo sido impresso em papel coucheacute matte 150 gramas com

capa em trucard 350 gramas plasticizada a matte esta obra acabou de imprimir-se

aos 5 dias do mecircs de marccedilo de 2013 na Greca - Artes Graacuteficas lda

com a tiragem de 500 exemplares







porto 2013






CATAacuteLOGO









DESIGNPedro Velho


ISbN978-972-634-121-5978-972-789-374-4








EXpOSICcedilAtildeO







ApOIOS

ISbN Digital978-989-26-0945-4





ESTUDOS

















AUTORES 351

CATAacuteLOGO 365

sumaacuterio



7nota De abertura

nota De abertura


























11













89








bibliograFia




















91










1





















186


95












2






97
























177
















































263















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47













CATAacuteLOGO









DESIGNPedro Velho


ISbN978-972-634-121-5978-972-789-374-4








EXpOSICcedilAtildeO







ApOIOS

ISbN Digital978-989-26-0945-4





ESTUDOS

















AUTORES 351

CATAacuteLOGO 365

sumaacuterio



7nota De abertura

nota De abertura


























11













89








bibliograFia




















91










1





















186


95












2






97
























177
















































263















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47











ESTUDOS

















AUTORES 351

CATAacuteLOGO 365

sumaacuterio



7nota De abertura

nota De abertura


























11













89








bibliograFia




















91










1





















186


95












2






97
























177
















































263















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47










7nota De abertura

nota De abertura


























11













89








bibliograFia




















91










1





















186


95












2






97
























177
















































263















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47


























11













89








bibliograFia




















91










1





















186


95












2






97
























177
















































263















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47















89








bibliograFia




















91










1





















186


95












2






97
























177
















































263















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47










bibliograFia




















91










1





















186


95












2






97
























177
















































263















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47









91










1





















186


95












2






97
























177
















































263















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47











1





















186


95












2






97
























177
















































263















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47


























186


95












2






97
























177
















































263















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47









95












2






97
























177
















































263















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47












2






97
























177
















































263















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47









97
























177
















































263















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47


























177
















































263















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47
















































263















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47
















265

















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47
















267



6 notas Finais












269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47















269




bibliograFia



































271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47






























271









introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47










introDuCCiOacuten







4 Siraisi 2011


431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47









431cataacutelogo




BPMP R-14-5






BPMP R-7-18












BPMP Res-XVii-A-251








BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47














BPMP Res-XVii-A-130






BPMP n-6-12





BPMP Y1-3-40






BPMP X-14-17



433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47









433cataacutelogo





BPMP Res-XVii-a-231






BPMP Res-XVii-C-2


203







BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47














BPMP X-13-3




Assinaturas A-V8 X4

BPMP Y-2-55[2]





BPMP l-13-69





BPMP l-13-67



435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47









435cataacutelogo

207






BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47













BPMP Res-XVii-A-74A






BPMP R-9-10





BPMP i-6-56





BPMP R-1-2



437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47









437cataacutelogo




BPMP M-6-27






BPMP Y1-3-30






BPMP R-11-17








BPMP X-14-43






BPMP u-14-47














BPMP X-14-43






BPMP u-14-47









Humanismo, Diáspora e...através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia...

Documents

Transcript of Humanismo, Diáspora e...através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia...