I Simpósio Quilombola 2

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I SIMPÓSIO DE HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E QUILOMBOLA – 2009 Oficina de Educação Quilombola Faxinal do Céu Outono de 2009 Prof. Georgina Helena Lima Nunes (UFPel- Pelotas/RS)

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I SIMPÓSIO DE HISTÓRIA E CULTURA

AFRO-BRASILEIRA, AFRICANA E QUILOMBOLA – 2009

Oficina de Educação Quilombola

Faxinal do Céu

Outono de 2009

Prof. Georgina Helena Lima Nunes (UFPel- Pelotas/RS)

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Sejam bem vindos (as) ! O canto é o grito da nossa existência/resistência!

Ai!Jambá cacumbi queremá

Turira auê,Jambá cacumbi queremá

Mapiá turiTurira auê, mapiáTurira auê, mapiá

Turira auê, mangorombô

(Melodia extraída de “O Canto dos Escravos”,

música que não foi compreendida, ainda, o seu “fundamento”... E precisa?)

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A DI-VER-SI-DA-DE que nos liga, estanca as chuvas do não respeito às diferenças!

Conta-se que Oxumarê não tinha simpatia pela chuva.Toda a vez que ela reunia suas nuvens e molhava a terra por muito tempo,Oxumarê apontava para o céu ameaçadoramente Com sua faca de bronzeE fazia com que a Chuva desaparecesse, dando lugar ao ARCO-IRIS...

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Nós e as coisas...

Bem, pensemos que sempre somos

movidos por nossas idéias e necessidades

de estar no mundo. O mundo que temos ou

queremos, ou melhor, que não desejamos

perder, pode caber em um pequeno

espaço... e ser significativo pra tornar

outros espaços mais habitáveis

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O que vocês colocaram em seu saquinho?

Que relação fazem com as suas partidas, travessias e chegadas?

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Educação Quilombola

O que sugere esta oficina?

O que faremos durante as cinco horas?

Educação... O que é?

Pra quilombo educação precisa ser diferente?

Por que?

Qual a relação desta vivência com a temática?

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A terra em saquinhos...

Os negros escravizados levavam à cintura

pequenos saquinhos de terra a fim de se

lavarem de saudade !!!!! (Mia Couto, O

outro pé da Sereia)

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A educação quilombola está ligada à

concepção de terra que não é física, é

território fértil de ensinamentos e

aprendizagens...

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Por que pensar em uma Educação Quilombola

Os quilombos são o “fim” (ou início) da

viagem transatlântica... outras terras

“lavam” o corpo de memória,

conhecimento, expectativas e

necessidades!

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Os sacos de areia rompiam-se mas em seus corpos persistia ...

A força

A resistência

E formas embrionárias de viver na

diversidade e agregar-se , ainda que na

dor...

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A dor (coletiva!) ensina a...

Lutar!

Dar outro sentido às PALAVRAS!

Na escola não se faria necessário darmos outros sentidos às palavras?

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Quando se pensa em quilombo se pensa em...

Com vocês a palavra!

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TrabalhoMúsica Flor

Comida Fé

Gente...

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Educação têm a ver com tudo isto?

Então, de que forma estes elementos se apresentam?

Como a partir destes elementos é possível educar e educar para que?

A educação obedece a LÓGICAS: Capitalismo? Etnocentrismo? Sociedades

Racializadas?

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Educação Quilombola

É necessária por LEI!!!!

Lei 10639/03 que obriga o ensino da

história e cultura africana e afro-brasileira

na escola, em todos os níveis de ensino e

nas redes privadas e públicas.

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Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana

O Ensino de História Afro-Brasileira abrangerá , entre outros

conteúdos, iniciativas e organizações negras, incluindo a

história dos quilombos, a começar pelo de Palmares, e de

remanescentes de quilombos, que têm contribuído para o

desenvolvimento de comunidades, bairros, localidades,

municípios regiões (exemplos: associações negras

recreativas, culturais, educativas, artísticas, de assistência,

de pesquisa, irmandades religiosas, grupos do Movimento

Negro) [...] (p.21).

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E essa lei, então ?

Mais conteúdo a ser... repassado?

Protecionismo aos negros que,

eternamente, se vitmizam por conta de

um fato que... já se foi?

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Cultura e História

Então é necessário ensinar ao QUILOMBO a história e cultura

africana e afro-brasileira!

É importante, também, identificar no quilombo as raízes afro e a

cultura e história emergente da existência na diáspora!

Quilombos são redutos em que a história de luta ainda é viva;

lutas em que os saberes da escola podem ser suas armas!

O que sabemos de quilombos?

Falar em quilombos nos remete a Palmares, mas também existem

outros, milhares, em terras paranaenses aproximadamente 86.

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Mapa quilombo Paraná

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Então...

A unidade quilombola na sua diversidade traz qual lição?

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Educação Quilombola parte de um contexto que se acomoda

dentro das dimensões de um processo educativo formal:

Na sala de aula contamos com quais dimensões?

Pedagógica – arte de ensinar

Didática- como ensinar

Política – pra que fins ensinar

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Pedagogia quilombola

• PEDAGOGIA = ARTE

• ARTE suscita CRIAÇÃO de modos próprios de ensinar

• CRIATIVIDADE, SENSIBILIDADE, CONHECIMENTO, DIÁLOGO, EXPLORAÇÃO

DE TEMPOS E ESPAÇOS...

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Pedagogia emergente de um mundo quilombola!

• Criatividade: Não se ensina... ela brota das circunstâncias

nas quais nós estamos (somos) sujeitos!

• Sensibilidade: Emerge da alma... de quem sente, escuta,

olha e depois associa isto aos “conteúdos” que tomam

vida!

• Conhecimento que está historicamente construído, por

construir e disperso... cabe juntá-los!

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[...] Pedagogia Quilombola!

• Diálogo como “prosa” que se troca nas mínimas

coisas que se faz... é condição de sobrevivência,

vivemos porque trocamos as experiências, sob a

forma de palavra falada e escrita!

• Exploração (descoberta!) de tempos e espaços

ensinantes... tempo e espaço da horta, do mato, da

cachoeira, do pátio, da sala de aula que deve ser

itinerante e estar em todos os lugares!

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Didática = Como fazer

Um fazer inspirado em cotidianas práticas de fazeres... Existe uma didática

quilombola para engendrar a vida, então, frente às dificuldades e... felicidades o

COMO FAZER vai sendo forjado.

E as perguntas que não se faz...

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Questões:

Como tu constrói a tua vida?

Como tu chegas aqui?

O que deixas de fazer para que aqui estejas?

De que maneira os saberes historicamente acumulados

te facilitam ou favorecem as “didáticas cotidianas”?

Para nós educadores: de que forma tais

questionamentos movimentam/viabilizam reflexões no

campo do pedagógico?

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Sistematização visa intervenção nas POLÍTICAs

De corpo (estigmatizado), corporeidade que é política;

Gênero, raça e sistema de crenças que

situam/colocam/mantém os sujeitos no mundo;

Preservação ambiental como um ambiente que

“cabe” todos...

Políticas públicas que comprometem um ESTADO que

não é neutro... mesmo nas suas iniciativas

politicamente corretas, por vezes, panfletárias de uma

mudança, ainda, longínqua...

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Dimensão POLÍTICA que é a mediação entre...

O desafio de se inserir em um mundo tecnológico sem abrir mão das tecnologias

da tradição ;

TRADIÇÃO X MODERNIDADE

Mudas de Pinus

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2. Entre o “ficar” na terra e para isso a necessidade de afastar-se voltando!

Os filhos da terra precisam buscar experiências que garantam a permanência cultural/simbólica e

física de um terra que

imaginariamente “lava a saudade” das raízes africanas!

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A terra em saquinhos preparava para a epopéia da travessia do mar...

O mar alcança inúmeras significações...

Conseguimos nos transportar feito marolas mas sem compreendê-lo:

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Em Mia Couto (p.61):

Como “decifrar os primórdios da água, ali onde a gota engravida e começa o missanguear do rio. [...] O rio é como o tempo. Nunca Houve princípio...é mentira haver fonte do rio. A nascente é já o vigente rio, a água em flagrante exercício...”

Em Mia Couto (p.61):

Como “decifrar os primórdios da água, ali onde a gota engravida e começa o missanguear do rio. [...] O rio é como o tempo. Nunca Houve princípio...é mentira haver fonte do rio. A nascente é já o vigente rio, a água em flagrante exercício...”

Em Mia Couto (p.61):

Como “decifrar os primórdios da água, ali onde a

gota engravida e começa o missanguear do rio.

[...] O rio é como o tempo. Nunca Houve

princípio...é mentira haver fonte do rio. A

nascente é já o vigente rio, a água em flagrante

exercício...”

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Não se interpreta a “origem” do rio, do mar... mas os seus fins

Joga-se flores no mar!

Transforma-se também os sentidos que

dão origens às flores!

“Em todo o samba que faço eu ponho o mar...”

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Salve Jorge! Abril de Faxinal, de Jorge/Ogum, de Georgina e de todos nós !

Ogum (Zeca Pagodinho)

Eu sou descendente ZuluSou um soldado de ogumUm devoto dessa imensalegião de JorgeEu sincretizado na féSou carregado de axé E protegido por um cavaleiro nobreSim vou à igreja festejar meu protetorE agradecer por eu ser mais um vencedor Nas lutas nas batalhasSim vou ao terreiro pra bater o meu tambor Bato cabeça firmo ponto sim senhorEu canto pra ogum Ogum

Um guerreiro valente que cuida da gente que sofre demaisOgum Ele vem de aruanda ele vence demanda de gente que fazOgumCavaleiro do céu escudeiro fiel mensageiro da pazOgumEle nunca balança ele pega na lança ele mata o dragãoOgumÉ quem da confiança pra uma criança virar um leãoOgumÉ um mar de esperança que traz a bonança pro meu coração

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Sigamos fortes com as roupas e as armas de Jorge! Axé para todos!

Deus adiante paz e guia

Encomendo-me a Deus e a virgem Maria minha mãe

Os doze apóstolos meus irmãos

Andarei nesse dia nessa noite

Com meu corpo cercado vigiado e protegido

Pelas as armas de são Jorge São Jorge sendo com praça na cavalaria

Eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia"

Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge

Para que meus inimigos tendo pé não me alcancem

Tendo mãos não me pegue não me toquem

Tendo olhos não me enxerguem

E nem em pensamento eles possam ter para me fazerem mal

Armas de fogo o meu corpo não alcançara

Facas e lanças se quebrem se o meu corpo tocar

Cordas e correntes se arrebentem se ao meu corpo amarrar

Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge

Jorge é da capatocia.

Salve Jorge