I Sobre o Projeto de Fundações

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  • 8/18/2019 I Sobre o Projeto de Fundações

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    Notas de aula

    Departamento de Engenharia

    Disciplina: Fundações

    Prof. Marco Túlio P. de Campos

    Goiânia, fevereiro de 2016.  

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     Notas de Aula de Fundações - 1

    CAPÍTULO I

    SOBRE O PROJETO DE FUNDAÇÕES 

    1.1 

    FUNDAÇÃO

      Elemento de ligação entre a superestrutura e o solo.

      Parte de uma estrutura que transmite ao terreno subjacente seu próprio peso, o peso da superestrutura e qualquer outra força que atue sobre ela.

    1.2  FUNÇÃO DA FUNDAÇÃO

     

    Suportar as cargas que atuam sobre ela e distribuí-las de maneira satisfatória eeconômica sobre as superfícies de contato com o solo sobre o qual se apoia.

    1.3 

    DADOS PARA PROJETO

    Os dados mínimos para execução de um proj eto de fundações para qualquer

    tipo de obra são:

     

    Planta de locação e carga nos pilares.  Conhecimento das características do subsolo

    1.4  ELEMENTOS NECESSÁRIOS AO PROJETO

    Os elementos necessários para o desenvolvimento de um projeto de

    fundações são:

    1) 

    Topografia da área  

      Levantamento topográfico (planialtimétrico);

      Dados sobre taludes e encostas no terreno (ou que possam atingir oterreno);

      Dados sobre erosões (ou evoluções preocupantes na geomorfologia).

    2)   Dados geológico-geotécnicos  

     

    Investigações do subsolo (às vezes em duas etapas: preliminar ecomplementar);

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      Outros dados geológicos e geotécnicos (mapas, fotos aéreas elevantamentos aerofotogramétricos, artigos sobre experiências anterioresna área,etc).

    3) 

    Dados da estrutura a construir    Tipo e uso que terá a nova obra;

      Sistema estrutural (hiperestaticidade, flexibilidade, etc);

      Sistema construtivo (convencional ou pré-moldado);

      Cargas (ações nas fundações).

    4)   Dados sobre construções vizinhas  

       Número de pavimentos, carga média por pavimento;

      Tipo de estrutura e fundações;

      Desempenho das fundações;

      Existência de subsolo;

      Possíveis conseqüências de escavações e vibrações provocadas pela novaobra.

    1.5  REQUISITOS PARA EXECUÇÃO DE UMA FUNDAÇÃO

      As cargas da estrutura devem ser transmitidas às camadas de terreno capazes desuportá-las sem ruptura;

      As deformações das camadas do solo subjacentes às fundações devem sercompatíveis com as suportáveis pela superestrutura;

      A fundação deve ser colocada à uma profundidade adequada para prevenir aexpulsão lateral do solo existente sob a fundação (particularmente sapatas eradiers), ou sofrer qualquer dano devido à uma possível construção vizinha;

      A execução das fundações não deve causar danos às estruturas vizinhas;

      As fundações deverão ser seguras quanto ao tombamento e deslizamento;

      O tipo de fundação escolhido e o seu método de instalação devem sereconômicos.

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    Figura 1.1 Requisitos de um Projeto de Fundações(a)  Deformações excessivas, (b) colapso do solo, (c) tombamento, (d) deslizamento e

    (e) colapso estrutural , resultado de projetos deficientes

    Figura 1.2 Deformações causadas por recalques diferenciais devido ao uso de

    tipos de fundações diferentes e falta de junta de dilatação.

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    Figura 1.3 Recalque por inclinação de edifício em Ubatuba

    Figura 1.4 Recalque por inclinação em edifício de Santos

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    Figura 1.5 Ruptura de solo colapsível inundado sob carregamento .

    Figura 1.6 Sobrecarga no solo devido à superposição das áreas deinf luênc ia dos edi f íc ios

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    Figura 1.7 Recalque devido a porções de solo mais fracos nãoidentificados nas sondagens

    Figura 1.8 Vazio formado pelo intemperismo e posterior ruptura dacamada superior em zona cárst ica.

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    1.6  ESTADOS LIMITES

    O projeto deve assegurar que as fundações apresentem segurança quanto

    aos:

    a) 

    estado limite último  –  ELU (associados ao colapso parcial ou total da obra);

     b)   estado limite de serviço  –  ELS (quando ocorrem deformações, fissuras, etc. quecomprometem o uso da obra);

    1.6.1  VERIFICAÇÃO DOS ESTADOS LIMITES ÚLTIMOS (ELU)

    Os estados limites últimos representam os mecanismos que conduzem ao

    colapso da fundação:

    a) 

     perda de estabilidade global; b)   ruptura por esgotamento da capacidade de carga do terreno;

    c)   ruptura por deslizamento;

    d)   ruptura estrutural em decorrência de movimentos das fundação;

    e)   arrancamento ou insuficiência de resistência por tração;

    f)   ruptura do terreno decorrente de carregamentos transversais.

    1.6.2  VERIFICAÇÃO DOS ESTADOS LIMITES DE SERVIÇO (ELS)

    A verificação dos estados limites de serviço em relação ao solo de

    fundação ou ao elemento estrutural de fundação deve atender a:

    Ek  ≤ C  

    Onde:

    Ek = valor do efeito das ações (por exemplo recalque estimado), calculadoconsiderando-se os parâmetros característicos e ações características;

    C = valor limite de serviço (admissível) do efeito das ações (por exemplo, recalqueaceitável).

    O valor limite de serviço para uma determinada deformação é o valor

    correspondente ao comportamento que cause problemas como, por exemplo, trin cas

    inaceitáveis, vibrações ou comprometimentos à funcionalidade plena da obra.

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    1.7  TIPOS DE FUNDAÇÕES

    As fundações são usualmente separadas em dois grandes grupos, asfundações superficiais e fundações profundas, devido ao fato de possuírem

    superfícies de ruptura diferentes, que são função da profundidade, como mostradoabaixo.

    Figura 1.9 Tipos de fundações: superficial e profunda

    A distinção entre esses dois tipos é feita segundo o critério (arbitrário) de

    que uma fundação profunda é aquela cujo mecanismo de ruptura de base não

    surgisse na superfície do terreno. Como os mecanismos de ruptura de base

    atingem, acima dela, tipicamente duas vezes sua menor dimensão, a norma NBR

    6122 determinou que fundações profundas são aquelas que possuem sua ponta ou

     base assentes em profundidade superior ao dobro de sua menor dimensão em

     planta, e no mínimo 3,0m de profundidade.

    Fundação Superficial (D f    2B)  –   transmite a carga ao solo somente através

    de pressões distribuídas sob sua base.

     –  Sapata –  Bloco de fundação

     –  Radier

    Fundação Profunda (D f   2B)  –   transmite a carga ao solo por sua superfície

    lateral (resistência de atrito do fuste) ou pela base (resistência de ponta) ou por

    combinação das duas.

     –  Estaca

     –  Tubulão

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    1.8  TIPOS DE RUPTURA DE

    FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

    Os três principais modos de ruptura por cisalhamento do solo de suporte de

    uma fundação são:

    a)   - ruptura generalizada;

     b)   - ruptura localizada;

    c)   - ruptura por puncionamento.

    O processo de ruptura do solo depende: da compressibilidade do solo, da

    geometria da fundação, das condições de carregamento e do embutimento.

    1.8.1  Ruptura generalizada:

    A ruptura geral ocorre em solos mais rígidos (baixa compressibilidade),

    areias compactas e argilas rijas, onde há uma superfície de ruptur a bem definida de

    uma das bordas da fundação até a superfície do terreno (figura 1.10-a). Observa-se

    na mesma figura que há a elevação do solo ao redor da fundação, embora a

    superfície final de ruptura ocorra de um lado. A ruptura é repentina, com

    inclinação da fundação e carga limite bem definida Na curva tensão recalque (figu ra 1.10-b) a ruptura fica bem definida,

     podendo-se observar um ponto de carga máxima, com posterior decréscimo, e com

    os recalques sempre crescentes.

    Figura 1.10  –  Ruptura generalizada

    1.8.2  Ruptura localizada:

    A ruptura local ocorre em solos intermediários, mais deformáveis que ossolos rígidos, caso de areias medianamente compactas e argilas médias a moles.

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     Neste tipo de ruptura (figura 1.11-a), embora

    a superfície de deslizamento se inicie abaixo das extremidades da fundação até a

    superfície do terreno, a ruptura se dá apenas até certo ponto no interior do maciço.

    Com isso, a curva tensão-recalque (figura 1.11-b) apresenta uma curvatura mais

     branda que o caso de ruptura geral, sem atingir pico algum.

    Figura 1.11  –  Ruptura local

    1.8.3  Ruptura por puncionamento:

    Esse tipo de ruptura é de difícil observação. A fundação tende a recalcar

    de forma intensa, em vista da alta compressibilidade do solo. O solo externo à área

    carregada não é afetado (figura 1.12-a). O equilíbrio horizontal e vertical da

    fundação é mantido.

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    Figura 1.12  –  Ruptura por puncionamento

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    RECALQUE

    O recalque de uma fundação superficial é o deslocamento vertical

    descendente da base do elemento de fundação, ocasionado pela deforma ção do solo

    de suporte.).

    Sabe-se que toda edificação sofre recalques, muitas vezes imperceptíveis aolho nu, por se tratarem de deslocamentos milimétricos. Podem ser classificados

    de acordo com seu deslocamento/deformação em três tipos, sendo:

    a)   Recalques homogêneos ou uniformes: o solo sofre uma deformação como um

    todo e a estrutura recalca por inteiro, não havendo na maioria dos casos danos

    estruturais;

     b)   Recalques por inclinação ou desuniforme sem distorção: apenas um lado da

    edificação sofre recalque, ocorrendo inclinação da obra, de modo que seus

    elementos estruturais não sofram danos;

    c)   Recalques diferenciais ou desuniformes com distorção: uma parte da edificação

    sofre recalque, gerando torções e danos aos elementos estruturais, podendo ser

    notado através de fissuras e trincas com 45° de inclinação. É um recalque

    indesejável e que exige a execução de reforços tanto das fundações, quanto da

    estrutura.

    A ocorrência de recalques se dá, principalmente, pela diminuição do índice

    de vazios do solo que recebe as cargas dos elementos de fundação.

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    Figura 1 .13 Pr inc ipa is modos de deformação de uma es t ru tura(a)  Recalques uniformes, (b) recalques desuniformes sem dis torção e (c) recalques

    desuniformes com dis torção

    Figura 1.14 Recalques diferenciais

    Além dos recalques supracitados classificados de acordo com os tipos de

    deformação, pode-se também classificá-los em função do tempo em que ocorrem,sendo eles:

    a)   Recalque imediato, elástico ou não drenado (ρ i);

     b)   Recalque por adensamento primário (ρ a);

    c)   Recalque por compressão secundária (ρ s).

    O ρ i   ocorre logo após aplicação de carga, há mudança de forma com

    alteração do volume devido à redução de índice de vazios.

    O ρa  ocorre em solos de baixa permeabilidade, argilosos, que sofrem

    redução de volume provocado pela saída de água devido à diminuição dos vazios

     pelo acréscimo de carga e aumento de pressão neutra .

    O ρ s , muito importante para argilas moles e argilas marinhas, se

    desenvolve simultaneamente com o ρ a. Ocorre devido ao rearranjo estrutural

    causado por tensões de cisalhamento. Trata-se da deformação sofrida pelo solo,

    mesmo após a dissipação das pressões neutras. Ocorre muito lentamente nos solos

    argilosos, e é geralmente desprezado no cálculo de fundações.

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     Notas de Aula de Fundações - 13

    O recalque total se dá então pela

    soma de ρ i , ρa   e ρ s , onde parte ocorre de imediato e parte se desenvolve ao longo

    do tempo.

    A previsão de recalques é um dos exercícios mais difíceis da Geotecnia, de

    forma que o resultado dos cálculos, por mais sofisticados que sejam, devem ser

    encarados como uma estimativa.

    1.9.1  Recalques limites

    Segundo a NBR 6122, a definição dos valores limites de projeto para os

    deslocamentos e deformações deve considerar:

    a)   a confiabilidade com a qual os valores de deslocamentos aceitáveis podem ser

    estabelecidos;

     b)   velocidade dos recalques e movimentos do terreno de fundação;

    c)   o tipo de estrutura e o material de construção;

    d)   o tipo de fundação;

    e)   a natureza do solo;

    f)   a finalidade da obra;

    g)   a influência nas estruturas, utilidades e edificações vizinhas.

    Os tipos de danos sofridos pela edificação oriundos de recalques

    diferenciais podem ser demonstrados através da tabela a seguir, de acordo com a

    intensidade do recalque e a distância entre os pilares analisados (ρ/l).  

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     Notas de Aula de Fundações - 14

    Figura 1.15 - Recalques limites

     No caso de recalques totais limites para estruturas usuais de aço ou

    concreto, consideram-se aceitáveis como valores limites as recomendações de

    Skempton-MacDonald, em casos rotineiros para areias e argilas, sendo:

    Areias: ρmá x  = 40mm para sapatas isoladas

    ρmá x = 40 a 65mm para radiers

    Argilas: ρ má x   = 65mm para sapatas isoladas

    ρmá x   = 65 a 100mm para radiers

    Tais parâmetros não são aplicáveis para os casos de prédios de alvenaria

    estrutural, edifícios altos com corpos de alturas diferentes, vãos grandes,

    acabamentos especiais e outros, onde são necessários critérios mais rigorosos de

    avaliação.

    1.9.2  Recalque admissível

    Segundo Terzaghi e Peck, para sapatas contínuas carregadas

    uniformemente e sapatas isoladas de aproximadamente mesmas dimensões, em

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     Notas de Aula de Fundações - 15

    areais o recalque diferencial geralmente não

    excede 50% do maior recalque observado. Já em condições extremas, que

    envolvem tamanhos muito diferentes de sapatas e embutimentos no terreno, o

    recalque diferencial não deve ser superior a 75% do maior recalque.

    Há a recomendação de Terzaghi e Peck de valores admissíveis para o

    recalque diferencial e recalque total para sapatas em areia de respectivamente:

    ρ ≈ 20mm e ρ = 25mm