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CAPÍTULO I UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO IANNA SILVEIRA RAPOSO AS DUAS PRIMEIRAS PRAÇAS DE TERESINA/PI: ANÁLISE DE SUAS TRANSFORMAÇÕES NO TEMPO E DIAGNÓSTICO. SÃO PAULO | 2011

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CAPÍTULO I

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

IANNA SILVEIRA RAPOSO

AS DUAS PRIMEIRAS PRAÇAS DE TERESINA/PI:

ANÁLISE DE SUAS TRANSFORMAÇÕES NO TEMPO E DIAGNÓSTICO.

SÃO PAULO | 2011

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R219d Raposo, Ianna Silveira.

As duas primeiras praças de Teresina/PI: análise de

suas transformações no tempo e diagnóstico. / Ianna

Silveira Raposo – 2012.

186 f.: il.; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) -

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2012.

Bibliografia: f. 178-186.

1. Espaço público. 2. Praça. 3. Morfologia urbana. 4.

Qualidade urbana. 5. Teresina-PI. I. Título.

CDD 712.5

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IANNA SILVEIRA RAPOSO

AS DUAS PRIMEIRAS PRAÇAS DE TERESINA/PI:

ANÁLISE DE SUAS TRANSFORMAÇÕES NO TEMPO E DIAGNÓSTICO.

.

Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do título de

Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Isabel Villac.

SÃO PAULO | 2011

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IANNA SILVEIRA RAPOSO

AS DUAS PRIMEIRAS PRAÇAS DE TERESINA/PI:

ANÁLISE DE SUAS TRANSFORMAÇÕES NO TEMPO E DIAGNÓSTICO.

Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do título de

Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

Aprovado em

Profª. Dra. Maria Isabel Villac (orientador)

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Rafael Perrone

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Vladimir Bartalini Universidade de São Paulo

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Dedico este trabalho a meus pais,João e Maria Iêda Raposo, pelo

apoio incondicional que sempre me deram, e ao meu sobrinho, João

Vitor, cuja existência tanta alegria e amor trouxe às nossas vidas.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus que se faz presente em todos os momentos da minha vida.

A minha família, em especial, minha irmã Amanda, pelo amor e compreensão, pois

sem eles, tudo seria mais difícil.

Os amigos, André, Carla, Marisa, Raphaela e Valdulce; pela amizade, ajuda e

incentivo durante essa difícil jornada.

A secretária da pós – graduação de Arquitetura e Urbanismo,Fernanda Freire, pela

sua disponibilidade em cooperar para resolução de problemas inerentes a este processo.

Ao Instituto Mackenzie de Pesquisa – Mackpesquisa pelo apoio financeiro recebido

através da bolsa de estudo recebida pelo grupo de pesquisa “Notas para projeto e crítica: arte,

textos e arquitetura cidade de São Paulo 1985 – 2008”.

Aos órgãos públicos de Teresina: Prefeitura Municipal, Arquivo Público, Casa da

Cultura, IPHAN, pelas informações necessárias para a realização dessa pesquisa.

Agradeço em especial à minha orientadora, Prof. Dra. Maria Isabel Villac, por todos os

ensinamentos e dedicação, por sua serenidade, e, principalmente, pelo apoio que me deu, sem

hesitar, no momento mais difícil dessa longa caminhada.

Aos professores Dr. Rafael Perrone e Dr. Wladimir Bartalini, pela disponibilidade na

participação das bancas de avaliação.

Aos meus amigos, e a todas as pessoas que direta e indiretamente me ajudaram e

colaboraram na realização deste trabalho.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS.............................................................................................................................................................009

LISTA DE SIGLAS................................................................................................................................................................023

RESUMO...............................................................................................................................................................................024

ABSTRACT...........................................................................................................................................................................025

INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................................026

CAPÍTULO I | PRAÇAS

1.1 A Praça na paisagem urbana..........................................................................................................................................031

1.2 Praça: Conceitos, funções e evolução histórica..............................................................................................................034

1.3 Configuração espacial das Praças Brasileiras................................................................................................................048

CAPÍTULO II | ANÁLISE DA PRAÇA MARECHAL DEODORO E PRAÇA SARAIVA

2.1. Morfologia Urbana..........................................................................................................................................................063

2.1.1 As praças dentro do contexto histórico da cidade de Teresina....................................................................................071

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2.1.2 Estudo morfológico das estruturas das praças.............................................................................................................087

2.1.2.1 Praça Marechal Deodoro...........................................................................................................................................087

- Estrutura Espacial...............................................................................................................................................................087

- Vegetação...........................................................................................................................................................................095

- Mobiliário Urbano................................................................................................................................................................098

- O Entorno............................................................................................................................................................................106

2.1. 2.2 Praça Saraiva...........................................................................................................................................................116

- Estrutura Espacial...............................................................................................................................................................116

- Vegetação...........................................................................................................................................................................122

- Mobiliário Urbano................................................................................................................................................................124

- O Entorno............................................................................................................................................................................127

2.2 As praças como elementos do desenho da paisagem e como espaços de percepção e apropriação...........................134

2.2.1 Percepção, apropriação e acessibilidade dos espaços livres públicos por meio de uma leitura projetual..................138

2.2.1.1 Praça Marechal Deodoro...........................................................................................................................................138

- Recintos e Ponto Focal.......................................................................................................................................................145

- Ligação: pavimentação, caminhos e barreiras....................................................................................................................147

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2.2.1.2 Praça Saraiva............................................................................................................................................................151

- Recintos e Ponto Focal.......................................................................................................................................................154

- Ligação: pavimentação, caminhos e barreiras...................................................................................................................156

CAPÍTULO III | DIAGNÓSTICO..........................................................................................................................................160

CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................................................................175

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS | BIBLIOGRAFIA......................................................................................................178

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LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO I

FIGURA 01: A ÁGORA, PLANO E RECONSTRUÇÃO. FONTE: ZUCKER (1959, P.32). FIGURA 02: DISCURSO NA ÁGORA GREGA. FONTE: PORTALDOPROFESSOR.MEC.GOV.BR.ACESSADO EM 28/10/2010. FIGURA 03: ÁGORA E CONSTRUÇÕES REPRESENTATIVAS DO PODER PÚBLICO. FONTE: WWW.EDUC.FC.UL.PT.ACESSADO EM 28/10/2010. FIGURA 04: FÓRUM ROMANO. FONTE: ROMA ÂNTICA (GABUCCI APUD CALDEIRA, 2007). FIGURA 05: PLANTA DOS FÓRUNS ROMANO. FONTE: HTTP://HELENADEGREAS.FILES.WORDPRESS.COM.ACESSO: 20/08/2010. FIGURA 06: PRAÇA MEDIEVAL (PRAÇA DE MERCADO) FONTE: CIDADEMEDIEVAL.BLOGSPOT.COM/ ACESSO: 02/11/2010. FIGURA 07: PIAZZA DEL CAMPO E PIAZZA DEL CATEDRAL – SIENA. (O CONTRASTE ENTRE OS GRANDES ESPAÇOS DAS PRAÇAS COM AS ESTREITAS RUAS MEDIEVAIS). FONTE: PLAZAS OF SOUTHERN EUROPE (KATO, 1990 APUD CALDEIRA, 2007: 24). FIGURA 08: – A PRAÇA IDEAL NA CIDADE RENASCENTISTA, SÉCULO XV FONTE: LA CITÉ IDÉALE EN OCCIDENT. (VERCELLONI, 1996 APUD CALDEIRA, 2007). FIGURA 09: PLACE DE VOGUES, PARIS. FONTE: PHOTOGRAPHY. NATIONALGEOGRAPHIC.COM. ACESSO EM 18/11/2010.

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FIGURAS 10: BOIS DE BOULOGNE FONTE: HTTP://WWW.PANORAMIO.COM/PHOTO. ACESSO EM 18/11/2010 FIGURAS 11: BOIS DE VINCENNES FONTE: HTTP://WWW.PANORAMIO.COM/PHOTO. ACESSO EM 18/11/2010 FIGURAS 12 E 13 – LE BOULEVARD HAUSSMANN O MODELO DO BOULEVARD TORNA-SE SÍMBOLO DA METRÓPOLE MODERNA. A INTERVENÇÃO DE HAUSSMANN RASGA O TECIDO DA PARIS MEDIEVAL PROPONDO UMA NOVA EXPERIÊNCIA DO ESPAÇO URBANO. FONTE: EXPOSITIONS. BNF. FR – DEX/2005 E PARIS-HAUSSMANN (CARS E PINON, 1991 APUD CALDEIRA, 2007). FIGURA 14 – PLACE DE L’ETOILE, PARIS. ADEQUANDO-SE À NOVA ESCALA URBANA, A PRAÇA PERDE A FORÇA DE SOCIABILIDADE. FONTE: PLAZAS OF SOUTHERN EUROPE (KATO, 1990APUD CALDEIRA, 2007). FIGURA 15: PRAÇA DA SÉ COM A NOVA CAETDRAL EM CONTRUÇÃO AO FUNDO-1937 FONTE: WWW.APRENDA450ANOS.COM.BR.ACESSO 02/12/2010. FIGURA 16: PRAÇA DA SÉ NOS DIAS ATUAIS. ÁREA MODIFICADA PARA SE EFETIVAR A ADEQUAÇÃO DO TRÁFEGO À ESCALA DO CRESCIMENTO URBANO. FONTE: HTTP://WWW.PROJETOSURBANOS.COM.BR/2008. ACESSO 02/12/2010. FIGURA 17: FREEDOM PLAZA, WASHINGTON. FONTE: LA PLAZA EM LA ARQUITECTURA CONTEMPORÂNEA (FAVOLE, 1995). FIGURA 18: IMAGEM DA PRAÇA VICTOR CIVITA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL: FOTO TIRADA PELA AUTORA EM 20/11/2010. FIGURAS 19 E 20: IMAGENS DAS INTERVENÇÕES DA PRAÇA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL: FOTOS TIRADAS PELA AUTORA EM 20/11/2010.

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FIGURA 21: PLANTA CIDADE DE SALVADOR: TRAÇADO REGULAR ADAPTADO À TOPOGRAFIA – CIDADE BAIXA E CIDADE ALTA. FONTE: IMAGENS DE VILLAS E CIDADES DO BRASIL COLONIAL (REIS 2001, P.18). «COPIA MANUSCRITA, INCLUÍDA NO CÓDICE QUE DÁ RAZÃO (...)», DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO, RJ. FIGURA 22: PRAÇAS DO BRASIL COLONIAL. “A IRREGULARIDADE DOS TRAÇADOS, DISPOSTA COM GRAÇA E SENSIBILIDADE, É UMA DAS RAZÕES DE SEDUÇÃO QUE ELES EXERCEM.” (SANTOS, 2001, P.73). FIGURA 23: SÃO JOÃO DA PARNAÍBA, PI. FONTE: IMAGENS DE VILLAS E CIDADES DO BRASIL COLONIAL (REIS, 2001). FIGURA 24: A) A PRAÇA PRINCIPAL DE VILA BOA DE GOIÁS; B) IDEM, DE CUIABÁ; C) IDEM, DE VILA BELA; E) IDEM, DE MAZAGÃO. (SANTOS, 2001, P.75). FIGURA 25: PRAÇA DO PELOURINHO, ATUAL PRAÇA DA REPÚBLICA. CIDADE DE CHAVES – PORTUGAL. FONTE: HTTP://SERRA.BLOGS.SAPO.PT/ ARQUIVO/2005_01. HTML – ACESSO 02/10/2010. FIGURA 26: PRAÇA DE TIRADENTES. OURO PRETO - MINAS GERAIS - BRASIL. FONTE: HTTP: WWW.FOLHA.UOL.COM.BR. ACESSO 02/11/2010. FIGURA 27: PARCMONTSOURIS, PARIS. FONTE: MACEDO (1999:29). NO DESENHO VERIFICA-SE A INFLUÊNCIA DOS PARQUES EUROPEUS NA FORMAÇÃO DO 1° JARDIM PÚBLICO DO RIO DE JANEIRO. FIGURAS 28 E 29: PASSEIO PÚBLICO DO RIO DE JANEIRO EM 1817 E DEPOIS DA REFORMA DE GLAZIOU EM 1861. FONTE: WWW.PASSEIOPUBLICO.COM/. ACESSO: 27/11/2010. FIGURA 30: RESIDÊNCIAS DA FAMÍLIA JAFET NO IPIRANGA, SÃO PAULO. FONTE: QUADRO DO PAISAGISMO NO BRASIL.(1999:36).

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FIGURA 31: AV. HIGIENÓPOLIS, SÃO PAULO. FONTE: QUADRO DO PAISAGISMO NO BRASIL.(1999:34). FIGURA 32: PRAÇA DA REPÚBLICA. BELÉM-PARÁ. FONTE: PRAÇAS BRASILEIRAS. ROBBA E MACEDO (2002:87). FIGURAS 33 E 34: PRAÇA SALGADO FILHO-RJ FONTE: PRAÇAS BRASILEIRAS (ROBBA E MACEDO, 2002). FIGURA 35: VISTA PARCIAL PARQUE DO IBIRAPUERA - SP. FONTE: PARQUES URBANOS NO BRASIL (MACEDO, 2003). FIGURA 36: PARQUE DO FLAMENGO - RJ. FONTE: QUADRO DO PAISAGISMO NO BRASIL (MACEDO, 1999). FIGURA 37: PROJETO FAVELA-BAIRRO, RIO DE JANEIRO: PRAÇA CARLOS SEIDL. FONTE: DOURADO (1997, P.36). CAPÍTULO II FIGURA 38: DIFERENTES FORMAS DE PRAÇAS APRESENTADAS EM LÉSPACE DE LA VILLE POR ROBERT KRIER (1980 APUD LAMAS 2000, P.101). FIGURA 39: PIAZZA DI SANTÍSSIMA ANNUNZIATA, EM FLORENÇA, ITÁLIA. FONTE: PLAZAS OF SOUTHERN EUROPE (KATO, 1990 APUD CALDEIRA, 2007). FIGURA 40: PRAÇA DO COMÉRCIO – LISBOA- PORTUGAL FONTE: HTTP://ARQUIVO.FORUM.AUTOHOJE.COM. ACESSO EM 01/11/2010. FIGURA 41: PRAÇA DOS TRÊS PODERES- BRASÍLIA – BRASIL. FONTE: HTTP://I.PBASE.COM/U39/ALEXUCHOA. ACESSO EM 01/11/2010.

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FIGURA 42: PRAÇA DE SÃO PEDRO, VATICANO. FONTE: HTTP://WWW.FREEWALLPAPERS.COM.BR. ACESSO: 01/11/2010. FIGURA 43: LA PLACE STANISLAS, LA PLACE DE LA CARRIÈRE E LA PLACE D ALLIANCE. FONTE: HTTP://WWW.REPUBLICAIN-LORRAIN.FR. ACESSO: 01/11/2010. FIGURA 44: PRAÇA PANAMERICANA, SÃO PAULO. FONTE: WWW.SKYSCRAPERCITY.COM. ACESSO: 01/11/2010. FIGURA 45 (BRASIL – REGIÃO NORDESTE) FONTE: HTTP://GEO.TERESINA.PI.GOV.BR. ACESSO 12/02/2010. FIGURA 46 (MAPA DO PIAUÌ). FONTE: HTTP://GEO.TERESINA.PI.GOV.BR. ACESSO 12/02/2010. FIGURA 47 (MAPA DE TERESINA): LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE TERESINA. FONTE: HTTP://GEO.TERESINA.PI.GOV.BR. ACESSO 12/02/2010. FIGURA 48: VISTA PARCIAL DA CIDADE DE TERESINA ENTRE OS RIOS PARNAÍBA E POTI. FONTE: GOOGLE EARTH. ACESSO: 12/06/2010. IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA. FIGURA 49: PLANTA DA CIDADE DE OEIRAS – PRIMEIRA CAPITAL DO PIAUÍ – 1809. FONTE: IMAGENS DE VILAS E CIDADES DO BRASIL COLONIAL (REIS FILHO, 2000). FIGURA 50: CONFIGURAÇÃO DA MALHA URBANA DE TERESINA - MAPA DATADO DE 1855. FONTE: PMT (1997) APUD FAÇANHA (1998, P.53). FIGURA 51: CONFIGURAÇÃO DA MALHA URBANA DE TERESINA COM OS ESPAÇOS PARA A CONSTRUÇÃO DE PRAÇAS- MAPA DATADO DE 1852. FONTE: NASCIMENTO (2002) APUD BUENO (2008, P.61). IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA.

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FIGURA 52: IMAGEM ATUAL DAS PRAÇAS E DA AV. FREI SERAFIM EM ESTUDO NA MALHA URBANA DA CIDADE. FONTE: GOOGLE EARTH. ADAPTADO PELA AUTORA EM 18/04/2010. FIGURA 53: SOBREPOSIÇÃO DA MALHA URBANA ORIGINAL DO CENTRO ANTIGO DE TERESINA SOBRE A ATUAL. FONTE: IPHAN, 2008. FIGURA 54: VISTA AÉREA DA DÉCADA DE 50 (AEROFOTOGRAMETRIA). FONTE: ACERVO- ARQUIVO PÚBLICO-ACESSO: 18/05/2010. FIGURA 55: FOTO DE SATÉLITE DE 2007. O QUADRADO BRANCO REPRESENTA A ÁREA DA CIDADE, (PERÍMETRO) QUE EXISTIA NOS ANOS 50. FONTE: ACERVO- ARQUIVO PÚBLICO-ACESSO: 18/05/2010. FIGURA 56: MAPA COM A LOCALIZAÇÃO DAS PRAÇAS DO CENTRO HISTÓRICO INSERIDAS NA TRAMA URBANA DE TERESINA. FONTE: GOOGLE EARTH. ACESSO: 12/06/2010. IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA. FIGURA 57: PARTE DO MAPA DE ZONEAMENTO DA CIDADE DE TERESINA (2010). FONTE: PMT. ACESSO: 10/02/2011. IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA. FIGURAS 58 E 59: IMAGENS ATUAIS DA PRAÇA RIO BRANCO COM VISTA DO SEU RELÓGIO. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 60: IMAGEM ATUAL DA PRAÇA JOÃO LUIS FERREIRA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURAS 61 E 62: IMAGENS ATUAIS DA PRAÇA LANDRI SALES E DO COLÉGIO LICEU PIAUIENSE. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURAS 63 E 64: IMAGENS ATUAIS DA PRAÇA PEDRO II COM VISTA DO TEATRO QUATRO DE SETEMBRO E CINEMA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL.

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FIGURA 65: IMAGEM ATUAL DA PRAÇA DA LIBERDADE COM DA IGREJA SÃO BENEDITO. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURAS 66 E 67: IMAGENS ATUAIS DA PRAÇA DA COSTA E SILVA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 68: MARCO ZERO DA CIDADE. IMAGEM TIRADA PELA AUTORA EM 18/07/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 69: PRAÇA MAL. DEODORO NO INÍCIO DO SEC. XIX. NA ÉPOCA, REUNINDO AS SEDES DOS PODERES, REPARTIÇÕES PÚBLICAS, IGREJA E O MERCADO. FONTE: ACERVO – ARQUIVO PÚBLICO DE TERESINA: ACESSO- 18/05/2010. FIGURA 70: VISTA AÉREA DA PRAÇA MARECHAL DEODORO NA DÉCADA DE 1980, COM PROJETO PAISAGÍSTICO DESENVOLVIDO POR BURLE MARX. FONTE: ACERVO – ARQUIVO PÚBLICO DE TERESINA: ACESSO- 18/05/2010. FIGURA 71: PROJETO DA PRAÇA ORIGINAL SIMULADO PELA AUTORA ATRAVÉS DO LEVANTAMENTO DA PRAÇA NOS DIAS ATUAIS. FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA – ACESSO: 18/05/2010. FIGURA 72: DESTAQUE ELEMENTOS DOMINANTES. FONTE: IMAGEM GOOGLE EARTH MODIFICADA PELA AUTORA. ACESSO11/12/2010. FIGURA 73: NÚCLEO DA PRAÇA. FONTE: IMAGEM GOOGLE EARTH MODIFICADA PELA AUTORA. ACESSO11/12/2010. FIGURA 74: EDIFÍCIO DOMINANTE (IGREJA). FONTE: IMAGEM GOOGLE EARTH MODIFICADA PELA AUTORA. ACESSO11/12/2010.

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FIGURA 75: LEVANTAMENTO DA PRAÇA NOS DIAS ATUAIS. FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA. ACESSO: 18/05/2010. FIGURA 76: CORTE ESQUEMÁTICO DA SITUAÇÃO ATUAL DA PRAÇA MARECHAL DEODORO. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 77: ESQUEMA DA PRAÇA MARECHAL DEODORO CONFORMADA POR QUATRO VIAS (ADAPTADO PELA AUTORA). FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA. 78: IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA EM 18/10/2010. FONTE: FAU-USP. PAISAGISMO – 1983. SÍNTESE DAS ATIVIDADES. FIGURA 79: MASSA DENSA DE ARBORIZAÇÃO. FONTE: GOOGLE EARTH. ACESSO EM 20/10/2010. FIGURA 80: VISTA DAS ÁRVORES - COPA HORIZONTAL. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 81: BLOQUEIO VISUAL CAUSADO PELA COPA DAS ÁRVORES. FOTO: IANNA RAPOSO, 2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 82: VISTA DAS ÁRVORES - COPA VERTICAL E AO FUNDO O MONUMENTO. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURAS 83: VISTA CANTEIROS DESCUIDADOS. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURAS 84, 85 E 86: OS TRÊS TIPOS DE BANCOS EXISTENTES. FONTE: ARQUIVO PESSOAL.

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FIGURA 87: TIPO DE LIXEIRA EXISTENTE. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURAS 88 E 89: TIPO DE POSTE EXISTENTE; POSTE COBERTO PELAS COPAS DAS ÁRVORES. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 90: FALTA DE ILUMINAÇÃO DURANTE A NOITE, GERANDO INSEGURANÇA PÚBLICA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 91: GRÁFICO ELABORADO PELA AUTORA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURAS 92, 93 E 94: TIPO DE PISO EXISTENTE EM SEQUÊNCIA - PEDRA PORTUGUESA; CIMENTO; BLOQUETE DE CONCRETO. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 95: PRAÇA SARAIVA: IGREJA NOSSA SENHORA DAS DORES - SEGUNDO TEMPLO RELIGIOSO DE TERESINA E COLÉGIO DIOCESANO AO FUNDO. FONTE: ACERVO – ARQUIVO PÚBLICO DE TERESINA: ACESSO- 18/05/2010. FIGURA 96: PRAÇA SARAIVA: IGREJA NOSSA SENHORA DAS DORES NOS DIAS ATUAIS. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 97: PROJETO DA PRAÇA ORIGINAL SIMULADO PELA AUTORA ATRAVÉS DO LEVANTAMENTO DA PRAÇA NOS DIAS ATUAIS. FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA – ACESSO: 11/11/2010. FIGURA 98: DESTAQUE PARA O ELEMENTO DOMINANTE. FONTE: IMAGEM GOOGLE EARTH, MODIFICADA PELA AUTORA. ACESSO11/12/2010.

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FIGURA 99: PROJETO DA PRAÇA COM INTERVENÇÃO VIÁRIA SIMULADO PELA AUTORA ATRAVÉS DO LEVANTAMENTO DA PRAÇA NOS DIAS ATUAIS. FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA – ACESSO: 11/11/2010. FIGURA 100: CORTE ESQUEMÁTICO DA SITUAÇÃO ATUAL DA PRAÇA SARAIVA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 101: ESQUEMA DA SARAIVA CONFORMADA POR QUATRO VIAS (ADAPTADO PELA AUTORA). FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 102: GRANDE MASSA DE ARBORIZAÇÃO PROVOCANDO GRANDES ÁREAS DE SOMBREAMENTO. FONTE: GOOGLE EARTH. ACESSO EM 20/11/2010. FIGURA 103: VISTA DAS ÁRVORES - COPA HORIZONTAL. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 104: VISTA CANTEIROS DESCUIDADOS. FOTO: IANNA RAPOSO, 2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 105: BLOQUEIO VISUAL CAUSADO PELA COPA DAS ÁRVORES. FOTO: IANNA RAPOSO, 2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 106: TIPO DE BANCO EXISTENTE. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 107: TIPO DE LIXEIRA EXISTENTE. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 108: TIPO DE POSTE EXISTENTE. LOCAÇÃO MAL PLANEJADA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL.

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FIGURA 109: DEFICIÊNCIA NA ILUMINAÇÃO DURANTE A NOITE, PROVOCANDO O ABANDONO DA PRAÇA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 110: GRÁFICO ELABORADO PELA AUTORA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 111: PEDRA PORTUGUESA: DESENHO DO PISO DO CAMINHO PRINCIPAL. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 112: BLOQUETE DE CONCRETO E CIMENTO CORRIDO: VISTA DA FALTA DE UNIFORMIDADE DA PAVIMENTAÇÃO. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 113: ESQUEMA DE APROPRIAÇÃO DA PRAÇA MAL. DEODORO. IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA EM 04/10/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 114: RECINTO - PRAÇA MAL. DEODORO. IMAGEM TIRADA PELA AUTORA EM 18/07/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 115: VISTA PONTOS FOCAIS DA PRAÇA MAL. DEODORO. IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA EM 06/10/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 116: VISTA PONTOS FOCAIS DA PRAÇA MAL. DEODORO. PROJETO ORIGINAL DA PRAÇA SIMULADO PELA AUTORA ATRAVÉS DO LEVANTAMENTO DA PRAÇA NOS DIAS ATUAIS. FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA – ACESSO: 18/05/2010. FIGURA 117: LIGAÇÃO E CONEXÃO DA PRAÇA ATRAVÉS DA PAVIMENTAÇÃO.FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA118: SENTIDO QUE OCORRE O PRINCIPAL FLUXO DA PRAÇA.

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FONTE IMAGEM: GOOGLE EARTH. ACESSO EM 20/11/2010. FIGURAS 119 E 120: ESTACIONAMENTO PRAÇA MAL. DEODORO E SHOPPING DA CIDADE. FOTOS TIRADAS PELA AUTORA EM 18/07/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 121: GRÁFICOS ELABORADOS PELA AUTORA: IMAGENS TIRADAS PELA AUTORA EM 18/07/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 122: ESQUEMA DE APROPRIAÇÃO DA PRAÇA SARAIVA. IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA EM 04/10/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA123: RECINTO - PRAÇA SARAIVA. IMAGEM TIRADA PELA AUTORA EM 18/07/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 124: VISTA PONTOS FOCAIS DA SARAIVA. PROJETO ORIGINAL DA PRAÇA SIMULADO PELA AUTORA ATRAVÉS DO LEVANTAMENTO DA PRAÇA NOS DIAS ATUAIS. FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA – ACESSO: 18/05/2010. FIGURA 125: LIGAÇÃO E CONEXÃO DA PRAÇA ATRAVÉS DA PAVIMENTAÇÃO. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 126: SENTIDO QUE OCORRE O PRINCIPAL FLUXO DA PRAÇA. FONTE IMAGEM: GOOGLE EARTH. ACESSO EM 20/11/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 127: IMAGENS DAS MODIFICAÇÕES QUE OCORRERAM NA ESTRUTURA FÍSICA DA PRAÇA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 128: GRADEAMENTO DA PRAÇA SARAIVA: BARREIRA FÍSICA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL.

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CAPÍTULO III FIGURA 129: IMAGEM DO CENTRO DA CIDADE ENTRE OS RIOS RHÔNE E SAÔNE. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.34). FIGURA 130: MAPA DAS RUAS COM PRIORIDADE AO PEDESTRE E COM AS PRAÇAS ASSINALADAS. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.34). FIGURA 131: PLACE DE LA BOURSE. MOBILIÁRIO RENOVADO ENCONTRADOS TANTO NO CENTRO DA CIDADE COMO NOS SUBÚRBIOS. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.38). FIGURA 132: PLACE ANTONIN PONCET, COM SUAS FONTES QUE CONECTAM CIDADE E ÁGUA AO LONGO DE UMA AVENIDA DE TRÁFEGO PESADO NA MARGEM DO RIO. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.39). FIGURA 133: A DIVERSIDADE DOS EQUIPAMENTOS URBANOS DA PRAÇA KLÉBER. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001,PG.51) FIGURA 134: ANTES DA RENOVAÇÃO OS CARROS CIRCULAVAM NOS QUATRO LADOS DA PLACE KLÉBER. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.149).

FIGURA 135: APÓS A RENOVAÇÃO, 1993, COM EXCEÇÃO DAS BICICLETAS E DAS NOVAS LINHAS DE BONDE, A PRAÇA INTEIRA ESTÁ LIBERADA DO TRÁFEGO. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.149). FIGURA 136: SANKT HANS TORV É UMA PRAÇA REPLETA DE CAFÉS, UM PONTO DE ENCONTRO PARA A POPULAÇÃO DA CIDADE. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.99). FIGURA 137: COMO TANTAS OUTRAS PRAÇAS NA EUROPA, ANTES DA RENOVAÇÃO A PRAÇA ERA USADA COMO ESTACIONAMENTO DE VEÍCULOS. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.135).

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FIGURA 138: OS VEÍCULOS AGORA ESTÃO FORA DA PAISAGEM DA PRAÇA, DISPOSTOS EM ESTACIONAMENTOS SUBTERRÂNEOS. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.135).

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LISTA DE SIGLAS

PMT

Prefeitura municipal de Teresina

SEMPLAN

Secretaria Municipal de Planejamento

IPHAN

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

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RESUMO

O presente trabalho busca analisar conceitos e reflexões de projeto das Praças Marechal Deodoro e Saraiva,

localizadas em Teresina-PI, partindo da recomposição e entendimento do processo de evolução urbana das áreas no

contexto da cidade desde suas fundações aos dias de hoje. Com isso pretende-se ao final contribuir com um diagnóstico

para a requalificação das praças e seu entorno, colaborando, assim, na qualidade espacial da cidade e numa melhor

apropriação desse território pela população. Para tal, a pesquisa baseia-se, principalmente, no conceito de Morfologia da

Paisagem Urbana, e na dialética entre projeto, apropriação e acessibilidade dos espaços livres públicos.

Palavras Chave:

Espaço Público, Praça, Morfologia Urbana, Qualidade Urbana, Teresina.

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ABSTRACT

This study aims to examine concepts and ideas of design and the Place MarechalDeodoro Scott, located in Teresina,

Piauí, starting with the restoration and understanding of the evolutionary process of urban areas in the context of the city

from its foundation to today.With this we intend to contribute to the final guidelines for the reclassification of projective

squares and its surroundings, thus contributing, in the spatial quality of the city and a better ownership by the population of

that territory. To this end, the research is based mainly on the concept of Urban Landscape Morphology, and the dialectic

between design, ownership and accessibility of public open spaces.

Key Words:

Public Space, Place, Urban Morphology, Urban Quality, Teresina.

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25

INTRODUÇÃO

A praça como espaço público constitui, desde os seus primórdios, um referencial urbano marcado pela convivência

humana. É, portanto, um importante equipamento histórico e cultural urbano que expressa o surgimento e o

desenvolvimento de inúmeras cidades, especialmente, no Brasil (Gomes, 2005).

Zucker (1959) levanta a importância fundamental da praça como o elemento central de formação na vida da

cidade. Para ele, não importa o tamanho ou a escala desses espaços públicos, a praça central de um bairro residencial,

dentro de uma grande cidade, e a praça monumental de uma metrópole, servem para o mesmo propósito: elas criam um

ponto de encontro para as pessoas, humanizando-as por contato mútuo, proporcionando um abrigo contra o tráfego

acelerado das ruas.

Em diversas épocas as praças foram palco dos diferentes costumes da sociedade, portanto, sofreram mudanças

em sua estrutura projetual, linhas estruturais, passando sempre por intervenções que refletiram diferentes, hábitos,

culturas, e assim criando paisagem e ambiências urbanas. Ao produzir e utilizar o espaço urbano o homem o transforma

alterando seu aspecto através da tecnologia e modifica a paisagem que espelha, em um dado momento, a história de sua

relação com a natureza, modificando-a conforme os usos que a sociedade faz desses espaços.

Não foi diferente com a cidade de Teresina que, desde seu traçado original, em 1852, já apresentava algumas

áreas destinadas para a construção de praças. O centro histórico de Teresina tem um total de sete praças, que são: Praça

Marechal Deodoro, Praça Saraiva, Rio Branco, João Luis Ferreira, Landri Sales, Praça Pedro II e Praça da liberdade.

Possuem uma representação significativa nas áreas verdes centrais da cidade, criando áreas sombreadas com suas

coberturas vegetais.

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26

Estas praças têm, portanto, grande importância no espaço urbano de Teresina, pois fazem parte da morfologia

urbana da cidade formando a paisagem urbana desse território. Além disso, esses espaços públicos congregam história,

memória, cargas de afetividade e suas paisagens são hoje o resultado da sobreposição das expressões culturais desde a

origem da cidade aos dias de hoje. As praças centrais acumulam importantes características, configurando-se como um

referencial da modificação da paisagem com o passar dos anos.

De acordo com Lima (2001), por ser uma cidade sem litoral e por possuir um clima quente, estes espaços livres se

tornam centro de lazer e reunião, obrigatórios para aqueles que queriam inteirar-se dos acontecimentos das cidades ou

passear. Elas tiveram, também, uma enorme influência na vida dos cidadãos, pois eram palco de importantes fatos

históricos e culturais da sociedade.

Contudo, como na maioria das cidades brasileiras, nas últimas décadas, os espaços públicos de Teresina,

principalmente das áreas centrais, têm passado por uma mudança de uso além do afastamento da população. Isso se dá

principalmente devido as transformações ocorridas nessas áreas, modificando a relação da praça com o seu entorno. Por

serem os locais iniciais de ocupação da cidade, essas áreas centrais têm parâmetros sócio-culturais diferenciados

daqueles aplicados ao resto da cidade e se transformam em referenciais urbanos e memória da cidade. Porém, ao longo

do tempo, eles vão sendo alterados tanto na forma como na função pela dinâmica de ocupação da cidade. (Cardoso e

Melo, 2006).

E estas alterações que acontecem nas praças, surgem para adaptar-se à nova dinâmica da cidade, pela presença

de novas centralidades que desarticulam a importância das praças como espaço de lazer urbano e, também, pela

proliferação de atividades comerciais que ocupam esses espaços, passando de área de convívio da população para mera

passagem.

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27

Este trabalho se atém ao estudo da Praça Marechal Deodoro e Praça Saraiva, as duas primeiras praças de

Teresina.A escolha da Praça Marechal Deodoro e Praça Saraiva se deu pelo fato de esses espaços livres públicos

fazerem parte da configuração do desenho urbano da cidade, desde a sua fundação até os dias atuais.

A presente pesquisa tem como objetivo a proposta de requalificação das praças já referidas e seu entorno por meio

de diagnósticos propostos. Objetiva-se, assim, contribuir para o melhor conhecimento dos espaços livres públicos de

Teresina a partir do estudo das duas primeiras praças da cidade. Com isto ressaltar a importância desses espaços na

identidade cultural, social e urbanística da cidade e estabelecer diagnósticos que possibilitem futuras intervenções que

ofereçam melhor qualidade de uso destas praças para a população local.

Para o estudo das praças, baseado em outros estudos semelhantes já realizados, será analisado: o processo de

suas constituições a partir das intervenções urbanas desde suas fundações aos dias de hoje;as características

arquitetônicas dos territórios das mesmas junto ao seu entorno; as atuais relações físicas e funcionais entre o espaço

público e os edifícios circundantes; as possibilidades de fruição e apropriações de seus espaços por parte da população e

o grau de importância desses espaços como elementos articuladores ou determinantes no desenho do tecido urbano.

Visando atingir os objetivos propostos a pesquisa foi desenvolvida com base em:

_ Pesquisa Documental que envolveu levantamentos bibliográficos de livros, dissertações, artigos, publicações,

páginas de web sites, revistas, dentre outros; levantamentos cartográficos e iconográficos; coleta de documentos

oficiais.

_ Pesquisa de Campo desenvolvida a partir de observações e levantamento fotográfico in loco.

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28

_ Montagem de referencial teórico, para amparar a análise, a partir de Garcia Lamas (2000) e PaulZucker, (1959), no

que respeita à morfologia; Kevin Lynch (1999), de Gordon Cullen (2009) e Cerasi (1977), no que se refere às

questões de percepção e paisagem urbana.

_ Complementou-se, então, o presente estudo, cruzando os dados extraídos da pesquisa documental disponível

sobre o tema, aos dados coletados na pesquisa de campo e às análises das praças.

O trabalho apresenta a seguinte estrutura, sintetizada nos capítulos a seguir:

O capítulo1 - PRAÇAS - estuda o conceito, origem e transformações do espaço público “praça”, bem como seu

valor no limiar deste novo século na paisagem urbana, a fim de instaurar subsídios teóricos para esta pesquisa. Desta

forma, além das definições aprofundam-se, também, os aspectos relacionados à evolução histórica, funções e

configuração espacial dentro do espaço urbano, especialmente, no Brasil.

O capítulo 2- ANÁLISE DA PRAÇA MARECHAL DEODORO E PRAÇA SARAIVA- realiza a análise projetual das

duas primeiras praças de Teresina, Marechal Deodoro e Saraiva, para a realização de uma leitura crítica, cujo objetivo é

um melhor entendimento de elementos constituintes do ambiente. Para nortear este estudo, tal análise foi estruturada em

duas etapas: a primeira relacionada à conformação física da praça, estrutura espacial dos ambientes que tem como pano

de fundo o estudo sobre a morfologia urbana defendido por Lamas (2000)em A Morfologia Urbana e o Desenho da Cidade,

e um estudo mais detalhado da morfologia das praças em sua totalidade tridimensional orientado por Zucker (1959) em

Town and Square. A segunda etapa da análise realiza a leitura e percepção das possibilidades de interferência do espaço

na sua utilização, tomando por base, principalmente, A imagem da cidade (1999) de Kevin Lynch, Paisagem urbana (2009)

de Gordon Cullen e La Lecturadel Ambiente(1977) de Cerasi. Estes são considerados pioneiros em estudos relacionados à

leitura do ambiente construído e subsídios para a elaboração de novos projetos.

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29

O capítulo 3 - DIAGNÓSTICO- apresenta diagnóstico que visa possibilitar futuras intervenções urbanas na Praça

Marechal Deodoro e Praça Saraiva, contribuindo na melhoria da qualidade desses espaços e,conseqüentemente,em uma

melhor forma de apropriação dos mesmos pela população.

O capítulo 4 - compreende as CONSIDERAÇÕES FINAIS, no qual são apresentadas e discutidas as conclusões

sobre os resultados obtidos através da leitura e diagnóstico propostos paras as praças em estudo, bem como as sugestões

para futuros trabalhos.

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30

CAPÍTULO I

CAPÍTULO I | PRAÇAS

O capítulo Praças apresenta o conceito, a origem e as transformações do espaço público “praça”, além de seu

valor no início deste novo século na paisagem urbana. Com isso, além das definições aprofundam-se, também, os

aspectos relacionados à evolução histórica, funções e configuração espacial dentro do espaço urbano, principalmente, no

Brasil.

1.1 A PRAÇA NA PAISAGEM URBANA

O conceito de paisagem é muito amplo e, dependendo da disciplina, ganha novos significados. Para muitos autores,

mesmo hoje, seu conceito está associado apenas a um espaço territorial perceptível pela visão formada por elementos e

formas naturais e outros produzidos pelo o homem. Estes autores, entre eles Milton Santos (1999, p.27) para quem a

paisagem “[...] é apenas a porção da configuração territorial que é possível abarcar com a visão [...]”, definem paisagem

como aquilo que é imediatamente visível, que pode ser captado com os olhos. Porém, o conceito de paisagem envolve,

além do que é perceptível ao olho humano, o produto da relação entre natureza e cultura, além de muitos outros aspectos

e sentidos. Para Magnoli (2006) é importante que se entenda as diferentes matrizes, situações e níveis da ação humana

que podem ser observadas simultaneamente no conceito de paisagem, que é variável em escala, em percepção e em

dimensão temporal. Isto reforça a noção de que não há paisagem sem transformação e que não há natureza sem a

presença da ação humana. Em suma: a paisagem resulta de processos contínuos de alteração que são ditados por fatos

biofísicos, sociais e econômicos.

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31

CAPÍTULO I

De acordo com Macedo (1999, p.11) paisagem “é a expressão morfológica das diferentes formas de ocupação

e, portanto, de transformação do ambiente em um determinado tempo”. Para ele, a paisagem é tanto um produto como um

sistema: como produto ela é resultado de um processo social de ocupação e gestão de um determinado território; como

sistema ela sofre uma alteração morfológica parcial ou total. Ainda para Macedo estas duas posturas são indissolúveis e

estão ligadas a uma ótica de percepção humana, a um ponto de vista social.

Dependendo do campo de estudo, as dimensões de paisagem podem ser subdivididas, de acordo com Leite (1992,

p.45), em duas vertentes: uma que relaciona paisagem a sua essência física e outra que remete a sua essência simbólica.

Na primeira vertente, entra a dimensão morfológica, funcional e espacial. Na segunda, a dimensão simbólica e histórica. E

Leite as descreve como: (a) dimensão morfológica, onde a paisagem é traduzida como um conjunto de configurações

formais, derivadas da natureza e da ação humana; (b) dimensão funcional, relativa à organização, pois que suas partes

guardam relações entre si; (c) dimensão histórica, na medida em que é produto das transformações que ocorrem ao longo

do tempo; (d) dimensão simbólica, uma vez que a paisagem carrega significados que expressam valores, crenças, mitos e

utopias, e (e) dimensão dinâmica, que relaciona os padrões espaciais aos processos que lhes deram origem.

Essas duas dimensões, por sua vez se auto completam. Na primeira vertente encontram-se autores como Kevin

Lynch e Gordon Cullen que consideram apenas o efeito visual e emocional da paisagem sobre o observador. Dentro da

vertente simbólica, a paisagem se inicia a partir de uma identificação do conjunto de elementos que justificam a atribuição

de valor ao local (Ribeiro, 2007). Estas paisagens são singulares na medida em que fazem parte do cotidiano de pessoas

que percebem e valorizam o conjunto de elementos que as compõem. Nesse caso, a preservação da paisagem natural e

urbana é defendida como um meio de enfatizar a importância na construção da identidade cultural dos habitantes do lugar

(Leão, 2011).

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32

CAPÍTULO I

A idéia de paisagem como uma invenção cultural, como um artefato construído e elaborado pelo homem é

enfatizado por alguns autores que chamam a atenção para as relações estabelecidas entre homem e seu ambiente, como

destaca o seguinte autor:

“Deveríamos tentar entender porque uma dada sociedade interpreta o seu ambiente de uma forma específica, que leva a criação de formas específicas de assentamentos. Isso exige mais do que levantar as formas da paisagem, e mais ainda do que uma análise funcional. Isso exige que se estude o significado que cada sociedade humana oferece ao seu ambiente.” (BERQUE, 2000 apud LEÃO,2011 p.17).

E é por entender que todas as paisagens expressam a cultura de um determinado local e de uma época específica,

através de representações individuais, que Meinig(1979) indica que as paisagens acumulam essas representações e se

tornam extremamente complexas para serem entendidas em sua totalidade. O autor considera todas as paisagens

simbólicas, como expressão dos valores culturais, do comportamento social e de ações individuais trabalhadas em

localidades especifica por um período de tempo (MEINIG, 1979:6). Para este autor, a paisagem é uma acumulação de

tempos e seu estudo pode ser entendido como história. (TANGARI, et al. 2009).

Logo, os espaços livres públicos, na paisagem urbana, representam mais que espaços geográficos, são vestígios

da história e cultura de uma comunidade _ “ao caminhar pelas calçadas, ao brincar nos parques e praças, ao interagir com

as informações visuais presentes em signos que habitam as cidades, nos envolvemos com o espaço público na intensa

relação entre o ser e o objeto, entre o habitante, o transeunte e a cidade.” (SCHMIDLIN 2006, p.6). Entre eles, a praça se

destaca como o espaço público que detém grande representatividade local, tanto em seus aspectos morfológicos como

históricos e funcionais. Desde suas origens na Grécia antiga até aos dias de hoje, a praça sempre esteve presente na

malha urbana, como também serviu de palco para as manifestações culturais, políticas e religiosas dos países do

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33

CAPÍTULO I

Ocidente. A praça está tão integrada ao conceito de cidade que é praticamente impensável um espaço urbano no qual ela

não esteja inserida.

1.2. PRAÇA: CONCEITOS, FUNÇÕES E EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Praça – [do grego-plateia, ‘rua larga’, pelo latim-platea], lugar público cercado de edifícios; largo; Mercado; feira.1

Existem diversos conceitos referentes ao termo “praça”, porém, todos os autores concordam em conceituá-la como

um espaço público e urbano, onde sempre foi celebrada como um espaço de convivência para habitantes urbanos.

Robba e Macedo (2003, p.11) afirmam que: “praças são espaços livres de edificação, públicos e urbanos,

destinados ao lazer e ao convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos.” Para eles, é isso que difere

as praças dos chamados “jardins urbanos”, a existência de atividades de lazer e recreação e acessibilidade aos pedestres.

Para Bartalini (2007), as praças surgiram devido às necessidades de espaços para a realização de qualquer

atividade de troca e para tomada de decisões coletivas. É um lugar para encontros e festividades, um símbolo para a

comunidade, e, contudo, um “centro” facilmente acessível onde se realizam as mais variadas funções. Ainda segundo o

autor, a importância simbólica e referencial que se dá a uma praça, resulta quando o espaço se torna marco referencial

local ou é tomado de um significado especial apropriado pelo usuário ou habitante da cidade; ou, ainda, quando carrega

algum sentido histórico e característica que, caso fosse extinta, descaracterizaria o ambiente.

A praça, ao mesmo tempo em que é um vazio é uma construção. A praça não é apenas um espaço físico aberto,

mas também um centro social integrado ao tecido urbano, e sua importância refere-se tanto ao seu valor histórico, como a

1 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da Língua Portuguesa. Ed. Nova Fronteira, 1986

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34

CAPÍTULO I

sua participação contínua na vida da cidade. (ALEX, 2008). Quanto a isso, Sun Alex (2008) cita Kevin Lynch (1981)

afirmando claramente que a praça é um lugar de convívio social inserido na cidade e que está relacionada com as ruas,

arquitetura e pessoas.

Segundo Saldanha (1993) «a praça integra organicamente o conjunto formado pela cidade, mas ao mesmo tempo

está nele como um espaço - quase como uma clareira - surgido pelo distanciamento entre determinadas porções

construídas». Porém, a praça não é apenas uma extensão espacial, ela corresponde a um significado social, correlato do

próprio espírito da cidade onde se insere.

Para Lamas (2010, p.100):

“A praça é um elemento morfológico das cidades ocidentais e distingui-se de outros espaços, que são resultado acidental de alargamento ou confluência de traçados - pela organização espacial e intencionalidade de desenho. Esta intencionalidade repousa na situação da praça na estrutura urbana, no seu desenho e nos elementos morfológicos (edifícios) que a caracterizam. A praça pressupõe a vontade e o desenho de uma forma e de um programa. Se a rua, o traçado, são os lugares de circulação, a praça é o lugar intencional do encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações de vida urbana e comunitária e de prestígio e, conseqüentemente, de funções estruturantes e arquiteturas significativas.”

Lamas (2010) afirma que a praça é um elemento urbano ocidental, já que nas cidades islâmicas, a praça não existe.

Quanto a isto, Segawa (1996, p.31) ressalta que “a praça é um espaço ancestral que se confunde com a própria origem de

conceito ocidental de urbano.”

De acordo com De Angelis (2000, p.1):

“A palavra praça vêm do latim platea, e esta do grego platys, que resume desde muito, o destino da ágora grega e do fórum romano ao uso público para reuniões e convívio social. Era local de encontros, de tomadas de decisões de interesse da comunidade, de espetáculos, execuções, ofício religioso, comércio, festas, enfim, a vida da cidade tinha, necessariamente, que passar por ela.”

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35

CAPÍTULO I

Ao longo da história, a praça teve diferentes formas e funções,

mas, como já dito, sempre esteve presente na morfologia das cidades

ocidentais.

Como espaço coletivo, segundo Caldeira (2007), a praça envolve

questões socioculturais, já que é o lugar de encontro onde se desenvolve

a vida social. O uso do termo “espaço público” é recente, parece derivar

do conceito de “espaço urbano”e estar vinculado ao conceito de “esfera

pública” e “esfera privada”, conceitos estes, que remetem ao direito

Romano e que permanecem presentes na organização das cidades

medievais.

Para Habermas (1984), a relação entre o termo “espaço público” e

um espaço geográfico aparece na formação da cidade-estado grega, a

polis. Era ali na Ágora onde acontecia a manifestação da esfera da vida

pública. Essa praça era formada por um pátio aberto, circundado por

edifícios públicos administrativos e o mercado.

Na Ágora, os cidadãos livres exerciam a política por meio de ação e

do discurso e ela podia ser visualizada por toda a comunidade, era o lugar

do domínio público. Seguindo esse contexto, Saldanha (1993) afirma que

a ágora, mais do que praça de mercado, era o centro dinâmico da cidade grega, tornando-se historicamente o símbolo da

presença do povo na atividade política.

Figura 01: A Ágora, plano e reconstrução. Fonte: ZUCKER (1959, p.32).

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36

CAPÍTULO I

Zucker (1959) afirma que a Ágora, tanto do ponto de

vista sociológico, como do ponto de vista arquitetônico,

baseou-se nas potencialidades do crescimento gradual da

democracia. Como ponto focal das cidades, era localizada

no centro, quando a topografia permitia. No início a Ágora

era primariamente o lugar para encontros políticos e

assembleias legislativas. Foi mudando gradualmente em

um centro de comercialização e finalmente se tornou o

único, considerando que a função política da Ágora foi

assumida pelo representante em reuniões da área sagrada

da Acrópole o que restava das atividades governamentais,

administrativos e judiciais no âmbito da Ágora agora foi

atendida em edifícios fechados especiais.

Portanto, pode-se dizer que a Ágora é antecessora

remota de nossas praças e, assim como a Ágora, na

antigüidade greco-romana, também, existia o Fórum, sendo

ambosos espaços públicos de maior importância da cidade e

funcionavam como seu centro vital. Materializada na figura da

Ágora ou do Fórum, a praça, com seu conjunto arquitetônico,

desempenhava um papel crucial na vida citadina.

Figura 02: Discurso na ágora grega. Fonte:http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/aulas/6802/imagens/pericles1.jpg. Acesso: 20/08/2010.

Figura 03: Ágora e construções representativas do poder público. Fonte:www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/socrates/images/mapaathens.gif. Acessado em 28/10/2010.

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37

CAPÍTULO I

Conforme Zucker (1959), o Fórum era o espaço urbano principal, cercado por edifícios administrativos, religiosos e

comerciais. Decorado com esculturas, arcos e colunas, escadarias, representava um contraste com o denso tecido urbano.

Tais elementos, também, criavam a integração da arquitetura com o espaço urbano. Semelhante a polis grega, a cidade

romana caracterizava-se pelo contraste entre o vazio do Fórum e o denso tecido urbano composto de edificações

homogêneas e edifícios de caráter monumental. Porém, diferentemente da Ágora grega, no Fórum, as discussões políticas

aconteciam no interior dos edifícios, e não nas praças abertas.

Figura 04: Fórum Romano: fonte: Roma Ântica (GABUCCI apud CALDEIRA, 2007).

Figura 05: planta dos Fóruns Romano. Fonte: http://helenadegreas.files.wordpress.com/2010/03/forum-romano.jpg. Acesso: 20/08/2010.

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38

CAPÍTULO I

Portanto, tanto a Ágora como Fórum eram espaços coletivos por excelência, o lugar de “vida cívica”, verdadeiro

centro vital da cidade e como tal permaneceram presentes na estrutura das cidades ocidentais, sendo o centro da vida

social.

No entanto, Segundo Lamas (2000), só na Idade Média se começa a esboçar o conceito de praça europeia, que

atingirá o apogeu a partir do renascimento. Daí a importância de um breve estudo desses espaços na idade média. Pois,

nesta época praça tem um papel fundamental na cidade, pois, era nela que desenvolvia os principais acontecimentos

coletivos da vida cotidiana. Conforme Sitte(1889,p.32):

“Na Idade Média [...], essas praças eram o orgulho e a alegria detoda cidade independente; aqui, concentrava-se o movimento, tinham lugar as festas públicas, organizavam-se as exibições, empreendiam-se as cerimônias oficiais, anunciavam-se as leis, e se realizava todo tipo de eventos semelhantes. De acordo com o tamanho de cada comunidade ou o tipo de sua administração, serviam a essas necessidades práticas duas ou três das praças principais, raramente uma só, pois as praças também eram manifestação da diferença entre autoridade secular e eclesiástica, distinção que a Antigüidade não fazia da mesma maneira.”

De acordo com Caldeira (2007), ao analisar as práticas e o comportamento social da cultura medieval, em seu

trabalho sobre a obra de Rabelais, Bakhtin(1987, p. 132) assim se manifesta sobre a importância da praça:

“Apraça pública no fim da Idade Média e no Renascimento formava um mundo único e coeso onde

todas as “tomadas de palavra” (desde as interpretações em altos brados até os espetáculos organizados) possuíam alguma coisa em comum, pois estavam impregnadas do mesmo ambiente de liberdade, franqueza e familiaridade. [...] A praça pública era o ponto de convergência de tudo que não era oficial, de certa forma gozava de um direito de “exterritorialidade” no mundo da ordem e da ideologia oficiais, e o povo aí tinha sempre a última palavra.”

Articulada à escala urbana, a configuração da praça medieval definiu-se pelo contraste do vazio com a densa

paisagem, compondo uma diversidade de espaços. De acordo com Zucker( 1959) ela se estruturava em vários espaços:

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39

CAPÍTULO I

praças de mercado, onde acontecia toda a atividade

comercial da cidade, geralmente instalada em lugar de

maior movimento; praças no portal da cidade,

normalmente praças triangulares, de onde partiam duas

ou três ruas para o centro. Eram áreas de passagens e

distribuição de tráfego; praças centrais, praças fundadas

no centro do povoado, em comunidades novas; praças

de igrejas, espaços em frente às igrejas, onde os fiéis se

reuniam paras as atividades religiosas, procissões,

missas ao ar livre, e onde ficavam os cristãos-novos, que

não podiam entrar na igreja; praças agrupadas,

pequenos espaços que ligavam praças de mercado e

praças de igrejas (adros).

Como se pode ver na imagem 07 (ao lado), o

contraste espacial, juntamente com o papel desenvolvido

pela praça, determinariam a noção de marco urbano e

visual adquirida por esse espaço nas cidades

medievais.

Durante o Renascimento, a praça adquire nova

função estética e social. O crescimento urbano, o

desenvolvimento do mercantilismo e das pequenas

Figura 06: Praça Medieval (Praça de Mercado) Fonte:cidademedieval.blogspot.com/ Acesso: 02/11/2010.

Figura 07: Piazza Del Campo e Piazza Del Catedral – Siena. (o contraste entre os grandes espaços das praças com as estreitas ruas medievais). Fonte: Plazas of Southern Europe (KATO, 1990 apud CALDEIRA, 2007: 24).

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40

CAPÍTULO I

indústrias, e a reestruturação da sociedade com o

surgimento da burguesia acarretaram novas atitudes em

relação ao espaço citadino (CALDEIRA, 2007).

A praça passa a ser elemento estruturante do

desenho urbano, definido por uma rígida geometria.

Como afirma ZUCKER (1959:99), “design arquitetônico,

teoria estética e princípios de urbanização voltam-se

para ideias idênticas”: a busca pela ordem e disciplina,

em contraste com a espontaneidade do espaço

medieval. Praças, ruas e avenidas transformam-se nos

principais elementos de reformas e intervenções

urbanas.

Na palavra de Segawa (1996, p.48): «o

emaranhado tecido de estreitas e abafadas vielas e

ruas do passado vai, gradativamente, sendo substituído

por largas, luminosas e arejadas vias de comunicação –

o espaço urbano ganha novas referências com as

perspectivas inéditas de avenidas retas e praças

formais.» A geometria e a perspectiva tornam-se a base

da ordenação espacial, conforme se pode observar nas

figuras 08 e 09:

Figura 08: – A Praça Ideal na Cidade Renascentista, Século XV Fonte:La cité idéale en Occident. (VERCELLONI, 1996 apud CALDEIRA, 2007).

Figura 09: Place de Vogues, Paris. Fonte: photography.nationalgeographic.com. Acesso em 18/11/2010.

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41

CAPÍTULO I

Nos séculos XVI e XVII, segundo Segawa (1996), com o fortalecimento da burguesia mercantil surge um novo

espaço diferenciado das praças vistas até agora: os jardins públicos, que diferenciam das praças tradicionais pela inserção

da vegetação no ambiente urbano com elemento constituinte da paisagem. Apesar de “público”, ainda conforme Segawa,

esses jardins no momento de seu surgimento, eram espaços segregados na cidade, construídos por e para uma elite

econômica e social. Esses locais nasceram como lugares que evitavam a alegre desordem das praças e estabeleceram

elegantes e comportados cenários para um grupo social diferenciado, como é o caso da Place de Vogues em Paris (ver

imagem 09).

Segundo a análise de Sennet(1988,p.32 apud CALDEIRA 2007, p.196) :

“Observa-se que o papel da praça entra em processo de declínio, em relação à sua dimensão social, sobretudo com o desenvolvimento dos parques públicos. Esses espaços ajardinados, geralmente protegidos das áreas de intensa circulação, juntamente com os jardins, representaram para a classe burguesa o ambiente ideal para o estabelecimento de novas condutas e hábitos sociais, como, por exemplo, o footing. Outros estabelecimentos como cafés, grandes magazines, mercados e teatros também se estabeleceram como alternativas de práticas sociais burguesas em substituição a antigas práticas urbanas, acolhendo os novos hábitos citadinos.”

A partir do séc. XIX, a paisagem urbana das cidades europeias passou por reformas urbanas significativas depois

do impacto causado pela Revolução Industrial. O crescimento acelerado da cidade exige intervenções gerais e não

pontuais na morfologia urbana (CALDEIRA, 2007). A cidade moderna deveria refletir o avanço tecnológico, resultado do

desenvolvimento social, com riqueza de informações, e os parques franceses absorveram este novo modelo de

incorporação da natureza ao tecido urbano, com destaque para os grandes parques que se constituíram em elementos

chave da reforma urbana de Paris: Bois de Boulogne e Bois de Vincennes (ver imagens 10 e 11).

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42

CAPÍTULO I

No tempo pós-renascentista, a praça é utilizada como um elemento urbanístico de grande importância. Surgem,

então, as praças de confluência de vias como no plano de intervenção de Paris executado pelo Barão de Haussmann na

segunda metade do século XIX. O modelo da rua tradicional é substituído por um sistema de circulação de fluxo contínuo e

a praça assume o papel de elemento de composição do sistema viário: lugar de passagem e entroncamento. A praça

perde suas características tradicionais e se esvazia (FAVOLE, 1995). Os boulevards parisienses, com sua arborização

ordenada, a concepção de cidades e bairros-jardim, os hortos botânicos, os parques públicos, as vias-parque, as praças

ajardinadas, a residência isolada no lote e cercada de jardins são figuras urbano-paisagísticas que se consolidam durante

o século XIX e início do século XX, caracterizando uma forma nova de projetar o espaço e a paisagem urbana. (MACEDO,

1999).

Figuras 10 e 11: Bois de Boulogne e Bois de Vincennes Fonte: imagens:http://www.panoramio.com/photo. Acesso em 18/11/2010

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43

CAPÍTULO I

Portanto, os crescimentos acelerados das cidades exigem soluções adequadas aos problemas urbanos,

modificando a estrutura formal da cidade e fazendo com que os espaços simbólicos e tradicionais percam o signifcado. É o

caso da praça que entra em declínio como local de sociabilidade e se tornam vazios urbanos ligados ao sistema viário e ao

abrigo de monumentos(CALDEIRA, 2007). Exemplo disso tem-se, no Brasil a Praça da Sé em São Paulo. A implantação

do Plano de Avenidas, proposta de uma nova estruturação viária, afetou o entorno da Praça da Sé. Esta iria transformar-se

no maior terminal paulistano de bondes e ônibus. O novo perfil da praça demonstraria o processo de submissão imposto

aos espaços públicos centrais em favor da remodelação do sistema viário.(BARTALINI, 1988). Edifícios, quadras, praças

seriam destruídos, demolidos e reorganizados para se efetivar a adequação do tráfego à escala do crescimento urbano.

Figuras 12 e 13 – Le Boulevard Haussmann O modelo do boulevard torna-se símbolo da metrópole moderna. A intervenção de Haussmann rasga o tecido da Paris medieval propondo uma nova experiência do espaço urbano. Fonte: expositions.bnf.fr – dex/2005 e Paris-Haussmann (CARS e PINON, 1991 apud CALDEIRA, 2007).

Figura 14 – PLACE De L’ETOILE, PARIS. Adequando-se à nova escala urbana, a praça perde a força de sociabilidade. Fonte: Plazas of Southern Europe (KATO, 1990apud CALDEIRA, 2007).

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44

CAPÍTULO I

De acordo com Ferrara (2007), a Sé sofreu um processo de descaracterização, não de degradação: de adro da

igreja de São Pedro da pedra (1860), largo da Sé, onde estacionavam os fiacres (1910), largo da Sé e passagem

obrigatória de bondes (1915), Praça da Sé e a nova catedral em construção (1933), a Praça da Sé se amplia(1952) e

em(1975) com um projeto da superpraça da sé, o edifício Mendes Caldeira é demolido, e a implantação da nova praça

segmentada se adequa à Companhia do Metropolitano de São Paulo.

A praça moderna transforma-se num vazio perdido no meio da cidade, cercada pelo ruído dos automóveis e

intensos tráfegos de pedestres e veículos, enquanto os cidadãos se recolhem cada vez mais aos lugares fechados em

busca de um ambiente mais seguro e tranquilo. Segundo Sitte (1889:23): “A praça moderna, recortada no movimento

Figura 15: Praça da Sé com a nova caetdral em contrução ao fundo-1937 Fonte: www.aprenda450anos.com.br.Acesso 02/12/2010.

Figura 16: Praça da Sé nos dias atuais. Área modificada para se efetivar a adequação do tráfego à escala do crescimento urbano. Fonte:http://www.projetosurbanos.com.br/2008. Acesso 02/12/2010

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45

CAPÍTULO I

protocolar de uma régua, não tem o menor conteúdo espiritual, somente

uma superfície vazia, de tantos por tantos metros quadrados.”.

O papel da praça, atendendo às obras de infraestrutura urbana, está

condenado à escala monumental, desempenhando somente a função de

grande vazio. Contudo, uma mudança nas políticas de intervenção urbana

recolocou em foco a questão da retomada do espaço público. Nesse

contexto, a praça contemporânea parece estar ressurgindo como o

protagonista dos espaços coletivos, principalmente nas ações de resgate de

qualidade urbana concretizadas em intervenções de áreas centrais, de

locais históricos, e mesmo de espaços reabilitados de pequenas praças.

Essa tendência de intervenção pontual parece alinhar algumas das

propostas urbanas contemporâneas. Como exemplo, no Brasil, podemos

citar o projeto da Praça Victor Civitta em São Paulo, cujo projeto foi

determinado e realizado em função da recuperação de uma área publica

degradada, que serviu como depósito de lixo.

Favole (1995,p.10) define a praça contemporanea:

“A praça contemporânea é um espaço que quase nunca tem uma função específica, nem depende, estritamente,de um edifício ou de um monumento. Sua finalidade é a de constituir-se em um lugar atrativo de encontro e reunião; Assim, agora o objetivo do projeto é a praça em si. O lugar onde a comunidade se reunia para realizar uma atividade coletiva(religiosa, comercial, política), é substiuido por um espaço que reune individuos isolados.um espaço, no entanto, unificado e definido por meio de desenho.”

Figura 17: FREEDOM PLAZA, WASHINGTON. Fonte: La Plaza em la Arquitectura Contemporânea (FAVOLE, 1995).

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46

CAPÍTULO I

De certa forma, a praça na sua origem caracterizou-se como um espaço multifuncional, sujeito ao desenvolvimento

de todo e qualquer tipo de atividade. Na sua trajetória até a concepção contemporânea, a praça foi sofrendo alterações

morfológicas e funcionais, acarretando a formação de um espaço setorizado.

Renegando a possibilidade de sobreposição de funções, esses espaços se

tornaram empobrecidos se comparados à riqueza de uso estabelecida

anteriormente.

Por outro lado, a busca pela qualidade de vida urbana tem originado

projetos de intervenção cujo objetivo principal é a retomada da convivência

citadina nos espaços coletivos. Nesse contexto, verifica-se uma releitura do

modelo da praça tradicional como foco central das políticas urbanas

contemporâneas. Contudo, como já visto, a cidade carrega o potencial de ser

o lugar que pode oferecer mudança e

variedade para as pessoas. Daí, a

importância dos espaços urbanos que

congregam e dão valores a essas

mesmas cidades. (GOMES, 1997). É

desse modo que: “Não se pode

chamar de cidade um lugar onde não

existam praças e edifícios públicos.”

(PAUSÂNIAS apud SITTE, 1992:32).

Figura 18: Imagem da Praça Victor Civita. Fonte: Arquivo pessoal.

Foto tirada pela autora em 20/11/2010.

Figuras 19 e 20: Imagens das intervenções da Praça. Fotos tiradas pela autora em 20/11/2010.

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47

CAPÍTULO I

1.3. CONFIGURAÇÃO ESPACIAL DAS PRAÇAS BRASILEIRAS

O processo de formação das primeiras praças brasileiras está diretamente ligado ao processo de colonização do

país. De acordo com Reis (2000), o urbanismo no Brasil respondeu, desde o início da colonização, a políticas bem

definidas, isto é, critérios claramente estabelecidos pelos agentes centrais do processo de colonização. Portanto, é notória

a influência dos princípios urbanísticos da tradição Portuguesa nas cidades coloniais Brasileiras. Conforme Teixeira

(2000:1 apud, CALDEIRA, 2007:39):

“Na história do urbanismo Português, a formação das cidades, tem origem em duas vertentes: uma vernácula, tradicional, apoiada nos processos de formação característicos das cidades medievais, e outra erudita, cujas bases fundamentaram-se na concepção de sistemas ortogonais. A tradição vernacular predominou a partir do séc. XIII, quando as principais cidades portuguesas passaram por um processo de rápido desenvolvimento. Ao longo do séc. XV, passa a predominar a vertente erudita, cuja principal característica corresponde à racionalização e à regularização dos traçados urbanos. Essa vertente manifesta-se na transformação da composição morfológica das cidades e tem influência direta na formação das cidades de origem portuguesa.”

A necessidade de formar vilas e núcleos urbanos para o povoamento das colônias portuguesas serviu como

laboratório para executar novas diretrizes urbanas que logo depois estabeleceram novos padrões morfológicos e

urbanísticos português, onde passa a predominar a vertente erudita, cuja principal característica corresponde à

racionalização e à regularização dos traçados urbanos (CALDEIRA, 2007). Segundo Reis (2000), ao tempo do

descobrimento do Brasil, esses padrões de racionalidade e regularidade que dizem respeito à prática da organização

urbana, referiam-se a prática da arquitetura e urbanismo já existentes nas cidades européias.

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48

CAPÍTULO I

Nesse sentido, ainda conforme Reis, uma

discussão levantada na formação das cidades

brasileiras, foi a adaptação desse traçado urbano

às características naturais dos terrenos

acidentados do Brasil: «o descompasso entre o uso

do traçado racional sob uma topografia irregular no

final do século XVII começavam a surgir

dificuldades para o crescimento dos núcleos

maiores.» Como um dos exemplos, o autor cita a

cidade de Salvador, que embora tenha o traçado

quadriculado, a topografia do sítio, onde se

sobressaem ladeiras e morros, dificulta a execução

do traçado da vertente racional.

Em relação à estruturação da Praça nas cidades brasileiras, Reis (2000:131 e 132), afirma que: “uma constante na

forma de organização desses centros era a valorização, por meio de praças, dos pontos de maior interesse para as

comunidades. (...) Essas eram referências básicas do traçado, os espaços mais visíveis de uso comum”. No entanto, a

formação da Praça no Brasil também esteve sujeita aos mesmos processos ocorridos no contexto urbano português e

resultou na criação de espaços bastante diversificados, originados a partir de dois princípios: a praça espontânea, presente

no universo medieval, e a praça formal, gerada a partir da aplicação de princípios racionais. (TEIXEIRA apud CALDEIRA,

2007). Quanto à formação espacial das praças portuguesas, Teixeira (apud CALDEIRA 2007,p.44) discorre sobre a

existência de dois momentos:

Figura 21: Planta Cidade de Salvador: Traçado regular adaptado à topografia – cidade baixa e cidade alta Fonte: Imagens de Villas e Cidades do Brasil Colonial (REIS 2001, P.18). «Copia manuscrita, incluída no códice que dá razão (...)», do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, RJ.

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49

CAPÍTULO I

“O primeiro teve origem a partir do séc. XVI, com a introdução da estética renascentista. Esse processo resultou na implantação de uma política de regularização formal dos espaços públicos e caracterizou-se pelo contraste dos espaços formais sobre o tecido medieval. O segundo desenvolveu-se nas cidades setecentistas, caracterizadas pela estrutura urbana regular, de base geométrica. A morfologia da praça decorre do traçado racional e planejado.”

Portanto,dois princípios podem ser apontados como determinantes na composição formal da praça colonial do

Brasil: o formato orgânico (nas cidades de formação espontânea) e a formal, nas cidades planejadas.

A praça de formato orgânico surge na primeira fase da formação das cidades ao longo de cruzamentos e caminhos

dos principais acessos ao núcleo urbano, ou como vazio ou terreiro da igreja matriz, do convento ou do mosteiro,

ocorrendo aí a supremacia da praça religiosa. Exemplo disso é: a Praça Municipal, em Salvador; Praça de Tiradentes, em

Ouro Preto; Largo do Carmo, Rio de Janeiro; conforme Teixeira (apud CALDEIRA 2007). Como diz Marx (1980, p.50):

“Logradouro público por excelência, a praça deve sua existência, sobretudo, aos adros das nossas igrejas. Se tradicionalmente essa dívida é válida, mais recentemente a praça tem sido confundida com jardim. A praça como tal, para reunião de gente e para exercício e um sem-número de atividades diferentes, surgiu entre nós, de maneira marcante e típica, diante de capelas ou igrejas, de conventos ou irmandades religiosas.”

Nas cidades brasileiras do período colonial, seguindo a vertente racional, as praças apresentam uma morfologia

que expressa um padrão regular e geométrico: praças de igreja, praças cívicas e praças centrais. Segundo REIS FILHO

(1995), nesse período, as estratégias de ocupação, transferência e fundação de novas cidades estavam diretamente

associadas à política de controle territorial, sendo Salvador a primeira cidade a adquirir importância territorial

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50

CAPÍTULO I

representando a sede do Governo-Geral na colônia. As iniciativas

posteriores de criação de cidades-capitais ocorreram já no período

Republicano, em meados do séc. XIX, sob orientação e designação

do Estado brasileiro. Observa-se a transferência das capitais

regionais do estado do Piauí para a cidade de Teresina, em 1852, e

de Sergipe para a cidade de Aracaju, em 1855, Belo Horizonte,

capital do Estado de Minas Gerais, em 1894, e Goiânia, capital do

Estado de Goiás, em 1933. Em relação à configuração urbana, essas

cidades possuem certas características semelhantes, materializadas

na aplicação de um traçado racional, com a utilização de grandes

eixos de perspectivas e estruturação de centros irradiadores.

Nessas cidades planejadas a praça funciona como seu marco

zero, centro cívico em torno da qual as cidades se desenvolvem e

onde se localizam os edifícios institucionais que abrigam os poderes

públicos e administrativos do município. Logo se tornaram pontos de referência da paisagem,desempenhando um papel

fundamental na leitura do espaço urbano, conforme Teixeira (apud CALDEIRA 2007, p.86):

“Estamos perante uma concepção radicalmente diferente, e moderna, de espaço urbano e de estruturação urbana. Este novo conceito de estruturação urbana, em que o elemento dominante e gerador da malha urbana é a praça (e já não como anteriormente os edifícios singulares e as ruas que os articulavam entre si) irá influenciar não apenas as fundações jesuítas mas toda a teoria e a prática urbanística portuguesa, civil e militar. Desenvolvidos em múltiplas situações ao longo do século XVII, estes novos conceitos de estrutura e de desenvolvimento urbano irão expressar-se, plenamente desenvolvidos, nos traçados urbanos setecentistas – Joaninos e Pombalinos – construídos quer no Brasil quer em Portugal.”

Figura 22: Praças do Brasil Colonial. “A irregularidade dos traçados, disposta com graça e sensibilidade, é uma das razões de sedução que eles exercem.” (SANTOS, 2001, p.73).

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51

CAPÍTULO I

Exemplo disso, além da cidade de Teresina, Caldeira (2007) cita

como exemplo outro município do Piauí no período pombalino: a planta da

Vila de São João da Parnaíba, onde a cidade assume um traçado

quadriculado que se desenvolve ao redor da praça (ver figura 23).

Santos (2001), na sua obra Formação de cidades no Brasil Colonial,

compara as praças informais das cidades espontanea com as regulares das

cidades planejadas através do desenho do traçado (ver figuras 22 e 24).

Assim, o urbanismo português se fez notar logo no surgimento dos

primeiros núcleos urbanos brasileiros, onde as vilas e as cidades foram

fundadas seguindo o modelo português de uso e ocupação do território. No

entanto, como foi dito, a formação das primeiras praças brasileiras também

sofreram influências dos seus colonizadores (ver figuras 25 e 26).

Durante os três primeiros séculos que se seguiram ao início da

colonização portuguesa, o processo de formação do espaço livre público não

foi decorrência de uma necessidade social urgente. De acordo com Reis

Filho (1995), durante o séc. XIX com a vinda da Corte Portuguesa ao Rio de

Janeiro, o Brasil passa por várias transformações, e é nesse momento que o

país se propõe a reproduzir novos hábitos e a paisagem de países europeus.

Assim, a forma de concepção da arquitetura e do espaço urbano também

sofreu influência dessa mudança.

Figura 23: São João da Parnaíba, PI. Fonte:Imagens de Villas e Cidades do Brasil Colonial (REIS, 2001).

Figura 24: A) A praça principal de Vila Boa de Goiás; B) Idem, de Cuiabá; C) Idem, de Vila Bela; E) Idem, de Mazagão. (SANTOS, 2001, p.75).

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52

CAPÍTULO I

No final do séc. XVIII e começo do séc. XIX aparecem na

Europa os primeiros espaços ajardinados para uso coletivo,

influenciados pela burguesia mercantil que desejava um espaço para

exibir poder e riqueza. Surgem os primeiros passeios públicos em Paris

devido à grande reforma urbana executa da por Hausmman, marcada

por grandes boulervade parques públicos, como já visto, e é nesse

processo que tem origem os primeiros jardins no Brasil, inclusive a

construção do primeiro jardim público do Rio de Janeiro. (REIS FLHO,

1995). Quanto a isso, Segawa (1996, p.108) afirma:

“O passeio público do Rio de Janeiro foi contemporâneo ao surgimento dos primeiros jardins públicos europeus na segunda metade do séc. 18, símbolos do pensamento iluminista a invocar formas de sociabilidade nas quais a aristocracia e a burguesia encontravam um lugar comum.”

Nessa época começam a proliferar os jardins em residências bem

como a arborização de vias e ruas, criando o hábito para jardinagem. A

vegetação passa a ser utilizada para embelezar ruas e quintais, agora

chamados de jardins.

Com a riqueza advinda do café, no final do séc. XIX, as

residências da elite passam a ser ornadas por imensos jardins, unindo a

Figura 25: Praça do Pelourinho, atual Praça da República. Cidade de Chaves – Portugal. Fonte: http://serra.blogs.sapo.pt/ arquivo/2005_01. html – Acesso 02/10/2010.

Figura 26: Praça de Tiradentes. Ouro Preto - Minas Gerais - Brasil. Fonte: http: www.folha.uol.com.br. Acesso 02/11/2010.

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53

CAPÍTULO I

tradição rural de casas isoladas em grandes campos vegetais à tradição

de moradia urbana. O jardim assume o papel de elemento valorizador

da edificação. (REIS FILHO, 1995).

Nesse mesmo período, segundo Marx (1980), as principais ruas

e praças recebem canteiros de árvores e flores ornamentais, sendo

tratadas como jardins. O sucesso é enorme e logo as praças tradicionais

recebem árvores e perdem sua antiga função de pátio e terreiro.

Portanto, no séc. XIX, os logradouros públicos difundem-se pela

cidade brasileira e os projetos de embelezamento urbano consolidaram

cada vez mais a praça como modelo formal e regular, acrescentando

aos poucos a valorização do verde na

paisagem. De acordo com Segawa (1996)

esse novo modelo de praças com jardins,

além dos valores estéticos, traz novas

funções de lazer e contemplação. No entanto,

como ainda não estavam alinhados com a

tradição de uso e manutenção do espaço

público ajardinado, muitos têm duração

efêmera e o próprio Passeio Público do Rio

de Janeiro passa por extenso período de

abandono e degradação.

Figura 27: ParcMontsouris, Paris. Fonte: Macedo (1999:29) No desenho verifica-se a influência dos parques europeus na formação do 1° jardim público do Rio de Janeiro.

Figuras 28 e 29: Passeio público do Rio de Janeiro em 1817 e depois da reforma de Glaziou em 1861. Fonte:www.passeiopublico.com/. Acesso: 27/11/2010.

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54

CAPÍTULO I

Na primeira metade do séc. XX o urbanismo no

Brasil passa por um período de muitas mudanças, marcado

pela consolidação do modo de produção industrial, que

gerou profundas transformações no meio de vida urbana.

Tais mudanças acarretaram a renovação dos equipamentos

e espaços públicos seguindo a pauta do movimento

moderno, atendendo ás demandas da capital e da cidade do

interior.

No Brasil, segundo Dourado (2009), definir lugares

como meio de valorização e afirmação de uma cultura de

matriz nacional, capaz de traduzir a diversidade social,

histórica e territorial do país, não era apenas uma questão

que norteava a aproximação entre a arquitetura e o

paisagismo modernos, mas imantava também um

segmento, em especial a partir da década de 1930: a

produção dos espaços públicos.

Segundo Robba e Macedo (2002), a partir da

década de 1940, sob a influência de arquitetos paisagistas

modernos, como Roberto Burle Marx, Thomas Church e

Garret Eckbo, as praças e parques passam a englobar o

lazer ativo (atividades esportivas e recreação infantil) e

Figura 30: Residências da família Jafet no Ipiranga, São Paulo. Fonte: Quadro do Paisagismo no Brasil.(1999:36).

Figura 31: Av. Higienópolis, São Paulo. Fonte: Quadro do Paisagismo no Brasil.(1999:34).

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55

CAPÍTULO I

recebe equipamentos como quadras para práticas

esportivas, brinquedos para crianças e churrasqueiras.

Lazer foi um dos itens que o urbanismo moderno

estabeleceu como suma importância para o habitante

urbano do séc. XX, rejeitando o antigo modelo eclético de

praça como lugar apenas de atividade contemplativa.

Essas transformações, porém, segundo os autores já

citados, não se deram bruscamente, pois por muitos anos

houve uma superposição de linguagens, convivendo o

moderno com o eclético no mesmo período.

De acordo com Dourado

(2009), Burle Marx rompeu com as

escolas tradicionais e propôs uma

nova forma de construção do

espaço público, sem a rigidez dos

projetos ecléticos e grande

responsável pela criação de uma

linguagem estética paisagística

aplicada aos espaços de praças,

bem como à decoração de

espaços urbanos em geral. Com

Figura 32: Praça da República. Belém-Pará. Fonte: Praças Brasileiras. Robba e Macedo (2002:87)

Figuras 33 e 34: Praça Salgado Filho –RJ Fonte: Praças Brasileiras (ROBBA E MACEDO, 2002).

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56

CAPÍTULO I

sua formação de artista plástico, Burle Marx introduziu uma vertente paisagística baseada na composição orgânica do

desenho espacial, na valorização do verde e da flora brasileira, adotou um desenho modernista, elaborando os espaços

exteriores como verdadeiras obras de arte, como demonstram as figuras abaixo.

Conforme Robba e Macedo (2002), os primeiros sinais de mudança no uso do espaço urbano foram os projetos de

parques públicos considerados modernos são o Parque Ibirapuera (1953), em São Paulo, e o Parque do Flamengo (1961),

no Rio de Janeiro, ambos formalmente modernos com a inclusão de atividades voltadas para a recreação. No entanto, o

lazer contemplativo não foi abandonado e o lazer cultural foi acrescentado como inovação com a implantação de museus e

pavilhões de exposição. Ainda segundo os autores acima:

“Parques e praças passaram a englobar, em seus programas, o lazer ativo – principalmente as atividades esportivas e a recreação infantil [...]. Surgem, então, nos jardins particulares e posteriormente nas áreas públicas, equipamentos como: quadras para a prática esportiva, brinquedos para recreação das crianças e churrasqueiras.” (ROBBA e MACEDO, 2002:35).

De certa forma, a criação dos grandes parques urbanos

introduz um leque de novas possibilidades de lazer e de encontro

social, concorrendo diretamente com o papel da praça tradicional

(ROBBA E MACEDO, 2002).

Na construção da cidade moderna, idealizada sob o ideário

da setorização e do zoneamento, o papel da praça também passa

Figura 35: vista parcial Parque do Ibirapuera - SP. Fonte: Parques Urbanos no Brasil (MACEDO, 2003).

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57

CAPÍTULO I

por uma revisão estética e funcional: nas áreas residenciais, o

modelo da praça tradicional do bairro é substituído pelo conceito

de espaço livre, com as edificações localizadas em grandes

superfícies ajardinadas, pontuadas por ilhas de equipamentos

esportivos e recreação; nas áreas comerciais, a praça reveste-se

de espaço vazio, cuja prioridade enfoca a circulação de pedestres

e o lazer passivo, são espaços cuja frequência e utilização vincula-

se à rotina diária do trabalho e de serviços. Essa característica

acarreta o isolamento da área nos fins de semana e em períodos

noturnos (o fenômeno ocorre na maioria das praças situadas em

centros urbanos,onde não existem atividades mistas).

Essa diversidade funcional das praças não é uma

característica apenas da cidade modernista; em cidades

tradicionais os espaços públicos tendem a desenvolver certa especificidade em função, sobretudo, do conjunto

arquitetônico que compõe o entorno e a região onde se situam. A diferença reside na mobilidade dos centros de poder e

nos processos de valorização imobiliária que impõem certa dinâmica espacial, alterando constantemente o papel dos

espaços públicos (CALDEIRA, 2007).

Apesar de terem passado períodos de abandono, hoje os parques e praças são reconhecidos como polos de lazer

para as cidades e elementos necessários à vida urbana, tornando-se objetos de interesse político.

Sendo assim, de acordo com Dourado (1997), novas perspectivas sobre esses espaços públicos podem ser

constatadas em uma série de caminhos que vêm emergindo em tempos recentes. Um deles é a preservação do patrimônio

Figura 36: Parque do Flamengo - RJ. Fonte: Quadro do Paisagismo no Brasil (MACEDO, 1999).

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58

CAPÍTULO I

ambiental histórico nos centros urbanos, abarcando de antigos jardins públicos e praças a conjuntos arquitetônicos

inteiros. Logo, na década de 80, a consciência ecológica foi despertada pela necessidade de se preservar os patrimônios

ambientais e pelos problemas decorrentes da acelerada urbanização.

Conforme Dourado (1997:29) «há apenas cinco décadas, o Brasil agrícola se transformou no Brasil urbano». O

crescimento da população total que vive em zonas urbanas tem aumentado intensamente com o passar dos anos. Em

meados do século XIX a população mundial superou o primeiro bilhão de pessoas. Entretanto, menos de 2% da população

habitavam as áreas urbanas. Na Europa e os Estados Unidos esse percentual já ultrapassava os 50% (Lombardo, 1985).

De acordo com os dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – em 1970 aproximadamente 56% da

população brasileira viviam em área urbana; em 1991 esse percentual aumentou para aproximadamente 76%. Segundo

informações coletadas no censo de 2000, aproximadamente 79% da população brasileira residiam em áreas urbanas.

Verifica-se, diante dos fatos, que o panorama brasileiro segue a tendência mundial – caminhar em direção a um mundo

cada vez mais urbano.

Hoje, segundo Dourado (1997), um dos principais desafios é interromper o processo de degradação ambiental nas

cidades brasileiras – sobretudo nas metrópoles, mediante a criação, a recuperação e a qualificação dos espaços públicos

e de encontro, considerando o papel fundamental de dois agentes: o poder público e a iniciativa privada. Programas bem

sucedido de políticas de renovação urbana no país tiveram também impacto sobre a criação de praças, não diretamente

sobre os projetos, mas sobre a necessidade de sua existência. Logo, a sociedade passou a valorizar os espaços verdes

das cidades, exigindo das autoridades a construção e a manutenção desses espaços. Exemplo disso é Curitiba, onde as

autoridades fizeram dos espaços públicos uma forma de promoção da administração, criando muitas praças e instituíram

órgãos públicos para a manutenção desses espaços verdes. Outro exemplo a ser citado é o programa Favela Bairro no

Rio de Janeiro que se destina a integrar comunidade de baixa renda à cidade através da reurbanização e da consolidação

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59

CAPÍTULO I

do espaço público, onde as autoridades fizeram dos espaços públicos uma forma de promoção da administração, criando

muitas praças e instituíram órgãos públicos para a manutenção desses espaços verdes. Com isso, caminha-se na direção

de uma urbanização em que o redesenho dessa paisagem é instrumental para a integração social e a conquista da

cidadania. Portanto, os projetos de concepção dos espaços livres públicos receberam maior liberdade de criação, seguindo

uma nova corrente projetual, a linha contemporânea, como bem definiram Robba e Macedo (2002, p.42):

“O desenho de projetos denominados contemporâneos transita livremente entre os traçados geométricos, gráficos, rígidos e as mais irreverentes formas pós-modernas, passando também por propostas que valorizam cenicamente o projeto. Liberdade e irreverência são as palavras mais adequadas para definir essa linha de projeto em formação. Desenhos arrojados, geométricos, cênicos, coloridos, gráficos, orgânicos, evocativos e celebrando formas do passado ou antigos ícones são aceitos e propostos, além de serem implantados elementos e equipamentos dos mais diversos tipos e formas, como pórticos coloridos, colunas, ruínas, esculturas.”

Assim, no que diz respeito ao Brasil, na produção

contemporânea, o maior desafio desses novos projetos de espaços

públicos, se constitui na pesquisa exploratória de novas formas que

atendam as novas complexidades sócio-culturais, ecológicas e

novas funções de qualificação do ambiente urbano.

Quanto a isso, Dourado (1997, p.20) afirma que:

Figura 37: Projeto Favela-Bairro, Rio de Janeiro: Praça Carlos Seidl (parque São Sebastião). Fonte: Dourado (1997, p.36).

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60

CAPÍTULO I

“O que está em causa é o projeto da paisagem. A tradição do projeto paisagístico, que atualmente ganha novo interesse, nova força, pode ser um modo rico de discutir culturalmente as qualidades propostas ao ambiente. A mudança nos referenciais que motivam a revisão do projeto moderno em todos os níveis e campos de atuação e a mudança no entendimento da cidade, que passa a ser vista como história, como ambiente e como espaço público objeto de desenho, demandam que a arquitetura dos arquitetos veja e interprete a paisagem.”

Do tempo da Ágora à urbanização de favelas, a importância do espaço público praça no meio urbano social é um

fato. Há milênios a praça desempenhava o centro vital da cidade e hoje, nas favelas, lugar exíguo de espaços públicos,

esse espaço, também, tem um papel fundamental na comunidade, pois, é nela que desenvolvem os principais

acontecimentos coletivos da vida dos cidadãos. A praça é, por excelência, espaço qualitativo da vida urbana.

Contudo, segundo Jacob (2007, p.97), “os parques de bairros ou espaços similares são locais efêmeros.

Costumam experimentar extremos de popularidade e impopularidade. Seu desempenho nada tem de simples.” Ainda

segundo a mesma autora, esses espaços normalmente são recebidos como uma dádiva para a população carente da

cidade. Todavia o inverso é verdadeiro: esses espaços igualmente são carentes de vida e de aprovação a eles

concedidos. O sucesso ou fracasso desses locais, pois, dependem da utilidade que as pessoas lhes conferem, pois eles

não são abstrações que nada significam se não estiverem inseridos nos usos concretos – bons ou ruins – dos bairros onde

se localizam.

Observa-se, porém que, com todas as mudanças sociais e culturais ocorridas nos últimos anos, principalmente com

surgimento da televisão e, mais recentemente, da internet e dos shoppings centers,as praças sofreram um gradual estado

de esvaziamento e perda de identidade.Mesmo nos shoppings as chamadas praças de alimentação não passam de

espaços coletivos para refeições rápidas, sem nenhuma relação com a vida política e social da cidade onde estão

inseridas.Cada vez mais os espaços de encontro se concentram em áreas virtuais tais como chats e sites de

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61

CAPÍTULO I

relacionamentos. Aos poucos, as praças vão se deslocando de um espaço material para um espaço virtual e se

transformando em apenas um ponto de referência na paisagem urbana.

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CAPÍTULO II

63

CAPÍTULO II | ANÁLISE DA PRAÇA MARECHAL DEODORO E PRAÇA SARAIVA

Neste capítulo, realiza-se uma análise projetual das duas primeiras praças de Teresina, Marechal Deodoro e

Saraiva. Para nortear este estudo, esta análise foi estruturada em duas etapas: a primeira relacionada à conformação

física da praça_ estrutura espacial dos ambientes que tem como pano de fundo o estudo sobre a morfologia urbana,

defendido por Lamas (2000) em A Morfologia Urbana e o Desenho da Cidade_ e um estudo da morfologia das praças em

sua totalidade tridimensional orientado por Zucker (1959) em Town and Square. A segunda etapa da análise realiza a

leitura e percepção das possibilidades de interferência do espaço na sua utilização, tomando por base, principalmente, A

imagem da cidade (1999) de Kevin Lynch, Paisagem urbana (2009) de Gordon Cullen e La Lectura del Ambiente (1977) de

Cerasi. Estes são considerados pioneiros em estudos relacionados à leitura do ambiente construído e subsídios para a

elaboração de novos projetos.

2.1. MORFOLOGIA URBANA

Segundo Ferreira (1986) o termo Morfologia designa o tratado das formas que a matéria pode tomar. Portanto, a

forma representa o aspecto exterior de um objeto, que reconhecemos geralmente através da percepção visual. De acordo

com Lamas (2000, p.38):

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CAPÍTULO II

64

“Morfologia Urbana é o estudo da forma do meio urbano nas suas partes físicas exteriores, ou elementos morfológicos, e na sua produção e transformação no tempo. Todavia, é necessário sublinhar que um estudo morfológico não se ocupa do processo de urbanização, quer dizer, do conjunto de fenômenos sociais, econômicos e outros, motores da urbanização. Estes convergem na morfologia como explicação da produção da forma, mas não como objeto de estudo.”

É preciso compreender a morfologia urbana e buscar na história a compreensão da forma urbana e dos processos

que a geraram, para que o projeto urbano não se torne superficial e carente de fundamentos, conforme Lamas (2000).

Conhecendo o passado tem-se uma compreensão melhor do presente para auxiliar a evolução da cidade.

De acordo com Januzzi (2000, p.22):

“A morfologia urbana estuda os componentes estruturadores do espaço urbano e suas inter-relações, incluindo os fatores culturais, econômicos e sociais que influenciaram naquela estruturação. O espaço construído e habitado pelo homem não deve ser visto apenas como um produto da arquitetura, mas da somatória dos fatores relatados anteriormente que se materializam na cidade. O espaço urbano não deve ser resolvido unicamente por planos municipais e estaduais. A realização de uma leitura detalhada dos elementos que o compõe, em várias escalas, possibilita mais oportunidades de solução para as necessidades da sociedade.”

Para Lamas (2000), a primeira percepção de leitura da cidade é eminentemente físico-espacial e morfológica, logo

própria da arquitetura, e a única que permite evidenciar a diferença entre os diversos espaços que existem, entre esta e

aquela forma, e explicar as características de cada parte da cidade. A esta se agrega outros níveis de leitura que denotam

diferentes conteúdos (históricos, econômicos, sociais e outros). Na perspectiva de Rossi (1995) a forma urbana é concebida

como uma estrutura física e funcional determinada por fatores socioeconômicos, políticos, culturais, além de concepções

estéticas, ideológicas, culturais ou arquitetônicas, e ainda, pelo comportamento, forma de utilização do espaço e a pela vida

comunitária dos cidadãos. Mas esse conjunto de leituras só acontece porque a cidade existe como um fato físico e material.

Todos os instrumentos de leitura leem o mesmo objeto – o espaço físico, a Forma Urbana. “A cidade não é um simples

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CAPÍTULO II

65

produto determinista dos contextos econômicos, políticos e sociais: é também o resultado de teorias e posições culturais e

estéticas dos arquitetos urbanistas.” (LAMAS 2000, p.31)

Ao longo da história do urbanismo, a variação dos contextos originou diversas propostas de desenho urbano.

Lamas (2000) menciona como exemplo as formas urbanas renascentistas e barrocas que, mesmo formadas por elementos

morfológicos semelhantes – rua e praça, edifícios, fachadas, e planos marginais, monumentos isolados –, possuem

diferenças fundamentais. Tais diferenças provêm da maneira como esses elementos se posicionam, se organizam e se

articulam entre si para construir o espaço urbano. “A mudança do contexto vai mudando as formas pela necessidade de

resposta a situações diferentes.” (LAMAS 2000, p.48).

De acordo com Lamas (2000) a noção de Forma aplica-se a conjuntos urbanos de diversas grandezas e

complexidade. Fala-se de forma física para uma praça, uma rua, um bairro, uma cidade e até para uma área

metropolitana. Não existe um limite específico, mas sem dúvida a dimensão e a escala estão sempre implícitas nas formas

urbanas. Contudo ele estabelece uma classificação das escalas ou dimensões da forma urbana em:

- Dimensão Setorial – A escala da Rua: é a menor unidade, ou porção de espaço urbano, com forma própria. É

bem representada por uma rua ou uma praça. Para a sua compreensão quase não é necessário o movimento. Num ponto,

o observador consegue alcançar a unidade espacial do seu conjunto. O estudo de Gordon Cullen (2009) em paisagem

urbana permite perceber uma idéia sistemática dos elementos morfológicos e das características dessa dimensão:

fachadas e os seus pormenores construtivos, mobiliário urbano, pavimentos, cores, texturas, letreiros, árvores,

monumentos isolados – uma infinidade de elementos que, organizados entre si, definem a forma urbana.

- Dimensão Urbana – A escala do Bairro: é a partir desta dimensão ou escala que existe a área urbana, a cidade

ou parte dela. Presume-se uma estrutura de ruas, praças ou formas de escalas inferiores. Corresponde numa cidade aos

bairros, ás partes homogêneas identificáveis, e pode englobar a totalidade da vila, aldeia, ou da própria cidade. Nesta

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CAPÍTULO II

66

dimensão, os elementos morfológicos terão de ser identificados com as formas e a escala inferior, com a análise da forma

necessitando do movimento e de vários percursos.

- Dimensão Territorial – A escala da Cidade: nesta dimensão, a forma estrutura-se através da articulação de

diferentes formas à dimensão urbana, diferentes bairros ligados entre si. A forma das cidades define-se pela distribuição

dos seus elementos primários ou estruturantes: o macro sistema de arruamentos e os bairros, as zonas habitacionais,

centrais ou produtivas, que se articulam entre si e com suporte geográfico.

Portanto, toda leitura, seja ela do espaço urbano, de uma edificação, ou até mesmo de uma obra literária precisa

estabelecer uma escala de leitura, ou seja, quais os elementos mínimos que constitui aquela forma, e o modo como esses

elementos se modificam e se organizam entre si vão variar a linguagem de época em época.

Para o reconhecimento das partes da forma do espaço urbano, Lamas (2000) hierarquiza e identifica os elementos

morfológicos em diversas escalas: solo (pavimento); os edifícios (o elemento mínimo); o lote (a parcela fundiária); o

quarteirão; a fachada (o plano marginal); o logradouro; o traçado (a rua); a praça; o monumento; a árvore e a vegetação; o

mobiliário urbano.

Assim, a praça é a menor unidade, ou porção de espaço urbano, com forma própria e pressupõe a vontade e o

desenho de uma forma e de um programa. Se as ruas, o traçado, são os lugares de circulação, a praça é o lugar intencional de

encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestação de vida urbana e comunitária e de

prestígio, e, conseqüentemente, de funções estruturantes e arquitetura significativa (Lamas, 2000, p.102).

Todavia, uma cidade tem por espinha dorsal de sua estrutura as vias públicas, sendo que, de toda infra-estrutura

urbana, é essa a primeira a se fazer presente (Zmitrowicz e Angelis Neto, 1997). Seus cruzamentos e interseções

determinam não somente o fluxo de automóveis pela urbe, mas também o surgimento de logradouros públicos, no caso

presente, as praças. Enquanto aquelas formam como que uma teia a unir pontos distantes, as praças formam um conjunto

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CAPÍTULO II

67

espaçado como que a quebrar a monotonia das vias. A importância das vias públicas para as praças reside no fato de sua

forma poder vir a ser definida por aquelas, determinando os diferentes tipos de configuração. É importante salientar que a

importância do estudo da inserção da praça na trama urbana reside no fato de que seus contornos, definidos pelas vias

públicas, acabam por definir não somente sua forma, mas também sua função (Castro e De Angelis, 2004). Sitte (1992),

ao abordar a influência das vias públicas na conformação das praças, diagnosticou três sistemas principais - o sistema

retangular, o sistema radial e o sistema triangular -, e alguns secundários.

Rigotti (1956 apud Castro e De Angelis, 2004) apresentou os primeiros estudos mais acurados sobre a inserção das

praças na trama urbana, levando em consideração a presença e números de vias enquanto elemento estruturador desses

espaços. É nesse contexto que o referido autor classifica as praças em quatro grupos: praças radiais (quando diversas

vias confluem simetricamente ou não a um único foco no centro de um amplo espaço); em leque ( são consideradas uma

parte menor da anterior, onde a confluência em um ponto é limitada a poucas vias que partem em raios de um único setor);

de junção tangencial (são as que permitem uma circulação giratória, a partir de uma única via que faz a circulação da

mesma); e, de junção axial ou de atravessamento direto (a interseção ortogonal de duas vias propicia o aparecimento

desse arquétipo).

Logo, a geometria de uma praça pode assumir várias formas: quadrangular, retangular, triangular, círculos,

semicírculos, elipses, paralelogramos regulares, irregulares, etc. Robert Krier (1980 apud LAMAS, 2000) sistematiza uma

coleção exaustiva de formas geométricas das praças (ver imagem 38).

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CAPÍTULO II

68

Zucker (1959) em sua obra Town and Square, realizou uma pesquisa

mais detalhada sobre a morfologia das praças e as diferentes estruturas

formais que esses espaços podem adquirir no decorrer da história. Para isso,

Paul Zucker sistematizou a análise na definição de arquétipos tridimensionais:

forma, delimitação e organização espacial.

Logo, segundo Bartalini (1988), Zucker vai além da descrição dos tipos

de praças ao longo do tempo:

“O maior interesse do trabalho de Zucker não está na classificação em si, mas em permitir a conclusão de que existem arquétipos de praças, ou seja, unidades morfológicas autônomas, superando com esta constatação tanto as diferenças entre os modelos culturalista e progressista, como liberando o que se poderia chamar de arcabouço, ou estrutura espacial da praça, de variáveis estilísticas.” (BARTALINI, 1988, p.42).

Assim sendo, mesmo considerando as variáveis socioeconômicas e

estilísticas que levam as praças a constantes modificações, Zucker afasta os

modelos tridimensionais de praças das motivações originais de sua criação, de

estilos ou de diferentes linhas urbanísticas. Para Zucker (1959, p.8) são cinco

os arquétipos considerados: praça fechada, dominada, nuclear, agrupadas e

amorfas.

Figura 38: Diferentes formas de praças apresentadas em LÉspace de La Ville por Robert Krier (1980 apud LAMAS 2000, p.101).

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CAPÍTULO II

69

- Praça fechada - é um espaço livre completamente cercado por

edificações que definem suas plantas em formas regulares geométricas,

contrastando o plano horizontal da praça com a verticalidade dos edifícios

que a circundam. Exemplo disso é a Piazza di Santíssima Annunziata, em

Florença, Itália (ver imagem 39).

- Praça dominada - está praça é organizada em função de um elemento

que determina as principais relações espaciais. Tal elemento pode ser

uma igreja, uma fonte, uma ponte ou uma paisagem. Bartalini (1988:41)

cita como exemplos de praças dominadas pela paisagem com um dos

lados abertos para o horizonte a Praça do Comércio, em Lisboa, e a

Praça dos Três Poderes, em Brasília

(ver imagens 40 e 41).

- Praça nuclear–organizada a partir da

presença de um núcleo (fonte, marco,

escultura) que lhe definem a unidade

espacial e se sobrepõem aos edifícios

vizinhos e mesmo à forma da praça.

Exemplo: Praça de São Pedro,

Vaticano (imagem 42).

- Praças agrupadas– seqüência de

praças que, apesar de cada uma ter

Figura 39: Piazza di Santíssima Annunziata, em Florença, Itália. Fonte: Plazas of Southern Europe (KATO, 1990 apud CALDEIRA, 2007).

Figura 40 e 41: Praça do Comércio – Lisboa- Portugal e Praça dos Três Poderes- Brasília – Brasil. Fonte: http://arquivo.forum.autohoje.come http://i.pbase.com/u39/alexuchoa. Acesso em 01/11/2010.

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CAPÍTULO II

70

características próprias, conserva a idéia de

conjunto. Elas se associam por meio de um

eixo comum, de eixos ortogonais ou gravitam

em torno de um edifico dominante. (ver

exemplo na imagem 43)

- Praças amorfas – espaços livres sem

unidade de desenho, com planta de forma

indefinida e desproporções de escala. Cecco

(2005) cita como exemplo desse arquétipo, a

Praça Panamericana em São Paulo, Brasil

(ver imagem 44).

Segundo Cecco (2005), este estudo

morfológico se baseia em um raciocínio que

presume a estrutura do arcabouço da praça e

a definição de seus limites, a partir de seus

edifícios envoltórios, massa arbórea e

possíveis equipamentos existentes. Assim a

sistematização dos arquétipos de espaços

livres está associada à mensuração de suas

formas, às relações existentes entre as

dimensões horizontais e verticais de seus

Figura 42: Praça de São Pedro, Vaticano. http://www.freewallpapers.com.br. Acesso: 01/11/2010.

Figura 43 : la place Stanislas, la place de la Carrière e la place d’Alliance. Fonte :http://www.republicain-lorrain.fr/fr/permalien/article/254438/Nancy-trois-places-a-l-Unesco.html.Acesso : 01/11/2010.

Figura 44: Praça Panamericana, São Paulo. Fonte: www.skyscrapercity.com. Acesso: 01/11/2010.

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CAPÍTULO II

71

espaços, associando planta, gabarito, massas e volumetrias, aproximando a análise de um estudo morfométrico. Cecco

define o termo Morfometria através do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001: Morfometria – medição das formas

externas dos seres e das coisas.

Bartalini (1988) cita Ashihara (1982), também base de estudo desta pesquisa, no qual apresenta um trabalho mais

voltado para morfometria onde exibe conceitos que traduzem sistematicamente as sensações espaciais em relações às

mensuráveis. Conforme Cecco (2005) é através dessa análise morfológica e morfométrica que se pode adquirir percepção

espacial, diagnóstico e, quando da possibilidade de intervenções, formular diretrizes.

Com base nestas definições, primeiramente, nessa pesquisa, se procurou associar as características físicas atuais

das praças com sua formação histórica, e em seguida levantar os aspectos morfológicos e analisar por meio do desenho

das praças como se dá a apropriação das mesmas pelo usuário, para em seguida propor um diagnostico que contribua

para intervenções futuras.

2.1.1. AS PRAÇAS DENTRO DO CONTEXTO HISTÓRICO DA CIDADE DE TERESINA

A cidade de Teresina, capital do Piauí, faz parte da área semi- árida do Nordeste do Brasil. Ela possui relevo plano

e está localizada entre a latitude de 05º05’20” Sul e longitude 42°48’07” Oeste, com altitude média de 72m (SILVEIRA,

2007). O município apresenta uma população total de 802.537 mil habitantes (IBGE, 2009). É a única capital do Nordeste

que não se localiza no litoral. No entanto, sua paisagem é marcada por dois rios que banham a cidade, Rio Poti e Rio

Parnaíba, que compõem forte cenário natural no meio urbano de Teresina.

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CAPÍTULO II

72

Estes dois rios perenes atravessam a cidade e assumem um papel fundamental no cotidiano citadino. Tal

característica geográfica influenciou indubitavelmente o processo de ocupação urbana estimulando a ocupação às

margens dos rios, sendo eles, portanto, elementos de fundamental importância para a identidade da mesma (ver imagem

48).

Seu processo de urbanização ganhou maior destaque a partir da metade do século XIX, devido à transferência da

sede da província do Estado - que antes se encontrava na cidade de Oeiras, PI - para uma nova capital, a ser planejada, e

que assumisse, de fato, a nova cidade- sede da província do Piauí (FAÇANHA, 1998).

Figuras 45 (BRASIL – Região Nordeste), 46 (MAPA DO PIAUÌ) e 47 (MAPA DE TERESINA): Localização do município de Teresina. Fonte: http://geo.teresina.pi.gov.br. Acesso 12/02/2010.

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CAPÍTULO II

73

Em 1852, o Conselheiro José Antonio Saraiva foi o autor do primeiro Plano Urbanístico de Teresina, que foi

minuciosamente planejado, já que a cidade seria construída para ser a nova capital do Piauí. A geopolítica determinou

Teresina como a área escolhida para a instalação da nova capital, às margens do Rio Parnaíba e isto se deu,

principalmente, pela sua navegabilidade, favorecendo, assim, uma maior articulação entre os principais núcleos urbanos

da região e ampliando as condições de desenvolvimento da então Província do Piauí (IPHAN, 2008).

Figura 48: Vista parcial da cidade de Teresina entre os rios Parnaíba e Poti. Fonte: Google earth. Acesso: 12/06/2010. Imagem modificada pela autora.

Figura 49: Planta da cidade de Oeiras – primeira capital do Piauí – 1809. Fonte: Imagens de vilas e cidades do Brasil Colonial (REIS FILHO, 2000)

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CAPÍTULO II

74

Pela correspondência do Conselheiro Saraiva, sabe-se

que a escolha de Teresina não se deu apenas por motivos sócios

econômicos, mas também por questões paisagísticas. De acordo

com o próprio Saraiva, de toda a vasta extensão do Parnaíba que

ele percorreu ‘esta foi a mais bela que ele encontrou’ (IPHAN,

2008).

Ao contrário das cidades que nasciam espontaneamente e

tinha um traçado irregular, a nova capital dispõe de um desenho

regular tendo uma igreja como referência para a disposição das

quadras. Observa-se, no entanto que no plano inicial da cidade,

metade das casas está voltada ou para o Norte ou para o Sul, o

que não respeita o clima quente (ver imagem 50).

Seu plano ortogonal, como um tabuleiro de xadrez,

oferecia praticidade de implantação política, além de facilitar a locação do arruamento, do aproveitamento racional do

terreno e melhor facilidade e disciplina da construção de casas em ângulo reto.

Segundo Façanha (1998), esse plano revelou a tentativa de implantação de um modelo de padrão colonial,

seguindo a vertente racional, já existente em várias cidades brasileiras, que previa a fixação de um ponto central, a Igreja

Matriz, do qual irradiava a malha da cidade, formando quadras como um tabuleiro de xadrez.

De acordo Benévolo (2003, p.487) as novas cidades seguiam no seu traçado, um modelo uniforme, como:

Figura 50: configuração da malha urbana de Teresina - mapa datado de 1855. Fonte: pmt (1997) apud façanha (1998, p.53).

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CAPÍTULO II

75

“um tabuleiro de ruas retilíneas, que definem uma série de quarteirões iguais, quase sempre quadrados; no centro da cidade, suprimindo ou reduzindo alguns quarteirões, consegue-se uma praça, sobre a qual se debruçam os edifícios mais importantes: a igreja, o paço municipal, as casas dos mercados e dos colonos mais ricos.”

Com ruas paralelas partindo do rio Parnaíba, a

leste em direção ao rio Poti, contendo um espaço

urbano inicialmente delimitado por 18 quadras no

sentido Norte-Sul e 12 no sentido Leste-Oeste. As

ruas, todas perpendiculares e paralelas entre si,

formavam quarteirões regulares. O plano previa,

ainda, espaços para a construção de praças, onde,

no seu entorno, se implantariam as principais

edificações, o que de fato aconteceu até a

construção da Avenida Frei Serafim, na década de

1940. Logo, esta Avenida passou a receber

edificações marcantes da época, e representa, hoje, o vetor de crescimento da cidade, que acontece no sentido Centro-

Leste e, também, o eixo de divisão entre norte e sul na estrutura da cidade (SILVA, 2009).

Figura 51: configuração da malha urbana de Teresina: com os espaços para construção de praças - mapa datado de 1852. Fonte: Nascimento (2002) apud Bueno (2008, p.61). Imagem modificada pela autora.

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CAPÍTULO II

76

Desde 1852, com a implantação do seu primeiro plano,

como visto acima, Teresina já designava várias áreas para a

construção de praças, mesmo que, segundo Lima (2001), em

sua grande maioria, em terrenos baldios, com poucas

benfeitorias, como também era a própria cidade naquela

época. Iglésias (1958) apud Silva (2009) afirma que:

“As ruas eram bem traçadas, sem sentido retangular; infelizmente, quase sem arborização; as praças eram grandes, com algumas árvores de sombra, porém sem ajardinamento; a única exceção era o jardim onde ficava atrás da igreja do Carmo. As principais ruas eram: Rua Belém, Rua Grande e Rua Paissandu; as praças mais importantes pela sua área de localização tinham os nomes de: ‘Saraiva’ e ‘Marechal Deodoro’. Nesta última estava o Palácio do Governo, Assembléia e Escola Normal. Ia até a beira do rio, o porto dos naviozinhos.”

As praças em estudo, como já dito anteriormente,

localizam-se na área central de Teresina e estão presentes na

malha urbana desde a fundação da cidade. Até a década de

1940, do século XX, Teresina era conhecida como ‘entre rios’,

pois seu perímetro urbano era praticamente limitado pelos rios

Figura 52: Imagem atual das Praças e da Av. Frei Serafim em estudo na malha urbana da cidade. Fonte: Google Earth. Adaptado pela autora em 18/04/2010.

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CAPÍTULO II

77

Parnaíba e Poti. Somente a partir da segunda metade do século XX,

decorrente de um intenso processo imigratório, a cidade modifica a

configuração de sua paisagem (Figura 52). Nesta fase o perímetro urbano

de Teresina se expande e novas relações são estabelecidas na cidade que

resultam em um maior dinamismo nas mudanças de usos e funções dos

elementos morfológicos existentes no centro (CARDOSO; MELO, 2006)

(Figuras 53, 54 e 55).

A cidade de Teresina foi se expandindo e o centro se transformando

cada vez mais em área comercial, administrativa e financeira. Logo, foi

ocorrendo o abandono de áreas residenciais centrais, a marginalização de

Figura 53: Sobreposição da Malha urbana original do centro antigo de Teresina sobre a atual. Fonte: IPHAN, 2008.

.

Figuras 54 e 55: Vista aérea da década de 50 (aerofotogrametria) e foto de satélite de 2007. O quadrado branco representa a área da cidade, (perímetro) que existia nos anos 50. Fonte: Acervo- Arquivo Público-Acesso: 18/05/2010.

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CAPÍTULO II

78

áreas nobres, subutilização de espaços públicos e a ocupação de áreas por usos inadequados.

Nos últimos anos, o Centro histórico de Teresina, assim como o de outras cidades brasileiras, encontra-se em um

caos ambiental, devido a várias questões, tal como a mudança de uso imposta, descaracterizações de sua paisagem

urbana natural e construída, abandono da área central, dentre outras – Isto se compreende, segundo Cardoso e Melo

(2006), devido, principalmente, a dinâmica de ocupação das cidades que modifica as paisagens das suas áreas centrais

tanto na sua forma, quanto nas atividades que abrigam em conseqüência do atendimento às necessidades dos grupos

culturais existentes nas mesmas ao longo do tempo.

Na década de 1950, após a construção da ponte sobre o Rio Poti, tem-se o processo de ocupação da zona Leste da

cidade, criando uma zona de alto poder aquisitivo. Esta população antes residia no centro da cidade e suas casas foram

adaptadas para a instalação de comércios e serviços ou foram demolidas. Outro processo que resultou em mudanças na

paisagem do centro foi a construção de conjuntos habitacionais na periferia da cidade, a partir da década de 1970,

resultado de investimentos federais em habitação popular. Este processo favoreceu a criação de novos centros de

comércio e serviços em conjuntos construídos à longa distância da área central. E, também, devido à grande demanda de

população na zona Leste da cidade, na década de 1990, foram implantados nesta área os dois maiores shoppings da

cidade (CARDOSO; MELO 2006, p.202).

Por tudo isso, ao longo do tempo foram sendo implantadas legislações que visam à preservação e adotam um

código rígido de posturas nessa área.

Em 1977 foi elaborado o primeiro plano estrutural de Teresina (I PET) que apresentou em 1979 o Primeiro Código

de Zoneamento e Edificações de Teresina, que regulamentava o uso do solo urbano, estabelecendo recomendações para

a construção de edificações e propondo normas exclusivas para as intervenções na área central (TERESINA, 2002). O I

PET continuou a propor a estrutura na qual as atividades concentravam-se no centro da cidade – o modelo radiocêntrico.

Page 80: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

79

Por esse modelo, a ocupação de Teresina é caracterizada pela concentração de atividades no centro urbano com intenso

fluxo de interesses e conseqüente congestionamento em um único pólo (TELES, 2004).

De acordo com Teles (2004), o segundo plano estrutural de Teresina (II PET), realizado em 1988, definiu novos

pólos de interesses ou atividades, buscando tornar a área central da cidade mais habitável. Ele indica a necessidade de

uma estrutura ocupacional que atenue a demanda ao centro, inibindo os processos de saturação e reduzindo a

necessidade de acesso a este pólo, o qual não está estruturado para suportar mais acréscimos de interesses, que

implicariam obras muito caras.

Entretanto, foi a partir de 1989, que a área central ganhou uma maior atenção no planejamento municipal. Nesse

ano ocorreu um Fórum sobre o centro da cidade de Teresina, no qual houve discussões sobre o transporte urbano,

limpeza urbana, segurança das edificações, arborização, equipamentos e mobiliário urbano, atividades informais do centro,

proteção ao meio ambiente e ao patrimônio histórico, obras públicas e deveres de ordem pública (TERESINA, 2002).

Em 1997, ocorre outro encontro de discussão sobre o Centro, o Fórum de Revitalização do Centro de Teresina,

organizado pela Prefeitura Municipal por intermédio das Secretarias Municipais de Indústria e Comércio/SEMIC e de

Planejamento/SEMPLAN (Ibid., 2002).

No ano 2000, a Prefeitura Municipal de Teresina por intermédio da SEMPLAN reúne arquitetos da Cidade para

elaborar um Plano de Ações para o Centro. Este documento tinha como proposta um Programa de Revitalização da Área

Central contemplando alguns investimentos públicos e privados, assim como medidas de racionalização do uso e melhoria

da infra-estrutura urbana existente, tendo sido produzido como o ponto de partida para uma nova forma de conduzir o

desenvolvimento do Centro de Teresina.

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CAPÍTULO II

80

Neste documento, a equipe apresentou um rápido diagnóstico, destacando os vendedores ambulantes, o tráfego, os

elementos de urbanização (passeios, sarjetas, mobiliário urbano, praças), a legislação urbana e os investimentos, como

aspectos analisados.

Em novembro de 2001, deu-se início às reuniões para constituir um grupo de trabalho de revitalização do centro, a

fim de elaborar diagnóstico, propostas e apresentar estudos e projetos para o Planejamento Estratégico de Teresina,

Agenda 2015, cujo Plano de Desenvolvimento Sustentável para a cidade de Teresina nasceu de uma iniciativa da

Prefeitura de Teresina que, preocupada com o planejamento, o meio ambiente e o processo de desenvolvimento urbano,

econômico e social, mobilizou a sociedade para discutir e traçar um rumo para o futuro, elaborando, dessa forma, sua

Agenda 21. A intenção desse grupo é considerar e analisar todas as propostas formuladas anteriormente, a fim de

reaproveitar suas idéias, que certamente contribuirão bastante para a melhoria da Área Central de Teresina.

Apesar das mudanças nas relações sócio-espaciais existentes no centro, a área ainda concentra uma intensa rede

de atividades de comércios e serviços e, mesmo com o deslocamento de muitos moradores para outros bairros, o centro

ainda é bastante freqüentado por uma população de menor poder aquisitivo. Neste aspecto, não se considera que ocorreu

um esvaziamento do bairro, mas novos usos de seus espaços e, conseqüentemente, novas adaptações a estes usos que

configuram uma nova paisagem para este local (CARDOSO; MELO, 2006).

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CAPÍTULO II

81

Hoje, Teresina conta em seu centro histórico com o

total de oito praças com história e características

peculiares. Estas praças, por sua vez, mantêm a

configuração espacial de origem, embora já tenham

passado por muitas alterações em seus projetos originais

devido a algumas reformas já realizadas, ainda preservam

a maior parte de sua arborização. Vale ressaltar que a

capital possui zonas de preservação ambiental (ZP)

criadas por lei, dentre as quais se pode citar a ZP1, que

inclui a Praça Marechal Deodoro e seu entorno, e a ZP4

que engloba as áreas verdes (praças e parques), a

arborização de ruas, avenidas, calçadas e canteiros

centrais da cidade (TERESINA, 1988). Quanto aos seus

entornos, estes se encontram completamente

descaracterizados.

Estas praças são indispensáveis para a leitura do

centro antigo, são elas: Praça Marechal Deodoro da

Fonseca (antiga Praça da Constituição), Praça Rio Branco,

Praça João Luis Ferreira, Praça Landri Sales, Praça Pedro

II, Praça da Liberdade, Praça Saraiva e Praça Da Costa e

Silva que hoje fazem parte do patrimônio cultural da

Figura 56: Mapa com a localização das praças do centro histórico inseridas na trama urbana de Teresina. Fonte: Google Earth. Acesso: 12/06/2010. Imagem modificada pela autora.

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CAPÍTULO II

82

cidade, sendo que Teresina possui um total de 368 praças

(SILVA, 2009). A maioria das praças já era prevista no

primeiro plano de urbanização de Teresina, inseridas na

trama urbana pelos cruzamentos e interseções das vias

públicas que influenciaram na conformação das mesmas

seguindo a maioria, o sistema retangular, e uma mesma

linha de projeto, linha clássica _ com exceção da Praça Da

Costa e Silva que teve como projeto original o modernismo

(IPHAN, 2008) _, linha esta definida por Macedo (1999)

como “um espaço retratado a partir de um parcelamento

geométrico do solo, favorecendo-se a criação de pisos e

caminhos estruturados por eixos que convergem para um

ponto principal, conectando-se a diversos acessos”.

Faz-se aqui uma breve contextualização das praças

do centro histórico de Teresina:

Praça Rio Branco: De certa forma, é uma extensão da

Praça Marechal Deodoro. Foi a primeira praça a ser

urbanizada, tornando-se um jardim público de uso diurno (DOBAL apud SILVA, 2009). No final do século XIX, torna-se o

símbolo da atividade comercial e social da capital. Recentemente sofreu uma intensa reforma na sua morfologia, mas foi

preservada sua antiga vegetação, além da torre do relógio que a caracteriza.

Figura 57: Parte do mapa de zoneamento da cidade de Teresina (2010). Fonte: PMT. Acesso: 10/02/2011. Imagem modificada pela autora.

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CAPÍTULO II

83

Praça João Luis Ferreira: é a menor das

praças em estudo e é bem arborizada.

Esta não fazia parte do traçado do

conselheiro Saraiva, tendo surgido a partir

de uma desapropriação de terrenos dos

quais foi doada à Prefeitura a área de um

quarteirão para a sua construção. Em seu

entorno agrupava residências de famílias

muito tradicionais, sendo, portanto, um

foco de convivência e diversão social.

Figura 60: Imagem atual da Praça João Luis Ferreira. Arquivo pessoal.

Figuras 58 e 59: Imagens atuais da Praça Rio Branco com vista do seu relógio. Arquivo pessoal.

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CAPÍTULO II

84

Praça Landri Sales: conhecida também como Praça do Liceu teve sua origem com a delimitação de seu espaço físico

pelo fundador de Teresina, Conselheiro Saraiva, na planta datada de 1855. É a que tem menor área verde, sua

pavimentação é recente e se caracteriza pelo desnível existente entre dois platôs, um mais elevado e outro mais baixo,

ligados por escadaria em semicírculos. Na parte mais alta da praça foi construído o Colégio Estadual Liceu piauiense, em

1936. Este se tornou o principal elemento articulador da praça, pois o colégio alterou o uso e apropriação da praça pela

população.

Praça Pedro II: Esta praça foi construída em um terreno remanescente destinado para a construção do quartel da Polícia

Militar do Piauí e aos poucos se consolidou como centro social e de lazer da sociedade local, sendo praça de movimento

noturno. Ao seu redor estão edificações importantes para a capital, tais como: Teatro Quatro de Setembro (construído em

1894), o Clube dos Diários (de 1927), o Cine Rex (também de 1927), o primeiro cinema da cidade, e o antigo quartel de

polícia hoje transformado em centro de artesanato. Esta praça foi a que mais sofreu reformas, sendo, de acordo com

Santos (2001), as mais importantes as reformas de 1936, 1950, 1970.

Figura 61 e 62: Imagens atuais da Praça Landri Sales e do Colégio Liceu Piauiense. Arquivo pessoal.

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CAPÍTULO II

85

Praça da liberdade: Esta praça está localizada ao redor da igreja de

São Benedito construída em 1886. Ela é caracterizada como jardim

público, de pequeno porte e trânsito de grande fluxo de veículos

(imagem 65).

Praça da Costa e Silva: é a mais recente de todas já citadas e é a

mais afastada do centro de Teresina, então em área de expansão

urbana. Seu projeto paisagístico foi assinado por Roberto Burle Marx

e executado em 1962. Bem arborizada, a proposta de paisagismo

valoriza espécies nativas como o angico, a carnaúba, etc. Encontra-

se praticamente abandonada (imagens 66 e 67).

Figuras 63 e 64: Imagens atuais da Praça Pedro II com vista do Teatro 4 de setembro e cinema. Arquivo pessoal.

Figura 65: Imagem atual da Praça da liberdade com da igreja São Benedito. Arquivo pessoal.

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CAPÍTULO II

86

Estas praças apresentam uma considerável cobertura vegetal, com áreas sombreadas que minimizam o desconforto

provocado pelo calor intenso, proporcionando, ao mesmo tempo, o espaço recreativo e de circulação à população. Pela

sua história, elas são consideradas como monumentos para a cidade de Teresina. Porém, hoje, algumas estão

descaracterizadas por diversas reformas que passaram sem um estudo adequado de intervenção, e, também,

subutilizadas, tornando-se áreas marginalizadas devido à falta de infra-estrutura, segurança, limpeza e educação

ambiental.

O que se observa é que, apesar de reconhecido o valor das praças como importante acervo construído do centro

histórico, ainda se verificam falhas nas ações reais preocupadas com a preservação desse conjunto urbano e paisagístico.

As falhas dessas ações se expressam nas intervenções já realizadas que acabaram modificando alguns aspectos e

elementos da paisagem que outorgam força de identidade e harmonia a esse conjunto urbano. Para que essas praças

Figuras 66 e 67: Imagens atuais da Praça Da Costa e Silva. Arquivo pessoal.

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CAPÍTULO II

87

tenham seus valores preservados e protegidos, é fundamental analisar quais são esses valores da paisagem da praça.

Com isso, conforme Ribeiro (2007 apud Leão 2011): “é necessário que se identifique o conjunto de elementos que

justificam a atribuição de valor ao local, tanto do ponto de vista de uma leitura técnica quanto do cidadão comum, pois o

processo de valorização da paisagem se inicia pela identificação desse conjunto”; logo, é esta identificação que será

realizada na continuação desta pesquisa.

2.1.2. ESTUDO MORFOLÓGICO DAS ESTRUTURAS DAS PRAÇAS.

2.1.2.1. PRAÇA MARECHAL DEODORO

ESTRUTURA ESPACIAL

A Praça Marechal Deodoro, também conhecida como Praça da Bandeira, caracteriza-se por ser uma área de maior

atividade comercial que residencial e um intenso tráfego de veículos e pessoas. É o principal núcleo histórico de Teresina

e em sua volta, a partir de 1850, surgiram às primeiras edificações da cidade como a igreja Nossa Senhora do Amparo,

que foi a primeira edificação pública importante de Teresina a ser demarcada e construída. Inaugurada em 25 de

dezembro de 1852, a igreja é considerada, portanto, o marco Zero de Teresina (GOMES, 1992) (ver imagem 68).

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CAPÍTULO II

88

Desde sua fundação, esta praça teve

vários nomes, como: Largo do Amparo, Praça da

Constituição, Parque da Bandeira e Praça

Marechal Deodoro. No início do Século XIX, sem

calçamento, sem rede de esgoto, iluminada por

lampiões e querosene, Teresina tinha na Praça

Mal. Deodoro o centro da sua vida cultural,

política, social e econômica.

Ali foram construídos os principais prédios

públicos, que se destacam pelo aspecto

monumental, como a primeira igreja da cidade e a

de mais forte presença – Igreja Nossa Senhora

do Amparo, importante marco espacial pelas suas

proporções históricas e arquitetônicas – o prédio

da Justiça federal, antiga Intendência, o Palácio

Municipal, prédio da antiga Companhia de

Navegação, o Mercado Público e Museu do Piauí.

Estas Edificações são marcadas por uma arquitetura eclética, de inspiração predominantemente neoclássica. Elas

dominam não apenas o entorno imediato da praça, mas constituem grande força na fisionomia do conjunto urbano.

(ARQUIVO PÚBLICO DE TERESINA, 2010).

Figura 68: Marco Zero da cidade. Imagem tirada pela autora em 18/07/2010.

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CAPÍTULO II

89

Baseado em Cecco (2005), pode-se afirmar que a Praça marechal Deodoro tem um papel determinante ou

organizador do desenho urbano. Ainda conserva seu caráter de centro cívico, pois, ainda reúne à sua volta significativas

edificações públicas. Segundo Zucker (1959) a Praça Marechal Deodoro pode assumir alguns conceitos de praças

medievais, principalmente na conformação inicial, por ter sido um espaço com funções importantes de comércio e reunião

social. Era uma praça de mercado e de igreja, por possuir no seu entorno o mercado da cidade e o único templo religioso

da época.

Seu espaço é resultado não somente de um projeto específico, mas da intenção de vários desenhos. É um local

destinado a práticas sociais, circulação, encontros, permanência e manifestações da vida urbana e comunitária. É

Figura 69: Praça Mal. Deodoro no início do sec. XIX. Na época, reunindo as sedes dos poderes, repartições públicas, igreja e o mercado. Fonte: Acervo – Arquivo Público de Teresina: Acesso- 18/05/2010

Figura 70: Vista aérea da Praça Marechal Deodoro na Década de 1980, com projeto paisagístico desenvolvido por Burle Marx. Fonte: Acervo – Arquivo Público de Teresina: Acesso- 18/05/2010

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CAPÍTULO II

90

vinculada a instalações de interesse da

coletividade, como a igreja matriz, e de fácil

identificação por parte da população. É um

elemento de destaque na composição

urbanística e de embelezamento urbano.

De acordo com Robba e Macedo (2003)

a morfologia urbana esboçada no projeto

original da Praça Marechal Deodoro conserva

o tradicional traçado da linha clássica, com a

simetria estruturando seu traçado; eixo

ortogonal bem marcado cruzado por caminhos

transversais secundários, ligando o

monumento, ponto focal da praça, aos edifícios

mais significativos à sua volta. Eles afirmam

que a expressão desse desenho da Praça

Marechal Deodoro foi muito intensa e esse

modo de projetar difundiu-se rapidamente pelo

país, transformando-se em padrão de desenho

para as praças. Até o final do século XX ainda

são projetadas praças baseadas nessa

estrutura.

Figura 71: Projeto da praça original simulado pela autora através do levantamento da praça nos dias atuais. Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina – Acesso: 18/05/2010.

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CAPÍTULO II

91

Já na concepção de Zucker (1959), seu traçado pode ser classificado em três tipos:

Praça dominada - a existência de um elemento dominante no espaço livre passa a ser o principal determinante das

relações espaciais da praça. Ou seja, a igreja e o monumento de fundação da cidade geram uma organização espacial

dinâmica dada pela percepção e movimento do usuário em torno desses elementos dominantes (imagem 72).

Praça nuclear - organizada a partir da presença de um núcleo (fonte, marco, monumento, escultura, coreto, etc.),

no caso da Praça Marechal Deodoro, o monumento da fundação da cidade, que foi erguido antes mesmo da estrutura da

praça. A unidade espacial é garantida por esse elemento, que se sobrepõe aos edifícios adjacentes à forma da praça,

carregando com certa tensão a percepção do espaço (imagem 73).

Figura 72: Destaque elementos dominantes. Imagem Google earth modificada pela autora. Acesso11/12/2010.

Figura 73: Núcleo da praça. Imagem Google earth modificada pela autora. Acesso11/12/2010.

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CAPÍTULO II

92

Praça agrupada - pois se associa por meio de

um edifício dominante com outra praça, ou seja, a Igreja

Nossa Senhora do Amparo agrupa a Praça Marechal

Deodoro com a Praça Rio Branco. Esta última era um

pequeno espaço atrás da igreja onde os fieis, também,

se reuniam, posteriormente se transformando em um

jardim público, hoje praça.

Na década de 80 o projeto original da praça

sofreu alterações com um projeto de Roberto Burle

Marx, onde rompeu com as linhas ecléticas de desenho

da mesma.

Portanto, a Praça Marechal Deodoro libertou-se

da rigidez formal dos projetos clássicos, ganhando

características dos princípios dos projetos da linha

moderna. Nessa praça foram implantados alguns deles: a utilização de formas orgânicas e geométricas para os novos

caminhos, canteiros e espelhos d água; vegetação utilizada como elemento tridimensional de configuração de espaços;

equipamentos voltados para o lazer ativo.

Figura 74: Imagem Google earth modificada pela autora. Acesso11/12/2010

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CAPÍTULO II

93

Figura 75: Levantamento da praça nos dias atuais. Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina. Acesso: 18/05/2010.

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CAPÍTULO II

94

Hoje, a Praça Marechal Deodoro é formada por equipamentos de lazer passivo e, também, de lazer ativo, pela

presença de um anfiteatro lá existente. É uma praça de grande porte e possui um trânsito intenso em suas imediações,

tanto de veículos, como de transeuntes. Nela ainda acontecem manifestações, encontros e discussões sobre os

acontecimentos cotidianos da cidade. No entanto, caracteriza-se mais como um espaço de passagem do que de estar,

devido, principalmente, a falta de segurança dos seus usuários.

Figura 76: Corte esquemático da situação atual da Praça Marechal Deodoro

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CAPÍTULO II

95

De acordo com a PMT (Prefeitura Municipal de Teresina) a

praça possui uma área de 30.600 m² e sua topografia pode ser

considerada plana por possuir desníveis não perceptíveis. Quanto a

sua forma, seguindo a proposição dos estudos de Castro e De Angelis

(2004), observa-se que a Praça Marechal Deodoro é conformada por

quatro vias de acesso local – sendo estas delimitadas por construções

em todo seu perímetro – proporcionando o surgimento da praça em

forma retangular (ver figura 77).

VEGETAÇÃO

A vegetação também é um elemento que compõe o espaço

urbano, podendo organizar um espaço mais aprazível que as

edificações. Ela pode mudar totalmente o aspecto visual da paisagem

urbana, transformando algumas áreas em belos jardins,

proporcionando sombreamento e renovação do ar. Todavia, a

arborização excessiva pode, também, prejudicar, privando áreas da

insolação necessária à salubridade das edificações e à saúde da

população e, quando inserida de forma equivocada, pode destruir

calçadas, prejudicar visualmente as fachadas e propiciar a

proliferação de insetos (MASCARÓ, 2005).

Figura 77: Esquema da Praça Marechal Deodoro conformada por quatro vias (adaptado pela autora).

Figura. 78: Imagem modificada pela autora em 18/10/2010. Fonte: FAU-USP. PAISAGISMO – 1983. SÍNTESE DAS ATIVIDADES.

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CAPÍTULO II

96

Segundo Abud (2007) existem várias maneiras de trabalhar com árvores no plano de massas vegetais. Quanto a

isso, é possível conseguir benefícios alternando dois dos maiores grupos de espécies de árvores, que são classificados

segundo seu tipo de copa: O primeiro grupo são as espécies com a copa horizontal, que possui o diâmetro da copa maior

que a altura; o segundo são os com copa vertical, que possui o diâmetro da copa menor que a altura. Ainda de acordo com

o autor, o maciço de árvores de copa vertical mostra-se mais eficiente como elemento de vedação, ou para destacar um

ponto focal. Já o renque de árvores horizontais libera, em geral, a parte superior da paisagem, tirando vantagem se essa

for interessante, além de formar lugares aconchegantes devido às sombras formadas por suas copas. As imagens abaixo

mostram que além das espécies citadas acima, ainda existem as ovóides, cônicas, piramidais, pendentes, tufos e

divergentes.

Na Praça Marechal Deodoro observa-se uma vegetação densa, onde o plano de massa das árvores existentes está

inserido dentro de dois grupos, horizontal e vertical, predominando as árvores de copa horizontais e de grande porte

(acima de 10 metros de altura).

Figura 79: Massa densa de arborização. Fonte: Google Earth. Acesso em 20/10/2010

Figura 80: vista das árvores - copa horizontal. Fonte: Arquivo pessoal

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CAPÍTULO II

97

Como já foi dito, as árvores de copa horizontal constituem uma

cobertura vegetal, de onde provém ao transeunte sombra que transforma

o espaço sob sua copa em um lugar aprazível. Esta função é muito bem

exercida na Praça Marechal Deodoro, no entanto esta mesma cobertura

causa certa barreira visual da praça dificultando sua visibilidade e

prejudicando a visualização de referências.

Quanto às copas verticais foram identificadas no local de seis a

oito espécies da carnaúba (árvore nativa da região nordeste), em lugares

esporádicos, algumas no monumento central e outras nos espelhos

d’água, podendo vir a exercer a função de ponto focal para ambos,

atraindo a visão dos transeuntes. Também chamam a atenção por serem

Figura 81: Bloqueio visual causado pela copa das árvores. Foto: Ianna Raposo, 2010

Figura 82: vista das árvores - copa vertical e ao fundo o monumento. Fonte: Arquivo pessoal.

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CAPÍTULO II

98

árvores em minoria, em um bosque formado, na maior parte,

por árvores horizontais. (ver imagem 81).

Outro item observado foi que os canteiros encontram-

se maltratados, seja por excesso de sombreamento causado

por uma falta de planejamento mais adequado para o plantio

das árvores, ou por descaso dos órgãos públicos

responsáveis pela manutenção da praça (ver imagem 83).

MOBILIÁRIO URBANO

Sobre mobiliário urbano Serra (1996, p.06) afirma:

“são elementos urbanos que se utilizam e se integram na paisagem urbana, e devem ser compreendidos pelos cidadãos. Uso, integração e compreensão são os conceitos básicos para a valorização de todo o conjunto de objetos que encontramos nos espaços públicos da cidade.”

Os elementos urbanos são aqueles que mobiliam as

cidades como os bancos, luminárias, lixeiras, telefones

públicos, caixas de correio, jardineiras, cabines de ônibus,

etc., ou seja, são acessórios que existem para contribuir com

Figuras 83: vista canteiros descuidados. Foto: Arquivo pessoal

Page 100: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

99

o conforto dos cidadãos. Por esse motivo, são, também, chamados de mobiliário urbano.

Para Serra (1996), o desenho do mobiliário urbano, como qualquer outro método de desenho, cumpre três conceitos

interligados: funcionalidade, racionalidade e emotividade. Seguindo o autor, a funcionalidade é necessária porque os

elementos têm de cumprir os requisitos funcionais e de uso. O espaço urbano não deve admitir objetos de uso duvidoso ou

de uso de outras culturas e necessidades, pois os espaços públicos, como as praças e calçadas, estão expostos à

demanda excessiva de objetos que podem prejudicar o conforto e a paisagem urbana. Portanto, para a conservação da

paisagem se deve evitar a concentração de elementos urbanos e realizar uma política de seleção de funções nestes

espaços.

A racionalidade é necessária á medida em que a razão, a matemática, a tecnologia, os materiais, estão acima da

experiência emocional para compreender a realidade. O desenho dos elementos urbanos sob o ponto de vista do desenho

industrial ainda precisa dar o salto final para obter elementos industrializados que melhorem sem dúvida quanto seu

comportamento no espaço urbano. A resistência à agressividade do meio urbano, o envelhecimento durante o tempo que

tem de permanecer em uso e a facilidade de montagem e manutenção, são pontos essenciais no desenho dos elementos

urbano.

Já a emotividade é necessária á medida em que o objeto provoca reações psicológicas e transmite sensações ao

indivíduo. Dar satisfação de uso e controlar a fabricação deve estar unido à produção de sentimento, imaginação e paixões

ao desenhar o mobiliário urbano. Em particular, o desenho dos elementos urbanos deve conseguir a integração entre o

valor artístico e o valor de uso de todos os objetos que participam da vida cotidiana do ambiente da cidade.

Conforme Mascaro (2008), o mobiliário urbano contribui para a estética e para a funcionalidade dos espaços, da

mesma maneira que dar a segurança e o conforto para os usuários. Portanto, merece a atenção dos planejadores que são

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CAPÍTULO II

100

responsáveis pela qualidade do ambiente público, dos recintos urbanos, das vias de circulação, das praças e parques

urbanos.

1. Bancos

De acordo com Mascaro (2008) os bancos devem ser implantados em locais de grande fluxo de pedestres, podendo

sempre que possível formar áreas de refúgio. Devem ser dispostos em linha constituindo uma espécie de marcação ou de

maneira agrupada, compondo um ambiente de estar, promovendo a convivência com o outro e a prática do lazer

associativo de diferentes grupos. Por comporem os ambientes urbanos devem ser ergonomicamente projetados,

permitindo ao usuário uma permanência confortável e duradoura. É propício utilizar materiais e um desenho que se

identifiquem com a cultura local e com o restante do mobiliário; também, é importante que os bancos sejam localizados em

pontos estratégicos, não atrapalhando a circulação.

Na Praça Marechal Deodoro foi identificado três tipos de bancos: o primeiro, alguns bancos de concreto, sem

encosto, pouco confortáveis, com adornos que, provavelmente, vêm desde o projeto original da praça; o segundo, mais

contemporâneos, colocados durante as reformas que a praça já sofreu, é de madeira com concreto, com encostos, mais

confortáveis, mais simples e limpos na sua forma. O terceiro, também contemporâneo, de concreto, sem encosto,

esteticamente não muito agradável e mal localizado, em áreas sem sombreamento e que podem atrapalhar a circulação,

pois estão no logradouro da praça. Nota-se, portanto uma falta de integração entre os três tipos de desenhos dos bancos,

fragmentando visualmente a paisagem da praça.

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CAPÍTULO II

101

Quanto à sua disposição, nota-se certa coerência com o espaço público, estando a maioria dispostos abaixo das

copas de árvores, em áreas de sombreamento. Muitos estão dispostos em linhas, outros, de maneira agrupada, não se

notando, em nenhum deles, obstáculo para o fluxo, exceto os localizados no logradouro da praça.

Ainda sobre esse elemento urbano, alguns deles se encontram em estado deteriorado devido ao vandalismo dos

usuários e a falta de manutenção dos órgãos públicos.

2. Lixeiras

A existência de lixeiras em espaços públicos é indispensável. Auxilia na manutenção da limpeza dos ambientes e,

também, devem ser colocadas em pontos estratégicos, facilitando a visualização e o acesso. Segundo Mascaro (2008),

elas devem ser dispostas em locais de maior movimento e concentração de atividades, paralelamente ao deslocamento

dos pedestres, sem ser um empecilho ao fluxo.

Figuras 84, 85 e 86: os três tipos de bancos existentes. Fonte: Arquivo pessoal

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CAPÍTULO II

102

Serra (1996) afirma que a lixeira é um elemento que

proporciona uma grande diversidade de formas e materiais e,

portanto deve ser desenhada especialmente para ser compatível

e resistente ao seu uso, uma vez que é um elemento que reflete

a imagem de limpeza do espaço público.

Portanto, conforme Mascaro (2008, p.168):

“As lixeiras devem estar dispostas por todo meio urbano, como elemento de fundamental funcionalidade e composição plástica. Ao mesmo tempo, elas devem ser discretas o suficiente para não atrapalhar a paisagem urbana, assim como valorizadas na medida exata de serem notadas pelos indivíduos, como um convite e uma facilidade à limpeza dos espaços públicos.”

Na Praça Marechal Deodoro as lixeiras são de chapa de ferro perfurada e se encontram, também, sem nenhuma

manutenção. Seu desenho não possui uma harmonia com o restante dos elementos urbanos, o que torna o mobiliário da

praça ainda mais confuso. Além disso, hoje, só são encontradas duas lixeiras em toda a praça, quantidade insuficiente

para seu tamanho e para o intenso tráfego de pessoas que circulam nessa área todos os dias.

3. Luminárias

De acordo com Cullen (2009), de um modo geral existem três exigências que o urbanista estabelece ao engenheiro

eletrotécnico: unidade de escala, unidade cinética e rigor. A unidade de escala da rede deve seguir a escala da rede ou do

recinto; a unidade cinética é a unidade do movimento, ou seja, a maioria das redes encontra-se em vias que geralmente

Figura 87: Tipo de lixeira existente. Fonte: Ianna Raposo, 2010

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CAPÍTULO II

103

transmitem um movimento linear. Porém existem outros tipos de recintos urbanos: praças, espaços delimitados, etc., que

representam espaços de algum modo estáticos. Nesses locais torna-se importante que as redes, sobretudo de dia, não

venham a interferir e destruir esta qualidade estática, envolvendo monumentos no seu próprio movimento; e, por último, a

unidade rigor, ou seja, quando há situações em que uma instalação tradicional não é de todo precisa, e em que, embora a

luz seja necessária, a rede de iluminação nunca contribuirá para a pureza da paisagem. Quanto a isso, Cullen (2009,

p.146): “pense-se numa ponte recente, uma peça esculpida em betão armado, e por muito que se tente, o sistema

tradicional de iluminação através de fonte de luz colocadas sobre postes, vem contrariar as qualidades próprias dessa

estrutura.”

Portanto, segundo Cullen (2009), deve-se integrar a iluminação pública no tecido e nas características próprias de

cada aglomerado e cidade, tanto de dia como de noite, adequando a luz e suas fontes para qualquer situação.

A iluminação da Praça Marechal Deodoro é formada somente por equipamentos altos, modelo poste tubular de

quatro pétalas, muito usados na iluminação pública das cidades. Não foi registrada nenhuma instalação específica para

iluminação dos pedestres, ou seja, equipamentos mais baixos de iluminação mais pontual. Com isso, o que se observa é a

falta do sentido de escala, com a instalação de postes excessivamente grandes para o recinto, deixando a praça sem uma

iluminação adequada. Nota-se, também, que a altura dos postes confunde-se no meio das copas das árvores,

prejudicando ainda mais a iluminação da praça. Além disso, a quantidade de postes registrados é insuficiente para atender

a demanda necessária da área total da praça.

Page 105: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

104

4. Piso

Além de possibilitar a circulação, o piso, proporciona a valorização e ocupação do ambiente. O desenho e o tipo de

piso vão indicar ao usuário o seu caráter utilitário, e é através dele que pode se dá a conexão ou a ruptura entre as partes

da cidade.

Na Praça Marechal Deodoro foi observada uma descontinuidade visual e formal no piso, pois este é formado por

diferentes tipos de materiais. Foram encontrados três tipos de piso: pedra portuguesa, bloquetes de concreto, cimento

Figuras 88 e 89: Tipo de poste existente; poste coberto pelas copas das árvores. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 90: Falta de iluminação durante a noite, gerando insegurança pública. Fonte: Arquivo pessoal.

Page 106: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

105

corrido. Isso se deve a várias reformas

que a praça já passou ocorrendo uma

falta de normatização de tipos de

pavimentação.

O aspecto de um dos pisos da

praça, de cimento corrido, além de não

ter um visual muito agradável, está

danificado em diversas áreas. Diferente

do piso de pedras portuguesas,

recorrente do projeto de Burle Marx da

década de 80, onde existiu uma

preocupação com o desenho do piso.

Figura 91: Gráfico elaborado pela autora. Arquivo pessoal

Figuras 92, 93 e 94: Tipo de piso existente em sequência - Pedra portuguesa; cimento; bloquete de concreto. Fonte: Arquivo pessoal

Page 107: Ianna Silveira Raposo.pdf

O ENTORNO

O parcelamento é determinante na organização da cidade, pois delimita o perfil

da ocupação do espaço urbano. O parcelamento da área central de Teresina tem uma

forma originada da malha xadrez com predominância retangular, sendo esta forma, a

que deu origem a Praça Marechal Deodoro e a Praça Saraiva. A malha urbana do entor-

no da Praça Marechal Deodoro é formada por quatro áreas que apresentam edificações

mescladas de serviços e comércios, com confluências na Av. Maranhão, Coelho Rodri-

gues, Rui Barbosa e Aerolino de Abreu.

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Page 108: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

107

Na face Norte da praça, a região da Av. Areolino de Abreu possui um trânsito intenso de veículos e pedestres, além

de possuir um terminal de ônibus de grande fluxo. Com edifícios destinados ao comércio, se sobressaem na paisagem a

construção do mercado central – mercado que existe desde a fundação da Praça e cuja estrutura física atual está abaixo

do grau de conservação das outras edificações da mesma época – e o edifício do Museu do Piauí, antiga Escola normal

do Estado, que hoje se encontra em um bom estado de conservação.

Vista observada pela posição 01 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Vista observada pela posição 02 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Page 109: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

108

Vista observada pela posição 03 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Vista observada pela posição 04 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Page 110: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

109

Na face Oeste, está situado o rio Parnaíba, ponto privilegiado, que desde a fundação da praça poderia ter sido

considerado um elemento dominante na sua organização. Porém, seu projeto não tira proveito de tal situação: ao contrário,

pode-se dizer que, recentemente, houve uma ruptura na paisagem com a construção do Shopping da Cidade – espaço

para abrigar os camelôs da cidade, e uma nova linha de metrô elevado. Essas construções possuem características físicas

que causam a sensação de descontinuidade espacial da praça com a avenida que ladeia o rio Parnaíba, a Av. Maranhão e

uma ruptura da paisagem da praça com relação ao rio.

Vista observada pela posição 05 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Page 111: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

110

Vista observada pela posição 06 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Vista observada pela posição 07 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Page 112: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

111

Na face Sul, encontra-se a Av. Coelho Rodrigues, avenida com trânsito intenso, passeios e canteiros centrais

arborizados. Esta área se destaca por abrigar edifícios destinados a serviços públicos, onde funcionam a Prefeitura,

Fundação Cultural do Estado, Arquivo Público da cidade, IPHAN, etc. Todos estes edifícios são patrimônio histórico da

cidade e suas volumetrias são homogêneas quanto à arquitetura e alinhamento. O grau de conservação e de uso destes

edifícios estão acima da média da região central.

Vista observada pela posição 08 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Vista observada pela posição 09 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Page 113: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

112

Vista observada pela posição 10 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Vista observada pela posição 11 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

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CAPÍTULO II

113

Vista observada pela posição 12 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Vista observada pela posição 13 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Page 115: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

114

Ao Leste da praça, na Av. Rui Barbosa, encontra-se a igreja matriz considerada um ponto nodal nessa região, por

ser um ponto de referência na cidade desde a sua fundação. A avenida possui canteiros centrais arborizados, e apresenta

construções mais modernas, como o Ministério da Fazenda e o Hotel Luxor, construídos na década de 70, um pouco antes

da primeira reforma significativa da praça, realizada por Burle Marx, na década de 80.

Vista observada pela posição 14 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

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CAPÍTULO II

115

Considera-se, portanto, que a área envoltória da praça, por seus usos, colabora para a presença de numerosa

população usuária de seus edifícios, tanto comerciais quanto de serviços. Porém, essa grande densidade não se traduz na

utilização da praça em si, pois o que se observa é que a mesma não apresenta um pólo atrativo de uso para a população

de seu entorno, servindo mais como acesso dessas áreas envoltórias, embora durante o dia ainda seja ponto de encontro

para algumas pessoas que realizam diversas atividades em seu entorno.

Observa-se que a construção recente do Shopping da Cidade e da estação do metrô em sua face oeste desfez a

integração da paisagem entre a praça e o rio Parnaíba, bloqueando a visibilidade e o acesso livre da praça para o rio

Parnaíba e vice versa, além de descaracterizar o conjunto morfológico da mesma e diminuir espaço do seu passeio,

embora tenha provocado o aumento do fluxo de pessoas que por ali transitam.

Page 117: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

116

2.1.2.2. PRAÇA SARAIVA

ESTRUTURA ESPACIAL

Antes de se tornar uma praça, era um local onde ficava a casa da fazenda Chapada do Corisco, em cujas terras

construíram parte da cidade de Teresina. Seu nome é uma homenagem ao fundador da cidade José Antonio Saraiva, que

teve lá erguida uma estátua durante a comemoração do primeiro centenário da fundação da cidade. Em 1932 são

plantadas 300 árvores na praça (GOMES, 1992).

Mais para largo do que praça, a Praça Saraiva é considerada marco divisório das Zonas Norte e Sul da cidade.

Porém, apesar de sua localização central, esta permanecia relegada e preterida pela administração pública; sem

calçamento, gramado, jardim, coreto, bancos, lago, ou qualquer outra característica de praça. Cercada, apenas, de

oitizeiros com os frutos espalhados pelo chão. Era o terminal rodoviário da cidade, ponto de encontro dos motoristas, lugar

dos fretes. De dia, assemelhava-se um pouco ao mercado velho – vendedores de cordel, ambulantes e vários quiosques.

À noite virava baixo meretrício. Havia também algumas pensões e dormitórios. Enfim, um colorido bem característico –

menos de praça, contudo (ARQUIVO PÚBLICO DE TERESINA, 2010).

Sobre a Praça Saraiva Dobal (1992) apud Silva (2009) fala que:

“é uma praça enorme, com tantas árvores que parece um bosque e no mês da floração dos paus-d’arco tem uma beleza indescritível. A catedral Nossa Senhora das Dores fica situada nesta praça que é ainda o ponto de partida de quase todos os ônibus e ‘horários’ que saem da cidade, fazendo a linha para estados ou cidades vizinhas.”

Page 118: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

117

A igreja Nossa Senhora das Dores foi

erguida em 1865. Era grande a necessidade

de construção de mais um templo, visto que a

população crescente dos fiéis não mais se

acomodaria de forma confortável na matriz da

capital. Por volta de 1870 foi construída em

frente à praça a antiga casa do Barão de

Gurguéia, João do Rego Monteiro, onde a

partir de 1994 passa a funcionar a casa da

cultura de Teresina (GOMES, 1992). Outros

edifícios históricos são encontrados em seu

entorno, como o Colégio São Francisco de

Sales – Diocesano – construído em

1906(SILVA, 2009).

Figura 95: Praça Saraiva: Igreja Nossa Senhora das Dores - Segundo Templo religioso de Teresina e Colégio Diocesano ao fundo. Fonte: Acervo Arquivo Público. Acesso: 18/05/2010

Figura 96: Praça Saraiva: Igreja Nossa Senhora das Dores nos dias atuais. Fonte: Arquivo pessoal

Page 119: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

118

Assim como a Marechal Deodoro, a Praça Saraiva é

vinculada a instalações de interesse da coletividade, devido à

necessidade de construção de uma nova igreja para a capital, se

tornando, também, um elemento de destaque na composição

urbanística e de embelezamento urbano. Seu projeto inicial foi

também estruturado nas linhas clássicas, com canteiros em

formas geométricas e com um eixo longitudinal bem marcado,

cruzado por caminhos transversais secundários assimétricos.

Figura 97: Projeto da praça original simulado pela autora através do levantamento da praça nos dias atuais. Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina – Acesso: 11/11/2010.

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CAPÍTULO II

119

Conforme Zucker (1959), a Praça Saraiva pode ser

considerada uma praça dominada, pois foi organizada a partir de

um elemento que determina as principais relações espaciais, a

Igreja Nossa Senhora das Dores. Ainda baseado no autor, a Praça

Saraiva, também, pode ser considerada uma praça de igreja, já

que foi constituída graças à construção do templo religioso.

Figura 98: Destaque para o elemento dominante. Imagem Google Earth, modificada pela autora. Acesso11/12/2010.

Figura 99: Projeto da praça com intervenção viária simulado pela autora através do levantamento da praça nos dias atuais. Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina – Acesso: 11/11/2010

Page 121: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

120

Posteriormente, alterações foram feitas na estrutura espacial da praça, principalmente a abertura de uma avenida

dentro do seu perímetro, que funciona como corredor de ônibus. Porém, parte da praça, ainda se encontra com a mesma

estrutura do projeto inicial, com programa apenas contemplativo devido sua intensa arborização, sem nenhum

equipamento público. Mas, hoje, com o projeto de alteração viária, a praça é marcada pelo fluxo diário de pessoas atraído

Figura 100: Corte esquemático da situação atual da Praça Saraiva.

Page 122: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

121

pelo centro irradiador de linha de ônibus. Mas exatamente por isso não permite criar raízes, sendo um ponto obrigatório,

porém somente de passagem.

Sua topografia também pode ser considerada plana por

possuir desníveis não perceptíveis. Observa-se que, assim como

a Marechal Deodoro a Praça Saraiva é conformada por quatro

vias de acesso local e são delimitadas por construções em todo

o seu perímetro, proporcionando o surgimento da praça em

forma retangular (ver figura 101).

Figura 101: Esquema da Saraiva conformada por quatro vias (adaptado pela autora).

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CAPÍTULO II

122

VEGETAÇÃO

Na Praça Saraiva, observa-se, também, que

a massa de vegetais existentes está inserida

dentro desses dois grupos, horizontais e verticais,

predominando as primeiras. Estas constituem uma

cobertura que proveem ao transeunte sombra que

transforma os espaços sob suas copas em lugares

agradáveis. Não foi identificada, por sua vez,

nenhuma árvore de copa vertical com função

significativa na paisagem da praça.

A Praça Saraiva é composta, também, por

árvores de grande porte e de copas horizontais, as

quais proporcionam muita sombra, amenizando,

aos transeuntes do local, as altas temperaturas

constantes da cidade.

Figura 102: Grande massa de arborização provocando grandes áreas de sombreamento. Fonte: Google Earth. Acesso em 20/11/2010.

Figura 103: vista das árvores - copa horizontal. Fonte: Arquivo pessoal.

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CAPÍTULO II

123

Porém, verificam-se aqui os mesmo problemas

encontrados na Praça Mal. Deodoro: canteiros maltratados

e bloqueio visual causado pela copa das árvores (ver

imagens 104 e 105). Figura 104: vista canteiros descuidados. Foto: Ianna Raposo, 2010.

Figura 105: Bloqueio visual causado pela copa das árvores. Foto: Ianna Raposo, 2010.

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CAPÍTULO II

124

MOBILIÁRIO URBANO

1. Bancos

Foi identificado um único tipo de banco na Praça Saraiva, ou

seja, bancos que seguem um único padrão de desenho. São

bancos de concreto, sem encosto, pouco confortáveis que,

provavelmente, vem desde o projeto original da praça. Hoje,

muitos se encontram em estado deteriorado.

Quanto a sua disposição, estão locados abaixo das copas de

árvores, em áreas de sombreamento, muitos dispostos em linhas,

outros de maneira agrupada, não se notando, em nenhum deles,

obstáculo para o fluxo de pedestres.

2. Lixeiras

Na Praça Saraiva as lixeiras são de concreto e se

encontram, também, sem nenhuma manutenção. Foi identificada

apenas uma lixeira para toda a praça e seu desenho, apesar da

forma ser harmônica com os bancos existentes, não facilita o seu

manuseio, não se adequando aos padrões ergométricos exigidos.

3. Luminárias

A iluminação da Praça Saraiva é formada por equipamentos

mais baixos que os da Praça Marechal Deodoro, sendo mais

adequados para a iluminação dos pedestres. Porém, a quantidade

Figura 106: Tipo de banco existente. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 107: Tipo de lixeira existente. Fonte: Arquivo pessoal.

Page 126: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

125

e a disposição dos postes no recinto foram mal planejadas. Assim como na Praça Marechal Deodoro, observa-se uma

quantidade insuficiente de equipamento para a área e uma boa parte localizada em lugares indevidos, deixando a praça

mal iluminada no período noturno. O modelo de poste tubular, padrão decorativo de áreas públicas, foi reformado há pouco

tempo e tenta remeter ao modelo original da praça, mas destoam na composição da paisagem urbana da mesma.

Figura 108: Tipo de poste existente. Locação mal planejada. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 109: Deficiência na iluminação durante a noite, provocando o abandono da praça. Fonte: Arquivo pessoal.

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CAPÍTULO II

126

4. Pisos

Na Praça Saraiva os tipos

de pisos encontrados foram a

pedra portuguesa, bloquetes de

cimento e o cimento corrido. Em

algumas áreas esses pisos se

encontram em estado de

degradação. Observa-se uma

preocupação na composição do

desenho no caminho principal da

praça, que liga seus dois

elementos principais, o

monumento e a igreja. Já nos

caminhos secundários, notas-se

um menor apreço, pois a falta de

uniformidade da pavimentação faz

com que a mistura de materiais

provoque uma ruptura entre as

partes causando poluição visual

na paisagem.

Figura 110: Gráfico elaborado pela autora. Arquivo pessoal

Figura 111: Pedra portuguesa: desenho do piso do caminho principal. Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 112: bloquete de concreto e cimento corrido: vista da falta de uniformidade da pavimentação. Fonte: Arquivo pessoal.

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O ENTORNO

A malha urbana da Praça Saraiva é formada por quatro áreas que apresentam

edificações mescladas de serviços e comércios, onde predomina o comércio, com con-

fluências na Av. Rui Brabosa, Félix Pacheco, Barroso e Olavo Bilac.

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CAPÍTULO II

128

Na face Oeste, esta a Av. Rui Barbosa onde se localiza edifícios destinados ao comércio. Destaca-se ali uma das

edificações mais importantes em termos de referências arquitetônicas da cidade: a Casa da Cultura de Teresina, antiga

casa do Barão de Gurguéia – o responsável pela construção da igreja da praça. A casa possui uma arquitetura eclética e

foi construída na segunda metade do séc. XIX.

Vista observada pela posição 01 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Vista observada pela posição 02 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Page 130: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

129

Na face Sul, encontra-se a Olavo Bilac, avenida que contorna a igreja, com trânsito moderado. Esta área abriga

edifícios destinados a serviços, e, hoje, possui algumas edificações em desuso.

Vista observada pela posição 03 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Vista observada pela posição 04 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Page 131: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

130

Vista observada pela posição 05 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Na face Leste, na Rua Barroso, está o Colégio Diocesano, edifício tombado, de arquitetura eclética, construído na

mesma época da Casa da Cultura. Ambos os edifícios são responsáveis por parte do fluxo da região.

Vista observada pela posição 06 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Page 132: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

131

Vista observada pela posição 07 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Vista observada pela posição 08 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Page 133: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

132

Na face Norte da praça, a região da Av. Félix Pacheco, possui um trânsito intenso de veículos e pedestres, e nela se

localiza o corredor de ônibus, que passa por dentro da praça, e ladeia a avenida. Nessa face predominam os edifícios

Vista observada pela posição 09 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Vista observada pela posição 10 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

Page 134: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

133

destinados ao comércio.

Atualmente, verifica-se que a Praça Saraiva tornou-se apenas um ponto de passagem para pessoas que se

deslocam para o corredor de ônibus, o qual passa por dentro da praça e ladeia a avenida, perdendo sua real função de

praça. Apesar do intenso movimento ao seu redor devido à presença de lojas comerciais, escola e instituição pública, o

que se constata é que a praça permanece em desuso durante o dia e, mais intensamente, no período noturno.

Vista observada pela posição 11 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal

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CAPÍTULO II

134

2.2. AS PRAÇAS COMO ELEMENTOS DO DESENHO DA PAISAGEM E COMO ESPAÇOS DE PERCEPÇÃO E

APROPRIAÇÃO

Para além da morfologia, é preciso compreender as possibilidades de leitura, percepção e vivência dos espaços

livres, o que deve estar presente na mente do projetista no momento de sua criação, objetivando não apenas a leitura

visual, mas também seu significado humano.

Esse contato do indivíduo com o mundo exterior lhe permite compreender as figuras presentes no espaço urbano e

identificar as imagens por meio das formas. De acordo com Gomes (1997) no seu estudo “Percepção do Ambiente

Construído: A Praça”, a imagem mental é o produto final da percepção e da cognição. Para o autor, a percepção “(...)

concerne à apreensão imediata dos estímulos do ambiente por um ou mais sentidos. Ocorre por causa da presença de um

objeto. Está estritamente conectada com eventos nas proximidades e é, em geral, ligada a um comportamento imediato.”

(GOLLEDGE, 1987, apud GOMES, 1997, p.48). Por sua vez, “a cognição é um processo taxonômico e o mundo obtém

significado através do fato nomeado, classificado e ordenado, mediante determinados instrumentos conceituais.”

(RAPOPORT, 1978, apud GOMES, 1997, p.48).

Assim, as pessoas reagem aos ambientes de acordo com sua estrutura perceptora e cognitiva que, embora comum

a todas as pessoas, é determinada pelas suas experiências guardadas na memória. Através da percepção o indivíduo

pode produzir uma consciência espaço-temporal do ambiente que o cerca e o processo cognitivo o permite guardar e

organizar as informações percebidas do meio. A percepção é um estímulo imediato e dependente, enquanto a cognição

não depende da imediaticidade e nem da proximidade. Fazem parte da estrutura cognitiva os valores, as crenças, os

preceitos e as atitudes que as pessoas têm sobre o ambiente.

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CAPÍTULO II

135

Para Januzzi (2000) a relação entre a arquitetura e o espaço desperta a emoção das pessoas, fazendo com

que um lugar tome forma e significado dentro do ambiente urbano. Hertzberger (1999, p.151) esclarece que:

“Como as palavras e as frases, as formas dependem do modo como são ‘lidas’ e das imagens que são capazes de suscitar para o «leitor». Uma forma pode evocar imagens diferentes em pessoas diferentes e em situações diferentes, e, deste modo, assumir um significado diferente, e esta experiência é a chave para uma consciência modificada da forma. Uma consciência que nos tornará capazes de fazer coisas que possam se adaptar melhor a mais situações.”

E ao fazer uma leitura dos aspectos visuais da paisagem, pode-se analisar e classificar as qualidades componentes

da paisagem urbana, procurando as qualidades emocionais e ambientais que possam gerar atributos que valorizem os

ambientes. Portanto, segundo Del Rio (1955, p.92):

“O estudo da percepção ambiental interessa-nos enquanto compreensão das unidades selecionadas para compor a experiência visual. Para o Desenho Urbano, os objetivos principais destes estudos se tornam claros: a identificação de imagens públicas e da memória coletiva. A partir do estudo do que os usuários percebem, como e com que intensidade pode-se montar diretrizes para a organização físico-ambiental.”

Nesta perspectiva, para fundamentar esta segunda parte da pesquisa, têm-se como base os trabalhos já realizados

por Gordon Cullen, Kevin Lynch, e Cesari, onde estes desenvolvem estudo sobre o conhecimento do meio ambiente

através de sua denominação, classificação e ordenação e organização mediante o uso de determinados instrumentos

conceituais. Neste aspecto, Gordon Cullen acredita que o meio ambiente suscita reações emocionais através dos aspectos

visuais, analisa as qualidades ambientais, estuda a paisagem urbana que possibilita a interferência local. Para isso, ele

leva em consideração três aspectos:

Page 137: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

136

§ Óptica: a paisagem urbana da cidade surge como uma série de efeitos visuais, como uma sucessão de

surpresas ou revelações. De acordo com o autor isso é o que se entende por visão serial, ou seja, embora

considere a cidade como um todo, do ponto de vista visual tem-se dois pontos de vista a considerar: Imagem

existente e a imagem emergente.

§ Lugar: diz respeito à reação das pessoas perante a sua localização no espaço. Uma vez que o corpo humano

se relaciona instintivamente com o meio em que se encontra, sua reação perante a situação de um

determinado local provoca sensações que devem ser exploradas na planificação do ambiente, valorizando,

assim, o espaço urbano.

§ Conteúdo: este aspecto exalta a própria constituição da cidade, ou seja, a sua cor, textura, sua escala, estilo,

natureza, personalidade e tudo que identifica os elementos que formam o espaço urbano.

Já Kevin Lynch (1981) busca examinar estudos de percepção ambiental, nos quais a paisagem urbana deve ser

formada por elementos que devem ser vistos e lembrados com prazer. Portanto, ele adota idéias qualitativas, como:

legibilidade; identidade, estrutura e significado; imageabilidade. Legibilidade- facilidade com o qual as partes podem ser

reconhecidas e organizadas numa estrutura coerente. Identidade, estrutura e significado- tratam da identificação de um

objeto, de sua relação estrutural e espacial e do significado prático ou emocional que este lugar deve ter para o

observador, enquanto que Imageabilidade - é a qualidade de um objeto de proporcionar uma “forte imagem” para o

observador. Para ele, os elementos da imagem da cidade são classificados em percursos (vias, canais, ruas, passeios,

linhas de trânsito, caminhos, etc.); limites (demarcação de uma área); setores (áreas da cidade com própria identidade);

nós (locais estratégicos da cidade, que podem ser de concentração ou de convergência); marcos (referências que se

destacam na paisagem).

Page 138: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

137

Dentro dessa ótica e conforme Bartallini (1980), Maurice Cerasi, em La Lectura del Ambiente (1977), considera

que o fator preponderante na leitura do meio ambiente é a maneira de desfrutá-lo. Logo, é importante para o arquiteto ou

projetista compreender como isto acontece. Para Cerasi, pela leitura visual do espaço busca-se captar seu significado

humano, não somente na morfologia, porém nas experiências de vida que ali ocorre. De acordo com Bartallini (1988)

Cerasi propõe a «leitura ativa do ambiente» baseado na constatação de que o ambiente é lido na medida em que é usado.

Cerasi dá como exemplo desta leitura, o palácio Ducal de Urbino, reconstituído no sec. XV, onde ele realiza três tipos de

leitura deste conjunto. Estas leituras foram baseadas no que chama de estrutura estilística, estrutura ambiental e

elementos de decoração. Na comparação entre esses três esquemas de leitura, ele enfatizou a importância dos elementos

de transição (no caso do palácio, portas, vestíbulos, passagens) na «leitura ativa», estes entendidos como elementos

agregadores dos espaços.

Segundo Bartallini (1988) o fato de esta leitura ter-se efetuado no espaço de um edifício não parece constituir

obstáculos a sua aplicação aos espaços livres urbanos. Pelo contrário, talvez até se enriqueça devido à maior diversidade

de situações espaciais e de atividades que os espaços públicos carregam em potencial.

Portanto, o objetivo maior desses estudos é organizar os espaços urbanos em benefício da comunidade. Por isso,

nesta parte da pesquisa, esses conceitos serão aplicados como base na análise das praças Marechal Deodoro e Saraiva,

avaliando-se as possibilidades de aproveitamento dos seus espaços e contribuindo para soluções de projetos, podendo

colaborar com os planejadores na elaboração de ambientes que proporcionem uma maior satisfação ao usuário.

Page 139: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

138

2.2.1. PERCEPÇÃO, APROPRIAÇÃO E ACESSIBILIDADE DOS ESPAÇOS LIVRES PÚBLICOS POR MEIO DE

UMA LEITURA PROJETUAL.

2.2.1.1 Praça Marechal Deodoro

De acordo com Del Rio (1955, p.92), o estudo da percepção ambiental interessa-nos enquanto compreensão da

unidade selecionada para compor a experiência visual. Para o desenho urbano, os objetivos principais destes estudos se

tornam claros: a identificação de imagens públicas e da memória coletiva. Conforme Januzzi (2000), a partir da visão, o

indivíduo estabelece contato com as imagens existentes no espaço urbano, os quais produzem reações emocionais no ser

humano. Porém, na composição dos ambientes urbanos, os elementos existentes podem não corresponder ao

desempenho desejado, causando conflitos visuais e prejudicando a qualidade dos espaços. De acordo com a teoria de

Lynch - a respeito da legibilidade, que ele considera uma das mais importantes qualidades visuais - uma boa imagem

ambiental dá ao seu possuidor um importante senso de segurança emocional. Para estruturar essa teoria, consideraram-

se, principalmente, dois dos aspectos observados por Cullen (2009): óptica e local.

Óptica é o aspecto relacionado com o que se entende por visão serial propriamente dita. Esta visão, que segundo

Cullen(2009,p.11) descreve da seguinte forma:” Imagine-se o percurso de um transeunte a atravessar uma cidade a passo

uniforme , e, que apesar do passo uniforme, a paisagem urbana surge na maioria das vezes como uma sucessão de

surpresas e ou revelações súbitas”. Assim sendo, foi feito um percurso no eixo central da praça a passo uniforme, de um

extremo ao outro, onde revela uma sucessão de pontos de vistas conforme se procura exemplificar nas imagens abaixo.

Cada seta representa um ponto de vista e a partir dessas imagens pode-se perceber o local analisado e instrumentar a

definir o que, como e com que intensidade, o usuário pode perceber e se apropriar do espaço.

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CAPÍTULO II

139

Planta Praça Mal. Deodoro com indicação dos pontos de vistas. Gráfico elaborado pela autora. Fonte: PMT- em 10/02/2010.

A B

C

D E

F G H I J K L

M N O

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CAPÍTULO II

140

A B C

D E F

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CAPÍTULO II

141

G H I

J

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CAPÍTULO II

142

K L M

N O

K L M

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CAPÍTULO II

143

A progressão uniforme dos passos do observador vai sendo pontuada sempre por contrastes de perspectivas que

tornam o percurso mais dinâmico. Segundo Cullen (2009, p.19): “os mínimos desvios ao alinhamento, as pequenas

variações nas saliências e reentrâncias, em planta, têm um efeito dramático não proporcional na terceira dimensão.” A

sequência de fotos acima causa a sensação de descoberta ao atravessar a praça. As imagens demonstram a sensação de

se estar a desvendar um caminho para um novo cenário, poder vir a descobrir sempre uma nova paisagem se continua a

andar. A igreja com o monumento da cruz é um elemento marcante de separação da paisagem antiga com a paisagem

que se está a explorar. Transita-se para uma nova ambiência onde surge um novo eixo de perspectiva convergindo a outro

elemento marcante e de separação de paisagens, o monumento de fundação da cidade, dando origem a mais uma

perspectiva que converge para o outro elemento, o rio. Porém, antes de chegar ao rio depara-se com uma contraposição

de volumes, o shopping da cidade e o metrô, construídos recentemente, que rompem a conexão praça e rio.

O segundo aspecto que diz respeito ao Local, relaciona-se às reações perante a posição do transeunte no espaço.

De acordo com Cullen (2009, p.23): “ a ocupação de determinados espaços ou linhas privilegiadas no exterior, os recintos,

pontos focais, paisagens interiores, etc., são outras tantas formas de apropriação do espaço.”Com isso, através dos itens a

seguir, apresentam-se alguns meios de apropriação observados na Praça Marechal Deodoro.

De acordo com Cullen (2009) “abrigo, sombra, conveniência e um ambiente aprazível” são as causas que levam à

apropriação de determinados espaços. Para ele, marcar esses locais com elementos de caráter permanente pode

colaborar para demonstrar os tipos de ocupação que existem nestes espaços e criar um ambiente que não seja “fluído e

monótono”, mas sim “estático e equipado”. Por exemplo, como mobiliário para esta apropriação, o autor cita os desenhos

no pavimento, postes de iluminação, abrigos, enclaves, pontos focais e recintos.

Cullen (2009, p.25) afirma que:

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CAPÍTULO II

144

“ainda que o grau de ocupação do território seja relativamente fraco, o fato de haver no mobiliário sinal permanente dessa ocupação confere à cidade um caráter mais humano e diverso, da mesma maneira que as persianas nas janelas enriquecem os edifícios a nível de textura e proporção mesmo quando não recebem luz do sol.”

A imagem a seguir mostra a ocupação da praça

Marechal Deodoro pela população, através do recurso

do desenho do pavimento (ponto A), e por uma

espécie de abrigo que se forma pela sombra da copa

das árvores com o banco da praça (ponto B).

Figura 113: Esquema de apropriação da Praça Mal. Deodoro. Imagem modificada

pela autora em 04/10/2010. Fonte: Arquivo Pessoal.

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CAPÍTULO II

145

RECINTOS E PONTO FOCAL

Segundo Cullen (2009), “recinto é síntese

da polaridade entre a circulação de pessoas e de

veículos. É a unidade base duma certa morfologia

urbana. O recinto é o objetivo da circulação, o

lugar para onde o tráfego nos conduz; no interior,

o sossego e a tranqüilidade de sentir que o largo,

a praceta, ou o pátio têm escala humana.”

Associado ao recinto e, com este,

determinando a ocupação de um determinado

espaço, para Cullen (2009, p.28) o ponto focal é:

“o símbolo vertical da convergência. Nos largos

de mercado de vilas e cidades, o ponto focal (seja

coluna ou cruz) define a situação, surge como

uma confirmação: é este o local que procuravam.

Pare!” Hoje, na maioria das cidades, estes pontos

focais ainda possuem uma nitidez suntuosa, em

outras, são retirados ou isolados, devido às

exigências dos fluxos de pedestres e veículos.

Figura 114: Recinto - Praça Mal. Deodoro. Imagem tirada pela autora em 18/07/2010.

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CAPÍTULO II

146

Na Praça Marechal Deodoro os pontos focais são

marcados pela cruz (1) - em frente da primeira Catedral e que

demarca a construção da cidade - e pelo primeiro monumento (2)

da cidade de Teresina. Este foi inaugurado em 1958 como

demonstrações da cidade ao seu fundador. Portanto, pode-se

afirmar que, a partir desses dois pontos, estruturou-se

originalmente o projeto da praça.

Figura 116: Vista pontos focais da Praça Mal. Deodoro. Projeto original da praça simulado pela autora através do levantamento da praça nos dias atuais. Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina – Acesso: 18/05/2010.

Figura 115: Vista pontos focais da Praça Mal. Deodoro. Imagem modificada pela autora em 06/10/2010. Fonte: Arquivo pessoal.

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CAPÍTULO II

147

LIGAÇÃO: PAVIMENTAÇÃO, CAMINHOS E BARREIRAS

Segundo Lynch (1981: 53) a circulação viária é um dos elementos mais poderosos para estruturação da imagem

urbana, portanto não pode ser tratado apenas como um sistema de movimento:

“Um dos fatores básicos na democratização da cidade uma vez definidora da acessibilidade, a circulação viária, o transporte público e o estacionamento devem ser entendidos como vitais para a animação e a sobrevivência social e econômica de uma área, em soluções conciliadoras”

De acordo com Cullen (2009), o ambiente construído encontra-se cada vez mais fragmentado em zonas

desconexas: casas de um lado, árvores para o outro. A partir desta constatação, o autor estuda diversos exemplos de

ligação e conexão do meio urbano, dando ênfase aos seus aspectos mais simples: “pavimentação, caminhos para peões e

barreiras.”

Para esse autor é a rede de caminhos para pedestre que transforma a cidade numa estrutura transitável, ligando os

vários locais por meio de degraus, pontes, pavimentos de diferentes padrões, ou por outros elementos de conexão que

permitam manter a continuidade e acessibilidade. “Enquanto as vias motorizadas são fluidas e impessoais, os caminhos

para peões, insinuantes e ágeis, conferem à cidade a sua dimensão humana.” (CULLEN, 2009, p.56).

Observando a conexão na Praça Marechal Deodoro, observa-se: a área pavimentada de lajes e cimento contínuo

são vias de rápida circulação para pedestres (A). Estas se diferenciam do outro tipo de pavimento - pedras portuguesas -,

no tipo de material, desenho e uso. Este último demarca o ponto focal da praça, criando um espaço de contemplação, pois

nele convergem os eixos principais da praça que ligam a mesma com a cidade(B).

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CAPÍTULO II

148

Figura 117: ligação e conexão da praça através da pavimentação. Fonte: arquivo pessoal.

.

Figura118: sentido que ocorre o principal Fluxo da praça. Fonte imagem: Google Earth. Acesso em 20/11/2010.

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CAPÍTULO II

149

Esta conexão foi parcialmente alterada pelas modificações que a praça sofreu para se adequar ao sistema viário:

parte dela foi tomada para abrigar estacionamentos e mais recentemente, foi construído o shopping da cidade, o qual

tomou parte do perímetro da praça.

Nesse processo, o fato de criar determinadas ligações do ponto de vista visual, poderia criar, também, o livre acesso

físico. Não é o caso na Praça Marechal Deodoro que foi gradeada. Conforme Cullen (2009), as grades são consideradas

barreiras físicas, elas permitem o acesso visual, mas pode ser considerada uma restrição física.

Figuras 119 e 120: estacionamento Praça Mal. Deodoro e Shopping da cidade. Fotos tiradas pela autora em 18/07/2010.

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CAPÍTULO II

150

Figura 121: Gráficos elaborados pela autora: Imagens tiradas pela autora em 18/07/2010

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CAPÍTULO II

151

2.2.1.2. Praça Saraiva

Planta Praça Saraiva com indicação dos pontos de vistas. Gráfico elaborado pela autora. Fonte: PMT- em 10/02/2010.

A B C

D

E

F

G

H

I

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CAPÍTULO II

152

A B C

D E

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CAPÍTULO II

153

F G H

I

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CAPÍTULO II

154

Por esta sequência de imagens acima da Praça Saraiva, diferente da Marechal Deodoro, nota-se um caminho sem

muitas mudanças de perspectivas, como se fosse uma única fotografia reproduzida várias vezes, sendo, de cada vez,

ampliada a parte central para se obter um plano cada vez mais próximo do edifício terminal (A igreja). O monumento ao

Conselheiro Saraiva antes o ponto focal de convergência para a perspectiva do eixo central da praça, hoje é, também, o

elemento de separação dos ambientes, antes, um só ambiente – praça. Logo depois parte da praça foi tomada por um

corredor de ônibus que junto com ambulantes transformaram-na em um outro espaço independente.

Assim como na Praça Marechal Deodoro, a

ocupação da Praça Saraiva pela população se dá

através do recurso do desenho do pavimento (ponto

A), e por uma espécie de abrigo que se forma pela

sombra da copa das árvores com o banco da praça

(ponto B) (ver imagem 122).

RECINTOS E PONTO FOCAL

A Praça Saraiva é, também, considerada um recinto

pontuado por árvores e bancos que permitem

descanso e contato humano.

Figura 122: Esquema de apropriação da Praça Saraiva. Imagem modificada pela autora em 04/10/2010. Fonte: Arquivo Pessoal.

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CAPÍTULO II

155

Na Praça Saraiva o ponto focal é a igreja

Nossa Senhora das Dores, cuja construção deu

origem à praça. O segundo ponto construído foi a

estátua do Conselheiro Saraiva (o responsável

pela mudança da capital do Piauí para Teresina).

O eixo principal da praça é ligado por esses dois

pontos e dele se estruturam os caminhos

secundários.

Figura123: Recinto - Praça Saraiva. Imagem tirada pela autora em 18/07/2010.

Figura 124: Vista pontos focais da Saraiva. Projeto original da praça simulado pela autora através do levantamento da praça nos dias atuais. Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina – Acesso: 18/05/2010

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CAPÍTULO II

156

LIGAÇÃO: PAVIMENTAÇÃO, CAMINHOS E BARREIRAS.

Na ligação da Praça Saraiva observa-se: a área pavimentada de bloquetes e cimento contínuo são as vias

secundárias(B); já a via principal – eixo central que liga a os caminhos secundários para a igreja e monumento - é

constituída por pedras portuguesas (A).

Figura 125: Ligação e conexão da praça através da pavimentação. Fonte: Arquivo pessoal.

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CAPÍTULO II

157

Esta conexão foi parcialmente alterada pelas

modificações que a praça sofreu para se adequar ao

sistema viário, pois, assim como aconteceu com a Praça

Marechal Deodoro a Praça Saraiva é um exemplo de como

o espaço público pode sofrer grandes modificações para

se adequar ao sistema viário. Boa parte da sua estrutura

sofreu modificações, primeiro com uma via que corta a

praça e é passagem obrigatória dos ônibus, o que torna a

praça um centro de irradiação física, e é nessa via que

ocorre o principal fluxo da mesma. Outra mudança foi à

criação de estacionamentos, que tomam as laterais da

praça.

Figura 126: sentido que ocorre o principal Fluxo da praça. Fonte imagem: Google Earth. Acesso em 20/11/2010

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CAPÍTULO II

158

Figura 127: imagens das modificações que ocorreram na estrutura física da praça. Fonte: arquivo pessoal.

Page 160: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO II

159

Quanto às barreiras físicas, nota-se que a

Praça Saraiva também foi gradeada. Estas, que são

consideradas barreiras físicas, permitem o acesso

visual, mas dificultam o acesso ao lugar.

Contudo, primeiramente se analisou a Praça

Marechal Deodoro, em seguida, a Praça Saraiva.

Com isso, levantou-se como se encontram

atualmente as praças quanto seu aspecto

morfológico em relação a elas mesmas, e em

relação à cidade; e como as análises da paisagem

urbana das praças mostram o modo de apropriação

e acessibilidade das mesmas pela população.

Assim a partir da análise pretende-se agora

identificar os pontos fortes e os pontos fracos de

ambas para diagnosticar as ameaças e

oportunidades que possam contribuir para possíveis

intervenções de requalificação dessas áreas.

Figura 128: Gradeamento da Praça saraiva: Barreira física. Fonte: Arquivo pessoal.

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CAPÍTULO III

160

CAPÍTULO III | DIAGNÓSTICO

A realização desta pesquisa sobre as praças Marechal Deodoro e Saraiva permitiu um estudo mais detalhado sobre

suas morfologias, tanto dos seus elementos formadores como da sua totalidade tridimensional, e a análise relacionada à

percepção de seus ambientes e apropriação dos mesmos. Assim, obtiveram-se as informações necessárias que

permitiram a elaboração de um Diagnóstico, no qual serão feitas considerações acerca do estado de conservação das

praças, dos elementos constituintes desses espaços livres públicos, suas articulações e barreiras com o tecido urbano, as

transformações funcionais e os meios de fruição e apropriação desses espaços, a fim de orientar e fundamentar futuros

projetos de intervenções urbanas para este setor.

É importante ressaltar aqui que este diagnóstico recorta o problema, definindo o nível de prioridades e a natureza da

ação, identificando as particularidades locais e embasando as propostas de intervenção no sentido de preservar ou

reafirmar essas mesmas especificidades e garantir soluções heterogêneas para as intervenções futuras.

Assim, para compreender ainda melhor o desempenho das praças, e fundamentar este capítulo, é importante

lembrar o exemplo da Filadélfia, citado por Jacobs (2007). Quando foi projetada, a cidade possuía em seu centro uma

praça, hoje ocupada pela prefeitura e, eqüidistante do centro, quatro praças construídas na mesma época, com o mesmo

tamanho e a mesma dimensão. A autora verificou que o destino de cada uma delas foi muito diferente ao longo do tempo.

A primeira delas, Rittenhouse, localizada em um bairro elegante, é local adorado pela população e muito bem freqüentado.

Esta praça tem sempre um movimento contínuo pela diversidade física funcional de usos do seu entorno. Por isso, a

variedade de usuários dos edifícios ao redor da praça faz com que esta seja visitada freqüentemente em horários

diferentes. A segunda, Franklin Square, que inicialmente era um parque em área residencial que possuía uma boa relação

com sua vizinhança, hoje fica no meio de cortiços, pensões e lojas de roupas usadas e é muito freqüentada por sem-teto,

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CAPÍTULO III

161

mendigos e desempregados. Não é um local violento, porém seus freqüentadores e seu entorno têm má-fama. Por isso,

planeja-se desocupar toda sua vizinhança.

A terceira delas, Washington Square, fica no meio de uma área de escritórios. Por não haver diversidade de uso em

seu entorno, transformou-se em um local tão violento que os funcionários dos escritórios evitam passar por ela no horário

do almoço. A última das quatro praças, Logan Circle, por ser localizada na confluência de rodovias, foi transformada em

uma ilha de tráfego, sendo um local mais contemplado por quem passa de carro do que visitado. De tudo isto, de acordo

com Jacobs (2007), conclui-se que a melhor maneira de revitalizar qualquer tipo de projeto isolado, antes de ele ser

efetivamente construído, é refletir melhor sobre ele.

Portanto, este trabalho considera que a primeira ação a fazer para a revitalização de uma área é diagnosticar as

condições em que ela se encontra para ajudar na realização de futuros projetos que representem o desenvolvimento da

arquitetura do espaço público, dando ênfase às praças. Para chegar a este diagnóstico, primeiramente, foi estudado o

espaço público praça e, depois, especificamente, analisadas as Praças Marechal Deodoro e Saraiva, quanto as suas

estruturas físicas em um estudo de sua morfologia, e quanto à percepção, apropriação e acessibilidade dos espaços livres

públicos por meio de uma leitura projetual. Considerando-se, segundo demonstrou a análise acima citada, que as praças

apresentaram grandes semelhanças, conforme ficou evidenciado ao longo deste trabalho, pode-se concluir que ambas se

assemelham também em seus pontos fortes, que devem ser potencializados, e os pontos fracos, que devem ser

melhorados, como será demonstrado a seguir.

Observou-se que, apesar das modificações sofridas, a Praça Marechal Deodoro ainda conserva a essência do seu

traçado original, nucleando importantes equipamentos, como o monumento principal e a igreja, os elementos mais

significativos que estão junto a praça desde a sua origem. A igreja não é apenas referência religiosa e simbólica(uma

marca de outra época), mas também um importante referencial paisagistico e artístico da cidade, sendo um ponto de

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CAPÍTULO III

162

afluência de muitos transeuntes. Porém, devido às modificações ocorridas, muitos elementos da praça encontram-se

desconfigurados, sem seguir um padrão e em mau estado de conservação.E mesmo aos marcos e monumentos

conservados falta uma identificação e valorização dos mesmos, pois eles não possuem uma boa visibilidade na paisagem

urbana, comprometendo sua função de referência histórica e paisagística. A igreja , por exemplo, está comprometida pelas

construções e instalações próximas. Portanto, a praça e os elementos históricos ali situados (marcos e monumentos) não

possuem o destaque urbanístico adequado, não cumprindo plenamente sua função institucional de difusão da história e

formação da identidade local.

Quanto à massa de arborização na Praça Marechal Deodoro, formada essencialmente por árvores de copa

horizontal e de grande porte, como se viu no capitulo 2, é densa proporcionando um conforto térmico aos transeuentes que

ali circulam e aos edifícios próximos à praça. Nota-se, no entanto, uma ausência de projeto paisagístico mais eleborado,

que criasse novos recantos na praça, e uma falta de planejamento do plantio das árvores no decorrer das mudanças que a

praça sofreu, causando uma barreira visual que dificulta a visibildade da praça , dos marcos e referências. Não existe,pois,

uma vegetação planejada para integrar a praça ao seu entorno e nem as usam para servir de direção aos monumentos da

praça, enfatizando-os.Por sua vez, a falta de espaço para o crescimento de algumas espécies e o excesso para outras

provocam desarmonia no conjunto, segregando o espaço e dificultando a circulação.

Na Praça Marechal Deodoro foram analisados os bancos, as lixeiras, as luminárias e o piso. No que se refere aos

bancos, nota-se um aspecto positivo quanto à disposição da maioria deles em lugares aprazíveis, abaixo das sombras

feitas pelas copas das árvores. Todavia,foram registrados três modelos, sem a preocupação com a integração no desenho

dos mesmos, fragmentando a paisagem da praça e dificultando sua manutenção causando depredação. Alguns dele são

pouco confortáveis, sem um desenho adequado ergonomicamente.

Page 164: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO III

163

Quanto às lixeiras não se registrou nenhum aspecto positivo, pois existem em pouca quantidade, não atendendo à

demanda da praça e, também, não houve uma preocupação com o desenho tanto no que favoreça a estética como a

praticidade do seu manuseio e manutenção.Já as luminárias estão alocadas em postes altos, usados na iluminação

pública das cidades, em boa quantidade na praça, mas faz falta uma iluminação mais aguda, direcionada para os

pedestres e para valorização dos pontos focais, sejam de vegetação, sejam de elementos arquitetônicos. Com isso, o que

se observa é a falta do sentido de escala, com a instalação somente de postes grandes para o recinto, deixando a praça

com uma iluminação inadequada. Nota-se, também, que a altura dos postes confunde-se no meio das copas das árvores,

prejudicando ainda mais a iluminação da praça. Constatou-se, então, que os mesmos estão subdimencionados e mal

localizados. Além disso, a quantidade de postes registrados é insuficiente para atender à demanda necessária da área

total da praça.

Em relação à pavimentação, foi registrada a disposição da pedra portuguesa e sua utilização de desenho no piso.

Esta, entretanto, é formada por diferentes tipos de materiais, não havendo a preocupação na conexão dos mesmos,

especialmente no seu desenho, proporcionando uma descontinuidade visual e formal no piso. Assim, outros tipos de piso

poderiam ser propostos para valorizar as diferenças no percurso, atraindo pedestres e enfatizando as direcionalidades da

praça.

Constatou-se, ainda, que o entorno da Praça Marechal Deodoro conserva seu caráter de centro cívico, pois reúne à

sua volta significativas edificações públicas. Estes edifícios são considerados patrimônio histórico da cidade devido à

importância da sua arquitetura (neoclássica e moderna) e os graus de conservação e de uso destes edifícios estão acima

da média da região central. No entanto, no entorno não há uma diversidade de uso, pois predomina o uso comercial,

provocando uma concentração insuficiente de pessoas, principalmente no período noturno, causando o esvaziamento da

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CAPÍTULO III

164

praça e da área que a circunda. O programa que abriga esses edifícios, todavia, poderia ser repensado em função de

novos usuários.

Em relação à Praça Saraiva, observou-se que o monumento principal, junto com a igreja e seu bosque de árvores,

são os elementos mais significativos que estão junto à praça desde a sua origem, e assinalam que esta praça mantem seu

projeto original contemplativo, sofrendo poucas modificações em seus equipamentos. No entanto, na estrutura espacial da

praça foi feita uma intervenção marcante com a abertura de uma avenida dentro do seu perímetro, que funciona como

corredor de ônibus e toma parte da sua estrutura física, tendo sido cortadas algumas árvores centenárias da mesma.

Como acontece na Praça Mal. Deodoro, os marcos e monumentos desta praça também estão conservados, mas falta uma

identificação e valorização dos mesmos.

Assim como foi dito da Praça Mal. Deodoro, a massa de arborização da Praça Saraiva também é densa,

proporcionando um conforto térmico às pessoas que ali transintam e aos edificios próximos a ela. Observou-se que houve

aqui, como na Praça Marechal Deodoro, uma falta de planejamento do plantio das árvores no decorrer das mudanças que

a praça sofreu, causando uma barreira visual que dificulta a visibilidade da praça, dos marcos e referências. Também não

existe uma vegetação planejada para integrar a praça ao seu entorno e nem são usadas para servir de direção aos seus

monumentos, não enfatizando o efeito paisagístico.

Quantos aos bancos, com um único tipo de desenho, nota-se que estão alocados abaixo das copas de árvores, em

áreas de sombreamento, muitos dispostos em linhas, outros de maneira agrupada, não se notando, em nenhum deles,

obstáculo para o fluxo de pedestres. Porém, foram registrados bancos de concreto, sem encosto, pouco confortáveis que,

provavelmente, existam desde o projeto original da praça. Mas hoje, muitos se encontram deteriorados.

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CAPÍTULO III

165

Quanto às lixeiras, tal como acontece na Praça Mal. Deodoro, não foi resgistrado nenhum aspecto positivo, pois são

em pouca quantidade, não atendendo à demanda da praça e também não houve preocupação com o desenho, tanto no

que favoreça a estética como na praticidade do seu manuseio e manutenção.

No que diz respeito às luminárias, foram encontrados postes de altura média, sendo estes os mais adequados para

os pedestres. Mas em relação à quantidade e à disposição dos postes no recinto, estas foram mal planejadas, pois como

na Praça Marechal Deodoro, observa-se uma quantidade insuficiente desse equipamento para a área e uma boa parte fica

localizada em lugares indevidos, como aqueles que ficam ocultos sob as copas das árvores, tornando a praça mal

iluminada no período noturno. O modelo de poste tubular da praça foi reformado há pouco tempo e tenta remeter ao

modelo original da mesma, mas o resultado destoa na composição da paisagem urbana da mesma.

Observa-se no piso uma preocupação na composição do desenho no caminho principal da praça (pedras

portuguesas), que liga seus dois principais elementos, o monumento e a igreja. Na pavimentação,assim como foi

constatado na Praça Marechal Deodoro, foi observada uma ruptura visual e formal do piso, pois este é formado por

materiais diversos, não havendo a preocupação na conexão entre eles, provocando um desconforto visual do mesmo.

No entorno da Praça Saraiva destacam-se algumas edificações importantes em termos de referências

arquitetônicas da cidade: a Casa da Cultura de Teresina, antiga casa do Barão de Gurguéia – o responsável pela

construção da igreja da praça- e o colégio Diocesano. Ambos possuem uma arquitetura eclética e foram construídos na

segunda metade do séc. XIX. Porém, como acontece no entorno da Praça Marechal Deodoro, observou-se a não

diversidade de usos dos edifícios e da vizinhança. Pelo predomínio de edifícios comerciais, há uma falta de variedade de

usuários na praça em horários diferentes, provocando uma concentração insuficiente e esvaziamento, principalmente no

período noturno.

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CAPÍTULO III

166

Pode-se ressaltar ainda que em ambas as praças há uma grande presença humana durante o dia, o que faz com

que estes espaços preservem, embora por meios diversos,o que sempre caracterizou uma praça: um espaço para

convivência humana. Esta presença humana impede que elas se tornem grandes museus a céu aberto a testemunhar que

ali já funcionou uma praça. Outro fator importante é o abrigo natural formado pela sombra das árvores e os bancos das

praças, visto que Teresina apresenta elevadas temperaturas praticamente o ano inteiro. Estes abrigos oferecem aos

transeuntes um aprazível refúgio da elevada sensação térmica e um espaço para contemplação e descanso.

Outro item observado foram as barreiras criadas pelas grades que circundam os perímetros das duas praças

estudadas. Ao lado destas grades ficam os estacionamentos de carros que terminam reforçando esta barreira com uma

dupla camada, veículos e grades. Além disso, no caso da Praça Marechal Deodoro, o recém construído Shopping Cidadão

criou mais uma barreira no lado Oeste da praça, impedindo a integração desta com o rio Parnaíba - que é lindeiro à praça -

além de tomar parte de sua área. Já na Praça Saraiva, os estacionamentos que a circundam e o corredor de ônibus que

tomaram parcialmente seu perímetro, constituem uma barreiras físicas, que dificultam a mobilidade e o acesso de

pedestres entre a praça e as atividades em interface, como comércio e serviços.

Portanto, os próximos exemplos, baseados em estudos de casos retirados do livro Novos Espaços Urbanos, de Jan

Gehl e Lars Gemzoe (2001) demonstram possíveis propostas que viabilizam a melhoria das praças em estudo.

Primeiramente, o exemplo da cidade de Lyon, França, que, assim como Teresina, o centro da cidade fica entre dois rios,

Rhône e Saône, a terceira maior cidade da França com 1,3 milhões de habitantes. A política dos espaços públicos em

Lyon engloba renovações em toda a cidade, embora enfatize as áreas centrais, com o objetivo de formular uma cidade

melhor para todos.

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CAPÍTULO III

167

Em Lyon, em menos de uma década, centenas de projetos de melhoria urbana foram conduzidos para renovar

áreas ao ar livre entre grandes blocos residenciais dos subúrbios, englobando também a renovação das principais ruas e

praças urbanas. Foram criados estacionamentos sob as praças renovadas, os carros foram retirados do centro urbano, os

bancos e postes de iluminação de materiais definidos e de alta qualidade foram dispostos em áreas residenciais, no centro

e nos subúrbios da cidade, simplificando a manutenção e atendendo igualmente as diversas partes da cidade.

Figuras 129 e 130: Imagens do centro da cidade entre os rios Rhône e Saône. No mapa as ruas de prioridade ao pedestre e as praças são assinaladas. Fonte: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.34).

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CAPÍTULO III

168

De forma semelhante, Estrasburgo conduziu um extenso projeto de renovação urbana, no qual, também, a mudança

no transporte público e tráfego de veículos inspiraram a requalificação de praças, ruas e caminhos ao longo da sua rota. A

Place Kléber localizada na área central da cidade, considerada a praça principal rica em tradição, foi renovada em1993.

Durante muito tempo a praça foi utilizada como campo de treinamento militar, mercado e espaço central da cidade. Em

Figura 131: Place de La Bourse. Mobiliário renovado encontrados tanto no centro da cidade como nos subúrbios. Fonte: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.38).

Figura 132: Place Antonin Poncet, com suas fontes que conectam cidade e água ao longo de uma avenida de tráfego pesado na margem do rio. Fonte: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.39).

Page 170: Ianna Silveira Raposo.pdf

CAPÍTULO III

169

conexão com o grande programa de renovação urbana,

dois temas principais foram contemplados: o mercado e

a área de sombra. O espaço de mercado é definido

pela pavimentação central em pedra, onde diversas

atividades acontecem. A área de sombra sofreu uma

intervenção, e nela passou a localizar-se a maioria dos

equipamentos da praça: quiosques, escadarias,

elevadores, bancos e postes de iluminação. A

variedade dos equipamentos urbanos proporciona o

ritmo dinâmico, que enfatiza a posição da praça como o

ativo centro da cidade.

Figura 133: A diversidade dos equipamentos urbanos da Praça Kléber. Fonte: (GEHL E GEMZOE, 2001,pg.51)

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CAPÍTULO III

170

Antes da requalificação, os carros circulavam nos quatro lados da Place Kléber. Em 1992, 50.000 carros

atravessavam a praça diariamente. Depois da renovação de 1993, exceto as bicicletas e as novas linhas de bonde, a

praça inteira foi liberada do tráfego.

Outro exemplo aconteceu em Copenhague, na Dinamarca, na conversão da Praça Sankt Hans Torv, que passa de

antiga função de cruzamento tumultuado à praça para atividades recreativas. A maioria do tráfego que a ocupava foi

desviada, criando um novo espaço urbano. O espaço ainda possui um tráfego intenso ao longo do seu lado sudeste, mas

uma vida urbana desenvolveu-se ao redor dos cafés e fontes no lado ensolarado da praça. Os limites da superfície ao

Figuras134 e 135: Antes da renovação os carros circulavam nos quatro lados da Place Kléber. Após a renovação, 1993, com exceção das bicicletas e das novas linhas de bonde, a praça inteira está liberada do tráfego. Fonte: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.149).

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CAPÍTULO III

171

longo das ruas foram também suavizados. Faixas de

pedra assentadas no piso, que interagem com a

escultura, adicionam um aspecto dinâmico à aparência

retraída da praça. A requalificação de Sankt Hans Torv

é um exemplo de como um espaço público bem

desenhado pode servir de catalisador para a

renovação de todo bairro. O desenho da praça marca

uma transformação no caráter do bairro e simboliza a

revitalização do quarteirão, através do seu uso intenso

como praça recreativa e lugar de encontro (ver figura

136).

Igualmente Rathausplatz St. Polten, Áustria, é

uma praça principal localizada no centro da cidade que

se destaca por ser espaçosa e retangular ao meio das

ruas sinuosas do tecido urbano do centro.

Funcionalmente a praça da prefeitura abriga mercado,

festivais, cerimônias e diversos eventos diários. Os

amplos lados leste e oeste são formados por casas do

séc. XIX com lojas e residências. Dois edifícios

monumentais compõem os dois lados menores: o

edifício da prefeitura, do séc. XVI, ao sul, e a igreja

Figura 136: Sankt Hans Torv é uma praça repleta de cafés, um ponto de encontro para a população mais da cidade. Fonte: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.99).

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CAPÍTULO III

172

barroca franciscana ao norte com um monumento de arenito situado no meio da praça. Até 1995 a praça servia como um

grande estacionamento, sendo com a requalificação um estacionamento subterrâneo foi construído. A iluminação da praça

é um elemento importante na composição arquitetônica do conjunto. O pavimento da praça e as fachadas são iluminados

para enfatizar as superfícies do espaço durante a noite.

Vale lembrar, ainda, a revitalização de Barcelona, grande cidade européia, que, nas últimas duas décadas, tem sido

a fonte de inspiração mais importante para os arquitetos, paisagistas, planejadores urbanos e políticos que trabalham com

os espaços públicos. (Gemzoe e Gehl, 2001).

Figuras 137 e 138: Como tantas outras praças na Europa, antes da renovação a praça era usada como estacionamento de veículos, os veículos agora estão fora da paisagem da praça, dispostos em estacionamentos subterrâneo. Fonte: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.135).

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CAPÍTULO III

173

Segundo Gemzoe e Gehl (2001, p.26):

“Em nenhum outro lugar do mundo é possível ver, na mesma cidade, tantos exemplos diferentes de novas praças e parques, além de tanta exuberância e experimentação nos seus projetos. (...) Em apenas uma década, centenas de parques novos, praças e passeios públicos foram criados pela demolição de edifícios, armazéns e fábricas em ruínas, assim como pela renovação de praças existentes e regulamentação do tráfego para beneficiar os pedestres. (...) O desenho do espaço, desde o aspecto geral até o detalhe mais precioso que formavam a base das grandes idéias e soluções específicas, foi a contribuição especial de Barcelona ao planejamento do espaço público na década de 80. (...) ”

Logo, a elaboração do diagnóstico da Praça Marechal Deodoro e Praça Saraiva devem, além de apontar a situação

em que se encontram hoje esses espaços, apresentar subsídios, conforme exemplos citados anteriormente, de maneira

clara e objetiva, que possam ajudar a nortear possíveis propostas para projetos de intervenções da área, assim como:

revelar e valorizar os referenciais históricos existentes e criar novos elementos que fortaleçam os espaços das praças,

potencializando a paisagem e dando visibilidade aos elementos históricos e culturais como as igrejas, monumentos. No

caso da Praça Marechal Deodoro, o referencial histórico teria que necessariamente valorizar o Rio Parnaíba, que lindeia a

praça, não deveria estar camuflado no meio das construções de infra-estrutura urbana e passar a fazer parte de um

planejamento adequado quanto à paisagem urbana da cidade.

Além disso, um novo projeto deveria reorganizar a vegetação da praça, respeitando as circulações, recintos,

perspectivas visuais e monumentos, eixos viários de pedestres, potencializando a paisagem e minimizando as barreiras

visuais. Deveria propor, também, mobiliário urbano e pavimentação específicos que fortaleçam a identidade local. Ao

mesmo tempo: revisar e readequar as peças do mobiliário, bancos e lixeiras, segundo os materiais mais adequados a

perdurar e à facilidade da manutenção; melhorar a iluminação para o espaço dos pedestres; racionalizando este mobiliário,

pela utilização de postes múltiplos, sendo estes um único suporte para diversas funções; criar nova pavimentação que

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CAPÍTULO III

174

reforce o desenho de piso já existente e que possa valorizar e facilitar uso da praça pelos transeuntes e conectá-las ao

fluxo de movimento da cidade.

Valorizar, ainda, o espaço destinado ao convívio das pessoas, o deslocamento dos pedestres, a mobilidade

turística, o transporte público coletivo e não motorizado, reorganizar o espaço público, ampliando a área de praça e

redefinindo a estrutura viária, mesmo que necessário o redesenho de trechos das vias. Ordenar os estacionamentos de

automóveis, com criações de áreas apropriadas para acabar com a invasão das praças pelos automóveis.

Por fim, Instituir gabarito de construção no entorno da praça, impedindo novos conflitos paisagísticos. Criar uma

unidade paisagística integrando o entorno das praças para potencializar a paisagem que estão inseridas e minimizar as

barreiras físicas e visuais. Mesclar a diversidade de uso e usuário do dia-a-dia do entorno das praças desfazendo a

sensação de vazio deste espaço pela interação com a vizinhança, tendo como objetivo dar valor a espaços públicos,

gerando atrativos à permanência e à volta da apropriação por parte da população destas praças.

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175

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A importância de se resgatar um espaço público é que ele representa o patrimônio histórico e cultural que está

ligado à imagem e à apropriação da cidade. A escolha das duas praças em estudo, Praça Marechal Deodoro e Praça

Saraiva, se deu, principalmente, pela importância delas como referenciais que vivenciam a cidade de Teresina desde a sua

fundação até os dias atuais. Portanto, esta pesquisa procurou ressaltar a relevância desses espaços na identidade cultural,

social e urbanística da cidade e estabelecer diagnóstico que possibilite futuras intervenções que ofereça melhor qualidade

de uso destas praças para a população local.

Observou-se que, como ocorre na maioria das cidades brasileiras, os espaços públicos de Teresina, nas últimas

décadas, principalmente das áreas centrais, sofreram uma mudança de uso, além do afastamento da população. Isso se

deu principalmente devido às transformações ocorridas nessas áreas que modificaram a relação da praça com o seu

entorno. Ao longo do tempo, estas praças foram sendo alteradas tanto na forma como na função pela dinâmica de

ocupação da cidade. Por serem os locais iniciais da ocupação de Teresina, essas áreas centrais possuem parâmetros

sócio-culturais diferenciados daqueles aplicados ao resto da cidade e se transformam em referenciais urbanos e memória

da mesma. (Cardoso e Melo, 2006). Estas alterações que acontecem nas praças são motivadas pela necessidade de se

adaptar à nova dinâmica da cidade, pela presença de novas centralidades que desarticulam a importância das praças

como espaço de lazer urbano e, também, pelo predomínio de atividades comerciais que ocupam esses espaços, passando

de área de convívio da população para mera passagem e, ou, somente como um fragmento ou retalho do desenho urbano.

Desta forma esta pesquisa deseja colaborar para a conscientização da população e do poder público quanto à

importância dessas praças, que se apresentam como objetos da paisagem do município de Teresina, as quais detêm

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176

grande representatividade seja do ponto de vista histórico local seja como espaços que favorecem a percepção e fruição

da paisagem urbana do centro histórico da cidade.

Além disso, esta pesquisa pretendeu fornecer subsídios que sirvam de base para futuros estudos sobre as praças, e

outros espaços semelhantes, pois o acervo da cidade no que diz respeito ao estudo de espaços públicos encontra-se

ainda um pouco deficiente para oferecer base aos pesquisadores e até mesmo técnicos profissionais que queiram realizar

novos projetos que levem a requalificação dessas áreas.

Evidencia-se, assim, por meio deste estudo que o homem, ao se apropriar de um espaço público, mais vida ele

confere a este espaço. Logo, a apropriação da população está diretamente ligada tanto a manutenção do espaço público

como de seus mobiliários. E os espaços que tendem a ser mantidos são aqueles que têm relevância para a população

pelo o seu uso. Exemplo disto é uma praça muito freqüentada. Por isso, os profissionais que atuam nesta área devem

buscar esta qualidade e propor soluções novas e criativas, porém que sejam permanentes. Mesmo a ação de

embelezamento deve estar norteada pelo o uso, com prioridade na qualidade do desenho e dos materiais e na facilidade

de manutenção, pois isto será a maior garantia de permanência da ação.

Os projetos de futuras intervenções a serem desenvolvidos para esses espaços,Praça Marechal Deodoro e Saraiva,

devem, portanto, levar em consideração essencialmente tanto seus aspectos morfológicos valorizados pela população

como as atividades tradicionais que nelas acontecem, pois Segundo Jacob (2007), as praças nada significam se estiverem

separadas de seus usos reais e de suas influências concretas dos bairros e dos usos que lhes são destinados.

Além do uso, é importante que essas novas intervenções levem em conta, também, tanto as relações entre espaço

livre e espaço construído como as relações entre eles e o conjunto paisagístico maior da cidade na qual estão inseridos.

Segundo Jacobs (2007:437): “uma das idéias inconvenientes por trás dos projetos é a própria noção de que eles são

conjuntos, abstraídos da cidade comum e separados. Pensar em recuperar ou melhorar os projetos como projetos é

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177

persistir no mesmo erro”. Para ela o objetivo seria reintegrar esse retalho da cidade à malha urbana, dando-lhes vida e

fortalecendo, ao mesmo tempo, toda trama ao seu redor.

Portanto o diagnóstico realizado nesta pesquisa poderá servir como subsídio para a elaboração de diretrizes para a

realização de novos projetos de intervenção nas praças Marechal Deodoro e Saraiva, e, ou espaços semelhantes, afim

que se alcance uma melhoria desses espaços públicos proporcionando a população um maior interesse pela sua

utilização, valorizando a sua reestruturação espacial, visual e paisagística, mas sem divorciá-las de suas condições

originais em torno das quais a cidade nasceu e se expandiu.

.

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178

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