Idade Média europeia

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Idade Média europeia Os especuladores saíram de cena sem perder um centavo dos empréstimos que tinham concedido a Atenas com taxas e juros astronômicas. As políticas econômicas impostas pela manutenção do euro ainda são compatíveis com as práticas democráticas? A televisão pública grega foi criada no fim de uma ditadura militar. Sem autorização do Parlamento, o governo que executa em Atenas as ordens expressas da União Europeia (UE) escolheu substituir o canal por uma tela preta. Enquanto espera que a Justiça grega suspenda a decisão, a comissão de Bruxelas poderia ter lembrado os textos da União, segundo os quais “o sistema de audiovisual público dos Estados-membros está diretamente ligado às necessidades democráticas, sociais e culturais de qualquer sociedade”. Ela preferiu legitimar o golpe de força alegando, no dia 12 de junho, que esse fechamento se inscrevia “no contexto dos esforços consideráveis e necessários que as autoridades realizavam para modernizar a economia grega”. Os europeus tiveram a experiência de projetos constitucionais rejeitados pelo sufrágio popular, mas que, ainda assim, foram aplicados. Eles se lembram dos candidatos que, depois de terem se comprometido a renegociar um tratado, o fizeram ser ratificado sem que, no meio-tempo, uma vírgula tenha sido alterada. No Chipre, eles quase sucumbiram à retirada autoritária de todos os seus depósitos bancários.1 Uma etapa suplementar acaba de ser agora ultrapassada: a comissão de Bruxelas lava as mãos a respeito da destruição das mídias gregas que ainda não pertencem a grandes grupos econômicos se isso permitir a demissão imediata de 2,8 mil trabalhadores de um setor público que ela sempre execrou – e, desse modo, manter os objetivos de supressão de empregos ditados pela Troika2 a um país onde 60% dos jovens estão desempregados. Essa obstinação coincide com a publicação pela imprensa norte- americana de um relatório confidencial do Fundo Monetário Internacional (FMI) que admite que as políticas em vigor na Grécia nos últimos três anos se revelaram “fracassos flagrantes”. Trata-se de um equívoco unicamente imputável a previsões de crescimento embelezadas? Sem dúvida que não.

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Idade Mdia europeiaOs especuladores saram de cena sem perder um centavo dos emprstimos que tinham concedido a Atenas com taxas e juros astronmicas.As polticas econmicas impostas pela manuteno do euro ainda so compatveis com as prticas democrticas? A televiso pblica grega foi criada no fim de uma ditadura militar. Sem autorizao do Parlamento, o governo que executa em Atenas as ordens expressas da Unio Europeia (UE) escolheu substituir o canal por uma tela preta. Enquanto espera que a Justia grega suspenda a deciso, a comisso de Bruxelas poderia ter lembrado os textos da Unio, segundo os quais o sistema de audiovisual pblico dos Estados-membros est diretamente ligado s necessidades democrticas, sociais e culturais de qualquer sociedade. Ela preferiu legitimar o golpe de fora alegando, no dia 12 de junho, que esse fechamento se inscrevia no contexto dos esforos considerveis e necessrios que as autoridades realizavam para modernizar a economia grega.Os europeus tiveram a experincia de projetos constitucionais rejeitados pelo sufrgio popular, mas que, ainda assim, foram aplicados. Eles se lembram dos candidatos que, depois de terem se comprometido a renegociar um tratado, o fizeram ser ratificado sem que, no meio-tempo, uma vrgula tenha sido alterada. No Chipre, eles quase sucumbiram retirada autoritria de todos os seus depsitos bancrios.1 Uma etapa suplementar acaba de ser agora ultrapassada: a comisso de Bruxelas lava as mos a respeito da destruio das mdias gregas que ainda no pertencem a grandes grupos econmicos se isso permitir a demisso imediata de 2,8 mil trabalhadores de um setor pblico que ela sempre execrou e, desse modo, manter os objetivos de supresso de empregos ditados pela Troika2 a um pas onde 60% dos jovens esto desempregados.Essa obstinao coincide com a publicao pela imprensa norte-americana de um relatrio confidencial do Fundo Monetrio Internacional (FMI) que admite que as polticas em vigor na Grcia nos ltimos trs anos se revelaram fracassos flagrantes. Trata-se de um equvoco unicamente imputvel a previses de crescimento embelezadas? Sem dvida que no. Segundo a interpretao feita pelo Wall Street Journal de um texto extremamente prolixo, o FMI confessa que uma reestruturao imediata [da dvida grega] teria sido melhor para os contribuintes europeus, pois os credores do setor privado foram integralmente reembolsados graas ao dinheiro que Atenas pegou emprestado. A dvida grega ento no foi reduzida, mas agora devida ao FMI e aos contribuintes da zona do euro, em vez dos bancos e dos fundos especulativos.3Assim, os especuladores saram de cena sem perder um centavo dos emprstimos que tinham concedido a Atenas com taxas de juros astronmicas. Concebemos que tal maestria em roubar os contribuintes europeus em proveito de fundos especulativos confere uma autoridade particular Troika por martirizar um pouco mais o povo grego. Mas, depois da televiso pblica, no restam hospitais, escolas e universidades que poderamos fechar sem maiores problemas? E no somente na Grcia. Pois apenas a esse custo que a Europa inteira manter sua posio na corrida triunfal em direo Idade Mdia...