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4478 IDENTIDADE E ALTERIDADE NA CONSTRUÇÃO DOS SUJEITOS BRASILEIROS ATRAVÉS DE PRÁTICAS EDUCATIVAS. Eronides Câmara de Araújo Universidade Federal de Campina Grande RESUMO A apresentação individual sob o título de “Identidade e alteridade na construção dos sujeitos brasileiros através de práticas educativas” tem o objetivo de apresentar os resultados de uma pesquisa intitulada “Identidade e alteridade: como índios e negros chegaram a ser o que dizem que são nas narrativas da história”. Fizemos uma pesquisa bibliográfica na literatura dos viajantes, nos livros didáticos e na literatura pedagógica e filosófica. Sobre a literatura dos viajantes fizemos a escolha temporal dos séculos XVII, XVIII e XIX. Nos livros didáticos fizemos um recorte temporal datado dos anos 80 e 90. Na literatura dos viajantes trabalhamos com a técnica de fichamento de citação em que as identidades de índios e negros são tratadas. Nos livros didáticos analisamos não só os textos mas as imagens sobre eles. Como literatura de apoio teórico utilizamos bibliografias que tratam da filosofia do sujeito e da diferença. Nossa principal preocupação é historicizar a arqueologia do sujeito e desnaturalizar a diferença. Do ponto vista pedagógico a pesquisa pode dá uma contribuição para que os valores que temos sobre esses sujeitos sejam problematizados enquanto prática educativa. Para exemplificar o processo de construção dos sujeitos brasileiros pela literatura apresentamos abaixo um fragmento da literatura dos viajantes em que eles são nomeados e classificados. “Tanto fez a influência da cultura da velha e educada Europa para remover deste ponto da colônia as características da selvageria americana e dar-lhe o cunho da mais alta civilização, língua, costumes, arquitetura e fluxos dos produtos da indústria de todas as partes do mundo dão à praça do Rio de Janeiro feição européia. O que, entretanto, logo lembra ao viajante que ele se acha numa parte estranha do mundo, é, sobretudo a turba variejados de negros e mulatos, a classe operária com ele topa em toda parte, assim que põe o pé em terra. Esse aspecto foi mais de espanto do que de agrado. A natureza inferior, bruta, desses homens insistentes, meio nús, fere a sensibilidade do europeu, que acaba de deixar os costumes delicados e as formulas obsequiosas das suas pátrias “(Spix e Martius). Essa é uma representação dos viajantes do século XVIII sobre o Brasil e que influenciou bastante a literatura brasileira. A imagem dos negros no Brasil Colônia foi representada até bem pouco tempo como fonte de todo mal. Possivelmente, essa é uma representação subjetivada de outras literaturas com datação anterior, nas quais foram elaboradas as representações maléficas. È significativo o processo de construção da identidade dos índios e negros para Spix e Martius a partir de uma leitura ocidental branca e cristã. Ela foi elaborada no exercício de uma razão transcendental e ramificada em uma linguagem estereotipada, na qual, as suas identidades são construídas e narradas representando uma natureza inferior. A cultura é compreendida como parte constitutiva da natureza em que eles representam as partes ruins, fracas e degradantes dela. Esse discurso representa a necessidade de que o outro entenda sua estranheza, identifique sua diferença dando segurança para que o branco não se considere como incapaz, selvagem e inferior. Trata de um discurso arrogante para manter sólida sua identidade e tem contribuído para pedagogicamente formar a sociedade.

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IDENTIDADE E ALTERIDADE NA CONSTRUÇÃO DOS SUJEITOS BRASILEIROS ATRAVÉS DE PRÁTICAS EDUCATIVAS.

Eronides Câmara de Araújo

Universidade Federal de Campina Grande

RESUMO A apresentação individual sob o título de “Identidade e alteridade na construção dos sujeitos brasileiros através de práticas educativas” tem o objetivo de apresentar os resultados de uma pesquisa intitulada “Identidade e alteridade: como índios e negros chegaram a ser o que dizem que são nas narrativas da história”. Fizemos uma pesquisa bibliográfica na literatura dos viajantes, nos livros didáticos e na literatura pedagógica e filosófica. Sobre a literatura dos viajantes fizemos a escolha temporal dos séculos XVII, XVIII e XIX. Nos livros didáticos fizemos um recorte temporal datado dos anos 80 e 90. Na literatura dos viajantes trabalhamos com a técnica de fichamento de citação em que as identidades de índios e negros são tratadas. Nos livros didáticos analisamos não só os textos mas as imagens sobre eles. Como literatura de apoio teórico utilizamos bibliografias que tratam da filosofia do sujeito e da diferença. Nossa principal preocupação é historicizar a arqueologia do sujeito e desnaturalizar a diferença. Do ponto vista pedagógico a pesquisa pode dá uma contribuição para que os valores que temos sobre esses sujeitos sejam problematizados enquanto prática educativa. Para exemplificar o processo de construção dos sujeitos brasileiros pela literatura apresentamos abaixo um fragmento da literatura dos viajantes em que eles são nomeados e classificados. “Tanto fez a influência da cultura da velha e educada Europa para remover deste ponto da colônia as características da selvageria americana e dar-lhe o cunho da mais alta civilização, língua, costumes, arquitetura e fluxos dos produtos da indústria de todas as partes do mundo dão à praça do Rio de Janeiro feição européia. O que, entretanto, logo lembra ao viajante que ele se acha numa parte estranha do mundo, é, sobretudo a turba variejados de negros e mulatos, a classe operária com ele topa em toda parte, assim que põe o pé em terra. Esse aspecto foi mais de espanto do que de agrado. A natureza inferior, bruta, desses homens insistentes, meio nús, fere a sensibilidade do europeu, que acaba de deixar os costumes delicados e as formulas obsequiosas das suas pátrias “(Spix e Martius). Essa é uma representação dos viajantes do século XVIII sobre o Brasil e que influenciou bastante a literatura brasileira. A imagem dos negros no Brasil Colônia foi representada até bem pouco tempo como fonte de todo mal. Possivelmente, essa é uma representação subjetivada de outras literaturas com datação anterior, nas quais foram elaboradas as representações maléficas. È significativo o processo de construção da identidade dos índios e negros para Spix e Martius a partir de uma leitura ocidental branca e cristã. Ela foi elaborada no exercício de uma razão transcendental e ramificada em uma linguagem estereotipada, na qual, as suas identidades são construídas e narradas representando uma natureza inferior. A cultura é compreendida como parte constitutiva da natureza em que eles representam as partes ruins, fracas e degradantes dela. Esse discurso representa a necessidade de que o outro entenda sua estranheza, identifique sua diferença dando segurança para que o branco não se considere como incapaz, selvagem e inferior. Trata de um discurso arrogante para manter sólida sua identidade e tem contribuído para pedagogicamente formar a sociedade.

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TRABALHO COMPLETO 1. Introdução A conceitualização da identidade pressupõe situar o sistema classificatório em que o mundo é ordenado ou organizado. A literatura dos viajantes1 sobre o Brasil é um exemplo de como a linguagem na modernidade2 assumiu um poder de classificar e nomear as pessoas, as coisas e os lugares. Anterior a esse período para se chegar ao conhecimento ou explicar o mundo em que vivemos usava-se as relações de parentesco, ou seja, a metodologia da semelhança. A semelhança era um jogo infinito e sempre era possível descobrir novas semelhanças. O século XVII marca o desejo do desaparecimento das superstições e das magias, substituindo a metodologia da analogia pela da análise e toda semelhança passou a ser submetida à prova. Esse é um fenômeno cultural do século XVII e têm grandes influências na leitura que fizemos da literatura dos viajantes. A literatura dos viajantes é um exemplo de como a escritura sobre o outro através do sistema de classificação contribuiu na prática educativa não só para o processo identitário dos brasileiros, mas para ‘ordenar’ o que hoje se chama Brasil. Nesse texto, particularmente, vamos problematizar como a literatura dos viajantes contribuiu para construir valores no processo de identificação de índios e negros. O que nós chamamos de Brasil é um mundo que foi historicamente identificado tendo como referência ora o bem ora o mal. O ‘eu’ representado pelo colonizador e pela cultura européia e o ‘outro’ pelo o nativo a ser civilizado. O ‘outro’ deveria reconhecer no estranho o próprio ser e deveria torná-lo familiar. È o processo de compreensão de si diante do ‘outro’. Como exemplo desse processo identitário na cultura da análise, a infância seria o ‘outro’ de acordo com os valores que a maturidade elabora de si; a loucura ‘o outro’ em relação à razão; a incompetência em relação à competência; o negro em relação ao branco; o selvagem em relação ao civilizado; enfim, os estrangeiros em geral são os ‘outros’ quando estamos construindo nossa imagem, nossa cultura, nossa identidade. È a prática de hospedagem do outro em mim, em que a cultura do outro identifica e qualifica a minha cultura a partir das representações que ela tem da sua cultura. A prática discursiva da literatura dos viajantes quando qualificou os índios e os negros no Brasil colonial contribuiu para que o selvagem não inquietasse o civilizado; o negro se reconhecesse de cultura inferior a do branco e que a cor de sua pele indicasse a natureza de inferioridade, o grau de (in) civilização. Ser índio e ser negro nesse país tropical, de belas praias, de várias cores e de um povo alegre tem uma história de identificação, um mundo de valores que não foi construído fora da linguagem. O Brasil, esse mundo de múltiplas caras, de muitas experiências em que se registra o mal-estar identitário, não existe fora da linguagem dos cronistas e viajantes. È essa viagem de significação que temos dado à literatura dos viajantes. 2. Como chegamos a ser o que dizem que somos nas formulações teóricas. As nossas identidades têm sido historicamente construídas basicamente por duas concepções. A primeira delas é a que concebe como constituinte da nossa natureza. ‘é...a identidade enquanto a busca das origens, das semelhanças, do substrato comum. A identidade se refere à “essência” comum subjacente às muitas diferenças que atravessam um determinado grupo social....nessa concepção, a 1 Nossa leitura foi realizada nas seguintes obras: SAINT-HILAIRE - August de. Viagem ao Espírito Santo e Rio Doce. Belo Horizonte. Itatiaia. 1974; STADEN, HANS. Suas Viagens e Cativeiro entre os selvagens do Brasil. Edição Comemorativa. São Paulo: TYP da casa Eclética,1900; FREYREISS, Georg Wilhelm. Viagem ao Interior do Brasil: São Paulo: Ed. Itatiaia, 1982. SPIX & MARTIUS. Viagem pelo Brasil 1817-1820. T. 1 Vol. I São Paulo. Edições Melhoramentos, RUGENDAS, J M. Viagem Pitoresca através do Brasil. Trad. Sérgio Millet, Martins. Ed, USP, São Paulo, 1972. 2 Em especial, a partir do século XVII em que a metodologia da semelhança foi substituída pelo sistema de representações para explicar o mundo. Sobre essa temática indicamos para a leitura a obra “As palavras e as coisas” – uma arqueologia das ciências humanas – Michel Foucault; [Tradução de Salma Tannus Muchail; revisão Roberto Cortes de Lacerda] . – 3. ed. – São Paulo: Martins Fontes, 1985.

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identidade está assentada na semelhança, no comum – num núcleo partilhado e unificador”3. A segunda elabora a identidade como um processo. “...trata da identidade como uma produção que nunca se completa, formada e transformada no interior da representação....Identidades são posicionamentos, e se referem a pontos, “pontos instáveis de identificação ou sutura, feitos n interior dos discursos, da cultura e da história. Não uma essência, mas um posicionamento”4(Hall, 1996:70) A primeira concepção nos indica que há uma constatação natural de um mundo diferente em que existe o outro. Esse outro é nomeado e classificado a partir do que o eu possa de si representar. Em outras palavras, os viajantes ao nomearem os índios de selvagens, assim o fizeram, por conceberem que estão qualificados por outras representações, na categoria de culturalmente civilizados. A segunda concepção nos indica não ver o mundo fora da linguagem. Nessa concepção o eu e o outro só passam a ter vida e/ou existência quando a linguagem lhe dá presença. A existência do eu e do outro foi construída culturalmente pelas práticas discursivas. Com afirma Araújo5, “Sem linguagem, não há acesso à realidade. Sem linguagem, não há pensamento”. De modo que os negros e os índios não são o que dizem que eles são. Eles se tornaram negros e índios pela experiência colonial, pelas práticas discursivas dos saberes6, pelas categorias de ordenamento que constituíam o conhecimento europeu sobre o mundo. De forma muito pertinente, diz Stuart Hall (1996:69-70) se referindo às representações dos negros jamaicanos sobre sua experiência colonial: “Eles tinham o poder de fazer que nos víssemos e experimentássemos a nós mesmos como os outros” 7. Durante muito tempo, colonizadores, cronistas, viajantes, pesquisadores, índios e negros afirmaram e reafirmaram, juntos o discurso da identidade. Entretanto esse lugar do outro não é o lugar da mera repetição. Ele é (re) apropriado, (re)significado. As formas que constituem as identidades são redimensionadas pela cultura da escritura. Esta não está dissociada das experiências culturais. As identidades são históricas. Elas não devem ser buscadas no passado, como se fosse possível buscar sua origem e representá-las, mas no campo conflituoso dos homens, das mulheres na busca incessante de explicar o mundo. A discussão das identidades remete tanto à questão da semelhança como da diferença. As nossas falas, os nossos discursos, as nossas narrativas organizam relações de semelhança e diferença. Para Silva8 “A identidade, pois, não é o oposto da diferença: a identidade depende da diferença. Nas relações sociais, essas formas de diferença - a simbólica e a social - são estabelecidas ao menos em parte por meios de sistemas classificatórios”. A diferença tem sido historicamente tratada ou como um castigo divino9, ou como um problema a ser resolvido ou a ser respeitado ou ainda, tolerado. Como se o mundo para continuar existindo necessitasse da igualdade. Por que nós passamos o tempo todo buscando a igualdade se a todo o tempo passamos pela experiência de sermos diferentes, de tornarmos um novo homem, uma nova mulher? 3 Sobre essa discussão cf. Discurso de Identidade, discurso de alteridade: a fala do outro. Vera Regina Veiga França In Imagens do Brasil: modos de ver, modos de conviver/ (org) Vera Regina Veiga França. – Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 4 Apud “ Discurso de Identidade, discurso de alteridade: a fala do outro. Vera Regina Veiga França In Imagens do Brasil: modos de ver, modos de conviver” / (org) Vera Regina Veiga França. – Belo Horizonte: Autêntica, 2002., 27. 5 Cf. Araújo, Inês Lacerda. Do signo ao discurso: introdução à filosofia da Linguagem – São Paulo: Parábola editorial, 2004. 6 Estou me referindo aos saberes tantos sistematizados ( científicos, filosóficos, religiosos) como aos saberes que circulam cotidianamente nas experiências das pessoas. Tanto um como outro não se excluem, mas são (re)significados e (re)apropriados. 7 Apud, “ Discurso de Identidade, discurso de alteridade: a fala do outro. Vera Regina Veiga França In Imagens do Brasil: modos de ver, modos de conviver”/ (org) Vera Regina Veiga França. – Belo Horizonte: Autêntica, 2002- p.29 8 Cf, Silva, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais (org) Stuart hall, Kathryn Woodward.- Petrópolis RJ:Vozes, 2000 9 Uma leitura religiosa da diferença pode ser a explicação do Mito da Torre de Babel, em que os homens teriam sido castigados com a diferença por ter construído uma torre e chegar perto de Deus. Como castigo a torre foi destruída e todos passaram a falar línguas diferenciadas.

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As formulações teóricas sobre a identidade remetem à discussão da diferença e da alteridade. Poderíamos dizer que as identidades são derivadas da diferença, mas tanto uma como a outra são atos de criação lingüística, ou seja, não são elementos ou atos da natureza que não podem ser modificadas e que precisam ser toleradas ou respeitadas. São criadas no social, no cultural. Tanto uma como outra para ter existência precisam ser nomeadas e somente pela linguagem isso pode ocorrer. A afirmação da diferença representa uma disputa de vários grupos em terem acesso a benefícios sociais, por isso ela não está separada das relações de poder. As nossas identificações indicam os nossos lugares sociais, de modo que os construtos identitários nos dão uma presença que remete para uma luta constante nos campos do cultural e do social. A identidade de ser branco, de olhos claros, nariz afilado e cabelos lisos foi construída de forma que a identidade de ser negro, nariz achatado e cabelos crespo (para não dizer ruim) dispute de forma desigual formando a alteridade. Os signos ‘branco’, ‘claro’, ‘afilado’ e ‘liso’ foram sendo subjetivados culturalmente como superiores, bonitos e diferentes dos signos ‘negro’, ‘achatado’ e ‘crespo’. Funciona como se cada signo no qual nos referimos (e todos os signos) representassem a verdade sobre as coisas e os lugares. Para Derrida10, a coisa ou o conceito não está presente no signo. È o que ele chama de metafísica da presença. A presença do real representa uma ilusão. Ainda segundo Derrida11, “... o signo carrega sempre não apenas o traço daquilo que ele substitui, mas também o traço daquilo que ele não é, ou seja, precisamente da diferença. De forma prática, o ser negro e o ser índio não é aquilo o que o signo diz que ele é, mas uma construção da linguagem. Quando os viajantes classificaram os nossos índios e os nossos negros de selvagens e inferiores respectivamente contribuíram para que os signos de índios e negros tivessem significados diferenciados do ser branco. As identidades de selvagem e de inferiores deram a ilusão de uma presença aos negros e aos índios, na qual reforça o seu lugar social como diferente e inferior. È o fantasma da verdade que culturalmente silenciou nas palavras que formam os saberes. Esse fantasma cria mal-estar, provoca desconforto, exclui socialmente e reforça o discurso pedagógico da clemência, da terapia, da culpa, do perdão, da dívida, da consciência. Nossos índios e nossos negros deixarão de ser o que dizem que eles são, se nós reconhecermos nossa ‘culpa histórica’ e criarmos sistemas de cotas? E se nós deitarmos no divã e pedíssemos ajuda ao ‘sábio silêncio da razão’, nossos índios e os nossos negros se libertaram desse mal estar? Veremos as significações que fizemos sobre os dizeres dos viajantes sobre índios e negros. 3. Os caminhos das significações: a literatura dos viajantes e os outros. “Houve um tempo não muito distante, em que era fácil exportar a cultura ocidental com a convicção de assim levávamos a verdade, a cultura e a felicidade aos povos miseráveis. A educação aparecia como uma missão civilizadora e uma causa nobre em que os pedagogos dedicavam seus melhores esforços não era outra coisa do que oferecer aos agentes da civilização ‘inferiores’ os dons de nossa ciência, nossa cultura e forma de viver. Agora sabemos que a educação orientada para ‘emancipação’ dos povos a dos povos ocultava práticas de normatização 10 Apud, Silva, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais (org) Stuart hall, Kathryn Woodward.- Petrópolis RJ:Vozes, 2000, p.78. 11Idem,p.79

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tecnocrática ou moral dos comportamentos, quando não justificava a exploração pura e dura das pessoas e dos paises”. (Larrosa, 2002 )12

“Embora convencido, por observação própria de que é exata a afirmação de inferioridade física e mental do preto em relação ao branco e que jamais passará de sua posição servil na vida em comum com este, sempre lhe tive grande simpatia, contemplando-o, com interesse como produto exótico da natureza” (Hermann Burmeit- 1980-p72) 13

“Nunca pude, porém, durante todo o tempo em que tratei e lidei com os pretos, evitar certa repulsa, que, pouco depois de entrar em contacto com tal gente se manifestava em mim. Amava-os se assim posso dizer, teoricamente à distância, enquanto não fui forçado a conviver, mas desde que tal aconteceu, esse sentimento transformou-se em repugnância”. ( Hermann Burmeit- 1980-p72) “O negro é em suma um individuo de bom humor e conforma - se com seu duro destino, desde que não o faça trabalhar demais. Em suas obrigações, não se destacará pelo zelo, mas será sempre pontual; precisa, entretanto, ser vigiado para não se tornar preguiçoso. Adquire, facilmente, certa agilidade e habilidades manuais, que fazem lembrar o dom da imitação do macaco, mas falta-lhe, por completo o gênio da invenção e a iniciativa própria. Alguns são extremamente falsos e unicamente por meios de contínuos castigos podem ser conduzidos. Em breve porem acostuma-se de tal forma que perdem o receio ao chicote, recalcitrando nos seus erros e vícios antigos por pura maldade.” ”.( Hermann Burmeit- 1980-p- 73 ) ” “O preto tem algo de desagradável, que é menos de seus costumes que de sua pessoa física. Antes de tudo, o cheiro penetrante e desagradável, que todos eles exalam em grau maior ou menor, torna a sua proximidade insuportável. Sou das pessoas cujos sentidos são muitos delicadas e não foi uma só vez que um preto, pelo simples fato de passar perto de mim, me molestou imensamente. A catinga provém das exalações e de transpiração do corpo, sendo agravada ainda pela falta de asseio da maioria deles, mas como não é esta a causa, nem limpeza nem banhos adiantam. ( Hermann Burmeit- 1980-p- 73 ) “...somente a distribuição feita por meio de negros poucos asseados, que oferecem água em vasilhas abertas ou em barris, às vezes expostos por horas ao sol, deveria chamar a atenção da

12 Larrosa, Jorge. Para que servem os estrangeiros? In Educação e Sociedade: revista quadrimestral de Ciência da Educação/ Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES) Campinas: Cedes, 2002. 13 Cf. Burmeit- Hermann. Editora Itatiaia LTDA - Belo Horizonte :Editora da Universidade de S.Paulo-1980

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policia e da higiene pública, a fim de acabar com isso (Spix e Martius, p.48)14 “...Quem desejar comprar escravos dirigi-se para fazer a escolha (..)onde os guardas os apresentam nus, em filas. O comprador verifica o vigor físico, ora apalpando, ora fazendo o negro executar rápido movimentos, especialmente, a extensão do punho cerrado. Defeitos orgânicos ocultos, sobretudo a tão comum catarata, é o que mais se receia nessas compras. Feita a escolha, é determinado o preço da compra...o vendedor em geral fica responsável ainda por prazo de 15 dias, caso se descobrirem quaisquer defeito físico na peça. (Spix & Martius. s/d p. 67)

Estamos há mais de 200 anos de história em que homens estudiosos de papel na mão tiveram a ousadia de ‘ordenar’ do ponto de vista dos saberes um país completamente ‘desordenado’. Trata-se de uma história que foi escrita para afirmar e responder a resposta kantiana quem ‘somos nós’. O conhecimento europeu definiu, classificou e ordenou a nossa flora, a nossa fauna e a nossa gente. Essa cultura racional da ordenação era a indicação da superioridade da razão sobre a explicação divina, transcendental. A razão não podia conviver com dois mundos; um da experimentação’, da ‘racionalidade’ e da busca da ‘civilização’ e o outro da ‘selvageria’, da ‘magia’ e da ‘falta de cultura’. A ordem era necessária para conhecer o outro, desmistificar suas ilusões e indicar a verdade do mundo. Esse era o papel educativo da ordenação. A pergunta quem ‘somos nós’ não foi perguntada mas observada, registrada e provada. A pergunta quem ‘somos nós’ não pressupõe descobertas, mas comprovação. Dentro dessa perspectiva somos aquilo que disseram sobre nós, a partir de um ou algum lugar, de alguma referência. Pensemos sobre esses fragmentos acima extraídos da literatura dos viajantes. A identidade do negro como o outro na relação com o branco é justificada como sendo de inferioridade não só física como mental. Este atributo concedido pelos significados da fala do viajante ao negro lhe condena ao fato de nunca ter ascensão social. Embora os atributos ‘merecidos’ aos brancos não apareçam, a identidade atribuída ao negro implica na existência da identidade do branco. A referência da teoria das raças é significativa para classificar o negro e lhe dar atributos. Eles aparecem nas narrativas como se fossem todos iguais. Na literatura dos viajantes ser de cor negra é de ordem natural. Pela sua cor negra e se encontrar de bom humor é admirado, mas se tem boas habilidades é associado ao um macaco. Para justificar os castigos no trabalho, afirma ser o negro rude, sem zelo e necessitado de alguém que lhe vigie, senão torna-se preguiçoso. Sua cor também está associada a sua índole. Os negros eram em geral, considerados falsos e maldosos e que só a convivência com a cultura branca poderia com o tempo fazê-lo modificar. A identidade brasileira passa então a ser construída por valores que estão fora dela. De uma identidade que ela não é. Ser brasileiro é não ser europeu. As nossas identidades diferem das identidades européias mas foram elas que forneceram as condições para existência das nossas identidades. Ser brasileiro é não ser europeu e assim a identidade vai marcando a diferença. O cheiro é outro significante que aparece nas narrativas como demarcando a diferença. O seu (mal) cheiro é considerado como característica do seu físico, do seu lugar biológico, inferior. A higienização como símbolo da modernidade não resolveria esse problema da natureza. O (mal) cheiro está, segundo a narrativa do viajante, inerente a sua cor. Esse tipo de observação tem causa e conseqüências morais, materiais e de repulsa. Muitos negros foram considerados na sociedade brasileira ‘aptos’ apenas para o trabalho doméstico ou serviçal. Do ponto de vista moral, houve uma segregação cultural e os negros não deviam nem olhar (paquerar) com brancos, muito mais difícil era contrair matrimonio. Esse processo de exclusão é histórico. O negro entrou acorrentado pelas frestas das portas históricas e por mãos que lhes açoitaram e castigaram, mas também por mãos que ajudaram a se libertar das correntes. Entretanto, estão presos a correntes imaginárias, simbólicas que lhe afastam dos bens sociais e estão sempre no universo cultural representado como o lugar da pobreza, da marginalidade. 14 Spix e Martius . Viagem pelo Brasil-1817-1820 Ed Melhoramentos. Ed São Paulo/s/d

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Do ponto de vista da prática educativa, o negro é apresentado nos manuais escolares como o outro a ser compreendido, a receber o perdão e sempre como o sujeito do sofrimento. Sua identidade ainda está presa à idéia de que foi escravo, sofreu violências e por isso precisamos ser benevolentes com eles. Na problematização das identidades dos negros há uma ‘repetição educativa’ de uma relação entre a existência do bem e do mal. O negro é sempre concebido como o outro na relação com os colonizadores, com os brancos. O avanço ‘possível’ na sociedade brasileira do século XXI é a ‘inclusão social’ através dos sistemas de cotas, embora ainda há muitas controvérsias sobre sua eficácia social. A pergunta ‘quem somos nós’ pode (quem sabe) ser modificada para: como os negros chegaram a ser considerados como mal cheirosos, preguiçosos, subservientes, inferiores, feios, animais e associados à macacos na sociedade colonial brasileira? Não seriam suas identidades históricas possíveis de ser (re) apresentadas, problematizadas e modificadas?

“A América é uma terra grande e tem muitas raças de selvagens, que tem muitas diferenças nas línguas...a gente desta terra tem a pelle de cor vermelha parda, por causa do sol que a requeima. È um povo bem parecido, muito ladino em praticar todo o mal e propenso a perseguir e a devorar seus inimigos”(Hans Stader-1900-p122)15 “Estavam como de costume, ornados de penas, e mordiam seus braços, a fim de significar a ameaça de que iriam devorar-me...discursava e narrava que em mim havia me aprisionado e feito escravo a um ‘pero” – assim chamavam eles os portugueses e que agora queria vingar em mim a morte de seus amigos. (Hans Stader-1900-p-81)”16 “O filho do chefe Cunhambebe amarrou-me as pernas em três lugares, e eu devia assim, com eles ligados, saltar pela choça. Com isto riam e exclamavam: “aí vem pulando o nosso manjar!”perguntei então para o meu amo que para aí me tinha conduzido, se me havia trazido para me matar.. Respondeu que não, mas apenas era costume tratar assim os escravos estrangeiros((Hans Stader-1900-p.100)” “Esse decreto (ordem régia) é efeito desastroso por toda parte onde existem índios sob a vigilância de tutela dos portugueses, pois eles se retiram sempre em maior número, para o interior das matas. (...) não são restos de uma só nação, porém misturas de diversas que existiam nessa região, antes dos portugueses. O seu semblante nada tem de agradável. O traço característico da raça, imbecilidade sonsa e taciturna, que se traduz, sobretudo, pelo olhar soturno e pelos modos acanhados dos indígenas americanos, ainda mais se acentua aos primeiros passos, quando começam a refletir sob o constrangimento da civilização que lhes é ainda totalmente estranha, e ao contacto com negros mestiços e portugueses, chegando até o ponto trágico de descontentamento surdo e perversidade. O modo como os trata muitos dos atuais fazendeiros também contribuem para tal decadência moral e física. Nem a feição racional de deformações físicas (tatuagens),

15 Staden, Hans - Suas Viagens e Captiveiro entre os selvagens do Brasil - S. Paulo: Edição Comemorativa do 4º Centenário, 1900 16 Idem

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nem os hábitos e costumes características desses pobres restam dos primitivos indígenas revelam a que tribo eles pertenciam outrora. (Spix & Martius. s/d p. 137) “ As suas feições tomavam aspectos feros com os batoques que eles metem no lábio inferior e nos lóbulos das orelhas. Tanto nos havia causado dó e tristeza a fisionomia desconsolada dos coroados, puris e coropós, como agora era de pavor a nossa impressão, à vista destes homens, que em seu semblante assustador, quase não tem traço de humanidade. Indolência, estupidez e selvageria animal, estampam-se nos rostos quadrangulares, achatados, nos pequenos olhos esquivos;voracidade, preguiça e grosseria, patenteiam-se nos lábios estufados, no ventre, assim como em todo o torso atorrancado e no andar incerto.

As identidades dos índios foram de certa forma, construídas por signos diferenciados das identidades dos negros. Enquanto para ser negro, o indicador era a raça, para os índios o indicador era o ‘nível cultural’. De modo que a civilização deveria não só conquistar os ‘selvagens’ mas modificá-los, por isso que essa relação não seria pacífica A identidade que caracteriza o índio como o outro na relação com o europeu está associada ao mundo dual da civilização e da selvageria. A principal atribuição que é dada pelos viajantes aos índios é a de antropófago. Essa característica representou as comunidades indígenas como cruéis como violentas e sanguinárias. A diferenciação de línguas, de rituais, de leitura de mundo era um dos desafios da ‘domesticação’ do europeu para o índio. A relação que os índios tinham com o corpo, com a natureza horrorizava os viajantes que lhes atribuíam um lugar de estranho, taciturno e imbecil. Esse lugar de outro não é muito confortável para os viajantes pois seria o lugar de degradação moral. Enquanto os negros foram considerados inferiores porque seriam de natureza inferior, os índios viviam no estágio da barbárie, difícil de serem ‘domados,’ ‘domesticados’ e ‘aproveitados’ no processo de organização social. Além do mais, cada légua dessa terra era conhecida pelos indígenas, o que configurava uma relação de poder entre eles e os colonizadores. Essa estratégia indígena contribuiu para redefinir sua identidade. Muitas vezes o ser estrangeiro era os colonizadores. Hans Stader descreve o tempo que esteve sob os poderes de um grupo indígena e se coloca como sendo na relação, o outro. Aquele que foi castigado, preso e se sentindo o próprio escravo. A identidade indígena possivelmente é tão relacional quanto a identidade negra. Se o negro é considerado feio, fedorento e associado naturalmente a um animal, o índio é classificado como um bestializado, um brutal, seria a representação como o outro na relação com a racionalidade. As tatuagens e os alargadores usados como representação simbólica da cultura no corpo indicavam para o viajante sinal de degradação física e falta de humanidade. A idéia de humanidade está associada à concepção ocidental de homem, de sociedade, em que a civilização conduziria ao fim da ignorância. È interessante como a identidade do ser índio é uma identidade construída também com valores que vieram de fora mas não há registro (pelo menos na nossa pesquisa) de associar o físico do índio ao animal. A sua identidade animal estaria associada a sua cultura, à sua forma de ler o mundo. 4. Conclusão

Enfim, os registros da literatura dos viajantes podem se constituir como uma fonte, mas não a única para se fazer um arqueologia das identidades de índios, de negros e das diferenças. Em boa parte da literatura há narrativas que se referem aos índios ora com o sentimento de compaixão ora de repulsa. A literatura em geral trata os índios como resistentes ao progresso, à civilização. Já os negros são premiados na concepção dessa literatura por a América lhe conceder o direto de civilizar-se. A pergunta “quem somos nós” prevaleceu culturalmente sobre “como nós chegamos a ser o que dizem que somos”. A cultura para se chegar ao conhecimento no século XVII teve como pressuposto a busca

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da tradução da realidade, a comprovação da verdade. Ser negro e ser índio significou para a literatura a representação do real e uma experiência trágica para quem por essa identidade é qualificado. Bibliografia: ARAÚJO, Inês Lacerda. Do signo ao discurso: introdução à filosofia da Linguagem – São Paulo: Parábola editorial, 2004. BURMEIT- Hermann. Editora Itatiaia LTDA -Editora da Universidade de S.Paulo- Belo Horizonte,1980. Educação & Sociedade. Dossiê “Diferenças”Cedes- Campinas, 2002 FRANÇA, Vera Regina Veiga. (org) Imagens do Brasil: modos de ver, modos de conviver – Belo Horizonte: Autêntica, 2002. FOUCAULt, Michel. As palavras e as coisas – uma arqueologia das ciências humanas – [Tradução de Salma Tannus Muchail; revisão Roberto Cortes de Lacerda] – 3. ed. – São Paulo: Martins Fontes, 1985. FREYREISS, Georg Wilhelm. RUGENDAS, J M. Viagem Pitoresca através do Brasil. Trad. Sérgio Millet, Martins. Ed, USP, São Paulo, 1972. LARROSA, Jorge. Para que servem os estrangeiros? In Educação e Sociedade: revista quadrimestral de Ciência da Educação/ Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES) Campinas: Cedes, 2002. ______________e Carlos Skiliar. (orgs) Habitantes de Babel. Políticas e poéticas da diferença – Belo Horizonte: Autentica, 2001. Revista Brasileira de História. Viagens e Viajantes, Anpuh/Humanitas. Publicações, 2002. SAINT-HILAIRE-August de. Viagem ao Espírito Santo e Rio Doce. Ed. Itatiaia, Belo Horizonte., 1974 STADEN, HANS. Suas Viagens e Cativeiro entre os selvagens do Brasil. Edição Comemorativa. TYP da casa Eclética, São Paulo. 1900 SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais (org) Stuart hall, Kathryn Woodward.- Petrópolis RJ:Vozes, 2000