IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE SUSCETIBILIDADE A ...
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i
ADENILZA CRISTINA DA SILVA FONSECA
IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE SUSCETIBILIDADE A
ANTIFÚNGICOS DE AGENTES CAUSAIS DE MUCORMICOSE
UNICAMP
2014
vii
DEDICO ESTE TRABALHO...
Á Deus por todos os acontecimentos durante este caminho....
A minha família pelos ensinamentos de coragem, pelos conselhos e por sempre
estarem do meu lado mesmo distantes....
Ao meu marido Douglas pelo amor, incentivo e apoio incondicional....
A todos os meus amigos, especialmente meus amigos de pós-graduação, sempre
prontos a me ajudar.
Compartilho esta conquista com vocês.
ix
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais pelo amor, confiança, apoio e compreensão nesta
jornada;
Ao meu marido Douglas pela força e apoio nos momentos de
dificuldade de forma incondicional;
À minha orientadora Profa. Dra. Angélica Zaninelli Schreiber pelos
conselhos, ensinamentos, compreensão, paciência e pela grande oportunidade de
minha vida de trabalhar ao seu lado e de tantas pessoas exemplares. Agradeço
imensamente por toda a orientação concedida contribuindo tanto para o meu
crescimento científico quanto pessoal.
À profa. Dra. Fernanda Simas Correa pelos ensinamentos iniciais e pela
paciência.
À Profa. Dra. Ana Beatriz Alkmim Teixeira-Loyola que me ajudou
sempre em todos os momentos que eu mais precisava, principalmente com os
experimentos realizados com o Biocell - Tracer®, no esclarecimento de dúvidas e
ensinamentos transmitidos. Agradeço muito pela co-orientação na elaboração do
artigo e deste trabalho.
A todos os docentes do Mestrado em Ciências Médicas/FCM/
UNICAMP pela dedicação e conhecimentos transmitidos.
Aos todos os meus colegas de graduação e pós-graduação pelo
companheirismo e troca de informações durante as disciplinas do curso e em
especial Michela Ferrari, Franqueline Reichert, Marcela Souza, Isabela Hadadd,
Laís e Pâmela, pela amizade, pela ajuda e apoio.
A todos os funcionários da Pós-Graduação em Ciências Médicas/FCM/
UNICAMP e do Departamento de Patologia Clínica pelo apoio e orientações.
A todos os meus colegas do Laboratório de Microbiologia e do
Laboratório de Investigação em Fungos, do Departamento de Patologia
Clínica/FCM/UNICAMP, em especial Luzia Lyra e Edson, pela amizade,
ensinamento, ajuda, disponibilidade, paciência e sábios conselhos. Agradeço a
todos pelo apoio durante a execução deste trabalho.
xi
A todos os funcionários e colegas do Laboratório de Epidemiologia
Molecular e Doenças Infecciosas da FCM/UNICAMP, em especial Érivan Ribeiro,
Ariane Fidelis Busso e Cibele Tararam, pela paciência, amizade, companheirismo
e ajuda constante durante a execução deste trabalho. Agradeço também a profa.
Dra. Maria Luiza Moretti.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
CAPES pela concessão da bolsa de mestrado.
A Fundação de Amparo a Pesquisa do estado de São Paulo - FAPESP,
pela concessão do auxílio ao projeto de pesquisa.
Á Japan International Corporation Agency – JICA, pelo apoio financeiro
para realização desta pesquisa.
Ao Research Center for Pathogenic Fungi and Microbial Toxicosis da
Universidade de Chiba, Chiba – Japão pela colaboração.
Enfim, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para a
realização deste trabalho.
Muito obrigada!
xiii
"Não importa onde você
parou... em que momento da
vida cansou... o que importa é
que sempre é possível e
necessário recomeçar”
(Carlos Drummond de Andrade)
xv
RESUMO
Introdução: Mucormicose é uma infecção oportunista invasiva causada por fungos
filamentosos denominados de Mucorales, antes Zygomycetes, de difícil tratamento e, com
mau prognóstico em pacientes imunocomprometidos, caracterizada por manifestações
rinocerebrais, pulmonares ou disseminadas. Espécies dos gêneros Rhizopus, Mucor,
Absidia (Lichtheimia) e Rhizomucor, são os Mucorales mais isolados de pacientes. São
micro-organismos resistentes a voriconazol e equinocandinas in vitro e in vivo. A terapia
inclui a reversão dos fatores predisponentes, retirada cirúrgica da área infectada e
administração de antifúngicos, em geral, anfotericina B, de atividade terapêutica limitada e
muitos efeitos colaterais. Objetivos: Identificação dos isolados de Mucorales
selecionados para o estudo por metodologia clássica e técnicas moleculares;
padronização da técnica de microdiluição em caldo para avaliação de suscetibilidade aos
antifúngicos isolados: anfotericina B; 5-fluorocitosina; fluconazol; micafungina; itraconazol;
voriconazol; miconazol e terbinafina de outros gêneros de Mucorales que não Rhizopus
spp.; avaliação da Concentração Inibitória Fracional para determinação do tipo de
interação que ocorre entre as combinações de antifúngicos anfotericina B x itraconazol;
anfotericina B x voriconazol; terbinafina x itraconazol; terbinafina x voriconazol e
terbinafina x anfotericina B; padronização da metodologia de avaliação dinâmica de
crescimento para o gênero Rhizopus sp. e Rhizopus oryzae (LIF 1832), para possível
estabelecimento de correlação clínico-laboratorial já que este foi isolado de um paciente
em tratamento de mucormicose. Metodologia: Estudo realizado com 10 isolados clínicos
de Mucorales com identificação morfológica prévia de gênero. A identificação molecular
foi realizada com os iniciadores ITS1/ITS4; ITS4/ITS5 e NL1/NL4. Os testes de
suscetibilidade aos antifúngicos isolados, in vitro, foram realizados pelo método de
microdiluição em caldo (CLSI M38-A2). Os antifúngicos combinados foram analisados de
acordo com a metodologia do “tabuleiro de xadrez”. Já a avaliação dinâmica de
crescimento de hifas frente aos antifúngicos anfotericina B, itraconazol e terbinafina para
o isolado Rhizopus oryzae (LIF 1832) foi realizada através do sistema Biocell-Tracer.
Resultados: As identificações morfológica e molecular foram discordantes para os
isolados LIF 1237 e 1832, classificados morfologicamente como Absidia (Lichtheimia) sp.
e Rhizomucor sp. e identificados como Rhizopus oryzae após sequenciamento de DNA.
Considerando todos os isolados, as concentrações inibitórias mínimas (CIMs) foram de: 8
a ≥ 16 µg/mL para micafungina, de 0,25 a 8 µg/mL para anfotericina B, ≥ 64 µg/mL para
xvii
5-fluorocitosina, de 16 a ≥ 64 µg/mL para fluconazol, de 1 a > 8 µg/mL para itraconazol, >
8 µg/mL para voriconazol; de 0,25 a 4 µg/mL para miconazol e de 0,031 a > 128 µg/mL
para terbinafina. As interações resultantes da combinação de antifúngicos foram de: 100%
de sinergismo entre anfotericina B x voriconazol e anfotericina B x itraconazol; 90% de
sinergismo entre terbinafina x itraconazol; 80% de sinergismo entre terbinafina x
voriconazol e 100% de sinergismo para a combinação de terbinafina x anfotericina B. As
taxas de inibição de crescimento das hifas do isolado Rhizopus oryzae (LIF 1832) frente
aos valores de CIMs obtidos pelo método de microdiluição em caldo foram: 88.25% para
anfotericina B; 0% para itraconazol e 98,70% para terbinafina. O teste com a combinação
de concentrações séricas de itraconazol e terbinafina resultaram em 49,8% de taxa de
inibição. Conclusões: Foi observada divergência entre identificação morfológica e
molecular para dois isolados. Perfis diferentes de sensibilidade aos antifúngicos foram
observados dependendo das espécies. Os antifúngicos mais ativos contra a maioria dos
isolados foram anfotericina B e itraconazol. Valores de CIM bem baixos para terbinafina
foram observados para Cunninghamella bertholletiae e Syncephalastrum racemosum e
todos os isolados foram altamente resistentes a micafungina, 5-fluorocitosina, fluconazol e
voriconazol. Os testes de antifúngicos combinados mostraram redução da CIM dos
antifúngicos em associação. CIMs elevadas para terbinafina foram observadas para os
isolados de R. oryzae e R. stolonifer enquanto que no teste de combinação valores baixos
de CIMs foram encontrados, o que ressalta a importância da combinação de antifúngicos
no manejo de mucormicose. A taxa de inibição do crescimento das hifas para o isolado
LIF 1832 frente aos antifúngicos isolados sugere que hifas podem ser mais suscetíveis
que esporos frente aos antifúngicos avaliados. Apesar de não muito alta, a taxa de
inibição de crescimento das hifas frente à anfotericina B e à combinação das
concentrações séricas de terbinafina e itraconazol pode estar favoravelmente relacionada
ao desfecho clínico do paciente em tratamento de mucormicose.
Palavras-Chave (DECS): Mucormicose, antifúngicos, hifas, esporos fúngicos, biologia
molecular
xix
ABSTRACT
Introduction: Mucormycosis is an invasive opportunistic infection caused by filamentous
fungi called Mucorales (formerly Zygomycetes), difficult to treat, and with poor prognosis in
immunocompromised patients, characterized by rhino-cerebral, pulmonary or
disseminated manifestations. Species of the genera Rhizopus, Mucor, Absidia
(Lichtheimia) and Rhizomucor are the Mucorales most commonly isolated from patients
and show resistance to voriconazole and echinocandins in vitro and in vivo. Therapy
includes to reverse predisposing factors, surgical removal of the infected area and
administration of antifungal agents, in general, Amphotericin B, with limited therapeutic
activity and many side effects. Objectives: identification of selected Mucorales isolates by
morphological and molecular methods; standardization of broth microdilution for antifungal
susceptibility assessment of other Mucorales genera except Rhizopus to the alone
antifungals: amphotericin B, fluorocytosine, fluconazole, Itraconazole, voriconazole ;
miconazole and terbinafine; establish Fractional Inhibitory Concentration to determine the
type of interaction that occurs between combinations of Amphotericin B/Itraconazole;
Amphotericin B/Voriconazole; Terbinafine/Itraconazole; Terbinafine/Voriconazole and
Terbinafine/Amphotericin B; standardization of the dynamic growth methodology for
evaluation Rhizopus sp. and study of isolate Rhizopus oryzae (LIF 1832), for possible
establishment of clinical-laboratory correlation this was isolated from a patient undergoing
treatment for mucormycosis. Material and Methods: This study evaluated 10 clinical
Mucorales isolates with previous morphological gender identification. The molecular
identification was performed with primers ITS1/ITS4; ITS4/ITS5 and NL1/NL4. The
antifungal susceptibility in vitro was performed by broth microdilution method (CLSI M38-
A2). Antifungal combinations were analyzed according to the "chessboard" methodology .
The dynamic evaluation of hyphal growth for the isolate Rhizopus oryzae (LIF 1832) for
the antifungals amphotericin B, terbinafine and itraconazole, was carried through the
BioCell-Tracer system. Results: The morphological and molecular identifications were
discordant for LIF 1237 and LIF 1832 isolates, classified morphologically as Absidia
(Lichtheimia) sp. and Rhizomucor sp. and after DNA sequencing both as Rhizopus oryzae.
Considering all isolates, the minimum inhibitory concentrations (MICs) were 8 to ≥ 16
µg/mL for Micafungin; from 0.25 to 8 µg/mL for Amphotericin B , ≥ 64 µg/mL for 5 –
Fluorocytosine; of 16 to ≥ 64 µg/mL for Fluconazole; 1 to > 8 µg/mL for Itraconazole; > 8
µg/mL for Voriconazole ; 0.25 to 4 µg/mL for Miconazole and from 0.031 to > 128 µg/mL
xxi
for Terbinafine. Interactions resulting from the combination of antifungals were: 100%
synergism for Amphotericin B/Voriconazole and Amphotericin B/Itraconazole; 90%
synergism between Terbinafine/Itraconazole; 80% synergism between
Terbinafine/Voriconazole and 100% synergism for the combination Terbinafine/
Amphotericin B. The hyphae growth inhibition rates obtained for microdilution method MIC
values for Rhizopus oryzae (LIF 1832) were 88.25%, for Amphotericin B; 0% for
itraconazole and 98.70% to terbinafine. Combined Itraconazole and Terbinafine serum
concentrations showed 49.8% of growth inhibition rate. Conclusions: Divergence
between morphological and molecular identification for two isolates was observed.
Different antifungal susceptibility profiles were observed depending on the species. The
most active antifungal agents were Amphotericin B and Itraconazole. MICs for Terbinafine
very low were observed to the Syncephalastrum racemosum and C.bertholletiae and all
isolates were highly resistant to Micafungin, 5- Fluorocytosine, Fluconazole and
Voriconazole. It was possible to observe antifungal MIC reduction in combined tests. MICs
high for terbinafine alone were observerd to the Rhizopus oryzae and Rhizopus stolonifer
while in the combo test low MIC values were observed, which highlights the importance of
combining antifungal drugs in the management of mucormycosis. The hypha growth
inhibition rates obtained for Rhizopus oryzae (LIF 1832) against antifungal isolates
suggest that hyphae may be more susceptible to antifungal agents against spores.
Although not too high, the hyphae growth inhibition rate obtained for the combination
serum achievable concentrations of Terbinafine and Itraconazole can probably be related
to the clinical outcome.
Key words: Mucormycosis, antifungals, hyphae, spores, molecular biology.
xxiii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Regiões do rRNA: subunidade ribossomal pequena (SSU)
subunidade ribossomal grande (LSU)
53
FIGURA 2: Esquema representativo do sistema BioCell-Tracer 57
FIGURA 3: Fotografia do aparelho BioCell-Tracer 58
FIGURA 4: Monitorização do crescimento da hifa 59
FIGURA 5: Elementos utilizados para o cálculo do crescimento de hifas 59
FIGURA 6: Esquema de preparo da placa de microtitulação para o teste 71
FIGURA 7: Esquema representativo da montagem e leitura da placa de
microdiluição no teste de combinação de antifúngicos pelo
método do “tabuleiro de xadrez”
75
FIGURA 8: Estruturas características da morfologia do isolado de
Cunninghamella bertholletiae (LIF 299, 300 e 301)
81
FIGURA 9: Estruturas características da morfologia do isolado de
Rhizopus sp. (LIF 1046, 1143 e 1455 e 1820)
82
FIGURA 10: Estruturas características da morfologia do isolado de Absidia
(Lichtheimia) sp. (LIF 1237)
82
FIGURA 11: Estruturas características da morfologia do isolado de
Rhizomucor sp. (LIF 1832)
83
FIGURA 12: Estruturas características da morfologia do isolado de
Syncephalastrum sp. (LIF 1834)
83
FIGURA 13: Eletroforese em gel de agarose 1% dos produtos obtidos pela
amplificação pela PCR
85
xxv
FIGURA 14: Filogenia e comparação entre identificação morfológica e
molecular para os isolados em estudo
86
FIGURA 15: Acompanhamento de crescimento de hifas de Rhizopus
oryzae (LIF 1832) frente ao antifúngico anfotericina B nas
concentrações de 0,5; 0,25; 0,125 e 0,06 µg/mL
95
FIGURA 16: Acompanhamento de crescimento de hifas de Rhizopus
oryzae (LIF 1832) frente ao antifúngico terbinafina nas
concentrações de 128; 64 e 32 µg/mL
95
FIGURA 17: Porcentagem de inibição de crescimento de hifas de
Rhizopus oryzae (LIF 1832) frente ao antifúngico anfotericina
B nas concentrações de 0,5; 0,25; 0,125 e 0,06 µg/mL
96
FIGURA 18: Porcentagem de inibição de crescimento de hifas de
Rhizopus oryzae (LIF 1832) frente ao antifúngico terbinafina
nas concentrações de 128; 64 e 32 µg/mL
96
FIGURA 19: Acompanhamento de crescimento de hifas de Rhizopus
oryzae (LIF 1832) frente aos antifúngicos anfotericina B,
itraconazol e terbinafina nas concentrações de 0,25; 1,0 e
128 µg/mL, respectivamente
97
FIGURA 20: Porcentagem de inibição de crescimento de hifas de
Rhizopus oryzae (LIF 1832) frente as CIMs de anfotericina B,
itraconazol e terbinafina
98
FIGURA 21: Acompanhamento de crescimento do isolado Rhizopus
oryzae (LIF 1832) frente a combinação de itraconazol na
concentração de 0,25 µg/mL e terbinafina na concentração
de 1 µg/mL.
99
xxvii
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Micro-organismos selecionados para o estudo 64
TABELA 2: Quantificação do DNA extraído dos micro-organismos em
estudo
84
TABELA 3: Similaridade dos resultados entre bancos de dados
disponíveis
85
TABELA 4: Valores da concentração inibitória mínima (CIM) dos
antifúngicos micafungina, anfotericina B, 5-fluorcitosina,
fluconazol, itraconazol, voriconazol, miconazol e terbinafina
frente aos isolados selecionados para o estudo
87
TABELA 5: Suscetibilidade dos isolados de Mucorales frente a
combinação de anfotericina B X itraconazol
89
TABELA 6: Suscetibilidade dos isolados de Mucorales frente a
combinação de anfotericina B X voriconazol
90
TABELA 7: Suscetibilidade dos isolados de Mucorales frente a
combinação de terbinafina x itraconazol
91
TABELA 8: Suscetibilidade dos isolados de Mucorales frente a
combinação de terbinafina x voriconazol 92
TABELA 9: Suscetibilidade dos isolados de Mucorales frente a
combinação de terbinafina x anfotericina B 93
TABELA 10: Padronização do teste no sistema automatizado Biocell-
Tracer para Rhizopus oryzae (LIF 1832) 94
xxix
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
μL Microlitro
°C Grau Celsius
µg/mL Micrograma por mililitro
5FC 5-fluorocitosina
A Antagonismo
AMB Anfotericina B
ATCC American Type Culture Collection
BCT BioCell-Tracer®
BLAST Basic Local Alignment Tool
CCD Change Coupled Device
CIF Concentração Inibitória Fracional
CIM Concentração Inibitória Mínima
CLSI Clinical and Laboratory Standards Institute
DNA Ácido desoxirribonucléico
Exp Exposição ao antifúngico
FCM Faculdade de Ciências Médicas
FCZ Fluconazol
h Hora
I Indiferença
xxxi
IC 100 Leitura de 100% de inibição de crescimento
IC 80
IC50
Leitura de 80% de inibição do crescimento
Leitura de 50% de inibição de crescimento
ISAV Isavuconazol
ISHAM Internacional Society for Human and Animal Mycology
ITS Internal Transcribed Spacer
ITC Itraconazol
L Valor do crescimento da hifa
L-AMB Anfotericina B liposomal
LEM Laboratório de Epidemiologia Molecular
LIF Laboratório de Investigação em Fungos
LSU Subunidade ribossomal grande
M Molar
MCF
MCZ
Micafungina
Miconazol
MEC
MEGA 5.05
Concentração Efetiva Mínima
Molecular Evolutionary Genetics Analysis versão 5
mg Miligramas
min Minutos
NaOH Hidróxido de sódio
ng/µL Nanograma por microlitro
nm Nanômetros
xxxiii
PCR Polimerase Chain Reaction
PLL Poli-L-Lisina
POS Posaconazol
Pré-Exp Pré-exposição ao antifúngico
rDNA DNA ribossomal
rRNA RNA ribossomal/ribossômico
S Sinergismo
SNC Sistema Nervoso Central
SSU Subunidade ribossomal pequena
T Tipo de Interação
t0 Tempo inicial
t1 Tempo final
TERB Terbinafina
UFC/mL Unidades formadoras de colônia/mL
VOR Voriconazol
w/v % Massa por volume %
xxxv
SUMÁRIO
Pág
RESUMO........ .............................................................................................. XV
ABSTRACT.... .............................................................................................. XIX
LISTA DE FIGURAS .................................................................................... XXIII
LISTA DE TABELAS. .................................................................................. XXVII
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS. ..................................................... XXIX
1. INTRODUÇÃO. ........................................................................................ 43
1.1. Taxonomia dos Mucorales ............................................................. 43
1.1.1. Nomenclatura da doença Mucormicose. ............................... 44
1.2. Mucormicose. ................................................................................... 46
1.2.1. Tratamento de Mucormisose. ................................................ 48
1.2.2. Diagnóstico laboratorial da Mucormicose. ............................. 50
1.2.2.1. Identificação morfológica .......................................... 51
1.2.2.2. Identificação molecular............................................. 52
1.3. Testes de suscetibilidade aos antifúngicos para fungos
filamentosos .................................................................................... 55
1.3.1. Técnica de microdiluição em caldo ........................................ 55
1.3.2. Testes de suscetibilidade aos antifúngicos in vitro em
combinação ........................................................................... 55
1.3.3. Avaliação da suscetibilidade a antifúngicos utilizando
hifas (Sistema automatizado Biocell-Tracer). ........................ 56
2. OBJETIVOS. ............................................................................................ 61
3. MATERIAIS E MÉTODOS ....................................................................... 63
3.1. Local de trabalho. ............................................................................. 63
xxxvii
3.2. Micro-organismos selecionados para o estudo ................................ 63
3.2.1. Reativação dos micro-organismos ......................................... 64
3.3. Identificação morfológica .................................................................. 64
3.4. Identificação molecular. .................................................................... 64
3.4.1. Extração do DNA. .................................................................. 65
3.4.2. Amplificação pela PCR utilizando Taq DNA Polimerase ....... 66
3.4.3. Amplificação pela PCR utilizando DNA Polimerase
MigthyAmp ............................................................................. 66
3.4.4. Reação de sequenciamento. ................................................. 67
3.4.5. Análise dos dados: alinhamento e construção da árvore
filogenética ............................................................................ 68
3.5. Avaliação da suscetibilidade aos antifúngicos isolados in vitro
pelo método de microdiluição em caldo. .......................................... 68
3.5.1. Preparação do inóculo ........................................................... 68
3.5.2. Preparação do meio de cultura. ............................................. 69
3.5.3. Preparação dos antifúngicos. ................................................ 69
3.5.4. Preparação da placa do teste de suscetibilidade aos
antifúngicos isolados in vitro. ........................................................... 70
3.5.5. Controle de qualidade. ........................................................... 71
3.5.6. Leitura da concentração inibitória mínima (CIM). .................. 71
3.6. Avaliação da suscetibilidade in vitro aos antifúngicos em
combinação ....................................................................................... 73
3.6.1. Preparo do inóculo ................................................................. 73
3.6.2. Meio de cultura. ..................................................................... 73
3.6.3. Preparação dos antifúngicos ................................................. 73
3.6.4. Preparação da placa de combinação de antifúngicos. .......... 74
xxxix
3.6.5. Leitura do teste de combinação de antifúngicos e
determinação da Concentração Inibitória Fracional (CIF). .... 75
3.7. Avaliação da suscetibilidade a antifúngicos pela técnica de
avaliação dinâmica de crescimento através do sistema
automatizado Biocell-Tracer .............................................................. 76
3.7.1. Micro-organismo avaliado. ..................................................... 76
3.7.2. Antifúngicos avaliados ........................................................... 76
3.7.3. Placas de cultura ................................................................... 76
3.7.4. Preparação do inóculo e monitoramento do crescimento. ..... 77
3.7.5. Avaliação da suscetibilidade aos antifúngicos in vitro pelo
método de avaliação dinâmica de crescimento ..................... 77
3.7.6. Análise dos dados obtidos ..................................................... 79
4. RESULTADOS. ........................................................................................ 81
4.1. Identificação dos isolados de Mucorales ........................................... 81
4.1.1. Identificação morfológica ....................................................... 81
4.1.2. Identificação molecular ......................................................... 84
4.1.2.1. Extração do DNA. .................................................... 84
4.1.2.2. Amplificação pela PCR ............................................. 84
4.1.3. Identificação molecular e construção da árvore
filogenética ............................................................................ 85
4.2. Avaliação da suscetibilidade aos antifúngicos isolados in vitro
pelo método de microdiluição em caldo (CLSI, M38-A2) .................. 86
4.3. Avaliação da suscetibilidade in vitro aos antifúngicos em
combinação ....................................................................................... 88
4.4. Avaliação da suscetibilidade a antifúngicos pela técnica de
avaliação dinâmica de crescimento através do sistema
automatizado Biocell - Tracer® ......................................................... 93
xli
5. DISCUSSÃO ............................................................................................ 101
5.1. Identificação dos isolados de Mucorales .......................................... 101
5.2. Testes de suscetibilidade ................................................................. 105
5.2.1. Avaliação da suscetibilidade aos antifúngicos isolados in
vitro pelo método de microdiluição em caldo (CLSI, M38-
A2) ......................................................................................... 105
5.2.2. Avaliação da suscetibilidade in vitro aos antifúngicos em
combinação . .......................................................................... 108
5.2.3. Avaliação da suscetibilidade a antifúngicos pela técnica
de avaliação dinâmica de crescimento através do
sistema automatizado Biocell - Tracer® ................................ 112
6. CONCLUSÕES ........................................................................................ 117
7. REFERÊNCIAS ........................................................................................ 119
8. ANEXOS..... ............................................................................................. 129
43
1. INTRODUÇÃO
1.1. Taxonomia dos Mucorales
A taxonomia dos agentes causais de mucormicose passou por algumas
alterações nas últimas décadas com os avanços de técnicas de biologia molecular
e estudos taxonômicos. Antes do estabelecimento do reino Fungi em 1969 por
Whittaker, os agentes causais de mucormicose, entomoftoromicose e outros
fungos que produziam hifas cenocíticas (asseptadas) e esporos sexuais
chamados “zigósporos” eram classificados na classe dos Phycomycetes
(ficomicetos). Baseando-se na similaridade morfológica das estruturas sexuais
reprodutivas, três classes eram reconhecidas: Phycomycetes, Ascomycetes e
Basidiomycetes (1).
Com o conhecimento sobre ciclo de vida, modos nutricionais, ultraestrutura
e com base nas características evolucionárias mais próximas, os taxonomistas
agruparam os fungos em seu próprio Reino (Reino Fungi) e como resultado das
mudanças significativas na classificação, a classe dos ficomicetos foi abolida,
sendo os membros dos ficomicetos reclassificados nas seguintes classes:
Zygomycetes, Chytridiomycetes, Hypochytridiomycetes, Trichomycetes e
Oomycetes. Posteriormente uma nova classificação aceita até a última década
delimitou o reino dos fungos nos seguintes filos: Chytridiomycota, Zygomycota,
Ascomycota e Basidiomycota, sendo o filo Zygomycota constituído por Mucorales
e Entomophthorales (2,3).
Nos últimos 15 anos, na tentativa de compreender as relações evolutivas,
os taxonomistas começaram a aplicar técnicas moleculares para elucidar as
linhagens fúngicas e como resultado a classificação filogenética de cada filo vem
sendo revista. A primeira mudança taxonômica no filo Zygomycota foi baseada na
filogenia molecular realizada em 2001 com a construção de uma árvore
filogenética reclassificando o filo Zygomycota como filo Glomeromycota (4).
44
Em 2007, o filo Zygomycota sofreu mais mudanças taxonômicas, quando
taxonomistas internacionais publicaram uma nova classificação filogenética do
Reino Fungi, propondo realmente a eliminação do filo Zygomycota substituindo por
Glomeromycota com os seguintes subfilos: Mucoromycotina,
Entomophthoromycotina, Kickxellomycotina e Zoopagomycotina, já que a maioria
dos estudos anteriores com a linhagem de Mucorales não tinha sido descrito
validamente, sendo agora os Mucorales pertencentes ao filo Mucoromycotina (5).
1.1.1. Nomenclatura da doença Mucormicose
O nome correto da doença é ainda questionado na literatura, uma vez que
novas classificações dos agentes causais foram propostas com base nas revisões
taxonômicas. O primeiro caso documentado de doença causada por membros de
Mucorales foi publicado em 1885 pelo patologista alemão Paltauf, o qual
correspondia a uma infecção sistêmica com envolvimento gástrico e rinocerebral,
que Paltauf descreveu como “Micose Mucorina”. No entanto, embora não
conclusiva, a morfologia do agente etiológico apresentou-se mais semelhante à
espécie de Rhizopus do que a espécie de Mucor. Posteriormente, o termo
“Mucormicose” foi utilizado pelo patologista americano R.D. Baker para definir uma
micose causada por certos membros dos Mucorales de acordo com Baker apud
(1).
Quando vários membros de ficomicetos foram relatados como patogênicos
para seres humanos, o nome de “Ficomicose” foi proposto para denominar
micoses causadas por qualquer uma das várias espécies de ficomicetos. O termo
foi útil para micoses em que o agente etiológico não foi cultivado e apenas
identificado como uma espécie desconhecida de Phycomycetes em seções
histopatológicos. ‘’Ficomicose’’ tornou-se amplamente aceito como um nome
conveniente de doença, independentemente da sua diversidade no curso clínico e
etiologia (6).
45
No entanto, Clark (7), propôs o uso do termo “Mucormicose” para as
doenças causadas por espécies de Mucorales para distinguir da “ficomicose
subcutânea” causada por fungos pertencentes aos Entomophthorales, propondo
também o termo “Entomoftoromicose” para ficomicose subcutânea.
Como o reino Fungi foi estabelecido e Phycomycetes foram reclassificados
em Zygomycetes e outras séries de novas classes, o nome da doença
“ficomicose’’ tornou-se obsoleto. Para concordar com as mudanças taxonômicas,
Ajello (8), propôs substituir o nome por ‘’ zigomicose’’. A doença foi definida como
qualquer micose causada por espécies de duas ordens: Mucorales (Actinomucor,
Apophysomyces, Cokeromyces, Mortierella, Rhizopus, Rhizomucor, Mucor,
Absidia, Cunninghamella, Syncephalastrum e Saksenaea) e Entomophthorales
(Basidiobolus e Conidiobolus). Absidia corymbifera, a principal espécie patogênica
do gênero Absidia, foi recentemente transferida para o gênero Mycocladus como
Mycocladus corymbiferus e, posteriormente reclassificada como Lichtheimia
corymbifera (9).
No entanto, verifica-se que o termo “zigomicose”, tem sido cada vez mais
usado como sinônimo de mucormicose ignorando a definição original por dois
motivos: (a) mucormicose leva a crer que a doença é causada por Mucor spp.,
porém não é a causa mais comum da doença, e (b) algumas infecções causadas
pelas espécies de Entomophthorales, embora raras, não são clinicamente
distinguíveis de mucormicose clássica (1). Contrariando tal nomenclatura,
“mucormicose” foi definida como doença causada por qualquer membro de
Mucorales e não por organismos do gênero Mucor conforme explica Baker apud
(1).
Alguns pesquisadores têm sugerido que o termo “mucormicose” seja
denominado de “Mucoralomicosis”, para denotar que o nome representa a ordem
Mucorales e não o gênero Mucor. A ordem Mucorales já esta no subfilo
Mucoromycotina de acordo com a nova classificação taxonômica. Assim
questiona-se o fato do termo “mucoralomycosis” ser alterado novamente para
“Mucoromycosis” uma vez que este considera o novo subfilo. Independentemente
46
da classificação de “Mucorales” ou “Zygomycota”, ressalta-se que as primeiras
cinco letras do nome da doença mucormicose irão suportar as futuras revisões
taxonômicas (1).
1.2. Mucormicose
Mucormicose é um termo usado para definir uma infecção potencialmente
fatal causada por fungos filamentosos pertencentes ao Filo
Glomeromycota/Subfilo Mucoromycotina, anteriormente classificados como
zigomicetos, ordem Mucorales, sendo espécies de Rhizopus, a causa mais
comum de infecção (1).
Os agentes da mucormicose são agentes causais de infecções oportunistas
que afetam, quase uniformemente, hospedeiros imunocomprometidos. Pacientes
com cetoacidose diabética são particularmente susceptíveis a murcomicose.
Pacientes imunossuprimidos por quimioterapia citotóxica ou terapia por
corticosteróides também são suscetíveis a mucormicose, e também são
significativas causas de risco de vida em pacientes com infecções angioinvasivas
com uma ampla faixa de condições imunossupressoras. Um aumento significativo
na incidência de mucormicose tem ocorrido nas últimas duas décadas e verifica-se
que mais estudos são necessários na tentativa de contribuir para o direcionamento
do tratamento adequado, uma vez que algumas espécies de Mucorales
apresentam perfis diferentes de suscetibilidade. Dada a crescente prevalência de
diabetes, câncer, transplante de órgãos e envelhecimento da população dos
Estados Unidos, o aumento da incidência de mucormicose não tem previsão de
diminuição para um futuro próximo (10).
É uma infecção rara e altamente invasiva. O comprometimento em rins
primitivos ou transplantados é raro e geralmente ocorre após infecção
disseminada. Cetoacidose diabética, imunossupressão por quimioterapia
citotóxica ou terapia por corticosteróide são fatores predisponentes. Quase todo
paciente tem fatores predisponentes, sendo mais frequentes a infecção pelo vírus
47
da imunodeficiência adquirida humana, terapêutica com corticóides, diabetes
mellitus, uso de antifúngicos intravenosos, etilismo e traumatismo. Também tem
sido descrita em pacientes leucopênicos com doenças linfoproliferativas e após
transplante de medula óssea, principalmente nas formas com comprometimento
pulmonar ou forma disseminada. É encontrada em 0,5% a 1 % dos receptores de
transplantes (10).
A apresentação mais frequente é na forma de doença rinoencefálica
fulminante ou pneumonia necrozante com hemoptise maciça. Nas formas mais
raras, como no comprometimento gastrointestinal, as manifestações variam de
úlcera péptica colonizada pelo fungo até a doença infiltrativa com invasão
vascular, causando trombose, infarto e colite isquêmica (11).
Considerada uma infecção incomum, mucormicose vem emergindo como o
segundo modelo mais comum de infecção oportunista invasiva, após aspergilose,
em pacientes com neoplasias hematológicas e receptores de transplantes
apresentando um mau prognóstico nesses pacientes, com taxas de mortalidade
de 90% na infecção disseminada. Espécies de Rhizopus causam a maioria das
infecções por Mucorales, considerando que Mucor, Rhizomucor, e
Cunninghamella bertholletiae são patógenos menos encontrados, sendo a espécie
de C. bertholletiae considerada a mais patogênica. Ao contrário de outros fungos
de importância médica, a epidemiologia e imunopatogenia da infecção são pouco
compreendidas (12).
Antes de 1960 era quase sempre fatal, mas, após a descoberta da
anfotericina B e sua ampla utilização associada ao debridamento cirúrgico, a taxa
de mortalidade foi reduzida a 40%. Esta evolução potencialmente fatal se deve a
uma característica específica destes fungos que é o tropismo vascular,
inicialmente invadindo artérias, onde suas hifas crescem rapidamente ao longo
das paredes e invadem o lúmen, causando trombose e lesões isquêmicas.
Posteriormente invadem veias e vasos linfáticos. A ocorrência de mucortrombose
em artérias responsáveis pela irrigação do Sistema Nervoso Central (SNC), com
desenvolvimento de sinais neurológicos detectáveis no exame físico, ensombrece
48
o prognóstico, com rápida deterioração e morte do paciente. Frequentemente o
primeiro sinal de mucormicose é uma rinorréia, geralmente unilateral, abundante,
saguinolenta e com grumos (13).
Defeitos quantitativos e funcionais em células imunes efetoras, associados
com diabetes mellitus mal controlada e administração de corticosteróide ou outros
tratamentos imunossupressores são os principais fatores predisponentes para
mucormicose. Além disso, o metabolismo do ferro desempenha um papel central
na patologia de mucormicose e pacientes com níveis séricos elevados de ferro
tem um risco aumentado para mucormicose. O tratamento com deferoxamina, um
agente quelante de ferro que age como um sideróforo e oferece suprimento de
ferro para os Mucorales, promove o desenvolvimento de graves infecções
disseminadas em modelos animais e humanos (12).
Do ponto de vista clínico, o termo mucormicose descreve infecções
caracterizadas por uma ou mais manifestações de uma tríade de doenças:
rinocerebral, pulmonar e doença disseminada. Características clínicas clássicas
são edemas faciais, com comprometimento ocular que frequentemente evolui para
doença cerebral e qualquer uma pode ser complicada por infecção pulmonar ou
disseminada. Lesões necróticas também podem ocorrer. No entanto, a
apresentação de mucormicose pulmonar, muitas vezes se assemelha a da
aspergilose invasiva, em pacientes imunossuprimidos como os receptores de
transplantes de células-tronco hematopoiéticas. Comparação de características da
imagem tomográfica de mucormicose e aspergilose invasiva mostrou que
múltiplos nódulos do pulmão e derrame pleural são preditores independentes de
mucormicose (14).
1.2.1. Tratamento de Mucormicose
Mucorales são conhecidos por serem resistentes a voriconazol (VOR) e
equinocandinas in vitro e in vivo. Estudo publicado por Perkhofer et al.,(15)
mostrou que isavuconazol (ISAV) apresentou efeitos antifúngicos limitados contra
49
Mucorales. Em comparação com itraconazol, ravuconazol e voriconazol,
isavuconazol demonstrou atividade parcial contra Mucorales apresentando
Concentração Inibitória Mínima (CIM) de 2 µg/mL para 11 % dos isolados de
Rhizomucor spp. e 28% de Rhizopus spp. Dados semelhantes foram observados
por outros autores utilizando os critérios do Clinical and Laboratory Standards
Institute (CLSI, M38-A2, 2008).
Os antifúngicos anfotericina B (AMB), anfotericina B lipossomal (L-AMB) e
posaconazol (POS) mostraram-se satisfatórios nas atividades in vitro contra
Mucorales. O antifúngico mais ativo foi L-AMB, mas que falhou contra alguns
isolados de Rhizopus spp. e Cunninghamella spp. que se mostraram suscetíveis
ao POS. POS mostrou pouca atividade contra alguns isolados de Rhizomucor
spp., Rhizopus spp. e Mucor spp. demonstrando boa atividade contra Absidia spp.
O significado desses achados in vitro não é totalmente claro, uma vez que ainda
não foram definidos os pontos de corte para o teste e também são relatados
estudos anteriores que demonstram que a resistência micológica in vitro nem
sempre significa fracasso terapêutico. Nenhum dos outros azóis avaliados ou
caspofungina mostraram atividade contra os Mucorales (16).
O tratamento da mucormicose baseia-se em cinco princípios: controle das
condições mórbidas subjacentes, AMB endovenosa, desbridamento cirúrgico,
oxigenioterapia hiperbárica e utilização de fatores estimuladores de colônias
granulocíticas. O controle das condições mórbidas subjacentes é importante, na
medida em que a correção da cetoacidose e o restabelecimento da condição
imunológica do paciente são fatores fundamentais na inibição da proliferação do
fungo e da progressão da doença (13).
AMB continua a ser o único agente antifúngico mais indicado para o
tratamento da mucormicose invasiva. Uma vez que o fungo é relativamente
resistente à AMB, altas doses são necessárias, o que frequentemente resulta em
nefrotoxicidade (10).
Alguns trabalhos relatam a utilização in vivo da combinação de antifúngicos
com sucesso no tratamento de mucormicose, como por exemplo, as combinações
50
de AMB e terbinafina (TERB); AMB e itraconazol (ITC); AMB e voriconazol (VOR) ;
TERB e ITC; TERB e VOR (17-19).
Recentemente a terapia empregando a combinação de poliênicos lipídicos
e equinocandinas tem se mostrado a mais promissora. A combinação de L-AMB
com micafungina (MCF) ou anidulofungina tem apresentado bons resultados.
Outras opções incluem a combinação de poliênicos lipídicos com deferasirox ou
POS. Combinações de TERB com POS e de caspofungina com anfotericina B,
posaconazol ou itraconazol também têm sido estudadas (10, 20-23).
Equinocandinas têm atividade mínima frente a Mucorales em testes in vitro,
no entanto, o teste de sensibilidade padrão pode não refletir a verdadeira atividade
de equinocandinas quando combinada tanto que Ogawa (24) relata caso de
sucesso terapêutico no tratamento de mucormicose rino-orbital causada por
Rhizopus oryzae em paciente diabético em diálise com a combinação de L-AMB e
MCF.
1.2.2. Diagnóstico laboratorial da Mucormicose
O diagnóstico de uma infecção fúngica tem como base a combinação de
dados clínicos e laboratoriais e inclui a demonstração do fungo no material
examinado pela microscopia e cultura; detecção de resposta imunológica à
presença do agressor e detecção de antígenos e metabólitos de fungos nos
líquidos corpóreos ou tecidos (25).
A identificação correta dos Mucorales é um dos principais questionamentos
levantados na literatura uma vez que o diagnóstico não é simples, sendo
necessária a detecção em fragmentos de biópsias de tecidos infectados e
isolamento do micro-organismo para posterior identificação por métodos
morfológicos e moleculares. O diagnóstico pode ser confirmado por biópsia de
tecidos afetados, quando acessíveis, onde a presença de hifas largas não-
septadas é demonstrada. Culturas podem ser negativas. Na maioria dos
laboratórios a identificação de gênero e espécies é realizada a partir de cultura de
51
organismo e documentação das características morfológicas próprias sem
confirmação por métodos moleculares. Lamentavelmente, o diagnóstico é muitas
vezes realizado apenas na autópsia e o atraso no diagnóstico pode levar à
progressão da infecção, às vezes com necessidade de desbridamentos extensos
e repetidos, e cirurgias mutiladoras (14).
1.2.2.1. Identificação morfológica
A metodologia clássica de identificação utiliza a combinação de
características macroscópicas e micromorfológicas com realização do exame
macroscópico e microscópico das culturas, além de microcultivo em lâmina
(26,27).
O exame microscópico de amostras clínicas, utilizando estudos
histopatológicos ou exames diretos permite a detecção rápida, no entanto, estes
métodos permitem apenas uma identificação preliminar. Identificação definitiva
exige o crescimento do organismo em cultura, sendo ainda considerado o método
padrão ouro para o diagnóstico laboratorial de infecções fúngicas atualmente.
Embora a cultura possa demonstrar uma excelente sensibilidade e especificidade,
o crescimento do agente etiológico pode levar dias ou semanas, retardando o
diagnóstico e o início do tratamento apropriado. Além disso, a recuperação e a
identificação precisa de fungos no laboratório clínico requer profissional experiente
(28).
A histopatologia e cultura de amostras de tecido são comumente
empregados para determinar o diagnóstico laboratorial de Mucormicose, mas
estes métodos têm limitações significativas. O exame histopatológico do tecido
infectado é subjetivo, falta sensibilidade e a identificação dos isolados em cultura é
demorada. Em adição, não é incomum resultarem culturas fúngicas negativas,
mesmo quando os resultados histopatológicos sugerem uma infecção por
Mucorales, pois o processamento de amostras de tecido antes da cultura podem
romper as hifas do micro-organismo, evitando assim seu crescimento. Apesar da
52
necessidade de métodos rápidos e sensíveis para detectar Mucorales em
espécimes clínicos, o desenvolvimento de métodos moleculares para este grupo
de fungos tem sido limitado (28).
Muitos laboratórios não identificam além do nível de gênero e a designação
das espécies é frequentemente omitida na literatura médica. Alguns laboratórios
consideram esta tarefa difícil principalmente quando as observações não
correspondem com as descrições ou ilustrações disponíveis na literatura (29).
1.2.2.2. Identificação molecular
A introdução de métodos moleculares para o laboratório de microbiologia
clínica tem levado a avanços significativos no diagnóstico das doenças infecciosas
com as recentes aplicações disponíveis para a detecção e identificação de
agentes fúngicos patogênicos, especialmente para aqueles micro-organismos que
não são facilmente identificados por técnicas convencionais (30).
Nos últimos anos, tem sido demonstrado que a análise de sequências de
acido desoxirribonucleico (DNA), particularmente de RNA ribossômico (rRNA)
fúngico, é muito útil para a identificação de Mucorales (31).
As espécies de Mucorales possuem diferenças importantes em suas
respostas aos antifúngicos e sua correta identificação em infecções humanas é de
grande importância. No entanto, o agente etiológico de mucormicose, em
numerosos casos clínicos, não é identificado quanto à espécie, sendo comumente
nomeado apenas como Mucor spp. (32).
A identificação molecular com a utilização de Polimerase Chain Reaction
(PCR) ou de primers específicos não é facilmente adaptável à rotina nos
laboratórios apenas com fins diagnósticos (33).
Na última década, a amplificação e sequenciamento de ácidos nucléicos de
patógenos fúngicos evoluíram de apenas um aplicativo de pesquisa para
tornarem-se valiosas ferramentas de diagnóstico clínico. As técnicas tradicionais
de sequenciamento de DNA têm sido analisadas, em detalhe, em várias
53
publicações (28). Para identificar o micro-organismo por sequenciamento de DNA,
o gene alvo deve conter as regiões altamente conservadas que podem servir
como locais de ligação de iniciadores, e estas regiões conservadas devem conter
regiões com variabilidade de sequência suficiente para permitir a discriminação ao
nível de gêneros e espécies. Além disso, o gene alvo deve estar presente em um
elevado número de cópias sempre que possível para aumentar a sensibilidade da
amplificação por PCR antes da análise da sequência (28).
Para fins de diagnóstico a estrutura geral da região gênica do rRNA fúngico
consiste de quatro genes ribossomais (subunidade pequena 18S, subunidade
5.8S, subunidade grande 25-28S e subunidade 5S) separados por regiões Internal
Transcribed Spacer (ITS). Via de regra, as regiões comumente utilizadas são as
regiões ITS por meio do rRNA. Os alvos mais comumente empregados nos
métodos de sequenciamento são as regiões ITS1 e ITS2, entre as subunidades
ribossomais 18S e 28S e a região D1-D2 (aproximadamente 600 pares de bases),
constituinte da subunidade ribossomal 25-28S (34) (Figura 1).
Figura 1. Regiões do rRNA: subunidade ribossomal pequena (SSU); subunidade ribossomal
grande (LSU) (28).
54
Em alguns casos, estas regiões podem não oferecer variabilidade suficiente
entre as espécies ou gêneros de fungos, e alvos alternativos têm sido utilizados.
Mudanças na taxonomia dos fungos, limitações das sequências fúngicas
atualmente disponíveis e falta de um consenso sobre a porcentagem de
identidade necessária para identificar as amostras ao nível de gênero ou espécie
tornam a identificação do fungo por meio de análise de sequência um pouco
menos precisa do que a identificação de bactérias usando esta técnica (34).
Estudo com 190 isolados clínicos de Mucorales realizado no laboratório de
ensaios fúngicos na Universidade do Texas correlacionando a identificação
morfológica e a identificação molecular após o seqüenciamento do ITS do rRNA,
utilizando os primers ITS5 e ITS4, evidenciou que o agente mais prevalente de
mucormicose foi Rhizopus oryzae (44,7%) seguido por Rhizopus microspurus
(22,1%), Mucor circinelloides (9,5%), Mycocladus corymbifera (5,3%), Rhizomucor
pusillus (3.7%), Cunninghamella bertholletiae (3.2%), Mucor indicus (2.6%),
Cunninghamella echinulata (1%), e Apophysomyces elegans (0.5%), não sendo
possível a identificação no nível de espécie de 7,4% dos isolados. A correlação
entre morfologia e métodos moleculares em nível de espécie foi de 92,6% e em
nível de gênero foi de 100%. A análise filogenética deste estudo foi realizada
através do programa MEGA 4.0 e a identificação final usando o Basic Local
Alignment Tool (BLAST). Devido ao elevado grau de variabilidade nas sequências
das regiões ITS, não foi possível o alinhamento de todos os genes com 100 % de
confiabilidade, sendo utilizado nesta análise apenas as sequências do gene de
rRNA 5.8S. Na árvore filogenética foram observadas seis clades principais
representando os seguintes gêneros: Mucor, Rhizopus, Mycocladus,
Apophysomyces, Rhizomucor e Cunninghamella (31).
Em seu trabalho Voigt et al, (35) construiu uma base de dados moleculares
para 42 isolados de Mucorales clinicamente importantes a partir de sequências de
nucleotídeos da subunidade pequena 18S do rRNA e regiões D1 e D2 da
subunidade grande 28S do rRNA. Todos os pares de primers utilizados
55
demonstraram potencial para identificação rápida e precisa para espécies
causadoras de mucormicoses.
A introdução de métodos moleculares no laboratório tem conduzido a
avanços significativos na detecção e identificação do agente etiológico, pois reduz
o tempo de identificação, aumenta a sensibilidade e contribui para o tratamento
clínico adequado uma vez que, dependendo da espécie, os Mucorales respondem
de forma diferente ao tratamento. No entanto, mais estudos são necessários na
tentativa de validar e padronizar estes métodos para implantação na rotina de um
laboratório para diagnóstico de infecções fúngicas (16).
1.3. Testes de suscetibilidade aos antifúngicos para fungos
filamentosos
1.3.1. Técnica de microdiluição em caldo
Recentemente, um método para o teste de suscetibilidade a antifúngicos
pelo método de macrodiluição e microdiluição em caldo, específico para formas de
conídios de alguns fungos filamentosos, foi estabelecido pelo CLSI (Clinical and
Laboratory Standards Institute M38-A2, 2008). O teste de suscetibilidade foi
padronizado para as seguintes espécies de fungos filamentosos: Fusarium sp.,
Aspergillus sp., Rhizopus sp., Pseudallescheria boydii e Sporothrix schenkii em
fase filamentosa (36).
1.3.2. Testes de suscetibilidade aos antifúngicos in vitro em combinação
A associação de antifúngicos tem por objetivo a redução de toxicidade de
dosagens individuais e aumentar a eficácia no tratamento dependendo do tipo de
interação resultante entre os antifúngicos avaliados, podendo ser sinergismo
(interação positiva), antagonismo (interação negativa) e indiferença (a combinação
56
produz o mesmo resultado que o antifúngico mais ativo avaliado produz
individualmente) (17).
O teste de suscetibilidade aos antifúngicos in vitro em combinação é
realizado através da metodologia do "tabuleiro de xadrez" (16) para determinação
da Concentração Inibitória Fracional (CIF) que define o tipo de interação entre os
antifúngicos em combinação da seguinte forma: sinergismo (S) se CIF ≤ 0,5;
indiferença (I) se 0,5 < CIF ≤ 4 e antagonismo (A) CIF > 4 (17,37-39).
1.3.3. Avaliação da suscetibilidade a antifúngicos utilizando hifas
(Sistema automatizado Biocell-Tracer)
Dentro das controvérsias em torno da avaliação de suscetibilidade a
antifúngicos, para fungos filamentosos, há questionamentos sobre se a forma
conidial seria a mais adequada para esta avaliação. Os conídios são formas de
resistência dos fungos filamentosos, encontrados no ar em tamanhos pequenos e
em altas concentrações, fáceis de serem inalados e de germinar. Considerando
que a hifa é predominante e, praticamente, a forma exclusiva em tecidos de
indivíduos infectados, a relevância dos dados obtidos dos testes de crescimento
conidial, em comparação com aqueles obtidos em testes de crescimento com hifas
permanece uma pergunta ainda sem resposta (40).
São poucos os relatos que correlacionam os dados da CIM e a evolução
clínica dos pacientes com infecção/colonização fúngica. A determinação da CIM
para fungos filamentosos poderia ser mais adequada com a utilização de um
método que permitisse a quantificação do crescimento das hifas (40-47).
O sistema automatizado “Biocell-Tracer” (BCT) permite verificar a ação do
agente antifúngico diretamente sobre as hifas de Mucorales em tempo real,
possibilitando observar o que realmente acontece no organismo humano, uma vez
que a forma de hifas é a forma predominante em tecidos de indivíduos infectados.
Este conhecimento é importante, tanto para embasamento da terapêutica empírica
57
e avaliação de falhas terapêuticas, quanto para testes de novos antifúngicos ou
produtos afins.
O método BCT propõe a análise do estágio de emergência da hifa, bem
como os estágios subsequentes, para determinação da atividade antifúngica e
permite o acompanhamento do crescimento, conjuntamente com registros e
gráficos que são automaticamente gerados para melhor avaliação (46-50).
O sistema automatizado “Biocell-Tracer” (Figuras 2 e 3) é constituído por
uma base para as placas, um microscópio (Olympus; IMT2), uma câmara de vídeo
CCD (Change Coupled Device) que capta a imagem das placas e as envia para
um digitalizador de imagem (Flovel), um microcomputador que monitora todo o
desenvolvimento do experimento e um aparelho de vídeo. A imagem da hifa,
formada na placa, é visualizada ao microscópio e filmada pela câmara que envia a
imagem para o vídeo, onde é possível observar o crescimento da estrutura em
detalhes. A resolução da imagem tem alta definição e precisão analítica de 0,01
m/min-1(45,46).
Figura 2. Esquema representativo do sistema Biocell-Tracer: 1. Microscópio; 2. Câmara CCD; 3. Junção imagem-memória; 4. Monitor de vídeo; 5. Teclado; 6 e 7. Microcomputador e monitor; 8. Disco rígido; 9. Controle automático dos estágios; 10. Impressora; 11. Controle da temperatura; 12. Distribuidor; 13. Microcalibrador.
58
Figura 3. Fotografia do aparelho BioCell-Tracer. O equipamento é constituído de um microscópio
com base para as placas, uma câmera de vídeo, um televisor com aparelho de vídeo, um
digitalizador de imagens e um microcomputador. No detalhe da foto, a imagem da placa que irá ser
analisada dentro da câmara do equipamento.
O sistema possui ainda uma câmara de incubação onde a temperatura
interna é ajustada de 10 a 50ºC. Com o auxílio do computador é possível escolher
as melhores hifas a serem analisadas, bem como monitorar seu crescimento.
Depois de observar o crescimento uniforme da hifa, é adicionada a concentração
do antifúngico a ser avaliado. As informações obtidas geram gráficos, que podem
ser analisados sozinhos ou em conjunto com outros gerados por análises
posteriores (45-47). A figura 4 exemplifica a monitorização do crescimento de uma
única hifa.
59
Figura 4. Monitorização do crescimento da hifa: período pré-exposição: crescimento da hifa
sem a adição do antifúngico a ser testado. Período de exposição: exposição da hifa ao
antifúngico em determinada concentração. Período de pós-exposição: crescimento da hifa após a
retirada da concentração do antifúngico a ser avaliada.
O aparelho automaticamente calcula a média de crescimento das hifas
selecionadas para o teste. Ao final, gera o gráfico da média de crescimento das
hifas analisadas. O cálculo da taxa de crescimento da hifa pelo modelo BCT ® é
automático e consiste na subtração dos tempos final (t1) menos inicial (t0), a cada
3 min. O intervalo de medição depende do crescimento do fungo filamentoso em
estudo [L1 = (t1- t0), L2= (t2- t1),...] (Figura 5).
t0 t1 t2
Figura 5. Elementos utilizados para o cálculo do crescimento de hifas L: valor do crescimento da
hifa a cada 3 minutos; t0: tempo inicial dos 3 minutos, t1: tempo final dos 3 minutos.
A vantagem de utilizar o sistema BCT esta na rapidez das análises e o
sistema tem uma aplicação fundamental em pesquisa no que se refere a
3 min 3 min
L1 L2
60
determinação da CIM, a determinação da atividade fungicida, em que o valor de
crescimento da hifa durante o período de exposição ao antifúngico subtraído do
valor de crescimento da hifa durante o período após a retirada do antifúngico é
igual a zero (Pós-Expo = 0 ) e a determinação da atividade fungistática, em que o
valor de crescimento da hifa durante o período de exposição ao antifúngico
subtraído do valor de crescimento da hifa durante o período após a retirada do
antifúngico é maior que zero (Pós-Expo > 0). Uma desvantagem do sistema é que
somente um isolado pode ser testado por vez (44).
Existem poucos artigos na literatura sobre a avaliação dinâmica do
crescimento de fungos e sua taxa de inibição de crescimento em contato com
agentes antifúngicos. Alguns estudos publicados utilizaram a metodologia BCT para
alguns isolados de Aspergillus sp., Fusarium sp., Candida sp., fungos demáceos e
dermatófitos, mostrando que a forma de hifas pode responder a concentrações mais
baixas de agentes antifúngicos do que os conídios, podendo ter uma melhor relação
com o efeito do tratamento antifúngico nas infecções (47-53).
Todavia até o momento não há relatos na literatura sobre a padronização do
monitoramento de crescimento pelo sistema BCT para isolados de Mucorales, sendo
importante a realização da avaliação dinâmica de crescimento principalmente para
espécie de Rhizopus oryzae devido a alta prevalência do gênero Rhizopus em casos
de Mucormicose, sendo capaz de contribuir para a indicação do tratamento médico
adequado.
61
2. OBJETIVOS
Identificação dos isolados de Mucorales selecionados para o estudo por
metodologia clássica e identificação molecular;
Padronização do inóculo e tempo de leitura para realização da
suscetibilidade pela técnica de microdiluição em caldo frente aos
antifúngicos micafungina; anfotericina B; 5-fluorocitosina; fluconazol;
itraconazol; voriconazol; miconazol e terbinafina, frente a outros gêneros de
Mucorales que não Rhizopus spp. ;
Avaliação da Concentração Inibitória Fracional para determinação do tipo
de interação que ocorre entre as combinações dos antifúngicos anfotericina
B x itraconazol; anfotericina B x voriconazol; terbinafina x itraconazol;
terbinafina x voriconazol e terbinafina x anfotericina B;
Padronização da metodologia de avaliação dinâmica de crescimento de
hifas para o gênero Rhizopus , visto que até o momento não existe nenhum
trabalho na literatura e existe uma alta prevalência de Mucormicose por
este agente etiológico.
Avaliação dinâmica de crescimento utilizando o isolado de Rhizopus oryzae
(LIF 1832), para possível estabelecimento de correlação clínico-laboratorial
uma vez que este micro-organismo foi isolado recentemente de uma
paciente com mucormicose.
63
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. Local de trabalho
O trabalho experimental foi desenvolvido no Laboratório de Investigação em
Fungos da Faculdade de Ciências Médicas/Universidade Estadual de Campinas
(LIF - FCM–UNICAMP) e no Laboratório de Epidemiologia Molecular e Doenças
infecciosas da Disciplina de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Ciências
Médicas da Unicamp (LEM-FCM-UNICAMP), com assessoria do Medical
Mycology Research Center – Chiba – Japão, tendo sido aprovado pelo Comitê de
Ética da Faculdade de Ciências Médicas / Universidade Estadual de Campinas
com o número de protocolo 936/2011.
3.2. Micro-organismos selecionados para o estudo
Foram selecionados 10 isolados clínicos de Mucorales (Tabela 1)
identificados morfologicamente, de acordo com a literatura disponível, como:
Cunninghamella bertholletiae (LIF 299, 300, 301), Rhizopus sp. (LIF 1046, 1143,
1455, 1820), Syncephalastrum sp. (LIF 1834), Absidia (Lichtheimia) sp. (LIF 1237)
e Rhizomucor sp. (LIF 1832) obtidos a partir dos exames de rotina encaminhados
para o Setor de Micologia do Laboratório de Microbiologia da Divisão de Patologia
Clínica do Hospital de Clínicas da UNICAMP. Todos os isolados foram mantidos
utilizando-se o método de Castellani, sendo, portanto, conservados à temperatura
ambiente em frascos de vidro estéreis contendo água destilada (54).
64
Tabela 1. Micro-organismos selecionados para o estudo.
LIF no Isolado *
Dados do paciente
Nº lab Data Clínica Espécime clínico
299 C.bertholletiae 3855/02 09/09/2006 Medicina Interna escarro
300 C.bertholletiae 3908/02 11/09/2006 Medicina Interna escarro
301 C.bertholletiae 4039/02 18/09/2006 Medicina Interna lavado broncoalveolar
1046 Rhizopus sp. 2185/07 15/06/2007 Medicina Interna lavado broncoalveolar
1143 Rhizopus sp. 4108/07 08/11/2007 Pneumologia escarro
1237 Absidia (Lichtheimia) sp. 1364/08 06/04/2008 Dermatologia unha dedo mão direita
1455 Rhizopus sp. 2534/09 03/07/2010 Pneumologia escarro
1820 Rhizopus sp. 2583/11 30/06/2011 Otorrinolaringologia secreção fossas nasais
1832 Rhizomucor sp. 565/11-
ob 27/01/2011 Pronto Socorro abscesso retroorbitário
1834 Syncephalastrum sp. 3325/11 17/08/2011 Oftalmologia córnea receptora
* Resultado da identificação morfológica realizada a partir dos exames de rotina. Posteriormente
estes isolados foram identificados também pela técnica de sequenciamento.
3.2.1. Reativação dos micro-organismos
Os isolados foram repicados em tubos com Ágar Sabouraud Dextrose
(Difco, Sparks, Maryland, USA) à temperatura ambiente, com posterior repique em
tubos com Ágar Batata Dextrose (Difco, Sparks, Maryland, USA), para avaliação
de pureza e estimulação de esporulação.
3.3. Identificação morfológica
A identificação até gênero foi realizada de acordo com metodologia clássica
desenvolvida no Setor de Micologia do Laboratório de Microbiologia-DPC- HC-
UNICAMP, utilizando a combinação de características macroscópicas e
micromorfológicas com realização do exame macroscópico e microscópico das
culturas, além de microcultivo em lâmina (26,27).
3.4. Identificação molecular
Inicialmente a identificação molecular realizada pelo sequenciamento dos
isolados LIF 1046, 1143, 1237, 1455, 1820, 1832 e 1834 foi realizada através da
65
amplificação do DNA fúngico diretamente das culturas utilizando tanto os
iniciadores universais forward ITS1 e reverse ITS4 quanto os iniciadores
universais forward ITS4 e reverse ITS5.
A identificação molecular dos micro-organismos em estudo foi também
realizada por sequenciamento da região D1/D2 constituinte do DNA 28S e que
codifica rRNA utilizando os iniciadores NL1 e NL4, cujo protocolo está descrito a
seguir. Na figura 1, a região em destaque representa a região D1/D2 utilizada
também para o sequenciamento em nosso estudo.
3.4.1. Extração do DNA
A extração do DNA foi realizada em culturas com 48 h de crescimento em
Ágar Batata Dextrose (Difco, Sparks, Maryland, USA). Uma alçada da colônia foi
transferida para 200 µL de água destilada e a mistura resultante foi submetida à
extração de DNA com o kit High Pure PCR Template Preparation (Roche Applied
Science, Alemanha), de acordo com as especificações do fabricante. Brevemente,
adicionou-se 3 µL de Lyticase 4 mg/mL (Sigma-Aldrich, USA) ao tubo contendo os
isolados diluídos e estes foram incubadas a 37º C por 30 minutos. Em seguida,
foram adicionados ao lisado 200 µL de Binding Buffer e 40 µL de proteinase K. As
amostras foram incubadas a 70˚C por 10 min e 100 µL de isopropanol gelado
foram adicionados. O volume total foi transferido para uma coluna posicionada em
um tubo coletor. Foi realizada a centrifugação a 8.000g por 1min e o conteúdo do
tubo coletor foi descartado. Adicionou-se 500 µL de Inhibitor Removal Buffer e
centrifugou-se a 8.000g por 1 min. Após nova remoção do líquido do tubo coletor,
a lavagem foi realizada com 500 µL de Wash Buffer e posterior centrifugação a
8.000 g por 1 min. Por fim, 50 µL de Elution Buffer pré-aquecido a 70ºC foram
adicionados à coluna e os tubos foram centrifugados a 8.000g por 1 min para
recolhimento da amostra de DNA. O DNA extraído foi quantificado utilizando o
espectrofotômetro NanoDrop 2000 (Thermo Scientific, USA). As amostras foram
armazenadas a -20˚C para posterior utilização na reação de PCR.
66
Para preparação da reação de amplificação por PCR (reação em cadeia da
polimerase) foram avaliados dois procedimentos (itens 3.4.2 e 3.4.3) descritos
abaixo.
3.4.2. Amplificação pela PCR utilizando Taq DNA Polimerase
A amplificação do DNA fúngico extraído foi realizada com os iniciadores
universais forward NL1 (5’-GCATATCAATAAGCGGAGGAAAAG-3’) e reverse NL4
(5’-GGTCCGTGTTTCAAGACGG-3’), os quais permitem amplificar a região D1/D2
constituinte do DNA 28S de fungos. A reação de PCR foi realizada em um tubo
contendo 12,5 µL de PCR Master Mix (Promega, USA), 1,25 µL de cada iniciador,
100 ng/µL de DNA e água milli-Q para um volume final de 25 µL. Cada ciclo de
reação de amplificação realizada consistiu na desnaturação inicial a 95˚C por
5min, 30 ciclos de desnaturação a 95˚C por 45 s, anelamento a 55˚C por 45 s e
extensão a 72˚C por 1min, além de uma extensão final a 72˚C por 2 min. Estas
reações de amplificação foram realizadas em termociclador Veriti 96 Well Thermal
Cycler (Applied Biosystems, Foster City, CA, EUA). Os produtos da reação foram
submetidos à eletroforese em gel de agarose 2% corado com brometo de etídio e
as bandas foram visualizadas em iluminação ultravioleta.
3.4.3. Amplificação pela PCR utilizando DNA Polimerase
MigthyAmp
Além da realização da PCR a partir de DNA extraído de culturas, foi
verificada a possibilidade de amplificação do material genético diretamente a partir
das culturas fúngicas. Essa abordagem permite maior agilidade na obtenção dos
resultados, além de redução nos custos para identificação molecular por
sequenciamento. Para tal finalidade, utilizou-se a enzima DNA Polimerase
MigthyAmp (Takara Bio Inc, Tóquio, Japão), em busca de maior rapidez e
eficiência nas reações de ligação para amplificação do material genético (55, 56).
Foram utilizadas culturas fúngicas de 3 a 5 dias de crescimento em ágar
batata dextrose (Difco, Sparks, Maryland, USA). Uma alçada de cada colônia foi
67
transferida para 200 µL de água destilada e 2 µL desta solução foram utilizados na
reação de PCR. Os iniciadores universais foram os mesmos utilizados no item
anterior. A amplificação pela PCR foi realizada em uma reação contendo 5 µL de
MightyAmp Buffer, 0,3 µL de cada iniciador NL1 e NL4, 0,2 µL da enzima
MightyAmp, 2 µL de amostra e água milli-Q para um volume final de 10 µL. Cada
ciclo de reação de amplificação realizada consistiu na desnaturação inicial a 98˚C
por 2 min, 30 ciclos de desnaturação a 98˚C por 10 s e 55ºC por 15 s, anelamento
a 68˚C por 45 s e extensão final do fragmento amplificado a 68˚C por 5 min. Estas
reações de amplificação foram realizadas em termociclador Veriti 96 Well Thermal
Cycler (Applied Biosystems, Foster City, CA, EUA). Os produtos da reação foram
submetidos à eletroforese em gel de agarose 2% corado com brometo de etídio e
visualizados em iluminação ultravioleta.
3.4.4. Reação de sequenciamento
Após a detecção de DNA em gel de agarose, o produto final da PCR foi
utilizado para o sequenciamento em sequenciador automático ABI-3100 (Applied
Biosystems, Foster City, CA, EUA). Inicialmente, foi realizada a purificação das
amostras pela adição de 2 µL da enzima Exosap-IT (USB®Corporation, Cleveland,
OHIO, EUA) a cada 5 µL de produto de PCR. A mistura foi mantida a 37ºC por 15
min, seguida a 80ºC para inativar a enzima em termociclador Veriti 96 Well
Thermal Cycler (Applied Biosystems, Foster City, CA, EUA).
Em seguida, as amostras foram submetidas à reação de sequenciamento
utilizando o Big DyeTM Terminator v.3.1 (Applied Biosystems, Foster City, CA,
EUA) de acordo com as instruções do fabricante. Foram preparadas reações
contendo 1µL de Big Dye Terminator, 1 µL de tampão, 1 µL do iniciador NL1 ou
NL4 1,6 pmol, 2 µL do produto de PCR purificado e água milli-Q para um volume
final de 10 µL. A amplificação consistiu na desnaturação a 95oC por 3 min e 35
ciclos de 95°C por 5 s, 55°C por 10 s e 60oC por 4 min em termociclador Veriti 96
Well Thermal Cycler (Applied Biosystems, Foster City, CA, EUA).
68
3.4.5. Análise dos dados: alinhamento e construção da árvore
filogenética
As sequências de DNA forward e reverse obtidas para cada amostra foram
alinhadas no programa ATSQ (Japan Software Inc., Japão) e a homologia com
outras sequências disponíveis foi avaliada nos seguintes bancos de dados: BLAST
(Basic Local Aligment Search Tool, disponível em http://blast.ncbi.nlm.nih.gov);
Biolomics (www.cbs.knaw.nl) e ISHAM (www.mycology.lab.org). Isolados com
homologia acima de 99% foram considerados da mesma espécie; para valores
inferiores a 99% foi considerada somente a classificação do gênero.
A análise evolutiva entre os 10 isolados de Mucorales em estudo foi
realizada pela construção de árvore filogenética. Inicialmente, as sequências
foram alinhadas pelo software Clustal W (57) e esses dados serviram de entrada
para a geração da árvore filogenética pelo software MEGA 5.05 (Molecular
Evolutionary Genetics Analysis versão 5/National Institutes of Health, Maryland,
USA e Japan Society for the Promotion of Science, Tokyo, Japan) para análises
de máxima verossimilhança utilizando 1.000 replicações de inicialização para
originar a árvore filogenética de consenso.
3.5. Avaliação da suscetibilidade aos antifúngicos isolados in vitro
pelo método de microdiluição em caldo
Foi realizada de acordo com o documento M38-A2 estabelecido pelo CLSI
(2008)para determinação de CIM (36).
3.5.1. Preparação do inóculo
Após o crescimento fúngico de aproximadamente 3 a 5 dias, a 35o C, em tubos
contendo o meio de cultura ágar batata dextrose (Difco, Sparks, Maryland, USA), o
inóculo foi preparado adicionando-se 5 mL de salina 0,85%, ou água destilada estéril,
ao tubo até encobrir toda a colônia. Os esporos foram suavemente suspendidos com
69
a ajuda de uma alça em anel. Transferiu-se a suspensão para um tubo estéril e
aguardou-se por 5 minutos a separação das hifas dos esporos que, por serem mais
leves, ficam no sobrenadante. O sobrenadante foi transferido para outro tubo estéril.
A partir desta suspensão, foi feita uma diluição de 1/50 em água destilada estéril ou
salina 0,85% e em seguida foi realizada a contagem dos esporos no retículo central
de uma câmara de Neubauer. O objetivo foi a obtenção de um inóculo final de 0,4 a
5,0 x 104 UFC/mL (unidades formadoras de colônia/mL), podendo-se obter este valor
com a aplicação da fórmula:
N x 104 x 1/N = 1 x 10
4 células
onde “N” é igual ao número de células contadas e 1/N é a diluição a ser realizada.
Para os Mucorales foi padronizado o inóculo final de 4 x 104 UFC/mL para a
realização dos testes de suscetibilidade.
3.5.2. Preparação do meio de cultura
Foi utilizado o meio RPMI 1640 (Sigma Chemical Co., St Louis, MO, USA)
com L-glutamina e glicose sem bicarbonato de sódio tamponado com 0,165 M de
ácido morfolinopropanossulfônico (Sigma Chemical Co., St Louis, MO, USA) com
pH ajustado para 7.0 com NaOH 1N e a esterilização da solução realizada por
filtragem a vácuo, em filtro 0,45 m (Millex-HV, Millipore, França).
3.5.3. Preparação dos antifúngicos
Foram avaliados os seguintes antifúngicos isolados: anfotericina B (AMB)
(Sigma Chemical Co., St Louis, MO, USA); 5-fluorocitosina (5FC) (Dry-plates –
Eiken Japan); fluconazol (FCZ) (Dry-plates – Eiken Japan); micafungina (MCF)
(Dry-plates – Eiken Japan); itraconazol (ITC) (Sigma Chemical Co., St Louis, MO,
USA); voriconazol (VOR) (Sigma Chemical Co., St Louis, MO, USA); miconazol
(MCZ) (Dry-plates – Eiken Japan) e terbinafina (TERB) (Sigma Chemical Co., St
Louis, MO, USA). Para preparação da solução estoque foi pesado 12,8 mg de
cada antifúngico (solução-mãe de 1280 µg/mL) de acordo com a ficha de
70
especificação do fabricante ajustando-se na concentração desejada. A solução foi
armazenada em microtubos de polipropileno com tampa, mantidos a -5oC por até
6 meses. Posteriormente a solução estoque de cada antifúngico foi utilizada para
realizar a diluição dos antifúngicos nas concentrações desejadas.
As concentrações dos antifúngicos utilizadas para execução dos testes
foram: de 16 a 0,015 µg/mL para micafungina; de 16 a 0,03 µg/mL para
anfotericina B e miconazol; de 64 a 0,125 µg/mL para 5-fluorocitosina e fluconazol;
de 8 a 0,015 µg/mL para itraconazol e voriconazol e de 1 a 128,0 µg/mL para
terbinafina. Os antifúngicos micafungina, anfotericina B, 5-fluorocitosina,
fluconazol, itraconazol, voriconazol e miconazol também foram avaliados em
placas previamente prontas (Dry-plates – Eiken Japan) para fins de validação e
comparação dos resultados obtidos, assim como para avaliação da micafungina.
3.5.4. Preparação da placa do teste de suscetibilidade aos
antifúngicos isolados in vitro
O teste para determinação de CIM foi realizado em placas de
microtitulação, com fundo em “U” estéril, para onde foram transferidos todos os
componentes preparados anteriormente da seguinte forma: 20 μL do antifúngico
diluído nas diferentes concentrações até a 10 ª fileira; 160 μL do meio de RPMI
1640 em todas as fileiras e mais 20 μL de inóculo em todas as fileiras, exceto a
11ª que corresponde ao controle negativo. Na 12ª fileira, por se tratar do controle
positivo de crescimento, não foi adicionado o antifúngico. O teste também pode
ser realizado considerando a 11ª fileira como controle positivo e a 12ª fileira como
controle negativo. Totalizou-se um volume final de 200 μL, resultando em uma
concentração do inóculo de 4,0 x 104 UFC/ml. Todos os testes foram realizados
em duplicata (Figura 6).
71
Figura 6. Esquema de preparo da placa de microtitulação para o teste
3.5.5. Controle de qualidade
Para validação dos testes, foram utilizadas as cepas de Candida
parapsilosis ATCC 22019, Candida krusei ATCC 6852 e Aspergillus flavus ATCC
204304. Para cada diluição de antifúngicos realizou-se o teste de suscetibilidade
com as cepas padrão, tendo seus resultados de CIM comparados com os valores
estabelecidos pelo (CLSI M38-A2). Não havendo concordância com os valores
estabelecidos, a diluição de antifúngicos foi desprezada preparando-se uma nova
diluição até estar de acordo com os parâmetros estabelecidos.
3.5.6. Leitura da concentração inibitória mínima (CIM)
As placas foram incubadas na temperatura de 35°C com exceção da cepa
LIF 1820 em que o teste foi realizado na temperatura de 25°C, sendo a leitura de
cada placa realizada após 24 e 48 horas de incubação comparando-se o
crescimento fúngico de cada poço com o do controle positivo, sendo esta leitura
realizada com o auxílio de um espelho de leitura. Este crescimento foi
numericamente determinado, de acordo com os seguintes critérios:
72
- número 4: quando não houve nenhuma redução no crescimento, ou seja
100% de crescimento.
- número 3: quando ocorreu leve redução no crescimento, apenas 80% de
crescimento em comparação ao do obtido no controle positivo, sendo 20 % de
inibição de crescimento.
- número 2: quando houve significante redução no crescimento, isto é 50%
de crescimento em comparação com o controle positivo do teste.
- número 1: quando ocorreu pouco crescimento, apenas 20% em
comparação com o controle positivo, sendo 80% de inibição de crescimento.
- número 0 (zero): para ausência total de crescimento.
A CIM para a anfotericina B, itraconazol e voriconazol é determinada, como
sendo a menor concentração do antifúngico que permite crescimento igual a zero,
ou seja, nenhum sinal de crescimento fúngico com 100% de inibição de
crescimento (IC100), uma vez que estes possuem mecanismo de ação
considerado fungicida.
Para antifúngicos com mecanismo de ação fungistática a leitura do teste é
feita atribuindo-se notas: 0 para ausência de crescimento visível (controle
negativo); 1 quando ocorre 80% de inibição de crescimento em comparação ao
crescimento obtido no controle positivo (IC 20); 2 ocorre 50% de inibição de
crescimento fúngico em relação ao controle positivo (IC 50); 3 sendo
correspondente a 20% de inibição de crescimento fúngico (IC 80) e 4 quando há
0% de inibição de crescimento, observando 100% de crescimento (controle
positivo). Para terbinafina a CIM é determinada, como sendo a menor
concentração que permite uma redução em 80% ou mais no crescimento fúngico
(IC 20). (36).
Para o antifúngico micafungina pertencente a classe das equinocandinas,
se faz a leitura da Concentração Mínima Efetiva (MEC), que corresponde ao
parâmetro com melhor correlação clínica, que é a mais baixa concentração do
antifúngico capaz de permitir o crescimento de hifas anormais, pequenas e
73
redondas em contraste ao crescimento do controle positivo que apresenta hifas
longas e não ramificadas (36).
3.6. Avaliação da suscetibilidade in vitro aos antifúngicos em
combinação
Foi realizado de acordo com a metodologia do “tabuleiro de xadrez”,
possibilitando a combinação de dois antifúngicos em concentrações diferentes de
forma que tanto a maior quanto a menor concentração de um agente antifúngico
combina com as respectivas concentrações de outro antifúngico a ser testado (56).
3.6.1. Preparo do inóculo
O inóculo foi preparado conforme descrito no item 3.5.1 sendo padronizado
também um inóculo final de 4 x 104 UFC/mL.
3.6.2. Meio de cultura
Foi utilizado o meio RPMI 1640 (Sigma Chemical Co., St Louis, MO, USA)
com L-glutamina e glicose sem bicarbonato de sódio tamponado com 0,165 M de
ácido morfolinopropanossulfônico (Sigma Chemical Co., St Louis, MO, USA) com
pH ajustado para 7.0 com NaOH 1N e a esterilização da solução realizada por
filtragem a vácuo, em filtro 0,45 m (Millex-HV, Millipore, França).
3.6.3. Preparação dos antifúngicos
A combinação de antifúngicos foi realizada entre os seguintes
antifúngicos: anfotericina B x itraconazol; anfotericina B x voriconazol;
terbinafina x voriconazol; terbinafina x anfotericina B. As concentrações
utilizadas dos antifúngicos na execução do teste foram: de 4 a 0,03125 µg/mL
para anfotericina B; de 15 a 0,125 µg/mL para itraconazol; de 64 a 0,5 µg/mL e
74
de 16 a 0,125 µg/mL para voriconazol; 1 a 128,0 µg/mL; de 16 a 0,125 µg/mL e
de 0,0625 a 0,00048 µg/mL para terbinafina. A preparação dos antifúngicos foi
realizada de acordo com o item 3.5.3.
3.6.4. Preparação da placa de combinação de antifúngicos
Para a execução do teste coloca-se na vertical 20 μL do antifúngico A em
suas diferentes concentrações em todos os poços da placa de microtitulação
até a fileira 8; coloca-se na horizontal 20 μL do antifúngico B em todos os poços
até a fileira 8; 140 μL do meio de cultura é adicionado em todos os poços da
placa e em seguida adiciona-se 20 μL do inóculo em todos os poços com
exceção da fileira 9 que corresponde ao controle negativo do teste. Para testar
os antifúngicos individualmente pode-se colocar 20 μL do antifúngico A sozinho
em todos os poços da fileira 9 e em todos os poços da fileira 10 coloca-se 20
μL antifúngico B. Em busca de uma maior agilidade na execução dos testes
neste trabalho a avaliação dos antifúngicos isolados foi realizada em placas
individuais não sendo portanto adicionados na placa de combinação preparada
(Figura 7).
75
Figura 7. Esquema representativo da montagem e leitura da placa de microdiluição no teste de
combinação de antifúngicos pelo método do “Tabuleiro de xadrez”.
3.6.5. Leitura do teste de combinação de antifúngicos e
determinação da concentração inibitória fracional (CIF)
A leitura tanto visual com auxílio de espelho de leitura quanto realizada por
espectrofotômetro foi realizada após 24 e 48 horas de incubação determinando
assim o tipo de interação existente (58).
As placas foram incubadas na temperatura de 35°C com exceção da cepa
LIF 1820 em que o teste foi realizado na temperatura de 25°C. A leitura das placas
foi realizada também com auxílio de um espelho de leitura e com
espectrofotômetro (λ= 490 nm) após 24 e 48 horas de incubação.
Após a leitura das placas o coeficiente de interação entre os antifúngicos
testados foi avaliado por meio da determinação da Concentração Inibitória
Fracional baseando-se na seguinte fórmula: CIF = [CIMA em combinação/ CIMA
sozinha] + [CIMB em combinação/ CIMB sozinha].
76
As interações entre os antifúngicos foram definidas da seguinte forma:
sinergismo (S) se CIF ≤ 0,5; indiferença (I) se 0,5 < CIF ≤ 4 e antagonismo (A)
CIF > 4 (37-39,58,59).
3.7. Avaliação da suscetibilidade a antifúngicos pela técnica de
avaliação dinâmica de crescimento através do sistema
automatizado Biocell-Tracer
3.7.1. Micro-organismo avaliado
A padronização dos testes de avaliação de crescimento dinâmico pelo BCT
foi realizada utilizando-se o isolado clínico Rhizopus oryzae (LIF 1832),
recentemente isolado de um paciente no intuito de estabelecer correlação clínico-
laboratorial, uma vez que foi observado sucesso terapêutico, com paciente em alta
como desfecho clínico.
3.7.2. Antifúngicos avaliados
Os antifúngicos avaliados foram anfotericina B, terbinafina e itraconazol,
uma vez que, estes foram antifúngicos utilizados para o tratamento da
mucormicose causada pelo isolado LIF 1832. A definição das concentrações de
antifúngicos analisadas derivam das concentrações séricas dos antifúngicos e no
resultado da CIM obtida no teste de microdiluição em caldo.
3.7.3. Placas de cultura
Para a análise do crescimento fúngico pelo BCT, foram utilizadas placas
plásticas de cultura estéreis 35 x 10 mm (Corning® CellBIND, NY, USA), onde
foram distribuídos 2mL da solução de poli-L-Lisina (PLL) (Sigma Chemical Co.,
Ltd., St. Louis, Mo., U.S.A.) na concentração ideal padronizada de 0,02%. Após 1
hora, a solução foi retirada por aspiração e as placas permaneceram abertas até
secagem e logo em seguida em luz ultravioleta por 15 minutos. Após isto estas
77
foram utilizadas para preparar o inóculo a ser utilizado na monitorização do
crescimento (47).
3.7.4. Preparação do inóculo e monitoramento do crescimento
Após o crescimento fúngico de três dias a temperatura ambiente em tubos
contendo meio de cultura Ágar Batata Dextrose (Difco, Sparks, Maryland, USA), o
inóculo foi preparado adicionando-se 5,0 ml de salina 0,85%, ou água destilada
estéril, ao tubo até encobrir toda a colônia. Os esporos foram suavemente
suspendidos com a ajuda de uma alça em anel. Transferiu-se a suspensão para
um tubo estéril aguardou-se, por 5 minutos, a separação das hifas, dos esporos
que, por serem mais leves, ficam no sobrenadante. O sobrenadante foi transferido
para outro tubo estéril e a partir deste foi feita uma diluição em água destilada
estéril ou salina 0,85%, realizando-se em seguida a contagem dos esporos no
retículo central de uma câmara de Neubauer obtendo-se um inóculo na
concentração de 1 x 105 UFC/mL, inóculo padronizado para a realização dos
experimentos no equipamento.
O inóculo de conídios (1µL) preparado foi depositado no centro das placas
preparadas com Poli-L-Lisina (PLL) na concentração de 0,02%. Após o depósito
do inóculo, as placas permaneceram em repouso por 60 minutos com intuito de
promover a secagem do inóculo sendo em seguida lavadas com 250 µL de RPM
1640 ou água destilada estéril RPMI 1640 com intuito de promover a remoção dos
conídios não aderidos à placa. Em seguida foi adicionado 2mL de RPMI 1640 em
cada placa e as mesmas foram incubadas a 35º C durante 18 à 24 horas para o
crescimento inicial das hifas que ficam aderidas no centro da placa. Após este
período, uma placa foi transferida para o equipamento, onde aproximadamente 10
hifas foram selecionadas para avaliação do crescimento em µm com intervalo de
leitura correspondente a 3 minutos (µm/3min) no sistema automatizado BioCell -
Tracer® (Hidan Co. Ltd., Kashiwa, Japan).
3.7.5. Avaliação da suscetibilidade aos antifúngicos in vitro pelo
método de avaliação dinâmica de crescimento
78
Nos experimentos iniciais utilizando o isolado LIF 1832 o tempo de
experimento no Biocell-Tracer foi padronizado em 76 minutos. Assim, o controle
do crescimento fúngico sem a utilização do antifúngico foi realizado trocando-se 2
mL da solução de RPMI 1640 sem antifúngico após o período de 15 minutos do
crescimento inicial da hifa (Pré-Exposição) e adicionando-se 2 mL de RPMI 1640
com antifúngico acompanhando-se o crescimento durante o período de 60 minutos
(Exposição) do experimento. Após este período houve a troca novamente do
RPMI 1640 com antifúngico por 2 mL de RPMI 1640 sem antifúngico e
observação do crescimento das hifas por mais 30 minutos (Pós-Exposição).
A avaliação da suscetibilidade in vitro pelo método de avaliação dinâmica
de crescimento frente ao antifúngico anfotericina B e terbinafina em suas
diferentes concentrações foi realizada trocando-se o meio de cultura RPMI 1640
após o período de 15 minutos de crescimento inicial das hifas selecionadas (Pré-
Exposição) por 2 mL de antifúngico preparado com RMPI 1640 na concentração a
ser testada e acompanhando-se o crescimento no período de 60 minutos
(Exposição). Assim, o experimento para estes antifúngicos ficou da seguinte
forma: 15 minutos iniciais considerados como controle de crescimento e 60
minutos com adição da solução do antifúngico preparado com RPMI 1640, sendo
o período de exposição. Com esta padronização, foram realizados testes parciais
de avaliação dinâmica de crescimento na ausência ou presença dos antifúngicos
anfotericina B, terbinafina e itraconazol.
Para a combinação dos antifúngicos terbinafina com itraconazol utilizando
a concentração sérica destes, os testes de avaliação dinâmica de crescimento
para os isolados de Mucorales foram realizados com um tempo maior de
experimento devido ao mecanismo de ação destes antifúngicos e concentrações
reduzidas a serem testadas. Neste caso o tempo de experimento no Biocell-
Tracer foi padronizado em 2h e 30 minutos sendo 15 minutos iniciais de
avaliação do crescimento inicial das hifas selecionadas (Pré-Exposição) e 135
minutos com a presença do antifúngico (Período de exposição).
79
3.7.6. Análise dos dados obtidos
Para realização da curva controle de crescimento foi necessário calcular a
mediana e média de crescimento de todas as hifas a cada 3 minutos para cada
experimento padronizado realizando-se os cálculos da média e mediana de todos
os dados gerados pelo BCT através do sistema de análise de dados do Microsoft
Excel.
Para os cálculos das taxas de inibição foram obtidas as medianas dos
valores de crescimento do período de pré-exposição (0 – 15 min) e exposição (15
– 60 min) para cada hifa no caso dos antifúngicos anfotericina B, terbinafina e
itraconazol. Para a combinação dos antifúngicos terbinafina com itraconazol
foram obtidas as medianas dos valores de crescimento do período de pré-
exposição (0 – 15 min) e exposição 135 minutos (15 – 130 min) para cada hifa. As
taxas de inibição do antifúngico testado (anfotericina B) em suas diferentes
concentrações foram calculadas pela diferença percentual entre o 1o período e o
2º período. Para isto, comparou-se as medidas obtidas no período de 3 a 15 min
com o período de 15 a 60 min juntamente com o experimento controle (meio de
RPMI 1640) de 3 a 15 min com o período de 15 a 130 min.
O cálculo do efeito do antifúngico se deu pelo crescimento inicial chamado
pré-exposição (Pré-Exp) subtraído pelo crescimento durante a exposição do
antifúngico (Exp) dividido pelo crescimento inicial (Pré-Exp) multiplicado por 100.
(Pré-Exp – Exp) / (Pré-Exp) x 100% (47).
81
4. RESULTADOS
4.1. Identificação dos isolados de Mucorales
4.1.1. Identificação morfológica
Pela metodologia clássica utilizando a combinação de características
macroscópicas e com base nas estruturas características da morfologia
encontradas nas lâminas preparadas das culturas, os isolados LIF 299, 300 e 301
foram identificados como Cunninghamella bertholletiae (Figura 8) LIF 1046, 1143 e
1455 e 1820 identificados como Rhizopus sp. (Figura 9) enquanto LIF 1237 como
Absidia sp. (Figura 10) e LIF 1832 como pertencente ao gênero Rhizomucor sp.
(Figura 11) e LIF 1834 como Syncephalastrum sp. (Figura 12).
Figura 8. Estruturas características da morfologia do isolado de Cunninghamella bertholletiae (LIF
299, 300 e 301). Figuras (A) e (B): LARONE (2002); Figuras (C), (D), (E) e (F): Acervo do LIF- FCM
– UNICAMP.
A B C
D E F
Esporangiósporo
Esp
ora
ngi
ófa
ro
Vesícula
82
Figura 9. Estruturas características da morfologia do isolado de Rhizopus sp. (LIF 1046, 1143 e
1455 e 1820). Figuras (A) e (B): LARONE (2002); Figuras (C), (D) e (E): Acervo do LIF- FCM –
UNICAMP.
Figura 10. Estruturas características da morfologia do isolado de Absidia (Lichtheimia) sp. (LIF
1237). Figuras (A) e (B): LARONE (2002); Figuras (C), (D) e (E): Acervo do LIF- FCM – UNICAMP.
A A
A A
B C
D
D E
B C
E
Esp
ora
ngi
ófa
ro
Riz
óid
e
Esporangio
83
Figura 11. Estruturas características da morfologia do isolado de Rhizomucor sp. (LIF 1832).
Figuras (A) e (B): LARONE (2002); Figuras (C), (D) e (E): Acervo do LIF- FCM – UNICAMP.
Figura 12. Estruturas características da morfologia do isolado de Syncephalastrum sp. (LIF 1834).
Figuras (A) e (B): LARONE (2002); Figuras (C), (D), (E) e (F): Acervo do LIF- FCM – UNICAMP.
A A
A A
B
B
C
C
D E
D E F
Rizóide lateral Es
po
ran
gió
faro
Vesícula
Vesícula em formação
Esporangio tubular (cadeia de esporos)
Esporangio
84
4.1.2. Identificação molecular pela técnica de sequenciamento
4.1.2.1. Extração do DNA
A quantificação do DNA extraído dos isolados em estudo utilizando o
espectrofotômetro NanoDrop 2000 (Thermo Scientific, USA) resultou em
concentrações finais entre 6,9 e 227,1 ng/µL. As amostras foram armazenadas a -
20˚C para posterior utilização na reação de PCR (Tabela 2).
Tabela 2. Quantificação do DNA extraído dos micro-organimos em estudo
299 C.bertholletiae
300 C.bertholletiae
301 C.bertholletiae
1046 Rhizopus sp.
1143 Rhizopus sp.
1237 Absidia (Lichtheimia) sp.
1455 Rhizopus sp.
1820 Rhizopus sp.
1832 Rhizomucor sp.
1834 Syncephalastrum sp.
Quantificação de DNA extraído
227,1 ng/µL
61,2 ng/µL
48 ng/µL
19,4 ng/µL
9,3 ng/µL
10,3 ng/µL
82,5 ng/µL
8,1 ng/µL
LIF
número Isolado *Quantificação do
DNA extraído
7,31 ng/µL
6,9 ng/µL
* Nomenclatura dos isolados conforme a identificação morfológica.
4.1.2.2. Amplificação pela PCR
A amplificação pela PCR utilizando a região D1/D2 foi realizada para todos
os isolados de Mucorales apresentando entre 600 e 900 pares de bases na região
amplificada do rRNA (Figura 13).
85
Figura 13. Eletroforese em gel de agarose 1% dos produtos obtidos pela amplificação pela PCR.
4.1.3. Identificação molecular e construção da árvore filogenética
A comparação das sequências obtidas pela técnica de biologia molecular
com outras sequências disponíveis em banco de dados revelou que os isolados
LIF 299, 300 e 301 correspondem a espécie de Cunninghamella bertholletiae, os
isolados LIF 1046, 1143, 1237, 1455 e 1832 correspondem a espécie de Rhizopus
oryzae, o isolado LIF 1820 corresponde a Rhizopus stolonifer e o isolado LIF 1834
corresponde a Syncephalastrum racemosum. A similaridade das sequências com
os bancos de dados disponíveis está demonstrada na Tabela 3.
Tabela 3. Similaridade dos resultados entre bancos de dados disponíveis
homologia %acesso
(07/04/2014)homologia %
acesso
(07/04/2014)homologia %
acesso
(07/04/2014)
299 C.bertholletiae 100 JN206600.1 100 693.68 ______ * ______ *
300 C.bertholletiae 100 JN206600.1 100 693.68 ______ * ______ *
301 C.bertholletiae 100 JN206600.1 100 693.68 ______ * ______ *
1046 Rhizopus oryzae 100 HQ435000.1 100 120.12 ______ * ______ *
1143 Rhizopus oryzae 100 AY213625.1 100 330.53 ______ * ______ *
1237 Rhizopus oryzae 100 JN939196.1 100 120.12 ______ * ______ *
1455 Rhizopus oryzae 100 JN939196.1 100 330.53 ______ * ______ *
1820 Rhizopus stolonifer 100 JN938904.1; 100 609.82 ______ * ______ *
1832 Rhizopus oryzae 100 JQ745263.1; 100 120.12 ______ * ______ *
1834 Syncephalastrum racemosum 96,2 HM849718.1 100 348.35 ______ * ______ *
* Parâmetros de identificação não encontrados
LIF
número
ISHAM ITS - Blast search
( MYCOLOGY LAB)Biolomics (CBS)
Banco de dados
Genbank ( NCBI)Identificação
86
O esquema ilustrando os eletroferogramas obtidos no sequenciamento
encontram-se no anexo 1, já a árvore filogenética para os isolados em estudo está
representada na figura 14, sendo dividida em duas clades: a clade 1 tem um
subgrupo formado por Rhizopus oryzae. Já a clade 2 é formada por dois
subgrupos, um subgrupo formado por Rhizopus stolonifer e Syncephalastrum
racemosum e outro subgrupo formado por Cunninghamella bertholletiae (Figura
14).
Figura 14. Filogenia e comparação entre identificação morfológica e molecular para os isolados em estudo. - os números presentes na árvore filogenética indicam similaridade das sequências; - (*) isolados em que o sequenciamento permitiu a identificação de espécie; - os quadrados indicam isolados com resultados discordantes entre as duas metodologias.
4.2. Avaliação da suscetibilidade aos antifúngicos isolados in vitro
pelo método de microdiluição em caldo (CLSI, M38-A2)
Os resultados dos testes de concentração inibitória mínima (CIM) dos
antifúngicos frente aos 10 isolados em estudo comparando-se as leituras
realizadas com tempo de incubação de 24 e 48 h foram de 8 a ≥ 16 µg/mL para
micafungina, de 0,25 a 8 µg/mL para anfotericina B, ≥ 64 µg/mL para 5-
fluorocitosina, de 16 a ≥ 64 µg/mL para fluconazol, de 1 a > 8 µg/mL para
itraconazol, > 8 µg/mL para voriconazol; de 0,25 a 4 µg/mL para miconazol e de
0,0031 a > 16 µg/mL para terbinafina (Tabela 4).
87
Tabela 4. Valores da concentração inibitória mínima (CIM) dos antifúngicos micafungina, anfotericina B, 5-
fluorcitosina, fluconazol, itraconazol, voriconazol, miconazol e terbinafina frente aos isolados selecionados para o
estudo
24h 48h 24h 48h 24h 48h 24h 48h 24h 48h 24h 48h 24h 48h 24h 48h 24h 48h
299 C.bertholletiae 8->16* ≥ 16 ≥ 16 ≥ 16 2 2 ≥ 64 > 64 > 64 64 1 1 - 2 >8 >8 1 - 2 2 0,031 0,063
300 C.bertholletiae ≥ 16 ≥ 16 ≥ 16 ≥ 16 2 - 4 4 - 8 > 64 > 64 32 - > 64 >64 >8 2 - 8 >8 >8 1 - 2 1 - 2 0,031 0,031
301 C.bertholletiae ≥ 16 > 16 ≥ 16 ≥ 16 1 - 4 2 - 8 > 64 > 64 32 - 64 ≥ 64 1 8 >8 >8 2 1 - 2 0,016 0,063
1046 Rhizopus oryzae ≥ 16 > 16 ≥ 16 ≥ 16 0,5 - 2 1 - 4 > 64 > 64 ≥ 64 16 - > 64 1 - 2 4 - 8 >8 >8 1 2 >16 >16
1143 Rhizopus oryzae > 16 > 16 ≥ 16 ≥ 16 0,25 - 0,5 1 > 64 > 64 > 64 > 64 >8 >8 >8 >8 2 2 - 4 >16 >16
1237 Rhizopus oryzae > 16 > 16 ≥ 16 ≥ 16 0,5 - 1 1 - 2 > 64 > 64 32 - 64 > 64 8 >8 >8 >8 1 - 2 1 >16 >16
1455 Rhizopus oryzae > 16 > 16 ≥ 16 ≥ 16 0,25 - 0,5 0,5 - 1 > 64 > 64 > 64 > 64 4 - >8 2 - >8 >8 >8 1 2 - 4 >16 >16
1820 Rhizopus stolonifer > 16 > 16 ≥ 16 ≥ 16 0,25 0,5 > 64 > 64 > 64 > 64 2 4 >8 >8 1 1 >16 >16
1832 Rhizopus oryzae > 16 > 16 ≥ 16 ≥ 16 0,25 1 > 64 > 64 > 64 > 64 1 >8 >8 >8 0,25 - 2 2 >16 >16
1834 Syncephalastrum racemosum ≥ 16 > 16 ≥ 16 ≥ 16 0,5 0,5 - 1 > 64 > 64 > 64 > 64 1 1 >8 >8 0,25 - 2 2 0,5 1
IC 100 IC 50 IC 50
LIF
noIdentificação
Antifungico (ug/mL)
Anfotericina B 5-Fluorocitosina Fluconazol Itraconazol Voriconazol MiconazolMicafungina
MEC
Terbinafina
IC 50 IC 100 IC 50 IC 50 IC 100
LIF = Laboratório de Investigação em Fungos; MEC = Concentração Efetiva Mínima; IC 50=leitura de 50% de inibição do crescimento; IC
100=leitura de 100% de inibição de crescimento. *Todos os testes foram realizados em duplicata e resultados diferentes foram observados
em algumas leituras conforme demonstrado na tabela.
88
4.3. Avaliação da suscetibilidade in vitro aos antifúngicos em
combinação
Os resultados das combinações de antifúngicos realizadas através da
metodologia do "tabuleiro de xadrez" demonstraram 100% de sinergismo nas
interações entre anfotericina B x itraconazol e anfotericina B x voriconazol quando
se faz a leitura considerando valores de 100 % de inibição de crescimento visível
tanto para itraconazol quanto para voriconazol. Sinergismo de 80% e 20% de
indiferença foram observados quando considerados valores correspondentes a
50% de inibição do crescimento visível para os dois antifúngicos (Tabela 5 e 6).
As interações resultantes entre terbinafina x itraconazol quando se faz a
leitura considerando valores de 100 % de inibição de crescimento visível para
itraconazol foi de 90% de sinergismo e 10% de indiferença. Sinergismo de 70% e
30% de indiferença foram observados quando considerados valores
correspondentes a 50% de inibição do crescimento visível para itraconazol (Tabela
7).
As interações resultantes da combinação de terbinafina x voriconazol
considerando valores de 100 % de inibição de crescimento visível para voriconazol
foi de 80% de sinergismo e 20% de indiferença. Sinergismo de 50% e 50% de
indiferença foram observados quando considerados valores correspondentes a
50% de inibição do crescimento visível para voriconazol. (Tabela 8).
89
Tabela 5. Suscetibilidade dos isolados de Mucorales frente à combinação de anfotericina B X itraconazol
Anfotericina
B
Itraconazol
( 50 %)
Anfotericina
B
Itraconazol
( 50 %)CIF T
Anfotericina
B
Itraconazol
( 100 %)
Anfotericina
B
Itraconazol
( 100 %)CIF T
299 C.bertholletiae 2 1 0,03125 0,125 0,1 S 2 2 0,03125 0,125 0,08 S
300 C.bertholletiae 2 1 0,03125 0,125 0,1 S 2 4 0,03125 0,125 0,05 S
301 C.bertholletiae 2 2 0,03125 0,125 0,08 S 2 8 0,03125 0,125 0,03 S
1046 Rhizopus oryzae 0,125 0,5 0,03125 0,125 0,5 S 0,125 4 0,03125 0,125 0,3 S
1143 Rhizopus oryzae 0,25 0,5 0,03125 0,125 0,4 S 0,25 8 0,03125 0,125 0,1 S
1237 Rhizopus oryzae 0,25 0,125 0,03125 0,125 1 I 0,25 2 0,03125 0,125 0,2 S
1455 Rhizopus oryzae 0,125 1 0,03125 0,125 0,4 S 0,125 4 0,03125 0,125 0,3 S
1820 Rhizopus stolonifer 0,125 0,5 0,03125 0,125 0,5 S 0,125 4 0,03125 0,125 0,3 S
1832 Rhizopus oryzae 0,25 0,5 0,03125 0,125 0,4 S 0,25 1 0,03125 0,125 0,3 S
1834 Syncephalastrum racemosum 0,125 0,25 0,03125 0,125 0,8 I 0,125 4 0,03125 0,125 0,3 S
Identificação LIF
no
InteraçãoCIM antifúngico sozinho
(µg/mL)
CIM antifúngico em
combinação (µg/mL)Interação
CIM antifúngico sozinho
(µg/mL)
CIM antifúngico em
combinação (µg/mL)
LIF: Laboratório de Investigação em Fungos; CIM: Concentração Inibitória Mínima; CIF: Concentração Inibitória Fracional; T: Tipo de
Interação; S: Sinergismo; I: Indiferença. As leituras para itraconazol foram realizadas com 50% de inibição do crescimento e 100% de
inibição de crescimento na leitura de CIM quando testado isoladamente.
90
Tabela 6. Suscetibilidade dos isolados de Mucorales frente à combinação de anfotericina B X voriconazol
Anfotericina
B
Voriconazol
( 50 %)
Anfotericina
B
Voriconazol
( 50 %)CIF T
Anfotericina
B
Voriconazol
( 100 %)
Anfotericina
B
Voriconazol
( 100 %)CIF T
299 C.bertholletiae 2 4 0,03125 0,5 0,1 S 2 8 0,03125 0,5 0,08 S
300 C.bertholletiae 2 4 0,03125 0,5 0,1 S 2 64 0,03125 0,5 0,02 S
301 C.bertholletiae 2 8 0,03125 0,5 0,08 S 2 64 0,03125 0,5 0,02 S
1046 Rhizopus oryzae 0,125 2 0,03125 0,5 0,5 S 0,125 16 0,03125 0,5 0,3 S
1143 Rhizopus oryzae 0,25 2 0,03125 0,5 0,4 S 0,25 16 0,03125 0,5 0,2 S
1237 Rhizopus oryzae 0,25 1 0,03125 0,5 0,6 I 0,25 8 0,03125 0,5 0,2 S
1455 Rhizopus oryzae 0,125 2 0,03125 0,5 0,5 S 0,125 16 0,03125 0,5 0,3 S
1820 Rhizopus stolonifer 0,125 1 0,03125 0,5 0,8 I 0,125 2 0,03125 0,5 0,5 S
1832 Rhizopus oryzae 0,25 4 0,03125 0,5 0,3 S 0,25 8 0,03125 0,5 0,2 S
1834 Syncephalastrum racemosum 0,125 4 0,03125 0,5 0,4 S 0,125 32 0,03125 0,5 0,3 S
Interação
IdentificaçãoLIF
no
CIM antifúngico sozinho
(µg/mL)
CIM antifúngico em
combinação (µg/mL)Interação
CIM antifúngico sozinho
(µg/mL)
CIM antifúngico em
combinação (µg/mL)
LIF: Laboratório de Investigação em Fungos; CIM: Concentração Inibitória Mínima; CIF: Concentração Inibitória Fracional; T: Tipo de
Interação; S: Sinergismo; I: Indiferença. As leituras para voriconazol foram realizadas com 50% de inibição do crescimento e 100% de
inibição de crescimento na leitura de CIM quando testado isoladamente.
91
Tabela 7. Suscetibilidade dos isolados de Mucorales frente à combinação de terbinafina x itraconazol
TerbinafinaItraconazol
( 50 %)Terbinafina
Itraconazol
( 50 %)CIF T Terbinafina
Itraconazol
( 100 %)Terbinafina
Itraconazol
( 100 %) CIF T
299 C.bertholletiae 0,03125 1 0,00048 0,125 0,1 S 0,03125 2 0,00048 0,125 0,08 S
300 C.bertholletiae 0,03125 1 0,00048 0,5 0,5 S 0,03125 4 0,00048 0,5 0,1 S
301 C.bertholletiae 0,01563 1 0,00048 0,5 0,5 S 0,01563 4 0,00048 0,5 0,2 S
1046 Rhizopus oryzae >16 4 0,125 8 2 I >16 >16 0,125 8 0,5 S
1143 Rhizopus oryzae >16 4 0,125 2 0,5 S >16 8 0,125 2 0,3 S
1237 Rhizopus oryzae >16 4 0,125 4 1 I >16 8 0,125 4 0,5 S
1455 Rhizopus oryzae >16 0,5 0,125 2 4 I >16 2 0,125 2 1,0 I
1820 Rhizopus stolonifer > 16 1 0,125 0,5 0,5 S >16 2 0,125 0,5 0,3 S
1832 Rhizopus oryzae > 128 2 1 1 0,5 S > 128 4 1 1 0,3 S
1834 Syncephalastrum racemosum 0,5 2 0,125 0,125 0,3 S 0,5 4 0,125 0,125 0,3 S
Identificação LIF
no
InteraçãoCIM antifúngico sozinho
(µg/mL)
CIM antifúngico em
combinação (µg/mL)Interação
CIM antifúngico sozinho
(µg/mL)
CIM antifúngico em
combinação (µg/mL)
LIF: Laboratório de Investigação em Fungos; CIM: Concentração Inibitória Mínima; CIF: Concentração Inibitória Fracional; T: Tipo de
Interação; S: Sinergismo; I: Indiferença. As leituras para itraconazol foram realizadas com 50% de inibição do crescimento e 100% de
inibição de crescimento na leitura de CIM quando testado isoladamente.
92
Tabela 8. Suscetibilidade dos isolados de Mucorales frente à combinação de terbinafina x voriconazol
TerbinafinaVoriconazol
( 50 %)Terbinafina
Voriconazol
( 50 %) CIF TTerbinafina
Voriconazol
( 100 %)Terbinafina
Voriconazol
( 100 %)CIF T
299 C.bertholletiae 0,03125 4 0,0078 0,125 0,3 S 0,03125 >16 0,0078 0,125 0,3 S
300 C.bertholletiae 0,03125 4 0,01563 0,125 0,5 S 0,03125 >16 0,01563 0,125 0,5 S
301 C.bertholletiae 0,01563 4 0,01563 0,125 1 I 0,01563 >16 0,01563 0,125 1 I
1046 Rhizopus oryzae >16 4 0,125 16 4 I >16 >16 0,125 16 1 I
1143 Rhizopus oryzae >16 8 0,125 4 0,5 S >16 >16 0,125 4 0,3 S
1237 Rhizopus oryzae >16 4 0,125 8 2 I >16 16 0,125 8 0,5 S
1455 Rhizopus oryzae >16 2 0,125 4 2 I >16 >16 0,125 4 0,3 S
1820 Rhizopus stolonifer >16 1 0,125 0,125 0,1 S >16 2 0,125 0,125 0,08 S
1832 Rhizopus oryzae >16 2 0,25 8 4 I >16 16 0,25 8 0,5 S
1834 Syncephalastrum racemosum 0,5 8 0,25 0,125 0,5 S 0,5 >16 0,25 0,125 0,5 S
InteraçãoCIM antifúngico sozinho
(µg/mL)
CIM antifúngico em
combinação (µg/mL)Identificação
LIF
no
InteraçãoCIM antifúngico sozinho
(µg/mL)
CIM antifúngico em
combinação (µg/mL)
CIM: Concentração Inibitória Mínima; CIF: Concentração Inibitória Fracional; T: Tipo de Interação; S: Sinergismo; I: Indiferença. As leituras
para voriconazol foram realizadas com 50% de inibição do crescimento e 100% de inibição de crescimento na leitura de CIM quando
testado isoladamente.
93
A combinação de terbinafina x anfotericina B demonstrou 100% de
sinergismo (Tabela 9).
Tabela 9. Suscetibilidade dos isolados de Mucorales frente à combinação de
terbinafina x anfotericina B
TerbinafinaAnfotericina
BTerbinafina
Anfotericina
BCIF T
299 C.bertholletiae 0,03125 4 0,00048 0,03125 0,02 S
300 C.bertholletiae 0,03125 2 0,00048 0,03125 0,03 S
301 C.bertholletiae 0,01563 2 0,00048 0,03125 0,05 S
1046 Rhizopus oryzae >16 0,5 0,125 0,25 0,5 S
1143 Rhizopus oryzae >16 1 0,125 0,25 0,3 S
1237 Rhizopus oryzae >16 0,5 0,125 0,25 0,5 S
1455 Rhizopus oryzae >16 0,5 0,125 0,25 0,5 S
1820 Rhizopus stolonifer >16 0,5 0,125 0,25 0,5 S
1832 Rhizopus oryzae >16 0,5 0,125 0,25 0,5 S
1834 Syncephalastrum racemosum 0,5 0,25 0,125 0,03125 0,4 S
CIM antifúngico sozinho
(µg/mL)
CIM antifúngico em
combinação (µg/mL)Interação
Identificação LIF
no
LIF: Laboratório de Investigação em Fungos; MIC: Concentração Inibitória Mínima; CIF:
Concentração Inibitória Fracional; T: Tipo de Interação; S: Sinergismo.
4.4. Avaliação da suscetibilidade a antifúngicos pela técnica de
avaliação dinâmica de crescimento através do sistema
automatizado Biocell - Tracer®
Para a padronização do inóculo foram avaliados vários parâmetros, tais
como: meio para indução de esporulação; tempo de crescimento prévio da cultura
fúngica, concentração ideal de Poli-L-Lisina, concentração e quantidade do
inóculo; tempo e temperatura de incubação prévia com o meio de cultura RPMI;
temperatura de execução do teste; intervalos de leitura e duração do teste (Tabela
10).
94
Tabela 10. Padronização do teste no sistema automatizado Biocell-Tracer para
Rhizopus oryzae (LIF 1832)
mediana
3 min
16 à 24 h a 35oC
1μl
Temperatura de execução do teste
Duração do teste*
35oC
76 min
Tempo e temperatura de incubação prévia com RPMI
Quantidade de inóculo
Medida para avaliação estatística dos resultados
Intervalos de leitura
Parâmetros avaliados Parâmetros obtidos (LIF 1832)
Agar batata
3 dias a TA
0,02%
105conidios
Meio para indução de esporulação
Tempo de crescimento prévio da cultura fúngica
Concentração ideal de Poli-L-Lisina
Concentração do inóculo em mL
*Pré - exposição:15 minutos ; Exposição: 60 minutos; Pós - exposição: 30 minutos. *TA (temperatura ambiente)
O tempo ideal de crescimento das culturas para a obtenção de conídios foi
de 3 a 4 dias a 28º C em ágar batata, sendo o melhor meio de cultura para a
produção de conídios.
As hifas foram melhor fixadas à placa de cultura com poli-L-Lisina (PLL) na
concentração de 0,02% (w/v).
Os isolados de Mucorales apresentaram crescimento inicial ideal após 16h
de incubação de 1 μL do inóculo contendo 105conidios/ μL sendo 24 horas o
tempo de incubação máximo para realização dos experimentos. A temperatura de
incubação prévia para inóculos dos isolados de Mucorales foi de 35o C, de acordo
com o CLSI (M38-A2, 2008) e esta foi também a temperatura para a execução do
teste; intervalo de 3 min para a medida da taxa de crescimento das hifas; 1h e 45
min como o tempo total de experimento.
Inicialmente o tempo de experimento para o isolado Rhizopus oryzae no
BCT foi padronizado em 76 minutos: sendo os 15 minutos iniciais considerados
como controle de crescimento (período de pré-exposição) e 60 minutos com a
presença do antifúngico (período de exposição). Com esta padronização foram
realizados os testes de avaliação dinâmica de crescimento na ausência ou
95
presença dos antifúngicos anfotericina B, terbinafina e itraconazol em suas
diferentes concentrações. A CIM obtida pelo teste de suscetibilidade dos
antifúngicos isolados in vitro foi utilizada como ponto de partida para avaliação do
crescimento das hifas e a partir desta foram avaliadas dosagens mais baixas
(figuras 15 e 16).
Figura 15. Acompanhamento de crescimento de hifas de Rhizopus oryzae (LIF 1832) frente ao
antifúngico anfotericina B nas concentrações de 0,5; 0,25; 0,125 e 0,06 µg/mL.
Figura 16. Acompanhamento de crescimento de hifas de Rhizopus oryzae (LIF 1832) frente ao
antifúngico terbinafina nas concentrações de 128; 64 e 32 µg/mL.
96
Os resultados da taxa de inibição do crescimento das hifas para os valores
anfotericina B nas concentrações acima testadas foram de: 98,5% para 0,5 µg/mL
de anfotericina B; 88.25% para 0,25 µg/mL; 81,61% para 0,125 µg/mL de
anfotericina B e 0% para 0,06 µg/mL de anfotericina B ( figura 17).
Figura 17. Porcentagem de inibição de crescimento de hifas de Rhizopus oryzae (LIF 1832) frente
ao antifúngico anfotericina B nas concentrações de 0,5; 0,25; 0,125 e 0,06 µg/mL.
Os resultados da taxa de inibição do crescimento das hifas para os valores
terbinafina nas concentrações acima testadas foram de: 98,7% para 128 µg/mL de
terbinafina; 97,44% para 64 µg/mL de terbinafina e 0% 32 µg/mL de terbinafina
(figura 18).
Figura 18. Porcentagem de inibição de crescimento de hifas de Rhizopus oryzae (LIF 1832) frente
ao antifúngico terbinafina nas concentrações de 128; 64 e 32 µg/mL.
97
O acompanhamento da avaliação de suscetibilidade das hifas de Rhizopus
oryzae (LIF 1832) com a utilização das CIMs dos antifúngicos anfotericina B,
itraconazol e terbinafina obtidas pelo método de microdiluição em caldo está
representado na figura 19.
Figura 19. Acompanhamento de crescimento de hifas de Rhizopus oryzae (LIF 1832) frente aos
antifúngicos anfotericina B, itraconazol e terbinafina nas concentrações de 0,25; 1,0 e 128 µg/mL,
respectivamente.
Os resultados da taxa de inibição do crescimento das hifas para os valores
de CIMs obtidos pelo método de microdiluição em caldo foram: 88.25% de inibição
de crescimento quando se utilizou CIM de 0,25 µg/mL de anfotericina B (IC100)
obtida pelo método de microdiluição em caldo; 0% de inibição de crescimento
quando se utilizou CIM de 1,0 µg/mL de itraconazol (IC100) obtida pelo método de
microdiluição em caldo e no caso de CIM >128 µg/Ml (IC80) obtida pelo método de
microdiluição em caldo (foi avaliada a concentração de 128 µg/mL) para
terbinafina, a taxa de inibição foi de 98.70% (Figura 20).
98
Figura 20. Porcentagem de inibição de crescimento de hifas de Rhizopus oryzae (LIF 1832) frente
as CIMs de anfotericina B, itraconazol e terbinafina
Estes resultados não pareciam estar de acordo nem com a interação
sinérgica obtida entre itraconazol e terbinafina com a metodologia do “tabuleiro de
xadrez” nem tampouco com a boa resposta clínica observada no paciente. Deste
modo, foi avaliada a combinação de itraconazol e terbinafina (antifúngicos
utilizados no tratamento do paciente) conforme caso resumido no anexo 2 nas
concentrações séricas médias, possíveis de serem atingidas, embora não
dosadas, de acordo com as doses administradas: 0.25 µg/mL de itraconazol e 1,0
µg/mL de terbinafina (58,59).
Uma vez que estavam sendo avaliadas concentrações reduzidas de
antifúngicos, o tempo de experimento BCT foi alterado para 2h e 30 minutos.
Assim os 15 minutos iniciais foram considerados como controle de crescimento
(período de pré-exposição) e 135 minutos com a presença do antifúngico (período
de exposição) (figura 21). Com a realização do teste, a taxa de inibição do
crescimento das hifas do isolado em estudo frente a combinação de terbinafina e
itraconazol foi de 49,3 %.
99
Figura 21. Acompanhamento de crescimento do isolado Rhizopus oryzae (LIF 1832) frente a
combinação de itraconazol na concentração de 0,25 µg/mL e terbinafina na concentração de 1
µg/mL.
101
5. DISCUSSÃO
5.1. Identificação dos isolados de Mucorales
O diagnóstico precoce da mucormicose continua sendo um desafio e é uma
necessidade ainda não satisfatoriamente atendida, sendo de grande impacto no
sucesso do tratamento. O diagnóstico a partir de biópsia de tecidos continua a ser
o padrão-ouro, embora para alguns pacientes isto não seja viável, devido a
trombocitopenia ou instabilidade hemodinâmica. Além do mais, erros de
amostragem e dificuldades ocasionais na diferenciação de Mucorales em
amostras de tecido podem resultar em resultados falso-negativos ou falso-
positivos. Alguns artigos mostram também que novas ferramentas moleculares
para identificação de Mucorales em tecidos estão cada vez mais disponíveis (62-
66).
Nos experimentos iniciais para identificação molecular dos isolados em
estudo, foram utilizados os primers ITS1 e ITS4 e através da amplificação do DNA
fúngico diretamente das culturas, a identificação molecular foi realizada com
sucesso para os isolados: Rhizopus oryzae (LIF 1046, 1143, 1455, 1820, 1237) e
1832), não sendo possível a identificação molecular dos isolados de
Cunninghamella bertholletiae (LIF 299, 300 e 301) e Syncephalastrum sp. (LIF
1834), devido a impossibilidade de amplificação do DNA fúngico. Sendo assim, foi
necessário alterar os pares de primers sendo utilizado os pares de primers ITS4 e
ITS5, com os quais foi possível identificar os isolados de Rhizopus oryzae (LIF
1046, 1143, 1237, 1455, 1832) e Syncephalastrum racemosum LIF (1834), não
sendo possível novamente a identificação dos isolados de Cunninghamella
bertholletiae (LIF 299, 300 e 301) e com estes primers não foi possível identificar
também o isolado de Rhizopus sp. (LIF 1820). A escolha deste primers
inicialmente foi devido ao fato da maioria dos artigos na literatura disponíveis
utilizarem regiões ITS para identificação de Mucorales (30, 35,61).
Para os isolados que não foi possível a identificação tanto com a utilização
dos primers ITS1/ITS4 quanto os primers ITS4/ITS5, a opção foi a utilização dos
102
iniciadores NL1/NL4 que permitem o seqüenciamento da região D1/D2 constituinte
do DNA ribossomal 28S, o que também possibilitou a identificação de todos os
isolados em estudo conforme tabela 3 que mostra a similaridade dos resultados
entre os bancos de dados disponíveis. (Muraosa et al., Medical Mycology
Research Center Universidade de Chiba, Comunicação Pessoal). Neste trabalho
foram utilizados os seguintes bancos de dados: Biolomics (www.cbs.knaw.nl) e
ISHAM (www.mycology.lab.org) para aumentar as possibilidades de comparação
dos resultados.
Além da realização da PCR a partir do DNA extraído de culturas, foi
verificada também a possibilidade de amplificação do material genético
diretamente das culturas fúngicas utilizando para isto DNA Polimerase MigthyAmp
e os iniciadores NL1/NL4, o que permitiu uma maior agilidade na obtenção dos
resultados, além de redução nos custos, sendo a identificação obtida com sucesso
para todos os isolados. A enzima MigthyAmp DNA Polymerase (Takara Bio,
Japão), possibilita uma maior rapidez e eficiência nas reações de ligação para
amplificação do material genético (55,56).
Não houve concordância entre a identificação morfológica e molecular para
os isolados LIF 1237 e 1832, classificados morfologicamente como Absidia
(Lichtheimia) sp. e Rhizomucor sp. e ambos como Rhizopus oryzae por
sequenciamento. Da mesma forma, o isolado LIF 1820 foi classificado por
sequenciamento como Rhizopus stolonifer.
Isto pode ser decorrente das limitações da identificação morfológica desta
classe de fungos filamentosos, já que é uma técnica demorada, há necessidade
de profissionais experientes, é dependente de condições de crescimento do micro-
organismo já que a observação macroscópica e microscópica das estruturas
muitas vezes não corresponde às descrições disponíveis em manuais de
identificação e a presença de variações das características dentro de uma mesma
espécie devido tanto ao ambiente, como também a subjetividade do observador.
Poucos artigos relatam a identificação de Mucorales através da utilização dos
iniciadores NL1/NL4 e mostram que os bancos de dados disponíveis geralmente
103
não são suficientes para identificação de algumas espécies relacionadas a alguns
gêneros, como Mucor, Rhizopus e Cunninghamella (35).
Técnicas moleculares mostram um enorme potencial para identificar com
rapidez e precisão, porém, ensaios de detecção moleculares para os Mucorales
não são ainda amplamente disponíveis. Um conjunto de dados com base em
sequências 18S e 28S do rRNA de 42 isolados de Mucorales sequenciados, foi
construído mostrando que o seqüenciamento da região ITS é um método confiável
para a identificação precisa da maioria dos Mucorales até espécie e que as
seqüências 18S foram altamente conservadas, mas as seqüências 28S foram
mais variáveis entre as espécies (35). Em nosso trabalho, os resultados da
identificação molecular utilizando a região ITS não foram concordantes para os
isolados de Cunninghamella bertholletiae cuja amplificação só foi possível com a
utilização da região 28S.
Para a identificação de Mucorales, a região ITS tem sido proposta como um
alvo valioso para identificação do gênero e, geralmente, ao nível de espécie, no
entanto, a região D1/D2 do 28S é capaz de fornecer uma resolução melhor
quando se objetiva a identificação de espécies (62).
Como em nosso trabalho, alguns artigos na literatura relatam também
casos de divergências entre a identificação morfológica e molecular em que os
isolados geralmente em discordância são também finalmente classificados como
Rhizopus oryzae, sendo considerada identificação morfológica de gênero também
frequentemente imprecisa (62-65).
Estudo com 20 isolados de Mucorales usando o sistema automatizado rep
– PCR e sequências ITS como ferramentas moleculares de identificação
encontrou 100 % de concordância entre estas duas metodologias. No entanto,
apresentou somente 74% de concordância com a identificação baseada na
morfologia, sendo que os isolados com resultados discordantes foram
identificadas como Rhizopus sp. pelos métodos moleculares (62).
Por meio do sequenciamento das regiões ITS1 e ITS 2 KONTOYIANNIS et
al., (65) determinaram o gênero de 19 isolados de Mucorales e compararam os
104
resultados obtidos com a identificação morfológica. A taxa de concordância foi de
79% entre os resultados baseados em métodos morfológicos e moleculares. Dos
quatro isolados identificados incorretamente pela morfologia, três eram do gênero
Rhizopus.
Estudo realizado com 190 isolados clínicos de Mucorales utilizando os
primers ITS4 e ITS5, com análise filogenética realizada com o programa MEGA
4.0 e a identificação final com o banco de dados Basic Local Alignment Tool
(BLAST), evidenciou que os agentes mais prevalentes de mucormicose foram
Rhizopus oryzae e Rhizopus microsporus e que a correlação entre morfologia e
métodos moleculares na identificação de espécies foi de 92,6% e de gênero de
100% (30), sendo que em nosso trabalho a correlação entre morfologia e
identificação molecular tanto a nível de espécie e de gênero foi de 80%, sendo os
isolados com resultados discordantes classificados como Rhizopus oryzae.
Muitos laboratórios não identificam além de gênero, sendo a espécie
frequentemente omitida também na literatura médica, especialmente quando as
observações não correspondem às descrições ou ilustrações disponíveis. A
identificação de Mucorales continua a ser uma tarefa difícil e demorada. No
entanto, características morfológicas observadas por profissionais experientes
podem fornecer um alto nível de precisão. Este conhecimento, associado às
técnicas moleculares podem ser ferramentas úteis na identificação de espécies de
Mucorales de importância clínica, assim como para a delimitação de espécies
ainda não descritas. Embora a identificação molecular de Mucorales utilizando
regiões ITS venha sendo usada, frequentemente com sucesso, nos últimos anos,
os bancos de sequências, como BLAST, ainda representa uma limitação pelo
número reduzido e imprecisão de algumas sequências depositadas (29,30).
Apesar das técnicas moleculares serem mais rápidas e mais confiáveis do
que a identificação micológica padrão, mais estudos são necessários na busca de
uma melhor padronização das técnicas e melhoria da sensibilidade (62-66).
105
5.2. Testes de suscetibilidade
5.2.1. Avaliação da suscetibilidade aos antifúngicos isolados in
vitro pelo método de microdiluição em caldo (CLSI, M38-
A2)
A concentração do inóculo recomendada pelo CLSI para fungos
filamentosos é 0,4 X 104 a 5 X 104 UFC/ml. Neste trabalho verificamos que para os
isolados de Mucorales em estudo, a concentração de inóculo ideal foi de 4 X 104
UFC/ml, já que concentrações mais baixas ou mais altas conduziam a dificuldades
de interpretação dos resultados.
As placas de microdiluição foram incubadas a 37ºC e as leituras das CIMs
foi realizada após 24 horas de incubação. A placa do teste de suscetibilidade do
isolado LIF 1820 (R. stolonifer) foi incubada à temperatura ambiente, pois não
houve crescimento em temperaturas mais elevadas, conforme já informado.
Os resultados dos testes de CIM dos antifúngicos frente aos isolados deste
estudo mostraram que os antifúngicos mais ativos contra a maioria dos isolados
foram anfotericina B e itraconazol. Os isolados C.bertholletiae e Syncephalastrum
racemosum foram mais sensíveis a concentrações mais baixas de terbinafina do
que Rhizopus oryzae e Rhizopus stolonifer. Todos os isolados foram altamente
resistentes a micafungina, 5-fluorocitosina, fluconazol e voriconazol. Observou-se
também uma melhor nitidez na leitura realizada com 48 horas de incubação tanto
para itraconazol quanto para voriconazol. Verificou também que os isolados
pertencentes ao gênero Rhizopus sp. foram menos sensíveis ao itraconazol em
relação as outros isolados avaliados. Através dos resultados observa-se que além
da anfotericina B, outros antifúngicos possuem atividade in vitro contra Mucorales
e dependendo da espécie e gênero tem perfis diferentes de suscetibilidade.
Embora os baixos valores de CIM obtidos frente a miconazol apresentados
na tabela parecerem promissores, este não tem sido muito utilizado para o
tratamento de mucormicose e infecções sistêmicas por fungos filamentosos devido
106
à sua toxicidade e farmacocinética, sendo indicado somente para uso tópico nos
casos de dermatofitoses, malassezioses e candidíases mucocutâneas (67-71).
Apesar de níveis sanguíneos relativamente baixos e de curta duração de
miconazol em exsudato do espaço retroperitoneal pélvico, estudo realizado por
Mikamo et al.,(69) demonstrou sua eficácia clínica na candidíase sistémica, com a
utilização de uma ou mais infusões intravenosas diárias de miconazol,
desempenhando um papel importante no tratamento.
Trabalho publicado por Taguchi et al.,(72) utilizando o sistema
automatizado BCT avaliou a atividade in vitro de miconazol contido no soro
humano do mesmo paciente em que foi injetado miconazol na concentração de
600 mg /dia durante 2 dias sobre hifas de Aspergillus fumigatus. As concentrações
de miconazol obtidas no soro foram de 8,8; 3,5 e 1,6 µg/mL. O soro contendo 8,8
µg/mL de miconazol inibiu o crescimento de hifas após 90 minutos de avaliação
dinâmica de crescimento e o soro contendo 3,5 µg/mL após 100 minutos de
avaliação dinâmica de crescimento enquanto que no soro contendo 1,6 µg/mL não
houve inibição de crescimento.
De acordo com Ribes (73) a mucormicose permanece como uma infecção
de difícil tratamento sendo associada com uma alta taxa de mortalidade.
Anfotericina B não é efetiva em todos os casos de mucormicose principalmente se
o paciente apresentar no decorrer da doença uma infecção disseminada. Sua
atividade terapêutica é limitada devido aos severos efeitos colaterais, sendo que a
função renal comprometida frequentemente conduz à interrupção da terapia.
Estudo realizado por JONHSON et al., (74), com alguns isolados de
Mucorales mostrou que estes também foram resistentes a 5-fluorocitosina e
fluconazol o que está de acordo com os resultados encontrados em nosso
trabalho. Além do mais, foi observado um aumento entre as CIMs dos antifúngicos
após 24 horas de incubação, com exceção de anfotericina B que não apresentou
muita diferença. Altas CIMs de voriconazol foram encontradas para todos os
isolados.
107
Apesar de não haver indicação do uso de azólicos no tratamento de
mucormicose e os estudos do uso de antifúngicos azólicos no tratamento de
mucormicose serem escassos, tem se verificado que os compostos azólicos
sozinhos ou em combinação tem efeitos benéficos em modelos de animais
infectados por Rhizopus sp. e podem apresentar uma alternativa ao tratamento
(75-78).
Estudos realizados por Dannaoui et al., (17,79) relatam diferenças nos
perfis de suscetibilidade in vitro entre gêneros e espécies de Mucorales frente a
diferentes antifúngicos, evidenciando que o tratamento médico adequado muitas
vezes requer uma identificação específica do agente patogênico. A identificação
precisa de espécies de Mucorales poderia também ter grande importância para
pesquisas sobre a eficácia do antifúngico. Além disso, os resultados mostraram,
por exemplo, que Rhizopus sp. foram menos susceptíveis a itraconazol,
posoconazol, terbinafina e anfotericina B do que Absidia sp que foi menos
susceptível do que Mucor sp a anfotericina B (80).
Algumas mudanças no manejo da mucormicose em pacientes com câncer
hematológico com alto risco para esta infecção pode aumentar ou diminuir a
incidência de mucormicose nesta população. Recentemente os pesquisadores
descobriram que a sobrecarga de ferro preexistente é um preditor de pior
prognóstico com aumento de infecções bacterianas e fúngicas principalmente
mucormicose em pacientes com doenças hematológicas malignas ou
transplantados. Alguns trabalhos relatam a administração de deferasirox, um
quelante de ferro, no início de um câncer hematológico, já que este indiretamente
atua contra o desenvolvimento de Mucorales. O deferasirox utilizado para o
tratamento de sobrecarga de ferro em pacientes com doenças hematológicas
malignas poderia, teoricamente, diminuir a ocorrência de mucormicose (10, 65,81-
83).
A realização dos testes de suscetibilidade aos antifúngicos in vitro é
importante para padronização de algumas etapas da metodologia, como o tempo
de crescimento fúngico, temperatura de incubação, preparo do inóculo, diluição
108
dos antifúngicos e preparo do meio de cultura visto que dependendo do micro-
organismo avaliado é necessário alterar as condições do teste.
Embora estudos de correlação clínico laboratorial frente aos testes de
suscetibilidade realizados para leveduras (CLSI M27 S4) (82) estejam caminhando
para a determinação de pontos de corte para estes testes, ainda não há nada
definido para fungos filamentosos. Documentos do CLSI e EUCAST relatam
apenas alguns pontos de corte epidemiológicos para algumas espécies de
Aspergillus (83). Estudos com quantidade significativa de isolados e
acompanhamento clínico de pacientes com infecções por fungos filamentosos,
especialmente as sistêmicas, esbarram em grande número de dificuldades e ainda
são muito limitados.
5.2.2. Avaliação da Concentração Inibitória Fracional (CIF) dos isolados
de Mucorales através da metodologia do "tabuleiro de xadrez"
frente a anfotericina B x itraconazol; anfotericina B x voriconazol;
terbinafina x itraconazol; terbinafina x voriconazol e terbinafina x
anfotericina B
Através dos resultados obtidos observou-se 100% de sinergismo nas
interações entre anfotericina B x itraconazol e anfotericina B x voriconazol quando
se faz a leitura considerando valores de 100 % de inibição de crescimento visível
tanto para itraconazol quanto para voriconazol. Sinergismo de 80% e 20% de
indiferença foram observados quando considerados valores correspondentes a
50% de inibição do crescimento visível para os dois antifúngicos. O documento do
CLSI (M38 A2) preconiza leituras de 100% de inibição de crescimento, mas
considera os testes realizados com antifúngicos isolados. De acordo com os
resultados, verifica-se uma diminuição da concentração inibitória mínima obtida
tanto para anfotericina, itraconazol e voriconazol quando os antifúngicos são
associados.
109
No caso da combinação entre terbinafina x itraconazol, observou-se que
quando se faz a leitura considerando valores de 100 % de inibição de crescimento
visível para itraconazol as interações resultantes foram 90% de sinergismo e 10%
de indiferença. Sinergismo de 70% e 30% de indiferença foram observados
quando considerados valores correspondentes a 50% de inibição do crescimento
visível para itraconazol. Importante destacar que no caso da terbinafina o ideal é
fazer a combinação de antifúngicos, principalmente no caso dos isolados de
Rhizopus oryzae e Rhizopus stolonifer, uma vez que na microdiluição in vitro para
este antifúngico avaliado individualmente estes isolados são altamente resistentes.
Esta combinação foi utilizada no tratamento de um paciente com mucormicose
rino-orbito-cerebral em nossa instituição que obteve desfecho clínico favorável
conforme demonstrado no anexo 2, evidenciando que se fossem considerados
apenas os testes de microdiluição utilizando a CIM frente a terbinafina
individualmente, o paciente poderia não iniciar o tratamento com terbinafina
associada a itraconazol o que poderia conduzir a mau prognóstico.
Os resultados evidenciam o fato da combinação de terbinafina e itraconazol
poder ser utilizada no tratamento de mucormicose devido ao tipo de interação
resultante e desfecho clínico favorável, sendo importante destacar que tanto
anfotericina B, terbinafina e itraconazol podem ter contribuído para o tratamento
(anexo 2).
As interações resultantes da combinação de terbinafina x voriconazol
considerando valores de 100 % de inibição de crescimento visível para voriconazol
foram de 80% de sinergismo e 20% de indiferença. Sinergismo de 50% e 50% de
indiferença foram observados quando considerados valores correspondentes a 50%
de inibição do crescimento visível para voriconazol. Estes resultados mostram que
terbinafina combinada também com voriconazol poderia ser uma alternativa ao
tratamento de mucormicose, apesar dos Mucorales serem mais resistentes a
voriconazol individualmente em comparação com o itraconazol.
Para a combinação de terbinafina x anfotericina B houve 100% de
sinergismo, demonstrando que esta associação poderia também ser útil em
110
pacientes, diminuindo os efeitos colaterais principalmente de anfotericina B que
poderia ser utilizada em dosagens muito mais baixas do que quando avaliada
individualmente.
Estudo realizado por Dannaoui et al., (17) mostrou também que as
combinações de antifúngicos como, por exemplo, anfotericina B x terbinafina e
anfotericina B x voriconazol apresentaram sinergismo in vitro contra Mucorales.
Apesar de ser indicada primeiramente no tratamento de micoses superficiais, a
combinação de terbinafina com anfotericina B tem sido aplicada com sucesso no
tratamento de mucormicose. Suas aplicações estão sendo estendidas, uma vez
que alguns trabalhos relatam valores baixos de CIMs contra isolados de
Mucorales (18,19).
Embora as equinocandinas não demonstrem atividade in vitro contra
Mucorales em testes de sensibilidade padrão, durante a mucormicose
disseminada em ratos com cetoacidose diabética, a combinação de complexo
lipídico de anfotericina e caspofungina sinergicamente melhora a sobrevida em
comparação com a monoterapia. Estudo realizado mostrou que a terapia
combinada com anfotericina B lipossomal com micafungina ou anidulofungina
também aumentou significativamente a sobrevivência de camundongos
neutropênicos com mucormicose disseminada (10, 20,21).
De acordo com Spellberg et al., (22), a alta taxa de mortalidade de
mucormicose com monoterapia atualmente disponível, particularmente em
pacientes hematológicos, tem estimulado o interesse no estudo de novas
combinações de agentes antifúngicos no intuito de obter resultados melhores em
relação à monoterapia. Recentemente, a terapia por combinação de polienicos
lipídicos e equinocandinas é a mais promissora. Outras opções incluem a
combinação de poliênicos lipídicos com deferasirox ou posaconazol. É importante
a realização dos ensaios clínicos para determinar se os resultados destas
infecções devastadoras podem ser melhorados com novas combinações. É
fundamental a realização de ensaios controlados para comparar a eficácia da
terapia combinada com a de monoterapia. A ausência e as falhas destes estudos
111
levam a questionamentos sobre quais estratégias são mais eficazes e menos
tóxicas para esta infecção mortal. Estas abordagens como, por exemplo,
anfotericina B lipossomal combinada com fator estimulante de colônias de
granulócitos e macrófagos mostrou ser eficaz em modelos animas de
mucormicose invasiva. No entanto, estas abordagens ainda não estão
desenvolvidas como novas combinações de agentes antifúngicos, sendo
necessários mais estudos antes de serem priorizadas para investigação clínica em
larga escala.
Combinações de terbinafina ou caspofungina com anfotericina B,
posaconazol ou itraconazol foram estudadas in vitro como potenciais tratamentos
contra 18 isolados de Mucorales (Mucor irregularis). Sinergismo foi observado
para as combinações de terbinafina com anfotericina B, posaconazol, e itraconazol
contra os isolados em estudo e para as combinações de caspofungina com
anfotericina B, posaconazol, e itraconazol não sendo observado antagonismo (23).
Neste estudo não foi avaliada a combinação de anfotericina B com
equinocandinas devido à indisponibilidade desta classe de antifúngicos na forma
de sal na instituição até a finalização destes resultados.
A combinação de antifúngicos é frequentemente usada para infecções
fúngicas de difícil tratamento e poderia ser uma estratégia útil para o tratamento
de mucormicose, já que resulta em redução de toxicidade de dosagens individuais
e pode contribuir com a eficácia do tratamento, dependendo do tipo de interação
resultante entre os antifúngicos avaliados.
A realização da metodologia do "tabuleiro de xadrez" permite a combinação de
dois antifúngicos em concentrações diferentes de maneira que tanto a maior quanto a
menor concentração de um agente antifúngico combina com as respectivas
concentrações de outro antifúngico a ser testado, sendo importante para guiar o
tratamento da mucormicose, associada com os testes de suscetibilidade aos
antifúngicos isolados in vitro.
112
5.2.3. Avaliação da suscetibilidade a antifúngicos pela técnica de
avaliação dinâmica de crescimento através do sistema
automatizado Biocell - Tracer®
Existem poucos relatos sobre a avaliação dinâmica do crescimento fúngico
e sua taxa de inibição de crescimento em contato com agentes antifúngicos (41-
53) e não há relatos sobre estes testes para agentes causais de Mucoralomycosis.
Alguns estudos com outros fungos filamentosos mostraram que hifas podem
responder bem, com altas taxas de inibição de crescimento, a menores
concentrações de antifúngicos do que os conídios, sendo possível talvez
estabelecer uma melhor correlação com a evolução clínica, uma vez que as hifas
são as estruturas fúngicas presentes no tecido infectado.
Conforme a tabela 9, para a padronização do inóculo para avaliação
dinâmica de crescimento foram avaliados vários parâmetros, tais como: meio para
indução de esporulação; tempo de crescimento prévio da cultura fúngica,
concentração ideal de Poli-L-Lisina, concentração e quantidade do inóculo; tempo
e temperatura de incubação prévia com o meio de cultura RPMI; temperatura de
execução do teste; intervalos de leitura e duração do teste.
A observação de crescimento em tempo real de Rhizopus oryzae (LIF 1832)
neste trabalho, revelou um comportamento de crescimento completamente
diferente do relatado até o momento para Aspergillus sp., Fusarium sp. (49,50),
dermatófitos (51) e fungos demáceos (53). R. oryzae apresenta, em média,
crescimento de 9 μm/3min enquanto o crescimento de dermatófitos variou entre
0,35 e 2,02 μm/10min; Aspergillus entre 1,63 e 8,71 μm/10min; Fusarium sp. entre
1,0 e 6,5 μm/5min e fungos demáceos entre 0,5 e 3,5 μm/10min.
De acordo com estudos anteriores, o tempo de experimento no BCT para
Aspergillus sp., Fusarium sp., dermatófitos e fungos demáceos foi de 210 minutos,
assim distribuídos: os primeiros 30 minutos (período de pré – exposição ou
controle interno do teste) e 120 minutos na presença de antifúngico (período de
exposição) e 30 minutos finais após a retirada do agente antifúngico em teste
(período de pós-exposição)(49-51).
113
Para Rhizopus oryzae (LIF 1832) foi necessário reduzir o período de pré-
exposição para 15 minutos seguidos de 60 minutos período de exposição (tabela
9). Este padrão pode ser utilizado para a avaliação da inibição do crescimento
dinâmico frente às CIMs de AMB e TERB obtidas para conídios conforme figuras
15 e 16. Assim, apesar da CIM de TERB obtida pelo método de microdiluição em
caldo ter sido > 128 μg/mL (IC80), a taxa de inibição de crescimento avaliada com
128 µg/mL foi de 98,70%, indicando que as hifas podem responder a
concentrações mais baixas do que os esporos. Para anfotericina B a taxa de
inibição para CIM 0,25 µg/mL obtida pelo método de microdiluição em caldo
(IC100) foi de 88.25% e não houve inibição do crescimento de hifas frente à CIM
1,0 µg/ml de ITC sozinho.
De maneira controversa, resultados do teste microdiluição em caldo para
determinação de CIMs utilizando esporos mostraram alta sensibilidade do isolado
de Rhizopus oryzae (LIF 1832) frente a AMB e ITC em comparação com TERB.
Assim como o teste de combinação entre TERB e ITC mostrou sinergismo
(CIF=0.3), foi avaliado crescimento dinâmico de hifas de Rhizopus oryzae (LIF
1832) frente a combinação de terbinafina x itraconazol.
Alguns artigos relatam que compostos azólicos isoladamente ou em
combinação podem ter efeitos benéficos em modelos animais infectados por
Rhizopus sp.. e podem fornecer alternativas de tratamento para mucoralomycosis
[74-76].
De acordo com os registros do paciente, ele recebeu itraconazol 300 mg/dia
e terbinafina 250 mg/dia, que deveriam resultar em concentrações séricas médias
de 0.35 e 1,0ug/mL respectivamente e que juntamente com anfotericina B
permitiram o desfecho clínico favorável (anexo 2).
Para tentar mimetizar in vitro o sucesso terapêutico obtido in vivo as
concentrações séricas médias de itraconazol e terbinafina foram combinadas em
um mesmo experimento no BCT com tempo diferente de experimento em relação
a avaliação dinâmica de crescimento para CIMs de anfotericina B e terbinafina.
Por se tratar de concentrações extremamente baixas, foi necessário estender o
114
período de exposição (previamente padronizado em 75 minutos) (figura 21). Foi
possível observar atividade de inibição do crescimento fúngico apenas a partir de
90 minutos de experimento. A taxa de inibição obtida ao final de 150 minutos de
exposição foi de 49,3% que, embora sendo menor do que o esperado (trabalhos
anteriores descartam taxas de inibição abaixo de 50%) (47-53,86-89), ainda deve
representar um bom resultado devido ao desfecho clínico favorável do paciente
em tratamento.
Neste caso, a avaliação da inibição do crescimento, em tempo real, das
combinações das concentrações séricas de ITC e TERB diretamente sobre as
hifas do agente causal demonstraram correlação adequada com o resultado
clínico, indicando que talvez somente a avaliação destas concentrações seja
necessária para determinar a suscetibilidade do micro-organismo em questão. Se
apenas os resultados dos testes de sensibilidade realizados com esporos para
determinação de CIMs de antifúngicos isolados pela metodologia de microdiluição
em caldo tivessem sido considerados na indicação da terapêutica, provavelmente
este paciente não teria recebido TERB, já que a CIM para este antifúngico foi >
128 μg/mL (IC80).
Não foi possível atribuir a um antifúngico em particular todo o mérito do
sucesso terapêutico. No entanto, é possível inferir que mesmo a taxa de inibição
de crescimento de hifas abaixo de 50% para a combinação das concentrações
séricas de ITC e TERB pode ter contribuído para o favorável desfecho clínico.
A determinação da porcentagem de taxa de inibição no BCT atualmente
não é padronizada no sentido de predizer se o micro-organismo em teste será
sensível ou não, o fato é que trabalhos na literatura sugerem que as hifas
respondem a concentrações mais baixas do que os esporos utilizados na
metodologia de microdiluição em caldo (47-53,86-89).
A avaliação da inibição do crescimento de hifas é uma metodologia capaz
de mimetizar uma situação semelhante a que acontece nos tecidos de pacientes
infectados sendo de grande importância para predizer o potencial terapêutico de
um determinado agente antifúngico.
115
Estudos de acompanhamento do paciente com a realização dos testes de
suscetibilidade por diferentes metodologias seriam o modo ideal de estabelecer a
real correlação entre estes e o desfecho clínico. No entanto, são raras as vezes
em que isto é possível.
Cada vez mais, estudos de testes de suscetibilidade correlacionando
desfecho clínico estão sendo encorajados. Os avanços em relação aos patógenos
leveduriformes já podem ser vistos nos manuais do CLSI. Para os fungos
filamentosos, estruturas complexas e multifacetadas, ainda há muito que estudar.
Os dados deste trabalho sugerem que a forma de hifa é mais suscetível que
a forma de esporos frente aos antifúngicos avaliados, sendo a avaliação de
crescimento dinâmico uma metodologia com grande potencial preditivo para
orientação terapêutica em casos de mucormicose.
117
6. CONCLUSÕES
Os isolados foram identificados por técnicas morfológicas e moleculares,
obtendo divergência em apenas dois isolados: LIF 1237 e 1832, classificados
morfologicamente como Absidia (Lichtheimia) sp. e Rhizomucor sp. e ambos
como Rhizopus oryzae por sequenciamento.
Foi feita a padronização dos testes de suscetibilidade tanto para antifúngicos
isolados quanto em combinação, com a necessidade de novas
padronizações para outras espécies. Para os isolados de Mucorales que não
Rhizopus spp., as condições ideais para a realização dos testes de
suscetibilidade pela técnica de microdiluição em caldo foram: incubação
prévia de 2 a 3 dias a 35ºC, inóculo de 4 X 104 UFC/mL e leitura após 24
horas de incubação a 35ºC. Para o isolado LIF 1820 (R. stolonifer) o teste
deve ser realizado à temperatura ambiente; AMB e ITC foram os
antifúngicos mais ativos, enquanto MCF, 5FC e FCZ os menos ativos;
houve diferença de suscetibilidade aos antifúngicos entre as espécies;
Os testes de suscetibilidade aos antifúngicos combinados mostraram
diminuição da CIM obtida para AMB, ITC, VOR e TERB quando os
antifúngicos são associados. CIMs altas de TERB foram observadas para
os isolados de Rhizopus oryzae e Rhizopus stolonifer, em contradição aos
resultados obtidos no teste desse antifúngico isolado, ressaltando a
importância da combinação de antifúngicos no manejo de mucormicose;
118
Foi padronizada as condições da avaliação de dinâmica de crescimento
para Mucorales do gênero Rhizopus sp., sendo diferente de trabalhos
disponíveis na literatura. Para CIMs de AMB e TERB as seguintes
condições padronizadas foram: poli-L-Lisina (PLL) na concentração de
0,02% (w/v); 1 μL do inóculo de 105 esporos/mL; tempo de crescimento
prévio de 3 a 4 dias a 28º C em ágar batata dextrose; a 35oC de 16 a 24h;
35oC para execução do teste; tempo total de experimento de 76 minutos;
com intervalos de leitura a cada 3 min. Para a avaliação dinâmica de
crescimento para a combinação dos antifúngicos TER e ITC o tempo total
de experimento foi de 150 minutos.
Não foi possível atribuir a um antifúngico em particular todo o mérito do
sucesso terapêutico obtido pelo paciente em tratamento de mucormicose
decorrente do isolado R. oryzae (LIF 1832).
119
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130
ANEXO 1: Eletroferogramas ilustrando sequenciamento das regiões D1/D2 para os isolados de
Mucorales. (A) LIF 299, (B) LIF 300, (C) LIF 301, (D) LIF 1046, (E) LIF 1143, (F) LIF 1237, (G) LIF 1455,
(H) LIF 1832. (I) LIF 1820 e (J) LIF 1834. Imagens obtidas pelo software ATSQ.
132
ANEXO 2: Descrição do caso clínico
OCA, 39 anos, etilista crônico com diagnóstico de diabetes mellitus secundária e
pancreatite, é internado em 01/2011 no Hospital das Clínicas da Universidade
Estadual de Campinas, SP/Brasil com forte dor na movimentação ocular esquerda,
diminuição da visão, aparecimento de lesão pálpebra esquerda e edema. É
realizada enucleação de órbita esquerda e o abscesso orbitário é encaminhado
para pesquisa de fungos, sendo o micro-organismo isolado da cultura identificado
morfologicamente como Rhizomucor sp. (LIF 1832).
Tratamento: 21/01/11 a 16/04/11: AMB convencional e AMB lipossomal (14 dias de AMB
convencional, 7 dias de AMB lipossomal 300mg/dia, 7 dias de AMB convencional
50mg/dia EV dia como dose de manutenção, 14 dias de AMB lipossomal
200mg/dia. Em fevereiro/2011 e março/2011 é realizado os seguintes exames:
ressonância magnética de crânio que mostra crescimento do fungo em órbita
esquerda; enucleação de órbita esquerda, esvaziamento de seio etmoidal,
ressecção de duramáter e pequena porção frontal, sendo o material de tumoração
intra-orbitária encaminhado para o exame anátomo-patológico e para pesquisa de
fungos. O resultado do anátomo patológico demonstra processo inflamatório
crônico granulomatoso fúngico com extensa necrose, compatível com
mucormicose e o resultado de cultura é Rhizomucor sp. 17/04/11: Sem sinais de
reativação da doença; ocorre suspensão de AMB e paciente tem alta com os
antifúngicos: ITC 300mg/dia e TERB 250mg /dia. 27/07/11: paciente em uso de
TERB 12mg/dia e ITC 200mg/dia. 08/2011: paciente sem uso de TERB e em uso
de ITC 200mg/dia. 04/2012: Resultado de exame de ressonância magnética de
crânio sem sinais de reativação fúngica, seio frontal sem sinais de atividade
inflamatória associada e ocorre suspensão do ITC. 04/2013: Realização de
polipectomia e sinusectomia frontal; exérese de mucocele não apresentando
coleção fúngica em exame realizado. 10/2013: Ausência de sinal de reativação de
infecção fúngica. 05/2014: paciente avaliado novamente e sem sinal de reativação
da infecção fúngica.