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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU MESTRADO EM CIÊNCIAS DO ENVELHECIMENTO Líslei Rosa de Freitas IDOSO E O USO DA TECNOLOGIA: INFLUÊNCIA E APRENDIZADO DA INFORMÁTICA E INTERNET São Paulo 2018

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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU MESTRADO EM CIÊNCIAS DO ENVELHECIMENTO

Líslei Rosa de Freitas

IDOSO E O USO DA TECNOLOGIA: INFLUÊNCIA E APRENDIZADO DA INFORMÁTICA E INTERNET

São Paulo

2018

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Líslei Rosa de Freitas

IDOSO E O USO DA TECNOLOGIA: INFLUÊNCIA E APRENDIZADO DA INFORMÁTICA E INTERNET

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências do Envelhecimento da

Universidade São Judas Tadeu para obtenção do

título de Mestre.

Orientadora: Profª. Drª. Iris Callado Sanches

Co-orientadora: Profª. Drª. Carla Witter

São Paulo 2018

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho à Vila Espaço Cultural, que foi um sonho realizado

com minha amiga e sócia, Margareth Andrade a quem também dedico esse

trabalho e aos alunos que contribuíram para essa pesquisa.

Aos meus pais, maiores amores da minha vida a quem dedico todas as

minhas vitórias.

Aos meus irmãos, que mesmo não entendendo porque estudar tanto me

apoiaram.

Ao Alecsandre, companheiro de todas as horas, uma pessoa especial,

presença diária de amor e dedicação.

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AGRADECIMENTO

Em primeiro lugar agradeço à Deus pela presença constante em minha

vida, pois sem Ele nada é possível.

Aos meus pais que acreditaram e me apoiaram desde o início dessa

jornada e, em momentos de desamino me deram palavras de conforto.

Ao meu namorado Alecsandre que, compreendeu a falta de tempo e abriu

mão de muitos momentos agradáveis para que eu mantivesse o foco na

pesquisa e me ensina a compreender o sentido da palavra esperança.

Agradeço a minha orientadora Iris Callado Sanches pela humildade em

que me auxiliou na condução desse trabalho, paciência e compreensão.

À Diretora Carla Witter que desde 2012 me incentivou a concluir esse

curso e hoje é co-orientadora desse trabalho.

Meu agradecimento especial à minha amiga Ana Maria Melo que deu o

“empurrão” ao qual eu precisava para inserir-me nesse programa de mestrado e

me ajudou do início ao fim, com sua experiência e sabedoria.

À minha amiga Dumara Sameshima que me deu exemplos de vivência e

de como conduzir um mestrado com imensa sabedoria e paciência.

À minha amiga Nilza Santos que por fim recrudesceu minhas experiências

em pesquisa científica.

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“Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre.”

“Viver é envelhecer, nada mais.”

Simone de Beauvoir

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Freitas, L. R. de. Idoso e o uso da tecnologia: influência e aprendizado da informática e Internet Dissertação apresentada e defendida no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências do Envelhecimento (Mestrado). Universidade São Judas Tadeu, USJT, São Paulo, 2018.

RESUMO

O termo envelhecimento ativo é considerado um dos termos mais estudados nos últimos anos e reconhecido pela Organização Mundial da Saúde como uma fase em que o idoso precisa estar ativo na sociedade, economicamente, socialmente e com saúde e bem-estar. A velocidade de mudança da tecnologia e as facilidades de acesso, faz com que o uso da mesma esteja cada vez mais presente na vida da pessoa independentemente da idade. Em relação ao idoso pode se dizer que a tecnologia tem papel importante no processo do envelhecimento ativo. O presente trabalho teve por objetivo analisar a influência que o aprendizado e o uso da tecnologia (informática e Internet) exerce na vida do idoso. Foi realizada uma pesquisa qualitativa por meio de um estudo de caso e observação, com doze idosos (idade entre 60 e 80 anos). A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas semi-estruturadas em um Espaço Cultural Sênior localizado na Grande São Paulo e para a análise utilizou-se a exploração do material, tratamento, inferência e interpretação dos dados. Os resultados demonstraram que após o aprendizado e o uso das tecnologias os idosos estudados obtiveram ganhos como: aumento da autoestima, melhora na autonomia, independência, inclusão social e digital, entre outros. Palavras-chave: terceira idade, envelhecimento ativo, tecnologia, informática, internet, aprendizagem.

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Freitas, L. R. de. Elderly and the use of technology: influence and learning of computer and Internet Dissertation presented and defended in the Stricto Sensu Postgraduate Program in Aging Sciences (Master degree). São Judas Tadeu University, USJT, São Paulo, 2018.

ABSTRACT

The term active aging is considered one of the most studied terms in recent years and recognized by the World Health Organization as a stage in which the elderly must be active in society, economically, socially and with health and well-being. The speed of change of the technology and the facilities of access, makes the use of it is increasingly present in the life of the person regardless of age. In relation to the elderly, it can be said that technology plays an important role in the process of active aging. The present work had the objective of analyzing the influence that the learning and the use of technology (informatics and internet) exercises in the life of the elderly. A qualitative study was carried out through a case study, with twelve elderly individuals (age between 60 and 80 years). Data collection was done through semi-structured interviews at a Senior Cultural Space located in Greater São Paulo and for the analysis the material exploration, treatment, inference and interpretation of the data were used. The results showed that after the learning and the use of the technologies the studied elderly obtained gains such as: increased self-esteem, improved autonomy, independence, social and digital inclusion, among others. Keywords: third age, active aging, technology, computer science, internet, learning.

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LISTA DE SIGLAS AVD Atividade de Vida Diária

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ILC-Brazil Centro Internacional da Longevidade-Brasil

OMS Organização Mundial da Saúde

TIC Tecnologia da Informação e Comunicação

UATI Universidade Aberta da Terceira Idade

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SUMÁRIO 1. Introdução .................................................................................................................................... 11

1.1 - Objetivo geral ........................................................................................................................... 12

1.2 - Objetivos específicos ................................................................................................................ 12

1.3 - Justificativa ............................................................................................................................... 13

1.4 - Delimitação do tema ................................................................................................................ 14

1. Trajetória do pesquisador ............................................................................................................ 15

2. Referencial teórico ....................................................................................................................... 17

3.1 - O processo de Envelhecimento ................................................................................................ 17

3.2 - Aspectos Físicos do Envelhecimento ........................................................................................ 18

3.3 - Aspectos Psicológicos do Envelhecimento ............................................................................... 19

3.4 - Aspectos Sociais do Envelhecimento ........................................................................................ 20

3.5 - Envelhecimento Ativo .............................................................................................................. 21

3.6 - Tecnologia no processo do envelhecimento ............................................................................ 23

3. MÉTODO ...................................................................................................................................... 25

4.1 - Tipo de estudo ......................................................................................................................... 25

4.2 - Campo de estudo ..................................................................................................................... 26

4.3 - Participantes do estudo ........................................................................................................... 26

4.4 - Coleta das Informações ............................................................................................................ 28

4. Resultados e Discussão ................................................................................................................ 30

5.1 - Mudanças na vida dos idosos: Como a tecnologia influenciou a mudança na vida dos

participantes entrevistados .............................................................................................................. 31

5.2 - Aprendizagem: Os benefícios da aprendizagem e das novas descobertas na vida do idoso .... 35

5.3 - Autoestima: Como o uso da Tecnologia valorizou a autoestima do idoso e o fez reconhecer

que é capaz e criativo. ...................................................................................................................... 39

5.4 - Independência e autonomia: A Independência conquistada na vida dos idosos a partir do uso

dos recursos tecnológicos em seu cotidiano .................................................................................... 43

5.5 - Inclusão: A inclusão social e digital dos entrevistados a partir do uso das tecnologias ............ 46

5. Considerações finais ..................................................................................................................... 49

6. REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 52

APÊNDICES ........................................................................................................................................... 58

Apêndice 1: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .............................................................. 59

Apêndice 2: Pesquisa socio-demográfica ......................................................................................... 61

Apêndice 3: Quadro de categorias de análise .................................................................................. 63

Apêndice 4: Esquema de convergências .......................................................................................... 71

ANEXO 1 – Autorização para coleta de dados .................................................................................. 72

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1. Introdução

O aumento da população idosa já é considerado um fenômeno mundial e, o

Brasil é um dos países onde mais cresce o número de pessoas com mais de 60 anos.

O processo de envelhecimento ocorre com todas as pessoas desde o momento do

nascimento, porém começa a ser perceptível com o passar dos anos (SALDANHA;

CALDAS, 2004). O desenvolvimento ao longo da vida é um processo contínuo, onde

ocorrem mudanças por influências genético-biológicas e socioculturais, marcado por

ganhos e perdas concorrentes e por interatividade entre o indivíduo e a cultura. (NERI,

2006).

Segundo Lima et al. (2010), o envelhecimento deve ser analisado do ponto de

vista biológico, psíquico, social e funcional e não apenas no aspecto cronológico. No

enfoque físico o envelhecimento é percebido no corpo; no psicológico na lentidão

mental, nos estados depressivos, nas dificuldades de adaptação à novas realidades

impostas pelo mundo moderno; no lado social, pela perda de papeis sociais que,

geralmente, deixam o idoso a margem da sociedade considerada ativa. Embora o

processo de envelhecimento seja inerente ao ser humano, não ocorre igualmente para

todas as pessoas, depende da maneira em que se viveu, da alimentação, de atividade

física, do bom humor e até das características culturais.

Dados do IBGE1 indicam que de 1940 a 2016, a expectativa de vida do

brasileiro subiu mais de 30 anos, vivendo em média 75,8 anos. O aumento dessa

expectativa pode ser explicado pela incorporação dos avanços da medicina às

políticas de saúde pública. Matsudo, Matsudo e Barros Neto (2001) justificam esse

ganho em número de anos ao envelhecimento saudável ou envelhecimento ativo.

O termo “Envelhecimento Ativo” foi adotado pela Organização Mundial da

Saúde (OMS), para expressar o envelhecimento como uma experiência positiva que

traduz uma vida mais longa acompanhada de oportunidades contínuas de saúde,

participação e segurança. Gordilho et al. (2001) define que envelhecimento ativo está

1Tábua completa de mortalidade para o Brasil – 2016. https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/18469-expectativa-de-vida-do-brasileiro-sobe-para-75-8-anos . Acesso em 30/07/2018

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relacionado com a participação ativa do idoso na sociedade, na economia, nas

questões espirituais e civis com saúde e bem-estar físico, psíquico e social.

Inserir o uso das novas Tecnologias de Informação e Comunicação na vida do

idoso faz parte das definições da OMS para o envelhecimento ativo. A Internet ajuda

os idosos a interagir, a utilizar as redes sociais para se comunicar com outras pessoas,

a realizar pesquisas e novas descobertas, além de conhecer novos lugares, evitando

o isolamento e a solidão, reforçando concepções propostas pelas teorias do

Envelhecimento Ativo (CASADO-MUÑOZ; LEZCANO; RODRÍGUEZ-CONDE, 2015).

Os avanços da medicina e da indústria farmacêutica contribuem para o

aumento da expectativa de vida e da longevidade, propiciando um envelhecimento

mais saudável e ativo. Porém a sociedade não está preparada para oferecer qualidade

de vida às pessoas que estão envelhecendo com saúde. Portanto, os idosos

necessitam adequar seus conhecimentos e habilidades nos novos conceitos do

mundo contemporâneo e, inserir as tecnologias disponíveis em seu cotidiano de

forma a aumentar o seu bem-estar e qualidade de vida.

Diante do exposto à questão a ser estudada neste trabalho é: Qual a influência

que o aprendizado e a utilização da informática e Internet exercem na vida do idoso?

Na busca da solução da questão proposta, a seguir são apresentados os

objetivos da pesquisa.

1.1 - Objetivo geral

O presente estudo teve como objetivo geral analisar a influência que o

aprendizado e a utilização da informática e Internet exercem na vida do idoso.

1.2 - Objetivos específicos

• Identificar quais recursos da tecnologia são mais utilizados pelos idosos;

• Compreender as dificuldades enfrentadas pelos idosos com relação ao uso das

tecnologias;

• Analisar os ganhos obtidos pelos idosos com a utilização das tecnologias da

informação e comunicação.

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1.3 - Justificativa

A expectativa de vida no Brasil, segundo o IBGE já alcançou 75,8 anos. A

pirâmide etária mostra graficamente a classificação e quantidade da população de

uma determinada localidade conforme a idade dividindo-as por sexo. Podemos

observar a distribuição da população comparando os anos de 2013, 2040 e 2060, que

a pirâmide está invertendo. Pessoas com mais de 65 anos alcançarão um quarto dos

brasileiros em 2060, segundo a projeção do IBGE.

Fonte: IBGE. Diretoria de Pesquisas. Coordenação e Indicadores Sociais. Projeção da população por sexo e idade para o Brasil, grandes regiões e Unidade da Federação, 2013.

O aumento dessa população leva à necessidade de uma maior incidência de

pesquisas voltadas à chamada terceira idade2. Esse aumento da expectativa de vida,

somado ao avanço tecnológico, que abre novas fronteiras para melhoria da qualidade

de vida, faz recrudescer a necessidade de pesquisas que analisem o uso de novas

tecnologias pela população idosa e contribuam para maior compreensão deste

universo.

Em relação ao uso de tecnologias, embora esteja popularizada, ainda é uma

realidade que não está inserida no mundo dos idosos por completo, porém o interesse

vem aumentando por parte desse público. Segundo o IBGE a proporção dos idosos

que acessam a Internet subiu de 24,7% (2016) para 31,1% (2017) e mostrou o maior

2 Considerada população acima de 60 anos no Brasil.

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aumento proporcional (25,9%) entre os grupos etários analisados pela Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - PNAD Contínua3. Kachar (2010),

afirma que a interação do idoso com a Informática, oportuniza possibilidades de

desenvolvimento das habilidades no computador, onde aparecem contribuições

significativas no aspecto cognitivo e social do envelhecimento e é uma oportunidade

para tirar o idoso da sua zona de conforto.

Cabe aqui correlacionar o aumento da longevidade ao uso de ferramentas da

tecnologia. Se se vive mais e novas tecnologias se apresentam como agentes

possíveis de transformação do indivíduo, um estudo sobre a influência do uso da

informática e internet na vida do idoso pode contribuir para entendimento de questões

relacionadas ao processo de envelhecimento, especialmente do envelhecimento ativo

e suas interações com as demais necessidades advindas de uma vida mais longa.

1.4 - Delimitação do tema

Este projeto de pesquisa delimitou-se em coletar as informações sobre as

influências ocorridas na vida de idosos ativos após a aprendizagem das Tecnologias

de Informação e Comunicação com idosos ativos, alunos de um Espaço Cultural

Sênior, que estudam o uso da informática e Internet. Esse espaço fica localizado na

Cidade de Guarulhos – Grande São Paulo, no ano de 2018.

3 https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/23445-pnad-continua-tic-2017-internet-chega-a-tres-em-cada-quatro-domicilios-do-pais

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1. Trajetória do pesquisador

A inspiração para essa pesquisa veio da minha experiência profissional e

convivência com o idoso no âmbito social e de aprendizagem contínua. O contato

diário e a convivência com esse público, me despertou a vontade de fazer mais por

eles e aprender sobre essa fase da vida.

A partir das afirmações de Minayo (2010), faço minhas primeiras reflexões.

Segundo a autora, o pesquisador deve mostrar quais foram as razões que o levou à

sua investigação e em quais condições isso se fez real. Este relato permite ao leitor

ressignificar seus achados, posicionar sua perspectiva e também se posicionar diante

dele. Desta forma devo explicitar que o relato que farei nas próximas linhas é resultado

de minha experiência vivida com a terceira idade.

Desde a minha formação inicial estive na área de Informática, tendo concluído

o ensino médio técnico em Processamento de Dados e dando sequência nos estudos,

me formei em Análise de Sistemas.

A partir de 2003, inicio minha carreira docente, ministrando aulas de

informática, face que me abriu as portas da docência na Educação Superior no curso

de Ciência da Computação e Administração de Empresas. Em 2005, ao chegar numa

universidade de grande porte na grande São Paulo, surge a oportunidade de

desenvolvimento de projetos sociais, que me conduziu à coordenação da

Universidade Aberta da Terceira Idade (UATI).

Pela minha paixão e dedicação a esse projeto, fiquei à frente da coordenação

da UATI por sete anos. Nesse tempo e, com o sucesso do Projeto, pude identificar as

necessidades que os idosos demonstravam ter, em termos de socialização,

aprendizado contínuo, de necessidade de projetos de curto prazo, “escuta” adequada

e de busca de autocuidado. Percebi também que esses idosos estavam caminhando

ou buscando o caminho para um Envelhecimento Ativo.

Em 2014, ciente dessa necessidade e preocupada em oferecer para os idosos

um espaço com qualidade, me associo a uma psicóloga onde, juntas, criamos um

Espaço Cultural Sênior na grande São Paulo, com intuito de oferecer, um espaço de

educação contínua em diversas áreas, interação social e cultural tendo o idoso como

protagonista. Neste espaço ministro aulas de Informática e de como utilizar a

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Tecnologia, englobando a desmitificação do uso de equipamentos (computadores e

celulares) bem como o desembaraço do idoso na utilização da Informática e da

Internet.

Ao observar a alegria das pessoas ao concluir as aulas e perceber como os

idosos se sentem pleno, vitoriosos e vigorosos ao aprenderem a utilizar a tecnologia.

Nesse momento eu vejo que minha experiência com o público Sênior se junta com a

ânsia de buscar fundamentos para as observações ingênuas. Então, em 2016

ingresso num programa de mestrado, com a clara intensão de compreender e

aprofundar, a luz dos referencias teóricos disponíveis, o que muda na vida dos idosos

o fato de aprender uma tecnologia como a Informática e a Internet.

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2. Referencial teórico

3.1 - O processo de Envelhecimento

O aumento da população idosa no Brasil é considerável e significativo. O censo

demográfico de 2010 (IBGE, 2010, 2013) revela que a população de idosos foi

quantificada em 11.849.450, houve um salto de 8,17% em 2016, chegando a

16.871.719 idosos. As estimativas indicam que em 2025 atinja 11,30% da população.

“O Brasil tem um dos processos de envelhecimento populacional mais velozes no

conjunto dos países mais populosos do mundo.” (KRONBAUER et al., 2009, p. 82).

Com o passar dos anos, a expectativa de vida também muda. Hoje no Brasil, essa

expectativa é de 76 anos.

A expectativa de vida é a média do número de anos de vida que restam para uma população de indivíduos, todos da mesma idade, normalmente expresso desde o nascimento como o número médio de anos de vida que os recém-nascidos tenham expectativa de viver. (SPIRDUSO, 2005, p. 13)

O processo de envelhecimento ocorre de forma gradativa. Matsudo, Matsudo e

Barros Neto (2001) enfatizam que os efeitos negativos do processo de envelhecer

podem ser alterados por cuidados e atenção necessários. Cada indivíduo é dotado

de características genéticas próprias e vive um determinado estilo de vida, as

mudanças geradas pelo envelhecimento ocorrem de forma distinta para cada pessoa.

Entretanto, pode-se dizer que mudanças nos aspectos físicos, psicológicos e sociais

são comuns a todos.

Por outro lado, se essas alterações são gradativas e naturais e, acontecem de

forma diferente para cada um, considerando além dos fatores genéticos o estilo de

vida, pode-se afirmar que é possível retardar e minimizar perdas. Para tanto, é

necessário que, durante a vida, costumes como a prática de exercícios físicos,

alimentação adequada, exposição moderada ao sol, postura positiva perante a vida e

o envelhecimento, estimulação mental, controle do estresse, apoio psicológico, façam

parte da rotina das pessoas desde a juventude (ZIMERMAN, 2000). Questões essas

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que também são consideradas por Neri (2006) que afirma que esses processos não

são independentes.

Os limites da plasticidade individual dependem das condições histórico-culturais, condições essas que refletem na organização do curso de vida dos indivíduos e das coortes. (NERI, 2006 p. 19)

Segundo Neri (2006), o processo biológico normativo de envelhecimento inclui

a diminuição da plasticidade comportamental, ou seja, a possibilidade de mudar para

adaptar-se ao meio e, ocorre também a diminuição da resiliência biológica que é a

capacidade de enfrentar e de recuperar-se dos efeitos da exposição a doenças,

acidentes ou incapacidades.

3.2 - Aspectos Físicos do Envelhecimento

O envelhecimento cronológico acontece desde a infância afirmam Saldanha e

Caldas (2004), no entanto as mudanças no aspecto físico são percebidas com o

passar do tempo. Independente das causas biológicas do envelhecimento, o idoso

apresenta perdas graduais da elasticidade do tecido conjuntivo, um aumento da

quantidade de gordura no organismo, uma diminuição do consumo de oxigênio e da

quantidade de água e uma diminuição da força muscular (LIMA; DELGADO, 2010).

Cada vez mais, esse “passar do tempo” para o envelhecimento, ou as revelações da

idade no corpo, está se retardando, devido a melhoria na qualidade de vida e a

preocupação em prevenir doenças associada à boa alimentação, atividades físicas e

o avanço da farmacologia e da medicina (ZIMERMAN, 2000).

Há 20 anos, uma pessoa de 65 anos podia ser vista como velha. Hoje é difícil vê-la enquadrada nos moldes da terceira idade. Não vejo uma pessoa dessa idade com grandes desgastes e muitas limitações (ZIMERMAN, 2000, p. 21).

O autor afirma ainda que ocorrem mudanças físicas externas e internas no

idoso. As mudanças externas são aparentes como: as bochechas se enrugam e

embolsam, aparecem manchas escuras na pele, a produção de células novas diminui,

a pele perde o tônus tornando-se mais flácida, os olhos ficam mais úmidos,

encurvamento postural devido à modificação na coluna vertebral e a diminuição da

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estatura pelo desgaste das vértebras. As modificações internas são: os ossos

endurecem, os órgãos internos atrofiam-se, o olfato e o paladar diminuem, o

metabolismo fica mais lento, a visão de perto piora devido à falta de flexibilidade do

cristalino, perda auditiva e aumenta a insônia (ZIMERMAN, 2000). Os aspectos

biológicos e de saúde física podem ser observados e avaliados por meio da

autopercepção de saúde, pelo uso de medicamentos contínuos, número de

internações hospitalares, fatores esses advindos do processo de envelhecimento

humano nos últimos anos e pela presença de patologias como: diabetes melitus,

hipertensão arterial sistêmica, doenças pulmonares, reumatismo, déficit visual e

auditivo, câncer e outros (CAMPOS; MACIEL; OLIVEIRA GUERRA, 2007).

As chances do idoso se apresentar como dependente, aumenta com a aparição

dessas características físicas levando em consideração a idade e o passar dos anos

(LIMA; DELGADO, 2010). Segundo Santana et al. (2005), um dos fatores que mais

contribuem para o mal-estar do idoso é a dependência, ou seja, onde idosos passam

a ter que ser ajudado em todas suas atividades da vida diária (AVD). São inevitáveis

as transformações físicas na terceira idade, tais transformações exigem mudança de

hábitos e, muitas vezes a inexistência de um papel específico na sociedade o que faz

surgir a sensação de inutilidade ou de alguém que não é mais necessário

(SPIRDUSO, 2005). No entanto, Kronbauer et al. (2009) afirma que, para não ocorrer

esse processo desagradável da dependência do idoso com o passar dos anos, devido

essas transformações, elas deve ser observadas e minimizadas com a manutenção

da capacidade funcional que automaticamente melhora a dependência da pessoa.

3.3 - Aspectos Psicológicos do Envelhecimento

Além das mudanças físicas percebidas no corpo, o envelhecimento traz ao ser

humano mudanças psicológicas que podem resultar em: dificuldade de se adaptar em

novos papeis e de planejar o futuro, falta de motivação, necessidade de trabalhar as

perdas sejam orgânicas, efetivas ou sociais, baixa autoestima e autoimagem,

depressão, somatização e até alterações psíquicas que exigem tratamento

(ZIMERMAN, 2000). Por isso, é importante observar e estudar os aspectos

psicológicos do envelhecimento.

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As características psicológicas do envelhecimento, assim como as físicas,

estão ligadas com a hereditariedade, com a história e atitude de cada indivíduo. As

pessoas mais otimistas apresentam uma condição melhor de se adaptaram às

transformações advindas do envelhecimento e, portanto, estão propensas a lidar com

a velhice mais facilmente, ver como um momento de maturidade, experiência

acumulada, de liberdade para assumir novas ocupações e até mesmo de liberação de

certas responsabilidades (ZIMERMAN, 2000).

Os sintomas de depressão observados em exames de pacientes idosos é um

importante aspecto psicológico advindo do processo de envelhecimento. A depressão

pode preceder o sentimento de incapacidade, com uma importância significativa no

desencadeamento e no agravamento do declínio funcional, há também sintomas

relacionados como a perda do sono, perda do prazer nas atividades habituais e

sexuais (HARRIS et al., 2006).

Segundo Freitas et al. (2006), a percepção do próprio declínio funcional pode

em si ser causa de depressão em pacientes dementes. Ademais, constata-se que

idosos deprimidos apresentam maior risco de desenvolver demência.

Outro fator que caracteriza o aspecto psicológico no envelhecimento esta

ligado há algumas mudanças do sistema nervoso no plano neuranâtomico (redução

da massa cerebral), neurofisiológico (diminuição dos números e do tamanho dos

neurônios e perda da eficácia dos contatos sinápticos) e neuroquímica (redução da

concentração de neurotransmissores, entre eles a dopamina) (RAZ; RODRIGUE,

2006). Porém muitas características positivas são encontradas no aspecto

psicológico, dentre elas estão à sabedoria, o amadurecimento emocional, a

capacidade de desenvolver estratégias de adaptação eficazes (LIMA; DELGADO,

2010).

3.4 - Aspectos Sociais do Envelhecimento

Os eventos ponderados por idade relacionados aos aspectos sociais, estão

relacionados ao cumprimento de tarefas evolutivas que envolve a família, a educação,

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o trabalho, as instituições e as políticas sociais (NERI 2006). É comum o idoso se

sentir isolado da sociedade, que em geral, está voltada para diferentes interesses

onde esses eventos vão se perdendo ao passar do tempo. Nesse apecto, o idoso tem

a tendencia de se fechar em seus pares ou isolar-se devido a dificuldade de inserção

grupal, para evitar conflitos que possam surgir desta diversidade de interesses e

hábitos entre ele e as gerações mais novas (VIEIRA, 2004). Isso reflete na alteração

de comportamento e relacionamento do idoso com outras pessoas em função de

umas série de características que vem acontecer nesse período da vida (ZIMERMAN,

2000).

Zimerman (2000) descreve essas características de ordem social da seguinte

maneira: baixa da autoestima devido a perda de papeis sociais que pode provocar

uma crise de identidade; mudanças e/ou adequação à novos papeis seja na sociedade

ou na família; atenção para não se isolar ou deprimir após à aposentadoria, já que

hoje em dia, depois que se aposenta ainda restam anos de vida produtivo; o volume

de perdas significativas que podem ser de ordem financeira, perdas de amigos ou

parentes, perda da independencia ou da autonomia; diminuição dos contatos sociais.

Todos esses aspectos sociais devem ser analisados na sua complexidade, impacto

na qualidade de vida e no envelhecimento ativo.

Existem vários outros aspectos sociais que acarretam mudanças na vida da

pessoa idosa. Uma delas citada por Fernandes e Santos (2007) é a diminuição do

status social do idoso, das suas habilidades e de seus conhecimentos, tornando suas

contribuições sociais imediatas menos relevantes.

3.5 - Envelhecimento Ativo

Em 2002, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou o marco político do

envelhecimento ativo na Assembleia das Nações Unidas do Envelhecimento, como o

processo de otimizar as oportunidades para saúde, participação e segurança de modo

a aumentar a qualidade de vida à medida em que as pessoas envelhecem. O Centro

Internacional da Longevidade-Brasil (ILC-Brazil) acrescentou um quarto pilar: o da

‘aprendizagem ao longo da vida’ no documento “Envelhecimento Ativo: Um Marco

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Político em resposta à Revolução da Longevidade”4. Alexandre Kalache5

complementa a informação da Revista Exame de Janeiro de 2017, onde descreve

que, na prática essa definição pressupõe o acúmulo de quatro pontos essenciais para

o bem envelhecer: saúde, capital intelectual, capital social e o financeiro e quanto mais

cedo começar a acumulá-los melhor, porém nunca é tarde demais.

A palavra “ativo” não significa apenas a capacidade de estar fisicamente ativo,

mas refere-se à participação em questões sociais, econômicas, espirituais e civis, ou

seja, mesmo que o indivíduo se aposenta ou apresenta alguma doença que necessite

de cuidados, ele pode contribuir ativamente para a sua comunidade, sociedade,

familiares, companheiro e país. Segundo a OMS, o termo “saúde” tem relação com o

bem-estar físico, mental e social. Portanto, os programas de envelhecimento ativo e

as políticas que promovem saúde mental e relações sociais são tão importantes

quanto aquelas que melhoram as condições físicas de saúde (GONTIJO, 2005). A

ideia de Assis (2005) corrobora com a afirmação acima, quando destaca a

participação do idoso com engajamento continuado na vida, portanto não limitado a

habilidade do indivíduo a se manter fisicamente ativo ou inserido no mercado de

trabalho.

Existem influências, de um conjunto de determinantes, que interagem para o

envelhecimento ativo que são: econômicos, comportamentais, pessoais, ambiente

físico, social e os serviços de saúde. No entanto as políticas públicas devem articular

ações nos seus diversos setores voltadas à esses determinantes (ASSIS, 2005).

Paralelamente às necessidades de ações públicas voltadas para o envelhecimento

ativo, a Política Nacional de Saúde do Idoso no Brasil assumiu como proposta base a

promoção do envelhecimento saudável (GORDILHO et al., 2001).

Os hábitos saudáveis incluem: alimentação balanceada, prática regular de exercícios físicos, convivência social estimulante, atividade ocupacional prazerosa e mecanismos de atenuação do estresse. (ASSIS, 2005, p. 4)

4 O documento “Envelhecimento Ativo: Um Marco Político em resposta à Revolução da Longevidade” está disponível no site www.ilcbrazil.org. 5 Presidente Centro Internacional da Longevidade – Brasil

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A divulgação dessas ações como forma de processos educativos, são feitas

por meio da utilização de diversos recursos e meios disponíveis, tais como:

distribuição de cartilhas e folhetos, desenvolvimento de campanhas em programas

populares de rádio; veiculação de propagandas na televisão; treinamento de agentes

comunitários e ações para estimular os cidadãos na adoção de comportamentos

saudáveis (GORDILHO et al., 2001). Portanto, existem diversas ações no âmbito

público e particular, inclusive de organizações não governamentais que incentivam o

envelhecimento ativo e saudável.

Villas-Boas et al. (2017), reforçam a perspectiva de envelhecimento ativo da

OMS afirmando que o envelhecimento é uma experiência positiva para todas as

pessoas, o envelhecer deve ser acompanhado de oportunidades contínuas que

contribuam para expandir a esperança de continuar a viver uma vida saudável e com

qualidade.

3.6 - Tecnologia no processo do envelhecimento

Para estimular o Envelhecimento Ativo dentro das definições da Organização

Mundial da Saúde, uma das visões mais recentes e inovadoras é o de promover o uso

das novas Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC (MAIS; EM, 2016). Cresce

o interesse dos pesquisadores em verificar os benefícios para os idosos que

aprendem e usam a Internet. A Internet assim como as TICs ajudam esse público a

aumentar a comunicação, evitar o isolamento e a solidão e, em resumo, a promover

o envelhecimento ativo (CASADO-MUÑOZ; LEZCANO; RODRÍGUEZ-CONDE,

2015).

Sabemos que a tecnologia é mutante e, quando pensamos que estamos com

um equipamento de última geração, já está fadado a e ser substituído. Para os jovens

essa transição é mais fácil de ser assimilada e reconhecida do que para as pessoas

mais velhas, porém vem aumentando o interesse pelas TICs por esse público, mas

ainda existe uma barreira entre tecnologia e idoso. Eles necessitam de um tempo

maior para aprender e assimilar o mecanismo dos equipamentos, que nem sempre

apresentam uma interface amigável ao universo e às características do idoso, tendo

em vista o tamanho das letras e dos ícones, contraste de cores e até o design não

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muito intuitivo (KACHAR, 2010). A autora afirma ainda que a interação do idoso com

a informática de forma apropriada, ou seja, dentro de uma didática específica para o

público, aponta para as possibilidades de desenvolvimento de habilidades no

computador e apresentam contribuições significativas associadas aos aspectos social

e cognitivo no envelhecimento (KACHAR, 2010). No entanto esse movimento de

inserção digital do idoso é uma oportunidade para tirá-lo da sua zona de conforto e

rotinas diárias, além de promover novos conhecimentos que venham a contribuir para

o envelhecimento ativo (LIMA et al., 2016).

Existe uma tendência de que seja despertada no idoso a consciência de que o

uso das TICs venha trazer mais integração social e autonomia no seu cotidiano, porém

as habilidades para o uso das ferramentas do computador assim como do celular,

para a faixa etária de 60 anos ou mais, ainda é limitado e existe uma subutilização

dos recursos oferecidos e que poderiam ser muito úteis para os idosos (KACHAR,

2010). Segundo a autora, quando o aprendizado da informática é alcançado por esse

público, dentro de estruturas de ensino adequadas e específicas, acontece

contribuições significativas associadas ao aspecto social e cognitivo no

envelhecimento.

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3. MÉTODO

4.1 - Tipo de estudo

O presente estudo será desenvolvido na modalidade Qualitativa, essa

modalidade é compreensiva ou interpretativa, ou seja, o comportamento da pessoa é

derivado de suas crenças, percepções, sentimentos e valores e, tem sempre um

sentido e um significado que não é possível identificar de modo imediato, precisando

ser descoberto (MANZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1999).

Os estudos denominados qualitativos têm como preocupação fundamental o estudo e a análise do mundo empírico em seu ambiente natural. Nessa abordagem valoriza-se o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo estudada. (GODOY, 1995 p. 62)

A pesquisa tem um caráter de estudo de caso e utilizou a observação nas

abordagens. Foi escolhido esses caráter por ser bem delimitado com seus contornos

claramente definidos no desenrolar do estudo, algumas características do estudo de

caso corroboram com essa pesquisa, como: as descobertas mesmo com

pressupostos teóricos como estrutura básica; a interpretação em contexto a fim de

compreender melhor a manifestação geral de um problema, os comportamentos e

interações das pessoas que devem ser relacionadas à situação especifica da

problemática determinada; retrata a realidade de forma completa e profunda; revelam

experiencia vicária e permitem generalizações naturalísticas e os relatos de estudo

de caso utilizam uma linguagem e uma forma mais acessivel do que os outros

relatorios de pesquisa. (LÜDKE; ANDRÉ, 1986).

Tanto quanto a entrevista, a observação ocupa um lugar privilegiado em

pesquisas educacionais, pois possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador

com o pesquisado. A experiência direta é sem dúvida o melhor teste de verificação da

ocorrência de um determinado fenômeno, afirma Lüdke e André (1986).

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O observador pode recorrer aos conhecimentos e experiencias pessoais, como auxiliares no processo de compreensão e interpretação do fenômeno estudado. A introspecção e a reflexão pessoal tem papel importante na pesquisa. (LÜDKE; ANDRÉ, 1986 p. 26).

A pesquisa qualitativa com caráter de estudo de caso e observação,

compreende e valida os conhecimentos, que não se reduz a um montante de dados

isolados, pois parte de um fundamento de que existe uma relação dinâmica entre o

mundo real e o sujeito, uma interdependência real e ativa entre o sujeito e o objeto,

uma ligação inseparável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O objeto

não é um dado inerte e neutro ele está munido de significados e de relações que os

sujeitos criam em suas ações (CHIZZOTTI, 2003).

4.2 - Campo de estudo

O estudo foi realizado com alunos de informática e Smartphone de um Espaço

Cultural Sênior - A Vila Espaço Cultural, universo de pesquisa aqui escolhido por ser

dedicado exclusivamente à formação desta faixa etária voltado para o

desenvolvimento de atividades, de ensino e de lazer para a terceira idade, localizado

na grande São Paulo, com a autorização prévia (anexo 3). O Espaço é uma iniciativa

do setor privado e existe a cinco anos, sendo dedicado exclusivamente, para a

educação contínua de idosos.

4.3 - Participantes do estudo

Participaram da pesquisa 12 idosos, com idade mínima de 60 anos e máxima

de 80 anos. A seleção dos participantes considerou também o fato de todos serem

alunos dos cursos de tecnologia – Informática e Smartphone da A Vila Espaço

Cultural.

Identificou-se que sete idosos pesquisados moram sozinhos, quatro moram

com mais uma pessoa e um mora com mais de 3 pessoas na mesma casa. Todos

possuem aparelho de celular e o utiliza diariamente, porém um não é smartphone.

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Desses, 11 possuem Internet móvel e Wi-Fi em suas residências e utilizam a Internet

diariamente.

Em relação ao acesso à tecnologia, 11 participantes utilizam o Smartphone

para acesso a redes sociais e para fazer pesquisas. Entretanto, salientaram que

também gostam de utilizar o computador para acessar as redes sociais e utilizar

programas que estimulam a criatividade, como por exemplo o Photoshop.

Para participar do estudo, os idosos atenderam os seguintes critérios de

inclusão:

• Ser alfabetizado;

• Ter condições de responder ao instrumento de pesquisa;

• Ser ou ter sido aluno de informática e/ou smartphone da A Vila Espaço

Cultural Sênior;

• Terem entre 60 e 80 anos de idade.

Não foram estabelecidos critérios de exclusão. Não houve necessidade de

limitar a participação dos idosos devido ao delineamento de pesquisa.

Os participantes receberam todas as informações relativas aos objetivos e à

metodologia da pesquisa constantes no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(Apêndice 1). A autorização foi dada por meio da assinatura no termo e ficaram cientes

de que estava assegurado o anonimato das informações contidas nas gravações.

Os idosos entrevistados foram identificados da seguinte forma: Participante 01;

Participante 02; Participante 03 e, assim, consequentemente.

Participante 01: Mulher, 74 anos de idade, professora aposentada com ensino

médio completo. Atualmente estuda informática, mais especificamente o Photoshop.

Participante 02: Mulher, 63 anos de idade, comerciante com ensino superior

completo. Atualmente estuda informática – Photoshop e história da arte.

Participante 03: Mulher, 79 anos, professora aposentada e atuou bom período

da sua vida como diretora de escola. Atualmente estuda informática e Internet.

Participante 04: Mulher, 62 anos, assistente administrativa possui o ensino

médio completo. Atualmente estuda informática – Photoshop.

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Participante 05: Mulher, 72 anos, artesã autônoma, não concluiu o ensino

fundamental. Atualmente trabalha como artesã e estuda Smartphone.

Participante 06: Mulher, 69 anos, contadora aposentada, possui o ensino

superior completo. Atualmente estuda informática – Photoshop, história da arte e

Canto Coral.

Participante 07: Mulher, 63 anos, comerciante aposentada, não concluiu o

ensino superior. Atualmente estuda Informática – Photoshop, História da Arte,

Reeducação do movimento e Academia da Memória.

Participante 08: Mulher, 60 anos, comerciante e empreendedora. Não concluiu

o ensino médio e atualmente trabalha em loja própria, estuda smartphone e Academia

da Memória.

Participante 09: Mulher, 79 anos, contadora aposentada, possui o ensino médio

completo. Atualmente estuda Informática – Photoshop e Canto Coral.

Participante 10: Mulher, 78 anos, modelista, possui o ensino fundamental

completo. Atualmente estuda Smartphone, Pintura em tela e Canto Coral.

Participante 11: Mulher, 76 anos, aposentada, possui o ensino médio completo.

Atualmente, estuda Smartphone.

Participante 12: Homem, 71 anos, aposentado, possui o ensino médio

completo. Atualmente estuda informática e Internet, Canto Coral e Percussão.

O projeto de pesquisa foi submetido ao CEP da Universidade São Judas Tadeu

e foi aprovado sob o parecer número 2.710.904 .

4.4 - Coleta das Informações

As informações foram coletadas por meio de entrevista semi-estruturada

gravada cujo conteúdo foi transcrito na íntegra, e de um questionário sócio-

demográfico (Apêndice 2). As entrevistas tiveram, em média, 25 minutos de gravação

e foram feitas no Espaço Cultural Sênior, ambiente de estudo dos participantes. Foi

considerado também as observações feitas pela pesquisadora, tendo como base o

conhecimento dos participantes e sua convivência com os mesmos.

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Esse método de coleta pressupõe que o participante tem mais liberdade de

exprimir-se com clareza sobre o fato que se estuda com base em sua experiência e

manifestar em seus atos o significado que tem no contexto em que eles se realizam,

revelando tanto a singularidade quanto a historicidade dos atos, concepções e ideias

em informações fidedignas (CHIZZOTTI, 2003). Por outro lado, tal procedimento

permite ao pesquisador ter um amplo campo de ação, dando oportunidade para falas

e expressões conscientes e atuantes deste, oferecendo liberdade gradual e

intencional do que busca investigar, além de permitir a visualização de várias

possibilidades de se introduzir no mundo do fenômeno a ser descoberto (TRIVIÑOS,

1995).

Dessa forma, o pesquisador trabalha com as questões norteadoras que servem

de orientação no processo de coleta das informações. As questões formuladas para

a pesquisa foram:

• O que mudou em sua vida após ter aprendido a lidar com a tecnologia,

mais especificamente, o uso do computador e o celular?

• Você costuma usar a Internet no seu dia-a-dia? De que forma?

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4. Resultados e Discussão

As Pesquisas Qualitativas tipicamente geram um volume muito grande de

informações que precisam ser analisadas e compreendidas (MANZZOTTI;

GEWANDSZNAJDER, 1999). Para a análise dessa pesquisa foi seguido o proposto

por Bardin (2011), após a transcrição na íntegra das gravações das entrevistas:

• Pré-análise: corresponde à organização e a síntese do material coletado;

• Exploração do material: corresponde ao entendimento do material

coletado, para que sejam identificados os dados relevantes, a fim de

elaborar as categorias e unidades de significado.

• Tratamento dos resultados, inferência e interpretação: é o tratamento

dos dados para que sejam transformados em informações válidas.

A partir das coletas realizadas por meio das entrevistas semiestruturadas,

realizadas na A Vila Espaço Cultural, as informações foram transcritas e analisadas

com base na Metodologia Qualitativa utilizando estudo de caso e observação. As

categorias destacadas foram elencadas conforme o quadro das Categorias de Análise

(Apêndice 3) e, após a identificação das categorias sob a ótica da pesquisadora com

base nas entrevistas e nas observações, foi feito a convergência entre as categorias

conforme demonstrado no esquema de convergências (Apêndice 4), por fim foram

consideradas as categorias que mais se destacaram pelos idosos entrevistados.

Ficaram definidas às seguintes categorias: (1) Mudanças na Vida; (2) Aprendizagem;

(3) Autoestima; (4) Independência e autonomia e (5) Inclusão. A pergunta feita aos

idosos dessa pesquisa foi: O que mudou em sua vida após ter aprendido a lidar com

a tecnologia, mais especificamente, o uso do computador e o celular?

“Mudou... assim... o ponto de vista humano em relação a uma série de coisas que é infinita

que não tenho nem como descrever ... porque eu entrei num campo que não tem limitação,

né?” (Participante 07, 2018)

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5.1 - Mudanças na vida dos idosos: Como a tecnologia influenciou a mudança na vida dos participantes entrevistados

Quando questionados sobre o que mudou em suas vidas após terem aprendido

a lidar com a tecnologia da informação, constatou-se que houveram mudanças

significativas em seus cotidianos, no relacionamento com a família e no âmbito social.

Essas mudanças estão relacionadas ao sentimento de estar inserido digitalmente em

um mundo atual, ao processo da aposentadoria e o sentimento de solidão. Percebeu-

se que esses fatores possuem significados muito importantes de serem considerados

pelos idosos.

“Mudou praticamente tudo! Porque você fica bem informado da situação, né? Fica mais desenvolto, fica integrado na mídia praticamente, né, você fica interagindo, é uma situação que temos que fazer, nós da terceira idade temos que interagir, de ver esse mundo atual, esse mundo atual é um mundo que todos nós temos que viver, nós não nascemos nesse mundo, mas temos que viver nesse mundo atual, porque senão a gente fica por fora da situação, por fora de todo o movimento que a gente .... tá na nossa frente, está dizendo está aí... e você não abraça então não pode, não digo viver, mas pelo menos ter um desenvolvimento melhor na vida, então, a informática pra mim é, e está sendo. Aprendi várias situações na informática e... não sabia nem ligar o computador.... pelo que eu faço hoje... que aprendi com a professora.” (Participante 12, 2018)

A percepção das mudanças tecnológicas ocorridas no mundo foi observada por

esse entrevistado no âmbito da necessidade de interagir, conhecer e se inserir nesse

novo contexto de mundo. Essa integração traz para ele a sensação de bem-estar e

de pertencer ao mundo atual.

A humanidade convive cada vez mais com um mundo digital e essa mudança

de comportamento faz com que as pessoas se sintam cada vez mais perdidas com o

avanço da tecnologia e sendo obrigadas a evoluir rapidamente em conhecimentos e

habilidades. (BULLA; KAEFER, 2003):

No entanto o curso de informática promoveu uma integração e a visão mais

clara de uma época em que ele precisa conviver e aprender. A forma com que os

alunos da terceira idade estudam, são focadas em resolução de problemas,

participação efetiva nas aulas e nos conteúdos abordados e promovem atualizações

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sociais e culturais. No que se refere a reciclagem e atualização cultural, Netto (2001)

afirma que a ideia de inserir idosos em cursos voltados para eles, é sintonizá-los com

o mundo contemporâneo e colocá-los a par das situações e dos problemas da

atualidade, dando-lhe condições de conhece-los e discuti-los com conhecimento de

causa e segurança (NETTO, 2001 p.50).

“Bom... eu já conhecia Informática porque meu trabalho exigia. Mas era só planilha Excel e Word que eu trabalhava. Além disso eu não manjava muito não. Aí, aqui eu comecei a mexer com fotografia, fazer oficina da memória, tinha que escrever a história da vida da gente e, com isso abriu muito a minha mente e me ajudou muito assim, meu autoestima elevou. Eu tinha acabado de aposentar quando eu comecei a fazer os cursos aqui, comecei com 58 anos, então há 5 anos que estou aqui. E para mim assim, logo que a pessoa aposenta, a pessoa fica meio deprimida, eu não senti isso, porque ... foi assim... fiz 3 cursos ao mesmo tempo e isso me ajudou muito. Aproveitei muito os cursos”. (Participante 02, 2018).

Um ponto destacado na entrevista foi a mudança na vida após a aposentadoria.

O trabalho é considerado como uma forma de socialização, de independência

financeira e de se manter ativo. Existe uma indagação, principalmente no indivíduo

que está se aproximando da idade e condições de se aposentar, de: O que, que eu

vou fazer? O que será da minha vida após a aposentadoria? Segundo Rodrigues et

al. (2005) a aposentadoria traz para o idoso reflexos negativos e perdas materiais,

psicológicas e sociais que são capazes de acarretar a diminuição da autoestima e da

motivação.

Contudo Caldas, 2009, a aposentadoria pode ser condiderada uma nova fase

da vida e ocupar-se e realizar atividades durante esta fase pode trazer benefícios ou

não para o sujeito aposentado.

A ludicidade também é percebida neste processo. Os sujeitos entrevistados se

reportam ao uso da tecnologia como mecanismo lúdico, de criação, prazer e de

satisfação e como ferramenta para o desenvolvimento de trabalhos que não estão

diretamente ligados à informática. Relatam que a informática foi um meio para a

realização desses trabalhos facilitando o processo e promovendo uma satisfação e

reconhecimento pessoal. Segundo Ferreira e Goulart (2010), tornar-se informatizado

é mais do que a manipulação do computador, como ter redes sociais ou responder e-

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mails, é entrar para uma nova cultura globalizada onde ocorre a pluralidade do

conhecimento.

“Agora o computador pra mim é uma satisfação. Eu me sinto satisfeita de saber um pouquinho lidar com o computador, porque é como eu falei... o computador é minha companhia. Quando eu estou triste eu vou para o computador, quando eu estou alegre eu vou para o computador, quando eu estou sozinha eu vou para o computador, e tudo é o computador. Agora eu não gosto mais de televisão então pra mim o computador está em primeiro plano. [...] Minha vida é essa. E, olha... depois que meu marido morreu o computador realmente é a minha salvação... eu acordo - estou nessa fase agora - a fase da insônia, eu levanto de madrugada e vou para o computador, fico jogando até vir o sono de novo. Aí eu deito e durmo ... sabe... pra mim como eu moro sozinha é uma companhia porque eu tô escutando eles falarem... eu tô escutando música, né? Eu gosto de escutar música no computador... aí eu fico escutando aquelas músicas do meu tempo aí vai me relaxando, cê entendeu? É minha maneira que eu achei para driblar a solidão.” (Participante 09, 2018)

O idoso se sente sozinho e o sentimento de solidão aflora de modo significativo

nessa fase da vida. Azeredo e Afonso (2016) afirmam que a solidão é um sentimento

penoso e angustiante, que proporciona a pessoa que se sente só um mal-estar mesmo

que rodeada de pessoas, por pensar que lhe falta suporte, sobretudo de natureza

afetiva.

Foi relatado que o acesso ao conhecimento da informática e de tecnologias lhe

proporciona uma sensação de acolhimento e de companhia, como ficou claro na fala

do Participante 09 que os meios mais tradicionais, como a TV não proporciona mais

esse benefício. Nesse sentido, os autores, Azevedo et al.(2003) afirmam que o mundo

da informatização está acessível ao idoso. Portanto, esse público não precisa apenas

“assistir” televisão, ler jornais, revistas e materiais à disposição na Internet, precisa refletir e

falar sobre o que está vendo, lendo e ouvindo, surpreendendo seus familiares com novas

aprendizagens, novas atitudes e novos hábitos, alterando suas rotinas desinteressantes.

A entrevista do Participante 11 reforça a importância da informática e do uso

do celular no cotidiano:

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“Tempo, tá. A gente vê que a gente economiza bastante tempo, né. E depois outra, a gente aprende muitas coisas pelas mensagens que o pessoal manda, pelo grupo, né? Sempre tem mensagens boas e... a facilidade de comunicação, sabe? Eu acho que facilita bastante a comunicação. Porque as vezes você não tem tempo de ficar pegando no telefone, vai pra lá... perde mais tempo. Agora se passa uma mensagem já resolve, né? Eu acho que é muito importante essa mensagem, e hoje tem bastante mensagem aqui e, quando tem um aniversário, então: hoje é aniversário do meu Padre, lá da Nossa Senhora! O que tem de mensagem até me enche o saco... *risos*”. (Participante 11, 2018).

Existem paradigmas de que é preciso ocupar o tempo do idoso, porém esse

relato nos leva a reflexão de que o idoso ativo possui uma agenda diária bastante

intensa e que usam a tecnologia como uma ferramenta que administra mais

proveitosamente seu tempo e também como forma de se comunicar e relacionar-se

com a sociedade. Além disso, revela mudanças de hábitos, como a utilização de

mensagens para a comunicação ao invés de utilizar o telefone.

Os recursos da informática possuem muitas utilidades para o idoso, até sendo

um motivo para mais profundos ou contínuos relacionamentos” afirmam Maissiat e

Biazus (2010 p. 92). As autoras destacam que a comunicação por meio da tecnologia,

seja e-mail ou mensagens, facilita o contato com amigos e familiares e, esse meio

torna o processo mais economico e rápido, afirmam ainda que a palavra “economia”

faz parte do dia a dia do idoso. Além disso, Kachar (2003), corrobora com a

informação salientando que a informática vem ao longo dos anos comprovando que

é uma ferramenta que possui diversas possibilidades para atualização e atuação. Tem

também se mostrado, como auxílio de novos modelos de organização da vida, com a

otimização do tempo de dispendio para realização de trabalhos e tarefas diárias.

“Mudou para melhor... porque agora eu não preciso mais ficar escrevendo cartinhas para parente, eu quero notícias de parente e vai ali pelo Face pelo WhatsApp a gente tem notícias muito rápido, né? Eu quero uma receita eu não fico lá olhando aqueles cadernos desfolhados ... a gente procura uma receita é muito fácil. E facilita muito para marcação de consulta, para pegar resultado de exame, para pagar contas...” (Participante 08, 2018)

Observa-se nesta análise que algumas atividades corriqueiras continuam

sendo feitas, porém, após aprenderem a lidar com a tecnologia, essas atividades se

tornaram mais dinâmicas, proporcionando aos idosos, agilidade e novas perspectivas

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de socialização. Kachar (2003) afirma que os idosos são capazes de realizar

atividades de cunho intelectual e social, como por exemplo, dominar a tecnologia.

Segundo Behar et al. (2010), as ferramentas de comunicação on-line, como e-mail ou

mensagens instantâneas, dispertam muito interesses nos idosos, pois são

ferramentas que facilitam a comunicação em grupo além de possibilitar debates e

troca de ideias.

“Me sinto muito mais ativa, mais atenta... principalmente mais atenta. Sabe, eu preciso mexer no computador, eu quero prestar atenção, eu quero aprender eu quero.... ele faz parte da minha vida hoje... ele faz parte da minha vida... quando ele não está funcionando *risos* eu fico sem fazer nada... eu fico perdida na minha casa.” (Participante 07, 2018)

Percebemos que a tecnologia passa a fazer parte da vida do idoso e o deixa

mais atento, pois esse aprendizado acaba por motivá-lo a saber mais. Ferreira e

Goulart (2010) afirmam que a tecnologia da informação, através do uso computador e do

acesso à Internet, contribuem para as melhoras do status do idoso por meior de diversos

caminhos como a saúde, economia, política, cultura e educação. A utilização desse meio

pelos idosos mostra-se como um forte aliado contra diversos esteriótipos de incapacidade.

As autoras afirmam ainda que saber lidar e conviver com a tecnologia está se

tornando prática indispensável, proporciona uma troca, aquisição e informações além

de fazer parte na nova estrutura mundial. Portanto, é fundamental a inclusão do idoso

nesse universo.

5.2 - Aprendizagem: Os benefícios da aprendizagem e das novas descobertas na vida do idoso

Nessa fase da vida, o idoso precisa ter claro em sua mente o que está

aprendendo, para que estão aprendendo e, o que isso irá favorecer para que haja

mudanças em suas vidas ou em seu cotidiano. Isso ocorre, porque essas pessoas já

trazem consigo uma bagagem de experiências que interferirá no processo do ensino

de novas concepções e são capazes de criticar e analisar situações, fazer paralelos

com as experiências já vividas, aceitar ou não as informações que chegam. Valente

(2001) afirma que existe uma prédisposição para a aprendizagem que é centrada na

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solução de problemas ou projetos específicos e de superação de desafios colocados

pelos próprios idosos. “É uma aprendizagem construida e não simplesmente

memorizada” (p. 32).

Nas entrevistas realizadas com os participantes da pesquisa, uma categoria

relevante em seus relatos foi a do benefício da aprendizagem em suas vidas. Por se

tratar de idosos, a fundamentação dessa categoria foi baseada nos conceitos da

Andragogia. As pessoas mais velhas, muitas vezes não tiveram acesso aos estudos

e, muitos relatam que se alfabetizavam em casa. No entanto, na realidade do

envelhecimento ativo, essas pessoas perceberam, que não só a educação básica fez

falta, como as modernidades e acessos à tecnologia também, por estarem presentes

no dia a dia dessas pessoas.

A Andragogia vem ao encontro de necessidades particulares que o idoso tem

na hora do aprendizado, se trata de métodos específicos voltados para ensinar

adultos, onde não só novos conhecimentos são adquiridos como o sentimento de

auto-realização é trabalhado. Alcalá (1999) define que a Andragogia é ciência e arte,

por fazer parte da Antropologia e de uma Educação Permanente.

“Mudou bastante... mudou muito no sentido assim... de aprendizado, né! De socialização, lógico também... mudou assim, em termos de terapia, porque para mim, por exemplo o Photoshop é uma terapia. Quando eu estou meio estressada eu vou lá no Photoshop e consigo me acalmar porque eu me divirto, eu faço minhas criações aí tem coisas que eu acho super legal ... que eu que fiz e NOSSA ficou legal! Ficou lindo! Tem coisa que eu acho que ficou realmente lindo. Então o Photoshop principalmente pra mim é assim uma grande terapia. Entendeu? Mudou bastante... eu crio muitas coisas... e me divirto assim...” (Participante 04, 2018)

A socialização foi relatada na fala desse participante pesquisado como um

benefício da aprendizagem que por sua vez teve influência terapêutica, pois busca as

ferramentas da tecnologia para driblar o estresse e se divertir. Novamente surge o

autoconceito como a capacidade e de se valorizar perante a criatividade que

desenvolveu na aprendizagem de uma ferramenta de tecnologia.

Quando os idosos se apropriam de recursos tecnológicos, eles conseguem

revelar o que pensam, sentem e gostam, além de mostrarem seus potenciais que

estavam adormecidos ou mesmo negligenciados pela sociedade em que estão

inseridos ou, as vezes, até por eles mesmos (Behar et al., 2010).

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Neste sentido, os idosos reconhecem as possibilidades do uso da tecnologia

nas suas vidas e no seu cotidiano, principalmente dos celulares com os diversos

aplicativos. Os idosos destacam as facilidades proporcionadas pelos Smartphones

para fazer pesquisa, obter informações, resolver problemas e facilitar a comunicação.

“Essa coisa de pesquisar as coisas no celular mudou a minha vida sim... porque eu fiquei viciada *risos* perco muito tempo, quer dizer... o tempo que eu não abria que tinha que abrir o computador, então a gente pensava: Ah tem que abrir o computador, deixava pra lá, agora o celular eu paro tudo e vou lá.

Agora estou sempre bem informada e muitas pessoas, amigos que não tem, ou não tem paciência, ou não sabem, ligam pra mim para perguntar certas coisas que eu tenho que olhar na internet que eles não tem acesso ou não tem conhecimento, eu aprendo muito com isso.” (Participante 01, 2018)

Os papéis sociais do idoso diminuem com o passar do tempo e, com isso, o

idoso passa a não ser valorizado e reconhecido. A partir do momento que a pessoa

idosa aprende coisas novas, ela se motiva a aprender cada vez mais e buscar

informações atuais, dessa forma se sentindo mais valorizada. Como reflexo, ela muda

seu autoconceito e acaba por desenvolver novos papeis sociais. Segundo Kachar

(2003), a aprendizagem da informática pelo idoso proporciona condições para que

essas pessoas se desvelem para a propria vida em vez de ficar recolhida em seu

mundo com suas memórias e seus passados. Com isso, os idodos resgatam seus

potenciais intelecuais e se inserem em um mundo contemporaneo e da cibercultura.

“Me deu mais segurança de mexer no telefone, de poder pesquisar... cada vez que eu ia e aprendia alguma coisa, era uma realização muito grande pra mim. Coisa que no meu passado, quando eu era pequena, diziam que eu era Burra, que eu não aprendia, talvez se tivessem me dado esse mesmo incentivo quando eu era criança as coisas tinham sido mais fáceis pra mim na vida, que agora, na velhice eu estou encontrando. É uma realização muito grande.

A mudança foi mais que boa... foi ótima. Quando eu converso com as pessoas da minha idade eu falo para elas... VAI FAZ.... você vai se sentir muito melhor... isso faz bem para o ego da gente.” (Participante 05, 2018)

Percebe-se que a valorização faz com que o idoso se motive a aprender mais

e reflete no auto realização. A aprendizagem vem ao encontro das necessidades

diárias e as experiências com esses novos desafios fazem com que eles incentivem

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outras pessoas a experimentarem. Alcalá (1999) destaca que o processo para o

desenvolvimento da Andragogia é orientado e com a colaboração do aluno adulto com

o facilitador, ocorre o incremento de pensamentos, autogestão, experiências,

qualidade de vida e da criatividade a fim de proporcionar uma oportunidade para que

a auto realização seja alcançada.

“Aí! Descobertas do mundo novo, de fazer coisas que eu queria e não tinha nada pronto, então da gente poder fazer aquilo que a gente queria e aprender.

Foi significativo essas coisas que estamos fazendo, por exemplo o Fotolivro, criando coisas que são de recordações, cartões, essas coisas que são coisas mais pessoais que só mesmo a gente criando é.... só a gente pode fazer que não vai encontrar nada pronto... *choro de emoção*

Me sinto bem pelo sentimento de alegria de poder ter aquilo que eu queria e que não tinha.” (Participante 01, 2018)

Foi observado que a aprendizagem de novas ferramentas da informática

despertou a criatividade. Na entrevista com esse participante da pesquisa, ele se

emocionou em um choro contido quando falou do poder de criar e colocar em suas

criações emoções e recordações pessoais, pois ele nunca iria encontrar pronto. O

aprendizado nessa fase da vida colabora para o despertar da capacidade do idoso e

para a manutenção de um autoconceito positivo. Torelly (2010) afirma que os idosos

devem substituir os papeis sociais que são perdidos no processo de envelhecimento

por novos, de modo a proporcionar bem-estar como resultado do incremento de

atividades relacionadas a esses novos papeis. Os idosos podem transformar um

hobby ou um sonho em atividade ou criar algo que lhe traga satisfação desde que se

mantenha ativo.

“A tecnologia mudou tudo, sabe? Antes quando eu via uma publicação com fotos, paisagens, escritas, eu ficava encantada, né? E achava que era impossível... que era muito lindo e era impossível uma coisa assim, eu saber. Aí quando eu vi a possibilidade de eu aprender, eu vim. E eu fiquei assim encantada. No começo, quando eu comecei a aprender, eu falei: Ah, será que eu vou conseguir? Daí fui indo, fui indo, fui tentando, fui fazendo os trabalhinhos de casa, fui treinando em casa e, hoje eu me sinto muito confortável nesse trabalho de Photoshop, faço cartão, fizemos uma festinha lá na minha igreja, nós fizemos um chá de senhoras, eu que fiz tudo! Eu que fiz os painéis, fiz os convites, fiz os enfeites, tudo com as nossas fotos *risos*. [...] E eu assim... fui tão elogiada fiquei feliz... eu me sinto assim... como que inserida desse complexo todo do Photoshop de tecnologia eu acho um encanto. [...] Acho que é... acho que sim... que eu sou capaz, que sou

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admirada e, eu também gosto né, de expor meu trabalho ... meus trabalhos é como se fosse uma arte... é uma arte.... na verdade, é uma arte.... Ah, eu tô muito contente, eu acho que assim... eu encontrar aqui, a Vila, conhecer a Professora Edna é... que ela é muito dedicada e ela faz questão da gente aprender.” (Participante 06, 2018)

A confiança em si foi uma das falas de uma das entrevistadas, que acreditou

na possibilidade de aprender uma tecnologia, que hoje é voltada para jovens. Ela

persistiu nas aulas que foram adequadas às necessidades e vontade dos alunos

idosos, conseguiu um resultado satisfatório e recebeu o reconhecimento das suas

criações em trabalhos voluntários que a levou a um bem-estar e felicidade.

A inclusão digital proporciona sentimentos de aceitação pela comunidade, pois

possibilita a autonomia na utilização e nas atividades relacionadas com o trabalho

voluntário. Além disso, proporciona o reconhecimento não apenas como um membro

do trabalho voluntário no qual faz parte, mas sim como um participante ativo que

também auxilia nas tarefas do grupo. (Behar et al., 2010)

Observamos que a aprendizagem contínua de adultos deve ser centralizada

em problemas e em experiências. As experiências devem ser significativas para o

aluno e ele deve ter a liberdade de analisá-las.

5.3 - Autoestima: Como o uso da Tecnologia valorizou a autoestima do idoso e o fez reconhecer que é capaz e criativo.

Os resultados dessa pesquisa corroboram com os estudos encontrados na

literatura sobre autoestima. Segundo Rosenberg (19656, apud SBICIGO, BANDEIRA;

DELL’AGLIO, 2010) a autoestima é um conjunto de sentimentos e pensamentos do

indivíduo sobre seu próprio valor, competência e adequação, que se reflete em uma

atitude positiva ou negativa em relação a si mesmo. O idoso tem a tendência de

diminuir a autoestima pelas perdas naturais do processo de envelhecimento e com

isso sentem-se menor e incapaz de realizar algumas tarefas, sobretudo as que exijam

o uso de alguma meio tecnológico, porém foi observado nas entrevistas que o acesso

6 Escala de Autoestima de Rosenberg (EAR): validade fatorial e consistência interna

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e o aprendizado de tecnologias da informação puderam contribuir para que se sintam

mais confiantes e seguros aumentando assim a autoestima.

“O curso de informática me ajudou muito, pois minha autoestima foi lá em cima. Pois fazia foto para colocar no Facebook, nossa... foi muito bom pra mim... muito bom.... me ajudou muito.

Eu acho que assim.... Esses cursos não deixa você ficar deprimida, você se sente útil pois está aprendendo alguma coisa na terceira idade, porque depois dos 60 ... acho que ajuda a memória da gente também né... e se sentir mais bonita também... com as fotos, pois ajuda você a mexer nas fotos fazer umas coisas bem legal.” (Participante 02, 2018)

O aumento da autoestima foi percebido nessa entrevista relatada por essa

idosa participante que relata o uso de ferramentas de informática como auxílio para

ela se sentir mais bonita, para não deixar cair em depressão, além de ajudar na

memória. O curso de informática permitiu o aprendizado do uso de uma ferramenta, o

Photoshop, que possibilitou a melhora da autoestima e de bem-estar na velhice.

“Não há como negar que em condições normais o processo de envelhecimento se

manifesta no corpo, no aparente, no físico e também leva a alterações sociais e psicológicas”

(Costa, 2001, p. 96). Esses reflexos fazem com que o idoso se sinta diminuido perante a

sociedade, que acredita num esteriótipo de beleza jovem como a ideal. Segundo Costa (2001)

os corpos refletem uma história própria de sucessos e insucessos e que devem servir de base

por toda vida. Nesse contexto observamos que o uso da informática ajuda o idoso a sair desse

desconforto, por conseguir se ver mais bonito e confiante. A ideia de utilizar a tecnologia da

Informação está revelando um novo mecanismo de prevenção e postergação da saúde por

meio de pesquisas e busca de novos conhecimentos e pela estimulação da memória

(AZEVEDO ET AL., 2003).

“De melhorar a vida??? Agora melhorou em tudo, né? Antigamente eu tinha problema com a televisão porque TUDO é tecnologia, então eu me atrapalhava, não sabia entrar, não entrava, precisava ficar chamando meu sobrinho para vir acertar, para mim, me sentia incompetente, mas agora eu já melhorei bem mesmo. Mesmo no celular, eu não tenho ainda um moderninho... pedi para meu sobrinho comprar um mais moderno pra mim... o meu é super antigo. Só que eu preciso ir lá... ele disse pra mim ir lá e escolher junto com ele, mas melhorou muito .... ahhh o celular era um sufoco pra mim e isso também já melhorou ... melhorou tudo... porque hoje em dia tudo é tecnologia e a gente tem que se atualizar não pode ficar lá em 1900 e antigamente.” (Participante 03, 2018)

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O Participante 03 destacou em sua fala a dificuldade que tinha em suas tarefas

mais simples, quando estas se deparavam com tecnologia e que está se superando

com as aulas de informática, percebeu-se ainda a auto percepção e valorização de si

mesmo em sua entrevista. Rosenberg (1965, apud SBICIGO; BANDEIRA;

DELL’AGLIO, 2010) descreve que o sentimento de incompetência, de inadequação e

de incapacidade de enfrentar desafios, além da oscilação de sentimento de aprovação

ou rejeição de si está relacionada a baixa autoestima. Já, o autojulgamento de valor,

de confiança e de competência está relacionada a alta autoestima.

“O Photoshop me traz sentimento de ... é.... como é que eu vou dizer assim.... de... autoestima...de eu poder criar. Por eu conseguir ter esse poder de criação... (tem uma palavra que eu quero achar... não é essa palavra ‘poder’ que eu quero dizer) mas esse sentimento de saber fazer alguma coisa diferente de criar também de saber criar alguma coisa legal. [...] me sinto bem, atualizada também, porque, dá pra gente fazer tanta coisa. Como você mesmo diz que tem jovem hoje que não sabe o que a gente sabe no Photoshop, né? Muito jovem não sabe fazer o que a gente faz. Pois é a capacidade! A Capacidade que a gente tem de criação de renovação.... né?” (Participante 04, 2018)

O desenvolvimento da criatividade utilizando a tecnologia, foi percebido nesse

processo. Muitos participantes dessa pesquisa reportaram que o poder de criar e

manifestar suas ideias auxilia no aumento da autoestima. O aumento da autoestima

é descrito por Ferreira e Goulart (2010) como o reconhecimento de ser útil e de se

sentir capaz por meio dos conhecimentos da informática e de reconhece-la como

parceira, isso permite à pessoa a compreender e atender melhor à diversidade

humana e enxergar possibilidades para o uso com outras pessoas ou até para si.

“[...] eu acho que minha vida mudou! E muito! Me sinto mais... mais importante! Mais útil mais importante é... mais integrada, mais inserida... assim todo.... eu me sinto como se eu não fosse da terceira idade que dá para competir com jovens inclusive minhas netas acham maravilhoso, agora eu fiz canecas para elas e elas acham encantador também e, falam que: Ah minha avó... Minha avó é moderna, é uma gata... minha avó tudo e... acho muito bacana ... acho que é isso. [...] Eu acho que foi assim um diferencial na minha vida, foi um divisor de águas, o antes e o depois daqui. Eu não gostava de tirar foto hoje eu estou exibida pra caramba *risos* hoje eu estou tirando fotos eu tô fazendo Photoshop eu tô me “photoshopando” *risos* até de mais... Tô ficando muito metida!!! É isso... (Participante 06, 2018)

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Aprender as ferramentas de informática promoveu um sentimento de

importância, de ser útil e de fazer parte desse mundo tecnológico, sobre tudo

utilizando uma ferramenta específica de criação onde se percebe a mudança de

comportamento do indivíduo. Observou-se que os entrevistados se sentem mais

valorizados utilizando tecnologias da informação e compartilhando seus feitos com

familiares.

Durante todas as diversas fases ou momentos vivenciados, o indivíduo

desenvolve a capacidade de adaptar-se, através de novos aprendizados, para fazer

parte de um núcleo, seja ele social ou familiar (FERREIRA; GOULART, 2010, p. 103).

Segundo Nunes (2010), a informática aparece de maneira significativa em diversos

setores da sociedade, e pode provocar transformações nos aspectos econômicos e

sociais, alterando valores e comportamento das pessoas.

“Então eu acho que mudou muito... foi bom pra mim. Quando eu consigo fazer uma coisa eu faço que nem criança, eu faço: Uhuuu consegui fazer sozinha!!! *risos* Eu fico feliz, né? Porque eu comecei faz pouco tempo, quantos anos que eu tenho computador dentro de casa? E assim... os outros faziam e eu fui ficando para traz agora eu me apurei, vi que eu preciso ... me sinto muito feliz de estar fazendo essas coisas.” (Participante 08, 2018)

Percebe-se claramente nessa fala, que o idoso se sente excluído no que se

refere à tecnologia, mesmo com os recursos a seu alcance. A motivação leva o idoso

a ter iniciativa para aprender e utilizar recursos que o deixará mais feliz. No que tange

a auto valorização e o reconhecer como capaz, Coopersmith (1989, apud SBICIGO;

BANDEIRA; DELL’AGLIO, 2010) afirma que o ponto fundamental da autoestima é o

aspecto valorativo, o que influencia na forma como o indivíduo elege suas metas,

aceita a si mesmo, valoriza o outro e projeta suas expectativas para o futuro.

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5.4 - Independência e autonomia: A Independência conquistada na vida dos idosos a partir do uso dos recursos tecnológicos em seu cotidiano

Ao longo dos anos, ocorreram mudanças significativas na sociedade,

destacando-se o avanço da tecnologia e a expectativa de vida. O Brasil é um dos

países que mais cresce em número de idosos, porém a sociedade, incluindo a

família/cuidador não se dão conta de que os idosos de hoje, com o envelhecimento

ativo, estão cada vez mais empoderados da tecnologia e que, a sua independência

que muitas vezes lhe é tirada, volta a ser conquistada com o uso das tecnologias. Na

pesquisa realizada, foi relatado fatos concretos da mudança na vida do idoso, no que

se refere a retomada da sua independência e autonomia. A independência está ligada

à capacidade funcional do indivíduo, ou seja, é a capacidade de manter suas

habilidades físicas e mentais. Do ponto de vista de saúde pública, a capacidade

funcional surge como um novo conceito de saúde, afirmam Renosto e Trindade

(2007).

A autonomia está relacionada com a consciência de respeito pelas pessoas e,

de acordo com as suas aspirações pessoais, tem a liberdade de tomar decisões. Loch

(2002) defende que a autonomia é a capacidade de uma pessoa para decidir fazer ou

buscar aquilo que ela julga ser o melhor para si mesma, para isso a pessoa tem que

ter a capacidade para agir intencionalmente, o que pressupõe compreensão, razão e

deliberação para decidir coerentemente entre as alternativas que lhe são

apresentadas além de perceber a liberdade, no sentido de estar livre de qualquer

influência controladora para esta tomada de posição.

“O que mudou na minha vida? Independência. Tudo eu precisava perguntar para a minha filha. O que era, o que não era. Como que fazia como não fazia e também criar coisas novas, coisas que a gente queria que tivesse pronto e não tem e a gente pode fazer.” (Participante 01, 2018)

A independência do idoso pode ser resgatada por meio do uso de tecnologia

da informação. Essa independência reflete no poder de criação e de realização

pessoal mesmo que a família não aposte muito.

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Mesmo quando é preciso desconsiderar que, alguns familiares desejam que os

idosos permaneçam em casa sem atividades, é fato que estar ‘idoso’ pressupõe uma

capacidade de realização com sabedoria, experiência e criatividade e potencial para

atualização, ou seja, saber viver e renascer com dignidade. Ter amor à vida e gostar

de si mesmo, enfim, os idosos são capazes de desenvolver atividades que trazem

satisfação, afirma Nunes (2010).

“É muito importante... não só pra mim... mas para todo mundo. Todo mundo tem que ter essa tecnologia porque, mesmo no banco, no banco eu sentia uma dificuldade terrível... aperta botão aqui... aperta botão ali... Ah meu Deus... eu sempre chamo o auxiliar ... mas agora eu já me viro bem sozinha, só alguma coisa assim, que eu não sei mesmo que eu chamo a menina lá para me ajudar.

Está ajudando muito mesmo, muito, muito mesmo...” (Participante 03, 2018)

“[...] Porque você liga o seu celular, no seu celular você tem a condição de entrar na internet, no Youtube, de ... de... fazer uma série de coisa, né? Você marca consulta de médico, faz tudo naquele pequeno aparelho.” (Participante 10, 2018)

A automação e a tecnologia estão invadindo o cotidiano das pessoas em vários

setores, como por exemplo: bancos, convênios médicos, laboratórios, compras,

retirada de boletos, etc. Para os idosos esse avanço se torna um problema, quando

ele não se percebe capaz ou ainda não acredita que ele possa ser inserido nesse

contexto. Percebemos nos relatos dos participantes que ao aprenderem a lidar com a

informática, tais barreiras são minimizadas, portanto sentem-se mais independentes

e com sua autonomia preservada. O surgimento e a expansão da informática coloca

as estruturas sociais e culturais em constante reestruturação, fato esse motivado pela

criação e modificação de todos os ambientes, tornando-os mais virtuais, acessíveis,

simplificados e organizados, segundo Mosqueira, Stobäus e Ferreira (2010).

“Me realizei muito... não só eu, como os meus filhos achavam que eu não tinha capacidade de ver o celular e que só aquilo era o suficiente, o que eu aprendi do “Zap” e de apagar alguma coisa e no Face, dali não tinha mais nada... mas eu comecei a ver que as pessoas com a minha idade sabiam mais, então eu pensei: Porque não saber mais? Não vai me prejudicar, só vai me dar vantagens e me sentir mais útil e não precisar tanto das pessoas como a gente precisa as vezes por causa da idade, então eu acho que deu uma independência muito

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grande, então me ajudou MUITO. [...] Minha nora falava que não precisava, agora ela fala: ‘Minha mãe precisava ir, porque a Senhora hoje mexe no celular e a gente ve que a Senhora está até mais independente’... e é verdade!” (Participante 05, 2018)

As mudanças relatadas são basicamente relacionadas com o cotidiano deste

idoso, percebe-se também que a interação com membros da família faz parte do

processo de aquisição de conhecimentos no que tange à tecnologia. No decorrer

desse processo de compreensão do idoso do mundo tecnológico, Mosquera e

Stobäus (2006), afirmam que ocorre paralelamente uma quase perda de

personalidade, distinta do idosos, conforme determinadas gerações, classes e grupos

humanos entendidos pelos ‘mais novos’ como não possíveis usuários das ferramentas

informatizadas, justamente por aqueles que ditam, popularmente, que a pessoa, ao

tornar-se idosa não ‘necessitaria’ mais de novas aprendizagens, o que é um erro, já

que passamos a vida aprendendo.

“Mas eu acho que é bom... melhorou bastante pra mim. Que nem o Uber... nossa... muito bom pra mim, a gente não tem carro, quando eu precisei para a cachorrinha... meu Deus o que eu usei de Uber, não dependi de ninguém!!! Agora minha cunhada estava comigo, nós fomos para São Paulo de Uber, né? Outro dia, foi questão de mês passado, nós fomos até Santos de Uber, sabe? [...] então a questão do Uber foi muito bom e. o EMTU também, hummm o que eu vejo mais também, é o clima, o salmo do dia, ligo sempre no salmo do dia também, tem liturgia, e TV aparecida que eu assisto, quando eu não posso ficar na televisão, quando está quase para dormir, então eu pego e ligo aqui, só que você começa a assistir, daqui a pouco você dorme, então *riso*” (Participante 11, 2018)

A independência foi relatada nas entrevistas na forma de que podem se locomover,

utilizando aplicativos para esse fim sem depender de outras pessoas. Percebemos

que isso é fundamental para manter, respeitar e estimular a autonomia do idoso, ou

seja, dar-lhe o direito de controlar, lidar e tomar decisões pessoais. É preciso entender

e aceitar que ele deve viver diariamente, de acordo com suas próprias regras e

preferências com sua independência e autonomia. Isto é a habilidade de executar

funções relacionadas à vida diária, sua capacidade física de viver independentemente

na comunidade com alguma ou nenhuma ajuda de terceiros e ainda se

responsabilizando pelos atos. O respeito à autonomia significa ter consciência deste

direito da pessoa de possuir um projeto de vida próprio, de ter seus pontos de vista e

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opiniões, de fazer escolhas autônomas, de agir segundo seus valores e convicções,

afirma Loch (2002).

O equilíbrio entre o envelhecimento psíquico e biológico é, portanto, o caminho

para o encontro da autonomia e independência. (SAQUETTO et al. 2013)

5.5 - Inclusão: A inclusão social e digital dos entrevistados a partir do uso das tecnologias

Por conta da evolução tecnológica e a inserção dessas tecnologias em nossas

vidas e no cotidiano, pensamos como é o papel do idoso nesse contexto. De acordo

com Kachar (2003) os idosos contemporâneos, que nasceram e cresceram em uma

sociedade estável, onde a tecnologia demorava um tempo para se desenvolver e para

nos acostumarmos com ela, convivem de forma mais conflituosa nesse cenário

tecnológico. Portanto, o idoso sente-se isolado e excluído da sociedade atual. Em

relação à inclusão social, Vigotski (1984) afirmou que desenvolvimento de uma

pessoa não pode se dar por meio de um estudo isolado do indivíduo. É necessário

considerar também o mundo social externo no qual aquela vida individual desenvolve-

se. O contexto social e histórico no qual os idosos contemporâneos viveram e se

desenvolveram não estava incluso a tecnologia da forma como hoje está. Observamos

nas entrevistas que o acesso à tecnologia da informação, levou o aluno a se sentir

incluído nessa nova sociedade cibernética. Como podemos analisar:

“Ajudou bastante a gente a reencontrar amigos de infância, amigos da escola, encontrei todo o grupo dos amigos da escola - 74, agora vamos fazer um encontro, no ano que vem ... Lá no Ceará, se Deus quiser... né? E... as notícias, você fica mais atualizada com as notícias, fica mais atualizada com... com tudo assim... novela, é moda, você consegue pesquisar muita coisa que você não sabe, ajuda tirar suas dificuldades, aprende de tudo que a gente precisa, você vai lá e aprende que é uma superação muito grande para as pessoas da idade da gente estar hoje assim bem antenada dentro da computação, né?” (Participante 04, 2018)

Observamos que a inclusão social foi facilitada por meio da tecnologia. Alguns

participantes da pesquisa declaram que a partir da tecnologia da comunicação foi

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possível se reaproximar de amigos e até da família. A facilidade de se comunicar por

meio dos aplicativos de mensagens o fez sentir mais próximo de outras pessoas e

possibilitou a participação em organizações de eventos sociais. Essa inclusão e

contato com família e amigos leva ao significado de um envelhecimento ativo.

Segundo Torelly (2010), uma velhice bem sucedida se manifesta em idosos que

mantem a independência e o envolvimento ativo com a vida pessoal, com a família,

com os amigos e com a vida social. Revela-se em produtividade e na conservação

de papeis sociais.

Fazer parte de uma sociedade contemporânea implica em estar inserido no

processo de informatização e perceber que a tecnologia facilita o acesso a diversos

assuntos e ferramentas que aproximam as pessoas. Para Morris (1994 apud VIEIRA;

SANTAROSA, 2009) idosos que utilizam o computador sentem-se menos excluídos

na sociedade, a qual se torna cada vez mais tecnológica e ajudam a melhorar a

conexão com o mundo externo.

“Coloquei a foto dela - a preletora da igreja, tirei uma foto na hora, coloquei no programa é... coloquei o rostinho dela, arrumei no Photoshop, deixei ela toda bonita, fiz o cartaz, fiz os cartazes tudo no Photoshop. [...] Fiz cartão, cartão de visita, fiz folders, para a minha neta da faculdade, já fiz cartazes... fiz livro agora, né?” (Participante 06, 2018)

A possibilidade de se inserir em organizações sociais, como a igreja por

exemplo, por meio de criações e trabalhos desenvolvidos utilizando a tecnologia foi

percebida neste processo. O idoso se sente mais à vontade para se inserir

socialmente quando se sente útil e quando se sente valorizado e reconhecido por

aquele grupo. Desenvolver trabalhos utilizando a informática torna-se um caminho

contra a exclusão social, já que a comunicação, a troca de experiências e novos meios

de comunicação aproximam as diferentes gerações (BEHAR ET AL., 2010). Segundo

Pasqualotti et al. (2004) a inclusão digital estimula a participação do idoso nos

diferentes meios sociais promovendo aspectos relevantes para o fortalecer e o

sentimento de cidadãos ativos, o autor afirma ainda que os conhecimentos da internet

são links para o novo século e, além de ser um meio de combate à exclusão social que as

pessoas idosas vivenciam, é um espaço de comunicação e troca com pessoas de todo o

mundo e de aprendizagem constante.

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No relato de uma das participantes idosas é notória a importância da tecnologia

no seu cotidiano. O uso do computador é diário e necessário, atualmente, para o

envelhecimento ativo com promoção do bem-estar dos idosos.

“Pra mim, mudou tudo... porque eu não sabia nem ligar e nem desligar o computador, nem telefone, nada! Tava alienada. Aí comecei a fazer a computação, fiz vários cursos e muitos amigos. Agora estou fazendo Photoshop e Fotobook e me acho ma-ra-vi-lho-sa porque na minha idade os outros perguntam: Você sabe fazer? Sei! Eu uso o computador pra tudo, uso o computador pra jogo, pra pesquisa, pra tudo... pra mim o computador agora na minha vida não pode deixar de ter, né? Que eu adoro... ADORO! Pra mim é uma companhia, porque eu estou sozinha em casa agora, então se eu estou sentindo triste ou qualquer coisa, vou para o computador, procuro alguma coisa, algum vídeo, alguma coisa e eu fico escutando... pra mim é que nem uma companhia, então eu ADORO!” (Participante 09, 2018)

Muitas vezes o idoso perde seus cônjuges e se sentem só, o que acarreta uma

série de problemas de ordem psicológica e social para essa pessoa. Na pesquisa

realizada observamos que o computador e, o fato de saírem para fazer os cursos,

reflete em uma vida social mais ativa. Os alunos fazem novos amigos e quando estão

em casa, relatam que o computador faz companhia, o que o tira da tristeza e da

solidão. De acordo com Danowski e Sacks (1980 apud PASQUALOTTI ET AL., 2004)

idosos que se inserem em cursos para utilizar o computador vivenciam o aumento nos

níveis de autoconfiança e menores níveis de solidão. O uso de computadores para

entretenimento, a Internet para informação e correio eletrônico para comunicação

ajudam os idosos a sentirem-se menos isolados e solitários (BRADLEY E POPPEN

2003, BRUCK 2002, CLARCK 2002).

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5. Considerações finais

O objetivo principal deste trabalho foi analisar a influência que o aprendizado e

a utilização da informática e Internet exercem na vida do idoso. Pode-se observar,

entre outras questões, quais foram as influências e algumas mudanças em seus

cotidianos assim como suas dificuldades e os recursos mais utilizados por eles.

Para concretização deste estudo realizou-se, primeiramente, uma revisão

bibliográfica sobre o processo do envelhecimento e o uso das tecnologias nesse

processo. Em seguida, desenvolveu-se uma pesquisa em um Espaço Cultural, que

atua exclusivamente com pessoas idosas, utilizando a metodologia qualitativa com

estudo de caso e observação, por meio de entrevistas semiestruturadas com doze

idosos estudantes de tecnologia (informática ou Smartphone).

A realização da revisão bibliográfica possibilitou melhor entendimento sobre as

teorias que abordam o assunto em questão. O desenvolvimento da pesquisa

demonstrou que o uso de tecnologias influenciou positivamente em algumas

atividades do cotidiano do idoso entrevistado, principalmente em atividades que se

fragilizaram devido às perdas ocorridas pelo passar dos anos.

O processo do envelhecimento ocorre diferente de uma pessoa para outra

devido as características genéticas, estilo de vida e cultura, porém mesmo com essas

diferenças, mudanças nos aspectos físicos, psíquicos e sociais ocorrem com todas as

pessoas indistintamente junto com as perdas. Esses fatores contribuem para a

dependência, depressão, solidão, baixa da autoestima e da motivação, dificuldade de

adaptação a novos papeis sociais e de planejar o futuro, tais fatores colaboram para

o mal-estar do idoso, ele passa a sentir-se marginalizado pela sociedade podendo

causar crises de identidade, ressaltando ainda, que em muitos casos há também uma

perda de ordem financeira.

Na busca de recuperar a independência e minimizar os efeitos do

envelhecimento, é natural que o idoso procure mudar hábitos para se adaptar e se

manter ativo na sociedade, consequentemente viver com mais qualidade de vida,

observa-se que os idosos ativos têm interesse em continuar suas participações

sociais, econômicas, espirituais e civis, ou seja, ele pode contribuir ativamente para a

sociedade.

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Na década de 90 a OMS adotou o termo “envelhecimento ativo”, como uma

experiência positiva de uma vida cada vez mais longa, justamente, para enquadrar

esses idosos que mesmo depois de aposentar ou com alguma doença manifesta as

condições de ser ativo, não só fisicamente, mas nos termos acima citado. No entanto,

uso da tecnologia estimula o envelhecimento ativo.

Os resultados apurados na pesquisa realizada demonstraram que o uso das

Tecnologias da Informação, ofereceram benefícios e influenciaram para mudanças na

vida dos idosos entrevistados, refletindo na realização de algumas atividades

cotidianas. O contato com a informática colaborou beneficamente perante as perdas

ocorridas nos aspectos físicos, psicológicos e sociais no envelhecimento.

O aumento da autoestima apareceu com maior veemência nos relatos e na

observação da postura e do comportamento dos idosos entrevistados, vários fatores

contribuíram para esse aumento, como o “aprender coisas novas”.

Outra característica relatada foi em relação à inserção social e digital com o

uso de novas tecnologias. Esse contato com as TICs trouxe também, novos

aprendizados e compreensão de outros conceitos, comportamentos e atitudes que

colaboram para a inserção do idoso na sociedade. Durante as entrevistas, observou-

se que os idosos se sentiam excluídos e dependentes quanto à tecnologia e que após

o uso dessas ferramentas eles se sentiram mais seguros, não precisando tanto da

ajuda de outras pessoas e, principalmente que por se sentirem participantes de um

“novo mundo” tecnológico e mutante. Além disso, o uso do computador, com

diferentes ferramentas, proporcionou novas e reais interações sociais e com a família.

Com melhora da autoestima, naturalmente o idoso torna-se mais ativo e busca

cuidar mais da saúde e desenvolver um grau maior de independência e autonomia.

Por exemplo, conseguir chamar um transporte por aplicativo e não depender de outra

pessoa para realização de tarefas simples, mas, que colabora para a liberdade de

ação do idoso, conforme suas vontades.

Novos aprendizados e desafios foi outro fator de destaque como forma de

estimular a criação. Com o aprendizado de programas como Photoshop, a criatividade

relaciona aqui aspectos sociais, motores, demonstrando melhor capacidade cognitiva

e funcional. Para que o aprendizado se torna um benefício, foi observado entre os

relatos dos entrevistados o método de ensino, relataram quanto é importante a

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utilização de um método específico para eles e que na ocasião foi adequado, houve

aproveitamento do conteúdo, o contato com outras pessoas da mesma faixa etária

facilitou o processo de aprendizado e o entendimento de um mundo “moderno” e até

então desconhecido o que os motivaram a aprender cada vez mais.

A partir dos resultados da pesquisa realizada, verificou-se que idosos inseridos

ao mundo digital, tendem a manter um estilo de vida mais saudável, com melhor

qualidade de vida e substancial melhora na autoestima, o que leva a um grau maior

de independência e autonomia. O resultado aqui encontrado, pode ser legitimado por

outras investigações que sinalizam também para melhora funcional e cognitiva do

idoso a partir da inclusão digital. Entretanto, embora muitas pesquisas caminhem na

mesma direção da pesquisa realizada, considerando que a mesma se valeu de

métodos científicos, com todo o rigor necessário, resultados diferentes dos

mencionados, podem ser encontrados na análise de outros grupos de alunos ou em

outro tempo.

Assim sugere-se, que políticas públicas proporcionem essas atividades e

ferramentas para a população idosa, que mais espaços com cursos voltados

especificamente para esse público sejam criados sob a didática específica para eles

e outras pesquisas de aprofundamento do tema, como por exemplo, modelo didático

de ensino específico à terceira idade, sejam realizadas, tendo em vista o aumento da

expectativa de vida do brasileiro que em breve ultrapassará os 75,8 anos. E, mais

ainda, considerando que a estimativa, segundo o IBGE, é de que o Brasil terá em

2060, um quarto da população brasileira com mais que 65 anos.

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APÊNDICES

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Apêndice 1: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Eu, __________________________________________________, nascido(a) em

____/____/____, portador(a) do RG nº ________________________, estou ciente

que ao assinar este documento declaro que concordo participar da pesquisa intitulada

“A vida do idoso após aprender a usar a tecnologia: Informática e Internet” realizada

por Líslei Rosa de Freitas com a orientação da Profª Drª Iris Callado Sanches.

Assinado este Termo de Consentimento, como participante da pesquisa, estou ciente

dos itens a seguir:

a) O objetivo dessa pesquisa é analisar quais as mudanças ocorridas na vida dos idosos

de 60 a 80 anos após terem aprendido a usar a tecnologia, especificamente a

Informática e a Internet.

b) Para obter as informações necessárias, será utilizada uma entrevista semi-

estruturada. As entrevistas serão gravadas e, realizadas em horário adequado que

atende a minha conveniência e a do pesquisador em um Espaço Cultural localizado

na Cidade de Guarulhos. O tempo estimado de duração é de 30 a 40 minutos.

c) Não são esperados riscos ou prejuízos físicos, psicológicos ou emocionais para as

pessoas participantes da pesquisa nem tampouco gastos ou ganhos de ordem

financeira. Entretanto, há um risco mínimo envolvido na participação, onde os

participantes podem sentir algum constrangimento na hora de responder a entrevista.

Neste caso, se for de vontade do entrevistado, a mesma pode ser interrompida.

d) Participar dessa pesquisa pode me trazer benefícios diretos e indiretos. Indiretamente

envolve minha contribuição com a produção de conhecimentos sobre o tema

investigado. De forma direta minha participação na investigação me beneficiará por

permitir que me expresse e compreenda quais as mudanças que ocorreram na minha

vida após ter aprendido a usar a tecnologia.

e) Entendo que a minha participação na pesquisa é voluntária e que tenho direito e

liberdade de interrompe-la a qualquer momento.

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f) Todos os meus dados pessoas serão mantidos em sigilo. A entrevista gravada em

áudio será transcrita. Os registros serão guardados por cinco anos e, posteriormente,

serão apagados. Os resultados gerais obtidos nessa pesquisa serão utilizado com a

única finalidade de alcançar os objetivos propostos acima, incluindo sua publicação

na literatura científica especializada.

g) Declaro ter recebido todas as informações para que eu possa decidir conscientemente

sobre minha participação na pesquisa.

h) A pesquisa está sendo conduzida pela estudante Líslei Rosa de Freitas, aluna do

Programa de Mestrado em Ciências do Envelhecimento da Universidade São Judas

Tadeu. A pesquisa é orientada pela Professora Dra. Iris Callado Sanches que poderá

ser contatada no e-mail: [email protected], ou no CEP/USJT (Centro de

Pesquisa) cujo telefone é 2799-1950 (e- mail do CEP/ USJT: [email protected]). Esses

contatos poderão ser acionados caso você apresente qualquer dúvida sobre os

procedimentos, ou mesmo em caso de reclamações.

i) Esse termo de Consentimento e Livre Esclarecimento possui duas vias e, após a

assinatura e rubrica de todas as páginas, uma via permanecerá em meu poder e outra

com o pesquisador responsável.

São Paulo, ____ de _____________________ de _________

__________________________

Assinatura Participante

____________________________ __________________________

Assinatura do Pesquisador Assinatura do Pesquisador

Profa. Dra. Iris Callado Sanches Líslei Rosa de Freitas

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Apêndice 2: Pesquisa socio-demográfica

1. Sexo:

( ) Feminino ( ) Masculino

2. Qual sua idade? _______

3. Qual o seu grau de instrução?

( ) Analfabeto / Menos de um ano de instrução

( ) Ensino Fundamental Incompleto

( ) Ensino Fundamental Completo

( ) Ensino Médio Incompleto

( ) Ensino Médio Completo

( ) Superior Incompleto

( ) Superior Completo ou mais

4. O(a) sr(a) trabalha?

( ) Sim ( ) Não

5. Qual a sua Profissão?

__________________________________________________________

__________________________________________________________

6. Quantas pessoas moram na mesma casa que o Sr(a)?

( ) Nenhuma, moro só. ( ) 1 a 2 pessoas ( ) acima de 2 pessoas.

7. Você possui computador?

( ) Sim ( ) Não

8. Você possui aparelho de celular?

( ) Sim. Qual a marca? ____________________________________ ( ) Não

9. Qual é a operadora de comunicação móvel você utiliza?

( ) Vivo ( ) TIM

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( ) Claro ( ) Nextel ( ) Outro

10. Seu plano de celular é:

( ) Pré-pago ( ) Pós-pago

11. No seu plano de celular tem pacote de dados de Internet?

( ) Sim ( ) Não

12. Você tem plano de Internet e casa (Wi-Fi)?

( ) Sim. Qual empresa? _______________________________ ( ) Não

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Apêndice 3: Quadro de categorias de análise

Participante Unidade de significado

(fala do participante) Interpretação do

pesquisador Categorias

01 1.1 “Essa coisa de pesquisar as coisas no celular mudou a minha vida sim... porque eu fiquei viciada *risos* perco muito tempo, quer dizer... o tempo que eu não abria que tinha que abrir o computador, então a gente pensava: Ah tem que abrir o computador, deixava pra lá, agora o celular eu paro tudo e vou lá. Agora estou sempre bem informada e muitas pessoas, amigos que não tem, ou não tem paciência, ou não sabem, ligam pra mim para perguntar certas coisas que eu tenho que olhar na internet que eles não tem acesso ou não tem conhecimento, eu aprendo muito com isso.”

Proporcionou novos conhecimentos por meio da pesquisa e bem estar por causa das novas aprendizagens

Aprendizagem

1.2 “Aí! Descobertas do mundo novo, de fazer coisas que eu queria e não tinha nada pronto, então da gente poder fazer aquilo que a gente queria e aprender. Foi significativo essas coisas que estamos fazendo, por exemplo o Fotolivro, criando coisas que são de recordações, cartões, essas coisas que são coisas mais pessoais que só mesmo a gente criando é.... só a gente pode fazer que não vai encontrar nada pronto... *choro de emoção* Me sinto bem pelo sentimento de alegria de poder ter aquilo que eu queria e que não tinha.”

Proporcionou novas descobertas por meio dos novos aprendizados e estimulou a criatividade. Mostrou satisfação e moção quando falou que aprendeu coisas novas.

Aprendizagem

1.3 “O que mudou na minha vida? Independência. Tudo eu precisava perguntar para a minha filha. O que era, o que não era. Como que fazia como não fazia e também criar coisas novas, coisas que a gente queria que tivesse pronto e não tem e a gente pode fazer.”

A independência e a autonomia para resolver questões relacionadas à tecnologia.

Independência e autonomia

02 2.1 “Bom... eu já conhecia Informática porque meu trabalho exigia. Mas era só planilha Excel e Word que eu trabalhava. Além disso eu não manjava muito não. Aí, aqui eu comecei a mexer com fotografia, fazer oficina da memória, tinha que escrever a história da vida da gente e, com isso abriu muito a minha mente e me ajudou muito assim, meu autoestima elevou. Eu tinha acabado de aposentar quando eu

Mudança na vida após a aposentadoria

Mudança

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comecei a fazer os cursos aqui, comecei com 58 anos, então há 5 anos que estou aqui. E para mim assim, logo que a pessoa aposenta, a pessoa fica meio deprimida, eu não senti isso, porque ... foi assim... fiz 3 cursos ao mesmo tempo e isso me ajudou muito. Aproveitei muito os cursos”.

“O curso de informática me ajudou muito, pois minha autoestima foi lá em cima. Pois fazia foto para colocar no Facebook, nossa... foi muito bom pra mim... muito bom.... me ajudou muito. Eu acho que assim.... Esses cursos não deixa você ficar deprimida, você se sente útil pois está aprendendo alguma coisa na terceira idade, porque depois dos 60 ... acho que ajuda a memória da gente também né... e se sentir mais bonita também... com as fotos, pois ajuda você a mexer nas fotos fazer umas coisas bem legal.”

Melhorou a autoestima e consequentemen-te preveniu uma depressão.

Autoestima

03 3.1 “De melhorar a vida??? Agora melhorou em tudo, né? Antigamente eu tinha problema com a televisão porque TUDO é tecnologia, então eu me atrapalhava, não sabia entrar, não entrava, precisava ficar chamando meu sobrinho para vir acertar, para mim, me sentia incompetente, mas agora eu já melhorei bem mesmo. Mesmo no celular, eu não tenho ainda um moderninho... pedi para meu sobrinho comprar um mais moderno pra mim... o meu é super antigo. Só que eu preciso ir lá... ele disse pra mim ir lá e escolher junto com ele, mas melhorou muito .... ahhh o celular era um sufoco pra mim e isso também já melhorou ... melhorou tudo... porque hoje em dia tudo é tecnologia e a gente tem que se atualizar não pode ficar lá em 1900 e antigamente.”

Senti na entrevista que a entrevistada estava muito orgulhosa de si e que se sentia bem. Sorria muito e se mostrou muito feliz.

Autoestima

3.2 “É muito importante... não só pra mim... mas para todo mundo. Todo mundo tem que ter essa tecnologia porque, mesmo no banco, no banco eu sentia uma dificuldade terrível... aperta botão aqui... aperta botão ali... Ah meu Deus... eu sempre chamo o auxiliar ... mas agora eu já me viro bem sozinha, só alguma coisa assim, que eu não sei mesmo que eu chamo a menina lá para me ajudar.

O fato de se virar sozinha em algumas circunstancias do dia a dia lhe trouxe bem estar.

Independência e autonomia

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Está ajudando muito mesmo, muito, muito mesmo...”

04 4.1 “Mudou bastante... mudou muito no sentido assim... de aprendizado, né! De socialização, lógico também... mudou assim, em termos de terapia, porque para mim, por exemplo o Photoshop é uma terapia. Quando eu estou meio estressada eu vou lá no Photoshop e consigo me acalmar porque eu me divirto, eu faço minhas criações aí tem coisas que eu acho super legal ... que eu que fiz e NOSSA ficou legal! Ficou lindo! Tem coisa que eu acho que ficou realmente lindo. Então o Photoshop principalmente pra mim é assim uma grande terapia. Entendeu? Mudou bastante... eu crio muitas coisas... e me divirto assim...”

Benefícios que as novas aprendizagens trouxeram.

Aprendizagem

4.2 “O Photoshop me traz sentimento de ... é.... como é que eu vou dizer assim.... de... autoestima...de eu poder criar. Por eu conseguir ter esse poder de criação... (tem uma palavra que eu quero achar... não é essa palavra ‘poder’ que eu quero dizer) mas esse sentimento de saber fazer alguma coisa diferente de criar também de saber criar alguma coisa legal. [...] me sinto bem, atualizada também, porque, dá pra gente fazer tanta coisa. Como você mesmo diz que tem jovem hoje que não sabe o que a gente sabe no Photoshop, né? Muito jovem não sabe fazer o que a gente faz. Pois é a capacidade! A Capacidade que a gente tem de criação de renovação.... né?”

O poder de criação que deu utilizando a informática aumentou a autoestima.

Autoestima

4.3 “Ajudou bastante a gente a reencontrar amigos de infância, amigos da escola, encontrei todo o grupo dos amigos da escola - 74, agora vamos fazer um encontro, no ano que vem ... Lá no Ceará, se Deus quiser... né? E... as notícias, você fica mais atualizada com as notícias, fica mais atualizada com... com tudo assim... novela, é moda, você consegue pesquisar muita coisa que você não sabe, ajuda tirar suas dificuldades, aprende de tudo que a gente precisa, você vai lá e aprende que é uma superação muito grande para as pessoas da idade da gente estar hoje assim bem antenada dentro da computação, né?”

A satisfação da comunicação com amigos e da inclusão novamente em grupos sociais.

Inclusão

05 5.1 “Me deu mais segurança de mexer no telefone, de poder pesquisar...

Proporcionou bem estar por

Aprendizagem

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cada vez que eu ia e aprendia alguma coisa, era uma realização muito grande pra mim. Coisa que no meu passado, quando eu era pequena, diziam que eu era Burra, que eu não aprendia, talvez se tivessem me dado esse mesmo incentivo quando eu era criança as coisas tinham sido mais fáceis pra mim na vida, que agora, na velhice eu estou encontrando. É uma realização muito grande. A mudança foi mais que boa... foi ótima. Quando eu converso com as pessoas da minha idade eu falo para elas... VAI FAZ.... você vai se sentir muito melhor... isso faz bem para o ego da gente.”

conta das novas aprendizagens e consequentemente mais segurança

5.2 “Me realizei muito... não só eu, como os meus filhos achavam que eu não tinha capacidade de ver o celular e que só aquilo era o suficiente, o que eu aprendi do “Zap” e de apagar alguma coisa e no Face, dali não tinha mais nada... mas eu comecei a ver que as pessoas com a minha idade sabiam mais, então eu pensei: Porque não saber mais? Não vai me prejudicar, só vai me dar vantagens e me sentir mais útil e não precisar tanto das pessoas como a gente precisa as vezes por causa da idade, então eu acho que deu uma independência muito grande, então me ajudou MUITO. [...] Minha nora falava que não precisava, agora ela fala: ‘Minha mãe precisava ir, porque a Senhora hoje mexe no celular e a gente ve que a Senhora está até mais independente’... e é verdade!”

A realização perante os filhos e o fato de conseguir realizar atividades sem a ajuda deles e o reconhecimento da independência conquistada lhe trouxe bem estar.

Independência e autonomia

06 6.1 “A tecnologia mudou tudo, sabe? Antes quando eu via uma publicação com fotos, paisagens, escritas, eu ficava encantada, né? E achava que era impossível... que era muito lindo e era impossível uma coisa assim, eu saber. Aí quando eu vi a possibilidade de eu aprender, eu vim. E eu fiquei assim encantada. No começo, quando eu comecei a aprender, eu falei: Ah, será que eu vou conseguir? Daí fui indo, fui indo, fui tentando, fui fazendo os trabalhinhos de casa, fui treinando em casa e, hoje eu me sinto muito confortável nesse trabalho de Photoshop, faço cartão, fizemos uma festinha lá na minha igreja, nós fizemos um chá de senhoras, eu que fiz tudo! Eu que fiz os painéis, fiz os

Proporcionou bem estar por conta das novas aprendizagens que não acreditava que conseguiria

Aprendizagem

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convites, fiz os enfeites, tudo com as nossas fotos *risos*. [...] E eu assim... fui tão elogiada fiquei feliz... eu me sinto assim... como que inserida desse complexo todo do Photoshop de tecnologia eu acho um encanto. [...] Acho que é... acho que sim... que eu sou capaz, que sou admirada e, eu também gosto né, de expor meu trabalho ... meus trabalhos é como se fosse uma arte... é uma arte.... na verdade, é uma arte.... Ah, eu tô muito contente, eu acho que assim... eu encontrar aqui, a Vila, conhecer a Professora Edna é... que ela é muito dedicada e ela faz questão da gente aprender.”

6.2 “[...] eu acho que minha vida mudou! E muito! Me sinto mais... mais importante! Mais útil mais importante é... mais integrada, mais inserida... assim todo.... eu me sinto como se eu não fosse da terceira idade que dá para competir com jovens inclusive minhas netas acham maravilhoso, agora eu fiz canecas para elas e elas acham encantador também e, falam que: Ah minha avó... Minha avó é moderna, é uma gata... minha avó tudo e... acho muito bacana ... acho que é isso. [...] Eu acho que foi assim um diferencial na minha vida, foi um divisor de águas, o antes e o depois daqui. Eu não gostava de tirar foto hoje eu estou exibida pra caramba *risos* hoje eu estou tirando fotos eu tô fazendo Photoshop eu tô me “photoshopando” *risos* até de mais... Tô ficando muito metida!!! É isso...

O sentimento de importância fez aumentar a autoestima. A entrevistada pegou até um espelho para se olhar.

Autoestima

6.3 “Coloquei a foto dela - a preletora da igreja, tirei uma foto na hora, coloquei no programa é... coloquei o rostinho dela, arrumei no Photoshop, deixei ela toda bonita, fiz o cartaz, fiz os cartazes tudo no Photoshop. [...] Fiz cartão, cartão de visita, fiz folders, para a minha neta da faculdade, já fiz cartazes... fiz livro agora, né?”

Se sentiu incluída num grupo social por meio dos trabalhos realizados com o Photoshop

Inclusão

07 7.1 “Me sinto muito mais ativa, mais atenta... principalmente mais atenta. Sabe, eu preciso mexer no computador, eu quero prestar atenção, eu quero aprender eu quero.... ele faz parte da minha vida hoje... ele faz parte da minha vida... quando ele não está funcionando

Mudança de comportamento

Mudança

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*risos* eu fico sem fazer nada... eu fico perdida na minha casa.”

08 8.1 “Mudou para melhor... porque agora eu não preciso mais ficar escrevendo cartinhas para parente, eu quero notícias de parente e vai ali pelo Face pelo WhatsApp a gente tem notícias muito rápido, né? Eu quero uma receita eu não fico lá olhando aqueles cadernos desfolhados ... a gente procura uma receita é muito fácil. E facilita muito para marcação de consulta, para pegar resultado de exame, para pagar contas...”

Mudança de comportamento

Mudança

8.2 “Então eu acho que mudou muito... foi bom pra mim. Quando eu consigo fazer uma coisa eu faço que nem criança, eu faço: Uhuuu consegui fazer sozinha!!! *risos* Eu fico feliz, né? Porque eu comecei faz pouco tempo, quantos anos que eu tenho computador dentro de casa? E assim... os outros faziam e eu fui ficando para traz agora eu me apurei, vi que eu preciso ... me sinto muito feliz de estar fazendo essas coisas.”

A felicidade em conseguir fazer o que deseja no celular ficou evidente.

Autoestima

09 9.1 “Agora o computador pra mim é uma satisfação. Eu me sinto satisfeita de saber um pouquinho lidar com o computador, porque é como eu falei... o computador é minha companhia. Quando eu estou triste eu vou para o computador, quando eu estou alegre eu vou para o computador, quando eu estou sozinha eu vou para o computador, e tudo é o computador. Agora eu não gosto mais de televisão então pra mim o computador está em primeiro plano. [...] Minha vida é essa. E, olha... depois que meu marido morreu o computador realmente é a minha salvação... eu acordo - estou nessa fase agora - a fase da insônia, eu levanto de madrugada e vou para o computador, fico jogando até vir o sono de novo. Aí eu deito e durmo ... sabe... pra mim como eu moro sozinha é uma companhia porque eu tô escutando eles falarem... eu tô escutando música, né? Eu gosto de escutar música no computador... aí eu fico escutando aquelas músicas do meu tempo aí vai me relaxando, cê entendeu? É minha maneira que eu achei para driblar a solidão.”

Mudança de comportamentos.

Mudança

9.2 “Pra mim, mudou tudo... porque eu não sabia nem ligar e nem desligar o computador, nem telefone, nada!

Se sentia alienada, nas palavras dela e,

Inclusão

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Tava alienada. Aí comecei a fazer a computação, fiz vários cursos e muitos amigos. Agora estou fazendo Photoshop e Fotobook e me acho ma-ra-vi-lho-sa porque na minha idade os outros perguntam: Você sabe fazer? Sei! Eu uso o computador pra tudo, uso o computador pra jogo, pra pesquisa, pra tudo... pra mim o computador agora na minha vida não pode deixar de ter, né? Que eu adoro... ADORO! Pra mim é uma companhia, porque eu estou sozinha em casa agora, então se eu estou sentindo triste ou qualquer coisa, vou para o computador, procuro alguma coisa, algum vídeo, alguma coisa e eu fico escutando... pra mim é que nem uma companhia, então eu ADORO!”

depois de aprender a informática se sentiu mais incluída.

10 10.1 “[...] Porque você liga o seu celular, no seu celular você tem a condição de entrar na internet, no Youtube, de ... de... fazer uma série de coisa, né? Você marca consulta de médico, faz tudo naquele pequeno aparelho.”

O fato de conseguir realizar atividades sem precisar de ajuda.

Independência e autonomia

11 11.1 “Tempo, tá. A gente vê que a gente economiza bastante tempo, né. E depois outra, a gente aprende muitas coisas pelas mensagens que o pessoal manda, pelo grupo, né? Sempre tem mensagens boas e... a facilidade de comunicação, sabe? Eu acho que facilita bastante a comunicação. Porque as vezes você não tem tempo de ficar pegando no telefone, vai pra lá... perde mais tempo. Agora se passa uma mensagem já resolve, né? Eu acho que é muito importante essa mensagem, e hoje tem bastante mensagem aqui e, quando tem um aniversário, então: hoje é aniversário do meu Padre, lá da Nossa Senhora! O que tem de mensagem até me enche o saco... *risos*”.

Mudança de comportamentos

Mudança

11.2 “Mas eu acho que é bom... melhorou bastante pra mim. Que nem o Uber... nossa... muito bom pra mim, a gente não tem carro, quando eu precisei para a cachorrinha... meu Deus o que eu usei de Uber, não dependi de ninguém!!! Agora minha cunhada estava comigo, nós fomos para São Paulo de Uber, né? Outro dia, foi questão de mês passado, nós fomos até Santos de Uber, sabe? [...] então a questão do Uber foi muito bom e. o EMTU também, hummm o que eu vejo mais também, é o clima, o

Melhorou a autonomia

Independência e autonomia

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salmo do dia, ligo sempre no salmo do dia também, tem liturgia, e TV aparecida que eu assisto, quando eu não posso ficar na televisão, quando está quase para dormir, então eu pego e ligo aqui, só que você começa a assistir, daqui a pouco você dorme, então *riso*”

12 12.1 “Mudou praticamente tudo! Porque você fica bem informado da situação, né? Fica mais desenvolto, fica integrado na mídia praticamente, né, você fica interagindo, é uma situação que temos que fazer, nós da terceira idade temos que interagir, de ver esse mundo atual, esse mundo atual é um mundo que todos nós temos que viver, nós não nascemos nesse mundo, mas temos que viver nesse mundo atual, porque senão a gente fica por fora da situação, por fora de todo o movimento que a gente .... tá na nossa frente, está dizendo está aí... e você não abraça então não pode, não digo viver, mas pelo menos ter um desenvolvimento melhor na vida, então, a informática pra mim é, e está sendo. Aprendi várias situações na informática e... não sabia nem ligar o computador.... pelo que eu faço hoje... que aprendi com a professora.”

Acesso à Informação com propósito de mudança na vida. O entrevistado salientou muito o processo de ensino que o ajudou a mudar comportamentos em sua vida.

Mudanças

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Apêndice 4: Esquema de convergências

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ANEXO 1 – Autorização para coleta de dados