IESTERILIZAÇÃOI DE ALIMENTOS POR MICROONDAS PARA … · cado no centro do prato girat6rio de um...

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IESTER ILIZAÇÃOI DE AL IMENTOS P OR MICR OONDAS PARA PACIENTE S REC EPTORES DE TRANSPLA NTE D E MEDULA Luola de Ses Sb Matos* RESUMO - Receptores de transplante de medula apresentam inúmeros proble- mas gastrointestinais que interferem com uma adequada ingestão or al. Estudos prévios mostram que o ambiente com fluxo laminar, dieta estéril, desconta mi- nação oral com· antibi 6 ticos e limpeza da pe le são fatores significantes na pre- venção da infecção. A litera tura recomenda a esterilização dos aliment os p or au- toclagem, irradiação ou f orno. Nesse trabalho propõe-se a esterilização por mi - croondas, por ser um processo rápido , seguro e não alterar o aspecto e s abor dos alimentos. ABSTRACT - Marrow transplant recipients present numerous problems of gastrintestinais that wich intefere with adequate oral intake. Previous studies showed the effectiveness Df laminar air flow isolation, sterile diet, descontamination with oral antibiotcs and skin cle asing in prevention infections. The literature recommend the food sterilization by autoclave, irradiation or oven baking. This work purpose the microwave sterilization because it's a very quick ly process, security and don't alter the flavour and aspect of food. 1 INTRODUÇÃO A uão de isolento com fluxo lin - sdo uso de bi6cos ors não absorvíveis, deontnação da pele e dieta estél m resuldo em uma redução significava na cidência de in- fçs em pientes eptores de tspl de me- dula ' Obrv- que pientes em u de bi6cos ors não absorvíveis são bém cas de conse- guir uma desconinação gasointest com - mentos de baixo nível de coninão bteriana, embora ja ide, uma dieta esril. As infecçs são desenvolvidas r bilos gr-negavos que colonizam o trato gastrointesn e rpirat6rio e são a princip causa de morbidade e moridade. O biente hosp i incluindo o Serviço de Nu- trição de contribuir pa a intdução de patÔgenos que são potencimente virulentos e resistentes a - bi6cos sismicos. PIO .et i · romend que a maioria dos alimentos entados que requerem uimento devem ser fervidos ou colados no foo dur 5 minutos e transferidos a guir pa um ipiente estéril. Outs mentos podem ser colados em plac estéreis, cobertos com paפl umo e autlavados a 121C, r 25 minutos. Embora seja diutida a natureza exata do efeito biol6gico da rião r micrꝏndas CULKIN & FUNG 2 demons que é ssível. inavar cultu- r de Escה co e Sa p adicionad a sopas de tomate, de vegetais e cdo ce qudo submed à ão de micond. Estudos prelimines mostr que é ssível ina- v Bülus sub, Enrobacr cacea, Klebsl pl, Se"a rcesce, Escherh coli, Prote mirab; Pseudomonas aegsa, Sphyl c aureus, Splococ epe r micon- das, em < segundos. Este tbho tem r objevo uti micon- das a 2.450 MHz como pcesso de esção de amentos pa pientes submedos a trsplte de medula. 2 MATERIAL E MÉTODOS Os antos uos pa פsquisa fo cole- tados do Serviço de Nutrição e Dietética do Hospital das Cicas da UFMG e fem pe do cdápio do Hospi. Os antos פsquisos fom sopa de feijão, sopra de macarrão com batas, pa de legumes, ar- roz, feijão, ce moída, de cs, pu de bata- ta baa, teba e quia. De cada de mento, colou- lꝃg em sos pláscos ppos pa mi- cond. Cada so psco contendo o alimento foi colo- cado no cen do pto girat6rio de um foo de mi- cond e submedo à ão de micrꝏndas durte 2 minus. . tência ua foi de 7 watts e a fre- quência de 2.450 MHz. Com uma espátula esl colheu-se l Og de cada nto que foi misturado em um Erleyer com Z ml de Tptca y bth (TSB) e agitado dur 2 minutos. Desta mistura, 2 mf foi tsferida por piפta esté p um tu com 20 I de TSB e 2MI 1 tubo com tioglicolato (. Com u piפ esl tsferiu- 1 m1 amostra pa 1 placa de Petri estéril e adicionou- 15m1 de Tripe soy ag (TSA). A seguir, 50 m1 foi equo r u ça de plana em pl de ag gue (AS). As pla m * Prof An Ela de Enfmagem da UG. Mes em Mibiologia. R. B. Enfe., Brua, 43 (l, 2, 3/4): 123- 125 , jd. 19Z 123

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I ESTERI LIZAÇÃOI DE A LIMENTOS POR MICROONDAS PARA PACIE NTES RECEPTOR ES DE TRANSPLANTE DE MEDU LA

Luciola de Sales Seabra Matos*

RESUMO - Receptores d e t ra n s p lante d e med u l a ap re sentam i núme ros p roble­mas gastro i ntest i na i s qu e in te rfe rem com uma adequada i ngestão oral . Estudos p ré v ios mo stram que o ambiente com f luxo l ami nar , d ieta esté r i l , d e scontam i ­n ação ora l com· a nt ibi6t icos e l impeza d a pe le são fato re s s i gn i f icantes na pre­venção da i nfecção. A l ite ratu ra recome nda a este r i l i zação dos a l imentos po r au­toc lagem, i rrad iação o u fo rno. Ne s s e trabal h o p ropõe-s e a e ster i l i zação por mi­c roondas , por ser um p rocesso ráp ido , seg u ro e n ão a l terar o aspecto e s abor dos a l imento s .

ABSTRACT - Mar row t ra n s p lant rec ip ients p re se n t n u m e ro u s p roblems of g astr intest i na is that wi c h i ntefe re with adequ ate o ral i n ta k e . P rev ious s tud ies s h owed the effect i veness Df lami n a r a i r f l ow i so lat ion , ste r i le d iet , d e sco ntami nat io n with o ra l ant ib iotcs a n d s k i n c leas ing in prevent ion i n fect ions . The l i te ratu re recomme n d the food ste r i l i zat ion by a utoc lave , i r rad iat ion o r oven ba k i n g . Th i s wo rk pu rpose the mic rowave ster i l izat ion bec a u s e i t ' s a ve ry qu i c k ly p roces s , secu r ity and don 't a lte r the f lavo u r and a s p e ct o f food .

1 I NTRODUÇÃO

A utilização de isolamento com fluxo laminar as­sociado ao uso de antibi6ticos orais não absorvíveis, descontaminação da pele e dieta estéril tem resultado em uma redução significativa na incidência de in­fecções em pacientes receptores de transplante de me­dula ' •

Observar-se que pacientes em uso de antibi6ticos orais não absorvíveis são também capazes de conse­guir uma descontaminação gastrointestinaI com ali­mentos de baixo nível de contaminação bacteriana, embora seja ideal, uma dieta estéril.

As infecções são desenvolvidas por bacilos gram-negativos que colonizam o trato gastrointestinal e respirat6rio e são a principal causa de morbidade e mortaIidade.

O ambiente hospitalar incluindo o Serviço de Nu­trição pode contribuir para a introdução de patÔgenos que são potencialmente virulentos e resistentes a anti­bi6ticos sistêmicos.

PIZZO .et aIii · recomendam que a maioria dos alimentos enlatados que requerem aquecimento devem ser fervidos ou colocados no forno durante 5 minutos e transferidos a seguir para um recipiente estéril.

Outros alimentos podem ser colocados em placas estéreis, cobertos com papel alumínio e autoclavados a 1 21!!C, por 25 minutos.

Embora seja discutida a natureza exata do efeito biol6gico da radiação por microondas CULKIN & FUNG 2 demonstraram que é possível. inativar cultu­ras de Escherichia coli e Salmonella typhimwim adicionadas a sopas de tomate, de vegetais e caldo de carne quando submetidas à ação de microondas.

Estudos preliminares mostram que é possível ina­tivar Bacülus subtilis, Enterobacter c/oacea, Klebsiel/a pneumonial, Se"atia marcescens, Escherichia coli, Proteus mirabilis; Pseudomonas aeruginosa, Staphylo-

cocus aureus, Staphylococus epidennidis por microon­das, em 60 segundos.

Este trabalho tem por objetivo utilizar microon­das a 2.450 MHz como processo de esteriIização de alimentos para pacientes submetidos a transplante de medula.

2 MATE R I AL E MÉTODOS

Os aIimentos utilizados para pesquisa foram cole­tados do Serviço de Nutrição e Dietética do Hospital das CHnicas da UFMG e fazem parte do cardápio do Hospital.

Os aIimentos pesquisados foram sopa de feijão, sopra de macarrão com batatas, sopa de legumes, ar­roz, feijão, carne moída, iscas de carnes, purê de bata­ta baroa, beterraba e quiabo. De cada tipo de alimento, colocou-se lOOg em sacos plásticos próprios para mi­croondas.

Cada saco plástico contendo o alimento foi colo­cado no centro do prato girat6rio de um forno de mi­croondas e submetido à ação de microondas durante 2 minutos. f!.. potência utilizada foi de 700 watts e a fre­quência de 2.450 MHz.

Com uma espátula estéril colheu-se lOg de cada alimento que foi misturado em um Erlemeyer com 90 ml de Triptcase soy broth (TSB) e agitado durante 2 minutos.

Desta mistura, 2 mf foi transferida por pipeta estéril para um tubo com 20 I de TSB e mais 2MI para 1 tubo com tioglicolato (T).

Com uma pipeta estéril transferiu-se 1 m1 da amostra para 1 placa de Petri estéril e adicionou-se 1 5m1 de Triptcase soy agar (TSA).

A seguir, 50 m1 foi adequado por uma alça de platina em placas de agar sangue (AS). As placas com

* Professora Assistente da Escola de Enfermagem da UFMG. Mestre em Microbiologia.

R. Bras. Enferm., Brasrua, 43 ( l , 2, 3/4): 123- 125, jan./dez. 1990 123

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TSA fOrlam incubadas a 3'?-C durante 48 horas e as placas com agar sangue foram

, incubadas em 5% de

C02 a 372<: durante 48 horas. Os tubos de tioglicolato foram incubados a 3'?-C

e os tubos de TSB à temperatura ambiente durante 5 dias. Após esse período, de cada cultura, foi plaqueado por alça de platina 50 rol em agar sangue e incubado

em 5% de CO2, s 3'?-c, durante 24 h.

R ESULTADO E D ISCUS S ÃO

Irradiação por microondas dos alimentos resul­tou esterelização, dos mesmos dentro de 2 min., de acordo com os dados apresentados na Tabela I.

TABELA I - A V ALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA DE ALIMENTOS ESTERILIZADOS POR MICROONDAS EM 2 MINUTOS.

Meios de Cultura

Tipos de Alimentos TSB T TSA AS TSB T AS* AS**

- Sopa de Feijão - Sopa de Macarrão - Sopa de Legumes + + + + + - Arroz - Feijão

+ - Càrne Moída - Iscas de Carne - Purê de batata baroa - Beterraba + - Quiaba

* Cultura transferida do TSB para AS, com incubação em 5% de C02 ** Cultura transferida do Tioglicolato para AS, com incubação de 5% de C02.

Ressalta-se que os sacos plásticos das amostras de sopa de legumes e sopa de macarrão romperam duran­te o processo de esterilização, por excesso de vapor formado no interior dos mesmos. Não houve contami­nação da sopa de macarrão, mas as culturas da amos­tra de sopa de legumes apresentaram turvação nos tu­bos de TSB e T, e inómeras colÔnias na placa de TSA e AS ap6s transferência da cultura de TSB . O aspecto morfológico das colÔnias bem como o Gram revela­ram tratar-se de contaminantes do ar.

As amostras de beterraba e iscas de carne apre­sentaram 1 e 2 colÔnias basterianas, respectivamente, também de contaminantes do ar.

O critério de tempo de esterilização por 2 minu­tos, foi baseado nos trabalhos de LA TIMER & MA T -SEN5, que demonstraram que o tempo para inativar patôgenos comumente isolados em clínicas era de 60 segundos e SANBORN, M.R. eI alii8 , que determi­naram 60 segundos para inativar vírus Escherichia c� li, P seudomonas jluorescens, Klebsiella pneumoniae e 1 20 segundos para inativar Proteus vulgaris, Strepto­cocus faecium, Corynebacterium equi e Bacillus globi­gii, embora estes autores tenham utilizado meios de cultura líquido com um volume de 5 ml.

Ainda é incerto o mecanismo de morte de micro­organismos por campo de rádio frequência ou micro­ondas, mas a maioria dos autores acredita que o efeito letal � resultante do calor gerado, pois sabe-se que . materiais que absorvem microondas convertem sua energia em calor.

Nestes experimentos verificou-se que a tempera­tura dos alimentos não foi além daquela alcançada por métodos convencionais de cozimento, e a morte bacte­. riana poderia ser explicada pelas alterações nas estru­turas intracelulares produzidas pelo campo eletro­magnético.

Microondas são geradas por um -magnetron e propagadas em linha reta que é chamada de "modo dominante". Por causa disso a força do campo não é uniforme e aparece os "focos frios". Para contornar este problema colocou-se os pacotes de alimentos no centro do prato giratório.

Com dados obtidos pode-se concluir que é possí­vel esterilizar alimentos por microondas.

3 CONCLUSÃO A esterilização de alimentos por microondas é

um método de economia de tempo e energia. É práti­co, seguro e não altera o sabor e aspecto dos alimen­tos, podendo contribuir sobremaneira para uma evo­lução satisfatória do paciente submetido ao transplante de medula. Por outro lado, facilita a aceitação da dieta pelo paciente cujos problemas gastrointestinais inter­ferem em uma ingestão oral adequada.

Recomenda-se no entanto, definir a relação tem­po de esterilização/volume do alimento e formas de acondicionamento dos mesmos.

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3 OOLDBLI rH, S.A., & W ANO, D.I. Effects of Microwa­ves on Escherichia coli and Baullus subtilis. Appl. Mi­croviol. 15: (6): 1371 -5,1967 •

4 ORONINO, R., & JANSKE, U. Keimzahbreduzierung dur­ch Mikrowellen - mikrowellerispazifIsche effekte. Pharmazie. 42 (3): 1 67-8, 1 987.

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5 LA TIMER, J.M., & MA TSEN, J.M. Microwave .ov� I!'­radiation as a Method for Bacterial Decontannnation In a ClinicaI Microbiology Laboratory. l.elin Microbiol. 6 (4): 340-2, 1977.

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7 ROHRER, M. & BULARD, R.A. Microwave SterilizatiOn

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8 SANBORN, M.R. et alii. Microwave Sterilization of Plastic Tissue Cultura Vessels for Reuse. Appl. Env. Microbiol. 44 (4): 960-4, 1982.

9 YOUNG, S.K. GRAVES, D.C., ROHER, MoD., BU­LARD, R.A. Microwave Sterilization of nitrous oxide nasal hoods contamina ted with virus. Oral Surg. Oral Med. PatJwL 60 (6): 581-5, 1985.

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