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O Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC) tem como objetivo gerar uma sólida base de dados para fundamentar políticas públicas que visem a efetiva proteção das florestas nativas mediante a adoção de medidas de conservação, recuperação e utilização dos recursos florestais, além de um planejamento territorial adequado. O inventário foi realizado pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (FAPESC) e do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) no período entre 2007 e 2011 e teve como objetivos específicos: - Caracterizar a composição florística e estrutura dos remanescentes florestais por meio de um inventário sistemático e detalhado; - Caracterizar a diversidade e estrutura genética de populações de espécies ameaçadas empregando marcadores alozímicos; - Realizar um levantamento socioambiental por meio de entrevistas, focado nos usos tradicionais dos recursos florestais e na percepção da população rural; - Criar uma estrutura que permita a todas as pessoas o acesso às informações obtidas através do uso da internet. www.iff.sc.gov.br

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O Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC) tem como objetivo gerar uma sólida base de dados para fundamentar políticas públicas que visem a efetiva proteção das florestas nativas mediante a adoção de medidas de conservação, recuperação e utilização dos recursos florestais, além de um planejamento territorial adequado.

O inventário foi realizado pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (FAPESC) e do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) no período entre 2007 e 2011 e teve como objetivos específicos:

- Caracterizar a composição florística e estrutura dos

remanescentes florestais por meio de um inventário sistemático

e detalhado;

- Caracterizar a diversidade e estrutura genética de populações

de espécies ameaçadas empregando marcadores alozímicos;

- Realizar um levantamento socioambiental por meio de

entrevistas, focado nos usos tradicionais dos recursos florestais e

na percepção da população rural;

- Criar uma estrutura que permita a todas as pessoas o acesso às

informações obtidas através do uso da internet.

www.iff.sc.gov.br

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Ficha Catalográfica elaborada pelaBiblioteca Central da FURB

I62i Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina : resultados resumidos / Alexander C. Vibrans ... [et al.]. - Blumenau : Universidade Regional de Blumenau, 2013. 37 p. : il. ISBN 978-85-64138-20-9 Bibliografia: p. 36-37.

1. Florestas – Santa Catarina. 3. Mapeamento florestal. 4. Levantamento florestal. I. Vibrans, Alexander Christian.

CDD 634.9

© Alexander Christian Vibrans, Lucia Sevegnani, André L. de Gasper, Juarez J. V. Müller, Maurício Sedrez dos Reis

Diagramação: Nenno Silva

Impressão: Gráfica e Editora 3 de Maio Ltda

Distribuição: Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina

Fone: (47) 3221-6040

Correio eletrônico: [email protected]

Internet: www.iff.sc.gov.br

Vibrans, A.C., Sevegnani, L., Lingner, D.V., Gasper, A.L. & Sabbagh, S. 2010. Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC): aspectos metodológicos e operacionais. Pesquisa Florestal Brasileira 30 (64): 291-302.

Vibrans, A. C., Sevegnani, L., Uhlmann, A., Schorn, L. A., Sobral, M., DE Gasper, A.L., Lingner, D.V., et al. 2011. Structure of mixed ombrophyllous forests with Araucaria angustifolia (Araucariaceae) under external stress in Southern Brazil. Revista de Biologia Tropical 59(3): 1371-1387.

Vibrans, A.C.; McRoberts, R.E.; Moser, P.; Nicoletti, A. 2013. Using satellite image-based maps and ground inventory data to estimate the remaining Atlantic forest in the Brazilian state of Santa Catarina. Remote Sensing of Environment 130: 87-95.

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Resultados Resumidos

Alexander C. Vibrans, Lucia Sevegnani,André L. de Gasper, Juarez J. V. Müller,

Maurício Sedrez dos Reis

Blumenau 2013

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Introdução

O inventário florestal é o processo de obtenção de dados qualitativos e quantitativos dos recursos florestais de um estado, região ou país. Estes dados são necessários para a gestão adequada das florestas, seu manejo e conservação e também para ajudar no planejamento regional e na tomada de decisões estratégicas nos diversos níveis administrativos. A necessidade da realização de um inventário florestal em Santa Catarina foi motivada pelas Resoluções nº 278/2001 e nº 309/2002 do CONAMA, que vincularam autorizações para corte e exploração de espécies ameaçadas de extinção, constantes da lista oficial do IBAMA, em populações naturais no bioma Mata Atlântica, à elaboração de “critérios técnicos, baseados em inventário florestal que garantam a sustentabilidade da exploração e a conservação genética das populações”. O objetivo do Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina é conhecer a quantidade e a qualidade das florestas que ainda existem no nosso estado, saber qual é seu estado de conservação ou degradação, conhecer a distribuição e o potencial das diversas espécies de árvores, inclusive a caracterização genética das espécies raras e ameaçadas de extinção, para fundamentar políticas públicas para o uso do solo e para a conservação dos recursos naturais. Compõem os objetivos específicos do IFFSC:

• a identificação e coleta de dados de todas as árvores, arbustos, ervas e epífitas nas Unidades Amostrais que compõem o inventário terrestre propriamente dito;

• o levantamento da estrutura genética de populações de espécies ameaçadas;

• o levantamento da importância socioambiental e cultural dos recursos florestais nativos.

• a criação de sistemas que permitam a todas as pessoas o acesso às informações através do uso da internet.

Nesse documento são apresentados, de forma resumida, os resultados até o momento alcançados.

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Cobertura florestal

Os levantamentos florísticos e estruturais do IFFSC foram realizados em todo o território do estado mediante a implantação de 440 Unidades Amostrais (UA) com área de 4.000m² cada uma, das quais 421 localizadas sistematicamente em áreas de florestas na interseção de uma grade com distância de 10 x 10km na Floresta Ombrófila Mista (FOM) e Densa (FOD) e de 5 x 5km na Floresta Estacional Decidual (FED), além de 19 em unidades de conservação. Árvores localizadas fora das florestas foram avaliadas por meio de 157 Unidades Amostrais numa grade de 20 x 20km.

Mapa fitogeográfico de Santa Catarina (Klein 1978).

Unidades Amostrais (UA) implantadas pelo IFFSC por região fitoecológica.

UA nas Grades de 10 x 10km e 5 x 5km

UA ExtrasTotal de UA

Floresta Estacional Decidual 78 1 79Floresta Ombrófila Mista 143 12 155Floresta Ombrófila Densa 197 5 202Restinga 3 1 4Total geral 421 19 440

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Localização das 440 Unidades Amostrais implantadas pelo IFFSC.

Os resultados mostram que a cobertura florestal remanescente em Santa Catarina é de aproximadamente 29%, considerando formações florestais com mais de 10m de altura e 15 anos de idade. Estas são as florestas detectáveis pelos sensores dos satélites Landsat e Spot, que geraram as imagens utilizadas. Na Floresta Estacional Decidual (FED) do Oeste catarinense a cobertura florestal soma aproximadamente 16%, nas florestas com pinheiros do Planalto (Floresta Ombrófila Mista – FOM) 24% e na Floresta Ombrófila Densa (FOD), também chamada Floresta Pluvial Atlântica, entre a Serra Geral, a Serra do Mar e a costa, os remanescentes somam 40% (Vibrans et. al 2013). Além destas, vegetação pioneira e formações florestais em estádio inicial de regeneração foram encontradas em outros 3 a 4% do território catarinense.

Variáveis dendrométricas

Na tabela a seguir constam os valores das variáveis dendrométricas estimadas a partir da amostragem realizada, com os respectivos intervalos de confiança para um nível de probabilidade de 95%.

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Estimativa das variáveis dendrométricas para as árvores vivas em cada região fitoecológica de Santa Catarina. FED = Floresta Estacional Decidual; FOM = Floresta Ombrófila Mista; FOD = Floresta Ombrófila Densa.

VariávelRegião fitoecológica

FED FOM FOD

DAP (cm) 19,55 ± 0,74 20,42 ± 0,60 18,13 ± 0,32

Altura do fuste (m) 4,97 ± 0,20 4,98 ± 0,21 5,57 ± 0,15

Altura total (m) 10,00 ± 0,46 9,08 ± 0,40 10,6 ± 0,22

Nº de indivíduos (ind.ha-1) 422,37 ± 31,57 559,87 ± 42,39 629,44 ± 27,12

Área basal total (m².ha-1) 18,30 ± 1,58 24,76 ± 2,17 21,72 ± 1,13

Nº de espécies 38,37 ± 2,02 36,62 ± 1,86 59,12 ± 2,07

Volume do fuste c/ casca (m³.ha-1) 77,75 ± 10,11 97,13 ± 8,66 92,78 ± 7,60

Peso seco (Mg.ha-1) 125,66 ± 13,47 131,05 ± 10,71 127,00 ± 8,52

Estoque de carbono (Mg.ha-1) 62,83 ± 6,73 65,53 ± 5,35 63,50 ± 4,26

Composição e estrutura dos remanescentes

Foram registrados entre 2007 e 2011, durante os 4 anos de trabalho de campo, 2.341 espécies de plantas vasculares, entre as quais 860 espécies arbóreas e arbustivas, 560 epífitos, 270 lianas, 315 pteridófitas (samambaias), além de 707 ervas terrícolas. O IFFSC registrou 50% de todas as espécies citadas por Stehmann et al. (2009) para a Floresta Ombrófila Mista brasileira, 33,9% das espécies citadas para a Floresta Ombrófila Densa, bem como 69,7% das espécies citadas para a Floresta Estacional Decidual1. No entanto, é alarmante a drástica redução da biodiversidade de espécies arbóreas constatada através da comparação com os levantamentos realizados há 50 anos pelos botânicos Raulino Reitz e Roberto Miguel Klein, publicados na Flora Ilustrada Catarinense. Um quinto das espécies arbóreas encontradas entre 1950 e 1970 por Reitz et al. (1979) não foi mais observado em 2010. Estão entre elas, principalmente, as espécies naturalmente raras, que sempre ocorreram em pequena quantidade e em poucos locais ou locais muito restritos; com a redução da área florestal elas estão desaparecendo sob

1 Estes números estão sujeitos a mudanças na medida que plantas ainda não identificadas forem analisadas pelos taxonomistas.

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nossos olhos e são ameaçadas de extinção. Além disso, 32% de todas as espécies arbóreas/arbustivas foram encontradas com menos de 10 indivíduos no estado.

Esta perda de biodiversidade vegetal fica evidente quando observa-se um por um os remanescentes florestais amostrados pelo IFFSC: na FOM foram registrados em média apenas 36 espécies lenhosas por remanescente florestal, na FED 38 e na FOD 58. No estrato da regeneração que representa, de certa forma, o futuro da floresta, a situação encontrada é ainda mais preocupante: na FOM foram observadas em média somente 14 espécies por remanescente florestal, na FED 15 e na FOD 57 espécies regenerantes e de sub-bosque. Quando observa- se, quais são as espécies que ocorrem com maior número de indivíduos, com os maiores diâmetros e de forma mais constante nas florestas e, desta forma, dominam a vegetação, constata-se que entre as dez espécies dominantes na FOM encontram-se oito espécies pioneiras e secundárias, na FOD sete destas categorias, enquanto que na FED todas são tidas como pioneiras (três) e secundárias (sete); isto quer dizer que há pouquíssimos indivíduos de espécies climácicas entre as árvores dominantes nas florestas catarinenses. O mesmo quadro mostra também a composição de espécies da regeneração nas três regiões fitoecológicas. Cabe ainda ressaltar que Hovenia dulcis Thunb. (tripa-de-galinha ou uva-do-japão), uma espécie exótica introduzida na década de 1970, ocupa a décima primeira posição entre as espécies mais importantes na FED.

Espécies com maior Valor de Importância (VI) nos remanescentes da Floresta Ombrófila Mista (FOM), em ordem decrescente de VI.

Nome científico Nome popular Categoria ecológica

1 Dicksonia sellowiana Xaxim-bugio Climácica

2 Araucaria angustifolia Pinheiro-brasileiro Pioneira

3 Clethra scabra Carne-de-vaca Pioneira/secundária

4 Matayba elaeagnoides Camboatá-branco Secundária

5 Lithrea brasiliensis Bugreiro Secundária

6 Ocotea porosa Imbuia Climácica

7 Ocotea puberula Canela-sebo Secundária

8 Prunus myrtifolia Pessegueiro-do-mato Secundária

9 Ocotea pulchella Canela-lageana Pioneira

10 Vernonanthura discolor Vassourão-preto Pioneira

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Espécies com maior Valor de Importância (VI) nos remanescentes da Floresta Ombrófila Densa (FOD), em ordem decrescente de VI.

Nome científico Nome popular Categoria ecológica

1 Alchornea triplinervia Tanheiro Secundária

2 Alsophila setosa Xaxim-setoso Climácica

3 Hieronyma alchorneoides Licurana Secundária

4 Psychotria vellosiana Caixeta Secundária

5 Cyathea phalerata Samambaiaçu Climácica

6 Euterpe edulis Palmiteiro Climácica

7 Cabralea canjerana Canjerana Secundária

8 Syagrus romanzoffiana Gerivá Pioneira

9 Miconia cinnamomifolia Jacatirão-açu Secundária

10 Casearia sylvestris Cafezeiro-do-mato Secundária

Espécies com maior Valor de Importância (VI) nos remanescentes da Floresta Estacional Decidual (FED), em ordem decrescente de VI.

Nome científico Nome popular Categoria ecológica

1 Ocotea puberula Canela-sebo Secundária

2 Nectandra megapotamica Canela-fedorenta Secundária

3 Luehea divaricata Açoita-cavalo Secundária

4 Nectandra lanceolata Canela-amarela, Secundária

5 Cupania vernalis Camboatá-vermelho Secundária

6 Machaerium stipitatum Farinha-seca Secundária

7 Syagrus romanzoffiana Gerivá Pioneira

8 Cedrela fissilis Cedro Secundária

9 Casearia sylvestris Cafezeiro-do-mato Secundária

10 Parapiptadenia rigida Angico Secundária

Em decorrência de sua composição de espécies, menos de 5% das florestas tem características de florestas maduras, enquanto mais de 95% dos remanescentes florestais do estado são florestas secundárias, formadas por árvores jovens de espécies pioneiras e secundárias, com troncos finos e altura de até 15 metros e baixo potencial de uso. Estas florestas têm menos da metade do estoque

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original de madeira e de biomassa e um número muito reduzido de espécies arbóreas e arbustivas. As constantes intervenções humanas na floresta, como a exploração indiscriminada de madeira, roçadas e, principalmente no planalto e no oeste catarinense, o pastoreio de bovinos dentro da floresta, surtiram estes efeitos, reforçados pelo intensivo uso agrícola nos entornos. Remanescentes pequenos são muito suscetíveis às influências das atividades desenvolvidas nos entornos, como o uso do fogo e de pesticidas, além de sofrer com a perda de umidade devido à maior incidência de vento e sol. Estas formações ainda podem ser dominadas por lianas que dificultam o seu desenvolvimento, o que ocorre com maior intensidade na Floresta Estacional Decidual. Pesa, assim, o fato de 90% dos fragmentos florestais de Santa Catarina terem área menor que 50 hectares. Os efeitos do pequeno tamanho das áreas florestais e de seu uso inadequado resultam num significativo empobrecimento da floresta e na simplificação de sua estrutura. Estes fatores, por sua vez, prejudicam as suas funções protetoras do solo e dos mananciais, bem como sua função de reservatório de carbono e guardião da biodiversidade.

A avaliação da biodiversidade de espécies de árvores, arbustos e epífitos mostrou que esta é maior em áreas pertencentes a Unidades de Conservação, com destaque para o Parque Nacional da Serra do Itajaí e o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. Isto evidencia a importância de áreas protegidas na manutenção da biodiversidade e da qualidade das florestas do estado.

Diversidade genética

A diversidade genética de 13 espécies foi avaliada empregando marcadores alozímicos, visando fundamentar estratégias efetivas de conservação. Para tanto, foram estudadas populações das seguintes espécies: a) FOD – canela-preta (Ocotea catharinensis), canela-sassafrás (Ocotea odorifera), palmiteiro (Euterpe edulis), olandim (Calophyllum brasiliensis) e butiá-da-praia (Butia catharinensis); b) FOM - araucária (Araucaria angustifolia), xaxim (Dicksonia sellowiana), imbuia (Ocotea porosa), butiá-da-serra (Butia eriospatha) e pinho-bravo (Podocarpus lambertii); c) FED - cedro (Cedrela fissilis), grápia (Apuleia leiocarpa), cabreúva (Myrocarpus frondosus) (Figura 3). A variação genética foi caracterizada a partir das estimativas das frequências alélicas e dos principais índices de estrutura e diversidade genética.

De uma maneira geral, os resultados indicam grande variação de diversidade genética potencial em cada uma das espécies e, principalmente, entre as populações das mesmas. Contudo, os índices de fixação foram, na sua maioria, elevados, refletindo os efeitos da redução dos tamanhos populacionais nas

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populações estudadas, em decorrência do processo histórico de superexploração. Em todos os casos, a divergência entre as populações foi elevada. A divergência genética, para a maioria dos casos, foi maior dentro de microrregiões do que entre microrregiões, refletindo os efeitos da fragmentação florestal existente. Os índices obtidos mostram que a maioria das espécies avaliadas apresenta baixa diversidade genética em muitas de suas populações, mesmo considerando fragmentos com populações mais densas. A situação de fragmentação das florestas e redução do tamanho populacional leva a uma perspectiva de perdas ainda maiores de diversidade (índices de fixação de alelos elevados) para várias espécies. O conjunto de resultados reforça as possibilidades de perda de adaptabilidade e dinamismo populacional, o que traz como consequência, com o passar do tempo (gerações), grande aumento no risco de extinção local. Os resultados obtidos até o momento apontam para a necessidade de políticas públicas que favoreçam a ampliação da conectividade entre fragmentos como principal fator de reversão da situação de fragilidade em que se encontram as espécies e remanescentes florestais. O emprego de algumas espécies, como a araucária e o palmiteiro, por exemplo, para restauração e ampliação de fragmentos e mesmo para plantios florestais pode favorecer estes processos. Os resultados indicam também que, apesar das fragilidades, há populações e regiões com reservas de diversidade potencial elevada, revelando maior adequação para produção de sementes ou implantação de unidades de conservação.

Levantamento Sócioambiental (LSA)

O Levantamento Socioambiental dos recursos florestais de Santa Catarina, realizado no período de agosto a dezembro de 2010, buscou identificar as espécies de plantas nativas mais utilizadas, seus usos atuais e potenciais e sua importância para a população, do ponto de vista econômico, social e cultural. Com estas informações é possível identificar as espécies que sofrem maior pressão pelo uso, em quais regiões, além das percepções e valores que as pessoas atribuem às nossas florestas. Com base neste conhecimento e combinando com outras informações levantadas no inventário, como a avaliação da integridade genética de espécies, a disponibilidade, a estrutura e a qualidade das matas remanescentes, será possível estabelecer políticas mais adequadas para a gestão de nossas florestas nativas, utilizando-se de estratégias apropriadas para o manejo, a conservação e a proteção dos remanescentes florestais.

Para a pesquisa socioambiental sobre o uso dos recursos florestais nativos foi aplicado um questionário junto a moradores do entorno de 123 Unidades Amostrais, localizadas em 103 municípios, totalizando 777 entrevistas nas

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diferentes regiões do estado (Figura 3). A seleção desta amostra de parcelas foi feita por um processo semelhante ao do Inventário Florestal Nacional – IFN, do Ministério do Meio Ambiente, escolhendo-se os pontos na interseção de uma grade 20 x 20km em todo território catarinense, nos quais haviam cobertura florestal.

Pontos amostrais e número de questionários aplicados no Levantamento Socioambiental (LSA) por mesorregião em Santa Catarina.

Caracterização dos entrevistados

Foram entrevistadas 777 pessoas, dentre proprietários de florestas nativas, agricultores e outros moradores que vivem nas comunidades próximas e no entorno dos 123 pontos amostrais selecionados. Os informantes foram 513 homens e 264 mulheres, com idades entre 15 e 91 anos, prevalecendo as faixas etárias acima de 40 anos, com mais de 70% das pessoas. A maioria dos entrevistados (58,7%) cursou somente o ensino primário, sendo que 30% deles não chegaram a finalizar o ensino fundamental.

As famílias são compostas em média por 3,6 pessoas morando na unidade familiar e a grande maioria delas possui renda mensal entre 500 e 2.000 reais, tendo em média 2,5 pessoas que recebem remuneração. Apenas 8,4% dos entrevistados declararam gerar renda pela venda de recursos da floresta, sendo que para 60% dessas pessoas esse recurso não chega a representar 10% da renda anual

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da família. As vendas de pinhão e de erva-mate foram indicadas como as principais fontes de renda com produtos florestais nativos.

A grande maioria dos entrevistados (87,6%) possui áreas de floresta sob sua responsabilidade, quase sempre proprietários das terras. As informações ambientais são acessadas principalmente por intermédio da televisão e do rádio, e a internet é o recurso menos utilizado pelos entrevistados.

A quase totalidade dos domicílios (99,4%) tem água encanada proveniente principalmente de nascentes (69,6%). Poucos entrevistados declararam possuir cisternas em suas propriedades e praticamente não é feito uso da energia solar para aquecimento de água nos domicílios.

Usos dos recursos florestais nativos pelos moradores próximos às florestas

A pesquisa contabilizou um total de 328 espécies da flora nativa de Santa Catarina em uso pela população. Além deste conjunto de espécies, foram mencionadas mais 15 plantas identificadas apenas em nível de gênero, 11 unicamente pela família e 25 apenas pelo nome popular. As espécies entificadas pertencem a 96 famílias botânicas, com destaque para Fabaceae (37 espécies), seguida de Myrtaceae (33 espécies) e Lauraceae (24 espécies). Do total de espécies identificadas, 176 possuem uso madeireiro e 274 uso não madeireiro. Apenas 22,6% das espécies foram citadas tanto para uso madeireiro quanto não madeireiro.

Do total de entrevistados apenas 15% declararam não fazer uso nem esporádico de plantas e produtos da flora nativa. Os que utilizam mencionaram em média 4,3 espécies em uso e mais de 20% dos entrevistados apontaram o uso de mais de dez espécies pela família.

Dentre as trinta espécies mais citadas, quinze foram para uso alimentício, oito para uso medicinal e sete foram para uso madeireiro (para construção e/ou fins energéticos). A araucária foi a espécie mais citada, lembrada por 27,7% das pessoas entrevistas, com diversos usos: madeira, energia, medicinal e principalmente, pelo uso alimentício do pinhão. Outras espécies também foram citadas como sendo aproveitas para mais de uma finalidade, com destaque para a guabiroba, a pitanga, o angico e o tarumã.

Considerando-se as diversas categorias de uso das espécies, destaca-se o aproveitamento alimentício, com um total de 1.748 citações, o uso medicinal pelo maior número de espécies diferentes mencionadas e o uso para energia com

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o maior percentual de entrevistados que declararam utilizar espécies nativas para este fim (Fig. 2).

Das 87 espécies citadas para uso alimentício as mais frequentemente utilizadas são a araucária pelo uso do pinhão por 26,6% dos entrevistados, a guabiroba e a pitanga, com 24,5% e 21,2% das pessoas entrevistadas, respectivamente, declarantes de fazerem uso de seus frutos.

Número de citações, número de espécies nativas declaradas em uso pelos 777 entrevistados e porcentagem de usuários de acordo com as categorias de uso.

Espécies indicadas como de uso potencial

Nas entrevistas com especialistas, buscou-se identificar as espécies com maior potencial de uso futuro, segundo o conhecimento das pessoas entrevistadas e as perspectivas que vislumbravam para as espécies citadas.

O palmiteiro foi citado como espécie promissora para melhor aproveitamento econômico futuro por 24% dos especialistas entrevistados. Os potenciais de aproveitamento mais lembrados foram o processamento da polpa do fruto e, em menor grau, a produção do palmito, sendo fortemente indicada a possibilidade de planto comercial da espécie.

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Outra espécie bastante destacada como promissora foi a araucária, com indicações para o plantio comercial visando a produção de madeira e também a possibilidade de ampliação da cadeia produtiva do pinhão e de desenvolvimento de produtos diferenciados utilizando a semente como matéria-prima.

Também como fonte de produção de madeira foi evidenciada o potencial do cedro-rosa, da bracatinga, do louro-pardo e do jacatirão. Para estas espécies, além da indicação do manejo em áreas naturais, foram realçados os potenciais de plantios para produção de madeira serrada ou de uso múltiplo, no caso da bracatinga. O plantio em consórcio foi bastante destacado.

O jerivá (ornamental), a goiaba-serrana (alimentícia), a erva-mate (uso múltiplo) e a balieira (bioativa) complementam a lista das dez espécies da flora nativa catarinense mais citada pelos seu potencial de uso futuro.

Conclusões do LSA

Embora seja grande o número de espécies de plantas nativas em uso pela população catarinense, o aproveitamento destes recursos está restrito a apenas uma parcela da população rural e a poucos usos e fortemente associado ao consumo doméstico das famílias. O uso mais frequente é o da lenha para cozimento dos alimentos e aquecimento das residências rurais. O consumo alimentar de frutas silvestres e o uso de plantas medicinais, embora sejam citadas muitas espécies em uso, são de importância restrita e ocorrem de forma esporádica pela população rural.

O aproveitamento econômico dos produtos florestais é bastante limitado. São poucos os relatos de extração de madeira para comercialização, limitando-se a algumas situações de venda de lenha e de carvão vegetal. Dentre os produtos não madeireiros apenas as sementes de pinhão e as folhas da erva-mate são comercializados regularmente e possuem expressão econômica e importância social para as pessoas que coletam e extraem estes produtos das florestas.

Alguns fatores podem estar contribuindo para a perda de importância socioeconômica dos recursos florestais nativos. Em primeiro lugar, a baixa cobertura florestal de algumas regiões de Santa Catarina, restrita a poucos e pequenos fragmentos, faz com que a capacidade de retirada de produtos seja limitada, devido ao reduzido o estoque de recursos disponíveis.

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O desmatamento, a perda de seus habitat naturais e a histórica sobre- exploração de plantas como a araucária, o palmiteiro, o cedro-rosa, a imbuia e a canela-preta são fontes de pressão elencadas pelos entrevistados que poderá comprometer o futuro destas espécies.

A ampliação das restrições legais ao consumo de produtos florestais nativos, estabelecida ao longo do tempo, tem inibido sua retirada e, muitas vezes, os proprietários destes recursos tem pouco conhecimento das possibilidades legais de seu uso, o que tem restringido ainda mais eventuais iniciativas de aproveitamento.

Consequentemente, observa-se uma crescente perda de costume das populações rurais de realizarem coleta e extração de produtos das florestas nativas, com consequente erosão dos conhecimentos etnobotânicos e crescente distanciamento dos agricultores em relação às florestas existentes em suas propriedades.

As populações que vivem no entorno dos fragmentos florestais reconhecem a importância das florestas no fornecimento de serviços ambientais e são conscientes quanto à necessidade de preservar as funções básicas da cobertura florestal. No entanto, para muitos agricultores o desejo de ampliar as atividades agropecuárias pressiona os remanescentes florestais, considerados de pouca utilidade econômica.

Os resultados e constatações desta pesquisa mostram a necessidade urgente de que sejam formuladas políticas públicas mais apropriadas à conservação da cobertura florestal nativa de Santa Catarina, que possibilitem revalorizar os remanescentes florestais existentes, estabelecendo novas bases e formas mais sustentáveis de relacionamento entre os proprietários rurais e suas florestas.

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RESULTADOS POR REGIÃO FITOECOLÓGICA

Floresta Estacional Decidual

Foram implantadas, medidas e analisadas 79 Unidades Amostrais (das quais 78 pertencentes à grade de 5 x 5km) no período entre novembro de 2008 e junho de 2009. Os remanescentes florestais são menores e mais fragmentados do que nas demais regiões fitoecológicas de Santa Catarina. Nenhuma floresta madura foi amostrada, todos os fragmentos analisados encontram-se em sucessão secundária, em estádio médio ou avançado; muitas vezes encontram-se isolados por extensas áreas agrícolas ou pastoris; além disso foram constatadas frequentemente ações degradadoras como pastoreio, exploração seletiva ou corte raso dentro da floresta, impactando certamente muito mais profundamente os ecossistemas do que é possível avaliar no momento. Os resultados apresentados referem-se às 78 Unidades Amostrais da grade sistemática.

Foram encontradas, em média e com um intervalo de confiança para uma probabilidade de 95%, 460 ± 31,6 árvores.ha-1 com DAP > 10cm e área basal total média de 18,3 ± 1,58m².ha-1.

Ao todo foram registradas 477 espécies de árvores, arbustos, ervas terrícolas e epífitas, além de lianas, pertencentes a 104 famílias e 303 gêneros de samambaias, angiospermas e gimnospermas (estas com apenas uma espécie). Este elevado número de espécies (predominantemente florestais) corresponde a 69,7% das listadas por Stehmann et al. (2009) para toda a Floresta Estacional Decidual do bioma Mata Atlântica no Brasil.

Das 236 espécies arbóreas e arbustivas amostradas nas Unidades Amostrais do IFFSC, 207 estavam presentes no estrato arbóreo, com DAP ≥ 10cm, e 162 presentes no componente de regeneração (altura ≥ 1,5m e DAP <10cm), destas muitas ocorrem em ambas as sinúsias. As dez espécies com maior valor de importância para a FED são: Ocotea puberula, Nectandra megapotamica, Luehea divaricata, Nectandra lanceolata, Cupania vernalis, Machaerium stipitatum, Syagrus romanzoffiana, Cedrela fissilis, Parapiptadenia rigida e Casearia sylvestris. Estas espécies são generalistas em termos de exigências de sítio, todas com caráter pioneiro ou secundário inicial, beneficiadas pela abertura de clareiras e comuns nas bordas de florestas. Portanto, fragmentos com pequena área, explorados e com estradas em seu interior apresentam condições ideais para o desenvolvimento destas espécies.

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O número de espécies por Unidade Amostral variou de 14 a 60 no estrato arbóreo, com valor médio de 38 e apenas 19 unidades tiveram diversidade razoável de espécies arbóreas, com 45 ou mais espécies. Considerando as regenerantes e espécies de sub-bosque, a média é de apenas 15 espécies por Unidade Amostral, variando de 4 a 32. É extremamente preocupante o fato de 13 UA (17% do total) terem menos de dez espécies, e apenas duas Unidades Amostrais (2,5%!!) 30 ou mais espécies neste estrato da floresta.

Cabe destacar que Apuleia leiocarpa (grápia) não se encontra entre as espécies com maior valor de importância destas florestas. Isso se deve ao intenso processo de sua exploração, seguida de redução drástica no tamanho e na conectividade com outros remanescentes que afetaram intensamente esta espécie. Sua regeneração natural está presente em poucos fragmentos, com apenas quatro indivíduos em duas Unidades Amostrais.

Nenhuma floresta madura (“primária”) foi amostrada, todos os 78 fragmentos analisados encontram-se em sucessão secundária, 48 em estádio médio e 30 em estádio avançado de regeneração; muitas vezes, remanescentes encontram-se isoladas por extensas áreas agrícolas ou pastoris; além disso, fatores degradadores como pastoreio, exploração seletiva ou corte raso dentro da floresta foram constatados frequentemente, impactando certamente muito mais profundamente do que é possível avaliar no momento.

Os fatores externos aos remanescentes que têm modificado as condições e os recursos na borda e no interior dos fragmentos são: o corte seletivo atual ou histórico de espécies arbóreas, em 60% dos fragmentos, o pastejo pelo gado em 36%, a presença de estradas (41%), a roçada do sub-bosque (12%) e a presença de espécies exóticas, principalmente de Hovenia dulcis, em 43%. O uso intensivo de agrotóxicos e de fertilizantes na agricultura circundante dos pequenos fragmentos florestais deve modificar ou destruir as teias de interações, comprometendo os fluxos de matéria e energia nos ecossistemas naturais. Apenas 20 Unidades Amostrais (25%) tinham na proximidade outro remanescente florestal nem sempre com grande tamanho ou bem conservado.

Na maior parte dos fragmentos ocorre a combinação de dois ou mais fatores de alteração (41,25%). A sinergia dos fatores degradadores afeta a estrutura de tamanhos dos indivíduos que compõem o fragmento, causa redução no número de espécies e provoca abertura e até mesmo a eliminação do dossel; causa exclusão e redução das espécies exclusivas de sub-bosque (sinúsias dos micro e nanofanerófitos - arbustos), dos caméfitos (ervas), favorecendo lianas (cipós e trepadeiras) e espécies invasoras ou as anteriormente citadas especialistas em áreas degradadas. A roçada do sub-bosque e o pastejo subtraem indivíduos jovens,

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diminuindo assim o número de sinúsias presentes no remanescente florestal. Em muitos casos constata-se ‘sucessão secundária regressiva’, descrita por Richards (1996), isto é um permanente processo de degradação e empobrecimento da vegetação, devido à ação constante de fatores de degradação, que impedem que a vegetação avance e passe para estádios de sucessão mais complexos; ao invés disto, ela permanece no seu estado degradado ou até regride para estádios cada vez mais simplificados e degradados.

A ação do gado sobre a floresta, presente em 36,3% dos fragmentos estudados, é extremamente danosa. No Oeste, assim como no Planalto Catarinense é hábito dos pecuaristas ampliarem as áreas de pastagens através da roçada do sub-bosque das florestas, as quais no inverno servem como abrigo para o gado, denominadas popularmente de ‘invernadas’. A busca de abrigo sob a floresta evidencia também a falta de conjuntos de árvores permeando as pastagens e que possam amenizar o calor e a radiação durante o dia e o frio e os ventos durante a noite.

Outro grave fator de impacto sobre a vegetação e a flora é a roçada do sub- bosque das florestas e demais estádios sucessionais, ocasionando forte redução do número de indivíduos e de espécies arbóreo-arbustivas e aumentando o de lianas. Esse fator degradante, aliado ao pastejo, também resulta em rarefação e simplificação da vegetação, presença somente de adultos, sub-bosque ausente, ou seja, vegetação vazia de sua essência, induzindo sucessão ecológica regressiva.

A espécie Hovenia dulcis (uva-do-japão) foi encontrada com 337 indivíduos com DAP >10cm em 34 das 79 Unidades Amostrais (43%), mas apenas em 4 UA na regeneração e num total de 10 indivíduos regenerantes. A espécie compõe uma nova fisionomia da vegetação e provoca aumento da área basal dos remanescentes. Ela, no entanto é espécie invasora, contaminante biológica e tem forte interação com a fauna autóctone fornecendo néctar e pólen aos insetos polinizadores e pseudofrutos apreciados pelos animais, o que favorece a sua dispersão. Além desta foram encontradas apenas as espécies exóticas Persea americana (presente em 2 UA), Morus nigra (1 UA) e Tipuana tipu (1 UA), além das espécies herbáceas Cirsium vulgare, Elephantopus mollis, Leonurus japonicus, Lilium regale, Pennisetum latifolium e Torilis arvensis.

A restrição do tamanho populacional de Apuleia leiocarpa, Cordia trichotoma, Parapiptadenia rigida, Balfourodendron riedelianum, Diatenopteryx sorbifolia, entre outras, demonstra, de modo contundente, o estado degradado da vegetação e a ameaça às espécies. O corte seletivo efetuado pelos proprietários rurais exige urgente política pública de incentivo aos proprietários que ainda

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Número de populações avaliadas e índices médios de diversidade (com respectivos desvios padrão entre populações) para três espécies estudadas no âmbito da Floresta Estacional Decidual no estado de Santa Catarina.

Espécie Núm. Pop. *

Locos poli-

mórficos P (%)**

Alelos por loco A***

Diver-sidade

Genética He

Heterozi-gosidade

Observada Ho

Índice Fixação

F

Diver-gência gené- tica FST

Apuleia leiocarpa 9 75 (10) 2,44

(0,23)0,325

(0,035)0,255

(0,032)0,218

(0,108) 0,064*

Cedrela fissilis 9 82 (10) 2,63

(0,25)0,241

(0,036)0,190

(0,040)0,215

(0,098) 0,035

Myrocarpus frondosus 9 80 (6) 2,27

(0,22)0,296

(0,050)0,259

(0,061)0,128

(0,148) 0,195*

*Número de populações amostradas; **Porcentagem de locos polimórficos; ***Número médio de alelos por loco

Em termos médios, as três espécies apresentam valores elevados para a diversidade genética (0,325; 0,241; 0,296), o que demonstra o potencial destas espécies em manter a variação genética a longo prazo. Entretanto as médias dos valores para o índice de fixação foram também elevadas, além de variáveis entre as populações. Estes resultados refletem a fragilidade em que se encontra a maior parte das populações das três espécies, mas também indicam que há populações em situação favorável em termos de conservação. A divergência entre populações foi também elevada apenas para a cabreúva, indicando existirem diferenças importantes entre as populações do estado e, portanto, para esta espécie, uma maior relevância de se considerar várias populações em ações para a conservação. Contudo, a situação de elevado grau de fragmentação em que se encontram os remanescentes da FED, aliado ao grande número de hidroelétricas existentes ou previstas, reforça a urgência de ações de conservação para a região.

Os resultados também permitem a indicação de áreas prioritárias para conservação e/ou coleta de sementes para enriquecimento, restauração ou plantios comerciais, bem como indicação de estratégias regionais de conservação.

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possuem em suas propriedades remanescentes florestais biodiversos, contendo espécies ameaçadas ou características desta fitofisionomia.

Levantamento genético

Foram amostradas três espécies, procurando-se contemplar ao menos três populações por microrregião na área de ocorrência da espécie: Apuleia leiocarpa, Cedrela fissilis e Myrocarpus frondosus. Os resultados indicaram comportamentos com uma tendência semelhante em termos de alta perda de diversidade nas populações (índice de fixação elevado). Estes resultados podem ser relacionados aos processos históricos de uso como a superexploração, expansão das fronteiras agrícolas com redução da área de cobertura florestal e fragmentação dos remanescentes. Tais processos produzem redução dos tamanhos populacionais e redução do fluxo gênico entre populações, produzindo isolamento e perda de diversidade em nível local.

Pontos amostrais do levantamento da diversidade genética de espécies ameaçadas na Floresta Estacional Decidual.

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O número de espécies arbóreas por Unidade Amostral variou de 8 a 57, com valor médio de 36 espécies no estrato arbóreo; 35 Unidades Amostrais tiveram 45 ou mais espécies com diâmetro (DAP) maior ou igual a 10cm, valor indicando uma boa diversidade do estrato arbóreo. No entanto, 108 Unidades Amostrais tiveram número de espécies inferiores a 45, representando florestas degradadas e empobrecidas de espécies mais exigentes em relação à qualidade do sítio e estado de conservação da vegetação. Na regeneração o quadro é mais preocupante ainda: em média foram encontradas apenas 14 espécies regenerantes ou de sub-bosque; em seis Unidades Amostrais (4%) não foi encontrada nenhuma regeneração; 47 Unidades Amostrais (33%) mostraram uma a nove espécies e apenas sete remanescentes (5%) apresentaram 30 ou mais espécies na regeneração.

Entre as espécies do componente arbóreo, 64% (237 espécies) foram encontradas também entre os regenerantes, mas muitas foram encontradas em apenas um destes componentes, sendo exclusivas do arbóreo 111 espécies e do das regenerantes e do sub-bosque 84 espécies. O grande número de espécies do componente arbóreo não encontrado no componente das regenerantes é preocupante, pois estas espécies estariam sem indivíduos jovens na comunidade estudada, colocando em risco a sucessão da floresta.

Ficaram evidentes durante a execução do levantamento o pequeno tamanho dos fragmentos de floresta, a grande distância entre os remanescentes florestais bem conservados e o consequente isolamento desses pela agricultura, povoamentos de Pinus e Eucalyptus e pastagens.

Pouquíssimos remanescentes de floresta madura foram amostrados, todos os fragmentos analisados encontram-se em sucessão secundária; muitas vezes, remanescentes encontram-se isoladas por extensas áreas agrícolas ou pastoris. Os fragmentos amostrados localizados em altitudes abaixo de 1.200 m encontram-se ou em estádio médio (64 remanescentes) ou avançado (59) de regeneração, todos com alterações provocadas pelas ações humanas. Dos remanescentes situados acima de 1.200m de altitude, sete encontram-se em estádio médio (alterado) de regeneração, doze em estádio avançado (alterado), enquanto apenas um remanescente foi encontrado coberto por vegetação primária com poucas perturbações.

Pode-se afirmar que todos os remanescentes florestais estudados apresentaram alterações na sua estrutura de tamanhos e composição florística e possivelmente também faunística, ocasionada pelas ações antrópicas diretas ou indiretas. As ações antrópicas são intensivas e extensivas, variando apenas em intensidade de local para local, nas suas características e história, mas com certeza impactando muito mais profundamente os ecossistemas do que pode ser avaliado através do inventário florestal.

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Floresta Ombrófila Mista

Ao todo foram inventariadas 155 Unidades Amostrais (UA) de 4.000m2 cada, para o estudo do componente arbóreo (DAP ≥ 10cm), das quais 143 na grade de 10 x 10km. A regeneração (plantas com altura maior que 1,5m e DAP < 10cm), foi avaliada em 148 UA, nas demais estava ausente. A partir deste conjunto de informações foi possível evidenciar a composição das espécies, a estrutura e o estado de conservação dessa floresta de Santa Catarina (Vibrans et al. 2010). Os resultados apresentados referem-se às 143 Unidades Amostrais da grade sistemática.

Foram encontradas, em média e com um intervalo de confiança para uma probabilidade de 95%, 560 ± 42,4 árvores.ha-1 com DAP >10cm, somando área basal média de 24,7 ± 2,2 m².ha-1.

Foram registradas 1.107 espécies de plantas vasculares, sendo 181 samambaias, três gimnospermas e 922 angiospermas, estas distribuídas em 138 famílias e 502 gêneros, representando 50% das espécies citadas por Stehmann et al. (2009) para toda a Floresta Ombrófila Mista no Brasil.

A família com a maior riqueza específica foi Asteraceae (com 119 espécies), Myrtaceae (88), Fabaceae (58), Solanaceae (52), Melastomataceae (43), Lauraceae (39), Orchidaceae (37), Rubiaceae (32), Polypodiaceae (29), Poaceae (28), Piperaceae (23), Cyperaceae (23), Dryopteridaceae (21), Pteridaceae (21) e Aspleniaceae (17). Neste conjunto quatro famílias são samambaias e as demais são angiospermas. Entre as famílias restantes 39 apresentaram somente uma espécie e outras 31 tiveram duas espécies registradas.

Os gêneros com maior número de espécies foram Solanum (com 31), Baccharis (27), Eugenia (23), Ocotea (21), Myrcia (19), Leandra (18), Asplenium (17), Myrceugenia (15), Peperomia (15), Thelypteris (16), Miconia (12), Blechnum (11) e Tibouchina (10). O grande número de espécies de Asteraceae e Solanaceae chama atenção e pode ser explicado pelo estado de degradação dos remanescentes da Floresta Ombrófila Mista, que beneficia espécies de caráter pioneiro e leva a sua ampla e abundante distribuição em Santa Catarina.

Reitz et al. (1979) citam 198 espécies arbóreas para o planalto catarinense, destas, 157 foram amostradas pelo inventário no componente arbóreo-arbustivo, enquanto outras 41 não foram encontradas pelo IFFSC. Constam da Lista das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção (MMA 2008) apenas Araucaria angustifolia, Ocotea odorifera e O. porosa, além de Dicksonia sellowiana.

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Os remanescentes estudados, apesar de estarem inseridos na Floresta Ombrófila Mista, ou seja, sob um clima que favorece a ocorrência de florestas, apresentam-se, muitas vezes, como ‘florestas vazias’ ampliando o sentido dado para essa expressão, apresentado por Redford (1992) e Fernandez (2005) quando esses se referiram à falta de fauna. No presente caso, consistem de ecossistemas simplificados e desestruturados também em relação à flora e à estrutura da vegetação.

Os fatores externos que modificam as condições e os recursos na borda e no interior dos fragmentos são: a agricultura, a pecuária e as plantações florestais, especialmente Pinus e Eucalyptus. Entre as espécies beneficiadas pelas alterações antrópicas encontram-se: Araucaria angustifolia (pinheiro-do- paraná), Lithrea brasiliensis (bugreiro), a Mimosa scabrella (bracatinga), os Ilex spp. (erva-mate, congonha e caúnas), Sebastiania commersoniana (branquilho), Drimys brasiliensis (casca-d’anta), Casearia decandra (guaçatonga), Sapium glandulosum (leiteiro), Campomanesia xanthocarpa (guabiroba), Nectandra megapotamica (canela-fedida), Ocotea puberula (canela-guaica), Clethra scabra (carne-de-vaca), Vernonanthura discolor (vassourão-preto), Prunus myrtifolia (pessegueiro-do-mato), Styrax leprosus, Piptocarpha angustifolia (vassourão- branco), Zanthoxylum rhoifolium (mamica-de-cadela) e os taquarais (Merostachys spp.) e carás (Chusquea spp.).

Espécies exóticas, eventualmente beneficiadas pela abertura do dossel dos remanescentes e por cultivos na vizinhança, foram encontradas apenas esporadicamente e aparentam não representar uma ameaça à diversidade e estrutura dos remanescentes da FOM. Foram encontradas Hovenia dulcis, observada em 8 UA (5,6%, com poucos indivíduos na regeneração), Pinus spp. (presente em 5 UA, sem regeneração), Morus nigra (1 UA) e Eriobotrya japonica, (1 UA), além das espécies herbáceas Calyptocarpus biaristatus, Cirsium vulgare, Condylocarpon isthmicum, Crocosmia crocosmiiflora, Digitaria fuscescens, Elephantopus mollis, Eragrostis pilosa, Eulophia alta, Foeniculum vulgare, Galinsoga parviflora, Holcus lanatus, Lactuca serriola, Lactuca virosa, Leonurus japonicus, Lonicera japonica, Paulownia tomentosa, Peltastes peltatus, Physalis peruviana, Potentilla indica, Prunella vulgaris, Raphanus sativus, Tipuana tipu, Ulex europaeus e Xanthium strumarium.

No interior dos fragmentos, registrou-se a roçada de sub-bosque em 23,8% dos remanescentes, o corte seletivo em 76,9% e o pastejo em 65,0%, entre outras ações. Estas ações são frequentes e extensivas, variando em intensidade de local para local, impactando, certamente, muito mais profundamente os ecossistemas do que pode ser avaliado através do presente inventário da vegetação. Em 12%

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dos remanescentes, foi encontrado o manejo de Ilex paraguariensis, atividade silvicultural importante do ponto de vista econômico e cultural. A intensidade do manejo da espécie é variável e merece orientação técnica para sua melhor condução, visando produtividade e conservação.

Na maior parte dos fragmentos ocorre a combinação de dois ou mais fatores de alteração. A sinergia dos fatores degradadores afeta a estrutura de tamanhos dos indivíduos que compõem o fragmento, causa redução no número de espécies, provoca abertura e até mesmo a eliminação do dossel, exclusão e redução das espécies exclusivas de sub-bosque (incluídas ervas, cipós e trepadeiras), favorecimento da entrada de espécies invasoras ou especialistas em áreas degradadas e ambientes abertos. A roçada do sub-bosque e o pastejo subtraem indivíduos jovens, diminuem o número de sinúsias presentes no remanescente florestal, comprometendo sua manutenção; em muitos casos constata-se sucessão secundária regressiva (Richards 1996), devido à ação permanente dos fatores de degradação citados.

Ressalta-se aqui a necessidade de serem resguardados e mantidos os sistemas tradicionais de uso da terra, como caívas e faxinais, que têm contribuído historicamente com manutenção de cobertura florestal e com a valorização dos remanescentes florestais em pequenas propriedades rurais relacionadas à agricultura familiar.

Pelo estado geral dos fragmentos florestais, seu isolamento, seus fatores de degradação persistentes e por sua estrutura alterada, pode-se afirmar que a Floresta Ombrófila Mista no Planalto de Santa Catarina encontra-se ameaçada. O mesmo se verifica nas manchas florestais que permeiam os campos naturais (Estepe Ombrófila), necessitando fortes medidas de conservação e rigor no manejo dos estádios sucessionais. A substituição da floresta ou seus estádios sucessionais por plantações de Pinus e Eucalyptus, por agricultura e por pastagens deve ser impedida com a intensificação da fiscalização, aliadas às medidas de incentivo financeiro aos proprietários que conservam as florestas.

Das espécies ameaçadas de extinção

O xaxim-mono (Dicksonia sellowiana), espécie na lista das ameaçadas de extinção (MMA 2008), foi encontrado em 94 dos 147 remanescentes avaliados e em cerca de metade deles com alta densidade, sempre associado às áreas com solo úmido e com maiores altitudes. Em 34,4% das Unidades Amostrais essa espécie aparece entre aquelas com maior índice de valor de importância, índice obtido através da soma de densidade, frequência e dominância relativas. O xaxim,

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em geral, ocorre de forma agrupada formando densos aglomerados, muitas vezes associado com Weinmannia paullinifolia (gramimunha), mas dificultando o desenvolvimento de outras espécies. Devido aos altos valores de área basal dos indivíduos e seus brotamentos D. sellowiana provocou elevados valores da área basal nas Unidades Amostrais. Casos de exploração dessa espécie foram observados em algumas Unidades Amostrais.

Araucaria angustifolia foi encontrada nos remanescentes amostrados com indivíduos jovens, com baixos diâmetros e alturas, não sendo mais a espécie dominante e emergente descrita por Klein (1960). Constatou-se pequena e esparsa regeneração natural de Ocotea porosa e de Araucaria angustifolia, em muitos dos fragmentos, especialmente motivada pela roçada de sub-bosque e mesmo pelo corte intencional por parte dos proprietários, que percebem essas espécies como problema.

A baixa ocorrência de plantas jovens dessas espécies no planalto de Santa Catarina é severa e tem impactos profundos sobre a sua conservação. Ela exige, de forma urgente, uma política pública de incentivo aos proprietários que possuem em suas propriedades espécies ameaçadas, em áreas que extrapolem as áreas de preservação permanentes e de reserva legal de cada propriedade.

Levantamento genético

Foram amostradas cinco espécies, procurando-se contemplar ao menos três populações por microrregião na área de ocorrência da espécie: Araucaria angustifolia, Dicksonia sellowiana, Ocotea porosa, Podocarpus lambertii e Butia eriospatha. Os resultados indicaram comportamentos com uma tendência semelhante em termos de alta perda de diversidade nas populações (índice de fixação elevado). Estes resultados podem ser relacionados aos processos históricos de uso como a superexploração, expansão das fronteiras agrícolas com redução da área de cobertura florestal e fragmentação dos remanescentes. Tais processos produzem redução dos tamanhos populacionais e redução do fluxo gênico entre populações, produzindo isolamento e perda de diversidade em nível local.

Os resultados também permitem a indicação de áreas prioritárias para conservação e/ou coleta de sementes para enriquecimento, restauração ou plantios comerciais, bem como indicação de estratégias regionais de conservação.Araucária (Araucaria angustifolia): Em termos gerais, a espécie apresenta valores intermediários para a diversidade genética (0,124), entretanto a média dos valores para o índice de fixação foi bastante elevada para espécie dióica, além de bastante variável entre as populações. Estes resultados refletem a fragilidade em que se encontram a maior parte das populações, mas também indicam que há populações

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em situação de menor fragilidade. A espécie mostrou também poucos locos polimórficos indicando fixação de alelos de baixa frequência. A divergência entre populações foi também intermediária, indicando existirem diferenças importantes entre as populações ao longo do estado e, portanto, a relevância de se considerar várias populações em ações para a conservação.

Pontos amostrais do levantamento da diversidade genética de espécies ameaçadas na Floresta Ombrófila Mista.

Xaxim (Dicksonia sellowiana): Para esta espécie foram encontradas valores intermediários para a diversidade genética (0,144), entretanto a média dos valores para o índice de fixação foi elevada, além de bastante variável entre as populações. Estes resultados refletem a fragilidade em que se encontram muitas populações da espécie, mas também indicam que há populações em situação favorável em termos de conservação. A divergência entre populações foi extremamente elevada, indicando existirem diferenças importantes entre as populações ao longo do estado. Esta divergência pode ser explicada, em parte, pela especificidade de ambiente ocupado pela espécie, que pode restringir o seu fluxo gênico. O xaxim apresenta crescimento lento e está muito associado às áreas ciliares, este aspecto demonstra a importância destas áreas para o estabelecimento de ações de conservação para a espécie.

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Imbuia (Ocotea porosa): A espécie mostra valores elevados para a diversidade genética (0,271), o que demonstra o potencial da espécie em manter a variação genética a longo prazo. Entretanto a média dos valores para o índice de fixação foi bastante elevada, além de variável entre as populações. Estes resultados refletem a fragilidade em que se encontram a maior parte das populações, mas também indicam que há populações em situação favorável em termos de conservação. A divergência entre populações foi também elevada, indicando existirem diferenças importantes entre as populações do estado e, portanto a relevância de se considerar várias populações em ações para a conservação.

Pinho-bravo (Podocarpus lambertii): Esta espécie tem uma reduzida diversidade genética (0,078), a menor encontrada entre as espécies estudadas. Além disso, apresenta valores médios elevados para o índice de fixação. A espécie mostrou também poucos locos polimórficos indicando fixação de alelos de baixa frequência. Estes resultados refletem a fragilidade em que se encontram a maior parte das populações. A divergência entre populações foi elevada, indicando existirem diferenças importantes entre as populações do estado e, portanto a relevância de se considerar várias populações em ações para a conservação. A espécie necessita de ações urgentes de conservação, inclusive ex-situ.

Número de populações avaliadas e índices médios de diversidade (com respectivos desvios padrão entre populações) para cinco espécies estudadas no âmbito da Floresta Ombrófila Mista no estado de Santa Catarina.

Espécie Núm. Pop. *

Locos poli-

mórficos P (%)**

Alelos por

loco - A***

Diver-sidade

Genética He

Heterozi-gosidade observada

Ho

Índice Fixação

F

Diver-gência gené- tica FST

Araucaria angustifolia 31 45 (10) 1,77

(0,15)0,124

(0,026)0,094

(0,023)0,243

(0,129) 0,129*

Dicksonia sellowiana 30 65 (14) 2,09

(0,28)0,144

(0,049)0,117

(0,058)0,185

(0,185) 0,439*

Ocotea porosa 13 76 (8) 2,25

(0,19)0,271

(0,045)0,221

(0,058)0,188

(0,158) 0,191*

Podocarpus lambertii 12 48 (8) 1,79

(0,15)0,078

(0,021)0,049

(0,022)0,372

(0,216) 0,216*

Butia eriospatha 14 37 (13) 1,53

(0,20)0,111

(0,044)0,102

(0,040)0,083

(0,132) 0,363*

*Número de populações amostradas; **Porcentagem de locos polimórficos; ***Número médio de alelos por loco

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Butiá (Butia eriospatha): A espécie mostra valores intermediários e variáveis para a diversidade genética (0,111), além de um valor reduzido para a média do índice de fixação; contudo, este último foi bastante variável entre as populações. A espécie mostrou também poucos locos polimórficos indicando fixação de alelos de baixa frequência. A divergência entre populações foi elevada, indicando existirem diferenças importantes entre as populações ao longo do estado. Em grande parte estes resultados podem ser explicados pela forma como as populações estão estruturadas, formando agrupamentos, mas relativamente isolados. Além disso, a espécie está sob forte pressão de uso (ornamental) e suas populações praticamente não apresentam indivíduos jovens, devido a presença de gado. Estes resultados refletem a fragilidade em que se encontram a maior parte das populações da espécie e a relevância de se considerar várias populações em ações para a conservação.

Floresta Ombrófila Densa

O inventário compreendeu o levantamento da vegetação em 202 Unidades Amostrais de 4.000m2 cada, das quais 197 unidades pertencentes à grade de 10 x 10km. Em um total de 33 Unidades Amostrais, com área circular de 0,5 ha, tendo raio de 80m, foi avaliada a presença de epífitos vasculares, incluindo a escalada de no mínimo oito grandes árvores para o levantamento das espécies com preferência pelos ambientes de copa. A partir deste conjunto de informações foi possível evidenciar a composição das espécies, a estrutura e o estado de conservação de florestas de Santa Catarina. Os resultados apresentados referem-se às 197 Unidades Amostrais da grade sistemática.

Foram encontradas, em média e com um intervalo de confiança para uma probabilidade de 95%, 629 ± 27,1 árvores ha-1 com DAP >10cm e a área basal total média foi de 21,72 ± 1,13m2 ha-1.

Ao todo foram registradas 1.900 espécies de árvores, arbustos, ervas terrícolas e epífitas, além de lianas, pertencentes a 175 famílias e 714 gêneros de samambaias, angiospermas e gimnospermas (estas com três espécies). Este elevado número de espécies (predominantemente florestais) corresponde a 34% das listadas por Stehmann et al. (2009) para toda a Floresta Ombrófila Densa do bioma Mata Atlântica no Brasil, destacando Santa Catarina como um hotspot da biodiversidade.

As dez espécies com maior valor de importância (composto pelo número de indivíduos amostrados, seus diâmetros e frequência) no componente arbóreo e arbustivo foram: Alchornea triplinervia (tanheiro), Alsophila setosa (samambaia- açu), Hieronyma alchorneoides (licurana), Psychotria vellosiana (caxeta), Euterpe

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edulis (palmiteiro) e Cyathea phalerata (samambaia-açu ou xaxim), Cabralea canjerana (canjerana), Tapirira guianensis (cupiuva), Miconia cinnamomifolia (jacatirão-açu) e Syagrus romazoffiana (gerivá). As florestas têm abundância de espécies características de áreas perturbadas pela exploração seletiva ou resultantes do processo de regeneração, formando conjuntos empobrecidos nos quais faltam, ou são escassas, as árvores mais exigentes em condições ambientais características de florestas conservadas, como as Lauraceae (canelas) e Myrtaceae (guamirins). Alsophila setosa (samambaia-açu) e Cyathea phalerata (samambaia- açu) são espécies seletivas higrófitas, com preferência por solos úmidos em encostas de morros ou margens de cursos d’água, em florestas primárias e secundárias (Klein 1979; Fernandes 1997). Estas espécies, não consideradas importantes economicamente, podem ter permanecido nas florestas quando estas foram submetidas ao processo de exploração madeireira desde o início da colonização e, especialmente, na segunda metade do século XX.

Das 577 espécies arbóreas-arbustivas encontradas, metade foi encontrada com menos de 10 indivíduos nos 71,29 hectares amostrados; com até dois indivíduos foram registradas 136 espécies e destas 53 sem indivíduos na regeneração; 91 espécies foram registradas com apenas um indivíduo e destas 41 sem indivíduos no estrato da regeneração. Conclui-se que estas espécies são muito raras nesta fitofisionomia, partindo de Martins (1993), que considera rara a espécie com ocorrência registrada de até um indivíduo por hectare. Baseado nisso, pode-se perguntar quão raras são estas 91 espécies que ocorrem com um indivíduo a cada 71 hectares, ou as 136 que ocorrem com dois indivíduos em toda a área amostral, ou as mais de 290 que apresentam menos de 10 espécimes nesta área.

Dentro do grupo das espécies raras há aquelas que, no processo de evolução da vegetação, resultaram em padrões de baixa densidade e frequência (como algumas das espécies de Myrtaceae e Lauraceae), e outras que são raras na vertente atlântica, mas comuns no planalto (Araucaria angustifolia) e oeste (Holocalyx balansae) de Santa Catarina. As espécies raras são muito vulneráveis aos eventos de fragmentação ou de supressão das florestas para implantação de outras atividades e/ou empreendimentos, como agricultura, pecuária, hidrelétricas e silvicultura de espécies exóticas, uma vez que a retirada da vegetação pode representar a eliminação dos poucos indivíduos existentes. Considerando apenas as espécies de Myrtaceae e Lauraceae citadas para Santa Catarina (Forzza et al. 2010), um total de 49 espécies não foram registradas no IFFSC, sendo este mais um indicativo dos impactos da ação antrópica sobre as florestas do estado.

Destacam-se também as espécies que anteriormente ocorriam em baixa densidade nas florestas bem conservadas e que, agora, devido à degradação dos

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fragmentos ou à elevada frequência de áreas em regeneração pós-corte raso, são observadas em grande quantidade, como Hieronyma alchorneoides (licurana), Miconia cinnamomifolia (jacatirão-açu), Casearia sylvestris (cafezeiro-do-mato) e Cedrela fissilis (cedro).

De modo oposto, espécies que eram abundantes no passado (Veloso & Klein 1968 a, b) agora ocorrem em número reduzido: Euterpe edulis (palmiteiro), Ocotea catharinensis (canela-preta), Sloanea guianensis (laranjeira-do-mato), entre outras.

Em relação a Euterpe edulis (palmiteiro), os dados levantados pelo IFFSC nas UAs indicam que sua densidade é extremamente baixa e preocupante, pois representa uma média de 39,6 (±62,6) indivíduos por hectare no componente arbóreo e arbustivo, justamente na região da floresta onde sua densidade deveria atingir valores elevados. Na regeneração, a situação encontrada é ainda pior: apenas 618,1 (± 641,1) indivíduos por hectare, sendo esperada a presença de 10.000 (!) indivíduos para garantir a perpetuação desta espécie (Reis et al. 1996; Reis et al. 2000). Vestígios de cortes recentes estavam presentes em 18,8% das áreas amostradas pelo IFFSC. Os valores registrados estão diretamente relacionados à exploração histórica e atual desta espécie nos remanescentes florestais, sem a adoção de técnicas de manejo. Considerando o processo de regeneração natural da vegetação após distúrbios, sabe-se que o palmiteiro se desenvolve bem em florestas secundárias, portanto as florestas nos estádios médio e avançado na vertente litorânea do estado poderiam abrigar centenas de milhares de plantas de Euterpe edulis.

Quanto aos estádios sucessionais das florestas avaliadas, 93 dos remanescentes amostrados foram caracterizados como florestas secundárias sendo 97 delas em estádio médio, 93 em estádio avançado e apenas sete foram caracterizadas como florestas maduras (primárias). Foram encontrados fortes argumentos para justificar uma revisão da Resolução CONAMA 04/94 (CONAMA 1994), relativa à definição dos estádios sucessionais, para que se adeque à realidade atual da Floresta Ombrófila Densa de Santa Catarina Estes dados refletem o quão recente é a cobertura florestal da vertente atlântica de Santa Catarina. A floresta presente hoje é secundária em estádio médio a avançado, com simplificação da estrutura e do conjunto de espécies. Esta floresta é o resultado dos ciclos econômicos ocorridos na região durante os últimos 200 anos, mas também da aplicação mais recente de medidas legais que reduziam drasticamente a exploração das florestas pertencentes ao bioma Mata Atlântica (Decreto Federal 750/1993 e Lei 11.428/2006). Além das normas legais deve ser citada a diversificação da

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matriz energética industrial e doméstica, anteriormente baseada na lenha, que contribuiu para o surgimento das florestas secundárias hoje encontradas.

Outro aspecto bastante preocupante é o valor médio da área basal encontrado nos remanescentes florestais, que é em média de apenas 21,75m2.ha-1 (variando entre os extremos de 12,74 e 55,28, com coeficiente de variação de 29,8%), que corresponde a menos da metade dos valores esperados para florestas maduras e bem conservadas.

Os índices de diversidade de Shannon variaram (entre as UA) de 2,01 a 4,2, com mediana de 3,40. O número de espécies do componente arbóreo e arbustivo por fragmento avaliado variou entre 26 e 96, podendo-se considerar que, em média, os fragmentos florestais avaliados apresentaram 59 espécies. Considerando-se apenas a regeneração, o número de espécies variou de 2 a 115, sendo a média por fragmento de 57 espécies. Os valores obtidos indicam uma floresta em plena regeneração.

Os fatores de degradação constatados nos remanescentes estudados foram: corte seletivo em 78,2%, abertura de estradas em 45,7%, corte raso em pelo menos parte da Unidade Amostral em 22,8%, exploração de E. edulis (palmiteiro) em 18,8%. Deve-se considerar que no interior de um mesmo fragmento, na maior parte das vezes, dois ou três fatores de perturbação estão atuando ao mesmo tempo e, suas sinergias alteram as condições microclimáticas e biológicas da área, influenciando o processo sucessional da floresta. Estas alterações podem beneficiar as espécies pioneiras e secundárias iniciais e médias, em detrimento das mais exigentes (secundárias tardias ou climácicas) quanto às condições ecológicas, além de facilitar a invasão biológica. As florestas também servem como locais de pastejo para o gado, mas com menor frequência (16,8%) do que no interior da Floresta Ombrófila Mista no planalto (Vibrans et al. 2011). Este fato pode estar relacionado com as condições climáticas menos estressantes no inverno, na vertente litorânea. Em geral, nos locais com pastagens, os agricultores e pecuaristas evitam deixar remanescentes florestais e, quando isso ocorre, as florestas situam-se ao longo das margens dos cursos d’água. O pastejo e pisoteio do gado dentro da floresta desencadeia perturbações que, aos poucos, podem fazer desaparecer a floresta, pois os indivíduos jovens das espécies presentes no dossel são pisoteados, mortos ou danificados pelo gado ou pelos humanos.

O conjunto de fatores de degradação também facilita a entrada de espécies exóticas, algumas potencialmente invasoras, muitas vezes oriundas dos cultivos próximos ou ainda advindas de áreas degradadas, fato constatado em muitos remanescentes. Hovenia dulcis foi observada em 22 UA e é a única das exóticas

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encontrada frequentemente (em 11% dos fragmentos avaliados). As demais espécies ocorrem apenas esporadicamente e com pouquíssimos representantes na regeneração, como Eucalyptus spp. (presente em 6 UA), Pinus spp. (8 UA), Magnolia champaca (2 UA), Persea americana (1 UA), Coffea arabica (6 UA, apenas na regeneração), Morus nigra (3 UA) e Eriobotrya japonica (4 UA). Entre as espécies herbáceas as exóticas mais frequentemente encontradas foram: Bidens pilosa (picão), Cirsium vulgare (cardo), Coix lacryma- jobi (capim-rosário), Hedychium coronarium (lirio-do-brejo), Lonicera caprifolia (madressilva), Crocosmia crocosmiiflora (tritônica), Eulophia alta (orquídea), Brugmansia suaveolens (trombeteira), Oeceoclades maculata (orquídea), Passiflora jilekii (maracujá-de-cobra).

Das espécies ameaçadas de extinção

Das espécies ameaçadas de extinção (Brasil 2008), Euterpe edulis, Ocotea catharinensis, Ocotea nectandrifolia e Ocotea odorifera foram encontradas, sendo Euterpe edulis com 1.510 indivíduos em 197 Unidades Amostrais do componente arbóreo e arbustivo e 2.845 indivíduos no da regeneração; O. catharinensis (411/297), O. nectandrifolia (117/13), O. odorifera (299/171), Cinnamomum hatschbachii (17/1), Brosimum glaziovii (74/22), Myrceugenia foveolata (0/4), Siparuna guianensis (1/1) e Symplocos corymboclados (11/2). Das demais espécies constantes da lista das ameaçadas, Baccharis sagittalis, Trichocline catharinensis, Aechmea calyculata, Anthurium luschnathianum, Costus spicatus e Heliconia farinosa não há dados quantitativos levantados pelo IFFSC, apenas os registros de coleta.

Dos Epífitos vasculares

O esforço de coleta dos epífitos vasculares no interior da Floresta Ombrófila Densa resultou na identificação de 491, tornando-se esta certamente a maior lista de espécies de epífitos vasculares registrada em apenas um estudo no Brasil. A riqueza de espécies de epífitos não está distribuída de maneira uniforme no estado; as áreas com maior número de espécies estão concentradas na porção norte, nas bacias dos rios Cubatão (Norte), Itapocú e Itajaí, indicando a região como um hotspot para epífitos vasculares em Santa Catarina. De modo geral, pode-se afirmar que existe um gradiente de diminuição de espécies de norte para sul do estado, o que ratifica o padrão de distribuição de bromeliáceas já consagrado por Reitz (1983).

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Levantamento Genético

Foram amostradas cinco espécies, procurando-se contemplar ao menos três populações por microrregião na área de ocorrência da espécie: Euterpe edulis, Ocotea catharinensis, Ocotea odorifera, Butia catharinensis e Calophyllum brasiliensis. Os resultados indicaram comportamentos com uma tendência semelhante em termos de alta perda de diversidade nas populações (índice de fixação elevado).

Estes resultados podem ser rela-cionados aos processos históri-cos de uso como a superexplo-ração, expansão das fronteiras agrícolas com redução da área de cobertura florestal e fragmen-tação dos remanescentes. Tais processos produzem redução dos tamanhos populacionais e redução do fluxo gênico entre populações, produzindo isola-mento e perda de diversidade em nível local. Os resultados também permitem a indicação de áreas prioritárias para con-servação e/ou coleta de semen-tes para enriquecimento, restau-ração ou plantios comerciais, bem como indicação de estra-tégias regionais de conservação.

Pontos amostrais do levantamento da diversidade genética de espécies ameaçadas na Floresta Ombrófila Densa.

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Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina

Número de populações avaliadas e índices médios de diversidade (com respectivos desvios padrão entre populações) para cinco espécies estudadas no âmbito da Floresta Ombrófila Densa no estado de Santa Catarina.

EspécieNúm. Pop.

*

Locos poli-

mórficos P (%)**

Alelos por

loco - A***

Diver-sidade

Genética He

Heterozi-gosidade

Observada Ho

Índice Fixação

F

Diver-gência gené- tica FST

Euterpe edulis 20 62 (06) 2,18 (0,11)

0,236 (0,026)

0,205 (0,036)

0,130 (0,107) 0,113*

Ocotea catharinensis 17 61 (8) 1,80

(0,14)0,196

(0,035)0,159

(0,032)0,190

(0,128) 0,133*

Ocotea odorifera 9 66 (016) 1,92

(0,23)0,163

(0,042)0,139 (0,05)

0,153 (0,145) 0,089*

Butia catharinensis 9 76 (9) 2,20

(0,22)0,211

(0,029)0,184

(0,036)0,127

(0,080) 0,076*

Calophyllum bra-siliensis 9 44 (9) 1,65

(0,12)0,135

(0,023)0,100 (0,22)

0,259 (0,093) 0,140*

*Número de populações amostradas; **Porcentagem de locos polimórficos; ***Número médio de alelos por loco

Palmiteiro (Euterpe edulis): A espécie apresenta valores elevados para a diversidade genética (0,236), o que demonstra o potencial da espécie em manter a variação genética a longo prazo. A média dos valores para o índice de fixação foi intermediária, mas variável entre as populações. Estes resultados refletem que parte das populações apresenta fragilidades, mas também indicam que há populações em situação favorável em termos de conservação. A divergência entre populações foi intermediária, indicando existirem diferenças entre as populações ao longo do estado e, portanto a relevância de se considerar várias populações em ações para a conservação. A espécie apresenta um grande potencial para ações de conservação pelo uso.

Canela-preta (Ocotea catharinensis): Em termos médios, a espécie mostra valores elevados para a diversidade genética (0,196), o que demonstra o potencial da espécie em manter a variação genética a longo prazo. Entretanto a média dos valores para o índice de fixação foi elevada, além de variável entre as populações. Estes resultados refletem a fragilidade em que se encontra a maior parte das populações, mas também indicam que há populações em situação favorável em termos de conservação. A divergência entre populações foi também intermediária,

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indicando existirem diferenças importantes entre as populações ao longo do estado e, portanto a relevância de se considerar várias populações em ações para a conservação.

Canela-sassafrás (Ocotea odorifera): Esta espécie apresenta valores elevados para a diversidade genética (0,163), entretanto a média dos valores para o índice de fixação foi bastante elevada, além de bastante variável entre as populações. Estes resultados refletem a fragilidade em que se encontram a maior parte das populações, mas também indicam que há populações em situação de menor fragilidade. A divergência entre populações foi também intermediária, indicando existirem diferenças importantes entre as populações do estado e, portanto, a relevância de se considerar várias populações em ações para a conservação.

Butiá (Butia catharinensis): Para esta espécie foram encontrados valores elevados para a diversidade genética (0,211), o que demonstra o potencial da espécie em manter a variação genética a longo prazo. A média dos valores para o índice de fixação foi intermediária, mas variável entre as populações. Estes resultados refletem que parte das populações apresenta fragilidades, mas também indicam que há populações em situação favorável em termos de conservação. A divergência entre populações foi também intermediária, indicando existirem diferenças entre as populações do estado e, portanto a relevância de se considerar várias populações em ações para a conservação. A espécie ocorre em ambiente de restinga, o que representa atualmente uma grande ameaça (pressão imobiliária). A possibilidade de múltiplos usos pode auxiliar por meio de ações de conservação pelo uso.

Olandim (Calophyllum brasiliensis): A espécie apresenta valores intermediários para a diversidade genética (0,135), entretanto a média dos valores para o índice de fixação foi elevada, além de bastante variável entre as populações. A espécie mostrou também poucos locos polimórficos indicando fixação de alelos de baixa frequência. Estes resultados refletem a fragilidade em que se encontram muitas populações da espécie, mas também indicam que há populações em situação favorável em termos de conservação. A divergência entre populações foi elevada, indicando existirem diferenças importantes entre as populações do estado. A espécie ocorre em ambientes de planícies quaternárias no estado, ambientes atualmente sobre alta pressão para desmatamento, o que representa uma grande ameaça para a mesma.

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Ficha Catalográfica elaborada pelaBiblioteca Central da FURB

I62i Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina : resultados resumidos / Alexander C. Vibrans ... [et al.]. - Blumenau : Universidade Regional de Blumenau, 2013. 37 p. : il. ISBN 978-85-64138-20-9 Bibliografia: p. 36-37.

1. Florestas – Santa Catarina. 3. Mapeamento florestal. 4. Levantamento florestal. I. Vibrans, Alexander Christian.

CDD 634.9

© Alexander Christian Vibrans, Lucia Sevegnani, André L. de Gasper, Juarez J. V. Müller, Maurício Sedrez dos Reis

Diagramação: Nenno Silva

Impressão: Gráfica e Editora 3 de Maio Ltda

Distribuição: Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina

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Correio eletrônico: [email protected]

Internet: www.iff.sc.gov.br

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