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IGI, AS GRANDES ÁRVORES SAGRADAS Ceiba pentandra/ Jardim Botânico do Rio de Janeiro Nas religiões de matriz africana o culto as árvores sagradas é de fundamental importância. São as grandes árvores que servirão de morada e local especial para o culto de diversas divindades como Iroko, Iyá Mi Eleye, Egun, Opaoká, Gunuko, Idanko, Azanado, Oloroke e Ktempo. Essas árvores podem ser identificadas pela presença de grandes ojás, que podem ser brancos ou coloridos, dependendo da divindade a qual estão ligadas. Quanto mais antigas forem, maior será considerado seu axé e sua força. Elas desempenham um papel muito importante no cotidiano das casas de Candomblé. São feitas súplicas, rezas e aos seus pés são depositados diversas oferendas, podendo inclusive receber sacrifícios de animais. É habito comum em diversas casas que todo o resto do banquete destinado aOmolú, na festa do Olubajé, seja depositado nos pés de Irokoou outra árvore sagrada do terreiro. Outro hábito interessante é que toda louça ou quartinha que se quebra vá para os pés de Iroko, como se de alguma forma o mal que poderia afingir um membro

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IGI, AS GRANDES ÁRVORES SAGRADAS

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IGI, AS GRANDES RVORES SAGRADAS

Ceiba pentandra/ Jardim Botnico do Rio de JaneiroNas religies de matriz africana o culto as rvores sagradas de fundamental importncia. So as grandes rvores que serviro de morada e local especial para o culto de diversas divindades comoIroko, Iy Mi Eleye, Egun, Opaok, Gunuko, Idanko, Azanado, OlorokeeKtempo. Essas rvores podem ser identificadas pela presena de grandes ojs, que podem ser brancos ou coloridos, dependendo da divindade a qual esto ligadas.Quanto mais antigas forem, maior ser considerado seu ax e sua fora. Elas desempenham um papel muito importante no cotidiano das casas de Candombl. So feitas splicas, rezas e aos seus ps so depositados diversas oferendas, podendo inclusive receber sacrifcios de animais. habito comum em diversas casas que todo o resto do banquete destinado aOmol, na festa doOlubaj, seja depositado nos ps deIrokoou outra rvore sagrada do terreiro. Outro hbito interessante que toda loua ou quartinha que se quebra v para os ps deIroko, como se de alguma forma o mal que poderia afingir um membro da casa tivesse sido transferido ao objeto e fosse apaziguado pela fora deIroko. Os antigos diziam que so as razes e o galhos deIrokoque seguram a casa de santo e qualquer tipo de demanda direcionada para o terreiro.

Ceiba pentandra- Copa- Jardim Botnico do Rio de JaneiroNa TradioFon, seguida pelosJeje, as rvores so chamadas deatn. Cada vodun pode ser cultuado aos ps de sua rvore votiva. Alguns antigos diziam que quando o vodun se aproxima o seuatin-s(galho da sua rvore sagrada) balana, pois o vento sagrado est tomando conta de sua vodunsi.Os povos de lngua Bantu, conhecidos como Nao Angola, cultuam umnkisimuito confundido com o orixIrokodos Yorubs e com o vodun LokodosJeje. Seu nome Ktembo/Ndenbwa,ou ainda, Tempo. Kitembo tambm cuidado aos ps de uma grande rvore, que pode ser a gameleira branca, a cajazeira ou o jenipapo. Elepode ser identificado por uma bandeira branca de morim, pendurada em uma grande haste de bambu que fica enterrada prxima a rvore. Para Ele cantamos:Kitembo mavila, Kasanje eazile!Na NaoEfonse canta at hoje:Oloke inmolesinse Oloke inmole sehin ose/ As bose Ekiti Ase bose Ekiti(Olokeorix adorado na rvoreOse(Baob), Ax que cultuamos e adoramos ao p da rvoreOse, emEkiti. Essa cantiga faz aluso ao orixOloke(Oloroke) que assim comoIrokotem uma rvore como seu smbolo, no caso, o baob.

Espritos das rvores- Foto retirada da internetO povoIorubdenomina as grandes rvores por Igi. Segundo algumas lendas contadas nas casas de TradioKetutodas as vores esto ligadas aOxale a diversos espritos que as habitam, conhecidos porIwin. interessante ressaltar que dentro do folclore iorubano osiwinso espritos da floresta e que podem assumir um aspecto no muito gentil, sendo bastante temidos. Nesse caso, tambm existiriam osr igi, que seriam o prprio esprito das rvores.Dentre as rvores mais importantes podemos citar algumas:Ig Okinkan/ yey(Spondias lutea)- Cajazeira/ Caj-mirimIg p(Elaeis guineensis)- DendezeiroIg rb/ Ig Olorun/Gd Hunsu(Ceiba pentandra)- SumamaIg rdan(Tetrapleura tetraptera)- AridanIg Os/ Akapassatin(Adansonia digitata)- Baob

Baob- Foto da internetO plantio dessas rvores, algumas vezes, pode ser um ato ritualstico, onde diversas evocaes aos ancestrais e divindades so recitadas. A forma com que cada casa realiza, quando realiza, esses rituais muito particular e pode seguir tradies j pr-estabelecidas pelo ax ao qual se descende ou ainda a intuio doBabaloris/Iyaloris.

Adansonia sp. Baob- Foto retirada da internetSUSTENTABILIDADE DO CULTO S GRANDES RVORESAtualmente observamos um aumento desenfreado do nmero de casas de Candombl. Segundo relatos de antigos, no era comum que todos os iniciados de um barco ou de uma casa ao completarem sua iniciao, aps a obrigao de sete anos (Odun Ej), abrissem outro barraco. A maioria no possua o cargo de Iyloris/Babaloris e permanecia em sua roa, ocupando postos comoegbomi,Iy kekere,Iy Efun, entre outros. s vezes, era comum que no caso de iniciarem algum o fizessem na prpria casa em que foram iniciados. Nas casas deJeje, de TradioMahiera comum se dizer: Casa deJejetm vrias mes. Isso porque poderiam existir diversos barcos de vodunsis diferentes no mesmo espao religioso.Podemos concluir que essa prtica era de extrema importncia para a manuteno da Tradio e dos costumes compartilhados pelos membros dessas comunidades (egb), pois permitia a constante troca de costumes e saberes nesses grupos. Pode-se afirmar que isso tornava a religio do Candombl extremamente sustentvel, sob o ponto de vista de utilizao dos espaos e recursos naturais, como cachoeiras e matas, fundamentais para o culto das divindades africanas. Como existiam poucas casas, a produo de resduos dispensados no meio ambiente pelas mesmas era bem menor.Com o processo da urbanizao e afastamento das casas matriz o Candombl vai perdendo bastante de sua identidade. Os espaos naturais (Il Igb) nos terreiros vo ficando cada vez menores, muitas vezes at inexistentes. As grandes rvores, que antes eram objeto de culto, deixam de estarem presentes e seus fundamentos vo sendo esquecidos. Podemos citar o exemplo de inmeras casasJeje Mahido Rio de Janeiro, que ainda apresentam alguns voduns comoLegba,Gun,AgueeBessenem espaos externos do terreiro, segundo a linguagem do povo de santo, no tempo. Esses voduns apresentam seus assentamentos aparentes, em reas em que o solo foi impermeabilizado (cimentado), podendo ser facilmente identificados. Eles ainda so chamados deatin, o que na verdade uma lembrana das grandes rvores que serviriam de morada para os mesmos, onde frequentemente eram enterrados sob suas razes.At que ponto o processo de modernizao do Candombl permitir que essa religio mantenha suas razes e continue sendo uma forma sustentvel de manuteno do legado deixado por nossos ancestrais negros, que tanto lutaram e sofreram para preservar essa antiga Tradio?TEXTO ESCRITO POR JONATAS GUNFAREMIM