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IGOR RAFAEL DE PAULA TRABALHANDO A EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA PARA O DIREITO À CIDADE NA ESCOLA – PARA QUE TEM SERVIDO A NOSSA GEOGRAFIA? Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte dos requisitos do curso de Geografia Licenciatura pela Universidade Federal de Alfenas. Orientadora: Profa. Dra. Sandra de Castro de Azevedo Alfenas/MG 2017

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IGOR RAFAEL DE PAULA

TRABALHANDO A EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA PARA O

DIREITO À CIDADE NA ESCOLA – PARA QUE TEM

SERVIDO A NOSSA GEOGRAFIA?

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como parte dos

requisitos do curso de Geografia

Licenciatura pela Universidade

Federal de Alfenas.

Orientadora: Profa. Dra. Sandra de

Castro de Azevedo

Alfenas/MG

2017

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IGOR RAFAEL DE PAULA

TRABALHANDO A EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA PARA O

DIREITO À CIDADE NA ESCOLA – PARA QUE TEM

SERVIDO A NOSSA GEOGRAFIA?

A Banca examinadora abaixo-assinada

aprova a monografia apresentada como

parte dos requisitos para obtenção do

título de graduação em Geografia

Licenciatura pelo Instituto de Ciências

da Natureza da Universidade Federal de

Alfenas-MG.

Aprovada em:

Profº. Dr. Daniel Hideki Bando

Universidade Federal de Alfenas-MG Assinatura:

Profº. Dr. Evânio dos Santos Branquinho

Universidade Federal de Alfenas-MG Assinatura:

Profª. Drª. Sandra de Castro de Azevedo

Universidade Federal de Alfenas-MG Assinatura:

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Este trabalho é dedicado à Da. Maria Mercedes,

Lucineia, Luciene, à Da. Maria da Caridade, à

Daiane, à Da. Madalena, à Dona Preta e família,

à Da. Lourdes, à Da. Maria dos Anjos, ao Sr.

Jailson, ao Sr. João, como oferta de gratidão e

homenagem às aulas de resistência, afetividade e

humanismo que me ensinaram. Dedico também

este estudo a toda equipe da E.E Padre José

Grimminck, aos diretores Sra. Cláudia e Sr.

Giovanni, pela parceria durante o estágio, e ao

Profº. Rosano Brazzi Martins por todo auxílio,

abertura, aprendizado e motivação. Aos alunos

da escola, em especial aos dos 9ºs Anos I, II, III

de 2016, dedico esse estudo como forma de

registrar a esperança e o desejo de que todos

possam realizar seus sonhos e continuar lutando

pelo que querem ser.

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AGRADECIMENTOS

A Profa. Dra. Sandra de Castro de Azevedo, que por sua

experiência, paciência, disponibilidade e paixão por lutar tornaram

possível a realização deste trabalho.

Aos demais professores, que muito me ensinaram ao longo

do curso.

Aos meus(minhas) parceiros(as), que me ajudaram em

momentos difíceis e me fizeram rir, e aos colegas de curso, que

contribuíram para meu aprendizado com os debates e as conversas

fora de sala de aula.

A meus pais, por todo apoio durante esses anos de

graduação e a meu avô José Antônio de Paula (in memorian), que

foi o primeiro a acreditar em mim nessa jornada e a quem devo,

profundamente, estar aqui apresentando este trabalho.

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É uma guerra surda, cotidiana, e, até certo ponto, inglória.

É o trabalho muitas vezes anônimo [...]. A educação só

pode ser transformadora nessa luta surda, no cotidiano,

na lenta tarefa de transformação da ideologia, na guerrilha

ideológica travada na escola.

Por que ela pode ser transformadora?

Por que o trabalho educativo é essencialmente político – e

é o político que é transformador.

(GADOTTI, 1995)

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RESUMO

As escolas inseridas em um contexto de segregação, violência e pobreza

urbana têm encontrado dificuldade em proporcionar a seus alunos uma

educação que forme para o exercício da cidadania. O ensino de geografia e os

professores de Geografia que encaram essas realidades na educação básica

brasileira sentem as implicações desses obstáculos no cotidiano escolar,

havendo uma impossibilidade da ciência geográfica em servir para a produção

dessa consciência cidadã. Por isso, este estudo visa contribuir com uma

proposta de Educação Geográfica, que considere antes o entendimento do

meio socioespacial escolar, para a formação de consciências espaciais-cidadãs

em suas realidades. Utilizando da vivência no estágio supervisionado, as

experiências e resgates das histórias de enfrentamento e resistência vividos

pelas lideranças dos bairros Pinheirinho e Santa Clara, além da espacialização

desses processos na escala da cidade por meio de produção cartográfica, a

pesquisa se desenvolveu, confluindo na estruturação de uma prática junto aos

alunos do 9º Ano do Ensino Fundamental II na Escola Estadual Padre José

Grimminck. O projeto permitiu o contato dos alunos com outras metodologias e

práticas de ensino-aprendizagem, partindo de suas indagações e

necessidades, tornando possível a construção de outros olhares e reflexões

sobre o passado e o presente dos espaços de (con)vivência. Os resultados

provocaram profundas reflexões enquanto professor em formação e também

produziram novas contradições, condições de enfrentamento e organização por

parte dos alunos na escola, abrindo novos caminhos a serem explorados em

forma de continuidade frente aos problemas atuais que se apresentam para a

juventude e para as lideranças, em processo de reorganização para resistir e

lutar por outra escola, por outra cidade.

Palavras-chave: Escola, Ensino de Geografia, Direito à Cidade.

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ABSTRACT

Schools in a context of poverty, violence and exclusion in the city have been

finding difficulty to offer for your students a quality education that ensures a

education for the citizenship. The teach in Geography and their teachers, that

face off these problems in the brazilian basic education, feels the implications of

these obstacules at the school, manifesting a impossibility of the Geography to

indeed produces the citizen conscience. Using the experience during the

supervisioned internship at school, the rescue from the history of the

neighborhoods with their leaderships and the production of cartographic

material about the expansion of the city and the neighborhood, this research

developed a project with young students at the State School "Padre José

Grimminck" about the right to the city. The project permited the contact of the

students with other metodologies and practices in teaching-learning, basead in

their local realities. The results promoted deep reflecions while researcher and

teacher in formation, and created new contradictions, forms to organization and

conditions to the young people and the leaderships to overcome the atual

problems in the neighborhoods.

Keywords: School; Teach of Geography; Right to the city.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1- Síntese do Projeto – Trabalhando a Educação Geográfica para o Direito à

cidade de Alfenas-MG. ............................................................................................... 23

Tabela 5.1 - Avaliação quantitativa do projeto Trabalhando a Educação Geográfica

para o Direito à Cidade ............................................................................................. 126

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Gráfico populacional de Alfenas-MG, de 1940-2010 ................................. 27

Gráfico 2 - Gráfico de bairro de origem dos alunos do 9º Ano .................................... 89

Gráfico 3 - Gráfico de bairros de origem dos alunos por 9º Ano (9º I, 9º II e 9º III). ..... 89

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LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 - Mapa da Expansão Urbana de Alfenas-MG. .................................................. 17

Figura 2.2 - Mapa da Rede Viária Arterial da Cidade de Alfenas-MG, 2016 .................. 18

Figura 2.3 - Material Didático Evolução Urbana de Alfenas-MG, de 1970-2016 ........... 19

Figura 3.1 - Esquema da direção da expansão urbana de Alfenas-MG, séc. XIX – 1950

..................................................................................................................................................... 26

Figura 3.2 - Esquema da direção da expansão urbana de Alfenas-MG, de 1970 para

1980 ............................................................................................................................................ 28

Figura 3.3 - Esquema da direção da expansão urbana de Alfenas-MG, de 1980 para

1990 ............................................................................................................................................ 29

Figura 3.4 - Esquema da direção da expansão urbana de Alfenas-MG, de 1990 para

2000 ............................................................................................................................................ 31

Figura 3.5 - Esquema da direção da expansão urbana de Alfenas-MG, de 2000 para

2010 ............................................................................................................................................ 32

Figura 3.6 - Esquema da direção da expansão urbana de Alfenas-MG, até 2016 ........ 34

Figura 3.7 - Divisão das COHABs (Pinheirinho I, II e III) ................................................... 46

Figura 3.8 – Processo de formação espacial do bairro Santa Clara ................................ 49

Figura 3.9 – Mapa da Renda per capita do bairro Pinheirinho, Alfenas-MG .................. 54

Figura 4.4.1 - Recado em uma das portas do banheiro feminino ..................................... 72

Figura 4.4.2 – Violência: uma das dezoito câmeras na escola, dentro da sala de aula

(à esquerda). Grades de proteção. Algumas parecem retorcidas. Seria um símbolo de

negação? (à direita). ................................................................................................................ 74

Figura 5.1 - Fotografias utilizadas na Prática I .................................................................... 90

Figura 5.2 - Exercício de um dos alunos do 9º Ano II, morador do bairro Recreio Vale

do Sol ....................................................................................................................................... 102

Figura 5.3 - Exercício de localização, aluna do 9º Ano III, moradora do Pinheirinho .. 104

Figura 5.4 - Exercício de localização, aluna do 9º Ano III, moradora do Santa Clara . 107

Figura 5.5 - Imagens de satélite mostrando o aumento da mancha urbana, 1984 (A),

1994 (B), 2004 (C) e 2011 (D) .............................................................................................. 108

Figura 5.6 - Evolução do bairro Pinheirinho (2003, 2009, 2011 e 2014) ....................... 110

Figura 5.7 - Evolução do bairro Santa Clara (2003, 2009, 2011 e 2014) ...................... 110

Figura 5.8 - Evolução do bairro Recreio Vale do Sol (2003, 2011 e 2014) ................... 110

Figura 5.9 - Evolução do bairro Alvorada e Boa Esperança (2003 e 2011).................. 111

Figura 5.10 - Resposta de uma aluna do 9º Ano II sobre especulação imobiliária ..... 113

Figura 5.11 - Respostas de um aluno do 9ºAno III sobre especulação imobiliária ...... 116

Figura 5.12 - Resposta de uma aluna do 9º Ano I sobre especulação imobiliária....... 118

Figura 6.1 - Redação de uma aluna do 9º Ano II sobre o bairro Pinheirinho ............... 129

Figura 6.2 - Redação de aluno do 9º Ano I sobre o Pinheirinho ..................................... 130

Figura 6.3 - Redação de aluno do 9º Ano II sobre o Pinheirinho .................................... 132

Figura 6.4 - Resposta de aluna do 9º Ano II sobre o Pinheirinho ................................... 133

Figura 6.5 - Redação de aluna moradora no bairro do Recreio Vale do Sol, no

Residencial Jardim das Alterosas (Os predinhos) ............................................................ 135

Figura 6.6 - Redação de um aluno do 9ºAno I sobre o bairro Recreio Vale do Sol..... 136

Figura 6.7 - Redação de aluno do 9º Ano I sobre o Santa Clara .................................... 137

Figura 6.8 - Redação de aluna do 9º Ano I sobre o Santa Clara .................................... 138

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Figura 6.9 - Redação de aluna do 9º Ano III sobre o Santa Clara ................................. 139

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 13

2 METODOLOGIA DA PESQUISA: CARTOGRAFIA, SEGREGAÇÃO E

PLANEJAMENTO DAS AULAS .................................................................................. 15

3 Capítulo 1: O contexto do Grimminck. Segregação socioespacial, especulação

imobiliária e direito à cidade ........................................................................................ 25

3.1 - Os anos 1970: Uma nova dinâmica urbana em Alfenas-MG ....................... 26

3.2 – Os anos 1980: A especulação a Oeste. ..................................................... 29

3.3 – Os anos 1990: A grande marcha para Oeste-Noroeste ............................. 30

3.4 – Os anos 2000: A consolidação do Oeste. .................................................. 32

3.5 - Os anos 2010: Novas perspectivas e novos eixos de expansão. ................ 33

3.6 - Segregação socioespacial e especulação imobiliária .................................. 35

3.7 - O direito à cidade ........................................................................................ 41

3.8 – Espaço, luta e representação: A formação do Pinheirinho ......................... 43

3.9 – A extensão das lutas: O corredor do Pinheirinho. O Santa Clara ............... 47

3.10 – Os bairros na conjuntura atual: realidade e identidade .............................. 53

4 Capítulo 2: Por uma escola além dos muros. A importância de estudar a escola e

onde ela está inserida ................................................................................................. 61

4.1 – O espaço escolar: A fundação da E.E. Padre José Grimminck .................. 61

4.2 – O (micro)espaço escolar a partir da vivência do estágio supervisionado ... 64

4.3 - A Geografia da escola – Espaço e territórios .............................................. 70

4.4 – A Geografia na escola – Da Geografia que se “ensina” ............................. 75

5 Capítulo 3: A Educação Geográfica para o Direito À Cidade ............................... 80

5.1 - A Educação Geográfica e a consciência espacial ....................................... 80

5.2 – Trabalhando a Educação Geográfica ao Direito à Cidade ......................... 85

5.3 - A percepção dos alunos dos 9ºs Anos: A Cidade e os seus diferentes

espaços de lazer e consumo – Prática 1 ................................................................. 88

5.4 - Por que a cidade é diferente? Introdução à formação dos bairros – Prática 2

97

5.5 - A mudança dos bairros no tempo e a especulação imobiliária – Prática 3 108

5.6 - A Segregação e o contexto da origem dos bairros a partir de suas histórias –

Prática 4. ............................................................................................................... 119

5.7 - Encerramento e recolhimento das atividades – Prática 5 .......................... 125

5.8 – Discussão dos resultados: Para que serviu o projeto? ............................. 126

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 141

6.1 - Para além do TCC: Necessidades, caminhos alternativos e esperança.... 141

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 145

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1 INTRODUÇÃO

Suponha-se o seguinte problema. Se a escola é um espaço e um espaço

possui diferentes elementos que o constitui, poderia ela ser entendida por si só

sem a compreensão desses elementos? Seria possível tratar coerentemente

sobre um produto sem antes buscar quais materiais estão em sua

composição? Sem uma investigação à forma pela qual esses meios foram

arranjados, as pressões exercidas, as intenções que ordenaram sua

fabricação?

Elimine-se o conhecimento do contexto e dos componentes e o que sobrará

deste produto é uma incógnita. Desconhecer um produto, portanto, impede sua

apropriação. Por isso, o conhecimento desse produto (dos bairros) é parte

determinante para a ação de utilizá-lo. Enquanto não se conhece, não se pode

agir. A não ser que se tenha participado diretamente de sua produção, o

indivíduo é apenas um consumidor do produto. Pode saber que ele existe, mas

não sabe como, por que e nem para que. Então, alheio ao desconhecimento, o

indivíduo perde o poder de saber utilizar esse produto. Se esse poder é visto

como desigualdade entre partes, e esse indivíduo está a perdê-lo, então, outros

indivíduos estão a ganha-lo. Portanto, quem conhece o produto urbano?

Esse produto que é o espaço urbano, multiescalar e fragmentado, é regido por

uma lógica e a escola, ao estar na cidade, inclui-se nela. Por isso, a presente

pesquisa tem como eixo fundante a problematização do ensino de geografia

em uma escola inserida num espaço marcado pelo desenvolvimento desigual

em uma cidade capitalista, reunindo resistências, contradições, violências,

incômodos e esperanças, buscando pensar como a geografia pode atuar em

meio a essas questões, podendo ela ser um instrumento de cárcere ou de

libertação.

Neste sentido, o estudo está organizado em três capítulos. O primeiro capítulo

é mais histórico, visando rever o desenvolvimento socioespacial de Alfenas-MG

até chegar às bases que formaram os bairros e a escola, aludindo para os

processos de segregação socioespacial e o direito à cidade. O segundo

capítulo dedica-se em adentrar o espaço escolar e contar um pouco sobre a

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manifestação de seu cotidiano, delineando os conflitos, as contradições, as

violências e os problemas. O terceiro e último capítulo é voltado para a ação do

projeto, a descrição das práticas, os resultados e as reflexões. Como

encerramento, foram pontuados alguns caminhos alternativos para a escola e

como ela pode buscar superar essa realidade.

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2 METODOLOGIA DA PESQUISA: CARTOGRAFIA,

SEGREGAÇÃO E PLANEJAMENTO DAS AULAS

Este trabalho foi realizado em quatro diferentes etapas. A primeira

refere-se ao tempo dedicado ao estágio supervisionado, desde abril de 2015

até novembro de 2016; a segunda, à pesquisa bibliográfica, em temas sobre

Educação Geográfica (CAVALCANTI, NOGUEIRA & CARNEIRO, 2013);

segregação, especulação imobiliária e direito à cidade (ALVES, 2013,

CARLOS, 2007, 2013, CORRÊA, 1989, 2013 DAMIANI, 2007, LEFEBVRE,

1990, RODRIGUES, 2007), e outros trabalhos que já trataram da cidade de

Alfenas-MG e dos bairros em análise (BRANQUINHO, 2011; CARVALHO &

CÉSAR, FIGUEIREDO & BERNARDES, 2010), além da elaboração de material

didático, após produção cartográfica; Em um terceiro momento, foi nuclear

fazer um levantamento da história dos bairros em questão por meio da

valorização e resgate dos relatos orais das lideranças tradicionais. Por fim,

apenas após esses três passos iniciais, as ideias foram organizadas para a

prática do projeto Trabalhando a Educação Geográfica para o Direito à Cidade,

visando dar novos significados a realidade vivida pelos alunos da escola.

Começaremos com a explicação do desenvolvimento dos materiais

cartográficos. Para a confecção dos mapas, utilizou-se dois softwares, o

ArcMap 10.2.1, para o trato cartográfico, e o ENVI 4.7, para processamento

digital de imagens. Foi necessária também a adesão da carta topográfica de

Alfenas-MG1 (nomenclatura SF-23-V-I-I-3), confeccionada pelo IBGE (1970) e

disponível para download no site da instituição. A carta foi baixada em formato

.jpeg e georreferenciada pela metodologia da Diretoria de Serviço Geográfico

do Exército (DSG), a partir da adição de dezessete pontos de controle

espalhados de maneira aleatória pela carta com o intuito de diminuir distorções.

Então, ao final da colocação dos pontos de controle foi obtido o valor estatístico

da Raiz do Erro Médio Quadrático2 (RMSE) num total de 2,25, bem abaixo do

limite para uma carta de escala de um para cinquenta mil (15,00)3.

1 Projeção Universal Transversa de Mercator, Zona 23 South, Datum horizontal Córrego Alegre.

2 É a ferramenta do ArcMap que calcula os erros dos pontos.

3 Para uma carta de escala um para cinquenta mil o erro máximo permissível é de 0,03

milímetros na escala da carta ou quinze metros, de acordo com a Diretoria de Serviço Geográfico do Exército Brasileiro.

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Após georreferenciamento e redução do erro da dimensão espacial ,a

carta topográfica de Alfenas-MG foi recortada no ArcMap em um retângulo

envolvente para que apenas a área urbana de Alfenas-MG fosse privilegiada.

Foram criados shapefiles dos elementos que compõem a carta (curvas de

nível, pontos cotados, área urbana, vias, drenagem e lago) no ArcCatalog. Isso

feito, os elementos da carta foram vetorizados manualmente pelas ferramentas

line tool e polygon tool em formas de linhas (curvas de nível, córregos e vias),

pontos (pontos cotados) e área (área urbana e lago). Durante a vetorização,

criou-se colunas na tabela de atributos do ArcMap e foram atribuídos campos

para serem imputados valores e/ou informações dos objetos espaciais

anteriormente inseridos como informação a partir da carta. Cada shapefile foi

vetorizado dentro da área estabelecida.

Para a vetorização da área urbana de Alfenas-MG, dividiram-se cinco

categorias, cada qual representando uma década (1970, 1980, 1990, 2000 e

2016). Essas categorias foram divididas na tabela de atributos. Então, a partir

do software ENVI 4.7, quatro imagens (1983, 1993, 2003, 2016) de satélite

foram processadas4, no sentido de melhorar a qualidade de resolução e

diferenciar os elementos por meio da dissimilaridade espectral, através de

composição 5(R), 4(G), 3(B). As imagens foram convertidas para o datum

SIRGAS 2000, para compatibilidade com o arquivo trabalhado no ArcMap

10.2.1 e recortadas no mesmo retângulo envolvente. Cada imagem foi aberta

no ArcMap, melhoradas em sua resolução pelo método de nearest

neighborhood (vizinho mais próximo) e vetorizadas a partir de 1983 até 20165.

O avanço da mancha urbana foi vetorizado a partir da mancha inicial de 1970

(fornecida pela carta topográfica de Alfenas-MG do IBGE), utilizando-se da

ferramenta Merge, no ArcMap.

4 As imagens foram baixadas no Glovis USGS - United States Geological Survey (Serviço

Geológico dos Estados Unidos), no site da entidade estadunidense. 5 De acordo com os anos das imagens de satélite utilizadas.

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Após esses procedimentos, foram modificadas as simbologias dos

elementos vetorizados, escolhendo melhores formas, cores e contornos,

estabelecendo melhor aparência para padronização gráfica e melhoramento da

informação cartográfica que se queria passar. Os córregos e lagos receberam

suas cores, texturas e espessuras padrões sugeridas pelo próprio software e

as manchas urbanas, em suas classes, receberam cores quentes

(representando ação antrópica sobre o espaço), variando-se no matiz em

termos de tonalidade e intensidade, sendo o mais antigo, mais claro e menos

quente em relação à década seguinte, e assim sucessivamente6. Por fim,

dedicou-se tempo para inserir a escala métrica e numérica, o encarte da

localização geográfica do mapa, a legenda, o norte geográfico, o título e o grid

de coordenadas em latitude e longitude, bem como a manutenção do layout do

mapa, no objetivo de melhorar sua apresentação e facilitar as informações ante

ao leitor (Figura 2.1).

O Mapa da rede viária arterial da cidade de Alfenas-MG, 2016, herdou

a mesma base cartográfica do mapa anterior, dissolvendo as classes das

6 Bege para 1970, dourado para 1980, salmão para 1990, laranja para 2000 e vermelho-vivo

para 2016.

Figura 2.1 - Mapa da Expansão Urbana de Alfenas-MG. Fonte: IBGE, 1970; LANDSAT-5, 1983, 1993; LANDSAT-7, 2003; LANDSAT-8, 2016. Org.: O autor.

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manchas urbanas em apenas uma, assim como a coloração geral para toda a

área urbana de Alfenas-MG, já que se buscou privilegiar as vias principais da

cidade. Para isso, as linhas que representam as vias foram alteradas em sua

espessura conforme tipo de logradouro (Rodovias, estradas, avenidas, ruas e

etc.), sendo as rodovias mais grossas, as avenidas e estradas um pouco

menos e assim sucessivamente. Ademais, receberam coloração avermelhada,

para sobressair-se aos outros tons presentes no mapa. Este mapa aproveitou

grande parte das informações já colocadas na tabela de atributos. Para sua

produção, no entanto, foram inseridos os rótulos com os nomes dos

logradouros, de forma que o mapa se facilitasse a compreensão e situação do

leitor em Alfenas-MG (Figura 2.2).

O layout seguiu o do mapa de expansão urbana, mantendo um padrão

para facilitar ao leitor, uma vez que se trata do mesmo objeto em análise,

apenas em temas e perspectivas diferentes.

O arquivo com a mancha urbana, produzido para o mapa de expansão,

foi aproveitado para criar dois tipos de material didático, utilizados na prática do

projeto. Um arquivo com slides, utilizado na Prática 2, contendo a mancha

Figura 2.2 - Mapa da Rede Viária Arterial da Cidade de Alfenas-MG, 2016. Fonte: IBGE, 1970; LANDSAT-5, 1983, 1993; LANDSAT-7, 2003; LANDSAT-8, 2016. Org.: O autor.

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urbana evoluindo no mesmo esquema do mapa, porém em transições de dez

segundos, criada em transição automática no software Microsoft Power Point

2013. E outro, uma folha contendo a síntese da evolução dividida em quadros,

para que os alunos pudessem acompanhar em cópia física a evolução urbana

de Alfenas-MG, de 1970-2016 e realizar o exercício proposto também na aula

da Prática 2. Este material foi feito no software Microsoft Word 2013. Cada

imagem corresponde a uma década foi colocada em um quadro e depois

disposta uma ao lado da outra em sequencia no layout (Figura 2.3).

É necessário percorrer dois caminhos na cartografia escolar e no

ensino de Geografia. O primeiro, o de utilizar mais da linguagem cartográfica

nas escolas, no sentido de valorizar os mapas e sua importância histórica e

contemporânea na ciência geográfica e na compreensão de mundo. O segundo

além da valorização, atribuir novos significados a sua utilização, fugindo das

metodologias antigas que propunham uma forma de análise cartográfica

tradicional, de cópia e descrição, substituindo-a por outra que faça do mapa um

portal para a leitura crítica de mundo e a emancipação para autonomia do

Figura 2.3 - Material Didático Evolução Urbana de Alfenas-MG, de 1970-2016. Org.: O autor.

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20

sujeito diante do espaço em que ele está inserido. A Geografia deve resgatar a

importância do mapa. Resgatar o mapa sob novas perspectivas é resgatar a

verdadeira espacialidade dos fenômenos que são abordados.

Tão importante quanto à elaboração cartográfica e dos materiais

didáticos foi o resgate histórico realizado junto aos moradores mais tradicionais

do Pinheirinho e do Santa Clara. Ao todo, foram selecionadas doze pessoas

para realização de entrevistas, rodas de conversa e diálogos ao longo de um

ano e três meses. Optou-se por escolher dentre aquelas que mais tinham

registros e mais compreendiam a história dos bairros Pinheirinho e Santa

Clara.

Das doze pessoas, seis delas (Dona P., Dona M., Dona C., Dona D.,

Sr. A. e Sr J.7) pertencem a uma faixa etária que vai dos quarenta aos setenta

anos de idade. Todos são parte dos primeiros moradores, indispensáveis no

resgate da história dos bairros. O outro grupo é constituído por moradoras e

moradores mais jovens (LA., LE., D., P., G. e RE.), sendo importantes para a

ilustração do panorama atual dos bairros.

Para isso, utilizou-se da pesquisa qualitativa como técnica para a fonte

de relatos orais, de recorrente utilização em trabalhos de Antropologia,

Sociologia e História, com o objetivo de resgatar a história dos bairros sobre

outra perspectiva, dando centralidade aos sujeitos como agentes de

transformação e resistência no espaço (GONÇALVES & LISBOA; SOUZA,

2007). Ao mesmo tempo, essa técnica se fez importante como veículo de

criação de novas narrativas, até então não registradas, contando outras

versões sobre a história do Pinheirinho e do Santa Clara, assim como a

reconstrução das trajetórias e das figuras de mulheres e homens que lutaram e

lutam para melhorarem as suas vidas e a dos outros moradores desses bairros.

Como elo metodológico, este trabalho é também a soma de quatro

semestres de observações, construções e vivências durante o estágio

supervisionado, como parte formativa da disciplina de Laboratório de Ensino de

Geografia (LEG) I, II, III e IV ao longo de dois anos na Escola Estadual Padre

José Grimminck, localizada no bairro Pinheirinho, no sentido de questionar a

educação geográfica, a Educação e a própria Geografia. Esta análise propõe

7 Os nomes de todos(as) os(as) entrevistados(as) serão abreviados para a preservação da

identidade.

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21

levar em conta, ainda, as conversas em sala de aula, a leitura de textos, o

conhecimento produzido coletivamente, buscando produzir uma compreensão

que possibilitasse a construção futura de práticas estratégicas.

O método de investigação pela vivência do estágio se deu numa escala

escolar. Ou seja, a escala de um microterritório (da escola), dividido em

nanoterritórios (as salas de aula), dos fazedores no e do cotidiano escolar (os

alunos), disputando poderes em busca de uma legitimação naquele e noutros

territórios de maior dimensão e influência (nos bairros, na cidade, etc). A

escola, neste cenário, foi vista como espaço de reflexo da dinâmica e lógica

social disputa entre os sujeitos a partir da observação e da descrição

qualitativa, ao longo dos estágios.

Tais construções foram e são importantes não apenas para o indivíduo

aluno, sobretudo para o professor em formação, porque constituem o cotidiano

escolar, de modo a caracterizar esse espaço. E esse espaço caracterizado,

para o geógrafo-professor, é indispensável para sua situação como agente

político e pedagógico na escola.

Nestes dois anos de estágio supervisionado na escola, foi permitido

observar e viver alguns momentos junto aos sujeitos-alunos do Grimminck.

Para isso, foram selecionados alguns diálogos e situações que marcaram a

vivência durante o estágio. Aquelas cujas manifestações pelos discursos

exprimiram, com força, o subconsciente dos sujeitos dos/nos bairros na/da

escola, buscando uma análise mais total da realidade escolar pela intensidade

da vivência. O conjunto dos elementos e tensões existentes no cotidiano

escolar, como reflexo da sociedade, foi crucial para tecer os fios condutores da

prática pedagógica do projeto. Isso significa dizer que o estágio supervisionado

foi fase de aproveitamento e ressignificação durante a formação enquanto

professor, sendo um tempo de constante aprendizado e preparo teórico e

prático para exercício do trabalho docente (BASSO, 1998; SANTOS & BRAGA;

STRAFORINI, 2010).

Neste sentido, a análise do discurso (AD), utilizado na Linguística

(BAKHTIN, 2006; MAINGUENEAU, 2008; PÊCHEAUX, 1997), entrou também

como importante técnica qualitativa combinada à vivência do/no estágio. Esse

instrumento se mostrou promissor porque revela aquilo que se apresenta em

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22

oculto nas falas, nas relações interpessoais no cotidiano do espaço escolar.

Retira das imagens a máscara e revela a verdadeira face do conflito,

elucidando aspectos que remetem ao cerne da questão, liberando as emoções,

as fraquezas, as ideologias, as intenções (CHAUÍ, 1980; FOUCAULT, 2008). E

foram múltiplos os discursos em análise, totalizando um conjunto de

impressões no espaço, provindas das ações e re-ações tanto do professor

regente quanto dos alunos. Essas reflexões foram possíveis através da

observação ao professor regente, durante o estágio supervisionado, nos anos

de 2015 e 2016, durante quatro semestres. Nesse tempo, foram realizadas

entrevistas, intervenções, participações em reuniões pedagógicas, além da

vivência cotidiana e das conversas fora do espaço escolar. Cada técnica

utilizada foi aplicada em forma de descrição em relatórios de estágio8. Ao todo,

foram 12 (doze) salas acompanhadas no período de vigência do estágio no ano

de 2015 e mais 14 (quatorze) em 2016, totalizando 26 (vinte e seis) salas

vivenciadas num período de dois anos, nos turnos matutino e vespertino.

Com a soma da elaboração cartográfica, dos relatos orais e da vivência

no estágio, a base para a estruturação e desenvolvimento do projeto foi

preparada. Nesse sentido, o Projeto Trabalhando a Educação Geográfica para

o Direito à Cidade, foi pensado para ser desenrolado em duas etapas,

envolvendo cinco aulas em três salas de 9º Ano do Ensino Fundamental II (9º

Ano I, 9º Ano II, 9º Ano III). Foi escolhido trabalhar com as turmas de 9º Ano

por estarem encerrando uma etapa da formação básica (Ensino Fundamental)

e adentrando outra (Ensino Médio). Ou seja, esses alunos ainda terão três

anos para frequentar a escola e revisar todo o conteúdo de Geografia, sendo o

projeto uma tentativa de ressignificação da Geografia que eles conhecem.

Após o levantamento teórico através de pesquisa bibliográfica, a averiguação

de trabalhos anteriores, a análise documental, a vivência do estágio

supervisionado, entrevistas, pesquisas de campo e longas conversas com as

lideranças locais, foi elaborado esse projeto (Tabela 2.1), que surgiu das

necessidades, fragilidades e potencialidades identificadas na escola e nos

8 Cada qual tratando de temáticas diferentes, dando ênfase a diferentes vieses e interpretações

das dinâmicas do Ensino de Geografia na escola, (I) O espaço escolar e sua rede colaborativa, (II) A Geografia no Ensino Fundamental e as políticas públicas no ensino de Geografia, (III) A Geografia no Ensino Médio e a Cartografia Escolar e (IV) As teorias pedagógicas no Ensino de Geografia e a questão da inclusão (envolvendo a EJA e a igualdade de gênero e raça).

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bairros, além da urgência de se trabalhar a Geografia e reafirmar a sua

importância em tempos complexos como os que hoje se vive.

Tabela 2.1- Tabela Síntese do Projeto – Trabalhando a Educação Geográfica para o Direito à

cidade de Alfenas-MG.

Etapa Aula Tema Conteúdos Atividades Objetivos

I

01

A Cidade e os

seus diferentes

espaços de

lazer e

consumo.

Ambiente

urbano, lugar

como lazer,

segregação

espacial.

Observação

das

fotografias e

Anotações.

Recolher os

registros das

percepções de

cada aluno em

relação aos

diferentes lugares

e paisagens do

espaço urbano

de Alfenas-MG.

II

02

Por que a

cidade é

diferente?

Introdução à

formação dos

bairros.

Cartografia,

principais

elementos que

compõem um

mapa,

utilização do

espaço,

crescimento

urbano,

urbanização e

segregação

espacial.

Localização

no mapa e

questionário.

Introduzir a

história do

desenvolvimento

socioespacial dos

bairros no

contexto de

Alfenas-MG.

03

A mudança dos

bairros no

tempo e a

especulação

imobiliária.

Utilização do

espaço,

apropriação

do território e

segregação

espacial.

Observação

das imagens

de satélite e

discussão do

conceito.

Compreender o

conceito de

especulação

imobiliária.

04

A Segregação

e o contexto da

origem dos

bairros a partir

de suas histórias.

Segregação

espacial,

principais

problemas

urbanos,

desigualdades

e direitos

sociais.

Roda de

discussão e

Elaboração

de

propostas.

Finalizar os

conteúdos sobre

a história dos

bairros e de

Alfenas-MG e

orientar a

atividade final.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

A primeira aula foi pensada para captar a percepção dos alunos sobre

diferentes lugares do espaço urbano (APÊNDICE A). A segunda aula teve por

ideia principal trabalhar a linguagem cartografia para problematização do

espaço urbano no contexto da segregação (APÊNDICE B), Na terceira aula,

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24

objetivou-se a continuidade com a análise da história espacial e o trabalho

crítico à segregação a partir da especulação imobiliária (APÊNDICE C). Na

última aula, dedicou-se tempo para discussão da história dos bairros locais e a

criação de propostas e soluções para melhoria das condições de vida dos

alunos e da comunidade local (APÊNDICE D).

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25

3 Capítulo 1: O contexto do Grimminck. Segregação

socioespacial, especulação imobiliária e direito à cidade

A geografia se dedicou durante muito tempo a estudar a distribuição e

a organização dos povos e elementos na superfície terrestre e, para isso a

cartografia sempre foi instrumento de relevante peso para realização de tal

tarefa. Entretanto, as críticas à falta de objetividade e cientificidade à geografia

tradicional, superada pelo rigor metodológico da geografia teorética, esbarrou,

décadas mais tarde, na dificuldade do geógrafo em descrever os processos

espaciais no tempo. Essa fase da Geografia passou pelas grandes

contribuições críticas da vertente marxista, colocando sobre o debate científico

os pontos que caracterizavam a eliminação da historicidade como fator que

limitava a leitura geográfica, uma vez que espaço e tempo são dados reais

indissociáveis à condição humana, não sendo uma razão lógica eliminar um em

detrimento de outro (MORAES, 1990; MOREIRA, 2013; SANTOS, 2013).

Como efeito das críticas marxistas, no entanto, a cartografia seguiu em

parte mais incorporada pela vertente quantitativa, como herança da geografia

ibgeana, lideradas por S. Faissol, Fany Davidovich, Pedro Geiger e outros

(ALMEIDA, 2000; LAMEGO, 2011), que herdou também os avanços científicos

das escolas anglo-saxônicas e as novidades metodológicas e em cartografia,

sensoriamento remoto a partir das décadas de 1950 e 1960 em diante.

A proposta de entender a cidade antes dos bairros surge da

necessidade de articular as escalas em um mesmo contexto socioespacial,

porque, se consideramos o espaço urbano produzido separado do espaço

escolar, haverá uma lacuna que impedirá o sucesso de um entendimento sobre

o objeto em questão. Partir-se-á, portanto, da premissa de que apenas

poderemos entender o espaço escolar se primeiro incorporarmos

substantivamente a realidade espacial da cidade e dos bairros, numa leitura

dos processos e trajetórias históricas que carregam os sujeitos que hoje a

escola atende.

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26

3.1 Os anos 1970: Uma nova dinâmica urbana em Alfenas-MG

O crescimento de Alfenas-MG se deu a partir de seu núcleo fundante

no século XIX em um direcionamento da expansão em 360°, seguindo o

modelo típico de morfologia urbana de cidades interioranas (VILLAÇA, 2008).

Esse padrão de distribuição espacial ainda está conservado no atual modelo de

expansão, pois ele é determinado pelas condições físicas encontradas no

município de Alfenas-MG, apresentando-se neste sentido, como barreira

expansiva, rios e córregos. Dada essa situação, somada às limitações técnicas

da época, as primeiras ocupações tiveram de se instalar nas áreas menos

declivosas por oferecer maior facilidade para assentamentos humanos. A

cidade lentamente cresceu até a década de 1970 (Figura 3.1) a partir de um

núcleo central, a Vila Formosa9 (ALFENAS, 2015, IBGE, 2016).

No caso de Alfenas-MG, a partir da década de 1960, com a instalação

do reservatório da UHE de FURNAS, houve grande contribuição para a rápida

aglomeração na cidade, que representava, já naquele período, mais de dois

terços da população total:

A população urbana superou a rural em 1960, em função, entre outros fatores, da instalação do reservatório de Furnas para geração de energia elétrica, que deslocou populações ribeirinhas para as cidades da região, a exemplo de Alfenas. A partir desse período o crescimento da população urbana é

9 Mesmo nome que a cidade obtinha ainda no século XIX, nos tempos de sua fundação, Vila

Formosa de Alfenas.

Figura 3.1 - Esquema da direção da expansão urbana de Alfenas-MG, séc. XIX – 1950. Fonte: Prefeitura Municipal de

Alfenas, 2006. Org.: O autor.

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27

contínuo enquanto a população rural diminui em termos absolutos. Além dos processos de expulsão do campo, a cidade também atraiu, como na década de 1980, a instalação de cursos de ensino superior provoca uma crescente entrada de estudantes que chegam a compor dez por cento da população total do município, assim como parte dos migrantes sazonais ligados à colheita do café acaba fixando-se na cidade. É a partir desse período que o crescimento periférico intensifica com a instalação de loteamentos com precária infraestrutura (BRANQUINHO, 2011, p. 3-4).

Após a década de 1970 a cidade de Alfenas-MG passou por profundos

processos de reestruturação e de expansão de seu espaço urbano por

influência do contexto de intensa urbanização ocorrida na segunda metade do

século XX no Brasil. Dentro do cenário global (capitalismo-financeiro) e

nacional (capitalismo-industrial-comercial), Alfenas-MG, assim como a maioria

das cidades do Sudeste do Brasil, incorpora a maior parte da população

municipal nas áreas urbanas a partir da década de 1960 e um crescimento

exponencial da década de 1970 em diante, sobretudo no período de 1980 a

2010. Nesse contexto também, a substituição da importância da malha

ferroviária pela rodoviária, bem como a nova dinâmica em termos de oferta de

serviços, colocou Alfenas-MG em outro patamar em termos de centralidade no

contexto microrregional no Sul de Minas Gerais. A nova situação provocou um

crescimento intensificado na cidade sul-mineira, que pode ser melhor

observado no gráfico a seguir (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Gráfico populacional de Alfenas-MG, de 1940-2010. Fonte: BRANQUINHO, 2011.

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Nos anos 1970, de acordo com A. Carvalho & G. César (2010, p. 21), o

“[...] crescimento periférico se destaca na história urbana de Alfenas,

caracterizada pelo número de estudantes dos novos cursos superiores”

ofertados pelo FETA10, que contava com apoio da EFOA11. Houve, neste

tempo, a implantação de novos loteamentos como o Vista Alegre e o Jardim

Aeroporto. No esquema abaixo, podemos observar a mancha urbana de

Alfenas-MG na década de 1970 e em quais direções ela iria seguir na década

seguinte (Figura 3.2).

Até a década de 1970, a cidade limitava-se a uma mancha única,

aparentemente sem vazios urbanos, compreendendo em sua área, grande

parte do que hoje é o centro da cidade, a Vila Formosa, a Vila Godoy, o

Bosque dos Ypês, a Vila Borges, a Vila Betânia e o Parque das Nações,

continuando sua expansão multidirecional, progredindo circularmente ao raio

do núcleo primeiro da mancha urbana alfenense, que era a Vila Formosa,

seguindo o delineamento ao longo do colinoso relevo de Alfenas-MG. Essa

mancha sem vazios urbanos apresentava continuidade aglutinando a nova

população que chegara do campo à cidade. O que se vê nesse período é o

início da tendência da cidade em expandir-se à Oeste. Até a década de 1970, a

cidade crescia latitudinalmente, influenciada por seu principal eixo de

10

Fundação de Ensino e Tecnologia de Alfenas. 11

Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas-MG, atual Universidade Federal de Alfenas-

MG.

Figura 3.2 - Esquema da direção da expansão urbana de Alfenas-MG, de 1970 para 1980. Fonte: IBGE, 1970. Org.: O autor.

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29

circulação, a Av. Governador Valadares, conectando-se às rodovias BR-369

(ao Norte) e BR-491 (ao Sul).

3.2 – Os anos 1980: A especulação a Oeste.

Nessa década inicia-se o processo propriamente dito que origina este

trabalho. Ademais, a cidade espalhou-se em uma mancha bem contínua, a

partir dos principais eixos de circulação: um latitudinal, num vetor Norte-Sul (a

Av. Governador Valadares e a Av. Presidente Artur Bernardes), e outro que

seguiria como tendência de continuidade a Noroeste (Av. Henrique Munhoz),

estabelecendo novos bairros à Noroeste, como o Jardim América, Jardim

América I, Jardim Nova América e o Morada do Sol.

A complexidade da cidade estendeu-se, ao passo que, nessa transição

da década de 1980 para a década de 1990, assentou-se as bases para a

formação do Pinheirinho e do Jardim Aeroporto, bairro também afastado do

centro da cidade, localizado à Leste da mancha urbana (Figura 3.3). A

intensificação dos processos econômicos no período impactou na cidade,

fazendo com que se expandisse, alcançando ainda mais seu ordenamento de

direcionamento principalmente a Oeste, Noroeste e Norte, enquanto que o

Leste ficou reservado para um ordenamento expansivo mais lento e

autosselecionado, justamente o loteamento do Jardim Aeroporto (CARVALHO

& CÉSAR, 2010).

Figura 3.3 - Esquema da direção da expansão urbana de Alfenas-MG, de 1980 para 1990. Fonte: IBGE, 1970, LANDSAT-5, 1983. Org.: O

autor.

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30

É justamente nesse momento que este estudo enfoca. Na leitura do

contexto espacial da cidade nessa década. Inicialmente, com a ocupação de

poucas casas, às margens do Córrego do Chafariz, depois, com o loteamento

do Conjunto Habitacional (COHAB) Doutor Francelino Pereira dos Santos, em

1983, é que começou a desenvolver-se o bairro Pinheirinho, numa mancha a

Oeste, isolada numa distância de aproximadamente 4 (quatro) quilômetros do

centro da cidade, caracterizando como o primeiro espaço a figurar um vazio

urbano. Ao mesmo tempo, algumas pessoas instalaram-se numa faixa de 300

metros adiante desse bairro, ocupando terrenos de forma irregular, como

resposta a falta de condições de habitação, de sobrevivência. Surgia então o

embrião do Santa Clara, chamado pelos fundadores vulgarmente pelo nome de

“Corredor do Pinheirinho”.

A transição entre as décadas de 1980 e 1990 mostra um novo desenho

da estrutura intraurbana de Alfenas-MG e também uma nova tendência que se

seguirá até a conformação urbana nas décadas seguintes. A isto deve-se

principalmente o fato de que a principal via de acesso a Oeste era uma estrada

de terra, cercada por cafezais, bambuzais e alguns eucaliptos, conectando o

centro da cidade e as vias arteriais ligadas às BRs 369 e 491 às propriedades

rurais do município. A cidade nesse tempo foi aos poucos respondendo ao

principal eixo de circulação intraurbano que servia como conexão às

propriedades rurais locais, em forte expansão Oeste-Noroeste.

3.3 – Os anos 1990: A grande marcha para Oeste-Noroeste

É nesta década que a antiga estrada de terra recebe pavimentação e

torna-se a Av. Jovino Fernandes Salles (FIGUEIREDO & BERNARDES, 2010).

O asfaltamento do principal eixo de circulação a Oeste traz consigo,

concomitantemente, o interesse de empreendimentos sedentos pela nova

oferta de infra-estrutura a Oeste da cidade. Para parte da população, o futuro

em Alfenas-MG passou a ser a Oeste, explicando o novo comportamento

espacial da mancha urbana nos anos doravante, tendendo a direcionar-se ao

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Figura 3.4 - Esquema da direção da expansão urbana de Alfenas-MG, de 1990 para 2000. Fonte: IBGE, 1970, LANDSAT-5, 1983, 1993. Org.:

O autor.

redor desse novo eixo de circulação importante da mobilidade urbana

alfenense (Figura 3.4).

A cidade consolidou-se numa expansão Oeste-Noroeste-Norte, num

ângulo de 45º, com filas de loteamentos urbanos espaçados por vales,

distribuindo-se pelos interflúvios e pelas vertentes das colinas, fazendo dos

córregos do Chafariz e do Pântano, a Oeste e Noroeste, respectivamente,

alguns dos fatores limitantes que condicionaram essa nova morfologia urbana

de Alfenas-MG. Na porção Leste, o Jardim Aeroporto expandiu sua extensão

territorial, sendo também um bairro separado da mancha urbana contínua pelo

córrego da Pedra Branca, cortando a cidade em Sul-Norte. É nesse período

que a cidade ganha um vetor para a origem do Distrito Industrial, na ponta

Noroeste, e direciona sua expansão mais ainda no eixo Sul-Norte, Noroeste e,

principalmente, Oeste. Tudo isto foi fruto da diversificação da atividade

econômica de Alfenas, atraindo população para atender a oferta de mão de

obra, aumentando cada vez mais o nível de complexidade urbana. O Oeste foi

recebendo mais loteamentos, substituindo as paisagens de café, pastagens e

eucalipto, por uma modificação que começava a apresentar casas e barracões

em construção, começando a se instalar, paulatinamente, comércios e

indústrias.

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3.4 – Os anos 2000: A consolidação do Oeste.

É na década de 2000 que, de fato, a cidade de Alfenas-MG consolida

sua expansão a Oeste. A mancha urbana que podemos ver se expandindo a

Oeste, aumenta ainda mais para esse direcionamento a partir da

concretização de bairros como o Jardim Boa Esperança, Jardim Alvorada, o

crescimento da malha urbana no Recreio Vale do Sol e Santa Clara, bem como

se avançou também ao Norte com os bairros Vista Grande, Jardim Eunice, Vila

Promessa, por exemplo, e ao Sul, com o Jardim Panorama, Jardim Santa

Maria, Jardim Santa Inês e a continuidade do Jardim Aeroporto, a sul do

mesmo bairro. A Noroeste nota-se também a evolução do Distrito Industrial,

tendendo a expandir rumo a continuidade da estrada de acesso ao Pinheirinho

(apêndice da BR-491), no sentido de aperfeiçoar a logística, e os bairros

Jardim América, Residencial Oliveira, compondo esse movimento de expansão

de Alfenas-MG num processo de tentativa de ocupação dos vazios urbanos,

deixados na morfologia urbana desde a década de 1980.

O objetivo dos mapas é corroborar a ideia de que, após a implantação

dos loteamentos que formaram o Pinheirinho, em 1980, a cidade foi se

expandindo em grande parte para Oeste, justamente em direção ao bairro.

Como se pode observar nos mapas também, a maior parte das setas aparece

justamente na porção Oeste, marcando o desenvolvimento dessa porção na

próxima década (Figura 3.5).

Figura 3.5 - Esquema da direção da expansão urbana de Alfenas-MG, de 2000 para 2010. Fonte: IBGE, 1970; LANDSAT-5, 1983, 1993; LANDSAT-

7, 2003.Org.: O autor.

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De 2000 para 2010 a cidade tenderia portanto, como indicam as setas,

a direcionar-se bastante a Oeste, demonstrando ser a porção Oeste e Noroeste

os novos eixos de expansão. Houve também intenso segmento de expansão

ao Sul, na direção do novo terminal rodoviário intermunicipal/interestadual.

Nota-se também crescimento das áreas arredores ao bairro Jardim Aeroporto,

como expansão de áreas de classes mais altas e tambem ligeiro

direcionamento a Nordeste, expandindo a mancha urbana em direção as partes

mais baixas próximas ao Córrego da Pedra Branca.

3.5 Os anos 2010: Novas perspectivas e novos eixos de expansão.

Até o ano de 2016, a cidade de Alfenas-MG tem demonstrado

intensificação nos processos de expansão da mancha urbana, sobretudo na

porção Oeste da cidade. Com a tendência da chegada da infra-estrutura

urbana, a conexão da mancha antes isolada com a cidade ocorreu através dos

bairros Jardim Boa Esperança, Jardim Alvorada e Recreio Vale do Sol, ao

Norte da Av. Jovino Fernandes Salles e, com os bairros Jardim Elite e Vale

Verde.

A instalação da Unidade Educacional II da Universidade Federal de

Alfenas, em 2012, atraiu e vem atraindo vetores da especulação imobiliária

mais ainda para o Oeste, com pelo menos quatro loteamentos recentemente

distribuídos num raio de um quilômetro da Universidade, substituindo as

plantações de café, repetindo o que houvera ocorrido na porção mais ao Sul da

cidade, com a instalação do campus da Universidade José do Rosário Vellano,

a Unifenas, em 2006, atraindo serviços e o interesse capitalista para aquele

local (BRANQUINHO, 2011). Logo abaixo, é possível verificar a totalidade da

evolução urbana de Alfenas-MG, como produto da consolidação dos esquemas

anteriormente trazidos a discussão. A cidade praticamente espalhou-se pelos

interflúvios e teve sua morfologia latitudinalmente e longitudinalmente

condicionada pelos eixos de circulação, com a Av. Gov. Valadares e a Av.

Jovino Fernandes Salles (Figura 3.6).

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Neste novo contexto, após o ano de 2010, com a instalação da

Unidade Educacional II entre os bairros Pinheirinho e Santa Clara, a Oeste da

cidade de Alfenas-MG, um novo e incerto cenário vem sendo construído. O

boom de loteamentos nos últimos quatro anos cercando a Universidade

provocou rápida e profunda alteração na paisagem dos bairros mais próximos,

o que pode servir como interessante estudo a ser explorado. Ademais, é

importante reforçar que esse boom de loteamentos não se limita apenas a essa

região da cidade, mas tem se espalhado por todas as partes dela. Entretanto,

nessa porção Oeste, já no limite entre a cidade e a área rural, os cafezais

começaram a dar espaço a tratores e a terra ao asfalto dos novos loteamentos.

Essa missão será mais bem cumprida com os futuros trabalhos a serem

desenvolvidos, enfocando mais precisamente à Geografia Urbana, podendo

dar suporte a novos apontamentos mais fundados acerca da criação de novos

subcentros, eixos de expansão e desenvolvimento da forma urbana, bem como

a intensificação dos conflitos, as novas formas de resistência, organização e

enfrentamento na condição urbana da população pobre alfenense.

Figura 3.6 - Esquema da direção da expansão urbana de Alfenas-MG, até 2016. Fonte: IBGE, 1970; LANDSAT-5, 1983, 1993;

LANDSAT-7, 2003; LANDSAT-8, 2016. Org.: O autor.

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35

3.6 Segregação socioespacial e especulação imobiliária

A forma urbana, mentalmente e socialmente presente às vidas na

cidade compõe a sociedade que, dividida espacialmente, reproduz ideologias

em constante conflito. Os movimentos no espaço urbano, os sítios nos quais

ocorrem as mudanças numa dada temporalidade, refletem no concreto as

consciências que se quer produzir. Por isso, essa análise resumida dos

movimentos da cidade de Alfenas-MG, nesses quase cinquenta anos, foi

importante no trabalho, no sentido de vermos o que a cidade hoje reflete,

através dos processos recapitulados desde o passado. A dispersão das

manchas, as separações das classes na cidade correspondem às pressões

das camadas dirigentes como fruto da divisão do trabalho e da seleção do

espaço, como assinala Lefebvre, sobre a forma urbana, (1991, p. 91) ao dizer

que:

Também é evidente que nessas mesmas condições a dispersão aumenta: divisão do trabalho levada até suas últimas consequências, segregação dos grupos sociais, separações materiais e espirituais. Essas dispersões só podem ser concebidas e apreciadas através da referência à forma da simultaneidade. Sem essa forma, a dispersão e a separação são pura e simplesmente percebidas, aceitas, interinadas como sendo fatos. Deste modo, a forma permite designar o conteúdo, ou antes, os conteúdos. Na sua emergência, o movimento dialético (conflitante) do conteúdo e da forma urbana: a problemática. A forma na qual esta problemática se inscreve levanta certas questões que fazem parte dela. Diante de quem e para quem é que se estabelece a simultaneidade, a reunião dos conteúdos da vida urbana? (LEFEBVRE, 1991, p. 91).

As regras do jogo capitalista, a divisão sócio espacial do trabalho e a

divisão das vidas dá forma à cidade e ao conteúdo “urbano”, não sendo,

portanto, condições separáveis diante desse processo.

Nesse sentido, a prática social é especializada e a ação

envolve espaço e tempo, realizando-se em várias escalas

indissociáveis a partir do plano do lugar. Na cidade, revela-se

como justaposição entre uma morfologia social (promovida pela

diferenciação das classes na sociedade) e pela morfologia

espacial (produzida pelas diferenças nas formas e modos de

acesso aos espaços da vida, através do uso). O

desenvolvimento histórico da propriedade no seio do processo

de reprodução aponta a reprodução do valor de troca – e o que

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dela se diferencia, o que ela subordina e como orienta o uso

como possibilidade de apropriação realizando-se como

diferença (CARLOS, A.F.A., 2007, p.49).

Essa produção social do espaço diferenciado se efetiva pela história

dos grupos humanos e as condições ambientais (não num sentido

necessariamente determinista). A reprodução social da cidade sob a égide do

valor de troca em substituição ao valor de uso recria diferentes contextos de

origem espacial. Os lugares na cidade vão sendo formados de acordo com as

classes as quais eles correspondem. Daí surge a lógica da segregação, contida

no seio da especulação imobiliária, que é essa razão máxima da força do valor

de troca. Neste processo surgem duas faces: a da segregação imposta e a

autossegregação:

A segregação residencial pode ser considerada, de um lado,

como autossegregação e, de outro, como segregação imposta

e segregação induzida. Em comum está uma política de classe

que gera estes tipos de segregação (Idem, 2013, p.43).

Quando se discute esses temas dentro de uma política de classes,

pode-se pensar que a política é realizada por e para classes. Essa natureza

política, não entrando a fundo numa discussão da prática histórica da política

nas sociedades humanas, requer levar em conta a própria heterogeneidade de

interesses, e o peso diferenciado que cada agente ou grupo social tem no

processo decisório, bem como uma distribuição diferenciada no espaço urbano,

na caracterização das linguagens várias manifestas pelas paisagens e nas

formas de se organizar os grupos para o enfrentamento das lutas. Pensar a

estratificação social junto à segregação é indispensável e facilita o

entendimento quando:

A autossegregação visa reforçar diferenciais de existência e

de condições de reprodução desses grupos por intermédio da

escolha das melhores localizações no espaço urbano,

tornando-as exclusivas em razão dos elevados preços da terra

urbana e de suas amplas e confortáveis habitações (Idem).

A segregação imposta, essa outra face da periferização no espaço

urbano, está de uma forma ou de outra relacionada à autossegregação. Se

observarmos que, espacialmente, as duas segregações surgem

simultaneamente em Alfenas-MG, num corte longitudinal de quatro a cinco

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quilômetros de distância, num movimento de divergência (para Oeste os

pobres e para Leste os ricos), no qual a fissura dessa separação tenha origem

no centro da cidade. Dentro disto, podemos imaginar que esse processo tem

intencionalidades semelhantes, quando não, iguais, pois a segregação

residencial das classes mais pobres:

[...]resulta também de uma política de classe, gerada por aqueles que detêm o poder, controlando diferentes meios de produção. [...] Após sua realização no espaço urbano torna-se muito difícil reverter os padrões espaciais das áreas segregadas: a expulsão à força é um dos meios bastante conhecidos, realizando-se uma “limpeza social” (Idem, 2013, p. 44).

Alguns setores da cidade vão, neste prisma, conformando espaços

privilegiados para as classes que querem se afastar da área central por opção,

em busca de privacidade e conforto. São diferentes as paisagens urbanas

dessa periferia. Contrapõe a paisagem do centro urbano e da periferia pobre.

Essa outra periferia partilha de arquitetura moderna, de casas mais bem-

acabadas, modernas e arrojadas, estilizadas a gosto do proprietário que pode

transferir à imagem da casa uma síntese de sua posição social. As telhas não

são de fibrocimento ou de amianto, e o terreno é bem mais espaçoso. Algumas

casas possuem aparência fechada, enclausurada, de vidas interiores e

profundamente privadas, como se o que está lá dentro não pudesse ser visto

ou cobiçado, embora o design da casa aponte ao subconsciente do observador

certo poder. As cercas elétricas reforçam a evidência do receio, a sensação do

protegido, afastando-se do mundo da cidade, numa reclusão total,

contrastando com a paisagem da periferia pobre, denunciando a violência que

retorna ao glamour do privado graças a sua existência.

As casas nessa periferia pobre não têm cerca elétrica. Falta

acabamento, reboco, o muro com rachaduras ou buracos, estruturas instáveis,

gambiarras com placas de madeira ou PVC para completar o portão quebrado

ou enferrujado, inexistência de garagens ou espaços muito apertados para

estacionar o carro (que não é o “carro do ano”, a não ser se estivermos falando

da década de 1980 e 1990). As janelas grandes e abertas convidam os olhares

para o que dentro daquelas casas existe; as vidas aqui são então muito mais

observáveis e observadas que na periferia rica, exprimindo outras relações

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humanas. São relações mais comuns e coletivas, embora haja uma

fragmentação. Crianças descalças correndo sobre o asfalto coberto por terra

trazida pelo vento, em decorrência das novas ruas que vão se abrindo,

suprimindo os cafezais, segurando um pedaço de pau para brincar de

taco/bete, no meio de uma estreita rua onde ainda eventualmente passam

carroças, charretes e cavalos. É o (peri)urbano abocanhando o rural, é o

rurbano aliado a espaços doentes, adoecidos talvez pela consciência urbano-

capitalista que parte da elite reproduz na cidade (LEFEBVRE, 1991).

A existência da propriedade privada da riqueza cria situações inumanas de existência na metrópole (na cidade), como bem o provam a realidade dos cortiços na área central, das favelas, das ocupações nas franjas sempre afastadas da mancha urbana apontando os traços mais visíveis desta condição inumana. Mas o inumano não se reduz à simples presença e ao domínio do econômico; revela-se numa dimensão mais ampla, que envolve um conjunto de mediações que vão da educação aos meios de comunicação midiáticos até o modo como a democracia representativa se desenvolve, eliminando a participação e apontando o homem privado de direitos (CARLOS, A.F.A., 2013, p. 107).

Essa diferenciação da paisagem em rápida e constante modificação é

a prova da heterogeneidade do espaço urbano e também de suas profundas

contradições que permanecem e vão sendo reestruturadas no espaço pelo

acúmulo de tempo. As desigualdades estão contidas no espaço urbano e elas

tentam definir os limites dos direitos que as classes terão acesso. Esse

conteúdo inumano o qual A. F. Carlos traz se apresenta na imposição de

dificuldades que as classes mais pobres têm. Tolhidas de uma melhor

educação, sujeitas à opinião tendenciosa do rádio, da TV, da internet, e

exploradas pela força de trabalho, diminuindo o tempo de lazer e de

formação/participação política, essas populações se veem deparadas a esses

obstáculos. Do contrário, as camadas mais ricas da sociedade conseguem

comprar12 uma educação de alto nível, controlar o discurso da imprensa e

angariar riqueza a partir do trabalho dos pobres, sobrando tempo e dinheiro

para trocar por lazer, participar e formar-se politicamente:

Deste modo, a re-produção do espaço urbano do espaço repõe constantemente a questão da propriedade privada da riqueza

12

Justamente no sentido da educação como mercadoria.

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sob a forma da terra ou do solo urbano e de sua realização como contradição valor de uso/valor de troca. Um processo que não ocorre sem violência (Idem).

E essa violência processual entre as classes se derrama sobre a malha

urbana, interpelando as próprias vidas dos sujeitos que a constitui. O

capitalismo vomita no seu incompleto produto urbano as contradições que,

numa situação de retroalimentação constante. Ele se alimenta das

desigualdades, para produzir as riquezas espacialmente limitadas em núcleos

esparsos na cidade. Depois, lança fora novamente o resto das contradições de

volta para a cidade, alimentando-se das desigualdades, reiniciando o processo

mais uma vez.

[...] O espaço enquanto condição, meio e produto revela o

movimento da produção/reprodução de toda a sociedade, uma

tríade que apreende um movimento contraditório em que

nenhum nível ou escala da produção espacial é excluído, ao

contrário, realiza-se como justaposição entre esses níveis e no

interior de cada um, constituindo-se como totalidade

contraditória (CARLOS, A.F.A., 2007, p.55).

Como profunda contradição que garante a saúde débil desse sistema

econômico e político, o capitalismo nas cidades vai repetindo esses

movimentos em múltiplas escalas, tanto nas metrópoles, como nas cidades

médias e pequenas. Obviamente que se trata de movimentos singulares,

repletos de suas especificidades históricas e dimensionais, entretanto, contidas

numa mesma totalidade analítica, como parte de uma grande rede bem

conectada (pela informação, pela articulação política dos centros de decisão),

em que os núcleos são as cidades, que vão expandindo suas massas ao

mesmo tempo em que se nutrem da lógica desigual do capitalismo.

A desigualdade socioespacial e a precariedade para a

reprodução da vida são produtos do modo de produção e, ao

mesmo tempo, são condições de permanência nas mesmas

condições precárias. O processo de expansão capitalista

produzindo “cidade”, incorporando o espaço produzido pelos

trabalhadores faz prevalecer o valor de troca sobre o valor de

uso. É contra esse processo que trabalhadores consideram

fundamental se organizar na luta pelo Direito à Cidade. As

mobilizações e lutas de movimentos populares urbanos

procuram alterar a desigualdade espacial, tornando-as

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possibilidade de mudança com o direito a ter direitos, um deles

o de usufruir, na cidade, da riqueza produzida (RODRIGUES,

A.M., 2007, p. 78).

E é justamente nessa situação de desconforto que surge a alternativa

de se lutar pelo Direito à Cidade. Produzir uma leitura para além das formas e

concepções de um urbano visto na casca superficial e ideológica, como muito

se vê ainda em alguns estudos, aquele urbano material, visto só como conjunto

de prédios, comércios e centro de emprego. A cidade e sua proposta

atravessam esse projeto e se conclui como um espaço de multiplicidades.

Aliás, essa outra visão sobre a cidade revela outro lado da moeda. A

concentração da riqueza, a acumulação por espoliação (HARVEY, 2011), e a

denudação das possibilidades de igualdade (a negação de uma série de

direitos), confluem para a negação do próprio direito à cidade. Entretanto, as

camadas populares estão se desgastando e se cansando desse projeto. Os

novos horizontes, as novas condições de organização e superação (um certo

otimismo prático deste lado da sociedade), trazem um outro projeto de cidade.

Nesta orientação, é possível entender o “direito à cidade” como

uma necessidade prática de superação da contradição valor de

uso-valor de troca, que só se resolveria na superação daquilo

que funda o capitalismo: a propriedade privada. O direito à

cidade, portanto, aponta a negação do mundo invertido, aquele

das cisões vividas na prática socioespacial, das

representações que criam a identidade abstrata (na indiferença

da constituição da vida como imitação de um modelo de

felicidade forjado na posse de bens); da preponderância da

instituição e do mercado sobre a vida; do poder repressivo que

induz à passividade pelo desaparecimento das

particularidades; da redução do espaço cotidiano ao

homogêneo, destruidor da espontaneidade e do desejo. Assim,

a superação da segregação socioespacial encontra seu

caminho na construção do direito à cidade, como projeto social

(CARLOS, A.F.A., p. 108-109).

Ou seja, o direito à cidade transcende o nível de direito, de bem-estar

da condição humana, para transformar-se em uma das bases de um projeto

social, de uma construção de vidas na cidade que tem a sua felicidade não na

posse, no material mas em valores permanentes, em atitudes sem valor de

troca, sem preço.

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3.7 O direito à cidade

Diante desses paradoxos, algumas perguntas se desenham nessa

abordagem urbana. Qual ingrediente do capitalismo produz essa fragmentação

do espaço urbano? O que faz com que hajam espaços segregados e diferentes

dentro da cidade?

H. Lefebvre (1991, p.43) nos aponta que existe uma filosofia da cidade,

uma ideologia urbana.

A filosofia da cidade [...] nasceu como superestrutura de uma sociedade cujas estruturas entrava um certo tipo de cidade; essa filosofia, preciosa herança do passado, prolonga-se em especulações que frequentemente se disfarçam em ciência porque integram em si alguns conhecimentos reais.

Quanto ao urbanismo como ideologia, recebeu ele formulações cada vez mais precisas. Estudar os problemas de circulação, transmissão das ordens e das informações na grande cidade moderna leva a conhecimentos reais e a técnicas de aplicação. Declarar que a cidade se define como rede de circulação e de consumo, como centro de informações e de decisões é uma ideologia absoluta; esta ideologia, que procede de uma redução-extrapolação particularmente arbitrária e perigosa, se oferece como verdade total e dogma, utilizando meios terroristas. Leva ao urbanismo dos canos, da limpeza pública, dos medidores, que se pretende impor em nome da ciência e do rigor científico. Ou a coisa pior ainda!

Esta ideologia tem dois aspectos solidários: um aspecto mental, um aspecto social. Mentalmente, ela implica uma teoria da racionalidade e da organização cuja formulação pode ser datada por volta de 1910 [...] socialmente, é então a noção de espaço que passa para o primeiro plano, relegando para a penumbra o tempo e o devenir. O urbanismo como ideologia formula todos os problemas da sociedade em questões de espaço e transpõe para termos espaciais tudo que provém da história, da consciência. Ideologia que logo se desdobra. Uma vez que a sociedade não funciona de maneira satisfatória, será que não haveria uma patologia do espaço? Nesta perspectiva, não se concebe a prioridade quase oficialmente reconhecida do espaço sobre o tempo como indício de patologia social como um sintoma entre outros de uma realidade que engendra doenças sociais. Imagina-se, pelo contrário, espaços malsãos e espaços sãos. O urbanismo saberia discernir os espaços doentes dos espaços ligados à saúde mental e social, geradores dessa saúde (LEFEBVRE, 1991, p. 49).

Em uma interpretação geral, esses tais espaços doentes a que

Lefebvre se refere são justamente aqueles que, numa ideologia urbanista,

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necessitam de uma intervenção prática, no plano das ciências parcelares, do

planejamento urbano reformista. Aquele cujo discurso se faz exclusivamente

pelo viés planificador e técnico, reduzindo a cidade a um conjunto de sistemas

de objetos materiais, eliminando as especifi-cidades dos grupos e a história de

constituição da mesma13. Ocorre que, para Lefebvre, esse urbanismo não é

suficiente para “sanar” as doenças urbanas. Ele relega funções pois, se não

assim faz, compromete o próprio projeto/produto capitalista de cidade. Nesse

sentido a lógica não se sustentaria. A contra-ideologia à ideologia urbanística

dissiparia o próprio capitalismo se tal consciência se generalizasse. Isto é, essa

contra-ideologia é, sobretudo, uma resistência ao capitalismo. É a resposta ao

espaço concebido, resultado das mãos violentas que o Estado capitalista em

sua substância dinâmica induz.

A estratégia urbana baseada na ciência da cidade tem

necessidade de um suporte social e de forças políticas para se

tornar atuante. Ela não age por si mesma. Não pode deixar de

se apoiar na presença e na ação da classe operária, a única

capaz de pôr fim a uma segregação dividida essencialmente

contra ela. Apenas esta classe, enquanto classe, pode

contribuir decisivamente para a reconstrução da centralidade

destruída pela estratégia de segregação e reencontrada na

forma ameaçadora dos “centros de decisão”. Isto não quer

dizer que a classe operária fará sozinha a sociedade urbana,

mas que sem ela nada é possível (Idem, p.81).

No sentido de uma superação, Henri Lefebvre atento para o

protagonismo da classe operária na superação da segregação, na cristalização

do direito à cidade. Entretanto, ela não atingiria seu objetivo sozinha. Ela

deveria ser a protagonista, a parcela a frente do processo, mas, seria tática a

sua associação a outros setores estratégicos, aqueles que contem o acesso a

informações privilegiadas e um acervo procedimental e metodológico

politicamente consciente para o enfrentamento da ideologia urbanista-

capitalista na cidade. Esses novos caminhos é que confluiriam para a

constituição de outra sociedade. A sociedade urbana. Urbana no sentido de os

direitos coletivos atingirem uma totalidade na cidade, visando suprimir a

concentração da riqueza que compra esses direitos, num projeto calcado na

13

Embora, no ponto de vista da reprodução das classes, reproduza a ideia do poder por meio

do arranjo estético das construções.

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própria desconstrução da sobreposição do valor de troca em relação ao valor

de uso.

O mundo da mercadoria tem sua lógica imanente, a do dinheiro e do valor de troca generalizado sem limites. Uma tal forma, a da troca e da equivalência, só exprime indiferença diante da forma urbana; ela reduz a simultaneidade e os encontros à forma dos trocadores e o contrato de troca equivalente: o reduz ao mercado. A sociedade urbana, conjunto de atos que se desenrolam no tempo, privilegiando um espaço (sítio, lugar) e por ele privilegiados, altamente significantes e significados, tem uma lógica diferente da lógica da mercadoria. É um outro mundo. O urbano se baseia no valor de uso. Não se pode evitar o conflito (Idem, p. 82).

A falta de limites do capital, de transformar tudo em razão de valor de

troca, de consumo, vai reproduzindo desigualdades e minando o erguimento de

outra cidade. Essa sociedade urbana a que se refere Lefebvre faz parte de

outro projeto de sociedade, que depende da superação do modelo capitalista

de cidade. Para isso, é necessário trazer à tona os conflitos, as contradições,

num debate sobre a realidade em seus pontos divergentes, para que seja

possível tocar nos pontos mais sensíveis a essa questão e construir outras

propostas para a cidade, sobretudo no sentido de buscar maior equidade e

justiça social.

3.8 – Espaço, luta e representação: A formação do Pinheirinho

Para melhor entendimento do que se passou nos contextos de formação

dos bairros, foi necessário ouvir as trajetórias das lideranças e sujeitos que

vivenciaram tais processos. A partir de uma aproximação das histórias

individuais e coletivas, possibilitando uma leitura não apenas perspectiva, de

fora do processo, mas introspectiva, do lado de dentro (SOUSA, 2007). É

importante reforçar uma questão antes de começar a falar da formação do

bairro. A maior parte dessas lideranças são mulheres, negras, viúvas e/ou

solteiras que lutaram (e ainda lutam!) não só para a formação da escola, como

também e principalmente para a garantia de outros direitos básicos como água,

luz elétrica, saneamento básico, saúde e moradia.

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Isto é, essas agentes, quando inseridas em todo aquele movimento que

se tratou nos tópicos anteriores14, situavam-se numa malha de segregação

socioespacial, dentro de um processo de diferenciação do espaço urbano pela

classe social, afastadas do centro da cidade da mesma forma (e distância) que

foram afastadas de seus direitos. Como retrata conceitualmente Roberto

Lobato Corrêa (1989), ao discutir sobre o espaço urbano em sua obra numa

perspectiva mais estrutural, Lobato afirma criticamente que:

A classe dominante ou uma de suas frações [...] segrega ou outros grupos sociais na medida em que controla o mercado de terras, a incorporação imobiliária e a construção, direcionando seletivamente a localização dos demais grupos sociais no espaço urbano. Indiretamente atua através do Estado. Em realidade pode-se falar em auto-segregação e segregação imposta, a primeira referindo-se à segregação da classe dominante, e a segunda à dos grupos sociais cujas opções de como e onde morar são pequenas e nulas. (CORRÊA, 1989, p. 64).

De acordo com as lideranças, a ocupação inicial dos bairros se deu

entre os anos de 1981 e 1982. A pequena vila, que contava com menos de 10

(dez) casas, era totalmente afastada do núcleo urbano central da cidade,

encontrando-se na encosta de uma vertente colinosa orientada a Sul no fim um

caminho de aproximadamente quatrocentos metros de terra, quase no fim de

uma estrada sem asfalto que percorria um trecho de quase quatro quilômetros

a Oeste (que servia para o tráfego de veículos de transporte rural) que

desembocava na área rural.

Em estudo recente, Figueiredo & Bernardes (2010) realizam breve

histórico do Pinheirinho, em resumo:

O Conjunto Habitacional Francelino Pereira, também conhecido por Pinheirinho, foi criado na década de 1970 a partir da doação de lotes por parte da prefeitura municipal de Alfenas, logo assumido pela COHAB para o loteamento e construção das residências. A inauguração da primeira etapa do conjunto habitacional foi realizada no ano de 1979, porém a entrega das casas só começaram a ser feitas no final do ano de 1981, concretizando a entrada de moradores no ano seguinte. A infraestrutura do bairro era precária, nas casas eram fornecidas energia elétrica e água encanada, porém as ruas não tinham asfalto e eram pouco iluminadas; não existia nenhum atendimento de serviço público no bairro, e por ser

14

Observar os esquemas de direcionamento de expansão para mais detalhes.

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tratar de um conjunto habitacional, era proibido qualquer tipo de comércio no bairro. Para se adquirir um imóvel no bairro, era necessário um cadastro junto à prefeitura municipal de Alfenas, e a seleção feita a partir da renda familiar e da declaração de renda do responsável pela aquisição da casa. O morador recebia um contrato firmado com a COHAB, tendo a escritura do imóvel somente após a quitação das prestações estabelecidas pela COHAB (FIGUEIREDO & BERNARDES, 2010, p. 18).

Dominada por plantações de café e eucalipto, o percurso não contava

com qualquer estabelecimento, nem mesmo iluminação, desde o limite do

perímetro urbano até as primeiras casas instaladas. O empreendimento mais

próximo era a aproximadamente a um quilômetro a Noroeste, uma fazenda

com plantações de batata, próxima de onde hoje é a Unidade Educacional II da

Unifal-MG. Esse sítio empregava alguns moradores locais e oferecia uma

remuneração quase suficiente para subsistir, garantindo um mínimo sustento a

algumas famílias, como nos conta Sr. A15:

Eu ajudei a fundar o Pinheirinho. No começo só tinha casa ali

embaixo (apontando em direção ao Córrego do Pinheiro), umas

casinha, aí foi subindo, subindo até chegar nesse pedaço na

rua aqui que passa o ônibus, subindo até perto da praça lá em

cima. Aqui era bem ruim no começo, ficava muito longe do

centro. Se ocê quisesse ir num mercado, num médico, no

banco, era bem custoso.

Sr. A. referia-se aos estágios de implantação da COHAB, dividida em

Pinheirinho I, concluída em 1982, Pinheirinho II e Pinheirinho III, concluídas em

1986, (FIGUEIREDO & BERNARDES, 2010). As primeiras casas do

loteamento do Pinheirinho I ficavam na porção mais baixa, mais próximas do

Córrego do Chafariz/Pinheiro. Depois, as casas foram subindo a colina ao

redor de onde hoje é a Av. Antonio Ivo de Carvalho. Depois as ruas de trás

foram preenchidas com mais casas, num sentido Oeste-Leste, até terminar na

Rua Antônio Tibúrcio findando o Pinheirinho I e iniciando o Pinheirinho II. Esse

segundo loteamento distribuiu-se da R. Antônio Tibúrcio e mais seis ruas,

também em Oeste-Leste, até chegar à Av. Paulo de Ávila Sales, por onde

trafega o circular e distribuem-se dois pontos de ônibus16. Descendo a colina,

na parte mais baixa, surgiu por último o Pinheirinho III, com algumas casas

distribuídas até as margens do Córrego do Chafariz/Pinheiro (Figura 3.7).

15

Os nomes foram modificados e abreviados para preservar a identidade dos moradores. 16

Um em frente à Praça do Pinheirinho e outro em frente à E.E. Padre José Grimminck.

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46

Nesse momento inicial do desenvolvimento dos bairros, muitas

dificuldades infra-estruturais eram encontradas e o dia a dia era bastante difícil

para esses moradores, como recorda Dona M.:

Aqui era muito diferente o que a gente vê hoje. Tinha a casa do

Cumpadi A. lá em baixo, perto do riozinho (Córrego do

Pinheiro) e outras casas que subia o morro. Isso aqui tudo era

só café. Quando a gente queria ir pra cidade o meu pai às

vezes arranjava um carro que só por Deus meu fi...ocê olhava

pra baixo e via a terra batida, a porta toda amassada, era

terrível. Mas nóis dava graças a Deus quando tinha, se não era

a pé mesmo ou de bicicletinha. Quantas vez a gente ficava

doente aqui e tinha que andar quatro, cinco quilometro pra

poder tentar ser atendido no médico.

Esse relato da Dona M. traz um pouco das muitas estórias que as

lideranças contaram durante as entrevistas e prazerosas rodas de conversa

que tivemos. A questão do direito à saúde era apenas um dentre os vários

outros somados à falta do direito à segurança, mobilidade, habitação,

educação, água e etc. Esse pacote de ausência de direitos pode ser lido, em

resumo, como a plena ausência do direito à cidade. É nesse contexto que as

vidas nesse bairro surgem.

Figura 3.7 - Divisão das COHABs (Pinheirinho I, II e III). Fonte: Google Earth, 2016; FIGUEIREDO & BERNARDES, 2010. Org.: O autor.

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Permanecer durante mais de dez anos numa situação de precariedade

pode ser inimaginável para alguns que leem esse trabalho. Muitas casas,

segundo Dona D., ainda não estavam concluídas. Muitos moradores passavam

dificuldades financeiras e não conseguiam terminar a construção de suas

casas. O não-emprego, o subemprego, os produtos da pobreza urbana eram

refletidos nas condições desses moradores, como fruto da falta de

oportunidades na época. E é aí que mora aquela violência que a teoria aqui

discutida tem se referido. O espaço desigual na cidade foi constituindo

desiguais modos de vida em Alfenas-MG que, na década de 1980, foi se

tornando mais complexa. Tornando a uma análise sobre essa condição como

reflexo das pressões da produção do espaço na cidade capitalista, a ação

sofrida pela população do Pinheirinho recobrou a necessidade de devolver uma

resposta. A negação das condições estabelecidas e a necessidade de ter a

cidade obrigaram-nos à mobilização em forma de uma associação de

moradores, com o objetivo de garantir seus direitos sociais. Retornaremos a

falar sobre isso mais adiante.

Com o passar dos anos, na transição das décadas de 1980 para 1990,

o bairro foi começando a receber infra-estrutura básica e aos poucos, em cima

de muita dificuldade, a vida no bairro se tornou menos difícil. Nesse processo

de melhoria das condições no Pinheirinho, alguns indivíduos (pessoas que não

conseguiram ter o direito a habitação da COHAB e/ou que obtinham outras

dificuldades na cidade e/ou região) acabaram migrando para algumas centenas

de metros a Oeste, marcando esse movimento como uma espécie de

segregação da segregação. Assim foi a origem do Santa Clara.

3.9 – A extensão das lutas: O corredor do Pinheirinho. O Santa

Clara

A gente que tava no Pinheirinho e não conseguiu casa teve que se mudar pra cá, pro Santa Clara, né? Aqui era igual o Pinheirinho no começo. Mas a gente brigou firme também (Dona C.)17.

Foi no mesmo pano de fundo do Pinheirinho que o bairro Santa Clara

se desenvolveu nas mesmas condições de isolamento e precariedade.

17

As entrevistas e relatos dos moradores dos bairros foram recolhidos nos dias 26/08/2015, 02/09/2015, 28/09/2015, 03/10/2015, 21/11/2015, 28/11/2015, 18/03/2016, 26/03/2016, 13/05/2016, 20/08/2016, 24/09/2016, 15/10/2016, 22/10/2016 e 27/10/2016.

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Entretanto, a origem do Santa Clara é ainda mais complicada em termos de

precariedade. Como vimos, o Pinheirinho surgiu como COHAB na década de

1980, porém, muitas casas não foram terminadas pela dificuldade de muitos

moradores em ter uma fonte de renda suficiente ou estável para investir em

seus imóveis. Num período em que não havia transporte público para a

população da incipiente vila, quando ninguém ali tinha automóvel para se

deslocar, locomovendo-se a pé, ou, no máximo, de bicicleta, iluminação e

serviço de água e esgoto bastante precários, alguns dirigiram-se aos pedaços

de terra a alguns metros do Pinheirinho I.

Na mesma época em que se instalava os primeiros moradores do conjunto habitacional Francelino Pereira, nas proximidades do bairro surge um grupo de pessoas que começam uma ocupação irregular de uma área particular, estas desprovidas de qualquer condição financeira para habitação. Os primeiros a ocuparem a área se instalaram na intenção da doação de lotes por parte da prefeitura de Alfenas, onde na mesma época surge o boato que as terras seriam adquiridas pela prefeitura e logo em seguida doadas as famílias carentes; outro fator se deve pelo fato de que essa parcela da população não conseguira se inserir nos espaços vazios urbanos, e também não tinham acesso ao financiamento dos imóveis do conjunto habitacional, pois ele não atingia a faixa de renda das mesmas. A maior parte da população que ocupou o local naquela época vinha de outras regiões, quase na totalidade de áreas rurais,que migravam para a cidade de Alfenas em busca de melhores condições de vida e melhores ofertas de trabalho (FIGUEIREDO & BERNARDES, 2010, p. 20).

O Santa Clara começou com a ocupação dessas terras, estendendo-se

inicialmente em alguns poucos barracos assentados de forma espaçada,

partindo de onde hoje se situa a rotatória que dá acesso às estradas do Distrito

Industrial (ao Norte) e até à bifurcação que dá acesso às propriedades rurais,

onde hoje fica o inacabado cemitério do Santa Clara, esquecido pelo poder

público nos últimos anos. Aos poucos, alguns outros pedaços de terra foram

também ocupados por mais barracos, pela necessidade de se ter onde morar e

assim as casas foram formando um corredor. Em 2009, a prefeitura municipal

de Alfenas-MG, durante governo do prefeito Luizinho (PT), conseguiu recursos

junto ao Governo Federal, através do Ministério das Cidades, lançando o

programa URIAP 2 (Urbanização, Regularização e Integração de

Assentamentos Precários), iniciativa que visou reurbanizar e regularizar a

situação dos moradores do bairro do Santa Clara (FIGUEIREDO &

BERNARDES, 2010, p.22). Dessa forma, com o novo conjunto habitacional,

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49

surgiu o que hoje os moradores chamam de Santa Clara II (Figura 3.8). Essas

novas políticas, porém, não regularizaram totalmente a situação de muitos

moradores do Santa Clara, que relatam ainda as lideranças, sem a total

garantia da casa própria, recebendo ameaças constantes de despejo.

As famílias de Dona P., Dona M., Dona C. foram as primeiras a

chegarem ao Santa Clara e recordam-se muito bem das dificuldades

enfrentadas ali no bairro. Dentre elas, lutar por ter água. A água apenas era

garantida graças ao córrego que passava numa descida de cem metros. As

mulheres geralmente eram as que se responsabilizavam por desbravar a mata

ciliar carregando baldes ou galões com capacidade para vinte litros para fazer

a coleta. Coletavam a água e subiam a vertente com o balde na cabeça,

abastecendo suas casas. Sem esse esforço, não havia água para cozinhar, dar

banho nas crianças, nem para higiene pessoal. O exercício era diário e

desafiava a brava coragem das mulheres, como conta Dona M.:

Ôh meu fi...a gente não tinha nem água pra beber, pra tomar banho! A gente buscava água descendo pro meio do mato aqui no córrego aqui. Geralmente eu ia buscar pra poder fazer comida, dar banho nas criança..a Cumadi D. ia buscar também. Quando uma tinha as vez dava pra outra, mas quando não tinha [...] a gente ia de madrugada buscar. Ih...se tivesse frio, tivesse chovendo [...] ia buscar do mesmo jeito.

Figura 3.8 – Processo de formação espacial do bairro Santa Clara. Fonte: Google Earth, 2014; FIGUEIREDO & BERNARDES, 2010. Org.: O autor.

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Dona M. continua seu relato, agora, contando de como ela chegou até

o bairro e como era a relação das pessoas do bairro com as de outras áreas da

cidade de Alfenas-MG.

Eu morei na rua por um bom tempo antes de vir pra cá pro

corredor. Na época a gente chamava de corredor, né...porque

aqui era conhecido como o corredor do Pinheirinho. O povo da

cidade tinha medo de nóis, uai, chamavam aqui de corredor da

morte.

Os moradores confirmam que aqueles que moravam no centro da cidade

tinham medo de quem morava no Pinheirinho ou no Santa Clara. Dona C, com

certo ar de graça, disse que as pessoas não poderia saber que elas eram do

Santa Clara porque se não começavam a evitar a pessoa, ou mudar a forma de

olhar. Seu nome era atrelado a algum sinônimo de marginalidade, de falta de

educação, ou a algo que gerasse algum tipo de desconfiança ou desprezo. Ao

longo do tempo isso resvalou na dificuldade de se conseguir emprego na área

central ou em outros bairros da cidade, o que impactava diretamente na

condição econômica das famílias, como reafirma Dona C.

Ih, se eu falasse que eu era do Santa Clara, do corredô eu não conseguia emprego não...ih, é ruim! A gente não podia falar não. Eu falava que eu era da Vila Betânia, de outro lugar, mas não falava que era daqui.

Ainda sobre o medo do Pinheirinho e do “corredor”, a moradora P. nos

conta uma história envolvendo sua mãe (já falecida) que foi uma das primeiras

moradoras do Santa Clara:

Lembro uma vez que a minha mãe foi matricular minha sobrinha no Polivalente e não conseguiu. A mulher lá falou que tinha vaga, mas aí quando a minha mãe preencheu os dados lá e colocou que era do Santa Clara, eles voltaram atrás e disseram que não tinham mais vagas, tipo assim, de uma hora pra outra. Acho que era mentira dela! É porque ela era daqui do Santa Clara!

Da mesma experiência compartilhou também Dona P., liderança

importante do bairro Santa Clara. Conta ela que esse outro bairro surgiu de

uma dissidência do Pinheirinho, em meados de 1986, Uma porção do espaço

formada pela migração de pessoas sem lugar para morar, em resultado da

reprodução do espaço urbano capitalista que, por sua inércia desigual, constitui

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políticas insuficientes de habitação, dividindo socioespacialmente essas vidas.

Essa fragmentação criou duas situações. Incluiu uma parcela de moradores

numa situação de estabilidade um pouco maior com a conquista da casa

própria (Pinheirinho), enquanto que outras se incluíam numa situação mais

vulnerável, das condições de habitação mais difíceis. Esse processo fez surgir

uma diferença, uma quebra das lutas em comum que havia entre eles. Isso

mostrou que, embora incluídos no mesmo processo de segregação,

Pinheirinho e Santa Clara não são o mesmo bairro.

Quando houve esse movimento, outra identidade foi construída, ou

melhor, houve a quebra de uma. Dali pra frente houve a distinção entre o que

era o Pinheirinho do início da década de 1980 e o Pinheirinho dos últimos anos

da década de 1980 até 2016. Mesmo que algumas lideranças tenham

partilhado de um processo em comum e tenham lutado juntas, a coesão aos

poucos começou a ruir. Gerou-se, portanto, outro espírito. As lutas agora

mudaram de arena, passando mais a existir no “corredor” do que no

Pinheirinho. Agora, além da já existente separação entre Alfenas-Pinheirinho

(cidade-bairro), passou a haver também a separação Alfenas-Pinheirinho-

Santa Clara (cidade-bairro-bairro). O conflito é identificável na fala de Da. P.:

Viemos de Três Pontas-MG. Morei no Pinheirinho e dali eu vim pra cá. A gente vivia nas minas no fundo do pasto pra buscar água. Pra gente conseguir água ajuntamos treze moradores e fomos lutar para que viesse a água. Até que enfim apareceu a água! (sorriso de felicidade) Tinha uma cisterna lá em casa para fornecer água para outras casas. Aí começou a dar certo... Depois foi a luz...Também foi luta! Chegou depois de uns cinco, seis anos (no caso, em 1991, 1992). Depois foi a poeira! As crianças tinham doença e até morreram duas por causa da poeira. As pessoas do outro bairro falaram que éramos todos vagabundos. Falavam que tínhamos caso com os prefeitos. O asfalto chegou em 2000, ou 2001. Mas ficou mais de 10 anos sem asfalto. Na época das manifestações o povo de lá (apontando para o centro da cidade) só dizia que a gente era vagabunda que não queria trabalhar. A gente não podia passar no primeiro bairro que eles diziam: “Lá vai passar as faveladas! Lá vai as p... do prefeito pedir as coisa!”. A gente não podia passar por lá, se não a gente era discriminada (Dona P.).

Essa passagem merece mais de nossa atenção. Da. P. conta que para

conseguir a água no bairro Santa Clara eles tiveram de se mobilizar por várias

vezes até a prefeitura e pressionar o prefeito e os vereadores, até que a

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prefeitura construiu uma cisterna de água na casa de Da. P. O que demorou

mais foi a luz elétrica. Sem esse recurso, Da. P. e Da. M. conta que usavam

candeias a óleo e velas para iluminar suas casas pela noite. Os banhos eram

tomados com caneca. Nos dias frios, a água era esquentada no fogão e

colocada em um balde. O processo para chegar à conquista da luz elétrica foi o

mesmo. Visitas à Prefeitura e pressão. Mas, o maior problema e o que mais

demorou a ser resolvido foi o da ausência de asfalto. Contam as líderes que na

época, muitos caminhões passavam na rua de terra transportando

mercadoria18. Então, os moradores construíram uma estratégia para conseguir

reivindicar o asfalto: bloquear a rua e só libera-la quando conseguissem a

garantia de que aquele trecho seria asfaltado. Isso impedia o abastecimento de

mercadoria e fazia gente perder dinheiro, o que iria, inevitavelmente, chamar a

atenção da prefeitura para resolver a situação. Para garantir a rua bloqueada,

Da. C. conta que os moradores revezavam entre si para cuidar do bloqueio,

feito com pneus em chamas e entulhos. Pouco tempo depois dessa

intervenção, o asfalto começou a chegar na rua. Aí mora uma contradição. Se

por um lado o asfaltamento trouxe melhoria na qualidade de vida dos

moradores, por outro, melhorava também o tráfego dos caminhões, que, em

dias de chuva, não mais iriam atolar. Ao mesmo tempo em que a infra-estrutura

beneficiava os moradores, ele também servia para preparar novos pontos de

interesse ao capital.

No mesmo tempo em que o Santa Clara se formava e a população

lutava por seus direitos, a principal luta para a discussão deste trabalho surgiu:

a luta pela escola. A chegada da infra-estrutura básica como água, luz e

asfalto, além de outros moradores que chegavam já com os serviços básicos

instalados no bairro, não tendo esse histórico de resistência ali, produziu ainda

mais uma fragmentação da identidade. A morte de algumas lideranças antigas

também contribuiu para a dificuldade de se organizarem, como diz Dona C.

18

Muitos desses caminhoneiros passavam na rua e insultava os moradores, principalmente as mulheres, chamando-as de prostitutas, sujas e etc. Certo dia, um dos pais das mulheres reuniu seus filhos mais velhos e aguardaram os caminhoneiros. Quando eles chegaram com seus caminhões os moradores foram até eles com facões e, sob ameaças, ordenaram que parassem com essas ofensas. Dali em diante, segundo as lideranças de hoje, os caminhoneiros pararam de perturbar a paz das mulheres do Santa Clara.

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As coisa aqui começou a mudar na verdade depois que a Vó L. morreu, o Vô N., que o cumpadi G. morreu...enfim, os mais veio, os mais duro na queda foram indo embora pra outro plano e aí a gente foi se perdendo aos poucos. Os problemas ainda continuaram, sabe? Mas aí a gente nunca mais conseguiu se mobilizar como antes.

Com a morte dos mais “duros na queda” os espaços dos bairros

mudaram, tornaram-se mais fragmentados e foram se desarticulando

politicamente aos poucos. A cultura da vizinhança aos poucos começou a se

modificar, a se dividir, uma vez que houve sobreposição de histórias e

trajetórias de indivíduos e grupos diferentes. Entretanto, ainda assim, havia

uma unidade. Unidade que com o passar do tempo aos poucos foi se

fragilizando e se perdendo cada vez mais.

3.10 – Os bairros na conjuntura atual: realidade e identidade

Depois de mais de trinta anos, mesmo com a chegada dos serviços, a

reputação dos bairros não se modificou. Transformou-se em uma periferia

consolidada, isto é, a infra-estrutura chegou, assim como serviços, lojas de

conveniência e comércios19. Entretanto, a gênese do bairro continua

impregnada em sua característica. A carência hoje é muito mais em questão de

oferta de lazer e cultura, que ficam concentrados no centro da cidade. Ambos

os bairros são constituídos por trabalhadores e trabalhadoras de baixa renda

ou desempregados como mostra recente estudo de Hélio Pina (2016), num

excelente trabalho de mapeamento de representação cartográfica da Renda

per capita do bairro Pinheirinho, Alfenas-MG, em 2016 (Figura 3.9), traçando

uma ilustração da classe social que o bairro abriga. No trabalho de H. Pina

pode-se ver que a renda per capita mais baixa dos moradores do bairro chega

à casa dos R$ 131,70, enquanto que o mais alto, no valor de R$ 2.359,40.

19

Mais no Pinheirinho que no Santa Clara. Neste segundo, existem apenas dois comércios: um bar e uma pequena mercearia.

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De acordo com o estudo, grande parte dos moradores vive com

rendimento per capita na casa dos R$ 131,70 até R$ 655,90, bem abaixo da

média do Estado de Minas Gerais em 2015, que foi de R$ 1.128,00 (IBGE,

2016). Lamentavelmente, não existem ainda estudos como este para outros

bairros locais, nem da cidade de Alfenas-MG. Talvez seja interessante investir

nesses estudos para elaborar melhor um panorama da realidade econômica da

população alfenense.

Entretanto, no Santa Clara, as reclamações da ausência de uma

melhor qualidade de vida ainda continuam. É o que afirma o descontentamento

de Sr. JO., questionado sobre os principais problemas do bairro:

O mais grave de todos...a saúde: É péssima! Desde novembro (de 2014) esperando uma ressonância e nada! Se eu morrer, vou morrer e acabô! Por quê quem paga tem direito e quem não paga não tem? As casinhas ali (Santa Clara II), deixaram a Deus dará! A minha casa, era um financiamento que eu tinha que pegar a casa própria. Eu pus R$ 5.200,00 do meu bolso! Instalação de fios, hidráulica! Vai na Caixa, é a Caixa de Poços de Caldas (que resolve). Vai na prefeitura, (eles respondem que) não foi no meu mandato! Até hoje nunca deram satisfação porque nunca levaram correspondência pra gente. A Prefeitura não cadastrou o interesse neste problema. O segundo projeto do bairro, era pra ter uma pista de caminhada, mas só tem mato e terra! As casas não tem fundação e estão rachando!

Figura 3.9 – Mapa da Renda per capita do bairro Pinheirinho, Alfenas-MG. Fonte: PINA, H., 2016.

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Dona C. coloca que os problemas são outros:

O principal problema hoje é as drogas. As mães saem pra trabalhar e não tem onde deixar as crianças. Seria muito bom que as crianças tivessem o barracão (espaço inutilizado no bairro). Pra que eles tivessem coisa pra fazer.

A ausência de lazer e atividades culturais no bairro não é sua

exclusividade. No Pinheirinho, no Recreio V. do Sol e no Santa Clara a

situação é ainda pior porque a oferta é mínima e o incentivo ainda é baixo. Mas

há que se considerar que toda a cidade carece de mais espaços de cultura,

lazer e recreação. As atividades ficam sempre concentradas na Praça Getúlio

Vargas, da Igreja Matriz, e, em algumas vezes, na Praça Dr. Emílio Silveira.

Mas, de qualquer modo, sempre estão focalizadas no centro da cidade.

Moradores de bairros mais distantes pouco ficam sabendo e o incentivo à

cultura tanto na cidade, como na escola que estudamos, é quase nulo. A maior

parte das praças está reunida no centro da cidade. A cidade possui vinte

praças, mas, pelo menos dez delas concentram-se no centro ou muito próximo

a ele. Nos bairros mais afastados o número é bem abaixo. As praças Afonso

Van Graaf (em frente a APAE), Rachid B. Saliba (em frente ao campo de

futebol da Saliba) e da Saudade (em frente ao cemitério), por exemplo, estão

localizadas juntas num raio menor que duzentos metros. Todas elas são

bastante desertas e, pela noite, muito mal iluminadas e inseguras. São raros os

eventos culturais, exceto o trabalho do FAÍSCA20 e do Coliseu Cultural Crew21.

Mas as escolas pouco promovem eventos de incentivo à cultura, pouca é a

participação da comunidade. Os campos de futebol, poucas são as opções e

muitas delas são pagas e de difícil locação. Existem algumas quadras, porém

algumas delas estão mal conservadas e, quando chove, é impossível sua

utilização. Enfim, as opções de lazer e cultura são muito limitadas em Alfenas-

MG e piora nas periferias. Talvez essa seja até uma realidade brasileira.

Cabem mais estudos sobre isso.

20

Associação cultural que conta com a participação de diferentes profissionais da área da educação, arte, cultura e tecnologia. Produtores, artistas, pesquisdores e outros profissionais trabalham na democratização da informação como ação de transformação da realidade (FAÍSCA, 2017). 21

Movimento de união da cultura de rua com movimento poético, para promover a produção

cultural em Alfenas-MG.

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O espaço e o tempo na cidade reestruturam as condições materiais e

as relações entre os sujeitos do bairro. A chegada da infra-estrutura, o

falecimento de antigas lideranças (a maior parte, familiares dos moradores

mais engajados atualmente), contribuíram para a degradação do bairro no

sentido de sua organização e comprometimento com os assuntos políticos da

cidade. O que restou daquela época hoje se configura como um monte de

pontos espalhados, sem teias que conectem essas vontades de se ter outro

bairro.

Depois de quase trinta anos, a forte mudança em infra-estrutura, ainda

em curso, afastou a participação política dos moradores, limitando o potencial

de luta que antes existia. No lugar disso, nasceu uma fragmentação. Aos

poucos o elo de união foi substituído pelo de desunião e intrigas entre os

moradores. Uma das moradoras reclama que um dos maiores problemas que

dificulta a retomada da união, foi uma ligeira a conquista de alguns pela casa

própria. Já que muitos moradores ainda não têm suas situações regularizadas,

aqueles que têm ou conseguem, acabam deixando a conquista “subir à

cabeça”, como conta LE.:

Olha, deixa eu te falar uma coisa: Aqui hoje é gente que não olha na tua cara, que fala mal de você, que tem uma metideza porque conseguiu ter a sua casa e porque tá ganhando um dinheirinho a mais. Sabe, o que atrapalha a gente aqui é isso, é um pensamento muito pequeno.

Na visão do Sr. J., o problema é outro. Referindo-se também ao tráfico

de drogas e à falta de oportunidades aos jovens.

A verdade é que o povo se acomodou. Foi juntando um monte de coisa. Veio uns caras pra cá falando que manda no bairro, um pessoal que começou a mexer com coisa errada...aí veio as melhoria pra cá e o povo foi ficando com a cabeça meio diferente sabe? Mas você vê, ainda não tem nada aqui pra nossa juventude. Fica tudo na rua fazendo não sei lá o que e aí esse pessoal aí que eu te falei vai se aproveitando disso.

E aqui uma reflexão também interessante de se fazer. Os relatos dos

moradores apontam para a questão do tráfico de drogas. Essa discussão

aparece cotidianamente na TV, nas redes sociais, em reportagens e discursos

do senso comum popular. Existe uma vertente dessa discussão que fecha os

olhos para a natureza das condições sociais aonde o tráfico de drogas se

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alimenta. A juventude da periferia pobre é colocada no mesmo nível que a

juventude do centro da cidade, das periferias autossegregadas e dos

condomínios fechados, sem qualquer critério que considere a história espacial

desses sujeitos e as oportunidades que pra eles se abrem. Aí é que entra o

discurso homogeneizante da meritocracia. Vira e mexe as mídias tentam

buscar figuras exemplares nas periferias pobres, heróis da superação de sua

condição, para mostrarem à sociedade que o capitalismo funciona e que basta

querer para que se tenha poder. Um em um milhão então se torna a regra e

não a exceção. Para cada um indivíduo que ascende, existem outros milhões

que, carentes de um pai, uma mãe, avós, tios22, de uma casa, de uma escola,

de comida na barriga, são vítimas do tráfico não por total escolha, mas por falta

de escolhas. Essa é, infelizmente, a realidade de grande parte da juventude

pobre no Brasil contemporâneo.

O tema da situação da juventude pobre brasileira merece profunda

investigação geográfica, podendo ser um estudo mais completo e rico para

caracterizar a realidade de Brasil. Mas, voltando a falar sobre outro problema

no Santa Clara, a desarticulação, não apenas o bairro Santa Clara, mas

também o Pinheirinho perdeu o engajamento e a representatividade de sua

antiga associação de moradores. Ou seja, o quadro atual mostra que não há

uma representatividade política nos bairros. Não há uma liderança ativa, nem

uma organização articulada, lutando para que os direitos sejam atendidos nos

bairros. Mais ainda, a falta de acesso à informação, a falta de qualidade na

educação, fruto do afastamento da população às condições de acesso à

cultura, fez com que outros problemas surgissem. Dentre eles, o tráfico de

drogas e a violência, como aponta LA.:

As coisas aqui avançaram bastante, mas, olha, existem novos

problemas aqui que com o passar do tempo estão piorando. Se

a gente não fizer alguma coisa eu não sei o que vai ser do

Santa Clara, do Pinheirinho e dos bairros aqui perto.

A preocupação de LA., jovem liderança do bairro, identifica na situação

atual uma oportunidade de reconstruir a unidade que um dia o bairro teve. Para

ela, a relação da Universidade com o bairro, além de projetos voltados para a

juventude, junto com as instituições educacionais locais, é um caminho para

22

Às vezes não falta a figura do familiar, mas o amor de um familiar.

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trazer de volta caminhos para traçar novos caminhos. Esse “fazer alguma

coisa” para LA. passa justamente nesse sentido.

Há, portanto, pelo menos dois cenários constituídos nos bairros. Um

ligado à força da fragmentação, a consciência de uma produção da cidade

capitalista que gera espaços fragmentados, do cada um por si, indeferindo uma

identidade comum. Espaços de preconceitos, de rejeição às suas condições, à

pobreza, à ideia de estarem em uma periferia, todas elas ideologias que os

fazem voltarem contra si mesmos. De outro lado, existe a negação ao espaço

concebido, esse resto que o capitalismo entrega às classes mais baixas. Aí

então entra a ideia da resistência, de resgatar as raízes, a coletividade

presente no espírito solidário, podendo dar lugar a uma nova organização

coletiva, resgatando trajetórias e memórias daqueles que um dia lutaram para

afirmar seus territórios e lugares na cidade, em busca da valorização de suas

identidades.

Cada um desses caminhos compartilha um projeto de cidade, um

modelo de sociedade. E eles se justapõem numa lógica conflitante, mas que

pode ser superada, uma vez que essa camada conseguir enxergar-se num

mesmo processo. Para que isso ocorra, de fato, espaço e tempo devem ser

reconfigurados numa produção de leitura nova, na formação de consciências

espaciais cidadãs que enxerguem no passado a chave para o presente para

trilhar melhores caminhos no futuro. Em síntese, acostumadas com a vida

extremamente simples e difícil, as lideranças em articulação demonstraram

através de seus relatos, um histórico de resistência frente ao processo de

segregação socioespacial e exigência pelo direito à cidade. O enfrentamento

dos moradores garantiu alguns direitos, fruto da luta e da resistência. Mas, ao

mesmo tempo, dialeticamente, deu suporte para o aumento na oferta de

serviços, já que a luta por infra-estrutura interessava também para o

direcionamento de outro eixo do desenvolvimento capitalista na cidade,

confirmando esse processo aos interesses da especulação imobiliária, força

motriz de todo esse processo na dinâmica urbana.

Além dos problemas envolvendo o Pinheirinho e o Santa Clara, há que

se destacar também outro bairro que enfrenta dificuldades e que representa

boa parte dos alunos que estudam no Grimminck. O Recreio Vale do Sol e,

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principalmente, o Residencial Jardim das Alterosas23. Estes bairros reúnem

grande parte dos conflitos que eclodem no espaço escolar. O Residencial

Jardim da Alterosas é o típico exemplo que Arlete Moysés (2015, p. 79) coloca,

pois:

A instalação de grandes conjuntos habitacionais, em áreas

desprovidas de cidade, é tida como portadora do bem, por

permitir o acesso à casa própria aos excluídos, tornando-os

excluídos da cidadania e da cidade, mas incluídos numa

possibilidade futura de ser um proprietário de uma casa, de um

bem pessoal. É uma forma de violência. Cria-se um novo modo

de vida, sem a participação societária. Define-se o urbano

como portador do progresso, sem inserir os indivíduos nele

(RODRIGUES, A.M., 2015, p.79).

Sobre os predinhos, veremos mais sobre seus conflitos depois. Em

2015, em um evento comunitário organizado por alunos da Geografia da Unifal-

MG24, duas moradoras do Residencial Jardim das Alterosas compareceram e

fizeram uma fala sobre a situação enfrentada por elas e algumas famílias. G.,

uma das representantes, fez um desabafo, dizendo:

Onde eu moro é quase um bairro. São duzentos e quarenta apartamentos, mais de mil pessoas e a maioria é criança. Não tem segurança onde moro! Não tem manutenção! Só que antes, se uma casa valia cinco, dez mil hoje vale quarenta, cinquenta mil. A noite ali é muito escuro e as crianças ficam na rua. Dizem que vão colocar iluminação agora, mas até agora (outubro de 2015), nada! Enfim, lá não tem segurança, não tem respeito. Acho que a prefeitura, nessa questão, errou demais!

RE., que também mora nos predinhos, exaltada, também fez

reclamações sobre a condição por eles vivida:

Os correios não entram lá dentro! Só a Copasa que entra agora pra

colocar a conta de água! Agora, a prefeitura, nesses últimos quatro

anos, não fez melhoria. A prefeitura daqui tem uma verba muito

grande! É milhões, milhões! É imposto, é água que aumenta, é luz

que aumenta....diz que tem tratamento de esgoto, mas não sei se

tem...A questão é que, veio a Unifal, aumentou o preço do aluguel, o

23

Popularmente chamado de “os predinhos”, o Residencial Jardim das Alterosas localiza-se ao

lado do bairro Recreio Vale do Sol e é uma forma de segregação dentro do próprio bairro. São 25 prédios construídos a partir de 2009, colocados numa área pequena, anexa ao bairro Recreio Vale do Sol. Muitos alunos do Grimminck moram nesses edifícios e contam muitas histórias de violência ocorridas dentro dele e seu entorno. Os predinhos estão para o Recreio Vale do Sol assim como o Santa Clara está para o Pinheirinho. São ambos extensões da segregação, materializações da insuficiência política de habitação na cidade capitalista. 24

Unifal de Portas Abertas, que tem como objetivo criar um diálogo permanente entre a Unifal-MG e os bairros no entorno, no sentido de orientar parcerias e projetos voltados às realidades dos bairros.

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preço de tudo!. É muita coisa errada que os políticos da prefeitura

fecha os olhos deixa rolar. É bom que não passem perto de mim! Era

filiada do partido mas quero me desfiliar porque não acredito mais! Só

mentiram pra mim! Quiseram sempre se promover às custas da

inocência dos outros! O pobre é que perde nisso tudo. Paga imposto

até pra dormir! Eles querem tanto, mas não fazem nada. Não acredito

mais em nada! Eu acredito em mim, nos meus bracinhos indo

trabalhar.

Esses discursos recolhem o sentimento de grande parte dos

moradores dos bairros. O sentimento de que o Estado está cada vez mais

ausente na hora de garantir os direitos. O sentimento de que eles são

desimportantes, que estão esquecidos. O desinteresse pela política, o

descrédito, são interessantes para o Estado capitalista, pois ele conserva a

ordem das coisas e afasta as pessoas da condição de lutar. E quando uma

escola, uma geografia, deixa de tocar nessas questões, estamos na verdade

permitindo a desmobilização. Mais que isso, estamos ajudando a desmobilizar.

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4 Capítulo 2: Por uma escola além dos muros. A importância

de estudar a escola e onde ela está inserida

4.1 – O espaço escolar: A fundação da E.E. Padre José Grimminck

A realidade da escola não é simples e nem será mais bem trabalhada

de forma instantânea. Para tanto, saber como ocorre essa realidade e torná-la

evidente é um primeiro passo. Parte disso constituiu o resgate da história de

vida dos sujeitos e dos bairros atendidos pela escola, pois diferentes tempos

formam o espaço tal como hoje o concebemos (SANTOS, M., 2013).

A Escola Estadual Padre José Grimminck, foi criada pelo Decreto nº

25.443/86, no dia 13 de fevereiro de 198625, localizando-se na R. Josefina

Sales Rey. A escola foi construída no bairro Pinheirinho, mais precisamente no

Pinheirinho II, num momento em que o bairro ainda sofria com falta de infra-

estrutura básica (água, luz, esgoto e asfalto) e serviços básicos (saúde e

educação). Neste sentido, a origem dessa escola não é como qualquer outra

escola, nascida de uma ação plena por parte do poder público. Como relata

Dona C., era difícil encontrar escola para as crianças estudarem naquela

época.

Sobre a escola? Tudo começou quando as mães reclamavam aqui que não tinha uma escola pra por os filhos pra estudar, né? A gente tinha que tenta arruma vaga lá no Vianna (escola) e ficava longe pras mãe levar os filho. As vezes era difícil pra conseguir vaga também. Se a gente falasse que era do Pinheirinho, as pessoas meio que não deixava, tinha preconceito, sabe?

Essa necessidade então fez com que a associação de moradores na

época se articulasse na missão de reivindicar uma escola para atender a

juventude. A comunidade se organizou e, com o auxílio da primeira diretora

Madalena de Araújo Junqueira de Castro, que lutou junto com outros

moradores pela sede própria da escola, o que de fato ocorreu com a

autorização da construção da escola na terceira gestão do prefeito municipal

Dr. Hesse Luís Pereira (1983-1888).

25

Publicada no Diário Oficial de Minas Gerais de 21/02/1986.

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Aah, a gente se ajuntou. Eu, meu pai, meus irmão, irmã, mais uns morador antigo daqui e a gente foi pra luta. Naquela época o pessoal se importava com o bairro, não tinha tanta indiferença como tem hoje. Hoje é meio que cada um por si, né? Aí a gente pressionou o Hesse (prefeito) e falou: A gente precisa de escola pras criança estudar.

Antes da inauguração do prédio no Pinheirinho, seu funcionamento

começou com algumas turmas vinculadas à Escola Estadual Professor Vianna,

em 08 de março de 1984, em galpão cedido pela Associação de Amigos do

Bairro, sendo necessário deslocar dois quilômetros pela estrada de terra.

Entretanto, a distância dos decretos até o funcionamento da escola não

foi pequena. As crianças na época não tinham onde estudar e o interesse em

comum uniram lideranças do primeiro e segundo bairro para exigir a

construção de uma escola. Os moradores mais antigos contam que após

legalização da construção da escola, o poder público embargou um pouco a

obra, fazendo com que a escola ficasse ameaçada em sua entrega na urgência

que se tinha. Duas lideranças que moram no Santa Clara e Pinheirinho contam

que haviam poucos pedreiros trabalhando na construção do prédio da escola e

as famílias começaram a se preocupar se teriam a escola pronta a tempo de

poder matricular seus filhos para que começassem a estudar.

Tinha dia que vinha um, dois pedreiros no máximo. Tinha dia que faltava. Aí a gente foi vendo que o trabalho era bastante e não tinha gente suficiente pra dar conta. Aí a gente se reuniu e conversou vendo o que podia ser feito pra acelerar a construção da escola.

Nossa, pra conseguir a escola aqui foi um sacrifício! Ajudei a construir tudo. Juntou eu, meus irmão, minhas irmã, meu pai, a Dona. A (já falecida). que era a líder do bairro na época e a gente vinha aqui fazer o serviço junto com os pedreiro. Aí os pedreiro começou a parar de vim e a gente precisando da escola pras criança poder estudar. Aí a gente continuou levantando as parede, cercando o terreno onde ia levantar os muro até que depois conseguiram acertar com os pedreiro e terminaram de construir. Só que ainda tinha faltado coisa pra fazer. Era difícil porque a gente não era pedreiro. Mas meu pai e meus irmão tinha costume de trabalhar forte e a gente também não negava serviço, ainda mais que era um serviço pros nosso filho! Então foi assim que a gente conquistou a escola pro bairro. Foi duro, mas nóis conseguiu!

Segundo ex-funcionários e moradores do bairro, a origem do nome da

escola é uma homenagem feita ao Padre José Grimminck que, em sendo

pároco da comunidade, contribuiu muito para o crescimento do bairro e a

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criação da instituição, entretanto, em entrevista com algumas lideranças, a

participação do padre não foi muito lembrada, sendo muito mais uma conquista

dos moradores e da associação em si. A criação da escola, como sugere

levantamento realizado por alguns colaboradores do bairro, também contou

com o apoio de Da. Mileta Borges de Alencar, que colaborou cedendo uma

parte de seu terreno. A biblioteca da escola tem o seu nome em homenagem.

Ou seja, o surgimento da escola dependeu de uma mobilização e de grandes

esforços para poder existir.

De 1986 até o ano de 2005 a Escola funcionou exclusivamente com o

Ensino Fundamental I (Anos Iniciais). Os alunos geralmente faziam o Ensino

Fundamental II e Médio da Escola Estadual Judith Vianna. Então, no mesmo

ano de 2005, através de um decreto26, a escola sofreu alteração de

funcionamento, autorizando a criação e implantação gradativa do Ensino

Fundamental II (Anos Finais), Ensino Médio Regular e a Educação de Jovens e

Adultos- EJA27. Um ano depois, portanto, em 2006, a escola passou a ministrar

o Ensino Fundamental, médio e EJA com o sistema de implantação gradativa,

paralelamente ocorrendo à extinção dos anos iniciais do Ensino Fundamental e

passando a ser apenas, anos finais, médio e EJA, assim como funciona hoje.

Em setembro de 2006, a escola passou por mudanças físicas. Foi iniciada a

construção de quatro salas para garantir o aumento da demanda dos alunos, e

a construção da quadra esportiva.

De acordo com o documento oficial da escola e o projeto político

pedagógico (2005):

O principal desafio da escola é encontrar coletivamente com a comunidade, uma forma própria de atuação, condizente com a sua realidade, na qual expresse com clareza o compromisso de toda a comunidade escolar em unir esforços no sentido de contribuir na formação de cidadãos autônomos, solidários, competentes e felizes.

Entretanto, a partir da vivência pelo estágio, pouco se viu a escola

encarando esse desafio. A história da escola é marcada, desde sua fundação,

por dificuldades e contradições. Dificuldades em construir a quadra que,

mesmo liberada para construção em 2006, segue inacabada e sem previsões.

26

Decreto nº 44.193 de 29/12/2005. 27

Nesse momento, as crianças dos bairros começaram a fazer o Ensino Fundamental I na

E.M.E.I. Tereza Paulino da Costa, situada no mesmo bairro.

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Mas não só a questão do prédio físico ou da quadra. Existem outros problemas

enfrentados pela escola. Dentre eles, o alto índice de evasão, principalmente

das turmas de Ensino Médio e a recorrente política de transferências de alunos

para outras escolas da cidade, sobretudo no Ensino Fundamental, continuam

dificultando outras possibilidades à juventude do bairro, como reflexo das

condições sociais que produzem o espaço desses alunos. Isso tem cooperado

para a dificuldade encontrada pela equipe escolar em buscar garantir, de fato,

o que seu projeto político pedagógico propõe.

4.2 – O (micro)espaço escolar a partir da vivência do estágio

supervisionado

Mesmo a consolidação da infra-estrutura do Pinheirinho, de 1990 em

diante não foi suficiente para eliminar o julgamento da cidade. A baixa

remuneração e a ocupação da maioria em atividades exaustivas ainda era um

grande problema, além do desemprego. As condições ainda eram muito difíceis

e, nesse mesmo contexto, tanto o Pinheirinho como o Santa Clara sofreram

com um profundo enraizamento do tráfico de drogas, que se aproveitou da

fragilidade social de crianças, jovens e adultos para adquirir mercado e mão-

de-obra, reforçando ainda mais o julgamento da cidade, que batiam, com

martelos de ferro, duras sentenças aos bairros.

Por consequência, essa realidade refletiu na escola, como cita LA., que

estudou no Grimminck:

Eu estudei lá de 2001 até 2008, quando lá ainda tinha de primeira a quarta série. Nossa escola sempre foi vista como a escola problema. Nós sempre nos achava os piores, ninguém era capaz, porque todo mundo pensava que ali só tinha gente, digamos assim, “do mal”. As pessoas da cidade falavam muito isso e a gente ficava sabendo. Todo mundo sempre se achava muito burro sabe? Aí alguns começavam a mexer com coisa errada porque pensavam que não iriam virar, inclusive eu. Lembro de um amigo que eu sempre tentei ajudar e que hoje...infelizmente...está preso. Eu via que ele estava indo pro lado errado, alguns professores tentavam ajudar, mas a falta da família, as más companhias e algumas atitudes na própria escola na época não ajudavam muito, cê me entende?

Apesar de ter concluído o ensino médio em 2011, muitos parentes

(duas primas e um primo) ainda frequentam o colégio, e LA. discorreu um

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pouco sobre uma questão que a incomoda bastante quando conversa com

eles:

Sabe, hoje a escola mudou muito. Acho que essa geração é bem complicada, viu? A garotada tá difícil! Tá cada vez mais difícil! Eu falo pra esses meus primos: Olha, presta atenção no que você vai fazer! Aproveita pra estudar porque a coisa tá ficando cada vez mais difícil. Mas eles não ouvem muito, sabe? Vão levando tudo na brincadeira. Olha, eu era terrível, mas essa molecada me supera fácil, fácil. A gente fica sabendo das coisas que acontece aqui no bairro e olha...é preocupante. É bem preocupante. Se não tiver um trabalho cultural, educacional eu não sei o que vai ser.

Os bairros então mudaram, tornaram-se mais complexos. Outros bairros

se consolidaram e já não havia mais o vazio urbano dos bairros para o centro.

A mancha urbana tornou-se homogênea, superando a distância dos objetos no

espaço, mas não a diferença entre os sujeitos. A chegada de indústrias e

comércios, distribuídos pela Av. Jovino Fernandes Salles e o desenvolvimento

de novos bairros não eliminou a carência nos bairros. A distância dos

moradores, da juventude, por uma melhor condição de vida ainda é grande. As

vezes ela até parece aumentar. Aumenta porque a divisão chegou ao à

juventude, chegou ao espaço escolar. Aumenta, pois, se um dia existia uma

liderança organizada no bairro, com consciência política a condições de ação,

agora a realidade não se apresenta mais assim. A juventude está cada vez

mais afastada da consciência política. Sendo engolida pela ideologia do

consumo, quando querem começar a logo trabalhar para ter o que os pais, a

mãe ou a avó não pode dar. Ou sendo cooptadas pelo uso e/ou tráfico de

drogas, caminhos alternativos à falta de condições ofertadas pela cidade

capitalista às camadas mais pobres. Daí nasce o rótulo, estereótipo,

preconceitos, conflitos e divisões.

Os conflitos gerados pela quebra de identidade dos bairros (Pinheirinho-

Santa Clara) que nasceram no fim dos anos 1980 intensificaram-se nos anos

1990 e 2000, produzindo julgamentos e concepções de sujeitos para sujeitos

que tem por objetivo rotular e reproduzir uma (in) consciência de classe que

desune e inibe o potencial de organização e reivindicação que antes era

presente. Isso pode ser visto e complementado como efeito das imposições

das políticas neoliberais:

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O modelo neoliberal não consegue promover [...] conceitos como cidadania e equidade social, pois lhe são autoexcludentes. [...] A população não tem oportunidade nem estímulo suficiente para construir sua cidadania de modo ativo e emancipado ou fortalecê-la. (GUIMARÃES-IOSIF, 2010, p.256).

O Pinheirinho agora incorpora um preconceito sobre o Santa Clara e

isso se manifesta na escola. O mesmo se repetiu com os outros bairros,

formados em 1990 e 2000, que também criaram preconceitos e discursos

violentos ao Pinheirinho e ao Santa Clara, pois parte dos moradores vieram de

áreas adjacentes ao centro e de outras cidades na década de 1980 em diante,

não possuindo laços de identidade à luta original que se desempenhou ali. A

criação do conjunto habitacional em 2009 junto ao Recreio Vale do Sol, o

Residencial Jardim das Alterosas, criou acabou por criar mais uma tensão:

novos espaços de conflitos, disputas e legitimação, marcado pela ausência do

Estado e pela violência exercida às famílias. O histórico de resistência aos

poucos começou a dar lugar a um histórico de violência, reforçando o

estereótipo que as outras classes na cidade possuíam deles, fazendo com que

fosse gerado um sistema em cadeia de afirmações negativas e conflitos

nocivos, substituindo, aos poucos, a consciência espacial pela violência banal.

Esse processo fez com que fosse construída por eles uma visão turva

de si mesmos. Sempre diziam: “Ah, nossa escola é muito ruim!”, “Eu não daria

aula aqui não!”, “Aqui só tem vagabundo e burro! (rindo)”. Essas falas

demonstram que os alunos não enxergam a escola com bons olhos, sentindo-

se inferiorizados, mas gostariam que ela fosse melhor. Desejam outras

condições. A escola pública, inserida na periferia pobre, parece tender “[...] a

ser de qualidade inferior, num sistema que parece todo organizado para

reproduzir desigualdades” (GUIMARÃES-IOSIF, 2010, p.257).

Outra questão que se coloca dentro disso é o enfrentamento do

professor e de seu papel social na escola, frente à complexidade do produto de

educação, de escola e bairro que ele deve encarar. Já bastante desgastado

com a luta escolar, posicionando-se muitas vezes de forma pessimista diante

da realidade da educação, foi muito comum durante o estágio a constatação de

um profissional com grandes dificuldades de prosseguir em combate. Esse

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cansaço fez tornar regra certas dificuldades metodológicas, que viravam aulas

pouco interessantes28.

Isso gerou, muitas vezes, atritos entre os alunos e o professor,

transformando-se em discussões, bate-bocas e mal-estar. Mas é numa escola

desinteressante que o sistema capitalista assim quer fazer com a escola

pública. Assim, é importante fazer uma observação. Os desabafos de alunos e

professores, no fundo, não eram reclamações de um contra o outro. Esses

protestos vinham à tona sem, por muitas vezes, eles se darem conta que seus

desabafos eram contra o modelo de educação que recebem (alunos) ou são

cobrados a oferecer (professores). No final das contas, as maiores vítimas da

escola, aluno e professor, estão do mesmo lado. Mesmo que alguns não

percebam. Quando brigam ou se rejeitam, isso é nada mais que um

autoflagelo. Esses conflitos negativos servem na verdade para piorar a escola

e tirar a vontade do aluno em aprender e a do professor em ensinar. Retire

essas duas motivações, a de aprender e a de ensinar, e a escola morre. Mas é

isso que o Estado capitalista quer de nossas escolas em realidades pobres: a

sua morte. Matar a escola é matar a juventude. Uma juventude morta em seus

sonhos é a garantia de um exército industrial de reserva, de mão de obra

barata, uma parcela a menos a frequentar Universidades elitistas, uma parcela

a menos a ir ao teatro e dividir a poltrona com o doutor. A tentativa desse

homicídio ocorre todos os dias nas escolas públicas brasileiras. E esse crime é

motivado pelo objetivo de separar quem vai ser o que na sociedade. Por isso é

importante que professores e alunos não percam a motivação de ensinarem e

aprenderem, e enxerguem-se em união, para que esse determinismo social

seja superado.

Mesmo diante dessas dificuldades, uma aluna do 9º Ano II, durante

uma das aulas, comentou sobre como a escola melhorou em relação aos anos

anteriores. Segundo ela, a postura da nova gestão administrativa, iniciada em

2016, tem conseguido puxar os alunos para si, algo que as outras gestões não

faziam29. Para a aluna, existe hoje uma maior abertura da direção para com os

28

E isso não só em Geografia. A escola é que era, quase em totalidade, desinteressante.

Exceto o intervalo ou a socialização em si. 29

A mudança da administração escolar se deu nas eleições do dia 15/12/2015. A Chapa 02, de oposição, venceu com grande maioria dos votos a gestão anterior. Pais de alunos, profissionais e alunos maiores de 16 anos puderam votar. Essa mudança de gestão recebeu

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alunos e, partes das propostas colocadas pelo diretor estão sendo atendidas

como o wi-fi para pesquisas na escola, o investimento em projetos como a 1ª

Feira de Ciências, a reforma da quadra, festas na escola como a Festa Junina

e o Halloween, além da continuidade nos projetos com os times de handebol,

voleibal e futsal, obtendo destaque no JOESA30 com quatro títulos consecutivos

no handebol feminino nos últimos quatro anos.

Nas palavras de outra aluna, do 9º Ano I, é possível notar certa

esperança com o que de novo se vem apresentando:

A gente acredita muito no diretor porque ele sempre deu muita atenção pra gente. Antes a gente sempre se sentia meio pra baixo por estudar aqui, mas com essa coisa dele com os esportes meio que deu um ânimo pra gente. Hoje a gente se destaca e eu vejo que os alunos ficam orgulhosos com isso.

Outro aluno do 9º Ano I, que participava da conversa junto com a

aluna, acabou dando sua opinião sobre a merenda:

A escola melhorou muito, tá louco! A merenda tá bem melhor do que era antes. As vezes tem strogonoff. Teve um sábado aqui que teve feijoada, lasanha. Foi da hora! A escola tá mais organizada.

Uma aluna, do 9º Ano II, em uma das conversas sobre o quanto a

escola estava mudando, contou uma história bastante pitoresca:

Nossa, a escola melhorou demais! Não sei se você sabe, mas a escola estava para fechar em 2012. Uma ex-aluna aqui que estava grávida abortou o bebê no banheiro feminino. Acharam o feto lá dentro e o banheiro todo sujo de sangue. Isso repercutiu muito e a gente ficou sabendo que veio uma ordem de Varginha-MG pra escola fechar. Na época ninguém queria assumir a direção da escola, aí a Ca. assumiu. A gente fala mal dela, mas se não fosse ela talvez a escola hoje estaria fechada...

Houve nesse pouco tempo, certa esperança brotando por parte dos

alunos, muito em função de trabalhos recente desempenhado por alguns

membros da nova equipe escolar. Contudo, essas manifestações de violência

bastante apoio por parte dos alunos que, no primeiro ano, sentiram grande diferença na gestão, a começar pelo andamento da reforma da quadra, a implantação de rede wireless, resgate de material alternativo para práticas pedagógicas, melhorias na merenda, maior diálogo e proximidade com os alunos e abertura para novas parcerias extra-escolares. A mudança de postura por parte da nova gestão produziu maior sentimento de pertencimento na escola e fez com que os alunos tivessem um animo melhor em 2016, o que gerou uma atmosfera um pouco mais esperançosa no Grimminck. 30

Jogos Escolares de Alfenas-MG, campeonato poliesportivo entre as escolas alfenenses.

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ainda continuam presentes. Aparecem quando no começo do ano a direção

transfere os alunos-problema ou quando os ameaça, dizendo na frente do

aluno que ele não tem mais jeito, que ele deveria ser expulso da escola, entre

outros tratos que os alunos violentos sofrem ao causar o caos no espaço

escolar.

Entretanto, essas violências presenciadas na escola são violências que

a sociedade capitalista produz contra a juventude cotidianamente. As

fotografias e cenas de uma infância ou juventude sem esperança que vemos

nas metrópoles, nas cidades médias e nas cidades pequenas são retrato de

uma sociedade desigual, que acumula para uma menor parte o direito a uma

vida, uma educação, uma escola de qualidade. Nessa escola em questão (e

em qualquer outra), não se pode enxergar a educação como processo

romântico. Os conflitos estão ali! Eles estão a cercar a escola, a cidade. As

necessidades se apresentam e a leitura geográfica não pode eliminar da

análise esse desconfortável dado31. Para Arroyo (2007):

Esses impasses nos levam a rever e a pesquisar as

concepções de infância com que o campo da educação ainda

opera. Crianças idealiza-das, inocentes, anjos, sementes e

plantas tenras, massinhas moles moldáveis em mãos

carinhosas de jardineiros e oleiros. Tempos de in-fância, como

tempos de ludicidade. Esta visão que já vinha sendo

desconstruída, do imaginário pedagógico, volta e reafirma-se

pelo avesso, diante dos dados sobre as violências infanto-

juvenis. O curioso éque aquela visão que julgávamos superada

ainda se revela persistente e volta na hora de avaliar, julgar,

condenar e excluir as crianças-adolescentes porque se afastam

do parâmetro inocente de infância. Como se a violência infantil

fizesse rebrotar tradicionais visões da infância em vez de

contribuir para sua superação.

Os violentos seriam excluídos desse direito ao convívio, à

cidadania, à educação, à escola. (ARROYO, 2007, p. 794-796).

31

E ainda mais reflexões se desenham sobre esse insosso tema da violência escolar e juvenil: “A contemporaneidade das violências, sobretudo da violência infanto-juvenil, confronta-nos com a conformação da escola como espaço público, com a compreensão dos direitos e especificamente com a educação como direito, com as imagens da infância e especificamente com a afirmação da infância como tempo de direitos. Questões todas com que vínhamos alimentando as pesquisas, a produção teórica, a formação de educadores-docentes, as políticas educativas, de currículo, etc. A violência infanto-juvenil na sociedade e nas escolas talvez esteja explicitando a fragilidade do trato desses campos ou a urgência de sua reconceituação, pesquisa e teorização” (Arroyo, 2007).

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E isso ainda perdura na realidade da escola. Não é uma realidade

simples lidar com uma violência que tem origem no cerne da própria ideologia

capitalista. É uma guerra que atravessa escalas e chega a agentes que nem

mesmo temos ideia de seus verdadeiros rostos. E esse fluxo de violência

chega com força nas partes mais vulneráveis da sociedade, que ainda não

sabe como resolver na escola, tanto na perspectiva pedagógica como política.

Como introduz Arlete Moysés (2015), a própria produção do espaço

condiciona esse cenário de violência. Essas formas de violência vão criando

territórios bem delimitados ou não do espaço escolar. Alguns alunos, cientes de

uma negação do direito à cidadania, à educação e à escola, buscam preencher

essa lacuna com a produção de uma figura calcada no poder de gerar e

dominar a violência, enquanto que, na verdade, é o oposto. É a violência quem

está dominando o aluno.

4.3 A Geografia da escola – Espaço e territórios

A escola envolve contradições, relações dialéticas e conflitos que

provocam metamorfoses no espaço, transformando-o em vários territórios

fragmentados, expressando cotidianamente territorialidades. As inúmeras

relações de poder mesmo na tentativa de ser abafadas pela postura da equipe

escolar, que busca omiti-la ou violenta-la, acabam por resistir. A estratégia de

transfigurar a realidade pelo discurso romântico pode servir como um meio de

buscar privar a juventude do conhecimento de suas duras realidades, de

encarar o fato de que a vida ali é mais difícil que para outros jovens na cidade.

Por um lado, pode-se pensar em levar aquelas vidas mais com um tom mais

leve, amenizando os problemas pelo menos durante cinco horas por dia de

segunda a sexta. Por outro, essa máscara pode aumentar ainda mais o

contraste e evidenciar a realidade, uma vez que a necessidade de esconder

revela a necessidade de manter algo de desagradável em oculto.

Esse desprazer reaparece quando no período vespertino, durante

todas as semanas, um policial militar comparece ao colégio para tratar com

crianças e jovens entre doze e quinze anos sobre o tema das drogas. Essa

presença retira os poucos créditos do discurso romântico que a escola pode

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tentar construir. O revólver no coldre, as mãos postas sobre o colete à prova de

balas, os coturnos pesados, o andar duro, sisudo, o olhar de autoridade com as

sobrancelhas franzidas, não criminaliza as drogas. Acaba por criminalizar os

“elementos” que ali estudam com comentários pretensiosos e até mesmo

pejorativos. Essa presença, que é a do próprio Estado, soa como um recado

subconsciente aos devidos lugares que os alunos ali devem se colocar. O

espaço escolar passa então a enfiar mais fundo o dedo na ferida social.

Além das formas de violência que ocorrem dentro das salas de aula,

existem aquelas que acontecem também na sala dos professores, em rodas de

conversa durante reuniões e/ou confraternizações. Existem alguns comentários

que se referem a determinados alunos ora com tom de desprezo, de raiva.

Desabafos às vezes tornam-se ofensas. E esses relatos podem assumir-se nas

relações sociais em forma de novos preconceitos. Mais formas de violência,

são agregadas outras já existentes, dando margem à resposta que os sujeitos

irão produzir em função dessa pressão social exercida.

Existem muitos alunos e alunas que sofrem com esses e outros traços

da violência social e escolar na escola. A aluna As., por exemplo, convive com

uma relação tensa na escola, principalmente por parte dos garotos, por ser

transgênero. Por vários momentos presenciei cenas de escárnio e piadinhas no

sentido de inferioriza-la, chamando-a de feia, suja, fedida além de adjetivos

preconceituosos que queiram reafirmar a ideia de que ela não é mulher. As.,

além desse enfrentamento, apresenta também dificuldades na aprendizagem e

o problema da distorção idade-série. Já com dezessete anos, e ainda no 9º

ano, um dia, ao responder a pergunta do estagiário sobre o porquê ela estava

tão cabisbaixa, a aluna se sentiu confortável a relatar algumas questões

importantes que demonstram seu desânimo na escola e seu temperamento,

muitas vezes, explosivo. Ela por muitas vezes ia à escola sem dormir pois

passava as noites cuidando de uma idosa no Jardim Aeroporto junto com sua

mãe. De lá ela ia direto pra escola e geralmente dormia pela tarde. Depois de

um tempo, As. arrumou um emprego na Vidrominas, em Gaspar Lopes como

jovem aprendiz. Entretanto a rotina de trabalhar, estudar e cuidar da casa (que

já se estende a um bom tempo) ainda continua. Muitos alunos (principalmente

no Ensino Médio) na escola assumem função de complementar renda ou até

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mesmo sustentar suas casas, o que reflete no baixo desempenho e no

problema do alto índice de evasão.

As relações entre as meninas na escola também refletem muito bem

esses conflitos. Existem guetos, grupos que se rivalizam uns com os outros.

Além disso, é comum julgamentos entre reputações. Qualquer evento no bairro

ou na escola vira motivo para criar uma fofoca do tipo “Nossa, você viu o que

ela fez? Nem prostituta profissional faz o que ela faz”, “Ah, essas meninas da

escola são piores que muita garota de programa por aí”, “É cada coisa que a

gente fica sabendo dessas meninas”. As falas são pesadas e não são

eventuais, repetem-se constantemente no dia-a-dia escolar. Ameaças entre

elas são regra e várias mensagens agressivas podem ser vistas nas portas do

banheiro feminino. Outra questão muito forte na escola é a seguinte: se a

garota mora no Pinheirinho, ela é diferente daquela que mora no Santa Clara.

Aquela que mora no Recreio é diferente da que mora Pinheirinho ou Santa

Clara e, ainda mais diferente das que moram nos predinhos. Em linhas gerais,

a relação repete aquilo que a formação contextual socioespacial dos bairros

antes produziu, fazendo com que essa competição pela fama e pelo status

entre as garotas provoque grande violência entre elas (Figura 4.4.1).

No primeiro semestre de 2016, uma briga na rua de trás da escola

repercutiu muito, tanto na escola como nos bairros. Duas garotas entraram em

confronto físico. Uma delas caiu no chão, levou chutes e joelhadas no rosto e

Figura 4.4.1 - Recado em uma das portas do banheiro feminino. Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

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foi arrastada no asfalto. Quando esta chegou em casa, um outro grupo, uns

amigos da garota que a agrediu, espancou-a novamente, segundo alguns

moradores do bairro e de servidores da escola32. Conversando depois com

essa aluna ela contou o motivo da briga:

Ah, professor ela ficou falando mal de mim por trás e eu fui lá tirar satisfação com ela. Ela me chamou de vagabunda e p....., eu falei pra ela falar na minha cara e disse que ia pegar ela...aí na saída a gente brigou. Eu ia matar ela (risos).

Brigas e agressões são comuns, embora tenham diminuído suas

ocorrências. Em 2013, o aluno Ar., de 16 anos, repetente por três anos

consecutivos, acabou se envolvendo em várias brigas na escola. Um garoto na

escola, certa vez, mexeu com uma garota que Ar. estava namorando. Houve

estranhamento entre os dois e trocas de ameaças, de espancamento, entre

outras agressões. Segundo dois alunos relataram, Ar. faltou da escola um dia

e, na hora da saída, apareceu no portão e esperou o garoto sair. Quando o

garoto cruzou o portão, Ar. apunhalou um facão nas costas do garoto e depois

fugiu. A polícia foi chamada, Ar. foi suspenso da escola, o outro aluno foi

transferido pra outra escola em outra cidade e Ar. voltou tempo depois à escola

sob novas condições, permanecendo até hoje no colégio. Ar. ainda se

apresenta naquele quadro de “aluno-problema”, entretanto, o aluno demonstra

uma carência de afetividade. Muitas foram as vezes que fui recebido por ele

com um abraço. Nos últimos dois finais de ano, de 2015 e 2016, o aluno me

presenteou com um chocolate, como presente de Natal. Em algumas

intervenções, o mesmo aluno respeitou o tempo de aula e realizou as

atividades propostas, ajudando até mesmo a conter os ânimos daqueles alunos

mais exaltados. As dezoito câmeras instaladas na escola, as grades e as

medidas punitivas pela direção parecem não surtir tanto efeito na solução

desses conflitos (Figura 4.4.2). As diferenças ainda persistem e rivalidades são

alimentadas entre os alunos. Todas as tentativas de abafar esse histórico não

foram bem sucedidas, muito embora alguns avanços tenham sido obtidos com

a nova postura da equipe administrativa.

32

No banheiro feminino, um espaço mais íntimo, restrito, é possível ver ameaças de agressão

nas portas dos banheiros entre outras formas de intimidação mais pesadas.

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Esses exemplos comprovam como a escola ainda tem dificuldade de

tratar a questão da violência que eclode dentro dela. Ela eclode e, ao mesmo

tempo, nivela o sujeito por baixo. Um sujeito que constantemente se vê por

baixo, humilhado, vai retendo sentimentos de incapacidade, de fracasso. Em

um momento de explosão ele pode mesmo reagir instintivamente, em níveis

violentos, de modo a negar sua condição de derrotado. O(A) jovem humilhada

na escola, em situação de vulnerabilidade social, as vezes sem a figura da mãe

ou do pai em casa, acumula sobreposições de violências em vários espaços

em que ele(a) vive e essa pressão em um momento precisa ser aliviada. Muitas

vezes ela é aliviada sobre o colega de classe, o inspetor, o professor, etc. São

violências diárias explodindo como consequência de uma violência secular que

o Brasil carrega em sua história.

As limitações não são apenas as de lidar com o problema da violência.

Existem dificuldades, sobretudo, em interpreta-la. Diferentes manifestações de

violência diária, a agressão, a ofensa, a imposição do mais forte sobre o mais

fraco, a tentativa de ignorar a autoridade, de pô-la em cheque, de confronta-la,

são símbolos de oposição ao que está posto. Isso entra no debate proposto por

Arroyo (2007, p.802-803), sobre a violência e a confusão que a escola hoje tem

ao tentar lidar com essas re-ações psicossociais dos sujeitos:

Figura 4.4.2 – Violência: uma das dezoito câmeras na escola, dentro da sala de aula (à esquerda). Grades de proteção. Algumas parecem retorcidas. Seria um símbolo de

negação? (à direita).

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De alguma forma os mestres e as escolas vêem que a ameaça a sua autoridade moral vem das novas relações da infância, adolescência e juventude com os valores, os saberes e a cultura. Com a moral social e escolar. Esta percepção vai se espalhando e acelerando diante das violências infanto-juvenis. Estas representam o questionamento [....] à moral social que supostamente a escola representa, e que deveria reproduzir como ambiente moral.

É comum alguns professores entrarem em atrito com os alunos ditos

“problemáticos”. Recentemente, um aluno do 1º Ano discutiu com uma

professora na sala de aula e este alegou para mim uma perseguição sofrida

por ele após isso.

Aaah aquela muié é louca! Ela tá me tirando! Ela fica me tirando o bagulho vai fica louco pro lado dela. Só porque eu tava na rua fazendo meus corre e ela vem querer impor as coisa. Já avisei já pro J.(vice-diretor) se ela me colocar na justiça, se ela for querer ter problema com a justiça comigo, ela vai ter é problema comigo na rua.

A formação adequada e permanente de uma equipe escolar, a

orientação de novas metodologias e estratégias, na escolha de abordagens

mais críticas que de fato se aproximem da realidade dos alunos, esses são os

círculos que poderiam trabalhar melhor essas questões. Em muitas ocasiões

testemunhei na sala dos professores, alguns docentes reclamando de um ou

outro aluno e, quando conheciam a família deles na reunião de pais e mestres,

diziam: “Também, vai ver a mãe do aluno que peça que é...”, “É, mas o aluno

também puxou pro pai! Você viu que coisinha boa que é o pai?”. Os alunos

sabem disso, internalizam a concepção que se tem sobre eles e acabam

devolvendo a negação ao espaço escolar e a revolta em forma de violência até

mesmo para si, provocando a competitividade e a desunião em seus meios.

4.4 – A Geografia na escola – Da Geografia que se “ensina”

A vida profissional na escola é (ou deveria ser, neste caso) um

combate constante, uma resistência. As imposições das esferas administrativas

superiores, a burocracia, o mercado e as políticas capitalistas implicam numa

guerra diária a qual o professor de Geografia tem de enfrentar na escola, numa

perspectiva de superação, frente a seu ofício como intelectual orgânico e não

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alienado. Ao mesmo tempo, o professor deve mediar o saber científico

oferecendo facilitações ao poder do conhecimento para os alunos, negando as

estruturas que as elites econômicas, políticas e intelectuais estabelecem como

limitante a escola dos segregados.

Quando nos colocamos durante o estágio supervisionado a observar

essas questões, podemos perceber como o professor resiste (ou não) a esses

processos. Como ele recebe as pressões que o sistema educacional brasileiro

reproduz através das políticas. Por isso, foi importante, nesse tempo, dialogar

com o docente da escola sobre como ele via sua função nela. Esses diálogos

foram bastante importantes porque pelo discurso do professor foi possível

traçar um perfil de como estava seu posicionamento em relação à instituição.

Antes de tratarmos disso, é necessário elencar alguns fatores

responsáveis por definir a reação docente. Durante esses dois anos houve

muito diálogo com o professor regente. Conversas que duraram mais de duas

horas e bate-papos que levaram alguns poucos minutos. Essas conversas

informais, além das entrevistas, serviram como termômetro e parte crucial da

investigação na missão de compreender a postura do professor na escola.

Entre outras coisas o professor é antes um ser humano e, como qualquer

pessoa, possui uma história, um tempo muito particular envolvendo uma série

de questões que, no dia a dia, acaba aparecendo durante as aulas dissolvendo

o discurso do conteúdo geográfico, curricular, com outro mais subjetivo e

emocional. Esses momentos repetiram-se constantemente durante os dias

letivos na escola, tentando o professor dar conselhos a juventude escolar a

trilhar caminhos alternativos que não aqueles circunstancialmente lhes

oferecidos.

Contudo, os embates entre a circunstância (real) e o projeto (ideal)

produziram reações ao cotidiano docente. As forças do além-escola somadas

às dificuldades da trajetória pessoal do professor e seu desgaste com uma

sucessão de equipes administrativas que encontraram dificuldades em cumprir

suas propostas de gestão, de certo modo, colocou o professor numa postura

recorrente em parte da classe docente: uma espécie de comodismo misturado

à impotência; impotência presente em discursos abafados pelo barulho da

insatisfação; insatisfação expressa pela inquietude sonora, aguda e pontiaguda

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,ferida e ferindo tempos de aprender e de ensinar, em ciclos de

aprofundamento que não aprofundam e de consolidação que não consolidam.

Muitas vezes, a fala do professor evidenciou essa impotência. Um

discurso cansado, carente de animosidade e criatividade, entregue ao jogo do

sistema do Estado. Na opinião docente, os alunos não querem aprender e não

são instrumentos alternativos ou outras metodologias que irão modificar esse

cenário, mas uma mudança por parte do Estado, dos políticos em Brasília,

relatando o que muitos outros professores também dizem na escola.

Nesse meio tempo, o professor aproveitou também, em várias

ocasiões, para registrar os resultados de seu estafo físico e emocional.

Realmente, tratou-se de um ano difícil na vida do professor regente que,

embora possua suas dificuldades científicas e pedagógicas, não exerce sua

função com indiferença. Existe um respeito e um carinho mútuo entre o

professor e os alunos na escola. Várias foram as manifestações de

consideração e afetividade entre eles. No aniversário do professor ele até

recebeu uma festa surpresa organizada por alguns alunos, com direito a bolo,

refrigerante e salgados. Essa relação amistosa entre aluno e professor é muito

benéfica, mas ela, por si só, não é suficiente ainda para possibilitar avanços

pedagógicos necessários na prática da Educação Geográfica.

Outro ponto que se desenhou foi o pensamento que o professor tem

em relação a sua formação. O professor a tem como um pouco insuficiente. Ele

conta que foram apenas três anos de graduação e defendeu uma ideia que, por

ser particular, a faculdade facilitava a formação, ou seja, não bastando muito

esforço para que fossem aprovados nas matérias. Além disso, o fato de ter de

trabalhar como garçom para pagar parte da mensalidade da faculdade

dificultou um melhor aproveitamento do curso por parte do professor,

comprometendo ainda mais, segundo ele, a qualidade de sua formação.

A partir dessas conversas e muitas outras, ficou nítido o sentimento de

dificuldade e solidão que o professor carrega. Com uma carga horária de trinta

e cinco aulas semanais mais o horário de módulo, o professor reclama de falta

de tempo para organizar e preparar suas aulas, justificando as atribuições

burocráticas como empecilho na realização de um melhor trabalho. E essa não

é uma realidade exclusiva do professor. Replica-se em muitas escolas

brasileiras e acompanha muitos professores. A questão da formação de

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professores ainda é um obstáculo na educação, embora tenha obtido avanços

nos últimos dez anos. Muitos ainda são os professores que possuem lacunas

em sua formação inicial e não tiveram oportunidades em ter uma formação

continuada. A soma dessa situação com as pressões do Estado capitalista na

escola pode levar o professor a essa condição de descrédito com a educação e

a morte da vontade em ensinar.

O desanimo em ensinar faz sua morada na metodologia de aula. E

uma delas, uma das mais famosas na realidade escolar brasileira: a transcrição

de textos na lousa e sua cópia. Com certeza, isso retira muito o desejo dos

alunos em aprender e borra a imagem deles sobre o que é Geografia. Se

Geografia fosse definida pela experiência que eles têm na escola essa

definição de Geografia seria um horror. Textos e mais textos na lousa que mais

parecem seguir um único conteúdo durante o ano todo. Parece não haver

diferença. A não ser quando invés de giz branco usa-se giz azul. Quando

perguntado aos alunos sobre suas impressões quanto a esse tipo de aula, as

respostas não fugiam muito desse padrão desanimador.

Ah...ele passa muito texto, olha pra você vê (apontando para a lousa). Tá louco, toda aula é texto! Por que que ele só passa texto? Tô cansada de ficar copiando...que chatice!

Outro aluno, reclamando da cópia de textos na lousa:

Ôh R., falta cinco minutos pra acabar a aula, ôu! Para de passar texto!

Mais outro, agora, reclamando da quantidade de matéria para cópia

passada, através da quantidade de vistos que ele tem.

Olha aqui no meu caderno o tanto de visto que tem! Olha aqui (passando as folhas e contando), isso aqui só o que ele passou nesse bimestre! Deu mais de vinte já! Minha mão fica até doendo!

Quase sempre, os alunos se referiram a aula do professor com um

discurso de queixa. Houve na maioria das vezes um conteúdo discordante ao

método pedagógico do professor. A questão curiosa é que, embora a

pedagogia do professor seja deficitária e, de certo modo, deixa de fornecer o

poder do conhecimento aos alunos, há sempre na reclamação uma provocação

composta por um teor humorístico. São discursos provocativos que

reconhecem a insuficiência de Geografia que lhes é ofertada, contudo, não

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deixam de considerar que o professor regente é também uma pessoa que,

assim como muitos ali, enfrenta uma realidade de grande pressão o que faz

com que os alunos não tenham uma relação exageradamente conflituosa, de

estranhamento e/ou de negação ao professor. Notoriamente, isso não justifica

a falta de uma pedagogia crítica, que insira um olhar geográfico preciso na

análise da realidade cotidiana que nos envolve. No entanto, serve como uma

extensão a ser considerada para a produção futura de novas condições de

ensino-aprendizagem, como uma referência de ponto de partida, numa

estratégia de reaproveitamento do material humano que se tem para trabalhar

na escola.

Tudo isso reduz drasticamente a possibilidade de introduzir saberes

que correspondam às complexidades das ações dos homens no

espaço/território, matando, portanto, a consciência espacial, tornando

impossível atingi-la por uma proposta concreta de Educação Geográfica.

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5 Capítulo 3: A Educação Geográfica para o Direito À

Cidade

5.1 A Educação Geográfica e a consciência espacial

Não esconder aquilo que o cotidiano escolar nos apresenta é

importante no processo de Educação Geográfica, pois, o professor-geógrafo,

aproximado ao contexto no qual se insere junto aos alunos e consciente da

natureza de Geografia que se ensina na escola, pode possuir maiores

condições de compreender a linguagem e as manifestações expressas por

eles, visando atingir outras consciências sobre a realidade, articulada e

planificada à suas condições. Assim, é possível a realização de uma adaptação

metodológica dos conteúdos geográficos para a produção de outros

pensamentos espaciais:

Estudar e formar um pensamento espacial, um saber pensar o espaço [...] é uma condição da historicidade da vida humana, é condição [...] para um viver em sociedade, para participar dos processos sociais, das tomadas de decisão, para fazer-se democrático e agir democraticamente, ser e estar situado no contexto social de vivência. Se hoje, na chamada sociedade do conhecimento, conhecer, saber e aprender são necessidades vitais, conhecer e apreender a realidade, por meio de um saber pensar o espaço, como consciência do espaço e das coisas nesse espaço, é também condição vital; por isso, o ato histórico de viver conhecendo é imprescindível, é necessidade humana básica e fundamental (NOGUEIRA & CARNEIRO, 2013, p. 24-25).

Entretanto, formar esse pensamento espacial requer trabalho,

persistência, teoria e prática. Daí a importância de conhecer o produto que é o

espaço. Entendê-lo como mercadoria, como dado fragmentado, que separa a

sociedade em classes e contrasta as contradições. Numa perspectiva dialética,

de por o conflito em evidência. É por esse caminho que concebemos o

pressuposto para a formação do pensamento espacial através do saber

geográfico. A partir disso, é que será possível construir algo diferente, calcado

na crítica do conteúdo político que se materializa no espaço, no território.

Levantar essa crítica põe em cheque a realidade e abre margem a

possibilidade de superar as condições sociais desprivilegiadas, atribuindo outro

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significado à escola (ao bairro) violenta(o), degradado e insuficiente do pobre,

fazendo com que no caso do Pinheirinho e do Santa Clara, seja possível a

volta da prática cidadã que um dia ali foi exercida.

Aí mora um outro projeto de educação, que casa com a proposta de

Educação Geográfica aqui debatida. Uma concepção dialética de educação

(GADOTTI, 1995). Se na década de 1930 o ensino, com base na Constituição

de 193433, distinguia entre primário e profissional (a educação voltada às

classes populares e, primário-secundário-superior, a educação voltada para a

elite), hoje, mesmo em outros tempos e dinâmicas (ou não), a luta de classes

ainda se repete mesmo que de modo aparentemente velado (ARROYO, 2010;

CAMPOS, 2011; PONCE, 2010).

Mesmo que essas contradições possam estar não tão nítidas,

sufocadas pela máscara que visa substituir a realidade por um idealismo

anestésico, a ambiguidade discursiva presente nos conflitos, na manifestação

da negação ao espaço escolar, na metodologia de ensino, nas reclamações de

alunos e professores, entre outros comportamentos, ilustra formas e conteúdos

para além do psicológico individual ou do coletivo. Demonstram, acima de tudo,

que os impulsos provocados pelo nível do interesse aparecem materializados

no espaço escolar sob a forma de uma contínua reprodução de desigualdade

entre as classes, conservando a estrutura de poder posta para uma, restando

apenas a margem para outra.

Entretanto, existe uma fagulha que pode ser acessa e por esses

projetos em crise. Uma crise generalizada no produto urbano, de uma

consciência contida num projeto de contracultura, de contra-ideologia. A

juventude escolar, quando lida nas expressões cotidianas por meio de suas

simples ações, nos remete à possibilidade de contrariar o projeto de

conservação da estrutura de poder que as elites criam. A imposição dos

desejos das classes hegemônicas, mesmo chegando à escala escolar, pode

ser revertida quando identificamos nas imagens e nos discursos de resistência

fortes traços de cansaço, repugno e revolta; a estranheza, a contradição e a

negação entre aquilo que se impõe como referência e o que se entende por

vivência, estão, ainda, expressos sob forma de violência banal, não-anômica.

33

Coincidentemente, no mesmo ano que a Geografia científica chega ao Brasil.

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Neste prisma, a Educação Geográfica está intimamente relacionada

com o contexto real de superação. A prática cidadã e a formação da

consciência espacial crítica (e contextualizada!). Significa a compreensão de

mundo, a construção consciente dos fenômenos no espaço, sua interpretação

em profundidade, correlacionada, em busca da inalcançada totalidade,

articulada entre diferentes escalas de análise (CAVALCANTI, 1998;

GONÇALVES, 2010).

Diante dos momentos e movimentos aos quais nos inserimos de

alguma maneira, penso que vivemos num tempo que nos imprime a

importância do saber para o poder. A informação transformada em

conhecimento legítimo, sobretudo no espaço escolar e, mais ainda, na

Geografia, não é um luxo ou posição de inteligência. É pressuposto para o

empoderamento, ou, quando não realizado o processo, o ponto de partida para

a alienação. Espaços escolares onde a Geografia está afastada da realidade

política, econômica e cultural no espaço/território-tempo, bloqueiam não

somente o fluxo do saber geográfico escolar; tal distanciamento impede a

construção da consciência espacial dos sujeitos, que, ao não saber se localizar

no tempo e no espaço politicamente ordenado, não podem agir de modo

revolucionário sobre uma realidade que não conhecem.

[...] pertencer a um espaço, ser cidadão nele, implica que o sujeito saiba pensar o espaço no qual vive suas experiências de mundo. Quantos são privados desse exercício, quando apenas copiam repetem, reproduzem? Quantos são levados à alienação no espaço de vida quando não o apreendem, não o compreendem? A cidadania que se constrói num lugar físico também se constrói em um lugar político, no jogo de poderes, e em um lugar afetivo, de pertencimento, na concretude do direito e dever de refletir, pensar e agir intelectualmente com esse espaço-lugar – portanto, em sentido de uma cidadania pensante, crítica e criativa no espaço habitado e plenamente apropriado (NOGUEIRA & CARNEIRO, 2013, p.122).

A reflexão de V. Nogueira e S. M. Carneiro (2013) toca justamente no

que ocorre no Grimminck. O conteúdo geográfico, quando transcrito na lousa a

partir do livro-didático ou de um pedaço de papel, sem problematização, sem

questionamentos, sem qualquer interação ao saber que o aluno traz, mas visto

como um conteúdo para preencher o diário, acaba por se tornar um corpo

estranho no processo de ensino-aprendizagem. Na verdade, esse processo

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nem mesmo chega a começar a acontecer. O conteúdo é sinônimo de caderno

cheio, caneta vazia e punho dolorido. As perguntas que surgem durante as

aulas são: “Por que temos que copiar isso tudo?”, “O que está escrito ali?”,

“Você vai dar visto?”, “Professor, aquilo lá é subtítulo?”, todas elas direcionadas

a que modo a cópia será feita, e não o porque daquilo que está se copiando.

Por muitas vezes, quando perguntamos aos alunos sobre o que ele está

aprendendo (ou aprendeu) em Geografia eles respondem que não se lembram.

Não se lembram ou não aprenderam? O aprendizado não é algo simples. Ele

se faz diante uma real relação de apropriação de um conhecimento por parte

do sujeito e, se o professor não se constitui como facilitador do processo, isso

não ocorre.

Contudo, essa culpa não é exclusivamente do professor, que deve ser,

em partes, compreendido por sua formação, buscando entender os motivos

que o leva a assumir tal posicionamento. Por isso nos tópicos anteriores foi

feito esse movimento de compreensão e não reafirmar o que o sistema quer

atribuir: a culpabilidade total ao professor pelo fracasso da educação e da

geografia no Brasil, como alguns discursos favoráveis à PEC 241(55) defendia,

com tons pesados e odiosos, que a classe docente deveria se preocupar em

trabalhar e não em apoiar os estudantes que estavam vandalizando, quando,

na verdade, estavam em luta por uma escola melhor.

Para além desses desdobramentos, essas questões demonstram como

a metodologia da aula e a condução da geografia pelo professor pode ser

decisiva na qualidade de ensino e de entendimento espacial que se tem. Ela

pode desviar o foco da realidade para o conteúdo do livro, transformando o

saber escolar geográfico num ponto exageradamente distante do saber

geográfico, como se não significassem, na prática, o mesmo saber.

Essa situação, ainda mais para realidades sociais menos privilegiadas

como no Grimminck, apenas serve para desservir a Geografia e a educação,

demolindo seus potenciais transformadores, mantendo a ordem vigente e

desarmando-os à missão da emancipação, bem como comprometendo as

bases necessárias para se formar uma consciência espacial cidadã (ALMEIDA,

2010; FREIRE, 1996; FREITAG, 1980).

O estágio supervisionado possibilita que a teoria e a prática se

encontrem no cotidiano escolar. A observação dirigida às aulas ministradas

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pelo professor regente e vivência na/da escola guiada pelos conteúdos

discutidos nas aulas teóricas da universidade, possibilitam uma ampliação do

entendimento do processo educativo, consolidando assim, campos para

pesquisa em ensino de geografia.

Durante todos esses semestres de estágio supervisionado, foi

assumida uma posição de estagiário-aluno enquanto um vir a ser, uma

projeção para um futuro docente próximo. Essas reflexões serviram, e ainda

servem, como um momento primeiro para promover maiores discussões sobre

a Geografia que se ensina, não só no Grimminck, mas também em outras

escolas que repetem essa realidade, pelos mais variados motivos. Por

consequência, tornar-se-á o objetivo, sempre tomar um partido de pensar e agir

nos pontos que podem ser retrabalhada a consciência política dos alunos,

fugindo de uma interpretação derrotista, deixando de ter um imaginário

derrotista da escola, como espaço de reprodução de lamentações, tristezas e

dificuldades. A sua proximidade com a Universidade, em termos de localização

física, pode se transformar em uma vantagem se aliada aos desejos das

lideranças locais e ao conhecimento da origem coletiva da própria escola.

O debate acadêmico, a infraestrutura da Universidade e,

principalmente, a compreensão da Geografia como saber estratégico, pode

contribuir para transformações na condução da Geografia na E.E Padre José

Grimminck, por meio de parcerias, criando novas visões, para que sejam

criadas outras concepções e práticas geográficas, não permanecendo apenas

nos discursos, muito menos numa visão de solidariedade e boa ação. O que se

discute aqui não é a imagem solidária, mas sim qual geografia se pratica para

qual finalidade de poder.

É preciso que o geógrafo perceba que ele é, de fato, não um espectador impotente, mas um agente de informações, quer queira, quer não, a serviço do poder, e suas proclamações revolucionárias ou suas preocupações morais não mudarão nada aí. É preciso que ele perceba que sua pesquisa pode ter graves consequências, mesmo se ela apresenta um caráter parcial [...]. O geógrafo deve se lembrar constantemente que a geografia é um saber estratégico, e que um saber estratégico é perigoso (LACOSTE, 1988, p.172).

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Dentro dessas profundas e inquietantes reflexões de Yves Lacoste,

cabem algumas questões para a realidade das escolas. É importante

questionar, enquanto geógrafo-professor, alguns pontos antes de agir: Em

defesa de qual modelo político de sociedade estamos lutando? Qual a

geografia que tem sido ensinada na escola? Para qual poder ela está servindo?

5.2 – Trabalhando a Educação Geográfica ao Direito à Cidade

O projeto se desenvolveu em um período de um mês, ocupando um

terço das aulas semanais de Geografia na escola, graças à abertura de espaço

por parte do professor regente. O objetivo principal da proposta foi a de

conduzir os sujeitos-alunos da escola a uma formação inicial de consciências

políticas-espaciais criticas, por meio da Educação Geográfica, para provocar

outro entendimento de suas realidades sociais. Para isso, foi essencial todo o

tempo vivido durante o estágio supervisionado que, não só é crucial para a

formação, como também se mostrou um meio para ação política-pedagógica e

como oportunidade de introduzir outros caminhos de ideologia, crítica e de

leitura de mundo, para o enfrentamento presente e futuro das condições

impostas pela sociedade. Nisso, inclui-se fortemente o papel do professor.

[...] o professor (deve manter) a autonomia para escolher metodologias, fazer seleção de conteúdos e de atividades pedagógicas mais adequadas a seus alunos segundo o interesse ou suas necessidades e dificuldades. Essa autonomia, garantida pela própria particularidade do trabalho docente, indica que os professores podem dificultar as ações de especialistas, do Estado etc. com pretensão de controle de seu trabalho (BASSO, 1998, p.4, grifos meus).

Por isso, foi preciso seguir alguns passos para se atingir o objetivo,

buscando, por conseguinte, realizar um entendimento prévio e conjunto do

meio socioespacial que os alunos estão inseridos, num exercício de

transversalidade escalar (cidade-bairro-escola-mundo); pontuar os potenciais

individuais e coletivos e estruturar o projeto, para que depois se trabalhasse

todas essas noções conjuntamente pelos espaços de (con)vivência, chegando

por fim a formulações por eles levantadas, no sentido de exigirem para si uma

outra cidade.

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A autora Goulart (1993) apud Cavalcanti (2013) elenca alguns

instrumentais cognitivos importantes no processo de ensino-aprendizagem de

Geografia: observação, localização, relação, compreensão, descrição,

expressão e representação. Esses instrumentos devem estar alocados na

dinâmica pedagógica em Geografia, pois é fundamental que se siga esses

passos de forma bem definida, para que se atinja resultados importantes.

Observar as paisagens, localizar o espaço de vivência, relacionar e

compreender o contexto que se vive, descrevendo, expressando e

representando as condições de vida pela crítica é um objetivo que norteia este

projeto, reconduzindo o papel do estagiário e do professor. Por isso, é preciso

que:

[...] o professor aguce bastante a sensibilidade para captar os

significados que os alunos dão aos conceitos científicos que

são trabalhados no ensino. Isso significa a afirmação e a

negação dos dois níveis de conhecimento (o cotidiano e o

científico) na construção do conhecimento, tendo, contudo,

como referência imediata, durante todo o processo, o saber

cotidiano do aluno. Na verdade, o raciocínio geográfico só é

construído pelos alunos se for, o tempo todo, um processo do

aluno, que dele parta e nele se desenvolva (CAVALCANTI,

2013, p. 149).

Foi muito importante, também, durante a condução das atividades,

deixar que os alunos pudessem expor suas visões de mundo e seus

sentimentos acerca de suas realidades, para que fosse possível enxergar as

questões se apresentando espontaneamente, através de outra leitura

geográfica. Por outra leitura que pudesse inserir a dimensão política, inerente à

toda e qualquer análise geográfica. Como bem enfatiza Amélia Damiani (2015,

p.18), “é da ordem do político um papel fundamental na sociedade moderna: a

gestão do subproduto social [...] não se pode falar jamais, na sociedade

capitalista, em uma separação radical entre o político e o econômico”.

É importante assinalar que a prática adotou a metodologia de M. E.

Simielli, que atribui três níveis para se trabalhar a cartografia no ensino de

Geografia: (I) Localização e análise, (II) Correlação e (3) Síntese. O primeiro

cabe à etapa do Ensino Fundamental I, facilitando a interpretação de um

espaço concreto ao aluno, próximo de si, através de uma superação de

compreensão através de sua escala na realidade (partindo da sala de aula para

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a escola, o bairro, a cidade e etc.); o segundo é mais voltado ao Ensino

Fundamental II, momento em que se faz necessário um avanço ante às

habilidades adquiridas na etapa anterior de alfabetização cartográfica,

sobrepondo diferentes aspectos espaciais físicos (hidrografia, clima, solo,

vegetação, pressão atmosférica) por meio de dois eixos: o leitor crítico e o

mapeador consciente; e o último, ao Ensino Médio, é o nível em que o aluno

produz a obra cartográfica em todas as suas fases de elaboração possuindo

um maior aprofundamento e amadurecimento no trato cartográfico.

Para este trabalho de conclusão de curso, a proposta de M. E. Simielli

(2015) foi escolhida como metodologia, recortando às etapas de Localização-

Análise e Correlação, no primeiro eixo, o do leitor crítico, já que o objetivo do

projeto é o de atingir uma consciência espacial através da fusão de sua leitura,

interpretação e vivência.

Considero que se pode trabalhar em dois eixos, embora possam ocorrer alguns encaminhamentos paralelos com os mapas em sala de aula. No primeiro eixo, trabalha-se com o produto cartográfico já elaborado, tendo um aluno leitor crítico no final do processo. O aluno trabalha com produtos já elaborados, portanto será um leitor de mapas, acima de tudo um leitor crítico e não um aluno que simplesmente usa o mapa para localizar fenômenos (SIMIELLI, M. E., 2015, p.98-99).

Como o trabalho se seguiu a partir de produtos cartográficos

previamente confeccionados, não foi objetivo primário atingir a etapa da

síntese. Por um motivo, se fez necessária a estruturação do projeto diante da

realidade das classes trabalhadas, além do tempo disponível para o

desenvolvimento das atividades, de modo a não comprometer a agenda letiva

e de conteúdos do professor regente.

Para que a criança ou o jovem consiga (I) reconhecer os lugares e

identificar as paisagens e, depois, (II) os processos de análise e reflexão do

espaço, é um passo determinante, antes, conhecer a características dos jovens

que se está trabalhando. É importante deixar claro que, cada sala de aula

possui sua singularidade assim como cada aluno que nela está. Então,

podemos pensar que a adaptabilidade acerca às realidades exige do professor

uma maleabilidade e sensibilidade redobrada, sendo assim possível uma

contextualização do espaço de acordo com a realidade de cada aluno. Ou seja,

essas proposições metodológicas, superando a questão meramente técnica-

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teórica, são escolhidas como postulados diante de uma meta maior que é a de

provocar a crítica da realidade e possibilidade de se apropriar do espaço.

O espaço social exige a discussão da apropriação. Um espaço realiza-se como social quando é, de fato, apropriado. Desembocamos na questão da cidadania. A exclusão multiforme, com relação ao espaço, constitui e reflete a redução do cidadão a usuário. [...] Este novo projeto envolve a geografia, [...] como ciência do espaço, se não se imaginar soberana, única a lidar com o tema, e se envolver uma proposta filosófica ampla, na qual trabalhe no limite do que é residual, passando de um conhecimento fragmentário para um conhecimento total (DAMIANI, A., 2015, p. 51-53).

Melhor dizendo, a articulação de diferentes metodologias e campos

do saber deu forma à elaboração desse projeto, buscando o caminho da

possibilidade de construir oportunidades para o verdadeiro espaço do cidadão,

exercendo suas lutas e reconhecendo seus direitos a partir da formação de

uma consciência espacial.

5.3 A percepção dos alunos dos 9ºs Anos: A Cidade e os seus

diferentes espaços de lazer e consumo – Prática 1

Antes de discorrer como aconteceu a prática com os três nonos anos,

há que se pontuarem algumas questões relevantes. Como este trabalho

começa antes mesmo da prática no espaço escolar, é necessário traçar um

perfil das três salas trabalhadas.

Cada classe tem sua singularidade, assim como cada aluno. E é

justamente essa subjetividade, dentro de um vivido em comum, que iremos

buscar identificar nessa prática da percepção. Obviamente, esperamos que as

reações tenham sido diferentes, pois esses alunos possuem trajetórias

pessoais, espaciais e temporais distintas. Por isso, solicitei que os alunos

marcassem na folha o bairro em que moram, pois, se defendemos a tese de

que cada bairro produziu uma espacialidade e reproduziu uma territorialidade

na escola, aquilo que os tornam identificáveis e rotuláveis entre si deve ser

considerado. Por isso, traçamos um perfil geral das salas trabalhadas (Gráfico

2 e Gráfico 3).

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Além disso, pegar esse dado é importante para a regência e o

desenrolar do projeto, bem como facilita estratégias de condução do projeto no

trato com cada sujeito. Dos 47 (quarenta e sete) alunos presentes na primeira

atividade (100%), 23 (vinte e três) declararam morar no bairro Pinheirinho

(48,9%), 11 (onze) no Recreio Vale do Sol (23,4%), 6 (seis) no Santa Clara

(12,8%), 5 (cinco) no Jardim Alvorada (10,6%), 2 (dois) no bairro Aparecida

(4,3%) e 1 (um) no Jardim Boa Esperança (2,1%).

Nas três turmas é predominante o número de alunos que vivem no

Pinheirinho, tanto no geral como nas salas, entretanto, os outros bairros,

embora distintos, compartilham dos mesmos espaços de lazer local, uma vez

que não existe grande discrepância das classes sociais na escola. Por isso,

Gráfico 2 - Gráfico de bairro de origem dos alunos do 9º Ano.

Gráfico 3 - Gráfico de bairros de origem dos alunos por 9º Ano (9º I, 9º II e 9º III). Fonte: Dados da pesquisa.

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foram separadas 11 (onze) fotografias de diferentes paisagens urbanas

alfenenses, representando a heterogeneidade do espaço urbano pelos lugares

na cidade.

As fotografias foram enumeradas de um a dez, trazendo34 essa

variedade dialética entre espaços-lugares (Figura 5.1). A intenção em se

trabalhar com essas paisagens urbanas, numa perspectiva dialética, é a de

demonstrar, primeiro, que a cidade não é homogênea. Ela não reúne um

conjunto paisagístico idêntico e isso é observável pelos alunos em seus

cotidianos, embora muitas vezes não se questione, no dia-a-dia e na escola, os

porquês dessa diferenciação da cidade pela paisagem e pelos lugares. Por

isso, as imagens selecionadas ao oporem-se na cidade, tiveram por objetivo

fazer com que esses alunos refletissem sobre o que cada imagem desperta

neles quando eles as veem.

A proposta foi a de conduzi-los a um exercício de percepção,

identificando, por meio de suas reações, comentários e comportamentos, até

os seus conteúdos discursivos através da análise da atividade de registro

escrito.

34

1.a-) Saída do Pinheirinho (Av. Jovino Fernandes Salles), 1.b-) Saída do Jardim Aeroporto, 2.

Bar do XV (Botequim), 3. Bar do Santana, 4. Praça Getúlio Vargas (Centro), 5. Allure-Jardineira, 6. Praça do Pinheirinho, 7. Trevo’s Boutique, 8. Roupa na Feira Livre, 9. Alfenas Tênis Clube e 10. Alfenas Clube Náutico.

Figura 5.1 - Fotografias utilizadas na Prática I. Fonte: Alfenas Tênis Clube, 2011; O Melhor de Alfenas, 2015; Google Earth, 2016.

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9ºII: Nessa primeira experiência prática os alunos deveriam lidar com a

questão de expressar as suas relações com as fotografias de diferentes

paisagens-lugares de Alfenas-MG.

Durante a aula, foi muito difícil conseguir controlar o ímpeto da classe.

Antes do início da aula, foi necessário esperar quase dez minutos para que

todo o material eletrônico fosse ligado. Enquanto isso, o professor foi

realizando a chamada. Avisou-se que estaríamos dando início às atividades.

Então, com tudo pronto, as imagens começaram a serem projetadas na tela.

Pediu-se que os alunos as observassem em um primeiro momento.

Alguns alunos iam comentando ao passo que as imagens passavam.

Ao mesmo tempo, perguntava a eles:

Observem bem, vocês reconhecem esses lugares?

A maioria foi reconhecendo bem as paisagens, exceto as fotografias 1-

b (saída do Jd. Aeroporto), 5 (Allure-Jardineira) e alguns tiveram dificuldade em

reconhecer a fotografia 7 (Trevo’s). O restante das fotografias foram bastante

reconhecidas e aí surgiram algumas manifestações interessantes. Há um

sentimento de pejorar aquilo que se está relacionado a eles. Enquanto que,

aquelas paisagens conectadas ao centro da cidade ou aos bairros mais ricos,

implicaram em reações de curiosidade e admiração. Obviamente, as reações

não eram unanimes, mas caracterizavam uma generalidade no meio dos

alunos. Esse antagonismo ficou bastante claro quando as fotografias 9 (Alfenas

Tênis Clube) e 10 (Alfenas Clube Náutico) apareceram.

Primeiro, nem todos os alunos entenderam que a fotografia 9 se tratava

do Tênis Clube. Já na fotografia 10, quase todos se manifestaram, dizendo

aquela paisagem se referir ao Náutico. Mas o que chamou atenção não foi

exatamente essa questão. Quando a fotografia do Náutico Clube apareceu,

alguns alunos começaram a tirar sarro um do outro por frequentarem o Náutico:

Olha lá que povo feio! Olha só que sujeira!

Uma aluna também exprimiu sua reação dizendo:

Ah, esse lugar é nojento!

Outra, direcionando-se a um de seus colegas, diz:

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Ah lá ó ... ah lá onde você vai engolir água de xixi!

Então, para barrar qualquer avanço nos conflitos, eles foram

redirecionados a iniciar as atividades. As instruções foram passadas no sentido

deles escreverem, num papel separado, o que eles sentiam a partir de cada

fotografia que eles viam. Nesse momento, houve uma ruptura com as

piadinhas. Contudo, enquanto realizavam a atividade, pediam para que

retornasse em algumas fotografias, para que pudessem observar melhor.

Houve auxílio para que eles se localizassem sem maiores dificuldades. Porém,

quando as fotografias do Náutico passavam, surgiam algumas risadas,

colocando-os em um nível inferior. Esse foi um momento de intervenção.

Acabou que foi feita uma fala no sentido de reconduzir à análise, colocando

que as pessoas no Náutico pareciam se divertirem mais do que no Tênis

Clube. Alguns alunos criticaram o fato do pessoal levar comida no Náutico, e,

por isso, rebateu-se, questionando a eles, “E qual o problema de levar comida?

Você prefere comer e se divertir ou ficar com fome e não se divertir?”. Alguns

alunos compraram essa ideia e defenderam a opção de levar comida. A

atividade se desenvolveu de forma muito interessante e apenas um aluno não

quis participar, alegando estar cansado.

9ºIII: Os materiais foram desconectados do 9º Ano II assim que soou o

sinal. A correria foi intensa para que chegássemos ao 9º III perdendo menos

tempo possível. Entretanto, foram perdidos quase quinze minutos, uma vez que

o notebook apresentara demora a ligar.

Resolvido o problema, de mesma forma foram projetadas as imagens

e os alunos postos à observação. Nesta sala, especificamente, os conflitos

foram bem mais nítidos, muito em função de ter um aluno bastante perseguido

por alguns colegas por morar nos predinhos do bairro Recreio Vale do Sol35.

Repetindo parte do que ocorreu no 9º Ano II,

Assim como na aula anterior, os alunos apresentaram dificuldades em

reconhecer as mesmas paisagens 1-b (saída do Jd. Aeroporto), 5 (Allure-

Jardineira) e 7 (Trevo’s). Já o restante das fotografias foram reconhecidas e

também gerou discussões, sobretudo quando as fotos 2 (do Botequim) e 3 (do

Bar do Santana), 9 (Tênis Clube) e 10 (Náutico Clube). Quando as últimas

35

E talvez também pelo fato de ele ser negro, homossexual e muito pobre financeiramente.

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apareceram dois alunos entraram em confronto, pois houveram sátiras

envolvendo o aluno perseguido junto a sua frequência no Náutico:

Ih, a lá o ....... lá! Ah lá ó, o ........ sujando o Náutico!

O aluno então respondeu:

Quem disse pra você que eu vô lá? Se enxerga! Eu

sou elite, meu bem.

O outro aluno continuou respondendo:

Aah, que elite...elite...cê mora nos predinhos e quer

falar que é elite...

Nisso, o aluno retrucou, se defendendo e dizendo a seu colega em tom

alterado:

Eu sou lindo, maravilhoso e quem mora nos predinho

também! Cala a boca!

Antes que a sala inflamasse, foi feita uma intervenção para frear os

ânimos exaltados. O que não foi fácil. Parte da sala quis incentivar essa

violência, entretanto, com a ajuda do professor regente, que chamou a atenção

para a atividade, retornou-se a uma situação mais tranquila. Então, pediu-se

que os alunos olhassem com bastante atenção as fotografias e anotassem em

uma folha o que sentiam sobre cada paisagem. Disse que, embora o aluno

(que estava agindo violentamente sobre o outro) visse o Náutico como um

lugar sujo e ruim, poderia haver outros que iriam gostar. Parte da sala deu

risada, entretanto foi mantida a postura séria, para não reafirmar nenhum tipo

de preconceito. Os lugares não reconhecidos pela sala foram reconhecidos

com suporte do professor regente e do próprio estagiário. Dessa forma, a

atividade foi realizada e todos participaram do processo.

9ºI: O tempo perdido até o início da aula no 9º Ano I foi maior ainda

que nas outras duas salas. Até arrumar os equipamentos, a sala estava

bastante dispersa. Alguns alunos foram até a lousa, ficaram rabiscando e

escrevendo nela enquanto as coisas se aprontavam.

Isto pronto deu-se início a aula com quase vinte minutos de atraso. Aos

poucos a sala foi se organizando. A porta foi fechada, para evitar distrações e,

novamente, os alunos foram colocados na posição de observar as fotografias.

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Assim como nas outras salas, essa nova forma de ensinar-aprender despertou

curiosidade. Um certo silêncio denotou o interesse deles em reconhecer

aquelas fotos. Muitos foram comentando que conheciam os lugares, enquanto

as fotos passavam. E, mais uma vez, ao aparecer a fotografia do Náutico, a

sala gargalhou.

Nesse momento, o professor regente fez uma intervenção.

Perceberam aqui, gente? Olha só que curioso, aqui...como se diz, aqui é o clube dos, como se diz, pobre...aqui (projetando a imagem do Tênis Clube) é o clube dos rico, dos bacana! Cês vê que a água aqui (no Tênis Clube) é transparente, é tudo limpinho, organizadinho...agora olha aqui no Náutico. A água tá até amarela.

A intervenção do professor causou algum desconforto pessoal e se

demonstrou deveras desnecessária. Embora ela tocasse nessa diferença, a

sensação foi a de que ela reforçou alguns estereótipos e acabou colocando os

alunos numa condição de inferioridade, o que não era objetivo da prática.

Nesse mesmo momento, acabei intervindo, buscando reconduzir os rumos da

atividade:

Então, pessoal, o importante é vocês observarem o que vocês sentem sobre esses lugares. Falem o que vocês acham sobre eles, se vocês já foram, se vocês acham legal, divertido, o que vocês fazem quando vão lá. Caso vocês ainda não tenham ido, coloquem que ainda não foram, mas gostariam de ir, ou não, não gostariam de ir, enfim...entenderam? Qualquer dúvida, vocês me chamem na carteira que eu vou até vocês. Vou deixar as fotos passando aqui.

O comportamento e as reações dos alunos durante a aula indicou em

partes o que haveriam de responder. Foram identificados nos discursos e

reações, dois tipos de espaços: os espaços de pertencimento e rejeito; e os

espaços de não-pertencimento e desejo.

Em síntese36, os espaços como saída do Pinheirinho (1A), Bar do

Santana (3), Praça Getúlio Vargas (4), Praça do Pinheirinho (6), Feira-Livre (8)

e Náutico Clube (10), foram os lugares tidos como mais comuns tanto em

pontos de fluxo como no sentido de apropriação desses espaços, sendo

portanto espaços de pertencimento e rejeito. A Praça Getúlio Vargas, no

36

São muitas (para não falar todas) as respostas profundas e interessantes a explorar. Por isso, para não delongar ainda mais esse trabalho, optou-se por fazer um resumo das respostas. Todas as respostas podem ser lidas nos Apêndices (E, F e G).

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Centro de Alfenas-MG provocou reações de boas lembranças e de eleição

como lugar onde são desenroladas relações de lazer aos fins de semana.

Curiosamente, a Praça do Pinheirinho, praticamente ao lado de onde moram,

foi parte negada como espaço de lazer (por alguns alunos) e parte considerada

como espaço de lazer (por outros), produzindo uma questão importante: Por

que a praça perto da casa deles é pior que a praça que fica longe? Por que

precisam se deslocar quatro quilômetros para se divertirem, sendo que

poderiam fazer isso a cem metros de onde moram? Mesmo que distantes, os

estabelecimentos (principalmente) mais seletivos são adjetivados

positivamente, enquanto que os espaços mais próximos são referenciados num

sentido negativo. Ou seja, ficou bastante claro que a periferia pobre produz

olhares preconceituosos sobre si mesmos e seus espaços de pertencimento,

fragmentando-se em detrimento de uma consciência de cidade capitalista que

indica como modo de vida ideal, aqueles que consomem nas mesas externas

dos barzinhos bem quistos, vestindo camisas polo Ralph Lauren ou Lacoste,

bolsas da Louis Vitton ou Chanel, saltos altos e maquiagens caras, tirando

selfies com um iPhone 6 – mesmo que seja parcelado no crediário em 12x,

esbanjando status em frente à praça pública, deliciando porções de petiscos,

bebidas e pratos principais que somados podem chegar a custar o mesmo que

o total que muitas famílias no Pinheirinho ou no Santa Clara ganham no mês.

São questões que aparecem também na contraposição aos espaços de

não-pertencimento e desejo. São eles as fotografias 2 (Botequim), 5 (Allure-

Jardineira) e 9 (Tênis Clube). A maioria manifestou não conhecer ou nunca ter

ido a esses lugares e, ao mesmo, o desejo de frequentarem, colocando ou o

preço ou a distância como barreiras que os afastam desse tipo de consumo.

Isto é, não se trata apenas de uma separação espacial. Mas é também essa

separação uma seleção de quem vai consumir a cidade, engendrando limites

àqueles que estão à margem. De forma geral, as respostas dos alunos do 9º

Ano III se apresentaram bastante semelhantes com a dos alunos do 9º Ano II.

Os espaços do Bar do Santana, a Praça do Pinheirinho e o Náutico simbolizam

pertencimento e rejeito. Embora alguns alunos manifestem uma relação de

topofilia com esses espaços, as opiniões vão ao sentido mais da visão que os

espaços mais abastados são melhores, mesmo que eles não pertençam a eles.

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Nesse sentido, ficou bastante claro que o desejo de consumir a cidade

existe. É nítida a sensação de afastamento das condições na cidade que eles

têm. Os alunos, desde suas profundas respostas até a forma como

participaram, acabam materializando vontades e indagando diferentes

situações que as pessoas (as classes) têm na cidade Os espaços de

pertencimento continuam sendo rejeitados por uma consciência de qualidade,

que põe como referência justamente os espaços de não-pertencimento como

objeto de desejo.

Enquanto essa parcela, movida pela ideologia capitalista, quer se

inserir em um padrão de consumo, para incluir-se num estrato social mais alto

(mesmo de uma classe média que se ache elite), ela enxerga, ao mesmo

tempo, suas contradições. Alguns alunos colocaram que sua mãe ou algum

parente trabalha/trabalhou num desses espaços. Isso significa dizer que, esses

espaços definem-se como uma chuva bastante difusa de representações. Por

um lado (para uma classe), esses espaços de pertencimento retratam o

consumo, a satisfação e a reafirmação de uma imagem, um status de poder

social. De outro, esses espaços de não-pertencimento são recebidos como

oferta de trabalho, meio de sustento para sobreviver na cidade.

Neste cenário, pode-se afirmar que essa primeira prática se revelou

muito interessante na sua proposta de delimitar as percepções que os alunos

têm de si mesmos no contexto da cidade. Os diferentes discursos sobre os

lugares enunciaram provocações constantes entre os próprios alunos. A

dialética entre os lugares da cidade despertou, no profundo de cada um,

reações e emoções distintas. Algumas mais violentas e preconceituosas,

reafirmando a natureza de estranhamento e agressividade que existe entre

eles, como produto da negação de uma consciência, outras, mais conformistas

e autoflageláveis, como efeito da aceitação de uma consciência, mas numa

postura nociva, que os coloca como num lugar de inferioridade perante aqueles

que possuem as melhores condições de consumo na cidade.

É a ideologia da sociedade do consumo, da sociedade educada para

querer consumir, mesmo que ela pertença a uma camada que pouco pode

participar desse estilo de vida. O público não presta e deve ser sucateado,

subutilizado, pois o que vale à pena ser consumido é aquilo que é vendido,

aquilo que é privado. A oposição do público e do privado é justamente a

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substituição do valor de uso pelo valor de troca. O que profundamente

interessa ao capitalista. Assim seleciona-se quem tem direito ao lazer, não

pelos valores de humanidade, assegurando os direitos humanos. A dose de

humanismo aqui é tão rasa que não mata a sede nem de uma formiga. Na

cidade capitalista o direito ao lazer é, na verdade, proporcional à capacidade de

consumir.

5.4 Por que a cidade é diferente? Introdução à formação dos

bairros – Prática 2

Após levar os alunos a refletirem sobre a diferença da cidade, a

segunda prática se propôs em afinar mais sobre os antagonismos no/do

espaço urbano por meio do processo que originou essa diferenciação do

espaço e dos lugares na cidade. O principal instrumento dessa aula foi o

material cartográfico elaborado mediante pesquisa com base em imagens de

satélite, carta topográfica e a leitura técnica da cidade de Alfenas-MG, bem

como outras pesquisas sobre o tema produzidas por ex-alunos da Geografia-

Unifal-MG.

Os produtos cartográficos Mapas da expansão urbana de Alfenas-MG,

de 1970 -2016 e Mapa da rede viária arterial da cidade de Alfenas-MG, 2016,

foram levados em cópia física para a sala de aula, juntamente com todo o

material (datashow, tela com suporte e extensão) que fora agendado

previamente com a equipe escolar. O uso dos produtos cartográficos servira

como instrumento de sintetização diante o processo que estávamos iniciando a

abordar. Explicar a expansão urbana de Alfenas-MG com textos e ou

esquematizações na lousa seria também possível. Entretanto, esse método

levaria muito mais tempo, deixaria um espaço muito grande para prováveis

confusões, além de desgastar o processo de ensino-aprendizagem, dando

margem à desatenção por parte de um público já farto de aulas monótonas,

repleta de textos e monólogos.

Além de levar esses mapas e utiliza-los na prática, foi importante

também entregar a cada aluno (a) o material síntese da evolução urbana de

Alfenas-MG no período que estávamos trabalhando, para que eles pudessem

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acompanhar com mais facilidade o tema que estávamos a tratar. Foram

colocados cinco quadros, cada um representando uma mancha da evolução

urbana de Alfenas-MG, aproveitando o material reunido durante a elaboração

dos mapas, e adaptando-o a uma amostra mais simplificada, mostrando a

mudança da forma urbana em cada quadro. Os alunos teriam que responder,

com essa folha a três questões: 1) Localize (marcando com um “x” um ponto ou

circulando) o bairro em que você mora. 2) Em que década ele surgiu? 3) Ele

fica perto ou longe do centro? Por que?

Neste sentido a proposta da aula foi a de primeiro mostrar as manchas

urbanas de Alfenas-MG sem qualquer identificação (título, legenda, etc.) na tela

do datashow, para instigar os alunos a entenderem de que se tratava aquilo e

começar a lançar uma análise cartográfica. Após a exposição, a ideia foi a de

proporcionar o contato direto com o mapa físico impresso, com todos os

elementos que o compõe (norte geográfico, título, legenda, escala, grid de

coordenadas, encarte de localização), auxiliando numa leitura correta de um

mapa, bem como na familiarização com o instrumento de análise espacial.

Num terceiro momento, foi entregue a cada aluno na sala de aula o material

didático com a evolução urbana de Alfenas-MG, para que realizassem a

atividade na aula, localizando onde, quando e como o bairro em que ele mora

surgiu. A atividade, portanto, seguiu nessa tentativa de utilização do mapa

como forma de linguagem somada a introdução da formação socioespacial dos

bairros locais, com o objetivo de enxergar os bairros no contexto da cidade.

9ºII: Demos continuidade às práticas da aula passada. Como a sala

correspondeu bem na primeira aula, mesmo com aqueles dez minutos perdidos

para arrumar os aparatos trataram de ir à sala durante o intervalo e ir

adiantando o arranjo dos equipamentos. Desta forma, quando os alunos

chegaram para a aula, estava tudo pronto para que pudéssemos começar. O

professor regente, mesmo assim, acabou atrasando alguns minutos para o

início da aula e, mesmo antecipando à aula, perdemos cinco minutos.

Então, com pouca dificuldade para controlar a sala, que estava curiosa

para saber de que se tratava a mancha na tela, foi lançada uma pergunta a

eles:

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- E aí, pessoal, o que é isso? Alguém pode me dizer?

– disse apontando para a imagem.

Alguns alunos começaram a arriscar, enquanto a mancha de Alfenas-

MG em 1970 mudava para a mancha de Alfenas-MG em 1980 e assim por

diante, até 2016. Eles chutavam dizendo que era o Brasil, que era São Paulo.

Alguns se limitaram a dizer que era uma cidade (o que estava correto). Nesse

sentido, buscava instiga-los mais ainda dizendo: “Será que é o Brasil?”, “Por

que?”. Quando perguntava os porquês eles não sabiam justificar,

demonstrando que, embora não soubessem ao certo sobre o que era, tinham

interesse em descobrir e, pelo menos, tinham a noção de que era a

representação de algum espaço. Em meio a esses chutes, uma aluna disse

que a imagem era Alfenas-MG, mas também não soube responder porquê era

Alfenas.

Então, os alunos foram relacionando o fato de que estávamos tratando

sobre Alfenas-MG e então prosseguimos ao próximo passo. Pedi então que

eles voltassem a observar e perguntei:

- Certo, é Alfenas! Mas o que tá acontecendo aqui? O que que tá mudando na imagem?

Os alunos começaram a falar ao mesmo tempo e ficou difícil interpretar

quais eram suas opiniões. Pedi que apenas um falasse apontando o dedo.

Uma aluna disse: “Ela tá crescendo!”. Outra aluna acrescentou: “Ela tá evoluindo!”.

Concordei com elas e persisti na problematização, perguntando:

- Como vocês sabem que tá crescendo?

Os alunos justificaram o crescimento dizendo que a cidade estava

ficando maior com o passar do tempo. Um aluno apontou que os anos estavam

passando (deixei a década na parte inferior direita) e a cidade ia crescendo. A

sala então conseguiu enxergar a complementaridade de tempo-espaço e como

a cidade é dinâmica, tendo a noção de que o espaço é mutável.

Logo, seguimos com o objetivo de buscar nos localizarmos. Pedi para

que os alunos que moram no Pinheirinho me mostrassem em que lugar

naquelas imagens eles moravam. Fui passando da década de 1970 e

perguntando:

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- Aonde está o Pinheirinho? Vocês conseguem achar onde ele está? Quem pode me mostrar?

Um aluno apontou que o Pinheirinho estivesse ao norte de Alfenas-MG

na década de 1970, o que está errado, pois o bairro surge na década de 1980,

a Oeste. Entretanto, a maioria dos alunos não opinaram. Em 1980, a sala

começou a se dividir. Uns alunos indicaram que o Pinheirinho estivesse onde

fica a Vila Betânia. Outros apontaram pro Sul, e três alunas apontaram para a

mancha isolada do Pinheirinho, acertando. Incitei os alunos perguntando

enquanto apontava com o dedo:

- Quem acha que está aqui no Sul da cidade levanta a mão! – poucos levantaram.

- Quem acha que está aqui (na Vila Betânia) levanta a mão! – a maioria levantou, embora tenha aumentado o número de discordantes.

– E quem acha que está aqui (apontando para o Pinheirinho) levanta a mão! – alguns levantaram.

Confirmei que estes últimos estavam certos e houve um brado de

comemoração, o que demonstrou interesse pela atividade e o sentimento de

estar certo. Esses momentos pouco ocorreram durante as aulas do professor

regente, dentro desse período que passei estagiando na escola. Então,

aproveitei que a sala havia localizado o Pinheirinho e perguntei sobre o Santa

Clara e o Recreio. Um aluno se levantou e mostrou com o dedo, dizendo:

- O Recreio é esse aqui que tá em cima do Pinheirinho, ó! A avenida ali em cima passa aqui (mostrando o percurso da avenida).

Surpreendi-me com a indicação dele e perguntei pra sala se eles

concordavam. Alguns titubearam, outros timidamente concordaram,

demonstrando não muita certeza. Um aluno, que já havia se destacado na

primeira aula com uma advertência quanto ao nome de seu bairro, defendendo-

o, perguntou:

- Ué, cadê o Santa Clara?

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Passei para a década de 1990 e ele, juntamente com a sala, localizou

o início da formação do “corredor”37.

Nesse meio tempo, surgiu uma pergunta de uma aluna:

- Por que que o Pinheirinho nasceu longe da cidade?

A pergunta foi muito importante pois tocou no ponto central do

entendimento do processo em nossa atividade que era mostrar a questão da

segregação socioespacial e como nasceu o bairro. Então, disse que a pergunta

era muito importante e devolvi a pergunta pra sala, para que eles não

dispersassem38. Alguns disseram que é porque o bairro era excluído, outros

tiveram bastante dificuldade em expressar alguma opinião. Disse a eles que

iríamos retomar isso mais a frente, mas que era importante eles prestarem

atenção nessa pergunta. Aproveitando este momento, mostrei que não só o

Pinheirinho estava afastado. Indiquei que havia outra mancha a Oeste isolada

da cidade. Os alunos não conseguiram identificar. Alguns falavam que era o

“buraco quente”, tentando correlacionar às duas situações em um mesmo

contexto, além de a distância ser compatível. Entretanto, mostrei a eles que ali

era o Jardim Aeroporto.

Então, para não perder muito tempo, tratei de pegar os mapas

confeccionados e trabalhar com eles melhor a localização na cidade. Coloquei

o mapa de evolução urbana em cima de duas carteiras e pedi para que se

aglomerassem a minha volta para lerem junto comigo. Os alunos se mostraram

bastante atenciosos e empolgados, enquanto fui repassando como se lê um

mapa39. Após trabalharmos com o mapa de evolução urbana, mostrei-lhes o

mapa de rede viária, repetindo todo o processo metodológico, buscando

facilitar a localização dos bairros. Os alunos se apropriaram bastante do mapa

e localizaram os bairros em que moravam a partir do Pinheirinho. Eles fizeram

37

Alguns diziam “Ah lá o corredor”. E o aluno retrucava: “Que corredor! Tá tirando! É Santa Clara!”. 38

As salas se dispersam com grande facilidade. Por isso foi necessário trabalhar o tempo todo com perguntas e respostas, numa interação direta com eles. 39

Mostrei os procedimentos de primeiramente ler o título, pedindo para que um aluno lesse para nós. Depois, apontei para o encarte de localização, para mostrar onde estávamos em relação ao Brasil e Minas Gerais. Então, mostrei a legenda, correlacionando-a com o conteúdo mostrado no mapa. Expliquei sobre o norte geográfico, introduzindo os outros pontos cardeais, perguntando em qual direção estávamos até eles identificarem que localizávamos na porção Oeste.

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a correlação da Av. Jovino Fernandes Salles com o bairro e o mapa,

localizando então a avenida. Alguns comentavam que sempre pegavam a

avenida para ir ao centro da cidade. Aproveitei o momento para mostrar até

onde a avenida ia. Depois desse momento, pedi para que todos se sentassem

em suas carteiras para que fizéssemos a atividade, que era justamente a de

localizar o bairro em que eles moravam e perceber se eles haviam

compreendido o tempo em que ele havia se desenvolvido e se ele era próximo

ou distante do centro de Alfenas-MG. Foi entregue uma folha para cada um e

eles responderam as perguntas propostas (Figura 5.2).

9ºIII: Na correria para organizar o material recolhido, desconectar os

cabos, pegar os equipamentos e transporta-los até a sala 09 (ao lado), já

deduzi que alguns minutos haveriam de ser perdidos. Entretanto, como é via de

regra na escola, alguns alunos ficaram pra fora, para conversar com outros

colegas ou terem menos tempo de aula. Todo esse tempo de organização

levou pouco mais de dez minutos e isso fez com que tivesse de otimizar o

tempo para poder tratar dos temas, porém, sem perder a profundidade. Iniciei a

aula repetindo os procedimentos da aula anterior, mostrando o slide com a

mancha urbana de Alfenas em 1970, sem qualquer dado ou informação, exceto

a década. Os alunos tiveram uma reação semelhante aos do 9º2, tendo

Figura 5.2 - Exercício de um dos alunos do 9º Ano II, morador do bairro Recreio Vale do Sol. Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

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bastante curiosidade em saber o que era. Nessa sala, os alunos estavam um

pouco mais tímidos e isso fez com que eles apresentassem uma dificuldade

inicial um pouco maior no exercício de identificar o que era aquela imagem no

slide. Após um momento de relutância, um aluno acabou dando um palpite

dizendo que aquela mancha era Alfenas-MG. Outros alunos acabaram

entrando no mesmo palpite que ele e também arriscaram dizer que aquele

imagem era Alfenas-MG. Devolvi a pergunta pra sala e a maioria concordou

que era Alfenas-MG. Nesse momento, aproveitei que eles estavam se

familiarizando e prossegui confirmando que se tratava de Alfenas-MG. Os

alunos estavam bastante curiosos e uma aluna acabou perguntando:

- Por que tá tendo essas cor diferente, aí?

Então eu pedi para que eles observassem com atenção a década que

estava sendo marcada no canto inferior direito e expliquei que as cores se

referiam a cada década, variando do amarelo mais claro para o vinho, sendo a

parte mais antiga para a parte mais recente da cidade, respectivamente. Como

essa não é uma prática comum deles, decidi pegar o mapa e mostrar a eles,

abrindo numa mesa no centro da sala. Repeti os procedimentos de leitura do

mapa. Mais uma vez todos foram até a mesa e se envolveram com a atividade.

Alguns ainda me fizeram perguntas sobre a confecção do mapa, se eu havia

feito, se na faculdade os alunos fazem mapas, demonstrando um grande

interesse deles pela expressão cartográfica. Foi um momento ímpar da

atividade como um todo. A utilização da legenda para explicar o avanço da

cidade se mostrou uma grande ferramenta nesse processo de análise da

evolução urbana. Então, expliquei o avanço de Alfenas com esses aparatos.

Em termos de localização, o mapa da rede viária arterial se mostrou

eficiente, pois a maioria dos alunos se localizaram pela Avenida Jovino

Fernandes Salles. Eles conseguiram encontrar o Pinheirinho e o Recreio, mas,

diferentemente das outras salas, eles identificaram os bairros através da

avenida e da morfologia do Santa Clara. Um aluno, em tom de deboche e

surpresa, disse: “Aaah! Olha aqui o corredor! (risos)...é aqui, professor? É essa

tripinha?”. Confirmei que ali era o Santa Clara e então eles foram apontando no

mapa dizendo, todos ao mesmo tempo (tornando difícil a compreensão até),

“Então aqui é o Pinheirinho?”, “Aqui é o Recreio!”, “Cadê os predinhos?”. Um

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aluno em especial identificou todos os bairros locais e até arriscou dizer aonde

ficaria a sua casa. Outros alunos perguntaram onde ficava o “buraco quente”.

Mostrei onde ficava o “buraco quente” para eles no mapa e alguns disseram

“Que louco! É longinho, hein?”, “Aaah...pode crer! Ué, mas lá tem um rio?”,

demonstrando interesse e certa dúvida quanto ao lugar, uma vez que eles não

enxergam esses rios que tem na cidade (porque será?). Explicou-se a noção

de sentido e orientação através do Norte do mapa e de onde estávamos.

Pediu-se que os alunos abrissem os braços para demarcar alguns

direcionamentos espaciais, no exercício junto ao mapa. Eles tiveram

dificuldade e em saber onde o sol nasce. Um aluno disse:

- Eu acho que o sol vem de lá...do centro (disse

apontando o dedo para Leste)!

Assim, a partir dessa observação, prosseguimos para identificar o

Oeste, o Norte e o Sul. Obviamente, o tempo da atividade não permitia

aprofundamentos importantes para o exercício de localização e orientação,

entretanto, para a atividade em si, era importante saber onde ficavam seus

bairros dentro de Alfenas-MG. Logo após essa atividade, entreguei os papeis

com a evolução urbana de Alfenas-MG e eles começaram o exercício de

localização espacial-temporal (Figura 5.3)40.

40

Neste exercício a aluna não teve dificuldades em localizar seu bairro. Poucos alunos nesta sala tiveram dificuldades em localizar os bairros, uma vez que através da construção da aula os alunos os identificaram.

Figura 5.3 - Exercício de localização, aluna do 9º Ano III, moradora do Pinheirinho. Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

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9ºI: No 9º1 a atividade se apresentou um pouco mais complicada por

alguns motivos. Primeiro, se tratava da última aula e boa parte da escola

estava sendo dispensada, gerando alvoroço na classe. Segundo, o transporte

do material atrasou, pois o funcionário encarregado estava ocupado em outra

tarefa. E, por último, o professor regente estava conversando e brincando com

alguns alunos na porta da sala, o que dificultou numa organização tanto do

material como dos próprios alunos.

Isso posto, já haviam sido perdidos quase quinze minutos com a

organização e então começamos a aula da mesma forma que nos outros 9ºs.

Mesmo com a confusão inicial (e com certa dificuldade), consegui prender a

atenção deles fazendo a mesma pergunta sobre os slides:

- E aí, galera...vocês saberiam me dizer o que é isso

aqui (apontando para a imagem)?

Então os alunos começaram a sugerir várias respostas, assim como

nas outras aulas. Também, de mesmo modo, eles conseguiram inferir que se

tratava da cidade de Alfenas-MG. Nessa sala a identificação foi mais rápida e a

maioria concordou que se tratava de Alfenas. Os que não concordaram tinham

dúvidas e não arriscaram um palpite. Depois de confirmar que se tratava de

Alfenas-MG, pedi a eles um instante para observar o processo de evolução

urbana. A sala estava bastante agitada e todos queriam falar. Além disso,

nessa sala, o professor regente buscou ajudar no processo. Entretanto, a ajuda

acabou fugindo um pouco do assunto da aula, uma vez que o professor faz

explicações desembocando em outros temas que não necessariamente se

tratam do que especificamente a aula se propõe a tratar41.

De uma forma sutil tratei de retornar ao assunto central da aula,

pedindo para que os alunos olhassem a mudanças das décadas e reparassem

o que ocorria com a mancha urbana de Alfenas-MG. Os alunos observaram e

41

Na hora em que os alunos estavam tentando localizar Alfenas-MG, um aluno indagou na

década de 1970: “Nossa, mas Alfenas-MG era desse tamanho?”. Quando eu ia explicar, o professor regente pediu permissão para explicar. Entretanto, a explicação do professor acabou indo parar em uma história dele quando era jovem em uma das propriedades rurais de Alfenas na época.

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começaram a dizer: “Tá ficando maior!”, “Tá crescendo”, “Ela tá evoluindo”, etc.

Então expliquei que a cidade vai mudando com o tempo, que ela vai

crescendo, que vai ficando maior. Depois disso perguntei a um aluno em qual

bairro ele morava. Ele me disse que morava no Recreio Vale do Sol. Nesse

sentido, pedi para que eles me dissessem onde ficava o Recreio. Uma aluna

disse que ficava “embaixo”. Apontei o dedo para o Sul e perguntei se era ali.

Outra aluna disse que não, que era “mais pra cima e pro lado” (a Noroeste,

próximo a Vila Betânia). Já outro aluno disse que era onde fica o Aeroporto (a

Leste) e outro, onde fica Vista Grande. Nesse tempo, três alunos sentados no

fundo da sala, um dos mais bagunceiros e que geralmente não vão bem nas

atividades do professor regente, enquanto passavam as imagens, conseguiram

identificar o Santa Clara. Um aluno disse:

- Ah lá o Santa Clara começando ali! Lá no final lá longe da

cidade (risos).

Aproveitei a manifestação e perguntei pros alunos se ali era mesmo o

Santa Clara e os alunos não arriscaram muito. O aluno lá do fundo voltou a

opinar, dizendo: “Tô falando que é o corredor, pô! Não é professor?”. Eu

confirmei que era o Santa Clara e houve uma comemoração explosiva, um

tanto quanto engraçada42.

Depois disso, foi pedido que os alunos identificassem o Recreio Vale

do Sol. Esse mesmo aluno se encarregou disso. Levantou-se de seu lugar,

andou até a tela dos slides e apontou o dedo exatamente onde ficava o

Pinheirinho e depois apontou o dedo para onde ficava o Vale Verde (pensando

que era o Recreio). Disse que não era ali e ele logo colocou o dedo ao Norte do

Pinheirinho e confirmei que ele estava certo. Depois ele mesmo foi falando

“Aqui é o Alvorada, o Boa Esperança!”, acertando a localização desses bairros

também. Esse momento foi bastante curioso e demonstrou que, embora ele

não estivesse próximo dali, estava bastante ligado à atividade. Ele voltou a seu

lugar se sentindo importante no processo, enquanto alguns alunos

exclamavam, com surpresa: “Ôh louco! O cara acertou tudo!”.

42

As comemorações foram muito frequentes quando os alunos acertavam alguma pergunta.

Mais ainda quando as opiniões se dividiam. O fato que mais chamou atenção nisso foi o de que os alunos buscavam responder quase todas as perguntas todos ao mesmo tempo. Será que há alguma carência no sentido de fomentar a participação deles durante as aulas?

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Então, aproveitando, peguei os mapas e os abri na mesa para que

todos pudessem vê-lo. Repeti a leitura do processo da evolução da cidade,

confirmando o lugar onde os bairros estavam. O mapa de rede viária arterial

veio para reforçar e então o utilizei como meio de orientação, através das

avenidas, explicando que quando o aluno se locomove pela Jovino em direção

ao centro, para o Jd. Aeroporto ou para a Estrada para Fama-MG, ele está indo

para Leste; já quando ele volta do centro pra casa, ele está vindo para Oeste;

quando ele se locomove pela Gov. Valadares, para Vista Grande ou para a BR-

389, ele está indo em direção ao Norte; e quando ele sai da Vista Grande e vai

para o Centro, ele está indo para Sul. Os alunos demonstraram certa

dificuldade em abstrair esse exercício de localização, demandando alguns

minutos a mais de análise junto ao mapa. Depois de mais explicações e

conversas, contudo, conseguiram se localizar apontando o que ficava a Oeste.

Então, pedi que eles se sentassem em seus lugares e prestassem atenção nas

explicações finais da aula. Utilizei os slides para mostrar mais uma vez o

surgimento do Pinheirinho, do Recreio, do bairro Santa Clara e dos outros

bairros e muitos alunos comentavam que os bairros surgiram longe da cidade,

identificando também a questão da distância. Como o tempo estava acabando

e iríamos tratar da questão da distância do bairro depois, decidi explicar

apenas a correlação das cores com o surgimento das áreas na cidade e

reforçar a localização dos bairros nesse processo. Os alunos receberam a

atividade (Figura 5.4) e finalizaram a aula respondendo-as. Alguns ainda me

chamaram na carteira para ajuda-los a tirar alguma dúvida sobre localização.

Figura 5.4 - Exercício de localização, aluna do 9º Ano III, moradora do Santa Clara. Fonte: Arquivo pessoal, 2016.

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A maior parte dos alunos conseguiu realizar a atividade, embora alguns

tenham apresentado dificuldades, pela falta de familiaridade com o conteúdo.

sem muita dificuldade. Em todas as salas foi necessária a intervenção na

carteira para auxiliar na localização e repetir várias vezes a explicação com o

uso dos mapas e slides. Alguns alunos apresentaram grandes dificuldades em

desenvolver algum raciocínio mais crítico nas respostas à última questão.

Talvez isso tenha ocorrido porque ainda não havíamos trabalhado as questões

de ordem processual que desencadeou o contexto daquele espaço, sendo

essa aula uma introdução à formação socioespacial dos bairros no contexto da

cidade.

5.5 A mudança dos bairros no tempo e a especulação imobiliária –

Prática 3

Para esta prática, após avanço nas questões que envolvem o

desenvolvimento do espaço urbano de Alfenas-MG e termos atingido grande

êxito no exercício de identificar o contexto e localizar os bairros locais, partiu-se

para a etapa de compreensão da mudança espacial sofrida nos bairros graças

ao processo da especulação imobiliária. Por isso, teve-se a ideia de utilizar

algumas imagens de satélite que representassem o crescimento da cidade,

complementando o trabalho que o mapa havia feito nas aulas anteriores

(Figura 5.5).

Figura 5.5 - Imagens de satélite mostrando o aumento da mancha urbana, 1984 (A), 1994 (B), 2004 (C) e 2011 (D). Fonte: Landsat-5 e Landsat-7.

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As imagens foram geradas por um satélite de resolução média

Landsat-5 (1983,1994 e 2004) e Landsat-7 (2011) baixadas no site da USGS e

processadas no ILWIS 3.0, numa composição falsa cor 5(R), 4(G), 3(B) sendo

recortadas de modo que pudesse ser analisado o crescimento da mancha

urbana. A coloração magenta para a mancha urbana, de textura rugosa,

sobressai-se ao panorama geral da imagem, sendo, portanto, essa

composição, interessante para uma análise preliminar dos diferentes usos e

classificações do solo. Como Alfenas-MG está em um cenário eminentemente

rural, é interessante fazer esse contraponto com o conteúdo urbano por meio

das imagens de satélite. Além disso, familiarizar os alunos com esses

instrumentos de ensino-aprendizagem (tão importantes na prática geográfica e

geopolítica em nosso tempo) é importante, pois insere novos olhares ao

conteúdo geográfico escolar e possibilita uma curiosidade em buscar mais

sobre essa diferente forma de lançar uma observação ao espaço.

Selecionando um maior nível de detalhe e traçando um perfil de escala

e multitemporalidade, o espaço urbano foi recortado ao nível dos bairros dos

alunos. Foram selecionadas treze imagens de satélite geradas pelo Landsat-5

e disponíveis no ícone “Imagens históricas” do software Google Earth, desde

2003 até 2014. Pinçou-se um conjunto temporal, totalizando treze imagens,

sendo quatro do bairro Pinheirinho (2003, 2009, 2011 e 2014) (Figura 5.6),

quatro do bairro Santa Clara (2003, 2009, 2011 e 2014) (Figura 5.7), três do

bairro Recreio Vale do Sol (2003, 2011 e 2014) (Figura 5.8) e duas do Jardim

Alvorada e Boa Esperança (2003 e 2011)43 (Figura 5.9). A ideia foi exatamente

mostrar aos alunos o avanço temporal dos bairros que eles moram. Mostrar

como o espaço vai mudando rapidamente, como ele é dinâmico e, para isso,

eles deveriam identificar as casas surgindo, os loteamentos e etc.

43

Os bairros apresentam diferenças na quantidade de imagens selecionadas em função da qualidade da imagem, seja por resolução insuficiente ou por interferência atmosférica.

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Figura 5.6 - Evolução do bairro Pinheirinho (2003, 2009, 2011 e 2014). Fonte: Google Earth.

Figura 5.7 - Evolução do bairro Santa Clara (2003, 2009, 2011 e 2014). Fonte: Google Earth.

Figura 5.8 - Evolução do bairro Recreio Vale do Sol (2003, 2011 e 2014). Fonte: Google Earth.

2003 2009

2011 2014

2003 2009

2011 2014

2003 2011

2014

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Após essas explanações, que serviram como preparação para tratar

sobre a mudança espacial-temporal dos bairros, numa escala 1:5.000, que

possibilita a identificação do surgimento de novas casas e loteamentos, seguiu-

se com a problematização da ideia da especulação imobiliária, trazendo aos

alunos a ideia de que na cidade capitalista, o seu crescimento se dá, entre

outras coisas, em função da valorização da terra e da escolha de espaços para

atender os investimentos e interesses financeiros de uma classe hegemônica,

separando os espaços da cidade em múltiplos níveis, selecionando onde o rico

vai viver e onde o pobre vai (sobre)viver.

9ºII: Seguindo com as atividades no 9º2, tivemos o mesmo obstáculo

com o tempo, já que utilizaríamos mais uma vez as ferramentas tecnológicas.

Entretanto, como esse problema tinha se apresentado antes, o funcionário da

escola auxiliou antes da aula começar fazendo com que perdêssemos menos

tempo. A atividade se iniciou com as imagens de satélite sendo processadas

na tela, apenas com o ano correspondente à imagem. Os alunos tiveram que

identificar o que era e então, alguns começaram a arriscar. Uma aluna

comentou que parecia com “micróbios”. Outros ficaram apenas observando,

talvez estranhando as cores bem ressaltadas, o que dificultava a identificação.

As imagens foram passando e os alunos não conseguiram identificar do que se

tratava. Então, fiz uma intervenção e expliquei que eram imagens de satélite.

Fiz uma breve introdução em como funciona a geração de imagem de satélite e

disse que aquelas imagens eram captadas por um tipo de câmera chamada

sensor, grudada no satélite que ficava bem lá no alto, e que passa aqui em

Alfenas-MG a cada quinze dias, gerando imagens desde a década de 1980.

Utilizou-se as imagens para recapitular com eles que a cidade cresce, e como

eles não são familiarizados com tal instrumento, a escolha se deu no sentido

Figura 5.9 - Evolução do bairro Alvorada e Boa Esperança (2003 e 2011). Fonte: Google Earth.

2003 2011

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de apresenta-los, reafirmando sua importância na Geografia contemporânea,

além de possibilitar o retrato da expansão urbana de Alfenas-MG, trabalhado

na última aula em forma de mapa. Os alunos demonstraram curiosidade,

fazendo perguntas sobre o porquê daquelas cores estranhas. Respondeu-se

de forma bem simples, que o satélite “enxerga” tudo em preto e branco e um

programa de computador especial consegue mudar as cores, para que seja

possível diferenciar bem a cidade da represa, a represa das plantações, as

plantações das matas nativas e etc. Entretanto, voltando à análise central, foi

mostrado, ao longo das décadas, como a mancha urbana de Alfenas-MG

aumentou, enfatizando que o espaço urbano é dinâmico em função do tempo.

Ele se modifica, se reestrutura. Ou seja, a cidade não é concebida como

produto estático, ela é passível de modificações que se fazem em constância.

Nesse sentido, os alunos foram observando tal mudança, numa escala da

cidade de Alfenas-MG e parte de seu entorno (aprox. 1:70.000). Após essa

explanação, partiu-se para uma escala geográfica mais detalhada, no contexto

dos bairros. Os slides com os bairros Pinheirinho, Santa Clara, Recreio V. do

Sol, Jardim Alvorada e Jardim Boa Esperança, respectivamente, foram

repassados. Pediu-se que os alunos identificassem de onde eram as imagens.

A maior parte da sala conseguiu identificar com facilidade o Santa Clara (pela

morfologia em “corredor”), o Pinheirinho (a partir da praça, da escola e da

avenida) e o Recreio (por causa dos “predinhos”). Entretanto, os bairros Jd.

Alvorada e Boa Esperança foram identificados pelos alunos com maior

dificuldade. Alguns perguntavam sobre os galpões para tê-lo como referência.

Quando respondia ser a Paramotos44, os alunos conseguiam se localizar no

Alvorada e no Boa Esperança.

Após eles conseguirem entender quais eram os bairros, solicitou-se

que observassem as mudanças nos bairros ao longo do tempo. Os alunos

conseguiram notar a mudança. Alguns apontavam para a diferença de lotes

vazios e depois casas aparecendo no lugar. Outros observavam a mudança

das casas e alguns pontos de referência. Por exemplo, na observação do

Santa Clara, alguns alunos perguntaram, em 2003 “Onde está a creche?”. A

resposta vinha acompanhada do alerta para continuar na observação dos

44

Empresa no ramo de injeção de plástico especializado em motocicletas.

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próximos anos. Quando o loteamento do bairro Santa Clara II e o cemitério

apareceram, os alunos apontaram dizendo “Ali o cemitério, lá no final do Santa

Clara!”, “Olha lá minha casa lá!”, e etc. Da mesma forma, alguns alunos ficaram

atentos na imagem do bairro Pinheirinho procurando analisar a mudança da

escola, tentando encontrar a construção da quadra. Imersos na atividade, a

sala estava bastante envolvida e conseguiu captar a mudança dos bairros em

dez anos.

Depois disso, para se abordar o conceito de especulação imobiliária, foi

feita uma pergunta pra sala:

Pessoal, vocês viram que os bairros foram crescendo, né? Viram que foram surgindo casas, aqui no Santa Clara (apontando para a imagem de 2003, 2009, 2011 e 2014), por exemplo, vocês conseguem ver o loteamento do Santa Clara II, aquela parte debaixo...mas, porque que a cidade cresce? Por que criam loteamentos e loteamentos por aqui?

Um aluno disse que as pessoas precisam de casa para morar e a

cidade vai crescendo. Houve nesse momento, certa dispersão da sala. Alguns

queriam dar respostas também e o pedido para que levantassem a mão e

falassem não foi atendido. Com isso o professor regente interferiu na atividade,

chamando a atenção dos alunos. Foi reestabelecida certa ordem, faltando

pouco mais de dez minutos para o fim da aula. Então, seguiu-se para a

explicação do conceito de especulação imobiliária. Como é um conceito

complexo e de palavras pouco utilizadas por eles, foi necessário simplifica-lo

em sua significação, sem buscar perder a importância desse processo na

forma urbana. Podemos ver uma das respostas logo abaixo (Figura 5.10).

Figura 5.10 - Resposta de uma aluna do 9º Ano II sobre especulação imobiliária. Fonte: Arquivo pessoal, 2016.

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Primeiro, perguntou-se a eles se já tinham ouvido falar sobre

“especulação imobiliária”. Todos da sala disseram que não. O termo foi escrito

na lousa e depois seguimos com a estratégia de explicar as duas palavras,

relacionando especulação à ideia de investimento, de oferecer algo para obter

retorno; e a palavra imobiliária, vinculada aos imóveis, às casas e etc. Após a

explicação, foi pedido que os alunos escrevessem no papel o que eles haviam

entendido por especulação imobiliária, no sentido de identificar se eles

conseguiram captar a sua importância no processo de desigualdade na cidade.

Na resposta que pode ser vista acima, a aluna repetiu em grande parte o

exemplo que foi dado sobre a especulação imobiliária. Contudo, mesmo que

tenha dado a resposta, falando sobre o exemplo, a aluna colocou no fim a

questão da lógica do lucro que envolve a especulação e o espaço urbano como

sendo, na cidade capitalista, uma mercadoria.

9ºIII: Nesta aula, com a ajuda do funcionário da escola, conseguiu-se

aproveitar melhor o tempo, e o início da atividade se deu mais rapidamente. A

sala também estava mais tranquila e isso facilitou o trabalho. Assim como na

aula anterior, foram mostradas as imagens de satélite na escala da cidade e

depois as imagens na escala dos bairros. Quando os alunos avistaram as

primeiras imagens, uma aluna comentou, subitamente, que a imagem se

parecia com um “satélite”. Obviamente, a aluna obtinha algum nível de

familiaridade com as imagens de satélite. De forma breve foi explicado que

aquelas imagens foram geradas por um satélite que passa em Alfenas-MG a

cada quinze dias, sempre no começo (dias um e três) e na metade do mês

(entre os dias quinze e dezoito), sempre por volta das treze horas. Aproveitou-

se o momento então para confirmar que se tratava de imagens de satélite e

então foi perguntado de onde elas eram. Os alunos logo entenderam que era a

cidade de Alfenas-MG, já que nosso projeto tratava da cidade. Foi mostrado a

eles que a cidade foi crescendo com o tempo, correlacionando as imagens com

os mapas trabalhados na última aula. Para reforçar a ideia, o mapa elaborado

foi mostrado novamente para eles, comparando com as imagens de satélite

apresentadas nos slides. Prosseguindo, as imagens de satélite dos bairros

foram apresentadas a eles e perguntou-se também o que elas representavam.

A primeira imagem mostrada foi a do bairro Recreio Vale do Sol. Muitos alunos

da sala moram nesse bairro e, depois que chegamos às imagens de 2011 e

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2014, eles identificaram o crescimento do bairro. A mesma aluna que

identificou as imagens de satélite disse “Olha os predinhos ali! Eu moro ali,

fessôr!”. Outros alunos começaram apontar onde moravam. Uma outra aluna

levantou da carteira, identificou uma das ruas que dá acesso do bairro aos

predinhos e apontou, na tela, do meu lado, dizendo:

Aqui, professor! Eu moro nessa ruinha aqui, é só seguir reto que eu chego nos predinhos.

Outros dois alunos quiseram mostrar aonde moram também e parte da

sala ficou bastante alvoroçada para querer mostrar aonde moravam também.

Foi interessante notar o quanto que um instrumento que permite mostrar de

fato o espaço onde vivem se caracteriza como um elemento fundamental no

envolvimento dos alunos no processo de ensino-aprendizagem. Seguindo,

foram passadas as imagens do Pinheirinho, que também chamou atenção por

causa da escola. Neste caso, houve necessidade de auxiliar na identificação do

ponto onde ela estava, entretanto, os alunos foram conduzidos a olhar a

questão da mudança do bairro ao longo dos anos. O loteamento do Vale

Verde, a Leste, chamou a atenção de um dos alunos que, na imagem gerada

em 2003, perguntou:

Uai, cadê o Vale Verde?

Depois, quando a imagem de 2009 apareceu, os alunos identificaram o

loteamento com as ruas sendo traçadas:

Aaah lá, as ruinhas aparecendo!

Em 2011 e 2014, o surgimento das casas chamou-lhes a atenção:

Olha o tanto de casinha ali no Vale Verde!

Como os alunos estavam compreendendo a mudança do espaço-

tempo, perguntei que ano eles haviam nascido. A maioria disse que nasceu

entre os anos de 2001 e 2002, e então, mostrando as imagens de 2003 dos

bairros, foi explicado que o bairro era daquele jeito quando eles nasceram.

Mostrando as imagens do Alvorada e do Boa Esperança, corroborou-se com o

fato de ter menos casas, a Paramotos ficava em um galpão menor e ainda não

existia o Supermercado Pinheiros.

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Alguns alunos se manifestaram, dizendo:

Olha quanto terreno baldio tinha por aqui...

Nesse sentido, pediu-se para que eles pensassem como era quando o

bairro surgiu, na década de 1980. Muitos comentaram que ali não deveria ter

nada. Um outro disse “Minha mãe fala que só tinha café aqui, que era igual lá

no corredor!”.

Foi dito a eles que retomaríamos a história dos bairros na próxima aula.

Depois disso, perguntou-se se eles já tinham ouvido falar sobre o processo de

“especulação imobiliária”. Assim como no 9º II, ninguém sabia explicar. De

mesmo modo, ilustrou-se o significado individual das palavras, para torna-las

mais familiares e simples e, depois, a partir de uma elucidação didática,

utilizando um caderno, aclarou-se como ocorre o processo:

Imaginem que esse caderno seja um pedaço de terra. Eu to comprando esse pedaço de terra por cem mil reais. Agora, eu vou dividir esse pedação de terra em outros dez pedaços menores e aí vou vender cada pedacinho deste por cem mil reais. Vou esperar chegar água, luz, asfalto, tudo o que é infra-estrutura e vou cobrar cem mil reais por cada pedaço de terra. Eu vou ganhar ou perder dinheiro?

Os alunos responderam que iria ganhar.

Então, é isso que os donos de lotes fazem aqui em Alfenas-MG, isso é especular terra, investir em terra. Isso é especulação imobiliária! Observem o loteamento ali perto do Recreio. Sabem qual é? (Os alunos responderam que sim) Então, ali está acontecendo exatamente isso.

Então, foram dedicados os últimos quinze minutos de aula para que os

alunos colocassem no papel o que tinham entendido sobre especulação

imobiliária (Figura 5.11).

Figura 5.11 - Respostas de um aluno do 9ºAno III sobre especulação imobiliária. Fonte: Arquivo pessoal, 2016.

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A resposta desse aluno envolveu uma ideia de que o processo de

especulação imobiliária faz parte do rol de atividades econômicas de altos

investimentos e também registrou o fato que o especulador vai ganhar muito

dinheiro em tal atividade, confirmando a ideia da lógica do lucro e do espaço

urbano enquanto mercadoria.

9ºI: Assim, encerrando essa etapa do projeto, a terceira aula no 9º Ano

I se fez muito semelhante com as outras salas, salvas algumas questões.

Também fez-se uso dos recursos eletrônicos. Entretanto, neste caso, houve

atraso para o início da aula, pois o funcionário se esqueceu de ir ligar os

equipamentos. Isso cooperou para que a sala se dispersasse e alguns minutos

fossem perdidos. Mesmo assim, depois de quinze minutos, a aula teve início

com as imagens de satélite sendo projetadas na tela. Foi perguntado aos

alunos de que aquilo se tratava e se eles já haviam visto. Alguns alunos se

indagavam sobre o que seria aquilo, demonstrando desconhecimento. Houve

um tempo de silêncio e os alunos não arriscaram dizer o que era, até que um

aluno disse:

Aah, é aquele baguio lá...esqueci (risos)! Como que é? Foto de satélite! Não é?

De fato, o aluno sabia o que era, embora tenha o corrigido pois o termo

é imagem, uma vez que não é uma fotografia, mas uma imagem gerada por

princípios físicos e sensores que interagem com a REM (radiação

eletromagnética). Isto colocado, fora proposto que eles observassem as

imagens e o ano que a marcava, observando como a cidade inchava, crescia.

Constituíram a retomada de alguns pontos da aula anterior, recapitulando um

pouco da evolução urbana, conectando o mapa com a imagem de satélite.

Em prosseguimento, as imagens de satélite dos bairros foram

colocadas para reparo. Os alunos demonstraram grande interesse na

observação, principalmente quando conseguiram reconhecer o Pinheirinho.

Alguns alunos quiseram levantar da carteira e procurar suas casas. Um aluno

levantou a mão e disse “Eu moro ali perto do Vale Verde!”; outro dizia “Eu moro

ali na rua ali em cima perto da pracinha.”. Os alunos foram se localizando,

entretanto, eles foram direcionados a fazer uma análise mais temporal, assim

como as outras classes. Então, orientados nesse objetivo, os alunos foram

também assimilando a mudança que os bairros sofreram. Na observação do

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Santa Clara, chamaram a atenção para a Unifal-MG UE II, perguntando, um

dos alunos, aonde estava a Universidade. Como se tratava de 2003, foi

explicado que ela ainda não existia no Santa Clara. A imagem foi passada para

2009 e os alunos atentaram para a expansão do Santa Clara, além da

construção do cemitério. Quando chegou 2011 e 2014 conseguiram identificar

a UE II da Unifal-MG, bem como o CEMEI, chamada por eles de “crechinha”.

Avançando para o fim da aula, repetiram-se os procedimentos de explicação do

conceito de especulação imobiliária, da mesma forma que no 9º Ano III45

(Figura 5.12).

Nesta outra resposta selecionada como exemplo, podemos identificar

uma dificuldade de desenvolver a escrita e o raciocínio, assim como esteve

presente nas atividades anteriores. Porém, a aluna conseguiu chegar a ideia de

que a especulação é um processo que tem por finalidade o lucro, através da

valorização da terra, do espaço e sua troca.

De modo geral, essa foi a prática com o maior nível de dificuldade,

devido a densidade do tema e a complexidade do conceito. Em todas as salas

e aulas os alguns alunos pediram para repetir de novo a explicação do

conceito. Em todas as aulas o professor regente acabou auxiliando na

explicação, o que provocou um pouco de confusão, já que a explicação do

professor era diferente da que estava sendo colocada. O professor não

enfatizou a especulação imobiliária como um processo urbano, mas sim como

uma ação exercida na cidade, distanciando de uma formulação mais crítica da

45

Ver explicação na página anterior.

Figura 5.12 - Resposta de uma aluna do 9º Ano I sobre especulação imobiliária. Fonte: Arquivo pessoal, 2016.

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especulação imobiliária. Entretanto, os alunos se envolveram com a proposta e

se esforçaram para compreender o conceito.

5.6 A Segregação e o contexto da origem dos bairros a partir de

suas histórias – Prática 4.

Neste estágio final do projeto, foram produzidos materiais específicos.

Fugindo da apresentação de slides, passamos para o estágio final das

atividades, no sentido de aprofundarmos um pouco a história local dos bairros

e produzir outros olhares deles mesmos para eles mesmos.

Ao todo, foram quatro textos-síntese, cada um voltado para o contexto

de cada aluno. O aluno que mora no Pinheirinho recebeu um texto falando

sobre a história do Pinheirinho. O que mora no Santa Clara, idem. Assim se

repetiu com aquele que vive no Recreio Vale do Sol. Existem ainda alguns que

moram no Jd. Alvorada, no Boa Esperança. Também tiveram textos falando

sobre seus bairros, no entanto, a história desses bairros foi descrita

correlacionada aos três primeiros, obedecendo o tempo de formação espacial

dos bairros na cidade.

A proposta era fazer uma roda de conversa sobre a origem histórica-

espacial dos bairros e discuti-los numa nova perspectiva, desconstruindo

discursos antigos e preconceituosos sobre eles, resgatando a sua história e

sua resistência e mostrando aos alunos o quanto que seus territórios carregam

o elemento da luta, devendo, portanto, ser respeitados e resgatados diante do

contexto atual.

Cada aluno na roda recebeu seu texto com seu respectivo bairro e um

aluno fez a leitura em voz alta para que todos acompanhassem, além de

incentivar a participação, a leitura em público e o debate (APÊNDICES G, H, I e

J).

Os materiais foram lidos nessa ordem, pois, essa ordem representa a

ordem temporal oficial de origem desses bairros. Após a leitura e a discussão

desse contexto mais uma vez, utilizando a lousa, os mapas e a revisão de

todos os exercícios realizados, propôs-se por fim a explicação de como deveria

ocorrer a elaboração da redação-proposta, para ser entregue na próxima aula.

Com o título “Existem problemas no meu bairro? O que poderia ser feito

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para melhorá-lo?”, os alunos tiveram que escrever um texto descrevendo os

principais problemas de seu bairro e o que o poder público ou a comunidade

poderia fazer para superá-los.

9ºII: Iniciando a etapa final do projeto, mudou-se a metodologia da

aula. No objetivo de sairmos de uma habitualidade (habitualidade necessária),

a proposta consistiu em reunir uma roda de discussão acerca do resgate da

história dos bairros (e da escola), bem como reforçar os conteúdos vistos nas

aulas anteriores para que se pudesse construir as propostas críticas para os

bairros.

Neste sentido, cada aluno recebeu seus textos discorrendo

sinteticamente sobre a história de seus respectivos bairros (Pinheirinho,

Recreio V. do Sol, Santa Clara, Jd. Alvorada e Boa Esperança). Cada aluno foi

recebendo o material. Neste momento, alguns folheavam as páginas e logo

identificavam a atividade final. Alguns reclamavam do fato de terem que fazer

uma redação. Outros ficaram contentes em ver que na folha estava escrito o

nome do seu bairro. Ainda houve um aluno que ficou orgulhoso em ver o nome

da Universidade Federal de Alfenas-MG. Isto é, esse momento foi bastante

interessante pois representou várias reações por parte deles.

Então, seguindo com a aula, fora solicitado que algum aluno lesse o

texto sobre o Pinheirinho. Uma aluna se candidatou e realizou a leitura. Todos

os alunos fizeram silêncio e respeitaram a leitura. Ao final de cada leitura, o

estagiário fez um resumo crítico, inserindo outras informações, chamando a

atenção para a questão que identifica o Pinheirinho como um bairro de luta,

mostrando a eles que havia uma união entre os moradores e que o Pinheirinho

tem uma história que deve ser respeitada. Assim foi também com o Santa

Clara. Outro aluno fez a leitura sobre o Santa Clara e houve também quietude

para realizar a atividade. Outros comentários foram introduzidos a respeito do

Santa Clara. Foi chamado atenção para o fato de que o Santa Clara se

desenvolveu junto com o Pinheirinho. Assim se seguiu com as leituras do

Recreio V. Do Sol e dos bairros Jd. Alvorada e Boa Esperança. A ideia foi

representar a dinâmica local em função do surgimento do Pinheirinho,

demonstrando como a infra-estrutura foi chegando e qual o contexto que esses

bairros se desenvolveram, além de fortalecer a história desses bairros junto

aos alunos.

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Então, na lousa, com o giz, desenhou-se o processo que vimos durante

todo o projeto. Explicando “espacialmente” a história dos bairros,

complementando com o mapa que trabalhamos (mais uma vez). Entretanto,

dessa vez, o foco foi demonstrar mais diretamente os porquês das dificuldades

enfrentadas pelos moradores no contexto das décadas de 1980 e 1990. Ao

registrar a mancha urbana de Alfenas-MG em 1980, uma aluna chamou

atenção para um fato:

Mas, professor, não foi só o Pinheirinho que ficou longe da cidade. Aí ó, tem um outro aí do outro lado (referindo-se ao Jd. Aeroporto).

Essa observação foi importante, e nesse passo aproveitou-se para

aprofundar na discussão:

Isso! Exatamente, não foi só o Pinheirinho. Esse bairro aqui (apontando) é o Jardim Aeroporto, lembra que eu mostrei no mapa pra vocês? Então, ele surgiu junto com o Pinheirinho, um pouco longe da cidade. Só que foi um pouco diferente. No caso do Pinheirinho, os moradores tiveram que vir pra cá, não tiveram muita escolha. O Jd. Aeroporto não. Eles quiseram ir pra lá, eles que escolheram se afastar da cidade.

Uma aluna fez uma observação importante nesse momento:

Ah, mas o Pinheirinho parece que tá mais longe!

Foi reforçada essa ideia do quanto o Pinheirinho estava distante e

seguiu-se com a explicação, a partir dessa distância, do conceito de

segregação. Explicou-se que a origem afastada do bairro perante o centro da

cidade tem um nome na Geografia chamado segregação, que significa

“separação”, “afastamento”. Depois, retomou-se no sentido de demonstrar que,

o surgimento desse bairro atraiu a expansão da cidade para Oeste, como foi

visto nas aulas anteriores com os mapas. Então, relembrou-se o conceito de

especulação imobiliária e afirmou-se que a segregação do Pinheirinho serviu (e

ainda serve) para especular terra a Oeste da cidade. Para confirmar isso,

perguntou-se aos alunos se eles viam bastante loteamento por perto. Vários

alunos começaram a falar. Um aluno disse que “Ali perto da Unifal ali tem um

tanto!”. Aproveitou-se, portanto para reforçar que a Unifal-MG é um meio

importante para valorizar as terras em seu entorno e assim, ajuda na

especulação, daí a origem de tanto loteamento.

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Feito isso, aclarou-se para os alunos, junto com as recomendações na

página, como eles deveriam elaborar a atividade. Foi lembrado a eles que,

mesmo que os serviços tenham chegado ao bairro, seria possível identificar

algum problema ali? Se sim, o que poderia ser feito para resolvê-lo? Os alunos

foram orientados a fazer a atividade com calma, para entregar na semana

seguinte, lembrando-se do conteúdo trabalhado nas últimas três aulas.

9ºIII: Com o 9º Ano III a proposta se apresentou. De mesma forma, os

alunos foram recebendo os textos de acordo com seus bairros. Nesse

processo, quando se anunciava para se levantar a mão quem era do bairro

“Santa Clara”, alguns outros alunos tiravam sarro desse fato, com risadas

irônicas. Aqueles que levantavam as mãos proferiam xingamentos em resposta

aos alunos que zombavam deles. Diziam que moravam sim no Santa Clara,

como que se quisessem reafirmar suas identidades com o bairro.

No objetivo de administrar algum possível conflito (que sempre se

enunciou durante toda a prática), logo foram entregues os papeis dos outros

bairros e a leitura começou também pelo bairro do Pinheirinho, depois o Santa

Clara, Recreio e Jd. Alvorada e Boa Esperança.

Algo muito interessante chamou atenção durante a leitura do texto

sobre o Santa Clara. O aluno que fez a leitura desabafou no fim:

“Ambos são bairros com uma história muito forte, diferente de quaisquer outros na cidade de Alfenas-MG. É preciso respeitá-los! O desrespeito existe apenas quando não se sabe o que fala”. Engole essa!

O desabafo talvez possa representar a insatisfação com o desconforto

ante ao preconceito sofrido por morar no Santa Clara. Nesse momento, os

alunos pararam com a gozação. As outras leituras foram respeitadas e, como

na outra sala, foram explicitados os conceitos de segregação, dialogando com

as outras aulas. Foi reforçada a ideia de respeito entre eles, uma vez que todos

estão em um mesmo contexto diante da cidade. O desenvolvimento dos bairros

a Oeste é um marco em comum que se faz ainda hoje, através do espaço

escolar. A origem da escola e o fato de estarem todos ali também foi lembrado,

no sentido de reiterar a condição deles, que convivem naquele espaço numa

posição de igualdade e não de fragmentação.

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Fechando a aula, as instruções para elaboração da redação foram

passadas e, nesse tempo, alguns já quiseram ir formulando suas ideias. Alguns

alunos também registraram a não-familiaridade com esse tipo de gênero textual

e pediram alguma dica ou outra para desenvolve-lo.

9ºI: Nesta sala, seguiu-se com a mesma proposta de aula, uma vez

que ela se mostrou bastante produtiva. Até se organizar as mesas, houve a

perda de certo tempo. Antes da aula iniciar, foi pedido para que o professor

regente já fosse dispondo as carteiras em círculo. Entretanto, quando na sala,

o professor estava fora dela, brincando e conversando com os alunos fora dali.

Ou seja, teve de se fazer um esforço em reorganizar as mesas e isso fez com

que se perdessem pelo menos dez minutos. Assim, chamaram-se os alunos

para entrarem e se sentarem na roda para dar início às discussões.

De mesma maneira, os alunos leram os textos históricos sobre os

bairros o que produziu profundo interesse por eles. Um aluno, que mora no

Pinheirinho, acabou perguntando acerca das casas que ocuparam as terras as

margens do córrego do Pinheirinho. Um pouco da história dos modos de vida

da época fora retomada (com base nas entrevistas com as lideranças). Muitos

ficaram surpresos e mostraram desconhecimento da história do bairro. Quando

foi lida a passagem do Santa Clara, alguns alunos tiveram a mesma reação.

Então, falou-se um pouco sobre as dificuldades enfrentadas pelos moradores

e, em seguida, retratou-se os conceitos e temas como nas salas anteriores.

Nessa etapa, assim como nas outras salas, foram bastante discutidos

os bairros no contexto de Alfenas-MG. A questão da segregação, em função da

especulação imobiliária, e o entendimento das superações e das lutas,

serviram como combustível para produção de outros olhares. A questão,

perguntou-se a eles se alguma vez, já disseram que eles moram ou são da

periferia. Muitos disseram que sim. Então, foi perguntado a eles se eles sabiam

o que era uma periferia. Alguns começaram a dizer que periferia significava

outros sinônimos como “favela”, “pobreza”, “tráfico”, “drogados”, entre outros.

Contudo, nenhum explicando de fato o que era. Foram negadas todas essas

concepções e os alunos demonstraram-se surpresos46. Neste prisma,

aprofundou-se em explicar a periferia como parcela do espaço urbano distante

46

Um aluno, no fundo da roda, que atribuiu adjetivos de favela e tráfico, se mostrou bastante atencioso na problematização sobre a periferia.

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dos serviços do centro da cidade, ou seja, aqueles que não se concentram nas

áreas centrais moram, de certa forma, numa periferia. Aproveitando o

momento, com o desenho do esquema da expansão de Alfenas-MG na lousa,

apontou-se que o bairro Jardim Aeroporto era também, pois uma periferia. Os

alunos ficaram bastante surpresos. Então, foi dito a eles que, quando alguém

dissesse a eles que eles moravam numa periferia, era para eles dizerem que

sim, moravam, assim como os moradores do Jardim Aeroporto.

Os alunos pediram então que explicassem o que era “favela”. Muitos

diziam que era “lugar brabo”, “lugar de bandido”, “lugar de traficante” (e aí

então uma questão de territorialidade, uma soma subconsciente por eles de

território e lugar). Esse conceito foi desconstruído. Favela, portanto, foi

explicada como ocupações irregulares, em função da ausência de políticas

habitacionais efetivas, que devem considerar o direito à moradia para os

cidadãos. Foi citada até mesmo os direitos universais, que considera a

habitação como um dos direitos fundamentais. Ou seja, as favelas foram

apresentadas não como um produto do tráfico ou do crime. Mas produto de

uma violência do próprio capitalismo às camadas mais pobres, tornando-as

vulneráveis ao crime organizado, que se aproveita dessa carência social para

se desenvolver.

Os alunos logo fizeram uma correlação com o que costumam ver nos

livros e/ou na TV, perguntando: “Por isso vemos aquelas casinhas umas em

cima das outras?”. A resposta foi positiva, completando que aquelas casas

ficam uma em cima da outra justamente porque as áreas para construir seus

barracos são precárias, de difícil acesso ou assentamento, obrigando a

sobrepor barracos sobre barracos.

A discussão se mostrou bastante interessante. Assim como nas outras

salas isso também fora abordado, entretanto, para diferenciar as descrições e

torna-las mais distinguíveis, optou-se por privilegiar aspectos diferentes que

chamaram a atenção no desenvolvimento das atividades. Os alunos então

receberam as orientações para realizar a redação-proposta e a aula foi

encerrada.

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5.7 Encerramento e recolhimento das atividades – Prática 5

Depois de recolher as atividades e corrigi-las, encaminhou-se até às

salas para breve discussão e explicar um pouco sobre seus propósitos, além

de buscar recuperar alguns (vários) alunos que faltaram durante em uma ou

algumas atividades, para que não fossem prejudicados tanto em relação às

notas47.

Muitos alunos faltaram ao longo do projeto, o que se mostrou um dos

maiores obstáculos para o desenvolvimento das atividades. Por isso, essa

última aula foi pensada, como um tempo a mais no sentido de poder trabalhar

algo com quem havia faltado antes, bem como dar mais um tempo para que os

alunos desenvolvessem suas propostas, caso tivessem algum tipo de

dificuldade48.

47

A atividade valeu 6,0 pontos de um total de 25,0 no 4º Bimestre na disciplina de Geografia. 48

Visto que os alunos não estão acostumados a elaborar redações.

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5.8 – Discussão dos resultados: Para que serviu o projeto?

Após esse tempo de construção do projeto, houve alguns avanços para

os alunos na escola. De acordo com a análise das notas finais recebidas pelos

alunos após o fim do projeto, chegou a um aproveitamento total de 58,3%. Se

dividirmos o desempenho por classe, de 9º I = 3,23. 9º II = 3,9. 9º III = 3,6.

Obviamente, esse registro quantitativo não exprime os aspectos qualitativos,

muito mais importantes que essas práticas levaram, servindo mais como um

norteador para elaboração das conclusões finais. É importante olhar para os

números, tê-los como registro e retirar deles indicadores de como a atividade

se desenvolveu. Mas, como queremos aqui evidenciar outras qualidades a

interpretação desse projeto será para além de quadros, gráficos e tabelas.

Tabela 5.1 - Avaliação quantitativa do projeto Trabalhando a Educação Geográfica para o

Direito à Cidade

Classe

Aluno

Atividades

01 02 03 04 Total

9º Ano I

01 1,0 2,0 - - 3,0

02 - 1,0 0,3 - 1,3

03 - 2,0 - 2,5 4,5

04 1,0 2,0 0,5 2,5 6,0

05 1,0 1,7 - - 2,7

06 - 2,0 - - 2,0

07 1,0 2,0 0,5 0,0 3,5

08 1,0 2,0 0,3 - 3,3

09 - 2,0 0,3 2,5 4,8

10 - 2,0 - - 2,0

11 1,0 1,7 0,5 - 3,2

12 1,0 2,0 0,5 2,5 6,0

13 - 1,7 0,5 - 2,2

14 1,0 2,0 0,4 2,5 5,9

15 1,0 1,7 - - 2,7

16 1,0 2,0 0,5 2,5 6,0

17 1,0 2,0 - 2,5 5,5

18 - 2,0 0,4 - 2,4

19 1,0 2,0 0,5 2,5 6,0

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20 1,0 2,0 0,4 2,5 5,9

21 1,0 2,0 0,5 2,5 6,0

22 - 1,7 - - 1,7

23 - - 0,0 2,5 2,5

24 - - 0,5 2,5 3,0

25 - - - 2,5 2,5

26 - - - 0,0 0,0

27 - - - 2,5 2,5

28 - - - 1,5 1,5

29 - - - 2,5 2,5

30 - - - 2,0 2,0

31 - - - 2,5 2,5

9º Ano II

01 1,0 2,0 0,0 2,5 5,5

02 1,0 2,0 0,5 2,5 6,0

03 1,0 1,8 0,5 2,5 5,8

04 1,0 0,2 0,0 - 1,2

05 1,0 1,5 - - 2,5

06 - 1,0 - 2,5 3,5

07 1,0 2,0 0,2 2,5 5,7

08 1,0 0,4 0,5 2,5 4,4

09 1,0 1,5 0,3 - 2,8

10 1,0 2,0 0,4 2,5 5,9

11 - 2,0 0,3 - 2,3

12 1,0 1,7 0,0 - 2,7

13 - 2,0 0,5 2,5 5,0

14 1,0 2,0 0,5 2,5 6,0

15 1,0 2,0 0,0 2,5 5,5

16 1,0 1,8 0,5 - 3,3

17 1,0 - - - 1,0

18 1,0 - - - 1,0

9º Ano III

01 1,0 1,8 0,5 1,5 4,8

02 - 1,6 - - 1,6

03 1,0 2,0 - 2,5 5,5

04 1,0 2,0 0,5 1,0 4,5

05 1,0 0,6 0,5 2,5 4,6

06 1,0 2,0 0,0 2,5 5,5

07 - 1,2 0,5 - 1,7

08 1,0 2,0 - - 3,0

09 1,0 2,0 0,5 2,5 6,0

10 - 1,2 - - 1,2

11 1,0 2,0 - 2,5 5,5

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12 1,0 2,0 0,0 2,5 5,5

13 1,0 2,0 0,5 - 3,5

14 1,0 2,0 0,5 2,5 6,0

15 1,0 2,0 - - 3,0

16 - 2,0 0,5 - 2,5

17 1,0 2,0 - - 3,0

18 1,0 2,0 0,5 2,5 6,0

19 1,0 - 0,0 2,5 3,5

20 - - - 2,5 2,5

21 1,0 - - - 1,0

22 1,0 - - - 1,0

23 1,0 - - - 1,0

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

O projeto demonstrou bastante enriquecedor em vários aspectos.

Primeiro porque sua carga política e ideológica contidas numa vertente da

teoria crítica do espaço e de uma concepção de educação mais progressista

pôde contribuir para a produção de outros olhares sobre as realidades dos

alunos. E esse é um processo em contínua construção. A metodologia reunida

no projeto buscou dar novos sentidos à geografia que se ensina no espaço

escolar, negando aspectos profundamente arraigados numa cultura que pouco

problematiza, que pouco se aproxima de uma linguagem da realidade dos

alunos, considerando elementos como o conflito, a valorização do saber dos

alunos, a pesquisa profunda daquele espaço, a busca constante pelo

entendimento da gênese que leva a negação do espaço concebido pelos

alunos. A resistência que tanto eles mostraram durante os dias vividos no

estágio. Em terceiro lugar, as práticas foram salutares no objetivo de identificar

as insatisfações, os potenciais, lideranças que podem aflorar, chamando outra

responsabilidade social, uma responsabilidade espacial, territorial, na condução

de outras práticas escolares, sociais, urbanas.

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Lendo as propostas, algumas (muitas) chamaram a atenção para o

florescimento dessas bem-vindas lideranças, que proporcionaram reflexões

bem críticas às suas realidade e condições. Dentre exigências que perpassam

por propostas de lazer, educação, segurança, infra-estrutura, paisagismo e

estética, até profundas críticas ao comportamento do bairro e à desunião,

confirmando a suspeita inicial de fragmentação entre os moradores dos bairros,

foi possível encontrar a insatisfação com o tipo de produto que Alfenas-MG tem

se apresentado a essa juventude. Há algo de incomodo nessa realidade e as

redações, como meio de desabafo, pareceu servir relativamente bem a

construção de outros discursos sobre os bairros, ou a necessidade de se

começar a construí-los, como sugere a redação a seguir (Figura 6.1).

Como bem ilustra o título da primeira redação selecionada, “O bairro

que precisamos construir”. Esta primeira redação49 exprime descontentamento

49 O bairro que precisamos construir! (Título). Como o pinheirinho é grande e tem vários locais

abandonados pela prefeitura, devia ter várias atividades para o bairro, uma pista de skate ou um ginásio,

uma biblioteca, projetos sociais. Um dos problemas do pinheirinho é lazer, não temos propostas legais,

não temos um bom atendimento no PSF, tem muitos locais onde a prefeitura só limpa quando tem

eleição, o pinheirinho precisa de mudança. Uma biblioteca, é um projeto bem interessante, seria um

incentivo maior para a sociedade, eventos culturais, mais shows, mais eventos para idosos, atividades

Figura 5.13 - Redação de uma aluna do 9º Ano II sobre o bairro Pinheirinho. Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

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da jovem em relação à postura do poder público frente ao Pinheirinho. A aluna

aponta para a falta de lazer e projetos para a juventude do bairro apresentando

algumas soluções. Os vários locais abandonados pela prefeitura no bairro

receberiam esses projetos, ou seja, esse apontamento da aluna revela uma

convocação dela pela participação do poder público no bairro. A questão da

cesta básica reafirma sua infelicidade ante uma política assistencialista

existente no bairro abrindo caminho para que uma política de oportunidades

seja realizada. Oportunidades que a redação abaixo tanto toca (Figura 6.2).

No mesmo caminho sobre as oportunidades é que se desenvolve a

próxima redação, tocando em alguns pontos como a violência e o tráfico de

drogas50. Batendo bastante na tecla sobre a falta de oportunidades o aluno

físicas, academia ao ar livre e mais residências. São essas e outras coisas que vão mudar o nosso bairro,

não é só dar cesta básica, prometer e não cumprir. Queremos algo novo, algo que agrade a todos, plantar

mais árvores, flores, precisamos melhorar o nosso bairro, temos que cuidar daquilo que é nosso. 50

O que falta para melhorar meu bairro (Título). Eu acho que um dos principais problemas hoje em dia no

pinheirinho, é a falta de oportunidades, a falta de emprego. Por exemplo: eu acho que deveria ter mais

oportunidades de emprego, mais segurança também, ter coisas para fazer para passar o tempo, para não

ficar atoa, na rua etc...Eu acho que deveria melhorar a educação também porque eu acho que é um dos

principais fatores para melhorar a comunidade, e também as oportunidades de fazer as coisas na

comunidade, eu acho que ia diminuir a violência, o tráfico de drogas, por que eu acho que tudo isso é

Figura 5.14 - Redação de aluno do 9º Ano I sobre o Pinheirinho. Fonte: Arquivo pessoal, 2016.

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131

sensibiliza-se bastante em relação à situação da juventude do bairro e o tráfico

de drogas. Quando ele escreve que esses maiores problemas são decorrentes

da falta de uma base educacional ou cultural que ocupem e atendam à

juventude, o aluno está fazendo um desabafo contra a postura atual de

criminalização da juventude do bairro e justificando-a pela ausência do Estado

na cidade capitalista, que produz violências infanto-juvenis e depois as atribui a

culpa, num sistema onde ela é em primeiro e último lugar a vítima.

Quase que no mesmo sentido, ainda sobre a questão do enraizamento

do tráfico de drogas no bairro, outra aluna faz algumas considerações,

apontando para a apropriação dos espaços públicos de lazer, tornando-se

pontos para uso e venda de drogas, sobretudo a praça que, segundo ela: “[...]

já foi um lugar melhor do que é agora. Aqui é totalmente ocupado por usuários

de drogas, então desfavoresse todo o lugar. Lá é totalmente sujo, é bem

destruído. Tinha um tipo de parquinho por lá, quer dizer ainda tem, mas não se

tem nenhum brinquedo sequer, não se tem nenhum cercado em volta dele”. Ou

seja, na opinião da aluna, a praça, um local destinado ao lazer das famílias no

bairro acaba sendo um espaço destinado a outro uso do território, fazendo com

que muitos jovens do bairro passem seu lazer na praça central, mais receptiva

ao lazer do que a praça que fica ao lado de suas casas. Entretanto, a aluna

não consegue propor alguma ideia e ainda criminaliza a juventude que

frequenta a praça, produzindo olhares não tão profundamente críticos quanto à

redação anterior.

Outro aluno buscou elaborar uma crítica à infra-estrutura, no sentido da

qualidade dos serviços públicos e uma preocupação de utilidade pública 51

(Figura 6.3):

consequência da falta de oportunidades, porque se tivesse mais lazer e oportunidades, eu acho que seria

melhor, eu acho que tem que fazer isso é um dos principais fatores que eu acho que está piorando cada

vez mais a comunidade, e é isso que eu acho que deve ser feito para melhorar o Pinheirinho.

51

Bom, na verdade o que poderia ser feito em meu bairro em prioridade ter asfaltos melhores,

porque na minha opinião não tenho o que reclamar do meu bairro. Porque na verdade o nosso

bairro já passou por algumas mudanças, como por exemplo a quadra que foi reformada a

nossa pracinha, temos as unidades de posto de saúde, temos mercadinhos que ajudam

bastante os habitantes do bairro. Acho importante colocar também a questão de uma passarela

no trevo do Pinheirinho para o santa Clara, pois facilita nossas crianças, pessoas de idade e

por ter acesso a rodovia se torna um lugar perigoso para atravessar e também precisa cuidar

do trevo, sinalizar bem porque ali é uma das entradas de Alfenas.

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Uma das alunas faz questão de relembrar o histórico do bairro e

chamar a atenção para a dificuldade dos moradores em conservar o

patrimônio. Essa comparação feita pela aluna pode revelar um conflito entre

duas imagens. Uma imagem de moradores cientes de suas responsabilidades

e direitos, em um tempo passado. E outra, de moradores pouco engajados e

distantes da figura de participação política que outrora se apresentou no

Pinheirinho52 (Figura 6.4):

52

É correto afirmar que o Pinheirinho já foi um bairro extremamente pobre, sem encanamento, luz elétrica

ou recursos públicos. Porém isso mudou o bairro evoluiu de uns tempos pra cá. Agora além do

encanamento e a luz elétrica, temos também escolas, creches, postos de saúde, praças e ate um

pequeno parquinho. Temos isso, graças as cobranças dos moradores, que uniram forças para obter seus

direitos, porém, não fizeram o mesmo para conservar o que se obteve. Vejamos o nosso córrego do

chafariz, antes era de lá que vinha toda a nossa água, a do banho, da comida, até a de beber. Hoje ele

não passa de um córrego sujo e mal cheiroso. Isso por culpa dos próprios moradores que jogaram lixo e

até animais mortos nele. Não julgo meu bairro ruim, tem quase tudo que preciso, o que falta nele são

Figura 5.15 - Redação de aluno do 9º Ano II sobre o Pinheirinho. Fonte: Arquivo Pessoal, 2016.

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Essas proposições atravessam boa parte das necessidades dos

moradores locais. Dentre todas as propostas para o Pinheirinho, a maioria citou

melhorias no que tange ao lazer, à educação, à cultura, à segurança e

patrimônio público. Muitos reclamaram da falta de atrativos culturais e do fato

de ter sempre que se deslocar para o centro para ter algo. Alguns outros

tocaram bastante na apropriação da praça para uso e tráfico de drogas,

substituindo o espaço de lazer por uma territorialidade intimidadora. Houve

quem justificasse que a melhoria do bairro hoje é muito mais em função da

oferta e incentivo à cultura e à juventude do que propriamente à infra-estrutura.

Essa ideia foi bastante presente em quase todas as propostas, calcada na

questão que o bairro surgiu em 1980 e de lá pra cá recebeu sim melhorias nas

condições de vida. Quando o primeiro texto aqui apresentado coloca que “uma

moradores conscientes, que sabem cuidar do que tem, e não só sabem exigir o que faltar, pois o governo

quando faz a sua parte é para beneficiar o bairro, mas de nada adianta se vandalizarmos tudo aquilo que

nos for dado.

Figura 5.16 - Resposta de aluna do 9º Ano II sobre o Pinheirinho. Fonte: Arquivo pessoal, 2016.

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biblioteca, eventos culturais, mais shows, mais eventos para idosos, atividades

físicas, academia ao ar livre e mais residências” é que vão mudar o bairro, ele

está afirmando essa outra necessidade que a juventude hoje tem. Para eles,

grande parte do problema ainda está ligada a falta de acesso à cultura e

conhecimento. Ou seja, pode-se identificar nessas . Segregados no espaço e

no consumo, a juventude do bairro também se sente segregada do

conhecimento e das oportunidades. Um dos alunos deixa isso muito claro

quando diz que:

[...] meu bairro, são como todos os outros bairros de baixa renda (pobres); um bairro que precisa muito de lazer, segurança, etc. um bairro que precisa ser mais lembrado. [...] (precisamos) ter mais áreas de lazer, como por exemplo: um clube, um teatro para aqueles que sonham um dia ser ator (no meu caso), uma biblioteca, projetos culturais[...]

A última passagem faz uma crítica à condição atual dos moradores do

bairro. O aluno em questão traz toda a questão histórica, de lutas e resistências

dos moradores naquele contexto e defende a ideia de que hoje isso mudou e,

depois de ter conquistado essas melhorias, a população vem perdendo o

apreço pelo bairro vem perdendo a capacidade de preservar o que lhes

pertence. Nesse sentido, indiretamente, o aluno está propondo uma

ressignificação das relações no bairro tanto dos moradores em relação ao

meio, quanto entre os próprios moradores53.

A primeira redação dentre aquelas selecionadas sobre o bairro Recreio

Vale do Sol, vem de uma aluna jovem já mãe. Sua preocupação é para com a

juventude e os caminhos que elas têm tomado também pela justificativa de

falta de oportunidades54 (Figura 6.5).

53

O que muitas lideranças, durantes entrevistas e conversas também fizeram questão de colocar: a questão da fragmentação. 54

Existem problemas no meu bairro/ O que poderia ser feito para melhorá-lo? Olha,

sinceramente o Recreio não é um bairro ruim, mais ele precisa de muitas mudanças. No

Recreio tem muitos bares que viram pontos de drogas, as crianças estão com poucas

oportunidades e por isso ficam o dia inteiro na rua. Já as escolas do bairros próximos tipo

Grimmink estão tendo muitas melhoras, estão dando oportunidade para os jovens. Mais ainda

falta muito para o bairro melhorar. As ruas estão muito esburacadas. Falta segurança, falta

lazer para os jovens, projetos culturais, mais tomara que agora com os loteamentos surgindo,

espero que isso ganhe uma melhora considerável. E sinceramente, falta mais oportunidade de

emprego, porque eu tenho 15 anos e tenho uma filha para criar e minha mãe cuida de mim e

dos meus 2 irmãos sozinha mais ela não da conta.

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Essa situação apresentada pela jovem é resultado daqueles assuntos

discutidos ao longo da caracterização da realidade escolar e da juventude do

bairro. A redação da aluna aponta para a falta de perspectiva da juventude e da

ação do tráfico de drogas em suas vidas. Aponta sim para a melhoria recente

que as instituições de ensino vêm tendo, todavia, coloca que ainda é preciso

mais. A aluna sugere a criação de projetos culturais e melhorias na escola. No

fim, contudo, a aluna traz uma ideia contraditória. Coloca que com a chegada

dos loteamentos esse quadro possa melhorar dando a esse processo a

responsabilidade de gerar bônus aos bairros. Em certa parte isso pode ocorrer.

O aumento da demanda gera aumento de oferta. Porém, é necessário verificar

como essa oferta vai se apresentar e para quem ela vai se apresentar. A

próxima redação explora outros pontos (Figura 6.6).

Figura 5.17 - Redação de aluna moradora no bairro do Recreio Vale do Sol, no Residencial Jardim das Alterosas (Os

predinhos). Fonte: Arquivo pessoal, 2016.

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136

Esta outra redação, de um aluno que mora nos predinhos, apresentou

algumas preocupações sobre o trânsito de automóveis no bairro que oferece

grandes riscos de acidentes para crianças, chamou mais atenção na parte final.

Nas últimas linhas o aluno manifesta o desejo de lutar pelo bairro e mudar sua

“fama”, chamando uma responsabilidade social. Isto é, o aluno parece desejar

outro bairro, reconhecido por suas qualidades e não por estereótipos. A maioria

dos alunos que vivem no Recreio Vale do Sol chamaram a atenção mais para a

questão de infra-estrutura, segurança e ausência de espaços de lazer. Como a

juventude do Recreio utiliza dos mesmos espaços de lazer que a do

Pinheirinho (e assim acontece também com o Santa Clara, O Jardim Alvorada,

o Vale Verde e Jd. São Paulo), eles justificaram o mesmo problema, ou a

depredação dos espaços ou a sua utilização para fins de venda e consumo de

drogas. Os dois retratos acima trazem uma forte expressão de territorialidade

em relação a seus bairros, presente nos alunos da escola. Propõem melhorias

para a juventude, principalmente no que se refere à cultura, lazer e educação e

também tocam na má gestão das ruas, propondo seu recapeamento e/ou seu

Figura 5.18 - Redação de um aluno do 9ºAno I sobre o bairro Recreio Vale do Sol. Fonte: Arquivo pessoal,

2016.

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137

redirecionamento de sentidos, evitando acidentes e etc. Houve outras redações

que focaram mais na questão de segurança, outros reafirmaram a necessidade

de se utilizar terrenos baldios para construir centros de cultura e lazer para as

crianças. Aqui existe uma preocupação maior, para além da visão de infra-

estrutura, que foi tão presente quanto as melhorias das condições referidas à

serviços. Ou seja, as propostas para o Recreio Vale do Sol permearam muito

também a questão de educação, cultura e lazer para a juventude. Em seguida,

temos uma redação de um dos alunos que moram no Santa Clara (Figura 6.7).

Já para o Santa Clara, alguns relatos direcionaram-se no sentido da

infra-estrutura, mostrando-se um pouco diferente dos anteriores, refletindo em

partes a realidade do bairro, com muito menos infra-estrutura que os demais. A

reflexão atesta exatamente isso55. Reúne reclamações sobre o acesso à

internet. É possível identificar que boa parte de seus apontamentos

circunscrevem-se a um urbano muito mais limitado a questões de resolução

técnica, do que propriamente em desenvolvimento cultural ou novos projetos

na área de cultura e educação, como outros tantos se apresentaram. A frase

55

Em meu bairro existe vários problemas, como a distancia grande do centro da cidade, muitas

coisas não pega muito bem como sinal de operadora telefônica e internet, tevê a cabo, também

acontece de acabar a energia no bairro inteiro. O bairro poderia fazer que de certa fora ser

“reconhecido” como um bairro bem adaptado para poder que esses problemas sejam resolvido

e crescer também em expansão e melhorar as condições de ônibus.

Figura 5.19 - Redação de aluno do 9º Ano I sobre o Santa Clara. Fonte: Arquivo pessoal, 2016.

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138

que sugere um bairro “bem adaptado” pode indicar a noção de

desenvolvimento atrelado ao crescimento, à urbanização. Nessas ideias, um

bom bairro é um bairro crescido, urbanizado, entre outros adjetivos que

recomenda a resolução dos problemas apenas com o atendimento das

necessidades infra-estruturais. Na concepção de outra cidade isso não é o

suficiente para as populações pobres, visto que a atração de serviços agrega

valor a terra, vista como mercadoria. Ainda sobre o Santa Clara, a aluna traz

outras contribuições a serem observadas (Figura 6.8).

Seguindo com as reflexões sobre o Santa Clara56, a redação anterior

demonstrou outra característica fortemente presente nas respostas dos alunos.

56

O meu bairro o Santa Clara é um lugar muito bom eu não tenho nada para reclamar. É um

lugar cheio de gente, crianças, animais, casas, mato e etc. O meu bairro deveria e vai mudar

muito já está mudando, fazendo loteamento e mais pra frente vai derrubar o café para fazer

mais casas. Aquele lugar é uma coisa calma cheio de alegria. Mas tem algumas pessoas que

estão acabando com o bairro mais eu gosto muito desse lugar eu mudei pra lá esse ano e nem

penso em sair. A cidade está crescendo e mais ainda o corredor está aumentando. A cidade

era muito pequena mais daqui uns tempos esta parecendo São Paulo, o bairro Pinheiro

começou antes do Santa Clara mais parece que o Santa Clara é mais velho que o Pinheirinho.

O Santa Clara não precisa mudar ele é bom de mais para ser mudado. O meu bairro já está

bom só falta um posto de saúde e uma quadra para as crianças.

Figura 5.20 - Redação de aluna do 9º Ano I sobre o Santa Clara. Fonte: Arquivo pessoal, 2016.

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Existe uma relação pertencimento em relação ao seu bairro. Ao citar as

“crianças”, os “animais” o “mato”, e uni-los a ideia de que “aquele bairro é uma

coisa calma”, a aluna quis repassar a sensação de bem-estar que o bairro

causa nela. Entretanto, logo após o pertencimento, vem, dialeticamente, a

sensação de conflito. O trecho “mas tem algumas pessoas acabando com o

bairro” denota essa insatisfação. A aluna fez outros apontamentos

interessantes ao dizer que o Santa Clara parece mais velho que o Pinheirinho.

Talvez nessa passagem contenha traços de uma reflexão profunda que essa

aluna fez. O fato de o Santa Clara parecer mais velho que o Pinheirinho pode

estar relacionado diretamente à questão de sua periferização em relação ao

Pinheirinho, de ter sido a sua origem mais complexa, desigual, carente e

conflituosa no espaço urbano de Alfenas-MG. Isto é, a infra-estrutura chegou

nos bairros a Oeste, mas nem tanto ao Santa Clara57 (Figura 6.9).

57

Ainda dentro disso, essa degradação estética, pode refletir as classes que nessas casas vivem, que, se comparada aos outros bairros locais, possuem maior nível de carência (caberia um estudo mais aprofundado acerca disso).

Figura 5.21 - Redação de aluna do 9º Ano III sobre o Santa Clara. Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

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140

Esta outra redação explorou outros lados das reflexões e propostas

dos alunos58. Fez questão de lembrar que houve nos últimos anos algumas

melhorias no bairro. A chegada do CEMEI, por exemplo, ajudou e tem ajudado

muito as famílias locais, proporcionando uma educação de maior qualidade

para no Ensino Infantil. Na primeira frase da redação a aluna diz que não há

muito que reclamar hoje, porém, no decorrer do texto são quatro questões

identificadas como problema nos bairros: falta de lazer, de segurança, de

respeito e mal serviço dos correios. De forma geral, os relatos críticos do Santa

Clara delinearam outras questões. Outros alunos, tanto do Santa Clara quanto

dos outros bairros, começaram as redações dizendo que não tem muito o que

melhorar, reclamar ou mudar em seus bairros, mas, quando a redação corria,

elencavam vários problemas e faziam muitas reclamações. Duas hipóteses

para isso. Ou os alunos estão reconhecendo, pela história dos bairros, que a

infra-estrutura chegou mas que ainda existem problemas. Ou eles não querem

reconhecer suas condições de pobreza mascarando os problemas do bairro,

entretanto, com a reflexão, inevitavelmente os descontentamentos acabam

aparecendo.

Em linhas gerais, os alunos do Santa Clara trouxeram elementos em

relação à ineficiência de infra-estrutura (as quedas frequentes de energia, má

qualidade dos sinais de internet, telefone e tevê a cabo, transporte coletivo,

correios, entre outras reclamações). Ainda, assim como nos bairros anteriores,

existe a ausência de lazer e uma relação forte de pertencimento ao Santa

Clara. De certa forma, os textos desses jovens apontam para uma necessidade

de infra-estrutura no bairro. É bem verdade que parte dessa infra-estrutura é

atendida pela consolidação do Pinheirinho (e o restante no centro), entretanto,

a necessidade de crianças e idosos atravessarem uma rotatória todos os dias

traz certa preocupação, apesar de alguns serviços básicos não estarem tão

distantes dali.

58

O bairro que eu moro, agora não tem muito em que recramar por que as melhoria de agora estão muito bom porque antes as criança que agora fica na creche tinham que andar muito até chegar e tanto o povo recramar feiz uma creche lá no Santa Clara que agora já facilita muito para os pais das criança e também as casas e o asfalto e eu também acho que deveria ter um lazer por que falta um pouco de lazer para o povo do Santa Clara e o que poderia melhora mais é ter mais segurança que eu acho que está faltando e também um pouco de respeito também e também deveria passa carteiro por causa das pessoas tem que ir no correio para pergar as cartas.

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141

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

6.1 Para além do TCC: Necessidades, caminhos alternativos e esperança

“A pobreza é uma situação de carência, mas também de luta, um estado vivo, de vida ativa, em que a tomada de consciência é possível” Milton Santos.

Para tanto, caminhando para concluir este TCC, há que se pontuar

alguns entraves durante o projeto. Existem alguns obstáculos na escola que

devem ser superados se queremos atingir um objetivo de ensinar Geografia e

ensiná-la com qualidade.

Primeiro, é preocupante a dificuldade dos alunos em escrever e

expressar ideias. Muitos exercícios entregues no projeto, entre atividades e

redação, apresentaram um grau elevado de dificuldade no desenvolvimento

textual. Erros ortográficos, caligrafia muitas vezes ilegível, ausência de

concordância verbal, nominal, falta de coesão, ausência de coerência, frases

inacabadas, escrita abreviada e palavras escritas como se estivesse utilizando

o facebook ou o whatsapp, além de muita dificuldade em desenvolver textos de

redação. Nesse sentido, cabe questionar como tem sido o ensino de língua

portuguesa na escola e o que está sendo feito para superar essas deficiências.

Quando elas surgem? Até que ponto essa dificuldade compromete o

aprendizado, tanto na Língua Portuguesa como em outras matérias? Não seria,

pois interessante o Pibid da Letras-Unifal-MG realizar algum projeto junto aos

alunos do Grimminck? Ou também pensar em formas de trabalhar conteúdos

de forma interdisciplinar, integrar as aulas no sentido de estimular mais o

exercício de ler e escrever. Incentivar mais a leitura de livros na Biblioteca,

inserir a leitura de clássicos da Literatura Brasileira e Internacional em cada

bimestre para que o aluno faça resenhas sobre as obras. Além de exercitarem

a leitura e a escrita crítica, estarão tendo acesso a conteúdos ímpares da

cultura brasileira, conhecendo não só a história do país, mas suas próprias

histórias. Em outras disciplinas seria interessante incentivar os alunos a lerem

trechos de textos, enunciados, exercitar o modelo de redações e respostas

dissertativas. De forma geral, possibilitar formas de fugir do usual, que é o

aluno copiar texto da lousa e assinalar alternativas em enunciados que eles

possuem dificuldades em interpretar.

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142

Outro ponto que se pôs como obstáculo foi a questão do

comportamento dos alunos. Não no sentido de desinteresse, mas do excesso

dele em muitas ocasiões. O que foi ótimo. Entretanto, como os alunos têm

pouca oportunidade de falar, responder, expressar suas ideias (em função da

metodologia que o professor regente adota para suas aulas), ao pedir que eles

participassem na aula, sete, oito, dez alunos falavam ao mesmo tempo.

Quando se pedia que apenas um falasse, a questão se repetia. Então, foi

necessário apontar o dedo para o aluno escolhido a responder e tentar dividir

as atenções, para que isso não acabasse se tornando um caminho para a

dispersão ou o desinteresse.

Agora, sem dúvidas, os dois problemas maiores que de certa forma

limitaram o projeto, foram (1) as dificuldades em planejar e organizar as

atividades junto ao professor regente e (2) a assiduidade dos alunos em

frequentar a escola. O professor disponibilizou as sextas-feiras para execução

do projeto, uma vez que as três salas teriam aula nesse dia, facilitando a

logística dos materiais e possibilitando que ele pudesse passar seu conteúdo.

Ocorre que nas sextas os alunos faltam bastante, esvaziando a sala e

dificultando a continuidade dos conteúdos do projeto. Poucos foram os alunos

que não perderam uma ou duas aulas do projeto. Houve aqueles que perderam

mais de três atividades. Esses alunos não puderam ser incluídos no projeto

como se pretendia, comprometendo suas participações diante do projeto e

diminuindo um pouco a capacidade transformadora da iniciativa. Contudo,

essas são questões comuns no cotidiano escolar e em qualquer prática

pedagógica. Nem tudo sai conforme se planejou, os erros acontecem e eles

fazem parte da pesquisa e da prática pedagógica, muito embora, enquanto

estagiário, essas são questões a se pensar em uma prática futura, para que se

possam obter resultados ainda melhores.

Mesmo diante de todas essas barreiras essas práticas permitiram um

grande produto final. A iniciativa trouxe um enriquecimento tanto na formação

do professor, mas, principalmente no embrião de uma nova forma de

organização da Escola Estadual Padre José Grimminck. Durante as atividades,

alguns alunos se destacaram, tanto em seus entusiasmos quanto na seriedade

com que levaram isso para além da sala de aula. Em muitos intervalos ou

outros dias de aula, os alunos comentavam sobre o projeto e como os bairros e

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a escola ainda podia melhorar. O sentimento de renovação com a nova

direção, que de fato oxigenou os alunos e lhes produziu uma maior confiança,

despertou uma necessidade de mobilização. Nesse sentido, conversou-se

sobre a possibilidade de construir um Grêmio Estudantil da E.E. Padre José

Grimminck. Ao todo, nove alunas (seis meninas e três meninos) se envolveram

na proposta. Foram feitas duas reuniões para discutir o interesse, explicar o

que é um Grêmio Estudantil discutir o estatuto e os cargos59 (o que cada um

faz e etc.). A mobilização está no início e pretende se consolidar a tempo de já

no ano que vem se montar a(s) chapa(s) e promover as eleições. Foi feita uma

reunião informal com o diretor da escola que deu aval para a iniciativa,

corroborando inclusive com a ideia, uma vez que era uma de suas propostas

para a gestão escolar a criação de um Grêmio Estudantil. Essa iniciativa segue

em construção por meio de outros instrumentos e segue ganhando corpo. Não

se trata de uma tarefa simples e nem bem realizável na pressa. Ela precisa não

só de um tempo, mas de um bom aproveitamento dele.

O projeto pode ser mais bem aproveitado se dele partir organizações

no sentido de constituir uma rede entre E.E. Pe. José Grimminck, a E.M.E.I

Tereza Paulino, C.E.M.E.I., Caritas, a E.M.E.I. Prof. Leco e Unifal-MG, através

de projetos de extensão com propósitos, a participação de uma prefeitura mais

aberta, mais comprometida com as camadas populares, de forças políticas

estruturadas. Entretanto, esses movimentos devem pretender estar a

disposição da verdadeira classe operária, como apontou Lefebvre, preocupada

em realizar a revolução urbana e não toma-la de assalto como projeção política

(o que muitas lideranças políticas erraram e ainda erram em fazer).

É imprescindível registrar que o que garantirá o sucesso ou não de

uma nova organização por parte dos alunos será a continuidade. Mas não só a

continuidade do que já foi construído, mas o que virá de novo para eles. As

grandes coisas são construídas na coletividade, na sinceridade e no silêncio.

Se ao longo de todo o curso discutimos teorias que leem a Geografia numa

perspectiva crítica, de reconstrução de mundo, significados e lugares, as ações

individuais deverão estar, também, comprometidas com esse viés

59

Presidente (1/1), Vice-presidente (1/1), Secretaria (2/2), Assessoria de Esportes (1/5), Assessoria de Cultura (1/5) e Assessoria de Arte e Comunicação (3/5).

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transformador. Para Milton Santos (2014), essa é uma questão da

contemporaneidade:

Impõe-se, ao mesmo tempo, a necessidade de, revisitando o lugar no mundo atual, encontrar os seus novos significados. Uma possibilidade nos é dada pela consideração do cotidiano. Essa categoria da existência presta-se a um tratamento geográfico do mundo vivido que leve em conta as variáveis [...] (dos) objetos, (d)as ações, (d)a técnica, (d)o tempo (SANTOS, 2014, p.315).

Trata-se de não só enxergar a geografia dos lugares, mas como

também praticar uma geografia nos lugares. Toda a vivência de estágio

supervisionado, as relações construídas durante esse tempo junto aos alunos,

com o professor regente60, todo o aprendizado no curso de Geografia, com

mais erros do que acertos são parte dessa contínua formação que é a

formação do geógrafo-professor, que, em cada espaço vivido, deve sempre se

questionar e buscar entender, para que ali possa ser possível construir outras

práticas. Práticas de resistência, de liberdade, de autonomia e de

emancipação.

É preciso fazer com que aqueles que ensinam a geografia hoje tomem consciência de que o saber pensar o espaço pode ser uma ferramenta para cada cidadão, não somente um meio de compreender melhor o mundo e seus conflitos, mas também a situação local na qual se encontra cada um de nós. É a tarefa dos professores de geografia (LACOSTE, 2012, p. 232).

A tarefa não é simples e os desafios são muitos para o professor de

geografia neste século e neste país. Os conflitos ideológicos e políticos estão

se acentuando. As veias estão saltando e as feridas estão sendo abertas.

Nosso tempo pede consciência da situação e práticas condizentes à realidade

brasileira. Certamente, muito ainda há que se fazer.

60

Que é um formador de professor também, visto que a escola não é apenas um “[...] espaço

de aplicação teórica, mas um espaço alimentador, gerador e revelador de teorias que precisam ser compreendidas, compiladas, registradas, para dar o sentido necessário à construção da identidade profissional desses sujeitos. Nesse decurso, o papel exercido pelo professor da escola básica é crucial” (PIMENTEL & PONTUSCHKA, 2011).

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APÊNDICES

APÊNDICE A - Plano de Aula - Prática 1

TEMA

“A Cidade e os seus diferentes espaços de lazer e consumo”

OBJETIVOS

GERAL

Recolher os registros das percepções de cada aluno em relação aos diferentes lugares

e paisagens do espaço urbano de Alfenas-MG.

ESPECÍFICOS

Entender a percepção das(os) alunas(os) em relação aos bairros em que vivem;

Captar a percepção delas(es) quanto aos diferentes espaços de consumo na cidade;

Relacionar as percepções dos lugares e articulá-la com os processos urbanos, a fim de inserir outros questionamentos para desdobramentos futuros no projeto;

CONTEÚDO

Dentro dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), de 1998, para o Ensino

Fundamental, selecionamos conteúdos curriculares contidos no Eixo Modernização, modos de

vida e a problemática ambiental, Tema: Ambiente urbano, indústria e modo de vida, Itens:

Modo de vida urbano: consumo, lazer e hábitos urbanos e Moradia urbana: habitações e

conforto urbano.

Já conforme o Currículo Básico Comum (CBC), de 2008, o conteúdo enquadra-se no

Eixo Temático I – Geografias do Cotidiano, Tópico 2. Paisagens do cotidiano, Habilidades 2.1

Interpretar as paisagens urbanas e rurais em suas oportunidades de trabalho e lazer valendo-

se de imagens/fotos de tempos diferentes. Tópico 3. Cidadania e direitos sociais, nas

Habilidades 3.1. Reconhecer na paisagem urbana e rural, a cultura, o trabalho e o lazer como

identidade de um lugar e direitos à cidadania, Tópico 5. Segregação espacial, nas Habilidades

5.1. Identificar as questões que envolvem a segregação espacial em imagens, textos e na

observação da vida cotidiana.

JUSTIFICATIVA

É a primeira parte do projeto, por isso, é importante considera-la como introdução

aos sentimentos dos alunos em relação às observações feitas à diversas fotografias de lugares

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e paisagens do espaço urbano alfenense. Essa etapa consiste em absorver o máximo do perfil

de cada aluno e classe, para que as outras práticas sejam conduzidas de acordo aos

apontamentos que eles mesmos fizeram, partindo, portanto, de uma demanda colocada a

partir das reflexões dos alunos, para que seja possível articular a subjetividade desse conteúdo

com os processos dialéticos e históricos resgatados sobre os bairros na cidade.

METODOLOGIA DE ENSINO

A aula, assim como o projeto, pretende partir de uma concepção socioconstrutivista,

na mediação do professor entre o saber cotidiano e o saber científico, dimensões do

conhecimento que elaboram a síntese da compreensão espacial que visamos atingir. A

Educação Espacial Dialética se propõe trilhar por linhas que reafirmem a importância da

missão de atingir a prática espacial consciente, fazendo do espaço escolar ambiente de

(trans)formação política (GADOTTI, 1995). A ideia dessa aula é a de partir de elementos do

mundo vivido, como as paisagens do bairro, visto que elas são “bastante importantes na

formação de valores e atitudes para a vida prática” (CAVALCANTI, 2013, p. 149).

PROCEDIMENTOS

Salas: 9º Ano I, II e III (4º Ciclo do E.F.).

Quantidade de alunos por sala: 25 – 30 alunos.

Tempo total da atividade: 1 aula por turma (1 semana) – considerando 3 aulas

semanais.

Resumo da Atividade: A aula consiste na exposição das imagens das paisagens, sua

observação e a anotação dos alunos em relação a percepção que eles têm das fotografias

mostradas.

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

A avaliação será feita através do recolhimento das anotações dos alunos, de forma

individual. As percepções serão lidas e consideradas, como parte constituinte de toda a

continuidade do projeto. Apenas serão desconsideradas anotações que não possuam algum

tipo de reflexão ou seriedade por parte do aluno.

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RECURSOS NECESSÁRIOS

Disponibilidade de tela e projetor de slides.

Papel, lápis, borracha e caneta.

REFERÊNCIAS

Básica

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:

geografia/ Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/ SEF, 1998.

MINAS GERAIS, Secretaria de Estado de Educação. Currículo Básico Comum do Ensino

Fundamental: Geografia. /Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. – Belo

Horizonte: SEEMG, 2008.

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APÊNDICE B - Plano de Aula - Prática 2

TEMA

“Por que a cidade é diferente? Introdução à formação dos bairros”

OBJETIVOS

GERAL

Introduzir a história do desenvolvimento socioespacial dos bairros no contexto de Alfenas-MG.

ESPECÍFICOS

Auxiliar no desenvolvimento da leitura e interpretação de mapas.

Utilizar o produto cartográfico como principal forma de linguagem na compreensão da evolução da cidade de Alfenas-MG;

Compreender como a cidade de Alfenas-MG evoluiu;

Localizar e entender quando e como os bairros locais se originaram;

CONTEÚDO

Dentro dos PCNs (1998) para o Ensino Fundamental, foram contemplados os Eixos 3

– o campo e a cidade como formações socioespaciais, tópico “o espaço como acumulação de

tempos desiguais” e Eixo 4 – a cartografia como instrumento na aproximação dos lugares do

mundo, tópico “da alfabetização cartográfica à leitura crítica e mapeamento consciente”.

No CBC (2008), o conteúdo enquadra-se no Eixo Temático I – Geografias do

Cotidiano, Tópico 5. Segregação espacial, Habilidades 5.2 Explicar os tipos de relações sociais

existentes no território relacionando-os com os lugares, suas estratégias de segregação e

exclusão das populações marginalizadas. Tópico 7. Cartografia, nas Habilidades 7.2.

Reconhecer os elementos que compõem um mapa (título, legenda, escala, orientação, fonte e

coordenadas) e sua importância na representação do espaço geográfico.

JUSTIFICATIVA

Nesta segunda aula, a proposta foi a de utilizar a linguagem cartográfica para tratar

sobre a história espacial de Alfenas-MG e iniciar na problematização dos processos urbanos.

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METODOLOGIA DE ENSINO

Nesta aula, utilizou-se da metodologia de M.E. Simielli, na utilização do mapa para a

produção do aluno leitor-crítico (SIMIELLI, 2013). A partir do mapa, foi resgatada a história do

desenvolvimento espacial de Alfenas-MG, para que seja possível nas próximas aulas adentrar

ao contexto do bairro. A aula também serviu como possibilidade de introdução do processo de

segregação socioespacial, entendida a partir de Roberto Lobato Corrêa, Amélia Damiani, Ana

Fani Alessandri Carlos e Arlete Moysés Rodrigues.

PROCEDIMENTOS

Salas: 9º Ano I, II e III (4º Ciclo do E.F.).

Quantidade de alunos por sala: 25 – 30 alunos.

Tempo total da atividade: 1 aula por turma (1 semana) – considerando 3 aulas

semanais.

Resumo da Atividade: Para esta aula, será apresentada a evolução da cidade de

Alfenas-MG sem qualquer referência de título, legenda, com exceção da década, em forma de

slides. Depois, serão utilizados dois mapas (expansão urbana e rede viária arterial) para realizar

leitura conjunta de seus elementos e reforçar a explicação. Cada aluno receberá um material

didático contendo a evolução urbana de Alfenas-MG e deverão responder questões que

avaliarão a capacidade de localização e o entendimento de parte do processo em que eles se

situam.

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

A avaliação será feita através do recolhimento das respostas dos alunos nos materiais

didáticos. Será verificado se o aluno (I) conseguiu localizar onde mora na cidade, (II) entender

em que ano seu bairro surgiu e (III) identificar a distância dele em relação ao centro da cidade.

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155

RECURSOS NECESSÁRIOS

Disponibilidade de tela e projetor de slides.

Cópia Física dos Mapas.

Cópia Física do material didático.

Papel, lápis, borracha e caneta.

REFERÊNCIAS

Básica

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:

geografia/ Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/ SEF, 1998.

MINAS GERAIS, Secretaria de Estado de Educação. Currículo Básico Comum do Ensino

Fundamental: Geografia. /Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. – Belo

Horizonte: SEEMG, 2008.

Page 156: IGOR RAFAEL DE PAULA TRABALHANDO A EDUCAÇÃO … · ... de Paula (in memorian), que foi o primeiro a ... para o exercício da cidadania. O ensino de ... Ano do Ensino Fundamental

156

APÊNDICE C - Plano de Aula - Prática 3

TEMA

“A mudança dos bairros no tempo e a especulação imobiliária”

OBJETIVOS

GERAL

Compreender o conceito de especulação imobiliária e seu impacto na cidade.

ESPECÍFICOS

Continuar a inserir a dimensão temporal na análise das mudanças ocorridas no espaço urbano;

Resgatar os tópicos da aula anterior e complementar com uma análise mais voltada ao que levou a expansão de Alfenas-MG;

CONTEÚDO

Nos PCNs (1998), para o Ensino Fundamental, englobaram-se o Eixo 3 – O campo e a

cidade como formações socioespaciais, Tema: o espaço como acumulação de tempos

desiguais.

Para o CBC (2008) foi contemplado o Eixo Temático I – Geografias do Cotidiano,

Tópico 5. Segregação espacial, nas Habilidades 5.1. Identificar as questões que envolvem a

segregação espacial em imagens, textos e na observação da vida cotidiana.

JUSTIFICATIVA

Nesta terceira aula, é importante continuar a tocar nos elementos espaciais urbanos

através do uso da ferramenta cartográfica. Por isso, como continuidade do conteúdo sobre a

cidade, foi importante trazer ferramentas como as imagens de satélite, em diferentes escalas

de observação, contemplando tanto a cidade como os bairros, para depois.

METODOLOGIA DE ENSINO

Para esta aula, o foco é continuar a tratar sobre a historicidade do espaço e sua

mudança ao longo do tempo na cidade (SANTOS, 2013, 2015). Abordando esses conteúdos

introduzidos na aula anterior, foi estabelecida uma ponte para trabalhar a especulação

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157

imobiliária como um processo da cidade capitalista, como fator gerador de desigualdade, no

espaço urbano visto como produto e mercadoria (CARLOS; DAMIANI; RODRIGUES, 2007).

PROCEDIMENTOS

Salas: 9º Ano I, II e III (4º Ciclo do E.F.).

Quantidade de alunos por sala: 25 – 30 alunos.

Tempo total da atividade: 1 aula por turma (1 semana) – considerando 3 aulas

semanais.

Resumo da Atividade: Os alunos deverão realizar o exercício de observação das

mudanças espaciais ocorridas na cidade de Alfenas-MG e nos bairros locais, após isso, serão

discutidas essas mudanças sob a luz da especulação imobiliária.

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

A avaliação será feita através do recolhimento das respostas dos alunos, de forma

individual. Será verificado se os alunos corresponderam bem ao entendimento da especulação

imobiliária, sob o ponto de vista crítico de sua função capitalista na cidade.

RECURSOS NECESSÁRIOS

Disponibilidade de tela e projetor de slides.

Papel, lápis, borracha e caneta.

REFERÊNCIAS

Básica

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:

geografia/ Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/ SEF, 1998.

MINAS GERAIS, Secretaria de Estado de Educação. Currículo Básico Comum do Ensino

Fundamental: Geografia. /Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. – Belo

Horizonte: SEEMG, 2008.

Page 158: IGOR RAFAEL DE PAULA TRABALHANDO A EDUCAÇÃO … · ... de Paula (in memorian), que foi o primeiro a ... para o exercício da cidadania. O ensino de ... Ano do Ensino Fundamental

158

APÊNDICE D - Plano de Aula - Prática 4

TEMA

“A Segregação e o contexto da origem dos bairros a partir de suas histórias”

OBJETIVOS

GERAL

Finalizar os conteúdos sobre a história dos bairros e de Alfenas-MG e orientar a

atividade final.

ESPECÍFICOS

Debater a história dos bairros, com a finalidade de produzir uma leitura que ponha em crise os preconceitos dos alunos sobre si mesmos.

Produzir uma análise dos bairros ressaltando seu histórico de resistência dentro do processo urbano já trabalhado.

Auxiliar no desenvolvimento de propostas sobre os bairros.

CONTEÚDO

Nos PCNs (1998), abarcaram-se o Eixo 1 – a Geografia como possibilidade de leitura

e compreensão de mundo, Tema: A conquista do lugar como conquista da cidadania e Eixo 3 –

o campo e a cidade como formações socioespaciais, Tema: O papel do Estado e das classes

sociais e a sociedade urbano-industrial brasileira.

O CBC (2008) é atendido no Eixo I – Geografia do Cotidiano, Tópico 3 – Cidadania e

direitos sociais, Habilidades 3.1: Reconhecer na paisagem urbana e rural, a cultura , o trabalho

e o lazer como identidade de um lugar e direitos à cidadania.

JUSTIFICATIVA

Trata-se do encerramento do projeto. Por isso, é muito importante que os alunos

expressem em suas palavras todo o conteúdo apreendido até aqui em forma de redação

colaborativa, no sentido de identificar e propor melhorias aos seus espaços/territórios. Esse

momento encerra o ciclo de atividades e se faz importante pois conclui as etapas com as ideias

elaboradas pelos próprios alunos, adquirida em parte pelo saber geográfico compartilhado e

adquirido das primeiras aulas.

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159

METODOLOGIA DE ENSINO

O encerramento do projeto reúne todos os autores trabalhados na pesquisa, além da

valorização das trajetórias dos moradores, resgatados através dos relatos (GONÇALVES & LISBOA, 2007).

Como essa etapa pretende registrar, de fato, se os conhecimentos adquiridos possibilitaram

uma prática voltada à cidadania, reafirmando os objetivos propostos desde o início do trabalho, o de

formar consciências espaciais cidadãs no contexto dos bairros formados e inseridos em espaços de

segregação (LEFEBVRE, 1991; NOGUEIRA & CARNEIRO, 2013).

PROCEDIMENTOS

Salas: 9º Ano I, II e III (4º Ciclo do E.F.).

Quantidade de alunos por sala: 25 – 30 alunos.

Tempo total da atividade: 1 aula por turma (1 semana) – considerando 3 aulas semanais.

Resumo da Atividade: A aula consiste na orientação e elaboração de propostas sociais para

os bairros locais, a partir da identificação dos problemas pelos alunos.

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

A avaliação será feita através da leitura das propostas elaboradas pelos alunos.

RECURSOS NECESSÁRIOS

Papel, lápis, borracha e caneta.

Cópia física dos textos e folhas para elaboração das propostas.

REFERÊNCIAS

Básica

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: geografia/ Secretaria

de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/ SEF, 1998.

MINAS GERAIS, Secretaria de Estado de Educação. Currículo Básico Comum do Ensino Fundamental:

Geografia. /Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. – Belo Horizonte: SEEMG, 2008.

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160

APÊNDICE E - Respostas dos alunos do 9º II - Prática 1

Aluno

(a)

Respostas

01. a-)

Saída do

Pinheirinho

01. b-)

Saída do

Aeroport

o

02

Botequim

03

Bar do

Santana

04

Praça Getúlio

Vargas

05

Allure/

Jardineira

06 Praça

Pinheirinho

07 Trevo’

s

08 Feira Livre

(Dom.)

09

Tênis

Clube

10 Náutico

Clube

1

“Eu gosto de morar no pinheirinho, onde eu moro é calmo, e bem legal, eu não acho que dinheiro representa uma vida boa, como das pessoas que tem

dinheiro uma classe melhor e frequentam lugares caros e chick eles podem também frequentar lugares humildes; Claro que lugares mais caros são mais

confortáveis, o Pinheirinho é bom, mais tem o problema das drogas, se isso acabasse poderia ser um lugar bem melhor do que qualquer outro bar,

balada, loja e outras coisas mais caras. O único lugar que tem em Alfenas que não tem separação de classe é a praça, lá frequentam, ricos e pobres,

acho que classe social, não tem nada a ver, eu não tenho condições de frequentar esses lugares caros, mais se eu conseguir dinheiro eu posso, isso vai

de cada um outra pessoa de uma classe melhor também pode viver no Pinheirinho ou em qualquer outro bairro de classe media ou baixa”.

2

“Eu passo lá

sempre,

gosto muito

de ficar ali

nos

parquinhos

as vezes é

movimenta

do as vezes

não”.

“Eu acho

que já

passei mas

não to

lembrada”

.

“A

Butiquim já

passei

várias

vezes ali já

entrei la

também

mas tenho

vontade

de ir lá pra

comer

alguma

coisa

tomar um

chop”.

“O Bar do

adriano já fui

varias vezes

da

mercearia

eu gosto

muito de ir

no bar da tia

no bar da

pracinha

gosto de ir

nos fins de

semana”.

“Eu gosto de ir

na praça todos

os domingos

da uma volta”.

“Nunca fui

mas

quando eu

for de

maior eu

vou rs”.

“Já passei

perto mais

não entrei.

Tenho

vontade”.

“Já

fui,mas

não

entrei”.

“Nunca

fui”.

“Tenho

vontade

de ir

deve ser

legal”.

“Já fui,

vou

mas lá

não é

tão

limpo”.

3

“Me sinto

aliviada

porque

estou no

meu

cantinho”.

“Eu nunca

fui nesse

lugar”.

“Me sinto

com fome,

pelo cheiro

bom”.

“Fico muito

loca nesse

lugar”.

“Adoro ir na

praça no

domingo com

minhas amigas

e tomar açaí,

fofocar e

conhecer

pessoas

novas”.

“E nunca

fui nesse

lugar,

porque

não posso

entrar não

tenho

idade”.

“gosto de

ficar

sentada

conversan

do com as

amigas e

tomando

uma

bebida e

ouvindo

uma

música”.

“Loja

muito

cara

eu não

entro

porqu

e não

posso

compr

a

nada,

mais

tenho

vonta

de de

entra”.

“Adoro

porque as

coisas são

baratas,

compro

muitas

coisas”.

“Tenho

muita

vontade

de ir lá,

parece

muito

legal”.

“Gosto

de ir

todo

doming

o ou

sábado

”.

4

“Eu me sinto

bem é um

lugar que

eu

frequento

bastante. E

um lugar

que me faz

bem”,

“Eu não

conheço o

jardim

aeroporto

mais já

ouvi falar.

Tenho

curiosidad

e”.

“Eu

conheço

acho um

lugar

maravilhos

o. É muito

bom pra

encontrar

amigos”.

“Já fui nesse

lugar eu

conheço

mais não

costumo ir. E

bastante

frequentado

por pessoas

que não

curto muito”.

“Eu conheço

vou direto na

praça e um

lugar que você

encontra

amigos e

família eu

gosto muito”.

“Nunca fui

mais um

dia quem

sabe eu

possa ir”.

“Eu

frequento

bastante e

um lugar

gostoso de

ficar e

beber com

os

amigos”.

“Eu

conhe

ço,

mais

nunca

entrei

nessa

loja as

coisa

são

muito

caras”.

“Eu vou,

gosto

desse

lugar”.

“Nunca fui

e tenho

muito

interesse

de

conhecer”

.

“Eu vou

bastant

e com

a

minha

família

e um

lugar

bom”.

“Lembr

o da

minha

Page 161: IGOR RAFAEL DE PAULA TRABALHANDO A EDUCAÇÃO … · ... de Paula (in memorian), que foi o primeiro a ... para o exercício da cidadania. O ensino de ... Ano do Ensino Fundamental

161

5

“Sinto alivio

em chegar

em casa”.

“Lembro

quando

passava

com

minha tia

de carro

para levar

minhas

primas na

casa das

amigas”.

“Lembro

que eu

quebrei

uma taça

de sorvete

e tive que

pagar

R$100,00,

nunca

mais voltei

lá”.

“Compro

bala nesse

lugar as

vezes”.

“Gosto de ir

para comprar

coisas”.

“Nunca fui,

tenho

vontade

de ir”.

“Pessoas

se

drogando

kkkkk”

“Já

com

minha

tia

compra

r bolsas,

tudo é

bem

caro”.

“”Lembro

também

da igreja

que eu

frequento”

.

“Já fui

muitas

vezes

adorava

ir”.

infânci

a uns 9

anos

que ia

todo

fim de

seman

a.

Brincav

a

muito,

afogav

a

demais,

engolia

muita

água

de xixi

kkkk”.

6

“Passo lá

todos os

dias pra ir

pra casa da

minha vó”.

“Nunca

passei”.

“Passo por

lá todos

dias”.

“Vou lá na

farmácia

para pesar”.

“Vou lá dia de

sábado”.

“Nunca

fui”.

“Vou lá a

noite de

vez em

quando”.

“Nunc

a fui”.

“Vou lá as

vezes”

“Já fui

três

vezes”.

“Já fui

muitas

vezes”.

7

“Entrada do

bairro

Pinheirinho”.

“Nunca

fui”.

“Bar de

rico, de

pessoas

com boas

condições

financeiras

”.

“Bar de

pessoas com

baixa

renda”.

“Praça do

centro da

cidade”.

“Nunca fui,

sou de

menor”,

“Praça do

Pinheirinho

”.

“Loja

de

acessó

rios de

ricos”.

“Feira do

centro de

Alfenas.

Na minha

opinião a

melhor loja

de

comércios

”.

“Nunca

fui, mas

parece

ser

legal”.

“Nunca

fui, mas

parece

ser

bem

popular

entre os

cidadã

os”.

8

“Eu não

gosto muito

desse lugar

não e mal

passo aí!”.

“Eu nunca

passei ali”

Mais

queria ir”.

“Gosto

muito mais

é muito

caro”.

-

“Eu já fui e as

vezes eu vou e

la e muito

bom”.

“Nunca fui

mais

queria ir,

porque la

so entra

com 18

anos”.

“Eu vou

muito e é

muito

bom!”.

“Nunc

a fui e

nunca

vou”.

“As vezes

eu vou

mais é

legal”.

“Nunca

fui mais

queria

ir”.

“Sempr

e vou

també

m,

muito

top”.

9

“Nunca fui”.

“Uso pra i

pra

escola”

(Resposta

confusa).

“Bar perto

da praça

getulio

vargas –

nunca fui”.

“Bar perto

da praça

Pinheirinho”.

“Praça Getulio

Vargas”.

“Balada

top –

nunca fui”.

“Praça

Pinheirinho

– medo de

se

roubado”.

“Loja –

Clase

alta”.

“Feira –

Clase

baixa”.

“Tenis

Club

nunca

fui”.

“Nautic

o – Fui

Rouba

do”.

10

“Acho o

lugar legal

mais

poderia ser

melhor”.

“Não

tenho

custumes

de passar

la por

perto”.

“Gosto

desse

lugar”.

“Acho esse

lugar

“estranho””.

“Gosto muito

desse lugar e

acho muito

bonito,

frequentava

muito este

lugar”.

“Nunca fui

e nem

tenho

vontade”.

“Acho

bonita

mais certas

coisas

estraga”.

“Já fui

uma

vez e

gostei

mais é

difícil

eu

freque

ntar”.

“Muito raro

eu ir, mais

as poucas

vezes que

eu fui eu

gostei”.

“Já fui,

adoro

este

lugar e

acho

muito

bom”.

“Fui

poucas

vezes e

não

gosto

muito,

porque

lá tem

certa

coisas

erradas

”.

11

“Eu me sinto

em casa”.

“Já passei

mais não

lembro

direito”.

“O Bar já

fui mas

não

gostei”.

“Já passei

infrente mas

nunca

entrei”.

“Eu gosto de ir

la andar atoa”.

“Nunca fui

porque

não

posso”.

“Já fui la

anda com

minha

sobrinha”.

“Uma

loja de

pessoa

s rica”.

“Feira de

domingo”.

“Já fui la

em um

show”.

“Já fui

mais

hoje eu

tenho

Page 162: IGOR RAFAEL DE PAULA TRABALHANDO A EDUCAÇÃO … · ... de Paula (in memorian), que foi o primeiro a ... para o exercício da cidadania. O ensino de ... Ano do Ensino Fundamental

162

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

nojo de

ir la”.

12

“É legal”.

“É muito

bom”.

“Bar de

rico”.

“Bar que

todos pode

ir”.

“É um lugar

bonito e legal”.

“Lugar

bom mais

só adultos

que

podem ir”.

“É legal”.

“Lugar

bem

comu

m”

“Lugar

bem

bonito e

num bairro

legal”.

“Num

bairro

bem

bonito e

não tão

violento”

.

“É

muito

populos

o”.

13

“Um lugar

que eu

passo direto

é um lugar

muito bom”.

“Um bom

lugar e

muito

ótimo para

ir morar

la”.

“Um lugar

ótimo para

ir lá”.

“Um lugar

onde eu vô

direto e é

muito bom

para ir com

os amigos”.

“A praça

também é um

lugar ótimo

para sair com

os amigos”.

“Nunca fui

mais

gostaria”.

“Um lugar

ruim eu

achei”

“Um

lugar

onde

vende

produt

os

essas

coisas”

.

“Muito

bom”

“Nunca

fui mas

gostaria”

.

“Muito

bom”.

14

“Passo

quase todos

os dias”.

“Nunca

passei lá”.

“Já passei

perto mas

nunca

entrei

porque é

um

restaurant

e, e pra

isso tem

que ter

dinheiro”.

“Já passei

perto, mas

não entro

porque é um

bar, e não

participo

disso”.

“Já fui várias

vezes”.

“Nunca vi

e nem

entrei”.

“Vou

quase

todos os

dias”

“Nunc

a

entrei

e nem

passei

perto”.

“Já fui

poucas

vezes”.

“Já fui

uma

vez”.

“Já fui

várias

vezes”.

15

“Eu passo la

as vezes e

fico com

medo

porque e

lugar

assustado”

-

“Já passei

perto mas

nunca

entrei mas

eu acho

bonito”.

“Já passei

mas nunca

entrei

porque la é

um bar mas

não

participo

disso”.

“Centro já fui

gosto muito de

la tenho

vontade de

morar”.

“Nunca vi

e nunca

entrei”.

“Conheço

mas não

gosto de

lá”.

“Já vi

nunca

entrei”.

“Nunca fui.

Não gosto

muito”.

“Tenho

vontade

de ir

deve ser

divertido

”.

“Já fui

e gosto

de lá so

fico

com

nojo”.

Page 163: IGOR RAFAEL DE PAULA TRABALHANDO A EDUCAÇÃO … · ... de Paula (in memorian), que foi o primeiro a ... para o exercício da cidadania. O ensino de ... Ano do Ensino Fundamental

163

APÊNDICE F - Respostas dos alunos do 9º Ano III - Prática 1.

Aluno

(a)

Respostas

01. a-)

Saída do

Pinheirinho

01. b-)

Saída do

Aeroport

o

02

Botequim

03

Bar do

Santana

04

Praça Getúlio

Vargas

05

Allure/

Jardineira

06 Praça

Pinheirinho

07 Trevo’

s

08 Feira Livre

(Dom.)

09

Tênis

Clube

10 Náutico

Clube

1

“Conheço,

passo por lá

diariamente

”.

“Passo por

lá para

trabalhar

no beff”.

“Passo por

lá quando

vou para o

centro da

cidade,

vejo várias

pessoas

lá”.

“O Bar da

Rosaria,

passei minha

infância

comprando

bala lá”.

“Quase todo

fim de semana

tomo sorvete

na praça com

minha filha”.

“Nunca fui,

nessa

boate,

mais já

possui

perto”.

“Minha

infância

inteira

brincando

lá, mais

tem muita

coisa para

mudar

nela”.

“Meu

irmão

mais

velho,

compr

a

roupa

nessa

loja e

as

roupas

são

boas”.

“Meu

irmão

trabalha

na feira

vendendo

dvd’s ao

lado da

banca de

roupas”.

“O tenis

clube é

um lugar

muito

lindo eu

trabalho

com o

beff la

no

salão”.

“O

naltico

é um

lugar

legal

pra ter

lazer

com a

família,

apesar

da

igiene

não ser

boa,

mais lá

é

gostoso

”.

2

“Passo todos

os dias para

ir na casa

da minha

avó”.

“Muito

difícil eu

passar ai”.

“Já passei

por perto

mais

nunca

entrei”.

“Sempre vou

lá fim de

semana com

família e

amigos”.

“Sempre vou,

acho muito

legal e um

bom lugar pra

passear”.

“Nunca

fui”.

“Já passei

por perto

mais

nunca tive

curiosidad

e”.

“Vou

as

vezes,

muito

difícil

eu ir.

Acho

interes

sante

e bem

legal”.

“Já fui,

mais não

tenho

costume

de ir muito

mais neste

lugar”.

“Já fui,

mais

nunca

gostei

muito de

lá. A

diferenç

a do

Tênis

Clube é

que se

você

não tiver

carteirin

ha você

paga

para

entrar e

é bem

mais

limpo”.

“Já o

náutico

qualqu

er

pessoa

pode

entrar e

a agua

não é

tão

limpa”.

3

“Sempre

passo”.

-

“Nunca fui,

só passei

em frente”.

“Nunca fui,

mas sempre

passo”.

Sempre vou,

costumo

resolver coisas

e passear por

lá”.

“Nunca

fui”.

“é uma

pracinha,

vou lá as

vezes, e

sempre

passo”.

“Uma

loja

que

nunca

fui, só

passo

por

lá”.

“Fera, vou

as vezes”

“Nunca

fui, mas

tenho

vontade

de ir”.

“Eu ia,

não

vou

mais”.

4

“Sim,

conheço

passo todos

dias, eu vejo

muitos

movimentos

muitas

pessoas

“Sim, pra ir

em um

trabalho

“Espaço

Kids””.

“Sim, vou

as vezes

lugar

moviment

ado”.

“Sim passo

todos os dias

bar

movimentad

o da hora”.

“Lugar onde

eu vou todos

os domingos e

dias da

semana

bastante

“Sim,

passei por

perto mas

não

cheguei a

“Sim, vou

todos os

dias passo,

lugar

humilde

comunida

“Sim,

minha

mãe

sempr

e vai

compr

“Sim vou

as vezes

não

frequento

muito por

conta da

“Sim,

uma vez,

lugar

frequent

ado por

mais

bem

“Sim,

umas

vezes,

lugar

mal

organiz

ado

onde

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164

passo todos

os dias para

ir na

academia”.

movimentado

tem vários

lugares por ali”.

entrar”.

de geral

frequenta”

.

ar

ropas”.

contidade

de gente”.

sucedido

s, muito

organiza

do”.

qualqu

er um

entra e

muito

conhec

ido”.

5

“Eu sempre

passo por

ai”.

-

“Já fui

umas 5

vezes por

ai mas as

coisas são

muito

caro”.

“Já fui várias

vezes mais

agora eu

não (vou)

muito mais

não”.

“Sempre vou la

todos os fim de

semana”.

“Nunca

fui”.

“É uma

pracinha

bonita mas

falta

muitas

coisas pra

ela ficar

com uma

cara de

alegria

né?”.

“É uma

loja que

eu

nunca

fui mas

passei

por la”.

“Eu ia mais

agora eu

não vo

mais a toa

mesmo”.

“Já fui é

muito

legal lá”.

“Já fui

mais eu

não vo

mais”.

6

“Não nunca

passei”.

“Nunca

passei”

“Nunca fui,

mas tenho

vontade”.

“Não vo mais

conheso”.

“Costumo ir

todo domingo

pra andar,

costumo ir pra

comprar ropa

também”.

“Nunca fui

não tenho

vontade”.

“Vo direto

levar meu

sobrinho

pra brincar

mas o ruim

que da

muito

noia”.

“Nunca

fui, mas

tenho

vontad

e”.

“Adoro ir

todo

domingo

to la pra

compra

ropa mas

barato”.

“Já fui

muito

bom é

enorme

la

dentro”.

“Já fui,

so que

o ruim

é que é

muito

cheio”.

7

“Já passei

por láh”.

- “Não sei

onde fica”.

“Vo lah todo

dia”.

“Vo lá quase

sempre”.

“Nunca

fui”.

“Vo lá

todo dia”.

“Já fui

la

compr

a

roupa”

.

“Já fui lá

pra comer

coxinha”,

“Já fui lá

nadar”.

“Vo lá

todos

final de

seman

a”.

8

“Passo por

la quase

todo dia”.

-

“Nem sei

onde fica”.

“Vo la todo

dia “compra

bala””.

“Vo la quse

todo dia”.

“Nunca

fui”.

“Vo la

todo dia”.

“Já

fui”.

“Já fui

come

coxinha”.

“Já fui la

uma vez

na

minha

vida”.

“Já fui

la fim

de

seman

a”.

9

“Eu

conheço e

sempre

passo por

ali”.

-

“Conheço

mais não

tenho

costume

de passar

por ali”.

“Conheço e

já fui”.

“Conheço e

sempre passo

por ali, e nos

final de

semana vejo a

Raissa ali com

um tanto de

moleques”.

“Nunca

fui”.

“Sempre

passo por

ali para

mim ir para

o dentista

e para

pasear”.

“Eu

conhe

ço e

sempr

e

passo

por

ali”.

“Eu

conheço e

sempre

vou”.

“Conheç

o mais

nunca

entrei

lá”.

“Eu já fui

e

(ilegível)

enquan

do eu

vejo a

Raissa lá

pelada

com um

tanto de

menino

e

menina

do Santa

Clara

comend

o pão

com

mortand

ela”.

10

“Pracinha

do

pinheirinho,

pessoas”.

-

“Bebados,

pessoas”.

“Cheiro de

pinga –

legal,

daora”.

“Legal”.

“Nunca

fui”.

“Loko,

pessoas,

crianças”.

“Roup

a”.

“Pessoas-

coisas”.

“Nunca

fui”.

“Daora

-legal”.

11

“Que eu já

passei muito

legal

“Nuca

passei

para la e

não quero

“Eu já

passei por

ali e muito

legal”

-

“Eu nuca vui

parala vui para

praça”.

“E não eu

fui para

poate”.

“Eu passei

já nos dias

(ilegível)

“Nunc

a fui

pra

“Eu já

passei pra

la é muito

gostoso

“Nuca

fui la

poque

“Eu fui

lá para

la e

muito

bom

Page 165: IGOR RAFAEL DE PAULA TRABALHANDO A EDUCAÇÃO … · ... de Paula (in memorian), que foi o primeiro a ... para o exercício da cidadania. O ensino de ... Ano do Ensino Fundamental

165

passar”. passa”. preguiça

de passar”.

la”. pasassa

por lar”.

eu

(ilegível)

”.

você

diverdir,

bricar,

nadar”.

12

“Não passo

muito, só as

vezes”.

-

“Gosto

muito”.

“Vejo

pessoas

conversando

por lá”.

“Lugar

agradável

para passear”.

“Não

conheço”.

“Muito

agradável

(as vezes)”.

“Nunc

a fui

:´(“.

“Adoro a

feira

(comer

pastel)”.

“Nunca

fui”

“Nautic

o

(agua

cheia

de

micose

com

bacteri

as

trazend

o risco

a

saúde

human

a)”.

13

“Conheço

passo todo

dinha vejo

pessoa

passando”.

“Não

conheço”.

“Conheço

eu passo

as vezes

lá”.

“Conheço já

comprei

salgadinho e

passo lá

todos o dia”.

“Conheço a

praça eu vou

pra tomar

sorvete”.

“Não

conheço”.

“Conheço

a pracinha

do

pinheirinho

”.

“Conh

eço

passo

a

vezes

para ir

na

casa

da

minha

tia”.

“Conheço

feira do

lado o

sacolão”.

“Não

conheço

”.

“Conhe

ço as

vezes

eu vou

nadar”.

14

“Eu passo

por ela

todos os

dias quase

toda hora”.

“Eu acho

que nunca

passei”.

“Já fui

muito bem

caro as

coisas mais

é tudo

bom”.

“Já fui muito

comprar

bala e

guaraná”.

“Conheço

muito sempre

vou la tomar

sorvete e

comer”.

“Nunca

fui”.

“Sempre

passo por

ela e acho

que falta

flores”.

“Nunc

a

entrei”.

“Nunca

vou na

feira mais

minha vó

vai”.

“Nunca

fui no

tênis

clube”.

“Já fui

gostei

mais

não

curto

muito”.

15

“Conheço,

passo

frequentem

ente, vejo

pessoas

andando,

conversand

o”.

“Não

conheço”.

“Vejo

quando

vou ao

centro”.

“Bar do meu

bairro”.

“Vou

frequentement

e, com meus

pais”.

“Já fui no

jardineira,

com meus

pais jantar.

No allure

nunca fui”.

“É uma

praça do

bairro,

porém é

bem

morta”.

“Já

passei

na

porta,

mas

nunca

entrei”.

“Adoro o

caldo de

cana de

lá, e o

pastel”.

“Nunca

fui”.

“Já fui

antigam

ente. A

diferenç

a é que

muita

das

vezes,

lugares

que tem

mais

“valor”

é mais

bonito,

mais

cuidado

, pro

“valor”

deles”.

16

“Eu

conheço eu

passo todo

dia, eu vejo

pessoas

carros

animais”.

“Nunca

passei por

aí”.

“Eu

conheço

eu já fui lá

lá é muito

bom”,

“Aí é o bar

eu já fui

compra bala

eu acho

legal mais

tem muito

veio e bebos

“A praça lá

tem muita

gente e muito

carro já fiquei

lá comendo

sorvete

compra

roupas”.

“Eu já vi

mais eu

nunca

entrei só

na pizzaria

mais é

muito

caro”.

“Eu fico lá

tem um

tanto de

pessoa

que fuma

já passei

fiquei

muito

“Eu

nunca

entrei

lá”.

“Eu vou lá

muito é a

feira ando

muito por

lá tem

muita

gente”.

“É o tênis

clube eu

nunca

fui mais

sei que é

muito

bom”.

“Eu já

fui

muitas

vezes lá

vai

muita

gente

que fica

fazendo

chichi

na

água.

Eu já vi

a Carol

um

tanto

Page 166: IGOR RAFAEL DE PAULA TRABALHANDO A EDUCAÇÃO … · ... de Paula (in memorian), que foi o primeiro a ... para o exercício da cidadania. O ensino de ... Ano do Ensino Fundamental

166

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

lá”.

beba”.

de vez

pelada

no

naltico,

junto

coom

um

tanto

de

meninos

e

meninas

lá é

muito

bom”.

17

“Passo por

la muito

pouco mas

conheço”.

“Já fui

somente 1

vez a

muito

tempo”.

“Já fui e

muito

bom”.

“Já fui la pra

comprar

bala”.

“Vou muito a

praça nos dias

calmos para

tomar um

pouco de

sorvete”.

“Não

cheguei a

ir”.

“Nessa

pracinha

precisaria

de ter mais

cobração

(cobrança

), mais

flores ou

árvores e

ter menos

pessoas

com

drogas”.

“Não

conhe

ço e

não sei

nada

a

respeit

o”.

“Vou muito

aos

domingos

a feira,

mas

somente

para

comprar

verduras e

frutas”.

“Um

ótimo

clube!

Fui mas

poucas

vezes. É

um

pouco

menos

frequent

ado ao

náutico

porque é

um lugar

particula

r”.

“Já

frequen

tei, mas

não

chegue

i a

nadar

ou

curtir o

lazer. É

meio

que

mais

frequen

tado

do que

o “tênis

clube”

porque

é um

lugar

público

”.

18

“Eu

conheço

muito fico la

todo os dia

e veio

embora do

(ilegível)”.

“Não

conheço e

nem quero

passar lá”.

“Já foi e

muito

bom”.

“O bar da

Santana e

muito

conhecido”.

“Passo por la

enquanto vou

no centro e na

praça. Vejo

muita gente no

casadão

(calçadão)”.

“Não

conheço”.

“Conheci

muito a

pracinha

do pinheiro

todos os

dia fica lá

fazendo

bagunça”.

“Não

conhe

ço

mais e

muito

bem

faland

o

(falad

o)”.

“Conheço

sim

compro

roupa lá

(ilegível)”.

“Não

conheço

”.

“É bem

conhec

ido o

povo

toman

do

banho

(ilegível

) sem

mais

arroma

nar o

náutico

é um

lugar

que

muito

pessoas

gosta”.

19

“Eu sempre

passo ali e

vejo carros”.

“Não

passei”.

“Já passei

fui la”.

“Sempre

vejo pessoas

la”.

“Sempre vo

la”.

“Não fui”.

“Todo dia

eu vola”.

“Já

compr

ei

roupa

la”.

“Já vi já

fui”.

“Não

fui”.

“Todo

sábado

”.

Page 167: IGOR RAFAEL DE PAULA TRABALHANDO A EDUCAÇÃO … · ... de Paula (in memorian), que foi o primeiro a ... para o exercício da cidadania. O ensino de ... Ano do Ensino Fundamental

167

APÊNDICE G - Respostas dos alunos do 9º I - Prática 1

Aluno

(a)

Respostas

01. a-)

Saída do

Pinheirinho

01. b-)

Saída do

Aeroport

o

02

Botequim

03

Bar do

Santana

04

Praça Getúlio

Vargas

05

Allure/

Jardineira

06 Praça

Pinheirinho

07 Trevo’

s

08 Feira Livre

(Dom.)

09

Tênis

Clube

10 Náutico

Clube

1

“É uma

avenida

que pego

para ir rumo

ao centro

da cidade e

é a saída do

pinheirinho”.

“É uma rua

onde

minha

mãe passa

para ir

trabalhar”

“Onde eu

nunca

cumi

porque

não tenho

dinheiro”.

“Bar do

pinherinho

nunca fui

porque não

tenho

curiosidade

em

conhecer

mas já passei

em frente”.

“Praça no

centro da

cidade onde

vo só pra anda

atoa no fim de

semana”.

“Nunca fui

lá”.

“Passo lá

todos os

dias para

comprar

pão”.

“Nunc

a fui

por

causa

do

preço”

.

“Já fui

muitas

vezes e lá

as peças é

mais

barata”

“Nunca

fui mas

tenho

colegas

que vão

e dizem

que é

muito

bom”.

“Já fui

muitas

vezes”

2

“Eu passo

por lá pra ir

pra escola

todos os

dias”.

“Nunca

passei por

lá”.

“Nunca fui

também

mas já ouvi

falar”.

“Passo por lá

pra ir na

casa da

ação e na

padaria”.

“Vou na praça

getúlio vargas

com minha

mãe para

comprar

coisas”.

“Nunca

fui”.

“Passo

todo dia lá

pra ir na

padaria”.

“Nunc

a

fui”.

“Vou de

veiz em

quando

pra

compra

filmes”.

“Nunca

fui.

Nunca

me

interesei

em ir”.

“Já fui

com

meus

amigos

”.

3

“É do meu

bairro

(pinheirinho)

”.

“Nunca

passei por

ali”.

“Acho top,

mas ja fui

com

minha

mãe”.

“Bar do

pinheirinho

meu bairro

(bar de

tranqueira)”.

“Vou as vezes

na praça

andar com os

amigos, comer

é legal (getúlio

vargas)”.

“Nunca

passei por

ali”.

“Pracinha

do

pinheirinho

, adoro kkk

meu bairro

denovo

sempre

que passo

por ali tem

criança

brincando

”.

“Nunc

a

passei

ali”.

“Já fui na

feira, faz

tempinho

que não

vou lá”.

“Já fui

também,

minha

madrinh

a me

levou”.

“É o

náutico

já fui

leva

minha

irmã e

nadei

també

m”.

4

“Conheço

esse lugar,

passo por

ele para ir e

voltar da

escola”.

“Não sei

onde é e

nunca fui”.

“Sei onde

fica,

porém

nunca fui”.

“Fica longe

da minha

casa, mais

eu conheço

o lugar”.

“Sempre que

tem festa

s ou eventos,

eu vou nesse

lugar. Pra sair

com os amigos

e até mesmo

com a família.

Não é tão

longe da

minha casa”.

“Nunca vi

esse

lugar”.

“Não vou

muito a esse

lugar, porém

passo

sempre por

ele, pra ir a

escola, pra

pegar

circular, pra

ir à casa de

amigos”.

“Não sei

onde

fica,

mais já

ouvi

falar

desse

lugar”.

“Vou

pouco a

esse lugar,

meus pais

vão mais

do que eu.

Porém, sei

onde fica

e as vezes

eu vou”.

“Sei onde

fica esse

lugar, mas

nunca

entrei

nele. E o

bairro que

ele fica é

bem

longe da

minha

casa”.

“Quand

o eu era

criança

eu ia

bastante

com

meus

pais.

Mais

recente

mente

não fui lá

ainda”.

5

“Neste lugar

eu passo

todo dia

para ir para

academia”.

“Nunca

passei por

lá, mais

pretendo

passar”.

“Já passei

perto perto

mais

nunca

entrei lá, as

pessoas

falam que

lá é bom”.

“Eu compro

as coisas lá,

é lugar

bonito”.

“Eu vou na

praça G.

Vargas, tem

várias coisas

enteiresante,

tomo sorvete,

etc.”.

“Nunca fui

lá, mais as

pessoas

falam que

é

inteiresant

e”

“Eu passo

todo dia na

pracinha do

pinheirinho é

um lugar

fera, onde

eu posso

jogar

futebol,

andar de

bike, etc.”.

“Eu não

comprei

nada lá,

ainda

mais

pretend

o

compra

r”.

“Na feira é

fera,

porque

vende

coisas fera

e barata”.

“Eu

nunca fui

no tênis

clube,

mais as

pessoas

falam

que lá é

muito

bom e

organiza

do”.

“Eu já

fui é

bom

mais é

um

pouco

desorg

anizad

o”.

Page 168: IGOR RAFAEL DE PAULA TRABALHANDO A EDUCAÇÃO … · ... de Paula (in memorian), que foi o primeiro a ... para o exercício da cidadania. O ensino de ... Ano do Ensino Fundamental

168

6

“Passo todo

dia quando

venho pra

escola”.

-

“No

botequim

eu nunca

fui, pois lá

é coisa de

boy”.

“Bar aqui na

área já fui la

varias vezes

conheço os

donos”.

“Já passei lá

varias vezes”.

“Nunca fui

lá”.

“Pracinha

onde tem

fluxo sode

sábado a

noite (La

praz 11:00

horas).”

“Loja

de Boy

so fui

uma

vez

com

minha

tia”.

“ferinha, já

comprei

ropa lá”.

“Nunca

fui”.

“Já fui

de

bike”.

7

“Avenida

Jovino

Fernandes

Salles - Essa

imagem

mostra um

local onde eu

passo todas as

vezes que eu

vou ao

CENTRO de

Alfenas. Ela

bem que

precisaria de

uma reforma,

pois a rua

(avenida) está

desburacada”

.

“Jardim

Aeroporto

– Nunca

passei por

lá, pois

não

conheço

ninguém

que mora

lá”.

“XV

Botequim –

Conheço

este lugar,

mas nunca

cheguei a

entrar lá,

por não ter

também

condições

”.

“Bar e

Mercearia

Santana –

Este bar, já

passei em

frente, mas

nunca

cheguei a

entrar, pois

tem vários

noias

(pessoas que

mechem

com drogas)

bêbados,

etc, pessoas

que não faz

o meu tipo”.

“Praça Getúlio

Vargas – Esta

praça já passei

por lá, e é bem

bonita. Lá fica

várias lojas

onde estão

mais pessoas.

“Allure –

Boate –

Não

conheço e

nunca

passei ou

entrei lá, e

não tenho

vontade

de ir lá”.

“Pracinha-

Pinheirinho

-Conheço

já passei

por lá, e

até diverti,

mas vou

muito

pouco, na

questão

de ter

bastante

bêbados e

pessoas

que são

usuário de

drogas”.

“Trevo’s

– Loja –

Esta loja

até

conheç

o onde

ela fica,

mas

nunca

fui lá,

na

questão

de não

ter

dinheiro

, pois a

loja

contem

roupas

caras”.

“Feira de

Domingo –

Já fui lá, e

comprei

várias

coisas. Eu

achei bom

pois além

de ser

barato e

de

atenção

de

moradores

”.

“Tênis

Clube –

Nunca

cheguei

a ir lá,

mas

parece

ser bom.

Este

clube

também

não

tenho

condiçã

o de

ficar

pagand

o”.

“Náutico

Clube de

Alfenas –

Conheç

o este

lugar e

além de

ser

público

ele é

muito

bom e

divertido

, mas o

ruim que

só abre

nos fins

de

semana,

mas é

MUITO

BOM”.

8

“Nessa

imagem, e

conhecido

como a

entrada

entre os

bairros

pinheirinho,

recreio, e

santa clara

e inevitável.

Eu passo

nessa

entrada

todo dia

para ir

trabalhar”.

“Não

conheço

essa rua”

“Lugar

muito

frequentad

o por

estudantes

e grupos

sociais,

reuniões

entre

amigos

ainda não

tive a

oportunida

de de ir”.

“Um bar

muito

frequentado

porem

localizado

no meu

bairro”.

“Gosto muito

de ir na praça,

dias de

domingo a

noite”.

“Já vi mas

nunca fui”.

“A praça

localizada

no bairro

do

pinheirinho

muito

animada

nos fins de

semana e

muito

frequentad

o por

pessoas de

outros

bairros”.

“Nunc

a

freque

ntei”.

“A mais

conhecida

feira de

domingo

muito

frequentad

a”.

“Conheci

do como

tênis

clube,

nunca

frequentei

mas

pretendo”

.

“Nautic

o

frequen

tava

muito

agora

é um

pouco

difícil,

por

causa

da

distânci

a”.

9

“Eu passo lá

para ir para

igreja todas

quartas e

domingos e

passo lá

para ir para

o centro da

cidade”.

“Eu nunca

passei por

lá, não

cheguei a

conhecer”.

“Nunca fui

também”.

“Quando

saio do culto

eu passo por

lá, mais fica

cheio de

bêbados”.

“Passo na

praça getulio

vargas para

pagar contas

da minha mãe

e para

comprar as

coisas”.

“Nunca fui

também”.

“Praça do

pinheiro

passo lá

para

andar de

bicicleta

ou ir na

mercearia”

.

“Nunc

a fui

na

trevo’s

chegu

ei a

conhe

cer”.

“Eu vo la

para

comprar

verdura

para

minha

mãe”.

“Já fui lá

uma vez

e me

diverti

muito”.

“Já fui

com

meus

amigos

varias

vezes”.

10

“Saída do

Pinheirinho,

gosto do

Pinheirinho

pois sempre

morei no

bairro”.

“Jardim

aeroporto,

não

conheço

muito”.

“Botequim

um bar

top”.

“Mercearia

da Soraia no

Bairro

Pinheirinho”.

“Praça Getulio

vargas, gosto

muito de lá”.

“Restauran

te

jardineira

no trevo”.

“Pracinha

do

Pinheirinho

”.

“Loja

trevos

para

home

m rua

do

cinem

a”.

“Feira do

centro”.

“Tenis

Clube,

nunca

fui,

minha

mãe já

trabalho

u lá”.

“Nautic

o,

clube

para o

povo”.

11

“Passo todo

dia. Por que

é a entrada

e saída do

Pinheirinho”.

“É a

entrada

do

aeroporto

nunca fui”.

“É um

lugar que

eu passo

todo dia é

um lugar

muito

bonito tem

cantores e

muita

gente de

boa

“É um lugar

onde

também tem

música e

muita

bebida”.

“É um lugar

bonito quando

a fonte tá

arrumada”.

“Nunca fui

não tem

condição”.

“Ela até

que não é

feia é

arrumadinh

a”.

“Vend

e

roupa

cara”.

“Vende

roupa

barata e

muito

bonita”.

“Nunca

fui não

tenho

condiçã

o e

cara”.

“Tem a

água

suja e

cheia

de

urina”.

Page 169: IGOR RAFAEL DE PAULA TRABALHANDO A EDUCAÇÃO … · ... de Paula (in memorian), que foi o primeiro a ... para o exercício da cidadania. O ensino de ... Ano do Ensino Fundamental

169

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

renda”.

12

“Saída do

meu bairro,

tem sempre

um

cachorro

que corre

atrás das

pessoas”.

-

“Um ótimo

lugar

(muito

caro),

nunca fui”.

“Bar do

Pinheirinho.

De noite fica

um som

muito alto e

fica uma

bagunça”.

“Praça Getúlio

Vargas. Muito

bom. Um ótimo

lugar vou

muito lá”.

“Restauran

te

jardineira.

Muito

bom. Um

ótimo

lugar. Já

fui uma

vez”.

“Praça do

Pinheirinho.

Muito legal

lá. Vo la

direto”.

“Loja

Trevo’s

. A

boa

loja

(muito

caro)”.

“Feira do

Centro.

Bom lugar

gosto

muito

compro

bastante

coisa lá”.

“Tenis

Clube.

Nunca

fui”.

“Nautic

o lugar

muito

bom.

Um

pouco

sujo lá,

mais é

um bom

lugar”.

13

“Eu passo

todo dia na

saída do

pinheirinho”.

“Nunca

passei na

rua do

aeroporto”

.

“Eu nunca

jantei

nesse bar”.

“Eu so fui

uma vez

nesse bar”.

“Já fui varias

vezes na praça

getulio

vargas”.

“Nunca fui

nesse

alure”.

“Todo

sábado

acontece

lual”.

“Nunc

a fui

na loja

trevos”

.

“Já

comprei

muita coisa

na feirinha”.

“Eu

nunca

fui no

Tenis

Clube”.

“Vo

quase

todo

sábado

no

náutico

”.

Page 170: IGOR RAFAEL DE PAULA TRABALHANDO A EDUCAÇÃO … · ... de Paula (in memorian), que foi o primeiro a ... para o exercício da cidadania. O ensino de ... Ano do Ensino Fundamental

170

APÊNDICE H - Desempenho dos alunos do 9º Ano II - Prática 2.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Aluno

Localização do bairro

(ponto no mapa e

orientação) –

1,0

Localização do contexto

(década) -

0,5

Análise do contexto

(distância do centro e

justificativa) -

0,5

Total

(2,0)

1 Sim Sim Sim 2,0

2 Sim Sim Sim 2,0

3 Sim Sim Sim 2,0

4 Não Não Não 0,3

5 Sim Sim Não 1,5

6 Sim/Não Não Não 0,5

7 Sim Sim Sim 2,0

8 Sim Não Não 1,0

9 Sim Não Sim 1,5

10 Sim Sim Sim 2,0

11 Sim Sim Sim 2,0

12 Sim Sim Sim/Não 1,8

13 Sim Sim Sim 2,0

14 Sim Sim Sim 2,0

15 Sim Sim Sim 2,0

16 Sim Sim Sim/Não 1,8

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APÊNDICE I - Desempenho dos alunos do 9º Ano III - Prática 2.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Aluno

Localização do bairro

(ponto no mapa e

orientação) –

1,0

Localização do contexto

(década) -

0,5

Análise do contexto

(distância do centro e

justificativa) -

0,5

Total

(2,0)

1 Sim Sim Sim 2,0

2 Sim Sim Sim 2,0

3 Sim Sim Sim 2,0

4 Sim Sim Sim 2,0

5 Não Não Sim 0,5

6 Sim Sim Sim 2,0

7 Não Sim Sim 1,0

8 Sim Sim Sim 2,0

9 Sim Sim Sim 2,0

10 Sim Não Sim 1,5

11 Sim Sim Sim 2,0

12 Sim Sim Sim 2,0

13 Sim Sim Sim 2,0

14 Sim Sim Sim 2,0

15 Sim Sim Sim 2,0

16 Sim Sim Sim 2,0

17 Sim Sim Sim 2,0

18 Sim Sim Sim 2,0

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APÊNDICE J - Desempenho dos alunos do 9º Ano I - Prática 2.

Fonte: Dados da pesquisa.

Aluno

Localização do bairro

(ponto no mapa e

orientação) –

1,0

Localização do contexto

(década) –

0,5

Análise do contexto

(distância do centro e

justificativa) –

0,5

Total

(2,0)

1 Sim Sim Sim 2,0

2 Não Não Não 0,0

3 Sim Sim Sim 2,0

4 Sim Sim Sim 2,0

5 Sim Sim Sim 2,0

6 Sim Sim Sim 2,0

7 Sim Sim Sim 2,0

8 Sim Sim Sim 2,0

9 Sim Sim Sim 2,0

10 Sim Sim Sim 2,0

11 Sim Sim Não 1,0

12 Sim Sim Sim 2,0

13 Sim Sim Não 1,0

14 Sim Sim Sim 2,0

15 Sim Sim Não 1,0

16 Sim Sim Sim 2,0

17 Sim Sim Sim 2,0

18 Sim Sim Sim 2,0

19 Sim Sim Sim 2,0

20 Sim Sim Sim 2,0

21 Sim Sim Sim 2,0

22 Sim Sim Não 1,5

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Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

APÊNDICE K - Texto didático sobre a história do Pinheirinho - Prática 4

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Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

APÊNDICE L - Texto didático sobre a história do Santa Clara - Prática 4

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APÊNDICE M - Texto didático sobre a história do Recreio Vale do Sol - Prática 4

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

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Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

APÊNDICE N - Texto didático sobre a história dos bairros Alvorada e Boa Esperança - Prática 4