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¹ Professora de Rede Estadual de Ensino do Paraná, licenciada pela Fundação Faculdade de Ciências e Letras de União da Vitória PR, com especialização em História Social. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE (2008/2009), pela Universidade Estadual do Centro Oeste Unicentro Guarapuava. Trabalho realizado sob a orientação do Prof. Dr. Oséias de Oliveira. Igreja São Miguel Arcanjo : a Monumentalização do Sagrado Educação Patrimonial no Ensino Fundamental Elisete Cristina Dias Iachak 1 Resumo O presente artigo tem por objetivo aproximar os alunos da Educação Patrimonial a fim de dar ênfase à relevância da construção do conceito de preservação, memória e identidade, por meio do estudo da Igreja São Miguel Arcanjo, localizada na Serra do Tigre, na cidade de Mallet (PR). Buscou-se trabalhar de forma a fazer com que tal monumento, possa ser reconhecido enquanto lugar de memória, bem como, um patrimônio digno de respeito. Nesses aspectos, o presente projeto visou propiciar ao estudante o contato com fatos concretos, próximos a sua realidade, e possibilitar aos mesmos um ensino de História mais significativo e dinâmico. Palavras-chave: Patrimônio; Memória; Preservação; Educação Patrimonial. Miguel Arcanjo Church: the monumentalization of the Sacred Patrimonial Education in Basic Education Abstract The present article has for objective to approach the pupils of the Patrimonial Education in order to give emphasis to the relevance of the construction of the concept of preservation, memory and identity, by means of the study of the Miguel Arcanjo Church, located in the Serra do Tigre, in the city of Mallet (PR). One searched to work of form to make with that such monument, can be recognized while memory place, as well as, a worthy patrimony of respect. In these aspects, the present project aimed at to propitiate to the student the contact with concrete, next facts their reality, and to make possible them education, the biggest significant and dynamic History. Key-words: Patrimony; Memory; Preservation; Patrimonial education.

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¹ Professora de Rede Estadual de Ensino do Paraná, licenciada pela Fundação Faculdade de Ciências e Letras de União da Vitória – PR, com especialização em História Social. Participante do Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE (2008/2009), pela Universidade Estadual do Centro Oeste – Unicentro – Guarapuava. Trabalho realizado sob a orientação do Prof. Dr. Oséias de Oliveira.

Igreja São Miguel Arcanjo : a Monumentalização do Sagrado

Educação Patrimonial no Ensino Fundamental

Elisete Cristina Dias Iachak 1

Resumo

O presente artigo tem por objetivo aproximar os alunos da Educação Patrimonial

a fim de dar ênfase à relevância da construção do conceito de preservação,

memória e identidade, por meio do estudo da Igreja São Miguel Arcanjo,

localizada na Serra do Tigre, na cidade de Mallet (PR). Buscou-se trabalhar de

forma a fazer com que tal monumento, possa ser reconhecido enquanto lugar de

memória, bem como, um patrimônio digno de respeito. Nesses aspectos, o

presente projeto visou propiciar ao estudante o contato com fatos concretos,

próximos a sua realidade, e possibilitar aos mesmos um ensino de História mais

significativo e dinâmico.

Palavras-chave: Patrimônio; Memória; Preservação; Educação Patrimonial.

Miguel Arcanjo Church: the monumentalization of the Sacred

Patrimonial Education in Basic Education

Abstract

The present article has for objective to approach the pupils of the Patrimonial

Education in order to give emphasis to the relevance of the construction of the

concept of preservation, memory and identity, by means of the study of the Miguel

Arcanjo Church, located in the Serra do Tigre, in the city of Mallet (PR). One

searched to work of form to make with that such monument, can be recognized

while memory place, as well as, a worthy patrimony of respect. In these aspects,

the present project aimed at to propitiate to the student the contact with concrete,

next facts their reality, and to make possible them education, the biggest

significant and dynamic History.

Key-words: Patrimony; Memory; Preservation; Patrimonial education.

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1. Introdução

Há alguns anos o ensino de História tradicional, ou seja de história linear

e eurocêntrica, tem sido colocado em discussão por vários estudiosos dessa área

do conhecimento. Isso se dá, pelo fato de que nesse modelo de ensino-

aprendizagem, a História era tida como uma verdade pronta, a ser transmitida

pelo educador e memorizada pelo educando. Deste modo, vemos que não se

possibilitava, em sala de aula, a construção do processo histórico dos alunos, o

que acabava por restringir o acesso dos mesmos à riqueza de tal. Nesses

aspectos, pode-se dizer que o estudo de História deve contemplar diversas visões

e temporalidades, a fim de desenvolver a consciência critica e histórica dos

educandos. Torna-se, então, perceptível, a necessidade de novas práticas, que

contribuam com a apropriação dos conteúdos por parte dos alunos, para que

estes construam seu próprio conhecimento e possam assim, tornarem-se

cidadãos críticos, autônomos, realmente conscientes de seus direitos e deveres.

No que se refere à consciência histórica, tem-se que, segundo as

Diretrizes Curriculares do Ensino de História para a Educação Básica do Estado

do Paraná, esta é inerente ao homem, na sua diversidade, ao passo que é vista

como uma condição para a existência do pensamento humano, pois os indivíduos

se constituem a partir da sua vivência em sociedade, em qualquer tempo ou

espaço. Baseadas na concepção de Rüsen (2001), as Diretrizes Curriculares

conceituam a consciência histórica como o conjunto “das operações mentais com

as quais os homens interpretam sua experiência da mudança temporal, de seu

mundo e de si mesmos, de forma que possam orientar, intencionalmente, sua

vida prática no tempo”.

Considerando o fato de que a maioria dos alunos costuma achar as aulas

de História chatas e enfadonhas, faz-se necessária uma estratégia que traga uma

motivação maior, despertando o interesse pelos conteúdos estudados, que torne

o ensino de história mais dinâmico e significativo.

Sob esse enfoque para Miceli (apud PINSKI, 1991), é inevitável pensar

que toda mudança no ensino de história requer muita coragem, mas que estas se

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fazem necessárias para que a história se torne importante e respeitada, mesmo

que isso não pareça possível.

A estratégia proposta no presente artigo está baseada na aproximação

entre o saber didático e a realidade do educando, isto é, a intenção é ligar a

matéria distante com a história local, valorizando a cultura da comunidade.

Em nossa região, ou seja, no sul do Brasil, existem algumas construções

que, através do tempo, tornaram-se centros de cultura extremamente importantes

para a memória de um determinado segmento da sociedade os quais precisam

ser preservados, pois uma sociedade que não reconhece seu passado está

fadada a perda de sua identidade e enfraquecimento seus valores.

Orientar um processo educativo para o conhecimento e a valorização da

herança cultural do município, através do acesso a instrumentos que permitam a

construção de conceitos e pensamento histórico e promovam o reconhecimento

do patrimônio histórico local é a principal meta desse trabalho, além de objetivar o

desenvolvimento da capacidade os alunos no que se refere a percepção a história

da construção da Igreja São Miguel Arcanjo como algo relevante para a história

do Município.

Nesta perspectiva, este trabalho visou a utilização de novas práticas,

objetivando a construção do conhecimento histórico, instrumentalização e

sensibilização dos alunos para a preservação da identidade local, bem como da

memória coletiva, representadas pelo patrimônio cultural. Para tanto, foi

necessária uma maior aproximação dos mesmos com a realidade, possibilitando

o contato destes, com objetos de estudo concretos, de mais fácil compreensão,

permitindo aos estudantes o seu reconhecimento enquanto sujeitos participantes

da História. Sendo assim,

quanto mais o aluno sentir a História como algo próximo dele, mais terá vontade de interagir com ela, não uma coisa externa, distante, mas como uma prática que sentirá qualificado e inclinado a exercer. (PINSKI, 2003, p.28)

Sob esse enfoque, realizou-se uma pesquisa-ação em uma turma da 5ª

série do Ensino Fundamental da Escola Estadual Nicolau Copérnico da cidade de

Mallet- PR, tomando-se como intrumento para a prática pedagógica, a Igreja São

Miguel Arcanjo da Serra do Tigre. Teve-se por objetivo a inserção da educação

patrimonial no Ensino Fundamental, bem como a construção do conceito de

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preservação, de memória e de identidade, nos alunos, por meio do estudo desse

monumento local.

2. Patrimônio

Para se discutir, claramente a questão de preservação, valorização e

Educação Patrimonial é necessário identificar o que é patrimônio e quais são suas

expressões.

Desse modo, podemos dizer que, atualmente, ao pensarmos no termo

patrimônio, de imediato nos vêm a lembrança, duas concepções diferentes ao

passo que, convergentes. A primeira se trata da herança que se transmite aos

filhos, as quais podem ter valor material, emocional ou ainda espiritual, como as

lições de vida, ensinamentos, receitas, entre outras. Esses, seriam os patrimônios

individuais, aos quais cada individuo agrega valor e atribui importância. A outra

ideia refere-se ao patrimônio coletivo, o qual é definido por outros indivíduos,

portanto algo mais complexo e remoto.

Nesses aspectos, entrar num consenso sobre valor patrimonial torna-se

difícil, tendo em vista que este se direciona a bens pertencentes a uma

comunidade específica, cujos membros, geralmente possuem ideias e interesses

diferentes, o que, de forma quase que automatizada, gera uma diversidade de

opiniões, cada qual buscando obter benefícios em relação à escolha deste ou

daquele patrimônio.(FUNARI & PELEGRINI, 2006)

Como nem tudo o que restou do passado pode ser considerado

patrimônio, o que vai servir de referência para que isso ocorra é a relação

existente entre a comunidade e o elemento em questão isto é, a cadeia de

relações que se forma entre as partes. Sendo assim pode ser considerado como

um revelador de identidades e ser tratado como um

conjunto de bens produzidos por outras gerações, ou seja, os bens resultantes da experiência coletiva que um grupo deseja manter como perene. Nesse sentido patrimônio supera a definição estreita de um conjunto estático de objetos, construções, documentos, obras, etc., sendo uma marca, um vestígio cultural, que individualiza os homens em momentos temporal e culturalmente diferentes. (MACHADO, 2004. p. 69)

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Sob outro ponto de vista vemos que patrimonium, em latim, significa

“bens herdados do pai”, algo de valor que se herda, e, como já foi mencionado até

os dias de hoje representa os bens que são transmitidos aos filhos. Com o passar

do tempo o significado do termo patrimônio foi ampliado aos bens de

determinados grupos sociais, que eram passados como forma de transmissão de

conhecimentos às gerações futuras.

Cabe ressaltar que, patrimônio cultural, refere-se a inúmeros pertences,

bens, objetos, locais, construções pertencentes a um povo ou nação. É um

conceito muito amplo que engloba os recursos da humanidade e os recursos

naturais, ou seja, é composto basicamente do meio natural do homem, do

conjunto de conhecimentos acumulados e do conjunto de bens culturais, que

seria tudo aquilo que o homem produziu com a intenção de sanar suas

necessidades e de seu desenvolvimento.

A Constituição Federal de 1988 define, em seu artigo 216, o que é o

patrimônio cultural brasileiro, a partir da seguinte concepção:

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira... (BRASIL. Constituição, 1989, p. 141).

No Brasil, o órgão responsável pelo Patrimônio é o IPHAN – Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – o qual surgiu durante o governo Vargas

como o SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, cujo ideal

preservacionista objetivava a junção de um bem arquitetônico a um

acontecimento memorável, conhecido como “patrimônio de pedra e cal”. A

primeira lei que oficializa a proteção dos bens culturais nacionais é o Decreto-lei

nº 25 de 30.11.37:

Constitui o Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o conjunto de bens de interesse público, que por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, que por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico; bibliográfico ou artístico. (Lei nº 25/37 citada por BITTENCOURT, 1998, p.131)

Com base nessa citação, podemos perceber que foram excluídos do

processo de preservação os modos de expressão e os fazeres do povo, com o

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intuito de forjar uma identidade ao promover uma memória de uma só voz, de um

passado sem contradições, sem conflitos sociais, sem diferenciações.

(BITTENCOURT, 1998, p. 131).

Atualmente, é função do IPHAN, atuar na concretização do processo de

valorização e resgate do Patrimônio, pela sociedade. De acordo com Funari &

Pelegrini (2006, p.45) este órgão se encarrega “da identificação, catalogação,

restauração, conservação, preservação, fiscalização e difusão dos bens culturais

em todo o território brasileiro”.

Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,

patrimônio cultural não se limita apenas a imóveis oficiais, mas na sua concepção

atual se estende a imóveis particulares, trechos urbanos e até ambientes naturais

de importância paisagística. (IPHAN, 2008)

De acordo Lemos, o patrimônio cultural é o acervo maior de um país ou

de um povo, compreende todo o conjunto de bens denominados “culturais”

porque, “entre todos eles, quaisquer que sejam os atributos que se lhes der,

existe forte travamento de relações estabelecidas”. (LEMOS, 2006, p.8)

Sob a ótica do estudo proposto por Hugues de Varine-Boham, Lemos,

afirma que o patrimônio cultural pode ser dividido em três grandes grupos de

elementos: o primeiro refere-se ao habitat natural do homem, ou seja, ao meio

ambiente; o segundo, às técnicas de confecção dos artefatos, o saber fazer; e o

terceiro, mais importante, dos bens culturais que é, na verdade o produto da

junção dos dois primeiros.

2.1. Patrimônio, Memória e História

Patrimônio, Memória e História são conceitos indissociáveis, sob esta

perspectiva, torna-se possível partir para a análise da relação existente entre

estes termos.

De acordo com Le Goff, (2003) a memória é alimentada pela história, que

dela cresce e tenta resgatar o passado para servir ao presente e ao futuro. A

memória coletiva deve servir de instrumento de libertação e não de escravização

do homem, sendo que, segundo o autor, a memória é a essência da identidade,

quer individual ou coletiva, essência essa, cuja procura é uma das principais

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atividades dos homens de hoje. Deste modo a memória coletiva pode se referir a

um “instrumento e um objeto de poder” (LE GOFF, 2003, p. 470).

Conforme Nora (1993) a memória é vida, por isso está em constante

evolução, pois é sempre levada por grupos vivos, estando sujeita à lembrança e

ao esquecimento, a sofrer deformações, a ser manipulada, usada, a passar por

longos períodos de latência e sofrer bruscas revitalizações.

Nessa perspectiva, este autor explica que de cada grupo surge uma

memória, portanto existe paridade entre os grupos e memórias, e que ela é

naturalmente coletiva, plural e individualizada, enquanto que a história, ao

contrário, tem aspectos universais, pertence a todos e ao mesmo tempo a

ninguém. Vale ressaltar que a história, sob esse ponto de vista, é tida como algo

que se ancora naquilo que é concreto, no palpável, por exemplo, no gesto, na

imagem, e que o objeto a história só se liga nas mudanças, nas relações das

coisas, nas temporalidades. “A memória é um absoluto e a história só conhece o

relativo”. (NORA, 1993, p.9)

A partir dessas considerações, torna-se possível o levantamento do

seguinte questionamento: Qual é, afinal, a função da memória?

Pollak (1989) encara a memória como uma forma coletiva de

salvaguardar ou reforçar o sentimento de pertencimento a um determinado grupo

social. Para ele, a alusão ao passado ajuda a manter a harmonia e defender as

fronteiras dessa comunidade. Sendo assim, a memória é construída em grupo, ao

passo que individualmente, constituindo assim a identidade individual e coletiva,

sendo esta, um fator importantíssimo para o sentimento de continuidade na

construção de um indivíduo ou de um grupo.

Quando Nora caracteriza a memória, ele distingue dois tipos: a verdadeira

(imediata) e a que se transformou em história (indireta). A memória transformada

em história difere da primeira porque ter sofrido intervenções, ser arquivística, ter

necessidade de sustentação externa e referencial. É a partir desta memória que

passou a ser história, é que se estabelecem os “lugares de memória”. Segundo o

autor

Os lugares de memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, porque essas operações não são naturais. (NORA, 1993, p.13).

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Sendo assim “lugares da memória” são espaços construídos para a

preservação, o uso e a transmissão de uma determinada herança cultural. Nesse

sentido, para manter a identidade de um povo e impedir que seus costumes se

percam, faz-se necessário a preservação desses locais. Para Lemos (2006), o

termo preservação é muito mais abrangente do que aparenta, ou seja, vai muito

além do simples ato de guardar um objeto ou proteger um bem histórico, mas

refere-se a registrar, gravar, manter vivos usos e costumes, mesmo que sofram

modificações; fazer levantamentos, para garantir informações do que é

significativo.

Nora utiliza a expressão “aceleração de história”, para caracterizar essa

situação em que o passado vai perdendo lugar para o presente eterno. Daí a

importância da consciência no que se refere a quê, e porquê, se preserva e quais

as regras que permeiam a escolha deste, ou daquele bem a ser preservado,

quem decide o que é, ou o que não é patrimonial.

Uma das formas de conservação, proteção e preservação, segundo a

legislação atual do Brasil, é o tombamento:

(...) Um ato administrativo realizado pelo Poder Público com o objetivo de preservar por intermédio da aplicação de uma legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo que venham a ser destruídos ou descaracterizados. (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, 2008)

Tombamento, como registro, tem o mesmo sentido de guardar, preservar.

A perpetuação da memória é garantida por meio da salvaguarda do bem

tombado, escolhido entre muitos. Tal bem não pode ser descaracterizado nem

destruído e qualquer modificação que se faça necessária deve ser previamente

analisada e autorizada. O proprietário continua sendo o legítimo dono, pois

tombamento não é desapropriação e esse bem pode ser transferido.

Podemos dizer que, somente através da conscientização acerca da

importância desses bens para a manutenção da cultura de um determinado

segmento da sociedade, será possível a preservação dos mesmos. Nesse

sentido, Aloísio Magalhães (apud Campos, 2005, p.159) explicita que “a

comunidade é a melhor guardiã de seu patrimônio. Só se preserva aquilo que se

ama e só se ama aquilo que se conhece”.

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Segundo Horta, Grunberg &Monteiro (1999)

O conhecimento crítico e a apropriação consciente pelas comunidades do seu patrimônio são fatores indispensáveis no processo de preservação sustentável desses bens, assim como no fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania.(HORTA, GRUNBERG &MONTEIRO, 1999, p.6)

Tendo em vista a estreita relação entre monumentos e memória, Nora

(1993, p.9), afirma que a memória se “enraíza no concreto, no espaço, no gesto,

na imagem, no objeto”. Justifica-se, então, a grande preocupação com a difícil

tarefa de preservação, cujo objetivo maior é o resguardo da identidade de um

povo.

Mário de Andrade ( apud BITTENCOURT, 2005, p.141) defende com

grande propriedade a preservação e a valorização patrimonial “a que se

reverenciar e defender especialmente as capelinhas toscas, as velhices de um

tempo de luta e o restos de luxo esburacado que o acaso se esqueceu de

destruir”.

Analisando sob outro ponto de vista, vemos que um dos grandes desafios

enfrentados pelo poder público e pela educação é o de fazer com que a

preocupação com a preservação dos bens culturais seja partilhado entre o maior

número de indivíduos, pois observa-se que, muitas vezes, a própria comunidade é

responsável pela degradação dos monumentos os quais lhe pertencem, quer seja

por desinformação, desconhecimento ou até mesmo pela opressão originária do

progresso, a qual obriga, muitas vezes, a destruição dos patrimônios para dar

lugar a prédios mais modernos. Portanto, para que se preserve a memória de um

povo, faz-se necessário, o envolvimento de todos os sujeitos da sociedade, na

questão do reconhecimento da importância dos mesmos, para a manutenção de

sua própria história.

A partir dessas considerações, deduz-se que é de extrema necessidade o

resgate dessa memória cultural, através de trabalhos que objetivem a análise das

sociedades e os aspectos culturais em risco de se perderem.

Cabe ressaltar aqui, a necessidade de se fazer com que cada indivíduo se

perceba enquanto sujeito atuante na história, pois, geralmente, a maioria da

população se sente excluída do processo de escolha dos bens a serem

preservados, o que acaba por gerar nesses sujeitos a idéia de não pertencimento

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a esse mesmo processo de escolha e, portanto, os fazem desconhecidos de seu

passado, de seus direitos e de sua própria identidade. Corrobora com esse

pensamento a afirmação que, “como todos os homens são determinados pela

história vivida, todos são sujeitos da própria história; isso equivale a entender que

História é feita por todos.” (CAINELLI & SCHIMIDT, 2005, p.125)

3. Educação Patrimonial

A educação patrimonial é um instrumento importantíssimo que colabora

no sentido ao de fazer com que a comunidade em geral conheça e aprenda a dar

valor ao patrimônio, a princípio, de sua localidade.Segundo Murta & Albano (2002,

p.10) faz-se necessário “convencer as pessoas do valor de seu patrimônio,

encorajando-as a conservá-lo”.

Segundo Lemos, o segredo da preservação está “na elucidação popular, na

educação sistemática que difunda entre toda a população, dirigentes e dirigidos, o

interesse maior que há na salvaguarda de bens culturais.(LEMOS, 2006, p. 109)

Conforme Horta, Grunberg &Monteiro (1999), a Educação Patrimonial é o

processo permanente do estudo baseado no Patrimônio Cultural, sendo este, a

fonte primária da produção do conhecimento de cada indivíduo e da coletividade,

que parte da experiência e evidencia as manifestações culturais, em muitos

aspectos, sentidos e significação do trabalho referente à Educação Patrimonial,

que visa direcionar crianças e adultos à apropriação e valorização da herança

cultural, assim como o uso desses bens, bem como favorecer a formação e

produção de novos conhecimentos.

É pertinente a ressalva de que a Educação Patrimonial pode ocorrer em

qualquer setor da sociedade. A análise do patrimônio como uma forma de

preservação da memória social e da coletividade, os quais contribuem para a

formação de cidadãos conscientes de seus direitos e cumpridores de seus

deveres, é papel da escola.

Sob este aspecto é oportuna a inserção da educação patrimonial como

ferramenta de apoio no processo ensino-aprendizagem de História. Como explica

Bittencourt (2005):

Por educação patrimonial entende-se a utilização de museus, monumentos históricos, arquivos, bibliotecas – os lugares e suportes de memória – no processo educativo, a fim de

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desenvolver a sensibilidade e a consciência dos educandos e futuros cidadãos da importância da preservação desses bens

culturais. (BITTENCOURT, 2005, p. 141)

A educação patrimonial é uma das mais importantes áreas de atuação da

história, pois instrumentaliza os educandos no sentido da conscientização quanto

à preservação da identidade local e da memória coletiva, representadas pelo

patrimônio historico e cultural.

A metodogia de educação patrimonial, proposta por Horta, Grunberg e

Monteiro (1999, p.12) segue quatro etapas: 1-) Observação: referente a

identificação de um bem cultural, bem como sua finalidade e significado por meio

de recursos como exercícios de percepção, questionamentos, experimentação,

anotações, entre outros; 2-) Registro: trata-se da fase de análise dos

conhecimentos adquiridos para melhor fixação do mesmo, aprofundamento da

observação, desenvolvimento da lógica e da memória; 3-) Exploração: esta

etapa possibilita a análise e discussão do problema, confrontando as observações

com o conhecimento científico, por meio de pesquisas em diferentes fontes; 4-)

Apropriação: por meio de diferentes atividades, como pintura, desenhos,música,

entre outras. Neste caso, percebe-se o envolvimento afetivo do aluno com o bem

cultural e, consequentemente, a valorização do mesmo, vemos então que, sob

essa abordagem, o objetivo da Educação Patrimonial é alcançado.

A meta da educação patrimonial é disseminar conhecimento e informação

sobre o patrimônio cultural e sua apropriação pelas comunidades escolares e

locais através de ações educativas planejadas de acordo com as metodologias da

Educação Patrimonial. A partir disso há necessidade de envolver o futuro cidadão

na valorização do patrimônio cultural, despertando em tal cidadão, um sentimento

de responsabilidade e respeito pelos monumentos públicos e bens patrimoniais

de sua cidade. No inicio das atividades, em uma conversa informal os discentes

revelaram o desconhecimento da temática do patrimônio cultural local, deixando

evidenciar a necessidade da implantação deste trabalho de inserção da Educação

Patrimonial. Por outro lado conceitos como o de patrimônio cultural, preservação,

memória, tombamento, entre outros, foram utilizados na elaboração do projeto e

do material didático-pedagógico utilizado nas aulas.

Um dos grandes desafios enfrentados pelo poder público e pela educação

é o de fazer com que a preocupação com a preservação dos bens culturais seja

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partilhada entre o maior número de indivíduos, para que se preserve a

diversidade cultural que é o tesouro maior das comunidades e do país. Com isso,

evita-se o prevalecimento do desejo e da memória de uma minoria, como

aconteceu no passado.

A partir dessas considerações, torna-se possível a descrição do

patrimônio estudado.

4. A Igreja São Miguel Arcanjo e a imigração ucraniana

O avanço de Napoleão sobre a Europa e a escassez de terras para a

prática da agricultura, fizeram com que muitas pessoas saíssem de suas pátrias

em busca de uma vida melhor. Nesse mesmo momento o Brasil com grande

extensão de terras e que vivia o período de pós-abolição, aparece como uma

excelente opção para esses povos. Por volta de 1890, chega à região da Serra do

Tigre, a primeira leva de imigrantes ucranianos, que se estabelecem em uma

comunidade na qual já habitavam poloneses. Ambas as culturas possuíam como

característica marcante, a religiosidade, trazida como herança de seus países.

Uma das primeiras atitudes que tomaram foi a de construir igrejas, mesmo com

poucos recursos e com ferramentas rudimentares.

Nesses aspectos, vemos que a Igreja São Miguel Arcanjo possui

cobertura de telhas de barro e de madeira (tabuinhas), com 20 metros de altura,

15 metros de comprimento e 12 metros de largura é toda feita em madeira de lei

(pinheiro, imbuia e cedro) serrada a mão. Construída a partir da técnica de

encaixe de madeira, a igreja possui paredes triplas, nas quais quase não se usou

pregos.

Diferentemente das igrejas de outros ritos, em lugar de torres com cruzes

voltadas para o alto, na Igreja São Miguel Arcanjo há uma cúpula, que, segundo

os ucranianos demonstra o zelo de Deus sobre seus seguidores, ao redor da

mesma existe uma espécie de cobertura, uma aba com detalhes em madeira que

tem a denominação de “hutsul”.

No que se refere à fachada da igreja, pode-se dizer que esta é composta

por uma legenda, escrita em ucraniano, a qual, traduzida, significa “Deus está

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conosco, entenda nação e reverenciai-O, porque Deus está conosco".2 Em seu

interior há apenas ícones, sem a presença de esculturas. Uma curiosidade é que

toda a madeira utilizada na obra foi doada pelos colonos e trazida pelos mesmos

em carroças ou nas costas, pois o acesso ao lugar era bastante difícil.

Acredita-se que, a Igreja São Miguel Arcanjo foi a segunda igreja do rito

ucraíno-católico a ser construída no Brasil, cuja obra teve início em 1897 e foi

concluída em 1903, sob o comando do padre Nikon Rozdolsky. Cabe comentar

que a primeira igreja desse mesmo rito também pertencia ao município de Mallet,

localizava-se na Colônia 5 e tinha sido construída em 1895, porém, já não existe

mais.

A centenária edificação, apesar de tombada, (registrada como patrimônio

arquitetônico e a mais antiga igreja ucraniana do rito bizantino do Brasil) se

mantém razoavelmente conservada graças às iniciativas da comunidade que com

seus próprios recursos tem conseguido preservá-la, protegendo-a da melhor

maneira possível contra a ação do tempo. No entanto, está em trâmite um

processo para liberação de verba para uma restauração parcial da mesma.

Em homenagem ao centenário da imigração ucraniana (1995) foi

inaugurado, no parque Tinguí em Curitiba, o Memorial Ucraniano. Nele, a

construção mais importante é uma réplica da Igreja São Miguel Arcanjo, também

feita toda em madeira encaixada, mas que não tem função religiosa.

Figura 1- Igreja São Miguel Arcanjo – Mallet fotos: Elisete C. D. Iachak

2 "Бог з нами, розуміти народ і повагу, тому що Бог з нами"

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5. Implementação: conhecer para preservar

Como já foi comentado, o termo patrimônio cultural, tradicionalmente,

refere-se aos bens entendidos como pertencentes a um povo ou nação e que

atualmente procura incluir os bens referenciais para toda a sociedade. A

Educação Patrimonial se apresenta como uma metodologia apropriada ao

desenvolvimento do conceito de patrimônio cultural, permitindo a assimilação de

novas atribuições para sua seleção e a democratização das práticas culturais.

Sabendo-se que uma intervenção pedagógica exige o envolvimento de

sujeitos faz-se necessária a descrição dos participantes da pesquisa.

Os sujeitos do trabalho são alunos de uma escola pública, pré-

adolescentes com idade entre 11 e 12 anos, de classe média baixa. A

composição da turma é de 21 meninos e 11 meninas.

A escola onde foi desenvolvida a atividade é a Escola Estadual Nicolau

Copérnico, situada na cidade de Mallet (PR), onde a mediadora leciona e é

conhecedora dos estudantes e de suas necessidades. Para o desenvolvimento

das atividades foram necessários nove encontros, os quais ocorreram nos meses

de abril e maio de 2009.

Quanto aos materiais utilizados, cabe a seguinte descrição: cadernos

para o registro das informações, folhas de papel, CD-ROM contendo informações

acerca do tema patrimônio cultural, data-show utilizado para repassar o conteúdo

do CD aos alunos, caixas de papelão, as quais serviram de material para a

realização da atividade “Caixa dos Tesouros”, câmera fotográfica para registrar

imagens do trabalho realizado, revistas e jornais para recorte

No que se refere à metodologia ressalta-se que se fez necessária a

utilização de um cronograma pré-elaborado para que o trabalho se desenvolvesse

com organização:

1ª Aula

Apresentação do projeto aos alunos, dos objetivos do mesmo e

das atividades, por meio de aula expositiva- teórica.

2ª Aula

Introdução ao estudo do patrimônio individual por meio da

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história da origem do nome de cada um dos alunos. Solicitou-se

que os alunos realizassem uma pesquisa com os pais sobre o

assunto.

3ª Aula

Discussão sobre a pesquisa realizada. Reflexão sobre

patrimônio coletivo, realizada a partir de conversas com os

alunos. Trabalho com recorte de figuras retiradas de revistas,

jornais e posterior colagem no caderno, com a intenção de que

os alunos reconheçam patrimônios culturais da humanidade.

Nesta aula, foi solicitado que os alunos trouxessem, na próxima

aula, objetos antigos estimados por suas famílias.

4ª Aula

Realização da atividade “Caixa de Tesouros da 5ª A”-,

utilizando-se dos objetos trazidos pelos alunos. Objetivou-se

que os alunos relacionassem Patrimônio e memória,

preservação e conservação. Essa atividade consistiu em cada

um relatar a história do objeto que havia trazido de casa e

depositá-lo em uma caixa que logo após foi levada por uma

funcionária que supostamente a jogaria no lixo para que fosse

levada pelo caminhão (ato previamente combinado). Os alunos

ficaram temerosos. Depois de certo tempo a caixa retorna para

a sala os bens são devolvidos e é feito o registro do sentimento

que os assolou no momento.

5ª Aula

Trabalho com o material didático-pedagógico CD-ROM, por

meio da utilização do data show ,fez-se a explanação do

conteúdo presente no CD, buscou-se a participação ativa dos

alunos nessa atividade.

6ª Aula

Pelo fato do material ser muito extenso fez-se necessário a

utilização de mais uma aula para o trabalho com o material

didático-pedagógico, foi dada continuidade as explicações

sobre as informações contidas no CD-ROM.

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7ª Aula

Visita a Igreja São Miguel Arcanjo. Objetivo: Conhecer o

monumento estudado. Aconteceu no dia 21 de maio de 2009 e

participaram todos os alunos da classe.

8ª Aula

Registro das observações feitas durante a visita à igreja por

meio de texto e desenhos. Discussão sobre essas observações

realizada ainda no local, enquanto esperávamos o ônibus para

o retorno à escola.

9ª Aula

Montagem de um mural pelos alunos, no foram expostas fotos

da visita à Igreja, os desenhos, algumas frases sobre

patrimônio, retirados dos textos que haviam produzidos

anteriormente.

No que se refere a metodologia utilizada, pode-se dizer que, em primeiro

lugar, fez-se um levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos, em relação

a Patrimônios. A atividade inicial foi uma conversa com os alunos a fim de

descobrir a descendência de cada um, essa descoberta foi possível por meio do

sobrenome que cada um possui, a partir desse levantamento ficou óbvio que a

maioria desconhecia sua origem. Propôs-se então, uma pesquisa com os pais ou

responsáveis sobre o assunto e esta foi registrada. Essa atividade foi importante

para que se fizesse a construção do conceito de patrimônio individual. Os alunos

tiveram a oportunidade de transmitir sua história aos colegas num momento rico

de interação e protagonismo.

A fim de dar continuidade ao processo de construção de conhecimento, foi

realizada uma atividade3 na qual os alunos trouxeram objetos de suas famílias e

cada um deles contou para a classe a história de tal objeto e o colocou numa

caixa. Ao final das apresentações foi pedido para que uma funcionária jogasse a

caixa no lixo para que fosse levada pelo caminhão (ato previamente combinado).

Todos ficaram extremamente alvoroçados com a atitude tomada. Nesse meio

tempo, numa conversa, procurou-se verificar os conhecimentos prévios dos

alunos sobre patrimônios e preservação. Depois de certo tempo a caixa retorna

3 Baseada em uma das atividades do Guia de Atividades do Projeto Tesouros do Brasil. Disponível

em :<www.tesourosdobrasil.com.br>.

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para a sala os bens são devolvidos e é feito o registro do sentimento que os

assolou no momento. Uma das crianças relatou: “... eu me senti apavorada,

assustada, com medo pensando quando nossos pais descobrissem, eles ficariam

angustiados pensando no que iam ter de lembrança dos parentes”.

Cabe relatar que além desse comentário, surgiu também, o de outro aluno,

o qual afirmou o seguinte: “Eu me senti muito culpado porque é um tesouro de

família. Meu pai e minha mãe guardam com muito com carinho há muitos anos.

Meu pai iria ficar muito triste.”

A partir dessas colocações pode-se trabalhar com conceitos de

conservação e preservação.

O trabalho com material didático-pedagógico mostrou-se muito relevante,

por ser um CD-ROM auto-executável, com uma linguagem bastante acessível e

imagens muito atraentes. A idéia inicial era permitir que os próprios alunos

utilizassem o CD no laboratório de informática, o que seria muito interessante,

porém, dos 20 computadores apenas quatro deles possuíam entrada para CD,

portanto o trabalho ficou impossibilitado de ser realizado. Fez-se necessário

então, o uso do data-show, em duas aulas sequenciais. Após essa atividade

foram propostas, aos educandos, algumas questões sobre o viram no material

pedagógico.

Tendo em vista que, nas aulas anteriores já tinham sido estudadas as

questões teóricas sobre patrimônio cultural e suas expressões, o próximo passo,

que foi a visita ao bem cultural estudado, no caso a Igreja São Miguel Arcanjo, foi

fundamental para a concretização do projeto. Depois de agendada a visita e

autorizada pelos pais dos alunos, fez-se o trajeto até a Serra do Tigre, e aí os

participantes, munidos de material para anotações, inclusive um questionário para

ser respondido por meio da observação, puderam perceber o bem cultural

estudado, como algo real e acessível, vivenciando o que fora discutido em sala de

aula.

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Figura 2 – Alunos observando os detalhes Figura 3 – Visitação ao bem cultural

Figura 4 – Visitação ao bem cultural Figura 5 – Registros das observações

Após a visitação, para sintetizar o aprendizado fez-se conveniente que os

alunos participassem de uma conversa, na qual todos puderam expor suas

opiniões, suas observações, registros e mostrar os desenhos que fizeram durante

a visita.

Vale ressaltar que, em meio às considerações feitas pelos alunos, surgiu a

seguinte: “A Igreja é um patrimônio histórico. Ela é importante para todos nós,

pois guarda a memória de um povo.” A partir disso foi possível observar que, nas

falas dos estudantes a concretização da proposta da educação patrimonial, que é

a apropriação, a relação afetiva que se estabelece entre o observador e o bem

estudado passa a ter valor, ou seja, aquele monumento que parecia insignificante

no contexto social passa a ter um reconhecimento pelo indivíduo.

Como havia sido planejado para finalizar o trabalho foi montado um mural,

para expor os resultados para a comunidade escolar.

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Considerações Finais

Há uma crescente preocupação em difundir e valorizar o patrimônio cultural

do país, constatação feita a partir da leitura da bibliografia que trata do assunto.

Neste contexto, a educação patrimonial apresenta-se como uma

metodologia muito eficaz para o desenvolvimento do espírito crítico por parte dos

indivíduos e de toda a comunidade, pois o contato com um bem cultural permite a

elaboração dos conhecimentos históricos, possibilita a compreensão da

necessidade de interpretar os bens culturais e os valores básicos de identidade

de um povo para que estes se perpetuem através de gerações.

Sob este ponto de vista, percebeu-se a necessidade de colaborar para a

valorização do patrimônio cultural local, para tanto, a ação pedagógica, aqui

descrita, teve como princípio desenvolver, nos educandos, uma consciência

histórica por meio do estudo de um monumento local, a Igreja São Miguel

Arcanjo. A intenção foi propiciar condições para que estes construam os conceitos

históricos partindo de sua própria realidade, podendo assim, tornarem-se

cidadãos conscientes e crítico.

Os resultados mostraram-se positivos, os objetivos foram plenamente

alcançados. Por meio desse trabalho, os alunos puderam construir seus conceitos

sobre Patrimônio Cultural, memória, preservação. Tal resultado é extremamente

importante para a manutenção da identidade social para que seus costumes, suas

raízes não se percam com o passar do tempo.

Após a realização das atividades, os estudantes passaram a reconhecer o

monumento estudado como uma fonte de informação que tem contribuído para

revelar a história do município. O sentimento de afeição despertado certamente

fará com que passem a defendê-lo e valorizá-lo como pertencente à história do

povo que o construiu.

Em suma, a inserção da educação patrimonial no Ensino Fundamental é

necessária, possível e contribui grandemente para o desenvolvimento dos

indivíduos nos mais diferentes aspectos. A confirmação dessa afirmativa vem das

palavras dos envolvidos no processo, como é o caso de um aluno de 12 anos que

fez o seguinte comentário: “Os patrimônios são nossos, nós é que temos que

cuidar deles, senão o que teremos para lembrar no futuro?”

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