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Alquimia - Alquimistas

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Ebook Demonstração - Uma pequena seleção de textos da IHSA

Afiliação: www.ihsa.org.br

É permitida a livre distribuição (não comercial) deste trabalho, desde que citada a fonte.

Setembro de 2014

Rio de Janeiro

Esta publicação é destinada aos Postulantes e demais interessados sobre o trabalho da Irmandade Hermética da Sagrada Arte, I::H::S::A::

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Sumário

Introdução ....................................................................................................................... 5  

No Limiar da Meditação .............................................................................................. 6  

Origens da Alquimia e Outras Considerações ................................................... 9  

A Sabedoria Esotérica ............................................................................................... 19  

Método para a concentração ................................................................................. 27  

A Suprema Transmutação ........................................................................................ 28  

Os Segredos do Trabalho Alquímico .................................................................. 30  

As Influências que Governam a Vida .................................................................... 32  

As Pessoas das quais nos aproximamos ............................................................. 35  

A Região Secreta ........................................................................................................ 37  

O Silêncio Meditativo ................................................................................................ 39  

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Dedicado aos investigadores da Verdade,

aos que buscam a realização de obras com valor eterno.

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Introdução Esta publicação é destinada para aqueles cujo interesse em ingressar para a nossa Irmandade foi suscitado. Foi concebida devido ao fato de que muitos Postulantes sentem a necessidade de examinar, previamente, a natureza de nossos ensinamentos, a qualidade do nosso trabalho. O que é perfeitamente natural, devido à nossa fundação ser relativamente recente (2011) e terem pouca ou nenhuma referência sobre nós. Selecionamos dez textos dos quatro primeiros Graus. Alguns textos estão incompletos. Não incluímos nenhuma de nossas práticas. Não faria sentido divulgá-las totalmente fora do contexto teórico que serve de fundamento. Alguns devem sentir falta da Alquimia Operativa, que nós da IHSA denominamos de Laboratorial. Esta é reservada, facultativamente, aos que demonstrarem aptidão no decorrer dos graus preparatórios. Dizemos “facultativamente” porque o membro pode optar em acrescentar as disciplinas “laboratoriais” ou permanecer nos aspectos filosóficos e ritualísticos da Arte, sem nenhum prejuízo de sua afiliação. Esperamos, sinceramente, que este trabalho venha aplacar a curiosidade e possíveis dúvidas dos leitores que nos acompanham e despertaram o interesse em seguir o nosso programa iniciático.

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No Limiar da Meditação (Texto do Grau 2)

Trabalho Técnico já ficou para trás. E agora, depois de terminar com sucesso as cinco séries de exercícios, o praticante deve estar em condições de colher os frutos desse árduo labor. Já conhece muitas coisas que, antes, lhe pareciam algo

semelhante ao que seriam os picos do Himalaia para o alpinista inexperiente. Pode concentrar a atenção em qualquer coisa, sob quaisquer condições, sem que o perturbe como outrora, por

pensamentos e emoções. Você não está interessado no que há além do círculo mágico de sua atenção e visualização criado pela própria vontade, nem pelo que se acha fora de você. Seria grande erro imaginar-se que o esforço espiritual e o alcance da meta final indiquem obtusidade da mente. É exatamente o contrário! O sábio possui inteligência que não se pode comparar com a do homem normal, porém a utiliza somente quando há necessidade, e não como o faz o leigo não treinado, que pensa sem cessar durante toda a vida e, ao morrer, ainda que possa ter fama e fortuna, estas de nada lhe valem. Para o homem espiritualmente desenvolvido, o pensar é como as funções triviais do homem comum, isto é, como o comer, o andar, etc. Nenhuma pessoa sensata preencheria sua vida apenas com tais funções, esquecendo todas as outras. O homem treinado pode excluir todos os pensamentos, idéias, palavras e imagens da tela de

sua mente; pode escolher ou abandonar as emoções à vontade. Mas todas essas conquistas estão longe de constituir a verdadeira meta da concentração. São apenas como que instrumentos aperfeiçoados, ou faculdades. Em sua mente, agora refinada e fortalecida – tornada boa serva, em vez de cruel senhor – deve surgir a última pergunta. E se esta não surgir, será indício de fracasso em algum pormenor da sua preparação, alguma imperfeição que persiste. Em tal caso, você terá de voltar em busca da pérola perdida. Mas suponhamos que tudo esteja em ordem. Qual será a pergunta, a última (além da qual nenhuma outra é possível)? A resposta a essa pergunta nos dará a paz suprema, denominada, por Cristo, “o Reino do Céu”, “a água da vida eterna”; por Buda, Paranirvana e, pelo Mestre moderno – Rômana Maharshi – “a realização do Ser no Homem”.

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A essa consciência, então amadurecida dentro de você, apresentar-se-á a pergunta: A QUEM ocorreu fazer todo este trabalho de concentração? Teria sido à sua personalidade, ao seu ego composto de sentimentos, pensamentos e atributos físicos? Certamente não! Pois nos exercícios das Quarta e Quinta Séries você esteve longe desses elementos, que são irreais por seu caráter temporário. Quando esteve absolutamente livre, ao praticar os Exercícios nº 9 e 9-A, nem sequer se lembrou dessa personalidade tríplice. E isso lhe proporcionou apenas o antegozo dessa felicidade que “ultrapassa toda a compreensão humana”. Assim, pois, o “Eu” misterioso, ao qual parece referirem-se todos os atributos, ainda está para ser descoberto, o que só é possível pela meditação verdadeira. Se você estudou atenta e lentamente, com o desejo ardente de compreender o encadeamento lógico destas idéias, até este ponto, esteve, então, numa espécie de meditação mental. O único meio de encontrarmos resposta à grande pergunta é a meditação – arte que requer preparo muito especial. O processo pode ser mais ou menos eficiente e aproximar-nos do Absoluto, o único que dará a última resposta à eterna pergunta, de conformidade com o referido preparo. Portanto, é de esperar que, à base de suas próprias experiências, o estudante abandone a crença ridícula e prejudicial de que “todos podem meditar”. Já sabe quanto custa o clássico domínio da mente e a quantas experiências lógicas e científicas temos de nos submeter para a

realização deste objetivo. Jamais acreditará que possa atingi-lo quem não possua o conhecimento básico da arte da concentração. Do mesmo modo que, sem estudar o idioma árabe, não se poderia ler a respectiva literatura. Você agora está no limiar da verdadeira meditação, cujo primeiro requisito é a tranquilidade – ponto de partida para as coisas maiores. Em inúmeros círculos de pseudo-

ocultismo, as chamadas “meditações” em certos temas, tais como uma virtude, a visualização de imagens sagradas, um jogo de palavras e pensamentos, etc., são meras atividades da mente ainda não dominada, e não conduzem a parte alguma. A mente não pode ser mais do que é. As técnicas de escrever e de falar baseadas na mente – método em geral empregado por pessoas sem treino em alta concentração – são como a pescaria em águas turvas, em que nem sequer podemos conjecturar o tipo do peixe que apanharemos. Se o anzol for grande e a isca apropriada, você sabe que, provavelmente, apanhará peixe grande, mas, se ambos forem pequenos, dificilmente poderá esperar um tubarão ou uma garoupa. Quando a mente for ultrapassada e o “radar” da nova consciência lhe permitir ver além da superfície da água, as coisas assumirão formas diferentes. Você será, então, como os pescadores do Mar do Norte, os quais, munidos de radar, não lançam as redes a esmo e recolhem grande quantidade de arenques. Do ponto de vista do leigo não treinado, a

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meditação é verdadeira superconsciência, mas, para os que atingiram a meta de seu estudo, ela é apenas o seu estado normal de consciência. “Somente o Samadhi pode revelar a Verdade”, disse o Sábio Maharshi. E estamos de fato em Samadhi, quando em meditação verdadeira. Não importa se estamos sentados tranquilamente em nosso sofá ou se nos encontramos sob o sol abrasador; se trajamos à ocidental, de acordo com o clima da Europa e da América, ou se vestimos a modesta tanga ou o calção, usados nos climas tropicais. Você pode não entender uma só palavra do sânscrito e, ainda assim, ser mais adiantado que o oriental que levou toda a vida a estudar textos sacros enquanto se esquecia de santificar a coisa mais importante: a sua própria vida. Continua...

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Origens da Alquimia e Outras Considerações (Texto do Grau 1)

ste é um pequeno resumo da história da alquimia, do ponto de vista psicológico. Seu nascimento (ou surgimento relativamente rastreável) teve lugar quase que na mesma época em que Cristo nasceu. Houve algumas tentativas incipientes no primeiro século

antes de Cristo, mas foram difíceis de rastrear. Assim, pode-se dizer que a alquimia começou no século I a.C., com um período florescente na Grécia nos segundo e terceiro séculos, seguido por um declínio gradual, que durou até o décimo século. Durante esse período, os principais textos foram transportados e traduzidos para o árabe, e no sétimo e no oitavo séculos, nos diferentes pequenos países árabes, houve outro período florescente, após o qual a alquimia “evoluiu” para a história da química, seguindo o mesmo caminho que toda a física e a matemática. Por volta do século X, retornou à civilização cristã através dos árabes e dos judeus na Espanha e na Sicília, e de lá invadiu os países ocidentais, uniu-se à filosofia escolástica e assim prosseguiu em seu desenvolvimento ulterior. A ciência da química antiga é simplesmente a história de um ramo apenas das ciências naturais em geral.

A alquimia, no sentido mais estrito da palavra, teve dois pais: a filosofia racional grega, ou pode-se dizer, uma filosofia da natureza (principalmente aos filósofos gregos pré-socráticos, como Empédocles, Tales de Mileto, etc., e Heráclito) por um lado, e a tecnologia egípcia por outro. Os filósofos gregos, que, como muitos estudiosos do assunto sabem, iniciaram o pensamento racional considerando os problemas relativos à

natureza, à matéria, ao espaço e ao tempo, praticamente não faziam experiências, ou faziam poucas. Suas teorias são apoiadas por certas observações, mas nunca lhes ocorreu, na verdade, experimentá-las efetivamente. Por outro lado, havia, no Egito, uma técnica químico-mágica altamente desenvolvida, mas em geral os egípcios não pensava a respeito dela, nem filosófica e nem teoricamente. Havia simplesmente a transmissão, por certas ordens sacerdotais, de receitas práticas acrescidas de alguma representação religiosa e mágica mas, diríamos, desacompanhada de reflexão teórica. Quando as duas tendências das civilizações grega e egípcia se encontraram, uniram-se num casamento muito fecundo e do qual a alquimia foi fruto. Todos os conceitos básicos e ainda válidos da física moderna são originários da filosofia grega: os conceitos de matéria e espaço, o problema do tempo; o conceito de energia, que estaria presente em Heráclito; o conceito de partícula criado por Leucipo e Demócrito; o conceito de afinidade dos elementos, a idéia dos quatro elementos, que prevaleceu até os séculos dezesseis e dezessete na civilização ocidental - todos esses conceitos foram criados pelos filósofos gregos pré-socráticos e pelos parcialmente pré-socráticos.

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Na Grécia, ocorreu, pela primeira vez, uma visão de uma mudança de uma visão religiosa e mitológica da existência do mundo para uma visão filosófica, no sentido de que os conceitos básicos eram filosóficos, mas ainda permeados, por assim dizer, de maná mitológico, e associados, numa medida muito grande com o que hoje chamaríamos de projeções psicológicas. Umas destas ideias, a saber, a de que os elementos básicos do universo são formas matemáticas, foi criada pelos pitagóricos, e continuada, com ligeiras alterações, por Platão, e é agora novamente importante na teoria de Heisenberg e na física quântica. Desse modo, podem ver que há uma linha muito pronunciada que vai da filosofia grega à ciência moderna mesmo não tendo nunca ocorrido aos gregos a idéia de efetuar testes práticos.

Por outro lado, no Egito, as técnicas foram altamente desenvolvidas mas - e isto é muito importante - essas técnicas químicas eram usadas quase que exclusivamente num determinado campo da vida religiosa. É de se espantar que os remanescentes da arte religiosa do Egito consistem em representações que se relacionam com a vida após a morte. Para dar um exemplo: os egípcios viviam em miseráveis casebres de barro, que evidentemente desapareceram. Não há uma única casa particular no Egito que tenha sobrevivido. Mas suas grande edificações, as pirâmides, são os seus túmulos (algumas pessoas crêem que também eram utilizadas para cerimônias mágico-religiosas). Se

pudéssemos voltar no tempo e perguntar a um egípcio por que não possuírem boas casas para morar enquanto vivessem, embora empregassem toda a sua energia na construção dos túmulos, talvez ele responderia: “Bem, por que alguém se preocuparia em construir uma casa para setenta anos de sua vida aqui? É mais importante construir uma casa para a sua vida na eternidade!” Para ele, era exatamente esta a coisa natural a ser feita. Uma enorme parcela da energia dos egípcios era direcionada para a vida após a morte, e sua principal preocupação era a de que fossem executados os tipos de rituais corretos, etc, de maneira que a vida eterna depois da morte estivesse perfeitamente assegurada. A civilização egípcia é tipicamente africana e não mediterrânea. Eles acreditavam que pela preservação do corpo, do cadáver, podia-se garantir a imortalidade da alma de uma maneira técnica, mágica, e que a imortalidade era atingida pela transformação da pessoa na Divindade cósmica. Por um lado, os egípcios tinham um panteão com muitos deuses, mas por outro, eles acreditavam que havia uma única Divindade cósmica, que era às vezes identificada com Atum, ou com Nun, ou com o deus Rá numa forma diferente, ou com o Osíris cósmico, por vezes também chamado a alma Bá do universo. Há diferentes nomes, de acordo com as diferentes províncias no Egito, mas a idéia básica é a de que há uma espécie de espírito cósmico que reina sobre todos os diversos deuses do panteão egípcio, um deus que é o espírito do universo que tudo penetra, que reina sobre todos os outros deuses e os pode absorver. O morto iria,

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gradativamente, transformando-se naquele deus. Ele tomava parte num grande processo mitológico que era, por assim dizer, um espelho da situação cósmica global em que o egípcio acredita viver. Cada pedacinho do processo de mumificação significava a integração da divindade. As bandagens de linho com as quais a múmia era envolvida representavam as deusas Ísis e Néftis. Quando um cadáver era enrolado dessa maneira nas bandagens, isso significava que estava envolvido pelas noivas ou esposas esquerda e direita de Osíris. No momento da morte, o moribundo é chamado de Osíris, e é idêntico ao deus Osíris. É por isso que, mesmo no famoso papiro sobre o embalsamento, que nos transmite as regras técnicas para a mumificação do cadáver, ele é sempre chamado de “Ó, Osíris, João da Silva (por exemplo) agora você é.” Depois, quando se enrola as bandagens, diz-se: “Ó, Osíris/João da Silva, agora sua noiva Ísis e sua amada Néftis vêm em sua direção, elas o abraçam, elas o protegem e o preservam em seu abraço, você descansa em seu braço para sempre e por toda a eternidade.” Então, coloca-se ouro nas unhas do morto, e diz-se “Agora o ouro que pertence a Hórus vem até suas unhas e o faz eterno.” O corpo é inteiramente untado com óleo. Os grandes opostos da natureza humana em geral, a extroversão e a introversão, desempenham um papel muito importante na história da alquimia, bem como na história de todas as outras ciências. Há, no entanto, uma estranha inversão: os teóricos gregos da filosofia natural eram mais extrovertidos e os tecnólogos egípcios eram mais introvertidos, mas quando se encontraram trocaram os papéis. Os gregos se interessaram pelo material concreto e os egípcios por seu aspecto psicológico interior. Desse modo, eles inverteram os papéis nessa época, mas, naturalmente, a oposição interior e o papel de cada uma dessas duas atitudes opostas continuou. Portanto, desde tempos remotos sempre houve tratados químicos em que se dava maior ênfase às receitas concretas: use isso e aquilo em tais e tais quantidades; verifique se o material está limpo e o misture de tal e tal maneira. Ou havia desenhos esquemáticos mostrando como fazer um forno, e as quantidades que deveriam ser despejadas na mistura, e assim por diante; esboços mostrando como modelar novos copos, retortas e vasos. Predomina aí o lado extrovertido da ciência, e ao ler algumas obras que tratam sobre a história da alquimia, encontramos apenas este tipo de abordagem. A tradição introvertida, por sua vez, mostra uma consciência mais ampla do estado interior e das pressuposições subjetivas e teóricas no âmbito do experimento. Podemos dizer que, naquele exato momento, ocorreu uma grande mudança de direção nas ciências naturais: a linha extrovertida tinha sido explorada até seu limite máximo, e seu exagero culminava em coisas sem sentido. Então, nomes de primeira grandeza na física moderna trataram de procurar novamente o fator subjetivo. Isto começou com a descoberta de que não se pode excluir o observador do experimento, e acreditamos que isto irá, inevitavelmente, ainda mais além, a saber, não apenas não se pode excluir o observador como também não se pode excluir suas condições subjetivas. Estamos agora exatamente na iminência de retornar à tradição mais introvertida. Porém, do século XVI em diante, tudo correu de forma totalmente unilateral, mais na linha da experiência e com uma abordagem extrovertida. A abordagem introvertida foi, desde o princípio, representada por homens como Zózimo e, entre os árabes, por exemplo, por um

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místico xiita do século X chamado Mohammed Ibn Umail, que aparece sempre citado em textos latinos como Senior. Ele era um Sheik e senior era simplesmente a tradução desta palavra. Essas pessoas abordavam o problema sob outro pressuposto, o de que o mistério que estavam tentando descobrir, o mistério da estrutura do universo, estava neles mesmos, em seus próprios corpos e naquela parte de sua personalidade que chamamos de o inconsciente, mas que eles diriam ser a vida de sua própria existência material. Eles pensavam que, em vez de trabalhar com materiais externos, você poderia, com igual pertinência olhar dentro de si e obter diretamente informações provenientes desse mistério porque você é esse mistério. Afinal, você também era a parte do mistério da existência cósmica e, portanto, poderia examiná-lo diretamente. Mais que isso, você poderia pedir à matéria, o mistério do qual você consiste, para que ela lhe dissesse o que ele é, para que ela se revelasse a você. Em vez de tratá-la como um objeto morto a ser atirado num vaso e a seguir cozinhado para ver o que resultaria, você poderia, por exemplo, pegar um bloco de ferro, e perguntar-lhe o que ele é, que tipo de vida é a sua, o que ele está operando e como se sente ao ser derretido. No entanto, como esses materiais estão dentro de você, você também pode contactá-los diretamente e, dessa maneira, eles contatavam o que nós agora chamaríamos de inconsciente coletivo, que para eles era também projetado no aspecto interior de seus próprios corpos. Eles consultavam diretamente esses poderes, por intermédio do que chamavam de meditação e, portanto, a maioria desses alquimistas introvertidos sempre acentuava o fato de que não apenas se deveria fazer experiências exteriores, mas que também seria necessário intercalar fases de introversão com preces e meditação. Com a meditação você tenta encontrar a informação ou a hipótese correta, sobre o que está fazendo ou sobre os materiais. Ou pode, por exemplo, falar com o mercúrio ou com o ferro, e se fala com o mercúrio ou com o ferro então, naturalmente, o inconsciente preenche as lacunas com uma personificação. Assim, Mercúrio aparece para você e lhe diz quem é o deus Sol. Um poder, a alma do ouro, aparece e lhe diz quem ele é e o que é. Olhando para trás na história podemos dizer que o que vemos agora como duas coisas, e que, por motivo de clareza, tentamos manter separadas, a saber, aquilo que em termos junguianos chamamos de inconsciente coletivo e aquilo que em termos da física chamamos de matéria, eram, para a alquimia, sempre uma única coisa. Vocês sabem que Jung também estava convencido de que eram ambos a mesma coisa desconhecida, só que num dos casos observada de fora, e no outro, de dentro. Se você a observa com a abordagem extrovertida, de fora, então você a chama de matéria. Se você a observa com a abordagem introvertida, de dentro, você a chama de inconsciente coletivo. Esta dupla tendência é vista, por exemplo, em títulos de livros tais como As Coisas Físicas e Místicas que é um famoso velho tratado do pseudo-Demócrito. Por physika ele entende o aspecto receita, de natureza química; e por mystika ele entende o aspecto teórico religioso-filosófico, que se atinge por intermédio da meditação sobre a alquimia. Ainda em nossos dias ocorre parcialmente essa divisão, como na física teórica, que é ainda uma tendência que segue um duplo curso. Para o homem original e para o homem arcaico todas as substâncias eram - e pode-se dizer que ainda são - entidades em última análise desconhecidas. Por esse motivo, essas substâncias levam nomes, nos antigos tratados gregos, que simplesmente não sabemos como traduzir. Por exemplo, o enxofre é chamado theion e theion também significa o divino. Há também uma substância chamada arsenikon que é frequentemente mencionada. Arsenikon

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simplesmente macho e, em contraste com theion, que realmente significa enxofre, não se pode definir aquilo que, nos antigos tratados, se entende por arsenikon; poderia significar qualquer coisa. Portanto, as traduções de antigos tratados de alquimia simplesmente deixam o termo arsenikon como sinônimo da substância masculina, pois tal palavra incluía qualquer substância que fosse quente e que “atacasse qualquer outra substância”. Por exemplo, todos os ácidos são masculinos porque corroem e atacam outra substância. A prata é feminina porque é muito facilmente atacada, porque é muito passiva, corrói-se com muita facilidade, e assim por diante. Qualquer substância quente, qualquer substância que tenha uma tendência para alterar quimicamente outras substâncias era chamada de arsenikon. Hoje, essa palavra especificou-se numa única coisa - o arsênico - mas não era assim antigamente. Se você encontrar a palavra arsenikon em velhos textos, ela não estará significando arsênico, pois cada autor tinha em mente uma determinada substância, embora não se possa saber qual. Há sentenças em que até mesmo a palavra theion, divino, aparece, e simplesmente não se sabe se ela deve ser traduzida como o mistério divino básico do universo ou se deve ser traduzida por enxofre! É por isso que, praticamente, não se pode utilizar nenhuma das traduções, mas se tem de aprender grego e latim e fazer nossa própria retradução. Devido à tendência extrovertida da história da ciência, modernos historiadores da química sempre traduziram theion por enxofre, mas há contextos nos quais esse significado é extremamente duvidoso, podendo perfeitamente manter o outro significado, de um misterioso material divino, o mistério de Deus dentro da matéria. A curiosidade do homem, que o levou a fazer experiências com as substâncias, sempre se baseou na idéia de que, indiretamente, ele poderia descobrir mais acerca da divindade, ou do mistério divino, o mistério definitivo da existência. Assim como quando se examina uma pintura ou um artesanato, e se fica admirado com ela, pode-se adivinhar muitas coisas sobre o seu autor, da mesma forma, o homem sempre pensou que desvendar o mistério do cosmos e da existência o levaria para mais perto daquela força misteriosa que os criara, qualquer que fosse essa força. Até o século III os alquimistas se achavam numa completa confusão quanto aos significados que certas palavras tinham nos textos dos outros. Não somos nós os primeiros a ter dúvidas se devemos traduzir theion por enxofre ou por divino, ou arsenikon por um ácido, ou por uma substância quente ou por páprica ou outra coisa - apenas o aspecto masculino dinâmico da matéria - pois até mesmo eles se confundiam por não poderem consultar seus colegas, uma vez que todos eram experimentadores solitários. Assim, eles falavam sobre uma linguagem exotérica e sobre uma linguagem esotérica, e desse modo envolviam-se numa confusão totalmente babilônica de linguagem, que tentavam retificar entre si dizendo: “Na verdade, eu quis dizer isso, e tal coisa quer dizer aquilo, e tal outra coisa não quer dizer aquilo.” Por exemplo, Zózimo diz que a substância básica do mundo é o misterioso elemento ômega. Na linguagem exotérica, não mística, essa matéria é a água do oceano; mas na linguagem esotérica é um mistério terrível, que apenas um certo autor gnóstico, Nikotheos, conhecia. A água do oceano, de acordo com Tales de Mileto, é a origem do mundo, a prima matéria básica, o material básico do mundo, e seu aspecto químico exterior banal é a água do mar, mas o que ela realmente significa, afirma Zózimo, é um mistério religioso gnóstico. Chegamos agora, de maneira natural, à situação da consciência religiosa coletiva na época do aparecimento da alquimia. No geral, as pessoas instruídas não aderiam mais aos cultos religiosos gregos primitivos, porém tinham uma visão semi-religiosa, semifilosófica,

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enquanto que as pessoas ligadas à agricultura tinham uma visão astrológica e mágica das coisas. Então, graças à difusão do Império Romano, surgiu esse fenômeno chamado sincretismo. Os romanos tinham uma maneira muito sagaz de assimilar os povos ao seu império: traduzir os arquétipos. Se, por exemplo, conquistavam uma tribo etrusca, ou quando mais tarde conquistaram as tribos celtas, indagavam qual era o principal deus celeste masculino. Como todos eles eram indo-germânicos, todos tinham o mesmo padrão. Os conquistados diziam: “É Fulano de Tal”, ao que os romanos respondiam: “A partir de agora, ele é Júpiter Fulano de Tal”. Sob o manto dessas tradições religiosas sincréticas, aqueles que eram, por temperamento, de orientação mais religiosa, geralmente procuravam algo mais real e mais concreto, algo que lhes tocasse não apenas a mente mas também o coração, e se dedicavam mais e mais a certos cultos de mistérios. Houve o grande alastramento dos diferentes cultos de mistérios de Mitra, de Ísis, de Osíris, dos mistérios egípcios e dos mistérios de Elêusis que se difundiam cada vez mais com seu simbolismo e suas iniciações. A alquimia se ajusta perfeitamente à situação da consciência religiosa e filosófica da época, e o maior alquimista do século III é um grego egípcio ou egípcio grego, Zózimo. Ele tinha uma visão gnóstica, o que significa que aderia ao gnosticismo, mas também estava bastante familiarizado com a tradição cristã, o que na época não representava um contraste. Enquanto o povo simples agarrava-se ao cristianismo como a única salvação, a nova luz, a coisa diferente, certas pessoas mais céticas, intelectualizadas e relativistas achavam-no apenas “aceitável”; o cristianismo seguia ao lado do gnosticismo e do mitraísmo (é por isso que existem até mesmo inscrições dedicadas a Jesus Dioniso, ou a Jesus Sarapis), porém não podiam permitir que o cristianismo representasse um completo contraste. Eram eles as pessoas educadas com seu relativismo intelectual típico, e Zózimo foi um desses homens. Sua perspectiva era, conscientemente, a gnóstica, mas sua paixão religiosa estava investida na alquimia, na procura pelo mistério da Divindade na matéria. Ora, um dos conceitos que desempenha papel fundamental na alquimia é o conceito da prima materia, a matéria prima, a matéria básica, a substância única da qual tudo o mais é feito. As pessoas sentiam que se pudessem descobrir coisas a respeito dela - e este é ainda um tema da física moderna - então teriam descoberto a chave básica da existência material. Assim, quando se compara, como fez Jung, todos os diferentes conceitos com os quais eles definem a prima matéria, verifica-se quão tremendamente ocupados estavam os alquimistas com esse campo de pesquisa. Na história da alquimia, deve-se ter em mente a dupla tendência das abordagens extrovertida e introvertida. Pode-se imaginar naturalmente que entre os alquimistas, os introvertidos, por exemplo na época de Zózimo, estavam mais inclinados a se interessar pelos cultos de mistérios. Eram eles que anotavam seus próprios sonhos e tentavam utilizá-los, bem como o significado desses sonhos, como uma fonte de informações sobre o que estavam fazendo. Os extrovertidos geralmente se prendiam mais à forma de pensamento que dominava oficialmente. Isso continuou quando a alquimia passou pelas mãos dos árabes e o Islã dividiu-se entre sunitas e xiitas, sendo os sunitas o povo ortodoxo do norte, conformista, religioso e “seguidor do livro”, e os xiitas aqueles que possuíam uma abordagem mais pessoal e mística, e se preocupavam mais com a iniciação interiores. O alquimista introvertido identificava-se mais com os xiitas, e o extrovertido mais com os sunitas. O grande autor, Mohammed ibn Umail era um xiita cujo melhor amigo foi queimado

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como mártir xiita. Na tradição árabe o grande homem era Al-Razi. Ele, naturalmente, não era xiita mas sim sunita, e introduziu na química algo que possui ainda a maior importância, e de fato ele tem o mérito de ter levado a ciência química um pouco mais adiante. Ele descobriu que a quantidade de materiais utilizados fazia diferença. Introduziu na química o que chamou de ciência da balança, ciência do equilíbrio, e daí em diante boas receitas davam uma definição exata, dizendo quantos quilos de uma substância deveriam ser misturados com quantos quilos de outra, de modo a se fazer uma boa amálgama ou liga. No entanto, nas modernas histórias da química, Mohammed ibn Umail é chamado de místico confuso. Quando a alquimia atingiu o Ocidente, o mesmo fenômeno voltou a ocorrer entre os monges e os filósofos escolásticos. Um extrovertido como Alberto Magno adotou principalmente o aspecto químico, enquanto que o autor de Aurora Consurgens (que acredita-se ser São Tomás de Aquino), um introvertido, assimilou principalmente os aspectos místicos da alquimia, citando principalmente Mohammed ibn Umail. Entre os monges medievais, os místicos se prendiam ao texto xiita e às tradições platônicas nos aspectos filosóficos da alquimia, enquanto que os extrovertidos tentavam assimilar as informações de Al-Razi e estavam mais interessados na construção de fornos ou em aspectos técnicos e receitas exatas, e no entendimento destes. Um dos conceitos básicos da alquimia, além do de prima matéria, de espaço, de tempo e de energia de uma partícula, é o conceito do que se poderia chamar de afinidade química, e que naquele tempo era compreendido como a atração inexplicável que certas substâncias exerciam sobre outras, e a repulsão inexplicável de outras. Isto significava que um químico era estimado pela sua capacidade de efetuar certas combinações ou amalgamações de substâncias - o famoso motivo da coniunctio. De novo, a tradição mística introvertida era usualmente comparada à representação religiosa do casamento secreto da alma com Deus, ou do homem com a sabedoria divina. Já nos tempos islâmicos, o Cântico dos Cânticos tornou-se um dos grande manuais alquímicos expressando a história da união do amor num sentido religioso. Para que possamos entender o mérito do alquimista e não sermos tomados pela tendência moderna de descartar a alquimia com a observação de que nada era quimicamente conhecido, devemos, num esforço de imaginação, tentar visualizar a situação naquela época e deixar que nossos sentimentos remontem àquela situação. Por exemplo, talvez exista um homem que desde bem cedo em sua infância tenha se perguntado o que uma coisa realmente é. O que é uma pedra? Uma pedra tem alma? Você poderia tentar obter informações nos livros. Em Roma e em alguns outros centros havia bibliotecas e livrarias, mas era praticamente impossível encontrar livros sobre química caso você vivesse um pouco afastado, de modo que era uma grande aventura conseguir alguns livros para se informar, e você ficaria arruinado se os comprasse. Então, você poderia ler: “Misture o divino, 3 quilos, com o arsênico, 2 quilos, e então verifique se a constelação astrológica está certa. A seguir, se você orar a Deus e se tiver purificado sua casa, pode ficar paciente pois a grande união ocorrerá.” Você precisava trabalhar abrindo caminho através de toda essa linguagem e tentando compreendê-la. Por outro lado, as escavações de Óstia nos mostram em que buracos você tinha de viver naquela época, exceto fora das cidades. Assim, você precisaria construir o forno do lado de fora, pois a Sra. Fulano de Tal diria: “Ele vai pôr fogo em toda a vizinhança, e não queremos que isso aconteça nas nossas casas!” Portanto, você tinha de comprar um

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pedaço de terra numa floresta e lá construir o forno. Então, chegavam pessoas e queriam espiar o que você estava fazendo, de maneira que você se via obrigado a manter empregados prontos a jurar que não contariam nada a ninguém. Então, corria o boato de que você era um praticante de magia negra que estava conjurando demônios, e que se a polícia não proibisse isso, você acabaria destruindo o lugar. Então, você subornaria a polícia local, ou o duque, ou o administrador do lugar com montes de dinheiro (se ainda lhe restasse algum). Então, eles o deixariam em paz para que você prosseguisse com os experimentos científicos. A seguir, você teria que obter a prima matéria e descobrir onde conseguir ouro, ou o que quer que você precisasse para começar. Depois, você teria de construir o vaso: precisaria ir a um oleiro e encomendar certos vasos capazes de suportar altas temperaturas. Naquele tempo, tais recipientes não podiam ser produzidos como hoje, de modo que eles tinham verdadeiras “garrafas térmicas” que simplesmente permaneciam aquecidas dia e noite com carvão ou lenha, e então tiveram de descobrir a técnica de insuflar ar no fogo para obter maiores temperaturas. Assim, você precisava contratar algum simplório que estivesse disposto a ficar acordado dia e noite para acionar os foles de modo a obter o calor, e se ele se ausentasse, toda a sua experiência estaria arruinada, e você teria de começar tudo de novo. Podemos encontrar em diversos livros de alquimia: “Cuides para que teu fogo nunca se apague... caso contrário, deves começar tudo novamente.” Isto deve ser tomado em seu duplo sentido, pois é verdadeiro tanto concreta como psicologicamente. Outro grande perigo que rondava todo alquimista vinha dos senhores empobrecidos, que sempre pensavam: “Se ao menos eu pudesse agarrar aquele homem e fazê-lo fabricar ouro para encher os meus cofres.” Os alquimistas eram frequentemente raptados e torturados pelos que queriam forçá-los a fabricar ouro de alguma maneira mística ou mágica, ou para falsificar dinheiro e salvar algum grande senhor falido. Por isso, muitos tratados advertem: “Pelo amor de Deus, mantenha-se afastado, mantenha-se desconhecido, guarde segredo do que está fazendo, para não cair nas garras de senhores vorazes.” Finalmente, mas não menos importante, havia também, é claro, aqueles que entreviam a boa oportunidade da situação, fingiam ser alquimistas e, conscientemente, fabricavam ouro e dinheiro falsos. Fabricavam um tipo rudimentar de liga de bronze, com um pouco de corante, como ainda se costuma fazer. Isto explica a tradição de fabricar imitações de ouro e dinheiro falso e que segue os passos da alquimia. Eram inescrupulosos que percebiam que era isso que o mundo esperava dos alquimistas, e alguns, de caráter bastante fraco, diziam que, já que era isso o que o mundo queria deles, eles iriam fazê-lo e fazer carreira para si mesmos. É por isso que todos os verdadeiros cientistas, os verdadeiros pesquisadores entre os alquimistas, dizem: “Eu não estou à procura do ouro do homem comum, não estou procurando o ouro vulgar (isto tem um significado bastante concreto). Estou à procura de um ouro superior, estou procurando algo mais.”

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Alguns, na verdade tentaram fazer ouro concretamente, mas queriam descobrir de como um metal pode se transformar em outro. Sabemos agora que isso é possível: pode-se fazer ouro a partir de outros metais. O sonho dos alquimistas tornou-se real no século XX, mas vale a pena? É tremendamente caro, mas eles estavam certos, mesmo concretamente, cientificamente certos. Mas os verdadeiros alquimistas, os honestos, como chamamos, mesmo se tentassem fazê-lo, o fariam porque queriam descobrir esse princípio cientificamente. Não estavam interessados em enriquecer ou em fabricar dinheiro para algum duque falido.

Daí, podemos ver como era concretamente (do ponto de vista monetário) e psicologicamente dispendioso ser um alquimista. Você se tornava uma pessoa muito solitária e era olhado como uma espécie de feiticeiro ou adepto da magia negra ou, na melhor das hipóteses, não era notado se se escondesse completamente, trabalhasse à noite e tivesse alguma outra profissão durante o dia. Realmente, era um trabalho preponderantemente subterrâneo. Algumas vezes, entretanto - como, por exemplo no período árabe do sheik Al Mamoun - certos senhores, sheiks e alguns árabes, e mais tarde, novamente na Europa, abades ou bispos maiores, ou membros da hierarquia da Igreja, ou senhores seculares, interessavam-se pela alquimia e patrocinavam verdadeiros alquimistas em suas investigações. Não tinham intenção de forçá-los a fabricar dinheiro mas sim, estavam eles mesmos apaixonadamente interessados e envolvidos, e ajudavam outros em seus trabalhos. Agora, imagine que você é um desses alquimistas! Você se senta, numa certa tarde, com seus livros, e imagina como traduzir uma frase ou como entender o que outro alquimista está dizendo. Então, alguém bate à porta, e um vagabundo entra e diz: “Eu soube que você está interessado em alquimia, veja o que tenho aqui.” E ele atira sobre a sua mesa um pedaço de

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minério brilhante como ouro, e diz: “Então, é isto o que você quer?” Você pergunta o que é, e ele lhe diz que se trata de algo muito valioso. Então você o compra, mas não faz a menor idéia do que se trata. Você vira e revira o material, e o coloca no forno e quando está muito quente algo começa a pingar, e se você aproxima um pouco mais o nariz sente-se, de repente, terrivelmente mal e quase cai morto e fica prostrado durante vários dias, tomado por delírios e num estado de intoxicação. Quando você se recupera, se o conseguir, volta ao seu laboratório e pensa que o que comprou devia conter chumbo venenoso. Daí o fato de se ler em textos antigos que “o chumbo contém um espírito perigoso que torna as pessoas dementes, maníacas e loucas. Cuidado com o espírito do chumbo na obra”. Isto não é apenas uma verdade psicológica. O chumbo é um símbolo e está relacionado com Saturno, com o espírito da depressão, simbolicamente. Mas a consideração de que o chumbo é uma projeção do diabo, que ele contém o diabo e um espírito que provoca loucura, é também um fato químico concreto. Se você retroceder na história, perceberá que o fator psíquico e o fator material eram absolutamente um só, e quando você lê os textos, deve fazê-lo de duas maneiras: quando dizem que o chumbo contém um espírito maligno causador de loucura, isso também significa que o chumbo é venenoso. É por isso que eles dizem que Mercúrio é também um espírito maligno que é capaz de confundi-lo completamente, pois de fato pode ocorrer um envenenamento pelo elemento químico mercúrio. Ao trabalhar com as substâncias, você ganha erupções na pele, tem delírios, fica doente, e é por isso que você lê, em certos tratados, que “muitos pereceram na nossa obra”. Isto, mais uma vez, não é apenas psicologicamente, mas também factualmente, verdadeiro. Muitos foram vítimas de seus experimentos, pois não sabiam com que estavam lidando. Vocês vêem, portanto, que era essa a situação de um alquimista. Ele era um homem dos subterrâneos que, movido por uma paixão pessoal secreta, procurava os segredos de Deus, por meio dos quais Ele fizera todo este maravilhoso mundo cósmico no qual geralmente nos sentimos tão estupefatos. O alquimista dava o sangue da sua vida, seu dinheiro e sua devoção à prática experimental, para descobrir o que poderiam significar tais coisas, e ao mesmo tempo para tentar entender a linguagem obscura de seus próprios sonhos e continuar andando às apalpadelas no escuro. Naturalmente, como sempre acontece quando nos defrontamos com o desconhecido, a imaginação inconsciente projeta imagens arquetípicas hipotéticas. Assim, eles trabalhavam com seus sonhos e com suas representações arquetípicas hipotéticas para descobrir mais acerca desse mistério.

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A Sabedoria Esotérica (Texto do Grau 1)

elo que temos visto até agora, a alquimia, o hermetismo, a arte real, a arte supra, são alguns nomes com que os antigos e modernos cognominaram esta ciência que apresenta duas faces: uma face pública, que pode ser encontrada nos livros e inúmeros

escritos, e uma face oculta: a esotérica. Mas existe também um lado esotérico, um lado oculto, que evidentemente não podemos abordar aqui em profundidade, porque tudo que existe a respeito está velado. Mesmo assim, algumas indicações serão dadas e os “atentos” as perceberão. A Alquimia é um trabalho paciente; a paciência é uma das virtudes e muito se assemelha ao trabalho do pesquisador físico ou psíquico. Um homem de ciência que pesquisa o reino da Física, ou um médico, um psicanalista, um psicólogo que pesquisam o mundo psíquico, estão redescobrindo e explorando obscuras forças naturais. Não há nada de mágico, de sobrenatural em relação à Alquimia. A transmutação tem dois aspectos simbólicos: a transmutação da natureza psíquica e a transmutação da natureza física. Ambas são movidas por forças naturais cuja existência tem sido perfeitamente familiar aos filósofos, aos metafísicos, aos ocultistas de inúmeras eras, mas a manipulação dessas forças tem sido escrupulosamente ocultada, ou expressa somente em termos enigmáticos. Daí a expressão “hermética”, que é uma expressão sinônima de algo cifrado, dito em meias palavras, algo incompreensível. Esta proteção, este cuidado é para evitar que essa forças, dominadas por indivíduos sem escrúpulos, possam resultar em péssimos efeitos, de caráter mental e moral. É necessário, portanto, quando se trata do assunto de Alquimia, que desenvolvamos o olho interior. É como o olho interior que conseguimos captar algumas cintilações, algum fulgor, algum brilho e conseguimos, então, compreender o significado dos símbolos. A maioria dos textos é apresentada em forma simbólica: muitas gravuras, muitas palavras em grego e latim ou, então, em expressões hieroglíficas. Mas o homem, com seu olho interior, pode acender uma luz que, uma vez acesa, começa a iluminar, por si, os textos, que vai lendo. Diz Mary Atwood que “esse acender da luz provoca uma alegria, que ultrapassa os raios visuais, permitindo que a chama intelectual ultrapasse em brilho o fogo elementar e dá, àquilo que é tocado por esta luz, uma firmeza, numa terra incógnita para a maioria, mas que é um santo terreno; é alguma coisa firme que, aos poucos, começamos a sentir que surge debaixo de nossos pés”.

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Esta expressão de Mary Atwood revela que, à medida que começamos a perceber, graças a esse “olho interior”, graças a essa intuição que se desenvolve por força do trabalho da manipulação de símbolos, por força de todo um processo de efervescência, no inconsciente ou por subconsciente, começamos, aos poucos, a sentir a terra firme. Essa alusão a terra firme, a terreno realmente sólido, identifica um elevado estado de consciência. O místico é aquele que percebe uma realidade transcendente e começa a falar dela pela sua experiência direta chamada por Richard Rolley, um místico inglês medieval, como o “canor”. Diz ele: “quando a meditação se torna uma canção de alegria e surge na alma a doçura do amor eterno e a mente é mudada num doce e pleno som ...” Portanto, a mente, que é normalmente ruidosa, tagarela, se pacifica e passa a emitir um som suave. “O elevar da nossa consciência, nessa música divina, é o símbolo de que estamos recebendo a palavra divina”, diz R. Rolley. Portanto, há uma “palavra” (entre aspas) “divina” (entre aspas) que se está constantemente renovando. O interessante é que esta experiência de R. Rolley é muito semelhante àquilo que aconteceu na origem das Idades, quando os homens santos da Índia, os chamados “rishis”, da tradição antiga indiana, captaram as músicas dos Vedas, que não foram escritos mas percebidos intuitivamente, atingiram a alma desses homens profundamente sensíveis e profundamente capazes de serem veículo dessa palavra divina. O mesmo aconteceu com Moisés, no Monte Sinai, quando ele “viu” o Senhor e a chama diante dele e recebeu os Dez Mandamentos e os trouxe à sua tribo, que se encontrava ao pé do monte. Diz-nos R. Rolley num verso a respeito dessa “palavra divina”, que ela nos está constantemente falando, através das páginas dos textos autênticos dessa tradição: “Essa harmonia está nas almas imortais; mas, enquanto esta decadente e enlameada veste está grosseiramente junto de nós, não podemos ouvi-la.” Para o místico, a harmonia está nas almas imortais. A expressão “alma imortal” é aquilo que de mais elevado existe na criatura humana. É identificada ao atma à mônada, à centelha idêntica ao divino. Esta centelha que está em nós vibra esta harmonia; esta palavra está constantemente sendo dita, mas, “enquanto essa decadente e enlameada veste” – ela se refere a nossos veículos físicos, aos nossos veículos emocionais, à nossa mente concreta – “está grosseiramente junto de nós, não podemos ouvi-la, é necessário que nos desnudemos, que nos pacifiquemos.” É interessante notar, também, que os chamados escritores antigos escreviam as suas obras na plenitude de suas almas e dotados de uma irresistível energia dos seus espíritos. Por que os clássicos são eternos? Porque vêm envolvidos dessa qualidade. É a qualidade que encontramos em Homero, Platão e em todos os grandes clássicos; em Plotino, nos seus sucessores, em Jacob Boehme, em Eckhart, homens que falaram na plenitude de suas almas. Eles não eram meros repetidores, não falavam no passado, falavam no presente ativo.

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Alquimia vem dessa região, é alguma coisa que vem desse presente ativo. Se falamos da Alquimia como uma arte é porque ela é assim, naturalmente, conhecida. De uma maneira geral, os homens a consideram como sendo uma arte. Mas, de fato, a Alquimia é uma ciência exata, exatíssima, é uma ciência divina que, em muitos textos, e invocada como a Santa Alquimia. Portanto, é uma ciência realmente divina, como os seus professores a chamavam, ao invocarem o profundo conhecimento dos elementos mentais, espirituais e psíquicos no homem, de forma eles pudessem ser considerados e manipulados pelo próprio homem. Assim, há elementos mentais, psíquicos e espirituais e o alquimista os invoca. A palavra invocar tem o sentido de conscientizar; aquele que invoca, conscientiza, ao mesmo tempo, manipula e opera. Quando estudamos a Alquimia, através de vários textos a respeito, vemos que há uma sucessão, uma grande cadeia de teósofos, de metafísicos, de homens iluminados que, pela sua pureza de vida sentiram na carne a experiência transfiguradora... E essa expressão pureza deve ser tomada no seu sentido absoluto; a pureza é o aperfeiçoamento gradativo de veículos, permitindo que eles expressem, mais e mais, uma realidade transcendente. É puro aquele que percebe, que é sensível. É puro aquele que tem capacidade de “ouvir” ou de “ver”. A pureza, portanto, é algo que se desenvolve e cujo desenvolvimento é gradativo. O homem impuro não consegue perceber as nuances e a sutileza da palavra divina. Se mergulharmos num autor qualquer, consagrado na arte ou na literatura, desses autores que são incensados pela opinião pública e pela crítica, vemos que não possuem o sentido da pureza. Eles têm percepção de uma realidade superficial e os motivos de suas tragédias, de suas peças ou músicas, estão muito ligados aos sentidos diretos, à perversão, à violência, ao sexo, ao prazer, que são as camadas mais superficiais daquela veste grosseira que reveste o ser humano. Mas existe uma sucessão de homens que, pela sua pureza da vida, pelo seu ardor na busca, alcançam “algo”. A busca é praticamente interminável, leva vidas inteiras; não é um processo episódico de dizer: “vou estudar Alquimia” ou “vou me aperfeiçoar nela, sinto-me atraído por isso”. É um processo constante, cotidiano, na qual a humildade da natureza é fundamental. É preciso ter a consciência de que sou ignorante e nada conheço. Por mais conhecimento acumulado que possua, sou ainda, absolutamente, um ignorante. Ainda não tenho condições de galgar a escadaria do tempo da sabedoria divina. É essa a capacidade de nossa limitação: não se deixar exaltar pelo pouco conhecimento acumulado que temos, de anos e anos de trabalho, em assuntos pouco conhecidos. A capacidade de compreensão desses homens, dessa sucessão de homens fê-los conhecer, mais que outros homens, essa oculta e secreta lei, a lei da Transmutação, a lei da transferência física e da transferência psíquica, que está escondida dos sábios ou pseudo-sábios.

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Os “sábios” (entre aspas) não têm conhecimento dessa lei, que é revelada somente aos puros de coração e encontrada nas “criancinhas” e naqueles que têm uma percepção infantil. A criança possui essa percepção direta das realidades porque ainda não foi deformada, contaminadas pelo ambiente. Uma nova visão da Filosofia, uma grande significação da Religião surge, então, dos horizontes mentais, como numa tremenda autora iluminativa. Portanto, Religião, uma palavra que a grande maioria de nós coloca à parte, como alguma coisa sem valia, alguma coisa que é um amontoado de credos e rituais, que não levam a coisa alguma; um processo de escravização do homem a uma minoria sacerdotal que os domina e que se lhes impõe e a utiliza somente pelo jogo do poder, é algo que começa a ganhar um novo colorido, uma nova nuance. A Religião, porém, é uma coisa importantíssima, no seu sentido absoluto, da mesma maneira como a Filosofia também o é. Não a Filosofia normal, estudada em plano puramente intelectual, na qual a filósofo é alguém que adquire conhecimento e faz dele como que um manipulador de ideias, um ganha-pão, tendo uma vida totalmente diferente daquilo que ele ensina.

O filósofo, na tradição antiga, o amante da sabedoria (filo = amigo, mas a palavra mais exata é amante da sabedoria), é alguém que se entregou completamente a esse processo de busca e que é um eterno insatisfeito nessa busca. Filósofos foram Plantão, Pitágoras, Heráclito, um grupo selecionado de homens que viveu a vida filosófica. Aos poucos, então, surge o conceito do grande significado da Religião e da Filosofia, nos horizontes mentais, como uma

tremenda aurora iluminativa. É um despertar. Então sentimos a presença da luz. Shri Aurobindo, o místico e filósofo, grande poeta hindu que morreu em 1972, levou toda a sua vida pregando essa iluminação, essa aurora num livro clássico de poesia universal. Infelizmente, tal obra é totalmente desconhecida dos currículos de Filosofia e de Letras, em nosso país. Nesse trabalho intitulado “Savitri”, um poema de alto valor, do porte dos maiores poemas da raça humana, chama a atenção para o despertar dessa aurora, e mostra como o homem se torna diferente, quando começa a perceber esse alvorecer. Definida de maneira simples, a Alquimia, ou se quiserem usar outra palavra, o hermetismo, porque as duas são sinônimas, era, na sua intenção primária, uma ciência exata, uma ciência filosófica da regeneração da alma do homem.

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Era então uma ciência exta na operação com os elementos físicos. Neste aspecto, a Alquimia é uma pré-Química porque, através das combinações de elementos, de substâncias, obedecendo a determinadas leis de temperatura, pressão e quantidades é que se faz toda a mecânica da Química. Os alquimistas sentiam isso e, quando havia as quantidades exatas na temperatura exata, a reação se efetuava. Então, a Alquimia, nesse sentido, é uma pré-Química, mas é muito mais que isso, porque busca a transformação da Natureza, da natureza grosseira, das vestes grosseiras, que nos impedem a percepção da palavra divina, em uma substância mais sutil. Daí, tratar da regeneração da alma humana e da sua atual escravização aos sentidos. A alma humana está escravizada aos sentidos; estamos presos aos sentidos; estes nos privam da percepção do real. Um outro místico, poeta e pintor extraordinário que foi William Blake, no século XIX, dizia num poema, abordando as portas da percepção: “Se as portas da percepção fossem, por um momento, alargadas, o homem veria o que ele verdadeiramente é, infinito.” O homem é infinito. William Blake sentia isso, como místico e poeta, como um homem profundamente sintonizado com essa essência. Portanto, é possível a regeneração da alma humana da alma humana da sua total escravização aos sentidos, até à perfeição, até atingir a nobreza daquela condição divina, na qual foi, originalmente, criada. Já falamos e constantemente encontramos referências a respeito da queda, A queda, o sentido simbólico do homem, que antes era divino, infante, totalmente inocente, até o dia em que as portas do paraíso se fecharam. A partir daí, teve de trabalhar e ganhar o pão com o suor do seu rosto. Encontramos na Alquimia todo este eco de um mito que tem a sua razão de ser. Já vimos que a Alquimia procede de um ensinamento tradicional. Já dissemos que o ensinamento tradicional é uma camada de conhecimento arcaico, que toda a Humanidade possui no seu inconsciente coletivo, em graus mais ou menos profundos: são os substratos de eras antigas, psíquicas, que ainda estão vivas, da mesma maneira que a Geografia mostra substratos terrestres, que foram candentes, em eras remotíssimas, e que, no entanto, são hoje alcançadas pelas sondas. Portanto, na Alquimia, encontramos esse sentimento tradicional e nesse conhecimento tradicional se fala, claramente, na queda dum homem que era perfeito e se tornou imperfeito. Toda Teoria das Idades (as idades do ouro, da prata, do ferro), é encontrada nas tradições grega, romana, indiana, chinesa, enfim, nas tradições mais diversas. O homem era perfeito; não tinha, portanto, necessidade de ser regenerado. A Alquimia nos dá a possibilidade da regeneração da alma humana, da sua atual escravização aos sentidos, até a perfeição e à nobreza daquela condição divina, na qual foi originalmente criada.

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A essência da Ioga, que é uma escola, uma filosofia tradicional da Índia, que preconiza uma união Yug (= Yoga) é união, tem esse espírito da possibilidade da regeneração do homem, do reencontro do homem, da individualização do homem, se lhe quiserem dar o sentido que o psicólogo dá. São frases de um mesmo processo. Mary Atwood afirma: “Secundária e incidentalmente a Alquimia carrega consigo um conhecimento da maneira pela qual a essência vital das coisas pertencentes aos reinos subumanos pode ser intensificada e elevada a uma forma mais nobre do que aquela que existe no seu atual estado natural.” Portanto, encontramos, também, na essência vital das coisas, nos elementos físicos, no nosso corpo, nas árvores, na Natureza, nos minerais, nos metais, uma essência vital que pode ser intensificada e elevada a uma forma mais nobre. Assim, não é só o homem que se pode regenerar mas, também, a Natureza bruta, na sua forma de materiais, de metais, de elementos, pode ser refinada. Deu-se, contudo, um afastamento do homem, provocado pela queda, e desligamento de uma supernatureza divina, espiritual e o mergulho no mundo natural. Deu-se, então, um processo de densificação, de descida, um processo a que os hindus chamam Priviti-Marga. Marga é o caminho, Privitti o processo de descida, de densificação. Mas existe um processo de subida, que os hindus chamam Nivriti-Marga, o processo de volta. É esse o caminho da regeneração. Mas há um processo natural de densificação, até que surja no homem, na matéria, no impulso de alguém que salta e pula, que impele ao encontro e lhe dá energia para a volta. Na medida em que o homem se afastou as supernatureza e mergulhou na Natureza, deu-se a ruptura; uma desconexão, um desligamento, uma perda de sensibilidade, não total, mas quase, em muitas pessoas; total no nível do consciente, mas ainda nítida nos níveis inconscientes ou subconscientes, e numa de forma total. Não há ninguém que esteja totalmente desligado da supernatureza, que é a sua própria origem. Deu-se, entretanto, essa ruptura gradativa, esse desligamento gradativo, esse desfocar gradativo do meio original, com a raiz do seu ser. Isso provocou uma paralisação do desenvolvimento que ele, o ser, teria experimentado. Vamos supor que colocamos uma semente num vaso e, subitamente, retiramos o vaso da luz do Sol e o trancamos numa cripta; as sementes que ali são colocadas continuam férteis e podem frutificar. Acontece com o homem a mesma germinação, que à luz do Sol e com a água, novamente floresce. Há uma reconquista de um estado original. Portanto, à medida em que se dá o reflorescimento, dá-se uma nova reversão.

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Afirma essa tradição ligada à queda que, a despeito da mesma, a alma ainda vive no que foi expulso, porque está no paraíso: estado de consciência elevado, de onde não existe volta. A parábola do filho pródigo contém o espirito da queda, que realmente não se deu. A alma ainda vive em condição de atrofia, como um germe residual, naquele princípio divino no qual estava antes atuando. A Alquimia procura desenvolver esse germe, estimulá-lo até a atividade a fim de elevar a consciência individual até a identidade da mente universal. Isto está ao alcance do homem e, através da eficiência curativa das potências transmutadoras desse princípio, atuar mudança até elevá-la a uma condição divinizada (Mary Atwood). Vemos a tradição dos imortais no Japão, no Tibete, na Índia, na Grécia, no Egito; de homens que auxiliaram o desenvolvimento da humanidade e de todos os seres sensíveis. O ideal do Bodhisattva é o homem, grande trabalhador pelos seres que sofrem, em vez de continuar na marcha ascendente. Quem conhece essas leis, tem possibilidade, pela eficiência das potências transmutadoras desse princípio (energias curativas da própria Natureza) no psiquismo e no físico, de participar da retificação da imperfeição natural. Quando estudamos a tradição dos mahatmas, homens perfeitos, sabem que utilizam o corpo físico extraordinariamente perfeito como veículo para o homem. Numa tradição da Ásia Central existe a certeza da existência dos Kumaras e a direção de um mundo está com Sunat Kumara de quatorze, quinze anos de idade. A tradição tibetana nos fala de Shambala, e hoje vê-se que a Ásia Central foi um grande mar; portanto, essa tradição da humanidade divinizada é muito antiga. Todos os mitos? A mitologia é um reflexo das verdades ocultas através de símbolos. A Alquimia nos fala da possibilidade de modificação da condição orgânica. Exemplo: a tradição de Lao-Tsé, fundador do Taoísmo. Há uma Alquimia taoísta e a ideia dos imortais, representados por homens de barba longa. Existe a ideia de que a constituição orgânica pode ser metamorfoseada. Interessante é que em todas as cortes antigas, na Idade Média, no Oriente e no Ocidente, o alquimista era um homem da corte que acumulava a função de médico dos reis. É o estudo do início da Farmacologia. Há, portanto, a ideia da volta do que está dentro para fora e vice-versa. Esse princípio divino que esta oculto é trazido para a consciência, e o princípio natural que o anima é oculto e domina.

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Somos dominados por uma natureza que nos leva a um impulso: sexo, roupas, essa natureza mecânica que constitui o homem. Mas aquilo que está oculto é trazido à consciência e às forças naturais ocultas. A Alquimia era, portanto, chamada de Arte Negra, no sentido de ser mantida religiosamente secreta e escura, devido à incapacidade de muitos seres de não conseguirem recebe-la. O homem, entretanto, com seu poder natural e, sem auxílio, não pode elevar-se acima de sua natureza externa, a cuja roda está preso. Se não for ajudado, continua em processo de sofrimento, preso ao hábito. Samsara: a não-sabedoria. Ele pode devolver-se dentro de suas linhas e segundo o poder de sua individualidade. É necessário, portanto, um auxiliar e sendo a própria Natureza apenas um fluxo (uma renovação perpétua) de certas forças... Existe um rodamoinho e uma rolha não tem capacidade de mergulhar, a não ser que surja um princípio supernatural, uma divindade latente. (Sto. Tomás de Aquino) Essa atividade salvadora pode ser despertada.

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Método para a concentração (Texto do Grau 2)

ratar deste assunto em segundo plano seria prejudicial ao membro que deseja obter resultados positivos de seu esforço. Assim, selecionamos exercícios práticos que foram provados quanto à sua eficiência. Alguns deles já devem ser familiares aos

ocultistas que estão empenhados no estudo da concentração. Todos os exercícios aqui dados foram postos à prova, quanto à utilidade e segurança. O pior que pode acontecer ao estudante que não possua força de vontade para executar exatamente todas as instruções prescritas é não alcançar resultados. Esta será, sem dúvida, a sorte daquele que tentar colher os frutos da concentração visando, apenas, a fins materiais e egoísticos, pois a concentração não é o objetivo final. É unicamente a habilidade necessária e o instrumento que permitem ao ser humano viver num nível de consciência mais elevado e melhor, inatingível por leigos nesta subdivisão especial dos exercícios ocultos.

Os exercícios abordados neste Grau foram limitados a um número absolutamente indispensável. E isto é muito importante, porque toda modificação dá lugar a certas flutuações na mente, o que deve ser evitado tanto quanto possível. Mas nem mesmo o menor detalhe dos exercícios deve ser omitido, pois o sucesso depende da exatidão de seu emprego. Há muitos casos de estudantes que perderam seu trabalho e entusiasmo por causa da curiosidade desnecessária, que é absolutamente prejudicial e vã. Tal postura, em vez de concentrar a mente do estudante sério, que trabalha para obter resultados realmente positivos, apenas a sobrecarregaria, distraindo-a, quando já

existem tantos obstáculos a vencer e preocupações a evitar. A curiosidade em excesso é o verdadeiro criador dos problemas e, entregando-nos a esse vício, como poderemos esperar adquirir a virtude oposta, que é a paz da mente? Isso não quer dizer que para sermos mais ou menos desenvolvidos devamos abandonar completamente o pensamento. Tal coisa seria ridícula e não é, absolutamente, a nossa proposta. Aquilo por que estamos lutando, neste trabalho, é a nossa liberdade e equilíbrio internos, e o conhecimento mais real de nosso íntimo, conhecimento que é inevitável e será bem vindo. É o fulcro de todo o nosso mundo interno e a única coisa que o ser humano pode levar consigo para a Eternidade, não importa em que formas ou mundos possa ele continuar a manifestar-se. É essencial moderar a curiosidade de nossa mente, pelo menos enquanto trabalharmos para o que é perene e não para o mortal e efêmero.

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A Suprema Transmutação (Texto do Grau 2)

á vimos que a Alquimia é uma arte de transmutação, de transformação da natureza interior; mais do que a riqueza material, os alquimistas buscam a transformação do homem. Já vimos que seu ensino, devido a razões ligadas à revelação de poderes

decorrentes das técnicas que ensinavam, era sempre privativo de um pequeno grupo, como ainda hoje o é. O grande trabalho hermético é o trabalho da regeneração universal, da regeneração humana. É a busca da pedra dos filósofos ou da chamada pedra filosofal, aquela cujo toque pode transmutar o que é tocado. O anseio é o da vida eterna. O elixir da vida eterna é alguma coisa que os alquimistas buscam em seus laboratórios. Essa ideia da imortalidade é uma ideia muito antiga. Os homens perfeitos são imortais. E sabemos que essa tradição dos imortais é uma tradição que acompanhou todos os povos da Terra. Existe a tradição de homens eternos na China, na Índia, no Japão e em várias regiões. Mas, no livro que tem servido de base ao nosso trabalho, Filosofia hermética e alquimia, de Mary Atwood, há uma advertência quanto àquilo que ela chama: “o espúrio ocultismo atual, que é desindividualizador, e faz com que o homem perca sua personalidade, que é destrutivo da personalidade, pois a consciência humana é hermeticamente selada pela ordem da Providência...”, portanto o ser humano é protegido pela Providência, pela Natureza. Temos poderes latentes, temos possibilidade de atingi-los, mas a Natureza nos sela. Esse é um trabalho que não pode ser feito por qualquer um. É um trabalho que tem de ser feito no tempo exato. Jacob Boehme, sobre o qual temos falado inúmeras vezes, foi um grande alquimista. Não foi um alquimista operativo, mas foi um alquimista filósofo. Ele intitulava-se “teosofista”, um amigo de Deus, um amigo da sabedoria. Em um dos trechos de seu livro A aurora, ele diz: “Portanto, Senhor, não te aborreças e trabalha na forma e maneira que conheces, com qualquer ouro e metal.” E ele diz que isso é falso, que devemos, em vez de trabalhar com ouro e metal, nos preocupar com outras coisas. “Nem todos estão, entretanto, adequados e preparados para esse trabalho, nem esse trabalho custa dinheiro, a não ser o que gastamos na nossa manutenção corporal.” Aqui ele nos adverte daquilo que tem sido uma mina para muita gente: o desejo de obter a riqueza leva o homem aos abismos da busca desse poder, dessa imortalidade, a qualquer preço. E ele nos diz: “O segredo é que o mundo tem de ser feito céu e o céu, mundo.” Para o homem comum há uma separação entre este mundo, esta realidade e o céu. Para nós, esta expressão “céu” é alguma coisa que está ligada ao empíreo, às estrelas, a alguém que está por trás disso, a um primeiro agente, a Deus, mas na visão de J. Boehme este mundo é o céu, como o céu é o mundo. Interessante é que esta é a essência do pensamento da escola budista da Terra Pura, que é uma escola também de regeneração, que busca a transformação fundamental do ser. “Não é feito de terra, pedra ou metais, todavia é a base de todos os metais, mas é assim um ser

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espiritual, envolvido pelos quatro elementos, que também mudam. O trabalho é fácil e a arte é simples, um menino de 10 anos pode fazê-la.” Portanto, o trabalho da Alquimia, o trabalho da grande transformação, da transmutação, do segundo nascimento é fácil, mas a sabedoria é grande. Cada um deve buscá-la por si mesmo. “Não devemos partir o selo divino, pois uma montanha está atrás dele e a visão irá nos levar a uma fascinação perigosa; temos, portanto, de esperar a vontade de Deus.” Portanto, nessa linguagem arcaica, nessa linguagem escrita num alemão medieval, traduzido para o inglês e para o português, apesar de todas as dificuldades das traduções sucessivas, nota-se a ideia de que existe um selo divino e que o perigo de se partir tal selo divino é que, por trás dele, existe uma montanha, e a montanha nos dá uma impressão de grandeza, de fascinação que é extraordinariamente sedutora e perigosa. Sabemos do perigo das alturas, como o alpinista é atraído e verdadeiramente hipnotizado pelo perigo das alturas. Daí a advertência de que o selo divino não deve ser rompido impunemente, a não ser quando a vontade de Deus o quiser. Evidentemente, a vontade de Deus se expressa numa maturidade do homem. É, portanto, uma das inúmeras advertências do perigo da manifestação de poderes, pelo amor ao poder. As coisas ocorrem normalmente. O amadurecimento é normal. Aí, nesse instante, é a vontade de Deus que se manifesta e se manifesta numa rosa que desabrocha ou num fruto que amadurece. É o resultado do próprio trabalho natural. “O trabalho da regeneração é feito por magos iluminados, videntes, com a cooperação de companheiros e trabalhadores afastados dos planos da existência, todos eles trabalhando para a criação, no plano físico, de condições para tornar possível a regeneração humana.” Isso é interessantíssimo e foi escrito em plena Idade Média por um simples sapateiro, mas que era um homem dotado de coração puro, de uma intuição transcendente e dotado da capacidade de apreender os grandes desígnios do plano divino. E ele nos revela aqui, nada mais nada menos do que o trabalho da Grande Hierarquia, com seus Mestres de Sabedoria, com seus auxiliares invisíveis, com todos aqueles que trabalham no plano físico, afastados completamente uns dos outros, mas sintonizados num mesmo desígnio: trabalhar, para a criação, no plano físico, de condições que possibilitem a regeneração humana. Esse trecho é muito importante e merece uma meditação adicional de como o homem pode trabalhar, apesar de isolado dos outros, para a regeneração do todo. Continua...

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Os Segredos do Trabalho Alquímico (Texto do Grau 2)

udo é sustentado na potencialidade da Vontade. Existe uma Vontade suprema, temos repetido isso sucessivamente, que é a Vontade do Logos, a Vontade cósmica e se expressa na Natureza e nos seus filhos. No conjunto, tudo é sustentado na

potencialidade dessa Vontade. Quer dizer, essa Vontade é, em última análise, o que impele a todas as coisas em busca do seu destino. Os alquimistas dizem que no processo há um ponto de repouso, de passividade, onde não há tração, mas, sim, uma indiferença à vida e à morte. O processo alquímico, a chamada obra alquímica, o opus alquímico é aquele trabalho de regeneração no sentido da perfeição da criatura humana. E esse trabalho é intenso, é um trabalho de sutilização no qual o grosseiro é modificado, e no qual o sutil embebe cada vez mais os veículos grosseiros do homem. Portanto, é um trabalho dinâmico. Quanto mais cristalizado estiver o homem em função de seu Karma, mais difícil será, mais dolorosa e maior será a necessidade do esforço para desbastar a natureza bruta, a pedra tosca. Há, porém, um momento no trabalho em que há, praticamente, um repouso. Quando todo o trabalho inicial já foi feito, o terreno está limpo, e o grosseiro começa a se sutilizar; aí parece que tudo praticamente para. Dá-se, então, por parte do paciente, daquele que esta sendo submetido a esse trabalho, numa total indiferença à vida e à morte. Então, chega o momento em que o artista tem de olhar para a sua obra. O Trabalho de regeneração, de sutilização, de auto-aperfeiçoamento do homem, é o trabalho de Arte. A Arte Real é um dos termos pelos quais a Alquimia é conhecida. E aquele que é o agente desse trabalho é o artista. Cada um de nós, no momento em que nos colocamos na senda, e começamos a trabalhar na nossa natureza, se transforma num artista. Da mesma maneira que o escultor, diante da pedra bruta, começa a esculpir uma forma que ele pressente naquela massa informe. E então começa a trabalhar nos planos, nas profundidades, nas proporções. Dessa maneira o artista, cada um de nós, tem de olhar para o seu trabalho, olhar a sua natureza, observar aquilo que já foi feito e buscar coordenar o movimento. Há um instante em que o cansaço sobrevém. O cansaço, consequência do trabalho constante na nossa natureza inferior. E é exatamente no momento em que o artista contempla a obra inacabada, que lhe vem o ímpeto para continuar, para estimular o movimento. Portanto, é naquele momento de repouso, quando o artista contempla a sua obra e limpa o suor, que ele sente o estímulo para continuar. Porque é então que começa a ver, à medida que se auto-observa, que alguma coisa está nascendo e que um outro eu, diferente do antigo, está surgindo. Está começando a ser delineado e isso serve de estímulo ao artista. Aprendemos isso na linguagem dos velhos mestres. Um idioma arcaico. A Alquimia é imemorial. Ela acompanha o homem, praticamente, desde o seu aparecimento na Terra. O primeiro homem que buscou compreender a Natureza ou a si mesmo, foi o primeiro alquimista. Aquele que, no meio da manada, teve a consciência de si mesmo, tornou-se o artista, o futuro sacerdote, o futuro dirigente, o futuro rei. Nós sabemos que nas tradições antigas a figura do rei e do sacerdote estão interligadas, porque ambos significam poder. Poder de decisão, de discernimento. Isso nós aprendemos na linguagem dos velhos mestres. Há toda uma tradição moral do trabalho alquímico nas mais diversas regiões do mundo. Nós encontramos a Alquimia presente em qualquer extrato de qualquer cultura, de qualquer época, onde já se percebem homens que têm esse anseio da auto perfeição. Isso

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significa que todo o desejo da vida é na direção da Vida-Sabedoria. Há uma vida individual, aquela que nos anima e que nós não percebemos normalmente; nós só a sentimos quando estamos doentes, quando psicologicamente se dá o aparecimento da enfermidade. É quando a nossa pequenina vida autocentrada, egoisticamente centrada, vivida somente na plenitude dos nossos sentidos para atender aos nossos desejos, está ameaçada. E há uma Vida-Sabedoria, que é a expressão maior da Vida Eterna, que se manifestas em todas as estrelas, em todos os astros, em todos os seres visíveis ou invisíveis, é a Vida-Sabedoria. Aquela que construiu a vida que está à nossa volta, e que se expressa através da nossa pequena vida. Isso significa que todo o desejo da vida passa a ser na direção da Vida-Sabedoria. Daquela Vida pura, bela, boa e desapaixonada. O desapaixonamento, aquele sentido de não visar a um objetivo, de agir sem esperança de recompensa, que é típico, por exemplo, no Bhagavad-Gîtâ, caracteriza um homem que passa a viver a Vida-Sabedoria. Um homem no qual a Vida-Sabedoria se expressa na sua pequenina vida, quando passa a ser um agente de algo maior, quando passa a ser impelido por alguma coisa que o toca. A regeneração alquímica visa no homem ao aparecimento dessa Vida Divina. Essa Vida-Sabedoria não necessita nada de si mesma. Ela não tem objetivo; mas se for estimulada, se a estumarmos em nós, ela se ascende. É muito importante esse fato. A Vida-Sabedoria nos embebe. Nós não nos apercebemos dela. A nossa personalidade, o condicionamento, o hábito, o pequeno mundo nos impede de senti-la. Mas se começarmos a estimular a sua presença, ela se acende e, à medida que se acende, o homem se transforma, passa a ser iluminado por dentro pela Vida-Sabedoria cósmica. Ele passa a ser um homem aceso, ao contrário do homem apagado, do homem comum, do homem massa, do homem massa-bruta, daquela que ainda não foi transformado nem tocado.

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As Influências que Governam a Vida (Texto do Grau 3)

udo o que vive, do átomo ao homem, reúne em si uma energia intrínseca, uma força natural de transformação e de evolução que, ao mesmo tempo, age irradiando o que está à sua volta. Além disso, todo ser sofre, por sua vez, as irradiações dos outros. É

uma ação recíproca que na unidade da natureza, com as forças de atração e de repulsão, amarra num conjunto harmonioso todas as forças do cosmo e as manifestações vitais do homem, dos animais, das plantas, dos minerais e dos planetas. Estamos em comunhão com o todo: a vida é aquilo que se dá e se recebe, num intercâmbio que é a harmonia do universo. Incontáveis são as influências que se agitam ou se manifestam ao redor de nós e em nós mesmos. Cada um irradia a própria carga interior, composta pela cor dos pensamentos que regularmente alimentam o nosso ser e pelos sentimentos que o impulsionam. Somos bombardeados pelas radiações que a humanidade emana nos diversos campos de atividade. As imagens, as palavras prorrompem em ondas que se interligam, ondas de pensamento de bilhões de homens que se cruzam, perseguem-se, expandem-se das antenas de rádio e televisão, das impressoras e das fitas magnéticas.

Trata-se de influências diretas e indiretas, provenientes não somente das pessoas, mas também das coisas, próximas ou longínquas, influências voluntárias e involuntárias, das mais diversas origens; ondas psíquicas de outros homens; ondas de pensamento, eletromagnéticas; energias positivas e negativas que agem sobre todos os planos. A vida universal, dos homens e das coisas, mantém-se por meio dessas influências recíprocas no equilíbrio dos mundos feito de ações e reações. É uma questão de dar e receber. Na natureza tudo é vida e cada coisa é viva; não existem coisas mortas. A matéria não é algo inerte sobre o qual um obtuso materialismo baseou suas absurdas teorias. As próprias rochas,

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os minerais, as águas são vivos. A poeira, o cristal, o ferro, tudo é vivo. Cada objeto, mesmo que aparentemente inerte, encerra uma vida: é uma energia invisível, impregnada de ultrassons, de infrassons, de vibrações capazes de ser captadas por quem tem sensibilidade para perceber as sensações sutis. A psicometria demonstrou isso com inúmeras experiências, e cada objeto pode narrar sua própria história, mesmo a mais remota, ao sensitivo com o qual entra em contato. Não existe molécula de ar que não vibre de mensagens. Somos invadidos por elas por todos os lados, pois estamos no meio de tudo isso. Os mais sensíveis captam essas mensagens de forma mais acentuada. Por essa razão, hoje em dia, como nunca, há pessoas cansadas, angustiadas e nervosas. O emotivo vive num sofrimento contínuo, por ser vítima daquilo que se agita ao seu redor e no seu interior, sem a capacidade de dominar essas forças, estranhas a ele, nem tampouco de sair de seu raio de ação. O homem, submerso nesse oceano de radiações que o penetram em cada átomo físico e psíquico, é influenciado em toda a sua existência. Segundo Ramakrishna, o que leva os homens a agir nos níveis inferiores é la femme et l’argent, o sexo e o dinheiro. Sobre estes dois eixos principais desenvolve-se praticamente toda atividade por parte de quem ainda não compreendeu os valores reais da vida. Na verdade, sexo e dinheiro ocupam grande parte das mentes humanas. Os pensamentos irradiados e os recebidos têm por objeto esses dois objetivos mesquinhos. É necessário nos defendermos de tudo isso para não sermos desviados e arrastados, para vivermos de acordo com nossa própria maneira de ser. O homem não poderia resistir a esse bombardeio maciço se não contasse com a proteção de uma couraça formada por suas próprias limitações, que são também, e ao mesmo tempo, o seu tormento. O homem: estação emissora e receptora As antenas de rádio e televisão, os para-raios, os impulsos eletrônicos não existem apenas no mundo físico. Não há razão para se surpreender com a constatação de que o homem é uma estação transmissora e receptora, interligada com todos os planos da vida, o físico, o psíquico e o espiritual, nos quais operam as mesmas leis que agem de uma forma análoga. A alma, a psique, o espírito operam mais ou melhor do que qualquer instrumento material. O homem é a mais perfeita máquina que existe, imensamente mais eficiente do que as que ele próprio constrói, enquanto sua alma tem dimensões infinitas. As radiações que ele recebe têm as mais diferentes qualidades: deve defender-se das que poderiam lhe ser nocivas, quer provenham das coisas, quer tenham sua origem de outros

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homens, enquanto, para seu bem verdadeiro, é necessário que se desenvolva de maneira a transmitir sempre radiações benéficas; estas, pelas leis da natureza, retornarão, em uma segunda etapa, a ele mesmo. As relações do homem com todos os planos da vida são contínuas, e não poderia ser diferente. Claro, as estações transmissoras são muitas, mas em sua maior parte encontram as estações receptoras incapacitadas de captar suas mensagens.

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As Pessoas das quais nos aproximamos (Texto do Grau 3)

a vida de Santa Catarina de Siena lê-se que certo dia, por ocasião de uma recepção em Avignon, onde na época residiam os papas, foi-lhe apresentado um cardeal. A santa, em vez de obsequiá-lo, como é costume fazer, virou-se de repente, voltando-

lhe as costas. O que havia acontecido? A explicação foi dada por ela mais tarde. Ela havia percebido naquele homem o que sempre sentia ao encontrar pessoas que ocultavam uma vida viciosa e hipócrita: o cardeal era todo brilho e unção, mas na verdade, emanava um insuportável odor. Tão forte, neste caso, que Santa Catarina não pôde resistir. A santa, uma sensitiva incrível, havia percebido os fluidos animais que aquele homem trazia consigo. Há alguma coisa que se irradia dos indivíduos que torna sua proximidade agradável ou não. Basta chegar perto de pessoas boas e tranquilas, conversar com elas, para nos sentirmos beneficamente fortalecidos. Elas emanam a carga interior de que são dotadas: tranquilas e serenas, transmitem aos outros aquilo que têm dentro de si. Existem pessoas, ambientes e objetos que exercem influência direta exatamente por causa da poderosa carga de energia que possuem, acumulada há tempo. Leonardo da Vinci era, como costumava-se dizer, um “homem bonito”: com cerca de um metro e noventa de altura, cabelos loiros e fluentes, tinha um aspecto imponente e majestático. Vasari escreve a respeito dele: “Com o esplendor de seu aspecto, muito bonito, ele alegrava o espírito de quem quer que estivesse triste”. Mas não era somente a aparência; era sobretudo a luz interior do seu gênio que se manifestava nele e transmitia paz àqueles que dele se aproximavam. A carga interior de cada um transparece no exterior, tem uma influência mais ou menos poderosa, irradia e se espalha ao redor. A influência das pessoas que nos rodeiam é parte considerável da nossa vida, mesmo que nem sempre nos damos conta disso. Os pensamentos de que os homens se alimentam não ficam dentro deles apenas, mas se expandem para fora e influenciam inclusive as pessoas que os emanam. Isso tem uma importância extrema e explica muitos fatos de contágio psíquico, origem de inúmeros males. Assim, a influência das pessoas que estão próximas de uma criança que tenha alguma imperfeição física pode mesmo agravá-la. Os pais angustiados que pensam nos males dos filhos alimentam suas doenças. Com seus próprios pensamentos, acabam atraindo, inconscientemente, é verdade, as forças maléficas que agem onde encontram um terreno fácil de abordar. O homem muitas vezes é magnetizado pela convicção de sofrer realmente de alguns males. Muitas doenças, chamadas “hereditárias”, são somente a carga negativa de pais errados que pensam sempre em determinadas doenças para si ou as temem para seus entes queridos. São herdadas pelo pensamento; este é uma verdadeira força que age e domina. O

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pensamento tem um reconhecido poder de ação benéfica e, infelizmente, também maléfica. Quem tem uma capacidade de pensamento forte pode produzir o bem ou o mal, pois o pensamento é potência maior do que a força física. Seria realmente um mundo estranho e caótico se não acontecesse nada quando o homem faz mal ao próximo, mesmo que o fizesse só com o pensamento. Se nossos sentidos físicos e psíquicos estivessem mais afinados, nos sentiríamos como que investidos veementemente por essas energias radiantes, e as perceberíamos sob a forma de atração ou repulsa. Os mais sensíveis percebem a proximidade das pessoas e, mais do que os outros, estão sujeitos a alegrar-se com ela ou a sofrer por causa dela. Às vezes, são vítimas indefesas dessa proximidade. A serenidade e a calma exprimem-se no rosto e nos olhos de pessoas boas; ao ter contato com elas, nos tornamos mais serenos e nos sentimos fortalecidos, pois recebemos alguma coisa delas. O fluido é uma emanação da própria alma; constitui-se de ondas que partem de nós; desenvolve-se no éter e na atmosfera e é formado pelas incontáveis vibrações que impregnam o ar. Podemos ter uma imagem dele ao sentir o perfume que uma flor exala. As almas mais sensíveis e os seres invisíveis percebem nossos fluidos, sentem-nos porque são antenas receptoras extremamente delicadas. Mesmo os animais têm determinadas capacidades de discernir as pessoas e de sentir seus fluidos. Quando nos aproximamos de uma pessoa devemos saber discernir com quem estamos lidando; assim, ao frequentarmos um determinado ambiente, será necessário conhecer a carga dos fluidos que ali permanecem. Distinguir o positivo, o negativo ou o neutro serve não somente para as relações humanas, mas também para nossa própria salvaguarda. Proteger-se daquilo que pode ser nocivo é a primeira necessidade de cada um. Com o exercício certamente aperfeiçoaremos nossa faculdades, para que possamos caminhar com maior segurança. Continua...

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A Região Secreta (Texto do Grau 4)

ão ouvimos o Sol nascer”, escreveu Paul Brunton, autor de muitos livros sobre meditação e os mistérios do Oriente. “Assim, também, o mais grandioso momento na vida de um homem vem silenciosamente. Só nesse silêncio nasce o

conhecimento do Superego.” O caminho da meditação pode muito bem ser comparado ao longo silêncio que precede o amanhecer. Com frequência, nada há a assinalá-lo, a não ser um silencioso aumento de luz. O gradual alvorecer de um novo mundo em nossa consciência acontece silenciosamente. É algo de secreto e interior que jamais podemos compartilhar completamente com outros – um caminho silencioso. Deve ser necessariamente assim, ainda que o sigamos em companhia de outros, visto que requer certos ajustes que devemos fazer em nós mesmos e leva a reconhecimentos aos quais só chegamos pelo próprio esforço e nos proporciona, eventualmente, o conhecimento – e a compreensão – que só atingimos por experiência pessoal. Como a aranha tece com a própria substância o fio pelo qual vai passar, assim nós, pela meditação, construímos nossa senda através da própria consciência. Deve ser, portanto, um caminho interior, silencioso e secreto, que nós próprios vamos abrindo.

Existem, todavia, muitas e diferentes espécies de silêncio, e a meditação pode ser praticada em meio ao ruído. E, de fato, muitas vezes tem que ser assim em nossos dias! Pois somos compelidos a encaixá-la, como que sorrateiramente, nos momentos semitranquilos de que dispomos, enquanto a vida vai pulsando à nossa volta. Estamos aprendendo a aceitar o fato de que, na

sociedade moderna, não há lugar para claustros e cavernas de eremitas. A dificuldade em achar algum silêncio, hoje em dia, é um condicionamento imposto pelo avanço da civilização; nossas forças em crescimento exigem mais de nós. Mas isto é fruto da evolução e, se precisamos abrir caminho através de incontáveis impactos antes de nos aproximarmos das regiões interiores, então esse é o campo de batalha da presente etapa. Além do mais, isto salienta o fato de que a meditação não constitui uma simples fuga para o devaneio, quando a fantasia nos incita, mas, sim, o uso específico que as nossas faculdades possuem de realizar uma penetração interior. É utilização silenciosa, sem dúvida alguma, mas nem por isso menos definida, deliberada e controlada, a qual exige o concurso tanto da intenção como do esforço. Muitas vezes meditação a meditação é encarada erradamente como um processo negativo, mas, na realidade, ela exige muitas qualidades positivas, que levaram Christian e demonstrá-las em seu Pilgrim’s Progress (Progresso do peregrino). Apela-se para estas qualidades,

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numa curva mais alta da espiral, em esferas interiores, silenciosas e invisíveis, onde não acarretam glória nem prestígio exterior. Não há ninguém para assistir às nossas vitórias – de quem saibamos -, e nossos longos esforços, lutas e realizações, aparentemente, só nós conhecemos. Nosso empenho, porém, não permanece sem recompensa. Os baluartes do mundo interior capitulam quando provamos nossa força. Isto é assunto que concerne à lei da vibração, de o igual poder sincronizar-se com o igual. Mais adiante, examinaremos deste aspecto, mas, já de início, é prudente compreender que a meditação não é uma forma passiva de devoção; é a utilização, positiva, isto sim, de nossas mais altas capacidades, no sentido de lançar uma ponte entre o mundo exterior e o interior. O que nos leva a iniciar tal empreendimento? A origem da determinação de meditar talvez resida remotamente na percepção que todos temos – oculta em vários graus – de um mundo interior, ou “de algum outro lugar”, que é distinto da existência cotidiana. Era um sentimento que acompanhava persistentemente a grande maioria de nós, quando crianças. Conhecíamos outro mundo. Nós o imaginávamos conforme no-lo ditava a fantasia e nele havia heróis que realizavam proezas impossíveis, os quais possuíam todos os atributos e cavalgavam como reis. Naturalmente, era uma fuga nas asas da imaginação. Mas era também mais que isso. Era uma refração da sensação da realidade das outras dimensões. O mundo mágico, visto através de um buraco de cerca, substituía domínios que nos faltavam. Aqui, nós rompíamos todas as fronteiras. Era “sagrado”. E pouco importava como imaginávamos esse mundo sagrado, pois era para ele que nos retirávamos quando tínhamos necessidade de algo mais do que o mundo circundante nos oferecia – ou quando esse mundo, que respeitávamos, nos tratava mal. A ninguém o revelávamos, se víssemos que o estragariam. Sentíamos que estava alicerçado em base efêmeras. Mas, de fato, estava erguido em algo mais sólido do que então imaginávamos – numa memoria que ainda pendurava e não fora, até então, inteiramente encoberta por coisas mais ruidosas e tangíveis. Continua...

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O Silêncio Meditativo (Texto do Grau 4)

uantas palavras foram necessárias para traçar o Caminho Silencioso da Meditação – palavras, quando o silêncio seria o meio verdadeiro! Todavia, esta é a complicação inevitável do caminho pelo qual prossegue o homem em sua longa jornada do

Infinito rumo ao finito e novamente de volta ao Infinito. Este é o drama ou tarefa, o destino e ao mesmo tempo o privilégio do reino humano, acima de todos os outros, de interpretar a divindade, de combinar espírito e matéria, de expressar a qualidade de Deus, conscienciosamente, na forma. À humanidade coube a suprema tarefa de resolver a situação descrita por São João em seu Apocalipse – “A luz brilhou nas trevas e as trevas não a compreenderam”. E assim nos defrontamos sempre com o problema da forma. Este é o nosso campo de ação, o nosso meio. Cria nossas dificuldades, problemas, obstruções e, no entanto, é também o nosso modo de realizar, de nos elevar e de sermos elevados. Portanto, devemos fazer uso de palavras, pelo menos até chegar o tempo em que trabalharemos com certo grau de não-forma, nos níveis mais sutis. Mas as palavras devem ser colocadas no seu lugar. Há o perigo constante de interpretá-las mal, por elas possuírem uma qualidade, ao mesmo tempo vital e ilusória, semelhante ao camaleão, mudando de significado sub-repticiamente e transmitindo coisas diferentes e diferentemente percebidas, conforme a pessoa. Precisamos ter isto sempre em mente, tomando-as apenas na medida em que se apresentam e esperando, no nosso íntimo para encontrar sua verdade e confirmação. Lin Yutang chegou a dizer: “Quem fala sobre a verdade, prejudica-a.” E o sábio chinês Lao Tzu observou: “Palavras demais levam à exaustão.” Já há muito tempo que estas páginas deveriam estar terminadas. Mas esperamos que, para os nossos Irmãos, elas não passem de um começo pois, se as suportou todas, elas lhe proporcionarão pelo menos um projeto ou quadro de referências tosco, em cujo centro se realizará o verdadeiro trabalho. Conforme lemos no Tao Té Ching (O livro do caminho perfeito):

“Modelai o barro para fazer um jarro Recortai no espaço vazio das paredes, portas e janelas

a fim de que um quarto possa ser usado. Dessa forma o ser produz o útil

mas não é o não-ser que o torna eficaz.” Assim será sempre com todas as formas de meditação e com todas as palavras que empregarmos para dar forma ao pensamento. Por isso, este texto, não é endereçado tanto aos nossos estudantes, que precisa cuidar de sua meditação, mas ao Espírito do Silêncio, ao qual devemos prestar respeito e a cuja presença nos apresentaremos para realizar, em qualquer medida, a realidade do caminho mais elevado.

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O silêncio não é nenhuma coisa passiva; é uma presença vibrante que enche o vácuo com som e lhe comunica sua qualidade vital. Muitos de nós conhecemos a verdade da frase “silêncio que ressoa” e o velho adágio “O silêncio é de ouro” – que significa mais do que ser ele simplesmente seguro ou sábio. Significa que é dourado, no sentido de estar cheio de luz. Em suas secretas profundezas, gera-se força, resolvem-se problemas, alcançam-se realizações, desenvolve-se a sensibilidade; nelas nos recarregamos, nos regeneramos, nos renovamos. O silêncio traz nas asas a cura. Talvez jamais faça pressão a seu favor, mas é preciso que seja reconhecido adequadamente, pois ele deve reinar na meditação de qualquer valor.

O valor do silêncio tem sido ensinado desde longa data e, embora tenha sido especialmente reverenciado no Oriente, sua prática constituiu-se em exigência quase universal, em toda espécie de abordagem aos mundos mais íntimos. Em quase todas as crenças e esferas, exigiu-se do neófito uma silenciosa vigília. Ela invariavelmente precedia os momentos do coração ou da iniciação, e as palavras finais do hierofante, nos ritos do Mistério –

“Vai em paz” – significavam tranquilidade interior, silêncio do coração, da mente e da Alma. Todavia, o silêncio está se tornando hoje, uma dádiva rara e quase impossível de se obter. Os sons multiplicados e gerados pelos homens, em sua evolução, rapidamente estendem seus tentáculos pelo Globo, como um polvo gigantesco sempre em expansão. Diante disso, devemos penetrar novamente no silêncio, adiantando-nos no templo sagrado, em busca de nosso santuário. Isso é possível. Sempre nos ensinaram que existe um silêncio interior, bem como um silêncio exterior, embora aquele seja mais difícil de encontrar. Do mesmo modo que pedimos bênção ao silêncio, devemos, contudo, servi-lo. “Governa os teus lábios como portais do palácio em cujo interior está o Rei”, lemos em A luz da Ásia, onde há muitos ensinamentos de Buda sobre o discurso correto – o equilíbrio correto entre o silêncio e o falar. Existem muitos aspectos do silêncio, muitos modos de o servir e invocar, dentro de nós e à nossa volta; podemos, assim, como sentinelas, guardar o “rei que está lá dentro”, quietos em meio ao ruído que impregna o mundo. Esta é, naturalmente a “dupla vida” que se exige de todos os que palmilham o Caminho; ela consiste em manter em equilíbrio a vida interior e a exterior, conservando no coração a presença do silêncio, enquanto cumprimos nossos compromissos durante o dia. Mas já demos um ou dois passos adiante. Estamos mais bem equipados, temos mais conhecimentos, mais domínio, mais resolução do que se jamais tivéssemos examinado os

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meios e modos do Caminho Silencioso. Como o filho pródigo, exploramos e acrescentamos suficiente lastro de conhecimento a nós mesmos para nos decidirmos a voltar e constatamos mais coisas sobre a “volta ao lar” da que podíamos esperar. Pois bem, terminaram as palavras. O resto se resume no fazer isso tudo, e no coração e na mente de cada um, apenas. Pois quando tudo foi dito e feito, somente quando algo em nosso íntimo nos impele a explorar esse caminho, clama pela união com o Eu Superior tão alto que seremos obrigados a prestar atenção, só então nos dedicaremos realmente à meditação constante e às disciplinas do caminho interior. Então estaremos dispostos a aceitar as inevitáveis perdas e a nos aproximar de chapéu na mão, em alegre expectativa, com uma sensação de que um velho “pressentimento” está se tornando realidade e estaremos dispostos a explorar o silêncio e a usar, para o bem, os poderes que encontrarmos. “Deslizar da canoa da mente para a lagoa do espírito é a coisa mais suave que conheço”, escreveu Paul Brunton. “É mais silencioso que o cair da tarde.” Se, no meio de nossa vida cotidiana, pudermos nos tranquilizar o suficiente para iniciar assim nossa meditação, alcançaremos infalivelmente as regiões secretas da Alma. Portanto, façamos uma parada e, simbolicamente, descubramos a cabeça – abrindo-nos – e fiquemos alerta, sintonizados, centrados num ponto de convergência. Os tibetanos têm um provérbio que reza assim: “Os sinais da Alma surgem silenciosamente, tão silenciosamente como quando o Sol entra no mundo em trevas.” Devemos ficar tranquilos e ouvir, a fim de perder o menos possível.