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II CONGRESSO INTERNACIONAL DE HABITAÇÃO COLETIVA SUSTENTÁVEL 2015
ESTRATÉGIAS DE ADENSAMENTO HORIZONTAL E VERTICAL E SUSTENTABILIDADE PARA
HABITAÇÃO SOCIAL: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO MORA
VILLA, Simone Barbosa. (1)
BERTULUCI, Gabriela de Oliveira. (2)
OLIVEIRA, Juliano Carlos Cecílio Batista. (3)
(1) Doutora, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design da Universidade Federal de Uberlândia,
(2) Graduanda, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design da Universidade Federal de
Uberlândia, [email protected]
(3) Mestre, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design da Universidade Federal de Uberlândia,
RESUMO
A baixa qualidade da produção de Habitação de Interesse Social (HIS) ofertada no Brasil é um tema
presente em várias discussões e pesquisas atuais. Nesse contexto, o presente artigo pretende apontar
reflexões sobre a ampliação da qualidade da produção do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV)
através da continuação da experiência do projeto MORA [2]1. Tem como objetivo o aprimoramento da
proposta projetual MORA [1]2, cujo mote principal é o da inovação tecnológica a partir da flexibilidade
espacial, da sustentabilidade dos materiais e dos sistemas. A metodologia de trabalho foi baseada nas
seguintes abordagens: (i) Síntese e análise dos resultados obtidos com o MORA [1] e o MORA [2]; (ii)
pesquisa sobre a evolução da quadra, a sua relação com a habitação coletiva e formas de adensamento
horizontal e vertical; (iii) desenvolvimento de proposta projetual MORA [2] para adensamento horizontal e
vertical a partir do aprimoramento da proposta MORA [1], com estudo das possíveis configurações,
avaliando sua qualidade e viabilidade de construção a partir de novos sistemas construtivos e soluções
técnicas inovadoras e, (iv) no desenvolvimento de sistemas sustentáveis para o projeto MORA [2].
Palavras-chave: Habitação de Interesse Social (HIS), Inovação Tecnológica, Programa Minha Casa Minha
Vida, Qualidade da Habitação, Flexibilidade.
1 – INTRODUÇÃO: O PROBLEMA DA HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL (HIS) NO BRASIL
CONTEMPORÂNEO.
Pesquisas indicam que existe uma grande necessidade de revisão dos modelos propostos de habitação de
interesse social. Salvo algumas raras exceções, os conjuntos habitacionais espalhados por todo o Brasil
1 Projeto de Pesquisa intitulado “MORA [2] Proposta de Inovação Tecnológica para Habitação de Interesse Social: Unidade Residencial de Baixo Custo sob a Ótica da Flexibilidade Espacial” financiado pelo PIBIT-CNPQ, desenvolvido no [MORA] pesquisa em habitação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design da Universidade Federal de Uberlândia (FAUeD-UFU). 2 Projeto de Pesquisa intitulado “MORA [1] Elaboração, Construção e Verificação de Unidade Habitacional de Baixo Custo sob a Ótica da Flexibilidade”, financiado pelos órgãos FAPEMIG (Demanda Universal 2010-2012), PIBIC-CNPq, PIBIC- FAPEMIG, PROGRAD-UFU, PROPP-UFU, desenvolvido no [MORA] pesquisa em habitação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design da Universidade Federal de Uberlândia (FAUeD-UFU).
possuem baixíssima qualidade espacial, além da ausência da qualidade tecnológica e construtiva3. A
grande maioria das soluções propostas considera precariamente as reais necessidades dos moradores,
assim como seu ciclo de vida4. A produção de habitação social no Brasil nunca esteve tão em alta como nos
últimos anos. Isso se dá principalmente pela política habitacional desenvolvida pelo Governo Federal
representada pelo programa Minha Casa Minha Vida. Entretanto, analisando o cenário atual, percebe-se
que o programa possui falhas nos projetos bem como na sua implantação nas cidades. O desenho da
habitação com interesse social no Brasil permanece praticamente o mesmo há décadas, apenas com
variações de cunho construtivo alternativos, sem que, contudo, a função e a articulação dos espaços de
habitar sejam sequer questionadas. Fatores como a diminuição no número de membros, a consequente
alteração de papéis com a redistribuição da autoridade ou mesmo a falta de consenso sobre quem
realmente é o chefe, o aumento no número de mães trabalhando fora, a independência cada vez mais
acentuada de seus membros, entre outros, indicam fortemente a necessidade de revisão dos modelos
tradicionais de morar 5 6.
A baixa qualidade espacial, tanto do ponto de vista da implantação urbana como das tipologias ofertadas
das unidades habitacionais destinadas às classes menos favorecidas no Brasil, têm sido amplamente
abordadas e discutidas por vários pesquisadores brasileiros 7 8 9. O quadro geográfico da localização de HIS
em áreas urbanas indica uma situação de abandono da população trabalhadora mais pobre nas franjas
periféricas das grandes cidades brasileiras. Além de, ao lado destes grandes conjuntos que se formam nas
periferias das cidades, a solução da ocupação pura e simples de glebas vazias e os loteamentos
clandestinos continuarem até hoje a responder à maior parte da demanda habitacional dos excluídos do
sistema 10 11.
As rápidas e constantes mudanças ambientais, tecnológicas, sociais, econômicas, políticas e institucionais
que estão acontecendo no país, exigem que os setores público e privado busquem, cada vez mais, uma
maior sintonia entre os rumos da sociedade e a elaboração de estratégias para os novos desafios ao seu
desenvolvimento. É nesse contexto que se insere a importância dos trabalhos realizados no grupo de
pesquisa MORA, ao discutir, a partir da experiência metodológica desenvolvida para as pesquisas
intituladas MORA [1] e MORA [2], novas formas de morar - alternativas ao tradicional modelo tripartido, que
se adaptem melhor aos diferentes perfis e problemáticas familiares existentes, seja por meio da
flexibilização de espaços e usos ou de soluções de inserção urbana mais adequadas.
2 – O PROJETO MORA [2] E SUAS ESTRATÉGIAS DE SUSTENTABILIDADE
3 AMORE, Caio Santo, et. al. (org.) (2015). Minha casa... e a cidade? Avaliação do programa Minha Casa Minha Vida em seis estados brasileiros. Rio de Janeiro: Letra Capital. 4 VILLA, S. B. et al (2015). Relatório de Atividades: Proposição de Avaliação Pós-Ocupação em unidades habitacionais (UHs) pertencentes à primeira fase do PMCMV na cidade de Uberlândia, pertencentes à primeira fase do PMCMV, enfocando aspectos funcionais, comportamentais e ambientais. IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Programa de Pesquisa para o Desenvolvimento Nacional – PNPD, FAUeD/UFU. 5 PALERMO, C. (2009) Sustentabilidade social do habitar. Florianópolis: Ed. da Autora. p.17. 6 VILLA, S. B. (2010) A APO como elemento norteador de práticas de projeto de HIS. O caso do projeto [MORA]. In: CIHEL 2010 – 1.º CONGRESSO INTERNACIONAL HABITAÇÃO NO ESPAÇO LUSÓFONO, Lisboa – Portugal. 7 ROLNIK, R.; KLINK, J. (2011) Crescimento Econômico e Desenvolvimento Urbano. Novos Estudos. 89: 89-109 p. 8 MARICATO, E. (1999) Habitação e desenvolvimento urbano: O desafio da próxima década. In: LABHAB, FAUUSP, São Paulo. 9 ROLNIK, R. (Org.) (2010) – Como produzir moradia bem localizada com recursos do programa minha casa minha vida?: implementando os instrumentos do Estatuto da Cidade. Brasília: Ministério das Cidades, 2010. 10 FERREIRA, J. S. W. (2005) A cidade para poucos: breve história da propriedade urbana no Brasil Simpósio “Interfaces das representações urbanas em tempos de globalização”, UNESP Bauru e SESC Bauru, 21 a 26 de agosto de 2005. Anais, 2005. p. 1-20. 11 AMORE, Caio Santo, et. al. (org.) (2015). Op cit.
2.1 – O PROJETO
Buscando desenvolver e aprimorar as propostas iniciadas na pesquisa MORA [1] foram feitas uma série de
estudos, experimentações e adequações gerando as alternativas de moradia horizontal e vertical MORA [2].
Esta proposta consiste na elaboração, construção e verificação de projeto de unidade habitacional,
destinada às famílias com renda entre 3 a 5 salários mínimos, considerando a diversidade de modos de
vida da sociedade atual, seus usos e relações com o espaço habitável. O conceito principal da proposta é a
flexibilidade da habitação no seu sentido mais amplo: espacial-funcional, dos elementos constitutivos, da
sustentabilidade dos materiais e dos sistemas.
Fig. 01 – Acima: Planta da unidade embrião com 56 m². Abaixo: Planta da unidade expandida com 72 m².
Proposta MORA [2] Horizontal.
As propostas foram pensadas como um sistema habitacional, capaz de gerar possibilidades a partir de um
embrião básico, podendo ser ampliado e/ou alterado com facilidade, com uma área inicial de 56 m² na
unidade isolada com um dormitório ou 50 m² na menor unidade do edifício, com dois dormitórios (superiores
ao convencional). Há previsão de área flexível para sala, estudo, estar e jantar, assim como área de serviço,
cozinha e banheiro tripartido, o que potencializa sua funcionalidade. (fig. 01).
Baseado na constatação de que a maioria das unidades habitacionais sofre intervenções (ampliações e
reformas) já no primeiro ano de vida, o embrião MORA [2] poderá se expandir para os fundos e também
para frente - através da previsão de dois radiers – garantindo uma variedade de unidades através destas
possibilidades. Na parte posterior poderá ser construído um escritório, um espaço flexível ou um novo
dormitório, aumentando assim a capacidade de moradores da unidade. No embrião, poderão morar
pessoas sozinhas, casais ou irmãos e amigos que dividem o mesmo dormitório. Com tal expansão, a área
sobe para 72 m² e a capacidade aumenta de duas para quatro pessoas, como uma família composta por
casal mais dois filhos, por exemplo. Já a expansão para a frente do lote poderá ser utilizada como área para
um espaço comercial ou mesmo como extensão da própria sala. O embrião com a área das duas
expansões soma cerca de 86 m².
A partir de conceitos funcionais e programáticos similares, foi desenvolvida uma proposta vertical (edifício
multifamiliar) do projeto, com uma organização sistemática das unidades favorecendo diferentes formatos
de pavimento-tipo, garantindo maior adaptabilidade a diferentes sítios (fig. 02)
Fig.02 – Conjunto com as três unidades tipo do edifício vertical: os interiores em divisórias leves (em cinza)
permitem a reconfiguração e adaptação a diferentes perfis familiares. Proposta MORA [2] Vertical.
2.2 – SISTEMA CONSTRUTIVO
O Light Steel Frame, sistema construtivo com perfis leves de aço, continuou a ser utilizado na proposta
MORA [2] vertical e horizontal. De processo industrializado e sem etapas de concretagem, é um sistema
flexível, que permite fácil expansão e colocação de instalações elétricas e hidráulicas. Sendo uma
construção a seco, gera uma proporção muito menor de entulho, e, aliado ao uso de maquinário simples,
reduz o impacto ambiental no local da construção. Estas placas servirão como base para a modulação da
estrutura e espaço interno do projeto, com o objetivo de facilitar sua construção através da rápida
montagem devido à precisão e padronização de encaixes e interfaces entre peças e outros materiais. Com
base na ideia de flexibilidade e racionalidade defendida pelo projeto, os painéis de vedação para a estrutura
metálica são desenvolvidos de forma que se adaptem as necessidades do espaço e orientação em que a
construção estará inserida.
2.3 – SISTEMAS SUSTENTÁVEIS
Um dos objetivos deste trabalho foi a escolha de materiais, sistemas construtivos e estratégias sustentáveis
tanto das unidades, quanto de sua implantação na cidade, considerando todo o ciclo de vida das
edificações.
A primeira estratégia sustentável do projeto MORA [2] foi o próprio sistema construtivo Steel Frame. A
segunda estratégia adotada foi a inserção de placas solares e fotovoltaicas nas unidades habitacionais.
Para predimensioná-las, foi feita uma simulação no simulador Solar do Instituto Ideal12, que realiza cálculos
preliminares a partir de dados como localização do terreno e consumo médio da residência. A localização
escolhida para a simulação foi o bairro Shopping Park (Uberlândia-MG), bairro onde existem centenas de
casas construídas pelo programa Minha Casa Minha Vida. De acordo com o relatório gerado pelo simulador
Solar, o dados de localização e consumo médio informados indicam um sistema fotovoltaico de cerca de 1,2
kWp de potência, gerando 1.692kWh por ano e evitando a emissão de 494Kg de CO2 por ano. A área
ocupada pelo sistema seria de 8 a 10m² com inclinação de 19º.
Fig. 03 – Estratégias de sustentabilidade utilizadas nas propostas MORA [2] Horizontal e Vertical. 12 Encontrado no site http://www.americadosol.org/.
O projeto MORA [2] também prevê um telhado verde na área da cozinha e da lavanderia. Foram
pesquisadas opções de telhado verde disponíveis no mercado e foi escolhido o Sistema Modular Alveolar
Leve da empresa Ecotelhado13. Além disso, foram mantidos no aprimoramento da proposta componentes
que possibilitam o baixo consumo de água como válvula de descarga com dispositivo de acionamento
seletivo e dispositivo de controle de vazão e dispersão do jato de água (arejadores, pulverizadores,
prolongadores, etc.). Foi adotado também um sistema subterrâneo de reaproveitamento das águas cinzas.
Neste sistema a água que é descartada pela máquina de lavar, tanque, lavatório e chuveiro é encaminhada
para um sistema subterrâneo que filtra, armazena e reaproveita a água na descarga do vaso sanitário e na
lavagem dos pisos (fig. 04). Tais sistemas também foram possíveis no edifício vertical, visto sua extensa
área de cobertura e a presença de shafts para as instalações hidrossanitárias.
Fig. 04 – Corte DD com esquema de reaproveitamento de água. Proposta MORA [2] Horizontal.
Também fazem parte das estratégias sustentáveis do projeto, no caso da unidade térrea, com implantação
em lote convencional de 10x25 m, o incentivo à manutenção das áreas permeáveis, com o plantio de
árvores frutíferas e a definição de áreas para a implantação de pequenas hortas urbanas (fig. 05). No
edifício vertical, a implantação também prevê a reserva de áreas verdes, garantindo a permeabilidade do
solo e um desenho mais humanizado das áreas coletivas. (fig. 06)
13 “[...] o Ecotelhado difere dos sistemas convencionais de terra ou substrato por focar na armazenagem da água da chuva e reciclagem de águas cinzas e ou negras do próprio prédio. O Ecotelhado pode ser classificado como um sistema semi-hidropônico. Ele evita o acumulo desnecessário de sobrepeso gerado através do uso de substrato ou terra ao armazenar água na própria laje, embaixo da vegetação. É necessário ter uma impermeabilização de PVC, específica para telhados verdes, onde há a total proteção anti-raízes.” Ecotelhado, 2015. Ecotelhado. [Online] Disponível em: https://ecotelhado.com/portfolio/ecotelhado/sistema-modular-alveolar-leve [Acesso em 16 outubro 2015].
Fig. 05 – Sugestão de implantação no lote de 10x25m. Proposta MORA[2] Horizontal.
Fig. 06 – Implantação do conjunto em ZEIS: valorização do contato com a rua através de afastamentos
ajardinados, unidades comerciais e permeabilidade através da abertura da quadra – proposta MORA [2]
Vertical.
3 – ADENSAMENTO HORIZONTAL E VERTICAL
Para esta etapa do projeto MORA [2], a ideia foi realizar adensamento horizontal e vertical, através da
abertura da quadra e da extinção dos lotes. A problemática de habitação social coletiva está ligada com a
densidade e crescimento das cidades, por isso a relação com o espaço urbano é um item importante a ser
considerado quando o objetivo é realizar uma real transformação na forma de morar. A proposta baseou-se
no argumento em favor do adensamento visando a melhor utilização dos serviços urbanos (água, esgoto,
energia, transportes, equipamentos, etc.)14. Buscou-se, a partir dos trabalhos de avaliação pós-ocupação e
pré-projeto15 elencados neste artigo, solucionar problemas frequentes.
Entretanto os conjuntos habitacionais verticais de interesse social que frequentemente são construídos no
país possuem uma série de problemas, como a falta de iluminação e ventilação em grande parte dos
apartamentos, devido à altura e à proximidade dos blocos assim como à sua má orientação em relação ao
sol. Conjuntos habitacionais verticais tradicionais possuem visadas restritas e pouca privacidade
principalmente nos blocos centrais, cercados por outros blocos. As áreas térreas coletivas são pouco
utilizadas e possuem pouco controle pelos moradores e os custos de manutenção condominial são altos
além de apresentarem paisagens urbanas monótonas e desarticuladas.
A partir disso buscou-se o adensamento horizontal da proposta procurando miniminar os problemas citados
anteriormente, como também pelo fato do brasileiro ser muito ligado à casa térrea, por uma questão
cultural, especialmente em cidades pequenas e médias. Este tipo de adensamento pode resultar em
espaços de boa qualidade de moradia e ainda favorecer o desenvolvimento de uma cidade mais compacta,
com uma ocupação do solo, infraestrutura e serviços públicos mais racionalizados.
As implantações nas quadras tradicionais em geral são de baixa qualidade, suas áreas públicas se limitam
às calçadas, que muitas das vezes são estreitas e não existe preocupação com a sustentabilidade.
Afinal, ao manter um padrão de implantação de casas isoladas em lotes localizados em áreas
distantes, tal produção impõe um modelo de circulação e mobilidade dependente do transporte
automotor, bem como exige a criação de uma série de infraestruturas (vias de ligação, transporte
coletivo, equipamentos educacionais e de saúde, entre outras). A combinação desses fatores
potencializa os efeitos negativos das mudanças climáticas, em função da alta taxa de
impermeabilização do solo gerada e do uso de fontes energéticas ineficientes.16
A revisão dos modelos tradicionais de implantação na quadra se faz necessária, por isso foram feitas
algumas sugestões de implantação alternativas. No caso das casas térreas, tomou-se como base duas
quadras tradicionais separadas por uma rua, com 30 lotes cada quadra. Foram feitas 3 opções alternativas
de implantação, todas com a mesma área das quadras tradicionais, mas transformadas em uma quadra
apenas, que possui uma via interna com pavimento semipermeável, num total de 18.000 m².
A primeira opção possui lotes tradicionais de 10x25 m e uma praça interna, onde o número de casas diminui
em relação à implantação tradicional, mas a qualidade é maior pois existe uma área pública e permeável. A
segunda e terceira opções estão em modelo de vila, que parte da extinção dos lotes, por isso as unidades
geminadas são implantadas de forma mais livre no terreno, respeitando afastamentos mínimos, que neste
caso são de 5,20 m de afastamento lateral e 6 m de afastamento entre os fundos para a primeira opção. Na
segunda opção, são 5,20 m de afastamento lateral e 3 m entre os fundos. A diferença entre estas duas
opções é a disposição das casas no terreno, que em uma é feita de forma linear, e na outra de forma
alternada. Foi considerada “área comum” (coletiva) toda a área não particular e que não seja destinada a
circulação de carros ou pedestres (fig. 07).
14 KASUYO, N. (2015) Densidade demográfica e verticalização na produção imobiliária recente no município de São Paulo. In: 3 CHIEL – Congresso Internacional de Habitação no Espaço Lusófono, 2015, São Paulo. Anais do 3 CHIEL – Congresso Internacional de Habitação no Espaço Lusófono. São Paulo: FAU-USP. 15 MONTANER J. M., MUXÍ Z., ZULIN F. & CORADIN R. (2012) ‘Instrumentos de Avaliação de Projetos’ in França E. & Costa K.P. (ed.), 2012. Do Plano ao Projeto: Novos Bairros e Habitação Social em São Paulo. São Paulo, Secretaria Municipal de Habitação, pp. 253-313. 16 VILLA, S.B. ; OLIVEIRA, J.C.C.B. ; SARAMAGO, R. (2013) Respostas ao problema habitacional brasileiro. O caso do projeto MORA. In: 2º CONGRESSO INTERNACIONAL DA HABITAÇÃO NO ESPAÇO LUSÓFONO (CIHEL), 2013, Lisboa. Habitação, Cidade, Território e Desenvolvimento. 2º CONGRESSO INTERNACIONAL DA HABITAÇÃO NO ESPAÇO LUSÓFONO (CIHEL). Lisboa: Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC). v. 1. p. 186-187.
Fig. 07- Implantação tradicional e Implantações alternativas – proposta projetual MORA [2] Horizontal.
No adensamento vertical, o piso térreo dos edifícios propostos busca se qualificar com a presença de
unidades comerciais e unidades de habitação acessíveis, garantindo vitalidade e integração com a cidade.
A quadra sai do usual modelo fortificado, com fronteiras muito definidas, buscando uma diluição dos
espaços coletivos no tecido da cidade. O uso constante do térreo garante a presença de “olhos vigilantes”
em bairros cada vez mais murados. Um mínimo de áreas coletivas nos pavimentos tipo garante uma
adequada relação entre área construída e área do terreno. São cerca de 550 pessoas por m², através de
uma média de 52 unidades de habitação em terrenos com cerca de 2.500 m² (Fig. 08). Esta medida procura
garantir a viabilidade do empreendimento não apenas em áreas periféricas, mas também em setores
consolidados da cidade, com preço da terra mais elevado.17
Fig. 08 – Conjunto Vertical com 52 unidades de habitação e 04 espaços comerciais em lote de 2.800 m² -
proposta projetual MORA [2] Vertical.
Considerações Finais
Embora o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) tenha conseguido, até o momento, destinar
recursos e construir moradias de interesse social para uma grande parcela da população brasileira,
justamente em função dos investimentos despendidos e do significativo número de unidades edificadas,
torna-se necessário discutir a qualidade de tal produção. Conforme exposto, existem problemas quanto às
soluções espaciais padronizadas que não atendem à demanda de diferentes famílias, aos materiais e
sistemas construtivos de baixa qualidade empregados, para além das questões relacionadas com os
impactos socioambientais resultantes dos grandes conjuntos monofuncionais implantados no país. Por outro
lado, desde o ano de lançamento do Programa, em 2009, o grupo [MORA] – Pesquisa em Habitação vem
desenvolvendo estudos e soluções que buscam se contrapor ao modelo instaurado, concebendo protótipos
flexíveis e de menor impacto ambiental. Assim, para se garantir a viabilidade das propostas desenvolvidas,
além do apoio em instrumentos de avaliação pós-ocupação e da análise de casos exemplares, o grupo tem-
se apoiado na realização de estudos de adensamento – visando atingir uma também maior qualidade
urbano-coletiva de projetos de HIS em Uberlândia/MG.
17 VILLA, S. B. et al (2014). A habitação social redesenhando a cidade: o caso da cidade de Uberlândia-Brasil. In: PLURIS – 6º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO, REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, v. 1. p. 2602-2614.