II Observare - Maj Furtado...
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OBSERVARE 2nd International Conference
2 - 3 July, 2014
II Congresso Internacional do OBSERVARE
2 - 3 Julho, 2014
Universidade Autónoma de Lisboa | Fundação Calouste Gulbenkian
http://observare.ual.pt/conference
Actas
Simulação baseada em agente Ferramenta de diagnóstico para segurança de aeroporto: estudo de caso de um ataque com o agente biológico antraz no Aeroporto Internacional
do Galeão
Ronaldo André Furtado1
Diversos tipos de ameaças têm colocado em risco os aeroportos, sendo uma das ameaças mais
preocupantes da sociedade atualmente é a ameaça biológica, pois é viável e crítica. As preocupações
sobre doenças infecciosas e epidemias vieram à tona, o surto da gripe aviária que mostrou a
fragilidade da segurança aeroportuária e fez crescer a importância do controle de acesso e das medidas
de biossegurança nos aeroportos (BUZAN, 2012).
O pânico generalizado, somado a um grande número de vítimas causa grande impacto sobre a
mídia, além da grande concentração de pessoas no aeroporto, tornando factível deste tipo de ação. O
artigo fará considerações sobre a modelagem baseada em agentes (MBA), nela definiremos o que são
agentes, seu histórico, possibilidades e limitações, e ainda serão descritas as principais ferramentas
utilizadas para MBA. Em seguida, discutirá quais são os problemas de segurança do aeroporto, em
especial mostrará um caso bem sucedido mundialmente que é o sistema de segurança de aeroporto em
Israel. Também serão descritas as novas tecnologias que são o estado da arte no setor. Por fim,
explicará como utilizamos a MBA como ferramenta para segurança de aeroporto em um estudo de
caso de um ataque com agente biológico Antraz no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro.
Palavras chave: Segurança de aeroporto; Agentes biológicos usados como arma; Simulação baseada em agente; Bioterrorismo
Simulação Baseada em Agente – Ferramenta de Diagnóstico para Segurança de Aeroporto:
Estudo de caso de um ataque com o agente biológico Antraz no Aeroporto Internacional do
Galeão
1 Ronaldo André Furtado – Major do Exército Brasileiro com formação universitária pela Academia Militar das Agulhas Negras. Possui curso de especialização em Defesa Química, Biológica e Nuclear- Escola de Instrução Especializada; Curso de Proteção Radiológica – Centro de Desenvolvimento de Energia Nuclear – CDTN/CNEN; Curso de ações para emergências de Origem Radiológica e Nuclear – Instituto de Radioproteção e Dosimetria IRD/CNEN; Curso expedito de combate a incêndio – Marinha do Brasil; Curso de Defesa Nuclear – Centro Tecnológico do Exército; Estágio em biossegurança – FIOCRUZ/RJ. Atualmente faz mestrado acadêmico em Ciências Militares pelo Instituto Meira Matos/ Escola de Comando e Estado- Maior do Exército.
1 INTRODUÇÃO
Os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos da América, quatro companhias
aéreas americanas tiveram seus aviões sequestrados por homens-bomba, que trataram as aeronaves
civis como mísseis, resultando em quase três mil mortes. Realizado pela rede terrorista Al Qaeda,
esses ataques foram perpetrados com sucesso usando nada mais do que facas e estiletes. Assim, muitos
analistas acusaram as falhas na segurança dos aeroportos como uma das condicionantes do êxito dos
ataques. Pode ser injusto afirmar que os seguranças que trabalhavam nos aeroportos de partida dos
voos sequestrados tinham falhado, uma vez que todos os protocolos de segurança tinham sido
executados, mesmo assim nenhum dos terroristas foi coibido no momento do embarque nos aeroportos
(GREENFIELD, 2006).
Diversos tipos de ameaças têm colocado em risco os aeroportos, sendo que uma das ameaças
mais preocupantes da sociedade atualmente é a ameaça biológica, pois é viável e crítica. As
preocupações sobre doenças infecciosas e epidemias vieram à tona, com o surto da gripe aviária2 que
mostrou a fragilidade da segurança aeroportuária e fez crescer a importância do controle de acesso e
das medidas de biossegurança nos aeroportos (BUZAN, 2012). O pânico generalizado, somado a um
grande número de vítimas causa grande impacto sobre a mídia, além da grande concentração de
pessoas no aeroporto, tornando factível deste tipo de ação.
No entanto, atualmente, não se deve limitar a questão a ataques terroristas, pois aeroportos são
centros logísticos, muitas vezes conectados a redes ferroviárias, rodoviárias e portuárias. Outras vezes,
próximos a áreas industriais ou altamente povoadas, por isso alvos de ‘contra valor’ para ataques de
interdição ou neutralização. Os aeroportos também podem ser relevantes como nexos para controle e
barganha política ou consecução de outros objetivos estratégicos de uma campanha terrestre. De uma
maneira ou de outra, eles são alvos de alto valor estratégico e baixa prontidão tática para qual seja o
ator – estatal ou não – que deseje perpetrar danos – morais ou físicos – a um outro país.
A provisão de segurança de aeroporto dentro de custos viáveis tem sido possível através da
previsão de ameaças através de análises prospectivas baseadas no conhecimento estatístico da base de
dados existente, são realizadas correlações hipotéticas, com o objetivo de levantar as tendências
futuras. Dessa maneira, podem-se atender vulnerabilidades do aeroporto às ameaças em fase de
planejamento de construção, expansão ou modernização. A segurança do aeroporto é realizada longe
do olhar do grande público. O perímetro de segurança, o controle de acesso e as instalações de
proteção são em grande parte invisível para a população, porém são vitais para um programa de
segurança de aeroporto e pode ter um impacto direto sobre a vida de todos os passageiros aéreos
(WALLIS, 2003). 2 Gripe aviária é o nome dado à doença causada por uma variedade do vírus Influenza (H5N1) que é hospedado por aves, mas que pode infectar diversos mamíferos.
Assim sendo, a necessidade de segurança do aeroporto é uma preocupação para todos os
governos em todo o mundo, e em especial para o Brasil. O País sedia dois grandes eventos
internacionais com imensa repercussão na mídia, a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e as
Olimpíadas em 2016, podendo ser alvo de um ataque com o emprego de agente biológico. Apesar da
relevância do tema, há uma limitada literatura acadêmica sobre a segurança de aeroporto, no Brasil
particularmente são raros os autores que se dedicam a estudar tema.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 A SEGURANÇA NO AEROPORTO EM ISRAEL
Os israelenses instituíram uma série de verificações de embarque para todos os passageiros
nos aeroportos, por meio de revistadas físicas e psicológicas. Todos os passageiros são submetidos a
uma extensa verificação social para assegurar que cada um é realmente quem dizia ser. Para facilitar
esta pesquisa social, é exigida a identificação completa dos passageiros durante o processo de emissão
de bilhetes, para permitir que as autoridades de segurança possam compilar os dados de referência do
passageiro (JONH, 1991).
Os passageiros são normalmente convidados a chegar pelo menos duas horas e meia antes
da hora de voo para que haja tempo suficiente para os procedimentos de segurança de bagagem e
questionamentos. Os passageiros são perguntados se eles fizeram a sua própria embalagem, se tem
dispositivos eletrônicos, se alguém teve acesso a sua bagagem depois que ela estava pronta e os
telefones de seus amigos e familiares. O outro elemento no sistema de segurança de Israel é o uso de
uma extensa tecnologia no aeroporto, apesar de que adotar as medidas de segurança de Israel nas
verificações de passageiros e bagagem de forma meticulosa, em grandes aeroportos como o Galeão,
poderia ser muito demorado baseado no grande volume de passageiros que precisam ser examinados.
(JONH, 1991, grifo nosso)
Segundo Taylor (2013) e concordando com Jonh (1991) sobre o rigor das perguntas,
segundo o autor os visitantes árabes e não judeus israelenses são forçados a se envolver em longos
períodos de perguntas, e são obrigados ainda a permitir que a segurança do aeroporto possa fazer uma
busca minuciosa de sua bagagem e em seu corpo. Entre os fatores que são levados em consideração
quando se decide se um determinado passageiro deva passar por medidas adicionais de segurança
incluem: a etnia do passageiro, religião, afiliação nacional, padrões de comportamento, informações
sobre viagens, e de dados de inteligência anterior sobre o passageiro.
Em termos de aspecto interação pessoal de medidas de segurança do aeroporto de Israel, a
primeira camada de interação ocorre fora do aeroporto: os carros que se aproximam do aeroporto são
parados e os guardas fazem as perguntas aos passageiros. Em seguida, antes do check-in para um voo,
os passageiros devem novamente responder uma série de perguntas e são obrigados a mostrar seus
documentos de viagem. Ao longo de todo o processo de interação pessoal, a segurança do aeroporto
está menos preocupada com as respostas reais dos passageiros, veem como este está mais preocupado
com sinais físicos como nervosismo e tom de voz (TAYLOR, 2013).
Os governos ocidentais e as suas indústrias de aviação tiveram o conhecimento e a
tecnologia, mas não a vontade de fazer cumprir os procedimentos de segurança, como Israel o fez. A
questão é se um sistema realmente eficaz pode ser desenvolvido que não prejudique o bom
funcionamento e todo aeroporto, garantindo o lucro das companhias aéreas. Enquanto isso, cada
gerente do aeroporto deve avaliar a ameaça de segurança para o seu próprio aeroporto e certificar-se
de um nível adequado de segurança é mantido dentro de sua própria jurisdição (JONH, 1991).
Segundo Taylor (2013) e discordando de Jonh (1991) sobre a importância do uso de
tecnologia cita que a confiança de Israel na interação com os passageiros, tanto por meio de perguntas
pessoais e através de perfis étnicos, religiosos e os dados das viagens podem não ser a maior diferença
entre os aeroportos dos Estados Unidos e Israel em termo de segurança. O Aeroporto Internacional
Ben Gurion em Israel, só usa máquinas de raios- X e detectores de metal, não há um único scanner de
corpo inteiro em uso em todo o aeroporto.
2.2 AS NOVAS TECNOLOGIAS
A máquina de raios-x foi utilizada a partir dos anos 1970 na área de segurança do aeroporto,
logo os passageiros têm associado a segurança nos aeroportos dos Estados Unidos da América (EUA),
Europa e ao redor do mundo com os avanços tecnológicos. Apesar de muitas mudanças que ocorreram
na segurança de aeroportos dos EUA ao longo dos anos, hoje se busca encontrar novas maneiras de
usar a tecnologia para fornecer o que parece ser uma melhor segurança para os passageiros.
Atualmente, os EUA baseiam-se quase inteiramente a segurança no aeroporto em meios eletrônicos
de detecção de ameaças à segurança nacional. Quatro novas tecnologias, comuns em aeroportos norte
americanos são: identificação biométrica, scanners para líquidos engarrafados, detectores de vestígios
de explosivos e scanners de corpo inteiro ou tecnologia Advanced Imaging (TAYLOR, 2013).
A identificação biométrica é uma forma de identificar os passageiros, verificando suas
impressões digitais, ou a digitalização de sua íris, ou uma combinação dos dois. Apesar da leitura de
impressões digitais serem bastante simples, exames de íris analisam os anéis, sulcos e sardas no anel
colorido que circunda a pupila do olho, podendo ter mais de 200 pontos para comparação.
Figura 1 - Biometria
Fonte: http://www.sistemasbiometricos.cl/web/tag/buen-uso-a-la-biometria/
Os Scanners Líquidos Engarrafados podem ser usados para diferenciar entre
explosivos líquidos e líquidos comuns. Eles são comumente utilizados quando a segurança do
aeroporto observa na tela dos raios-x líquidos em invólucros. Estas máquinas trabalham lendo a
composição molecular do líquido e que pode determinar, no prazo de quinze segundos, que líquidos
são seguros ou perigosos.
Figura 2 - Scanners de Líquidos Engarrafados
Fonte: http://pt.made-in-china.com/
Os detectores de vestígios de explosivos são dispositivos que permitem que agentes de
segurança façam um esfregaço da bagagem ou das mãos de um passageiro e ter essa amostra testada
para resíduo explosivo. A segurança do aeroporto classifica os dispositivos explosivos improvisados
como uma das maiores ameaças à segurança do aeroporto nos dias de hoje. Para executar um teste, os
agentes de segurança do aeroporto esfregam um cotonete sobre a área e em seguida, colocam na
máquina que analisa a amostra para pequenos traços de explosivos. Tudo isso pode ser feito em
poucos segundos, e essa tecnologia é extremamente móvel.
Figura 3 - Detectores de vestígios de explosivos
Fonte: http://interphysix.com/pt/radiacao/1364-egis-defender-desktop-etd-system-explosives-only-includes-start-up-kit-carrier-gas-air.html
O Advanced Imaging Technology, também conhecido como o scanner de corpo inteiro usa
os vários comprimentos de onda eletromagnética para ver por baixo a sua roupa, ou seja, a imagem
que é produzida por agentes de segurança do aeroporto é o de seu corpo nu e qualquer metal, drogas
ou explosivos que você pode ter consigo. Existem dois tipos de scanners de corpo inteiro: A máquina
de ondas milimétricas e a máquina backscatter. A máquina de ondas milimétricas funciona enviando
ondas de rádio sobre uma pessoa e produzindo uma imagem tridimensional através da medição da
energia refletida de volta. Já a máquina backscatter opera por raios-x de baixa intensidade para criar
uma imagem bidimensional do corpo (TAYLOR, 2013).
Figura 4 - Scanner de corpo inteiro
Fonte: http://www.zimbio.com/pictures/pvdq7G93288/Napolitano+Inspects+New+Advanced+Imaging+Tech
nology/baj20CP3G2L
Outra novidade são as máquinas soprador que também estão em uso para desalojar as
moléculas de resíduos recolhidas durante a fabricação de explosivos. O corpo humano também emite
uma assinatura de calor e sensores poderiam segui-lo por meio da baixa pluma térmica saindo do
corpo do passageiro movendo-se através do túnel. Bombas reais se forem escondidos no corpo,
emitem suas próprias assinaturas de calor, e poderiam ser detectadas também. Antes que o conceito
pode se mover para frente, o laboratório tem que aperfeiçoar todos os subsistemas, enquanto isso, o
laboratório continua a testar as máquinas projetadas para verificar os sapatos para identificar
explosivos sem ter que tirá-los (STEW, 2008).
Material explosivo plástico (Semtex e CN4) usado como carga em dispositivos explosivos
improvisados está se tornando mais detectável, e não por magnetômetros, mas com sistemas de
detecção e análise de vapor. O EGIS é uma máquina de detecção de vestígios de explosivos que foi
construído pela Thermedics. A máquina proporciona um processo de análise química de alta
velocidade para determinar se os produtos químicos, incluindo explosivos, tinham contaminado o
conteúdo da bagagem. Eles podem indicar se uma pessoa esteve em contato recentemente com esses
materiais (WALLIS, 2003).
2.3 O ANTRAZ COMO ARMA BIOLÓGICA
O Antraz - Bacillus Anthracis - é um dos agentes biológicos usado como arma biológica há
alguns séculos, tendo um emprego maciço na 1ª Guerra Mundial. Atualmente, com maior
probabilidade de ser usado como uma arma biológica contra a segurança aeroportuária, pelos seguintes
motivos:
1) os seus esporos são altamente estáveis, o que facilita seu armazenamento de forma segura
por muitos anos e quando de seu emprego sua eficácia é garantida,
2) os esporos podem infectar pela via respiratória, o que facilita a eficiência do emprego da
arma por espargimento,
3) a doença por inalação resultante tem uma elevada letalidade a taxa de aproximadamente
100%, e
4) a nuvem de aerossol é incolor, inodora e invisível após a sua libertação, o que dificulta
sobremaneira sua identificação por parte das autoridades públicas.
Tabela 1 - Antraz usado como arma biológica
AGENTE ETIOLÓGICO
GRAU DE LETALIDADE
INCUBAÇÃO NÍVEL DE
CONTAGIO SINTOMAS
ATAQUE BIOTERRORISTA
Antraz
Bacillus Anthracis
Esporo-bactéria
Pulmonar 100%
Gastrointestinal
25 a 65%
Cutânea 2%
01 dia a 08 semanas
Média
05 dias
Lesões cutâneas são levemente
contagiosas, não é
contagioso via esputo
respiratório
Mialgia, dispneia, cianose, choque, coma
O agente natural precisa ser refinado, muito estável, fácil de estocar por logos
períodos, disseminado pelo ar
Fonte: Elaboração própria
Dadas certas condições meteorológicas e de vento, com 50 quilos de antraz lançados de uma
aeronave com espargidores, ao longo de uma linha de dois quilômetros poderia criar uma nuvem letal
de esporos de antraz que ultrapassam 20 km na direção do vento. A Organização Mundial de Saúde
concluiu que a liberação de antraz em aerossol contra o vento de uma população de 5.000.000 de
pessoas poderiam levar a um número estimado de 250.000 mortes, das quais cerca de 100.000 pessoas
infectadas aguardariam pela morte. Uma análise posterior, pelo Escritório de Avaliação de Tecnologia
do Congresso dos EUA, estima-se que entre 130 mil a 3 milhões de mortes poderiam ocorrer após o
lançamento de 100 quilos de antraz em aerossol mais de Washington DC, fazendo um ataque tão letal
quanto uma bomba de hidrogênio. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC/EUA) estima
que um ataque bioterrorista levaria a um encargo econômico de 26.200 milhões de dólares com
100.000 pessoas expostas aos esporos de antraz (HOPKINS, 2001).
2.4 MODELAGEM BASEADA EM AGENTE (MBA)
O agente é uma entidade discreta que tem seus próprios objetivos, sendo autônomo e com
uma capacidade de adaptar-se e modificar os seus comportamentos. Dessa forma, possui alguns
pressupostos que são importantes para MBA como: aspectos de seu comportamento podem ser
descritos; os mecanismos pelos quais os agentes interagem podem ser descritos e os processos sociais
e complexos do sistema pode ser construído "de baixo para cima" (MACAL e NORTH, 2006).
Logo, surge a discussão em qual seria a modelagem mais adequada a situação : (1) quando
há uma representação singular como agentes; (2) quando houver decisões e comportamentos que não
podem ser definidos de forma discreta; (3) quando é importante que os agentes se adaptem ao
ambiente e alterem o seu comportamento; (4) quando há necessidade que os agentes aprendam e se
envolvam na dinâmica do comportamento estratégico; (5) quando é relevante que os agentes tenham
uma relação dinâmica com outros agentes e as relações de agentes se formem e se dissolvam; (6)
quando é interessante que os agentes formem as organizações e adaptação de aprendizagem no nível
da organização; (7) quando é importante que os agentes tenham um componente espacial para seus
comportamentos e interações; (8) quando o passado não é preditor de futuro; (9) quando a relação dos
níveis a cima para os níveis arbitrários são importante; (10) quando a mudança estrutural do processo
necessita de ser um resultado do modelo, em vez de uma entrada para o modelo (MACAL e NORTH,
2006).
2.4.1 Origem e Definições Da MBA
A MBA teve suas origens nos conceitos da Modelagem por Eventos Discretos (MED) e
ganhou fama nas décadas de 1960 e 1970 quando Jay Forrester e outros pesquisadores do
Massachusetts Institute of Technology (EUA) desenvolveram este novo método de modelagem.
Muitos pesquisadores e acadêmicos delegam a origem da MBA ao Instituto Santa Fé (EUA), como
desenvolvedora da MBA que conhecemos atualmente. No final dos anos 1980 e início dos anos de
1990, o grande salto para consolidação da MBA veio com o desenvolvimento do programa SWARM,
que foi a primeira ferramenta computacional conhecida e disponível mundialmente desenvolvida para
trabalhos de projetos utilizando a MBA.
As operações militares, desde a 1ª Grande Guerra, raramente operam de uma forma
completamente previsível, como planejado inicialmente no estudo de situação feito pelos chefes
militares, sendo muito comum a ocorrência de ações derivadas de condutas no decorrer do combate.
Assim, nas operações em combate, as interações que ocorrem de maneira inesperada entre os agentes e
o ambiente podem ser descritas na MBA. Uma limitação da simulação tradicional (MED) está ligada
intimamente à restrição do grau de autonomia das entidades consideradas nos modelos adotados.
Contudo, poucos modelos de MED permitem considerar que na ocorrência de um evento problema no
sistema simulado, as entidades possam tomar decisões individuais, passar por um processo de
aprendizagem (mudança de estado) e interagir com outras entidades, de uma forma autônoma como
acontece na MBA (SWAIN, 2007).
A MBA permite que as entidades tenham a habilidade de detectar as particularidades do
ambiente onde estão inseridos, interagir com outros agentes, e escolher um curso de ação. Na MBA os
agentes têm sido usados em simulações de tráfego em que o comportamento do motorista é afetado
pelas condições das vias locais e o seu perfil como condutor. Dessa maneira, influenciam na decisão
para mudança de rotas baseada na densidade de tráfego de veículos e no conhecimento das rotas
alternativas dentro da localidade. Outro emprego potencial da MBA é de realizar simulações em
tráfego aéreo, fluxo de multidões e tráfego de pedestres, ou seja, qualquer interação que seja complexa
(SWAIN, 2007).
2.4.2 Possibilidades e Limitações da MBA
A MBA apresenta alguns benefícios em relação a outras técnicas de modelagem como a
MED, pois: (1) permite capturar fenômenos emergentes; (2) fornece uma descrição natural de um
sistema; (3) é flexível. Contudo, foi a capacidade da MBA para lidar com fenômenos emergentes que
impulsiona os outros benefícios. Atualmente se identifica ainda algumas situações potenciais para
utilização da MBA, tais como: quando os agentes possuem um comportamento complexo, incluindo
aprendizagem e adaptação; quando as interações entre os agentes são complexas, não lineares,
descontinuas; quando a topologia das interações é heterogênea e complexa; quando o sistema é
descrito de forma mais natural através de atividades ao invés de processos; dentre outras
(BONABEAU, 2002).
O desafio, comum a todas as técnicas de modelagem, é que o modelo deve ser construído
num nível correto de descrição dos fenômenos, usando uma quantidade adequada de detalhes, para
servir ao seu propósito. Outra restrição à utilização da MBA nas ciências sociais, política e econômico,
que geralmente envolvem seres humanos com comportamentos potencialmente irracionais, de
escolhas subjetivas e psicologia complexa, aspectos difíceis de quantificar, calibrar e muitas vezes
justificar. Outro desafio está relacionado à própria definição da MBA, a qual trata um sistema no nível
de suas unidades constituintes, o que exige elevado poder computacional e tempo para simulação do
modelo, conforme a escala e a complexidade a ser modelada (BONABEAU, 2002).
O crescimento as aplicações da MBA nos diversos ramos do conhecimento foram fruto de
um grande esforço no desenvolvimento de pacotes de software que nos últimos anos vem tornando a
MBA, fácil o suficiente para ser atraente para muitos profissionais de diversas áreas e em diferentes
campos de conhecimento. Dentre os principais simuladores destacam-se Swarm, Repast, NetLogo,
AnyLogic, Mason e Ascape (SAMUELSON E MACAL, 2006).
2.5 O AEROPORTO INTERNACIONAL DO GALEÃO
O Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, mais conhecido como Aeroporto do Galeão
está localizado no Brasil na região sudeste, na cidade do Rio de Janeiro. Com base no censo
demográfico brasileiro de 2010 produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
a região metropolitana do Rio de Janeiro tem uma população de aproximadamente 11,8 milhões de
habitantes, sendo a principal região servida pelo Aeroporto. Conforme os dados da Empresa Brasileira
de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), aproximadamente 85% dos 17,5 milhões de passageiros/ano
do Aeroporto do Galeão tinham sua origem ou destino para a região do Rio de Janeiro em 2013.
A capital fluminense tem 74% da população do Estado do Rio de Janeiro, incluindo as 18
cidades que compõem a região metropolitana. Segunda maior região metropolitana do Brasil, ficando
atrás apenas da grande São Paulo, é um importante destino doméstico e internacional de turistas, sendo
o segundo principal portão de entradas e saídas internacionais. Além disso, outros fatores são
importantes na demanda de passageiros no Galeão, pois o maior setor petrolífero do país (Bacia de
Campos) está no Estado do Rio de Janeiro e ainda o complexo aeroportuário é um importante elo de
conexões para outros voos internacionais.
Figura 5 - Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim
Fonte: Elaboração própria
Primeiramente, há o aspecto estratégico no Aeroporto do Galeão, o crescimento do setor
aéreo segundo a International Air Transport Association, a indústria aérea brasileira continuará
crescendo e, até 2014, o país terá 90 milhões de passageiros por ano, 32% acima dos níveis atuais.
Pelas previsões, o Brasil deverá ter o quarto maior mercado de passageiros domésticos já em 2014,
atrás apenas de Estados Unidos, China e Japão. O Brasil registra a maior expansão do setor aéreo no
mundo, superando China, Índia, Estados Unidos e Europa, a expansão é de aproximadamente de 20%
ao ano. Em segundo lugar, este tema envolve negociações de grande volume de recursos financeiros, a
concessão do aeroporto do Galeão para iniciativa privada, em 2013, gerou um saldo para o governo
brasileiro de 19 bilhões de reais (6,5 bilhões de euros), ao câmbio da época.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) realizou uma pesquisa acerca da
percepção da sociedade brasileira sobre o presente e o futuro da Defesa Nacional. A pesquisa foi
realizada em 3775 domicílios, em 212 municípios e abrangendo todas as unidades da federação. As
pessoas têm uma percepção própria daquilo que possa ser uma ameaça para elas, para sua família, para
sua cidade e para seu país, ou seja, cada pessoa possui certos medos. Dessa forma, foi perguntado de
quais as ameaças o brasileiro tinha medo. Por sua vez, terrorismo e epidemias foram indicados como
eventos relevantes por cerca de 30% dos entrevistados respectivamente. (IPEA, 2012) Por isso, o
paper aborda o uso do agente biológico Antraz no Aeroporto Internacional do Galeão, perpetrado por
um lobo solitário3 ou grupo, que poderia ser um terrorista, justificado assim a segurança de aeroporto
como relevante.
Por outro lado, o tema de segurança de aeroporto apresenta ao menos três características
básicas que justificam o seu estudo no que tange a sua contribuição acadêmica. Em primeiro lugar
grande parte da escassa literatura é pragmática, os relatos são baseados no cotidiano dentro de cada
aeroporto ao redor do mundo. Em segundo lugar, observa-se que cada aeroporto tem uma rotina
particular quanto às medidas adotadas na segurança, ou seja, o que um aeroporto faz o outro não
replica. Por último, apesar da relevância do tema no Brasil, não há uma agenda de pesquisa que
avancem estudos sobre o tema de segurança de aeroportos, muito menos por a contribuição de
ferramentas analíticas e outros tipos de insumos para as autoridades responsáveis e conduzir tal tarefa
em termos práticos. Por isso, a verificação da modelagem baseada em agente parece ser uma forma
consistente, apesar de original, de introduzir essa temática no Brasil, vinculando-a a esforços a autores
estrangeiros.
2.6 MODELAGEM BASEADA EM AGENTE COMO FERRAMENTA DE DIAGNÓSTICO DE
UM ATAQUE COM AGENTE BIOLÓGICO ANTRAZ NO GALEÃO
O StarLogo TNG é um software do Massachusetts Institute of Technology que está sendo
utilizado como ferramenta metodológica para a modelagem dos dados da simulação do ataque com
antraz no Aeroporto Internacional do Galeão. O programa foi escolhido, pois pode-se criar e entender
as simulações de sistemas complexos. Assim, pode-se trabalhar com gráficos 3D e Som, além de uma
interface de programação baseada em blocos, o que torna a modelagem bem realística.
3 Lobo solitário indivíduo que age isoladamente.
Figura 6 - Modelagem do cenário do Galeão utilizando o programa Star Logo TNG
Fonte: Elaboração própria
Figura 7 - Passageiros entrando na sala de Check-in do Galeão
Fonte: Elaboração própria
Figura 8 - O antraz sendo lançado na sala de Check-in do Galeão
Fonte: Elaboração própria
Figura 9 - Passageiros infectados pelo Antraz, destaque para vetorização do vento
Fonte: Elaboração própria
3 CONCLUSÃO
A Modelagem Baseada em Agente pode ser um referencial metodológico importante para o
avanço nos estudos de defesa, e sua verificação como ferramenta diagnóstica para estudos de
segurança de aeroportos no Brasil. A modelagem baseada em agente tem sido utilizada, com êxito, na
engenharia de produção como ferramenta para locação de recursos humanos, em educação formulando
a interação dos alunos no ambiente escolar, na medicina no estudo de epidemiologia, entre outras.
Entretanto, essa ferramenta poderosa para simular eventos complexo, ainda é pouco conhecida em
Estudos de Segurança.
A modelagem baseada em agente possui três grandes vantagens se comparada a outros tipos
de simulação, em primeiro lugar o comportamento de cada entidade é individualizado, podendo ser
acionado pelos eventos, o que possibilita modelar grupo heterogêneo e suas interações, nas quais cada
agente pode ter incentivos e motivações particulares. Em segundo lugar, a interação pode ocorrer entre
entidades e/ou recursos, sendo assim, a troca de informações pode alterar o comportamento dos
elementos e influenciar as ações tomadas no sistema simulado. Por fim, um dos fatos mais relevantes é
que a transição de estados possibilita modelagem de cenários totalmente flexíveis que podem ser
reconfigurados durante a simulação. (SAKURADA e MIYAKE, 2009).
Como resultados preliminares do presente paper, haja vista que a pesquisa está em andamento
e a íntegra dos resultados dos dados da simulação será exposta na defesa da dissertação, neste ano.
Pode-se inferir que a modelagem do ataque com o agente biológico antraz no Aeroporto Internacional
do Galeão possibilita:
- Rever inúmeras vezes os resultados;
- Corrigir resultados;
- Diagnóstico diferenciado não dependendo de especialistas;
- Treinamento de toda a equipe envolvida no evento;
- Custo reduzido;
- Aprendizado acumulado;
Assim, cabe destacar que esta ferramenta metodológica prove um diagnóstico personalizado
para a ameaça, possibilitando realizar prognósticos, e também protocolos de segurança que impactam
na avaliação de risco de sua ocorrência. Dessa maneira, mitigando sensivelmente os efeitos em caso de
sua real ocorrência.
4 REFERÊNCIAS
BONABEAU, E. “Agent-Based Modelling: Methods and Techniques for Simulating Human Systems”, Proceedings of the National Academy of Sciences of the USA (PNAS), 2002 99(3): 7280-7287. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC128598 > Acesso em 07 dez 2013. BUZAN, Barry e Hansen, Lene. A evolução dos Estudos de Segurança Internacional. Tradução Flávio Lira. São Paulo. Ed. UNESP, 2012
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