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II Semana de Economia Política UFC-UECE “Luta de Classes e Opressões: Uma
homenagem a Rosa Luxemburgo” De 9 a 12 de Outubro. GT 4 – Educação e cultura.
Maria Oliveira1
TEORIA DE ESTADO, POLÍTICA PÚBLICA E EDUCAÇÃO: um estudo a partir das
configurações do Estado Moderno e os seus impactos na Educação.
Resumo O presente artigo objetiva fazer uma reflexão acerca dos fundamentos do Estado moderno,
dando ênfase à noção de Estado nas percepções de vários autores, como Maquiavel, Hobbes,
Rousseau, Locke, Tocqueville, Hegel, Marx, Engels e Gramsci. Também visa demonstrar a
relação existente entre Estado, políticas públicas e educação, de modo a demonstrar as
relações que se estabelecem na educação enquanto política pública e como instrumento para a
produção e reprodução do capital, bem como, utilizada como ferramenta fundamental do
Estado na tentativa de superação da pobreza que perpassa toda a história do processo de
formação da sociedade capitalista, ou seja, da busca pela superação ou amenização, via
políticas públicas, das expressões da questão social emergentes no âmbito escolar.
Palavras Chaves: Teoria de Estado; Política Pública; Educação.
INTRODUÇÃO Na origem do Estado moderno pensadores como Maquiavel, Hobbes, Rousseau e
Locke, pautados em uma postura, realistas e em oposição à visão religiosa medieval,
procuravam a racionalidade para conceituar: poder, soberania e contrato social, consentimento
e obediência política, tendo em vista a coesão do Estado e a segurança dos indivíduos.
Em relação aos pensadores anteriores, Tocqueville e Hegel representam um avanço no
que tange às ideias de liberdade e igualdade, porém, ainda persistiam inúmeras contradições,
pois apesar da difusão das ideias democráticas, nos grandes centros da Europa permaneceram
sem solução questões econômicas e sociais que afetavam a crescente massa de operários:
pobreza, jornada de trabalho excessiva, mão de obra mal paga a mulheres e crianças.
Já as teorias de Marx e Engels caminhavam em contrapartida ao discurso liberal,
reconhecendo o antagonismo de classe entre burguesia e proletariado, denunciando à posição
do Estado aliado a classe dominante, e por tal motivo é um mal a ser extirpado.
Gramsci apesar de seguidor da teoria marxista percebe que o Estado no sistema
capitalista não se impõe apenas pela coerção e violência explícita, ele apresenta a Teoria
Ampliada do Estado, sendo este envolvido pelo consenso, pela persuasão, através das
instituições da sociedade civil, e por meio das quais a ideologia da classe dominante é
difundida e preservada.
Compreendendo o contexto em que foram se estruturando as ideias de Estado, o seu
papel frente às mudanças sociais, políticas, culturais, e na própria esfera da economia – à luz
de pensadores como os acima citados, por intermédio das suas teorias, posicionamentos e
concepções – é que nota-se o surgimento de novas necessidades/demandas que requerem
também novas respostas. Nesse percurso, chegando ao Estado Moderno, vemos eclodir uma
série de determinantes que tornam a sociedade “palco” de conflitos provocados pela
emergência das mais variadas expressões da questão social, que resultam da contradição
1 Mestranda - curso de Mestrado em Política Social do Programa de Pós Graduação em Política Social ofertado
pela Universidade Federal de Mato Grosso.
capital versus trabalho, e assim tendo o Estado em alguns momentos enquanto regulador,
como forma de “acalmar” os momentos de crise.
Como apontado por Gramsci esse Estado também usa de instituições para fazer
difundir a ideologia da classe dominante, entre essas instituições encontra-se a escola, que
receberá forte influência da perspectiva neoliberal, considerando esta um local providencial
para a implantação de políticas públicas de cunho social, objetivando superar ou amenizar os
conflitos que repercutem nesse espaço.
1. CONFIGURAÇÃO DO ESTADO MODERNO
Conceituar o termo Estado é uma ocupação complexa, uma vez que o conceito de
Estado se modifica de acordo com o ângulo em que é considerado. Contudo neste artigo, o
Estado será apresentado como um arcabouço político organizacional que faz parte da
sociedade e ao mesmo tempo está acima dela. Assim, falar de Estado é falar de poder, isto é,
trata-se de uma estrutura organizacional e política que surge da necessidade da manutenção da
ordem no interior de uma sociedade marcada pelo antagonismo de classe. O que fica evidente
na afirmação de Engels:
O Estado não é, pois, de modo algum, um poder que se impôs à
sociedade de fora para dentro; tampouco é a ‘realidade da ideia
moral’, nem a ‘imagem e a realidade da razão’ como afirma Hegel. É,
antes, um produto da sociedade quando esta chega a determinado grau
de desenvolvimento; é a confissão de que essa sociedade se enredou
numa irremediável contradição com ela própria e está dividida por
antagonismos irreconciliáveis que não consegue conjurar. Mas para
que esses antagonismos, essas classes com interesses econômicos
colidentes não se devorem e não consumam a sociedade em uma luta
estéril, faz-se necessário um poder colocado acima da sociedade,
chamado a amortecer o choque e a mantê-lo dentro dos limites da
‘ordem’. Este poder, nascido da sociedade, mas posto acima dela, e
dela se distanciando cada vez mais, é o Estado. (ENGELS, 2012,
p.213).
O Estado é uma estrutura dinâmica que veio passando por modificações resultantes do
próprio movimento histórico e das demandas requisitadas em determinado contexto sócio-
histórico. Dessa maneira, podemos mencionar a existência de no mínimo cinco tipos
fundamentais de Estado: os antigos Estados orientais, o Estado Helênico, o Estado romano, o
Estado medieval e o Estado moderno. No entanto, o presente estudo se debruçará apenas na
reflexão da origem e transformações da noção de Estado moderno.
É no período de crise do feudalismo que o Estado Moderno tem a sua origem,
considerando ainda o crescimento dos centros urbanos, e o descobrimento da América. Nesse
momento histórico, o soberano era quem detinha o poder máximo dentro dos limites da nação,
assumindo assim como forma de governo a Monarquia Absolutista. Neste contexto, a obra “O
Príncipe” de Maquiavel, assume grande relevância, onde o autor através da experiência real
do seu tempo se propõe a relatar a arte de governar e manter um Estado. Sua obra inaugura o
pensamento político moderno, uma vez que procura dar respostas a uma nova situação
histórica. Maquiavel não vê a finalidade política relacionada à justiça e ao bem comum
apregoada pelos pensadores gregos, romanos e cristãos, isto é, a vida boa.
Maquiavel dessa forma compreende a política como a lógica da força, transformada
em lógica do poder e da lei. Sendo assim, recusa a imagem do bom governo representado pelo
príncipe virtuoso, portador das virtudes cristãs, das virtudes morais. O príncipe necessita ter
virtu, mas esta é propriamente política, referindo-se às qualidades do governante para tomar e
manter o poder.
A partir daqui, faremos um breve retrospecto aos conceitos de Estado em Hobbes,
Rousseau, Locke, Tocqueville, Hegel, Marx, Engels e Gramsci.
Antes dos homens viverem em Estado social, viveram em estado de natureza, no qual
viviam isoladamente. Duas foram as principais concepções do estado de natureza: a
compreensão de Hobbes e concepção de Rousseau. A passagem do estado de natureza à
sociedade civil se dá por meio de um contrato social. Segundo Hobbes no estado de natureza
cada um tem o direito natural de prover a realização das suas necessidades e garantir por meio
das próprias forças seu direito à vida.
O direito natural, que os autores geralmente chamam jus naturali, é a
liberdade que cada um possui de usar seu próprio poder, da maneira
que quiser para a preservação de sua própria natureza, ou seja, de sua
vida. Consequentemente de fazer tudo aquilo que seu próprio
julgamento e razão lhe indiquem como mais adequados a esse fim.
(HOBBES, 2002, p. 101).
Contudo, o direito a vida, se torna vazio a partir do momento que todos os homens
estão empenhados em lutar não apenas pela manutenção de sua vida, mas também em atender
seus desejos de liberdade e propriedade. Tal fato acaba por instaurar a guerra de todos contra
todos. Assim, quando os homens fugindo do estado de guerra de todos contra todos e pelo
medo de morte violenta, firmam um pacto pelo qual cada um transferia seu poder de governar
a si próprio a um terceiro, criando artificialmente a sociedade política, representada pelo
Estado para governar a todos impondo ordem segurança e direção à vida humana. Para
Hobbes o Estado pode ser representado por um homem ou uma assembleia, contudo, seu
poder deve ser absoluto.
Já para Rousseau em estado de natureza, os homens vivem isolados pelas florestas,
sobrevivendo com o que a Natureza lhes oferece, não conhece conflitos. Esse estado termina
quando alguém cerca um terreno e diz: "É meu", surge a propriedade privada, a desigualdade
entre os homens e os conflitos, gerando a necessidade do contrato social e a criação de um
poder soberano para regular a vida de todos. Contudo, se para Hobbes o poder absoluto esta
nas mãos do soberano, para Rousseau, o soberano é o povo, entendido como vontade geral e
corpo político de cidadãos. Os homens, pelo contrato, se instituem como povo e é a este que
transferem os direitos naturais para que sejam transformados em direitos civis. Assim, os
indivíduos aceitam perder a posse de seus direitos naturais para ganhar a cidadania. Em
Rousseau podemos considerar o nascimento propriamente da concepção democrático-
burguesa.
Unamo-nos para defender os fracos da opressão, conter os ambiciosos
e assegurar a cada um a posse daquilo que lhe pertence; instituamos
regulamentos de justiça e de paz, aos quais todos sejam obrigados a
conformar-se, que não abram exceção para ninguém e que,
submetendo igualmente a deveres mútuos o poderoso e o fraco,
reparem de certo modo os caprichos da fortuna. (ROUSSEAU, 1999,
p. 99-100).
Em Locke a definição do direito natural é visto como direito à vida, à liberdade e aos
bens necessários para a conservação de ambas. Esses bens são conseguidos pelo trabalho,
uma vez que, a primeira propriedade que o ser humano possui é seu próprio corpo e por
consequência, tudo o que ele alcançar com sua força de trabalho também será sua
propriedade. Para ele também o Estado existe a partir do contrato social, e tem como função
fundamental garantir o direito natural da propriedade.
Já em Tocqueville existe a certeza de que a democracia está designada a se
estabelecer. Porém, seu grande desafio era conciliar liberdade e igualdade, uma vez que temia
a excessiva concentração de poderes no Estado, o que poderia gerar uma tirania ou uma
sociedade de massa, que aniquila as diferenças individuais e que leva ao conformismo e à
“tirania da maioria”. Buscando evitar tal situação, considerava importante a criação de leis
que garantissem as liberdades fundamentas e a manutenção do exercício da cidadania.
Constata-se que durante o século XIX prevaleciam duas noções progressistas de
Estado: a noção liberal, que advoga pela correlação entre propriedade e liberdade. E a noção
democrática, que defende a liberdade pautada na igualdade, mas fundamentalmente na
igualdade jurídica. É neste contexto, que surge o pensamento de Hegel, onde o Estado é
pensado como princípio da sociedade civil e da família, ou seja, para ele não existe sociedade
civil se não existir um Estado que a edifique que a conceba e que complete suas partes. Dá
mesma maneira, não existe povo se não existir o Estado, pois é o Estado que funda o povo e
não o contrário. Portanto, em Hegel o Estado simboliza a unidade final, a síntese mais perfeita
que ultrapassa as contestações existentes entre o público e o privado e que põe em risco a
coletividade.
Marx vivenciando o apogeu da burguesia e do capitalismo constrói uma critica as teses
de Hegel, onde afirma que não é o Estado quem dá origem a sociedade civil e, muito menos é
a unidade final, segundo Marx é ao contrario, é a sociedade civil, compreendida como
conjunto das relações econômicas, que explica a gênese do Estado, seu caráter e a natureza de
suas leis. E para Marx o Estado não supera as contradições da sociedade civil, mas é o reflexo
delas, e esta aí para perpetuá-las, uma vez que a base econômica da sociedade se desenvolve a
partir da divisão do trabalho que é a maneira como a classe dominante ajusta seus interesses
comuns.
Para Engels o Estado não existiu desde sempre, pois havia sociedades que precederam
o Estado, como as tribais que se pautavam em normas sociais e morais de convivência. Então
para Engels o Estado surge a partir da divisão de classes e a luta de classes provenientes do
desenvolvimento econômico. Dessa forma para ele, o Estado nasce para moderar os conflitos
entre classes antagônicas e mantê-las dentro dos limites da ordem social. Contudo, Engels
completa que é uma classe específica que controla o aparato do Estado e usa este controle
para manter sua dominação política e econômica.
Então, para Marx e Engels o Estado é fruto da divisão da sociedade em classes e não é
um poder neutro acima dos interesses das classes. Seu enfoque está no caráter de dominação
de classe do Estado, considerando-o, exclusivamente, um mecanismo para garantir a
acumulação e reprodução do capital, e com isso, a manutenção do modo capitalista de
produção.
Já Gramsci, em sua concepção de Estado ampliado rompe com a ideia do Estado
enquanto representante exclusivo da burguesia de Marx e outros marxistas e reconhece que,
quem tem a supremacia do aparato estatal deve se preocupar com a questão da legalidade do
governo, pois, nenhum poder se mantem só na sociedade política mais também com a
sociedade civil, ou seja, sempre está presente o constante paradoxo entre força e consenso.
Assim, Gramsci apesar de seguidor da teoria marxista percebe que o Estado capitalista
não se impõe apenas pela coerção e violência explícita, mas também por consenso, por
persuasão, por meio das instituições da sociedade civil, como igreja, escola, partidos políticos,
imprensa, por meio das quais a ideologia da classe dominante é difundida e preservada.
Portanto, como já mencionado se percebe que a origem do Estado moderno e do capitalismo
dá inicio a uma série de mudanças estruturais e conjunturais na sociedade moderna, alterando
as formas de organização social, política, econômica e cultural, também gerando a
desigualdade social, e logo a ausência de direitos. Mudanças são essas que alcançam as mais
variadas esferas da vida social e de sociabilidade humana, no cerne das relações que se dão no
interior de instituições como a escola.
2. ESTADO, POLÍTICAS PÚBLICAS E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO NO
CONTEXTO NEOLIBERAL.
A escola vista a partir do método marxista, é um local que representa a sociedade em
sua totalidade, ou seja, a escola é um espaço onde se apresenta uma série de necessidades que
vão para além dos seus muros, o que torna evidente a importância de políticas públicas que
atendam essa população. E ao fazer uma analise da educação vista como política pública, a
partir do advento do capitalismo, o que se percebe é que a noção de educação como uma
ferramenta fundamental de modernização, e de superação da pobreza perpassa toda a história
do processo de formação da sociedade capitalista, bem como no contexto neoliberal, o que
aponta a existência de uma relação, entre educação e economia capitalista, que aparece nas
contradições e nas lutas de classes. A educação, enquanto atividade social centrada no homem
e em suas necessidades, dependente da lógica do capital, desempenha as funções de
reprodução alienada da força de trabalho e de aceitação da realidade.
Marx neste contexto percebia a educação como parte da superestrutura de controle
usada pelas classes dominantes. Desse modo, o proletariado ao aceitar as ideias passadas pela
escola pautada nos ideais burgueses cria uma falsa consciência, que o impede de perceber os
interesses de sua classe. O erro a que a ordem burguesa nos leva, segundo Marx em sua obra
A Questão Judaica (1991), é o de reconhecer emancipação política como emancipação
humana, o que permite limitar a ordem histórica aos marcos da sociedade burguesa. Marx
critica o fato de que, mesmo confirmando sua relevância, a emancipação política faz aparecer
o cidadão, sujeito de interesses e necessidades egoístas. Essa forma de emancipação descativa
os indivíduos para a procura de seus fins singulares, ou seja, que os direitos que lhe são
atribuídos são direitos negativos limitados pelo direito de outrem.
Nesse sentido, a educação para a burguesia que se firma a partir dos ideais iluministas,
é a “mola propulsora da vida social”. Sua incumbência é edificar em cada homem a
consciência do cidadão, proporcionar uma emancipação, sobretudo intelectual, libertando os
homens de preconceitos, tradições acríticas, ligadas ao Ancien Regime. Assim, escola no
início da modernidade deveria ser uma escola mais uniforme, mais rígida nas estruturas e nos
comportamentos.
Desta forma, a educação do povo era importante devido ao pauperismo do
proletariado, ainda em formação no início do século XIX, ser compreendido como um risco
de ruptura social, ou seja, o povo deve ser educado para evitar a falta de ordem social.
Todavia, no início do século XX não é o pauperismo dos trabalhadores que pode provocar
ruptura social, mas o progresso do nazifascismo, da ideologia comunista, e uma classe
operária organizada. Desta forma, pode-se dizer que o avanço do nazifascismo e do
comunismo acabou por colaborar com a conquista de direitos políticos e sociais reivindicados
pelos trabalhadores europeus.
É nesse momento histórico onde o Estado liberal que defende o ideal não
intervencionista, visando sua manutenção faz surgir o fenômeno do Welfare State. Desde o
século XX, a Inglaterra já vinha implantando medidas assistenciais, como seguro nacional de
saúde e sistema fiscal progressivo. Porém, foi a partir de 1930, principalmente pautado na
teoria de Keynes que o Estado interveio na produção e distribuição de bens. Nos Estados
Unidos, ideais semelhantes orientaram o presidente Roosevelt na elaboração do New Deal
(Novo Acordo), que introduziu o dirigismo estatal durante a depressão da década de 1930.
Embora esses procedimentos fossem semelhantes às propostas socialistas, objetivavam de
fato o fortalecimento do capitalismo e evitar o fortalecimento da ameaça comunista.
Neste momento a pobreza era compreendida como a mãe do comunismo que destruía
as liberdades e a democracia e, por tal motivo, era necessário o combate à miséria visando
melhorar o futuro dos pobres e favorecer o estabelecimento de regimes democráticos
burgueses. Na Conferência de Paris em 1962, a educação foi resignificada como educação dos
meios humanos enquanto fator de crescimento econômico e social equilibrado.
Desde então, o Banco Mundial imprime a tendência baseada na segurança e na
pobreza absoluta, prioritariamente dos países, até então, do Terceiro Mundo. Nesse sentido, O
bloco de políticas educacionais que justificam a liberação de financiamento do Banco
Mundial aponta duas tendências: inteirar os objetivos dos projetos educacionais à política de
crescimento do Banco para a comunidade internacional e imputar à educação caráter
compensatório, compreendido como forma de conforto ao estado de pobreza no Terceiro
Mundo. Fonseca sintetiza:
No início dos anos 70, a educação foi considerada, no projeto de
desenvolvimento do Banco, como fator direto de crescimento
econômico, ou seja, como meio para o provimento de técnicos para o
setor produtivo, especial no nível de 2º grau (hoje, ensino médio). Esta
diretriz explica a ênfase conferida ao ensino profissionalizante no
interior dos projetos desenvolvidos à época pelo Banco junto ao
ensino brasileiro. (FONSECA, 1996, p. 232).
As teorias de Keynesianas exerceram influência até 1970 quando passaram a ser
criticadas pela tendência neoliberal. E foi no contexto da Guerra Fria, que o modelo
econômico do pós-guerra entra em crise, com uma extensa e profunda recessão juntamente
com baixas taxas de desenvolvimento e altas taxas de inflação. É o fim do Estado de bem-
estar social em alguns países e do ideal desenvolvimentista preponderante. O mundo
capitalista dos anos 1970 mudou e nele as ideias neoliberais ganharam espaço, no contexto do
livre mercado e da globalização, onde a formulação de políticas econômicas de investimentos
e de redistribuição de renda está cada vez mais escassa.
A educação, agora no contexto da mundialização, não é mais um motor de
crescimento do Estado nacional, e sim esta relacionada ao ideal “Educar para o emprego”. E a
noção de empregabilidade é colocada separada do direito à educação, e vai proferir e dar
sentido a um conjunto de políticas públicas, que visavam a superação da crise do desemprego
dos anos 1980-90, apregoando que só existe desempregados por não estarem atualizados e
preparados para o mercado de trabalho. Nesse momento também se fez urgente dinamizar o
mercado, através do enfraquecimento dos encargos patronais, da flexibilização trabalhista,
privatizações de empresas públicas.
Porém, ao estabelecer a relação educação e trabalho na atualidade, podemos perceber
que, mesmo existindo um aumento do acesso à educação escolar ainda existe uma expansão
da taxa de desemprego. Desta forma, pode-se concluir que o crescimento do nível de
escolaridade ou qualificação não resultou em emprego, desenvolvimento econômico ou
divisão de renda, ou seja, a escola ou a educação moldada aos interesses da economia
capitalista não é propulsora de progresso e de distribuição de renda, muito menos consegue
superar por completo a “questão social” ou mesmo suas expressões, como pobreza e exclusão
social, e como consequência a efetivação real da cidadania.
Portanto, a escola pensada nos moldes do ideal burguês mantem a classe dominada,
sem alcançar sua própria consciência de classe, ou seja, permanece desorganizada e passiva,
sem perceber sua condição de exploração e de exclusão de direitos que deveriam ser
assegurados pelo Estado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao fazer uma análise da educação vista como política pública, a partir do advento da
modernidade, o que se pode perceber é que a educação seja no Estado moderno burguês ou
neoliberal foi usada como ferramenta para superação das desigualdades sociais, e conquista de
direitos sociais, bem como a cidadania, mais tendo como pano de fundo o controle da classe
dominada e manutenção do capitalismo. Porém, sem deixar de ressaltar que neste estudo a
Política Social é interpretada como fenômeno contraditório, pois ao mesmo tempo em que
responde positivamente aos interesses dos representantes do trabalho, proporcionando-lhes
ganhos reivindicativos na sua luta constante contra o capital, também atende positivamente
aos interesses da acumulação capitalista, preservando o potencial produtivo da mão-de-obra e,
em alguns casos, até desmobilizando a classe trabalhadora.
Portanto, a escola pensada nos moldes do ideal burguês mantem a classe dominada,
sem alcançar sua própria consciência de classe, permanecendo assim na condição de
exploração, sem que percebam, tendo os “olhos fechados” por quem os oprime, fazendo
perder a capacidade de mobilização e organização na busca pela efetivação dos direitos que
deveriam ser assegurados pelo Estado, e de garantir uma educação que vá além do capital.
REFERÊNCIAS
ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade e do Estado; tradução de Leandro
Konder. 3ª ed. São Paulo: Expressão Popular, 2012.
FONSECA, Marília. O financiamento do Banco Mundial à educação brasileira: vinte anos de
cooperação internacional. In: TOMMASI, WARDE, HADDAD (Orgs). O Banco Mundial e
as políticas educacionais. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1996. p. 232.
HOBBES, Tomas. Leviatã – Ou Matéria, Forma e poder de um Estado Eclesiástico e Civil.
São Paulo: ed. Martin Claret, 2002.
ROUSSEAU, J. J. Do Contrato Social. São Paulo: Nova Cultural, 1999.