Ildete Maria Cardoso Bandeira

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1 SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MEC – SETEC INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO-GROSSO CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE JORGE DA SILVA DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO ILDETE MARIA CARDOSO BANDEIRA ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E INSERÇÃO NO MUNDO DO TRABALHO: UM ESTUDO EM SUPERMERCADOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM-PA. Belém - Pará Outubro de 2009

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

MEC – SETEC

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DE MATO-GROSSO

CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE JORGE DA SILVA

DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

ILDETE MARIA CARDOSO BANDEIRA

ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E INSERÇÃO NO MUNDO DO TRABALHO: UM ESTUDO EM

SUPERMERCADOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM-PA.

Belém - Pará Outubro de 2009

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DE MATO-GROSSO

CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE JORGE DA SILVA

DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Curso de Especialização Latu Sensu a Distância: Educação

Profissional e Tecnológica Inclusiva

ILDETE MARIA CARDOSO BANDEIRA

ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E INSERÇÃO NO MUNDO DO TRABALHO: UM ESTUDO EM

SUPERMERCADOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM-PA.

Belém – PA Outubro de 2009

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Ficha Catalográfica BANDEIRA, Ildete Maria Cardoso Escolarização de Pessoas com Deficiência e Inserção no Mundo do Trabalho: Um Estudo em Supermercados da Região Metropolitana de Belém-Pa. Belém-PA, 2009 Total de Folhas da Monografia: 91 TAVARES NETO, João Gomes Centro Federal de Educação Tecnológica de Mato Grosso Monografia do Curso de Especialização Latu Sensu a Distência: Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva

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ILDETE MARIA CARDOSO BANDEIRA

ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E INSERÇÃO

NO MUNDO DO TRABALHO: UM ESTUDO EM SUPERMERCADOS

DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM-PA.

Monografia apresentada ao Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação do Curso de Especialização Latu Sensu a Distância: Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva, do INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO-GROSSO - CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE JORGE DA SILVA, como requisito para a obtenção do título de Especialista.

Orientador: Profº.( MSc). João Gomes Tavares Neto

Belém – PA Outubro de 2009

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ILDETE MARIA CARDOSO BANDEIRA

ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E INSERÇÃO

NO MUNDO DO TRABALHO: UM ESTUDO EM SUPERMERCADOS

DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM-PA.

Monografia em Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva, submetido à Banca

Examinadora composta pelos Professores do Programa de Pós-Graduação do

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso como parte

dos requisitos necessários à obtenção do título de Especialista.

Aprovada em: 23 de Outubro de 2009.

_____________________________________________

Prof. (MSc, ) João Gomes Tavares Neto (Orientador)

______________________________________________

Profª. (Drª.) Maria Angélica Alberto do Espírito Santo (Membro da Banca)

_____________________________________________

Profª. (Drª.) Rosângela da Silva Almeida (Membro da Banca)

Belém-Pa

Outubro 2009

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DEDICATÓRIA

À minha mãe Gildete e ao

meu irmão Luís, meus

incentivadores a voltar

estudar.

Ao meu marido Moisés e

meus filhos Rafael, Gabriel e

Isabele que me apoiaram

nessa empreitada.

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AGRADECIMENTOS

Ao MSc. João Gomes Tavares Neto, pela sua dedicada orientação durante todo o

processo de elaboração desse trabalho.

À Maria Gildete Cardoso Bandeira, principal responsável por tudo que conquistei

ao longo de minha vida.

Ao MSc. Luís Cláudio Cardoso Bandeira, grande incentivador pela educação em

nossa família.

A Ademilson Chaves de Souza, coordenador da educação especial, que permitiu a

realização de pesquisas e coleta de dados junto ao setor de profissionalização

desta Coordenadoria de Educação Especial-COEES/SEDUC.

A Ângelo Guedes Aquino Junior, técnico do setor de profissionalização da

COEES/SEDUC, pelas preciosas informações sobre os trabalhadores deficientes

no mercado de trabalho na RMB.

Ao CINPED - Centro de Inclusão da Pessoa com Deficiência – CINPED/ SETER/

SINE pela oferta de dados estatísticos e outras informações que contribuíram com o

trabalho que ora concluímos.

Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso/MEC e

seus professores, pela oportunidade de me capacitar e qualificar nesse curso de

especialização.

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“As conquistas

“individuais” serão

sempre resultado

de um processo

coletivo vivenciado

no grupo (familiar,

escolar,

vizinhança...)”

Vygotsky

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RESUMO

Esta pesquisa problematiza o processo de escolarização de pessoas com deficiência na região metropolitana de Belém, estado do Pará, associado à sua inserção no mundo do trabalho. O despertar para esse tema surgiu da necessidade de discutir a categoria inclusão educacional e social de pessoas com deficiência, considerando os seguintes aspectos: 1)escolarização (acesso ao conhecimento científico e tecnológico apoiado na utilização de tecnologias assistivas); 2) inserção em redes sociais de apoio (família, escola e instituições estaduais). A partir de verificações preliminares, identificou-se a presença significativa de pessoas deficientes, no setor do comércio, em especial, no ramo supermercadista, a partir daí, optamos por desenvolver a pesquisa voltada para este ramo. Utilizamos prioritariamente metodologia qualitativa e quantitativa no processo de investigação, para delinear trajetórias educacionais, familiares e profissionais, bem como de sociabilidades construídas por esses atores. Esse processo qualitativo foi realizado parcialmente devido a dificuldade na obtenção dos dados no setor privativo, que restringe a divulgação de informações. Foram entrevistados trabalhadores desempregados que freqüentam o setor de profissionalização e técnicos da COEES, instituição onde trabalho. Como hipótese, considera-se que, a associação desses fatores tem possibilitado, ao lado do arcabouço legal e do processo de sensibilização do empresariado local, o ingresso e permanência dessas pessoas no mercado de trabalho, bem como, garantido a sua empregabilidade.

Palavras-Chave: educação, inclusão, trabalho, redes sociais.

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SUMMARY

This search problematiza the process of education of persons with disabilities in the

metropolitan region of Bethlehem, the State of Pará, associated with their

integration into the world of work. Awaken to the matter arose from the need to

discuss the social and educational inclusion category of persons with disabilities,

taking into account the following aspects: (1) schooling (access to scientific and

technological knowledge supported the use of technologies assistivas); (2) insertion

into social support networks (family, school and State institutions). From preliminary

checks, identified the significant presence of disabled people, business, in

particular, in supermercadista, from there, we chose to develop targeted search for

this class. We use primarily qualitative and quantitative methodology in the

research process, to delineate tracks educational, professional and family, as well

as sociabilidades built by those actors. This qualitative process was performed

partially due to difficulty in obtaining the data in the private sector, which restricts

the disclosure of information. Unemployed workers interviewed that attend the

professionalisation and COEES technicians, institution where work. As a

hypothesis, it is considered that the Association of these factors have made it

possible, next to the legal framework and the process of raising awareness of local

entrepreneurship, join and stay of those people in the labour market, as well as

guaranteed their employability.

Keywords: education, inclusion, work, social networking.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1: Número de Pessoas com Deficiência e Matrícula no Sistema de

Ensino do Estado do Pará

Gráfico 2: Nível de Escolaridade de Deficientes Empregados nos Supermercados

da Região Metropolitana de Belém-PA.

Gráfico 3: Percentual de Empregados do sexo masculino e feminino dos

Supermercados da Região Metropolitana de Belém-Pa.

Gráfico 4: Faixa Etária das Pessoas Deficientes Empregadas nos Supermercados

da Região Metropolitana de Belém-Pa.

Gráfico 5: Cursos Profissionalizantes Realizados Pelas Pessoas Deficientes

Empregadas nos Supermercados da Região Metropolitana de Belém-Pa.

Gráfico 6: Tempo de Serviço das Pessoas Deficientes Empregadas nos

Supermercados

da Região Metropolitana de Belém-Pa.

Foto nº. 1: Deficiente Auditivo trabalhando como Embalador em supermercado na Região Metropolitana de Belém-Pará. Foto nº. 2: Deficiente Auditivo trabalhando como Serviços Gerais em supermercado

na Região Metropolitana de Belém-Pará.

Figura nº. 1: Redes Sociais dos Trabalhadores dos Supermercados da Região

Metropolitana de Belém-Pa.

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABRAS - Associação Brasileira de Supermercados

APPD - Associação Paraense das Pessoas com Deficiência

ASPAS - Associação Paraense de Supermercados

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CINPED – Centro de Inclusão da Pessoa com Deficiência

CNAE - Classificação Nacional de Atividades econômicas

COEES - Coordenadoria de Educação Especial CORDE - Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência CTPS - Carteira de Trabalho e Previdência Social DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos FEBRABAN- Federação Brasileira de Bancos FIPE - Fundação Instituto de Pesquisa Econômicas IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INEP - Instituto Nacional de Estudos em Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira LDBEN – Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais MEC - Ministério da Educação e Cultura ONU - Organização das Nações Unidas PIB - Produto Interno Bruto PNEEs - Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais

RMB – Região Metropolitana de Belém SEDUC - Secretaria de Estado de Educação SEDH - Secretaria Especial dos Direitos Humanos

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SEESP - Secretaria de Educação Especial SETER – Secretaria de Trabalho Emprego e Renda SINE – Sistema Nacional de Emprego UEEs - Unidades Educacionais Especializadas

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LISTA DE TABELAS E QUADROS

Tabela 1: Nível de Escolaridade por Deficiência dos Empregados dos Supermercados da Região Metropolitana de Belém-PA.

Tabela 2: Sexo e Faixa Etária das Pessoas Deficientes Empregadas dos Supermercados da Região Metropolitana de Belém-PA. Tabela 3: Faixa Etária por Deficiência dos Empregados dos Supermercados da Região Metropolitana de Belém-PA. Tabela 4: Gênero relacionado com as deficiências dos Empregados dos Supermercados da Região Metropolitana de Belém-Pa Tabela nº. 5: Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas por Tipo Deficiência e Sexo, no ano 2.000. Tabela nº. 6: Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas por Nível Deficiência Física no ano 2.000. Tabela 7: Intermediação de Mão-de-obra Formal Pessoas com Deficiências Tabela 8: Movimento da Intermediação da Pessoa com Deficiência ao Mercado de Trabalho Comparação entre os anos de 2007 e 2008 - CINPED Tabela 9: Movimento da Intermediação da Pessoa com Deficiência ao Mercado de Trabalho, Período: 2007 e 2008 - COEES

Tabela 10: Nível de Escolaridade por Tempo de Serviço dos Empregados dos Supermercados da Região Metropolitana de Belém-PA. Tabela 11: Tipos de Funções por Deficiência dos Empregados dos Supermercados da Região Metropolitana de Belém-PA.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..............................................................................................................16

CAPÍTULO 1 - AS RELAÇÕES CAPITALISTAS E TRANSFORMAÇÃO NO MUNDO DO

TRABALHO.....................................................................................................................21

1.1 - As Mudanças no Mundo do Trabalho na Contemporaneidade........................21 1.2 - O Impacto das Transformações do Trabalho na Vida da Pessoa com

Deficiência ................................................................................................................27

1.2.1 - A Legislação: como Aríete e Escudo?........................................................ 29

1.3 - Educação Inclusiva e Preparação para o Mundo do Trabalho.........................32

1.3.1 - A Deficiência Através da História................................................................32

1.3.2 - Educação Inclusiva e a Subjetividade Capitalista.......................................34

1.3.3 - O Direito à Educação Inclusiva...................................................................35

1.3.4 - Educação Inclusiva no Estado do Pará......................................................45

CAPÍTULO 2 - A DISCUSSÃO DO OBJETO: PESSOA DEFICIENTE E TRABALHO NO SETOR SUPERMERCADISTA NA REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM...............................................................................................................48

2.1 - Um Breve Panorama do Setor Supermercadista no Pará...............................48

2.2 - O emprego de pessoas deficientes nos supermercados da RMB.................. 52

2.2.1. O perfil das pessoas deficientes inseridas no setor supermercadista na

Região Metropolitana de Belém.............................................................................. 52

CAPÍTULO 3 - REDES SOCIAIS E INSERÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO SETOR SUPERMERCADISTA NA RMB..................................75

CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................80

REFERÊNCIAS.......................................................................................................84

ANEXOS..................................................................................................................88

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INTRODUÇÃO

Esta monografia que tem como título “Escolarização de Pessoas com

Deficiência e Inserção no Mundo do Trabalho: Um Estudo em Supermercados da

Região Metropolitana de Belém-Pa”, constitui uma etapa conclusiva do curso de

especialização “lato sensu” Educação Profissional Tecnológica Inclusiva, do

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – IFMT. A partir de verificações preliminares, identificou-se a presença significativa de

pessoas deficientes, no setor do comércio, em especial, no ramo supermercadista,

na região metropolitana de Belém, estado do Pará. Essas pessoas apresentam um

nível baixo de escolaridade, o que dificulta à sua inserção no mundo do trabalho, a

partir daí, optamos por desenvolver a pesquisa voltada para este ramo. O despertar para esse tema surgiu da necessidade de discutir a problemática

da inclusão educacional e social de pessoas com deficiência, considerando os

seguintes aspectos: 1) escolarização (acesso ao conhecimento científico e

tecnológico apoiado na utilização de tecnologias assistivas); 2) inserção em redes

sociais de apoio (família, escola e instituições estaduais).

Utilizamos prioritariamente metodologia qualitativa e quantitativa no processo

de investigação, para delinear o perfil sócio-educacional de pessoas deficientes

inseridas no ramo supermercadista e a partir disso, identificar trajetórias

educacionais, familiares e profissionais, bem como as sociabilidades construídas

por esses atores. Esse processo qualitativo foi realizado parcialmente devido a

dificuldade na obtenção dos dados no setor privativo; que restringe a divulgação de

informações. Foram entrevistados trabalhadores desempregados que freqüentam o

setor de profissionalização e técnicos da COEES, local onde trabalho.

Como hipótese, considerou-se que, a associação desses fatores

possibilitaria, ao lado do arcabouço legal e do processo de sensibilização do

empresariado local, o ingresso e permanência dessas pessoas no mercado de

trabalho, bem como, a garantia de sua empregabilidade.

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As pesquisas quantitativas e qualitativas foram realizadas junto ao Centro de

Inclusão da Pessoa com Deficiência – CINPED/ SETER/ SINE onde foi entrevistada

uma técnica desta instituição governamental e onde foram coletados dados

estatísticos da instituição. Também recorremos ao setor de profissionalização da

Coordenadoria de Educação Especial – COEES/SEDUC, onde realizando

entrevistas com técnicos sobre o trabalho de intermediação entre as pessoas

deficientes e o local de trabalho; além disso, produzimos a seleção, tabulação e

análise de dados coletados por este setor no primeiro trimestre de 2008 em 8

supermercados da região metropolitana de Belém, com 84 deficientes empregados

neste segmento do comércio. Foram analisadas as relações de gêneros, os tipos de

deficiência, o nível de escolaridade, a faixa etária, o tempo de serviço no emprego

atual, e a realização de cursos profissionalizantes e as funções exercidas por esses

trabalhadores.

No Brasil, em especial no Estado do Pará, a inserção das pessoas com

deficiência no mundo do trabalho é muito pequena; dos 10 milhões de brasileiros

com deficiência em idade de trabalhar, apenas 2% estão inseridos no mercado

formal de trabalho. Destes, 20% ocupam empregos precários, não qualificados, com

baixos salários e sem proteção legal.

Não é por falta de leis que o deficiente brasileiro vivencia essa realidade de

precarização no mundo do trabalho. Eis, por exemplo, o que diz o Decreto 3.298, de

20/12/99, sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de

Deficiência, no artigo 2º. “Cabe (...) ao Poder Público assegurar à pessoa portadora

de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive (...) ao trabalho”.

Mas adiante, no artigo 6º, o Decreto aponta como diretriz dessa política de

integração “ampliar as alternativas de inserção econômica da pessoa (...)

proporcionando a ela qualificação profissional e incorporação no mercado de

trabalho”

É preciso que a inclusão saia do papel e passe a ser construída e vivenciada

em nossa sociedade, com um sistema educacional não discriminatório, que

possibilite o acesso à educação, à formação profissional e, consequentemente, o

ingresso no mercado de trabalho, este com adequação de suas estruturas

humanas, físicas e técnicas as pessoas com deficiência.

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No sistema capitalista, a exploração do trabalho organizada em larga escala,

segundo princípios da organização “científica” do trabalho, também conhecida como

Taylorismo e Fordismo, determinou ao longo do século XX, direta ou indiretamente,

a vida de grande parte da população. A superação desse paradigma, no último

quartel desse século impôs captura da subjetividade operária de modo integral.

Os supermercados são espaços físicos da organização do capital e do

trabalho com vistas à geração do lucro e de relações sociais em que aquele que

compra a força de trabalho se esforça para retirar o máximo de valor daquele que a

vende, em troca de um salário. Mesmo que os capitalistas não mencionem o

assunto, é este o ângulo mais importante. Por causa dele é que se organizam os

processos técnicos. Como resultado desta relação, temos de um lado, a

acumulação do capital, e de outro, muitas vezes, o massacre de seres humanos.

Todos estes aspectos, na nossa sociedade, não aparecem claramente, nem

às nossas vistas e nem à nossa compreensão. Necessário se faz, pois, romper

algumas barreiras para visualizar de alguma forma a verdade desses fatos, ou seja,

constatar como é consumida e “sucateada” a força humana com vistas à

acumulação do capital.

É neste contexto de exploração do trabalho que a força de trabalho das

Pessoas com Deficiência é absorvida, com um agravante de serem pessoas com

limitações maiores que os demais trabalhadores, que tem o seu desenvolvimento

atrasado pelos muitos séculos de isolamento e discriminação. Mesmo sabendo

dessa realidade as empresas supermercadistas, na cidade de Belém-Pa. exigem

perfis aos candidatos aos empregos, semelhantes aos exigidos pelo mercado de

trabalho na contemporaneidade para a contratação de força de trabalho: ensino

médio completo, curso profissionalizante, experiência comprovada e

preferencialmente ser jovem. Como um fator complementar a esse tipo de

contratação, o candidato deve apresentar apenas uma “deficiência leve”.

Considerando as especificidades desse contexto e as peculiaridades das

pessoas deficientes que se movimentam nesse cenário é que este trabalho ora

apresentado estrutura-se desenvolve sua discussão estruturado em três capítulos:

O primeiro capítulo intitula-se: “As Relações Capitalistas no Mundo do Trabalho”. Nele buscamos a partir dos autores Ricardo Antunes e Giovanne Alves,

abordar as relações capitalistas no mundo do trabalho, sua nova morfologia e como

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ela se configura na contemporaneidade a partir do conceito de precarização e

reestruturação produtiva. Procuramos mostrar que esses fenômenos também se

apresentam nos supermercados por duas vias: a utilização de tecnologia

informática e a nova forma (mais racionalizada) de gestão do trabalho, que vai

implicar no processo de seleção e contratação. Essa é a nova morfologia do

trabalho que utiliza a força de trabalho de homens e mulheres deficientes em postos

de trabalho com menor qualificação e mais baixos salários. Com isso busca-se uma

associação entre esse novo contexto do trabalho com a realidade do setor

supermercadista na Região Metropolitana de Belém-Pa.

Como subitem deste capítulo discutimos a Educação inclusiva e preparação para o Mundo do Trabalho: o que é, como se caracteriza a educação inclusiva,

autores que a discutem; como ela se opõe ao paradigma da integração.

Apresentamos os dados do IBGE sobre deficiência no Pará; mostramos o

crescimento da oferta de vagas na educação especial no Brasil e especialmente no

Pará.

Trata-se também da subjetividade capitalista que dificulta a inclusão de

deficientes nas escolas, pois a educação produz indivíduos/sujeitos egoístas e

individualista, que não primam pela solidariedade e igualdade de direitos que

necessitam as PNEEs.

Discutem-se as teorias educacionais de Paulo Freire e Vygotsky e suas

contribuições para a formação do ser humano e sua relação com a sociedade;

como o currículo pode facilitar a aprendizagem das pessoas deficientes na escola e

alterar as possibilidades de aprendizagem e preparação para o mundo do trabalho.

O segundo capítulo, denominado: A discussão do objeto: Pessoa deficiente e trabalho no setor supermercadista na Região Metropolitana de Belém. Caracteriza brevemente o setor supermercadista no estado do Pará e na

Região Metropolitana de Belém. Mostra a partir das análises de (Gonçalves, 2009)

o processo de modernização pelo qual o setor passa no estado a partir da década

de 1990. Em seguida introduz a partir dos dados trabalhados, a discussão sobre o

emprego de pessoas com deficiência nos supermercados.

Discute-se o emprego de pessoas deficientes nos supermercados da RMB;

expomos os principais pontos da pesquisa, desenvolvendo a análise dos dados.

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Trata-se da Tecnologia assistiva como meio de Inclusão no Mundo do

Trabalho e como facilitador do processo de aprendizagem na escola regular e nos

cursos profissionalizantes e apresenta-se a proposta do desenho universal como

tecnologia que pode ser utilizada por todas as pessoas com e sem deficiência, sem

necessidade de adaptação,

No terceiro capítulo, intitulado: Capital Social e Redes Sociais e Acesso ao Emprego no Setor Supermercadista na RMB, é realizada uma associação entre

os conceitos de capital social e redes sociais com o ingresso de pessoas deficientes

no trabalho no contexto da contemporaneidade, ou seja, em um mundo do trabalho

em transformação, precário e imerso em novas tecnologias e em novas formas de

gestão.

Definem-se redes sociais, capital social e Identificam-se os elementos que

constituem essas redes de apoio (família, amigos, conhecidos, instituições

governamentais) e como elas ajudam ou não, a essas pessoas deficientes a

ingressarem e se manterem no mercado de trabalho.

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CAPÍTULO 1 – AS RELAÇÕES CAPITALISTAS E

TRANSFORMAÇÃO NO MUNDO DO TRABALHO

1.1 - AS MUDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO NA CONTEMPORANEIDADE

No decorrer do século XX, o processo de acumulação capitalista baseado na

produção industrial toma vulto nunca antes imaginável. Se instaura um modelo de

sociedade que incorpora a mercadoria como valor fundante da vida social e

consolida a exploração do trabalho e do trabalhador como elemento indispensável à

produção de valor.

Neste período a nova hegemonia capitalista é alcançada com a utilização de

um paradigma produtivo baseado na produção em larga escala e na racionalização

dos processo de trabalho, denominado de fordismo/taylorismo, que domina a cena

no mundo do trabalho e invade toda a vida social. A introdução e consolidação

desse novo paradigma, apoiado, segudo (Harvey,1994), em um tripé composto pelo

Estado, pelo sindicato e pelas corporações, possibilitou que a atividade econômica

recrudescesse trazendo como conseqüência virtuosa um ciclo de estabilidade

econômica com significativa oferta de emprego e renda nos países do centro

capitalista no período do pós-guerra. Neste período de crescimento econômico e

expasão da riqueza, o trabalho e a classe trabalhadora se configuram de uma forma

peculiar. Associado a um processo de intensa exploração da força de trabalho,

estabilizam-se as relações de emprego e proteção social e legal do trabalho

possibilitando à classe trabalhadora planejar sua vida e suas relações sociais na

perspectiva de longo prazo.

Um conjunto de transformações no núcleo capitalista a partir de meados do

século XX impôs a necessidade de alteração substantiva no modelo de acumulação.

A desconstrução do tripé (Estado, corporações, sindicatos) que gerou o consenso

necessário para o desenvolvimento capitalista no século XX, não suportou mais

uma crise cíclica do capitalismo; como resposta a esta crise este modo de produção

apresentou um conjunto de transformações nas esferas da produção econômica e

das relações de poder, que a partir da década de 70 se desdobram com a

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intensificação da mundialização do capital, de um processo de reestruturação

produtiva e da construção da hegemonia do neoliberalismo. E tudo isso trouxe

grandes e danosas conseqüências para o mundo do trabalho.

No século XXI a classe trabalhadora em muito se diferencia daquela existente

até meados do século XX; mas ao contrário do que pregam alguns teóricos de matiz

conservadora, nem o trabalho, nem a classe trabalhadora estão em vias de

desaparição, nem ontologicamente perderam seu sentido estruturante. A classe

trabalhadora hoje adquiriu um novo sentido. Nas análises de (Antunes, 2005), a

compreensão desse fenômeno no qual esta classe está imersa, requer um

alargamento conceitual que abranja a totalidade dos trabalhadores assalariados,

homens e mulheres que vivem da venda da sua força de trabalho, a incorporação

dos contingentes de trabalhadores precarizados e desempregados, constituindo

assim, um conceito ampliado de classe trabalhadora como classe-que-vive-do-

trabalho.

O que se presencia hoje em termos de transformação do mundo do trabalho,

segundo (Antunes & Alves, 2004) é o desenvolvimento de um processo multiforme,

com uma diversidade de tendências marcadas fundamentalmente pelas seguintes

características:

ü Redução do número de trabalhadores estáveis sob a égide de empregos

formais isto decorre da diminuição do proletariado industrial clássico como

conseqüência da retração do paradigma taylorista/fordista;

ü O surgimento de um novo proletariado fabril e de serviços, em escala

mundial, imersos nas várias formas de trabalho precarizado: terceirizados,

subcontratados, trabalhadores em tempo parcial;

ü Expansão significativa do trabalho feminino, que segundo (Antunes e Alves,

2004) “atinge mais de 40% da força de trabalho em diversos países avançados, e

que tem sido absorvido pelo capital, preferencialmente no universo do trabalho part-

time, precarizado e desregulamentado”.

ü Hipertrofia do setor de serviços, que absorve parte dos trabalhadores

excluídos da produção fabril, como decorrência da reestruturação produtiva, das

políticas neoliberais e do processo de desindustrialização e privatização.

ü Crescente exclusão dos muito jovens do âmbito do trabalho protegido e

regulamentado;

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ü Exclusão dos trabalhadores considerados “idosos” pelo capital, com idade

próxima de 40 anos e que, uma vez excluídos do trabalho, dificilmente conseguem

reingresso no mercado de trabalho.

ü Expansão do trabalho no “Terceiro Setor”, desembocando em um tipo de

ocupação alternativa destituído de proteção estatutária e legal;

ü Crescimento do trabalho em domicílio, marcado pela precarização e

flexibilização;

Tais características são componentes desse novo cenário em que se insere o

mundo do trabalho reformulado. O esforço de compreensão desse novo contexto é

que conduz (Antunes, 2005) à elaboração de um conceito ampliado de trabalho,

contrariando a idéia neoconservadora de que o trabalho está deslocado do centro

das relações sociais no capitalismo e que, com o desenvolvimento tecnológico

permanente, perderá importância relativa para as atividades produtivas. Essa

concepção ampliada de trabalho, segundo (Alves e Antunes, 2004) (...) compreende a totalidade dos assalariados,

homens e mulheres que vivem da venda da sua

força de trabalho. Ela incorpora tanto o núcleo

central do proletariado industrial, os trabalhadores

produtivos que participam diretamente do processo

de criação de mais-valia e da valorização do capital

e abrange também os trabalhadores improdutivos,

cujos trabalhos não criam diretamente mais-valia,

uma vez que são utilizados como serviço, seja para

uso público, como os serviços públicos, seja para

uso capitalista. A classe trabalhadora, hoje, também

incorpora o proletariado rural, que vende a sua força

de trabalho para o capital, de que são exemplos os

assalariados das regiões agroindustriais, e

incorpora também o proletariado precarizado, o

proletariado moderno, fabril e de serviços, part-time,

que se caracteriza pelo vínculo de trabalho

temporário, pelo trabalho precarizado, em expansão

na totalidade do mundo produtivo. Inclui, ainda, em

nosso entendimento, a totalidade dos trabalhadores

desempregados. (p. 342).

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Neste sentido o trabalho se reformula, mas não perde o seu caráter

ontológico. Para compreendermos a significação ontológica do envolvimento do

trabalho sob a produção capitalista é importante lançar mão do conceito de

subsunção, utilizado por Marx no “Capítulo VI Inédito” de O Capital. O termo

“subsunção” indica e caracteriza a relação entre o trabalho e o capital. Expressa

que a força de trabalho vem a ser, ela mesma, incluída e como que transformada

em capital: o trabalho constitui o capital. Constitui-o negativamente, pois é nele

integrado no ato de venda da força de trabalho, pelo qual o capital adquire com o

uso dessa força o processo capitalista de produção.

Desde a sua origem, o modo capitalista de produção pressupõe um

envolvimento operário, ou seja, formas de captura da subjetividade operária pelo

capital, ou, mais precisamente, da sua subsunção à lógica do capital. O que muda,

como assevera (Alves, 2005) é a forma de implicação do elemento subjetivo na

produção do capital, que, sob o taylorismo/fordismo, ainda era meramente formal e

com o toyotismo tende a ser real, com o capital buscando capturar a subjetividade

operária de modo integral. Sob o signo do toyotismo, o capital não quer apenas se

apropriar da força física e da capacidade intelectual do trabalhador, ele quer se

apropriar de sua subjetividade e de seu espírito.

Se, sob o domínio do taylorismo/fordismo, como analisa (Gramsci, 1985), a

“integralização” da subsunção da subjetividade operária à lógica do capital - a

“racionalização total” -, ainda era meramente formal, já que, na linha de montagem,

as operações produtivas reduziam-se ao “aspecto físico maquinal” (p.344).; sob a

égide do toyotismo, o capital busca reconstruir até as últimas conseqüências o

“velho nexo psicofísico do trabalho profissional qualificado; busca a participação

ativa da inteligência, da fantasia, da iniciativa do trabalho, a que (Gramsci, 1985) se

refere.

De acordo com (Alves e Antunes, 2004) o fordismo expropriou e transferiu o

savoir-faire do operário para a esfera da gerência científica, para os níveis de

elaboração, o toyotismo tende a re-transferi-lo para a força de trabalho, mas o faz

visando a apropriar-se crescentemente da sua dimensão intelectual, das suas

capacidades cognitivas, procurando envolver mais forte e intensamente a

subjetividade operária. Suas idéias são absorvidas pelas empresas, após uma

análise e comprovação de sua exeqüibilidade e vantagem (lucrativa) para o capital.

Page 25: Ildete Maria Cardoso Bandeira

25

O saber intelectual do trabalho é transferido para as máquinas informatizadas,

que se tornam mais inteligentes. Como a máquina não pode suprimir o trabalho

humano, ela necessita de uma maior interação entre a subjetividade que trabalha e

o novo maquinário inteligente. O trabalhador terá que se qualificar melhor e

preparar-se mais para conseguir trabalho gastará parte do seu “tempo livre” para

adquirir “empregabilidade”, retirando do capital a responsabilidade de qualificação

do seu empregado.

Se vivêssemos em outro modo de produção e de vida, o tempo de trabalho

poderia ser muito menor e mais afinado com o tempo de vida fora do trabalho,

ambos dotados de sentido e fora dos constrangimentos do capital.

Estamos presenciando hoje em tantas partes do mundo e em particular na

América Latina, uma desumanização nos estratos mais penalizados pela

precarização/exclusão do trabalho, devido a alienação/estranhamento da força

humana de trabalho.

As diversas formas de "empreendedorismo", "trabalho voluntário" e "trabalho

atípico" oscilam frequentemente entre a intensificação do trabalho e sua

autoexploração. Os trabalhadores dormem sonhando com o novo "self-made man"

e acordam com o pesadelo do desemprego. Empolgam-se pela falácia do

empresário-de-si-mesmo, mas esbarram cada vez mais na ladeira da precarização.

Com a transformação tecnológica estamos presenciando um processo

histórico de desintegração do trabalho, que se dirige para um aumento do

antagonismo, o profundamento das contradições do capital. Quanto mais o sistema

tecnológico da automação e das novas formas de organização do trabalho avança,

mais a alienação tende em direção a limites absolutos, aumentando os focos de

contradição entre os desempregados e a sociedade como um todo, entre a

“racionalidade” no âmbito produtivo e a “irracionalidade” no universo Societal ,

aumentando os conflitos sociais.

Os que têm emprego trabalham muito, sob o sistema de "metas",

"competências", "qualificações", "empregabilidades" etc. E depois de cumprirem

direitinho o receituário, vivem a cada dia o risco e a iminência do não trabalho.

Há uma nota tristemente confluente: como os assalariados que só dispõem de seu

labor poderão sobreviver neste mundo sem trabalho e sem salário?

Page 26: Ildete Maria Cardoso Bandeira

26

É neste cenário de transformação do mundo do trabalho que esta pesquisa se

inscreve. Analisamos o processo de inserção profissional de pessoas com

deficiência no ramo de supermercados na Região Metropolitana de Belém.

Consideramos que neste ramo do comércio varejista, instaura-se no decorrer das

duas últimas décadas um processo de modernização, que implica

fundamentalmente em utilização de tecnologia informática e um reordenamento das

relações de trabalho apontando para a profissionalização da gestão. Estas

mudanças ocorrem em um momento de efervescência da luta por inclusão social

das pessoas com deficiência, que ocorre também em escala mundial e que produz

seus impactos no âmbito nacional e local. E um dos pontos importante dessa pauta

de inclusão é a luta pelo emprego como parte do direito à cidadania.

O ramo supermercadista é um sub-setor da economia que responde

positivamente a esta demanda por empregos, oriundo dos movimentos políticos que

agregam as pessoas com deficiência no Pará. Hoje, na RMB este setor é

responsável pelo emprego de um significativo conjunto de trabalhadores com algum

tipo de deficiência e é neste contexto de modernização e competitividade

permanente em que as grandes redes de supermercados locais estão imersas, que

as pessoas com deficiência buscam seus espaços no mercado de trabalho. E esta

pesquisa se lança neste cenário onde atuam os trabalhadores com deficiência na

tentativa de compreender este movimento.

1.2 - O IMPACTO DAS TRANSFORMAÇÕES DO TRABALHO NA VIDA DA

PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Neste trabalho consideramos os supermercados como um dos espaços físicos

de organização do capital e de organização do trabalho com vistas à geração do

lucro. Neste espaço aquele que compra a força de trabalho se esforça para retirar o

máximo de valor daquele que a vende em troca de um salário. Mesmo que os

capitalistas não mencionem é este o ângulo mais importante dessa relação, pois é a

partir daí que se desdobra a acumulação de capital.

Page 27: Ildete Maria Cardoso Bandeira

27

Todos estes aspectos, na nossa sociedade, não aparecem claramente, nem

às nossas vistas e nem à nossa compreensão. É necessário romper algumas

barreiras para visualizar de alguma forma a verdade desses fatos, ou seja,

constatar como é consumida a força de trabalho humana sob a forma de

mercadoria.

A incapacidade de o capitalismo absorver toda a mão de obra se tornou

evidente, com a massa de desempregados ou de pessoas que exercem atividades

informais - apesar de nunca ter sido objetivo do capitalismo a absorção plena dos

trabalhadores. O capitalismo moderno tornou-se perseguidor de estratégias de

otimização, através das quais a segregação/exclusão acabou sendo uma de suas

conseqüências mais inerentes. (Moraes 2006).

Estudo realizado pela FEBRABAN- (Federação Brasileira de Bancos, 2006)

constatou que, em todo o país, 52% dos indivíduos com deficiência estão inativos.

Quanto ao vínculo empregatício, a pesquisa demonstra que dentre as pessoas com

deficiência que estão no mercado de trabalho, apenas 10,4% possuem Carteira de

Trabalho e Previdência Social (CTPS) assinada.

Diante de um contexto de precarização e flexibilização das relações

trabalhistas, apontados pelas estatísticas, a inserção de pessoas com deficiência no

mercado de trabalho, cobrada como uma solução de cidadania torna-se uma

situação problemática de caráter relevante para a análise sociológica,

principalmente por ser um fenômeno que ocorre em uma região periférica.

A maioria dos dados da pesquisa refere-se as oito maiores redes de

supermercados da RMB, e foram coletados por meio de questionários aplicados

pelos técnicos do setor de profissionalização da Coordenadoria de Educação

Especial-COEES vinculada à Secretaria de Estado de Educação do Pará – SEDUC-

Pa, junto a 84 pessoas com deficiência empregadas no ramo supermercadista.

Estes dados, em linhas gerais nos permitem estabelecer um paralelo com

alguns fatores constitutivos do “novo e precário mundo do trabalho” analisado por

(Antunes e Alves, 2004, Antunes,2005).

Inicialmente, é possível destacar a absorção do trabalho de mulheres com

deficiência exercendo funções nos supermercados. Embora haja uma prevalência

do trabalho masculino (63%), principalmente em trabalhos onde a escolaridade e

Page 28: Ildete Maria Cardoso Bandeira

28

qualificação não são dispensáveis, a força de trabalho feminina continua ganhando

espaço com (37%) do conjunto investigado.

Uma segunda tendência presente no mundo do trabalho e identificada nos

dados de nossa pesquisa diz respeito à crescente exclusão dos muito jovens, que já

atingiram a idade de ingresso no mercado de trabalho e daqueles considerados

idosos, com idade próxima de 40 anos. As pessoas deficientes contratadas pelo

setor supermercadista em sua maior freqüência ocupam a faixa etária de 26 a 35

anos (36%) o que vem a confirmar neste nicho a tendência do mundo do trabalho

na contemporaneidade.

A terceira tendência verificada em nossa pesquisa diz respeito à cobrança por

escolaridade e qualificação profissional do trabalhador, como pré-requisito para o

ingresso no emprego. Com isso as empresas se eximem da responsabilidade pela

qualificação de seu quadro de funcionários e transfere para o empregado a

responsabilidade de garantir sua empregabilidade. Embora este tipo de exigência

seja um fato, constatamos que mesmo tendo cursos de qualificação as pessoas

com deficiência geralmente ocupam funções operacionais em que a qualificação

profissional é totalmente dispensável, como desenvolveremos melhor no capítulo

seguinte.

1.2.1 - A LEGISLAÇÃO: COMO ARÍETE E ESCUDO?

No campo jurídico já existe um arcabouço legal, declarações, convenções e

leis importantes foram aprovadas visando à inserção de pessoas com deficiência no

mercado de trabalho. Foi uma construção paulatina da garantia jurídica do direito ao

trabalho para as pessoas com deficiência.

A compreensão sobre a deficiência, em geral, bem como a compreensão

sobre as pessoas com deficiência, em particular, tem se modificado no decorrer da

História. Um processo contínuo de mudanças dos valores trouxe como

conseqüência a mudança de paradigmas que permeiam e caracterizam a relação

das sociedades com esse segmento populacional.

Page 29: Ildete Maria Cardoso Bandeira

29

Há que se registrar que se encontra em efetivação, no país, um movimento

cada vez mais freqüente e abrangente de criação de ambientes e contextos

inclusivos, particularmente, nas áreas de educação e do trabalho.

A Constituição Federal, bem como outros documentos legislativos asseguram

direitos iguais ao cidadão brasileiro que tenha uma deficiência; o discurso social, em

geral, também tem se caracterizado pela defesa desses direitos. Entretanto, muito

ainda precisa ser feito para que possamos constatar que todas as pessoas com

deficiência em nosso país, estejam realmente usufruindo seus direitos à educação,

à saúde, ao trabalho, enfim, em todas as instâncias da vida social.

O Artigo 23 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, sancionada pela

Organização das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 estabeleceu o

trabalho como direito humano fundamental: “Todo homem tem direito ao trabalho, à

livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção

contra o desemprego”.

O respeito a esse direito é essencial para o fortalecimento e o

desenvolvimento de qualquer sociedade e tem sido objeto de uma das mais árduas

lutas no mundo ocidental. No Brasil constata-se, entretanto, que embora o número

de postos de trabalho tenha estado em curva ascendente, de 1999 a 2001

(Ministério do Trabalho e Emprego, 2002) provocando uma desaceleração no nível

de ocupação (nos últimos 12 meses cresceu 3,0%, intensidade menor do que a

verificada, na mesma base de comparação, nos três meses anteriores e em

setembro de 2006) e que a legislação brasileira, em seu Decreto nº. 3.298/99

preveja o acesso da pessoa com deficiência à educação profissional, “a fim de obter

habilitação profissional que lhe proporcione oportunidades de acesso ao mercado

de trabalho” (Art. 28), “a inserção da pessoa portadora de deficiência no mercado

de trabalho ou sua incorporação ao sistema produtivo mediante regime especial de

trabalho protegido” (Art. 34), a contratação de dois a cinco por cento dos cargos de

uma empresa com mais de 100 empregados, com beneficiários da Previdência

Social reabilitados ou com pessoa portadora de deficiência habilitada (Art. 36),

grande parte dessas pessoas ainda continuam excluídas do mercado formal de

trabalho.

Segundo Maria Salete Aranha, a adequação às cotas legais já fixadas deveria,

em tese, dobrar o emprego formal de pessoas com deficiência, gerando 518 mil

Page 30: Ildete Maria Cardoso Bandeira

30

novos postos de trabalho. Ao analisar dados sobre o emprego de pessoas com

deficiência, a partir da “lei de cotas”, verificamos que 45% do emprego formal estão

em empresas de menor porte, não sujeitas à legislação. Estabelecimentos com

menos de 100 funcionários, que por lei não tem obrigação de contratar pessoas

com deficiência apresentam uma taxa média de emprego de pessoas com

deficiência de 1,05%, inferior ao conjunto de empresas. Isto pode ser percebido

como um sinal da pressão que a lei exerce sobre as empresas de maior porte.

Essas, por sua vez, estão longe de se adequar à lei. As empresas que empregam

de 100 a 200 funcionários são responsáveis por 8,5% do emprego formal e são

obrigadas a reservar 2% de seus postos de trabalho para pessoas com deficiência,

apresentam taxa média de emprego para essas pessoas de 2,7%. Nas empresas

201 a 500 funcionários, responsáveis por 12% do emprego formal, verifica-se uma

taxa de emprego de pessoas com deficiência de 2,9%, contra a cota exigida por lei

de 3%. Nas empresas de 501 a 1.000 funcionários, responsáveis por 8,6% dos

postos de trabalho formais, observa-se uma taxa de emprego de pessoas com

deficiência de 2,8%, quando a cota exigida é de 4%. É observado na empresas com

mais de 1.000 funcionários, 3,6% de taxa de emprego para pessoas com deficiência

contra os 5% exigidos (Aranha, 2007).

Em 1993, o Decreto nº 914, de 6 de setembro, instituiu a Política Nacional

para a lntegração da Pessoa Portadora de Deficiência, estabeleceu como diretriz,

em seu Capítulo III, Artigo VIII, “proporcionar ao portador de deficiência, qualificação

profissional e incorporação no mercado de trabalho”. De acordo com este

documento:

§2º. Considera-se pessoa portadora de deficiência habilitada àquela que concluiu

curso de educação profissional de nível básico, técnico ou tecnológico, ou curso

superior, com certificação ou diplomação expedida por instituição pública ou

privada, legalmente credenciada pelo Ministério da Educação ou órgão equivalente,

ou aquela com certificado de conclusão de processo de habilitação ou reabilitação

profissional fornecido pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS.

§3º. Considera-se também, pessoa portadora de deficiência habilitada àquela que,

não tendo se submetido a processo de habilitação ou reabilitação, esteja capacitada

para o exercício da função.

Page 31: Ildete Maria Cardoso Bandeira

31

§4º. A pessoa portadora de deficiência habilitada nos termos dos §§ 2º e 3º deste

artigo poderá recorrer à intermediação de órgão integrante do sistema público de

emprego, para fins de inclusão laboral na forma deste artigo.

§5º. Compete ao Ministério do Trabalho e Emprego estabelecer sistemática de

fiscalização, avaliação e controle das empresas, bem como instituir procedimentos

e formulários que propiciem estatísticas sobre o número de empregados portadores

de deficiência e de vagas preenchidas para fins de acompanhamento do disposto

no caput deste artigo.

Diante de tantos direitos expressos na legislação cumpre agora garanti-los.

Paradoxalmente, o que prevalece são as inúmeras dificuldades de inserção social,

vivenciadas pelas pessoas com deficiência, que todo o arcabouço legal ainda não é

capaz de concretizar.

1.3 - EDUCAÇÃO INCLUSIVA E PREPARAÇÃO PARA O MUNDO DO TRABALHO

1.3.1 – A DEFICIÊNCIA ATRAVÉS DA HISTÓRIA

Na Antiguidade as atividades econômicas que definiam a relação do homem

com a sua realidade eram representadas pela agricultura, pela pecuária e pelo

artesanato. A deficiência, nessa época, inexistia enquanto problema, sendo que às

crianças que apresentavam deficiências imediatamente detectáveis, a atitude

adotada era a da “exposição”, ou seja, o abandono ao relento, até a morte. (Aranha,

1979; Pessotti)

Na Idade Média, as sociedades passaram a se estruturar em feudos,

mantendo ainda como atividades econômicas: a agricultura, a pecuária e o

artesanato. Em função da disseminação das idéias cristãs, o diferente não produtivo

(pessoa com deficiência) adquiriu, nesse momento histórico, “status” humano, já

que passou a ser considerado também possuidor de uma alma. Sendo assim, não

mais se fazia aceitável seu extermínio. Gradativamente, sua custódia e cuidado

passaram a ser assumidos pela família e pela Igreja.

Page 32: Ildete Maria Cardoso Bandeira

32

O início da Revolução Burguesa, no final do século XV, caracterizou-se por

uma revolução de idéias, mudando o modo clerical de se ver o homem e a

sociedade. Isso trouxe em seu bojo a mudança no sistema de produção, a

derrubada das monarquias, a queda da hegemonia da Igreja Católica e uma nova

forma de produção representada pelo capitalismo mercantil. Iniciou-se, então, a

formação dos Estados Modernos, caracterizados por uma nova divisão social do

trabalho, iniciando o processo de estabelecimento de contratos de trabalho entre os

donos dos meios de produção e os operários, que passaram a vender sua força de

trabalho. Neste contexto, começaram a ser formalmente tidos como deficientes os

indivíduos não produtivos que oneravam a sociedade, no que se refere ao seu

sustento e manutenção. Na eventualidade de atenção a essas pessoas, este se

constituía do uso da alquimia e da magia. (Aranha, 2007)

O avanço no caminhar da Medicina favoreceu a leitura organicista da

deficiência, com as propostas de Paracelso, Cardano e Willis (Pessotti, 1984), a

partir das quais a demência e a amência deixaram de ser vistas como problemas

teológico e moral e passam a ser vistas como problema médico. Começaram a

surgir os primeiros hospitais psiquiátricos instituiu as bases do primeiro paradigma

que passou, gradativamente, a caracterizar formalmente as relações das

sociedades ocidentais com o segmento populacional constituído pelas pessoas com

deficiência: o paradigma da Institucionalização. (Aranha, 2007) Desde seu início,

este consistiu da retirada das pessoas de suas comunidades de origem e sua

manutenção em instituições residenciais segregadas, denominadas Instituições

Totais, em localidades distantes de suas famílias (Polloway et. al., 1996). Pessoas

com deficiência mental viveram ou foram mantidas em isolamento relativo e, muitas

vezes absoluto, do resto da sociedade.

O passar dos séculos testemunhou o fortalecimento do modo de produção

capitalista através de mudança para o capitalismo comercial, a não produtividade

continuou valorada negativamente, integrando o processo de avaliação social dos

indivíduos. Nos séculos XVII e XVIII multiplicaram-se as leituras sobre a deficiência

enquanto fenômeno, especialmente nas áreas médica e educacional,

encaminhando uma grande diversidade de atitudes sociais: desde a

institucionalização em conventos e hospícios, até o ensino especial segregado.

Page 33: Ildete Maria Cardoso Bandeira

33

No século XIX, o modo de produção capitalista continuou a se fortalecer,

mantendo o sistema de valores e de normas sociais. Tornou-se necessária a

estruturação de sistemas nacionais de ensino e de escolarização para todos, com o

objetivo de formar cidadãos produtivos e a mão de obra necessária para a

produção. A atitude de responsabilidade pública pelas necessidades da pessoa com

deficiência começou a se desenvolver, embora se mantivesse ainda a tendência de

manter a instituição fora do setor público, sob a iniciativa e sustentação do setor

privado.

No século XX, implantou-se o capitalismo moderno, financeiro, monopolizado.

Este se caracterizou pelo surgimento dos grandes capitalistas, detentores do poder

que passaram a definir a força de trabalho da qual necessitavam para alcançar os

objetivos de aumento do capital.

A questão da integração social das minorias e, dentre elas a das pessoas com

deficiência, surgiu nesse contexto em meados do século XX, especialmente após as

duas grandes guerras. A criação de um grande contingente de pessoas com

deficiência aliada ao movimento de defesa dos direitos humanos e às críticas

severas às conseqüências da institucionalização, então divulgadas (Braddock,

1978, Bradley, 1977, Goffman, 1962), determinou o questionamento das relações

mantidas pelas sociedades ocidentais com os cidadãos com deficiência.

Especialmente nos países mais atingidos pelos efeitos das guerras, o número de

cidadãos que passaram a necessitar de assistência e de condições para reassumir

uma ocupação rentável aumentou muito. Por outro lado, seu retorno ao mundo

ocupacional propiciou uma demonstração, em ampla escala, do potencial de

trabalho das pessoas que apresentavam uma deficiência. (Aranha, 2007)

Fortaleceu-se, aos poucos, a convicção de que as pessoas com deficiência

podiam trabalhar e queriam exercer voz ativa na sociedade. Os estados passaram

gradativamente a reconhecer sua responsabilidade no cuidado a esse segmento

populacional, no que se referia a suas necessidades de educação e de saúde.

Page 34: Ildete Maria Cardoso Bandeira

34

1.3.2 - EDUCAÇÃO INCLUSIVA E A SUBJETIVIDADE CAPITALISTA

Cada tipo de sociedade tem seus valores dominantes e estabelece relações

de poder, o que está prescrito, o que pode e o que não pode ser feito. Denomina-se

a essas regras, que são implícitas em qualquer forma de organização humana, de

Instituições.

Segundo Margarete Amorim todas as instituições/organizações se inter-

relacionam, se influenciam e são influenciadas por cada conjuntura sócio-política,

econômica, cultural e ambiental; e pelos avanços tecnológicos atuais. A esse

conjunto de instituições, organizações e equipamentos (o Estado, o partido político,

a igreja, a educação formal e informal e etc...) é chamado de subjetividade.

A subjetividade dominante em nossa sociedade capitalista é a que privilegia o

individualismo, o consumo, o lucro, a propriedade privada, os resultados imediatos,

a concorrência, a concentração de renda. Essas características convivem com uma

indiferença com relação à miséria, a fome, a exclusão... Pode-se também

denominá-la de subjetividade capitalista. A subjetividade capitalista pode ser conservada ou contestada. Na lógica

conservadora vai ocorrer a reprodução da subjetividade para a manutenção do

sistema vigente.

A subjetividade capitalista dificulta a inclusão de deficientes nas escolas, pois

a educação produz indivíduos/sujeitos egoístas e individualista, que não primam

pela solidariedade e igualdade de direitos que necessitam as PNEEs (Pessoas com

Necessidades Educacionais Especiais). O processo de aprendizagem mais lento

dos mesmos não é compatível com a concorrência que é estimulada pela

subjetividade capitalista. Muitas vezes nós, professores, contribuímos para a

reprodução da ideologia dominante capitalista com nossas práticas pedagógicas;

quando nos preocupamos mais com a nota, em correr com o conteúdo e

esquecemos que o aluno é um ser humano e que precisa ser debatido com ele a

construção do conhecimento, as suas dificuldades para avançar enquanto cidadão

e estimular a análise e a sua participação na sociedade em que vive.

Uma proposta educativa onde há espaço para a diferença, ou seja, para a

inclusão de deficientes, negros, pobres, homossexuais e etc... não pode se dá com

base nos parâmetros da sociedade capitalista, se faz necessários a destruição da

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35

mesma e construção de uma sociedade alternativa onde as subjetivações

aconteçam em nosso dia-a-dia, ou seja, ações transformadoras e críticas da

subjetividade capitalista. O conteúdo curricular e as práticas pedagógicas tem que

se voltar para a formação de indivíduos/sujeitos críticos, solidários, cooperativos,

livres, inovadores, que lutem por uma sociedade igualitária, mais digna e mais

democrática, onde o cidadão possa exercer seus direitos; caso contrários a escola

não mudará, pois ela é uma instituição, como as outras, reprodutora da sociedade

em que está inserida.

1.3.3 – O DIREITO À EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Em 13 de dezembro de 2006, a Assembléia Geral da Organização das

Nações Unidas (ONU) aprovou o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. No Artigo 24, a Convenção trata do “direito à

educação”. A inclusão escolar é o processo de adequação da escola para que todos os

alunos possam receber uma educação de qualidade, cada um a partir da realidade

com que ele chega à escola, independentemente de raça, etnia, gênero, situação

socioeconômica, deficiências etc. É a escola que deve ser capaz de acolher todo

tipo de aluno e de lhe oferecer uma educação de qualidade, ou seja, respostas

educativas compatíveis com as suas habilidades, necessidades e expectativas. Por

sua vez, a integração escolar é o processo tradicional de adequação do aluno às

estruturas física, administrativa, curricular, pedagógica e política da escola. A

integração trabalha com o pressuposto de que todos os alunos precisam ser

capazes de aprender no nível pré-estabelecido pelo sistema de ensino. No caso

de alunos com deficiência (intelectual, auditiva, visual, física ou múltipla), a escola

comum condicionava a matrícula a uma certa prontidão que somente as escolas

especiais (e, em alguns casos, as classes especiais) conseguiriam produzir.

Page 36: Ildete Maria Cardoso Bandeira

36

O termo ‘necessidades especiais’ não substitui a palavra ‘deficiência’, como se

imagina. A maioria das pessoas com deficiência pode apresentar necessidades

especiais (na escola, no trabalho, no transporte etc.), mas nem todas as pessoas

com necessidades especiais têm deficiência. As necessidades especiais são

decorrentes de condições atípicas como, por exemplo: deficiências, insuficiências

orgânicas, transtornos mentais, altas habilidades, experiências de vida marcantes

etc. Estas condições podem ser agravadas e/ou resultantes de situações

socialmente excludentes (trabalho infantil, prostituição, pobreza ou miséria,

desnutrição, saneamento básico precário, abuso sexual, falta de estímulo do

ambiente e de escolaridade). Nos limites deste trabalho adotaremos o termo pessoa

com deficiência como categoria de análise, para nos referirmos aos trabalhadores

empregados nos supermercados da RMB. Esta escolha se pauta em dois motivos:

o primeiro é que a categoria pessoa deficiente assume uma dimensão política no

âmbito do movimento social que organiza essas pessoas; em segundo lugar, e

associado a isso, esta escolha identifica a pessoa que goza de proteção legal

complementar, para obtenção e garantia de seus direitos de cidadão.

Outros dois conceitos controvertidos e mutuamente excludentes que no

âmbito desta discussão são os seguintes: integração e inclusão. Estes dois

conceitos, tratados como paradigmas que se sucedem ao longo do tempo, têm

adquirido força em discussões na área da educação.

Na integração escolar, os alunos com deficiência eram o foco da atenção. Na

inclusão escolar, o foco se amplia para os alunos com necessidades especiais (dos

quais alguns têm deficiência), já que a inclusão traz para dentro da escola toda a

diversidade humana.

A seguir, parágrafos e letras do Artigo 24 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência serão mencionados entre colchetes após os

comentários.

Em primeiro lugar, a Convenção defende um sistema educacional inclusivo

em todos os níveis [§ 5]. Em suas linhas, percebemos que a educação inclusiva é o

conjunto de princípios e procedimentos implementados pelos sistemas de ensino

para adequar a realidade das escolas à realidade do alunado que, por sua vez,

deve representar toda a diversidade humana. Nenhum tipo de aluno poderá ser

rejeitado pelas escolas [§ 2, “a”]. As escolas passam a ser chamadas inclusivas no

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37

momento em que decidem aprender com os alunos o que deve ser eliminado,

modificado, substituído ou acrescentado no sistema escolar para que ele se torne

totalmente acessível [§ 1; § 2, “b” e “c”; § 5]. Isto permite que cada aluno possa

aprender mediante seu estilo de aprendizagem e com o uso de todas as suas

inteligências [§ 1, “b”]. Portanto, a escola inclusiva percebe o aluno como um ser

único e ajuda-o a aprender como uma pessoa por inteiro [§ 1, “a”].

Para a Convenção, um dos objetivos da educação é a participação efetiva das

pessoas com deficiência em uma sociedade livre [§ 1, “c”; § 3], o que exige a

construção de escolas capazes de garantir o desenvolvimento integral de todos os

alunos, sem exceção.

Uma escola em processo de modificação sob o paradigma da inclusão é

aquela que adota medidas concretas de acessibilidade [§ 2, “d” e “e”; § 4]. Quem

deve adotar estas medidas? Professores, alunos, familiares, técnicos, funcionários,

demais componentes da comunidade escolar, autoridades, entre outros. Cada uma

destas pessoas tem a responsabilidade de contribuir com a sua parte, por menor

que seja, para a construção da inclusividade em suas escolas. Exemplos:

Arquitetura. Ajudando a remover barreiras físicas ao redor e dentro da

escola, tais como: degraus, buracos e desníveis no chão, pisos escorregadios,

portas estreitas, sanitários minúsculos, má iluminação, má ventilação, má

localização de móveis e equipamentos e etc. [§ 1; § 2, “b” e “c”].

Comunicação. Aprendendo o básico da língua de sinais brasileira (Libras)

para se comunicar com alunos surdos; entendendo o braille e o sorobã para facilitar

o aprendizado de alunos cegos; usando letras em tamanho ampliado para facilitar a

leitura para alunos com baixa visão; permitindo o uso de computadores de mesa

e/ou notebooks para alunos com restrições motoras nas mãos; utilizando desenhos,

fotos e figuras para facilitar a comunicação para alunos que tenham estilo visual de

aprendizagem e etc. [§ 3, “a”, “b” e “c”; § 4]

Métodos, técnicas e teorias. Aprendendo e aplicando os vários estilos de

aprendizagem; aprendendo e aplicando a teoria das inteligências múltiplas;

utilizando materiais didáticos adequados às necessidades especiais e etc. [§ 1; § 2;

§ 3 e § 4].

Instrumentos. Adequando a forma como alguns alunos poderão usar o lápis,

a caneta, a régua e todos os demais instrumentos de escrita, normalmente

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38

utilizados em sala de aula, na biblioteca, na secretaria administrativa, no serviço de

reprografia, na lanchonete e etc., na quadra de esportes e etc. [§ 3, “a” e “c”; § 4]

Programas. Revendo atentamente todos os programas, regulamentos,

portarias e normas da escola, a fim de garantir a eliminação de barreiras invisíveis

neles contidas, que possam impedir ou dificultar a participação plena de todos os

alunos, com ou sem deficiência, na vida escolar [§ 1].

Atitudes. Participando de atividades de sensibilização e conscientização,

promovidas dentro e fora da escola a fim de eliminar preconceitos, estigmas e

estereótipos, e estimular a convivência com alunos que tenham as mais diversas

características atípicas (deficiência, síndrome, etnia, condição social e etc.) para

que todos aprendam a evitar comportamentos discriminatórios. Um ambiente

escolar (e também familiar, comunitário e etc.) que não seja preconceituoso

melhora a auto-estima dos alunos e isto contribui para que eles realmente

aprendam em menos tempo e com mais alegria, mais motivação, mais cooperação,

mais amizade e mais felicidade [§ 4] (SASSAKI, 2007). Em 1994, a CORDE (Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa

Portadora de Deficiência) em seu documento “Subsídios para Planos de Ação dos

Governos Federal e Estaduais na Área de Atenção ao Portador de Deficiência”,

recomendou “a criação, no Ministério do Trabalho, de núcleo para implementação

de programas de formação profissional e de inserção da pessoa portadora de

deficiência no mercado de trabalho”. Propôs também,

a garantia, à pessoa portadora de deficiência, de

acesso ao ensino pré - escolar, de 1.º 2.º e 3.º graus e

profissionalizante, no sistema regular e centros de

educação especial, reconhecendo o princípio de

igualdade de oportunidades educativas e o incentivo

de ações que fomentem o trabalho apoiado voltado

para a preparação profissional do portador de

deficiência (V, 2.2). (Aranha, 2007)

Este processo teve importante continuidade com a publicação do Decreto n.º

3.298, de 20 de dezembro de 1999, que regulamentou a Lei n.º 7.853, de 24 de

outubro de 1989, que dispõe sobre a Política Nacional para Integração da Pessoa

Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção e dá outras

Page 39: Ildete Maria Cardoso Bandeira

39

providências. Optou-se pela transcrição de alguns artigos que tratam da questão do

trabalho da pessoa com deficiência, neste capítulo, como subsídio para a reflexão

do leitor.

Art. 28. O aluno portador de deficiência matriculado ou egresso do ensino

fundamental ou médio, de instituições públicas ou privadas terá acesso à educação

profissional a fim de obter habilitação profissional que lhe proporcione

oportunidades de acesso ao mercado de trabalho.

§1º. A educação profissional para a pessoa portadora de deficiência será

oferecida nos níveis básico, técnico e tecnológico; em escola regular, em

instituições especializadas e nos ambientes de trabalho.

§2º. As instituições públicas e privadas que ministram educação profissional

deverão obrigatoriamente, oferecer cursos profissionais de nível básico à pessoa

portadora de deficiência, condicionando a matrícula à sua capacidade de

aproveitamento e não a seu nível de escolaridade.

§3º. Entende-se por habilitação profissional o processo destinado a propiciar à

pessoa portadora de deficiência, em nível formal e sistematizado, aquisição de

conhecimentos e habilidades especificamente associados à determinada profissão

ou ocupação.

§4º. Os diplomas e certificados de cursos de educação profissional, expedidos

por instituição credenciada pelo Ministério da Educação ou órgão equivalente terão

validade em todo o território nacional.

Art. 29. As escolas e instituições de educação profissional oferecerão, se

necessário, serviços de apoio especializado para atender às peculiaridades da

pessoa portadora de deficiência tais como:

I. Adaptação dos recursos instrucionais: material pedagógico, equipamento e

currículo;

II. Capacitação dos recursos humanos: professores, instrutores e profissionais

especializados; e

III. Adequação dos recursos físicos: eliminação de barreiras arquitetônicas,

ambientais e de comunicação.

As barreiras para a inclusão de deficientes talvez estejam mais em nossas

cabeças do que em problemas efetivos. Como durante muito tempo os deficientes

estiveram segregados, a sociedade acabou por reforçar seus preconceitos e nos

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40

acostumamos a mantê-los sempre isolados e marginalizados. O que contribui em

grande parte para a sua exclusão social, ou seja, o problema da inserção dos

deficientes no mercado de trabalho não é um fator individual, mas sim coletivo.

Depois de tantos séculos de discriminação e desumanização da pessoa com

deficiência, a sociedade brasileira deveria ter avançado com relação a sua inclusão

social, no entanto, os dados publicados na revista Nova Escola de uma pesquisa

realizada no 1º semestre de 2009, pela Fundação Instituto de Pesquisa Econômicas

(FIPE) em convênio com o Instituto Nacional de Estudos em Pesquisa Educacionais

Anísio Teixeira (INEP) sobre Intolerância com as Diferenças em 500 escolas

públicas de todo país, apresentou o índice geral de preconceito com deficientes nas

escolas regulares de 96,5% e alcança 96,8% dos alunos e 87,4% dos docentes.

A não aceitação desses cidadãos no âmbito escolar demonstra que a

sociedade quer o deficiente isolado em suas escolas especializadas; o governo

precisa investir mais em políticas públicas de formação da comunidade escolar.

A política educacional no Estado do Pará vai ao encontro da Lei Nº. 9.394/96

da LDB no que tange ao atendimento especializado às PNEEs (Pessoas com

Necessidades Educacionais Especiais) tem que ocorrer preferencialmente na rede

regular de ensino, mas vai de encontro ao art. 59, I- que diz que currículos,

métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, tem que atender

às necessidade dos PNEEs, o que não ocorre nas classes comuns além do

pequeno percentual de professores capacitados para atender a clientela especial

(art.59,III), o que dificulta a inclusão dos educandos, contribuindo para o não

atingimento do nível esperado para a conclusão do nível fundamental, diminuindo a

chance de prosseguirem os estudos no nível médio e superior e a inserção no

mercado de trabalho ( parágrafo IV).

Trabalho em uma escola municipal em Ananindeua, no ensino regular de 5ª a

8ª série há 15 anos e no Estado há 16 anos. Só passei a trabalhar com alunos com

necessidades educacionais especiais a cerca de sete anos atrás e posso confirmar

o que demonstra a pesquisa divulgada pelo MEC (Ministério da Educação e

Cultura) sobre a expansão das matrículas na educação especial na rede municipal

e estadual. Com o passar dos anos o nº de educando vem aumento nas salas de

ensino regular, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio, nas escolas

municipais e estaduais. Isso é muito bom já podemos considerar como um avanço,

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41

pois até bem pouco tempo, se tínhamos alunos com necessidade educacionais

especiais não sabíamos. Com a propaganda do governo os pais já se dirigem a

escola para matricular os seus filhos, embora algumas não aceitem.

Apesar desses primeiros passos, as escolas públicas não oferecem as

mínimas condições que garanta o acesso a uma educação de qualidade, pois a

grande maioria não possui recursos específicos para cada tipo de deficiência, até

mesmo para os ditos “normais”.

Não basta garantir escola para todos, há necessidade de se promover uma

educação de qualidade para todos, dentro das necessidades específicas de cada

educando, do contrário o sucesso não será atingido.

As políticas públicas têm que enfrentar as desigualdades sociais e trabalhar

de forma articulada entre as várias instâncias da administração pública visando o

bem-estar social, que é papel do Estado, enquanto gestor, legislador e normatizador

da sociedade. A ele cabe esta articulação entre educação, saúde, habitação,

trabalho, segurança e etc., pois o cidadão não resolve toda a sua problemática

social apenas freqüentando a escola, mas tendo o conjunto de suas necessidades

atendidas, ai sim a educação atingirá os seus objetivos.

A gestão democrática é uma alternativa para tenta minimizar esses problemas

sociais, a partir da participação da sociedade civil nas diversas esferas de governo,

tendo uma administração popular, escutando os que mais precisam do poder

público e sabem de suas necessidades. Ninguém melhor que os próprios PNEEs

para dizerem como promover políticas públicas que correspondam aos seus

anseios, a população precisa ser escutada e atendida. A escola necessita que

sejam assegurados, dentro outros aspectos, autonomia administrativa, financeira e

pedagógica, para que ocorram mudanças de fato, de acordo com as necessidades

de sua comunidade, assim acontecendo a educação para todos.

Se o governo deseja que de fato ocorra predominantemente o atendimento

escolar, com qualidade e sucesso para as PNEEs na rede regular de ensino,o

financiamento de verbas públicas tem que aumentar de forma bastante considerável

, pois é preciso prever os custos adicionais ou subvinculados que serão necessários

aos projetos de atendimento educacional especializado oferecidos na escola

comum ou em outros espaços; como investir na admissão e qualificação de

profissionais bem como a provisão de materiais e equipamentos específicos e

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42

atacar os baixos salários, a ausência de adequado plano de carreira, a rotatividade

de professores.

Faltam os representantes do Estado saírem um pouco mais do discurso que

somente a educação levará o país a um desenvolvimento econômico e humano,

que hoje é freqüente no período das eleições e partir para ações concretas quando

são eleitos. A contradição é sentida quando vemos nos seus orçamentos a verba

destinada a educação e mais indecente ainda o percentual que é destinado a

educação especial, é um dos menores, não dá para atender o básico das

necessidades. Por isso não vamos deixar tudo nas mãos desses interesseiros “A

inclusão exige igualdade social: compromisso de TODOS (as) para TODOS (as)”.

A inclusão social é processo no quais todos os inseridos precisam buscar

soluções juntos, deixando o individualismo de lado, quebrando as barreiras

impostas a nós pela sociedade capitalista em que vivemos. Se o sistema

educacional sofre total influência da sociedade em que está inserido, então

precisamos destruir esta sociedade e nos libertar da força coercitiva da mesma,

para que enfim sejamos livres para colocarmos em prática essas teorias

revolucionárias.

“Educação para todos” é princípio constitucional e deveria ser compromisso

político de todo governo e um forte instrumento de promoção da cidadania.

O compromisso do governo com suas políticas públicas limita-se em ampliar o

número de vagas no sistema escolar, não se preocupando com seu o dever de

promover o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a cidadania e

qualificação para o trabalho (capítulo V da LDBEN).

A política educacional tem que ser pautada em diretrizes como: qualidade

social da educação, acesso e permanência na escola com sucesso, valorização e

qualificação dos profissionais da educação, construção de espaços comuns e

articulados entre as várias instâncias da administração pública, o equacionamento

adequado de recursos financeiros e a coerência entre o discurso inclusivo e a

prática.

Devem-se ter a preocupação várias vezes maiores em se colocar em prática

as diretrizes citadas acima quando se trabalha com alunos com necessidades

educacionais especiais incluídos no ensino regular, pois para ocorrer o sucesso

educacional com esses educandos é necessário que seja oferecido serviços de

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43

apoio pedagógico especializado que requer um custo adicional ao Estado o que não

ocorre a começar pela verba dedicada a educação especial nos orçamentos dos

Estados e das Prefeituras, o que inviabiliza a adequação do espaço escolar para a

acessibilidade dos educandos, a aquisição de material permanente e pedagógico

(ficam apenas limitados as escolas especializadas), que deveriam estar juntos com

o material dos alunos não considerados especiais e o professor do ensino regular,

em alguns momentos, deveria contar com o apoio do professor especializado

durante toda a aula para manusear equipamentos adequados às condições

específicas do educando.

Diante das dificuldades de aprendizagem, pela falta de apoio e por não ser

escutado, o aluno com necessidades educacionais especiais abandona a escola

regular o que promove um atraso muito grande com relação à série que o aluno

deveria cursar de acordo com a sua idade, aumentado a discriminação sofrida, pois

se retornar a escola as crianças menores pensam que ele é um gigante ou é o novo

professor, o que o deixa envergonhado dificultando ainda mais a sua inclusão

escolar e consequentemente no mercado de trabalho.

A realidade da inclusão das pessoas com necessidades educacionais

especiais é contraditória com o discurso dos políticos e com que prega a

constituição brasileira e a LDBEN.

Vamos todos assumir o papel de sujeitos construtores da escola para todos

em nossas práticas pedagógicas, pois assim estaremos plantado a semente de uma

sociedade mais justa e solidária, caso contrário a inclusão nunca se realizará.

A noção de deficiência ainda é confundida com a de incapacidade. Alguém

pode ser considerado parcialmente ou totalmente incapaz de realizar uma atividade

em comparação ao que se considera parâmetro normal de um ser humano.

O meio ambiente, o contexto cultural e sócio-econômico incapacitam. Se não

houver rampas de acesso num edifício, uma pessoa com deficiência motora, em

cadeira de rodas não poderá entrar. Se não houver código braille nos botões de um

elevador, uma pessoa com deficiência visual não poderá subir sozinho a um

determinado andar. A incapacidade é a perda ou a limitação das oportunidades de

participar da vida em igualdade de condições com os demais.

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44

O currículo na perspectiva da diferença enfatiza que Educar significa

introduzir a cunha da diferença em um mundo que sem ela se limitaria a reproduzir o igual e o idêntico, um mundo parado, um mundo morto. (Tomaz

Tadeu da Silva, 2000, apud, MAUÉS, 2008). O currículo deve permitir a produção

tanto da identidade como da diferença e não ser apenas resultado de um processo

final e acabado, sem flexibilidade. Ele deve ser construído a partir do

conhecimento, das interpretações e visões de toda a comunidade escolar sobre sua

realidade local e do mundo.

Partindo desse pressuposto o currículo deve oferecer condições para um

ensino significativo, respeitando a cultura do educando, o saber que eles

acumularam nas suas experiências de vida, incorporando as contribuições

científicas das diferentes áreas do conhecimento, estendendo-se para fora dos

muros da escola adicionando os demais currículos da vida em sociedade.

Observa-se que a qualidade de ensino e o currículo, normalmente não são

adaptados a realidade dos educandos, como teoriza a maioria dos estudiosos em

educação, principalmente das PNEEs. Muitas escolas prestam mais atenção aos

impedimentos do que aos potenciais de tais pessoas. Para que possam participar

integralmente em um ambiente rico de oportunidades educacionais com resultados

favoráveis, precisam de apoio adequado e recursos especializados, quando forem

necessários; preparação e a dedicação da equipe pedagógica e dos professores;

adequações curriculares e de acesso ao currículo que também foi construído por

eles.

A Educação Especial possui condições de caminhar pelas mesmas vias que a

Educação Regular, enfatizando a inclusão em vez da discriminação, o respeito à

diversidade em vez da homogeneidade, desde que haja compromisso do poder

público em efetuar mudanças estruturais no sistema educacional, tirando as leis do

papel e as colocando em prática.

O modelo educacional vigente é muito seletivo e competitivo, como a

sociedade capitalista em que está inserido. Quem tem dificuldades fica para trás,

esquecido e é taxado como “burro” e incompetente.

Não há preocupação em trabalhar as dificuldades, as diferenças entre os

educandos, respeitando-as. Os alunos são separados em os “bons”, os sem

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45

deficiência, os “sem condições”, os com deficiência, constituindo assim uma

apartheid no ensino regular.

Para transpor essas barreiras atitudinais precisamos construir uma escola,

assim como uma sociedade, democrática, mais justa, humana e solidária, onde o

sistema ensino apresente mais flexibilidade em seu currículo, condições de trabalho

que contribua para melhorar a prática pedagógica, como diminuir o nº de alunos nas

salas de aula, material de trabalho adequado para facilitar a aprendizagem do

educando com necessidades especiais, acessibilidade nos prédios escolares, etc.

1.3.4 - EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO ESTADO DO PARÁ

Segundo (Almeida & Tavares Neto, 2005) a educação especial como parte

construtiva do sistema educacional não vem recebendo a devida atenção das

esferas governamentais, mesmo com a existência de uma considerável estrutura

legal, e de uma política nacional definida para esta modalidade de ensino, o

atendimento à população de pessoas com algum tipo de necessidade educacional

especial ainda é considerado insuficiente.

A construção da escola inclusiva, como elemento constitutivo da política

educacional no Pará, decorre na indução promovida pela SEESP (Secretaria de

Educação Especial), desde 1996 (Almeida e Tavares Neto, 2005). Desde então, por

meio de aprovação de projetos encaminhados pela COEES - Coordenadoria de

Educação Especial/SEDUC ao FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da

Educação e contrapartida do Estado, é fomentado este processo, através de cursos

de capacitação de técnicos e professores, implantação de salas de recursos

multifuncionais, aquisição de equipamentos e materiais didático-pedagógico para as

unidades especializadas, a implementação de assessoramento técnico-pedagógico

e a realização de pesquisas em educação especial.

Assim como a nível nacional, a educação especial no Estado do Pará vem

aumentando o número de pessoas com deficiência nas classes regulares de ensino,

mas que não apresentam as condições expostas nas leis referentes a esta

modalidade de ensino.

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Apesar dos cursos de formação continuada para os professores das classes

regulares e das escolas especiais, o número de docentes atingidos ainda é muito

reduzido, o aluno fica perdido na sala de aula por não poder contar com um

especialista que o auxilie em suas aulas diariamente.

O número de professores itinerantes especializados é insuficiente para

atendimento dos alunos matriculados nas escolas públicas.

A quantidade de salas de recursos multifuncionais vem crescendo em nosso

Estado, mas o número é insuficiente para atender a demanda, assim como a

implantação de tecnologias assistivas para atendimento de todos os estudantes

com deficiências e altas habilidades, conforme art. 276 da Constituição do Estado

do Pará.

Os prédios escolares estaduais necessitam, em sua maioria, serem adaptados

de acordo com o padrão de infra-estrutura normatizado. O objetivo do Estado é

atingir esta meta até 2012 (p.60, 1ª Conferência Estadual de Educação, 2008)

vamos torcer que isto aconteça.

É nesse contexto que a educação especial no Estado do Pará vem aos

poucos se expandindo quantitativamente e qualitativamente, tentando modificar o

quadro de educação de exclusão e acelerar o processo de inclusão social das

pessoas com deficiência.

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Capítulo 2 - A discussão do objeto: Pessoa deficiente e trabalho

no setor supermercadista na Região Metropolitana de Belém.

"Para as pessoas sem deficiência, a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com deficiência, a

tecnologia torna as coisas possíveis".

(RADABAUGH, 1993)

2.1 - Um Breve Panorama do Setor Supermercadista no Pará. O setor supermercadista integra o segmento do comércio varejista de

alimentos¹ e, assim como esse ramo de atividade econômica, apresenta-se com

formatos diversificados, que contemplam desde os supermercados de pequeno

porte até os grandes hipermercados (DIEESE, 1997, apud, GONÇALVES, 2009).

De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), a categoria

distingue-se de outras formas do varejo a partir de dois elementos: venda a varejo

de multi-produtos e loja de auto-serviço com dois ou mais check-outs (caixas).

Portanto, nos supermercados, a venda não depende do atendimento de um

balconista (ou vendedor) como no comércio tradicional de armazéns, padarias e

mercearias; os produtos devem estar dispostos em formatos self-service e com

check-outs na saída (GONÇALVES, 2009).

¹ A Classificação Nacional de Atividades econômicas (CNAE), do IBGE, divide o setor de comércio em três grandes categorias: 1) comércio atacadista, 2) comércio varejista e 3) comércio de veículos e motocicletas e comércio a varejo de combustíveis. A atividade do comércio, tradicionalmente, divide-se em dois grandes blocos ou segmentos alimentícios e não alimentícios, ou ainda, entre bens de consumo duráveis, semi-duráveis e não duráveis (DIEESE, 1999).

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48

A classificação do porte se dá em função da área da loja (m²) ou por número

de check-outs. Os supermercados de pequeno porte operam em pequenas

instalações, com área máxima de 349 m², vendendo alimentos e artigos de

primeira necessidade de reduzida variedade. Nos supermercados propriamente

ditos, predomina a venda de alimentos frescos, mercearias e artigos de higiene e

limpeza, em uma área de venda superior a 350 m². Os hipermercados vendem

alimentos, artigos de higiene e limpeza, eletrodomésticos, vestuário e artigos para

o lar, e contemplam uma superfície de vendas, em geral, acima de 5.000 m² . A

classificação por número de check-outs ocorre da seguinte forma: pequeno porte,

até 9 check-outs; médio porte de 10 a 19 check-outs; grande porte, de 20 a 49

check-outs; e hipermercados, com 50 ou mais check-outs (BNDES,1996, apud,

LENIR, 2009).

Dos oito supermercados objetos dessa pesquisa, situados na Região

Metropolitana de Belém (RMB)² quatro (o Y, o L, o F e o N) se enquadram na

classificação de grande porte quanto ao número de caixas, pois possuem mais de

20 check-outs e podem ser classificados como hipermercados por contemplarem

uma superfície de vendas, em geral, acima de 5.000 m² e quanto ao tipo de

produtos vendidos, além dos itens dessa classificação eles possuem restaurantes,

lanchonetes, farmácias, postos de gasolina, caixas eletrônicos, sapatarias,

padarias e alugam pequenas salas comerciais no subsolo, onde fica o

estacionamento “grátis”.

Os outros quatro supermercados pesquisados (o C, o A, o P e o B) tomando

como referência esses critérios classificatórios podem ser considerados de médio

porte, pois possuem até 10 caixas, nestes, predomina a venda de alimentos

frescos, mercearias e artigos de higiene e limpeza, em uma área de venda superior

a 350 m² e, além disso, não comercializam eletrodomésticos, vestuários, calçados

e etc.

__________________

² Região Metropolitana de Belém, criada por Lei Complementar federal em 1973, alterada em 1995, é uma conurbação com 2.249.405 habitantes (segundo estimativas populacionais realizadas em 2008 pelo IBGE). É a área metropolitana mais populosa da Região Norte, a décima do Brasil e a 179ª do mundo. É a décima nona região metropolitana do país em qualidade de vida, e a primeira no Norte-Nordeste. Compreende os seguintes municípios: Ananindeua, Belém, Benevides, Marituba e Santa Bárbara.

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49

De acordo com o primeiro censo do setor de supermercados do Pará,

realizado em 2007, pela ASPAS (Associação Paraense de Supermercados), em

parceria com o Instituto Simetria, o setor responde por aproximadamente 10% do

Produto Interno Bruto (PIB) paraense, o que corresponde a 3% do faturamento

nacional do setor. As redes do estado possuem cerca de 2.500 lojas, que

oferecem um total de 37 mil empregos diretos. De acordo com este censo, 34%

das lojas estão situadas nos onze municípios da mesorregião de Belém, onde

também estão concentradas a maioria das grandes lojas. O restante das lojas

estão situadas nos municípios do interior do estado. Cerca de 90% destas são

caracterizadas como de pequeno e médio porte com até 1.000m².

Outro elemento importante apontado no censo refere-se ao fato de que:

“Quase 12% dos supermercados possuem em seu quadro funcional pessoas com

alguma necessidade especial (leia-se, alguma deficiência) e 43% dos lojistas

paraenses afirmam desenvolver alguma ação de responsabilidade social”.

Segundo (Gonçalves, 2009), no Estado do Pará os grupos líderes do setor,

em sua maioria, possuem administração familiar e de capital fechado, o que pode

ser um dos fatores que contribui para o desempenho e crescimento desses

supermercados. O Estado se destaca com a média de faturamento bruto de R$

206.781,00 de vendas por funcionário, é um valor elevado se comparado com o

arrecadado por São Paulo de R$ 154.919,99 e do Rio de Janeiro de R$

109.847,00, Unidades Federadas brasileiras que respondem por 55% do

faturamento bruto e 49% do número de trabalhadores, enquanto que o Pará com

0,33% do faturamento bruto e 0,20% do número total de Empregados (Gonçalves,

2009).

Os investimentos são consideráveis para construir, equipar e manter esses

setores do supermercado com ar condicionado, escadas rolantes, implementos

tecnológicos como caixas totalmente informatizados com leitor ótico do código de

barras, para o pagamento com cartão de crédito, cartões de débito, vale

alimentação. Com isso ampliam-se as formas de crédito e diferentes modos de

pagamento para que o cliente não deixe de comprar.

Segundo (GONÇALVES, 2009) esse processo de modernização do setor

supermercadista brasileiro tem sido constante desde a década de 1950, e se

intensificou com a entrada de grandes redes internacionais no Brasil. O ingresso

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50

no mercado brasileiro de empresas francesas, americanas, portuguesas e

holadesas impulsionou mudanças de ordem tecnológica e organizacional

instaurando a lógica de permanente busca de um diferencial competitivo

caracterizado pelo lançamento de marcas próprias para reduzir a dependência de

fornecedores e a busca da fidelização do cliente mediante a qualidade do

atendimento ofertado. Este processo de mudança, centrado na implementação

tecnológica e no reordenamento das formas de organização do trabalho,

consolidam-se e tornam-se difusos no Brasil a partir da década de 90 e hoje se

estabelecem como prática comum em nossos hipermercados estaduais.

Segundo o ranking nacional, apresentado em 2009, pela ABRAS, os dois

grupos paraenses Y Yamada e Lider estão situados respectivamente nos 13º e 14º

lugares sendo que o primeiro obteve um faturamento bruto no ano de 2008, na

ordem de R$1.183.478.840,00; enquanto o segundo teve o faturamento bruto de

R$1.118.767.862,00.

A posição ocupada pelos cinco maiores grupos do setor supermercadista

paraense os coloca em uma posição extremamente competitiva em um nicho do

mercado que ultrapassa em muito o âmbito local e regional, impondo-lhe

permanentemente a adoção de estratégias de crescimento que os mantenham nas

posições que ocupam no âmbito nacional. E isto implica em inversões de capital

cada vez maior no sentido da implementação tecnológica, reorganização e

permanente aperfeiçoamento de suas estratégias de gestão administrativa e

gestão do trabalho.

Com isso as exigências de escolaridade e qualificação para o trabalhador que

atua neste ramo tornam-se cada vez mais importantes para as empresas desse

setor que tem um perfil mais competitivo fazendo com que as mesmas demandem

trabalhadores com as habilidades e competências o mais próximas possível de um

perfil exigido por um mercado cada vez mais competitivo. De maneira geral exige-

se escolaridade mínima de ensino médio completo, noções de informática e

experiência profissional como habilidades e competências imprescindíveis para

candidatar-se a uma vaga, embora, na maioria dos casos tais atributos exigidos

estejam acima das necessidades efetivas para a realização das funções no âmbito

dos supermercados.

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51

É neste contexto que as pessoas com deficiência buscam a sua inserção

neste nicho do mercado de trabalho. Três fatores têm contribuído para que as

pessoas deficientes consigam garantir o seu ingresso no contexto de um mercado

de trabalho cada vez mais competitivo: o primeiro é de caráter legal, instituído a

partir da lei de cotas nº 8.213, de 25/7/91; o segundo é um permanente movimento

organizado de setores da sociedade cobrando a inserção dessas pessoas no

mercado de trabalho como um direito cidadão e o terceiro é a necessidade de as

empresas garantirem a difusão de uma boa imagem de responsabilidade social e

compromisso com a inclusão social. Neste sentido empregar pessoas com

deficiência tem se tornado elemento constitutivo de uma estratégia de marketing,

que configura uma empresa moderna e competitiva, que não declina diante de

suas responsabilidades sociais.

2.2 - O emprego de pessoas deficientes nos supermercados da RMB.

2.2.1. O perfil das pessoas deficientes inseridas no setor supermercadista na Região Metropolitana de Belém. Os dados auferidos pelo censo realizado pelo IBGE, no ano 2000, informam

que cerca de 15% da população brasileira tem algum tipo de deficiência.

Considerando a população paraense nesse ano cerca de 940.800 pessoas tinham

algum tipo de deficiência. Deste total, 491.276, desenvolviam algum tipo de

atividade, portanto, eram consideradas pelo IBGE como ocupadas.

Na Região Metropolitana de Belém estava concentrado um total de 297.327

pessoas com algum tipo de deficiência sendo que Belém ocupava o 1º lugar com

208.707, seguida pelo município de Ananindeua com 68.465 pessoas deficientes

(CENSO, 2000).

A força de trabalho das pessoas com deficiência é absorvida pelo mercado

de trabalho, com restrições associadas à idéia de serem pessoas com limitações

maiores que os demais trabalhadores. Um histórico de isolamento e discriminação

em que estas pessoas estiveram imersas por séculos tem contribuído para o atraso

no seu desenvolvimento pessoal e inserção na vida social, com destaque para a

Page 52: Ildete Maria Cardoso Bandeira

52

sua escolarização e isto tem gerado algumas desvantagens em comparação com

pessoas sem nenhum tipo de deficiência. Isto assume grande destaque quando

estas pessoas se lançam ao mercado de trabalho cada vez mais competitivo.

No âmbito de nossa pesquisa, constatou-se que as empresas

supermercadistas, na cidade de Belém-Pa, embora adotem formalmente o

“compromisso social” de garantir em seu quadro funcional um espaço para as

pessoas deficientes fazem isso baseadas em alguns critérios que configuram um

perfil que pouco se diferencia daquele exigido para o ingresso de qualquer outro

funcionário. As exigências que compõem esse perfil são as seguintes: ensino

médio completo, curso profissionalizante, experiência comprovada e

preferencialmente ser jovem. Como um fator complementar a esse tipo de

contratação, o candidato deve apresentar apenas uma “deficiência leve”.

O que se discute não é a concessão de privilégios às pessoas com

deficiência, pois isto em nada contribuiria para a sua permanência legítima no

mercado de trabalho, o que se ressalta é a necessidade de garantir a essas

pessoas oportunidades iguais de ingresso e permanência equiparando as

oportunidades, atendendo às diferenças individuais e necessidades especiais.

Quando se coteja o perfil exigido pelos supermercados para contratação de

pessoas deficientes com a sua realidade sócio-educacional e com os dados sobre

deficiência no Pará constatam-se com maior clareza as poucas possibilidades que

estas pessoas têm de ingressar no mercado de trabalho formal e protegido por

estatuto social e legal, se o aspecto escolaridade de fato apresentar-se como

indispensável.

Os dados oficiais sobre matrícula escolar de pessoas com deficiência no

estado do Pará indicam que no ano de 2007 foram matriculados no sistema de

ensino um total de 16.205 alunos. Na última década, em decorrência da política de

inclusão educacional de pessoas com deficiência desencadeada pelo Ministério da

Educação envolvendo todas as unidades federativas, o número de matrículas teve

um aumento significativo e o Estado do Pará acompanhou esta expansão.

Entretanto, a quantidade de matrícula, está muito aquém do desafio de inserir no

processo educacional o segmento da população com algum tipo de deficiência que

se encontra na faixa etária compatível com a educação básica, 0-17 anos como

indica o gráfico nº. 1 a seguir. E esta reduzida oferta de escolarização para este

Page 53: Ildete Maria Cardoso Bandeira

53

segmento da população produz barreiras para que as pessoas com deficiência

adquiram um pré-requisito importante que facilita o ingresso no mercado de

trabalho, considerando que em geral, o fator escolaridade, em especial de nível

médio completo constitui-se em fator preponderante para inserção no mercado de

trabalho.

Gráfico 1: Número de Pessoas com Deficiência e Matrícula no Sistema de Ensino do Estado do Pará

Fonte: MEC/INEP. 2007, IBGE. Censo 2000. Legenda:

Total de Pessoas com Deficiência no Estado do Pará

Pessoas com Def. de 0 a 17 - Faixa Etária de Atend. da Educação Básica

Pessoas com Def. Matriculadas no Sistema de Ensino Estado do Pará

Estudo realizado por Gonçalves, 2009 informa que no ramo supermercadista

da RMB, 85% do universo de 5.500 trabalhadores tem o nível médio completo, e

que este componente é fundamental para definir a contratação.

No contexto de nossa investigação, verificamos que este fenômeno não se

repete com a mesma extensão quando se trata da contratação de pessoas com

deficiência. Com relação ao nível de escolaridade, embora o ensino médio

NÚMERO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E MATRICULA NO SISTEMA DE ENSINO DO ESTADO

DO PARÁ

0100000200000300000400000500000600000700000800000900000

1000000

PCD_TOTAL PCD_0-17 PCD_MAT.

Situação

Nº P

CD

Page 54: Ildete Maria Cardoso Bandeira

54

completo e a qualificação profissional sejam alguns dos componentes desse perfil,

na maioria dos casos, a ausência deles não tem se apresentado como elemento

impeditivo à contratação.

A tabela nº.1e o gráfico nº. 2 mostram que das 84 pessoas deficientes

empregadas em supermercados no ano de 2008, apenas 34 (40,48%) tinham o

nível médio completo; 2 (2.38%) estavam acima dessa escolaridade; e a maioria,

48 (57.14%), tinha escolaridade abaixo do formalmente exigido. Isto mostra que no

ramo supermercadista as exigências sobre o nível de escolaridade existem

formalmente, mas não tem sido definitivas na hora da contratação. Obviamente

que este fenômeno está associado pelo menos a dois fatores: a obrigatoriedade de

contratar imposta pela Lei de cotas e a busca da melhoria da imagem da empresa.

Entretanto, avaliamos que a conseqüência mais imediata deste fato, é que isto tem

restringido as possibilidades de as pessoas deficientes ocuparem postos mais

elevados na hierarquia da empresa. A tabela 3 e o gráfico 4 e 5 mostram que

grande parte dos postos de trabalho ocupados são no nível operacional e com

menor remuneração, concentrados nas funções de embalador e serviços gerais,

funções mais elementares na hierarquia dessas lojas.

Tabela 1: Nível de Escolaridade por Deficiência dos Empregados dos Supermercados

da Região Metropolitana de Belém-PA.

1º Trimestre/2008

Empregados por Deficiências

Nível de Escolaridade Mental Física Auditivo Visual Total

Alfabetizado 0 2 2 0 4

Ens. Fund. Menor Inc. 0 1 3 0 4

Ens. Fund. Menor Comp. 0 0 12 0 12

Ens. Fund. Maior Inc. 0 1 12 0 13

Ens. Fund. Maior Comp. 0 3 5 1 09

Ens. Méd. Inc. 0 1 5 0 06

Ens. Méd. Comp. 0 19 12 3 34

Ens. Sup. Inc. 0 1 0 0 1

Ens. Sup. Comp. 0 0 1 0 1

TOTAL 0 28 52 4 84 Fonte: Coordenadoria de Educação Especial-COEES/SEDUC

Page 55: Ildete Maria Cardoso Bandeira

55

Gráfico 2: Nível de Escolaridade de Deficientes Empregados nos Supermercados

da Região Metropolitana de Belém-PA.

4,76%

4,76%

14,29%

15,48%

10,71%

7,14%

40,48%

1,19%

1,19%

Alfabetizado

Fundamental Menor Incompleto

Fundamental Menor Completo

Fundamental Maior Incompleto

Fundamental Maior Completo

Médio Incompleto

Médio Completo

Superior Incompleto

Superior Completo

Fonte: Coordenadoria de Educação Especial-COEES/SEDUC

Na pesquisa junto aos 84 trabalhadores deficientes do setor supermercadista

da Região Metropolitana de Belém, constatou-se que em sua maioria estes são

homens (63%) que corresponde a 53 trabalhadores e 31 são mulheres (37%),

conforme indica o gráfico nº 3 a prevalência masculina no mundo do trabalho é

reproduzida quando se trata da absorção de pessoas com deficiência; a tabela nº.

2 do IBGE confirma este fato tanto para a cidade de Belém quanto para o estado

do Pará. Embora se saiba que nas últimas décadas a inserção de mulheres no

mundo do trabalho vem aumentando consideravelmente. Segundo (Antunes e

Alves, 2005), este fenômeno tem atingido mais de 40% da força de trabalho em

diversos países avançados, e esta absorção pelo capital ocorre preferencialmente

no universo do trabalho part-time, precarizado e desregulamentado.

Tabela 2: Gênero e Faixa Etária das Pessoas Deficientes Empregadas dos Supermercados da Região Metropolitana de Belém-PA.

1º Trimestre/2008 Empregados por Faixa Etária

Gênero 18 a 25 26 a 35 36 a 45 > 46 Não Informaram Total

Masculino 9 16 21 6 1 53

Feminino 7 14 8 1 1 31

Total 16 30 29 7 2 84

Fonte: Coordenadoria de Educação Especial-COEES/SEDUC

Page 56: Ildete Maria Cardoso Bandeira

56

Gráfico 3: Percentual de Empregados do sexo masculino e feminino dos Supermercados da Região Metropolitana de Belém-Pa.

37%

63%

masculinofeminino

Fonte: Coordenadoria de Educação Especial – COEES/SEDUC

Outro fator verificado na pesquisa diz respeito à faixa etária desses

trabalhadores As faixas etárias que se apresentam com maior freqüência estão

concentradas entre 26 a 35 anos com um percentual de 35,71 % ; e entre 36 e a 45

anos, com 34,52%, conforme o tabela nº. 3 e o gráfico nº.4 se compararmos este

resultado com aquele evidenciado na pesquisa de Gonçalves, 2009 encontraremos

uma diferença de 7%. Esta autora informa que cerca de 63% dos trabalhadores

investigados em quatro das maiores redes de supermercados da RMB estão entre

a faixa etária de 26 a 45 anos e mais; este resultado mostra que o setor tem dado

preferência à contratação de funcionários ainda jovens, mas com um certo nível de

amadurecimento. No caso das pessoas com deficiência esta constatação

desqualifica uma hipótese preliminar de que essa idade mais avançada dos

trabalhadores de supermercados seria decorrente da inserção tardia dessas

pessoas no processo de escolarização ou de sua exclusão precoce da escola.

Embora isto exista em larga escala não há dados empíricos que comprovem

efetivamente sua contribuição para a exclusão de pessoas deficientes do mercado

de trabalho.

Page 57: Ildete Maria Cardoso Bandeira

57

Tabela 3: Faixa Etária por Deficiência dos Empregados dos Supermercados da Região

Metropolitana de Belém-PA.

1º Trimestre/2008 Empregados por Faixa Etária

Deficiência 18 a 25 26 a 35 36 a 45 > 46 Não Informaram Total

Def. Física 6 8 10 2 2 28

Def. Visual 1 3 0 0 0 04

Def.Mental 0 0 0 0 0 00

Def. Auditiva 9 19 19 5 0 52

Def. Múltipla 0 0 0 0 0 00

Total 16 30 29 7 2 84

Fonte: Coordenadoria de Educação Especial-COEES/SEDUC

Gráfico 4: Faixa Etária das Pessoas Deficientes Empregadas nos Supermercados

da Região Metropolitana de Belém-Pa.

19,05%

35,71%

34,52%

8,34%

2,38%

18 a 25 anos

26 a 35 anos

36 a 45 anos

Acima de 46 anos

Não Informaram

Fonte: Coordenadoria de Educação Especial-COEES/SEDUC

Page 58: Ildete Maria Cardoso Bandeira

58

No que concerne ao tipo de pessoa com deficiência que é melhor absorvida

pelo mercado de trabalho, o setor supermercadista apresenta uma peculiaridade;

dos 84 trabalhadores com deficiência identificados e de ambos os sexos, 52 são

deficientes auditivos; 28 são deficientes físicos e apenas 4 são deficientes visuais

(Tabela nº. 4) O que contrasta com os dados gerais oferecidos pelo Censo 2000,

onde as pessoas com deficiência visual aparecem em 1º lugar, seguidos por

deficientes auditivos, deficientes mentais e deficientes físicos. (Tabela nº. 5).

Tabela 4: Gênero relacionado com as deficiências dos Empregados dos Supermercados

da Região Metropolitana de Belém-Pa

Fonte: Coordenadoria de Educação Especial-COEES/SEDUC

1º Trimestre/2008 Empregados por Sexo

Deficiência Masc Fem Total

Def. Física 18 10 28

Def. Visual 01 03 04

Def.Mental 00 00 00

Def. Auditiva 34 18 52

Def. Múltipla 00 00 00

Total 53 31 84

Page 59: Ildete Maria Cardoso Bandeira

59

Tabela nº. 5: Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas por Tipo de Deficiência e Sexo,

no ano 2.000.

Fonte: IBGE Censo Demográfico ano 2000.

Os dados apontam que esses postos de trabalho são ocupados em sua

maioria por deficientes auditivos e pessoas com deficiências físicas consideradas

“leves” pelo setor de recursos humanos das empresas. Não existe uma clara

definição de que seja uma deficiência leve, mas os critérios que tem guiado a

oferta de vagas para pessoas deficientes no setor supermercadista para definir

esse tipo de deficiência tem sido os seguintes: perda parcial da audição, de

preferência que use aparelho auditivo, deficiência visual apenas de baixa visão,

deficiência física com falta de parte de membros (perna, braço, mão, pé ou dedo).

Os dados do IBGE 2000, expostos na tabela nº. 6 corroboram parcialmente esta

Localidade Tipo de Deficiência Sexo

Homens 195.936

Mulheres 112.460

Def. Visual Total 308.396

Homens 50.950

Mulheres 17.976

Def. Auditiva Total 68.926

Homens 13.187

Mulheres 4.218

Def. Mental Total 17.405

Homens 13.022

Mulheres 2.058

Estado do

Pará

Def. Física Total 15.080

TOTAL 409.806

Homens 32.814

Mulheres 28.124

Def. Visual Total 60.938

Homens 10.391

Mulheres 5.023

Def. Auditiva Total 15.414

Homens 1.711

Mulheres 950

Def. Mental Total 2.661

Homens 1.928

Mulheres 529

Belém-Pa.

Def. Física Total 2.457

TOTAL 81.470

Page 60: Ildete Maria Cardoso Bandeira

60

preferência, na medida em que o número de pessoas deficientes físicas ocupadas

é muito mais freqüente quando se trata de falta de membros ou falta de parte

destes do que nos casos de tetraplegias, paraplegias ou hemiplegia permanente.

Esse conjunto de exigências trás como conseqüências o não preenchimento do

número total de vagas para pessoas deficientes prevista na legislação; 100 a 200

empregados, 2%; de 201 a 500, 3%; de 501 a 1.000, 4%; de 1.001 em diante, 5%,

exigido pela Lei de Cotas, Lei nº 8.213, de 25/7/91, para cada empresa, como

demonstra a tabela 4 e o gráfico 6 do Centro de Inclusão da Pessoa com

Deficiência – CINPED/ SETER/ SINE e a tabela 5 da COEES.

Tabela nº. 6: Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas por Nível de Deficiência

Física no ano 2.000.

Fonte: IBGE Censo Demográfico 2000.

Na pesquisa realizada no CINPED, a técnica informou que as empresas em

geral ligam para o posto de atendimento do SINE localizado no CINPED (Centro de

Inclusão da Pessoa com Deficiência), efetuam seu cadastro, informando o número

de vagas disponíveis, bem como o perfil do trabalhador que irá ocupá-la.

O SINE/CINPED, através de seu banco de dados, convoca o trabalhador que

se adequa ao perfil da vaga disponibilizada. Mediante uma pré-seleção, esses

trabalhadores serão encaminhados às empresas de posse de uma carta de

apresentação, a qual deverá ser devolvida pela empresa ao SINE/CINPED com a

respectiva resposta.

Segundo a entrevistada as empresas estão muito exigentes quanto à

qualificação e a escolaridade (exigem nível médio completo). Os deficientes não

correspondem à escolaridade exigida e sobram vagas nas empresas. Quando as

Localidade Nível de Deficiência TOTAL

Tetraplegia, paraplegia ou hemiplegia permanente

4.915 Estado do

Pará Def. Físico

Falta de membro ou de parte dele (perna, braço, mão, pé ou dedo polegar)

10.165

TOTAL 15.080

Tetraplegia, paraplegia ou hemiplegia permanente

805 Belém-Pa.

Def. Físico

Falta de membro ou de parte dele (perna, braço, mão, pé ou dedo polegar)

1.652

TOTAL 2.457

Page 61: Ildete Maria Cardoso Bandeira

61

empresas ligam pedem um deficiente com deficiência leve e que se enquadre no

sistema de cotas.

A maior parte das empresas não encaminha um relatório sobre o trabalhador

aceito por ela, os técnicos do CINPED vão às empresas acompanhar o deficiente.

Em entrevistas realizadas com técnicos do setor de profissionalização e

colocação profissional da COEES/SEDUC, foi possível identificar que a maioria das

empresas do ramo supermercadista tem uma postura considerada excludente

quando disponibilizam vagas para contratação de pessoas com deficiência. Os

relatos indicam que algumas empresas exigem um perfil totalmente excludente

para dificultar a contratação. A maioria dos supermercados apenas telefona para a

instituição informando o tipo e o nível de deficiência que preferem (surdos e

deficientes físicos não cadeirantes), solicitam o currículo do candidato; grande

parte exige nível médio completo, e qualificação profissional e alguns na hora do

telefonema relatam as funções a serem exercidas. As empresas alegam que

faltam candidatos para preenchimentos das vagas, pois aqueles encaminhados por

esta instituição não se enquadram ao perfil desejado, nesses casos as instituições

mediadoras pedem auxílio da Justiça do Trabalho para exigir que a empresa mude

o grau de exigência e preencha as vagas disponíveis.

Dados complementares coletados junto ao CINPED informam que de uma

maneira geral as vagas disponíveis em todo o setor produtivo na RMB não são

ocupadas em decorrência da inadequação dos candidatos às exigências das

empresas. Em dezembro de 2008 foram encaminhadas às empresas 49

candidatos para o preenchimento de 21 vagas, mesmo assim três dessas vagas

não foram preenchidas (Tabela 7). Este tipo de exclusão velada tem caráter

recorrente. A tabela nº. 8 informa que nos anos de 2007 e 2008, das 600 vagas

disponíveis para pessoas deficientes, as instituições governamentais mediadoras

enviaram 1.591 candidatos e apenas 442 foram aceitos, deixando de ser

preenchidas 158 vagas, cerca de 26% do total.

Page 62: Ildete Maria Cardoso Bandeira

62

Tabela 7: INTERMEDIAÇÃO DE MÃO-DE-OBRA FORMAL DE

PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS

Mês/ano: Dez/2008

INTERMEDIAÇÃO

Deficiência Vagas Encam. Colocados

Def. Física 36 14

Def. Visual 3 1

Def.Mental 0 0

Def. Auditiva 9 3

Def. Múltipla 1 0

Total 21 49 18 Fonte: Centro de Inclusão da Pessoa com Deficiência – CINPED/ SETER/ SINE

Tabela 8: Movimento da Intermediação da Pessoa com Deficiência ao Mercado de Trabalho Comparação entre os anos de 2007 e 2008

ANO INSCRITOS VAGAS ENCAMINHAMENTOS ACEITOS 2007 241 296 538 206 2008 264 304 515 236

TOTAL 505 600 1053 442 Fonte: Centro de Inclusão da Pessoa com Deficiência – CINPED/ SETER/ SINE

A Coordenação de Educação Especial/COEES/SEDUC, quando se refere ao

encaminhamento de pessoas com deficiência ao mercado de trabalho tem se

tornado referência mais importante para estas pessoas, como demonstram os

dados da tabela nº.9. No mesmo período (2007 – 2008), esta instituição voltada

para a educação cadastrou 1.133 pessoas que demandavam colocação

profissional. Após seleção prévia, com base no perfil exigido pelas empresas,

encaminhou diretamente para o mercado de trabalho 584 pessoas; sendo que

dessas, 427 foram encaminhadas inicialmente para cursos de qualificação

profissional; O restante, por não reunir nenhuma condição de preenchimento das

exigência das empresas e não reunirem condições de passar por processo de

qualificação não puderam ser encaminhadas como candidatos a emprego.

Page 63: Ildete Maria Cardoso Bandeira

63

Tabela 9: Movimento da Intermediação da Pessoa com Deficiência ao Mercado de Trabalho Período: 2007 e 2008

ANO INSCRITOS ENCAMINHADOS PARA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

ENCAMINHAMENTOS PARA O MERCADO DE TRABALHO

NÃO ENCAMINHADOS PARA O MERC. DE TRAB.

2007 552 197 278 274

2008 581 230 306 275

TOTAL 1.133 427 584 549

Fonte: Coordenadoria de Educação Especial-COEES/SEDUC

Constatamos a partir dos dados levantados pela COEES, expostos no gráfico

nº.5, que a maioria das pessoas com deficiência, 66,66%, que são absorvidas pelo

setor supermercadista na RMB não tem nenhum curso profissionalizante. Para

aqueles que fizeram algum curso de qualificação, a maioria (13,0%) optou pela

informática básica. O restante 20,34% está diluído em cursos de qualificação que

não tem nenhuma associação direta com o trabalho no supermercado.

Se por um lado a falta de qualificação para o trabalho não tem impedido a

contratação de pessoas com deficiência, por outro lado o fato de ser deficiente, ter

uma legislação que cria oportunidades de ingresso no mercado de trabalho em

nada ela protege contra o “fantasma” contemporâneo da instabilidade no emprego

que assombra o mundo do trabalho na contemporaneidade e que também absorve

o setor supermercadista. No gráfico nº. 6 é possível visualizar que apenas 3,57%

dos trabalhadores com deficiência empregados em supermercados estão neste

emprego entre 11 e 20 anos. A grande maioria está empregada no mesmo lugar

entre 1 e 4 anos. Isto aponta para a existência de uma considerável rotatividade

desse tipo de trabalhador no ramo supermercadista.

Page 64: Ildete Maria Cardoso Bandeira

64

Gráfico 5: Cursos Profissionalizantes Realizados Pelas Pessoas Deficientes Empregadas nos

Supermercados da Região Metropolitana de Belém-Pa.

13,10%

2,38%

2,38%

2,38%

1,19%

1,19%

1,19%

1,19%

1,19%

1,19%

1,19%

1,19%

1,19%

1,19%

1,19%

4,76%

61,90%

- C

omputação

- A

tendim

ento ao

cliente

- Ped

reiro

- T

écnic

o em Enferm

agem

- A

uxiliar d

e Encarre

gado

- C

ozinheiro

- D

esenho M

ecânico

- E

coturis

mo

- Eletric

ista

- I

nformáti

ca/m

anutençã

o

- I

nglês B

ásico

- M

arketin

g em Vend

as e Compras

- P

edag

ogia

- T

écnic

o em A

dministração

de Empresa

- T

écnic

o em In

stalaçã

o de Telefone - N

ão tem

- N

ão Inform

ou

Série5Série4Série3Série2Série1

Fonte: Coordenadoria de Educação Especial-COEES/SEDUC

Page 65: Ildete Maria Cardoso Bandeira

65

Gráfico 6: Tempo de Serviço das Pessoas Deficientes Empregadas nos Supermercados

da Região Metropolitana de Belém-Pa.

2,38%

53,57%

22,62%

3,57%

17,86%

Menos de 1 ano

De 1 a 4 anos

De 5 a 10 anos

De 11 a 20 anos

Não Informaram

Série2Série1

Fonte: Coordenadoria de Educação Especial-COEES/SEDUC

Num mundo do trabalho como o atual, marcado pela precarização, pela

incerteza do emprego e da permanência no mesmo emprego por muito tempo, o

trabalho está se tornando escasso, até mesmo as pessoas com um nível de

escolaridade mais elevado e com cursos profissionalizantes começam a aparecer

com maior freqüência nas filas de desempregados no Brasil.

Pode-se imaginar a dificuldade ainda maior por parte daquelas pessoas com

deficiências mais severas que no decorrer de suas vidas não conseguiram adquirir

escolarização nem qualificação para o trabalho, pois a busca do aprendizado

profissional ou da escolarização lhes foi dificultada, tanto pelo fato de sofrerem

estigmas como por se defrontarem com barreiras arquitetônicas, barreiras

atitudinais e a indisponibilidade de tecnologias assistivas nos locais em que estão

sendo ofertados os cursos profissionalizantes ou na escola comum.

Segundo os técnicos mediadores, apenas algumas instituições que oferecem

cursos profissionalizantes às pessoas deficientes e que tem convênio com a

COEES, possuem computadores adaptados, o que é fundamental para a

aprendizagem dos cegos e surdos que desejam fazer o curso de informática. De

acordo com os técnicos entrevistados estes cursos de informática são os mais

requisitados, no entanto, não conseguem atender a demanda. Consideram

Page 66: Ildete Maria Cardoso Bandeira

66

também que seria necessário que se ampliasse a realização de cursos com todo o

aparato necessário (tecnologia assistiva e acessibilidade com desenho universal)

para outros cursos profissionalizantes, em outras áreas do conhecimento e em

espaços difusos pela cidade e pelos equipamentos urbanos, como por exemplo:

ônibus com portas mais largas, com plataforma mecanizada para descer e subir a

cadeira de rodas e com barras de apoio para as mão; ruas com sinais sonoros para

cegos; calçadas com rampas pouco inclinadas para os cadeirantes; piso com auto-

relevo; sinalização clara e explicita para pessoas com deficiência intelectual;

portas das salas de aula ampliadas, construção de banheiros adaptados,

elevadores, barras de apoio e o uso de material com textura diferenciada (cujo

nome técnico é “podotátil”).

Os produtos, equipamentos, ambientes e meios de comunicação devem ser

concebidos do ponto de vista do Desenho Universal, que recomenda que tudo

(mas tudo mesmo) deve poder ser utilizado por todos, o maior tempo possível, sem

necessidade de adaptação, beneficiando pessoas de todas as idades e

capacidades.

Com baixa escolarização e qualificação insuficiente para o trabalho, as

pessoas com deficiência em geral são absorvidas no setor supermercadista

naquelas funções que efetivamente dispensam esses dois requisitos. Entretanto, a

inserção dessas pessoas, dispensando os elementos constitutivos do perfil exigido,

em especial o ensino médio completo, ainda depende da maior ou menor

flexibilidade do grupo de supermercados. Observa-se que esta maior flexibilidade

ocorre em um dos maiores grupos de supermercados que enfatizam o seu caráter

de responsabilidade social como marca empresarial.

Podemos tomar como exemplo o supermercado L que apresenta uma postura

mais flexível para a inserção de pessoas com deficiência m seu quadro funcional,

além de buscar transparecer em seu discurso certa dose de generosidade no

tratamento da diversidade humana. Com freqüência envia ofícios de solicitação de

mão-de-obra elogiando a superação e dedicação desses profissionais, e assevera

que embora tenham dificuldades de preenchimento das vagas existentes em sua

empresa, gostariam de contratar muito mais, prevendo o seu crescimento e as

saídas espontâneas. Informam também que não tem restrições quanto à

escolaridade (realmente a pesquisa constatou que, embora seja um dos maiores

Page 67: Ildete Maria Cardoso Bandeira

67

supermercados do Estado e do país, o nível de escolaridade dos deficientes em

seu grupo é o menor).

Tal postura generosa pode ser melhor compreendida com a apreciação dos

dados coletados. Dos 84 trabalhadores estudados na RMB, revelam que o ramo

supermercadista oferece a maioria das vagas para os deficientes em funções

braçais, como embalador (45), ou para serviços gerais (16). Para exercer essas

atividades, não há necessidade de muita escolarização ou qualificação específica,

provavelmente por este motivo, pela obrigatoriedade do preenchimento das cotas e

por desejarem transmitir uma imagem de organização moderna e inclusiva

algumas empresas permitem a flexibilidade quanto ao nível de escolaridade e de

qualificação de seus empregados.

Entretanto, para as funções de maior responsabilidade, que exigem maior

nível de comunicação com o público ou com os colegas de trabalho, a utilização de

pessoas com deficiência é residual, como no caso dos repositores (6), balconistas

(6), operadores de caixa (4), fiscal de caixa (1), fiscal de loja (1), assistente

comercial (1) e motorista (1) como reflete a tabela nº.10.

Outro ponto que a pesquisa destaca é a permanência no emprego das

pessoas com deficiência empregadas em supermercados. O emprego em

atividade comercial, de uma maneira geral é marcado por uma alta rotatividade dos

empregados. Segundo Gonçalves, 2009, no plano nacional a média de

permanência no emprego do trabalhador do comércio é de 12 meses; em um

estudo da autora realizado em supermercados no município de Benevides, estado

do Pará, essa média de permanência é de 24 meses, o dobro da média nacional.

No que concerne às pessoas com deficiência empregadas em

supermercados da RMB a maior freqüência está situada entre 12 e 44 meses,

representada por 45 trabalhadores (53,57%); em seguida um grupo de 19

trabalhadores (22,62%) situado entre 60 e 120 meses. Merece destaque o fato de

que 27 desses trabalhadores componentes desses dois grupos com maior

permanência no emprego têm o ensino médio completo conforme a tabela nº. 11.

Outros fatores concorrem para a fixação de pessoas deficientes no emprego.

Os relatos de técnicos do setor de profissionalização da COEES/SEDUC indicam

um de caráter emblemático. Esclarecem que o setor supermercadista contrata, em

Page 68: Ildete Maria Cardoso Bandeira

68

sua maioria, pessoas surdas que tem dificuldade de se estabilizarem no emprego,

pois enfrentam a barreira da comunicação e não conseguem se fazer entender.

Isto dificulta o relacionamento com os próprios colegas de trabalho, provocando

conflitos onde os técnicos da COEES precisam intervir para melhorar o

relacionamento no ambiente de trabalho. Existe uma Língua Brasileira de Sinais

(LIBRAS) que viabiliza a comunicação com pessoas surdas, mas a maioria das

empresas do setor tem ignorado a necessidade e importância de garantir o acesso

a todos os seus empregados não surdos.

Tabela 10: Tipos de Funções por Deficiência dos Empregados dos Supermercados da Região Metropolitana de Belém-PA.

1º Trimestre/2008

Tipo de Deficiência

Função Mental Física Auditivo Visual Total

Embalador 0 9 35 1 45

Serviços Gerais 0 6 7 2 15

Repositor 0 2 6 0 08

Balconista 0 4 2 0 06

Operador de Caixa 0 3 1 0 04

Assistente Comercial 0 1 0 0 01

Auxiliar de Controle 0 0 0 1 01

Encarregado do Refeitório 0 0 1 0 01

Fiscal de Caixa 0 1 0 0 01

Fiscal de Loja 0 1 0 0 01

Motorista 0 1 0 0 01

TOTAL 0 28 52 4 84 Fonte: Coordenadoria de Educação Especial-COEES/SEDUC

Page 69: Ildete Maria Cardoso Bandeira

69

Foto nº. 1: Deficiente Auditivo trabalhando como Embalador em supermercado na Região

Metropolitana de Belém-Pará.

Fonte: Coordenadoria de Educação Especial-COEES

Foto nº. 2: Deficiente Auditivo trabalhando como Serviços Gerais em supermercado na

Região Metropolitana de Belém-Pará.

Fonte: Coordenadoria de Educação Especial-COEES

Page 70: Ildete Maria Cardoso Bandeira

70

Tabela 11: Nível de Escolaridade por Tempo de Serviço dos Empregados dos Supermercados da Região Metropolitana de Belém-PA.

1º Trimestre/2008

Tempo de Serviço dos Empregados

Nível de Escolaridade Menos de 1 ano De 1 a 4 anos De 5 a 10 anos De 11 a 20 anos Não Informaram TOTAL

Alfabetizado 1 2 1 4 Ens. Fund. Menor Inc. 3 1 4 Ens. Fund. Menor Comp. 4 5 1 2 12 Ens. Fund. Maior Inc. 6 3 4 13 Ens. Fund. Maior Comp. 4 2 1 2 09

Ens. Méd. Inc. 4 2 06

Ens. Médio Completo 1 23 4 6 34

Ens. Sup. Inc. 1 1

Ens. Sup. Completo 1 1

TOTAL 2 45 19 3 15 84 Fonte: Coordenadoria de Educação Especial-COEES/SEDUC Isto demonstra que os empresários deste setor, embora verbalizem um

discurso da inclusão e da responsabilidade social compatível com uma

organização moderna, não acreditam na potencialidade dos empregados

deficientes, nem tampouco investem na criação de condições propícias para o

desenvolvimento de suas potencialidades.

No âmbito de nossa pesquisa (preliminarmente) observamos que a retórica

da responsabilidade social e da inclusão, incorporada pelo empresariado do setor,

em grande parte é apenas substrato ideológico, elemento constitutivo de um

discurso que encontram pouca ou nenhuma correspondência em ações concretas.

Naturalmente que o fato de uma parte deste setor oferecer um percentual de vagas

para pessoas com deficiência pode ser considerado um avanço comparativamente

às décadas passadas e a outros ramos do comércio que não compartilham dessa

preocupação. Entretanto, se algumas exigências para a contratação impedem

efetivamente que a pessoa deficiente ingresse no mercado de trabalho, é possível

fazer concessões como a dispensa da escolaridade de nível médio completo. Por

outro lado, a ausência de condições efetivas de acessibilidade³, e de tecnologias

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71

assistivas dificulta o desempenho dessas pessoas, relegando as mesmas ao

exercício quase que exclusivo de funções mais baixas na hierarquia da empresa.

"Tecnologia Assistiva é uma área do

conhecimento, de característica interdisciplinar,

que engloba produtos, recursos, metodologias,

estratégias, práticas e serviços que objetivam

promover a funcionalidade, relacionada à atividade

e participação de pessoas com deficiência,

incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua

autonomia, independência, qualidade de vida e

inclusão social” (Comitê de Ajudas Técnicas,

CORDE/SEDH/PR, 2007).

São considerados recursos de Tecnologia

Assistiva, portanto, desde artefatos simples, como

uma colher adaptada, uma bengala ou um lápis

com uma empunhadura mais grossa para facilitar a

preensão, até sofisticados sistemas

computadorizados, utilizados com a finalidade de

proporcionar uma maior independência e

autonomia à pessoa com deficiência (GALVÃO

FILHO e DAMASCENO, 2006).

³ Acessibilidade abrange aspectos do dia-a-dia das pessoas, tais como rotinas e processos sociais, programas e políticas

governamentais e institucionais. Uma sociedade acessível torna-se pré-requisito para uma sociedade inclusiva.

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72

A redução ou eliminação dessas barreiras possibilitaria a contratação de um

contingente maior de pessoas com deficiência e isto conduziria à inclusão (a

modificação do ambiente para se adequar às necessidades dos deficientes)

superando este contexto de Integração (contratar o trabalhador esperando que

este se adapte às condições do local de trabalho). Onde apenas algumas pessoas

deficientes conseguem conviver com as barreiras físicas, atitudinais e

programáticas da empresa.

O paradigma da inclusão e a prática do empoderamento “é o processo pelo

qual uma pessoa, ou um grupo de pessoas, usa o seu poder pessoal inerente à

sua condição para fazer escolhas e tomar decisões, assumindo assim o controle de

sua vida”- Sassaki, 1995, p.6) e representam hoje componentes obrigatórios em

todas as ações não-discriminatórias.

Conforme destacou Vygostsky, é relevante para o desenvolvimento humano

o processo de apropriação, por parte do indivíduo, das experiências presentes em

sua cultura. O autor enfatiza a importância da ação, da linguagem e dos processos

interativos na construção das estruturas mentais superiores (VYGOTSKY, 1987). O

acesso aos recursos oferecidos pela sociedade, escola, tecnologias, etc.,

influenciam de modo determinante nos processos de aprendizagem da pessoa.

Entretanto, as limitações da pessoa com deficiência tendem a se tornar uma

barreira para esse aprendizado. Desenvolver recursos de acessibilidade seria uma

maneira concreta de neutralizar as barreiras causadas pela deficiência e inserir

esse indivíduo nos ambientes ricos para a aprendizagem, proporcionados pela

cultura.

Outra dificuldade que as limitações de interação trazem consigo são os

preconceitos a que o indivíduo com deficiência está sujeito. Desenvolver recursos

de acessibilidade também pode significar combater esses preconceitos, pois, no

momento em que lhe são dadas as condições para interagir e aprender,

explicitando o seu pensamento, o indivíduo com deficiência mais facilmente será

tratado como um "diferente-igual"... Ou seja, "diferente" por sua condição de

pessoa com deficiência, mas ao mesmo tempo "igual" por interagir, relacionar-se e

competir em seu meio com recursos mais poderosos, proporcionados pelas

adaptações de acessibilidade de que dispõe. É visto como "igual", portanto, na

medida em que suas "diferenças", cada vez mais, são situadas e se assemelham

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73

com as diferenças intrínsecas existentes entre todos os seres humanos. Esse

indivíduo poderá, então, dar passos maiores em direção à eliminação das

discriminações, como conseqüência do respeito conquistado com a convivência,

aumentando sua auto-estima, porque passa a poder explicitar melhor seu potencial

e seus pensamentos.

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74

Capítulo 3 - Redes Sociais e inserção de pessoas com deficiência

no setor supermercadista na RMB

A inserção de pessoas com deficiência no setor supermercadista da RMB

tem sido conseguida, como foi apresentado nos capítulos anteriores, com a

cooperação de instituições mediadoras ligadas ao Estado (COEES/SEDUC e

CINPED) e instituições políticas que organizam este segmento da população como

a APPD. Este capítulo tem a intenção de identificar o conjunto de relações que

cada pessoa com deficiência está imerso e de que maneira esse conjunto de

interações sociais contribui para que estas pessoas consigam um emprego em

uma determinada rede de supermercados. A estrutura do argumento deste

trabalho procura demonstrar que há fatores importantes que contribuem para que

uma pessoa com deficiência supere as barreiras de suas limitações físicas,

mentais e ingressem em um mercado de trabalho de características competitivas.

Há de um lado um perfil exigido pelas empresas do setor, que inclui principalmente

a escolarização de ensino médio completo, cursos de qualificação para o trabalho

e uma deficiência preferencialmente leve. Por outro lado, existe em favor das

pessoas deficientes, um arcabouço legal e normativo que impele em determinados

momentos à abertura de cotas de vagas para o emprego de pessoas deficientes;

também concorre a favor a tentativa de as empresas se mostrarem como

instituições modernas e preocupadas com sua imagem de responsabilidade social;

além disso, existe a atuação das instituições governamentais e de fora da esfera

de governo, que contribuem decisivamente para o ingresso dessas pessoas com

deficiência no mercado de trabalho e em especial no ramo supermercadista.

Compreende-se que tais instituições atuam sob a forma de redes juntamente

com as famílias, os amigos e conhecidos, articuladas no apoio à inserção dessas

pessoas no mercado de trabalho. E que essa articulação em redes sociais assume

um caráter importante junto ao lado dos outros fatores citados. Tais redes de apoio

contribuem de certa forma, para que essas pessoas adquiram aquilo que Bourdieu

conceituou de capital social.

De acordo com (Robison et al. 2000, apud Aguiar N. p. 14), o conceito de

capital social pode ser definido culturalmente como a empatia de uma pessoa ou

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75

grupo para com outra pessoa ou grupo que pode produzir um benefício potencial,

vantagem e tratamento preferencial para outra pessoa ou grupo de pessoas além

do que é esperado numa relação de intercâmbio. Neste sentido, capital social constitui-se no agregado dos recursos reais e potenciais que estão conectados à

possessão de uma rede durável de relacionamentos de mútuo conhecimento e

reconhecimento, mais ou menos institucionalizada, ou, em outras palavras, ao

pertencimento a um grupo, o qual provê a cada um de seus membros, com base

no capital apropriado coletivamente, uma “credencial” que os titula ao crédito, nos

vários sentidos da palavra. (Bourdieu, 1986, apud, Aguiar, 2007).

O capital social é gerado pelas redes de relações sociais, mas são os

indivíduos que delas participam que usufruem satisfação para interesses próprios.

De acordo com o conceito individualista, a participação em redes sociais constitui

um recurso potencial de poder, na medida em que possibilita acesso diferenciado

aos recursos existentes nas redes para a realização de seus interesses individuais.

(Bourdieu, 1986, apud, Aguiar, 2007)

Pesquisas apontam que essas redes de relações sociais constituem um

estoque considerável de capital social e podem aumentar segundo pesquisa

realizada em Belo Horizonte por Neves e Helal (2007) em até 58% a oportunidade

de ingresso no mercado de trabalho.

Dados coletados no decorrer da pesquisa no setor de profissionalização da

COEES apontam que 90% das pessoas deficientes empregadas no setor

supermercadista da região metropolitana de Belém-Pa participam de uma rede de

social que ajuda de alguma forma na sua inserção no mundo do trabalho. E esta

forma de participação contribui para a construção do seu capital social, ou seja, do

intercâmbio que estabelecem com grupos sociais ou pessoas da comunidade,

onde estão inseridos, e a partir daí são conduzidos às instituições governamentais

ou não governamentais que estabelecem as pontes para o mercado de trabalho.

Tais instituições cadastram essas pessoas deficientes, concebem laudo médico

que as identificam com detentoras de tal condição e as encaminham para cursos

profissionalizantes, fazendo valer os convênios com as escolas profissionalizantes

que estão em vigor. Como este laudo médico tem que ser renovado anualmente,

tais instituições assumem um papel fundamental no encaminhamento e

manutenção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Estas

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76

instituições encaminham os candidatos às empresas que disponibilizam vagas para

determinados postos de trabalho e estabelecem os critérios mínimos para a

admissão do empregado. Os candidatos que se adequam ao perfil exigido pelas

empresas são encaminhados por essas instituições mediadoras para entrevista de

emprego.

No processo da pesquisa entrevistamos uma pessoa deficiente físico que

está desempregado e à procura de emprego na área administrativa. Ele afirmou

que está direta ou indiretamente ligada a um conjunto de instituições que lhe

prestam apoio quando ele busca uma vaga no mercado de trabalho. Neste sentido

foi possível identificar que esta pessoa deficiente está vinculada a um conjunto de

instituições, da família às instituições governamentais e não-governamentais, como

por exemplo, a APPD e COEES e esse conjunto de instituições tem funcionado

como rede de contatos que interferem positivamente no sentido de facilitar sua

colocação no mercado de trabalho.

Segundo este informante tudo começa com a família, que é o primeiro

espaço de inclusão da pessoa deficiente. Com o apoio desta e de amigos e

conhecidos mais próximos estas pessoas adquirem informações que as levam às

instituições que efetivamente são capazes de intermediar sua inserção no mercado

de trabalho. Este tipo de informação encontrada de modo recorrente em outras

entrevistas junto a outras pessoas deficientes nos permitiu identificar como estas

iterações se articulam em rede e melhoram as oportunidades de inserção dessas

pessoas deficientes no mercado de trabalho, conforme figura abaixo.

Page 77: Ildete Maria Cardoso Bandeira

77

Redes Sociais dos Trabalhadores dos Supermercados da Região Metropolitana de Belém-Pa.

Fonte: Entrevistas orais com trabalhadores desempregados e técnicos do setor de Profissionalização da COEES

O que chama atenção no movimento interno dessas redes de apoio são os

tipos de laços que as unem. A maioria dos atores envolvidos e que facilitam o

encaminhamento ao mercado de trabalho em geral, e ao setor supermercadista em

particular, mantém vínculos superficiais e marcados pela impessoalidade. Com

exceção da família ou dos parentes e amigos, todos os outros atores envolvidos

(instituições governamentais e instituições de fora da esfera do governo,

instituições educacionais) mantêm certo distanciamento e formalidade em relação

à pessoa com deficiência. O contato entre eles não é aprofundado e geralmente

não é permanente.

Neste sentido podemos associar tal padrão interativo identificado nessas

redes de apoio com os tipos de laços sociais definidos por (Mark Granovetter,

1973). Granovetter analisa o ingresso de executivos no mercado de trabalho nos

Estados Unidos no final da década de 70 e chega à conclusão que a maioria

desses executivos ingressou no mercado de trabalho ou movimentavam-se nele

em busca de melhores oportunidades a partir de informações privilegiadas que

circulam por entre redes sociais. De um modo geral as informações privilegiadas

ou as ofertas de emprego chegavam aos indivíduos por intermédio de pessoas que

não mantêm com estes, vínculos permanentes ou profundos. Não são os

familiares, os parentes ou os amigos próximos que criavam essas oportunidades,

Unidades Educacionais Especializadas - UEEs

Escola Regular

Laudo Médico

Instituições Mediadoras: COEES, SINPED/ SINE, APPD

Instituições promotoras de Cursos Profissionalizantes

SUPERMERCADOS

Escola Regular

Indivíduo e FAMÍLIA

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78

mas os conhecidos, aqueles que não cultivam e mantém vínculos permanentes,

que atuavam de maneira mais efetiva na criação de oportunidades de emprego.

Granovetter classifica os laços sociais em duas categorias: laços fortes e

laços fracos. Segundo Raud-Mattedi (2006) “a força de um laço é uma combinação

(provavelmente linear) da quantidade de tempo, da intensidade emocional, da

intimidade (a confiança mútua) e dos serviços recíprocos que caracterizam esse

laço”(p.64).

Portanto, os laços fortes são vínculos que combinam positivamente estas

características. Pressupõem a existência de convívio longo associado à

intensidade emocional, a um considerável grau de intimidade, bem como a maior

quantidade e qualidade de serviços oferecidos reciprocamente entre os indivíduos;

em geral tais laços existem nas relações mais imediatas do indivíduo: família,

amizade; e fazem parte daquilo que Granovetter identifica como imbricação do tipo

relacional. Em contrapartida, os laços fracos se definem pelo caráter esparso da

interação, pela baixa intensidade emocional, pela inexistência de intimidade e pela

baixa reciprocidade de serviços mutuamente ofertados.

Estes laços tecem dois tipos de imbricação: uma “imbricação relacional” que

constitui as interações imediatas, diretas e permanentes que cada indivíduo ou

agente econômico vivencia; e outra, a qual Granovetter associa a um tipo de

“imbricação estrutural” definida como “universos sociais distintos” os quais o

indivíduo tem acesso a partir da mediação de parentes e amigos, mas

fundamentalmente a partir de laços mantidos com conhecidos (Raud-Matteli,

2006).

Na inserção de pessoas deficientes no ramo supermercadista da RMB, o que

tem prevalecido, em confirmação ao estudo de Granovetter, são os laços fracos

como fios condutores mais efetivos para a inserção de pessoas com deficiência ao

mercado de trabalho. Neste caso específico, são as instituições que estabelecem

pontes com as empresas, no sentido de garantir a ocupação de um posto de

trabalho por uma pessoa deficiente. Seus técnicos embora não cultivem laços

profundos e de forte carga afetiva com as pessoas deficientes, transmitem

informações, referenciam estas pessoas e em geral, por meio de negociação direta

tentam diminuir as exigências das empresas para garantir o emprego de certas

pessoas com deficiência.

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79

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inclusão das pessoas com deficiência no mundo do trabalho é um processo

que deve ocorrer concomitantemente às mudanças em contextos sociais mais

amplos. É uma luta permanente reivindicar inclusão social de grupos minoritários

no contexto de uma sociedade excludente que privilegia os interesses de mercado

e a busca permanente do lucro. Mesmo considerando tais dificuldades estruturais,

o desenrolar desse processo de luta pela inclusão tem apontado algumas

alternativas que se impõem mesmo diante de uma sociedade marcada por uma

estrutura excludente.

Alterações de caráter pontual podem contribuir significativamente para esse

processo de inclusão de pessoas com deficiência no mundo do trabalho; dentre

essas mudanças destacamos três como fatores necessários, a propósito do que se

observou nesta pesquisa sobre a inserção de pessoas com deficiência no ramo

supermercadista da RMB: 1) a adaptação do local de trabalho possibilitando uma

melhor circulação de pessoas com deficiência nestes ambientes; 2) a oferta mais

extensa de escolarização efetiva além da complementação por meio de cursos

profissionalizantes 3) uma melhor preparação do sistema de ensino, tendo em vista

o acolhimento e a formação dessas pessoas. Consideram-se fatores

preponderantes para essa mudança uma atuação mais engajada de profissionais

da educação e a utilização de Tecnologia Assistiva seguindo a proposta do

Desenho Universal. Estes dois fatores combinados concorreriam para que se

efetive a interação das pessoas com deficiência com os colegas sem necessidades

especiais, isolando cada um com seu equipamento, mas disponibilizando

equipamentos que sejam de uso comum e que sejam úteis para TODOS.

Por outro lado, as empresas precisam oferecer qualificação profissional no

próprio local e horário de trabalho, para que o trabalhador possa utilizar o seu

tempo livre para o lazer junto à família, o descanso, o cuidado com a saúde, a

interação com a sua comunidade; cuidando da subjetividade humana e sendo mais

feliz, não lhe restando apenas o horário de dormir para recuperar sua força para

entregá-la novamente ao capitalista no dia seguinte. As jornadas dos

trabalhadores do ramo supermercadista em geral são extensas, ocupando cerca de

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80

doze horas diárias, entre trabalho efetivo e intervalos longos entre a 1ª e 2ª parte

da jornada; trabalho sem dia certo de descanso, apesar da legislação vigente

mobilizando o trabalhador durante todos os dias da semana. Tudo isso impõe aos

funcionários em geral, e para as pessoas com deficiência que trabalham neste

cenário a quase indisponibilidade do tempo livre para o laser, para o estudo, para o

cultivo de relações familiares e de amizade (Gonçalves, 2008).

A inserção de trabalhadores jovens no mundo do trabalho e com

comprovação de experiência em carteira, como exige o perfil encaminhado pelos

supermercados, poderia ocorrer em uma proporção mais elevada se os jovens com

deficiência, assim como os sem deficiência, passassem a fazer parte de um

programa do governo “meu primeiro emprego”.

A rede de supermercados da RMB, como foi constatado no decorrer da

pesquisa privilegia a contratação de funcionários com determinados tipos de

deficiências, excluindo outros. A abertura para a contratação de funcionários com

todos os tipos e níveis de deficiência seria importante para a flexibilização do perfil

exigido para a contratação. Hoje, este perfil, de modo velado, tem priorizado a

contratação de pessoas surdas e com “deficiências leves” desenvolvendo funções,

em geral, na esfera operacional, em especial na função de embalador – criando um

mito de que trabalhador adequado para os supermercados e para a função de

embalador é o deficiente auditivo. Todos podem ser trabalhadores produtivos e

competentes desde que as condições de trabalho estejam adequadas a eles e não

o contrário.

Os donos de supermercados e/ou chefes dos Recursos Humanos necessitam

participar de cursos de formação sobre tecnologia assistiva e de como lidar com os

limites e os potenciais dos deficientes; como trabalhar com os funcionários não

deficientes a vida em grupo, proporcionando a estes momentos de troca de

conhecimentos, como por exemplo, com a ajuda de um intérprete, o funcionário

surdo (a maioria absoluta do setor) pode transmitir o básico de sua linguagem.

Somente dessa maneira teremos um ambiente inclusivo e humanizado,

proporcionando a ascensão funcional e uma permanência mais longa desses

trabalhadores.

A Justiça do Trabalho e as Instituições Governamentais e as Organizações

Intermediadoras precisam fazer um trabalho mais incisivo junto às empresas

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81

brasileiras, visando à promoção dos direitos das pessoas com deficiência,

mudando o perfil excludente exigido pelas empresas, principalmente com os

jovens, os idosos e os deficientes com limitações mais severas; fazendo valer a Lei

de Cotas, Lei nº 8.213, de 25/7/91 principalmente junto às grandes empresas, pois

segundo pesquisas do Ministério do Trabalho e Emprego, 2002, estas empregam

abaixo do exigido pela lei, enquanto as pequenas acima do percentual exigido. E

segundo estudo realizado pela FEBRABAN dos 48% dos deficientes ativos apenas

10,4% possuem Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) assinada. Esses

dados demonstram que está correndo atualmente uma desaceleração no nível de

ocupação, o que indignifica a pessoa com deficiência.

A escolarização como um dos fatores exigidos para a inserção das pessoas

com deficiência, necessita ter seu grau flexionado pelas redes de supermercado e

o sistema de ensino tem que oferecer mais condições e oportunidades para que

esses cidadãos tenham seu nível e escolaridade elevado facilitando seu ingresso

no mundo do trabalho. Apesar do aumento das matrículas dos deficientes no

ensino especial e na rede regular de ensino, nas escolas públicas e particulares em

todo Brasil (MEC/INEP), a permanência e o sucesso ainda são baixos, segundo

entrevista concedida por instituições intermediadoras da região metropolitana de

Belém, muitas pessoas com deficiência não conseguem o emprego por não

possuírem o nível médio completo.

Há necessidade de o governo aumentar os investimentos em capacitação

dos profissionais da educação, na acessibilidade, nos equipamentos tecnológicos,

com a proposta inclusiva do Desenho Universal.

Os currículos escolares devem incluir programas específicos de treinamento

profissional para inserção no mundo do trabalho e na vida adulta, como preceitua a

Declaração de Salamanca.

A rede de relacionamentos pode ser fonte de recursos para profissionais que

trabalham com famílias, mas a necessidade de ampliar as informações sobre

deficiência em uma rede mais ampla que envolva parentes, amigos, vizinhanças

deve ser considerada.

A Empregabilidade da pessoa com deficiência e a sua inserção no mercado

de trabalho depende do apoio de redes sociais. A pesquisa apontou, que estes

fatores não resultam apenas do esforço individual do trabalhador de estudar e se

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qualificar, mas das pessoas e instituições que estão à sua volta, com atitudes

acolhedoras, que lhes proporcione amor e autonomia possibilitando a superação

das barreiras que dificultam o acesso ao mundo do trabalho.

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ANEXOS

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88

Anexo nº. 1

GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO SECRETARIA ADJUNTA DE ENSINO

COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL FICHA INDIVIDUAL DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO. ANO: _______________ ( ) 1º Trimestre ( ) 2º Trimestre ( ) 3º Trimestre ( ) 4º Trimestre 1 – Dados Pessoais: Nome: ________________________________________________________________________ Data de Nascimento:__________________ Idade: _________ Naturalidade: _______________ Endereço: _____________________________________________________________________ Bairro: _____________________ Fone: _________________ Contato: _____________________ Tempo de Atendimento na Escola Especial: _________________________ anos Programa que Freqüentou: ________________________________________________________ Faz uso de Medicamento: Sim ( ) Não ( ) Quais? ________________________________________________________________________ Tipo de Deficiência: ______________________________________________________________ Escola: ________________________________________________________________________ Série: ________________ Turno: ___________________________________________________ Participa de Atendimento em Escola Especial: Sim ( ) Não ( ) Qual? ____________________ Ano: _________________________ Nível de Escolaridade: ( ) Alfabetização ( ) Educação de Jovens e Adultos ( ) Completo ( ) Incompleto Ano: ___________________ ( ) Ensino Fundamental Série: ______________________ ( ) Ensino Médio ( ) Completo ( ) Incompleto Ano: _______ Série: ____________________ ( ) Ensino Superior ( ) Completo ( ) Incompleto Ano: _______ Série: __________________ Modalidade de Educação Profissional: ( ) Completo ( ) Incompleto ( ) Ano: ______ Cursos Profissionalizantes: Quais? _______________________________________________________________________ 2 – Dados Funcionais: Nome da Empresa: __________________________________________________________ Endereço: __________________________________________________________________ Bairro: __________________________________ Horário de trabalho: ________________________ Função: ___________________________ Data da Admissão: ___/___/___ Data de Demissão: ___/___/___ Chefe Imediato: _____________________________________ Fone: ___________________ Anexo nº. 2

Page 89: Ildete Maria Cardoso Bandeira

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OFÍCIO MODELO

Belém, 17 de dezembro de 2008 OF. Nº 001/2008 Assunto: Seleção de Pessoas Portadoras de Deficiência Prezado Senhor (a), A empresa L Ltda, é reconhecida pela comunidade em geral, por ser uma das pioneiras na inclusão de portadores de deficiência no mercado de trabalho. Em conformidade com o Decreto nº 3.298, temos procurado agregar valor ao Grupo L, contratando esses profissionais que, com certeza, são grandes exemplos de superação e dedicação para todos nós. No entanto, o Grupo L, é uma empresa que cresce muito, aumentando seus postos de trabalho em quantidade significativa. Temos tido dificuldade para admitir o total de pessoas em questão, que realmente necessitamos. Gostaríamos até de contratar pessoas a mais, prevendo o nosso crescimento e as saídas espontâneas, mas estamos com falta de candidatos. Diante do exposto, a empresa L Ltda, vem por meio deste solicitar o encaminhamento de candidatos portadores de deficiência ou reabilitados pelo INSS, para processo de seleção. Informamos que não temos restrição quanto à escolaridade ou outros quesitos, pois procuramos avaliar como a pessoa é capaz de contribuir dentro das funções que temos. Aguardamos retorno positivo para que possamos agendar um encontro com os candidatos e aproveitamos o ensejo, para renovar nossos votos de estima e consideração.

Atenciosamente,

_____________________________ Coord. Rec. Humanos

À COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL (COEES)