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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI AVIAÇÃO CIVIL IMPACTO DOS PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO NA SEGURANÇA DE VÔO E PROPOSTA PARA CRIAÇÃO DE CURSO ESPECIFICO DE COMUNICAÇÃO RADIOFÔNICA PARA PILOTOS Alexandre Braga Ribeiro Gustavo Sartori Meirelles Karina Sampaio Buchalla Marcelo Diulgheroglo Ricardo William Blasco Stipp São Paulo 2009

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

AVIAÇÃO CIVIL

IMPACTO DOS PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO NA SEGURANÇA DE VÔO E PROPOSTA PARA

CRIAÇÃO DE CURSO ESPECIFICO DE COMUNICAÇÃO RADIOFÔNICA PARA PILOTOS

Alexandre Braga Ribeiro Gustavo Sartori Meirelles Karina Sampaio Buchalla Marcelo Diulgheroglo Ricardo William Blasco Stipp

São Paulo

2009

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

AVIAÇÃO CIVIL

IMPACTO DOS PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO NA

SEGURANÇA DE VÔO E PROPOSTA PARA

CRIAÇÃO DE CURSO ESPECIFICO DE

COMUNICAÇÃO RADIOFÔNICA PARA PILOTOS

Trabalho de Conclusão de Curso,

sob orientação do Professor Daniel

Celso Calazans.

São Paulo

2009

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RIBEIRO, Alexandre Braga; MEIRELLES, Gustavo Sartori; BUCHALLA, Karina Sampaio; DIULGHEROGLO, Marcelo; STIPP, Ricardo William Blasco. IMPACTO DOS PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO NA SEGURANÇA DE VÔO E PROPOSTA PARA CRIAÇÃO DE CURSO ESPECIFICO DE COMUNICAÇÃO RADIOFÔNICA PARA PILOTOS, São Paulo, 2.009. Monografia. Universidade Anhembi Morumbi, 135 fls. 1.Introdução 2.A Comunicação 3. Problemas de Comunicação 4.As Soluções 5.Treinamento em Comunicação 6.Conclusão

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Agradecemos nossos familiares, esposas, maridos, pais e filhos, que com muita paciência e compreensão, souberam entender nossas dificuldades, e não mediram esforços para nos apoiar e incentivar durante o decorrer do curso, abrindo mão em algumas oportunidades de horas preciosas do convívio familiar, para nos permitir dedicação a leituras e estudos.

Agradecemos também todos os amigos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste feito.

Agradecemos aos professores Calazans e Clodorico que com muita dedicação contribuíram para a realização deste trabalho através da suas orientações e elevado conhecimento profissional.

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RESUMO

Esta dissertação aborda o problema dos erros que acontecem durante a

comunicação aeronáutica via radiotelefonia, preferencialmente em língua inglesa, e

suas implicações à segurança de vôo. Com o aumento do volume de tráfego aéreo

mundial e com a maior velocidade e precisão das aeronaves devido ao avanço

tecnológico, o tempo disponível para os controladores e pilotos se comunicarem

reduziu-se significativamente. Além disso, dentre os avanços experimentados pela

industria de aviação civil nos últimos anos, o setor de comunicação, entenda-se

comunicação via rádio, não sofreu nenhuma mudança tecnológica significativa

desde a segunda guerra mundial, funcionando nas mesmas bases daquelas de há

50 anos atrás. Aliado a isso, muitos operadores de solo e pilotos de aeronaves não

possuem nenhum treinamento específico em problemas de comunicação e não têm

nenhum treinamento específico da língua inglesa. Nesse contexto, a forma de

comunicação também sofreu pouco ou nenhum avanço nesse período em

contraponto aos sistemas de navegação e operação, que avançaram

extraordinariamente nos últimos anos, devido principalmente a introdução da

informática e da transmissão instantânea de dados. O objetivo geral desta

pesquisa consiste na análise das causas e efeitos dos problemas mais comuns

relacionados à comunicação aeronáutica realizada em língua inglesa e suas

implicações à segurança de vôo bem como o estudo de soluções para minimizar ou

eliminar o impacto negativo destes problemas. De forma geral, os resultados obtidos

demonstram que há soluções disponíveis para melhorar a eficiência das

comunicações aeronáuticas, mas que há também um componente relacionado ao

treinamento dos profissionais do setor que ainda necessita ser explorado. Como

conclusão deste tema, propõe-se a criação de um plano de treinamento específico

para comunicação aeronáutica e fraseologia em língua inglesa como o objetivo de

melhorar as habilidades de pilotos e controladores quando se comunicando via

rádio.

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ABSTRACT This text approaches the possible causes.......

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LISTA DE FOTOS

Foto 1 - Representação de caça com idade de 11.000 . ...........................................20

Foto 2 - Um antigo tipo de manipulador de telegrafia usado para ensino .................21

Foto 3 - Dirigível utilizado como bombardeiro na Guerra Italo-Turca. .......................24

Foto 4 - Equipamento de rádio comunicação em aeronaves, 1939. .........................25

Foto 5 - Ilustração parcial do mecanismo de uma bússola giroscópica. ...................26

Foto 6 - Indicador de bordo com escala azimutal e a antena rotativa. ......................26

Foto 7 - Satélite Telstar 1 da AT&T. Foi o primeiro satélite comercial artificial.........28

Foto 8 - Local do choque entre as aeronaves. ........................................................52

Foto 9 - Foto tirada minutos após o choque entre as aeronaves em Tenerife. .........52

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1– Exemplos de alguns códigos Q. ..............................................................24

Quadro 2 - Representação do Esquema Linear de Comunicação de Lasswell.........34

Quadro 3 - Representação da Teoria Matemática da Comunicação de Shannon ....35

Quadro 4 - Representação do Esquema de Comunicação de Osgood e Schramm.37

Quadro 5 - Elementos que influenciam na comunicação aeronáutica.......................40

Quadro 6 - Síntese dos Modelos de Comunicação discutidos. .................................41

Quadro 7 - Fatores causais de acidentes em aproximação e pouso.........................42

Quadro 8 - Códigos utilizados na transcrição da fita do CVR em Tenerife. ..............48

Quadro 9 - Transcrição dos diálogos em inglês entre as aeronaves da KLM ...........49

Quadro 10 - Trecho dos diálogos que mostra que houve confusão ..........................50

Quadro 11 - Comunicações momentos antes do acidente. .....................................51

Quadro 12 - Trancrição do acidente de Santa Ana em 1981. ...................................58

Quadro 13 - Transcrição do acidente da Eastern Airlines em Miami em 1972..........62

Quadro 14 - Transcrição do incidente envolvendo terminologia................................64

Quadro 15 - Exemplos de cotejamento. ....................................................................66

Quadro 16 - Exemplo de erro de cotejamento...........................................................67

Quadro 17 - Exemplo de cotejamento inadequado. ..................................................67

Quadro 18 - Trancrição do acidente de New York em 1990......................................69

Quadro 19 - Exemplo de problemas com números. ..................................................71

Quadro 20 - Confusão relacionada a números e parâmetros....................................72

Quadro 21 - Exemplo de mensagem não recebida. ..................................................78

Quadro 23 - Carga Horária Treinamento Especial em Comunicação. ....................113

Quadro 24 - Carga Horária do Módulo Especial Online. .........................................114

Quadro 25 - Carga Horária Módulo Especial Presencial. ........................................116

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 - Representação livre das conexões que formam a Internet..................22

Ilustração 2 - “Radio Alinhamento, uma estrada invisível no céu”.............................27

Ilustração 3 - Representação estatística da relação entre as fases de vôo ..............44

Ilustração 4 - Posicionamento das aeronaves segundos antes do impacto ..............48

Ilustração 5 - Exemplo do quadro explicativo da fraseologia aeronáutica.................87

Ilustração 6 - Técnica de transmissão via rádio para assegurar recepção................89

Ilustração 7 - Comparação dos Fatores Contribuintes para incidentes. ....................93

Ilustração 8 - Países afiliados ao Eurocontrol em 2007. ...........................................94

Ilustração 9 - Modelo de comunicação da língua inglesa na aviação........................96

Ilustração 10 - Modelo simplificado de comunicação no conceito FANS-1/A............99

Ilustração 11 - Componentes FANS para o Airbus A330. .......................................101

Ilustração 12 - DCDU mostra que o ADS/CPDLC está conectado ao órgão ATC...101

Ilustração 13 - Representação de alertas sonoros e visuais no cockpit. ................102

Ilustração 14 - Exemplo do ATSU sendo usado para informar ao órgão ATC ........103

Ilustração 15 - No ATSU a justificativa “DUE TO MEDICAL” está na cor azul ........103

Ilustração 16 - Situação do DCDU antes do envio da resposta do piloto ................104

Ilustração 17 - Situação do DCDU após o envio da resposta pelo piloto. ...............104

Ilustração 18 - Tabela de Código Morse. ................................................................127

Ilustração 19 - Posição de impacto em Tenerife. ....................................................128

Ilustração 20 - Transcrição do Memorando do Secretário de Transportes..............133

Ilustração 21 - Transcrição de um artigo sobre problemas de comunicação ..........135

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Fatores que influenciam os acidentes aéreos entre o período. ..............43

Gráfico 2 - Porcentagem de incidência de erros de comunicação na Aviação..........45

Gráfico 3 - Porcentagem de incidência de erros de comunicação na Aviação..........45

Gráfico 4 - Porcentagem de incidência de erros de comunicação na Aviação..........46

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACARS Aircraft Communication Addressing and Reporting System

ACC Centro de Controle de Área

ADS Automatic Dependant Surveillance

AGL Above Ground Level

AIM Aeronautical Information Manual

AIP Aeronautical Information Publication

ALPA Air Line Pilots Association

AM Amplitude Modulada

ANAC Agência Nacional de Aviação Civil

APP Approach Control

ASM Air Space Management

ASRS Aviation Safety Reporting System

ATC Air Traffic Control

ATFM Air Traffic Flow Management

ATIS Automatic Terminal Information Service

ATM Air Traffic Management

ATS Air Traffic Service

ATSU Air Traffic Services Unit

CAA Civil Aviation Authority

CHT Certificado de Habilitação Técnica

CIAIAC

Comisión de Investigación de Accidentes e Incidentes de Aviación

Civil

CNS Communication, Navigation and Surveillance

CPDLC Controller Pilot Data Link Communications

CRM (1) Cockpit Resource Management

CRM (2) Crew Resource Management

CRM (3) Corporate Resource Management

CVR Cockpit Voice Recorder

DCDU Data Link Control and Display Unit

DME Distance Measurement Equipment

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Doc Abreviação de Documento utilizado pela ICAO

EGP English General Purpose

ESP English Special Purpose

FAA Federal Aviation Administration

FANS Future Air Navigation Systems

Ft Feet

FUA Flexible Use of Airspace

GMT Greenwich Mean Time

GPS Global Positioning System

HF High Frequency

HPA Hectopascal

IATA International Air Transport Association

ICAO International Civil Aviation Organization

ILS Instrument Landing System

KLM Royal Dutch Airline

NASA National Aeronautics and Spatial Administration

NAV

CANADA

Órgão privado sem fins lucrativos que controla o Sistema de

Navegação Aérea Canadense

NM Nautical Miles

NTSB National Transportation Safety Board

PAMS-ATC Procedure for Air Navigation Services – Air Traffic Control

PANAM Pan American World Airways

PANS-ATM Procedure for Air Navigation Services – Air Traffic Management

PC Licença de Piloto Comercial

PLA Licença de Piloto de Linha Aérea

Pol. Hg Polegadas de Mercúrio

RBHA Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica

RDL Radial

SA Situational Awareness

SATCOM Comunicação via satélite

SES Single European Sky

SID Standard Instrument Departure

SSR Secondary Surveillance Radar

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TAI Tráfego Aéreo Internacional

TEM Threat and Error Management

TOD Top of Descend

TWR Torre de Controle

VHF Very High Frequency

VOR VHF Omni directional Range

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SUMÁRIO

RESUMO................................................................................................ 5

ABSTRACT ............................................................................................ 6

1. INTRODUÇÃO ............................................................................... 17

2. A COMUNICAÇÃO......................................................................... 19

2.1 UMA BREVE HISTÓRIA DA COMUNICAÇÃO...........................................19

2.2 A COMUNICAÇÃO E O MEIO AERONÁUTICO.........................................23

2.2.1 Uma Visão Geral .....................................................................................23

2.2.2 Sistemas Atuais de Comunicação em Aviação .......................................29

2.2.2.1 Transmissão em HF (faixa de 3Mhz a 30Mhz).................................29

2.2.2.2 Transmissões em VHF (faixa de 118Mhz a 136,98Mhz)..................29

2.2.2.3 Transmissão via Satélite (faixa de 4 Ghz a 6Ghz) ...........................30

2.2.2.4 O Conceito de CNS/ATM .................................................................31

2.3 TEORIAS DA COMUNICAÇÃO ..................................................................33

2.3.1 Esquema Linear de Comunicação de Lasswell .......................................34

2.3.2 Teoria Matemática da Comunicação de Shannon e Weaver ..................34

2.3.3 Esquema de Comunicação de Osgood e Schramm................................36

2.4 OS ERROS NA COMUNICAÇÃO E OS ACIDENTES AÉREOS ................42

2.4.1 O Desastre de Tenerife ...........................................................................47

3. PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO ............................................... 56

3.1 PROBLEMAS BASEADOS EM LINGUAGEM ............................................56

3.1.1 Ambigüidade ...........................................................................................56

3.1.2 Homofonia ...............................................................................................58

3.1.3 Pontuação e Entonação ..........................................................................60

3.1.4 Referência Incerta ...................................................................................60

3.1.5 Inferência Implícita ..................................................................................63

3.1.6 Não Familiaridade com a Terminologia ...................................................64

3.1.7 Repetição (ou cotejamento) ....................................................................65

3.2 PROBLEMAS NÃO BASEADOS EM LINGUAGEM....................................70

3.2.1 Problemas com Números ........................................................................70

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3.2.2 Problemas de Complacência...................................................................73

3.2.3 Distração ou Fadiga ................................................................................74

3.2.4 Impaciência .............................................................................................75

3.2.5 Obstinação ou Não Cooperação .............................................................76

3.2.6 Irresponsabilidade e Conflito ...................................................................76

3.3 PROLBEMAS GERAIS ...............................................................................77

3.3.1 Mensagem não Enviada..........................................................................77

3.3.2 Mensagem Enviada mas não Recebida ..................................................77

3.3.3 Mensagem Enviada e Recebida, mas não Entendida .............................78

3.3.4 Mensagem Enviada, Recebida e Entendida mas Esquecida ..................78

3.4 EXEMPLOS NACIONAIS............................................................................79

3. AS SOLUÇÕES.............................................................................. 85

3.1 FRASEOLOGIA AERONÁUTICA................................................................86

3.1.1 O Surgimento da Fraseologia..................................................................86

3.1.2 Padronização em Foco............................................................................89

3.2 A ICAO E O “LEVEL 4” ..............................................................................95

3.3 NAVEGAÇÃO E COMUNICAÇÃO DO FUTURO (CNS/ATM) ....................98

3.4 TREINAMENTO E COMUNICAÇÃO ........................................................105

4. TREINAMENTO EM COMUNICAÇÃO ..........................................109

4.1 EMPRESAS CERTIFICADAS RBHA 121 E CENTROS DE TREINAMENTO

RBHA 142............................................................................................................109

4.2 O CENÁRIO..............................................................................................110

4.3 A PROPOSTA...........................................................................................111

4.4 O DESENVOLVIMENTO ..........................................................................112

4.4.1 Segmento de Currículo de Curso de Comunicação na Língua Inglesa e

Fraseologia ......................................................................................................112

4.4.2 Módulo de Treinamento Especial On-line..............................................113

4.4.3 Módulo de Treinamento Especial Presencial ........................................114

6. CONCLUSÃO..................................................................................117

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................120

REFERÊNCIAS...................................................................................123

GLOSSÁRIO .......................................................................................125

ANEXO A – Tabela de Código Morse..................................................126

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ANEXO B – Posição de Impacto em Tenerife .....................................127

ANEXO C – Memorando ao FAA.........................................................128

ANEXO D – Artigo sobre comunicação aeronáutica............................134

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1. INTRODUÇÃO

O trabalho desenvolvido aqui provem de um estudo de fatores lingüisticos e

cognitivos envolvendo análises de protocolos de comunicação ar-solo definidos em

manuais operacionais e atualmente utilizado por pilotos e controladores de vôo.

Este trabalho tem como foco as comunicações ar-solo e, mais especificamente, nos

problemas que surgem da utilização de comunicação por voz via rádio.

Os humanos demonstram uma preferência natural em utilizar voz como meio

de comunicação entre si ou com máquinas, já que é a forma de comunicação que as

pessoas acham mais conveniente. A complexidade e a flexibilidade da linguagem

natural são problemáticas, entretanto, devido às confusões e duplo significados que

surgem devido a problemas específicos da linguagem, tais como ambigüidade,

inferência, entonação e também peculiaridades da interação humana cara a cara

ou via rádio. Em particular, erros de vários tipos relacionados à comunicação

aeronáutica têm se mostrado como um fator crucial na contribuição de acidentes e

incidentes aeronáuticos. O acidente de Tenerife de 1977 está entre eles.

Considerado o maior acidente da história da aviação, teve como fator altamente

contribuinte para o evento falhas no processo comunicativo entre pilotos e

controlador.

Algumas soluções para estes problemas já estão em desenvolvimento e

implementação. A exigência de um exame de proficiência lingüistica para pilotos

está em efeito desde 2008 em alguns países e, no Brasil, desde maio de 2009. O

desenvolvimento do conceito de CNS/ATM e a implementação dos sistemas de

comunicação integrada CPDLC e ADS devem diminuir consideravelmente os

problemas de comunicação em área remota. A exigência do treinamento de CRM

para tripulantes de empresas aéreas aumenta consideravelmente a consciência

situacional dos pilotos relativa aos processos de comunicação interna e

externamente ao cockpit. A Publicação de manuais de radiotelefonia pelas

autoridades aeronáuticas de todo o mundo servem como referência importante para

o profissionalismo e eficiência do processo comunicativo. Porém, apesar da

existência de muitos documentos regalórios, não existe treinamento específico

previsto pelas autoridades aeronáuticas relativo a comunicação e fraseologia.

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Este trabalho levanta a hipótese de que existe um vácuo deixado pela

ausência de treinamento específico sobre o assunto da comunicação aeronáutica,

seus problemas e influências, para pilotos e controladores no mundo todo.

O objetivo desta obra é propor a criação de um plano de treinamento no

Brasil de comunicação e fraseologia para pilotos operando sob RBHA 121 com o

intuito de melhorar a proficiência em comunicações aeronáuticas de pilotos e

aumentar a segurança de vôo.

A justificativa para esta pesquisa é a observação de que os órgãos

reguladores não exigem nenhum tipo de treinamento específico ou teste de

proficiência para o uso da fraseologia, limitando-se apenas a disponibilizar

documentos de referência, como manuais de radiofonia e documentos regulatórios.

A metodologia empregada baseia-se em pesquisas bibliográficas, sites da

Internet e vasta utilização de relatórios de segurança de vôo existentes sobre o

assunto em questão.

Este trabalho está estruturado em seis capítulos. O primeiro capítulo faz um

breve relato da situação da comunicação aeronáutica e dos objetivos deste estudo.

O segundo trata da história da comunicação, das teorias e modelos levantados pelos

pesquisadores que se encaixa na padrão utilizado na aviação e dos fatores que

influenciam no processo comunicativo. O terceiro descreve detalhadamente os

diversos problemas que podem influenciar na comunicação aeronáutica,

principalmente na utilização da língua inglesa. No quarto capítulo as soluções para

os problemas de comunicação são analisadas e discutidas. Um modelo de

treinamento é proposto no quinto capítulo, onde a carga horária e a descrição dos

tópicos a serem ministrados são apresentados. No sexto capítulo concluímos que

uma regulamentação global mais específica aos problemas de comunicação e

fraseologia deve ser elaborada, afim de padronizar e aumentar a segurança de vôo

em âmbito mundial.

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2. A COMUNICAÇÃO

2.1 UMA BREVE HISTÓRIA DA COMUNICAÇÃO

Desde o início dos tempos, o homem procurou se comunicar com os seus

semelhantes. Com o passar dos séculos, o sistema de comunicação foi se

aprimorando de forma lenta, porém constante. Cada novo episódio na trama da

evolução dos sistemas de comunicação caracteriza-se pela utilização de novas

formas de comunicação, que transformam a sociedade na medida em que essas

formas surgem e se desenvolvem. Há centenas de milhares de anos o Homo

Sapiens iniciou a sua jornada através da história da comunicação utilizando-se das

expressões corporais e verbais na tentativa de se exteriorizar. Com o passar do

tempo, nossos ancestrais começaram a fazer gestos cada vez mais precisos e

emitiam sons que pouco a pouco iriam se tornando códigos significativos ou, como

definimos hoje, a linguagem propriamente dita. O canto e a dança lhes permitiam

exprimir sentimentos e transmitir emoções fazendo com que a única maneira de se

comunicar nessa época fosse de forma interpessoal.

Logo após o desenvolvimento dos sons e dos gestos e com o aparecimento

de núcleos sociais mais desenvolvidos, houve a necessidade de se deixar os

registros dos acontecimentos para as gerações posteriores. O primeiro passo foi o

de criar uma língua escrita. Ao juntar letras o homem criava palavras, ao juntar as

palavras o homem criava frases, transmitindo assim a sua história e as suas idéias

para os seus semelhantes e descendentes. Aos poucos o alfabeto, que variava de

língua para língua, foi desenvolvido. Mesmo os povos mais primitivos, que não

desenvolveram uma linguagem escrita, encontraram outros meios de comunicar

entre si enviando as suas mensagens como o uso de tambores ou sinal de fumaça.

O muro das cavernas repleto de pinturas dão origem às nossas primeiras

bibliotecas. A partir da invenção da escrita, as mensagens são confiadas ao papiro

ou ao pergaminho, vencendo, assim, tempo e distância. A escrita tornou possível o

que até então não existia: a criação de uma rede de informação.

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Foto 1 - Representação de caça com idade de 11.000 anos no Rio Grande do Norte.

Fonte: www.Google.com

A ampliação da rede de comunicação força, então, a criação de meios mais

eficientes de se enviar mensagens em menor tempo e em maior quantidade. A

criação da imprensa no século XV mudou de forma significativa o modo como a

sociedade utilizava as formas de comunicação. Embora os livros fossem ainda

restritos à uma pequena parte da sociedade, com o tempo o uso da imprensa se

popularizou, permitindo que a informação chegasse a várias camadas sociais até

então, sem acesso à informação.

Mas havia muitos problemas a serem solucionados. A comunicação ainda

não era instantânea e a mensagem podia levar meses ou anos até chegar ao

receptor quando o fato descrito na mensagem não fosse mais relevante.

A partir do século XIX, com o avanço no desenvolvimento da eletricidade, o homem

descobriu que podia enviar mensagens instantâneas inclusive para grandes

distancias. Nascia assim o telégrafo (em grego significa escrever à distancia) e,

junto com ele, o Código Morse, inventado por Samuel Morse (1791-1872), que

permitia a interação quase imediata entre o emissor e o receptor. Embora fosse um

avanço importante no sistema de comunicação, o uso do telégrafo era muito restrito

e o custo de sua implantação muito alto. Era mister desenvolver um sistema mais

prático e mais confiável para transmitir mensagens. Em 1984 Guglielmo Marconi

(1874-1937) inventa o rádio como um veículo que possibilita à mensagem a atingir

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uma multidão de anônimos. O rádio substituiu o telégrafo rapidamente pois era de

implementação relativamente barata e de custo operacional baixo. Sua eficácia é

tão alta que continua sendo usado como meio de comunicação primário em muitos

setores importantes da sociedade.

Foto 2 - Um antigo tipo de manipulador de telegrafia usado para ensino e treinamento de

operadores militares e civis.

Fonte: www.fazano.pro.br

Mas a comunicação interpessoal ainda estava restrita à mensagens escritas,

como ha centenas de anos atrás. Foi Alexander Graham Bell (1847-1922) que, em

1876, mudou a história das comunicações para sempre com a invenção do telefone.

Agora o cidadão comum também tinha acesso a um meio de comunicação de longa

distância de forma instantânea.

Com o avanço da tecnologia, as formas de comunicação continuaram as mesmas,

porém, mais eficientes. Os satélites retransmitem mensagens e comunicação por

todo o planeta. O telefone celular permite ao indivíduo se comunicar em qualquer

lugar e a qualquer hora. A Internet agregou à comunicação a informação, onde se

conduz a troca de grande quantidade de informação de forma instantânea. A

Internet surgiu como um componente do sistema de defesa desenvolvido pelos

Estados Unidos na época da Guerra Fria como o intuito de permitir que seus

computadores militares se comunicassem de forma instantânea e descentralizada,

mesmo se ocorresse um ataque nuclear em qualquer uma das centrais, os dados

estariam preservados. As universidades gostaram do modelo e desenvolveram o

que hoje conhecemos como sendo a Internet. Enquanto o rádio e o telefone

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permitiam somente a troca de informação de áudio entre indivíduos a Internet

possibilitou a troca de todo e qualquer tipo de formato de informação como filmes,

música, fotos, textos entre outros de forma instantânea e global. Não seria exagero

dizer que a Internet deu início à uma revolução cultural em escala global tornando o

mundo menor; é o ápice da jornada do desenvolvimento dos sistemas de

comunicação que começou com nossos ancestrais centenas de anos atrás.

Ilustração 1- Representação livre das conexões que formam a Internet.

Fonte: www.Google.com

Mas o meio aeronáutico não se rende facilmente às novidades. Por questões

relativas a segurança e a eficiência, os modelos utilizados pela aviação civil

necessita de um grau de confiabilidade muito alto. Os meios utilizados para

comunicação terra-ar ainda são os mesmos utilizados pelos pilotos da segunda

guerra mundial; as freqüências de rádio na faixa de VHF e HF. Embora já existam

novas tecnologias disponíveis para utilização nas comunicações aeronáuticas (de

fato, essas tecnologias já são utilizadas nas comunicações em terra há algum

tempo) o antigo meio de comunicação através da utilização da voz humana

propagada por ondas de rádio ainda são dominantes. Apesar de possuírem um alto

grau de confiabilidade, carregam consigo algumas características importantes

relacionadas à eficiência da comunicação propriamente dita, as quais abordaremos

neste estudo.

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2.2 A COMUNICAÇÃO E O MEIO AERONÁUTICO

2.2.1 Uma Visão Geral

O advento da aviação acompanhou o desenvolvimento tecnológico e

industrial do século XIX. Muito antes de Alberto Santos Dumont (1873–1932) ter

realizado seu bem sucedido vôo em Paris em 1906, vários estudos sobre aviação já

estavam sendo realizados em várias partes do mundo. A tecnologia utilizada no

desenvolvimento do telégrafo já estava bem avançada e o rádio, aos poucos,

seguiria substituindo o telégrafo como meio de comunicação.

Acompanhando a história do desenvolvimento humano, as tecnologias se

desenvolvem grandemente através das guerras, e, com a comunicação aeronáutica

não seria diferente. Balões de ar já eram usados com o propósito de realizar

observações da posição inimiga nos anos de 1790. Em 1900, o Conde Ferdinand

Von Zeppelin (1838-1917) aprimorou o projeto dos dirigíveis existentes tornando-os

mais eficientes e manobráveis. Os zepelins foram utilizados como postos de

observação, meio de transporte e algumas vezes como bombardeiros pela primeira

vez na Guerra Ítalo - Turca (1911-1912). Com a evolução do avião, esta função foi

sendo rapidamente transferida para as aeronaves dos corpos de aviação do

exercito, o embrião das futuras forças aéreas, na ocasião da Primeira Guerra

Mundial (1914-1918). A comunicação aeronáutica nessa época ainda era baseada

em um modelo arcaico de envio de sinais visuais. As aeronaves não possuíam

rádio ou qualquer equipamento de comunicação moderno na época. Não havia

troca de mensagens entre a aeronave em vôo e o pessoal de solo, apenas o envio

de informações básicas da aeronave para o solo através de pombos correio ou

sinais visuais. Após o pouso, a tripulação fornecia um relato detalhado daquilo que

se pretendia observar, como a posição das tropas inimigas, por exemplo e este era

enviado via telégrafo para o centro de comando.

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Foto 3– Dirigível utilizado como bombardeiro na Guerra Italo-Turca.

Fonte: www.Wikipedia.org

O primeiro sistema de controle de tráfego aéreo conhecido foi o do aeroporto

de Croydon em 1921, onde se utilizava um sistema de bandeiras coloridas para se

comunicar com os pilotos. Logo após a Primeira Guerra, a radiotelefonia passou a

ser largamente empregada na comunicação aérea, a qual já adotara algumas

técnicas originalmente usadas pela marinha como, por exemplo, o código de 3

letras, conhecido como código Q. Esse código foi originalmente desenvolvido em

1909 pelo governo britânico para facilitar a comunicação telegráfica entre os navios

britânicos e estações costeiras. Atualmente ainda são usadas nas comunicações

radio amadoras e mesmo aeronáuticas em alguns casos.

QRA Nome do Operador?

QRM Interferência de outra Estação?

QRN Interferência por estática atmosférica?

QNH Pressão atmosférica no nível do mar.

QRU Você tem algo para mim?

QDR Rumo magnético da estação.

Quadro 1– Exemplos de alguns códigos Q.

Fonte: Autores

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Com o fim da Primeira Guerra Mundial, houve uma disponibilidade de

aeronaves remanescentes do exército a disposição da sociedade civil. Logo foram

encontradas utilidades para elas criando-se o correio aéreo e, posteriormente, o

transporte transcontinental de passageiros.

Em 1926 a primeira regulamentação de tráfego aéreo foi estabelecida nos

Estados Unidos com o que foi chamado de “Air Commerce Act” ou o Ato do

Comércio Aéreo. Esta legislação autorizava à secretaria do comércio americana a

emitir certificados para pilotos, definir rotas, desenvolver sistemas de auxilio a

navegação aérea, entre outras funções.

No final da década de 1930, os equipamentos de rádio estavam bem

desenvolvidos operando em AM, em faixas de freqüências de 100 a 156 Mhz,

divididas em vários canais. Os transceptores para fins aeronáuticos eram bastante

compactos e providos de inovações como o circuito squelch destinado a suprimir o

ruído da falta da portadora.

Foto 4- Equipamento de rádio comunicação em aeronaves, 1939.

Fonte: www.fazano.pro.br

Na década de 1930 os equipamentos a bordo das aeronaves como o

horizonte artificial, o velocímetro e a bússola foram aperfeiçoados, aumentando a

eficiência dos vôos. Um dos avanços mais inovadores da época foi o

desenvolvimento do radio beacon, que podia orientar as aeronaves através de

ondas de rádio.

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Foto 5- Ilustração parcial do mecanismo de uma bússola giroscópica, mostrando o giroscópio,

usado em sistemas de navegação inercial.

Fonte: www.fazano.pro.br

Foto 6- Indicador de bordo com escala azimutal e a antena rotativa que era fixada na fuselagem

da aeronave.

Fonte: www.fazano.pro.br

Com o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) o avanço no

desenvolvimento das tecnologias de transmissão de ondas eletromagnéticas

propagadas pelo espaço ou simplesmente, o rádio, levou ao surgimento do radar.

Desenvolvido pelos britânicos da necessidade de se criar uma barreira de alerta

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contra os ataques aéreos alemães rapidamente foi empregado no uso do controle do

tráfego de aviões civis.

O excesso de aeronaves disponibilizados pelo fim da guerra e a grande

demanda de vôos pela sociedade levou as autoridades de vários países a se

preocuparem com o aumento do tráfego e com as diferenças de regras

experimentadas em várias regiões do planeta. Em 1944 o a Convenção sobre

Aviação Civil Internacional estabeleceu a criação da Organização de Aviação Civil

(ICAO), uma agência especializada das Nações Unidas incumbida de regular e

coordenar assuntos relacionados à aviação internacional, estabelecendo regras em

comum para espaços aéreos, aeronaves e pessoal. A aviação ficara assim mais

segura e padronizada.

Ilustração 2- “Radio Alinhamento, uma estrada invisível no céu” Figura explicativa da nova

tecnologia empregada na navegação aérea.

Fonte: www.fazano.pro.br

Na década de 1960 as aeronaves começaram a incorporar o transponder,

tornando o uso do radar pelos órgãos de controle do espaço aéreo mais eficiente e

os vôos mais seguros. A NASA lança em 1962 o primeiro satélite artificial comercial

de comunicação com órbita sincronizada, possibilitando de uma comunicação por

voz de boa qualidade entre grande distâncias devido a sua capacidade de ampliar

os sinais recebidos.

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Foto 7- Satélite Telstar 1 da AT&T. Foi o primeiro satélite comercial artificial de comunicações

lançado no mundo.

Fonte: www.google.com

Na década de 1970 o sistema de tráfego aéreo continua baseado em radares

para monitorar o tráfego aéreo e corredores (airways) para organizar este tráfego,

mas o sistema de troca de informações no solo se tornara altamente

computadorizado aumentando a eficiência do controle de tráfego aéreo. O início do

século XXI foi marcado pelo aumento do uso de satélites para fins de navegação, o

GPS, tornando a navegação aérea mais precisa e eficiente e pelo aumento

exponencial do tráfego aéreo, tornando urgente o desenvolvimento dos sistemas de

comunicação entre pilotos e controladores. Embora os pilotos possuam meios

modernos para se comunicar com suas respectivas companhias aéreas através de

satélites (SATCOM) os meios de comunicação piloto-controlador não

acompanharam este desenvolvimento, utilizando ainda os mesmos equipamentos de

VHF e HF que eram utilizados na época da Segunda Guerra Mundial.

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2.2.2 Sistemas Atuais de Comunicação em Aviação

2.2.2.1 Transmissão em HF (faixa de 3Mhz a 30Mhz)

Com comprimento de ondas muito longas (dezenas de metros), o mecanismo

de propagação das ondas nesta faixa se dá esfericamente no espaço, propiciando à

transmissão em HF um alcance ilimitado. Isso ocorre porque parte das ondas se

propagam pela superfície da terra e parte reflete na ionosfera, retornando à terra.

Este sinal poderá refletir na superfície da terra e retornar a atmosfera onde refletirá

de volta a terra, alcançando grandes distâncias. Entretanto, o espelho natural, que

é a Ionosfera, não é muito estável. Quando há perturbações intensas no sol o efeito

de reflexão é anulado, e as comunicações não funcionam a longa distância. Ao se

ouvir uma transmissão em HF, verifica-se que o som não é estável. Esta

instabilidade é provocada por variações ionosféricas ou variações no trajeto da

propagação. O uso de SSB em HF esta sendo abandonado devido ao aparecimento

de sistemas que operam via satélite (FANS), em principio mais confiáveis, pois as

condições de propagação em HF são muito variáveis.

A maior vantagem deste sistema é que permite comunicação a longa

distância diretamente com a aeronave sem depender de terceiros. Com apenas

100w de potência é possível atingir o mundo inteiro na faixa de HF. Sua maior

desvantagem é o meio de transmissão ser instável e não garantir uma comunicação

eficiente a qualquer hora, obrigando cada estação a alocar freqüências diferentes

para horários diferentes do dia e da noite. Ainda é o meio utilizado para aeronaves e

órgãos de controle se comunicarem em áreas remotas e oceânicas

2.2.2.2 Transmissões em VHF (faixa de 118Mhz a 136,98Mhz)

Na faixa de freqüências de VHF só é utilizada a propagação terrestre ou

aquela que ocorre na linha de visada. A ionosfera é transparente a estas

freqüências, isto é, não as refletem de volta à terra e o sinais seguem para o

espaço. Com isto o alcance da transmissão é limitado a aproximadamente 200

quilômetros e depende diretamente da altitude da aeronave.

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Na faixa de VHF utilizada em aviação existe uma deficiência técnica devido a

antiga tecnologia de modulação AM utilizada, que não permite filtragem de ruídos

adquiridos durante a transmissão (ruído térmico, descargas elétricas, ruído cósmico,

ruído gerado no próprio receptor e interferências que podem ser geradas por vários

tipos de equipamentos elétricos). Se o ruído na entrada do receptor for maior que o

sinal que se quer captar a comunicação se torna ininteligível.

A maior vantagem desta faixa de freqüência é a qualidade da recepção que é

melhor que a do HF, dentro de certas condições. A desvantagem está na

modulação AM, onde não se consegue eliminar as interferências e ruídos na

recepção. O alcance também fica limitado, necessitando de repetidoras para se

atingir longas distâncias e não pode haver obstáculos entre a aeronave e a estação.

A faixa de freqüência está “imprensada” entre a faixa comercial de FM e a faixa de

serviços de VHF (radioamador, policia, serviços particulares, estações marítimas),

onde surgem muitas interferências devido a transmissões piratas.

2.2.2.3 Transmissão via Satélite (faixa de 4 Ghz a 6Ghz)

Com o lançamento dos satélites de comunicações, houve um grande avanço

nesta área, pois com os satélites operando na faixa de microondas, temos poucas

interferências externas e as portadoras podem levar grande quantidades de canais

digitalizados. Os satélites funcionam basicamente como repetidores, regenerando o

sinal recebido e os retransmitindo de volta a terra para a área desejada. As

dificuldades desta tecnologia são os altos custos de lançamento de satélites e sua

operação, pois devido a atração da gravidade, os satélites tem a tendência a sair da

órbita pré programada, tendo as estações de monitoramento e controle terem que

fazer correções constantes que gastam combustível o que define sua vida útil no

espaço.

Temos neste segmento os satélites geo-estacionários que orbitam a cerca de

36.000km de altura da superfície da terra. Devido a sua velocidade angular ser a

mesma da rotação da terra ele permanece estacionário sobre um ponto fixo na terra.

A vantagem deste tipo de satélite é que são necessários menos satélites no espaço

para cobrir toda a superfície da terra. Entretanto, devido a longa distância que

permanecem em órbita da terra, a potência de transmissão dos satélites e dos

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equipamentos de terra devem ser mais altas e o retardo no sinal de voz devido ao

tempo de propagação (72.000km) é um incômodo. Estes defeitos são corrigidos

com “canceladores de eco”.

Os Satélites de baixa órbita, que se mantém a partir de 300km de altura, são

aqueles que circulam a terra em períodos regulares. Como vantagem necessitam de

baixa potência de transmissão nos equipamentos dos satélites e de terra, e verifica-

se ausência de ecos para o sinal de voz. Porém, para cobrir toda a terra é

necessário uma grande quantidade de satélites. Como regra, quanto menor a altura

orbital, maior deve ser o numero de satélites a serem lançados pois menos área eles

irão cobrir.

2.2.2.4 O Conceito de CNS/ATM

Preocupada com a falta de avanço no sistema de comunicação aeronáutico, a

ICAO estabeleceu um comitê em 1983 para tratar do FANS. A proposta era a de se

estudar a viabilidade de se criar um sistema que integrasse os sistemas de

navegação, vigilância e controle de tráfego aéreo em um só sistema com o intuito

de se utilizar as novas tecnologias disponíveis e melhorar a eficiência do sistema de

tráfego aéreo a ser implantado a partir de 2000.

A partir disso surge o conceito de CNS/ATM (Communication, Navigation,

Surveillance / Air Traffic Management (Comunicação, Navegação e Vigilância /

Gerenciamento de Tráfego Aéreo), onde se encontra os avanços das transmissões

aeronáuticas.

O grande avanço está na comunicação via satélite, que consiste em uma

constelação de satélites de cobertura global que permitirão uma comunicação de

dados e voz em qualquer lugar, além de permitir a exploração de outros serviços a

bordo, como TV a cabo, telefonia e Internet.

Os novos sistemas de comunicações estão baseados na comunicação de

dados, que consiste na interligação entre os computadores das aeronaves

diretamente com os sistemas de controle de tráfego aéreo e centro operacional das

empresas através de sistemas automáticos. Estes podem informar a posição da

aeronave, velocidade, direção, horário estimado de passagem nos vários pontos da

rota, assim como o estimado de pouso e outros dados necessários ao controle de

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tráfego ou à coordenação de vôos da empresa. O caminho também pode ser

inverso, com o controle mandando instruções à aeronave, informações

meteorológicas atualizadas, etc.

Com isto o VHF e HF, que são as formas de comunicações atuais vão

desaparecer. Com os sistemas da aeronave se comunicando diretamente com os

computadores do controle de tráfego aéreo, o canal de transmissão de voz servirá

somente como sistema de contingência em caso de falha na transmissão de dados

ou como emergência. A comunicação via rádio entre pilotos e controladores deixará

de ser fundamental para o gerenciamento do trafego aéreo.

A maior vantagem do sistema é a melhor confiabilidade das informações que

chegam ao comandante através de telas, precisão das informações que são geradas

por diversos sistemas e tratadas por programas especialistas e menor risco de perda

de comunicação.

Entretanto, o custo de upgrade é alto para aeronaves antigas equipadas com

sistemas analógicos. Como em aviação nada pode mudar de uma hora para outra,

deverá se conviver com os 2 sistemas (analógicos e digitais) por longo tempo. A

implementação em escala global do sistema está prevista para além de 2020.

Hoje para haver gerenciamento de tráfego aéreo tem que haver uma

comunicação bilateral entre o comandante e o controlador.

Veremos nos próximos anos lentamente a transição entre a aviação analógica

e a aviação digital, onde o pesadelo do controle de operações atual de fazer voar o

maior numero de aeronaves de capacidades e velocidades diferentes no mesmo

espaço com segurança, poderá ser finalmente resolvida.

Com a tendência cada vez mais evidente da infra-estrutura de

telecomunicações se transformar em uma rede única mundial, com alto grau de

sofisticação e inteligência, os terminais tornam-se cada vez menores e mais baratos

e com melhor confiabilidade, onde se poderá ter acesso a serviços de voz, dados e

imagens. Do ponto de vista de acesso sem fio coexistirão as coberturas via radio

terrestre e as coberturas via satélite (de baixa, intermediária e alta órbita).

O avanço das telecomunicações digitais cresce muito rápido, mas em aviação

as mudanças rápidas não são bem vindas. Tudo que equipa uma aeronave tem que

ser testado a exaustão e sua confiabilidade deve seguir altos padrões de segurança.

Normalmente esta fase segue um longo caminho e, com isto, quando a tecnologia é

aprovada para o uso aeronáutico já existe uma nova tecnologia bem mais avançada

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em funcionamento. Por este motivo, o rádio ainda será amplamente utilizado por

muitos anos. Suas características tornam necessário entender como o processo

comunicativo entre piloto e controlador acontece e quais são suas deficiências.

2.3 TEORIAS DA COMUNICAÇÃO

Antes de analisar a comunicação no meio aeronáutico, é importante que

observar o que significa a expressão “se comunicar”. Segundo a Britannica World

Language Standard Dictionary (1966, p. 265): “Communication1: the act of

communicating; intercourse; exchange of ideas, conveyance of information, etc…” e

“Communicate2: To make another or others partakers of; transmit (…) an idea.”

Segundo o Mini Dicionário Aurélio (2002, p. 170): “Comunicação: Processo de

emissão, transmissão e recepção de mensagens por meio de métodos e/ou

sistemas convencionados” e “Comunicar: Travar ou manter entendimento.”

De acordo com Joseph Rifkind, (1996, p. 13) a comunicação é definida como

sendo “um processo dinâmico e irreversível pelo qual nos engajamos e

interpretamos mensagens em um dado um contexto ou situação, e revela a natureza

da dinâmica dos relacionamentos e das organizações..”

A comunicação está presente em todos os atos lingüísticos, como em uma

conversa ao telefone, em um chat na Internet ou, citando uma área mais específica

ao nosso estudo, uma conversa via radio, ou radiofônica como a trataremos daqui

por diante. A situação de comunicação baseia-se na troca de mensagens de um

ponto para outro, na condição da mensagem estar devidamente codificada. A

codificação da mensagem refere-se à organização dos termos que a compõem num

sistema lógico de signos reconhecíveis (decodificáveis) por um grupo de falantes. A

codificação da mensagem na comunicação lingüística é um processo convencional

que se preestabelece entre os falantes de uma língua. A evolução dos modelos

propostos para montar um esquema representativo das etapas da comunicação

mostra como a visão do sistema de comunicação esta diretamente relacionado com

os avanços sociais e tecnológicos. Analisaremos os três modelos de comunicação

em que se basearam este estudo:

1 Comunicação: O ato de se comunicar; interagir; troca de idéias; transporte de informação, etc. 2 Comunicar: Tornar o outro ou outros participantes de; transmitir (...) uma idéia.

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2.3.1 Esquema Linear de Comunicação de Lasswell

Harold Lasswell (1902-1978), um cientista político, foi o pioneiro, afirmando que

descrever um ato comunicativo consiste em responder às questões: Quem? Diz o

quê? Através de que meio? A quem? Com que efeito?. Ele formalizou uma

estrutura, que abriu as portas para a análise parcelar de cada um dos elementos da

comunicação, em resposta ao crescimento de novos meios de comunicação como

imprensa, telégrafo e rádio. Essa visão, porém, isola o papel do emissor e do

receptor, independentemente das condições sociais, culturais ou cognitivas em que

se realiza o ato comunicativo como visto na figura 2.3.1. Para que a comunicação

funcione de forma eficaz segundo o modelo de Lasswell, basta que ambos, emissor

e receptor, conheçam o código utilizado no processo.

Quadro 2 - Representação do Esquema Linear de Comunicação de Lasswell.

Fonte: Silva, Bento. Educação eComunicação, 1998

2.3.2 Teoria Matemática da Comunicação de Shannon e Weaver

Os norte-americanos, Claude Shannon (1919-2001) e Warren Weaver (1894-

1978), publicaram em 1949 um modelo de comunicação intitulado “Teoria

Matemática da Comunicação” que tem como objetivo medir a quantidade de

informação contida numa mensagem e a capacidade de informação de um dado

canal, quer a comunicação se efetua entre duas máquinas, dois seres humanos ou

entre uma máquina e um ser humano.

Com estes autores, aparece um novo elemento no esquema da comunicação:

o ruído. O ruído é algo que é acrescentado ao sinal, entre a sua transmissão e a sua

QUEM DIZ O QUÊ ATRAVÉS DE QUE MEIO A QUEM COM QUE EFEITO

EMISSOR

MENSSAGEM

MEDIUM

RECEPTOR

IMPACTO

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recepção e que não é pretendido pela fonte. Esse modelo considera a existência de

um elemento alheio ao processo de comunicação que interfere na mensagem,

permitindo o entendimento da necessidade de se escolher o meio mais adequado de

transmissão de mensagens, ou seja, com menor ruído possível. Do lado do emissor

há um processo de codificação e do lado do receptor há a decodificação. Entre a

mensagem enviada e a recebida há um hiato, em que diversos ruídos podem

aparecer, afetando a qualidade da mensagem.

Assim, a comunicação não estará completa enquanto o receptor não tiver

interpretado (percebido) a mensagem. Se o ruído for demasiadamente forte em

relação ao sinal, a mensagem não chegará ao seu destino, ou chegará distorcida.

Para solucionar esse problema Shannon e Weaver introduziram o conceito de

feedback ou retroalimentação, que consiste no conjunto de sinais perceptíveis que

permitem conhecer o resultado da mensagem; é o processo de fazer perguntas e

obter as respostas, a fim de verificar se a mensagem foi recebida ou não, como

representado no Quadro 2.3.3.

Quadro 3 - Representação da Teoria Matemática da Comunicação de Shannon e Weaver.

Fonte: Silva, Bento. Educação eComunicação, 1998

FONTE DE INFORMAÇÃO

TRANSMISSOR CANAL RECEPTOR DESTINO

MENSAGEM SINAL

FONTE DE RUÍDO

MENSAGEM SINAL

FEEDBACK

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2.3.3 Esquema de Comunicação de Osgood e Schramm

Charles Osgood (1916-1991) e Wilbur Schramm (197-1987) propõem que é

necessária a existência de vivências comuns entre os participantes do ato

comunicativo para haver eficiência no entendimento da mensagem. Eles

pressupõem que a mensagem não possui uma “vida própria”, separada tanto do

emissor como do (SCHRAMM, 1963, p9):

“A antiga idéia de transferir um pacote de fatos de uma mente para

outra não é mais uma maneira satisfatória de pensar sobre a comunicação

humana. É mais útil pensar em uma ou mais pessoas próximas ou de outros

grupos se dirigindo para um determinado pedaço da informação, cada um

com suas próprias necessidades e intenções, cada um compreendendo e

utilizando a informação à sua maneira.

A comunicação é, portanto, baseado em um relacionamento. Essa

relação pode existir entre duas pessoas, ou entre uma pessoa e muitas.

A essência dessa relação é estar ‘em sintonia’ uns com os outros,

concentrando-se na mesma informação. Este elemento central do

relacionamento com a comunicação é normalmente embutido em

determinadas relações sociais que contribuem para o uso e a interpretação

da informação.”

Ou seja, Osgood e Schramm nos dizem que a mensagem enviada pelo

emissor será sempre diferente daquela recebida pelo receptor, devido a fatores

culturais, sociais e psicológicos que poderão ser diferentes para cada indivíduo

(SCHRAMM, 1963, p9):

“Além disso, muito provavelmente o significado nunca é Interpretado

da mesma forma por quaisquer dos receptores, ou ainda pelo remetente e o

receptor. A mensagem é apenas um conjunto de sinais destinados a evocar

determinados respostas culturais aprendidas, sendo entendido que as

respostas serão fortemente afetadas pela experiência cultural, a maquiagem

psicológica e a situação de qualquer receptor.”

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Quadro 4 - Representação do Esquema de Comunicação de Osgood e Schramm.

Fonte: Silva, Bento. Educação e Comunicação, 1998

Existem vários outros modelos de sistema de comunicação dirigidos

principalmente para a área pedagógica que, apesar de importantes, não são

necessários ao desenvolvimento deste estudo. Pode-se estabelecer uma

comparação entre os modelos apresentados e a forma como a comunicação

radiofônica se estabelece.

Descrevendo de forma simples uma transmissão via rádio, quando o emissor

da mensagem (o controlador de vôo por exemplo, para nos atermos ao assunto

deste estudo) utilizando um transmissor (microfone e amplificador de som do

equipamento de rádio), converte a mensagem em sinais físicos, que através de um

canal (ondas hertzianas ou a freqüência do rádio) chegam ao aparelho receptor que

as converterá em sinais audíveis que o destinatário descodificará de acordo com um

código que conhece (fraseologia aeronáutica).

Essa seria adaptação de uma comunicação radiofônica à representação do

Esquema Linear de Lasswell: O controlador emite uma mensagem para um piloto

utilizando-se do seu equipamento de rádio. O piloto, por sua vez, recebe a

mensagem pelo rádio da aeronave. Ambos conhecem o código que está sendo

utilizado e a comunicação se estabelece de forma eficaz. Novamente é importante

ressaltar que o conhecimento desse código é essencial para que a comunicação se

estabeleça com êxito. Caso o piloto desconheça o significado implícito nos termos

utilizados na fraseologia aeronáutica padrão, por exemplo, dificilmente poderá

atender as expectativas do controlador de vôo.

CAMPO DE EXPERIÊNCIA CAMPO DE EXPERIÊNCIA

SINAL FONTE

DESTINO Codificador Decodificador

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A Teoria Matemática da Comunicação de Shannon e Weaver prevê que o

processo de comunicação descrito acima não seria necessariamente eficaz apenas

se considerarmos que ambos, controlador e piloto, conheçam o código que está

sendo utilizado. Entre eles há o ruído, que pode comprometer a qualidade da

mensagem ou mesmo impedir que ela chegue ao receptor.

Considerando o exemplo anterior, uma comunicação entre um controlador de

vôo e um piloto que conheçam perfeitamente os termos da fraseologia aeronáutica

pode ser prejudicada pela distância entre seus equipamentos de rádio, gerando um

sinal muito fraco, ou pela interferência de fontes alheias ao processo como por

exemplo uma estação de rádio não certificada transmitindo próximo da freqüência

utilizada pelo controlador ou mesmo dois pilotos transmitindo ao mesmo tempo na

mesma freqüência e se bloqueando mutuamente. Embora ambos, transmissor e

receptor, conheçam o código da mensagem, esta poderá não ser compreendida

devido a existência de ruído na transmissão da mensagem. Para minimizar a

possibilidade de erros causados por ruídos que possam comprometer o correto

entendimento do significado da mensagem, se incluiu o processo de feedback no

sistema. No processo de comunicação aeronáutico, esse mecanismo de controle

advém da obrigação do piloto em cotejar ou repetir determinadas informações que

são consideradas essenciais à segurança de vôo, a fim de garantir ao controlador

que o significado da mensagem foi corretamente compreendido pelo piloto. (DOC

4444, 2005):

“4.5.7.5.1 A tripulação piloto deverá repetir (cotejar) partes relacionadas asegurança de vôo da autorização ATC e instruções recebidas por voz. Os seguintes itens devem sempre ser cotejados ao órgão ATC:

a) autorização de rota ATC: b) autorizações e instruções para entrar, pousar, cruzar o decolar qualquer pista, e c) pista em uso, ajuste de altímetro, código SSR, instruções de altitude, proa e velocidade.

Há outros fatores, exteriores ao processo de comunicação, que podem

interferir no correto entendimento do significado da mensagem transmitida: Os

Fatores Cognitivos e os Fatores Sociais.

Aplicando o modelo de Osgood e Schramm no exemplo acima, o controlador

de vôo e o piloto terão de administrar, além do problema do conhecimento e

interpretação dos códigos (fraseologia) e da necessidade de eliminar ou diminuir os

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39

ruídos (interferência), a influência dos diferentes Fatores Cognitivos e Sociais

presentes em ambos. Em uma situação hipotética um piloto que tem receio em

declarar uma situação de emergência (Fator Social) falha em transmitir claramente

ao controlador a natureza do problema que está ocorrendo no vôo. Porém acredita

que se comunicou corretamente ao informar de forma vaga a situação em que se

encontra (Fator Cognitivo). Nesse exemplo, o controlador fica impedido de fornecer

a ajuda necessária por não ter recebido uma informação clara e precisa sobre a

situação de emergência em que o piloto se encontrava.

Os Fatores Sociais e Cognitivos são elementos difíceis de controlar e avaliar

no meio aeronáutico, já que variam de indivíduo para indivíduo, no tempo. Além

disso, a qualidade da comunicação é bastante comprometida pela falta de interação

visual entre o emissor e receptor. O contato visual se constitui um elemento de

grande ajuda na avaliação imediata da condição social e psicológica do indivíduo

com quem queremos nos comunicar.

Steven Cushing sintetiza quais os elementos que compõe os Fatores

Cognitivos e Fatores Sociais (CUSHING,1994, p. 2):

“Fatores cognitivos individuais são aspectos da comunicação que

tem haver com o estado mental interno ou da interação entre dois ou mais

interlocutores ou ouvintes. Este inclui aspectos específicos dos modelos

mentais do mundo ou de situações específicas, preferencias individuais de

como ‘ler o mundo’, assumindo valores ou expectativas baseado em crenças

individuais. O Fator Social inclui convenções, definição de padronização,

protocolos e regulamentações oficiais, fatores culturais e sociais, noções

oficiais de hierarquia e autoridade ou comando.”

Cushing alerta que qualquer tentativa de analisar um fator sem considerar o

outro pode ter conseqüências negativas à eficiência do sistema de comunicação e,

por conseguinte, a segurança de vôo (CUSHING,1994, p. 2 e 3):

“...em geral, teorias do fenômeno cognitivo individual devem se

basear em parâmetros cujos valores foram definidos por interações sociais e

teorias de fenômenos de interatividade social devem se basear em

parâmetros cujo valores foram definidos pela particularidade cognitiva

individual da mente que participa desses fenômenos. A comunicação

aeronáutica tipicamente envolve uma interação complexa de ambos os

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fatores. Se esses fatores não interagem da maneira que deveriam, o

resultado pode ser desastroso.”

Analisando os modelos apresentados, concluímos que a comunicação efetiva

somente ocorre quando o receptor decodifica a mensagem conforme o emissor

planejou. Uma quebra no processo de comunicação pode ocorrer se a mensagem

não foi codificada ou decodificada de forma adequada seja por falta de

conhecimento do código pelos participantes do ato comunicativo, seja pela

existência de ruído no canal de comunicação ou pela influência de fatores cognitivos

ou sociais envolvidos no processo.

Devido a particularidade da comunicação aeronáutica, os elementos que

influenciam no correto entendimento do significado das mensagens trocadas entre

emissor e receptor precisam ser identificados e corrigidos afim de diminuir suas

influências negativas na segurança de vôo. É mostrado na Tabela 2.3.1 alguns

fatores que podem contribuir para um mal entendimento da mensagem aeronáutica

em uma comunicação radiofônica , de acordo com os modelos apresentados.

Quadro 5 - Elementos que influenciam na comunicação aeronáutica.

Fonte: Autores

Na Figura 2.3.5 combinamos graficamente os três modelos estudados

formando um esquema completo e abrangente que mostra, em conjunto, os

elementos e influências que atuam no processo de comunicação. Podemos

observar através deste esquema representativo que o a mensagem pode sofrer

várias influências e interferências no seu caminho até o receptor, comprometendo o

significado inicial que o emissor pretendia passar ao receptor.

LASSWELL SHANOM SCHRAMM

Código Ruído Fator cognitivo Fator Social

Código Morse Interferência Valores Pessoais Convenções

Código Q Qualidade do sinal Expectativas Protocolos

Fraseologia Sobremodulação Aspecto Intelectual Regras

Língua Inglesa Aspecto Emocional Hierarquias

Regulamento Fadiga e estresse Credibilidade

Distração

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41

Quadro 6 - Síntese dos Modelos de Comunicação discutidos.

Fonte: Language error in aviation maintenance, FAA, 2005

O meio aeronáutico não está imune à essas influências e interferências.

Longe disso, a comunicação radiofônica é um meio propício a apresentar graves

erros de comunicação caso não haja um controle rígido envolvendo todo o processo

comunicativo. Vários instrumentos já foram criados com o intuito de minimizar os

efeitos negativos dos elementos descritos no Quadro 2.3.1 como a criação de uma

fraseologia aeronáutica específica e a necessidade de cotejamento de determinadas

mensagens consideradas essenciais à segurança. Porém, por que falhas na

comunicação ainda existem e continuam sendo fatores contribuintes e até

determinantes em incidentes e acidentes aéreos em todo o mundo, mesmo com o

avanço tecnológico no setor de Comunicações e Navegação?

Filtro e Perda

Ruído e Interferência

Significado

Codificação

Glossário

Fatores Cognitivos e Sociais

Conteúdo

Decodificasão

Significado Percebido

Fatores Cognitivos e Sociais

Glossário

EMISSOR RECEPTOR

MENSAGEM

MENSAGEM

CANAL

MEIO

FEEDBACK

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42

2.4 OS ERROS NA COMUNICAÇÃO E OS ACIDENTES AÉREOS

Com o avanço tecnológico da indústria aeronáutica as aeronaves se tornaram

mais velozes e complexas, transportando mais passageiros e congestionando as

rotas de ligação dos grandes aeroportos ao redor do mundo. Apesar da tecnologia

empregada no sistema de comunicação entre as estações de controle no solo, o

modelo de comunicação usado entre controladores e pilotos ainda é antigo e sujeito

à influência negativa dos vários elementos descritos nos modelos aqui estudados.

O fator comunicação está presente em 33% dos acidentes durante as fases de

aproximação e pouso como mostrado no quadro 7. Estudos da NASA baseados no

banco de dados do ASRS identifica a comunicação incorreta como responsável

por 80% das ocorrências relacionadas a incidentes de comunicação, 33% devido a

falta de comunicação e 12% devido a comunicação correta porém atrasada. A

pesquisa também revela que em 45% do tempo os interlocutores ouvem, em 30%

falam e em 25% estão escrevendo ou lendo.

FATORES INFLUENTES EM ACIDENTES % de Eventos

Tomada de decisão Inadequada 74%

Omissão de ação ou ação não apropriada 72%

Não observância de critérios de Aproximação Estabilizada 66%

Coordenação de cabine inadequada 63%

Consciência situacional horizontal e vertical insuficiente 52%

Insuficiente entendimento das condições presentes 48%

Ação lenta ou retardada 45%

Dificuldade de manobrar a aeronave 45%

Desobediência deliberada aos procedimentos 40%

Treinamento inadequado 37%

Comunicação Piloto - Controlador Incompleta ou incorreta 33%

Interação com o automatismo 20%

Quadro 7- Fatores causais de acidentes em aproximação e pouso.

Fonte: Flight Safety Foundation – Flight Safety Digest Vol 17 e 18, 1998.

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43

O elemento que mais contribui para os acidente aeronáutico ainda hoje é o

Erro Humano ou, tecnicamente, o Fator Humano. Cerca de 60 % dos acidentes

ocorridos com aeronaves de transporte aéreo regular foram causados por falha

humana tais como erros de julgamento, imprudência, imperícia entre outros como

mostra o gráfico 1.

3,5%5,6% 4,6%

3,8% 4,9% 4,7%7,0%

14,1%15,6%

13,7%

64,4%

58,1%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

80,0%

Manutenção

Meteorologia

Aeroportos/ATC

Outros

Aeronave

Fator Humano

Fatores Primários como causa de AcidentesAviação Comercial - Frota Mundial

Total

1985 a 1994

Gráfico 1- Fatores que influenciam os acidentes aéreos entre o período de 1959 a 1994.

Fonte: Boeing Commercial Airplane Group

A fase do vôo também influi nas porcentagens de acidentes e incidentes

aeronáuticos. Através da Ilustração 3 verifica-se que a fase que consome a maior

parte do vôo é a de cruzeiro, mas, esta é responsável somente por 9% dos

acidentes fatais registrados enquanto que na fase de aproximação e pouso observa-

se 33% de ocorrências para uma fase que corresponde a apenas 4% do vôo. O

segundo maior índice de ocorrências ocorre nas fases de decolagem e subida inicial

(até cerca de 1500 ft) com um índice de 19%.

Analisando esses dados concluímos que pousos e decolagens apresentam

maiores riscos á segurança do vôo e, consequentemente, estão mais suscetíveis a

influência de erros humanos. Esses erros tendem a se concentrar nestas fases

devido a vários motivos como, por exemplo, as manobras de pousos e decolagens

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aumentarem a carga de trabalho de pilotos e controladores, o vôo estar próximo ao

solo e a outras aeronaves, o tempo disponível para receber e processar informações

ser menor e a quantidade de informações trocadas entre piloto e controlador ser

maior e, geralmente, mais críticas.

Ilustração 3 - Representação estatística da relação entre as fases de vôo e a ocorrência de

acidentes fatais (Dados da Frota Mundial de jatos comerciais entre 1998 e 2007).

Fonte: Boeing Statistical 2007 Summary

É comum a Opinião Pública considerar relevante somente acidentes aéreos

que envolvam aeronaves de empresas de transporte aéreo regular. Porem,

acidentes e incidentes envolvendo aeronaves da aviação geral também são

importantes para este estudo, haja vista que esse setor é a fonte de grande parte

dos pilotos profissionais que chegam na linha aérea. Alguns dados mostram como

são expressivas as ocorrências envolvendo a aviação geral em problemas de

comunicação. O Gráfico 2 mostra que essas ocorrências tendem a acontecer em

maior quantidade no espaço aéreo Classe D, que corresponde a área em redor do

aeródromo onde se concentram as manobras de pousos e decolagens. Esse dado

pode ser comparado com os dados dos Gráfico 3 e 4, onde se observa que o maior

índice de ocorrências acontece em um raio de até cinco milhas náuticas do

aeródromo e na superfície. De fato, mais da metade dos acidentes envolvendo

aeronaves da aviação geral aconteceram dentro de dez milhas náuticas e abaixo de

1000 pés de altitude.

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Problemas de Comunicação na Aviação GeralClasse do Espaço Aéreo

3%

8%

11%

13%18%

47%Other

C

B

G

E

D

Gráfico 2 - Porcentagem de incidência de erros de comunicação na Aviação Geral por classe

do espaço aéreo.

Fonte: ASRS NASA (Pub. 57)

Problemas de Comunicação na Aviação GeralDistância do Aeródromo - NM

11%

7%

40%18%

24%

at location

1 a 5

6 a 10

11 a 100

unknown

Gráfico 3 - Porcentagem de incidência de erros de comunicação na Aviação Geral por

distância do aeródromo.

Fonte: ASRS NASA (Pub. 57)

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46

1%

2%

1%

2%

2%

4%

4%

7%

17%

62%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%

on surface

1 a 300

301 a 600

601 a 900

901 a 1200

1201 a 1500

1501 a 1800

1801 a 2100

2101 a 2700

5000

Problemas de Comunicação na Aviação Geral Altitude das ocorrências (Ft - AGL)

Gráfico 4 - Porcentagem de incidência de erros de comunicação na Aviação Geral por altitude.

Fonte: ASRS NASA (Pub. 57)

Os Gráficos 3 e 4 mostram ainda que um grande número de ocorrências

aconteceu exatamente dentro dos limites do aeródromo. Isso ocorre devido ao

problema de “runway incursion3” que, freqüentemente, é motivado por erro de

comunicação entre piloto e controlador associado a perda de consciência situacional

de ambos.

Estes dados mostram que um acidente aeronáutico é mais propenso de

ocorrer quando a aeronave está próxima ao aeródromo nos procedimentos de pouso

ou decolagem, onde o volume de informação trocada pelo piloto e o controlador é

alto, as mudanças de direção e altitudes são constantes e a carga de trabalho

aumentada. Nesta fase, qualquer dos fatores mencionados pode influenciar

decisivamente na segurança de vôo como uma informação mal interpretada (Fator

Código), uma mensagem sobremodulada (Fator Ruído) ou um problema pessoal do

3 Runway incursion: Ocorrência em um aeródromo envolvendo a presença não autorizada de uma aeronave ou veículo dentro da área protegida da superfície designada para procedimentos de pousos e decolagens (pista).

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piloto ou controlador (Fator Cognitivo). Pode parecer uma situação muito difícil de

acontecer, porém, os fatos mostram que os problemas relacionados ao erro nas

comunicações é mais comum do que poderia se esperar.

O maior acidente da história da aviação teve suas causas relacionadas

diretamente com erros graves no processo de comunicação entre pilotos e

controlador, perda de consciência situacional e condições meteorológicas

desfavoráveis.

2.4.1 O Desastre de Tenerife

Ao meio dia e trinta minutos do dia 27 de março de 1977 uma bomba explodiu

no terminal de passageiros do Aeroporto de Gran Canária em Las Palmas. Um

grande número de vôos teve que alternar seu pouso para o Aeroporto de Los

Rodeos, Tenerife, entre eles os vôos da KLM número 4805 e da PANAM número

1736. Las Palmas reabriu para pousos e decolagens às 15:00 horas GMT.

As condições meteorológicas em Los Rodeos era de baixa visibilidade devido

a chuvisco e bancos de nevoeiro, conforme reporte meteorológico das 17:03 horas

para a pista 30 (CIAIAC A-102/1977 e A-103/1977): “Visibilidade en pista: 300m;

Tiempo presente: Llovizna y niebla en bancos.”

Devido aos passageiros do vôo da PANAM terem permanecido a bordo

foi possível decolar imediatamente para Las Palmas significando pouco atraso no

vôo. Embora fosse decolar primeiro, o vôo da KLM teve de aguardar quase 2 horas

para re-embarcar os passageiros e reabastecer e por isso estava mais atrasado que

o vôo da PANAM.

A pista de taxi que dava acesso à pista de pouso estava bloqueada por

aeronaves estacionada no pátio do aeroporto que não possuía espaço suficiente

para acomodar todas os vôos que alternaram Tenerife. Isso significava que o

Boeing 747 da PANAM deveria taxiar por um determinado segmento da pista de

pouso e entrar na pista de taxi pela taxiway C-4, ao invés de taxiar somente pela

pista de taxi como faria em condições normais. Enquanto isso o Boeing 747 da KLM

também estava taxiando pela pista e deveria sair pela taxiway C-4, alinhar na pista

30 e aguardar autorização de decolagem (CIAIAC A-102/1977 e A-103/1977).

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CÓDIGO QUEM FALA

APP Torre de Los Rodeos

RDO-2 Mensagens do PanAm

CAM-1 Comandante do PanAm

CAM-2 Co-piloto do PanAm

CAM-3 Engenheiro do PanAm

KLM Mensagens do KLM

KLM-1 Comandante do KLM

KLM-2 Co-piloto do KLM

KLM-3 Engenheiro do KLM

Quadro 8 – Códigos utilizados na transcrição da fita do CVR em Tenerife.

Fonte:www.project-tenerife.com

Ilustração 4 - Posicionamento das aeronaves segundos antes do impacto em Los Rodeos. A

Taxiway número 4 (C-4) em destaque azul e os 3 asteriscos em destaque vermelho

representam a área de movimento bloqueada por aeronaves estacionadas.

Fonte: Air Disaster, Volume 1

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Quadro 9 - Transcrição dos diálogos em inglês entre as aeronaves da KLM e PANAM com o

controlador de Los Rodeos.

Fonte: CIAIAC A-102/1977 e A-103/1977

A tripulação do vôo da PANAM também foi instruída a informar quando

estivesse liberando a pista de decolagem e ingressando na taxiway C-4, porém,

houve confusão em qual pista de taxi deveriam sair já que o nome da taxiway nunca

foi usado. Enquanto isso o KLM passou do ponto de entrada devido à má

visibilidade e necessitou fazer um giro de 180 graus na cabeceira da pista para

poder alinhar para decolagem.

Hora GMT

Fonte Diálogo

1702:18.4 CAM-3

Third he said (Ele disse terceira)

1702:20.6 APP -ird one to your left. (-eira a sua esquerda)

1702:21.9 CAM-1

I think he said first. (eu acho que ele disse primeira)

4 A função de torre de controle estava sendo prestada pelo APP.

Hora GMT

Fonte Diálogo

1701:57.8 CL1736 Tenerife the Clipper one seven three six (Tenerife, PANAM 1736)

1702:01.8 APP4 Clipper one seven three six Tenerife. (PANAM 1736, Tenerife)

1702:03.6 RDO-2

Ah- We were instructed to contact you and also to taxi down the runway, is that correct? (Ah- Nós fomos instruídos a lhe chamar e também a taxiar pela pista, está correto?)

1702:08.4 APP

Affirmative, taxi in to the runway and –ah- leave the runway third, third to your left, third. (Afirmativo, taxie pela pista e –ah- livre a pista terceira, terceira a sua esquerda, terceira.)

1702:16.4 RDO-2 Third to the left, okay. (terceira a esquerda, okay)

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1702.26.4 CAM-2

I´ll ask him again. (vou perguntar novamente)

1702:49.8 APP KLM four eight zero five how many taxiway –ah- did you pass? (KLM 4805, quantas pistas de taxi –ah – você passou?)

1702:55.6 KLM I think w just passed charlie tour now. (eu acho que acabamos de passar a Charlie agora)

1702:59.9 APP

Okay…at the end of the runway make one eighty and report, -ah- ready –ah- for ATC clearance (Okay…no fim da pista faça uma curva de 180 graus e informe –ah- pronto –ah- para receber autorização de tráfego)

1703:29.3 RDO-2

Would you confirm that you want the clipper one seven three six to turn left at the third intersection? (Poderia confirmar se quer que o PANAM 1736 curve a esquerda na terceira interseção?)

1703:36.4 APP The third one sir, one two three, third third one (a terceira senhor, um dois três, terceira, a terceira)

1703:39.2 RDO-2

Very good, thank you (Muito bom , obrigado)

1703:47.6 APP …er seven one three six report leaving the runway. (…er, 7136 informe livrando a pista)

1703:55.0 RDO-2

Clipper one seven three six (Panam 1736)

Quadro 10 - Trecho dos diálogos que mostra que houve confusão sobre a posição correta da

taxiway a ser utilizada e o KLM não conseguiu sair pela taxiway designada pelo controlador. O

sentença em vermelho mostra que o controlador se confundiu com o número do vôo do

PANAM.

Fonte: CIAIAC A-102/1977 e A-103/1977

O KLM informou pronto para a decolagem e recebeu instruções para a saída

por instrumentos após a decolagem. Após receber e cotejar a autorização de

tráfego a tripulação do KLM informou que estava iniciando a decolagem. Nesse

momento o controlador da torre solicitou ao KLM que aguardasse para decolar pois

o Boeing 747 da PANAM estava taxiando pela pista. Essa mensagem, porém, não

chegou à cabine do KLM pois junto com ela aconteceu uma outra transmissão

emitida pela aeronave da PANAM informando que ainda estava na pista. As duas

transmissões se anularam, causando um ruído no rádio do KLM que durou cerca de

3,74 segundos.

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1705:44.8 KLM

Uh, the KLM… four eight zero five is now ready for takeoff… uh and we´re waiting for our ATC clearance. (Uh, o KLM… 4805 está agora pronto para a decolagem… uh e estamos aguardando a nossa autorização de tráfego.)

1705:53.4 APP

KLM eight seven zero five uh you are cleared to the papa beacon climb to and maintain flight level niner zero… right turn after takeoff proceed with heading zero four zero until intercepting the three two five radial from Las Palmas VOR. (KLM 8705 uh está autorizado para papa beacon subir e manter nível de vôo 90...curve a direita após a decolagem e prossiga na proa 040 até interceptar a radial 325 do VOR de Las Palmas.)

1706:09.6 KLM

Ah roger sir we´re cleared to the Papa beacon flight level niner zero, right turn out zero four zero until intercepting the three two five and we´re now (at take-off). (Ah, ciente senhor, estamos autorizados para o papa beacon nível de vôo 90, curva a direita 040 até interceptar a 325 e estamos agora decolando)

1706:17.9 APP Ok…standby for take off, I will call you. (Ok…aguarde para decolagem, Eu chamarei você)

1706:23.6 RDO-2 And we’re still taxing down the runway, the Clipper one seven three six. (e ainda estamos taxiando pela pista, o PANAM 1736)

1706:25.6 APP Roger alpha one seven three six report the runway clear. (ciente alpha 1736 informe a pista livre.)

1706:29.6 RDO-2 Okay we´ll report when we´re clear (OK, nós informaremos quando estivermos livres)

Quadro 11 - Comunicações momentos antes do acidente. As conversações em vermelho não

chegaram à cabine do KLM devido a sobremodulação. A mensagem em verde, porém, foi

identificada no CVR do KLM durante as investigações.

Fonte: CIAIAC A-102/1977 e A-103/1977

O Boeing 747 da KLM iniciou o procedimento de decolagem a cerca de 100

metros antes do impacto e se chocou com o Boeing 747 da PANAM às 1706:47.44

GMT causando a morte de 644 pessoas.

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Foto 8 - Local do choque entre as aeronaves. Pode-se observar que o Boeing 747 da KLM

passou por cima do Boing 747 da PANAM e parou próximo à taxiway C-3.

Fonte: CIAIAC A-102/1977 e A-103/1977

Foto 9 - Foto tirada minutos após o choque entre as aeronaves em Tenerife.

Fonte: www.tenerifecrash.com

A Investigação Aeronáutica realizada pelo CIAIAC determinou os fatores que

contribuíram para o acidente (CIAIAC A-102/1977 e A-103/1977):

“1. Estado de tensão crescente ao ir se acumulando problemas para o

comandante. Ele sabia que se não decolasse em um período relativamente

Decolagem do KLM

Taxiway C-4

Taxiway C-3

PANAM 1736

KLM 4805

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breve de tempo poderia ter que interromper o vôo, ocasionando transtorno

para sua companhia e para os passageiros por ser a Holanda muito restrita

na aplicação das normas referentes a limitação da atividade aérea.

2. A Meteorologia peculiar de Tenerife.

3. Efetuar-se duas transmissões ao mesmo tempo. O “standby for take-off... I

will call you” da TWR coincidiu com o “we are still taking down the runway” do

PANAM.

4. Linguagem inadequada. Quando o co piloto do KLM repete a autorização

do ATC finaliza com “we are now at take-off”, porque o controlador, a quem

não se havia solicitado permissão para decolar e por conseguinte não

entende que a aeronave está decolando. O “ok” da torre que antecede o

“standby for take-off” é um elemento incorreto e irrelevante neste caso em

que o inicio da decolagem teve inicio 6 segundos e meio antes.

5. O PANAM não ter abandonado a pista pela terceira interseção. Com

efeito, este deveria ter consultado a torre se a terceira a que se referia era a

C-3 ou a C-4.

6. Inusitado congestionamento de tráfego que obrigou a Torre a efetuar

manobras de taxiamento potencialmente perigosas.”

Analisando o relatório da autoridade espanhola sobre a conclusão das causas

do acidente, pode-se verificar a presença de todos os fatores discutidos neste

trabalho e relaciona-los com ao menos 4 dos 6 itens designados como fatores

contribuintes.

O item 4 do relatório sita o fator “Linguagem Inadequada” durante as

transmissões entre controlador e piloto. O uso adequado da fraseologia não foi

observado pelo piloto do KLM e, portanto, este não se fez compreender pelo

controlador da torre. Segundo Lasswell o conhecimento e a utilização adequada do

código são fatores extremamente importantes para a correta interpretação da

mensagem. Observa-se também que em vários momentos o controlador teve

dificuldades em se comunicar corretamente com os pilotos, como em 1702:08.4:

“Affirmative, taxi in to the runway and –ah- leave the runway third, third to your left,

third” onde houve dificuldade de informar a posição da taxiway que deveria ser

usada e em 1703:47.6: “…er seven one three six report leaving the runway” quando

o controlador troca os números do vôo da PANAM 1736 por 7136. O erro mais

grave contudo ocorreu em 1706:09.6: “...and we´re now at take-off” onde o piloto

informa que estava “em processo de” (at take-off) decolagem quando na realidade o

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termo também pode ser utilizado para informar que a aeronave estava “na posição

de” decolagem que foi de fato o que o controlador entendeu.

O item 3 aponta o fato de ter havido duas transmissões ao mesmo tempo que

se anularam, fazendo com que o receptor não tenha recebido a mensagem que

deveria. Este seria o ruído proposto por Shannon e Weaver que resultou na

anulação total de uma mensagem que poderia ter evitado o acidente. O item 5

também indica uma utilização deficiente do código e do conceito de feedback pois

os pilotos da PANAM deveriam ter perguntado sobre as taxiways ao controlador

utilizando-se dos seus respectivos designadores (C-3 e C-4) e não sua posição em

relação à aeronave (primeira e terceira). Outra deficiência no uso do feedback

acontece quando durante a corrida de decolagem do KLM o engenheiro de vôo

percebeu que havia algo errado na comunicação e perguntou aos pilotos (Job, Air

disaster, pg. 174): “Did he not clear the runway, that Pan American?” e os pilotos

responderam enfaticamente: “Yes, he did” quando o PANAM efetivamente ainda não

havia livrado a pista.

O item 1 se refere à situação de estresse em que se encontrava o

comandante do vôo da KLM. Este tinha a obrigação de não permitir que a

tripulação trabalhasse mais horas do que previsto na legislação holandesa. É o

Fator Social sugerido por Schramm. O Fator Cognitivo está presente na

preocupação do comandante na possibilidade de ter de adiar a partida do vôo e

consequentemente causar transtornos à companhia e aos passageiros. Esses

fatores, Social e Cognitivo, juntos, desviaram a atenção do comandante da situação

do vôo e do cenário em que este se encontrava, fazendo com que não entendesse

corretamente o contexto das mensagens que recebia. A tripulação teve dificuldade

em assimilar mesmo as mensagens que recebia de forma clara, como vemos em

1706:25.6: “Roger alpha one seven three six report the runway clear” quando o CVR

do KLM registrou que este havia recebido a mensagem da torre para o PANAM mas

provavelmente não a processou, por estarem muito concentrados ao procedimento

crítico de decolagem em baixa visibilidade.

Conclui-se com este acidente que se tivesse havido assertividade nas

comunicações entre piloto e controlador, centenas de pessoas não teriam perdido

suas vidas prematuramente e bilhões de dólares teriam sido economizados. Mas a

questão que deve ser avaliada é o porquê dos pilotos e controladores, em quem são

investidos altos recursos em treinamento e capacitação, não conseguiram impedir

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que acidentes trágicos ocorressem, apenas observando regras simples de

comunicação? Por que se deixaram influenciar por elementos há muito estudados e

descritos em várias publicações relacionadas ao assunto? E, principalmente, como

evitar que erros como esses continuem ocorrendo e venham a causar mais um

acidente? Para que se possa encontrar soluções para os problemas de

comunicação que ameaçam a segurança de vôo é preciso, primeiramente,

quantificar e qualificar esse problemas e às suas relações com o meio aeronáutico.

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3. PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO

Steven Cushing publicou um estudo (Fatal Words, Communication Clashes

and Aircraft Crashes, 1997) onde descreve 15 tipos de problemas relacionados à

comunicação aeronáutica radiofônica. A maior parte dos casos por ele estudados

têm origem nas comunicações realizadas dentro dos Estados Unidos, onde a

informalidade e o uso de linguagem coloquial nas comunicações é uma constante, e

inclui exemplos do universo da aviação geral, executiva e linha aérea.

O trabalho de Cushing foi dividido em tipos de problemas de comunicação:

aqueles baseados na linguagem, onde a forma da construção da mensagem é o

fator determinante para a compreensão da mesma (código), aqueles não baseados

na linguagem, onde fatores individuais como a fadiga influenciam na percepção

correta da mensagem (fatores sociais e cognitivos) e os problemas gerais, que são

aqueles relacionados a fatores externos, como um rádio defeituoso, que impede a

mensagem de ser claramente recebida (ruído).

3.1 PROBLEMAS BASEADOS EM LINGUAGEM

3.1.1 Ambigüidade

O acidente no aeroporto Los Rodeos, Tenerife, em 1977 resultou em parte de

um mal entendido na expressão “at takeoff” que foi usado pela tripulação para

indicar que eles estavam no processo de decolagem, mas foi entendido pela torre de

controle como se eles estivessem aguardando a autorização de decolagem, o que

levou o controlador a não mandar que abortassem o processo de decolagem.

O mal entendido é resultado também do fato da autorização de vôo que

informava ao piloto o que fazer após a decolagem, ter sido recebida quando a

aeronave já estava na cabeceira, o que não significava uma autorização de

decolagem. O uso de expressões não ambíguas para a autorização de vôo e de

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decolagem teria possibilitado ao controlador tomar alguma medida que pudesse

evitar a colisão ou prevenir a corrida de decolagem em primeiro lugar.

O acidente no aeroporto John Wayne Orange County, Santa Ana, Califórnia,

em 17 de Fevereiro de 1981, também resultou em parte de um mal entendido

relacionado ao verbo “hold”, que significa na aviação “pare de fazer o que está

fazendo”, mas que pode significar no idioma Inglês comum “continue fazendo o que

está fazendo”.

Tower Air California 336, you’re cleared to land

(AC 336, você está autorizado a pousar)

Tower Air California 931, let’s do it taxi into position and hold, be ready

(AC 931, vamos lá, alinhar e manter, esteja preparado para

decolagem)

AC 931 Nine thirty one’s ready

(931 está pronto)

Tower Air Cal 931 traffic clearing at the end, clear for takeoff sir, Boeing

seven thirty seven a mile and a half final.

(AC931 tráfego livrando a pista, livre decolagem senhor, Boeing 737 a

uma milha e meia na aproximação final)

AC 931 In sight we’re rolling

(avistando, estamos iniciando a decolagem)

Tower OK Air Cal 336, go around 336, go around

(Ok AC 336, arremeta 336, arremeta)

AC 336

captain

Can we hold, ask him if we can hold

(Podemos manter ?, pergunte a ele se podemos manter)

Tower Air Cal 931 if you can just go ahead and hold

(AC 931se você puder continuar e manter)

AC 336 Can we land Tower?

(Podemos pousar torre?)

Tower Behind you Air Cal 931 just abort

(Atrás de você AC 931, apenas aborte a decolagem)

Tower Air Cal 336, please go around sir traffic is going to abort on the

departure

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(AC 336, por favor arremeta senhor, o tráfego irá abortar a

decolagem)

AC 336

captain

Gear up - AIRCRAFT LANDS WITH GEAR RETRACTED

(Recolher trem de pouso) – AERONAVE POUSA COM TREM DE

POUSO RECOLHIDO

Quadro 12 – Trancrição do acidente de Santa Ana em 1981.

Fonte: Fatal Words, 1997

A ambigüidade do verbo “hold” também contribuiu para o acidente em John

Wayne. O significado técnico do termo “hold" em fraseologia aeronáutica sempre

significa “pare o que está fazendo” e, portanto, em uma situação de pouso,

arremeta. Mas no Inglês diário também pode significar “continue fazendo o que

está fazendo” e, no exemplo, pouse em tal situação. O primeiro oficial do Air

California 336 parece ter interpretado exatamente desta última maneira, quando ele

solicita permissão para pouso em resposta à instrução do comandante dentro da

cabine, questionando sobre permissão para esperar. O comandante e o primeiro

oficial, inadvertidamente, mudaram a comunicação do jargão técnico que eles

deveriam estar falando para o dialeto coloquial, que eles falam mais

freqüentemente, um fenômeno que é descrito como Troca de Código.

A confusão resultante levou o Air California 336 a pousar com o trem de

pouso recolhido, tendo finalmente decidido arremeter, mas muito tarde para efetuar

a manobra. Isso resultou em 34 feridos, 4 deles classificados como sérios, e a

completa destruição da aeronave por impacto e fogo posterior. Ë claro que o

acidente poderia ter sido evitado se o piloto tivesse simplesmente seguido as

instruções do controlador e arremetido logo que foi instruído a fazer isso.

3.1.2 Homofonia

A confusão induzida por ambigüidade no acidente em John Wayne é

composta pelo fato de duas das aeronaves em questão terem um indicativo de

chamada bem pouco distinto. A aeronave “Air California three thirty six” sendo

instruída a arremeter “to go around” e a aeronave “Air Call nine thirty one” sendo

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instruída a prosseguir “to go ahead”, apenas 5 segundos após. Isso ilustra o

fenômeno indutor de confusão da Homofonia, que consiste em diferentes palavras

ou frases com o som exatamente igual ou quase igual.

Um piloto reportou que 10 anos mais cedo, quando ele estava praticando

pousos curtos em avião pequeno, o instrutor disse “Last of Power”, significando

reduzir toda a potência para marcha lenta para efetuar o arredondamento.

Entretanto o piloto achou que o instrutor tinha tido “Blast of Power” (rajada de

potência), temendo uma iminente perda de sustentação. O resultado foi confusão e

um pouso bem mais longo.

Um piloto que foi observado no radar estando bem mais alto do que deveria

em um procedimento e voando na direção errada, se desviou por ter entendido mal

uma autorização para um fixo chamado MASPETH na área metropolitana de Nova

York. O controlador informou ao piloto “a MASPETH Climb” que significa “execute a

subida na proa da posição MASPETH” e o piloto entendeu a mensagem como uma

autorização para realizar uma “subida agressiva” ou “a massive climb”, o que

resultou no mesmo subindo acima do esperado e não prosseguindo na direção do

fixo MASPETH. Contribuiu para o incidente o fato do piloto não ser familiarizado

com a área geográfica do local.

Em um outro caso, uma grande aeronave de companhia aérea A pousou na

pista 22 L e foi informada a taxiar e aguardar antes da 22 R. Esperando antes da 22

R, o comandante perguntou ao controlador “Podemos cruzar?” e o mesmo

respondeu “Hold Short” ou “mantenha posição antes da pista”.

A aeronave da companhia A cruzou a pista de decolagem com a aeronave da

companhia aérea B iniciando sua corrida de decolagem. Consequentemente, a

aeronave A livrou a interseção 30 segundos antes da aeronave B atingir a mesma

interseção, sem nenhuma ação evasiva por nenhuma das duas. Quando

questionado porque ele cruzou a pista, o comandante explicou que ele tinha ouvido

“Oh, sure!” (É claro!)

Algumas confusões também estão relacionadas ao som das palavras “to” e

“two”. O controlador autoriza a aeronave a descer para “two four zero zero” (2.400

pés). O piloto coteja “Ok. Four zero zero” pois entendeu o controlador dizer “to four

zero zero” e então desce para 400 pés ao invés de 2.400 pés.

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3.1.3 Pontuação e Entonação

Tipos similares de confusão podem ocorrer a partir de erros de pontuação e

na entonação das palavras na linguagem falada.

Em um exemplo real com conseqüências potencialmente desastrosas,

enquanto checando um piloto de um avião pequeno, um experiente instrutor de vôo

reportou ter percebido que o aluno aplicava muita potência pouco antes do pouso.

Ele pensou ter dito “Back on the Power” (reduza a manete de potência), mas ele foi

interpretado pelo piloto como tendo dito “Back on, the Power” (cuidado! Faça algo! A

potência!) o que só é diferenciado na pronúncia pelo posicionamento da pausa e

onde o “on” é destacado.

3.1.4 Referência Incerta

Algumas vezes a ambigüidade surge de uma referência incerta, na qual há um grau

de indeterminação quanto a quem ou o quê é mencionado na expressão por um

pronome. O pronome “it” (que se refere a algo ou a uma situação) no exemplo “His

wife is a pilot, but He doesn’t know anything about it” pode estar se referindo ao

estado ou experiência de ser um piloto e o marido não tem habilidades em pilotar

aeronaves (Sua esposa é piloto mas ele não sabe nada sobre pilotar) ou ao fato de

sua mulher ser uma piloto mas ele acha que ela é uma aeromoça ou vendedora

viajante (Sua esposa é piloto mas ele não sabe o que ela faz).

Nos dois exemplos “The pilot was late for the flight, which caused much

comment” e “He was vetoed sixteen bills, all of which have been sustained” a

incerteza surge devido a diferença entre a gramática escrita padrão e o uso da

linguagem coloquial. De acordo com a gramática, o pronome relativo “which” (o qual

ou os quais) deve ter um nome a ele relacionado anteriormente como seu

antecedente. Então foi o vôo que causou o comentário (O piloto estava atrasado

para o vôo o qual causou muitos comentários) e dezesseis faturas foram mantidas,

(ele vetou 16 faturas as quais todas foram mantidas) já que são a única expressão

nominal que apareceu na sentença.

No uso atual, entretanto, foi o atraso do piloto que foi entendido como o

causador do comentário e a proibição das faturas é que foi mantida, mesmo que o

atraso e a proibição não apareçam explicitamente como frases nominais. Este tipo

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de problema entre a gramática e a linguagem coloquial pode ser especialmente

problemática para pessoas que aprenderam o Inglês como segunda língua quando

adultos, como fazem muitos pilotos e controladores. A incerteza sobre a referência

dos pronomes em tais sentenças pode levar a confusão sobre qual significado a

sentença deveria expressar.

Uma de duas aeronaves militares em uma rota por instrumentos apresentou

um problema mecânico e solicitou “We need a clearance back to base” Ou “Nós

precisamos de uma autorização de volta à base”. O controlador então emitiu uma

autorização IFR para a qual a aeronave respondeu “We are in a left turn and we are

climbing to 17.000” ou “Nós estamos em curva à esquerda e subindo para 17.000

pés”. O controlador interpretou “we” (nós) como sendo as duas aeronaves

retornando à base quando de fato somente a aeronave líder queria retornar, um mal

entendido resultante da incerteza em relação ao pronome “we”. A outra aeronave

continuou o vôo de acordo com a autorização IFR original e completou a rota militar

pelo espaço aéreo de dois centros de controle.

Em um outro caso, a incerteza sobre a referência do substantivo “things”

(coisas), contribuiu diretamente ao acidente do vôo 401 da Eastern Airlines ocorrido

em Miami em 29 de dezembro de 1972.

EAL 401 Ah, Tower this is Eastern, ah four zero one, it looks like we’re

gonna have to circle, we don’t have a light on our nose gear yet.

(Ah, torre aqui é o EAL401, parece que teremos que circular. Nós

ainda não temos a luz verde na indicação no trem de pouso.)

Tower Eastern four oh one heavy, roger, pull up, climb straight ahead to

two thousand, go back to approach control, one twenty eight six.

(EAL 401, afirmativo, arremeta, suba em frente para 2.000 pés e

chame o controle de aproximação)

EAL 401 Okay, going up to two thousand, one twenty eight six.

(ok, subindo para 2.000 pés e contatcar controle)

EAL 401 All right, ah, approach control, Eastern four zero one, we’re right

over the airport here and climbing to two thousand feet, in fact,

we’ve just reached two thousand feet and we’ve got to get a green

light on our nose gear.

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(Certo, ah, controle de aproximação aqui é o EAL401, estamos

sobre o aeroporto e subindo para 2.000 pés, na verdade

acabamos de atingir 2.000 pés e temos que conseguir luz verde na

indicação do nosso trem de pouso de nariz)

MIA

Approach

Control

Eastern four oh one, turn left heading three zero zero.

EAL 401, curve a direita proa 300)

EAL 401 Eastern four oh one’ll go ah, out west just a little further if we can

here and, ah, see if we can get this light to come on here.

(EAL 401 iremos para oeste um pouco mais se pudermos e vamos

ver se a gente consegue uma luz verde aqui)

Second

officer

I can’t see it, it’s pitch dark and I throw the little light, I get, ah,

nothing.

(não consigo ver, está escuro e agarrei a pequena luz, não

consigo nada)

MIA

Approach

Control

Eastern, ah, four oh one how are things comin’ along out there?

(EAL 401, como vão as coisas por aí?)

EAL 401 OK we’d like to turn around and come, come back in.

(Ok, gostaríamos de dar mais uma volta)

MIA

Approach

Control

Eastern four oh one turn left heading one eight zero. - AIRCRAFT

CRASHES INTO THE EVERGLADES

(EAL 401, curve a esquerda proa 180) – AERONAVE CAI NOS

EVERGLADES

Quadro 13 – Transcrição do acidente da Eastern Airlines em Miami em 1972.

Fonte: Fatal Words, 1997

O controlador de aproximação usou a palavra “things” para se referir a

aparente descida da aeronave observada no radar, e gostaria de conferir a indicação

com a tripulação, mas a tripulação parece ter percebido isso como uma preocupação

do controlador em relação ao problema do trem de pouso, sobre o qual haviam

informado antes. Eles não estavam cientes da descida da aeronave e quando

responderam “OK” o controlador erroneamente concluiu que a descida estava sob

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controle. A aeronave prosseguir descendo sem a ciência dos pilotos que estavam

entretidos com a lâmpada do trem de pouso que, na verdade, estava queimada.

Durante todo o tempo o trem de pouso estava abaixado. A queda no Everglades

resultou em 101 mortes.

3.1.5 Inferência Implícita

Quando se fala de inferência implícita, um ouvinte conclui um significado de

uma sentença que não está claramente explícita em suas palavras ou gramática.

Podemos citar alguns exemplos para demonstrar essa situação: “Com certeza os

passageiros são honestos, mas eu não deixaria minha carteira largada na poltrona.”

Se analisarmos a primeira parte da frase, a mesma faz uma menção favorável aos

passageiros e a segunda, simplesmente não se refere aos mesmos. Mas as duas

partes juntas deixam uma imagem bem clara de pensamentos distintos sobre os

passageiros.

No exemplo “O vôo foi simplesmente maravilhoso! O co-piloto ficou acordado

o tempo inteiro!” ambas as sentenças fazem afirmações positivas, mas o efeito das

duas juntas é completamente negativo. Em ambos os casos verificamos que o

significado da justaposição das duas sentenças é o oposto ou completamente

diferente do significado de cada uma individualmente. Tipicamente nestes casos, o

significado derivado da justaposição das sentenças é pejorativo, assim como nos

exemplos citados, apesar das sentenças individuais não o serem.

Inferências implícitas podem às vezes ser induzidas através do uso de uma

simples palavra, especialmente se essa palavra apresentar uma pressuposição, um

aspecto do significado que impede o questionamento na forma “Sim ou Não” de ter

uma resposta na forma “Sim ou Não”. Por exemplo, respondendo a questão “O

piloto ainda está bêbado?” com “Sim” ou “Não” igualmente coloca a pessoa que

responde em uma condição implícita de admitir que o piloto estivesse bebendo. Se

respondermos a questão “Estão todos os tripulantes presentes?” com “Não, todos os

tripulantes não estão presentes.” ainda deixa a impressão de que a frase “alguns

tripulantes estão presentes” está correta (não se pode saber se todos ou somente

alguns tripulantes estão presentes); uma inferência implícita que só pode ser

contrariada por algo do tipo “Não. De fato, nenhum tripulante está presente.”

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No cenário da aviação perigosas inferências podem ser desenhadas a partir

do uso de palavras como “expect” (espere) e “anticipate” (antecipe) devido a

ausência de duração de tempo e a indefinição que estas palavras apresentam.

Em um exemplo um comandante reportou ter atingido 11.000 pés após ter

tomado o controle do avião de um confuso primeiro oficial que estava subindo acima

da altitude autorizada de 10.000 pés. O comandante sugeriu que a razão do primeiro

oficial ter confundido a autorização foi o fato de o controlador ter solicitado a proa

320, e informar à aeronave para esperar (expect) a altitude 23.000 pés, o que

significa que esta seria a próxima autorização a ser emitida.

3.1.6 Não Familiaridade com a Terminologia

Inferências perigosas também podem surgir através do uso de nomenclaturas

não familiares ao destinatário (Fator Código). Pode se perceber isso na seguinte

conversação entre piloto e controlador:

Controle de Aproximação Nós temos as luzes REIL (Runway End Identifier

Lights5) acessas; você tem a pista à vista?

Piloto (após tempo de

hesitação)

Como vocês chamam a diferença entre as luzes reais

e as de imitação?

Quadro 14 – Transcrição do incidente envolvendo terminologia.

Fonte: Fatal Words, 1997

Devido ao fato de o piloto não estar familiarizado com a abreviatura REIL, o

mesmo induziu que o controlador teria dito “real” (real, verdadeira) ao invés de REIL.

Outro piloto foi questionado na altitude que estava mantendo quando ele mal

interpretou a autorização “Resume your own navigation” (Reassuma sua navegação)

como se estivesse sob sua responsabilidade tanto a direção de sua navegação

como sua altitude. Na verdade, a instrução não cancela uma altitude de restrição

previamente dada, apenas restaura ao piloto o seu controle com a navegação lateral

planejada.

5 REIL: Luzes identificadoras de fim da pista.

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3.1.7 Repetição (ou cotejamento)

Problemas de vários tipos podem ser evitados através da repetição, que pode

ser categorizada em diversas dimensões: correta ou incorreta, completa ou parcial,

literal ou conceitual, espontânea ou obrigatória e eficiente ou ineficiente.

Uma repetição correta é aquela que reproduz substancialmente o que foi dito

anteriormente em todas suas características relevantes; já uma incorreta, falha em

reproduzir algumas informações essenciais para a comunicação.

Uma repetição completa reproduz toda a fala anterior; já a parcial, somente

parte dela. Uma repetição literal repete as palavras ditas anteriormente, não

importando seu significado; já uma repetição conceitual repete seu significado, não

importando as palavras usadas.

Uma repetição espontânea surge da iniciativa própria de quem fala, baseada

no seu julgamento da situação presente; já a obrigatória é requerida por convenção

ou lei.

Uma repetição eficiente tem sucesso em transmitir seu recado, em causar

impacto no ouvinte; já a ineficiente, não atinge seu objetivo.

No caso do KLM 4805 em Tenerife o piloto, ao cotejar a autorização de vôo, o

faz literalmente e corretamente, ou seja, com as mesmas palavras, porém

parcialmente e não conceitualmente, pois o mesmo parece ter mal-entendido que

juntamente com a autorização de vôo havia uma autorização para decolagem,

quando na verdade o controlador só estava transmitindo uma autorização que teria

validade somente após a aeronave decolar.

No caso do Air Callifornia 336 em Santa Ana, a correta, literal e completa

repetição da instrução de arremetida dada pelo controlador em: “OK Air Cal 336, go

around 336, go around” é espontânea, refletindo o desejo do mesmo de enfatizar a

urgência da situação, no entanto, a mesma é ineficiente em convencer o piloto a

iniciar a arremetida imediatamente.

Os cotejamentos, repetições especiais em que uma instrução é repetida de

maneira completa, apresentam grande importância no controle de tráfego aéreo

tanto na sua presença como na sua ausência. Eles são necessários após todas as

instruções e autorizações de um controlador, como uma maneira de confirmar que a

mesma foi recebida e entendida. Uma instrução pode ser reportada como recebida

de algumas maneiras, por exemplo:

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ATC Descend to twenty one thousand feet

(Desça para vinte e um mil pés)

Pilot one Cleared to descend to twenty one thousand feet

(autorizado descer para vinte e um mil pés)

Pilot two Roger, Flight Level 210

(ciente, nível de vôo dois um zero)

Quadro 15 – Exemplos de cotejamento.

Fonte: Fatal Words, 1997

Entretanto, estes requerimentos têm sido mais violados do que cumpridos,

conforme demonstrado por algumas respostas dos pilotos às instruções dadas.

Uma aeronave instruída a manter restrições de velocidade na subida, reporta:

“Roger” (Ciente), ao invés de cotejar toda a instrução. Outra aeronave reportou na

freqüência do Centro: “Center, (Flight) with you...” (Centro, [vôo] na sua escuta...)

sem ter reportado sua altitude atual e altitude instruída pelo Centro anterior. Em

outros casos, algumas aeronaves não informam nem mesmo seus indicativos de

chamada em diversas situações, como em mudanças de altitude ou de freqüência,

cotejamento de autorização de vôo, etc.

Em uma instrução dada pelo controlador em relação à mudança do código do

transponder “Squawk 1735” (ajuste o código transponder para 1735) um piloto

respondeu “Squawkin’” (ajustando) e outro “Awright” (certo), não fornecendo ao

controlador informação suficiente de que os mesmos, apesar de recebido a

mensagem, a tinham entendido.

Algumas vezes perigosas quase colisões acontecem resultantes de

cotejamentos parciais ao invés de cotejamentos completos, como podemos observar

no diálogo abaixo.

Controlador autoriza a aeronave A a descer para o nível de vôo 280

Controlador autoriza a aeronave B a subir para o nível de vôo 270

Controlador instrui a aeronave A, proa 240 graus

Piloto A reporta “Roger, 240” (Ciente, 240)

Controlador Observa a aeronave A descer através da altitude da aeronave B,

passando pela altitude de 27.200 pés e questiona o piloto A

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Piloto A questiona que ele havia sido autorizado ao nível 240 e que ele

reportou o recebimento

Quadro 16 – Exemplo de erro de cotejamento.

Fonte: Fatal Words, 1997

Podemos perceber claramente que o cotejamento completo, neste caso, das

palavras proa 240 ou nível de vôo 240, teriam solucionado o problema e eliminado o

risco de um incidente como este.

O erro no cotejamento às vezes vem seguido também pelo erro do

controlador em perceber ou questionar o piloto sobre seu cotejamento parcial ou

incorreto. Uma aeronave estava descendo para o nível de vôo FL240 e foi

posteriormente autorizada a cruzar uma dada interseção a 10.000 pés. O piloto

reportou que “No nível 240, aproximadamente, o controlador nos informou sobre um

tráfego no nível 230 e disse ao mesmo que nós estaríamos descendo para o nível

240. Eu parei a descida na hora, ao redor do nível 236 e retornei ao 240” no

momento em que o controlador informou “A altitude é 240”. E o piloto disse “Nós

pensamos que tínhamos sido autorizados a 10.000 pés.” O piloto observou que,

“quando o co-piloto respondeu a autorização para 10.000 pés, o controlador não fez

nenhuma objeção. Provavelmente o controlador queria que estivéssemos a 10.000

pés na interseção, mas quando cotejamos ele não nos corrigiu.”

Em outro caso, o primeiro oficial cotejou a instrução completa e corretamente,

mas o controlador falhou em tornar clara que a instrução era para velocidade e não

para nível de vôo.

ATC Mantain two eight oh

(Mantenha 280)

Pilot Ok, cleared to maitain two eight oh – (Plane states to climb)

(Ok ,Autorizado a manter 280) - (A aeronave começa a subir)

ATC Return to 230. That 280 was for airspeed.

(Retorne ao 230. Aquele 280 era para velocidade)

Quadro 17 – Exemplo de cotejamento inadequado.

Fonte: Fatal Words, 1997

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A língua Inglesa, apesar de ser profissionalmente requerida mundialmente, é

em muitos casos, língua estrangeira para muitos pilotos. Nesses casos, mesmo a

repetição completa não é suficiente pois o entendimento da mensagem foi errôneo.

Em um incidente, uma aeronave militar norte-americana, em manobra em solo

estrangeiro, foi autorizada pelo controlador “Runway 26, holding position” (pista 26,

mantenha posição). O piloto, não inexplicavelmente, entendeu essa autorização

como “Cleared to runway 26, hold in position” (autorizado a pista 26, aguarde na

posição de decolagem), mas encontrou-se de frente a uma aeronave na final que

teve de arremeter.

No acidente que ocorreu com uma aeronave da AVIANCA vôo 052 em New

York em 25 de janeiro de 1990, o comandante pede ao co-piloto, em espanhol, para

informar ao controlador que eles encontravam-se em uma situação de emergência

de combustível. O co-piloto, porém, informa somente, em Inglês, que o combustível

está acabando (“running out of fuel”). Depois, ele avisa ao comandante que já

deixou claro que a aeronave está em emergência para o controlador, apesar de não

ter sido isso que ele realmente disse ao controlador.

Pilot to Co-pilot Tell them we are in an emergency

(Avise a eles que estamos em emergência)

Co-pilot to

Controller

We’re running out of fuel

(Estamos ficando sem combustível)

Pilot to Co-pilot Digale que estamos en emergencia

(Diga que estamos em emergência)

Co-pilot to Pilot Si, señor, ya le dije

(Sim, senho, já lhes disse)

Co-pilot to

Controller

We’ll try once again. We’re running out of fuel

(Vamos tentar mais uma vez, Nós estamos ficando sem

combustível)

Pilot to Co-pilot Advise the controller that we don’t have fuel

(Avise ao controlador que nós não temos combustível)

Co-pilot to

Controller

Climb and maintain 3000 and, ah, we’re running out of fuel, sir

(Subir e manter 3000 pés, ah, estamos ficando sem

combustível, senhor)

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Controller to Co-

pilot

Is that fine with you and your fuel?

(Está tudo bem com vocês e seu combustível?)

Co-pilot to

Controller

I guess so. Thank you very much - AIRCRAFT RUNS OUT

OF FUEL AND CRASHES

(Eu acho que sim, Muito obrigado) – AERONAVE FICA SEM

COMBUSTÍVEL E CAI

Quadro 18 – Trancrição do acidente de New York em 1990.

Fonte: Fatal Words, 1997

Neste caso, houve ineficiência em convencer o controlador do apropriado

grau de urgência. O problema é provavelmente composto pelo fato da linguagem

usada ser uma variante técnica de uma língua que não é a língua nativa do piloto,

deixando-o duplamente fora do contexto onde ele se sente familiarizado. A

aeronave caiu após o término do combustível, resultando em 73 mortes das 159

pessoas a bordo, inclusive 3 tripulantes na cabine.

A necessidade de se realizar cotejamentos completos pode ajudar na

prevenção de desentendimentos na comunicação somente quando ambos os

locutores forem completamente conhecedores das particularidades da língua que

eles estão falando e estiverem completamente engajados no seu papel como

interlocutores (Fator Código e Fator Social). Falantes de linguagens nas quais

preposições explícitas se apresentam menos importantes do que na língua Inglesa

podem ter mais probabilidade de omitir algumas palavras caso o perigo de se

cometer este erro não for chamado a atenção em treinamento específico.

Também pode acontecer da natureza rotineira de muita comunicação na

aviação, e a repetição em particular, induzir a um grau de ritualização, onde

afirmações e situações acabam por perder seu impacto cognitivo e os participantes

acabam por cair em um padrão de simplesmente fazer as coisas mecanicamente.

Em um diálogo entre piloto e controlador, antes do início de um tráfego visual,

o controlador pergunta ao piloto se ele tem a pista à vista. O piloto responde que sim

e o controlador o instrui então a curvar para 360 graus. O piloto intuitivamente ao

começar a curva, começa a descer acreditando estar autorizado à aproximação

visual. Isso ocorre devido à familiaridade com o procedimento de aproximação,

levando o piloto a interpretar mal uma autorização, ouvindo mais do que realmente

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foi dito pelo controlador. Essas ocorrências sugerem que a padronização da

terminologia e dos protocolos, apesar de necessárias, podem também ser negativas

além de um determinado ponto, e que maneiras devem ser encontradas para manter

o interesse significativo entre os participantes do processo de comunicação ar-solo.

3.2 PROBLEMAS NÃO BASEADOS EM LINGUAGEM

3.2.1 Problemas com Números

Apesar de normalmente ser tido como um elemento mais preciso de se

transmitir, o uso dos números é de fato fonte de muitos mal-entendidos, quando, por

exemplo, a companhia aérea ABC libera vôos como ABC 123B, 123C, etc., ou

quando o Air DP 8 e o Air DP 88 estão na mesma freqüência, sendo controlados

pelo mesmo controlador a poucas milhas de distância.

Em outros casos, a pista 20 é algumas vezes confundida com a pista 02, ou o

vôo 925 copia a autorização endereçada ao vôo 529. Ou “one six thousand”

(16.000) é cotejado como “six thousand” (6.000) e o controlador falha em perceber o

erro. Os números 5 e 9 “five” e “nine” também se confundem em Inglês devido à sua

homofonia.

Um piloto reportou estar em uma descida a partir de 8.000 pés quando ouviu

uma ou duas aeronaves na aproximação com o mesmo número de vôo, inclusive

uma delas respondeu uma instrução endereçada à aeronave dele, com seu número

de vôo. O primeiro oficial tentou chamar o controle e verificar a altitude autorizada,

mas devido ao tráfego rádio das outras aeronaves com o mesmo número de vôo, ele

não conseguiu contato.

Diante destas dificuldades e confusões, torna-se imperativo desenvolver um

sistema de indicativos de chamada mais claro, a prova de falhas, principalmente

quando aeronaves de indicativos similares encontrarem-se no mesmo espaço aéreo.

Uma aeronave de companhia aérea internacional estava se direcionado para os

Estados Unidos e foi transferida para outro Centro de Controle após o piloto cotejar a

seguinte autorização e o primeiro oficial selecionar a altitude para 20.000 pés.

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“Cleared to descend to two zero zero, cross two zero Miles south of XYZ at two two

zero.” (Autorizado a descer para 20.000 pés, cruze 20 milhas antes de XYZ a 22.000

pés). O piloto estabeleceu o primeiro contato com o outro centro informando

“Leaving two two zero for two zero zero.” (Livrando 22.000 pés para 20.000 pés), ao

que o controlador questionou “Were you cleared to two zero zero?” (Você foi

autorizado para 20.000 pés?). O Centro questionou dizendo que a autorização tinha

sido dada apenas até o 22.000 pés, mas a tripulação entendeu que poderia

prosseguir até o 20.000 pés. Os pilotos disseram que não foram informados para

manter o nível de 22.000 pés.

Outro problema freqüente acontece envolvendo mal entendidos em relação a

autorizações para “one zero thousand” e “one one thousand”. Isso geralmente

acontece devido à semelhança entre as palavras, o que causa confusão.

Controller At the forty DME descend to one zero thousand feet

(a 40 DME, desça para um zero mil pés)

ABC Pilot Roger, at the forty DME descend to one one thousand feet

(Ciente, a 40 DME descer para um um mil pés)

Controller ABC where are you going? Your assigned altitude was one zero

thousand!

(ABC onde você está indo? A altitude instruída foi um zero mil!)

ABC Pilot XYZ Approach, we understood our clearance was to one one

thousand, we read back one one thousand…

(Controle XYZ, nós entendemos que nossa autorização foi para um

um mil, nós cotejamos um um mil....)

Controller Negative, ABC! Turn right to zero nine zero degrees and descend

immediately to one zero thousand. You have traffic at one one

thousand, twelve o’clock, -- miles

(Negativo, ABC! Curve a direita zero nove zero graus e desça

imediatamente para um zero mil. Você tem tráfego a um um mil, 12

horas...milhas)

Quadro 19 – Exemplo de problemas com números.

Fonte: Fatal Words, 1997

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Uma possível solução para este problema seria a adoção da fraseologia “ten

thousand” e “eleven thousand”, ao invés de “one zero thousand” ou “one one

thousand”.

O cotejamento de um piloto em relação a sua altitude de vôo foi correto, com

exceção a sua freqüência de saída que ele cotejou como “318.4”, ao invés da

correta “381.4”. Após a decolagem o Controle de saída ficou impossibilitado de

manter contato com a aeronave, já que a mesma estava em outra freqüência.

Os cotejamentos às vezes podem ser ineficientes na correção da confusão

entre os números. Em resposta a uma autorização para a proa 210, o piloto cotejou

“curva à esquerda, proa 310”. E o controlador não percebendo o erro, respondeu

“cotejamento correto”. Isso pode ser entendido, na parte do controlador, como uma

forma de ouvir aquilo que ele deseja, já que ele já sabe o que ele disse ao piloto e o

que ele quer ouvir. Provavelmente a pior confusão relacionada a números é aquela

que confunde os diversos parâmetros de vôo.

Approach

Control

Left 360, descend to 3.000, follow river

(Esquerda 360, desça para 3.000 pés, siga o rio)

Copilot Understand a left 360 and descend to 3.000?

(Entendido esquerda 360 e descer para 3.000 pés?)

Approach Affirm, following traffic ten o’clock, six miles.

(Afirmativo, siga trafego 10 horas, 6 milhas)

Copilot Roger, looking for the traffic and we’re doing a left 360 to follow

(Ciente, procurando o tráfego e estamos fazendo um 360 a

esquerda)

Approach What are you doing?

(O que você está fazendo?)

Copilot A left 360 to follow traffic as instructed!

(Um 360 pela esquerda para seguir o trafego, conforme instruído!)

Approach Climb to 4.000 now, role out heading 360 for vectors to follow traffic

(Suba para 4.000 pés agora, curve a direita proa 360 para

vetoração)

Quadro 20 – Confusão relacionada a números e parâmetros.

Fonte: Fatal Words, 1997

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Neste caso a confusão aconteceu em relação à proa 360, instruída pelo

controlador e entendida pelo piloto como um 360 (giro de 360 graus) pela esquerda.

O ajuste de altímetro também é particularmente uma fonte de confusões que

merece atenção especial. Uma aeronave que iniciou um procedimento ILS em um

aeroporto europeu, o qual forneceu o ajuste de altímetro QNH de 992 Hpa. A

tripulação estava acostumada à política dos controladores europeus de fornecer à

tripulações americanas ajustes de altímetros em polegadas de mercúrio (Pol.Hg),

então, interpretou o ajuste dado como 29,92 pol. Hg ao invés de 992 Hpa. Uma

aeronave próxima recebeu a informação no seu equipamento que eles estavam a

2.000 pés até que o controle os informou que eles estavam a 1.500 pés e que o

altímetro era 992 Hpa. “Quase instintivamente, nós inserimos 992 Hpa no altímetro

do co-piloto e a atual altitude mostrada foi 1450 FT – uma diferença de 550 FT”

comentou o piloto. A abreviatura de freqüência de rádio, omitindo o primeiro dígito já

é algo comum, como por exemplo, ao invés de uma freqüência ser transmitida como

121.9 a mesma é referenciada apenas por “21.9”. Portanto, deve-se tomar cuidado

em estabelecer um padrão nesta fraseologia em particular, caso algum dia também

se torne comum abreviar o ajuste de altímetro transmitido para uma aeronave

estrangeira, para que 986 Hpa não seja confundido por 29.86 Pol. Hg.

3.2.2 Problemas de Complacência

O uso ou o mau uso do equipamento rádio também é outra fonte perigosa de

erros na comunicação. A má comunicação pode surgir de pequenos momentos onde

o piloto perde a recepção por um ou dois minutos, quando seu fone de ouvido cai no

exato momento em que o Centro de Controle estava lhe dando alguma instrução,

enquanto o outro piloto estava na freqüência do ATIS e, portanto, fora da freqüência

do Centro. Pode acontecer também quando inadvertidamente o piloto abaixa o

volume do seu VHF ao fazer o cheque de VOR e só percebe o fato quando tenta

chamar o Centro e não recebe resposta e após verificar o volume, é informado pelo

Centro que já havia sido tentado o contato várias vezes.

O não uso do equipamento rádio é outro agente causador de incidentes. Um

piloto pousou uma aeronave sem autorização e depois informou que simplesmente

esqueceu-se de chamar a Torre de Controle.

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Algumas vezes, o rádio não pode ser usado, pois alguém inadvertidamente o

bloqueou. De fato, um “stuck mike”, como é chamado quando o gatilho do microfone

fica preso, pode interromper todas as comunicações por um período de horas, até

que o piloto perceba que a luz indicativa de transmissão está continuamente acessa.

Outro problema freqüentemente encontrado nos aeroportos movimentados, é

a chamada contínua de uma aeronave atrás da outra, às vezes, duas ao mesmo

tempo, bloqueando alguma transmissão (sobremodulação). Essa confusão poderia

ser evitada se cada piloto antes de efetuar sua transmissão, parasse para ouvir,

evitando atropelar alguma outra transmissão.

O rádio pode também ser sintonizado na freqüência incorreta, impedindo os

pilotos de receberem as instruções dos controladores. Um piloto, na final do seu

procedimento de aproximação, estranhou o fato do Controle de Aproximação não o

ter transferido para a Torre de Controle nem ter lhe dado a autorização de pouso. O

piloto tentou chamar o Controle para esclarecimentos mas estava com a freqüência

errada e se encontrava na fase crítica da final para pouso. Sem contato com o

mesmo, iniciou um procedimento de arremetida quando observou outra aeronave na

posição de decolagem. Depois, foi informado que a Torre de Controle estava

tentando estabelecer comunicação com o mesmo e não entendia porque ele não

cumpria as instruções.

3.2.3 Distração ou Fadiga

Além de todos os problemas já mencionados anteriormente, a perda de

comunicação ou a distorção na comunicação pode ser provocada por problemas de

distração e fadiga (Fator Cognitivo). Nas palavras de um controlador, ao reportar

uma autorização mal interpretada, o mesmo justifica: “Eu não sei o que aconteceu!

Possivelmente eu disse dez mil vezes e escrevi onze mil, mas depois do dia que

tive, tudo parece ser possível!”. Um piloto acabou passando o nível de vôo

autorizado em 400 ou 500 pés e atribuiu a causa ao seu dia anterior, onde tinha

levado um amigo ao hospital, foi para a cama tarde, dormiu mal, acordou cansado,

vôo longo e preocupação.

As distrações podem evitar que um controlador perceba o erro de

cotejamento de um piloto, assim como podem levar um piloto ou um controlador a

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cometer um erro. Uma aeronave foi instruída a subir para 5.000 pés e atingiu 6.500

pés, quando foi questionada pelo controle de tráfego. O motivo da distração foi a

pergunta de um passageiro ao atingir a altitude de 5.000 pés. Uma tripulação

envolvida na conversa de cabine se esqueceu de passar para a freqüência da Torre

de Controle, conforme instruída pelo Controle de Aproximação. A primeira vez que

perceberam que pousaram sem autorização, foi quando o Controle de Solo informou

que a Torre tinha autorizado o pouso deles. Para evitar distrações para a tripulação

nas fases críticas de vôo, as autoridades aeronáuticas determinam que abaixo de

10.000 pés, no mínimo, nenhuma conversa deve ser travada se não for de caráter

operacional. Nesta fase, chamada de “sterile cockpit” não deve haver interferência

desnecessária nem mesmo da tripulação de cabine (FAR 121.542, 2009).

A distração também pode levar a decolagens sem autorização, como por

exemplo, quando o co-piloto está tão envolvido na verificação do checklist e se

esquece de pedir a autorização.

Algumas vezes, um desastre é evitado quando um controlador efetivamente

chama a atenção de uma tripulação distraída. Em um dos casos observados, onde

o co-piloto estava voando, o Centro de Controle informou que eles estavam fora do

curso, na aerovia errada. Depois, enquanto estavam efetuando a correção, o Centro

informou que estavam acima da altitude autorizada.

3.2.4 Impaciência

A efetividade da comunicação também pode ser enfraquecida pela

impaciência (Fator Social e Fator Cognitivo). Um comandante reportou ter ouvido no

rádio, durante uma noite escura e com tempestades, com uma pilha de aeronaves

voando a oeste de Chicago O’Hare, um controlador de aproximação exaustivo

transmitindo continuamente: “Global 25, cleared ILS, report the outer marker;

universal 762, descend to eight thousand, report leaving nine” (Gloal 25, autorizado

ILS, reporte o marcador externo, universl 762, desça para oito mil, reporte livrando

nove). De repente uma voz impaciente o interrompe: “What’s our expected approach

time? ir we hang around here much longer, we’ll have to go to Minneapoliss” (Qual é

a nossa hora estimada de aproximação? Se ficarmos aqui por muito mais tempo

teremos que ir para Mineápolis). O controlador responde, sem parar para respirar:

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“Roger, cleared to Minneapolis; Universal 762, you are now cleared for the ILS.”

(Ciente, autorizado para Mineápolis, Universal 762, você está autorizado ILS).

Essa autorização tão rápida dada pelo controlador após a solicitação do piloto

não seria necessária, se ambos piloto e o controlador não estivessem tão

impacientes. Impaciência pode ser perigosa em seu próprio aspecto, além de seus

efeitos na comunicação.

3.2.5 Obstinação ou Não Cooperação

Em um incidente, um piloto de uma aeronave pequena foi autorizado a subir

para 3.000 pés após decolagem e foi observado passando por 4.600 pés, quando

então o controlador questionou sua altitude autorizada. Ele justificou que apesar da

baixa altitude autorizada, seu plano de vôo tinha sido preenchido par 8.000 pés e

que ele estava subindo para aquela altitude (Fator Social e Fator Cognitivo).

3.2.6 Irresponsabilidade e Conflito

Brincadeiras e piadas na aviação já foram causas de incidentes graves, e não

seria diferente quando se trata de comunicação.

Um piloto reportou que lhe pregaram uma “peça” em um de seus vôos.

Durante uma subida autorizada para 4.000 pés, o piloto solicitou subir para 7.000

pés utilizando, por engano, a freqüência da companhia e recebeu a resposta “suba e

mantenha 7.000 pés”. Mais tarde o piloto relatou: “Quando percebemos que

transmitimos na freqüência errada, rapidamente mudamos para a freqüência do

Controle de Saída e solicitamos confirmação para subir a 7.000 pés. O controlador

informou que deveríamos manter 4.000 pés, mas já que estávamos passando a

altitude de 5.400 pés poderíamos subir para 7.000 pés. Eu nunca consegui

descobrir quem foi que respondeu àquela transmissão.”

Igualmente preocupante são os incidentes que ocorrem devido a conflitos

entre a tripulação ou tripulações. Um controlador pediu a um piloto de uma empresa

aérea para contatar um outro vôo de uma grande empresa de carga aérea e informa-

lo que “o Centro de Controle inadvertidamente esqueceu de transferir a aeronave de

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setor e mudar a freqüência de chamada”. No relatório do controlador, o mesmo

informa que não conseguiu contato na nova freqüência com a aeronave de carga

pois o piloto não repassou a mensagem. Ao ser questionado o motivo, o piloto

disse ao controlador que “se recusava a passar informações para pilotos daquela

empresa em particular”.

3.3 PROLBEMAS GERAIS

3.3.1 Mensagem não Enviada

Durante uma descida o controlador esqueceu de informar ao piloto que a

restrição de velocidade não era mais necessária em uma posição específica. O

piloto passou àquela posição com velocidade reduzida. Em outro caso o

controlador não informou um tráfego essencial próximo ao aeroporto, durante a

decolagem de uma aeronave. O comandante mostrou ao co-piloto o tráfego e

questionou o controlador. Este informou que havia esquecido de informar a

existência do mesmo. A aeronave passou a 150 pés abaixo e ligeiramente atrás de

sua aeronave.

3.3.2 Mensagem Enviada mas não Recebida

Após um evento de quase colisão, um controlador reportou “ao tocar a fita

verificamos que o piloto interpretou minha informação de tráfego como uma

autorização, embora eu não tenha ouvido ou confirmado isso”.

Controller You have crossing traffic at 6.000 ft , two o’clock, ten miles.

(você tem tráfego cruzando a 6.000 pés, duas horas, 10 milhas)

Pilot What´s his altitude?

(Qual a altitude dele?)

Controller He is at 6.000 ft

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(Ele está a 6.000 pés)

Pilot Roger, we are out of 7.000 for 6.000

(Ciente, estamos de 7.000 para 6.000)

Controller No Response - (Sem Resposta)

Pilot We just had an airplane go by our nose

(Nós temos uma aeronave passando bem no nosso nariz)

Controller Roger, that´s the traffic I called you at 6.000

(Ciente, Esse é o tráfego que eu informei a 6.000)

Pilot He sure was!!!

(com certeza era!!!)

Quadro 21 – Exemplo de mensagem não recebida.

Fonte: Fatal Words, 1997

3.3.3 Mensagem Enviada e Recebida, mas não Entendida

Confusões acontecem muito do fato de alguns VOR´s possuírem o mesmo

nome do aeroporto, mas não estarem na mesma posição. Um controlador solicitou

ao piloto “Cruze 35 milhas de ABC a 11.000 pés” e mais tarde “Cruze 30 milhas

sudoeste de ABC a 10.000 pés”. O Controlador em questão estava se referindo ao

aeroporto ABC e o piloto cumpriu as restrições, porém baseado no VOR ABC e não

no aeroporto. O piloto reportou “O VOR ABC não está na mesma posição do

Aeroporto ABC. Esta foi uma autorização imprópria se essa era a intenção dele”.

3.3.4 Mensagem Enviada, Recebida e Entendida mas Esquecida

Um piloto que foi “autorizado a passar o VOR no nível 250 e manter”

declarou que havia cotejado nível 240. Mais tarde, porém, a gravação mostrou que

o piloto havia cotejado “VOR at 250” ou “VOR no nível 250”. Um outro piloto

reportou que havia recebido “autorização no solo para manter 250 kt até ser

instruído a acelerar. Porém, ao cruzarmos 10.000 pés a aeronave acelerou para

310 kt. O controle de saída questionou nossa velocidade e imediatamente

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reduzimos para 250 kt”. O piloto observa “nós temos acelerado ao passar por

10.000 pés por há muito tempo” e sugere “parece que esse novo procedimento em

alguns aeroportos, de manter 250 kt até autorizado a acelerar, seria de boa prática

ser relembrado pelo controle de saída antes de livrarmos a freqüência”.

3.4 EXEMPLOS NACIONAIS

Embora os eventos descritos estejam, em grande parte, disponíveis na

publicação de segurança de vôo CALLBACK, publicado por um departamento da

NASA chamado ASRS, existem relatórios nacionais que devem ser apresentados,

com o intuito de mostrar que o problema nas comunicações é global e não está

relacionado somente ao uso da língua inglesa. Estes relatórios foram transcritos na

íntegra e foram escritos por comandantes de companhias aéreas brasileiras durante

o ano de 2008. Todos têm em comum a ocorrência de erros de comunicação, como

aqueles já descritos, que contribuíram para a ocorrência de incidentes leves. Os

dados sobre data, matrícula, número de vôo, órgão de controle, nome de

companhias aéreas e pessoal foram omitidos afim de assegurar legalmente total

sigilo à pessoas e instituições.

► Durante a solicitação da autorização do vôo o controle de solo de (...) autorizou a

SID (A) (RDL194º), após o acionamento, e durante o taxi a SID foi trocada para (B)

(RDL 210º), após o alinhamento, antes da autorização para decolagem, foi

novamente trocada para (C) (RDL 225º), após a decolagem (15:11 Horário Brasília),

após 02 DME iniciamos curva à direita para interceptar a RDL 225º, cruzando

aproximadamente 2000ft fomos autorizados a chamar a freqüência do APP, fizemos

02 chamadas, sem resposta na terceira chamada, já estabilizando na RDL 225º o

controle solicitou que fizéssemos curva à esquerda para livrar 02 tráficos à direita

aproximadamente 15nm, e mantivéssemos a RDL 210º por 100nm e depois

aproássemos o fixo da aerovia. Não houve risco de colisão, pois executamos

imediatamente as ordens do controle. Eu ia solicitar ao controle de (...) explicações

do motivo de tantas trocas de SID's e proa, mas ouvi na freqüência que acabara de

decolar um helicóptero para atendimento SAR à uma aeronave que havia se

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acidentado em uma área próxima, não fiz a reclamação por achar que

sobrecarregaria o órgão de controle com mais esta informação, mas acho que a

coordenação entre o solo, a torre e o APP (...) deveria ser mais "AFINADO", apesar

do problema da aeronave acidentada, em último caso se a coordenação entre os

órgãos fosse prejudicada pelo atendimento ASR, as operações de DEP deveriam ser

suspensas até a normalização da situação.

► Aproveito ainda este relatório para informar que durante a aproximação para

pouso em (...) que as freqüências VHF do Controle de Aproximação (...) estavam

transmitindo “INTRECORTADAS”, mesmo as alternadas, o fato também foi

reportado por várias aeronaves, 02 aeronaves estavam em procedimento de

arremetida, pois não conseguiram copiar as devidas autorizações, ficamos

aproximadamente 2 minutos sem contato radio, chamei então a torre (...) no VHF 2 e

informei nossa posição e nível, tendo recebido deste órgão de controle mais uma

freqüência alternativa, que também estava ruim.

► Estava em procedimento de descida quando o ACC (...) me solicitou que fizesse

uma órbita c/ afastamento de 2 minutos na posição PUGNI. Questionei o ACC sobre

quanto tempo de espera iríamos fazer. E o mesmo me solicitou que o informasse

quanto tempo tínhamos de combustível EXTRA. Foi dito ao mesmo que nosso

combustível EXTRA era de 15 minutos. Na perna de afastamento fui instruído pelo

ACC a aproar o VOR de (...) e chamar o APP (...). Ao chamar o mesmo fui

questionado das minhas intenções, tendo em vista que a cabeceira em, uso era a 34

e estava abaixo dos mínimos para aproximação GPS (VOR fora de serviço). E as

outras aeronaves que estavam aproximando e pousando estavam operando na pista

16 com vento de cauda de 6 a 10 nós. Solicitei ao mesmo aproximar para a 16 e

avaliar a situação na aproximação final. Logo em seguida o APP me questionou

sobre minha autonomia e pessoas a bordo, neste momento tínhamos 4500kg de

combustível. E foi informado ao APP 01:55 de autonomia alternado SBGR que era o

previsto no despacho do vôo. Fui autorizado a aproximar para a pista 16. Quando

próximo ao externo observei vento de cauda de 17 nós. Questionei o APP sobre o

teto na 34, o mesmo me informou que tinha melhorado e que o teto era de 500 pés.

Solicitei descontinuar a aproximação e prosseguir para o GPS da 34. Fui vetorado e

autorizado a aproar o CF364. Efetuei o procedimento normalmente e pousei sem

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nenhum problema. Após o pouso observei carros de bombeiro na lateral da pista, e

ao livrar perguntei a torre se tinha alguma aeronave em emergência. Para minha

surpresa a resposta foi "o senhor que estava em emergência de combustível". Foi

informado ao mesmo que em momento algum declarei emergência de combustível a

nenhum órgão de controle. Após o corte de motores liguei imediatamente para o

CCOA e falei com o Cmte. (...) sobre o acontecido. Chamei os mecânicos (...) e (...)

e o gerente da base para olharem o combustível remanescente. Que era de

4.000Kg.

► Ao passar a posição SAGAZ, fomos transferidos para o Centro (...) e fomos

instruídos a chamar na freqüência 127. (...) e alternando 126. (...) e assim o fizemos

com sucesso em 127. (...). Permanecemos na mesma ate o TOD. Quando pedimos

para a descida o centro me informou para transferir para 126. (...). Ao fazer a

chamada inicial o centro pediu para descer ate FL230 e perguntou se estávamos na

escuta do centro pois o mesmo tinha efetuado diversas chamadas na freqüência e

inclusive em 121.5 ( Antes da descida ate fiquei fora pelo período que estava

obtendo o ATIS campinas) e não tinha contato conosco e também perguntou que

proa estávamos mantendo se tinha autorizado voar CPN! Achei muito estranho pois

ninguém tinha nos pedido momento algum para voar Campinas e muito menos

estabeleceram contato na freqüência que estávamos em cruzeiro, tanto que ao pedir

descida o centro respondeu a chamada na hora e me pediu para trocar a

freqüência. Ai então fomos informados para interromper a descida no FL230 devido

trafego e perguntou de novo que proa estávamos mantendo e eu disse que voava

proa de (...) e fomos re-autorizados o FL 130 e então o controle perguntou qual proa

voava de novo e eu disse (...) e o mesmo disse que era para estarmos na proa do

VOR CAMPINAS pois o mesmo já tinha autorizado diversas vezes o VOR

Campinas. Ninguém tinha autorizado proa alguma, e sim indagado proas que

estávamos mantendo.

► No perfil da subida, sem informação de tráfego essencial, recebemos instrução do

Controle (...) para livrar 6.000ft, subir ao FL340, empregando RAZÃO MÁXIMA até o

cruzamento do FL120. Para tal acionamos o EXPEDITE SW. Quando estávamos

cruzando o FL 75, com razão de subida superior a 5.000ft/min e aumentando,

recebemos nova instrução para mantermos o FL 80. Selecionamos V/S SW = ZERO,

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porém devido à grande razão de subida passamos do FL80. O AP foi desligado e

retornamos em MANUAL FLT para o FL 80. Chegamos próximos do FL90 e

reportamos ao controle, que apenas cotejou CIENTE. Fora o desconforto causado

pela manobra, não houve maiores conseqüências, porém a instrução recebida

causou preocupação instantânea, foi evidente a impossibilidade de cumprimento da

mesma.

► No meu procedimento normal de subida fui restrito ao FL240, aonde cumpri.

Questionei a possibilidade de ascender o mais breve possível ao meu nível de

cruzeiro FL360, por duas ou três vezes aonde o mesmo sem razão informou que

pelo meu questionamento "seria reportado". Mais uma vez educadamente questionei

o porque deste estranho comportamento e não obtive resposta.

► Escrevo para alertá-los de uma situação que vem ocorrendo com freqüência em

(...). Os órgãos de controle de tráfego aéreo de (...) vêm sistematicamente

modificando instruções de subida durante taxi ou até mesmo após a decolagem.

Esta prática traz um aumento desnecessário na carga de trabalho do cockpit.

Entendo que o órgão ATC tem que gerenciar chegadas e saídas, porém a falta de

antecipação e eficácia do mesmo está trazendo um fator indutor de erro, grande

potencial danoso. Semana passada, após decolar de (...), no primeiro contato com o

APP, o mesmo cancelou nossa subida e instruiu a execução de outra saída

completamente diferente...não havia nenhum tráfego que justificasse tal medida.

► Durante a subida inicial, na SID (...), a torre (...)transferiu para o Controle (...). Na

freqüência indicada não foi obtido resposta. Retornemos para a freqüência da torre,

que indicou a mesma freqüência anterior. Tentou-se efetuar contato com várias

freqüências indicadas na carta Jeppesen e não foi obtido êxito. Finalmente,

questionado a torre, que por fim indicou uma freqüência diferente na qual foi

possível efetuar contato com o controle. No total, transcorreram aproximadamente 4

a 5 min até que se estabeleceu contato com o controle, em um ambiente de tráfego

aéreo bastante intenso.

► Venho reportar uma situação com potencial de risco durante a execução da STAR

(...). Efetuávamos o vôo (...) quando, por vota de 22:00 UTC fomos instruídos pelo

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APP (...) na freqüência 129, (...) a abandonarmos a STAR numa proa fornecida pelo

controlador. Como não recebemos o limite desta proa, solicitei o mesmo ao APP,

que me respondeu para aguardar e passou a se comunicar com outra aeronave.

Minutos depois, ainda sem termos recebido o limite a proa em que voávamos, fomos

instruídos a efetuar curva pela direita e retornar à STAR. Continuamos na STAR até

próximo à posição UGONO, quando o APP iniciou nova vetoração e novamente não

recebemos o limite da proa. Mais uma vez solicitei e fui instruído a aguardar,

somente após duas indagações é que recebemos nosso limite. Este segundo evento

foi também na freqüência 129. (...) e por volta de 22:02 UTC. Fica claro que ao

retirar a aeronave da STAR (que já possui um procedimento definido em caso de

falha de comunicações) e não fornecer o limite da autorização para a nova proa o

controlador aumenta de forma desnecessária o nível de risco da situação

► Informo que no referido dia não fomos instruídos e não recebemos qualquer

comunicação do setor (...) para passar a escuta do ACC (...). Quando interrogamos o

setor (...) se podia descer, o controlador, embaraçadamente e surpreso com o

questionamento, pediu para que comunicasse com ACC (...) a que fizemos

prontamente. Confirmo que não recebemos nenhuma instrução para transferir para o

ACC (...) e não recebemos nenhuma chamada em 121.5mhz. Devo acrescentar

ainda que em nenhum momento as nossas comunicações foram interrompidas ao

ponto que configurasse uma aplicação dos procedimentos de falha de

comunicações. Recebemos e transmitimos normalmente sem nenhum problema.

► Venho através desde relatar o fato ocorrido no aeroporto Internacional de (...).

Estávamos fazendo o trecho do vôo (...) decolando de (...) para pouso em Recife. Ao

atingirmos o ponto de espera da pista 10, foi nos instruído que após a decolagem do

F100 da (...) estaríamos livres para alinhar e manter posição, tal instrução foi

cotejada e seguida conforme. Ficamos mais de 2 minutos alinhados e sem instrução

nenhuma da torre de controle ate que uma aeronave citation (não me recordo da

matricula) reportou estar passando o marcador externo para pouso na pista 10. A

torre questiona se o citation esta visual com outra aeronave que seguia para pouso

na pista auxiliar, e o piloto confirma o contato visual e recebe autorização de pouso

na pista 10. Neste momento alerto a torre que estávamos alinhados na pista 10, e a

torre não entende a mensagem e pede para confirmar e novamente alerto “Torre o

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(...) esta alinhado na pista 10”, após essa mensagem o controlador com voz de

sustado informa para o citation arremeter de imediato. Pela informação do TCAS a

aeronave passou a 200 pés sobre a nossa aeronave. Depois da arremetida da

aeronave fomos instruídos a decolar sem nenhum comentário adicional.

► Origem: Alinhados e autorizados a decolar da pista 13 de (...), acompanhava-mos

a transmissão de outra aeronave na freqüência da torre o PT-(...) que parecia

desconhecer a sua própria posição em relação a pista. Não recebíamos o trafego em

nosso sistema TCAS e percebemos que a torre também estava desconfortável com

as informações transmitidas pelo PT-(...). Diante desta situação, julgamos inseguro

iniciar a decolagem e informamos a torre que permaneceríamos parados até a

identificação "real" da posição do trafego. Logo após, a torre identificou o posição da

aeronave, que informava estar no setor norte do aeroporto e na verdade estava no

setor sul, ligeiramente a esquerda da rampa de decolagem.

► Informo deficiência nas freqüências 127.(...) (principal) e 126.(...) (alternada) do

ACC (...). Várias aeronaves (inclusive nós) reportaram ao ACC um forte apito

acompanhado as transmissões do controlador, tornando impossível por diversas

vezes o entendimento das mensagens do mesmo.

As semelhanças com os relatórios da ASRS são incríveis e mostram que o

problema existe há muito tempo e deve ser tratado de forma direta. Embora algumas

soluções estejam sendo desenvolvidas devem melhorar o processo de comunicação

entre pilotos e controladores, estes não irão resolver o problema em definitivo,

permitindo ainda que erros possam ocorrer devido a própria natureza da

comunicação via rádio.

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3. AS SOLUÇÕES

A comunicação via rádio carece de elementos que permitam aos

interlocutores avaliarem o significado implícito nas mensagens trocadas. A

interação interpessoal é de grande ajuda na identificação das intenções dos

agentes, principalmente o contato visual entre eles. A natureza agraciou à espécie

humana a capacidade de perceber a intenção do seu interlocutor através dos seus

gestos e expressões. Como sugere Weil e Tompakow (2003). Página 77, o

indivíduo: “...Reage , inconscientemente que seja, à informação inconscientemente

recebida. Mas a discerniu, de alguma forma!”. A entonação de voz também ajuda

ao receptor a perceber a função da mensagem (surpresa, dúvida, urgência). As

expressões faciais permitem ao emissor avaliar como a mensagem chegou ao

receptor, fazendo a função de um feedback primário. Esses elementos, contudo,

não podem ser aplicados na comunicação via rádio ou, quando podem (entonação

de voz), não devem constituir o meio primário na avaliação da qualidade de

entendimento do significado da mensagem na comunicação aeronáutica.

A busca de soluções para tornar a comunicação o mais eficiente possível

pode ser encontrada em três campos distintos: no Fator Código, que tem origem no

conhecimento das regras de tráfego aéreo e na utilização da fraseologia padrão, no

Fator Ruído, que é representado pelo canal de transmissão da mensagem, como

rádio ou satélite e no Fator Social e Cognitivo, que é traduzido pelo estado

psicológico individual dos agentes comunicativos em um determinado tempo.

Os Fatores Sociais e Cognitivos são de controle inviável devido a sua

natureza temporal e individual, quase impossíveis de serem submetidos a uma

avaliação contínua. O Fator Ruído pode ser controlado utilizando-se de tecnologia

na melhoria da eficácia das transmissões. O Fator Código é o único fator que pode

ser controlado e administrado constantemente, porém, este controle deve ser

baseado em uma regulamentação sólida e em treinamento intensivo afim de garantir

sua eficiência.

Várias soluções foram implementadas em anos recentes com o intuito de

diminuir os erros na comunicação radiofônica aeronáutica e vários outros estão

sendo objeto de estudo, regulamentação ou implementação. Analisar estas

soluções e avaliar sua eficácia é essencial para que se possa obter um cenário

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realista das dificuldades encontradas para melhorar o segurança da aviação no

contexto da comunicação via rádio.

3.1 FRASEOLOGIA AERONÁUTICA

3.1.1 O Surgimento da Fraseologia

A maioria dos códigos utilizados na aviação ainda hoje têm origem nas

marinhas de guerra. Vários termos hoje utilizados provêem do seu uso em

embarcações navais, como nós, proa e través. No início da aviação não havia uma

forma definida de se falar ao rádio. A experiência individual determinava quais

regras seriam utilizadas na comunicação. As regras de tráfego aéreo tão pouco

eram específicas, sendo que cada país criava a sua própria. Como a aviação

permitia alcançar outros países em questão de horas (em 1927 Charles Lindenbergh

cruzou o Oceano Atlântico em um vôo dos Estados Unidos a França em 33 horas e

31 minutos) era mister criar regras padronizadas entre os países afim de facilitar as

operações aeronáuticas.

No ano de 1946 em Dublin foi realizado a Conferência Internacional sobre a

Organização de Serviço de Rota do Atlântico Norte onde foi formado o Comitê sobre

Controle de Tráfego Aéreo. Deste encontro surgiu o primeiro PANS-ATC, que tinha

como objetivo criar regras a serem seguidas por pilotos e prestadores de serviços de

apoio. Ao longo do tempo este documento foi sendo atualizado onde regras foram

alteradas e outras novas, incluídas. A edição foi renomeada PANS-ATM em 2001

com o intuito de incluir regras relativas a segurança no gerenciamento do fluxo de

tráfego aéreo.

A fraseologia proposta pela ICAO está contida nos procedimentos

encontrados no Anexo 10 – Telecomunicações Aeronáuticas, Volume II,

Procedimentos de Comunicação e no PANS-ATM chamado de Doc 4444. Com o

objetivo de juntar informações de ambos os manuais, a ICAO elaborou o Manual de

Radiotelefonia ou o Doc 9432.

O conjunto de regras estabelecidos no Doc 4444 inclui procedimentos

específicos a serem usados na atividade aérea por todos aqueles que participam do

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processo, seja embarcado na aeronave ou exercendo funções no solo. Tem como

principal função normatizar e regulamentar as operações aéreas tanto no ar como no

solo. O capitulo 12 do Doc 4444 é dedicado exclusivamente à padronização dos

procedimentos de comunicação radiofônica aeronáutica fornecendo regras,

exemplos e termos técnicos, objetivando a eficiência operacional e a segurança de

vôo. A preocupação com possíveis problemas relacionados ao erro de

comunicação, ou a má utilização do código, principalmente em língua inglesa,

aparece já no início do capítulo quando se trata de circunstâncias onde não cabe o

uso da fraseologia padrão (DOC 4444, 2001, p.12-1):

“(...)É esperado que pilotos, controladores e operadores de solo

usem linguagem simples, o qual deve ser a mais clara e concisa quanto

possível, afim de evitar possíveis confusões às pessoas utilizando outra

língua que não a sua língua pátria.”

Ilustração 5 - Exemplo do quadro explicativo da fraseologia aeronáutica.

Fonte: ICAO DOC 4444 – Capitulo 12.3

Já o Doc 9432 tem como objetivo normatizar o uso da fraseologia, fornecer

conceitos e exemplos, explicar técnicas de operação de equipamentos de rádio,

estabelecer pronúncias de linguagens específicas e criar padrões de comunicação.

O Doc 9432 inicia seu prefácio enfatizando a importância da clareza nas

comunicações aeronáuticas (Doc 9432, 2007, p iii):

“A fraseologia ICAO foi desenvolvida para promover uma

comunicação eficiente, clara, concisa e sem ambigüidades, e uma atenção

constante deve ser dada ao correto uso da fraseologia ICAO em todas as

circunstancias em que forem aplicáveis. Entretanto, não é possível prever

uma fraseologia que cubra todas as situações possíveis de acontecer,

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portanto, os exemplos contidos neste manual não são exaustivos, mas

meramente representativos da fraseologia de uso comum.”

O texto prossegue dando ênfase a mesma situação que o Doc 4444 em

relação ao uso correto da linguagem quando não técnica:

“Os usuários poderão achar necessário agregar à fraseologia o uso

de linguagem simples. Sendo assim, deve-se usar os mesmos princípios que

governam o desenvolvimento da fraseologia, que são a comunicação clara,

concisa e sem ambigüidades.”

O documento segue explicando da necessidade de se observar certos

princípios quando se utilizando da comunicação aeronáutica quando utilizando uma

língua estrangeira:

“É necessária proficiência suficiente na língua que está sendo usada.

Em adição ao correto uso da fraseologia e da adequada proficiência

lingüistica, também é importante ter em mente que a língua que está sendo

usada na radiotelefonia freqüentemente não é a primeira língua do emissor

ou recebedor da comunicação. Ter consciência das dificuldades especiais

encontradas por falantes de uma segunda língua contribuem para uma

comunicação mais segura. As transmissões devem ser feitas devagar e de

forma clara. Declarações diretas as quais evitam o uso de expressões

idiomáticas são mais fáceis de entender do que declarações indiretas, uso de

expressões coloquiais ou gírias.”

Sob o ponto de vista dos modelos da comunicação, o foco do Doc 4444 e do

Doc 9432 é basicamente o Fator Código. Concluí-se então que os perigos

potenciais envolvidos no processo de comunicação via rádio, relativos à utilização do

código, há muito são conhecidos. Ambos os documentos enfatizam a necessidade

de se conhecer os códigos envolvidos, seja ele a fraseologia e termos técnicos, a

língua que será utilizada ou a técnica utilizada na comunicação em si. Utilizando-se

exemplos práticos, se um piloto e um controlador dominam a fraseologia

perfeitamente, se comunicando na sua língua pátria mas não se comunicam de

forma clara, falando rápido e de forma despretensiosa, as chances de haver um erro

no entendimento da mensagem aumentam consideravelmente.

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Ilustração 6 - Técnica de transmissão via rádio para assegurar recepção satisfatória.

Fonte: Doc 9432 – Capitulo 2.2.1

A criação de uma fraseologia específica para o meio aeronáutico advém da

preocupação em garantir o bom entendimento das mensagens trocadas entre

interlocutores. Os Estados Unidos, porém, preferiram adotar um modelo menos

rígido e mais informal nas comunicações aeronáuticas. Esse tipo de postura,

contudo, se mostrou mais danoso à segurança de vôo e encontra-se em fase de

mudança.

3.1.2 Padronização em Foco

Os documentos americanos que regulamentam o uso das comunicações

aeronáuticas podem ser encontrados no AIM Section 2 – Radio Communication

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Phraseology and Techniques e na FAA Order JO 710.65S Air Trafic Control. O AIM

é similar ao PANS/ATM da ICAO embora sua formatação e conteúdo sejam

relativamente diferentes. Este documento possui, descrito na sua seção 2, as

técnicas a serem adotadas durante as comunicações aeronáuticas. No capítulo 4-2-

1 General pode-se observar que há uma preocupação em se destacar a

necessidade da brevidade quando se utilizando do rádio bem como dos perigos de

uma comunicação mal feita:

“Comunicação por rádio é um elo crítico no sistema ATC. (...) O fator

mais importante na comunicação entre piloto e controlador é o entendimento.

(...) É importante ser breve e os contatos devem ser os mais curtos possíveis,

mas os controladores necessitam saber o que você quer saber antes de

executar apropriadamente suas funções. E você, piloto, deve saber

exatamente o que o controlador quer que você faça. Como uma fraseologia

concisa nem sempre é adequada, use qualquer palavra necessária para

fazer sua mensagem chegar ao destino corretamente.”

O tipo de matrícula utilizado nas aeronaves americanas é uma preocupação a

parte. Devido o grande número de aeronaves e do sistema de letras e números os

quais as aeronave são identificadas, a matrícula das aeronaves são fonte de

preocupação especial do órgão ATC (AIM 4-2-4, 1):

“O uso inapropriado da chamada da matrícula pode resultar em

pilotos executando uma autorização ATC destinada à outra aeronave.

Matrículas nunca devem ser abreviadas em um contato inicial ou em

qualquer momento quando uma aeronave possuir uma matrícula similar em

números, letras ou sonoridade.”

Os órgãos de tráfego aéreo dentro do espaço aéreo americano sempre foram

mais tolerante com o uso de linguagem não padrão. Porém, devido ao grande

número de incidentes envolvendo erros na comunicação, o FAA vem sendo

pressionado pelo NTSB a criar medidas afim de corrigir problemas decorrentes do

excesso de tolerância nas comunicações como, por exemplo, certas autorizações

que ficam “implícitas” nas mensagens emitidas pelo órgão ATC quando usando

linguagem não técnica. Nas recentes versões atualizadas do AIM tais medidas já

podem ser identificadas (AIM 4-2-1, letra c): “Fraseologia de qualidade aumenta a

segurança e é a marca de um bom piloto profissional. Jargões, conversas e gírias

não têm lugar nas comunicações ATC.”

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Em 2000 O NTSB, preocupado com o aumento do número de runway

incursions, recomendou ao FAA, através do documento A-00-71 a:

“Criar uma emenda na Ordem 7110.65 ATC requerendo o uso da

fraseologia padrão utilizada pela ICAO (grifo nosso) em operações de solo

e periodicamente enfatizar aos controladores da necessidade do uso dessa

fraseologia e para falar a uma velocidade razoável quando se comunicando

com as tripulações de todos os vôos, especialmente aquelas cuja língua

primária não seja o inglês. (...) O FAA reportou posteriormente que criaria um

grupo de trabalho para revisar a fraseologia existente. ”

Na carta de recomendação A-00-68 de 2000 enviado ao FAA, o NTSB solicita

o para que trabalhe em uma comissão no sentido de:

“Criar uma emenda na Ordem 7110.65 ATC requerendo que, quando

uma aeronave necessite cruzar várias pistas, o controlador ATC forneça

explicitamente instruções de cruzamento para cada pista após o cruzamento

da anterior.”

O conteúdo de um memorando enviado ao congresso americano em outubro

de 2000 pelo Secretário de Transporte dos Estados Unidos, no item “Preocupações

com erros de comunicação na fraseologia” mostra como os Estados Unidos estão

preocupados em melhorar a padronização da fraseologia utilizada em seu espaço

aéreo:

“Membros do FAA, a ALPA, e a ATA concordam que,

enquanto a proficiência em língua inglesa pode ser um problema

para pilotos estrangeiros, uma maior preocupação é dada ao uso da

fraseologia não padrão nas comunicações em terra e no ar. Essas

diferenças podem causar confusões que podem levar a quase

incidentes. A ICAO desenvolveu uma fraseologia padrão para uso no

controle de tráfego aéreo. Contudo existem nações, incluído os

Estados Unidos, que decidiram adotar um modelo de fraseologia

diferente. Por exemplo, a fraseologia padrão ICAO para uma

aeronave alinhar na pista e manter posição é ‘line up and wait’.

Entretanto, os controladores americanos usam a fraseologia ‘taxi into

position and hold’. Essa fraseologia pode não ser familiar a pilotos

estrangeiros chegando aos Estados Unidos. O NTSB reconhece os

riscos do uso da fraseologia não padrão pelo controle de tráfego

aéreo e em 6 de julho de 2000 recomendou ao FAA eu solicite aos

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controladores a usar o padrão de fraseologia ICAO para operações

no solo.

O memorando segue esclarecendo que o FAA aceita a informação das

autoridades aeronáuticas estrangeiras de que seus pilotos possuem proficiência

necessária na língua inglesa para exercer a função dentro dos Estados Unidos e que

não verifica essas informações. O texto prossegue informando o esforço do FAA

junto com o NAV CANADA, EUROCONTROL e ICAO, de criar um grupo de estudos

para elaborar um teste de proficiência lingüística para pilotos, controladores e

operadores de solo. Outra recomendação do NTSB que mostra sua preocupação

com a qualidade das comunicações aeronáuticas e a possibilidade de erro de

entendimento entre controlador e pilotos é a A-07-47 de 2007, onde é solicitado que

se: “Proíba ao controlador a dar autorização de decolagem durante o táxi da

aeronave para sua pista de decolagem até que a mesma tenha cruzado TODAS as

intersecções com outras pistas.”

As autoridades européias propõe uma visão mais conservadora para esta

questão, já que, já que muitos países com idiomas diferentes participam do

consorcio do Eurocontrol. Na introdução do manual de radiofonia, se enfatiza a

relação entre uma comunicação deficiente e um acidente aéreo (CAP 413, p.37):

“Radiotelefonia é o meio pelo qual pilotos e pessoal de solo se

comunicam. Usado de forma apropriada, a informação e instrução

transmitida são de vital importância na operação segura da aeronave.

Entretanto, o uso de fraseologia e procedimentos não padrão pode causar

confusão. Incidentes e acidentes ocorreram onde fatores contribuintes foi a

confusão causada pelo uso de fraseologia não padrão. A importância do

uso correto e preciso da fraseologia padrão não pode ser super

enfatizada (Grifo da fonte).”

Porém, mesmo com um foco mais rígido na padronização, ainda ocorrem

problemas dentro do espaço aéreo europeu. A Ilustração 5 mostra os 7 tipos de

erros utilizados para pesquisa dentro do espaço ATM. O fator “mistakes” ou erros é

o fator que mais contribuiu para incidentes de comunicação no espaço ATM nos

anos de 2007 e 2008. O Eurocontrol define o fator erro como:

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“Motivação psicológica latente, associação errônea de informação,

carga de trabalho, informação não detectada, falha no monitoramento,

Confusão ou insuficiente conhecimento da informação, julgamento,

planejamento, tomada de decisão, condição mental e conjecturas.”

Ilustração 7 - Comparação dos Fatores Contribuintes para incidentes em comunicação no

espaço ATM do Eurocontrol, entre os anos de 2007 e 2008.

Fonte: EVAIR Summary Report - 2008

Todos essas condições associadas ao Fator Erro podem ser atribuídas aos

Fatores Sociais e Cognitivos que foi tratado no capitulo 2 deste estudo. Apesar da

regulamentação, esses fatores ainda têm uma influência muito grande no número de

incidentes envolvendo comunicação.

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Ilustração 8 - Países afiliados ao Eurocontrol em 2007.

Fonte: www.Eurocontrol.int

Observa-se que há uma tendência de se adotar regras mais rígidas na

execução da fraseologia com o intuito de se tentar diminuir o crescente número de

erros que ocorrem durante os processos de comunicação aeronáutica como os já

descritos no capítulo 3 deste estudo.

Porém, como ficou demostrado nos acidentes e incidentes citados nos

capítulos 2 e 3, as regras, por si só, não bastaram para evitar que acidentes e

incidentes ocorressem por erros na comunicação. Fez-se necessário implementar

outras práticas com o intuito de melhorar a eficiência das comunicações e,

consequentemente, a segurança de vôo.

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3.2 A ICAO E O “LEVEL 4”

Em 1951, a ICAO recomendou o uso do inglês na aviação civil. Quando fez

esta recomendação os Estados Unidos lideravam o mundo pois não conheceram o

estrago da guerra em seu território. Potência econômica e política, os Estados

Unidos eram o maior produtor de aviões. Nada mais natural do que recomendar o

inglês como língua internacional.

Porém, naquele momento, a ICAO fez apenas uma simples recomendação ao

invés de ter estabelecido uma regra o que tornaria o aprendizado do inglês

obrigatório para todos os pilotos, que seriam submetidos a exames, além de serem

obrigados a dominar essa língua. O estudo da língua inglesa, porém, ainda é

uma matéria meramente opcional na formação dos pilotos (grifo nosso).

Além de conhecer os termos e regulamentos da fraseologia aeronáutica,

pilotos e controladores devem dominar o “Inglês Técnico” e o “Inglês Comum”,

ambos necessários para a eficiência da comunicação aeronáutica, como ilustra

Mackay & Mountford (1978, p4):

“ (...) A linguagem utilizada no controle de trafego aéreo

internacional pode ser considerado ‘especial’, no sentido de que o repertório

necessário para o controlador é estritamente limitado e pode ser determinado

com ‘situacional’, como aquele necessário a um garçom ou recepcionista.

Entretanto, esse repertório restrito não é uma linguagem, assim como um

livro de frases para turistas não é uma gramática. Conhecer uma

‘linguagem’ restrita não permitirá ao emissor se comunicar de forma

eficiente em um ambiente diferente daquele em que este está inserido.

(grifo nosso)”

Seguindo o conceito de Mackay, em um estudo realizado pra o FAA, Marjo

Mitsutomi e Kathleen O’Brian (Mitsutomi, 2003), categorizam os 3 códigos que

devem ser dominados pelos pilotos e controladores de tráfego aéreo no exercício de

suas funções e como se relacionan durante a comunicação (Ilustração 5):

1. Fraseologia ATC

2. Inglês Técnico ou English for Specific Purposes (ESP)

3. Inglês Comum ou English for General Purposes (EGP)

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Ilustração 9 - Modelo de comunicação da língua inglesa na aviação.

Fonte: Marjo Mitsutomi e Kathleen O’Brian, 2003.

Marjo Mitsutomi propõe que manter a fraseologia padrão é preferível ao uso

do inglês comum (EGP), entretanto, podem ocorrer situações em que o inglês

técnico (ESP) não é suficiente para passar a informação claramente.

O problema com a comunicação global na aviação é que a habilidade de

pilotos e controladores no uso do inglês comum varia consideravelmente. Alguns

somente decoram as frases ATC previstas nos manuais enquanto outros se

comunicam confortavelmente em qualquer situação. Esta enorme discrepância nas

habilidades em língua inglesa pelos aeronautas é a razão de preocupação das

autoridades aeronáuticas em todo o mundo, principalmente a ICAO, (Mitsutomi,

2003).

“É seguro dizer que todos no cockpit e na torre dominam pelo menos

o básico das comunicações ATC como parte do seu treinamento. O que não

é seguro assumir, entretanto, é que essas mesmas pessoas possuem

habilidade básica em conversação no inglês comum, já que esse quesito

não está regulamentado em muitas instituições de treinamento.(grifo

nosso)”

Em 1998 a ICAO, preocupada com o grande número de acidentes e

incidentes onde a deficiência no uso da língua inglesa foi fator contribuinte, solicitou

a criação de um estudo para implantar um teste de proficiência lingüista para pilotos

e controladores. Em 2003 a ICAO criou emendas aos Anexo 1 – Personnel

Licensing, Anexo 6 – Operation of Aircraft, Anexo 10 – Aeronautical

Telecommunications e Anexo 11 – Air Traffic Services afim de determinar que nos

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próximos cinco anos, pilotos e controladores deveriam demonstrar pelo menos o

nível 46 ou “level 4” no uso de fraseologia ICAO e de Inglês comum. Em 2004 foi

publicado o “Manual de Requisitos para Implementação de Proficiência Lingüistica

da ICAO” onde consta todos as informações necessárias sobre a necessidade do

teste, como deve ser aplicado, conceitos a serem observados, entre outros.

A preocupação das autoridades com relação ao nível de conhecimento da

língua inglesa de pilotos e controladores se justifica. Um artigo da “Times On Line”

de 2008 revela um incidente grave próximo ao aeroporto de Heathrow em Londres

onde um Boeing 737 polonês quase colidiu com outra aeronave porque seus pilotos

não falavam inglês e não conseguiam entender instruções básicas dos

controladores. Um outro artigo do “Independent On Line” de 2000, registra a

indignação dos pilotos franceses com a determinação de que eles falassem apenas

inglês quando operando em aeroportos internacionais como o Charles de Gaulle. O

sindicato dos pilotos insistia no direito dos pilotos franceses continuarem falando

francês. Pilotos de outros países reclamam que, em aeroportos congestionados

como o Charles de Gaulle, é essencial a compreensão de todas as conversações

com os controladores, incluindo aquelas conduzidas por outras aeronaves.

Uma variedade de notícias relacionadas a problemas causados por

deficiente domínio da língua inglesa pode ser facilmente encontradas em pesquisas

na Internet:

Agosto de 2006: Um piloto russo voando em uma empresa aérea indiana não

compreendeu as instruções em inglês data pelo ATC e cruzou a trajetória de outra

aeronave quase causando uma colisão sobre Mumbai.

(http://www.dnaindia.com/report.asp?NewsID=1048624)

Agosto de 2006: Inglês deficiente é possível causa de um erro competido pelo piloto

da empresa aérea de vôos fretados Turkish ao ter pousado erroneamente em uma

base aérea na Polônia ao invés do aeroporto civil, distante alguns quilômetros da

base.

(http://www.poznan-life.com/news/news/18-Turkish_pilot_lands_at_wrong_airport)

6 Level 4: A ICAO criou 6 níveis para avaliar a proficiência lingüistica, sendo o nível 6 - expert, nível 5 - avançado, nível 4 - operacional, nível 3 - pré-operacional, nível 2 - elementar e nível 1 - pré-elementar .

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Junho de 2007: Menos de 10% dos pilotos chineses alcançam os requisitos de

proficiência lingüistica em língua inglesa exigidos pela ICAO. A empresa aérea

informou que vai encorajar seus pilotos a melhorar suas habilidades lingüisticas.

(http://www.reuters.com/article/oddlyEnoughNews/idUSKUA95049720070619)

Junho de 2008: Controladores do aeroporto de Heathrow não conseguiram

entender duas chamadas de emergência feitas por uma aeronave da Italian Airliner

que transportava 104 passageiros devido a pronúncia ruim dos pilotos.

(http://www.guardian.co.uk/business/2006/jun/08/theairlineindustry.travelnews)

Tais fatos demonstram que, apesar da língua inglesa ser considerada

oficialmente a língua utilizada na aviação desde 1951, pouco controle tem se

dispensado a este fator até o documento de 2003 que exige o teste de proficiência.

Os países, porém, possuem autoridade para informar “diferenças” a ICAO e

postergar esta data, caso desejem. Esta lista, com seus respectivos planos de

implementação pode ser consultado no site da ICAO (http://www.icao.int/fsix/lp.cfm).

No Brasil a ANAC estipulou que todos os pilotos que desejarem fazer

qualquer vôo internacional deverão atingir, pelo menos, nível 4 no teste de

proficiência lingüistica até a data de 5 de março de 2009.

3.3 NAVEGAÇÃO E COMUNICAÇÃO DO FUTURO (CNS/ATM)

Em 1983 a ICAO estabeleceu um comitê especial para tratar do Futuro

Sistema de Navegação Aérea ou FANS. O papel deste comitê era o de identificar e

estudar novas tecnologias que poderiam ajudar a desenvolver os sistemas de

comunicação e navegação aérea para uso global na aviação civil. O conceito

desenvolvido por este comitê veio a ser chamado de conceito CNS/ATM cujo

objetivo é tornar o eficiente uso do espaço aéreo. O sistema CNS/ATM se baseia

em um sistema de comunicação global, um sistema de navegação global e um

sistema automático e dependente de vigilância (ADS). O sistema ATM é o

resultado destes sistemas integrados sendo usados para propiciar uma variedade de

serviços de tráfego aéreo.

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A Boeing e Airbus construíram uma aplicação FANS para funcionar no já

existente sistema ACARS. Este conjunto de avionics7 veio a ser chamado de

FANS-1/A. O FAA utiliza a tecnologia FANS-1/A nos espaços aéreos oceânicos do

Pacífico e Atlântico e deve ser implementado em todo espaço aéreo continental

americano até 2010. Na Europa as maiores empresas aéreas estão adaptando

suas aeronaves para operação FANS-1/A embora essa tecnologia esteja sendo

utilizada somente no espaço aéreo oceânico.

O sistema de conexão entre aeronave e estação de terra ou satélite é

chamado de “data link”. Provedores ATS fazem parte do sistema de tráfego de

dados, porém, o grosso deste tráfego é, em grande parte, feito pelos provedores

comerciais de serviços de comunicação como SITA e AIRINC8 trabalham com uma

rede com configuração diferente.

Ilustração 10 - Modelo simplificado de comunicação no conceito FANS-1/A.

Fonte: ATC Data Link News, 2009

7 Avionics: Termo utilizado para referenciar a eletrônica embarcada em aeronaves como equipamentos de rádio, receptores de satélites, radar, etc. 8 SITA e AIRINC: São empresas privadas que prestam serviços de comunicação e dados via satélite ou rádio, para empresas de aviação mediante um contrato de prestação de serviços.

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Atualmente os dois tipos de aplicativos em uso são o ADS e o CPDLC.

Ambos podem trabalhar conjuntamente ou de forma independente. Ambos

permitem a troca de mensagens entre piloto e ATC. Ambos também permitem o

monitoramento remoto da aeronave pelo ATC, sem intervenção dos pilotos. A

grande diferença é que o CPDLC possui mais sistemas de segurança enquanto o

ADS, em certos casos, permite o acesso remoto sem a necessidade da autorização

da tripulação, por exemplo.

No modelo simplificado da ilustração 6, a aeronave pode se conectar com o

órgão ATC através de rádio VHF ou SATCOM, utilizando a SITA ou AIRINC como

provedores de acesso. Na aeronave existem equipamentos que servirão de

interface entre o piloto e o controlador que, na ilustração 7 está representado como o

ATSU. Através deste sistema, o piloto não precisa se comunicar por voz com o

órgão ATC e vice versa. Toda a comunicação é feita via data link9 entre os

equipamentos da aeronave e do órgão ATC. A comunicação, dessa forma, se

torna mais eficiente, eliminando o ruído, melhorando o código e diminuindo

significativamente a possibilidade de confusão, já que os textos utilizados na troca

de mensagens são padronizados.

Uma Aeronave Airbus 330 possui 3 módulos que são utilizados durante as

comunicações via ADS ou CPDC. O ATSU, onde se seleciona o órgão ATS que se

quer conectar e as mensagens que se pretende enviar, o DCDU que funciona como

interface entre as comunicações entre piloto e controlador e o Sistema de Alerta que

irá informar ao piloto a chegada de mensagens.

9 Data Link: Fluxo de dados entre aeronave e a estação de solo e vice versa.

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Ilustração 11 - Componentes FANS para o Airbus A330.

Fonte: Autores

Em um exemplo de como funciona o sistema a aeronave está conectada ao

órgão ATC cujo código é KZAK (Oakland). O piloto inseriu este código no ATSU e

solicitou a conexão minutos antes de entrar na área. A situação no DCDU ficará

como o da ilustração 8.

Ilustração 12 - DCDU mostra que o ADS/CPDLC está conectado ao órgão ATC Oakland.

Fonte: Autores

KZAKKZAKKZAKKZAK

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A aeronave se encontra na jurisdição do controle de Oakland (KZAK). O

controle envia uma mensagem solicitando que a aeronave reduza a velocidade para

250 knots. Um alerta sonoro tocará no cockpit e um aviso luminoso com os dizeres

“ATC MSG” irá piscar por alguns segundos, avisando aos pilotos que o órgão ATC

enviou uma mensagem, como mostra a ilustração 9.

Ilustração 13 - Representação de alertas sonoros e visuais no cockpit avisando do

recebimento de uma mensagem ADS/CPDLC.

Fonte: Autores

O piloto não pode obedecer à solicitação do controlador devido a problemas

médicos a bordo, através da página inicial do ATSU ele escolhe a opção “UNB

DISPLAY” que significa “não posso cumprir”, conforme ilustração 10. Nesta página

aparecem várias opções pré definidas de justificativa tais como “DUE TO

WEAHTER” ou “devido a condições meteorológicas” e “DUE TO TECHNICAL” ou

“devido a problemas técnicos”. O piloto escolherá a opção “DUE TO MEDICAL” ou

“devido a problemas médicos a bordo” (Ilustração 11) e está opção aparecerá no

DCDU na cor azul, que é um indicativo de que a mensagem ainda não foi enviada

(Ilustração 12). Ao pressionar a tecla referente a “*SEND” a mensagem será

enviada, e a situação do DCDU será como na ilustração 13. Ao receber a

mensagem o controlador analisará o que deve fazer e, se necessário, enviará uma

outra solicitação à aeronave. Este procedimento acontecerá até que ambos,

controlador e piloto, cheguem a um consenso, como se estivessem se comunicando

via rádio.

Alerta Sonoro Alerta Visual

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Ilustração 14 - Exemplo do ATSU sendo usado para informar ao órgão ATC a impossibilidade

de se cumprir uma solicitação (UNABLE). O Texto em azul é o que foi selecionado.

Fonte: Autores

Ilustração 15 - No ATSU a justificativa “DUE TO MEDICAL” está na cor azul e sem a seta

apontando para a tecla correspondente, significando que foi selecionada.

Fonte: Autores

Opções de justificativa

O piloto selecionou a página “UNB DISPL”

Número de páginas disponíveis (primeira de duas)

O piloto selecionou a justificativa “DUE TO MEDICAL”

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Ilustração 16 - Situação do DCDU antes do envio da resposta do piloto ao órgão ATC (texto em

azul) informando o motivo do não cumprimento da redução de velocidade.

Fonte: Autores

Ilustração 17 - Situação do DCDU após o envio da resposta pelo piloto ao órgão ATC.

Observa-se que a cor do texto mudou de azul para verde, significando que a mensagem foi

enviada.

Fonte: Autores

O sistema é confiável e permite a vigilância da aeronave pelo controle sem

necessidade de comunicação rádio entre piloto e controlador, embora essa forma de

comunicação esteja disponível a qualquer momento caso seja necessário. O

sistema permite o acompanhamento do vôo pelo controlador sem interferência do

piloto, recebendo informações direto do computador de vôo da aeronave tais como

horários previstos de sobrevôo, rota, velocidade e altitude.

O projeto FANS será implementado gradativamente através de fases, com

testes e homologações iniciados em 2003. CPDLC e ADS-1 estarão operando em

Mensagem recebida de

KZAK às 09:37Z

UNABLE DUE TO

MEDICAL

A mensagem ainda não foi enviada. O piloto necessita apertar este botão.

O piloto pode escolher entre

Cancelar ou Enviar

“REDUCE SPD TO 250KT”

A mensagem foi enviada

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regiões remotas e oceânicas a partir de 2009. O cronograma prevê que até 2020

todo o espaço aéreo europeu e americano estejam operando completamente

automatizados, inclusive com a possibilidade de interação direta do controlador nos

computadores das aeronaves afim de atender ao conceito CNS/ATM de “free-

flight”10.

No estágio atual, existem algumas deficiências que serão resolvidas com o

tempo, como a impossibilidade de se manter uma comunicação instantânea, a

necessidade de se atravessar espaços aéreos com e sem a tecnologia FANS e a

impossibilidade, no momento, de se explorar todas as possibilidades tecnológicas já

existentes nas aeronaves mais modernas.

No momento o fator comunicação permanece uma preocupação, já que o

FANS resolveria, em tese, somente problemas de comunicação relacionados ao vôo

em rota em áreas remotas, geralmente efetuado com rádio HF, na fase de vôo que

representa somente 9% das ocorrências de acidentes e incidentes aeronáuticos. As

fases de decolagem e subida inicial e aproximação e pouso, onde o volume de

comunicação é maior e mais crítico ainda não possui um sistema pronto para

implementação a curto ou médio prazo.

3.4 TREINAMENTO E COMUNICAÇÃO

Embora a comunicação seja parte integrante do profissional de aviação seja

ele piloto ou controlador, no que se refere aos pilotos, não existe nenhum teste

específico exigido para o controle do uso da fraseologia aeronáutica, do inglês e

dos fatores influentes nos problemas de comunicação. A exceção é a prova de

proficiência lingüistica da ICAO mas muitos países postergaram sua aplicação para

pilotos e controladores.

A fraseologia pode ser estudada por pilotos quando estes estiverem fazendo

testes para obtenção das licenças, já que o conteúdo referente ao assunto se

encontra, por exemplo, no AIM (FAA) ou na ICA100-12 (Brasil). Pilotos funcionários

de empresas de transporte aéreo são obrigados a efetuar cursos de CRM

regularmente. Nestes cursos o tema “Comunicação” é abordado repetidamente,

10 Free-Flight: Conceito que prevê vôos diretos entre origem e destino, sem a necessidade de se utilizar rotas específicas, sobrevoar auxílios rádio ou posições específicas.

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porém no contexto de se manter uma consciência situacional (Situational

Awareness11) elevada e não na fraseologia especificamente.

De fato, muitos dos acidentes e incidentes relacionados com erros de

comunicação aconteceram devido a falha em se manter a devida SA. Uma

comunicação efetiva é impossível sem que uma SA seja observada constantemente,

seja de piloto para controlador, controlador para piloto e piloto para piloto. Até

mesmo a comunicação deficiente entre controlador e controlador já contribuiu para

acidentes aéreos graves. O caso mais conhecido ocorreu em 1976 em Zagreb, na

antiga Iugoslávia, onde um dos controladores estava atrasado para assumir o turno

e o controlador que deveria ser substituído não o esperou para a troca, deixando um

assistente sozinho por 8 minutos no controle. Quando o controlador chegou para

assumir o turno, o briefing que recebeu foi incompleto, e sua falha em conhecer a

situação dos vôos naquele momento resultou na colisão entre duas aeronaves sobre

Zagreb e na morte de 176 pessoas.

Na década de 1970, após a análise de vários acidentes provocados

exclusivamente por erro humano, quando a aeronave não possuía nenhuma falha,

as autoridades aeronáuticas chegaram a conclusão que a comunicação no cockpit

deveria ser melhorada afim da ajudar a evitar acidentes. Dessa forma nasceu a

primeira geração de CRM (1) que visava criar uma interação entre pilotos, melhorar

a comunicação no cockpit e estabelecer o conceito de consciência situacional.

Ao observar que alguns acidentes, que poderiam ter sido evitados pelos

comissários, ocorreram por falta de interação entre cabine e cockpit, criou-se a

geração 2 e 3 do CRM (2), na década de 1980, que incluía os comissários de bordo

e o conceito de gerenciamento de risco.

A geração 4 e 5 do CRM (3) aparece da verificação de que existem

problemas latentes na organização que poderão levar a um acidente em algum

momento, quando as condições forem propícias, mesmo que a tripulação esteja

devidamente treinada e preparada. São fatores como pressão da organização,

tempo insuficiente, fadiga, entre outros, que devem ser identificados e corrigidos

antes que causem um acidente. É o modelo preditivo, que tem o objetivo de se

antecipar à possibilidade de um acidente e engloba mecânicos, despachantes

operacionais de vôo, pessoal de rampa, etc.

11 Consciência Situacional ou SA: Na aviação é o ato de perceber continuamente o que acontece ao redor, prever acontecimentos baseado nessa percepção e executar tarefas baseado nessa projeção.

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A geração 6 do CRM envolve o reconhecimento das ameaças e dos erros

como parte integrante do dia-a-dia operacional das tripulações, que podem afetar a

segurança de vôo. O modelo TEM foca simultaneamente o modelo operacional e o

Fator Humano dentro deste ambiente “normal” de operações, tais como mau tempo,

tráfego, passageiros indisciplinados, pressão operacional, entre outros.

Em todos os modelos de CRM apresentados o maior enfoque é dado na

comunicação. O conceito de CRM prega que, caso haja dúvidas sobre qualquer

situação no vôo, esta deverá ser verbalizada, seja para o piloto, comissário,

passageiro ou controlador. Dessa forma, cabe ao comandante da aeronave

gerenciar o vôo de forma que todas as ocorrências sejam antecipadas, reconhecidas

e resolvidas, entre elas e principalmente, problemas de comunicação.

Comunicação é um fator muito importante para a segurança do vôo e seja

uma habilidade altamente necessária aos tripulantes para um efetivo gerenciamento

de vôo, as ameaças e erros discutidos em treinamento de CRM são muito genéricos

e tratam desde erros de comunicação entre piloto e despachante até piloto e

controlador. Não há um enfoque nos problemas específicos da comunicação

radiofônica, tais como homofonia e erro de repetição, por exemplo. O piloto não é

apresentado a esses fatores de forma explícita em nenhuma fase do seu

treinamento.

Instrutores de vôo e Examinadores credenciados também são obrigados a

passar por treinamento específico relacionados a problema de instrução e avaliação

como erro de halo ou erro de padrão12 (ICA 121/1005, 2005). No Brasil, o curso de

examinador de empresa aérea credenciado pela ANAC tem duração de duas

semanas. Qualquer instrutor de vôo, mesmo que da aviação geral, deverá realizar

um curso e se submeter a uma avaliação específica da ANAC para obter o

certificado de instrutor. Nas empresas aéreas o instrutor também deve realizar

treinamento em específico antes de assumir o cargo.

O TAI é um treinamento que engloba a fraseologia aeronáutica em língua

inglesa mas não tem como objetivo principal o estudo da comunicação. A função do

TAI é preparar o piloto para as condições especiais dos vôos internacionais, tais

como o manuseio de material aeronáutico, condições meteorológicas globais,

diferenças nas regras e procedimentos estrangeiros e vários outros. Embora exista

12 Erro de halo ou erro de padrão: São falhas individuais que podem induzir o avaliador a conceder ao avaliado uma nota maior ou menor do que este realmente merece, em função de uma percepção errônea do avaliador.

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um módulo de fraseologia no curso de TAI, em geral não faz parte destes cursos um

estudo mais profundo sobre problemas relacionados à comunicação.

As soluções apresentadas não conseguem resolver o problema da

comunicação de forma eficaz. Embora haja várias publicações específicas sobre o

assunto, o estudo destas publicações não é obrigatório, ficando a critério do piloto o

acesso a elas, sem qualquer tipo de controle da autoridade aeronáutica. Fraseologia

aeronáutica é, em geral, aprendida pelos pilotos “na prática”, e não em sala de aula.

Um curso para pilotos com ênfase em problemas de comunicação e fraseologia

aeronáutica seguido de uma avaliação se faz necessário para aumentar a segurança

de vôo e a eficiência operacional.

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4. TREINAMENTO EM COMUNICAÇÃO

4.1 EMPRESAS CERTIFICADAS RBHA 121 E CENTROS DE

TREINAMENTO RBHA 142

No dia 22 de abril de 1931, por meio do decreto nº 19.902, assinado pelo

então Presidente da República Getúlio Vargas, nasceu o Departamento de

Aeronáutica Civil, na época subordinado diretamente ao Ministério da Viação e

Obras Públicas. Naquele momento foi dado um passo importante para a

estruturação do setor civil da aviação Brasileira.

A Lei nº 11.182, que criou a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), foi

aprovada em 27 de setembro de 2005. A ANAC, no entanto, nasceu de fato em 20

de março de 2006. A ANAC tem sua origem nas competências do Departamento de

Aviação Civil (DAC), que eram estabelecidas no art. 18 do Anexo I do Decreto nº

5.196, de 26 de agosto de 2004, que dispunha: “...ao Departamento de Aviação Civil

compete planejar, gerenciar e controlar as atividades relacionadas com a aviação

civil”. Portanto, em virtude dessa competência, o DAC qualificava-se como

“autoridade aeronáutica”, exercendo, por via de conseqüência, as atividades

relacionadas a essa função pelo Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei nº 7.565, de

19 de dezembro de 1986).

Notadamente a legislação aeronáutica esta melhor amparada para as

empresas de grande porte que operam sobre as regras do RBHA 121. A despeito do

que ocorre em outros países, em particular na América Latina, nossos regulamentos

e legislações são, em parte, cópias fieis das leis e diretrizes de aviação Norte

Americanas. Como exemplo o RBHA 36 adota na íntegra o FAR 36 do FAA.

Hoje os centros de treinamento e escolas de aviação civil encontram-se em

processo de intensa modificação de suas estruturas e diretrizes. Atualmente a

ANAC esta empenhada em cada vez mais delegar muitas das atividades, que antes

competiam a ela como órgão fiscalizador, para as empresas e centros de

treinamento. Podemos exemplificar a prerrogativa que escolas de pilotagem

possuem de aplicar exames teóricos de revalidação de habilitação de piloto privado

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em suas próprias instalações conforme INFAC-60/121, facilitando muito o tramite

burocrático de emissão de atualizações de habilitações para o usuário do sistema.

Desde 05 de marco de 2009 todas as empresas que operam linhas

internacionais devem manter tripulações certificadas e homologadas segundo a

regra ICAO DOC 9835 na qual estabelece que todos os pilotos que exercerem suas

atividades em vôos internacionais deverão ter averbada em seus Certificados de

Habilitação Técnica a proficiência lingüística em inglês nível 4,5 ou 6. Sendo o Brasil

um dos países membros da OACI, estabeleceu-se que tais pilotos comprovem

proficiência lingüística, deverão demonstrar habilidade de falar e entender a

linguagem utilizada em comunicações radiotelefônicas, através da realização de

teste de inglês, segundo especificações do próprio DOC 9835..

4.2 O CENÁRIO

Os aspectos que envolvem a comunicação em língua inglesa são numerosos,

mas o crescente desenvolvimento do mercado de aviação requer profissionais

extremamente capacitados e preparados, possivelmente nao haverá tempo hábil

para que as empresas invistam na capacitação de profissionais que não atinjam o

nível mínimo exigido pela proficiência lingüistica (Level 4) visto as expectativas de

crescimento do mercado aéreo para os próximos dez anos.

Enquanto a ICAO preocupa-se com um nível mínimo de atendimento de

proficiência no entendimento de mensagens, habilidade em se comunicar e

conhecimentos de estruturas gramaticais, este trabalho está focado em eliminar as

barreiras de linguagem entre piloto e controlador no que tange ao estabelecimento

de protocolos verbais, homofonia, ambigüidade, cotejamento deficientes, uso

errôneo de números e problemas com estresse, cansaço e impaciência.

As barreiras de linguagem também existe entre nativos da língua e indivíduos

com elevado grau de conhecimento desta. Com o crescente aumento do trafego

aéreo internacional, os riscos de comunicação crescem na mesma proporção devido

diferenças de cultura mesmo entre membros de mesma língua nativa.

Exemplos da caracterização de um treinamento específico para a

comunicação em língua inglesa estão prescritos no próprio anexo 1 da ICAO. Na

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nota abaixo podemos destacar a previsibilidade da pronúncia e entendimento de

certas palavras e expressões locais, como exemplo: “American 903 fly on course to

Jacareacanga VOR”. Certamente qualquer piloto estrangeiro que tente pronunciar

Jacareacanga não o fará corretamente (mesmo sendo um nativo da língua inglesa)

daí a necessidade de se soletrar os 3 indicativos do VOR em questão JAC (Julliet

Alfa Charlie VOR). Ora, se há na regra a previsibilidade de se soletrar palavras

locais difíceis por que deve ser levantado estes termos? Existem dois motivos

principais. O primeiro é que a documentação relacionada ao assunto existente para

pilotos, não é cobrada em testes ou exames e, consequentemente, depende da

motivação pessoal para ser estudado. Segundo, porque todas as recomendações

da ICAO podem ser seguidas ou não pelos países signatários cujas modificações

são publicadas em formas de diferenças em relação aos anexos.

Tratando-se portanto de recomendações, no caso dos Estados Unidos, as

regras utilizadas poderão ser diferentes. Regras FAA podem diferir das normas

ICAO no aspecto da fraseologia. É muito comum o uso de gírias e jargões nas

comunicações controlador – piloto como nos exemplos: “American 903 stop abeam

sock” ou (American 903 pare no través da meia), padrao ICAO: ‘American 903 stop

abeam wind indicator” ou (American 903, pare no través da biruta); “TAM 8091 line

up and hold13 runway 9” ou (TAM 8091 alinha e aguarde na pista 9), padrão ICAO:

“TAM 8091 line up and maintain runway 9” ou (TAM 8091, alinha e mantenha pista

9).

4.3 A PROPOSTA

Foi observado que de nada serviria uma padronização da proficiência

lingüistica de controladores de vôo e pilotos se não fossem trabalhados os aspectos

que causam impactos nos problemas de comunicação.

Um estudo apurado faz-se necessário para trazer à tona a crescente

preocupação com a baixa padronização nas comunicações controlador – piloto, em

especial na América do Norte e Ásia. O Inglês é a língua universal no meio

aeronáutico, recomendada pela própria ICAO. Distintamente de outras línguas a

13 Line up an hold: em inglês pode ser confundido com “line up an roll” ou (alinha e decole), justamente o contrário do que se espera.

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estrutura da língua inglesa é particularmente simples se comparada ao Francês e

Português, mas quando se trata de fraseologia ha um contra-senso: a constituição

das palavras (mais curtas e com muitas vogais) permitem ao nativo uma agilidade de

pronuncia impensável. Então, além dos problemas associados à comunicação

propriamente dita, existem aqueles relacionados ao uso da língua não pátria, que,

no caso da aviação, é o inglês.

Baseado nos diversos incidentes mostrados neste estudo, se faz necessário

que todos os pilotos detentores da licença de PLA e PC voando sob o RBHA 121

tenham treinamento disponibilizado pelas empresas especificamente sobre o de

Problemas de Comunicação e Fraseologia Aeronáutica em Língua Inglesa. Este

treinamento deve ser específicos para pilotos e dividido em dois segmentos: Nos

elementos que interferem na comunicação aeronáutica e no uso da língua inglesa

em comunicações aeronáuticas.

4.4 O DESENVOLVIMENTO

O treinamento proposto por este estudo será denominado: “CURSO DE

COMUNICAÇÃO NA LÍNGUA INGLESA E FRASEOLOGIA” e estará composto de

três módulos sendo um módulo no formato de web aula, acessado de qualquer lugar

via portabilidade da Internet e dois módulos de treinamento presencial. O módulo

TAI já é obrigatório e devidamente ministrado pelas empresas aéreas regidas pelo

RBHA 121 aos pilotos que realizam vôo internacional e será sempre presencial. O

programa apresentado está em conformidade com os RBHA 142 e RBHA 121,

respectivamente. O módulo presencial comunicação e fraseologia será aplicado a

pilotos que realizam vôos internacionais. O módulo especial online será aplicado a

todos os pilotos registrados em empresa aérea voando sob o RBHA 121.

4.4.1 Segmento de Currículo de Curso de Comunicação na Língua Inglesa e

Fraseologia

Modulo de Treinamento Especial Online: Inicial e Periódico 09:00 h

Modulo de Treinamento Especial Presencial: Inicial 21:00 h

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113

Modulo de Treinamento Especial de TAI: Inicial Compulsório 56:00 h

Carga Horária total 86:00 h

Quadro 22 – Carga Horária Treinamento Especial em Comunicação e Fraseologia.

Fonte: Autores

4.4.2 Módulo de Treinamento Especial On-line

Aplicabilidade: Este segmento de currículo de treinamento é destinado a

operação de aeronaves regulamentadas sob o RBHA 121.

Publico Alvo: Pilotos detentores de licenças de PLA e PC, devidamente

registrados como funcionários de uma empresa RBHA 121.

Objetivo: Proporcionar conhecimento teórico sobre os elementos presentes

na comunicação e sua relação com os problemas e erros na comunicação

aeronáutica, e também meios de identificar, evitar e corrigir esses erros.

Duração: Curso online (via Web aula) com carga total de 9 horas e dois

módulos de avaliação de 00:30 minutos cada. Ao final das avaliações deverá ser

impresso um certificado digital de conclusão de curso. Este módulo deverá ser

revalidado anualmente juntamente com a revalidação da CHT.

Método: Método audio visual em computadores, uso de apresentações

eletrônicas, textos interativos, fotos, vídeos e questionários.

Padrão de avaliação: No modulo presencial haverá uma avaliação composta

de 40 perguntas em dois blocos de 20 perguntas cada com peso 5 para cada bloco.

No final da avaliação o piloto será capaz de demonstrar quais os modelos de

comunicação, os fatores que interferem na comunicação, os tipos de problemas de

comunicação, identificar e conhecer os documentos que regulam a comunicação

aeronáutica, dominar técnicas que protejam o piloto dos problemas de comunicação.

Material fornecido: Apostilas e Apresentações através de download na

própria página da aula online.

Modulo de Treinamento Especial Online 09:00 H

Tópicos:

Descrição dos Modelos de Comunicação 00:20

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Descrição dos Elementos da Comunicação 00:20

Descrição dos Fatores que interferem na Comunicação 00:20

Descrição dos Tipos de problemas de Comunicação 01:00

Análise de casos relacionados ao tipo de Problema de Comunicação 01:00

Análise das armadilhas da Comunicação e suas defesas 00:30

03:30 h

Apresentação e Estudo de Documentos Oficiais

Estudo do “Pilot Controller Glossary FAA” 00:20

Estudo detalhado do AIM parte “Fraseology” 00:20

Estudo do DOC 4444 ATM/501 da ICAO 00:30

Estudo do DOC 9432 AN/925 “Manual of Radiotelephony” 00:30

Estudo do CAP 413 CAA “Radiotelephony Manual” 00:30

Estudo da ICA 100-12 00:20

02:30 h

Resolução de Avaliação com 40 questões sobre o assunto 01:00

01:00 h

Quadro 23 – Carga Horária do Módulo Especial Online.

Fonte: Autores

4.4.3 Módulo de Treinamento Especial Presencial

Aplicabilidade: Este segmento de currículo de treinamento e destinado a

operação de aeronaves em vôos internacionais, alem de requerer como pré-

requisitos proficiência em língua inglesa ICAO nível 4, 5 ou 6, exige também

treinamento específico de TAI (Tráfego Aéreo Internacional) que irá preparar o piloto

para este modulo.

Publico Alvo: Comandantes (detentores de licencas PLA) e co-pilotos

(detentores de licenças PC) devidamente registrados como funcionários de uma

empresa RBHA 121.

Objetivo: Proporcionar conhecimentos teóricos, padronização e treinamento

prático em laboratório de fraseologia, para vôos internacionais, como também

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reciclagem e briefing de áreas específicas onde o dialeto local e diferenças ICAO

estão presentes na operação.

Duração: Curso presencial com carga horária de 21 horas baseado na

comunicação em língua inglesa e fraseologia. Ao final das avaliações devera ser

impresso um certificado digital de conclusão do curso.

Método: Instrução convencional em sala de aula e apoio com método audio

visual em apresentações eletrônicas, quadro branco e vídeos. Laboratório de

Fraseologia: Empregam-se unidades individuais do tipo intercomunicação, sem fio,

para trabalhos de radiotelefonia. Adicionalmente projeta-se em apresentação

eletrônica a rota sobrevoada em tempo real.

Padrão de avaliação: No modulo presencial haverá uma avaliação composta

de 40 perguntas em dois blocos de 20 perguntas cada com peso 5 para cada bloco.

No final da avaliação o aluno-piloto será capaz de demonstrar os principais

problemas relacionados à comunicação em língua inglesa, suas características e

peculiaridades, legislação e situações de risco.

Material fornecido: Apostilas entregue em aula.

Modulo de treinamento especial presencial 21:00 H

Tópicos:

Lingüistica na Aviação (fonética e semântica) 01:30

Teoria e Prática da Tradução 01:30

Técnicas de como ouvir e tomar nota 02:00

Leitura Dinâmica 01:00

06:00 h

Inglês Técnico para aviação 02:00

Pronúncia em Inglês e Comunicação Aeronáutica 01:00

Fraseologia Aeronáutica - Laboratório 02:00

Inglês para Comissários 00:30

Inglês para Mecânicos 00:30

Inglês para ATC 00:30

Inglês para Passageiros 00:30

07:00 h

Resolução de Avaliação com 40 questões sobre o assunto 01:00

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116

01:00 h

Quadro 24 – Carga Horária Módulo Especial Presencial.

Fonte: Autores

O conteúdo destes módulos deverão ser atualizados a cada dois anos afim de

melhorar constantemente o treinamento do grupo de pilotos. Tópicos poderão ser

adicionados ou retirados na medida em que a eficácia do treinamento for sendo

avaliada. Este treinamento não substituirá o treinamento de CRM.

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6. CONCLUSÃO

A comunicação aeronáutica é um elemento essencial na segurança de vôo.

Entretanto, mesmo com aeronaves modernas e sistemas de navegação avançados,

a fraseologia ainda é a mesma daquela utilizada há dezenas de anos. E continuará

assim por algumas dezenas de anos, ainda. Face ao exposto, alguns pontos sobre

as comunicações aeronáuticas entre piloto e controlador foram observados neste

trabalho e devem ser devidamente destacados:

► Pilotos, no plano mundial, não possuem treinamento específico sobre

comunicação e fraseologia como requisito de obtenção de quaisquer licença

requerida;

► Não há legislação que recomende treinamento específico sobre comunicação e

fraseologia, com carga horária definida e avaliação determinada;

► Embora a ICAO tenha determinado um exame de proficiência lingüistica para

pilotos e controladores a partir de 2008, este exame, por si só, não resolve os

problemas de comunicação entre piloto e controlador, além de não ter sido adotado

por todos os países, ainda;

► Apesar de novas tecnologias disponíveis para melhorar as comunicações, nas

fases críticas de vôo (decolagem e subida, aproximação e pouso) ainda serão

baseadas na utilização de transmissão de voz em VHF;

► Cabe a pilotos e controladores estudar por vontade própria manuais e

documentos sobre comunicação e fraseologia. Não há um teste regular a ser

aplicado a esses profissionais, definido pelas autoridades reguladoras, em âmbito

mundial;

► Cada autoridade determina uma padronização de fraseologia própria (FAA,

ICAO, CAA) o que dificulta o domínio do uso do código por pilotos e controladores,

causando confusão. Não existe um padrão de comunicação universal;

► Questões culturais e uso de expressões locais na fraseologia ainda não são

objeto de uma regulamentação mais direta pelas autoridades aeronáuticas mundiais;

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► Pilotos e controladores influenciam na segurança quando no mau uso dos

protocolos de comunicação e fraseologia, independe da licença do piloto e do

tamanho no aeroporto;

► Ações locais ou regionais surtem pouco efeito já que o problema da comunicação

é de caráter global e necessita de regulamentação ampla.

► Recomendação da ICAO para o uso da língua inglesa como linguagem

internacional da aviação baseado somente em fatores culturais e econômicos,

porém, sem a realização de um estudo específico dirigido;

Devido a esses fatores, faz-se mister a criação de um plano para melhoria

das comunicações aeronáuticas, a ser implementado nos próximos 5 anos, com

abrangência mundial. Este estudo propõe a criação de um plano que aborde os

seguintes tópicos:

► Inclusão da disciplina de Comunicação e Fraseologia já nos cursos de formação

básico de formação de pilotos;

► Exigência de conhecimento de língua inglesa nos cursos de formação de Pilotos

de Linha Aérea e de pilotos voando sob FAR 121 ou similar;

► Incorporação de questões referentes à comunicação nos exames para obtenção

de qualquer licença de piloto;

► Criação de um protocolo de comunicação único a ser utilizado em qualquer

região do mundo cujo conteúdo deverá ser obrigatoriamente incluído nos exames de

obtenção de licença para pilotos;

► Obrigatoriedade de curso específico periódico, conforme proposto neste trabalho,

para pilotos registrados em empresas aéreas sob FAR 121 ou similar;

Erros no processo de comunicação ainda existem e ainda causam incidentes

e quase acidentes. As novas tecnologias na área de comunicação ainda não

estarão disponíveis para comunicação instantânea entre piloto e controlador nos

próximos 20 anos. Embora a criação de normas de comunicação estejam sendo

mais frequentes entre as autoridades reguladoras, a existencia de diversas

padronizações diferentes torna o processo de assimilação para pilotos difícil e

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confuso. Uma unificação de padronização e uma regulamentação mais específica

ajudaria muito o processo de comunicação e, consequentemente, a segurança de

vôo.

Há muitos anos já se estabeleceu que a comunicação piloto-piloto, piloto-

comissário e piloto-empresa é de extrema importância para a segurança. Esse tipo

de comunicação vêm sendo enfatizado há anos nos treinamentos de CRM

ministrados nas empresas aéreas de todo o mundo. São cursos exigidos por

regulamentação mundial, definidos após análises de diversos acidentes

aeronáuticos. Cabe agora aos órgãos reguladores criarem novas regras para tratar

unicamente da comunicação piloto-controlador, ainda uma larga fonte de erros e

confusões na aviação mundial, para que acidentes como o de Tenerife deixem de

continuar sendo uma ameaça presente, e se tornem apenas uma sombra do

passado.

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120

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123

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124

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GLOSSÁRIO

Airway: Aerovia. Área controlada estabelecida em forma de corredor, equipada com

auxílios rádio à navegação.

Briefing: É um conjunto de informações passadas em uma reunião entre

profissionais com o objetivo de atualizar os envolvidos com os procedimentos e

acontecimentos que possam influenciar na atividade.

Charlie: A letra C no alfabeto fonético usado nas comunicações via rádio.

Chat: O termo se refere a possibilidade de se comunicar em tempo real com outros

usuários da Internet através de utilização de textos.

Checklist: Lista de verificações na qual o piloto lê e verifica se os equipamentos e

sistemas da aeronave estão de acordo com a fase de vôo.

Clipper: Termo usado pelos controladores para designar os aviões da PANAM.

Cockpit: Cabinde de pilotagem das aeronaves.

Código Morse: Sistema de representação de letras, números e sinais codificados

na forma de um conjunto de pulsos elétricos curtos (ponto) ou longos (traço) enviado

por um cabo através de um telégrafo

Código Q: Código de três letras, sendo que o Q será sempre a primeira letra. Esse

código foi originalmente desenvolvido em 1909 pelo governo britânico para facilitar a

comunicação telegráfica entre os navios britânicos e estações costeiras. Atualmente

ainda são usadas nas comunicações radio amadoras e mesmo aeronáuticas em

alguns casos.

Código SSR: Código a ser inserido no transponder que é fornecido pelo órgão de

Controle de Tráfego Aéreo no início de cada vôo.

Eurocontrol:

Feedback: Realimentação ou retorno. Refere-se à análise de uma situação

utilizando-se de perguntas específicas cujas respostas permitem receber

informações sobre o que se quer saber.

Feet: Medida de altitude usado na aviação que equivale a

Internet: Rede remota internacional de ampla área geográfica, que proporciona

transferência de arquivos e dados, juntamente com funções de correio eletrônico

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para milhões de usuários ao redor do mundo. A Internet surgiu como um

componente do sistema de defesa desenvolvido pelos Estados Unidos na época da

Guerra Fria como o intuito de permitir que seus computadores militares se

comunicassem de forma instantânea e descentralizada, mesmo se ocorresse um

ataque nuclear em qualquer uma das centrais, os dados estariam preservados. As

universidades gostaram do modelo e desenvolveram o que hoje conhecemos como

sendo a Internet.

Mike: A letra M no alfabeto fonético usado nas comunicações via rádio.

Nó (Knot): Unidade de medida de velocidade comum na área aeronáutica e

marítima. Um nó (1 kt) significa uma milha náutica por hora ou 1,852 quilômetros

por hora. É incorreto utilizar o termo nó por hora.

Proa: Frente da embarcação.

Radial: Rumo magnético tomado a partir de um VOR.

Rádio Beacon: Radiofarol. Rádio transmissor que serve de auxílio à navegação

aérea e tem a função de indicar a direção da estação transmissora para as

aeronaves equipadas com um receptor apropriado.

Runway: Pista de pouso e decolagem.

Runway Incursion:

Squelch: Função do rádio que exclui sinais não desejados de baixa potência que

possam estar presentes na freqüência próxima àquela selecionada. Funciona como

um filtro que melhora a qualidade da recepção.

Sobremodulação: Ato de falar ao mesmo tempo ou “por cima” de outra

transmissão via rádio, anulando ou dificultando a recepção dessas transmissões.

Taxiway: Pista de taxi ou de manobra que liga o pátio do aeroporto a pista de

pouso.

Transponder: Transmissor e receptor de radar secundário de bordo que,

automaticamente, recebe sinais de rádio dos interrogadores de solo e que,

seletivamente, responde com um pulso ou grupo de pulsos, somente àquelas

interrogações realizadas no modo e código para os quais estiver ajustado.

Través: Termo que significa “a 90 graus”. Que passa ao lado.

ANEXO A – Tabela de Código Morse

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Ilustração 18 – Tabela de Código Morse.

Fonte: http://aviation-safety.net

ANEXO B – Posição de Impacto em Tenerife

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Ilustração 19 – Posição de impacto em Tenerife.

Fonte: Relatório A-102/1977

ANEXO C – Memorando ao FAA

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Memorandum

U.S. Department of

Transportation

Office of the Secretary

Of Transportation

Office of Inspector

General

Subject: ACTION: Review of Near Miss Incidents Date: October 27, 2000

Caused by Language and Phraseology

Miscommunications Between Pilots and Air

Traffic Controllers

From: Kenneth M. Mead Reply to

Attn of: JA-1Inspector General

To: Federal Aviation Administrator

In an April 12, 2000 letter, Congressman Bob Franks raised safety concerns

about near miss incidents caused by language or phraseology

miscommunications between pilots and air traffic controllers. The letter

stated that there is a disturbingly high incidence of international pilots

flying in U.S. airspace who are unable to communicate with air traffic

controllers due to inadequate knowledge of the English language. The

Congressman was also concerned that the Federal Aviation Administration

(FAA) never took action to ground aircraft piloted by these individuals

when a near miss incident occurred.

To respond to this request, we reviewed FAA data on near midair collisions

and pilot deviations that either led to or could have led to near miss

incidents. We also determined what actions FAA takes in the event of a near

miss incident involving a foreign pilot. In addition, we identified actions

FAA has taken or plans to take to address language and phraseology

miscommunications. We have provided the results of our review to

Congressman Franks (attachment).

FAA has taken positive steps to address language and phraseology

miscommunications. For example, FAA has initiated international efforts to

develop standard aviation phraseology and English proficiency tests for

pilots and controllers, but more needs to be done. Improvements should be

made to the procedures FAA uses to collect data on near midair collisions.

This would provide FAA more detailed information on the number of incidents

caused by language and phraseology miscommunications. When foreign pilots

are involved in near midair collisions, or other incidents while in U.S.

airspace, FAA needs to be more proactive in determining that its

counterpart organizations take action against their pilots. Finally, FAA

needs to be diligent in its efforts to complete work begun on development

of standard aviation phraseology and English proficiency tests. A more

detailed description of our review and recommendations follows.

FAA collects data on near midair collisions (NMAC); however, NMAC reports

do not have designated data fields to collect information on causal factors

for each incident. Although causal factors could be included in the

narrative sections of these reports, our review determined that the

narratives focus more on the sequence of events that led to the aircraft

flying too close together rather than the causes. For example, the reports

would show the specific altitude of each aircraft at different time periods

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as the two aircraft lost their required separation distance, but did not

show why the loss of separation occurred.

When foreign pilots are involved in incidents while in U.S. airspace, FAA

International staff advised us that they try to investigate the incident

and determine if the pilot can adequately communicate in English. However,

since FAA does not issue foreign pilots’ operating certificates, FAA refers

these issues to the pilots’ home country for disposition. FAA does not

follow up with the civil aviation authority to determine what action was

taken.

FAA has two working groups looking at English proficiency and standard

aviation phraseology. First, FAA formed a working group with the

International Civil Aviation Organization (ICAO), EUROCONTROL, and NAV

Canada to develop standard aviation phraseology to be adopted by ICAO. FAA

needs to follow up with ICAO to encourage prompt adoption of the working

group’s recommendations. Second, FAA is working with others in the aviation

community, including ICAO, to develop English standards and proficiency

tests for pilots, air traffic controllers, and ground operators. This group

plans to complete its work by December 2000. These are important

initiatives, which when implemented, should improve safety for air

travelers worldwide.

To continue to advance your work in language and phraseology

miscommunications, we are recommending that FAA:

. Change the NMAC database to more accurately and completely capture causal

factors such as language or phraseology miscommunications.

. Implement procedures to follow up with the home country’s civil aviation

authorities to verify that the authorities address incidents involving

foreign pilots that occur in U.S. airspace.

. Establish milestones for timely follow-up, completion, and implementation

of English proficiency and standard phraseology initiatives.

We would appreciate being kept informed of the results of your efforts. If

we may be of further assistance in this or any other matter, please feel

free to contact me at (202) 366-1959, or my Acting Deputy, Todd J. Zinser,

at (202) 366-6767.

Attachment

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October 27, 2000

The Honorable Bob Franks

U.S. House of Representatives

Washington, DC 20515

Dear Congressman Franks:

We are responding to your recent letter requesting that we perform an

investigation of the number of near miss incidents caused by language or

phraseology miscommunications between pilots and air traffic controllers.

You stated that there is a disturbingly high incidence of international

pilots flying in U.S. airspace who are unable to communicate with air

traffic controllers and expressed concern that the Federal Aviation

Administration (FAA) never took action to ground aircraft piloted by these

individuals when a near miss incident occurred.

As a result of our review of your concerns, we are making a number of

recommendations to FAA. We are recommending that FAA modify the way it

collects data on midair collisions and follow up on enforcement actions

against foreign pilots involved in near miss incidents in U.S. airspace.

The procedures FAA currently uses in these areas do not provide FAA

complete information on near midair collisions involving foreign pilots and

what actions, if any, are taken when foreign pilots are involved in such

incidents in U.S. airspace. In addition, we are recommending that FAA

establish milestones for implementing its planned or on-going initiatives

to improve air to ground communications between foreign pilots and U.S. air

traffic control. A copy of our letter to FAA is enclosed.

To respond to your request, we spoke with members of your staff,

representatives from the FAA, including air traffic controllers, and

pertinent industry associations. We also reviewed FAA data on near midair

collisions and on pilot deviations that either led to or could have led to

near miss incidents. Based on the data available at FAA, we could not

conclude that a significant number of near miss incidents have occurred as

a result of language or phraseology miscommunications involving foreign

pilots. From January 1997 to August 2000, FAA recorded a total of 309 pilot

deviations nationwide attributable to language or phraseology problems

between pilots and air traffic controllers, and 16 of these incidents

involved foreign air carriers. None of the 16 incidents resulted in a near

miss situation and 1 of the 16 incidents occurred in the busy airspace over

the New York/New Jersey area.

Unlike the pilot deviation reporting system, near midair collision reports

do not have designated fields to collect causal factors for each incident.

The reports focus more on the sequence of events that led to the aircraft

flying too close together rather than the causes. Changes to these

procedures may yield additional information on the number of near miss

incidents that are caused by language or phraseology miscommunications

between pilots and air traffic controllers. We are recommending that FAA

change the way it collects data on near midair collisions.

As you indicated in your letter, FAA does not take action to ground

aircraft when incidents involving foreign pilots occur. FAA officials

responsible for oversight of foreign carriers’ operations in the United

States stated they do try to investigate such incidents and determine if

the pilot can adequately communicate in English. However, FAA leaves it to

the civil aviation authority of the pilot’s home country to take any

necessary action against the pilot. We think FAA can do more and are

recommending that FAA verify that the home country’s civil aviation

authority has taken necessary action against the pilot.

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FAA believes phraseology miscommunications and English proficiency are

safety concerns and has initiated several efforts addressing these issues.

FAA is working with the international aviation community to develop

standard aviation phraseology and standards on English proficiency.

Additionally, the National Transportation Safety Board (NTSB) recently

recommended that FAA use internationally accepted phraseology for airport

surface operations. To respond to NTSB’s recommendation, FAA plans to form

a working group to review phraseology currently used in air to ground

communications. To ensure these two important initiatives are completed we

are recommending that FAA establish milestones for implementing these

efforts. When fully implemented, these initiatives should result in

improved safety for all passengers worldwide. Our results are discussed

further in the paragraphs that follow.

No Reported Near Miss Incidents Caused by Language or Phraseology

Miscommunications. FAA collects data on pilot deviations, which are

incidents where pilots violate FAA procedures in the air or on the ground,

fly into unauthorized air space, or fly too close to other aircraft and

create situations that could result in a near miss incident. This data

system has designated fields to capture the cause of each incident. From

January 1997 to August 2000, the data included 309 incidents attributable

to language or phraseology problems; however, 16 of these incidents

involved foreign air carriers, and 1 of these 16 occurred in airspace over

the New York/New Jersey area. None of the 16 incidents resulted in a near

midair collision.

In addition to pilot deviation data, FAA also maintains a data system that

specifically captures near midair collisions (incidents where two or more

aircraft actually come dangerously close to colliding). Although there were

838 reports of such incidents from January 1997 to July 2000, none

referenced language or phraseology as a cause of the incident. Unlike the

pilot deviation reporting system, near midair collision reports do not have

designated data fields to collect causal factors for each incident.

Although causal factors could be included in the narrative sections of

these reports, our review determined that the narratives focused more on

the sequence of events that led to the aircraft flying too close together

rather than the causes. For example, the reports would show the specific

altitude of each aircraft at different time periods as the two aircraft

lost their required separation distance, but did not show why the loss of

separation occurred.

Concerns With Phraseology Miscommunication. Representatives from FAA, the

Air Line Pilots Association, and the Air Transport Association agreed that

while English proficiency can be a problem with foreign pilots, a greater

concern is the use of non-standard phraseology in air to ground

communications. These differences can create confusion and

misunderstandings that could lead to near miss incidents.

Standard air traffic control phraseology has been developed by the

International Civil Aviation Organization (ICAO), but there are nations,

including the United States, which have adopted different phraseology. For

example, the ICAO standard phraseology for an aircraft to hold its position

is “line up and wait.” However, U.S. air traffic controllers use the

phraseology “taxi into position and hold.” This phraseology may not be

familiar to foreign pilots arriving at U.S. airports. The NTSB recognized

the risks of non-standard air traffic control phraseology and on July 6,

2000, recommended that FAA require air traffic controllers to use standard

ICAO phraseology for airport surface operations. On September 6, 2000, FAA

responded to NTSB on this recommendation, stating that FAA planned to form

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a working group to complete a review of existing phraseology by December

2000.

FAA Actions on Foreign Pilot Incidents and Initiatives to Address English

Proficiency and Phraseology. Because FAA does not issue foreign pilots

their operating certificates, when an incident involving a foreign air

carrier occurs, FAA relies on the civil aviation authority of the carrier’s

home country to take any necessary action against the pilot. To operate in

the United States, FAA requires foreign carriers to state whether their

pilots can speak English fluently enough to communicate with air traffic

control. However, FAA does not verify this information. Under the terms of

international agreements with other nations, FAA accepts the validity of

the licenses and certificates issued by other nations.

FAA believes the English proficiency of foreign pilots and the use of non-

standard phraseology is an issue that should be addressed on an

international level and has initiated efforts with ICAO, EUROCONTROL and

NAV Canada to address these issues. FAA is forming a task force of aviation

community representatives, including ICAO and air carrier representatives

to develop English standards and proficiency tests for pilots, air traffic

controllers, and ground operators by December 2000. In addition, FAA worked

with EUROCONTROL and NAV Canada to develop standard aviation phraseology.

When fully implemented, these initiatives should improve safety for air

travelers worldwide.

Language and phraseology miscommunications in air to ground communications

are a serious concern. FAA has taken steps to address these issues, but

more could be done. FAA needs to make changes to the way it collects data

to obtain a better record of near miss incidents caused by language or

phraseology miscommunications. In addition, FAA needs to complete the work

it has begun in the development of English standards and proficiency tests

for pilots, air traffic controllers, and ground operators as well as the

development of standard aviation phraseology. Lastly, FAA needs to take

action to verify with the civil aviation authorities in foreign pilots’

home countries that necessary action has been taken when there is a near

miss incident involving a foreign pilot. We are making these

recommendations to the FAA Administrator in a separate letter. A copy of

our letter to FAA is enclosed.

If I can answer any questions or be of further assistance, please feel free

to contact me at (202) 366-1959, or my Acting Deputy, Todd J. Zinser, at

(202) 366-6767.

Sincerely,

Kenneth M. Mead

Inspector General

Enclosure

cc: FAA Administrator

Ilustração 20 – Transcrição do Memorando do Secretário de Transportes dos Estados Unidos

em resposta a um congressista sobre comunicação aeronáutica.

Fonte: www.google.com

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ANEXO D – Artigo sobre comunicação aeronáutica

From The Times June 12, 2008 Polish pilots' poor English almost led to crash Ben Webster, Transport Correspondent A Polish airliner came within seconds of colliding with another plane near Heathrow because its pilots had such poor English that they could not understand basic instructions from air traffic controllers. The Lot Boeing 737, carrying 95 passengers and crew, wandered the skies for almost half an hour as the pilots struggled to identify their position. A controller had to instruct another aircraft to change direction to avoid a collision.

A document seen by The Times suggests that only 15 out of 800 Polish pilots flying internationally have passed the test for the required standard of English.

The two pilots in the Heathrow incident had to rely on directions after positioning instruments went blank because of a co-pilot’s error. They repeatedly failed to comply with instructions as they tried to return to Heathrow. On the final approach the Boeing appeared to be heading for the wrong runway, prompting a controller to order other aircraft to leave the area.

The incident, described in a report by the Air Accidents Investigation Branch (AAIB), highlights the risks associated with having so many foreign pilots with only rudimentary English using British airports. English is the international language of aviation but many countries failed to comply with the International Civil Aviation Organisation (ICAO) deadline of March this year for ensuring that their pilots were proficient in the language.

Poland has applied to the ICAO for an exemption until March 2011, the last possible date for compliance, after which pilots without the required level could be banned from international airspace. In a letter to the ICAO obtained by The Times, the Polish government’s civil aviation office suggests that only 15 pilots out of 800 Poles flying international routes have passed the appropriate English test.

The letter, sent on March 4, nine months after the Heathrow incident, states: “We haven’t had any accident caused by insufficient English level as well as [sic] we have not received any information from air traffic control agencies that Polish pilots were not able to communicate correctly. Therefore, potential risk of accident occurrence due to lack of English language proficiency is very improbable.”

That claim is contradicted by the AAIB’s investigation, which said: “The crew of Lot 282 were not able to communicate adequately the nature and extent of their problem.” The report added: “The commander, who was making the radio calls, was not able to understand some of the instructions.”

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The AAIB found that an initial error by the co-pilot had been “compounded by the difficulty of obtaining information from the pilots because of their limited command of English”.

The Department for Transport confirmed that it had kept the Polish authorities informed of the investigation.

David Learmount, safety editor of Flight International magazine, said that it was very worrying that the pilots had not understood British controllers. “It could have been even worse if they had been trying to understand a French controller speaking to them in English,” he said.

“Countries which did not previously have many international pilots are now flooding the world with flights piloted by people who can’t speak English properly. For many pilots, learning English is much more difficult than learning to fly.”

Ilustração 21 – Transcrição de um artigo sobre problemas de comunicação aeronáutica

motivado por deficiência no uso da língua inglesa.

Fonte: http://www.timesonline.co.uk/tol/travel/news/article4116523.ece