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João Pessoa - PB, 26 a 29 de julho de 2015 SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural IMPACTOS DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA CANAVIEIRA NA VISÃO DOS AGENTES INSTITUCIONAIS EM MINAS GERAIS IMPACTS OF THE IMPLEMENTATION OF A PLANT IN SUGARCANE AGENTS INSTITUTIONAL VISION ON THE MINAS GERAIS Josiane Maria Alves Bacharel em Administração pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais - Campus Bambuí (IFMG), [email protected] Cláudia Aparecida de Campos Professora associada do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais - Campus Bambuí (IFMG), [email protected] José Willer do Prado Mestrando em Administração pela Universidade Federal de Lavras (DAE/UFLA), [email protected] Valderí de Castro Alcântara Doutorando em Administração pela Universidade Federal de Lavras (DAE/UFLA), [email protected] Grupo de Pesquisa: G 6. Agropecuária, Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Resumo O presente estudo possui como objetivo identificar quais são os impactos positivos e negativos causados em um município de Minas Gerais pela implantação de uma Usina Canavieira na visão dos agentes institucionais. Além disso, verificar se a Usina utiliza ferramentas de gestão ambiental e responsabilidade social como estratégia gerencial para amenizar os impactos gerados com a sua implantação. O estudo se desenvolveu a partir de uma pesquisa descritiva utilizando dados primários e secundários. Os dados primários foram coletados por meio de questionários e entrevistas com diversos agentes institucionais: Autoridades locais; Instituições Financeiras; Autoridade de Segurança; IEF; EMATER; ACIB e Representantes comerciais. Os resultados evidenciam a importância da implantação da Usina devido à alavancagem da economia local. No que se refere aos impactos negativos, a questão ambiental é a preocupação da maioria dos agentes institucionais. Contudo, a usina utiliza as ferramentas de gestão ambiental e responsabilidade social como estratégia para amenizar os impactos da sua implantação. Por fim, indica-se que a integração dos diversos agentes institucionais em prol da responsabilidade social e gestão ambiental é um caminho importante para o desenvolvimento local do município. Palavras-chave: Impactos, cana-de-açúcar, geração de empregos.

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IMPACTOS DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA CANAVIEIRA NA VISÃO DOS

AGENTES INSTITUCIONAIS EM MINAS GERAIS

IMPACTS OF THE IMPLEMENTATION OF A PLANT IN SUGARCANE AGENTS

INSTITUTIONAL VISION ON THE MINAS GERAIS

Josiane Maria Alves

Bacharel em Administração pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de

Minas Gerais - Campus Bambuí (IFMG), [email protected]

Cláudia Aparecida de Campos

Professora associada do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais

- Campus Bambuí (IFMG), [email protected]

José Willer do Prado

Mestrando em Administração pela Universidade Federal de Lavras (DAE/UFLA),

[email protected]

Valderí de Castro Alcântara

Doutorando em Administração pela Universidade Federal de Lavras (DAE/UFLA),

[email protected]

Grupo de Pesquisa: G 6. Agropecuária, Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

Resumo

O presente estudo possui como objetivo identificar quais são os impactos positivos e

negativos causados em um município de Minas Gerais pela implantação de uma Usina

Canavieira na visão dos agentes institucionais. Além disso, verificar se a Usina utiliza

ferramentas de gestão ambiental e responsabilidade social como estratégia gerencial para

amenizar os impactos gerados com a sua implantação. O estudo se desenvolveu a partir de

uma pesquisa descritiva utilizando dados primários e secundários. Os dados primários foram

coletados por meio de questionários e entrevistas com diversos agentes institucionais:

Autoridades locais; Instituições Financeiras; Autoridade de Segurança; IEF; EMATER; ACIB

e Representantes comerciais. Os resultados evidenciam a importância da implantação da

Usina devido à alavancagem da economia local. No que se refere aos impactos negativos, a

questão ambiental é a preocupação da maioria dos agentes institucionais. Contudo, a usina

utiliza as ferramentas de gestão ambiental e responsabilidade social como estratégia para

amenizar os impactos da sua implantação. Por fim, indica-se que a integração dos diversos

agentes institucionais em prol da responsabilidade social e gestão ambiental é um caminho

importante para o desenvolvimento local do município.

Palavras-chave: Impactos, cana-de-açúcar, geração de empregos.

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Abstract

This study has the objective to identify what are the positive and negative impacts in a city of

the Minas Gerais for the implementation of a Sugarcane Plant in view of institutional agents.

Also, verify that the plant uses tools of environmental management and social responsibility

as a management strategy to mitigate the impacts with its implementation. The study grew out

of a descriptive research using primary and secondary data. Primary data were collected

through questionnaires and interviews with various institutional actors: local authorities;

Financial Institutions; Security Authority; IEF; EMATER; ACIB and commercial

representatives. The results show the importance of implementing the Plant due to leverage

the local economy. With regard to the negative impacts, the environmental issue is the

concern of most institutional agents. However, the plant uses the tools of environmental

management and social responsibility as a strategy to mitigate the impacts of its

implementation. Finally, it is stated that the integration of the various institutional agents for

social responsibility and environmental management is an important way for local

development of the municipality.

Key words: Impacts, cane sugar, employment generation.

1. Introdução

A cultura de cana-de-açúcar é uma das mais antigas do Brasil e possui um papel

importante para a economia do país, estando ligada aos principais eventos históricos. O setor

sucroalcooleiro tem como principais produtos o açúcar, o etanol e a energia elétrica. No

Brasil, o setor sucroalcooleiro continua em crescente expansão, sendo considerado hoje o

maior produtor mundial de cana-de-açúcar. A área utilizada para a produção sucroalcooleira

na safra 2012/13 está estimada em 8.567,2 mil hectares, distribuídos em todos estados

produtores conforme suas características. O estado de São Paulo é o maior produtor com

51,66%, seguido por Minas Gerais com 8,97% (CONAB, 2012).

Devido à expansão das usinas no país, a importância do setor para a economia tem

aumentado nos últimos anos. As empresas deste ramo são grandes geradoras de empregos,

receitas e impostos, além de serem responsáveis por uma considerável parte da matriz

energética do país. O setor sucroalcooleiro é um setor bastante tradicional na economia

brasileira, gerando mais de um milhão de empregos, envolvendo mão de obra na indústria, na

lavoura, na administração, na comercialização e na exportação dos produtos (ÚNICA, 2012).

Contudo, a implantação de uma usina, assim como a de qualquer grande

empreendimento, ocasiona impactos no meio ambiente físico, social, cultural e econômico nas

regiões em que se insere. A expansão da cana-de-açúcar pode contribuir para o desmatamento

da cobertura original de florestas e o comprometimento dos recursos naturais das populações

rurais e da segurança alimentar das regiões envolvidas com a produção (LIMA, 2010).

O cultivo da cana-de-açúcar se expandiu por Minas Gerais, e entre os municípios que

compõem esta região está o município de Bambuí, localizado no centro oeste mineiro,

próximo à Serra da Canastra. O município é caracterizado por uma economia centrada na

agropecuária, mas desde 2006, com a implantação de uma Usina Canavieira (denominação

utilizada para manter o sigilo da empresa), o cultivo da cana-de-açúcar vem sendo

incorporado e expandido no município.

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As agroindústrias canavieiras possuem a capacidade de provocar mudanças nos

municípios onde se inserem. Suas implantações podem ser consideradas benéficas em relação

ao crescimento econômico, mas também pode ter efeitos negativos sobre os municípios.

Diante disso, despertou-se o interesse em desenvolver um estudo capaz de aprofundar esta

reflexão questionando os agentes institucionais de Bambuí sobre os impactos que a usina vem

proporcionando ou poderá proporcionar no município.

O presente estudo possui como objetivo identificar quais são os impactos positivos e

negativos causados em um município de Minas Gerais pela implantação de uma Usina

Canavieira na visão dos agentes institucionais. E ainda, verificar se a Usina utiliza as

ferramentas de gestão ambiental e responsabilidade social como estratégia gerencial para

amenizar os impactos gerados com a sua implantação no município de Bambuí - MG.

2. Referencial Teórico

2.1 A cana-de-açúcar e expansão da indústria sucroalcooleira em Minas Gerais

A produção do açúcar começou no início da colonização onde o açúcar já era o grande

produto de exportação do país e assegurou poder político e econômico aos senhores de

engenho durante a fase colonial (PIACENTE, 2006). A indústria açucareira iniciou-se

aproximadamente em 1520 em Pernambuco na Bahia de todos os Santos estendendo-se

depois para as capitanias de São Tomé (Rio de Janeiro) e São Vicente (São Paulo).

Hoje, o setor sucroalcooleiro no Brasil conta com 430 agroindústrias, gerando 1,2

milhões de empregos diretos. Além disso, o Brasil é o maior produtor mundial de açúcar,

respondendo por 25% da produção e 50% das exportações. É ainda o segundo maior produtor

de etanol, responsável por 25% da produção mundial e 20% das exportações. Possui um PIB

setorial US$ 48 bilhões (ÚNICA, 2012). Segundo dados da Conab (2012), a produção e a

lavoura de cana-de-açúcar continua em expansão pelo Brasil. As áreas em produção

continuam em crescimento nos Estados de: Mato Grosso do Sul (12,5%), Goiás (7,9%),

Espírito Santo (7,35%), Bahia (5,3%), Mato Grosso (5,5%) e Minas Gerais (3,5%). Segundo

dados da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais - SIAMIG (2013),

atualmente Minas Gerais possui 39 usinas em funcionamento, sendo que 20 foram

implantadas antes de 2003 e 19 foram implantadas após este ano (Figura 1).

Quanto ao tipo de produção, 20 unidades produtoras produzem açúcar e etanol, 15

unidades produzem etanol e 2 unidades produzem somente açúcar. Segundo o levantamento

feito pela Siamig (2013), a expressiva produção de açúcar fez com que o estado de Minas

Gerais alcançasse a terceira posição no ranking nacional ficando atrás apenas de São Paulo e

Goiás. A produção de etanol também é significativa e ocupa a terceira posição no ranking na

produção de etanol do país, ficando atrás de São Paulo e Goiás.

Castro (2009) diz que o Governo de Minas realizou um mapeamento das áreas

propícias ao cultivo de cana-de-açúcar com intuito de mostrar aos investidores as diversas

opções que o Estado oferece para a implantação de usinas de açúcar e álcool. Entretanto,

limitou o número de empreendimentos, o objetivo é que Minas Gerais mantenha sua

variedade de produtos agrícolas, mesmo com a expansão da cultura da cana-de-açúcar. O

Setor sucroenergético representa em Minas Gerais 18% do PIB do agronegócio Mineiro.

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Figura 1: Mapa da localização das usinas no estado de Minas Gerais.

Fonte: SIAMIG (2013).

Devido à expansão do cultivo da cana-de-açúcar nos últimos dez anos, Minas Gerais

demonstra uma nova tendência nas áreas agrícolas em virtude da ampliação das fronteiras da

cultura de cana-de-açúcar que parte do Estado de São Paulo em direção a Minas, com o

estabelecimento de novas usinas na região (CASTRO, 2009).

A arrancada em Minas na produção de cana e etanol se deve aos altos investimentos

feitos no setor. De acordo com dados da SIAMIG (2013), os investimentos foram mais de 4

bilhões desde 2003, com o surgimento de 23 novas unidades produtivas.

2.2 Impactos do Setor Sucroalcooleiro

A implantação de um sistema sucroalcooleiro envolve um conjunto de fatores e

normalmente implica vários impactos: os impactos no meio ambiente, afetando a qualidade

do ar, preservação de solos, clima mundial, suprimento de água, e a ocupação do solo; os

impactos socioeconômicos, com destaque na geração de emprego e renda; e o impacto nas

ações comerciais, referente à competitividade e subsídios (TRINDADE; CHAVES, 2009).

O setor sucroalcooleiro apresenta vários riscos ampliados, principalmente em relação

ao potencial de impactos ambientais. Para Piacente (2005), qualquer atividade agrícola, que

emprega recursos naturais como água e solo, e usa insumos e defensivos químicos, apresenta

algum impacto ambiental. Segundo Piacente (2005), os principais impactos ambientais

oriundos dos processos produtivos da cana são gerados na fase agrícola e na fase industrial.

Na fase agrícola destaca-se: redução da biodiversidade, contaminação das águas e do solo,

compactação do solo através do tráfego de maquinário durante o plantio, assoreamento de

corpos d’água, emissão de fuligem durante a queima para colheita, danos à flora e fauna.

Na fase industrial, de acordo com Andrade e Diniz (2007), o fluxo de caminhões gera

a emissão de ruídos e vibrações, causando incômodos e danos às residências de moradores.

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Há também grande emissão de poeiras que permanecem por longos períodos de estiagem,

ocasionado queixas de moradores devido aos problemas respiratórios gerados.

Além de problemas ambientais, a cultura e o processamento da cana geram outros

impactos, dentre esses se destacam os sociais, tais como: o grande fluxo migratório que

provoca o aumento desordenado da população em função de pessoas que vêm de outras

regiões para trabalhar; aumento da criminalidade; serviço de saúde despreparado para atender

as demandas populacionais. Nesse contexto, segundo Castro (2009) o inchaço populacional

provoca consequências socioeconômicas como explosão demográfica, insuficiência nos

recursos de educação e saúde e aumento da especulação imobiliária e comercial.

Como se observa, são vários os aspectos negativos causados pelo impacto social

gerado pelo setor sucroalcooleiro. E esses aspectos, os quais atingem uma dimensão social e

ambiental obrigam os atores sociais a retomarem uma avaliação dos nexos entre organização e

sociedade, e a partir de tal perspectiva o conceito de responsabilidade social vai sendo

construído em diferentes contextos históricos (MAXIMIANO, 2004).

Além dos impactos ambientais e sociais gerados pelo setor sucroalcooleiro, também é

necessário levantar os impactos econômicos deste setor. Para Caravalheiro e Schallenberger

(2007) o desenvolvimento é estabelecido pela existência de crescimento constante em um

ritmo superior ao crescimento demográfico, envolvendo alteração de estruturas e melhorias de

indicadores econômicos e sociais, resultando no fortalecimento da economia regional.

Para Barbosa (2011), o desenvolvimento significa mudança na realidade local, o que

causa preocupações futuras. O desenvolvimento local envolve diversos agentes institucionais

que vai desde a sociedade, as instituições privadas e políticas e ao próprio governo, e cada um

destes tem seu papel de contribuir com o desenvolvimento local. E para que o

desenvolvimento local seja conduzido com sucesso, é necessário um diálogo entre as pessoas

envolvidas na comunidade, visando melhorar a qualidade de vida de todos e o respeito pelas

origens e características de determinada comunidade.

Assim, a partir dos impactos discutidos, fica claro o surgimento de uma questão ética:

a responsabilidade social. Neste contexto, sistemas de responsabilidade social e de gestão

ambiental são passiveis de serem implantados nas unidades sucroalcooleiras de todo o país,

visando melhorar a atuação do setor no que diz respeito à maximização dos impactos

positivos e minimização dos impactos negativos.

2.3 Responsabilidade Social e Gestão Ambiental

A responsabilidade social das empresas é uma grande tendência nas relações entre

empresas e consumidores de produtos e/ou serviços (SOVINSKI, 2006). Segundo Becke

(2003) investir em ações de responsabilidade social e ambiental proporciona benefícios a

sociedade e as empresas.

Para Tachizawa e Andrade (2008), a responsabilidade social e a gestão ambiental

tornam-se importantes instrumentos gerenciais para capacitação e criação de condições de

competitividade para as organizações, qualquer que seja seu segmento econômico. Nesse

contexto, em busca de competitividade, as organizações almejam obter uma melhor relação

com o meio ambiente.

Para Epelbaum (2004, p. 48), “a Gestão Ambiental é um segmento da gestão

empresarial que se preocupa com a identificação, avaliação, monitoramento, controle e

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redução dos impactos ambientais”. E, de acordo com Araújo (2001, p. 34), “o sistema de

gestão ocasiona um melhor gerenciamento do meio ambiente, acarretando um melhor

desempenho desse meio, uma maior eficiência e um maior retorno dos investimentos feitos

pela empresa que o implantam”.

A partir dessas definições, pode-se perceber que a gestão ambiental procura reduzir ou

minimizar os impactos ao meio ambiente (LIMA, 2008). Portanto, é necessário ressaltar a

importância da gestão ambiental, voltada para a responsabilidade das empresas em garantir

sua sobrevivência sem que se comprometam as gerações futuras. Assim a correta

administração de recursos e a consciência em preservar o meio ambiente são fatores

importantes a serem considerados por aqueles que atuam e gerenciam no setor

sucroalcooleiro.

3. Metodologia de pesquisa

3.1 Tipo de Pesquisa

O estudo em questão se desenvolveu a partir de uma pesquisa descritiva. Nesse

aspecto, utilizou-se uma pesquisa descritiva qualitativa através de um estudo de caso pela

necessidade de se levantar dados mais aprofundados. Para Vergara (2000), o estudo de caso é

o circunscrito a uma ou poucas unidades, tendo caráter de profundidade e detalhamento.

O estudo foi realizado no Município de Bambuí, localizado no centro oeste mineiro,

próximo a Serra da Canastra, onde nasce o Rio São Francisco. A empresa pesquisada foi uma

Usina Canavieira que possui atualmente 858 funcionários diretos e 450 funcionários indiretos.

A Usina Canavieira iniciou suas instalações em 2006 e em setembro de 2009 iniciou a

produção de etanol. As atividades da Usina Canavieira abrangem a produção e

comercialização de álcool e energia elétrica, com capacidade instalada para moagem de 1,2

milhões de toneladas de cana-de-açúcar e infraestrutura preparada para ser ampliada para 2,4

milhões de toneladas. A Usina Canavieira tem 16.500 hectares de área cultivada de cana de

açúcar devendo chegar em sua estabilização de produção em 30.000 hectares nos próximos

anos (MEMORANDO DE DIVULGAÇÃO, 2012).

3.2 Amostra, coleta e análise dos dados

Quanto ao tipo de amostragem, utilizou-se a não probabilística intencional que

segundo Marconi e Lakatos (2005) é quando não se conhecem o tamanho do universo e os

indivíduos são selecionados através de critérios do pesquisador. Com o intuito de atender o

objetivo proposto deste estudo, a amostra abrangeu sete categorias de agentes institucionais

como demostrado no Quadro 1.

A amostra final do presente estudo totalizou vinte e três agentes institucionais

pesquisados. Os agentes institucionais foram escolhidos pela sua representatividade em

relação aos demais agentes institucionais do município de Bambuí. Os representantes

comerciais associadas à ACIB foram selecionados pelo tempo de atuação superior a 5 anos,

visando que esses possam identificar os impactos gerados após a implantação da Usina. Em

seguida foi feito um sorteio e escolhida uma empresa para representar seu segmento no

comércio local.

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Agentes Institucionais

Autoridades

locais

COPASA (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), CEMIG (Companhia Energética

de Minas Gerais), Prefeitura Municipal de Bambuí, IFMG (Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia de Minas Gerais - Campus Bambuí) e Sindicato Rural de Bambuí.

Instituições

Financeiras Credibam, Banco Itaú, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil.

Autoridade de

Segurança Policia Militar.

IEF Instituto Estadual de Florestas

EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais.

ACIB Associação Comercial e Industrial de Bambuí.

Representantes

comerciais

Empresas de diferentes setores: alimentício, eletrodoméstico, calçados, vestuário, material

de construção, loja imobiliária, posto de combustível, produtos agropecuários e hotelaria.

Quadro1: Agentes Institucionais.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Para a realização desta pesquisa, foram utilizados dados primários e secundários. Os

dados primários foram obtidos primeiramente por questionários e posteriormente pela

entrevista. Para os questionários aplicados aos agentes institucionais do município de

Bambuí-MG, foram utilizados questionários semi-estruturados com perguntas específicas

direcionadas a cada agente institucional de acordo com a área de atuação; os mesmos com

questões fechadas, abertas e de múltipla escolha.

Após as aplicações e tabulação dos questionários, foi realizada uma entrevista

estruturada com roteiro previamente estabelecido ao dirigente da Usina Canavieira, com

objetivo de identificar se a Usina utiliza as ferramentas de gestão ambiental e

responsabilidade social como estratégia gerencial para amenizar os impactos gerados com a

sua implantação no município de Bambuí.

Os dados secundários utilizados neste trabalho têm com o objetivo de complementar

os dados da pesquisa, utilizou-se como fonte de dados secundários as informações obtidas

através do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para dar embasamento ao

estudo proposto.

Após a realização da coleta de dados, para as questões que tiveram respostas

discursivas utilizou-se a análise de conteúdo. Segundo Bardin (2009) a análise de conteúdo é

um conjunto de técnicas de diagnóstico que tentam obter indicadores que permitam a

inferência de conhecimentos relativos às condições de produção ou recepção destas mesmas

comunicações. Por fim, foi realizado o agrupamento das respostas, separando as semelhantes

e, posteriormente, foi feita a tabulação no programa Microsoft Excel para discussão.

4. Resultados e Discussões

4.1 Autoridades locais

As autoridades locais pesquisadas foram a CEMIG, COPASA, IFMG, Prefeitura

Municipal e Sindicato Rural de Bambuí. Na análise todas concordam com a importância da

implantação da Usina no município de Bambuí. Na opinião dessas autoridades, justifica-se

essa importância devido à alavancagem da economia local. O representante da prefeitura

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municipal complementa que a Usina é a primeira indústria de grande porte a se instalar no

município de Bambuí.

Ao serem questionados se a Usina trouxe impactos positivos para o município, todos

os agentes pesquisados concordam e citam a geração de empregos como o principal impacto

positivo. Em relação aos impactos negativos, somente o representante da prefeitura

contradisse com as demais autoridades locais. Para ele a Usina não trouxe impactos negativos;

as demais autoridades locais afirmam que os impactos negativos são relacionados aos

problemas ambientais como desmatamento para cultivo da cana, poluição do solo e

mananciais de água, uso excessivo de agrotóxicos além das queimadas no período da safra.

Na análise do desenvolvimento do município após a implantação da Usina, na visão do

representante do IFMG, por se tratar de um empreendimento recente, ainda não há como

afirmar este desenvolvimento. As demais autoridades locais afirmam que o município se

desenvolveu e um exemplo é uma economia mais representativa hoje do que antes. Na

percepção do representante do IFMG houve outros fatores que afetaram esse

desenvolvimento, alguns desses são: a facilidade de financiamento e o crescimento do IFMG.

A pesquisa também questionou as autoridades locais se a implantação da Usina afetou

a qualidade de vida das pessoas do município de Bambuí, todas concordam, porém, com

argumentos diferentes. Na percepção dos representantes da COPASA e da prefeitura, a

implantação afetou positivamente a qualidade de vida através do aquecimento da economia,

melhor padrão de vida da população. Na percepção do representante da CEMIG e do

Sindicato Rural a implantação da Usina afetou negativamente, pois o aumento populacional

acarretou o aumento da criminalidade. Para o representante do IFMG, a cidade não está

preparada para receber grande número de moradores.

Em relação aos impactos mais visíveis no município, na visão das autoridades locais

destaca-se na Figura 2: geração de emprego, aquecimento do comércio (16%), aumento dos

preços dos aluguéis, aquecimento da construção civil (12%) e desenvolvimento econômico,

aumento de veículos, aumento da renda da população com (8%).

Figura 2: Impactos gerados na percepção das autoridades locais

Fonte: Dados da pesquisa.

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Já na opinião da CEMIG, inicialmente a Usina contribuiu negativamente para a

prestação de serviços, pois no primeiro momento houve muitos conflitos entre os serviços da

Usina e as redes da CEMIG. Após acertos e ajustamentos, a convivência ficou harmoniosa e a

geração de eletricidade pela Usina ganhou escala de qualidade.

Foi questionado ao representante da prefeitura se a mesma possui alguma parceria com

a Usina, e a resposta foi afirmativa. A prefeitura possui juntamente com a Usina um convênio

de cooperação mútua com a finalidade de conservar e manter as estradas rurais, onde há um

fluxo intenso de caminhões da Usina trafegando, e ao mesmo tempo estas estradas são

utilizadas pelas comunidades rurais e pelo transporte escolar, necessitando que as mesmas

permaneçam em bom estado.

Segundo o representante do IFMG, o instituto também possui um convênio com a

Usina. No início da implantação da Usina houve a necessidade de passar uma linha de alta

tensão pelo Campus para tornar o caminho mais curto. Como a escola é Federal, não poderia

ser vendido ou alugado este espaço; diante disso, surgiu a ideia de um convênio com a Usina

para que se fizesse como contrapartida uma ciclovia, o que até hoje não se concretizou e que,

segundo representante, dificulta uma maior aproximação para outras ações mais fortes.

Na área educacional, o representante do IFMG relatou que o Instituto não tem parceria

com a Usina. Segundo o representante, com a vinda da Usina a instituição objetivou criar um

curso que pudesse dar oportunidades às pessoas do município, considerando este intuito foi

criado o curso Técnico em Açúcar e Álcool. A grade curricular foi analisada e sugerida por

um agrônomo especializado em Usinas. Para o representante do IFMG, os alunos do instituto

que se formam em áreas relacionadas às atividades da Usina estão tendo oportunidade de

emprego na Usina.

O estudo buscou analisar, juntamente com o representante do Sindicato Rural, se após

a implantação da Usina, o setor agropecuário sofreu algum dano. Na visão do representante

do Sindicato Rural, o setor rural sofreu alguns danos com a implantação da Usina, sendo o

mais visível, o uso exagerado de agrotóxicos que vem poluindo as águas do município.

Adiante houve diminuição de oferta de emprego no setor rural em função da grande demanda

de mão de obra da Usina em setores diversos.

4.2 Instituições Financeiras

As instituições financeiras pesquisadas foram: Banco do Brasil, Caixa Econômica

Federal, Banco Itaú e Sicoob Credibam. Sobre a importância da instalação da Usina no

município de Bambuí, as instituições financeiras pesquisadas acham importante a implantação

da Usina no município, fato representado pelo aquecimento econômico no município.

Quanto aos impactos positivos, todas concordam com a geração de empregos como o

principal impacto positivo. O representante do Sicoob Credibam acrescentou que houve o

aquecimento da agricultura e pecuária em função da valorização da terra e também da

valorização do ramo imobiliário, além do crescimento das instituições financeiras. O

representante do Banco Itaú citou ainda como ponto positivo da implantação a criação do

curso Técnico em Açúcar e Álcool no IFMG.

Em relação aos impactos negativos, todas as instituições financeiras afirmam que a

Usina vem proporcionando impactos negativos ao município. Para o representante do Sicoob

Credibam, os impactos negativos gerados foram os frequentes desligamentos da energia

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elétrica e o trânsito intenso e perigoso na rodovia que liga Bambuí à Usina. As demais

instituições acham a questão ambiental como principal impacto negativo. O representante da

Caixa Econômica Federal destacou outro ponto negativo que é a rotatividade da mão de obra

na Usina que deixa muita gente desempregada na cidade no período entressafra.

Para o representante do Sicoob Credibam, o município de Bambuí se desenvolveu, não

somente em função da implantação da Usina, mas também em função do IFMG, trazendo

alunos, professores, funcionários e assim, aquecendo o comércio local. As demais instituições

afirmam o desenvolvimento do município após a implantação da Usina e visualiza este fato

através do aquecimento da construção civil e o aumento das vendas do comércio local.

Na opinião das instituições financeiras, a instalação da Usina impulsionou os negócios

dos seus empreendimentos, houve um aumento da procura de produtos e serviços prestados

pelas agências como um aumento de aberturas de contas, aumento de depósitos, procura por

empréstimos, financiamentos, cartões de crédito e débito, dentre outros serviços. Para o

representante da Caixa Econômica Federal os serviços que são mais demandados após a

implantação da Usina são a prestação de serviços sociais como pagamento de FGTS (Fundo

de Garantia do Tempo de Serviço) e seguro desemprego, e os financiamentos habitacionais.

Os impactos mais visíveis que a Usina proporcionou ao município, na visão das

instituições financeiras podem ser visualizados na Figura 3: geração de empregos e

aquecimento do comércio local com (20%); aumento dos preços dos aluguéis e desligamentos

frequentes de linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica com (15%) e

aquecimento da construção civil (10%).

Figura 3: Impactos gerados na percepção das instituições financeiras

Fonte: Dados da pesquisa.

Quando as instituições financeiras foram questionadas se tiveram que criar um tipo de

serviço especial após a implantação da Usina que até então não era demandado, somente os

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representantes do Sicoob Credibam e Banco Itaú afirmam que tiveram que criar um horário

especial “além do horário de expediente” destinado ao pagamento dos funcionários da Usina.

4.3 Autoridade de segurança

Representando as autoridades de segurança, o questionário foi aplicado ao

representante da Polícia Militar de Bambuí (PM). Na análise da importância da instalação da

Usina no município de Bambuí, o representante da PM não considera importante a

implantação da Usina no município; justifica se que nos próximos anos o município estará

tendo um impacto no clima decorrente ao desmatamento para desenvolver o plantio da cana.

No entanto, o representante afirma que a Usina trouxe impactos positivos e negativos.

Como impacto positivo, ele cita o aumento da arrecadação de impostos do município e como

negativos o aumento do número de ocorrências de furto, agressão e perturbação do sossego

decorrente da população flutuante, afetando a qualidade de vida das pessoas do município.

Para o representante da PM, houve um aumento da população devido a implantação da

Usina, porém, em sua opinião o município de Bambuí não se desenvolveu após esta

implantação. A autoridade de segurança associa este aumento da população com o aumento

da criminalidade no município, em função dos hábitos e culturas diferentes das pessoas que

vem de outras regiões e estados para trabalhar na Usina.

Foi questionado se houve um aumento do trabalho dos policiais após a implantação da

Usina. O representante da PM afirmou este questionamento e justificou este aumento de

trabalho por causa do aumento do número de ocorrências com o passar dos anos. O

representante complementou dizendo que, com o aumento de circulação de pessoas e dinheiro

no município, os números de ocorrências tendem a crescer.

Em relação aos cinco impactos mais visíveis que a Usina proporcionou ao município,

na visão da autoridade de segurança foram: poluição; criminalidade; aumento dos preços dos

aluguéis e outros serviços; efeitos indesejáveis causados pelas fuligens e fumaça devido às

queimadas; e o fluxo de caminhões gera a emissão de ruídos e vibrações, causando

incômodos e danos às residências.

4.4 Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais

Na análise da importância da instalação da Usina, o representante da EMATER achou

importante a implantação da Usina no município, justificando essa importância ao aumento da

produção agrícola no município, ao aumento de arrecadação de impostos e devido ao fato da

Usina ter proporcionado mais opções de empregos.

Em relação aos impactos gerados, o representante da EMATER afirma que a

implantação da Usina trouxe impactos positivos e negativos para o município. Como

positivos menciona a melhoria nas estradas municipais, o aquecimento do mercado local e a

ocupação de áreas improdutivas. Como negativos ele cita “a falta de respeito com o meio

ambiente”, o elevado número de pessoas desempregadas no período de entressafra e o

aumento de furtos no município.

Na percepção do representante da EMATER, a economia do município é mais

representativa hoje em relação ao período que não existia a Usina. Na sua percepção, houve

também a diminuição de oferta de emprego no setor rural devido a Usina contratar muitas

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pessoas para trabalharem na área rural. Para ele, não houve danos agropecuários com a

implantação da Usina no município.

O representante também considera que a Usina trouxe problemas ambientais ao

município. Ele atribui a culpa destes aos órgãos ambientais, que deveriam fiscalizar para que

a lei fosse cumprida, principalmente por se tratar de uma indústria de grande porte. Em

relação aos impactos visíveis no setor rural, o representante do EMATER contradisse quando

afirmou anteriormente que a Usina não trouxe danos agropecuários; no entanto, ele cita como

impactos no setor rural a eliminação de árvores, o uso de agrotóxicos próximos às nascentes,

a dificuldade e perigo nas estradas e destruição de áreas de preservação e matas ciliares.

No que diz respeito ao fato do município ter perdido suas características tradicionais

de produção de leite, carnes e grãos; o representante da EMATER afirma que o município não

perdeu essas características. Segundo ele em grande parte das áreas plantadas pela Usina

havia pastagens degradadas e os produtores continuam praticamente com o mesmo volume de

produção. Os dados fornecidos pela EMATER sobre a quantidade de área de produção anual

da Usina evidenciam que a lavoura de cana-de-açúcar continua em crescente expansão no

município de Bambu: de 2.420 ha em 2008 para 8.108 ha em 2012.

Em relação aos cinco impactos mais visíveis que a Usina proporcionou ao município,

segundo o representante da EMATER foram: geração de empregos; poluição; aquecimento do

comércio local; desenvolvimento econômico; e aumento dos preços dos alugueis e outros

serviços.

4.5 Instituto Estadual de Florestas (IEF)

O representante do IEF (Instituto Estadual de Florestas) considera importante a

implantação da Usina no município de Bambuí. Justificou essa importância “ao aumento

significativo da economia de Bambuí”; o aquecimento do comércio local, a geração de

empregos e de impostos para o município.

Ao ser questionado se a Usina trouxe impactos positivos para o município, o

representante do IEF confirma a existência destes e cita a geração de renda para o município e

a diversificação cultural devido às pessoas que vêm de diversas regiões como impactos

positivos. Em relação aos impactos negativos, o representante do IEF afirma também a

existência destes e diz que os mesmos estão relacionados aos problemas ambientais, como

diminuição da biodiversidade da região com a monocultura da cana e as mudanças climáticas

do município de Bambuí.

Na percepção do representante do IEF, o município de Bambuí se desenvolveu após a

implantação da Usina e afirma que a economia do município é mais representativa hoje em

relação ao período que não existia este empreendimento.

Em relação aos cinco impactos mais visíveis que a Usina proporcionou ao município,

na visão do representante do IEF foram: criminalidade; aquecimento do comércio local;

efeitos indesejáveis causados pelas fuligens e fumaça devido às queimadas; desligamentos

frequentes de linha de transmissão e de distribuição de energia elétrica; e desenvolvimento

econômico.

O representante do IEF foi questionado sobre os critérios que são analisados para

autorizar o plantio nas áreas que serão implantadas a cultura de cana-de-açúcar no município.

Segundo o representante, o IEF não precisa autorizar o plantio, somente fiscaliza para não ser

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implantado em áreas de preservação permanente e reserva legal; o que pode acontecer é um

pedido de intervenção ambiental em áreas nativas para posteriormente realizar o plantio.

Diante desse pedido, são analisados alguns critérios, como a importância ambiental da área, se

existe algum animal com risco de extinção, dentre outros aspectos. Sendo, ainda, exigido um

plano contendo tudo que será feito com algumas compensações ambientais.

De acordo com o representante do IEF, a Usina vem respeitando as exigências legais

do IEF para realizar o plantio da cana-de-açúcar, e complementa que “[...] a Usina é

extremamente exigente quanto a isso, se a propriedade rural não estiver dentro das normas

prevista nas leis, ela não fecha contrato [...]”. O representante do IEF deixou claro que não

autoriza nenhum tipo de empreendimento em regiões com mata nativa e campos nativos sem

antes fazer uma vistoria com laudo técnico.

4.6 Associação Comercial e Industrial de Bambuí (ACIB)

Na percepção do presidente da Associação Comercial e Industrial de Bambuí (ACIB),

a Usina acelerou o crescimento econômico no município de Bambuí através da criação de

novos postos de trabalho, o que injetou um volume maior de capital no comércio local.

O presidente da ACIB considera que a implantação da Usina trouxe impactos positivos

e negativos. Um dos impactos positivos foi o aumento do fluxo de dinheiro na economia

local, o que impulsionando a abertura de novas empresas no município, um salto de 568

empresas em 2007 para 642 empresas em 2010 (IBGE, 2012) – sendo estas pertencentes a

vários setores. Dentre os impactos negativos, o representante cita o aumento nos valores dos

aluguéis e no setor imobiliário em geral e a diminuição da mão de obra para o comércio.

Com o aumento do poder de aquisição, de acordo com o representante da ACIB,

houve o aquecimento do comércio de uma forma geral, citando como setores mais

representativos de vendas o alimentício e a construção civil. Para ele, a Usina contribui

positivamente para o comércio local e a economia do município é mais representativa hoje em

relação ao período em que não existia a Usina, devido ao maior fluxo de dinheiro

movimentado no comércio do município.

Na análise do aumento da oferta de emprego entre os setores comerciais de Bambuí

após a implantação da Usina, o representante da ACIB afirma que houve o aumento de vagas

no comércio local uma vez que, a Usina absorveu vários colaboradores do comércio local para

seu quadro de funcionários, ocasionando um déficit de colaboradores para o comércio.

Em relação ao questionamento da existência de alguma demanda específica para

desenvolver algum setor comercial em consequência da implantação da Usina, o representante

da ACIB afirma que o setor de hotelaria não atende suficientemente à nova demanda que

surgiu com a implantação da Usina no município, por isso este setor deveria ser melhor

desenvolvido.

Na visão do representante da ACIB, os cinco impactos mais visíveis que a Usina

proporcionou ao município, foram: geração de empregos; aquecimento do comércio local;

aquecimento da construção civil; aumento da população; e o crescimento da cidade.

4.7 Representantes Comerciais

Na análise da importância da instalação da Usina no município de Bambuí, todos os

dez representantes comerciais acham importante a implantação da Usina no município. Para

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eles, a Usina proporcionou o aquecimento do comércio local e o aumento da geração de

empregos.

Em relação aos impactos positivos gerados para o município de Bambuí, todos

afirmam que a Usina trouxe estes impactos e considera como os principais: o aumento da

arrecadação municipal, geração de empregos e o aquecimento do comércio em geral. Em

relação aos impactos negativos, 80% dos representantes consideram que a Usina gera este tipo

de impacto, destacando os problemas ambientais e o aumento do custo de vida como os

impactos negativos mais notórios.

Na percepção de 70% dos representantes, o município de Bambuí se desenvolveu após

a implantação da Usina e visualizam este desenvolvimento através do crescimento da

construção civil; 30% acham que o município não se desenvolveu. De acordo com 60% dos

representantes comerciais, a instalação da Usina impulsionou os negócios de seus

empreendimentos; 40% discordam e acham que as mudanças ocorridas não foram

significativas para alavancar as vendas de seus empreendimentos.

Para todos os representantes, houve o aquecimento do comércio local em vários

segmentos; sendo os setores que tiveram aumentos mais representativos foi o alimentício e o

setor imobiliário/construção civil. Na percepção de 80% dos representantes, a economia do

município é mais representativa hoje em relação ao período que não existia a Usina e

consideram que a mesma contribuiu positivamente para o comércio local; e 20% justificam

que ainda não conseguiram identificar mudanças significativas e que realmente aumentou o

número de vendas, porém aumentou também o número de inadimplência.

Os representantes comerciais afirmam que o custo de vida, preços dos alimentos, valor

dos aluguéis, entre outros serviços aumentou devido à implantação da Usina. Os impactos

mais visíveis que a Usina proporcionou ao município, na visão dos representantes comerciais

foram (Figura 6):

Figura 4: Impactos gerados na percepção representantes comerciais

Fonte: Dados da pesquisa, 2012.

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Conforme Figura 6 destacou-se: geração de emprego (18%); aquecimento do comércio

local (16%); aumento dos preços dos aluguéis e outros serviços, aquecimento da construção

civil com (14%); crescimento da cidade (10%); desenvolvimento econômico, efeitos

indesejáveis causados pelas fuligens e fumaça devido às queimadas com (6%).

Na análise da questão dos problemas ambientais, 80% dos representantes afirmam que

a Usina trouxe estes problemas para o município e visualiza estes através da poluição do ar e

das queimadas; 20% consideram a Usina não trouxe problemas ambientais ao município de

Bambuí. Apenas 40% dos representantes comerciais consideram que após a implantação da

Usina a criminalidade no município de Bambuí aumentou, associando este aumento em

função das pessoas que vêm de fora para trabalhar; na visão de 60 % a criminalidade no

município não teve alteração após a implantação da Usina.

4.8 Percepções gerais dos Agentes institucionais

Na análise da importância da instalação da Usina Canavieira no município de Bambuí,

96% dos agentes institucionais abordados consideram importante a implantação da Usina no

município, e apenas 4% não acham importante esta implantação. Mesmo assim, todos os

agentes institucionais afirmam que Usina trouxe impactos positivos para o município de

Bambuí. Na visão da maioria dos agentes institucionais, os impactos positivos foram: a

geração de empregos e os relacionados ao desenvolvimento econômico do município como o

aquecimento da construção civil e do comércio local.

Quanto aos impactos negativos, 83% consideram que Usina trouxe estes impactos e

17% consideram que a Usina não trouxe impactos negativos para o município de Bambuí. Na

percepção da maioria dos agentes institucionais, os impactos negativos que a Usina

proporcionou ao município foram os relacionados aos problemas ambientais e ao aumento dos

preços dos aluguéis e outros serviços.

Na visão de 83% dos agentes institucionais abordados, o município de Bambuí se

desenvolveu após a implantação da Usina, e 17% discordam com esta questão, pois para eles

o município de Bambuí não se desenvolveu após a implantação da Usina. Todos os agentes

institucionais afirmam que o custo de vida como preços dos alimentos, valor dos aluguéis,

entre outros serviços aumentaram no município de Bambuí devido à implantação da Usina.

Em relação aos problemas ambientais, 87% afirmam que a Usina trouxe problemas

ambientais ao município de Bambuí; 13% consideram que a Usina não trouxe problemas

ambientais ao município.

Na percepção de 83% dos agentes institucionais, a implantação da Usina afetou a

qualidade de vida das pessoas do município de Bambuí; 17% discordam com esta questão.

Nas percepções gerais dos agentes institucionais em relação aos impactos mais visíveis que a

implantação da Usina proporcionou ao município, os cinco mais citados foram (Figura 5):

Geração de empregos (14%), aquecimento da construção civil e aumento dos preços dos

aluguéis e outros serviços (11%), aquecimento do comércio local (9%) e desenvolvimento

econômico (8%).

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Figura 5: Impactos gerados na percepção geral - Agentes Institucionais

Fonte: Dados da pesquisa, 2012

Os dados obtidos no IBGE nos anos de 2007 a 2010 evidenciam o aumento da geração

de emprego no município. Os dados obtidos na COPASA e na CEMIG evidenciam o

aquecimento da construção civil, em função do número de ligações de água e energia

executadas por essas autoridades nos anos de 2007 a outubro de 2012 para fins de construção

civil. Sendo 151 e 138 ligações de água e energia respectivamente em 2007 para 223 e 226

ligações de água e energia concomitantemente. Outros dados que podem ser utilizados para

mostrar o aquecimento da construção civil no município de Bambuí foram os números de

licenças para construção que foram concedidos pela Prefeitura Municipal de Bambuí. Neste o

número de licença para construção de imóveis salta de 189 licenças em 2009 para 283

licenças em 2012.

4.9 Percepções do dirigente da Usina Canavieira

Ao questionar os agentes institucionais do município de Bambuí se a Usina Canavieira

trouxe impactos negativos, foi constatado que a maioria considera a questão ambiental como

um dos principais impactos. Diante disso, foi questionado ao dirigente da Usina a percepção

dele diante dessa questão. Na visão do dirigente, a empresa reconhece a existência de

impactos ambientais, porém segundo ele a gestão adota medidas mitigadoras, que visam

minimizar os impactos, como por exemplo, a recomposição de áreas de preservação

permanente e de reserva legal das propriedades, mediante plantio de enriquecimento com

espécies nativas da região.

Alguns agentes institucionais mencionam que está ocorrendo desligamentos frequentes

das linhas de transmissão e distribuição de energia elétrica e associou estes desligamentos

com a Usina. Perante esta associação, o dirigente foi questionado se estes frequentes

desligamentos estão relacionados à Usina. Para ele, estes desligamentos não estão

relacionados às atividades da Usina, pois no período de moagem da cana (safra) a Usina é

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autossuficiente na geração de energia termoelétrica a partir da queima da biomassa (bagaço de

cana), inclusive com exportação do excedente energético gerado pela mesma para o sistema

de transmissão local. No período de entressafra, o consumo de energia se resume basicamente

às atividades administrativas da empresa, o que não sobrecarrega o sistema.

A respeito dos métodos utilizados pela Usina para minimizar os impactos ambientais

oriundos dos processos produtivos da cana, o dirigente informou os seguintes métodos:

cultivo de cana apenas em áreas onde já houve a alteração do uso do solo; recomposição de

áreas de preservação permanente (APP) e reserva legal nas propriedades; aplicação de

técnicas para conservação da água e do solo; aplicação de vinhaça; monitoramento da

qualidade das águas superficiais nos rios e ribeirões; monitoramento da qualidade das águas

subterrâneas; monitoramento da qualidade do ar mediante amostragens trimestrais na chaminé

da caldeira; utilização dos resíduos da queima do bagaço e da lavagem dos gases (torta de

filtro) como adubação orgânica das lavouras; programa de monitoramento sistematizado da

fauna silvestre; umidificação com vinhaça das vias de trânsito não pavimentadas (estradas

rurais); destinação adequada de resíduos sólidos; programas de educação ambiental junto às

comunidades existentes no entorno.

Segundo o dirigente, a Usina utiliza as ferramentas de gestão ambiental e

responsabilidade social como estratégia gerencial para amenizar os impactos gerados com a

sua implantação no município de Bambuí. Estas ferramentas são utilizadas através de:

convênios de cooperação técnico-financeira, como a manutenção de um viveiro de mudas

nativas e frutíferas em parceria com o IFMG– Campus Bambuí; Convênio com a Associação

Ambientalista do Alto São Francisco – ASF; Abertura do pátio industrial e áreas de plantio

para visitas técnicas de estudantes, empresas, universidades e outras; Vagas de estágio de

nível técnico e superior; Realização de palestras, congressos e simpósios.

De acordo com o dirigente, na Usina existe um setor responsável para acompanhar e

controlar os impactos positivos ou negativos da Usina no município que ela está inserida, este

setor é conhecido na empresa por SMS - Segurança, Meio Ambiente e Saúde. A empresa

possui licença ambiental para está operando no município e a condição para prosseguir com

esta licença é a apresentação de um Estudo de Impacto Ambiental, o qual prevê além de

impactos ambientais, os impactos sociais e econômicos da operação da Usina.

A diretoria da empresa e seus acionistas têm conhecimento dos impactos gerados pela

empresa, sejam positivos ou negativos, e buscam soluções para minimizar os impactos

negativos e maximizar os positivos.

A respeito da receptividade da sociedade e dos agentes institucionais à implantação da

Usina no município, o dirigente acredita que por se tratar de uma empresa nova, com cerca de

seis anos de início das instalações e apenas três anos de operação, é normal uma desconfiança,

por se tratar de um município que não possui outras indústrias. Porém, acredita que a cada ano

a empresa vai 'ganhando crédito' da população e dos agentes institucionais. Contudo, o

dirigente afirmou que “ainda falta uma identidade da população com o empreendimento e

uma melhoria na interação entre os municípios, principalmente o de Bambuí e a empresa”.

5. Considerações Finais

Os resultados evidenciam a importância da implantação da Usina devido à

alavancagem da economia local. A Usina trouxe o crescimento econômico do município de

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Bambuí através da geração de empregos. Entretanto, a implantação de uma usina, assim como

a de qualquer outro empreendimento de grande porte, ocasiona impactos no meio ambiente

físico, social, cultural e econômico nas regiões em que se insere.

A geração de emprego é vista pelos agentes institucionais como um dos principais

impactos positivos que a implantação da Usina proporcionou ao município de Bambuí.

Acredita-se que junto com a geração de empregos, o fluxo de dinheiro na economia local

aumentou, o que ocasionou o aquecimento da construção civil e o aquecimento do comércio.

No que se refere aos impactos negativos, a questão ambiental é a preocupação da

maioria dos agentes institucionais. Segundo o dirigente a empresa adota medidas mitigadoras

que visam minimizar os impactos ambientais gerados pela Usina.

Percebe-se que o município de Bambuí após a implantação da Usina aproxima-se do

inchaço populacional citado por Castro (2009), o qual traz consequências socioeconômicas

como explosão demográfica, insuficiência nos recursos de educação e saúde e aumento da

especulação imobiliária e comercial. O custo de vida como preços dos alimentos, valor dos

aluguéis, entre outros serviços aumentaram no município de Bambuí devido a implantação da

Usina. Além do aumento número de ocorrências atendidas pelas autoridades de segurança,

atribuídas a vinda de mão de obra especializada de outras regiões.

Pode-se perceber, através dos agentes institucionais pesquisados, que o município de

Bambuí está passando por um processo de crescimento econômico, o que evidencia estar a

caminho de um desenvolvimento local. A EMATER menciona a melhoria nas estradas

municipais como impactos positivos, provavelmente advindas do relacionada com o convênio

de cooperação mútua feita entre a Prefeitura Municipal de Bambuí e a Usina. Processos de

cooperação mútua entre empreendedores visam contribuir para o desenvolvimento local. Para

tanto, é preciso que os impactos negativos sejam 'vistos' e se tornem objetos de práticas

concretas de responsabilidade social e gestão ambiental.

A Usina afirma utilizar as ferramentas de gestão ambiental e responsabilidade Social

como estratégia gerencial para amenizar os impactos gerados oriundos de sua implantação no

município. Visto que se trata de um empreendimento recente, o município de Bambuí ainda

poderá ter ganhos significativos. Acredita-se, portanto, que ainda falta melhoria na interação

dos agentes institucionais e da sociedade com a Usina. A integração dos diversos agentes

institucionais em prol da responsabilidade social e gestão ambiental é um caminho importante

para o desenvolvimento local do município.

Como limitação destaca-se que a pesquisa, apesar de utilizar de dados secundários,

focou na opinião/percepção dos agentes sobre a implantação da Usina e que essa pode, por

interesses diversos, distorcer do reais impactos. Dessa forma, uma pesquisa mais ampla e que

considere uma dimensão temporal maior pode melhor elucidar os impactos positivos e

negativos deste processo, em suas diversas dimensões social, econômica, ambiental e cultural.

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