IMPLEMENTAÇÃO DA METODOLOGIA ORÇAMENTO BASE ZERO … · afirma que “a filosofia do orçamento...

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IMPLEMENTAÇÃO DA METODOLOGIA ORÇAMENTO BASE ZERO EM UMA EMPRESA DE SERVIÇOS DE ENGENHARIA E SOFTWARE Cesar Augusto Mazzillo Junior (UFRGS) [email protected] Cleiton Cristiano Spaniol (UFRGS) [email protected] Francisco Jose Kliemann Neto (UFRGS) [email protected] O presente artigo tem como objetivo apresentar o planejamento da implementação do Oçamento Base Zero (OBZ) em uma empresa de serviços de engenharia, com o intuito de sistematizar a gestão para controle e redução dos gastos da empresa. Iniciialmente são abordados os conceitos e aplicações do OBZ, de forma a guiar a estruturação do programa de implementação. Em um segundo momento, será apresentada a metodologia utilizada para formular o programa em específico da empresa foco. Por último, será apresentado o programa estruturado de implementação, bem como alguns resultados já conquistados no curto prazo. Pode-se concluir deste estudo que a ferramenta OBZ ultrapassa a utilidade de reduzir custos e gerar economias, servindo também como uma ferramenta gerencial por meio da qual se obtém o conhecimento sobre a situação da organização e de suas atividades, proporcionando uma base para melhorias e controle financeiro. Palavras-chaves: OBZ, implementação, gestão empresarial, controle, redução de gastos. XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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IMPLEMENTAO DA METODOLOGIA

ORAMENTO BASE ZERO EM UMA

EMPRESA DE SERVIOS DE

ENGENHARIA E SOFTWARE

Cesar Augusto Mazzillo Junior (UFRGS)

[email protected]

Cleiton Cristiano Spaniol (UFRGS)

[email protected]

Francisco Jose Kliemann Neto (UFRGS)

[email protected]

O presente artigo tem como objetivo apresentar o planejamento da

implementao do Oamento Base Zero (OBZ) em uma empresa de

servios de engenharia, com o intuito de sistematizar a gesto para

controle e reduo dos gastos da empresa. Iniciialmente so

abordados os conceitos e aplicaes do OBZ, de forma a guiar a

estruturao do programa de implementao. Em um segundo

momento, ser apresentada a metodologia utilizada para formular o

programa em especfico da empresa foco. Por ltimo, ser apresentado

o programa estruturado de implementao, bem como alguns

resultados j conquistados no curto prazo. Pode-se concluir deste

estudo que a ferramenta OBZ ultrapassa a utilidade de reduzir custos e

gerar economias, servindo tambm como uma ferramenta gerencial

por meio da qual se obtm o conhecimento sobre a situao da

organizao e de suas atividades, proporcionando uma base para

melhorias e controle financeiro.

Palavras-chaves: OBZ, implementao, gesto empresarial, controle,

reduo de gastos.

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Bento Gonalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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1. Introduo

O cenrio atual de competitividade e busca pela eficincia em processos no admite a

inexistncia de controles gerenciais financeiros nas empresas de mdio porte. A simples

administrao por meio de fluxo de caixa e centralizao da responsabilidade de controle e

aprovao dos gastos em um nico responsvel, ou em um pequeno grupo, gera um

descomprometimento dos demais colaboradores com os gastos da empresa (COSTA, 2008). A

simples anlise de resultado pelo indicador custos x receita no atende as crescentes

exigncias do mercado atual, tornando de vital importncia a estruturao de uma

administrao financeira nas organizaes.

Percebe-se que, para empresas de menor porte, a centralizao da gerncia de custos em uma

nica pessoa torna-se possvel devido baixa complexidade e volume de recursos

movimentados. Porm, com o crescimento da empresa, e o conseqente aumento do volume

de recursos, bem como da complexidade das inter-relaes envolvendo a gerncia de custos,

impe-se a utilizao de ferramentas e sistemticas estruturadas que orientem o planejamento

e controle desse crescimento, tornando-o mais eficaz. Isso permite que os dados sejam usados

para melhorias internas, constituindo uma base para tomada de deciso ou para formulao do

oramento organizacional (GOMES, 2000).

Estas duas observaes, centralizao da responsabilidade e crescimento no acompanhado da

evoluo gerencial, podem ser identificadas na empresa escolhida para realizao da anlise

apresentada neste trabalho. A Chemtech Servios de Engenharia e Software uma empresa

com sede no Rio de Janeiro, fundada em 1989, e que possui escritrios em 7 estados

brasileiros. Como foco para a anlise apresentada neste artigo, foi escolhido o escritrio de

Porto Alegre.

O crescimento da empresa pode ser comprovado pelo aumento de 10 para 50 funcionrios no

perodo entre 2009 e 2011. O crescimento do nmero de colaboradores foi resultado do

aumento do nmero de projetos e do volume de recursos movimentados.

A motivao do trabalho surgiu a partir da identificao de gastos excessivos e falta de

controle por parte do gestor do escritrio quanto aos despendimentos financeiros da empresa.

Identificou-se, por exemplo, que, para os gastos com transporte dos funcionrios da sede da

empresa at o Plo Petroqumico de Triunfo, valores acima dos necessrios para a realizao

da atividade. Identificou-se tambm que, apesar de em todos os meses o gasto ter superado o

oramento planejado, nenhuma ferramenta ou prtica foi utilizada para realizar o controle ou

tomar uma ao sobre a anomalia. Demais itens de gasto apresentaram o mesmo problema,

quando realizada uma anlise superficial sobre a situao. So eles: material de escritrio,

infraestrutura de TI, condomnio e gastos com pessoal.

Desta forma, avaliou-se que, dados os problemas identificados na empresa, uma soluo

poderia ser a implementao do Mtodo do Oramento Base Zero, com o objetivo de criar

uma sistemtica para controle e reduo de despesas. Espera-se, tambm, a diviso das

responsabilidades sobre aprovao dos gastos, criando desta forma maior engajamento dos

colaboradores para realizar os servios visando a eliminao das perdas.

Para apresentao do descrito acima, o trabalho foi estruturado da seguinte forma: a seo 1

apresenta a introduo, cujo objetivo fornecer uma viso geral do trabalho; e na seo 2

encontra-se o referencial terico, onde feita uma reviso sobre o Oramento Base Zero, na

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qual foca-se principalmente o mtodo de implementao. A seo 3 traz o mtodo empregado

no desenvolvimento do trabalho. Posteriormente, so apresentados, na seo 4, os resultados

decorrentes da aplicao do mtodo e, por fim, apresentadas as concluses finais na seo 5.

2. Referencial terico

Na sequncia, ser apresentada a conceituao terica que orientou o desenvolvimento do

trabalho apresentado neste artigo, estruturado tal como segue: i) O Oramento Base Zero

(histrico e definies); ii) Mtodo de Implantao; e iii) Benefcios.

2.1. O oramento base zero

O crescimento das empresas, na maioria das vezes no sustentado por uma base de controle e

otimizao dos gastos, faz com que os gestores percam o controle sobre as reais necessidades

de recursos de operao da organizao. Isso decorrncia do mtodo de oramentao

clssico, ainda muito utilizado nas empresas, na qual aumentos de gastos so orados para os

prximos anos partindo de mtricas empricas dos gestores das reas e com base em dados

passados do histrico da empresa (COSTA, 2008).

Devido preocupao com a fidedignidade das informaes e com a eficincia do

planejamento das operaes, gestores buscam incorporar novos mtodos e ferramentas em

suas empresas. Isso faz com que se consiga reduzir a fragilidade dos modelos de oramentos

clssicos aplicados, os quais, segundo Lunckes (2003), tendem a perpetuar as ineficincias do

passado visto que so elaborados com base nas informaes dos anos anteriores.

Dito isso, um dos mtodos de controle gerencial de custos que visam acabar com esta

inconsistncia conhecido como Oramento Base Zero. Grippa apud Padoveze (2000, p. 384)

afirma que a filosofia do oramento base zero est em romper com o passado, ou seja, nunca

deixar o oramento partir da observao dos dados do passado, pois estes podem conter

ineficincias que poderiam ser perpetuadas.

O Oramento Base Zero foi usado pela primeira vez no final da dcada de 60 pela empresa

americana Texas Instruments para oramentao do setor de Assessoria e Pesquisa. Aps esta

experincia, o mtodo foi expandido para toda a empresa no preparo do oramento de 1971.

Posteriormente, em vista do xito obtido nesta experincia, o ex-presidente Jimmy Carter,

ento governador do Estado da Georgia, contratou executivos que haviam desenvolvido esta

tcnica na Texas Instruments para implant-la em seu estado, o que foi feito com grande

sucesso.

O OBZ consiste em uma tcnica operacional de planejamento que exige dos gestores grandes

responsabilidades e cuidados na elaborao do oramento organizacional, pois dever ser

construdo com base em possibilidades de melhoria, sem levar diretamente em considerao

as receitas e despesas realizadas no passado. Alm disso, devido a suas caractersticas de

operacionalizao, abrange todos os departamentos e engaja um grande nmero de

colaboradores no processo de oramentao da organizao.

Segundo Grippa apud Silva (1991), o Oramento Base Zero tem os seguintes objetivos:

a) Desenvolver um planejamento operacional e Oramentrio para o prximo ano;

b) Conduzir a uma reduo de custos;

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c) Diagnosticar o que realmente est acontecendo na organizao para realizar melhorias

no processo de planejamento estratgico;

d) Alocar recursos com uma base mais real;

e) Validar o planejamento em longo prazo;

f) Auditar a efetividade das atividades/programas.

O OBZ uma ferramenta gerencial de controle e reduo de despesas, que explora

sistematicamente todos os departamentos da empresa, envolvendo grande nmero de

colaboradores dos diversos nveis organizacionais em um processo de otimizao das

atividades e de oramentao, e que expe a todos a necessidade real de alocao dos recursos

nas diversas reas estudadas.

2.2. Mtodo de implantao

A motivao para implantao do Oramento Base Zero na organizao deve vir da Alta

Direo da empresa. Complementar a isso, deve ser bem planejada por uma equipe capacitada

e referendada pela Alta Direo, que fornea treinamentos e suporte para os vrios nveis

organizacionais envolvidos no programa.

Grippa apud Souza e Freitas (2003) apresenta como possibilidades na implantao do OBZ:

a) Utilizar o mtodo para construir todo o oramento do perodo: pode ser considerada a

opo mais adequada, porm necessita de tempo e de uma equipe bastante qualificada;

b) Fazer uma implantao parcial: uma opo bastante recomendvel. O tempo deixa de

ser um problema, aumentando a chance de xito e a posterior motivao para

implementao no restante da empresa;

c) Aplicao de urgncia: recomendada para situaes de emergncia, por exemplo,

perdas acumuladas;

d) Utilizar o mtodo como instrumento de reviso do oramento: recomendvel para a

primeira aplicao na empresa.

De acordo com Phyrr (1976), o Oramento Base Zero no uma metodologia imutvel,

podendo o processo ser modificado para ajustar-se as necessidades especficas de cada

organizao. Entretanto, destaca alguns princpios bsicos que devem ser seguidos para a

correta estruturao do programa:

2.2.1. Definir as unidades de deciso

Unidades de Deciso so os elementos significativos da empresa, os quais devem ser isolados

para serem analisados e tomarem as decises necessrias. Tambm denominadas entidades,

correspondem na prtica diviso organizacional departamental da empresa. Cada

organizao define de acordo com as suas particularidades, o que considera como melhor

diviso da estrutura da empresa para definio das entidades.

2.2.2. Definir os pacotes de deciso

Segundo Phyrr (1976) um pacote de deciso :

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Documento que identifica e descreve uma atividade especfica de modo a que a administrao

possa (1) avali-la e prioriz-la em relao a outras atividades que concorram para a obteno

de recursos limitados e (2) decidir aprov-la ou rejeit-la. Portanto, as informaes prestadas

em cada pacote tem que apresentar, para a administrao, todas as informaes necessrias

para essa avaliao.

De forma objetiva, os Pacotes de Deciso so agrupamentos de contas similares, que podem

tambm ser divididos em Pacotes de Gastos e Pacotes de Capital Empregado. A definio dos

pacotes geralmente segue assuntos como Pessoal, Servios Recebidos, Despesas de Capital,

entre outros.

O Pacote de Deciso deve ser definido a partir do desdobramento contbil da empresa. Ou

seja, o agrupamento das diversas contas inter-relacionadas, que constam como itens da

contabilidade da empresa, que comporo um pacote de deciso, o que possibilita explorar

todas as subatividades geradoras de custo da empresa.

Segundo Phyrr (1976), a chave para o desenvolvimento dos Pacotes de Deciso analisar as

diversas alternativas para execuo de uma determinada atividade. Para isso, duas anlises

devem ser feitas:

a) Descrio das diferentes maneiras possveis de realizar uma atividade: identifica-se quais seriam as diferentes formas de executar uma mesma atividade, apresentando para

cada uma delas o valor do investimento necessrio e o retorno, quantitativo e qualitativo.

Apenas uma das maneiras ser aprovada, a qual dever conter uma descrio mais

aprofundada do mtodo de operacionalizao;

b) Diferentes nveis de esforo de desempenho para a mesma funo: identificada a melhor maneira de realizar determinada atividade, so atribudos a ela diversos nveis de

esforo incluindo, principalmente, o menor nvel de esforo para que determinada

atividade seja realizada. Tem-se, desta forma, a possibilidade de eliminao de

determinadas atividades.

Em termos prticos, um dos fatores determinantes para o sucesso ou fracasso do programa

est na atribuio de responsabilidades. Para cada um dos Pacotes de Deciso devem ser

atribudos gestores e donos, que iro negociar diretamente com os gestores das entidades as

metas de gasto propostas. A seguir, descrevem-se as atribuies de cada uma das

responsabilidades mencionadas.

2.2.2.1. Gestores de pacotes

So designados Gestores dos Pacotes os colaboradores de reas mais operacionais da

empresa, atuando preferencialmente de forma imparcial atividade estudada. Ao Gestor do

Pacote cabem as seguintes atribuies:

a) Especializar-se no assunto, ou seja, entender quais as atividades compem sua varivel de estudo;

b) Levantar mtricas de gasto para perodos anteriores, servindo de referncia para posteriores comparaes;

c) Propor melhorias, a partir dos dados das anlises iniciais; d) Participar das reunies de priorizao, apresentando os dados para o Pacote estudado; e) Realizar o acompanhamento dos indicadores e metas.

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2.2.2.2. Donos de pacotes

So designados Donos dos Pacotes de Deciso os colaboradores que ocupam cargos

hierrquicos mais elevados em relao aos Gestores. Ao Dono do Pacote cabe as seguintes

atribuies:

a) Dar suporte proposio das melhorias, orientando o mtodo de estudo; b) Negociar com os setores da empresa o atendimento s metas propostas; c) Garantir as implementaes perante os demais colaboradores; d) Realizar o acompanhamento dos indicadores e metas.

2.2.3. Avaliar e classificar os pacotes de deciso

Determinados os pacotes de deciso, o processo de alocao, segundo Phyrr (1976), deve se

concentrar em responder adequadamente as seguintes questes: Quanto pode ser gasto e Onde

pode ser gasto. Procede-se desta maneira com uma classificao dos pacotes de forma a alocar

os recursos disponveis nos projetos que proporcionem maiores impactos, financeiros e/ou

estratgicos.

A priorizao pode ser feita listando todos os benefcios advindos da execuo de

determinado pacote, avaliando impactos de sua implantao, bem como da sua no

implantao, alm de considerar sua facilidade de execuo. Deve ser feita pelo nvel

organizacional que realizou o pacote, com revises e aprovaes dos nveis superiores.

2.2.4 Alocar recursos adequadamente

Realizada a priorizao, cabe aos gestores liberarem e direcionarem os recursos para a

execuo dos pacotes, coordenando e supervisionando a implementao das melhorias.

2.3 Benefcios

Tem-se como resultado na implementao do Oramento Base Zero, segundo Vieira (2011),

benefcios quantitativos e qualitativos, conforme apresentado a seguir:

a) Desenvolvimento de um planejamento operacional e oramentrio para o prximo ano;

b) Diagnstico do que realmente est acontecendo na organizao; c) Conduo para uma reduo de custos; d) Alocao de recursos com uma base mais real.

3. Metodologia

Conforme mencionado no Referencial Terico, o mtodo de implantao do OBZ no

imutvel, podendo ser ajustado s particularidades da empresa em estudo. Desta forma, para

implantao do mtodo na Chemtech Servios de Engenharia e Software, algumas

peculiaridades, inerentes ao tipo de servio prestado e estrutura da empresa, foram

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determinantes para a modelagem ideal do programa a ser desenvolvido, sendo as mesmas

discutidas conforme for sendo apresentada a estruturao do mtodo.

3.1. Estruturao do programa

Entendidas as particularidades da empresa, partiu-se para a estruturao do mtodo.

Inicialmente foram apresentados para o Gerente do Escritrio o conceito e o mtodo de

operacionalizao do Oramento Base Zero, contextualizando-o relativamente problemtica

de falta de controle dos gastos e centralizao de responsabilidades identificada na Chemtech.

Aps isso, seguiu-se a seguinte ordem de definies, conforme visto na literatura e

apresentado no Referencial Terico: i) Unidades de Deciso; ii) Pacotes de Gastos; e iii)

Gestores e Donos de Pacotes.

3.1.1. Unidades de deciso

O escritrio de Porto Alegre apresenta uma estrutura organizacional Matricial, voltada para a

Gesto dos Projetos, e no para uma gesto gerencial do escritrio. O escritrio se encontra

dividido em especialidades tcnicas e equipe de apoio, com seus respectivos Coordenadores

de Disciplina. Lderes de Projeto atuam na gesto horizontal dos projetos e um Gerente de

Projetos atua tanto na macro gesto dos projetos quanto na gesto do escritrio. Desta forma,

a diviso organizacional do escritrio em Disciplinas tcnicas constituiu as Unidades de

Deciso do mtodo OBZ, no sendo identificada nenhuma razo para o no aproveitamento

desta estrutura da empresa na definio das entidades.

3.1.2. Pacotes de gastos

De posse da discriminao contbil dos gastos do escritrio, apresentados em formato

eletrnico referente aos gastos do Centro de Custos de Porto Alegre, foram definidos os

Pacotes de Deciso do programa, doravante denominados Pacotes de Gastos. Para esta

definio, foram agrupados itens semelhantes de custo, denominados Variveis Base Zero. A

base contbil serve para possibilitar a rastreabilidade dos gastos j incorridos com

determinado item a ser estudado e garante a abrangncia do estudo para todos os itens

causadores de gastos da empresa.

Conforme comentado anteriormente, uma particularidade foi a causa para a adoo de uma

implementao parcial do mtodo. Por se tratar de um escritrio de servios de engenharia, a

folha salarial e os benefcios relacionados correspondem a aproximadamente 75% dos gastos

totais. Uma anlise muito profunda neste Pacote poderia ser demasiado trabalhosa e resultar

em aes de difcil implementao, podendo causar resistncia dos colaboradores, que o

veriam como um programa de reduo de gastos direcionado para o corte de pessoal. Desta

forma, apenas dois itens de pessoal foram inclusos no programa (pagamento de horas extras e

de periculosidade), o que fez com que os pacotes abrangessem 25% da totalidade dos gastos

do escritrio.

3.1.3. Gestores e donos de pacotes

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Para cada varivel de gasto foi determinado um Gestor e para cada Pacote de Gasto um Dono.

Por sugesto do Gerente do escritrio, colaboradores da equipe de apoio foram designados

como gestores para no tirar o foco das atividades das equipes operacionais de projetos. Como

Donos de Pacotes foram designados os Lderes de Projeto e o prprio Gerente, os quais

ocupam posies mais elevadas na hierarquia do escritrio. Uma reunio com os nomes

sugeridos foi realizada, de forma a apresentar o mtodo e validar a aceitao na participao

do programa a ser desenvolvido.

Estas definies resultaram na matriz de apoio apresentada na Figura 1, que ilustra a estrutura

de implementao do OBZ. Nela so apresentadas as entidades em que foi dividida a

empresa, bem como seus Gestores. Nas linhas esquerda, so apresentados os Pacotes de

Gastos, bem como as variveis que os compem, relacionando-se cada uma delas a um

Gestor, e cada um dos pacotes a um Dono.

A definio de metas de reduo de gastos obedecer outra das particularidades da empresa.

Para algumas variveis, como aluguis, por exemplo, no possvel estabelecer metas para

cada uma das entidades, sendo mais coerente estabelecer uma meta global. Estas metas,

globais ou por entidade, para cada uma das variveis, sero estabelecidas na etapa posterior ao

planejamento apresentado neste artigo.

Figura 1: Estrutura da Matriz de apoio Implementao do OBZ

3.2. Treinamentos

Aps a estruturao do programa, foram realizados treinamentos com a equipe para orientar

os colaboradores quanto ao mtodo de trabalho a ser seguido, de forma a padroniza-lo, de

acordo com os seguintes passos:

a) Estudar e entender as atividades geradoras de custo da varivel em estudo; b) Estabelecer mtricas de gastos para perodos retroativos. O perodo pode variar conforme caracterstica do item estudado;

c) Propor alternativas realizao das atividades, com o intuito de otimizar e reduzir custos;

d) Estabelecer indicadores e metas de reduo dos gastos (numa base anual) Apoiando-se nesses indicadores, acompanhar os gastos realizados nas aes de melhoria propostas.

3.3. Ferramenta gerencial

Para proporcionar uma base nica para controle e acompanhamento da implementao do

OBZ na empresa, foi elaborada uma ferramenta computacional gerencial. Essa ferramenta,

criada no Excel, possibilita o desenvolvimento do trabalho na pgina correspondente da

varivel, permitindo que todos os dados estejam visveis para a equipe. Cria-se assim um

ambiente colaborativo, onde as melhores prticas de desenvolvimento do trabalho podem ser

adotadas pelos demais integrantes.

Na ferramenta esto inclusas pginas especficas para o controle de indicadores, relatrios de

anomalias e planos de ao, o que possibilita que todas as etapas de um ciclo PDCA (Plan

Planejar, Do Executar; Check Controlar; e Action Agir Corretivamente) sejam

colocadas em prtica e seguidas pela equipe do programa. No anexo 1, pode-se visualizar a

estrutura da pgina elaborada para uma varivel.

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4. Resultados

A partir do planejamento apresentado, cada um dos Gestores iniciou o processo de estudo de

sua respectiva varivel. O estudo compreende i) levantar mtricas de gastos passados; ii)

buscar contratos ou documentos que possibilitem o entendimento quanto s atividades

relacionadas varivel; iii) propor melhorias com vistas otimizao e/ou reduo de custos;

iv) projetar implementao, avaliando investimentos e retorno; v) estabelecer indicadores e

metas; e vi) acompanhar a implementao.

Para cada uma das variveis propostas, foram levantadas mtricas de gastos referentes aos

ltimos 5 meses, bem como foram solicitados todos os contratos ou documentos que

possibilitem o entendimento da varivel em estudo. Em virtude das caractersticas de cada

varivel, algumas apresentam resultados mais expressivos no curto prazo, enquanto outras

necessitam de um prazo maior para proposio e implementao de melhorias.

Para a varivel Transporte para o Plo, foi identificado que o contrato previa um valor fixo

a ser pago para o transporte de 12 funcionrios. De posse dos dados de acompanhamento de

transportes de 2011, observou-se que a mdia transportada era de somente 8 colaboradores, e

que o nmero de transportados variava consideravelmente. Percebe-se que no interessante

para a empresa a realizao de um contrato com preo fixo, e sim que seja pago varivel

conforme a demanda por transportes.

Sendo assim, props-se, no curto prazo, a mudana do contrato atual de transportes, tornando

o pagamento varivel por viagem. Para o longo prazo, props-se a mudana para outra

empresa de logstica humana, que faria a cobrana por vaga utilizada, e no por viagem, como

a anterior. Para ambas as propostas foram analisados investimentos e retorno, para avaliao

da viabilidade. Um controle foi criado, bem como indicadores e metas relacionados com esse,

para o acompanhamento dos gastos e comparao com a mtrica levantada.

Nos dois meses iniciais de implementao do mtodo para a varivel Transportes para o

Plo, nos quais houve apenas a mudana da forma de pagamento com a empresa que j

prestava os servios para a Chemtech, observou-se uma reduo de 23% nos gastos. Projeta-

se, com a mudana da empresa prestadora do servio, uma reduo de at 35% nos valores

gastos anteriormente.

As demais variveis esto em fase de estudo para proposio de melhorias e formulao de

controles. Projeta-se a concluso do processo para todas as variveis at agosto de 2012,

incio do ano fiscal 2013 na empresa em estudo.

5. Discusso e concluses

Dado os problemas identificados na Chemtech, observou-se que a implantao do OBZ pode

atenuar de forma significativa as dificuldades de controle gerencial sobre os gastos do

escritrio.

Apoiando-se sobre o conceito da diviso de responsabilidades e sistematizao do controle de

gastos, o mtodo proporciona a descentralizao das decises sobre o Gerente do escritrio,

bem como garante que, a partir da base contbil, todos os gastos de interesse sejam

analisados.

Observa-se tambm a capacidade do mtodo em retornar resultados expressivos no curto

prazo, ainda que esta no seja a melhoria principal esperada. Projeta-se que a implementao

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no escritrio para o prximo ano fiscal gere resultados de reduo de custos, mas tambm

venha acompanhado das demais melhorias proporcionadas pelo OBZ. Dentre elas, pode-se

destacar maior engajamento dos demais funcionrios, bem como a abertura de um canal no

qual melhorias podem ser propostas.

Outro resultado advindo do uso do OBZ consiste na criao de controles para cada uma das

variveis e o vnculo com indicadores e metas, garantindo que o ciclo PDCA seja respeitado.

Ainda que, em alguns casos, redues de gastos no sejam atingidas no curto prazo, o

controle sobre as atividades provavelmente resultar em ganhos futuros.

A pronta visualizao de como se encontram os gastos da empresa proporciona ao Gestor

aes e respostas rpidas nos setores, nos quais iidentificam-se inconsistncias com os gastos

previstos.

Finalmente, pode-se avaliar o OBZ como um mtodo que, embora consiga gerar resultados

imediatos, voltado para uma mudana cultural na forma como so tratados os gastos na

empresa. Garante, pela sua metodologia, que estudos sejam realizados ano a ano, trazendo

benefcios contnuos, e configurando-se como uma ferramenta de apoio gerencial.

6. Referncias

COSTA, A.M., MORITZ, G.O., MACHADO, F.M.V. Contribuies do Oramento Base Zero (OBZ) no

Planejamento e Controle de Resultados em Organizaes Empresariais. Florianpolis: UFSC, 2008.

GOMES, R.C.V. O Oramento Base-Zero como tcnica de planejamento financeiro. Taubat, 2000.

Monografia apresentada ao Departamento de Economia, Contabilidade e Administrao de Empresas da

Universidade de Taubat, So Paulo, 2000.

GRIPPA, D.B. Proposta de uma sistemtica oramentria para o controle e reduo de despesas: o

Gerenciamento Sistmico de Despesas (GESIDE). Porto Alegre: UFRGS, 2005. Projeto de Trabalho de

concluso do curso submetido ao Departamento de Engenharia de Produo e Transportes, Universidade Federal

do Rio Grande do Sul, 2005.

LUNKES, R.J. Contribuio Melhoria do Processo Oramentrio Empresarial. Florianpolis: UFSC, 2003.

Tese (Doutorado em Engenharia de Produo), Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo,

Universidade Federal de Santa Catarina, 2003.

Management Journal, v. 41, n. 3, p. 4-14, 1976.

PYHRR, P.A. Zero-Base Budgeting: Where to use it and how to begin. S.A.M. Advanced

VIEIRA, G.F. Um estudo contributivo s ferramentas de melhoria do resultado econmico com foco no

Gerenciamento Matricial de Despesas. Porto Alegre: UFRGS, 2005. Dissertao de Mestrado submetido ao

Departamento de Engenharia de Produo e Transportes, UFRGS, 2011.

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7. Anexos

53,87%

GERAR RELAT.

ANOMALIA!

67,90%

ATENO!

GERAR RELAT.

ANOMALIA!

ANOMALIA!

Ms: Maro

Sugesto #n

79,94%

R$ -

Sugesto #1

Sugesto #2 R$ -

-R$

Pacote de Gasto -

Varivel Base Zero

M t r i ca de 2 0 1 1 Val or gas t o e m 2 0 1 1

Pos s i bi l i dade s de M e l hor i a

M e t a de R e duo

Evol uo na Var i ve l B as e - Ze r o

0500

100015002000

Planejado

Realizado

Ef i c i nc i a

Indi cador e s

Val or gas t o at ual

Re sponsve l #1

Re sponsve l #2

Dono do Pacote

Ge stor do Pacote

In d i c a d o r e s:

0

5

10

15

Indicador #1

Planejado

Realizado

Ef i c i nc i a

0

5

10

15

Indicador #2

Planejado

Realizado

XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentvel e Responsabilidade Social: As Contribuies da Engenharia de Produo

Bento Gonalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.

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Anexo 1 Estrutura da ferramenta para uma varivel base-zero