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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS UNIFAL MG ANDRÉ DOS SANTOS RIBEIRO IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS DOS DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS NO MUNICÍPIO DE POUSO ALEGRE MG Alfenas/MG 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS UNIFAL – MG

ANDRÉ DOS SANTOS RIBEIRO

IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS DOS DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS NO MUNICÍPIO DE POUSO ALEGRE –

MG

Alfenas/MG 2011

ANDRÉ DOS SANTOS RIBEIRO

IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS DOS DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS NO MUNICÍPIO DE POUSO

ALEGRE – MG

Trabalho de Conclusão de Curso como parte dos requisitos para a obtenção do título de graduação em Geografia (Bacharelado) da Universidade Federal de Alfenas. Área de concentração: Geologia Ambiental. Orientador: Ronaldo Luiz Mincato.

Alfenas/MG 2011

ANDRÉ DOS SANTOS RIBEIRO

IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS DOS DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS NO MUNICÍPIO DE POUSO

ALEGRE – MG

A banca examinadora abaixo-assinada aprova o Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte dos requisitos para obtenção do título de graduação em Geografia (Bacharelado) da Universidade Federal de Alfenas. Área de concentração: Geologia Ambiental.

Aprovado em: 10 de dezembro de 2011 Prof. Ronaldo Luiz Mincato Instituição: ICN/ UNIFAL - MG Assinatura: Prof. Clibson Alves dos Santos Instituição: ICN/ UNIFAL - MG Assinatura: Prof. Ericson Hideki Hayakawa Instituição: ICN/ UNIFAL – MG Assinatura:

RESUMO

No Brasil, os estudos dos depósitos tecnogênicos, que consideram o homem agente geológico iniciaram na década de 1990. Os ambientes tecnogênicos são os ambientes transformados pela agricultura, urbanização, mineração e obras como estradas, barragens, etc. Este trabalho aborda a ocorrência de depósitos tecnogênicos no Município de Pouso Alegre, no sul de Minas Gerais. O trabalho foi feito partindo da revisão bibliográfica, caracterização histórica e física da área. Posteriormente, os depósitos foram separados de acordo com as categorias genéticas em induzidos e construídos. Para os depósitos construídos realizamos a caracterização material e mapeamento. Já para os depósitos induzidos confeccionamos um mapa de uso do solo para entendermos como as diferentes técnicas humanas atuam sobre a área municipal. Com uma população aproximada de 130.000 habitantes, o contexto histórico apresenta um rápido crescimento populacional desde a década de 1970 e isso implica em transformações na paisagem, a fim de satisfazer as exigências socioeconômicas de apropriação do espaço. Geomorfologicamente, a área de estudo localiza-se na região dos Degraus Intermediários da Serra da Mantiqueira, que tem como substrato litológico os migmatitos do Complexo Paraisópolis alternados com rochas ígneas do Domínio Socorro-Guaxupé, além da ocorrência de sedimentos aluvionares associados à rede de drenagem e coluvionares nos sopés das encostas. Os depósitos construídos estão concentrados espacialmente na área mais urbanizada do município e as feições acarretam cuidados com relação ao comportamento geotécnico e em especial, as constituídas de lixo orgânico, merecem atenção devido à geração de gases explosivos e contaminação das às aguas subsuperficias. Já os depósitos do tipo induzidos, como assoreamentos, ligados ao uso do solo, agravam o problema histórico das enchentes, que perturbam a população mais carente que ocupa as planícies de inundação dos rios. O ambiente natural está totalmente alterado na área municipal, através dos diversos usos a que se destinam os espaços. Os processos naturais característicos do período Holocênico já não são atuantes e é notável, portanto a emergência de um novo período geológico, o Quinário. A coluna estratigráfica está alterada pela deposição de materiais orgânicos, mineração, escavação e redeposição de solos e pelos usos do solo que modificam os padrões de erosão e sedimentação. Essas alterações acabam por influenciar diretamente uma situação de risco já natural, o de inundações, principalmente nas planícies dos rios Sapucaí-Mirim e Mandú, que são as áreas mais alteradas e afetadas. Palavras chave: Depósitos Tecnogênicos. Pouso Alegre. Quinário.

ABSTRACT

In Brazil, studies of technogenic deposits, considering the man geological agent began in the 1990s. The environments are the technogenic environments transformed by agriculture, urbanization, mining and construction such as roads, dams, etc.. This paper investigates the occurrence of technogenic deposits in the city of Pouso Alegre, in southern Minas Gerais. The work was done from the literature review, historical and physical characterization of the area. Subsequently, the deposits were separated according to the categories of induced genetic and constructed. For deposits built to perform material characterization and mapping. As for the induced deposits we made a map of land use to understand how different techniques work on the human municipal area. With a population of approximately 130,000 inhabitants, the history shows a rapid population growth since the 1970s and this implies changes in the landscape in order to meet the socioeconomic needs of appropriation of space. Geomorphology, the study area is located in the region of the middle steps of the Mantiqueira Mountains, whose substrate lithology of the migmatite complex Paraisópolis alternating with igneous rocks of the Dominion-Relief Guaxupé, besides the occurrence of alluvial sediments associated with the drainage network and colluvial slopes in the foothills. The deposits are concentrated spatially constructed in the most urbanized city and features lead care with respect to geotechnical behavior and in particular those consisting of organic waste, deserve attention due to the generation of explosive gases and contamination of the subsurface waters. Since the induced type deposits, such as sedimentation, related to land use, aggravate the problem of historical floods, which affect the poorest people occupying the flood plains of rivers. The natural environment is totally changed in the municipal area, through the various uses to which spaces are intended. The natural processes characteristic of the Holocene period are no longer active and is remarkable, therefore the emergence of a new geological period, the Quinary. The stratigraphic column is altered by the deposition of organic materials, mining, excavation and redeposition of soils and the land uses that modify patterns of erosion and sedimentation. These changes ultimately influence directly as a hazardous nature, the flood, especially in the plains of rivers Sapucaí-Mirim and Mandu, which are the areas most affected and changed

Key Words: Technogenic Deposits. Pouso Alegre. Quinary.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 6

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................. 7

3 MATERIAIS E MÉTODO ....................................................................... 8

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................. 9

4.1 Caracterização Histórica ...................................................................... 9

4.1.1 Histórico Regional ................................................................................... 10

4.1.2 Histórico Municipal .................................................................................. 11

4.1.3 História da Área de Várzea dos Rios Sapucaí-Mirim e Mandú ............... 13

4.2 Caracterização Física ........................................................................... 15

4.2.1 A Geologia .............................................................................................. 15

4.2.2 A Geomorfologia ..................................................................................... 17

4.2.3 Correlação Morfoestrutural-Geológica .................................................... 17

4.2.4 A Pedologia ............................................................................................. 18

4.3 Os Depósitos Tecnogênicos ................................................................ 18

4.3.1 Depósitos Tecnogênicos Construídos ..................................................... 18

4.3.2 Depósitos Tecnogênicos Induzidos.......................................................... 24

5 CONCLUSÕES ........................................................................................ 35

REFERENCIA .......................................................................................... 37

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1 INTRODUÇÃO

No Brasil, os estudos sobre os depósitos tecnogênicos, considerando o

homem como um agente geológico, iniciaram-se na década de 1990. Os ambientes

tecnogênicos são os ambientes transformados pela agricultura, urbanização,

mineração e obras como estradas, barragens, etc. Este trabalho aborda a ocorrência

de depósitos tecnogênicos no Município de Pouso Alegre, no sul de Minas Gerais.

Com uma população aproximada de 130.000 habitantes, o município sofreu um

rápido crescimento populacional desde a década de 1970 e isso implica em

transformações na paisagem, a fim de satisfazer as exigências socioeconômicas de

apropriação do espaço. Assim são criados ambientes artificiais, como os depósitos

tecnogênicos. Esses depósitos imprimem-se na paisagem e sua gênese e

composição material (estabelecidas de acordo com o referencial teórico) trazem

algumas implicações ambientais como consequências. As consequências interagem

com o meio físico e as características históricas do município.

7

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A discussão sobre o tema dos depósitos tecnogênicos é recente e teve

origem com Ter-Stepanian (1988), que os define como depósitos marcados por uma

grande variedade de feições, pela diversidade de composição e grande variação de

espessura, caracterizando uma classe genética diferente ou independente e que

permitem analogias com alguns depósitos naturais (CANDIDO & ZAINE, 2005).

A expressão Antropógeno vem sendo utilizada por alguns autores, sobretudo

soviéticos [e.g. Gerasimov & Velitchko (1984), entre outros], substituindo o termo

Quaternário. O Antropógeno indicaria o período geológico mais recente, marcado

pela evolução do homem. Eventos ditos antropogênicos seriam, sob esse enfoque,

identificados ao período de sua ocorrência, podendo ou não estar relacionados às

atividades humanas. Portanto, para definir uma origem ligada à atividade do homem,

seria mais conveniente usar o termo tecnogênico. Assim, todo evento considerado

tecnogênico (origem) seria antropogênico (período), porém o inverso não seria

necessariamente verdadeiro. Então, Quinário ou Tecnógeno seria o período em que

a atividade humana passa a ser qualitativamente diferenciada da atividade biológica

na modelagem da biosfera, desencadeando processos (tecnogênicos) cujas

intensidades superam em muito os processos naturais. (PELOGGIA, 1998).

Esta forma de abordar os impactos da ação humana no meio ambiente

aponta expressão tecnogênico como mais rica na conceituação dos depósitos

oriundos de ações técnicas humanas. Portanto, a adoção deste termo, e do conceito

implícito, está intimamente relacionada à percepção da expressão das mudanças

provocadas pela ação do homem na superfície terrestre, comparáveis, em

magnitude, às mudanças de origem natural. (PELOGGIA, 1998, p.33).

A ação humana sobre a natureza tem consequências em três níveis: na

modificação do relevo, na alteração da dinâmica geomorfológica e na criação de

depósitos correlativos comparáveis aos quaternários (os depósitos tecnogênicos)

devido a um conjunto de ações denominados tecnogênese. (PELOGGIA, 1998)

De acordo com Oliveira (1990 apud PELOGGIA, 1998, p.73) os depósitos

tecnogênicos podem ser classificados em três tipos genéticos principais:

“construídos” (aterros, corpos de rejeito, etc.); “induzidos” (assoreamento, aluviões

modernos, etc.); e “modificados” (que não serão considerados nesse trabalho).

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Concordando com Peloggia (1998), acreditamos que a proposta de Oliveira pode ser

empregada a fim de facilitar o mapeamento dos depósitos.

Os tecnógenos podem ser considerados como depósitos altamente

influenciados pelo homem e são classificados nas seguintes quatro categoriais:

1) materiais “úrbicos” (do inglês urbic) relativos a detritos urbanos,

materiais terrosos que contêm artefatos manufaturados pelo homem moderno, frequentemente em fragmentos, como tijolo, vidro, concreto, asfalto, prego, plástico, metais diversos, dentre outros; 2) materiais “garbicos” (do inglês garbage) que são materiais detríticos

como lixo orgânico, de origem humana, e que, apesar de conterem artefatos em quantidades muito menores que a dos materiais úrbicos, são ricos em matéria orgânica para gerar metano em condições anaeróbias; 3) materiais “espólicos” (do inglês spoil), que

correspondem a materiais terrosos escavados e redepositados por operações de terraplenagem em minas a céu aberto, rodovias ou outras obras civis. Incluem-se os depósitos de assoreamento causados por erosão acelerada; 4) materiais “dragados”, oriundos de dragagem de cursos d’água e, em geral, depositados em diques,

topograficamente alçados em relação à planície aluvial. (FANNING & FANNING, 1989 apud PELOGGIA, 1998, p.73).

“Assim, não sendo excludentes, mas, na verdade, complementares, a

utilização associada das duas classificações fornecerá uma caracterização do

depósito quanto à sua gênese e constituição” (PELOGGIA, 1998, p.74)

O estudo das alterações da paisagem de um município está relacionado com

a capacidade humana de intervir e de criar morfologias artificiais em curtos períodos

de tempo (poucos anos). Através do mapeamento dessas alterações, observam-se

formas de relevo que foram esculpidas nos últimos milhares de anos, como os

depósitos pleistocênicos e holocênicos, com formas totalmente novas e recentes,

originadas pelo emprego de técnicas e de instrumentos tecnológicos específicos,

como os depósitos tecnogênicos.

3 MATERIAIS E MÉTODO

Os materiais utilizados no trabalho foram: o acervo bibliográfico da UNIFAL-

MG, acervo online e impresso relacionado ao tema; Cenas Landsat-7/TM (bandas 5,

4 e 3) de 2001; Softwares R2V (digitalização) e Ilwis (geoprocessamento); Imagens

do Google Earth; Mapas do Plano Diretor de Pouso Alegre de 2008; Carta

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topográfica e mapas temáticos de Geologia, Geomorfologia e Pedologia; Relatórios

trimestrais sobre a qualidade das águas superficiais de Minas Gerais do IGAM,

Instituto Mineiro de Gestão das Águas, no ano de 2010; e Material para pesquisa de

campo (GPS, caderneta, câmera fotográfica, etc.).

O método utilizado foi:

Levantamento e atualização bibliográfica.

Elaboração de um breve histórico sobre a apropriação do território municipal

pela população.

Caracterização geológica, geomorfológica e pedológica do município.

Devido à gênese diferenciada, o tratamento metodológico foi diferenciado

para os depósitos tecnogênicos do tipo construídos e do tipo induzidos.

Para os depósitos do tipo construídos foi elaborado um mapa com a

localização das ocorrências, em escala 1:55.000, compilado do mapa de vias

do Plano Diretor Municipal. A caracterização material e a localização das

feições foram feitas a partir de dados obtidos em trabalho de campo e

observações realizadas em imagens do Google Earth. Então, foram

estabelecidas implicações ambientais decorrentes desses depósitos.

Para os depósitos do tipo induzidos foi elaborado um mapa de uso do solo no

município, em escala 1: 100.000. Isso foi feito para comprovar a alteração da

cobertura original do terreno por usos humanos e inferir sobre quais as

consequências indiretas dessas alterações (comprovadas por dados do

IGAM, 2010). As alterações na cobertura original do terreno e,

consequentemente, do padrão natural de erosão e sedimentação, acarretam

feições tecnogênicas indiretas observadas e caracterizadas em campo. As

implicações ambientais desses depósitos oriundos indiretamente das ações

humanas foram estabelecidas.

Elaboração de Trabalho de Conclusão de Curso.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Caracterização Histórica

10

4.1.1 Histórico Regional

O desenvolvimento da cafeicultura no sudeste e, em especial, no estado de

São Paulo, e as suas decorrentes relações produtivas e comerciais, provocaram um

processo de concentração econômica e populacional na região, com destaque para

o crescimento industrial, de acordo com Cano (1976 apud Lemos & Diniz, 1997).

Para Lemos & Diniz (1997, p.19), nessa fase, começou a ser construída a

infraestrutura de transportes, energia elétrica e um tênue sistema urbano. A partir de

então e concomitantemente, estabeleceram-se as bases da formação do mercado

nacional e da divisão inter-regional do trabalho. Por volta de 1970, caracterizado

como o pico da concentração, essa região, com 11% da área geográfica, chegou a

participar com 65% da renda, 80% da produção industrial e 40% da população do

país, com destaque para o estado de São Paulo e sua área metropolitana, que

alcançaram, respectivamente, 58% e 44% da produção industrial do país nos

mesmos anos.

A partir da década de 70 ocorre a desconcentração industrial de São Paulo

que se deu com forte participação de investimentos estatais diretos, em uma

economia fechada. Porém, as mudanças tecnológicas, estruturais e políticas

recentes apontam no sentido de uma reconcentração na área mais desenvolvida do

país, Porto Alegre – Florianópolis – São José dos Campos – Belo Horizonte,

excluída a área metropolitana de São Paulo. (LEMOS & DINIZ, 1997, p.22)

Percebe-se que São Paulo sofre, desde os anos 70, como uma economia de

desaglomeração, porém toma cada vez mais o comando financeiro da economia

nacional.

Nos anos 80 rompeu-se a estrutura desenvolvimentista comandada pelo

estado e inseriu-se a alta competitividade regional, em que as regiões Sul e Sudeste

saíram na frente por causa de fatores como: infraestrutura mais avançada e pela

proximidade com um mercado emergente e atualmente muito importante, o

MERCOSUL.

11

Nos anos 90, com a globalização, ocorre a especialização das regiões

brasileiras, a abertura econômica (projeto neoliberal) e a consequente interrupção do

movimento de desconcentração industrial.

4.1.2 Histórico Municipal

O povoamento pouso alegrense começou com a chegada de desbravadores

paulistas e portugueses que vieram à região do Rio Sapucaí a procura de ouro, que

não foi encontrado no local. As novas terras passaram a serem utilizadas pela

agricultura e pousio de tropeiros. Em 1802 foi construída a primeira capela do

povoado, que passou a se desenvolver ao redor da mesma e em 1848 o local foi

elevado à categoria de município (IBGE, 2007).

No fim da década de 40 e início da década de 50 iniciam-se as obras da

rodovia Fernão Dias (BR-381) que ligaria as cidades de São Paulo e Belo Horizonte,

passando por Pouso Alegre, que fica, aproximadamente, equidistante entre essas

duas cidades. A construção dessa rodovia, concomitantemente a substituição do

predomínio do transporte ferroviário pelo rodoviário, é algo muito relevante, pois o

município ficou interligado aos principais centros do país, pelo principal meio de

transporte nacional.

Nos anos 60 foram resolvidos problemas relativos ao abastecimento de água

e energia e a cidade recebeu instituições de ensino superior. Formavam-se as

condições ideias para a industrialização, a partir da aliança entre as características

municipais a conjuntura nacional.

Nos anos 70 a metrópole paulistana passa a desconcentrar suas atividades

produtivas (industriais), que, com o passar dos anos, reconcentram-se no centro-sul

brasileiro. O reflexo dessa reconcentração da atividade produtiva em municípios de

Minas Gerais foi que entre 1970 e 1980 ocorreram significativas taxas de migração e

crescimento populacional dos principais municípios do interior do estado. Para

Stefani & Rangel (2002, p.5) os movimentos migratórios motivaram cidades de

diversos tamanhos a experimentar o crescimento populacional ao longo da década

de 1980. Estas migrações foram motivadas por diversos fatores, destacando: a)

processos de dinamismo e evolução econômica em várias áreas receptoras; b)

12

processos de redistribuição de populações a partir dos grandes centros urbanos.

Excluídos os municípios pertencentes à RMBH, aqueles que se destacam em

crescimento são os municípios de Uberlândia (3,89%) e Pouso Alegre (3,27%).

Os fluxos migratórios e o intenso intercâmbio econômico denotam que a

“macrorregião” de São Paulo aglutina cinco regiões em Minas Gerais: Uberlândia,

Uberaba, Poços de Caldas, Pouso Alegre e Varginha. Isso mostra a abrangência da

influencia de São Paulo em uma área considerável de Minas Gerais. (MATOS, 1997)

Num contexto de rápida modernização industrial brasileira surgiram novas

áreas com indústrias de alta tecnologia. Dentre essas áreas industriais cabe

destacar as regiões de Campinas, São Carlos, São José dos Campos, no estado de

São Paulo; Santa Rita do Sapucaí / Pouso Alegre e Belo Horizonte, em Minas

Gerais; Curitiba, no Paraná; Florianópolis, em Santa Catarina; e Porto Alegre, no Rio

Grande do Sul. (LEMOS & DINIZ, 1997, p.23)

Esse resgate histórico apresenta a evolução da ocupação do território do

município e a Figura 1 mostra a evolução da ocupação urbana pouso alegrense. A

Tabela 1 mostra a evolução populacional em números absolutos pós década de 60,

relatando o rápido crescimento ocorrido desde então.

Tabela 1 - Evolução histórica da população absoluta - município de Pouso Alegre/MG - 1960 a 2010.

Ano 1960 1980 1991 2000 2010

População Absoluta Menos de 32.718 * 57.364 81.768 106.776 130.615

*Dado retirado de Matos (1999), em que Pouso Alegre não estava entre as 50 maiores cidades do estado. Fonte: MATOS (1999) e Censo IBGE (2000, 2010).

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Figura 1 - Expansão da área urbana de Pouso Alegre de 1953 (foto inferior) para 2009 (foto superior).

Fonte: Acervo digital do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo de Pouso Alegre-MG, MHMTT, 2011.

4.1.3 História da Área de Várzea dos Rios Sapucaí-Mirim e Mandú

A história da ocupação do município de Pouso Alegre está intimamente ligada

à história da ocupação das planícies dos rios Sapucaí-Mirim e Mandú e suas

proximidades. “A origem da cidade de Pouso Alegre se acha estreitamente ligada ao

rio Mandú, pois às suas margens havia um pouso onde os viajantes faziam uma

parada durante a sua caminhada pelo interior das gerais.” (GOUVÊA, 2004, p.107).

Os relatos históricos feitos por Gouvêa (2004) apresentam um rio com

abundancia em águas (especialmente no período das chuvas), em fauna e flora. E,

ainda, que no tempo das secas a própria sinuosidade do seu leito permitia a

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manutenção de uma lâmina d’água com certa profundidade (por diminuir a

velocidade do escoamento).

Anualmente, a várzea em frente à cidade tornava-se um reservatório natural

de águas das inundações, pois as águas do rio Mandú quando se juntavam as do rio

Sapucaí-Mirim eram retardadas, provocando o represamento. A baixada do Aterrado

se transformava, então, num verdadeiro lago, submergindo casas e plantações,

provocando o êxodo de seus moradores que eram, na época, em numero reduzido e

cujas casas eram construídas junto ao aterro. (GOUVÊA, 2004).

Com o passar dos anos o crescimento da urbanização, dos aterramentos e da

construção de residências transformou aquela várzea de inundação em um bairro,

chamado de São Geraldo, que hoje possui grande número de moradores e muitos

problemas sanitários e sociais.

O rio Mandú teve seu leito natural modificado e o seu canal foi retificado.

Onde corria originalmente o rio foi construída uma avenida perimetral. Isso modificou

as condições naturais dele, diminuiu o seu volume e prejudicou a procriação de

peixes. O grande volume de esgotos e produtos químicos e industriais lançados no

rio, no perímetro urbano de Pouso Alegre, tornou o rio Mandú um rio agonizante.

(GOUVÊA, 2004)

Além da importância histórica, essa planície é emblemática para os estudos

relativos à ação humana no ambiente do município e, para este tema específico, é o

principal local de ocorrência dos depósitos tecnogênicos do tipo construídos e onde

são mais notáveis, também, depósitos do tipo induzidos. A Figura 2 mostra como se

deu a ocupação da várzea do rio Mandú.

15

Figura 2 - Mosaico de fotos mostrando como se deu à ocupação da várzea do rio Mandú. Aterramento e retificação do canal fluvial. Foto 1 de 1897; Foto 2 de 1940; Foto 3 de 1985; Foto 4 de 1997.

Fonte: Acervo digital do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo de Pouso Alegre-MG, MHMTT, 2011.

4.2 Caracterização Física

4.2.1 A Geologia

Segundo Morais (1998) o arcabouço tectônico do município é composto de:

- Coberturas Sedimentares, ocorrendo Aluviões, Coberturas Cenozóicas

Indiferenciadas e uma Bacia Pull Apart (composta pela formação Pouso Alegre);

- Domínio Socorro-Guaxupé, com presença do Complexo Paraisópolis e Varginha;

- Domínio da Faixa Alto Rio Grande, com os Complexos Amparo e São Gonçalo do

Sapucaí e, ainda, os Grupos Andrelândia, Itapira e Carrancas;

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As unidades geológicas definidas por Morais (1998) podem ser visualizadas

na Figura 3. Essas unidades foram divididas de acordo com sua cronologia, portanto

temos:

- Cenozóico: Coberturas Sedimentares, compostas de Depósitos Aluvionares

Recentes e Coberturas Cenozóicas Indiferenciadas;

- Neoproterozóico - Eopaleozóico: Bacia Molássica, composta pela Formação Pouso

Alegre;

- Arqueano – Eopaleozóico: Domínio Socorro-Guaxupé, com a ocorrência dos

Complexos Paraisópolis e Varginha. Domínio da Faixa do Alto Rio Grande (Rochas

Ígneas), composto pelos Complexos Amparo e São Gonçalo do Sapucaí e, também,

pelos Grupos Itapira e Carrancas.

Figura 3 - Mapa Geológico de Pouso Alegre-MG.

Fonte: Mapa compilado da Carta Geológica de Guaratinguetá, Folha SF.23-Y-B, de MORAIS (1998).

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4.2.2 A Geomorfologia

A região em que se insere o município foi compartimentada como (SAADI,

1991 apud MARUJO et al. 2001) Domínio dos Degraus Intermediários da Serra da

Mantiqueira, que compõe parte de um planalto inclinado em direção a NW, fazendo

parte da bacia do Rio Grande, importante afluente da margem esquerda do Rio

Paraná. Os rios Sapucaí e Sapucaí-Mirim têm suas nascentes na Serra da

Mantiqueira, contribuindo para a formação da bacia do Rio Grande.

De acordo com Marujo et al. (2001) a compartimentação morfoestrutural do

município pode ser dividida em:

- Planície Aluvial: Formada pelas Planícies dos rios Sapucaí, Sapucaí-Mirim, Mandú

e Cervo.

- Serras Alongadas de Ouro Fino: Nesse domínio desenvolve-se a bacia do rio

Mandú, afluente do Rio Sapucaí, que possui colinas com altitudes entre 840 e 900 m

e uma planície ampla com brejos e alagadiços. Nas proximidades da confluência

com o rio Sapucaí-Mirim ocorre áreas de várzea, devido a vários meandros

abandonados.

- Depressão de Pouso Alegre: Esse compartimento apresenta menores valores

altimétricos, entre 800 e 900 m, com a presença de vales amplos e interflúvios

extensos. Na confluência do rio Sapucaí-Mirim com o rio Itaim e em alguns afluentes

do rio Mandú é comum à presença de leques atuais constituídos de materiais

coluvionares interdigitados com materiais aluvionares. O relevo é composto de

colinas convexas, com a ausência de rupturas de declive, por causa das coberturas

coluvionares. As colinas são amplas e apresentam topos subnivelados com

coberturas argilo-arenosas e areno-argilosas espessas e homogêneas, com a

evolução do perfil pedológico (latossolização). Essas coberturas apresentam uma

camada descontínua de stone-lines.

4.2.3 Correlação Morfoestrutural-Geológica

18

As coberturas aluvionares Cenozóicas estão associadas à planície dos rios

Sapucaí, Sapucaí-Mirim, Mandú e do Cervo.

As coberturas Cenozóicas indiferenciadas e o Domínio Socorro Guaxupé

relacionam-se com a Depressão de Pouso Alegre.

Já a Bacia Pull Apart (Formação Pouso Alegre) e o Domínio da Faixa do Alto

Rio Grande estão presentes na área das Serras Alongadas de Ouro Fino.

4.2.4 Pedologia

No município, segundo Projeto Radambrasil (1983), existem dois tipos

principais de solos: Podzólico vermelho-amarelo distrófico (associado aos locais

mais elevados) e Latossolo vermelho-escuro distrófico (que recobre a maior parte da

área).

4.3 Os Depósitos Tecnogênicos

Os resultados encontrados foram divididos em dois títulos: depósitos

tecnogênicos construídos e depósitos tecnogênicos induzidos, para facilitar os

mapeamentos e a compreensão dessas feições geneticamente diferenciadas.

4.3.1 Depósitos Tecnogênicos Construídos

Esse tipo de depósito está intimamente ligado à urbanização, portanto a maior

parte de suas ocorrências concentra-se no espaço classificado pelo PDMPA (Plano

Diretor Municipal de Pouso Alegre, 2008) como Perímetro Urbano. A Tabela 2

mostra a relação das grandes feições tecnogênicas construídas com a urbanização

no município.

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Tabela 2 - Número absoluto de grandes depósitos tecnogênicos encontrados,

caracterização material e relação dessas feições com os limites do perímetro urbano – 2011.

Composição Material

Dos Depósitos

Numero de

Feições

Dentro do

Perímetro

Urbano

Fora do

Perímetro

Urbano

Espólicos 3 2 1

Úrbicos 4 4 0

Gárbicos 3 1 2

Dragados 0 0 0

Os depósitos construídos, considerados pelo trabalho, que estão fora do

Perímetro Urbano, resultam de resíduos sólidos gerados, em sua maioria, dentro

desse perímetro, pois estão concentrados aí: a maioria da população municipal e

das indústrias.

A Figura 4 apresenta a área dentro do município em que foi retirada a base

para a confecção do mapa pontual de depósitos construídos (Figura 5). Esta área foi

delimitada de acordo com os valores, de latitude e longitude, extremos do Perímetro

Urbano (PDMPA, 2008), desconsiderando sua forma poligonal.

Figura 4 - Mapa de Localização do município de Pouso Alegre-MG e área de concentração dos Depósitos Tecnogênicos Construídos.

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Figura 5 - Mapa da área de concentração da ocorrência de depósitos tecnogênicos construídos e plotagem dos pontos.

Fonte: Compilado do Mapa de Vias do Plano Diretor Municipal de Pouso Alegre, PDMPA 2008.

Os depósitos tecnogênicos construídos plotados no mapa são descritos e

caracterizados como:

21

Ponto 1: Depósito de materiais espólicos, construídos a partir da escavação e

redeposição de materiais terrosos, como mostrado pela Figura 6, com uma

altura de aproximadamente 4 m.

Ponto 2: Depósito de materiais espólicos, presente na Figura 6, com uma

altura de aproximadamente 6 m.

Ponto 3: Depósito de materiais gárbicos, constituído por lixo orgânico

artefatos humanos e materiais terrosos redepositados, ilustrado pela Figura 7,

com espessura que varia de 4 a 6m.

Ponto 4: Depósito de materiais espólicos, constituído de materiais terrosos

redepositados, com uma espessura de 2,5m. (Figura 6).

Ponto 5: Depósito de materiais úrbicos, constituído de artefatos humanos e

materiais terrosos redepositados, com espessura de aproximadamente 4m.

(Figura 8).

Ponto 6: Depósito de materiais úrbicos, constituído de artefatos humanos,

com espessura de aproximadamente 2,5m. (Figura 8).

Ponto 7: Depósito de materiais úrbicos, constituído de artefatos humanos, lixo

orgânico (em menores quantidades) e materiais terrosos redepositados, com

espessura de 1,5 m. (Figura 8).

Ponto 8: Depósito de materiais gárbicos, constituído de lixo orgânico,

artefatos humanos e materiais terrosos redepositados, sem informação sobre

a espessura. (Figura 7).

Ponto 9: Depósito de materiais úrbicos, constituído de artefatos humanos,

com espessura de aproximadamente1,5m. (Figura 8).

.

22

Figura 6 - Fotos feitas nos pontos 1, 2 e 4, como enumerado acima. Ilustrando a forma e a dimensão dos depósitos de materiais espólicos. Data: 15/05/2011.

Figura 7 - Fotos feitas nos pontos 8, 3 e X (Novo aterro sanitário-ponto relevante não plotado no Mapa 3), como enumerado acima. Ilustrando a forma e a dimensão dos depósitos de materiais gárbicos. Data: 15/05/2011.

23

Figura 8 - Fotos feitas nos pontos 9, 5, 7 e 6, como enumerado acima. Ilustrando a forma e a dimensão dos depósitos de materiais úrbicos. Data: 15/05/2011.

Esses depósitos criaram uma nova configuração geomorfológica na paisagem

do município. A planície dos rios Mandú e Sapucaí-Mirim estão completamente

alteradas pela criação de grandes aterros, feitos para a expansão da área

urbanizável.

Os depósitos construídos merecem atenção quanto ao seu comportamento

geotécnico, pois muitos acidentes geotécnicos urbanos ocorrem em aterros, que são

construídos sem a devida preocupação com o controle da umidade e densidade.

Concordando com Fanning e Fanning (1989 apud Peloggia 1998) os solos

criados pelo homem que provavelmente causarão os maiores problemas no futuro

são os de detritos orgânicos soterrados (gárbicos). Nesses locais podem ocorrer: a)

a subsidência das superfícies dos terrenos; b) explosões devido à geração de gás

metano e outros gases gerados em condições anaeróbicas; c) contaminação da

água subterrânea com substâncias químicas.

Em Pouso Alegre três feições foram caracterizadas como depósitos de

materiais gárbicos. Esses locais são merecedores de atenção e monitoramento. A

feição do Ponto 8 requer cuidados especiais, pois suas margens estão ocupadas por

24

residenciais e os ricos gerados pela presença do material orgânico devem ser

avaliados de forma mais precisa e monitorados constantemente. O Ponto 3

necessita de estudos sobre a percolação dos líquidos oriundos do material

decomposto (chorume) para as águas subterrâneas, porque o depósito, que foi

construído sem o devido controle ambiental, está localizado na área de mananciais

de captação de águas do município, estabelecida pelo PDMPA (2008). O terceiro

ponto citado está fora da área mapeada. Esse depósito é o atual aterro sanitário

para o lixo do município e foi construído de acordo com as normas ambientais

estabelecidas, citadas no trabalho de Soares (2006, p.26), para o controle desse

material.

Os depósitos de materiais úrbicos também merecem atenção, pois a

estabilidade desses depósitos não é confiável, como é relatado por Peloggia (1998,

p.130, 131, 132) que relaciona acidentes geotécnicos a esses depósitos, que são

constituídos de artefatos humanos, como resíduos de construções, lixo orgânico e

materiais terrosos.

4.3.2 Depósitos Tecnogênicos Induzidos

Esses depósitos têm sua origem relacionada às formas de uso do solo.

Concordando com Oliveira (1994 apud Peloggia, 1998) o homem é o principal

agente produtor de sedimentos em uma bacia através do manejo do solo (urbano e

rural) e retirada da cobertura vegetal, além do lançamento direto de solo nos corpos

d’água.

O equilíbrio de uma bacia de drenagem é controlado pela carga e descarga

de sedimentos. Isso varia em função das características do escoamento superficial,

da vegetação, dos solos, da litologia, do clima e da tectônica, e para o período

Quinário, o equilíbrio de uma bacia também é controlado pelo uso do solo imposto

pelas atividades humanas.

Toda a área de estudo sofre intervenção humana através dos usos

diferenciados do solo, portanto os processos erosivos estão sendo alterados e

acelerados pelo homem, produzindo, indiretamente, depósitos tecnogênicos. Isso

pode ser identificado através do aumento da erosão linear, formadora de sulcos e

25

ravinas, do aumento da erosão laminar, que carreia grande quantidade de material

advindo de solos expostos ou cultivados, aterros feitos sem o devido cuidado com a

contenção de sedimentos e fontes urbanas difusas e através, também, da ocorrência

de escorregamentos (rastejos) presentes nas pastagens. Essas marcas se

disseminam por toda parte, desde as áreas urbanas já consolidadas e em expansão,

até as áreas utilizadas para agricultura e pecuária. O registro do aumento da erosão,

por esses processos de origem antrópica, pode ser observado na Figura 9, que

mostra o assoreamento no rio Mandú e a eutrofização da lagoa da Banana.

Figura 9 - Fotos de depósitos tecnogênicos induzidos. 1- Assoreamento e eutrofização da lagoa da Banana; 2- Assoreamento na calha fluvial do rio Mandú. Data: 08/2011.

A Figura 10 apresenta a maneira como estava sendo utilizado o solo no

município no ano de 2001.

26

Figura 10 - Mapa de uso do solo no município de Pouso Alegre-MG no ano de 2001.

Fonte: Imagem Landsat 7/TM (bandas 5, 4 e 3) e carta topográfica 1:50.000 de Pouso Alegre.

A Figura 10 demonstra como a ação humana se dá em todo o território

municipal, através da agricultura (que é bem diversificada, com exceção do morango

27

ao sul do município), da pastagem, dos solos expostos (para utilização agrícola e

expansão urbana), da deposição de resíduos sólidos (lixão) e da mineração de

granitos (a nordeste e a sudeste da cidade).

De acordo com o mapa de uso do solo vemos que com exceção da área de

mata densa a noroeste da cidade, que, segundo o PDMPA (2008), é o Parque

Municipal e Reserva Biológica de Pouso Alegre, as áreas de mata ocorrem como

fragmentos residuais, geralmente associados a pontos mais altos e encostas mais

íngremes.

As áreas de várzea mais significativas estão dentro do perímetro urbano e

são áreas pertencentes às bacias dos rios Sapucaí-Mirim e Mandú. Com exceção da

Reserva Biológica da Várzea, essas áreas estão sendo cada vez mais suprimidas,

para se tornarem adequadas a urbanização. A adequação é feita através de grandes

aterramentos, mas não é apenas isso que alterou e está alterando a deposição

aluvionar característica do período Holocênico, o uso do solo nessas bacias e nas

outras bacias hidrográficas do município é um fator decisivo nessa alteração.

Através dos usos do solo e da consequente aceleração da erosão, grande

quantidade de material está sendo carreado para as calhas fluviais e isso já é

observável em depósitos de material arenoso e de artefatos humanos (depósitos de

materiais espólicos e úrbicos), que se formam nas calhas desses rios, causando

assoreamento, modificando os padrões ecológicos e os padrões da drenagem

naturais.

A erosão acelerada pela retirada da cobertura vegetal para a produção

agrícola e urbanização causa aos cursos d’água o assoreamento que, concordando

com Romeiro et al. (2004), traz consigo danos à fauna aquática e diminuição do

volume da calha.

O uso do solo afeta, também, o comportamento hidrológico da bacia, segundo

Romeiro et al. (2004), como a água não é interceptada diretamente pela vegetação

(que retém parte da água no solo), o escoamento superficial aumenta e a infiltração

diminui, o que nos períodos mais úmidos agrava as inundações e nos períodos mais

secos intensifica o problema da falta d’água, por causa do reduzido suprimento dos

aquíferos.

A Figura 11 mostra os níveis de base do município (as principais drenagens)

e os pontos onde foram coletados dados sobre a qualidade das águas pelo IGAM,

Instituto Mineiro de Gestão das Águas, no ano de 2010.

28

Figura 11 - Mapa das principais drenagens do município e pontos de coleta do IGAM, 2010. Fonte: Compilado do Mapa de Declividade do PDMPA, 2008.

As Tabelas 3, 4, 5, 6 e 7 foram compiladas dos relatórios trimestrais do IGAM,

2010. Elas mostram as alterações encontradas nos parâmetros da água e as fontes

prováveis dessas alterações nos pontos de coleta 1, 2, 3, 4 e 5 da Figura 11.

29

Tabela 3 - Alterações dos parâmetros estabelecidos pela DN COPAM/CERH – 01/2008 e as

prováveis fontes do material causador dessas alterações. Ponto 1 da Figura 11. Ponto (BG048) - Rio do Cervo nos relatórios trimestrais do IGAM - 2010.

Fonte: Compilada dos Relatórios Trimestrais de Qualidade das Águas Superficiais de Minas Gerais no ano de 2010. IGAM, 2010.

30

Tabela 4 - Alterações dos parâmetros estabelecidos pela DN COPAM/CERH – 01/2008 e as

prováveis fontes do material causador dessas alterações. Ponto 2 da Figura 11. Ponto (BG045) - Rio Sapucaí-Mirim nos relatórios trimestrais do IGAM - 2010.

Fonte: Compilada dos Relatórios Trimestrais de Qualidade das Águas Superficiais de Minas Gerais no ano de 2010. IGAM, 2010.

31

Tabela 5 - Alterações dos parâmetros estabelecidos pela DN COPAM/CERH – 01/2008 e as

prováveis fontes do material causador dessas alterações. Ponto 3 da Figura 11. Ponto (BG043) - Rio Sapucaí nos relatórios trimestrais do IGAM - 2010.

Fonte: Compilada dos Relatórios Trimestrais de Qualidade das Águas Superficiais de Minas Gerais no ano de 2010. IGAM, 2010.

32

Tabela 6 - Alterações dos parâmetros estabelecidos pela DN COPAM/CERH – 01/2008 e as

prováveis fontes do material causador dessas alterações. Ponto 4 da Figura 11. Ponto (BG052) - Rio Sapucaí-Mirim nos relatórios trimestrais do IGAM - 2010.

Fonte: Compilada dos Relatórios Trimestrais de Qualidade das Águas Superficiais de Minas Gerais no ano de 2010. IGAM, 2010.

33

Tabela 7 - Alterações dos parâmetros estabelecidos pela DN COPAM/CERH – 01/2008 e as

prováveis fontes do material causador dessas alterações. Ponto 5 da Figura 11. Ponto (BG044) - Rio Sapucaí-Mirim nos relatórios trimestrais do IGAM - 2010.

Fonte: Compilada dos Relatórios Trimestrais de Qualidade das Águas Superficiais de Minas Gerais no ano de 2010. IGAM, 2010.

As Tabelas 3, 4, 5, 6 e 7 evidenciam um contexto de alterações nos padrões

de erosão provocadas pelos usos humanos do solo.

As inundações ocorrem historicamente no município e de acordo com

Tominaga et al. (2009) a probabilidade de ocorrência desses fenômenos são

condicionadas por fatores antrópicos e naturais. Com relação aos fatores naturais,

as bacias hidrográficas que cortam o município apresentam propensão à ocorrência

desses processos. Em relação aos fatores antrópicos, verificamos a ocorrência de

todos os condicionantes estabelecidos, que são: uso e ocupação irregular nas

planícies e margens dos cursos d’água, além da disposição irregular de lixo nesses

locais; alteração nas características da bacia e dos cursos d’água (vazão, retificação

e canalização, impermeabilização, entre outros) e a intensa erosão e assoreamento.

34

Isso acaba por agravar uma situação natural de risco, como apresentado na Figura

12.

Figura 12 - Risco natural de inundações associado aos depósitos tecnogênicos (assoreamento, aterramento e retificação do canal do rio Mandú) e a ocupação da planície de inundação. Foto 1 de 1946; Foto 2 de 2000; Foto 3 de 2009.

Fonte: Acervo digital do Museu Histórico Municipal Tuany Toledo de Pouso Alegre-MG, MHMTT, 2011.

35

5 CONCLUSÕES

O município apresenta sua dinâmica natural alterada em toda sua extensão,

através de processos de erosão acelerada, assoreamento e aterramentos. Diversas

novas estruturas foram construídas ou induzidas pela atividade humana. Na rede de

drenagem, por exemplo, observa-se como a aluviação holocênica foi substituída

pelos aterramentos e alterada pelos assoreamentos com material proveniente da

erosão acelerada. O Quinário ou Tecnógeno emerge como o período geológico

substituindo o período Holocênico.

A coluna estratigráfica natural encontra-se alterada, pela ação direta ou

indireta do homem. A principal área alterada diretamente são as planícies dos rios

Sapucaí-Mirim e Mandú. O que já chama a atenção é a extensão dessa alteração e

o surgimento de uma nova formação a ser considerada em cartas temáticas em

escalas de até 1:100.000: a formação “planícies tecnogênicas”, nomenclatura

proposta por Peloggia (1998, p.90). O entulhamento das áreas de várzea dos rios

Sapucaí-Mirim e Mandú, dentro dos limites do município, se deram mais pelo

aterramento (depósitos construídos espólicos) do que pelo assoreamento. Observa-

se também a retificação do canal do rio Mandú, que altera o funcionamento natural

das planícies holocênicas. O canal era naturalmente meandrico e hoje é retilíneo, o

que modifica a velocidade do fluxo da água e a deposição de sedimentos na sua

planície. Neste local, a camada quinária assenta-se sobre a camada de sedimentos

aluvionares do período cenozóico.

O município sofre historicamente com as inundações, os usos do solo

agravam ainda mais esse problema, devido ao entulhamento das calhas fluviais

pelos assoreamentos e modificação dos padrões da infiltração e do escoamento

superficial.

A magnitude e frequência das inundações ocorrem em função da intensidade

e distribuição da precipitação, da taxa de infiltração, do grau de saturação do solo e

das características morfométricas e morfológicas da bacia de drenagem

(TOMINAGA et al., 2009). Em escala municipal, observa-se a influencia humana na

morfometria e morfologia da paisagem através, principalmente, dos depósitos

tecnogênicos construídos e a alteração das taxas de infiltração pelos usos do solo.

36

Como consequência, temos o aumento da magnitude e frequência de inundações,

enxurradas e alagamentos.

Os depósitos construídos de matérias gárbicos inspiram atenção e cuidados,

pois essas áreas precisam de controle e monitoramento constante, devido ao risco

que apresentam à saúde da população municipal.

37

REFERÊNCIAS

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38

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