Impressões Leitura #4

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“O pessoal tem preconceito com livro digital, ainda tem apego ao físico” Foto: Tamara Lopes Páginas 12 e 13 Entrevista: Kamille Girão IMPRESSÕES L EITURA Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC) – Ano 4 – Nº 28 – Janeiro de 2014 Novas tecnologias possibilitam lançamento de livros Idosos se apropriam de tecnologias para desbravar o universo literário Tecnologia cearense inova em acessibilidade para cegos Skoob proporciona espaço de interação para autores, leitores e editoras O uso de tablets como ferramenta de ensino Publicação Terceira idade Portáctil Rede social Sala de aula Conheça caminhos para a autopublicação, utilizando-se das possibilidades da web. Financiamento coletivo é uma das alternativas O equipamento é adotado por escolas como plataforma de acesso ao material didático de forma dinâmica. A eficácia, no entanto, é questionada Páginas 4 e 5 Página 6 Página 10 Página 7 Página 14 Foto: Vicente Neto Como os e-readers conquistaram os consumidores e transformaram a maneira de se publicar um livro Páginas 8 e 9 Livros digitais Um novo jeito de ler e de ser lido Foto: Banco de dados O POVO

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Jornal produzido pela turma de 7° semestre de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), de 2013.2.

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Page 1: Impressões Leitura #4

“O pessoal tem preconceito com livro digital, ainda tem apego ao físico”

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Páginas 12 e 13

Entrevista: Kamille Girão

IMPRESSÕESLeitura

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC) – Ano 4 – Nº 28 – Janeiro de 2014

Novas tecnologias possibilitam lançamento de livros

Idosos se apropriam de tecnologias para desbravar o universo literário

Tecnologia cearense inova em acessibilidade para cegos

Skoob proporciona espaço de interação para autores, leitores e editoras

O uso de tablets como ferramenta de ensino

Publicação

Terceira idade

Portáctil

Rede socialSala de aula

Conheça caminhos para a autopublicação, utilizando-se das possibilidades da web. Financiamento coletivo é uma das alternativas

O equipamento é adotado por escolas como plataforma de acesso ao material didático de forma dinâmica. A eficácia, no entanto, é questionada

Páginas 4 e 5

Página 6

Página 10

Página 7Página 14

Foto: Vicente Neto

Como os e-readers conquistaram os consumidores e transformaram a maneira de se publicar um livro Páginas 8 e 9

Livros digitais

Um novo jeito de ler e de ser lido

Foto: Banco de dados O POVO

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IMPRESSÕESLEITURA

Impressões Leitura

Jornal Laboratório produzido pela turma do 7º semestre do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC)

Tema da edição: Leitura e novas tecnologias

Repórteres: Amanda Araújo Frota, Bárbara Danthéias, Bruna Luyza Forte, Carolina Esmeraldo, Carolina Areal, Cris Lima, Débora Lopes, Eduarda Talicy, Fátima Babini, Felipe Martins, Gleyce Any Castro, Isabele Câmara, Jully Lourenço, Mikaela Brasil , Paulo Renato Abreu, Rachel Gomes, Renan Vidal, Rosana Reis, Taís de Andrade, Thinayna Máximo, Vicente Neto e Vicente Olsen

Editores: Raissa Sampaio, Saulo Lucas e Víctor Ramalho

Editora Geral: Camila Mont’Alverne

Professor orientador: Edgard Patrício

Projeto gráfico e diagramação: Aman-da Araújo, Clarissa Augusto, Ed Bor-ges, Juliana Braga, Marcella Macena, Tamara Lopes, Thamires Oliveira

Ilustrações: Juliana Braga

Impressão: Impressa Universitária

Tiragem: 1.000 exemplares

As opiniões expressas em artigos assi-nados são de inteira responsabilidade de seus autores.

Editorial

Leitura e novas tecnologias:a tecnologia não resolve sozinha

E ncerrando o Impres-sões neste semestre, esta edição problematiza a

relação das novas tecnologias com a leitura. O tema é delica-do, mais ainda quando se leva em conta discursos, cheios de certeza, sobre a influência das novas tecnologias no hábito de ler e sobre o aprendizado.

Buscando fugir do determi-nismo tecnológico – que enxer-ga as novidades como boas ou ruins por si sós – o Impressões propõe debater as implicações que a adoção de tablets, e-re-aders e outros aparelhos pode trazer, do produtor ao leitor.

É necessário ter em mente, ao levantar qualquer discussão sobre tecnologias digitais, que elas são ferramentas e, por isso, dependem de quem as operam para servirem a um fim mais nobre ou não. Não faz sentido, portanto, debater somente so-bre as inovações, sem levar em conta outros aspectos, como o

preparo para lidar com elas e a disposição dos agentes envol-vidos no processo. Se a pessoa não tinha o hábito da leitura anteriormente, dificilmente o contato com um tablet acarre-tará uma mudança na situação.

É problemático, portanto imputar a culpa sobre o desin-teresse das pessoas pela leitura às novas tecnologias. A maté-ria sobre a publicação de livros se utilizando das possibilida-des da internet mostra como a rede permite diversificar a produção e ampliar a oferta de material, contrariando a visão dos que só veem malefícios na digitalização da leitura. Na que aborda o dispositivo Portáctil, é possível entender como os avanços podem servir também para ampliar a possibilidade de leitura aos que possuem limi-tações físicas.

Por outro lado, a reporta-gem sobre a adoção de tablets para auxiliar no processo de

alfabetização vai de encontro à perspectiva dos entusiastas das tecnologias, ao mostrar que, não necessariamente, o conta-to com as ferramentas digitais resulta em um processo de aprendizagem mais satisfató-rio. É preciso questionar a ideia de que a internet e as novas tecnologias poderiam resolver problemas e suprir déficits que são anteriores ao contato com as ferramentas digitais.

É necessário levar o debate a outro nível. Deve-se relativi-zar a importância das tecnolo-gias digitais, especialmente em relação aos efeitos da utiliza-ção. A adoção de posições mais cautelosas permite que se pon-dere de forma sensata os be-nefícios e malefícios advindos com as possibilidades ofere-cidas pelas novas tecnologias, que devem ser encaradas dessa forma: como possibilidades. A decisão do que fazer com elas está na mão do usuário.

Crônica

Sobre encontros criadores Por Vicente Neto

Quando de longe Lúcia avistou José Newton tentando atravessar a av. Abolição, lá na altura do Ideal Clube, a sobralense recém-chegada à Capital não hesitou:

– Posso ajudar o senhor?– Ah! Obrigado minha, filha.Não imaginava que aquela gentileza a levaria também a

cruzar uma linha. Ao auxiliar aquele senhor cego a comple-tar o percurso, Lúcia dava os primeiros passos do caminho que ela própria iria trilhar vida adiante.

– A moça vem do trabalho? – Perguntou José Newton.– Não. Procuro emprego. Minha irmã quer que eu traba-

lhe no comércio. Mas queria isso pra minha vida não, sabe?– Gosta de ler?– Amo!– Estou trabalhando uma ideia que tive. Se me ajudar,

terá um emprego onde vai poder ler muito.Lúcia se empolgou. Nos meses que se seguiram, virou a

principal aliada de José Newton na luta pela implantação do primeiro espaço de leitura para cegos do Estado do Ceará. Ousada e comunicativa, a moça chegou a furar a segurança do governador em um evento para pedir, num pequeno pe-daço de papel, que a ideia fosse apreciada.

– Coronel Virgílio! Coronel Virgílio!Deu certo. Virgílio Távora, governador em 1979, recebeu

a dupla e o projeto escrito de um acervo público em braile. Naquele mesmo ano, a Biblioteca Estadual Menezes Pimen-tel passava a abrigar o espaço idealizado por José Newton e a receber os primeiros visitantes.

Passados 34 anos, Lúcia segue no trabalho que escolheu para sua vida. Coordena o setor braile da principal biblio-teca pública do estado. Newton se aposentou com missão cumprida. O sonho está materializado em três mil obras im-pressas em braile e mais de quinhentas em áudio.

A história que nasceu de um encontro ao atravessar a rua, hoje, possibilita outros encontros, bonitos, fundamentais, criadores: entre as pessoas cegas e o mundo letrado.

Charge Por Juh Braga

As tecnologias podem re-dimensionar os tempos e espaços de aprendiza-

gem, levando o conhecimento para fora das fronteiras da escola.

As tecnologias digitais dis-poníveis em larga escala na sociedade atual possibilitam um acesso quase sem limites à informação em variados forma-tos. Além do registro oral e es-crito, encontramos representa-ções audiovisuais e multimídia.

As tecnologias também per-mitem uma maior criação por parte dos alunos, a partir de seus interesses. Os jovens que têm acesso à tecnologia tiram fotos, criam e editam textos e vídeos e compartilham sua pro-dução em redes sociais, passan-

do de meros consumidores a produtores de conteúdo.

Qual o papel das tecnologias na Educação Contemporânea? As experiências registradas nas escolas participantes do Proje-to Um Computador por Aluno (UCA) nos ajudam a pensar os rumos que a Educação deve to-mar. É fundamental ter dispo-nibilidade para um uso inten-sivo da tecnologia por parte de professores e alunos.

A formação deve possibi-litar que o professor integre a tecnologia ao currículo de for-ma inovadora, ampliando as formas de exposição do conte-údo e dando oportunidade aos alunos de produzirem conhe-cimento em diversos formatos

e em coautoria com professo-res e outros colegas.

As tecnologias podem ain-da redimensionar os tempos e espaços de aprendizagem, levando o conhecimento para fora das fronteiras da escola e permitindo a integração de alunos de diferentes localida-des através de projetos colabo-rativos que tragam respostas para questões significativas para os alunos.

Por fim, o currículo deve ser redimensionado para se tornar menos rígido e linear e mais flexível e hipertextual, abrangendo conhecimentos da várias áreas. Essa deve ser a “Educação do futuro” almejada por todos nós.

Artigo

*Professor Associado e vice-diretor do Instituto Universidade Virtual da UFC

Tecnologias digitais e o futuro da EducaçãoPor José Aires de Castro Filho*

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3IMPRESSÕES – LEITURA

Perfil

Desde pequeno, ainda com menos de dois anos, o estudante Mi-

guel Olsen já se aventurava à frente da tela do computador. Era comum aos tios, avós e primos mais velhos coloca-rem os principais “aliados” da-queles que buscam um pouco de tranquilidade nos lares tão agitados por crianças: vídeos da Galinha Pintadinha, dos Backyardigans e de outros per-sonagens infantis no Youtube, repetidos à exaustão.

Essa prática não é exclusiva da família de Miguel. Vários pais, que buscam calmaria nos lares, pelo menos por alguns minutos, recorrem a esses “alia-dos”. Os novos dispositivos tecnológicos se tornaram mais baratos, com fácil manuseio e, por isso, mais comuns. A porta-bilidade dos tablets, smartpho-nes e gadgets contribui para a

presença dessas tecnologias em diversos lugares, e para que tal comportamento esteja ainda mais difundido e presente.

As crianças de hoje crescem acompanhando essas tecnolo-gias, comuns em seu cotidiano, elas imitam os pais no uso dessas ferramentas. Com Miguel não foi diferente, o jovem estudante passou, aos poucos (mas desde muito cedo), a mexer no com-putador e no tablet, buscando por conta própria os vídeos que tanto mostravam para ele.

Identificando os navegado-res de internet e acessando o Youtube, seja em tablets, com-putadores ou notebooks, Miguel indagava “como é que escreve galinha pitadinha?”. Seus pa-rentes soletravam “G-A-L-I--N-H-A...”, enquanto ele ia di-gitando lentamente no teclado do computador. Selecionava o vídeo que queria assistir, por

vezes (muitas vezes!) repetia a exibição e, aproveitando os ví-deos relacionados, montava sua própria programação.

Futuro “Doutor do ABC”Miguel passou por média no

infantil 5. “Muito fácil”, gabou--se com ênfase no “muito”. Vai cursar o primeiro ano do ensino fundamental (antiga alfabetiza-ção) em 2014. Na escola em que estuda, terá um iPad disponível para ajudá-lo com a aprendiza-gem da leitura e da escrita, “vou ter tablet só próximo ano, vou ter que fazer tudo bem depres-sa” e, esperançoso, pretende “aprender a fazer a agenda so-zinho”. Obviamente que o ônus do uso desse dispositivo recai sobre os pais, que arcam com todo o material escolar, no qual está incluso o tablet.

O autodidata leitor confessa gostar mais de digitar no tablet, mas afirma que no computa-dor é mais fácil. Ambos, no entanto, são “mais legais que escrever no papel”. Afirmou também, de supetão: “Escrevo, mas às vezes eu erro, na práti-ca eu vou conseguindo. Na le-tra cursiva e naquela outra lá... lembrei: a pauta dupla”.

O que então ele escreve, ou melhor, digita, com as novas tecnologias? O quê ele mais busca na internet? “O site que eu entro mais, tem muitos, mas [acesso] mais o Mundo Gloob”, afirmou, alertando “tu não vai

saber escrever, não”, ao mesmo tempo em que puxava o note-book das minhas mãos, para me auxiliar na escrita. Acrescenta ainda outros: “tem o Disney Jú-nior, o Discovery kids, também gosto do Nick Jr”. Em geral, estes sites reúnem vídeos, jogos edu-cativos e imagens para pintar os personagens dos respectivos de-senhos animados exibidos nos canais da TV por assinatura.

Quanto ao tablet, Miguel disse que joga bastante nos apli-cativos de incentivo à leitura “o de palavras (caça-palavras), os dois jogos da forca, coloca aí o da forca”, lembra. O falante estudante continua afirman-do que utiliza também “o varal de letras”, o qual “é muito legal também para aprender a ler”. No entanto é sincero: “Eu curto todos, mas o que eu mais gos-to mesmo é o Candy Crush”, o qual, infelizmente, não é um aplicativo para a leitura.

Um lugar especial para guardar os livros

Miguel diz adorar ganhar livros – e roupas – de presente, os quais guarda com muito ca-rinho, principalmente aqueles que foram dados por alguém da família. “Debaixo de um monte de brinquedo eu tenho um monte de livro”. Perguntei quem mais o incentivava a ler, e ele, desconfiado, perguntou “incentiva?”. Quando explica-do o que significava “incen-

Cotidiano tecnológico e leitura: as respostas e perguntas de uma criança que (já) lêMiguel Olsen, com seus recém-completados seis anos, é exemplo de uma nova forma de aprendizagem: crianças que leem – e digitam – antes mesmo de serem alfabetizadas normalmente na escola Por Vicente Olsen

tivar” esclareceu sem muita modéstia: “eu mesmo, mas eu não lia sozinho, quando fui fa-zer minhas primeiras palavras, minha vó me ensinou, agora eu consigo sozinho!”.

Na finalização da nossa breve e divertida conversa, perguntei qual a leitura que Miguel mais gostava de fazer dentre todas as outras. Disse então que não lia revistinhas em quadrinhos, “nem da Mô-nica” e sem delongas, escla-receu: “antes de dormir eu gosto de ler a bíblia, a ‘Minha Primeira Bíblia’, do Padre Re-ginaldo Manzotti”, explicando que este nome se escreve “com dois t’s”. Mostrou-me então o belo exemplar, de capa dura, branco, adornado com tons dourados e bonitas ilustrações das histórias bíblicas, presente de aniversário de sua tia-avó.

Miguel, de 6 anos, aprendeu a ler e digitar antes mesmo de fazer a 1ª série. Nas fotos, ele mostra um dos seus aplicativos de leitura preferidos, o Varal de Letras

Enquanto conversávamos, Miguel brincava com letrinhas de madeira ”

“Quando fui fazer minhas primei-ras palavras, mi-

nha vó me en-sinou, agora eu

consigo sozinho!

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4 IMPRESSÕES – LEITURA

Autores, como o professor de música Orlando Andrade, encontram na internet plataforma para publicar os livros, sem depender do aval de editoras nem de investimento próprio

Novas tecnologias possibilitam publicação de livros impressos e digitais

Clique aqui para publicar

Não é mais preciso ser um imortal da literatura para publicar um livro com facilidade. A internet e outras ferramentas digitais estão democratizando o espaço editorial. Conheça, a seguir, caminhos para a autopublicação, com uma ajudinha da Web

Por Fátima Babini e Vicente Neto

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Conan Doyle, Hemin-gway, Proust, Lima Barreto, escritores hoje

renomados, tiveram uma expe-riência em comum. Todos ten-taram publicar um livro e foram recusados por um editor. Havia uma coincidência em desfavor deles: produziram em épocas em que não existiam a internet e várias tecnologias digitais que hoje encurtam o caminho entre o autor e o leitor.

Se estivessem escrevendo nos dias atuais e não fizessem questão de ter uma editora de grife chancelando suas obras, aqueles autores poderiam re-correr a diferentes estratégias na rede mundial de computa-dores para tirar os originais da gaveta – ou da pasta “livros a publicar” do computador.

Entre as alternativas dispo-níveis, está o financiamento co-

letivo, conhecido no meio vir-tual como crowdfunding. Outra opção é participar de um clube de publicação e lançar o livro a custo zero, com impressão feita sob demanda dos leitores, pela internet. É possível também entrar numa rede social de au-tores e leitores, publicar os es-critos instantaneamente e até encontrar colaboradores para enriquecer o trabalho.

Vaquinha virtualTer a publicação do livro fi-

nanciada pelos leitores foi a saí-da encontrada pelos quadrinis-tas mineiros Jão e Bruno Pirata. Parceiros na criação do selo independente Passaporte, os rapazes aderiram ao crowdfun-ding para publicar os projetos e produzir como queriam, prio-rizando técnicas artesanais. “Lembro que o Pirata chegou

pra mim e disse que gostaria de fazer um projeto utilizando a plataforma Catarse para lan-çar [em livro] seu quadrinho Cidade Terra. Conversamos e resolvemos que, ao invés disso, tentaríamos algo mais ambicio-so: a primeira leva de títulos do selo, completa”, Jão explica.

A plataforma Catarse che-gou ao Brasil em 2011 e foi a primeira de financiamento co-letivo do país. Ela é uma grande oportunidade dos criadores de projetos conseguirem colabo-radores para angariar fundos e colocar as ideias em prática. O sucesso do crowdfunding talvez se explique por ser um sistema onde todos levam vantagem. Os idealizadores recebem doações online para viabilizar seus pro-jetos e os financiadores ganham recompensas de acordo com a quantia com que contribuem.

Jão e Bruno Pirata cadastra-ram o projeto Passaporte, com a meta de arrecadar sete mil reais até novembro deste ano, mês em que aconteceu o Fes-tival Internacional de Quadri-nhos, FIQ, em Belo Horizonte. O plano dos mineiros era lançar os títulos do selo no evento.

E funcionou. Tudo graças aos 93 apoiadores da internet, que não só ajudaram os rapa-zes a cumprir a meta, como so-maram ao valor inicial mais R$ 1.145. Um deles foi o jornalista, também mineiro, Rodrigo Cas-tro. “Eu conheço o trabalho de ótimos cartunistas independen-tes que não têm como levantar recursos para publicar por uma editora, devido aos altos custos disso, e encontraram no Catarse, e no crowdfunding, a oportuni-dade de lançamento de projetos maravilhosos”, diz o apoiador. ”

“Os quadrinistas Jão e Mário Pira-ta arrecadaram

R$ 8.145 reais na internet e

publicaram uma coletânea em quadrinhos

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5IMPRESSÕES – LEITURA

Com o aumento dos traba-lhos independentes, surge uma dúvida quase inevitável: será que a popularização da práti-ca incentiva o surgimento de produções sem qualidade edi-torial? Para Castro, não em pro-jetos de financiamento coletivo. “Nós [os leitores] escolhemos dar dinheiro para projetos di-retamente, sem intervenções de ninguém – Estado, curadores, marqueteiros”, explica. “Somos nós que verdadeiramente con-trolamos o que sai [publicado] e o que não sai”, defende.

Quer publicar? Bem-vindo ao clube

“No Clube de Autores, quem decide se quer ou não publicar é o próprio autor. Para isso, basta clicar em Publique seu Livro e seguir as instruções que aparecem na tela”. Estas palavras, lidas no monitor do computador pelo professor de música Orlando Andrade, pu-seram fim a uma busca e abri-ram caminho para a realização de um objetivo.

Andrade elaborara um mé-todo de ensino para instru-mentos de corda que, sem su-cesso, havia tentado publicar em editoras tradicionais. Sem nome consolidado no mercado editorial, o músico pensou em financiar sua primeira publi-

cação, mas esbarrou nos altos valores exigidos pelas editoras para a impressão de tiragem mínima.

A solução apareceu em um site de buscas. “Eu simples-mente digitei no Google: ‘que-ro editar meu livro’ e apareceu lá o Clube de Autores”, relem-bra Andrade. O professor criou uma conta no site. Em seguida, configurou o material que ti-nha, para adequá-lo ao forma-to impresso. Arquivo pronto, fez o upload do original.

Uma hora depois, o método do professor de música de Cau-caia, Ceará, estava disponível para ser vendido e enviado a in-teressados de qualquer lugar do Brasil ou do mundo. Quatro me-ses após a publicação, Andrade diz ter comprado 10 exemplares do próprio livro - que já reven-deu a seus alunos - e afirma ter recebido do site direitos autorais pela venda de outros 15.

Foi através da mesma ferra-menta online que o cirurgião--dentista Amilton Costa, de Sobral, no interior do Ceará, conseguiu sua estreia literária. Ele queria combater o estigma que associa sua profissão a dor e medo. Desde 2007 postava crônicas, em um blog, com his-tórias ocorridas no consultório onde trabalhava, nas quais, com humor e sensibilidade, falava

Sophie Teles, estudante cearense, publicou o primeiro livro em rede social que reúne escritores e leitores do mundo inteiro

PONTO DE VISTA

A tecnologia ajuda a disse-minar o livro, digital e impres-so, e democratiza o espaço editorial. Um número cada vez maior de ferramentas e pro-cessos tem viabilizado as obras de um crescente número de autores. Porém, mais autores não quer dizer mais qualidade.

Boa parte das ferramentas não

*Pesquisador e especialista em livros eletrônicos e membro da Comissão do Livro Digital da Câmara Brasileira do Livro

Por Ednei Procópio*

Foto: Vicente Neto

da relação paciente-dentista. Em 2011, decidiu reunir os tex-tos em livro. Procurou editoras convencionais, mas foi a pro-posta do Clube de Autores que lhe pareceu mais viável.

“O ponto crucial foi não ter que investir nenhum valor para impressão. O Clube tam-bém parecia oferecer mais vi-sibilidade e retorno”, justifica o dentista-escritor. Publicou. Em dois anos, o seu De Boca Aberta, foi parar nas mãos de 110 leitores, a maioria, de fora do Ceará. Em 2012, Costa lan-çou um romance, que soma até aqui quase uma centena de compradores. E já prepara um terceiro lançamento.

Segundo Índio Brasilei-ro, sócio-diretor do Clube de Autores, a iniciativa tem tido sucesso por aproveitar um grande mercado inexplorado: “todo mundo tem uma histó-ria pra contar, um conteúdo pra dividir”, argumenta. Desde o surgimento em 2009, a em-presa, sediada em São Paulo, já cadastrou 30 mil autores, dos quais 252 são cearenses. Pelo site, eles publicaram mais de 24 mil títulos e venderam cerca de 360 mil exemplares.

Cada livro é impresso e en-viado apenas quando um lei-tor faz um pedido, o que en-carece o preço final. Mesmo assim, os autores veem vanta-gem em participar do Clube. Além de não precisar pagar pela publicação, eles definem quanto querem receber de di-reitos autorais. O valor com-põe o preço final do livro, jun-to com o custo de impressão (que pode ser eliminado, caso o autor ofereça versão e-book) e com uma taxa fixa cobrada pelo site, em cada venda.

Widbook, a rede social dos livros

Imagine todos os seus amigos do Facebook, subi-tamente, transformados em viciados em livros. De repen-te, ninguém faz mais nada na rede social, além de publicar romances, recomendar e co-mentar as obras uns dos ou-tros. Parece irreal, mas essa rede social existe. Ela se cha-ma Widbook e, curiosamente, foi criada em um país onde se lê apenas quatro livros por ano, o Brasil.

Apesar da origem nacional, o Widbook foi criado para ser global. Todo em inglês, o site tem escritório nos EUA, que é onde está a maior parte dos 120 mil usuários. O Brasil é apenas o terceiro país em nú-mero de cadastros. A rede foi lançada em junho de 2012. De lá para cá, dois mil livros já foram publicados, em vários idiomas, e 10 mil estão sendo criados neste momento, como o da universitária Juliana Rios, do Rio de Janeiro.

Mesmo não tendo finali-zando ainda o romance, ela já compartilhou quatro capí-tulos iniciais com os usuários do Widbook. Espera concluir o livro em 2014, ter boa re-cepção na rede social e, quem sabe, conseguir uma editora que se interesse em publicá-lo impresso. “Ainda quero sentir as palavras no papel”, confessa a internauta escritora. Se de-pender da aprovação de Jadson Ribeiro, usuário que segue a publicação da carioca no Wid-book, o sucesso está garantido. “Você é uma grande escritora”, escreveu no perfil da moça.

De Fortaleza, a estudante do ensino médio Sophie Te-

les experimenta a liberdade da criação literária. “Eu fica-va muito chateada quando lia um livro, gostava, mas o final não era o que eu gostaria. Aí eu pensei: vou fazer uma ver-são com o final que quero. E comecei a escrever”, conta ela, sobre seu início literário. No Widbook, ela é Blue Damme-rung, pseudônimo com o qual assina o livro de ficção que já concluiu, aos 18 anos, e pos-tou na rede.

O Widbook também se pro-põe a ser um espaço de criação colaborativa. Juliana Rios e So-phie Teles, mesmo que nunca se encontrem presencialmente podem, se desejarem, um dia criar um livro juntas.

Os membros podem publi-car quase de tudo. Os termos de uso proíbem conteúdos pro-tegidos por direitos autorais de terceiros, material pornográfi-co, textos que incitem a violên-cia, o alcoolismo ou contrariem as leis e os direitos humanos.

No mais, qualquer um pode publicar o que quiser, do jeito que quiser, sozinho ou com quem quiser. E nem pre-cisa ser tão bom quanto Doyle ou Hemingway.

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dispõe de curadorias, com profis-sionais que zelem pela qualidade do que é publicado. O autor que se autopublica corre o risco de lançar a obra de forma amadora, o que é ruim para o leitor. É importante a democratização, mas é essen-cial desenvolver paralelamente estratégias para não criarmos uma geração de autores ruins.

MULTIMÍDIAEm vídeo, autores contam mais detalhes de suas ex-periências de autopubli-cação. Confira conteúdo extra na internet:

Entrevista com Sophie Teles:http://migre.me/gYAYm

Entrevista com Orlando Andrade: http://migre.me/h0Sjq

Page 6: Impressões Leitura #4

6 IMPRESSÕES – LEITURA

Inclusão digital

Aula de informática para idosos no Sesc

A utilização de novas tecnologias de leitura, como computadores,

tablets, smartphones, faz parte do cotidiano de jovens e adul-tos. Assim como já invadiu a rotina dos idosos, que come-çam, aos poucos, a usufruir das facilidades trazidas com tais tecnologias. Segundo uma pes-quisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), divulgada em feverei-ro deste ano, 28% das pessoas entre 65 e 75 anos procuram se manter atualizadas com o uso da internet e computadores.

A pesquisa foi realizada com 20.736 idosos, no período de julho de 2011 a agosto de 2012. Esse número pode pa-recer pouco, porém, para uma geração acostumada a esperar meses por uma carta, conhe-cer as possibilidades oferecidas com a internet é um desafio.

Tal desafio foi encarado por Maria Nilza, 66, que é dona de casa e há cinco anos resolveu se aventurar no computador. Ela afirma que foi um modo encontrado para espantar a so-lidão, pois marido, filhos e ne-tos passam o dia fora de casa. Dona Maria Nilza pediu para os netos a ensinarem o básico e sozinha aprendeu mais coi-sas, como baixar livros, por exemplo. “Eu pesquiso livros e tem livros que me chamam atenção. Eu sou espírita e gosto muito de ler os romances espí-

ritas. Então eu procuro e leio pelo computador”.

Maria Nilza adora ler e não cresceu usando o computador, como os netos, mas já se acos-tumou e abandonou o modo tradicional de ler livros. “Pelo computador eu não sinto sono, mas se eu me sentar pra ler um livro eu cochilo que só”. E as vantagens não param por aí. Com a internet ela descobre novos livros mais facilmen-te do que indo a uma livraria. “Eu estava lendo um livro pelo computador, chamado Pérola Negra, e vi outro com mes-mo título. Aquilo me chamou atenção aí eu fui ler”.

A dona de casa afirma tam-bém que encontrar o que não se está procurando é uma das maravilhas da internet e que, apesar de gostar de ir a livra-rias, ao navegar na rede não é necessário sair de casa. Dona Maria Nilza diz que o melhor livro que já leu através do do-wnload pela internet foi “Me-diunidade, desafios e bênçãos”.

Inclusão digital e literáriaProfessor de informática

há 15 anos, Gregório Oliveira, 35, trabalha há 13 dando aulas para idosos no Serviço Social do Comércio do Ceará (Sesc--CE). O curso tem três módu-los, com duração de seis meses cada. Ele afirma que a principal diferença em dar aula para ido-sos é no conteúdo e no ritmo

de ensino, ou seja, a paciên-cia. “O idoso tem um ritmo de aprendizado mais lento do que os jovens e as crianças, a gente ensina mais lentamente e com muita repetição”.

São ofertadas 30 vagas por semestre e Gregório afirma que a procura no Sesc é mui-to grande. “Pra você ter uma ideia, sempre que a gente abre vagas pra novatos, as filas são enormes. O pessoal chega lá 6 (horas) da manhã. O atendi-mento começa às oito, mas o pessoal chega seis pra garantir a vaga”. O professor atribui essa procura ao fato de que exis-tem poucas ofertas de cursos de informática na cidade vol-tados para idosos e também à vontade que eles possuem de se atualizar. O curso parte do pressuposto de que o aluno não possui contato nenhum com o computador, ensina-se desde a ligar o aparelho até a navegar na internet, mandar e-mails e escrever textos.

Gregório também é for-mado em Letras Português, e aproveita as aulas de informáti-ca para reforçar o hábito da lei-tura nos alunos. “A gente acaba incentivando que eles leiam. Passo muita poesia para eles pesquisarem e lerem. Uma vez que eles descobrem que a inter-net está lá e que podem acessar os assuntos mais diversos, mui-tas vezes, na hora do intervalo, eles ficam no computador pes-

quisando e lendo textos”.Pessoas da terceira idade

utilizam as novas tecnologias para leitura de variadas formas. Alguns preferem ler no compu-tador, outras somente pesquisar para depois imprimir. O fato é que fazer o download de textos e livros é comum entre eles, o que mostra o quanto a internet faz parte de seus cotidianos.

O aposentado da Marinha Fernando Barros, 72, aluno de Gregório no Sesc, está fazendo o curso pela terceira vez e utili-za o computador há cinco anos. “É porque quando termina uma turma e vai começar outra eu procuro ver se tem alguma vaga, se tiver uma vaga eu me inscrevo novamente. Eu gosto sempre de estar me atualizan-do, sempre tem alguma coisa pra gente aprender”, explica.

Fernando adora ler livros,

Terceira idade no terceiro milênio: a inclusão dos idosos no mundo virtualA apropriação das novas tecnologias de leitura pelos idosos surpreende e mostra que sempre é tempo de descobrir novas ferramentas Por Cris Lima e Rosana Reis

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(na internet) e lerem

mas não pelo computador. Po-rém, faz uso de novos métodos de leitura, pois se define como “muito curioso” e gosta de pro-curar textos na internet, prin-cipalmente, poesias, além de usar as ferramentas para escre-ver seu próprio livro. “Eu utili-zo o computador também para escrever um livro das minhas memórias. O título é De mu-dança em mudança, o mundo mudou e nós também”.

Outro aluno de Gregório Oliveira é o cirurgião-dentista aposentado Dilson Meneses, de 83 anos. Ele usa o compu-tador há dez anos e passa três horas por dia fazendo pesquisa e procurando textos para ler. “Quando eu tenho um texto mais interessante eu imprimo pra ler, porque eu não gosto da leitura na tela, eu não me habi-tuei. Acho a tela cansativa”.

Dona Maria Nilza e sua paixão pela leitura

Foto: Bruna Luyza

Page 7: Impressões Leitura #4

7IMPRESSÕES – LEITURA

Skoob

“O que você anda lendo?”. Para os leitores ávi-

dos, daqueles que carregam o livro na bolsa para ler em qual-quer sala de espera ou até mes-mo em um engarrafado per-curso no trânsito, a pergunta provavelmente desenrola uma animada conversa. Quando uma obra literária nos faz “per-der” noites de sono entre pági-nas da trama, compartilhar a leitura com os amigos é qua-se obrigatório. Nesse escam-bo cultural nasceu o Skoob, a primeira rede social exclusiva para literatura.

Criado no ano de 2009 pe-los amigos cariocas Lindenberg Moreira e Viviane Lordello, o Skoob é uma grande estante vir-tual com mais de 350 mil títulos, 10 mil autores e 26 editoras ca-

dastrados. Nele, o leitor pode lis-tar os livros que já leu, está lendo e ainda vai ler, bem como os que possui, os que deseja e os que abandonou. Além dessas fun-cionalidades, o site permite que os usuários avaliem e escrevam resenhas sobre as obras, o que permite maior interatividade entre os internautas.

“A ideia de criar o Skoob sur-giu por acaso, estava conversan-do com amigos e perguntei se havia algum lugar na Internet onde fosse possível ver a opinião de outras pessoas sobre os livros. Achei que seria interessante criar uma rede social onde fosse possível trocar nossas experiên-cias literárias”, explica Linden-berg. No começo, o site foi cria-do apenas para a troca de ideias entre conhecidos, mas acabou crescendo. “Nós criamos um ‘sisteminha’, era uma ideia bem pequena. Quando vimos, várias pessoas que curtiam leitura se cadastraram, pessoas que nem eram do nosso hall de amigos”, conta Viviane. O sucesso da rede é tão grande que, hoje, o Skoob já reúne mais de 500 mil usuá-rios cadastrados.

Reflexo no espelho da pala-vra inglesa “books”, que signi-fica “livros”, o Skoob se conso-lidou como ponto de encontro dos “skoobers”, pessoas apaixo-nadas por literatura. A pionei-ra rede social no Brasil influen-ciou a criação de fóruns de discussão literária e até mesmo o surgimento de mais sites de relacionamentos relacionados

ao tema, como o Orelha de Li-vro, desenvolvido pelo grupo MuccaShop.

Catalogação e trocaLeitora assídua e apaixona-

da por literatura, a estudante de Comunicação Aline Lima, 24, ingressou na rede social Skoob em 2011. “Essa mídia social me encantou desde que a conheci. Achei um espaço muito legal para ter mais in-formações sobre livros e para catalogar minha biblioteca. Adoro marcar os livros que li, que vou ler e os que possuo. Tenho cadastro no Orelha de Livro do blog Literatortura, no Goodreads (site de relaciona-mentos da Amazon), mas eles não conseguiram me conquis-tar como o Skoob”, conta.

Para Aline, uma das maio-res vantagens da rede social é a catalogação da biblioteca dela, assim como a possibilidade de conhecer mais livros através das resenhas de outros usuá-rios. “Geralmente as avaliações são bem elaboradas e dão uma boa ideia da leitura. Um ponto positivo é que as pessoas leem de tudo, sem preconceito se é Crepúsculo (história america-na sobre vampiros criada por Stephenie Meyer) ou algum clássico da literatura, e fazem uma boa resenha explicando porque acham que Crepús-culo, por exemplo, é bom ou não”, explica a estudante.

Como uma boa “rata de bibliotecas”, a estudante de

Enfermagem Ruth Rocha, 23, visitava constantemente blo-gs literários e foi em um deles que conheceu, ainda em 2010, a rede social Skoob. “Uso o tempo inteiro, atualizo sempre os livros que quero ler e os li-vros que terminei de ler. Ter o controle dos livros que tenho, de quais quero ler, e de quan-tos eu já li. Simplificando, uma grande vantagem é ter um controle de números”, ressalta.

A rede social também é um canal de aproximação entre lei-tores. “Já fiz amizades graças ao Skoob”, conta Ruth. “A primeira amizade que fiz me deu até um livro e nunca nem nos vimos pessoalmente. Também já co-nheci pessoas daqui de Fortaleza e trocamos livros”, complementa.

A troca de livros entre usuá-rios é uma das inovações ofere-cidas pela rede social. Por meio da ferramenta “Plus”, os mem-bros do grupo disponibilizam os títulos para troca e solicitam obras de outros internautas. “É super confiável porque a troca favorece os dois lados, então se um não sai satisfeito de uma troca, o outro, consequente-mente, vai sair prejudicado. Mas o confiável também vai depender de com quem você vai trocar. Cada pessoa tem uma “reputação” e lá você pode ver pelos comentários de ou-tras se a pessoa é boa Skoober”, explica Ruth. “Eu recomendo, apesar de ter passado sufocos em algumas trocas. Mas não foi culpa do Skoob, foi dos Correios ou da outra pessoa com a qual eu estava trocando”.

Rede social reúne apaixonados por literatura e novos escritoresAutores, leitores e editoras possuem espaço de interação e se beneficiam com a rede social Skoob, site de relacionamentos gratuito criado no BrasilPor Bruna Luyza Forte, Eduarda Talicy e Carolina Areal

Novos escritoresAlém de beneficiar os lei-

tores, o Skoob também pode auxiliar bastante os novos es-critores. É o caso de Jairo Sar-fati, 18, usuário da rede social e autor do “Diário Póstumo de Charlotte”. Para o jovem, a rede social o ajuda tanto como leitor quanto como autor.

“Eu posso ter uma resposta de leitores ao redor do Brasil, ver os comentários deles em relação ao livro, ver se o feed está positivo ou não. É como se você escrevesse para um blog, e tivesse uma resposta imediata”, explica. O Skoob permite a aproximação entre usuários e autores através de comentários e mensagens rá-pidas que podem ser publica-das nos murais.

Para Jairo, as vantagens são maiores que eventuais trans-tornos, como a inatividade de alguns moderadores. “Algu-mas pessoas viram os amigos marcando o meu livro como ‘quero ler’ ou “desejado” e aca-baram por gostar da capa e da sinopse. E isso é gratificante”.

Para participar do Skoob é necessário apenas se cadastrar gratuitamente no site.

SERVIÇOEndereços eletrônicos:

Skoobwww.skoob.com.br

Orelha de livro www.orelhadelivro.com.br

O perfil no Skoob permite ao usuário marcar os livros que já leu, tem interesse em ler ou abandonou

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Foto: Divulgação/ Arquivo pessoal

Membro do site de relacionamentos Skoob desde 2010, a estudante Ruth Rocha já conheceu pessoas e trocou livros por meio da rede”

“(...) O Skoob se consolidou

como ponto de encontro

dos ‘skoobers’, pessoas

apaixonadas por literatura

Page 8: Impressões Leitura #4

8 IMPRESSÕES – LEITURA

Plataformas digitais

Por Gleyce Any Castro, Jully Lourenço e Renan Vidal

As vantagens de possuir um e-reader, o fascínio dos jovens pela nova plataforma e os desafios de quem está à frente do mercado da publicação digital

A digitalização do universo da leitura e a conquista de espaço dos livros digitais

“A velocidade da automação e inclusão digital

do público brasileiro é bem

mais lenta

3,8 milhões

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Povo

Possuir uma biblioteca virtual pode ser o sonho de muita gente. E, há

algum tempo, ele já é possível. Os livros digitais invadiram o mercado editorial como uma alternativa eficaz aos livros de papel. Com apenas um clique, é possível baixar ou comprar um livro, revistas ou qualquer mídia digital pela internet por meio dos e-readers, sendo o Kindle, da empresa Amazon, o mais conhecido do mercado.

O Kindle é desejado por muitos jovens, especialmente os mais aficionados por leitu-ra. O leitor, que já está na sua quarta geração, vem apresen-tando novos recursos a cada lançamento. A última, apresen-

tada em novembro deste ano, integra o Kindle ao Goodreads, espécie de rede social de leito-res. Por meio de release, o vice--presidente da Amazon, Peter Larsen, publicou: “O novo Kin-dle Paperwhite já é o melhor e-reader do mundo, e estamos animados para torná-lo ainda melhor, com novos recursos que os leitores vão adorar”.

Alguns livros são grátis, para o deleite dos leitores como Karoline Félix, assistente admi-nistrativa, que garante não sair de casa sem o Kindle. “É muito prático. Eu levo para todo lu-gar, e fico lendo nos tempos de ócio. Ter um livro em um cli-que é algo que sempre sonhei. Foi o melhor presente que já

tive.” Karoline ainda afirma que o leitor de livros digital pode ser uma boa alternati-va à “febre” das redes sociais. “Naturalmente, a gente pega o celular quando não faz nada. E aí todo mundo vai olhar aque-las bobagens. Eu me acostumei a pegar o Kindle. Nesse ritmo, esse ano eu já li mais de 15 li-vros. É um ganho enorme.”

Por outro lado, algumas pessoas não se convencem da ideia de ler um livro por meio dessa plataforma digital. É o caso de Geanne Nascimento, dona de casa e leitora fervorosa de livros espíritas. “Nunca que eu compraria um negócio des-ses. E o cheiro do livro? O to-que? O passar de cada página?

Perde a mágica, né?” Muitas pessoas corroboram com esse pensamento, e talvez esse seja o principal motivo da não substi-tuição dos livros de papel pelo livro digital, o que garante, por-tanto, a manutenção de livrarias e bibliotecas por todo o mundo.

O mundo que envolve o lançamento de um ebook pode ser bastante extenso. Paula Ca-jaty, escritora e dona da editora Jaguatirica Digital, esclarece que um dos diferenciais da plataforma são os tipos de ser-viços disponibilizados, como o próprio sistema de divulgação, o qual conta criação de site, booktrailer, “fanpage”, convite virtual, administração da pági-na no Facebook do livro, entre

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9IMPRESSÕES – LEITURA

“Nunca que eu compraria um

negócio desses. E o cheiro do

livro? O toque? O passar de cada página? Perde a

mágica, né?

Bibliotecas Universitárias na internet

Geanne é uma das muitas pessoas que resistem à nova plataforma As bibliotecas da UFC mantêm acervos digitais na internet

2012

0,1%

4.,8 bilhões.

3,8 milhões

Em

foram gerados, no Brasil, cerca de

de reais com a venda de livros di-gitais. O valor re-presenta apenas

do faturamento to-tal do mercado edi-

torial, que foi de

No total, foram vendidos durante esse ano mais de

exemplares de livros digitais

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}EM NÚMEROS

230 mil

Foto: Renan Vidal

outras ferramentas.No mercado desde 2010, a

Jaguatirica Digital publica, anu-almente, uma média entre 20 e 30 livros. Para Paula, priorizar a qualidade na divulgação é um dos pontos essenciais para um bom andamento das vendas. Segundo ela, a maior editora do mundo, a europeia Penguin Random House, já possui, de forma consolidada, 25% da ren-da oriunda da venda de ebooks, podendo subir rapidamente para 30%, percentual de peso quando comparado ao merca-do tradicional. Porém, embora em ascendência mundial, Pau-la ressalta que o consumo dos livros digitais no Brasil ainda tem muito o que crescer, “a ve-locidade da automação e da in-clusão digital do público brasi-leiro é bem mais lenta”

Praticidade que faz a diferença

Entre as principais vanta-gens oferecidas pelos ebooks aos leitores, além da facilidade em poder levar sem adicio-nar peso, está a possibilidade de uma compra imediata do produto, sem a necessidade de esperar dias através do frete. “Numa sociedade capitalista, sabemos que muitas compras são feitas por impulso. Se você demora sete dias úteis para en-tregar seu produto, você pode perder a venda para quem o entrega de forma instantânea”, destaca Paula.

No entanto, o impacto da venda de ebooks no mercado é pouco. Segundo a pesquisa anual da Fundação Institu-

to de Pesquisas Econômicas (Fipe), encomendada pelo Sin-dicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e pela Câma-ra Brasileira do Livro (CBL), o ano de 2012 gerou R$ 3,85 milhões através da venda de livros digitais, valor que repre-senta menos de 0,1% do fatu-ramento total do mercado (R$ 4,8 bilhões). Ainda conforme a amostra, foram vendidos mais de 230 mil exemplares no ano.

Os benefícios para quem opta por publicar nessa plata-forma ainda podem ser muito maiores em questões burocrá-ticas. Como exemplo, somen-te para o lançamento de uma versão impressa, pode ser ne-cessário produzir até mais de cinco notas fiscais, que vão desde serviços de trânsito de mercadoria à entrada e saída do produto nas livrarias. Já para a publicação digital, o processo é bem mais direto, envolvendo apenas os passos comuns, tais como preparação do original, revisão, diagra-mação e, então, a conversão.

Para o escritor cearense Pe-dro Salgueiro, o qual já teve uma coletânea de contos infan-tis publicada em formato digi-tal, a experiência de lançamen-to no meio ainda é um espaço a ser explorado. Mesmo já ten-do vivenciado a publicação em ebooks, Pedro considera o processo “exótico, quase surre-al”, principalmente quando se volta ao universo dos cheiros e das texturas das folhas. No entanto, logo ressalta que não é preconceito “mas é apenas uma questão de hábito”.

As Bibliotecas Universitárias (BU) representam uma parce-la significativa como apoio na formação de muito estudantes, como também na aprendizagem dos professores e técnicos admi-nistrativos. Porém, é com o aces-so a livros digitais que a comu-nidade acadêmica se desperta para novas possibilidades.

Na Universidade Federal do Ce-ará (UFC), por exemplo, que conta com seis bibliotecas no Campus do Benfica, cinco no Campus do Pici, uma no Campus do Poranga-buçu, uma no Instituto Ciências do Mar e em Sobral e uma no Cam-pus da UFC em Quixadá, sem con-tar os acervos agregados a órgãos administrativos e departamentos da universidade, há uma página de acesso aos livros digitais ofer-tados pela própria UFC.

Trata-se do dot.lib (ufc.dotlib.com.br), que reúne um total de 8.352 livros eletrônicos, em texto completo, em língua portuguesa e estrangeira. Nesse acervo, as editoras Atheneu, a mais impor-tante editora de autores nacionais em Medicina, Zahar, com títulos abrangendo as áreas de Ciências Humanas e Sociais, Arte, Literatu-ra e Letras, e Springer, com títulos de Arquitetura, Física e Astrono-mia, por exemplo. “As áreas que mais utilizam (o acervo) são as Engenharias seguidas das Ciên-cias da Saúde”, ressalta Ana Eli-zabeth Maia, diretora da Biblioteca de Ciências Humanas (BCH).

O acesso ao conteúdo do Portal da Pesquisa realiza-se por inter-médio da Universidade. Ou seja, somente a biblioteca da UFC pode liberar usuário e senha aos inte-ressados, que devem possuir vín-

culo institucional. A diretora ainda explica que “se o usuário estiver dentro de um Campus da UFC, é só clicar na editora desejada”.

E sobre a importância em dis-por livros eletrônicos, Ana Eliza-beth acredita que, dessa forma, se permite extrapolar o conceito tradicional de informação que é o impresso. Logo, “romper as bar-reiras geográficas, permitir múlti-plos acessos e livre circulação da informação”, justifica a diretora da BCH que avalia mais um fator po-sitivo aí. Para ela, “o livro eletrôni-co é perpétuo”, complementa.

Já no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), o Departamento de Bibliotecas coordena e super-visiona as atividades do Sistema de Bibliotecas de todos os campi, que, ao total, somam vinte e três, nas ações de padronização e nor-matização de suas atividades.

No entanto, das bibliotecas do IFCE, a da Capital se sobressai pe-rante as demais. É que os alunos, docentes e técnicos administrati-vos do campus de Fortaleza pas-sam a dispor de mais de 2.300 livros virtuais, disponibilizados gratuitamente para a leitura onli-ne. O serviço, adquirido recente-mente, integra a Biblioteca Virtual Universitária (BVU) do Instituto.

Percebido como um recurso a favor da disseminação do conhe-cimento e, também, da facilitação do acesso ao acervo, a BVU abriga títulos que contemplam as áreas de computação, engenharia, geo-grafia e outras. Quanto ao uso, os alunos e professores acessam por meio do sistema acadêmico, e os técnicos administrativos pelo link www.fortaleza.ifce.edu.br/bvu.

Foto: Tamara Lopes

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10 IMPRESSÕES – LEITURA

Acessibilidade

Tipo de mouse se transforma em leitor de Braille para cegos

Uma tarde numa agên-cia bancária como outra qualquer. A

deficiência precisa angariar a paciência alheia. Não por isso. O gerente passa duas horas lendo o contrato para o rapaz cego. A partir deste momento, o pesquisador e empresário Heyde Leão, par-ticipando da cena de maneira ocular, decide se aventurar na ideia do amigo e professor Anaxágoras Girão de melho-rar o mundo das pessoas que sofrem com essa deficiência.

Após muito trabalho e pesquisa, eis que surge o Portáctil, fruto “da cabeça, das mãos, do suor, do san-gue e do choro de pelo me-nos vinte pessoas”, afirma Heyde. O projeto almeja a inclusão de deficientes visu-ais no mundo da tecnologia usando o Braille como códi-go e uma espécie de mouse de computador como suporte.

O Portáctil teve início dentro da empresa AED Tec-nologia, instalada na incu-badora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tec-nologia do Ceará (IFCE). “É uma ideia conjunta do

professor Anaxágoras e mi-nha. Nós dois inicialmente. A gente conseguiu R$ 180 mil do Banco do Nordes-te e foi assim que o Portác-til começou”, lembra Heyde.

Em 2010, o então reitor do IFCE, Cláudio Ricardo, apro-veitou a visita de Fernando Haddad, à época, ministro da Educação, à Universida-de Federal de Ceará (UFC) para apresentá-lo ao projeto. O interesse do ministro pelo Portáctil acabou rendendo o investimento de cerca de R$ 1 milhão através do Ministé-rio da Educação (MEC) em troca da patente do equipa-mento, que passou a ser do instituto. Hoje, a empresa precisa do licenciamento para comercializar a tecnologia.

Heyde confessa que, no início, ficou meio temeroso com o convite de Anaxágoras em trabalhar com tecnologia para cegos. “Quando entrei no mundo da cegueira e vi a dificuldade que era, meu filho tinha mais ou menos um ano. Eu olhava pra ele e pensava: E se fosse o meu menino?”, lembra o empre-sário, que hoje é dedicado exclusivamente ao Portáctil. “Quando vejo um menino [cego] desses gostando do que a gente faz, ganho o dia”.

A leitura e mais um pouco

O conjunto Portáctil con-segue garantir a leitura, mas a equipe pretende expandir esses horizontes iniciais e construir um aliado mais for-te para a educação e lazer a pessoas cegas. “É a ponta do iceberg pra muita coisa que deve surgir pra esse pessoal”, conta Heyde, lembrando do início do Portáctil, ainda em formato de caneta. “A próxi-ma evolução do Portáctil vai ser conseguirmos criar uma suíte de sub-aplicativos. Já temos uma estrutura para li-vros. Podemos, por exemplo, fazer jogos para cegos. A gen-te já vai fazer o jogo forca”.

DesafiosMartônio Carneiro, de-

ficiente visual que partici-pou dos testes do Portáctil, conta que é difícil substituir a leitura Braille tradicional para tecnologias como a do dispositivo. “Foi interes-sante [a experiência], mas ainda requer algumas mo-dificações. Gosto de ler em Braile, mas no tablet, preci-sa ser aperfeiçoado”, afirma.

Para o professor e pesqui-sador Anaxágoras Girão, um dos principais idealizadores do projeto, é comum, de iní-cio, a relutância por novas tec-nologias pela falta de adapta-ção. “É natural que se enfrente esses problemas no começo. Foi assim com a escrita, com a internet. Essas barreiras, o Portáctil vai quebrar quan-do começar a ser usado”, ga-rante. “A gente testou o Por-táctil, em Brasília, com um adolescente que é louco por jogos e ele adorou. Lia tudo.

O que falta é o costume”.O pesquisador ressal-

ta ainda a importância do Portáctil como ferramenta de alfabetização e readap-tação ao Braille. “A maioria dos deficientes visuais foram educados no Braille, mas, de uns dez anos para cá, tive-ram acesso ao áudio e esque-ceram o Braille. A fluência [no Braille] foi desaparecen-do assim como vem acon-tecendo com a escrita hoje”, afirma. “É necessária uma readaptação ao Braille, já in-vestindo na educação infantil”.

O Portáctil está em fase de pré-lançamento e deve passar por uma nova fase de testes. Segundo Anaxágoras, o dispositivo deve ser entre-gue nas escolas já no início de 2014. As crianças com deficiência visual deverão receber o Portáctil e levar para casa para que o proces-so de aprendizado seja mais rápido e mais proveitoso.

Tecnologia cearense permite leitura de livros impressos e digitais por cegosDispositivo desenvolvido por empresa privada em parceria com o IFCE captura imagem das páginas do livro, converte em texto e transforma em impulsos físicos na linguagem Braille

Por Carolina Esmeraldo e Felipe Martins

Foto: Divulgação/ AED

“Quando entrei no mundo da

cegueira e vi a dificuldade que era, meu filho tinha mais ou

menos um ano. Eu olhava pra

ele e pensava: e se fosse o meu

menino?

Pequeno, leve, portátil e de fácil manuseio, o Portáctil busca garantir uma experiência inova-dora de comunicação e acessi-bilidade a deficientes visuais. O “conjunto Portáctil”, como res-salta Heyde, é formado por um tablet e outro equipamento, que se assemelha a um mouse de computador e apresenta células Braille importadas da Alemanha.

A partir da tecnologia Bluetoo-th, o dispositivo traduz o texto que está na tela do tablet em caracte-res Braille e, através de pinos que sobem e descem em contato com os dedos, possibilitam a leitura dos deficientes visuais. É possível ainda controlar a velocidade, vol-tar ou adiantar a leitura.

No caso do material físico, a imagem impressa é capturada pela câmera do tablet, compatí-vel com a ajuda de um software, e através da técnica OCR (Optical Character Recognition) é trans-formada em texto.

COMO FUNCIONA?

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11IMPRESSÕES – LEITURA

Informação e tecnologia

Por Amanda Araújo Frota e Rachel Gomes

No Ceará, três jornais disponibilizam suas versões em formato digital: O Povo, Diário do Nordeste e O Estado. A tendência é que o método se espalhe pelo mercado consumidor e conquiste cada vez mais os leitores que optam pela facilidade e agilidade da internet

Do papel para a tela do computador: jornais digitais ganham espaço no mercado e conquistam leitores

Algumas pessoas apostam na velocidade da internet como fator preponderante para escolher os jor-nais digitais como primeira opção. A médica Terezinha Braga é uma delas. Segundo ela, a velocidade da internet permite que a pessoa fique informada em um curto espa-ço de tempo e sem necessidade de locomoção. “Eu prefiro a internet por questões objetivas. Hoje, você tem que ler não só um jornal, mas vários, ao mesmo tempo. Muitas vezes eu faço isso enquanto ainda estou no avião, a caminho de uma viagem a trabalho”, conta.

Praticidade x Originalidade: jornal digital divide opinião dos leitores

Quem prefere o jornal im-presso, por sua vez, acredita que essa “independência” da Internet é justamente o dife-rencial. José Erivaldo Abreu, auxiliar administrativo, acre-dita que o impresso é mais acessível. “Nem sempre a In-ternet está disponível, então não ficamos reféns da rede com o impresso”, explica. Ele também levanta a ques-tão da confiabilidade. “Acho que as notícias veiculadas na Internet nem sempre são confiáveis”, opina.

Comprar um jornal im-presso na banca ou recebê-lo em casa é um

hábito cada vez menos frequen-te entre os leitores. Com as novas mídias digitais, o público tem a possibilidade de obter notícias atualizadas constantemente por meio de sites e blogs. Seja no computador de mesa, laptop, ta-blet ou celular, os leitores agora acessam, em tempo real, os fatos que mais lhe interessam.

Parte desse conteúdo online, no entanto, ainda é o mesmo produzido para o jornal impres-so. E daí que vem o processo de digitalização, que é basicamen-te a transcrição dos textos de impresso para a plataforma vir-tual. Além disso, muitos jornais ainda optam pela disponibiliza-ção do jornal impresso em for-mato PDF (Virtual Paper), que simulam até mesmo o barulho das folhas passando.

O jornal O Povo, que atu-almente disponibiliza tanto o jornal em PDF como digitaliza-do em seu site, começou o pro-cesso de digitalização em 2007. Segundo Juliana Matos Brito, editora chefe do O Povo Onli-ne, o processo de digitalização é interligado entre a produção do impresso e do online. “A equipe que diagrama o jornal impresso, ao encaminhar as páginas para a impressão, salva os arquivos em PDF para que a equipe do

portal, a partir de um programa específico, coloque as páginas no O Povo Online”, explica.

Com o advento dos jornais digitais, a maioria gratuita, é de se pensar que o jornal impresso seria erradicado. Fato este que ainda não ocorreu, mas Juliana destaca que, com a chegada do Portal, foi preciso pensar em no-vas estratégias. “A redação não sentiu uma queda de vendas, mas novas táticas foram utili-zadas, de maneira que ambos [impresso e online] caminhas-sem da melhor forma possível.

Hoje, não há esse sentimento de canibalização”, enfatiza.

Enquanto que alguns jor-nais ainda disponibilizam suas versões impressas gratuitamen-te, como O Povo e O Estado, outros jornais, como Folha de São Paulo e Diário do Nordes-te, cobram pelo conteúdo. No caso do Diário do Nordeste, a assinatura de um ano da versão virtual com o impresso custa R$590, 00 (a assinatura tradi-cional somente do impresso custa R$490,00 e a versão on-line não é vendida sozinha). A

– O jornal impresso di-gitalizado do O Povo uti-liza o sistema Flip. Antes o grupo utilizava o Vir-tual Paper, mas a ideia da mudança foi ter uma ferramenta responsiva (adaptável a cada plata-forma) ágil, mais atrativa e com mais possibilida-des para o leitor. Tecno-logia responsiva signi-fica adaptado em todas as plataformas (web, ta-blet e celular). Com esse sistema, o leitor pode

MAIS INFORMAÇÕEScompartilhar nas redes sociais a página e pode copiar um texto que es-teja na página (a partir do modo texto).

– O Grupo de Comu-nicação O Povo possui uma editoria de Audi-ência que está diaria-mente em contato com os leitores. Todas as de-mandas dos leitores são compartilhadas com os mais diversos seto-res da empresa, e com a mudança para o Flip,

um canal ligou os lei-tores diretamente com os programadores, para que, segundo Juliana, as dúvidas fossem resolvi-das.

– Até o fechamento desta edição, o jornal Diário do Nordeste não se pronunciou acerca do seu sistema de digi-talização dos jornais. As perguntas foram enca-minhadas por email e não houve resposta da direção.

Folha, por sua vez, aposta em uma forma de cobrar ainda mais audaciosa, em que divulga as noticias “superficialmente” mas dá ao leitor a possibilidade de mais informações através de compra pela matéria na íntegra.

Recentemente, houve mu-dança no acesso do impresso virtual do O Povo, em que ape-nas leitores com cadastro po-dem ter acesso à versão digital. O jornal continua gratuito e, segundo a editora, ainda não há nada definitivo sobre um futuro pago. Ela destaca que a ideia do

cadastro foi ter um maior co-nhecimento sobre os leitores.

Juliana afirma que a discus-são sobre o fim do jornal impres-so não é muito levantada no O Povo. “Nós não acreditamos no fim do jornal impresso. Acredi-tamos apenas que o jornal deva ter sempre um conteúdo edi-torial especial, que o diferencie em qualidade dos concorrentes - seja no impresso, seja na In-ternet”, completa. Segundo ela, existe público para todas as pla-taformas, desde que o conteúdo seja relevante e de qualidade.

Foto: Banco de Dados O Povo

O novo formato digital agrada a quem valoriza a rapidez e a praticidade oferecida pela internet para a leitura de informativos

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12 IMPRESSÕES – LEITURA

Entre páginas e cliques: os novos caminhos da literaturaAutora dos livros Yume e Outubro, disponíveis apenas na versão e-book pela Amazon, a escritora Kamile Girão fala sobre os desafios e vantagens do mercado digital, espaço que tem atraído o público e os novos autores

Entrevista

Por Mikaela Brasil e Taís de Andrade

Foto: Tamara Lopes

Interesse do público pela leitura, a chegada do mer-cado digital de livros e

negociação com editoras são questões refletidas por aqueles que sonham em escrever e pu-blicar um livro. De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, aplicada em 2011, do Instituto Pró-Livro, o brasileiro lê, em média, 4 livros por ano. Ainda de acordo com a pes-quisa, 82 % dos entrevistados nunca leram um e-book, mas da porcentagem que leu, 54 % gostaram muito. A chegada dos e-readers – aparelhos eletrôni-cos feitos para a leitura – e do baixo preço dos livros digitais causam mais dúvidas no ca-minho incerto que se desenha na literatura nacional. Afinal, os e-books podem substituir os livros de papel? A pesquisa

diz que 52 % dos entrevistados acreditam que os dois possam conviver entre estantes e arqui-vos digitais. Agora, como tudo isso pode afetar o mercado de escritores nacionais? A intera-ção com as editoras, redes so-ciais e com plataformas de ven-da online podem indicar um pouco do que pode vir por aí.

Impressões – Como você ingressou no mercado digital?

Kamile – Quando a Ama-zon abriu, já era um plano ir para eles. Um dos motivos era que você recebia diretamente o pagamento, coisa que não acontece tanto em editora – no meu caso, como só peguei editora de demanda (na qual o escritor paga pela publica-ção) – era o que não acontecia. Então, assim que abriu a Ama-zon, assim que eu soube, disse:

“Eu vou pra eles”, até porque o primeiro livro (Yume, lançado em 2011) tinha saído do mer-cado. As editoras não estavam aceitando e o pessoal estava me cobrando muito, então decidi me jogar de cabeça na Ama-zon. Foi entre abril e maio (de 2013) que a plataforma chegou ao Brasil e já fui logo correndo.

Impressões – Como foi, para você, entrar na Amazon?

Kamile – É muito fácil. Você só precisa carregar o arquivo. A única desvantagem que está acontecendo ainda é porque o pessoal tem um preconceito muito grande com livro digital, ainda tem aquele apego com o físico. Por exemplo, muitas pessoas chegaram para mim: “Ah, eu não vou comprar o Yume agora, porque só tem em formato digital. Vou esperar

pelo físico.” “Mas meu filho, o físico não tem nem data para sair”, eu dizia isso, às vezes. Fora isso, o pessoal está ade-rindo aos pouquinhos. A gente acha que o mercado vai crescer daqui a algum tempo.

Impressões – Na editora por demanda, você encomen-dava por exemplares?

Kamile – Mais ou menos isso. Na primeira editora que fui, eles cobravam por todo serviço, de diagramação, de revisão. A capa, consegui fa-zer por fora, mas foi uma luta também. E, além desse servi-ço todo, eles cobravam os cem livros para rodar. Já a outra que fui, era de trinta em trin-ta livros, de oitenta em oitenta livros, dependia da quantidade que eu quisesse. Mas era mui-to caro, eu não recebia nada,

não tinha relatório nem nada, o que a gente tem na Amazon.

Impressões – Quais as maio-res vantagens do livro digital?

Kamile – Tem tantas! Pri-meiro, o preço sempre é razoá-vel, costuma sair barato e a di-vulgação é muito legal. O pes-soal acaba comprando mais, porque está mais divulgado na Internet e nunca está muito caro. Além do mais, você rece-ber o pagamento mensalmente é uma das melhores vantagens, coisa que não acontecia comi-go na editora de demanda.

Impressões – Como é esta-belecido o preço?

Kamile – Você que estabelece!

Impressões – Você planeja voltar para o mercado físico?

Kamile – Pretendo. Yume vai sair, talvez, no próximo

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13IMPRESSÕES – LEITURA

ano, numa edição pela editora Wish, que é nova. Mas não te-nho data ainda, estou satisfeita na Amazon por enquanto.

Impressões – Outubro (2013) também será apenas digital?

Kamile – Vai entrar só em digital. Seria em dezembro, mas quero colocar uma nova capa. Acho que será no início do próximo ano.

Impressões – O mercado digital é o que você imaginava que seria?

Kamile – Quando entrei, não sabia de muita coisa, até porque era algo muito novo. Eu tinha lido alguns artigos sobre escritores que tinham começado no mercado digital. Eles eram estrangeiros e con-seguiram se sobressair devido ao mercado digital. Isso pe-sou muito na minha decisão. É muito tranquilo!

Impressões – Você costu-mava ler livros digitais?

Kamile – Não, comecei quando entrei na Amazon. Também tinha os livros dos meus amigos que estavam lan-çando apenas pelo digital, en-tão decidi começar a ler o digi-tal também. Até gostei. A gente tem preconceito, à primeira vista, porque é realmente ape-gada ao físico, mas gostei!

Impressões – Você acha que os livros digitais modificam o hábito de leitura das pessoas?

Kamile – Não, acho que a pessoa que gosta de ler, vai ler tudo, de bula de remédio a li-vro de 500, 600 páginas. Acho que é só mesmo costume, se aproximar. Porque também tem muito daquela coisa: “Não gosto de ler no computador” – também tem como ler livros digitais na plataforma da Ama-zon, baixando o aplicativo no

computador. Acho que é só mesmo falta de hábito.

Impressões – Antes de co-meçar a ler os livros digitais, você também tinha algum preconceito?

Kamile – Tinha. Inclusive era aquela coisa: “Ah, não vai substituir o físico.” Mas dá para conviver com os dois.

Impressões – Agora, você prefere o digital ou o físico?

Kamile – Não estava lendo muito o digital, porque gosto de sair com o livro e sair com tablet aqui em Fortaleza não rola! Mas sempre que dá, em casa, eu leio livros digitais.

Impressões – Tem algum escritor, apenas do mercado digital, que você admira?

Kamile – A Vanessa Bosso. Ela escreveu A Aposta, Senhor do Amanhã, O Imortal, O Ele-mental, não me lembro de to-dos agora. Ela é brasileira e está

conseguindo muito respaldo, foi até para os Estados Unidos dar entrevista e conseguiu o li-vro impresso também, a partir apenas da Amazon. Também tem a JosyStoque, que é autora da saga Os Quatro Elementos. Ela conseguiu a publicação es-trangeira, o pessoal vai tradu-zir os livros dela para colocar no mercado americano.

Impressões – Você acha que as pessoas têm algum pre-conceito com livros indepen-dentes, que não tenham a mar-ca da editora conhecida?

Kamile - Um pouco, isso rola. Eu não vejo tanto, mas muitos escritores dizem que rola. O pessoal olha meio feio para livros independentes. Até porque, quem é independente precisa batalhar muito pela di-vulgação, é você por você.

Impressões – Você acha que os tempos atuais estão mais favoráveis aos escritores novatos? Por quê?

Kamile – Estão. O mercado está mais aberto, principalmen-te com o negócio de rede social. Quando as redes sociais tiveram um boom, o pessoal começou a divulgar mais os próprios tra-balhos. Por exemplo, no Orkut, a gente tinha um negócio muito legal que eram comunidades de livros. Ou seja, a pessoa posta-va um tópico lá e ia botando o livro dela, ia divulgando. Eu co-nheci muitos livros a partir dis-so, muitos livros de novos escri-tores. Com o Facebook a coisa melhorou, porque você podia divulgar mais, com o negócio do compartilhamento. Então isso começou a atrair os olhos das editoras, porque estava ten-do muitos escritores brasileiros. Só que eles ainda eram meio ig-norados. E o pessoal começou a também gostar desses escritores que estavam surgindo e a partir

daí as editoras abriram mais. Rede social é tudo de bom para quem quer escrever.

Impressões - Teve uma época em que o livro (Yume) estava gratuito, como foi?

Kamille - Foi. Foi a gerente lá da Amazon. A gente (estava) conversando e ela disse: “Ei, tem uma promoção para divul-gar mais, se você quiser inves-tir, só pra ver o que vai dar...”. E eu (disse): “Tá, o que foi?”. Ela (disse):“Deixar o livro gratuito por três dias”. E eu (respondi): “Tá, não tô perdendo nada...”. Rapaz, em um dia foram 280 downloads! Em um dia! Eu fui ver quantos downloads foram feitos nos três dias e foram 388.

Impressões – Você acha que essa estratégia deu certo?

Kamile - Acho que deu, que aí o livro começou a ser vendi-do mais. E o pessoal também ficou muito animado quando a (Editora) Wish disse que iria publicar o Yume. O pessoal fi-cou bastante entusiasmado.

Impressões – A Edito-ra Wish vai publicar, então, o Yume e o Outubro também?

Kamile - Outubro ainda não. Outubro a gente vai fazer primeiro a experiência só na Amazon e aí depois a gente vê como é que fica.

Impressões – E os próxi-mos livros? Como você pensa em produzir?

Kamile - Ainda não sei. Es-tou escrevendo um, só que pre-firo terminar de escrever, depois eu penso. Mas acho que depois desse eu vou dar um tempinho, vou tentar focar na faculdade, vou tentar arranjar um estágio, depois volto a pensar nisso.

Impressões – O livro pode ser vendido em outros sites também ou tem alguma exclu-sividade de ser só na Amazon?

Kamile – Não, a gente só bota na Amazon porque, en-fim, é plataforma KDP (Kind-leDirectPublishing, da Amazon, que publica livros de forma inde-pendente no site). Mas acho que tem como, porque eu ainda não me informei direito, tem como colocar no formato do Kobo. Mas aí não lembro como é que faz pra ajeitar o arquivo em for-mato Kobo. Então, por enquan-to, só estou na Amazon.

Impressões – Você acha que o seu estilo Jovem Adulto é facilitado pelo mercado digi-tal? Ou tem algum estilo que não seja muito contemplado pelos e-books?

Kamile – Eu não sei. Tem cada coisa em e-book... Tem Fantasia, tem Erótico, tem Chi-ck-lit, tem Suspense, tem muita coisa. Acho que depende muito da divulgação do próprio escri-tor.

Impressões – As pessoas têm um preconceito muito grande com e-books e o mercado digi-tal como se fossem uma espécie de “inimigos dos livros”. O que você diria a essas pessoas?

Kamile – A televisão não destruiu o rádio, o cinema não destruiu o teatro e nem a fotografia destruiu a pintura. Então, só porque existe um novo formato dos livros não quer dizer também que os li-vros físicos vão acabar. Acho que seria legal a pessoa abrir a mente para conhecer os li-vros digitais, porque tem livro que está sendo lançado só em formato digital, tem livros ba-canas que estão só nesse estilo. E, assim, a pessoa pode, por conta de algum preconceito, perder (a chance) de ler livros muito legais. Então é bom dar uma chance e ter isso em men-te: um não vai destruir o outro, eles podem coexistir.

“(...) Acho que a pessoa que

gosta de ler, vai ler tudo, de bula

de remédio a livro de 500, 600

páginas. Acho que é só mesmo

costume, se aproximar

Yume, publicado em 2011 como livro físico, foi relançado em formato digital em 2013

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Foto: Tamara Lopes

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14 IMPRESSÕES – LEITURA

Os tablets, por meio de aplicativos co-loridos, desenhos e

sons, atraem cada vez mais as crianças a um processo de aprendizagem interativo e se transformam em aliados da educação. Entretanto, com tanta informação disponível em apenas uma ferramenta, surgem questionamentos re-ferentes à eficácia e o poder de dispersão do uso de tablets no ensino.

Para a coordenadora pe-dagógica de informática Tel-ma Nobre, o tablet, devido à mobilidade e variedade de aplicativos, “conquistou o pú-blico infantil, jovem e adulto’’. O equipamento “permite ao aluno novas formas de apren-der, pois vincula a tecnologia ao processo ensino-aprendi-zagem, o que torna o estudo mais atrativo e eficaz”, com-plementa.

O tablet começa a ser ado-tado pelas escolas particu-lares como plataforma que permite o uso do material di-

dático de forma mais dinâmi-ca. Na escola em que Telma trabalha, o material é ofereci-do para os alunos por meio de um aplicativo que conta com uma aparência diferenciada. “Esse aplicativo tem uma in-terface interativa que reforça o aprendizado por meio de recursos como ferramenta de busca e anotações, marcações de textos e desenho à mão livre, além de disponibilizar videoaulas sobre diversos te-mas abordados no conteúdo”, explica.

Além de disponibilizar a ferramenta, as escolas têm in-vestido em capacitação para os professores. “Logo no iní-cio da implantação dos tablets, nossos professores já começa-ram a ser treinados com o ob-jetivo de mostrar a aplicabili-dade desse instrumento como ferramenta de planejamento didático, explorando as pos-sibilidades pedagógicas, e de conhecer e vivenciar ativida-des pedagógicas a partir dos aplicativos”, completa Telma.

Utilização pelos alunosO tablet funciona como

um recurso tecnológico, mas não é utilizado pela maioria dos alunos. É o que explica a professora de Língua Portu-guesa Maria Izabel Diógenes. “Em uma sala com 50 alu-nos, por exemplo, você tem 20 alunos, em média, com o tablet”. A docente também es-clarece que a escola disponi-biliza apenas o material digi-tal, sendo o tablet comprado pelo próprio aluno.

Quanto às vantagens, Ma-ria Izabel considera o tablet mais prático e mais leve. “Ele contém todos os livros ali: Ma-temática, Português, Física... Outra vantagem que eu vejo, às vezes, é na disciplina de Matemática, quando tem algo mais animado, como um grá-fico”, comenta. Ainda assim, a professora não acredita que o uso da tecnologia favorece o processo de aprendizagem. “Dizer que eu verifico que o aluno com tablet aprende com mais facilidade que o aluno

sem tablet, isso não acontece. O processo de aprendizagem é o mesmo”, afirma.

DispersãoMuitos pais temem que,

com o acesso ao tablet, o fi-lho passe a utilizá-lo apenas para jogos ao invés dos estu-dos, como é o caso de Edna Rangel, empresária. A mãe ficou em dúvida ao comprar o equipamento para Rodri-go, de oito anos, uma vez que ele já tinha o hábito de jogar constantemente no videoga-me. “No começo, ele não que-ria, mas nós mostramos jo-gos simples como Tetris, que ajuda o raciocínio e, hoje, ele mesmo encontra outros ti-pos”, afirma. De acordo com ela, é preciso ficar de olho para evitar que as crianças se encantem com os mais va-riados aplicativos e queiram usar somente para o lazer. “Se o tablet for usado sem exage-ro, tem benefício”.

Quando a analista de sis-temas Suzi Anne Paiva notou uma estagnada no proces-so de alfabetização do filho, que hoje está no segundo ano, resolveu recorrer aos joguinhos de computador. Segundo ela, jogos como for-ca e palavras cruzadas fun-cionaram como um estímulo a mais ao aprendizado. “O joguinho servia para memo-rizar mais, chamar a atenção, saber com quais letras se es-crevia as palavras”, explica. “É mais uma ferramenta. No final das contas, esse proces-so também passa por uma memorização, por uma repe-tição. Quando você oferece muitas alternativas de repe-tição e de memorização é le-gal, eu gosto”, complementa.

O não favorecimento do aprendizado, no entanto, não significa que o uso de tablets nas escolas possa prejudicar o aluno. Para a professora Maria Izabel Diógenes, não é

possível afirmar que o acesso à internet é mais fácil para os alunos que possuem tablet em sala de aula. “Isso eu não posso alegar, porque todo mundo tem celular e, hoje, todos os celulares têm inter-net. Então o uso do tablet não facilita para o aluno se dis-persar. Acho que é a mesma coisa”, declara.

Papel do professorOutro fator contribuinte

de destaque para que o uso do recurso tecnológico no aprendizado atinja seus obje-tivos é o papel do professor, orientando a utilização dos aplicativos para pais e alunos, principalmente, se a escolha dele contribuir com alguma necessidade que a criança te-nha na escola.

Pedro Ferreira, de sete anos, em plena conclusão do 2º ano do Ensino Fundamen-tal, estava com dificuldade no processo de leitura, até que, aconselhado pela profes-sora, começou a utilizar um aplicativo direcionado para o desenvolvimento desta habi-lidade. “Minha professora me pediu para utilizar um aplica-tivo de histórias que dá para ler com ajuda do som. Co-mecei a usar e já estou conse-guindo ler melhor”, destacou o garoto.

Saúde dos olhosDe acordo com o oftal-

mologista Dácio Carvalho, a utilização de tablets, por si só, não prejudica a visão. O que pode vir a acontecer é o resse-camento dos olhos devido ao seu uso prolongado. “Quando estamos diante de aparelhos tecnológicos como computa-dor, celular ou tablets, nossos olhos piscam quatro vezes menos, ocasionando o resse-camento dos olhos”, explica. O médico também alerta para a possibilidade de desenvol-vimento de miopia.

Aprendizado digital: o uso de tablets como ferramenta de ensino e interação na sala de aulaA educação se prepara para viver um novo tempo: a era dos tablets. O equipamento aos poucos invade as salas de aula e traz mudanças nas formas de ensinar e de aprender. As escolas que já adotam a ferramenta mostram que o tablet chegou para ficar

Por Bárbara Danthéias, Débora Lopes e Thinayna Máximo

Educação

Os tablets são cada vez mais usados pelas crianças como complemento no aprendizado em sala de aula

Foto: Bárbara Danthéias

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15IMPRESSÕES – LEITURA

Ex LibrisEspaço de resenhas, contos, poesias e tudo o que a criatividade permitir

AlicePor Lúcio Flávio Gondim

Conto

minúscula e extra-G. De que tamanho deveria ser? Pre-cisava de cinco versões de si mesmas para escolher quem era. E não bastava.

O quarto era um conforto, mas era também um exército em guarda. Dava vontade de fugir, mas medo de se entre-gar. Pra onde correr? Lá foi ela, então, de volta pro jardim e agora firme, sem hesitação. Olhou o mundo com olhos de ânsia. Ordenava que as portas do ‘País’ se abrissem, mas que nada. O Coelho é que desa-pareceu, quem não mais lhe dava a mão. Foi caindo, cain-do, mergulhando no chão e sentou perplexa diante do

mundo das não-maravilhas que a rodeava.

Ficou por horas incontá-veis na mesma posição. Via o Sol nascer e morrer, as folhas caírem dos galhos, o mundo mudar. A moral lhe dizia “be-ba-me”, a loucura sussurrava “coma-me”. Choraria até for-mar um mar de lágrimas, mas decidiu deixar os olhos bem abertos dessa vez. Consciente de que não podia fugir, nem se ocultar em outras realida-des, viu que era melhor per-manecer assim: Ser para sem-pre realidade. Foi levantando, levantando, deixando o chão sumir de sua áurea e tomar nova postura. Não mais es-

N

N

Por André Bloc

Poesia

Do que são feitas as coisas

E então, ele disse:– Mãe, quanto tempo demo-ra daqui pra bem longe?– O tempo de um sonho –, respondeu ela, enquanto repousava o indicador e o polegar nos olhos do filho, e assistia ao céu fundindo num misto de dourado e negro. Tudo e nada num plano só.

conderijo, não mais oculta-ção, mas sim maturidade. Era Ela, o novo que começava.

Escondido por trás de uma rosa branca, o Gato, malicio-so e vadio, espiava e esperava a hora de buscar Alice.

André Bloc, Jornalista do Nú-cleo de Cultura e Entretenimen-to do jornal O Povo.

Caminhando no jar-dim, Ela viu o Coelho. Ficou estática. Sabia

no que aquilo ia dar. Tudo de novo faz a gente cansar... Hoje não. Ela não estava para via-jar. Então, voltou para o quar-to, abriu os livros de química, mas enquanto lia, pensava no Gato (e nos prótons), no Jar-dim (e nos fótons), na Lagar-ta (e nos nêutrons). O mundo era mais imaginário ou mais real? A Verdade respondia.

Um dia lhe ensinaram que a gente tinha o tamanho que quisesse ter, mas não era bem assim que tudo funcionava. Ela ficava grande e pequena. Enorme e mediana. Gigante,

PERFILLúcio Flávio Gondim é estudante de Letras na Universidade Federal do Ceará. Além de escrever, Lúcio é artista visual e também ator – protagoni-zou peças, como Woyze-ck e Plastic Wood. Ilustrações: Juliana Braga

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16 IMPRESSÕES – LEITURA

Ensaio Fotográfico i

Quando se nasce ou se adquire deficiência visual, é ne-cessário aprimorar os outros sentidos e aprender a en-xergar o mundo de uma maneira diferente. Especial.

As mãos passam a ser os guias desses leitores. Quando elas per-correm as páginas pontilhadas dos livros em Braille, mundos são descobertos e distâncias são diminuídas.

Em Fortaleza, o Instituto dos Cegos (foto 5) é um dos locais responsáveis pela alfabetização em Braille (foto 1). A institui-ção atende 40 alunos, entre crianças (foto 3) e adultos. Eles não possuem apenas problemas de visão, mas múltiplas deficiên-cias, entre elas a cognitiva e a motora, além de autismo.

O Instituto dos Cegos incentiva a independência dos alunos. Por isso, eles têm aulas de música, natação, psicomotricidade e AVD (Atividade da Vida Diária). Informática educativa também é ensinada aos alunos (foto 2). Na aula, é utilizado um computador comum. A única diferença é Dosvox, sistema de voz operacional, que lê para o deficiente visual o que está na tela. Aulas de artes também são oferecidas pela instituição. Nesta época do ano, fo-ram produzidos enfeites natalinos (foto 4). Todos com texturas para que os alunos possam sentir com as mãos os objetos.

Por Isabele Câmara

O outro olhar, a mesma leitura

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